e-DOC 2208DD38-e

Proc 13712/2019

TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO FEDERAL

GABINETE DO CONSELHEIRO PAULO TADEU

PROCESSO Nº: 13712/2019 – e

ORIGEM: SECRETARIA DE FISCALIZAÇÃO DE PESSOAL (SEFIPE)

INTERESSADO: MINISTÉRIO PÚBLICO QUE ATUA JUNTO AO TCDF

ASSUNTO: REPRESENTAÇÃO

EMENTA: 1) Representação nº 27/2019 – CF,

oferecida pela Procuradora Cláudia Fernanda de
Oliveira Pereira, com vistas a apurar possíveis
irregularidades relacionadas ao Presidente do Instituto
de Assistência à Saúde dos Servidores do Distrito
Federal (INAS/DF), à força de trabalho e à eficiência
daquele Instituto, bem como à sua “compliance”.
2) Nesta fase: análise de admissibilidade da exordial.
3) A Sefipe sugere o conhecimento, uma vez que
estariam presentes todos os pressuposto de
admissibilidade previstos no art. 230 do RI/TCDF.
4) Voto convergente.

RELATÓRIO

Cuida-se da Representação nº 27/2019 – CF, oferecida pela

Procuradora Cláudia Fernanda de Oliveira Pereira, com vistas a apurar possíveis
irregularidades relacionadas ao Presidente do Instituto de Assistência à Saúde dos
Servidores do Distrito Federal (INAS/DF), à força de trabalho e à eficiência daquele
Instituto, bem como à sua “compliance”.

A fase é de admissibilidade da exordial. A propósito, a Sefipe, no

essencial, assim se manifesta:

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O ilustre representante do Parquet de Contas alega que recebeu denúncia

dando conta de que:

 o Presidente do INAS/DF é sócio de várias empresas;

 o INAS/DF permanece com quadro de pessoal composto por
servidores sem vínculo;
 os servidores do Instituto não trabalham no local sede.

O MPC/DF relembra que ofereceu a Representação nº 12/06 (objeto do

Processo nº 24.261/2006), solicitando um exame da Lei nº 3831/2006, que criou o
INAS/DF, com vistas a verificar aspectos orçamentário-financeiros e de pessoal,
ressaltando a necessidade de ser dado cumprimento integral à LRF.

Naquele feito o MPC destacou, a despeito do razoável tempo de criação do

INAS, sem a efetiva definição do plano de saúde dos servidores do DF, sob sua
gestão, teriam sido gastos cerca de 12 milhões de reais com folha de pessoal (10
servidores, sendo somente 3 do quadro do GDF), o que não justificaria a
existência do Instituto, notadamente, em face dos princípios da economicidade,
moralidade e legitimidade.

Referido processo foi apensado aos autos 3237/08, ambos arquivados em

virtude de a matéria estar sendo tratada no Processo nº 19.108/10, referente à
Prestação de Contas Anual - PCA/2009 dos Gestores do Instituto de Assistência à
Saúde do DF – INAS/DF.

O ilustre representante do Parquet especializado demonstra, no que se

refere aos aspectos de pessoal envolvidos na demanda, a existência de 13
servidores sem vínculo com o GDF ocupando cargos em comissão, representado
cerca de 92% do total, consoante “quadro de composição de preenchimento de
cargos/empregos em comissão e funções de confiança”, publicado em abril/2019.

Por fim, após destacar a alteração na estrutura administrativa da autarquia

especial, vinculada à Secretaria de Estado de Fazenda, Planejamento, Orçamento
e Gestão do DF, promovida pelo Decreto 39.637/19, O MPC/DF requer, com
fulcro na denúncia, que aponta possível falha de eficiência no funcionamento do
Instituto, que seja verificado, em inspeção, quem são e como atuam os servidores,
inclusive eventual impedimento do Presidente do INAS/DF, bem como se a
referida autarquia especial cumpre os objetivos para os quais foi criada.

Da análise

Segundo a Lei nº 3831/2006, a missão do INAS seria “proporcionar, sem

fins lucrativos, aos seus beneficiários titulares e dependentes, em regime de
autogestão, o Plano de Assistência Suplementar à Saúde, denominado GDF-
SAÚDE-DF.”

Referido normativo prescreve que o “quadro de pessoal do INAS seria

constituído mediante redistribuição de cargos do Quadro de Pessoal do Distrito
Federal, nos termos da Lei Federal nº 8.112/90”, então vigente no DF.

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No que se refere ao GDF-SAÚDE-DF, embora não se tenha notícia de sua

efetiva implementação, o plano de assistência do servidor distrital foi
regulamentado pelo Decreto nº 27.231/2006, publicado no DODF de 12/09/2006.

No que ser refere ao quadro de pessoal, conforme estrutura proposta no

Regimento Interno, aprovado pela Portaria nº 262/20061, certamente que
necessária a lotação de pessoal efetivo no INAS/DF, o que demanda maiores
esclarecimentos, vez que não consta do referido “quadro de composição de
preenchimento de cargos/empregos em comissão e funções de confiança”
daquela autarquia em regime especial referência a sequer 1(um) servidor do
quadro efetivo da entidade, o que demonstra, inclusive, o preenchimento de
cargos em comissão em desacordo com o limite previsto no art. 19, V, da Lei
Orgânica do Distrito Federal2 (50% por servidores de carreira).

Ademais, há que buscar maiores informações sobre os vínculos do

Presidente do Instituto, como sócio administrador de empresas3, e possíveis
implicações no exercício do Cargo de Natureza Especial - CNE que ocupa no
âmbito da Administração Pública do DF em face do citado Decreto nº
39.034/20184.

A Representação preenche o pressupostos de admissibilidade previstos no

art. 230 do RI/TCDF.

A criação da entidade que, além de suscitar dúvidas sobre a execução de

seu mister principal5 para o qual foi criada (implementação do plano de
assistência do servidor público distrital), tem expressivos dispêndios anuais com
pessoal e encargos sociais, embora desprovida de organização administrativa
(quadro de pessoal efetivo preenchido por concurso público), bem como
considerando o preenchimento de cargos e funções de confiança em desacordo
com o art. 19, V, da LODF, além dos vínculos societários do Presidente do INAS,
podem indicar possíveis irregularidades que podem ser esclarecidas mediante
atuação fiscalizatória do Controle Externo.

1 Art. 17. Ao Núcleo de Recursos Humanos, órgão de execução diretamente subordinado à Diretoria Técnico–
Administrativa, compete:
I - promover a administração de pessoal e o desenvolvimento de recursos humanos por meio dos processos de seleção,
treinamento, capacitação, lotação, remanejamento e pagamento de pessoal do âmbito do INAS; e
II - promover o registro, acompanhamento e avaliação do quadro de servidores do INAS;
2 V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e pelo menos cinquenta

por cento dos cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos e condições previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; (art. 19, V, LODF)
3 Art. 187. A infração disciplinar decorre de ato omissivo ou comissivo, praticado com dolo ou culpa, e sujeita o servidor às

sanções previstas nesta Lei Complementar.

Art. 193. São infrações graves do grupo I:
IX – exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
X – participar de gerência ou administração de sociedade ou empresa privada, personificada ou não personificada, salvo:
a) nos casos previstos nesta Lei Complementar; (LC nº 840/2011)
4 Altera a redação do art. 1º, caput e § 3º, e inclui o parágrafo único no art. 3º do Decreto nº 33.564, de 9 de março de 2012,

[que regulamenta as hipóteses de impedimento para a posse e exercício na administração pública direta e indireta do Poder
Executivo em função de prática de ato tipificado como causa de inelegibilidade].
5 proporcionar, sem fins lucrativos, aos seus beneficiários titulares e dependentes, em regime de autogestão, o Plano de

Assistência Suplementar à Saúde, denominado GDF-SAÚDE-DF. (art. 2º da Lei nº 3831/2006)

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Desta feita, sugere-se o conhecimento da demanda.

Convém ressaltar que a questão relativa ao cumprimento dos objetivos

para qual foi criado o INAS/DF, bem como a dispêndios orçamentário-
financeiros em contraste com a LRF e gastos com contratos, por exemplo, foram,
inicialmente, objetos dos Processos nºs 24.261/066 e 32.387/08, motivo pelo qual
a matéria não será tratada nestes autos, vez que inerente às competências de
outras unidades técnicas desta Corte de Contas.

Ademais, temos por importante destacar que o próprio INAS/DF formulou

Consulta perante esta Corte de Contas acerca das ações norteadoras para a
consecução da extinção daquela autarquia, conforme consta do Processo nº
31.767/18. Ressalte-se, no entanto, que a demanda não foi conhecida “por não
estarem preenchidos os pressupostos de admissibilidade exigidos pelos arts. 264
e 265 do Regimento Interno do Tribunal, aprovado pela Resolução nº 296/16”
(Decisão nº 5215/18).

Diante do exposto, sugere-se:

I. conhecer da Representação (e-doc 2660C8CF-e), bem como do

anexo que a acompanha (e-doc E7A42EF8-c), pelo atendimento dos
pressupostos de admissibilidade previstos no art. 230 do RI/TCDF;

II. dar ciência desta decisão ao representante do Parquet, signatário

da peça exordial da presente demanda;

III. conceder prazo de 30 (trinta) dias ao Instituto de Assistência à

Saúde dos Servidores do DF – INAS/DF e à Secretaria de Estado de
Fazenda, Planejamento, Orçamento e Gestão do DF, para, nos
termos do art. 230, § 7º, do RI/TCDF, apresentar os esclarecimentos
pertinentes quanto ao teor da representação, notadamente, relativos
aos aspectos de pessoal destacados na demanda;

IV. autorizar:

a) a realização de inspeção, se necessário for, para averiguar

os aspectos inerentes a composição do quadro de servidores e
preenchimento de cargos e funções de confiança no âmbito da
autarquia;

b) o encaminhamento de cópia da Representação e do anexo (

e-doc’s 2660C8CF-e e E7A42EF8-c) ao INAS/DF e à SEFP
para subsidiar o atendimento do previsto no item III precedente;

6 II - determinar à SGA que: a) apresente ao Tribunal os estudos técnicos que fundamentam a implantação do INAS, de forma
a demonstrar a viabilidade econômico-financeira do referido Instituto e a vantajosidade desta opção em detrimento à
celebração de convênio com as operadoras de plano de saúde suplementar, tendo em conta os princípios da eficiência e da
economicidade inseridos no "caput" do art. 37 da CF e considerando-se, ainda, a possibilidade do GDF vir a cobrir eventuais
insuficiências financeiras do GDF-SAÚDE, conforme art. 21, § 3º, da Lei nº 3.831/06; b) apresente os elementos exigidos
pelos arts. 16 e 17 da LRF, relativamente às despesas correntes e de capital derivadas da implantação do INAS; (Decisão nº
5867/06)

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c) o retorno dos autos à SEFIPE para os devidos fins.

É o relatório.

VOTO

Adotando a manifestação do Corpo Técnico como razões de

decidir, Voto por que o Plenário:

I – conheça da Representação (e-doc 2660C8CF-e), bem como do anexo

que a acompanha (e-doc E7A42EF8-c), pelo atendimento dos pressupostos
de admissibilidade previstos no art. 230 do RI/TCDF;

II - dê ciência desta decisão ao signatário da peça exordial;

III - conceda prazo de 30 (trinta) dias ao Instituto de Assistência à Saúde

dos Servidores do DF (INAS/DF) e à Secretaria de Estado de Fazenda,
Planejamento, Orçamento e Gestão do DF (SEFP), para, nos termos do art.
230, § 7º, do RI/TCDF, apresentar os esclarecimentos pertinentes quanto ao
teor da representação, notadamente, relativos aos aspectos de pessoal
destacados na demanda;

IV - autorize:

1) a realização de inspeção, se necessário for, para averiguar os

aspectos inerentes à composição do quadro de servidores e ao
preenchimento de cargos e funções de confiança no âmbito da
autarquia objeto de análise deste feito;

2) o encaminhamento de cópia da Representação nº 27/2019 – CF e

do anexo (e-DOCs 2660C8CF-e e E7A42EF8-c) ao INAS/DF e à
SEFP, para subsidiar o atendimento do previsto no item III
precedente;

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3) o retorno dos autos à Sefipe, para a adoção das providências

cabíveis.

Sala das Sessões, 4 de julho de 2019.

PAULO TADEU
Conselheiro-Relator

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