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Comentário

Uma pessoa pode ser considerada, como definição, num ser com autonomia
e consciência que se diferencia de outros, tendo por base moral um conjunto de
valores, princípios reguladores das suas ações e comportamentos, funcionando
como guias, itenerários a tomar no momento decisivo de optar por diferentes
cursos de ação, que, dependendo do prisma de que se observam, podem assumir
maior ou menor correspondência com a ética. Esta, sendo uma "esfera de reflexão
filosófica que, para além da moral, se interroga sobre aquilo que dá o sentido ou o
preço da existência humana" (Com-te Sponville e Lerry, "A Sabedoria dos Modernos.
Dez questões para o nosso tempo"), rege portanto o comportamento humano,
sintetizando os padrões sociais que nos influenciam o julgamento pessoal e definem
a nossa relação com terceiros, sendo que "A dimensão ética começa quando entra
em cena o outro." (Humberto Eco, "Cinco escritos morais").

"A Ilha", filme de 2005 de Michael Bay, propõe-nos um cenário futurista,


com o tema da clonagem, e apresenta uma questão-problema relacionada com o
curso de ação das personagens, interrogando a dimensão ética do espectador e o
seu julgamento face a uma situação inusitada. Somos transportados para 2019,
onde encontramos, à primeira vista, uma realidade pós-apocalíptica, apresentando-
se a "humanidade" num espaço subterrâneo com uma sociedade altamente
estruturada e organizada utópica, como que em estilo colónia. O verdadeiro dilema
insurge-se com o clarear da tela, a partir do momento em que a mentira é
desvendada e podemos começar a vislumbrar o engano em que os clones e o
espetador são levados a crer ao início. Correspondendo apenas a ponta do iceberg,
os demais incidentes consequentes da descoberta por parte de Lincoln e do
espectador da verdade aspiram a pintar um retrato bastante negativo e frio sobre
Merrick e a sua companhia, mas na encarnação do seu papel na história e numa
introspeção refletiva sincera sobre o seu julgamento somos levados a um impasse
moral bastante complicado.

Se de facto os objetivos iniciais, referindo-me à cura de doenças,


incapacidades e deformações através da criação de orgãos, ossos e tecidos
sobresselentes, são claramente bem intencionados, o resultado final, à vista de
todos, é tudo menos correto, quando se conclui que, neste caso, os fins não
justificaram os meios, na minha opinião. O estabelecimento de uma espécie de
"matadouro", industrializando seres com consciência e autonomia, o desrespeito
cometido com vida que em nada ou pouco se diferencia da humana e a fácil
disposição que fazem dos clones acaba por aniquilar qualquer boa intenção que
servisse de base a toda aquela construção. O filme admite mesmo as dimensões

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características de um ser humano, conferindo aos clones a capacidade de amar, de
racionalizar, de estabelecer relações e auferir de sentimentos e emoções,
comprovado pela lenta aproximação de Lincoln e Jordan.

A instrumentalização a que se procede, muito semelhante à indústria


massiva alimentar que temos no "nosso" 2019, é o entrave que mina todo o projeto
de Merrick, sendo que a alternativa, criar estruturas orgânicas semelhantes aos
humanos mas inconscientes, não se prova viável ao bom funcionamento dos orgãos
e tecidos, que são inviáveis e de alto risco. Sobre a minha perspetiva, todo o
esquema erguido sobre esta fundação fica então inexequível sobre as normais
morais e éticas.

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