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Resumo
O conceito de desempenho na construção surgiu com o final da Segunda Guerra Mundial
devido a falta de integridade estrutural das soluções construtivas utilizadas para a
reconstrução da Europa. Durante o tempo, esse conceito evoluiu que cuminou na criação da
norma de desempenho no Brasil. O estudo do surgimento e evolução se torna importante
para entender o seu propósito, verificar como está o cenário atual da indústria da construção
civil para o seu atendimento e traçar possibilidades futuras para atualizações. Esse artigo
tem o objetivo verificar as mudanças sofridas pelo conceito e norma de desempenho no Brasil
e no mundo. Verficicou-se que o conceito de desemephno é recente, principalmente no Brasil,
e que a industria da construção civil não está preparada para atender completamente os
requisitos e critérios estabelecidos pela norma, devido a falta de laboratórios de ensaios e do
comprometimento dos fornecedores de materiais em colocar no mercado materiais com
desempenho satisfatório.
1. Introdução
O Brasil viveu um momento de grande expansão no setor da construção civil nos últimos 10
anos, devido a diversos fatores que criaram condições de crescimento e sustentação do setor
durante muitos anos. Segundo Borges (2008) grande parte desse crescimento foi devido a
fatores conjunturais, entre eles destacam-se a situação macroeconômica do país, o aumento
dos investimentos externos, a queda contínua dos juros, e programas de concessão de crédito
imobiliário.
O aumento do investimento na construção civil, juntamente com o fim da Segunda Guerra
Mundial, trouxe para o Brasil novos sistemas construtivos, a fim de diminuir o déficit
habitacional existente. Esses sistemas vieram com as promessas de acelerar a construção de
habitações unifamiliares e a diminuição da mão de obra, se comparados aos sistemas
convencionais de construção. A partir dessa promessa que surgiram no Brasil os conceitos de
racionalização e industrialização da construção civil.
Paralelamente ao surgimento dos sistemas racionalizados e industrializados surgiu também às
formas de verificação e controle da execução, já que grande parte desses sistemas ditos
inovadores, apresentavam problemas de segurança estrutural, chegando até ao seu colapso
(KELLET, 1990). A falta de confiança na segurança dos novos sistemas construtivos
impulsionou o início dos estudos sobre desempenho.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Norma de desempenho: Uma visão da história e de seu atendimento no cenário atual da indústria da
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2. Histórico do desempenho
2.1 Desempenho no mundo
O conceito de desempenho vem sendo utilizado em setores produtivos como o de
automobilismo e tecnológico, para descrever o potencial dos componentes ou sistemas
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produzidos por esses fabricantes. A palavra desempenho também é bastante utilizada pelos
consumidores para expressar o atendimento ou não de suas expectativas ao comprar certo
produto. Muitas vezes o grupo de consumidores compara o desempenho desejado por eles na
hora da compra, com o desempenho entregue, onde o produto é julgado e classificado como
aceitável (quando o desempenho entregue é igual ou superior ao desejável) ou recusável
(quando o desempenho entregue é menor que o desejado).
Esse conceito vem sendo usado desde muito tempo. Segundo Gross (1996) o primeiro registro
da preocupação com o desempenho de uma edificação foi um dos artigos do Código de
Hamurabi, no século XX A.C, onde dizia se um construtor edificasse uma casa para um
Awilum1, mas não reforçasse seu trabalho, e a casa construída caísse e causasse a morte do
dono da casa, esse construtor seria morto. Apesar de o código ser bastante rigoroso, esse
artigo não traz nenhuma especificação de materiais ou técnicas construtivas que devem ser
utilizadas para a construção da casa, e sim, determina, apenas, qual deve ser o seu
comportamento, em outras palavras, o desempenho desejado.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, esse conceito também começou a se disseminar
pelos países europeus. As edificações naquela época não podiam ser reconstruídas pelos
métodos convencionais por duas razões: a primeira, o tempo, já que era necessário construir
cidades inteiras destruídas pela Guerra, abrigando famílias sem moradias e reconstruindo
infraestruturas básicas, e segundo, a escassez de mão de obra, já que a grande maioria da
força trabalhadora dos países afetados foi morta. Fez-se necessário introduzir novos sistemas
construtivos sobre os quais não era conhecido o seu comportamento ao uso2, tornando a
avaliação prévia desses novos sistemas necessária (Figura 1). Esses sistemas obtiveram alguns
insucessos, como aponta Kellet (1990), onde países como a Grã-Betanha buscaram a rápida
construção de habitações (pré-fabricação) visando suprir o déficit de habitações e que devido
a problemas de ordem tecnológicas, foram demolidas. O conceito de desempenho finalmente
surgiu e teve origem nas exigências de segurança estrutural dos produtos de uma empresa
Bélica e Aeroespacial.
Figura 1 – Exemplo de sistemas inovadores na Europa pós-guerra (NGI, 2014)
1
Awīlum eram os cidadãos livres, mesopotâmicos, que possuíam terras em seu próprio direito e que não
dependiam nem no palácio, nem no templo.
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Os sistemas construtivos introduzidos na Europa pós-guerra, eram basicamente, constituídos de aço e
madeira, materiais com grande produção nessa época.
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As três instituições (CIB, RILEM e ASTM), conjuntamente, realizaram mais dois simpósios
para a discussão do tema, o segundo em Portugal, em 1982 e o terceiro, mais recentemente,
em Israel, onde contou com a presença de mais uma instituição, a ISO (Internacional
Organization for Standardization).
A presença da ISO nos estudos sobre desempenho foi de extrema importância, já que em 1980
foi publicada a primeira norma de desempenho, a ISO 6240, que apresenta os conteúdos a
serem observados, e em 1984, foi publicada a ISO 6241, que apresenta os princípios de
projetos, os fatores que devem ser considerados para o desempenho da edificação e as
exigências do usuário (Tabela 1).
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Para Borges (2008), a criação da ISO 6241, em 1984, teve uma grande importância já que
definiu uma lista mestra de requisitos funcionais dos usuários das edificações, apresentando
quatorze categorias de requisitos, entre eles: estabilidade, segurança, higiene, acústicos,
térmicos, econômicos e outros. Muitos desses requisitos são utilizados pela ABNT NBR
15575:2013.
Na América Latina, as instituições que mais contribuíram no estudo sobre esse tema foram o
INTI (Instituto Nacional de Tecnologia Industrial), que foi responsável, na Argentina, pela
criação do CAT (Certificado de Apititud Técnica), que atuava com “Aprovações Técnicas” de
produtos e a Facultad de Arquitetura, Diseño y Urbanismo de Buenos Aires (REVERTINO,
1994).
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Ainda segundo esse autor, na América Latina, podemos citar o ICE (Instituto de la
Construcción de Edifícios) vinculado a Facultad de Arquitetura de la Universidad de la
República em Montevideo, que baseavam seus estudos, em desempenho, com um caráter
mais amplos, avaliando aspectos técnicos, físicos, sociais e econômicos.
Durante o final da década de 90, algumas medidas foram tomadas em prol do avanço nos
estudos de desempenho e a aplicação do conceito na indústria da construção. De acordo com
Meacham (2010) em 1996, houve a criação da IRCC (Inter-Jurisdictional Regulatory
Collaboration Committee) que tem como propósito, avançar em um nível internacional, as
orientações e documentações referentes a regulamentação das questões do ambiente da
construção civil, implementando sistemas de regulamentação baseados em desempenho. Em
1999, formou-se o CIB TG37 que o objetivo era bastante parecido com o do IRCC:
desenvolver um sistema para regular internacionalmente as construções civis com base no
conceito de desempenho (LORENZI, 2013).
No final do século XX, foi criado a rede temática PeBBu (Performance Based Building),
liderado pelo CIB. Para os autores Barret et al (2005) a rede foi criada com o foco na
aplicação do conceito de desempenho para promover iniciativas de crescimento competitivo e
sustentável. A criação dessa rede foi uma das iniciativas mais importantes no estudo do tema
desempenho, pois tinha como objetivo estimular e facilitar de maneira pró-ativa a
disseminação internacional e a implementação da construção baseada no desempenho na
prática da Indústria da Construção (BORGES, 2008). Segunda esse autor, os trabalhos desse
programa começaram oficialmente em outubro de 2001 e terminaram em setembro de 2005.
No Brasil, o conceito de desempenho foi introduzido com a chegada dos novos sistemas
construtivos que surgiram, assim como na Europa, para suprir o déficit de habitações. Esses
novos sistemas construtivos foram utilizados principalmente na construção dos grandes
conjuntos habitacionais na Bahia e em São Paulo, que serviram da grande laboratório para
novas tecnologias, na década de 70.
Os produtos empregados nesses conjuntos habitacionais nem sempre tiveram sua tecnologia
devidamente desenvolvida e avaliada, assim muito deles apresentaram problemas patológicos,
comprometendo aspectos de segurança e habitabilidade (MITIDIERI FILHO, 1998), trazendo
certo descrédito para as construções industrializadas.
Com o estímulo à racionalização e à industrialização, pesquisas relacionadas à criação de
novos sistemas construtivos foram surgindo, e juntamente com as mesmas, os seus métodos
de avaliação, a fim de estudar o comportamento durante a sua vida útil.
Rosso (1980) publicou, na década de 70, um dos primeiros trabalhos que tinham como tema a
racionalização da construção com base no desempenho das edificações. Após essa publicação
surgiram outros pesquisadores da área, com trabalhos baseados em desempenho de
construções como, por exemplo, Souza (1983), Flauzino (1983) e Mitidieri Filho (1988).
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O Banco nacional da Habitação (BNH) era um dos maiores financiadores de habitações populares na década
de 70.
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O início da abertura econômica do país possibilitou a entrada de tecnologias disponíveis em países
desenvolvidos.
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O sistema de Paredes de Concreto moldadas in loco recebeu uma norma de requisitos e procedimentos –
ABNT NBR 16055:2012.
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Hoje esse projeto é denominado por Sistema de Qualificação de Empresas de Materiais, Componentes e
Sistemas Construtivos (SIMAC) (PBQP-H,2014).
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Tecnologias convencionais entendidos aqui como: Estrutura independente de concreto armado e Vedação de
blocos cerâmicos
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função de uma vida útil e os elementos e componentes especificados devem ter durabilidade
compatível com a vida útil especificada.
Embora inicialmente a norma tenha sido focada em edificações residenciais de até cinco
pavimentos, isto permitiu uma reflexão sobre a sistematização das necessidades ou exigências
dos usuários e as formas de incorporação desses conceitos às várias etapas dos projetos. A
elaboração da norma ajudou ainda a diminuir a subjetividade da avaliação da qualidade das
construções e a balizar o judiciário nas demandas entre consumidores e construtores, sendo
um instrumento a mais para dar amparo e proteção ao consumidor.
O texto da norma de desempenho trata a edificação como um produto, que, como tal, deve ter
um desempenho global mínimo determinado, independentemente dos sistemas construtivos
que forem utilizados. Assim, a norma considera as exigências do usuário em tópicos como
segurança, estanqueidade, higiene, conforto e durabilidade. Com o cruzamento de exigências
e respostas da edificação fica claro o conceito muito conhecido, mas pouco aplicado na
relação entre construtor/incorporador e usuário de uma edificação: o custo-benefício.
Além disso, Lima (2005) afirma que como os usuários procuram cada vez mais por produtos
de qualidade e que apresentem um desempenho equivalente, e a norma vem ao encontro à
atual necessidade da sociedade que aliada à alta competitividade do mercado faz com que as
empresas procurem por soluções tecnológicas e econômicas que reflitam estas expectativas e
que acaba por se tornar objetivo do empreendimento.
A ABNT NBR 15575:2013 entrou em vigor no ano de 2010, passando por etapa de revisão
pública para reavaliar padrões realmente exequíveis pelo mercado, e no mesmo ano foi
reaberta a comissão de estudos, com consulta pública para prorrogação da data de vigência
plena original. No ano de 2011, foram iniciados os trabalhos de revisão com a coordenação do
engenheiro Fábio Villas Boas. Houve a formação de novos grupos de trabalhos temáticos para
analisar os itens mais polêmicos da norma (LORENZI, 2013). Em setembro de 2012 começou
a contar mais um período de seis meses para as empresas adaptarem os novos projetos
habitacionais ao novo texto normativo. A norma se tornou exigível em julho de 2013, agora
sob novo título: Edificações Habitacionais- Desempenho. Na Figura 3 a seguir, é apresentada
a cronologia da Norma.
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Fonte: Autor
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O texto proposto pela norma prevê três níveis de desempenho estabelecidos para os diferentes
sistemas da edificação em função das necessidades básicas do usuário. O desempenho
considerado mínimo (M) é expresso em função das necessidades básicas e deve ser
obrigatoriamente atendido. Já os níveis intermediário (I) e superior (S) consideram a
possibilidade de maior agregação de qualidade dos sistemas, sendo que a cada nível está
relacionado um prazo de garantia e vida útil correspondente.
A avaliação do desempenho exigido pela Norma de Desempenho busca analisar a adequação
ao uso de um sistema que deve atender uma função, independentemente da solução técnica
adotada. Portanto, essa avaliação requer o domínio de uma ampla base de conhecimentos
científicos sobre cada aspecto funcional da edificação, sobre materiais e técnicas de
construção, bem como sobre os diferentes requisitos dos usuários nas mais diversas condições
de uso. Sendo assim, é recomendado que a avaliação do desempenho seja realizada por
instituições de ensino ou pesquisa, laboratórios especializados, empresas de tecnologia,
equipes multiprofissionais ou profissionais de reconhecida capacidade técnica.
A Norma especifica diferentes métodos de avaliação para análise de atendimento aos
requisitos e critérios apresentados, podendo ser realizados ensaios laboratoriais, ensaios de
tipo, ensaios em campo, inspeções em protótipos ou em campo, simulações e análise de
projetos.
Considerando que o atendimento aos requisitos de desempenho envolve toda a cadeia
produtiva e de uso das edificações, a ABNT NBR 15575:2013 traz ainda as responsabilidades
cabidas a cada parte envolvida desde a concepção das edificações até o pós-obra e operação
das mesmas, exigindo a coordenação de todo o processo. A Norma de Desempenho explicita
que as incumbências são baseadas na ABNT NBR 5671:1990. De maneira geral,
fornecedores, projetistas, incorporadores, construtores e usuários devem atuar de forma a
garantir que os requisitos determinados na Norma sejam atendidos ao longo da vida útil da
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edificação.
Dessa forma, os projetistas são responsáveis pela determinação da Vida Útil de Projeto (VUP)
e especificação de materiais, produtos e processos que atendam aos desempenhos mínimos
exigidos pela Norma. Essas determinações trazem maiores responsabilidades aos projetistas e
fazem com que surja uma nova metodologia de projetar edificações, exigindo maiores
conhecimentos técnicos e de desempenho por parte dos projetistas.
Cabe ao incorporador identificar riscos previsíveis na época do projeto, providenciar estudos
quando necessário e alimentar os projetistas com relação às informações necessárias à
elaboração dos projetos. Construtores devem seguir rigorosamente o projeto, dominando
técnicas construtivas e ambos devem estar envolvidos na elaboração do Manual de Uso,
Operação e Manutenção, ou documento similar, atendendo à ABNT NBR 14037:2011, e
ABNT NBR 5674:2012 que devem ser entregue ao proprietário quando da disponibilização
da edificação para uso.
Os fornecedores de insumos, materiais, componentes e/ou sistemas devem caracterizar o
desempenho de seus produtos de acordo com a Norma, fornecendo resultados que
comprovem esse desempenho e buscando a padronização dessas informações. Esse é um
ponto de grande importância abordado pela Norma, uma vez que atualmente a indústria de
materiais de construção, na grande maioria dos casos, não fornece tais características.
E por último, fica sob responsabilidade dos usuários a utilização adequada da edificação e
realização de manutenções de acordo com o estabelecido no Manual de Uso, Operação e
Manutenção, não podendo também efetuar modificações que piorem o desempenho da
edificação entregue pelo construtor.
Diante de todas essas incumbências o processo como um todo deve introduzir novas práticas
de projeto, especificações e de escolha de materiais e sistemas construtivos, seleção de
fornecedores, execução de obras e instruções de uso e manutenção. No que se refere à questão
da corresponsabilidade pelo desempenho e vida útil de uma edificação entre projetistas,
fabricantes, incorporadores/construtores e moradores, a lei do consumidor já dá respaldo no
que se refere à responsabilidade solidária do construtor frente ao produto da construção civil.
A principal questão é que o construtor absorvia toda, ou a maior parte da responsabilidade e
com as determinações da Norma esse quadro é em parte alterado, pois como a norma deixa as
responsabilidades estabelecidas e esclarecidas a clareza nos papéis dos agentes aumenta a
possibilidade de acerto no produto final.
A publicação da ABNT NBR 15575 em 2008 foi responsável por trazer importantes avanços
para o setor da construção, introduzindo no setor a abordagem em desempenho no lugar do
caráter prescritivo. Mudando o foco para o conforto e segurança do usuário, a norma gerou
ainda um incentivo à inovação e sustentabilidade, apresentou a qualidade como valor
agregado e estabeleceu a corresponsabilidade para toda a cadeia da construção, desde
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VUP para os sistemas estruturais subiu de 40 para 50 anos, passando a estar de acordo com as
normas internacionais.
Alguns requisitos e critérios específicos foram alvo de novos acordos entre os agentes da
cadeia da construção civil. Entre os principais estão o desempenho acústico, o
escorregamento, o impacto e a estanqueidade em pisos, a ventilação em função das zonas
bioclimáticas, os forros e os quesitos de instalações.
Desempenho térmico foi um dos itens que sofreram maiores modificações. Os requisitos de
desempenho passaram de caráter informativo para normativo e foi incluída na Norma a
possibilidade de avaliação da edificação por simulação computacional. O maior avanço com
relação ao desempenho térmico foi atrelar os requisitos e critérios às zonas bioclimáticas
brasileiras definidas na ABNT NBR 15220-3: 2005, uma vez que as características térmicas
de uma cidade para outra são muito variáveis, influenciando diretamente no desempenho das
edificações. Cidades que se localizam nas zonas bioclimáticas 6, 7 e 8, por exemplo, não
precisam ser avaliadas para o desempenho térmico para inverno. Houve avanço no
esclarecimento quanto aos aspectos a serem considerados, como cor das fachadas e ventilação
dos ambientes, considerando ainda a possibilidade de redução da incidência da radiação solar
direta nos ambientes em razão de sombreamento de aberturas.
O desempenho acústico também foi alvo de mudanças relevantes, apesar de ainda haver a
necessidade de compatibilização da Norma de Desempenho com demais normas brasileiras de
acústica, que estão em processo de revisão. De acordo com a nova versão da Norma, não é
mais necessário realizar medições antes da execução da obra, porém a Norma ficou mais
restritiva, adequando particularmente os critérios de isolação a ruídos aéreos entre unidades
habitacionais. Especificamente na Parte 4, aplicada às vedações, a revisão propôs a
classificação das edificações em classes de ruídos e o desempenho mínimo para vedações
externas, antes expresso por uma faixa de aceitação, agora é determinado por um valor único,
tornado a avaliação mais objetiva. Para o caso de vedações internas, a nova Norma aborda
uma maior quantidade de elementos a serem avaliados, atribuindo valores diferenciados para
paredes de dormitórios, além de permitir avaliar o desempenho acústico entre duas unidades,
mesmo que não haja uma parede de geminação entre elas.
De um modo geral, especificamente no que se refere aos sistemas de vedações verticais
externas e internas houve também maior esclarecimento nos aspectos de desempenho
estrutural, ficando mais evidentes os critérios referentes ao estado-limite último e ao estado-
limite de serviço. O aprimoramento e complementação dos aspectos relativos à segurança ao
fogo, também merece destaque. Em particular os critérios relativos à reação ao fogo,
considerando propagação de chama e geração de fumaça, incluindo o ensaio SBI9 (Single
Burning Item), previsto para painéis tipo sanduíche que incorporam materiais combustíveis. A
revisão da Norma trouxe ainda a adequação dos critérios e métodos de estanqueidade à água,
considerando a revisão da norma brasileira de esquadrias externas.
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O ensaio de Unidade de Reação ao fogo, ou Single Burning Item Test, é normatizado pela norma europeia EN
13823:2010
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No que se refere aos materiais que deverão ser ensaiados em conformidade com a norma, os
sistemas construtivos considerados inovadores, por possuirem um ambiente favorável à
avaliação da inovação tecnológica, como o Sinat, vinculado ao PBQP-H, por exemplo, já têm
dados sobre desempenho potencial, divulgados quando da publicação dos respectivos
Documentos de Avaliação Técnica (Datec´s).
Materiais com uso consagrado, como aço, não precisam de ensaios já são certificados. Basta à
construtora exigir os parâmetros necessários para atender aos requisitos de vida útil, por
exemplo. Por outro lado, os sistemas ou materiais construtivos inovadores necessitarão de
mais ensaios. Um bom modo de se guiar é verificar se o produto está no Programa Setorial da
Qualidade do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat). Deve-
se levar em consideração também que muitas dos sistemas tradicionalmente usados já
atendem às características exigidas na norma, bastando ser atestados, como o desempenho
acústico e térmico para o caso de paredes de 14 cm nas fachadas, por exemplo. Mas ainda há
necessidade de supressão de lacunas para esses sistemas convencionais.
A adequação dos fornecedores também é uma etapa trabalhosa. Muitos não atendem aos
requisitos da Norma de Desempenho e dependendo do estudo de viabilidade, pode-se chegar à
conclusão de que não será mais possível trabalhar com determinado material.
Outro grande desafio para adequação à Norma está também no setor de produto. O
desenvolvimento dos empreendimentos e os projetistas terão que preservar a estética e atender
aos requisitos. Diante dessa situação, o impacto da norma sobre o desenvolvimento dos
projetos resultará num custo mais elevado, em função da maior importância para a fase de
especificações, que deverão ser bem mais detalhadas e completas.
Além disso, a Norma coloca de forma muito clara, as questões de custo/benefício. Essa nova
situação afeta principalmente a indústria imobiliária que atende às edificações de padrão
econômico, em que o que manda é somente o preço. E a construção, especialmente no
segmento popular, terá de considerar determinados produtos e procedimentos que hoje não
adota.
5. Conclusão
O surgimento do conceito de desempenho no âmbito da construção civil foi importante para a
evolução dos materiais e sistemas construtivos. Esse surgimento veio da necessidade de
garantir certas exigências dos usuários das edificações como, por exemplo, a segurança,
habitabilidade e sustentabilidade.
Grandes entidades mundiais ligadas a indústria da construção começaram seus estudos sobre
desempenho, surgindo assim a primeira norma de desempenho no mundo. No Brasil, a norma
surgiu da necessidade de garantir o desempenho, principalmente, para habitações de interesse
social.
Algumas mudanças aconteceram desde o surgimento da norma no Brasil. Essas mudanças
vieram com o intuito de adequar a norma a realidade do mercado brasileiro. Finalmente,
quando tornada exigível, observa-se que o mercado continua sem preparo para garantir o
atendimento de todos os requisitos citados na norma.
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Parte desse despreparo advém dos desfalques de institutos e laboratórios autorizados para a
realização dos ensaios nos materiais, componentes e elementos da edificação. A norma de
desempenho prioriza a realização de ensaios para aumentar os subsídios de dados para
projetistas. Esses dados são importantes para a obtenção de desempenho da construção desde
a etapa de projeto.
Outras entidades ligadas a indústria da construção, como por exemplo, os fornecedores
também precisam se adequar aos requisitos da norma de desempenho para um avanço durante
todo o processo de produção da edificação. Os usuários possuem um papel importante, já que
são responsáveis pela manutenção da edificação. Manuais de uso, operação e manutenção,
devem ser entregues aos usuários, a fim de garantir a Vida Útil da edificação.
A norma deve sofrer atualizações futuramente se adequando ainda mais ao cenário que se
encontra o mercado. Requisitos como o de desempenho térmico, acústico e lumínico, devem
receber requisitos ligados ao conforto do usuário, assim como, requisitos de sustentabilidade,
receberem critérios referentes a outra normas e organismos de certificação ambiental.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
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____.ISO 6241. Performance standarts in building – Principles for their preparation and
factors to be considered. Geneva, Switzerland, 1984.
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