Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
AVALIAÇÃO: ARTIGO
Rio de Janeiro
Julho/18
Introdução
“Os homens são desiguais segundo sua origem natural, sua diferente
organização e seu destino na história. Sua igualdade é apenas uma igualdade de direitos,
isto é, uma igualdade de objetivo humano...” (Arendt, p. 209). Assumindo essa pré-
condição descrita por Hanna Arendt, no contexto da modernidade, os membros de um
determinado espaço unem-se em sociedade, compartilham e diferem-se naturalmente de
outras sociedades e de outros indivíduos dentro de sua própria por aspectos culturais, de
crença, ideologia, costumes etc.
Porém, de acordo com Gramsci, é natural que ocorra dentro de uma sociedade
um processo de hegemonia cultural, onde determinada conjuntura social, política,
econômica e cultural prevaleça sobre as demais e de certa forma influencie os membros
da sociedade oriundas desta hegemonia a reproduzi-la e perpetuá-la, alimentando um
status-quo que, muitas vezes, prejudica a própria classe social ao qual estão inseridos.
Contexto histórico
O movimento punk iniciou-se nos anos 70, na Inglaterra, com bandas como
Sex Pistols e Ramones tomando notoriedade na cena local, com influências do glam
metal e com o surgimento dos primeiros integrantes do street punk, movimento que
pretendia unir, segundo Garry Bushell, cantor da banda Oi! The Gonads, "punks, skins e
toda a juventude sem futuro". Entre os anos 70 e 80, o estilo adotou um formato mais
comercial, metamorfoseando-se no new wave, assumindo um visual mais colorido e
referências à cultura pop, o que foi recusado imediatamente por uma grande parcela
ativista do movimento que se recusava a entregá-lo aos interesses do capitalismo e da
burguesia. Esta parcela espalhou-se e radicalizou-se, com a incorporação de um estilo
mais extremo no visual, onde o street punk se transforma no movimento Oi!, com
influências do hooliganismo e que passam a ostentar no visual o “orgulho proletário”,
utilizando-se de roupas rasgadas e que demonstrassem virilidade e masculinidade. Este
movimento acaba por absorver parte dos skinheads, tribo caracterizada pela cabeça
raspada e, em grande parte, por promoverem ideologias racistas, xenófobas e sexistas.
De outro lado, surge o anarcopunk, movimento ligado a ideais anarquistas que
buscavam valores como a igualdade racial, feminismo, direitos dos animais, movimento
pacifista, ação direta etc.
Com início no ano de 1981, em pleno final de regime militar, a banda Ratos de
Porão surge juntamente com a ascensão do movimento punk nos subúrbios de SP, com
suas letras carregadas de contestação e em um momento político onde as convulsões
sociais já eram irreversíveis em todos os níveis de organização, do público ao privado e
a repressão seguia sendo o aparato de manutenção do governo. Os governos de Geisel e
de Figueiredo (1974-84) foram marcados pela crise econômica, pela distensão
verdadeiramente lenta e pela demonstração de atividade da linha-dura como organismo
repressivo. Se a tortura não era mais largamente empregada, como no governo Médici
(1969-1974), havia a ocorrência de casos tenebrosos, como a morte do jornalista
Vladimir Herzog dentro da sede do DOICODI, em 1975. Em 1981, um sargento e um
capitão do exército tentaram explodir bombas no centro de convenções do Riocentro,
onde acontecia um festival de música com a presença de milhares de jovens. A linha-
dura continuava dura.
Em 1984, a banda lança seu primeiro LP, “crucificados pelo sistema”. Em sua
primeira faixa “Morrer”, já realiza uma crítica ao modelo violento de governo, baseado
no medo e na repressão, e na falta de esperança que deposita a quem vive este momento.
“O mundo morreu, o ódio venceu / O que é que eu vou fazer? / Doenças fardadas / A
paz mutilada / Eu vim para viver / Tenho medo do presente / Tenho medo do futuro / E
de tudo que nos cerca / Sigo meu caminho / Meu caminho é morrer! / Morrer”. O
governo militar é tratado como uma “doença fardada” que mutila a paz, impregnada
num anterior regime democrático e que representa a saúde do bem-estar social.
Álbum marcado por riffs intensos e músicas curtas, típicas do estilo punk, a
quinta música “Obrigado a obedecer”, apresenta em uma única estrofe e 1:02 de música
sua mensagem: a oposição ao alisamento militar obrigatório e suas consequências.
“Servir sua pátria te obrigam a obedecer / Te obrigam a matar / Te obrigam a sofrer!!! /
Não! não! não! não!!!!”.
Em um trecho da decima segunda faixa, “sistema de protesto”, a banda
explicita a função do movimento punk neste contexto como forma de denúncia. “nós
estamos criando um novo sistema de protestar / e esse é um sistema para nos calar / não
podemos maracar / nem podemos nos envergonhar / temos que gritar o mais alto
possível para fazê-los escutar / todos somos iguais / todos somos racionais / eles é que
agem como animais irracionais / sistema de protesto / sistema de protesto / eu os detesto
eu os detesto..”.
Já na décima sexta faixa, “Máquina militar”, a letra aponta para como o Estado,
após usar da força do soldado para seus fins particulares, abandona o mesmo com todas
as sequelas de seu exercício e sem qualquer recompensa, denunciando desta forma o
aparelhamento das forças armadas do Exército não para proteção da nação e de seus
civis, mas sim de interesses privados protegidos pelo Estado. “Olhe soldado / Esqueça
seu passado / Você deixou de existir / Agora você é uma máquina do sistema / Somente
para matar / Somente para destruir. / MÁQUINA MILITAR / MÁQUINA MILITAR /
Escute soldado / Você está mutilado / Você não nos serve mais / Agora você é um
maníaco de guerra / O pesadelo se repete / Todas as horas do seu dia. / Você não nos
serve mais!!!”.
Conclusão