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INSTITUTO DE ECONOMIA
JANEIRO 2002
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
RIO DE JANEIRO
JANEIRO DE 2002
MEIO AMBIENTE, INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE NA INDÚSTRIA
BRASILEIRA: A CADEIA PRODUTIVA DO PETRÓLEO
___________________________________________________________
Prof. CARLOS EDUARDO FRICKMANN YOUNG
___________________________________________________________
Profa ELDELMIRA DEL CAMEN ALVEAL CONTRERAS
___________________________________________________________
Prof. MAURÍCIO TIOMNO TOLMASQUIM
___________________________________________________________
Prof. PAULO BASTOS TIGRE
___________________________________________________________
Profa SONIA MARIA DALCOMUNI
RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA/UFRJ
janeiro de 2002
i
Ficha Catalográfica
ii
“Any great change must expect opposition because it shakes the very foundation of
privilege”
“A tecnologia revela o modo como o homem lida com a natureza, o processo de produção
pelo qual sustenta sua vida e, assim, põe a nu o modo de formação de suas relações sociais
e das idéias que fluem destas”
Karl Marx
O Capital, v. I, cap. 15.
iii
AGRADECIMENTOS
iv
Para os meus irmão e irmãs pela ajuda a suportar a perda de nossos pais durante o
doutorado;
Para o Rogério, Lena e Gabriel pelo carinho e amor de sempre. Certamente ficarão
muito felizes de não me ouvirem mais dizer: “Quando eu terminar a tese ...”.
A todos, muito obrigada ☺
v
RESUMO
vi
recursos. A análise das principais tendências da pesquisa e desenvolvimento de tecnologias
ambientais revela que os principais temas abordados pelos projetos ambientais em
desenvolvimento foram o monitoramento e o tratamento de final de tubo. Não há
evidências de uma integração ampla entre empresas, reguladores e grupos de interesses
quanto ao sistema de monitoramento ambiental e divulgação das informações de forma
organizada, sistemática e de acesso fácil. Aliado a este fator, a fragilidade institucional da
gestão ambiental pública reduz as pressões necessárias à implementação de uma política
mais agressiva em termos ambientais para o setor. Assim, mesmo com avanços
importantes na área ambiental, a política pública relativa ao meio ambiente na indústria
brasileira de petróleo tem se mostrado adaptativa, se comparada às tendências mundiais –
estratégias de domínio de tecnologias limpas para a geração de energia.
vii
ABSTRACT
viii
integration between companies, regulators e stakeholders concerning the environmental
monitoring system e the spread of those information in a well organized, systematic and
easy access way. In addition, the institutional fragility of the public environmental
management system reduces the needed pressures to implement a more emphatic
environmental policy for this sector. Despite of significant improvement concerning the
environment, environmental public policy related to the Brazilian oil industry is being
more reactive, if compared with international tendencies – the strategy of dominance of
clean technologies for energy production.
ix
Índice
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1
x
Capítulo 3 - A CADEIA PRODUTIVA DO PETRÓLEO .................................................. 115
4.1. Problemas Ambientais das Etapas da Cadeia Produtiva do Petróleo .................... 161
4.1.1 O upstream ....................................................................................................... 162
4.1.2 O refino ............................................................................................................. 165
4.1.3. As atividades secundárias............................................................................... 169
4.1.4. Os acidentes..................................................................................................... 170
4.1.5 O consumo do petróleo enquanto fonte de poluição ......................................... 175
4.2. A Cadeia do Petróleo e seu Aparato Regulatório na Área de Meio Ambiente...... 179
4.2.1. Breve histórico da gestão ambiental pública no Brasil ................................... 179
4.2.2. Legislação ambiental da cadeia do petróleo e as agências reguladoras .......... 181
xi
5.4 As Tecnologias Alternativas e as Convergências Tecnológicas: mudança de
paradigma ou novas trajetórias tecnológicas no paradigma dos hidrocarbonetos? ....... 205
5.4.1. Tendências tecnológicas na direção de tecnologias mais limpas.................... 205
5.4.2. A estratégia de domínio de tecnologias limpas para a geração de energia ...... 207
CONCLUSÕES.................................................................................................................. 211
xii
Lista de tabelas
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Empresas que consideram o meio ambiente uma oportunidade de negócios e
seus percentuais médios de exportações sobre o total das vendas, segundo origem do
capital controlador – 1996............................................................................................ 75
Tabela 2 – Empresas que consideram perdas de mercados devido aos efeitos de sua
atividade sobre o meio ambiente e seus percentuais médios de exportações sobre o
total das vendas, segundo origem do capital controlador – 1996................................. 76
Tabela 3 – Empresas que consideram elevação de custos derivada dos efeitos de sua
atividade sobre o meio ambiente e seus percentuais médios de exportações sobre o
total das vendas, segundo origem do capital controlador – 1996................................. 77
Tabela 4 – Empresas que consideram a degradação da imagem institucional derivada dos
efeitos de sua atividade sobre o meio ambiente e seus percentuais médios de
exportações sobre o total das vendas, segundo origem do capital controlador – 1996 77
Tabela 5 – Empresas que realizaram investimentos na reutilização ou tratamento de
resíduos para redução dos problemas ambientais decorrentes de suas atividades e seus
percentuais médios de exportações sobre o total das vendas, segundo origem do
capital controlador – 1996............................................................................................ 78
Tabela 6 – Empresas que realizaram investimentos na substituição de insumos
contaminantes para redução de problemas ambientais decorrentes de suas atividades e
seus percentuais médios de exportações sobre o total das vendas, segundo origem do
capital controlador – 1996............................................................................................ 79
Tabela 7 – Empresas que investiram em mudanças no processo de produção para redução
de problemas ambientais e seus percentuais médios de exportações sobre o total das
vendas, segundo origem do capital controlador – 1996 ............................................... 79
Tabela 8 – Grau de importância da estratégia de preservação do meio ambiente como fator
de motivação para a empresa inovar e percentuais médios de exportações sobre o total
das vendas, segundo origem do capital controlador – 1996......................................... 80
Tabela 9 – Empresas que adotaram programas e técnicas para melhoria de métodos
produtivos para defesa do meio ambiente e percentuais médios de exportações sobre o
total das vendas, segundo origem do capital controlador – 1996................................. 81
Tabela 10 – Tamanho das empresas de acordo com o pessoal ocupado, segundo a origem
do capital controlador – 1996....................................................................................... 82
xiii
Lista de tabelas
Tabela 11– Faixa de receita líquida das empresas (em R$), segundo a origem do
capitalcontrolador – 1996............................................................................................. 83
Tabela 12 – Comportamento das empresas em relação às variáveis consideradas como
indicadores de competitividade, segundo faixa de receita líquida – 1996 ................... 84
Tabela 13 – Comportamento das empresas em relação às variáveis consideradas como
indicadores de competitividade, segundo o tamanho da firma de acordo número de
pessoas ocupadas – 1996.............................................................................................. 85
Tabela 14 – Comportamento das empresas em relação às variáveis consideradas como
indicadores de inovação ambiental para melhorar a competitividade, segundo faixa de
receita líquida – 1996 ................................................................................................... 86
Tabela 15 – Comportamento das empresas em relação às variáveis consideradas como
indicadores de inovação ambiental para melhorar a competitividade, segundo o
tamanho da firma de acordo número de pessoas ocupadas – 1996.............................. 86
Tabela 16 – Grau de importância da estratégia de preservação do meio ambiente como
fator de motivação para a empresa inovar e percentuais por tamanho da firma, segundo
o tamanho da firma de acordo número de pessoas ocupadas – 1996........................... 87
Tabela 17 – Grau de importância da estratégia de preservação do meio ambiente como
fator de motivação para a empresa inovar e percentuais por tamanho da firma, segundo
a faixa de receita líquida – 1996................................................................................... 88
Tabela 18 – Empresas que investiram em mudanças no processo de produção para redução
de problemas ambientais decorrentes de suas atividades, segundo grau de importância
do departamento interno de P&D – 1996..................................................................... 90
Tabela 19 – Empresas que realizaram investimentos na substituição de insumos
contaminantes para redução de problemas ambientais decorrentes de suas atividades,
segundo grau de importância do departamento interno de P&D – 1996 ..................... 90
Tabela 20 – Empresas que realizaram investimentos na reutilização ou tratamento de
resíduos para redução de problemas ambientais decorrentes de suas atividades,
segundo grau de importância do departamento interno de P&D – 1996 ..................... 91
Tabela 21 – Grau de importância da estratégia de preservação do meio ambiente como
fator de motivação para a empresa inovar, segundo grau de importância do
departamento interno de P&D-1996 ............................................................................ 92
xiv
Lista de tabelas
xv
Lista de tabelas
Tabela 39 – Fontes e setores responsáveis pela emissão de CO2 – Brasil – 1990............. 176
Tabela 40 – Chamadas de Projeto CTPETRO – 1999/2000 ............................................. 196
xvi
Lista de quadros
Lista de Quadros
Quadro 1 – O Macro-Complexo Químico......................................................................... 139
Quadro 2 – Cadeia Produtiva do Petróleo ......................................................................... 140
Quadro 3 – Mapa do Macro-complexo Químico – 1996 (em R$ milhões)....................... 141
Quadro 4 – Mapa do Processo de Exploração e Produção ................................................ 143
Quadro 5 – Principais Impactos Ambientais das Etapas da Cadeia do Petróleo............... 178
Quadro 6 – Algumas Leis Brasileiras Referentes ao Meio Ambiente............................... 179
Quadro 7 – O Que Determina a Resolução Conama 23/94............................................... 182
Quadro 8 – Licenças e Estudos para Licenciamento Ambiental das Atividades de E&P. 183
Quadro 9 – Cadeia do Petróleo e o Quadro Legal Federal................................................ 188
Quadro 10 – Projetos Ambientais CTPETRO................................................................... 202
xvii
Lista de figuras
Lista de Figuras
Figura 1 – Produção,Consumo e Déficit de Consumo de Petróleo no Brasil - 1990 a 2000
(mil barris/dia)............................................................................................................ 135
Figura 2 – Esquema Básico de Refino............................................................................... 147
Figura 3 – Área Concedida por Empresa .......................................................................... 149
Figura 4 – Petróleo Processado e Capacidade de Processamento de Petróleo e Condensado
nas Refinarias Nacionais ............................................................................................ 155
Figura 5 – Produção de Derivados de Petróleo nas Refinarias Nacionais – 1999............. 155
Figura 6 – Exportação de Derivados de Petróleo – 1999 .................................................. 156
Figura 7 – Postos Revendedores de Combustíveis Automotivos por Distribuidora – 1999
.................................................................................................................................... 157
xviii
Introdução
INTRODUÇÃO
1
Os recursos naturais podem ser renováveis ou não renováveis. Os não renováveis são finitos “... que, em
escala de tempo humana, uma vez consumido(s) não possa(m) ser renovado(s)” (Lima-e-Silva et alii,
1999:194). Pertencem a esta categoria os minerais e os combustíveis fósseis. Os renováveis não podem ser
totalmente consumidos dada sua capacidade de reprodução – como a fauna e a flora – ou de regeneração –
como a água e o ar. Entretanto, os recursos renováveis podem ser depletados, pois sua velocidade de
exploração pode ser maior do que sua capacidade de renovação.
2
Não significa, entretanto, que os economistas clássicos não se preocupavam com a escassez de recursos
produtivos, inclusive os recursos naturais. Pelo contrário, uma das grandes contribuições teóricas de David
Ricardo, a teoria da renda da terra, mostra as implicações para o crescimento econômico de cultivar terras
menos férteis – portanto da escassez de terras férteis –, dados os rendimentos decrescentes da produção
agrícola, encarecendo os alimentos. Thomas Robert Malthus colocou os primeiros questionamentos quanto à
sustentabilidade do sistema econômico, pois previa a escassez de alimentos – o centro de seu argumento é
que a população crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmétrica,
1
Introdução
a questão da finitude dos recursos naturais, vista como ameaça ao crescimento das
economias modernas, entra definitivamente na agenda de pesquisa dos economistas.
Além da utilização intensiva dos recursos naturais, os rejeitos dos processos
produtivos lançados no meio ambiente resultaram no acúmulo de poluentes acima da sua
capacidade de absorção, gerando a poluição. Esta passa de uma dimensão local –
degradação dos corpos hídricos, dos solos e da qualidade do ar – para uma dimensão
regional e global. Muitas décadas após o início do processo de industrialização, a
possibilidade da terra estar se aquecendo mais rapidamente, pelo aumento da concentração
de gases do efeito estufa na atmosfera, tornou-se uma das principais preocupações
ambientais globais.
A depleção dos recursos naturais e a poluição são problemas ambientais resultantes
das ações antrópicas, que também levam à perda de diversidade biológica – biodiversidade
–, gerando desequilíbrios nos ecossistemas e fazendo com que percam parte de suas
funções biológicas e sociais. Este conjunto de problemas é denominado de “questão
ambiental”. Estes efeitos negativos sobre o meio ambiente são resultados de decisões e
ações passadas, sugerindo uma interdependência temporal, revelando um processo de
mudanças contínuas e evidenciando incertezas em relação ao conhecimento dos impactos
ambientais resultantes do crescimento econômico.
Mas a tecnologia, por si só, mesmo utilizando intensivamente recursos naturais e
devolvendo os rejeitos das atividades produtivas para o meio ambiente, não geraria
impactos ambientais significativos se não fosse o efeito escala. O aumento contínuo da
produção demanda maior quantidade de recursos naturais e joga mais rejeitos no meio
ambiente. Esse aumento está associado ao crescimento da população, logo ao crescimento
da demanda, e também ao modo de produção capitalista – a outra cara-metade da
Revolução Industrial.
Para o crescimento da produção capitalista é necessário novos mercados, portanto,
novas necessidades dos consumidores. Assim, crescem a população e suas necessidades,
aumentando a escala da produção industrial, a demanda por recursos naturais e os rejeitos
tornando o sistema não sustentável. Entre os economistas neoclássicos, William Stanley Jevons, em 1865,
analisou o risco da exaustão do carvão, a maior fonte de energia para indústria à época, e suas potenciais
conseqüências catastróficas para a continuidade do crescimento econômico (Vercelli, 2000). Arthur Cecil
Pigou, em 1920, introduziu o conceito de externalidade - consumo ou produção de um bem gera efeitos
benéficos ou adversos a outros agentes que não são compensados no mercado via preços -, colocando a
poluição como uma externalidade negativa do processo de produção industrial.
2
Introdução
Inovação e Competitividade
O setor industrial é um dos que mais provoca danos ao meio ambiente, seja por seus
processos produtivos ou pela fabricação de produtos poluentes e/ou que tenham problemas
3
Introdução
de disposição final após sua utilização. Se por um lado as tecnologias3 adotadas levaram à
degradação ambiental, elas também possibilitaram maior eficiência no uso dos recursos
naturais e a substituição de insumos no processo produtivo – um exemplo marcante foi o
melhor aproveitamento energético dos derivados do petróleo e a sua substituição parcial
por outras fontes energéticas após o primeiro choque do petróleo em 1973. Portanto, o
desenvolvimento tecnológico na direção de um padrão de produção menos agressivo ao
meio ambiente é visto como uma solução parcial do problema.
Em oposição à este “otimismo tecnológico” estão os autores conservacionistas4,
que acreditam que os recursos naturais não podem ser perfeitamente substituíveis, pois
possuem características particulares, “... de difícil ou mesmo impossível reprodução por
sistemas produtivos; ... O consumo destes recursos contém um certo grau de
irreversibilidade e, portanto, o consumo atual redunda na impossibilidade das gerações
futuras disporem da base atual de recursos naturais” (Young, C. E. F. in: Oliveira,
1998:57).
Entretanto, o processo concorrencial das empresas nas economias capitalistas gera
uma necessidade de diferenciação permanente em relação aos seus concorrentes. A busca
desta diferenciação passa pelo processo de inovação – ao ter o domínio de uma nova
técnica de produção ou de um novo produto, a empresa passa a auferir vantagens
econômicas, sejam lucros extraordinários ou manutenção de sua parcela de mercado.
As inovações podem ser técnicas ou organizacionais. As primeiras referem-se à
introdução de um novo processo, produto, sistema ou equipamento, ou seja, é a elaboração
de novos princípios técnicos. As segundas são mudanças na forma de organização, nas
políticas, nas tarefas, nos procedimentos e nas responsabilidades – é a introdução de novas
rotinas de trabalho, procedimentos administrativos, relações intra-organizacionais, práticas
gerenciais e relacionamento com os grupos de interesse (Kemp et alii, 2000).
Na medida em que a preservação do meio ambiente tornou-se um fator de
diferenciação para as empresas, caracterizando-se como uma oportunidade de negócios,
surgiu a possibilidade de incluir preocupações ambientais em suas estratégias empresariais,
3
A tecnologia é entendida como “... a set of pieces of knowledges, both directly ‘practical’ (related to
concrete problems and devices) and ‘theoretical’ (but practically applicable although not necessarily
already applied), know-how, methods, procedures, experience of successes and failures and also, of course,
physical devices and equipment” (Dosi, 1984:14).
4
São autores que colocaram a questão da sustentabilidade na agenda de pesquisa de diferentes áreas do
conhecimento nos anos 60, como Herman Daly, Kenneth Boulding e John Krutilla.
4
Introdução
5
Introdução
6
Introdução
contexto mais amplo, que inclui o ambiente institucional, cultural e social, a infra-
estrutura, aspectos macroeconômicos, o sistema de inovação. O foco da análise deve,
portanto, sair da firma e centrar-se nos setores industriais, buscando uma abordagem
sistêmica.
7
Introdução
A reboque do vazio deixado pelo Estado, aproveitando para melhorar sua imagem e
ter o reconhecimento da sociedade de ser um ator chave no processo de transformação, as
empresas passaram a investir em programas ambientais de cunho social. Em final de 2001,
existiam 183 projetos sociais ligados ao meio ambiente, patrocinados por empresas dos
mais diversos setores industriais5 (Exame, novembro/2001). Mesmo com pouco incentivo
fiscal, as empresas envolveram-se nestes projetos na busca de uma imagem positiva,
servindo como poderoso instrumento de marketing, diferenciando-se de seus concorrentes
e ganhando espaço na mídia – de forma espontânea, inclusive. Este é um primeiro indício
de que o meio ambiente pode ser uma forma de melhorar a competitividade – por meio do
marketing ecológico.
A despeito das ações sócio-ambientais implementadas pelas empresas, com
resultados positivos para o meio ambiente e para a sociedade, os problemas ambientais
“dentro de casa” – resultado dos impactos ambientais negativos de suas atividades centrais
– ficaram bem aquém da visibilidade dos projetos ambientais voltados para a sociedade.
As exceções são as empresas que sofreram alguma pressão para fazê-lo: das
regulamentações de outros países em relação ao produto exportado, como no caso das
grandes empresas exportadores do setor de papel e celulose, e das regulamentações
nacionais, que forçam as empresas diminuírem os impactos ambientais de suas atividades.
A redução de custos também exerceu um papel importante na minimização dos
impactos ambientais das empresas. O meio ambiente, entretanto, não era o foco principal –
os programas de conservação de energia, de otimização de processos com objetivos de
reduzir os custos com matérias primas, os processos de controle automatizados que
reduzem desperdícios, entre outros, tiveram um rebate positivo na utilização mais racional
dos recursos naturais.
A implementação crescente da gestão ambiental, inclusive por meio da certificação
de acordo com as normas ISO 14001, espelha a preocupação das empresas com seus
problemas internos relativos ao meio ambiente. Porém, a certificação ambiental também
serviu como um instrumento de marketing ecológico. A certificação pelas normas ISO
14031, de avaliação da performance ambiental, não tomou o mesmo impulso no esforço de
certificação por parte das empresas.
5
Destes projetos, 13 foram patrocinados por empresas da indústria do petróleo: a Petrobras com 12 projetos,
no valor total de R$ 4.117 mil, e a Shell com um projeto, no valor de R$ 70 mil.
8
Introdução
A cadeia do petróleo
9
Introdução
Objetivos
O foco da análise desta tese não é como a questão ambiental modifica a rotina das
empresas – por meio da gestão, auditoria ou contabilidade ambiental –, mas sim como a
questão ambiental pode mudar o ambiente competitivo e, consequentemente, as estratégias
das empresas e setores industriais, tendo como estudos de casos a indústria de
transformação brasileira e, mais detalhadamente, a cadeia produtiva do petróleo.
A contribuição desta tese é no sentido de propor um instrumental de análise dos
fatores determinantes da relação entre regulamentação ambiental, inovações ambientais e
competitividade utilizando os conceitos da teoria evolucionária da mudança tecnológica,
podendo servir de referencial para subsidiar políticas na direção de aliar crescimento
econômico com preservação ambiental.
Uma vez que a história da indústria do petróleo foi marcada por sucessivas e
intensas inovações, o que permitiu seu desenvolvimento e soberania, seria também
possível flexibilizar o trade-off entre produção industrial e preservação do meio ambiente
por meio de inovações ambientais? Sendo as inovações um fator importante de
10
Introdução
competitividade das empresas – como no caso da própria indústria do petróleo –, até que
ponto a questão ambiental vai influenciar na competitividade das empresas do setor como
um fator de diferenciação?
A tese tem por objetivos:
buscar evidências sobre o comportamento da indústria brasileira em relação às questões
ambientais e sua posição competitiva, enfatizando a relação entre a capacidade
inovativa e as preocupações ambientais.
verificar até que ponto as questões ambientais estão sendo importantes para a
competitividade da indústria do petróleo brasileira, centrando na questão do
desenvolvimento de tecnologias ambientais como principal elemento explicativo da
relevância da preservação do meio ambiente no âmbito competitivo da indústria.
Referencial teórico
11
Introdução
6
Refere-se a Thomas Kuhn, que define paradigma científico em seu livro The Structure of Scientific
Revolutions.
12
Introdução
Estrutura da tese
A tese está divida em cinco capítulos. O capítulo 1 busca evidenciar como a teoria
evolucionária da mudança tecnológica se mostra adequada para tratar as questões relativas
ao meio ambiente, inovações e competitividade, a fim de delinear políticas que aliem
competitividade e preservação ambiental. A introdução aos fundamentos teóricos,
elaborada a partir de uma revisão da literatura, procura destacar os elementos-chave do
pensamento evolucionário. São analisadas as interações entre inovações tecnológicas e
mudanças técnicas no âmbito teórico. Dado que as inovações ambientais são fundamentais
para que sejam minorados os impactos sobre o maio ambiente dos processos industriais,
buscou-se evidenciar os principais determinantes das inovações e tecnologias ambientais.
Os autores que tratam a questão ambiental e partilham dos fundamentos teóricos da escola
evolucionária contribuíram com elementos importantes para o entendimento destas
questões.
É discutido o debate acadêmico de meados de década de 1990 acerca da relação
entre regulamentação ambiental e competitividade, polarizado em duas vertentes de
análise. Conclui-se que nenhuma das duas pode ser generalizada para a indústria, pois além
das diferenças conceituais sobre o significado de custos e competitividade entre elas, há
outros elementos importantes a serem considerados que são omitidos nesse debate.
O referencial teórico proposto ainda está em construção e, portanto, é passível de
complementação por elementos de análise de outras correntes teóricas. Dentre eles, o
resgate do conceito de custo de uso elaborado por Keynes na Teoria Geral (Keynes, 1982),
para tratar de maneira intertemporal o gerenciamento de estoques de recursos naturais,
pode contribuir para o debate sobre crescimento econômico e preservação ambiental,
evidenciando outros elementos relevantes para o estabelecimento de políticas – sem a
13
Introdução
14
Introdução
15
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
Capítulo 1
REGULAMENTAÇÃO AMBIENTAL, INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE:
UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA
A evolução tecnológica, apesar dos grandes benefícios que traz, também pode gerar
externalidades negativas, como problemas ambientais. Ao longo da história da
industrialização mundial percebe-se a existência de externalidades negativas das técnicas
utilizadas, que podem levar à exaustão algum recurso natural devido à alta velocidade de
extração para consumo ou à geração de resíduos que não podem ser reciclados ou
reutilizados no processo produtivo. Esses resíduos – também chamados de emissões –
podem ser absorvidos parcial ou integralmente pelo ambiente. Quando esta capacidade
assimilativa é inferior à quantidade de emissões gerada ocorre, então, a poluição.
Com o crescimento da escala de produção industrial nos dois últimos séculos,
aumentaram as possibilidades de exaustão de recursos naturais – livres, renováveis ou não-
renováveis –, e a poluição intensificou-se. Devido à cumulatividade dos danos causados
ao meio ambiente, os problemas ambientais atingem proporções crescentes. Além da
exaustão de diversos recursos ambientais – sejam florestais, minerais ou pesqueiros –, o
acúmulo de poluentes é danoso para todas as formas de vida, interferindo na sobrevivência
e no bem-estar das espécies da fauna e da flora e aumentando a incidência de doenças
humanas causadas pela poluição. Como conseqüências, são evidentes a perda de
produtividade, o aumento da mortalidade e da morbidade, podendo comprometer o ritmo
de desenvolvimento e crescimento das economias modernas.
Diversos estudos mostram os danos causados à saúde humana por problemas de
poluição atmosférica e dos corpos hídricos. No Brasil, Seroa da Motta e Mendes (1995a e
1995b) estimaram que, em 1989, os gastos médicos realizados pelo sistema Inamps7
relativos a doenças por meio de veiculação hídrica foram de US$ 40,2 milhões. Os gastos
hospitalares na cidade de São Paulo com doenças causadas pela poluição atmosférica para
7
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social. Este foi extinto pela Lei nº 8.689/93 e
suas funções, competências, atividades e atribuições foram absorvidas pelas instâncias gestoras do Sistema
Único de Saúde (SUS).
16
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
o mesmo ano foram de US$ 785 mil. É importante lembrar que são gastos com tratamento
de doenças, sem contar as perdas econômicas que ocorrem devido à morbidade e à
mortalidade causadas pela poluição. Uma pesquisa realizada pelo Departamento de
Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Folha de
São Paulo, 18/09/2000) revela que as crianças expostas à poluição atmosférica na cidade
de São Paulo perderam, em média, 0,8% de sua capacidade respiratória num período de
seis meses, o que as torna mais suscetíveis a problemas respiratórios no futuro. A mesma
pesquisa mostra que também há relação entre o aumento da poluição e mortes de idosos.
Nem todas as externalidades negativas de uma tecnologia, desenhada e utilizada
para fins específicos, são previstas. Quando se trata de questões relativas ao meio
ambiente, as externalidades atingem uma dimensão adicional, pois elas podem ter efeitos
cumulativos e de depleção, que envolvem incertezas. À medida que a poluição acumulada
(efeito cumulativo) aumenta, podem ser constatados os efeitos perversos sobre os
ecossistemas e a saúde humana, mas não se sabe exatamente até aonde eles podem ser
afetados.
Os recursos naturais não-renováveis vão se esgotando (efeito de depleção) e mesmo
com o desenvolvimento tecnológico, que aumenta sua disponibilidade, o uso contínuo
pode trazer outros problemas ambientais de efeitos cumulativos. Por exemplo, mesmo que
as reservas de petróleo sejam ampliadas, reduzindo o risco de esgotamento total do recurso
não renovável, o efeito cumulativo continua presente, pois as emissões de CO2 geradas
pela queima de derivados do petróleo agravam o efeito estufa.
Os recursos naturais renováveis também podem sofrer do efeito de depleção se sua
capacidade de renovação for inferior a sua velocidade de exploração. Os efeitos
cumulativos podem estar presentes, pois a crescente degradação ambiental compromete
cada vez mais a qualidade dos recursos naturais livres – a água, o ar puro e a luz solar –,
reduzindo sua disponibilidade e tornando-os inadequados para o uso.
Numa perspectiva histórica, percebe-se que o aparecimento de problemas
ambientais pode levar a soluções por meio de adoção de novas tecnologias ou mudanças
em tecnologias já existentes. Entretanto, as soluções do passado podem tornar-se problema
no futuro. Um exemplo, citado por Kemp e Soete (1992), é bastante ilustrativo. No final
do século XIX, o uso de cavalos como meio de transporte trouxe grandes problemas
ambientais para a cidade de Londres. Dado que cada cavalo produz em média 15 kg de
17
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
estrume por dia, o uso intensivo desse meio de transporte causou diversos transtornos à
cidade, fazendo com que houvesse cerca de seis mil varredores de ruas para limpar a
passagem para os pedestres. Apesar de já estarem disponíveis outros meios de transporte,
eles não eram adotados em função das regulamentações que limitavam a velocidade em
oito milhas/hora, pela pequena escala de produção e pela falta de infra-estrutura de suporte
(postos de gasolina, estacionamentos, etc.). Na época, entretanto, contatou-se que os
carros emitiam 200 vezes menos resíduos que os cavalos, quando as emissões eram
medidas em gramas por milha.
Um século mais tarde, o problema ambiental do passado não mais existia, dada a
substituição de cavalos por meios de transporte com motores que utilizavam derivados do
petróleo como combustível. Mas surgiram outros problemas – resultado da utilização
generalizada destes combustíveis –, como as emissões de diversos poluentes atmosféricos,
inclusive de dióxido de carbono (CO2) um dos principais gases responsáveis pelo
aquecimento global – o efeito estufa. Atualmente já existem outras tecnologias
alternativas para a transformação da energia química em mecânica para o transporte, mas o
problema do passado se repete: escala de produção reduzida, ausência de aparato
institucional e de infra-estrutura de suporte.
Os danos causados ao meio ambiente de origem antrópica acompanham o ritmo do
crescimento econômico. A partir do século XIX, com a intensificação do processo de
industrialização e dos sistemas agropecuários, a demanda por recursos naturais e os danos
ao meio ambiente tornaram-se crescentes. A hipótese de que a capacidade de suporte do
planeta estava chegando ao seu limite, seja pela quantidade de poluentes lançados no
ambiente ou pela exaustão dos recursos naturais, data do final dos anos 60. Travaram-se
intensos debates nos meios político, acadêmico e social, incorporando o discurso do
movimento ambientalista, que apontava para a incompatibilidade ente preservação
ambiental e o crescimento econômico baseado na utilização intensiva de recursos naturais
e energia de fontes não-renováveis.
Na pauta de discussão, colocava-se a questão se deveria ou não desacelerar o ritmo
de crescimento econômico em função da crescente degradação ambiental. Surgiram
diversos trabalhos acadêmicos que se tornaram clássicos, “... como ‘The Economics of
the Coming
18
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
Spaceship Earth’ (1966) de Kenneth Boulding, ‘The Entropy Law and the Economic
Process’ (1971) de Nicholas Georgescu-Rogen, ‘On Economics as a Life Science’
(1968) de Herman Daly, ‘Small is Beautiful’ (1973) de E. F. Schumacher e ‘Gaia: a
New Look at Life on Earth’ (1979) de J. Lovelock, entre vários outros” (Amazonas,
2001:3).
Nesse debate, um dos maiores impactos foi causado pela posição do Clube de
Roma, expressa no relatório Os Limites do Crescimento (Meadows et alii, 1972), que
traçou um cenário catastrófico que colocava explicitamente os limites do crescimento
econômico devido à finitude dos recursos naturais, propondo o “crescimento econômico
zero”.
A proposta de crescimento zero desencadeou uma reação dos países em
desenvolvimento, pois seria um freio ao crescimento econômico, um requisito importante
para reduzir as disparidades sociais. A Conferência do PNUMA8 em 1972 – também
chamada de Reunião de Estocolmo – foi um marco histórico, pois foi colocado que os
países do 3o mundo também teriam “direito ao crescimento”. Surge a tese do
Ecodesenvolvimento, de Maurice Strong e Ignacy Sachs, que procurou mostrar a
viabilidade de formas de desenvolvimento sensíveis à questão ambiental, com
sustentabilidade ecológica. O Ecodesenvolvimento superou o enfoque do “crescimento
zero” e tornou-se uma base do conceito de Desenvolvimento Sustentável9.
O termo Desenvolvimento Sustentável foi difundido no relatório Nosso Futuro
Comum, de 1987, também conhecido como Relatório Brundtland10, pela Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas e centra-se em três
eixos principais: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. Ou seja,
o “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias
necessidades” (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991:46).
O desenvolvimento sustentável é mais uma meta do que um estado de harmonia.
Do ponto de vista econômico, implica duas condições: o desenvolvimento deve permitir a
8
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
9
“A tese do Ecodesenvolvimento vem a desenvolver-se no conceito de Desenvolvimento Sustentável,
ensaiado desde o final dos anos 70 e que adquire seu impulso decisivo em 1987 com sua forma mais
consolidada com o Relatório Brundtland ...” (Amazonas, 2001:4).
10
Em homenagem à presidente da Comissão à época, a primeira-ministra da Noruega Gro Harlem
Brundtland.
19
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
11
Kemp e Soete (1992) colocam com propriedade que o termo “tecnologia limpa”, apesar de ser amplamente
usado, não é linguisticamente o mais correto. Primeiro, porque nenhuma tecnologia é totalmente limpa e
segundo porque se deve distinguir tecnologia limpa (clean) e tecnologias que limpam o ambiente (cleaning).
20
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
O termo correto seria “tecnologia mais limpa” (cleaner) ou “poupadora de recursos naturais” (environment-
saving).
21
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
12
Esse resultado foi alcançado pelo Programa Nacional de Controle de Emissões Veiculares (Proconve), que
estabeleceu metas de redução de emissões dos novos veículos entre 1988 e 1997, seguindo os padrões da
OCDE.
22
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
23
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
13
Esta teoria será denominada de teoria evolucionária deste ponto em diante.
14
Tradução do termo inglês “evolutionary”, freqüentemente traduzido também como evolucionistas. A teoria
evolucionária que serve como base teórica desta tese é a resultante da convergência das agendas de pesquisa
de autores de origem evolucionária – Richard Nelson e Sidney Winter – com autores de origem neo-
schumpeteriana – Giovanni Dosi e Christopher Freeman, entre outros.
15
Nelson e Winter (1982) definem a ortodoxia como a formalização moderna e a interpretação do
pensamento econômico ocidental tradicional, que tem suas raízes em Adam Smith e David Ricardo, com
24
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
desdobramentos em John Stuart Mill, Alfred Marshall e Leon Walras. Além do mais, a ortodoxia preocupa-se
principalmente com o método de análise econômica e secundariamente com questões específicas.
25
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
26
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
direção, gerando uma trajetória que não é reversível – ou implica em alto custo de
reversão. Portanto, apesar de evolutivo, o processo de busca é descontínuo e não apresenta
progressos em intervalos regulares.
A busca contínua ocorre porque há o processo de seleção a que são submetidas as
inovações. Este processo ocorre no ambiente seletivo, que pode ser definido como “... the
sum of all environmental influences that determine whether an entity, given its current
characteristics and functions will survive” (Kock e Guillén, 2001:78). As firmas buscam
estratégias e competências que as permitem sobreviver – serem bem sucedidas – em um ou
outro ambiente seletivo. Ou seja, as mesmas estratégias e competências que levam uma
firma a obter sucesso em determinado ambiente seletivo, podem levá-la ao fracasso em
outro.
O sucesso da firma depende dos elementos predominantes do ambiente seletivo,
que influenciam o processo competitivo. Estes elementos são mutáveis no tempo, fazendo
o processo competitivo essencialmente dinâmico. Os principais elementos são (Possas,
1999):
a) as características da estrutura de mercado, como o grau de concentração, vantagens dos
principais competidores, características dos insumos utilizados e de seus fornecedores,
o tamanho do mercado, as fontes e formas de financiamento, entre outros;
b) fatores macroeconômicos, como as taxas de juros e de câmbio, as contas públicas e o
balanço de pagamentos, entre outros;
c) fatores institucionais, políticos e jurídicos, ou seja, a regulação das atividades
econômicas, as regulamentações legais, as instituições, as políticas governamentais, o
estabelecimento de direitos de propriedade, entre outros;
d) as características do meio ambiente físico, ou seja, a dotação de recursos naturais, as
características dos ecossistemas, a forma de ocupação espacial e o uso do solo, entre
outros;
e) as características sociais, como a estrutura demográfica, nível de renda, estrutura
educacional, valores culturais, relações trabalhistas, entre outros.
O ambiente seletivo tem o mercado como seu locus principal, mas não o único. Os
valores do mercado – isto é, aquilo que o mercado considera importante ou elementos do
ambiente seletivo – têm um papel essencial no processo de seleção e o lucro obtido é o
27
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
28
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
16
Esta questão será retomada no final do capítulo, com a introdução do conceito de custo de uso de Keynes
como um instrumento analítico para o gerenciamento de recursos naturais.
29
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
são afetadas depende de suas condições iniciais e das assimetrias entre as firmas. Ou seja,
na medida em que as firmas com maiores parcelas de mercado são também as mais
inovadoras, maior é a tendência concentrar a estrutura inicial. Reversamente, se não são as
maiores firmas as que detêm o maior potencial tecnológico, elas tendem a perder parcelas
de mercado na medida em que as mais inovadoras, ao terem suas inovações selecionadas,
ganham espaço no mercado, seja pela introdução de um novo produto ou via redução de
custos. A estrutura inicial é afetada, gerando nova configuração (Possas, 1989),
influenciando na capacidade competitiva da firma.
As firmas, portanto, não podem ser tratadas como se tivessem os mesmos objetivos,
pois apresentam assimetrias, com grandes diferenças entre si, sendo tais diferenças
fundamentais para entendê-las. Cada firma possui um conjunto de rotinas, estratégias e
competências específicas, de difícil transferência e imitação, que determina sua capacidade
de sobrevivência – ou seja, sua competitividade – no ambiente a que estão submetidas.
Dentre as competências da firma, existem as secundárias e as centrais (core competences),
sendo estas últimas que definem as estratégias de crescimento da firma – em que se
especializar, a integração vertical ou horizontal, participação em rede de firmas,
subcontratação.
O mercado sinaliza o que é necessário para ser competitivo, mas não diz como
fazê-lo. A capacidade de sobrevivência da firma – sua competitividade – está diretamente
relacionada com a maneira pela qual ela percebe e soluciona problemas, respondendo com
inovações. “Do ponto de vista da firma particular, a competitividade ‘é o poder de definir
(formular e implementar) estratégias de valorização do capital, desde que baseado em
aspectos econômicos e não institucionais’” (Possas, 1999:173). Estas estratégias buscam
atender as características do ambiente seletivo, determinando quais as competências
necessárias para ser competitivo.
Tal qual as inovações em geral, as inovações ambientais, também sofrem influência
do meio institucional no processo de seleção: seja através de políticas setoriais que
garantam uma avaliação positiva ex-ante dos empresários para gerarem e adotarem
inovações ambientais, ou pelos incentivos para obtenção de resultados econômicos
positivos por parte das firmas ao adotarem as inovações ambientais (avaliação ex-post). É
possível, portanto, estimular a introdução e difusão de inovações ambientais, com ganhos
para as empresas e para o meio ambiente. Assim, não só o mercado, mas também entidades
30
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
introduz uma inovação não se sabe exatamente seus resultados e, muitas vezes,
modificações posteriores são necessárias para adaptá-la a novas situações, revelando o
caráter incerto do processo inovativo e, consequentemente, da mudança técnica.
Para que as atividades inovativas ocorram, três condições devem estar presentes
(Dosi, 1984): a cumulatividade, a oportunidade tecnológica e a apropriabilidade. A
cumulatividade do progresso técnico representa o aprendizado acumulado, que por meio da
(P&D) e do “aprendizado pelo uso” influenciam positivamente na capacidade inovativa da
firma. Ou seja, há um efeito de interdependência temporal (path-dependency) em que as
novas tecnologias surgem em etapas sucessivas de mudanças de uma inovação inicial,
dependendo de quanto a firma possui de aprendizado acumulado.
A oportunidade tecnológica está relacionada com a potencialidade do paradigma
tecnológico de gerar novas trajetórias e melhorias na tecnologia existente, além do grau de
facilidade com que as firmas possam acessar tais melhorias e inovações. Essa é uma
condição necessária para que a firma inove, mas não suficiente. A apropriabilidade
privada da inovação, ou seja, o grau em que a firma vai auferir sozinha dos benefícios
econômicos associados à inovação, seja por segredo industrial ou por meio de registro de
patentes, é a condição suficiente para que a firma adote atividades inovativas, para
qualquer grau de oportunidade tecnológica. Assim, sem apropriabilidade não há estímulo
às inovações.
Apesar do caráter incerto da mudança técnica, ela não é aleatória, mas segue em
determinadas direções, apresentando regularidades – o que a torna passível de teorização.
É possível, portanto, identificar padrões de mudanças tecnológicas e alguns exemplos são
dados por Kemp (1994): redução da quantidade de materiais que compõem diversos
produtos, tendência ao uso de materiais leves para automóveis e aviões, e o uso de
componentes eletrônicos em produtos.
Os autores evolucionários criticam as teorias econômicas de mudança tecnológica e
as classificam em oportunidade econômica (demand-pull) e oportunidade tecnológica
(technology-push) Dosi (1982)17. Para as primeiras, são as forças do mercado que
determinam a mudança tecnológica, ou seja, em função da sinalização das necessidades do
17
Ver Dosi (1982) para críticas as essas teorias, bem como referências de estudos sobre mudança
tecnológica.
32
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
• as atividades de P&D estão cada vez mais complexas, sendo alvo do planejamento de
longo prazo e dificultando as repostas imediatas dos produtores às mudanças nas
condições de mercado;
• uma forte correlação entre os esforços de P&D e a obtenção de resultados inovativos
em diversos setores industriais, mas uma ausência de correlação entre os padrões de
demanda e do mercado, e os resultados inovativos;
• uma grande parte da inovações e melhorias são resultados do “aprendizado pelo fazer”
(learning-by-doing), que está incorporado nas pessoas e nas firmas;
33
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
34
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
incrementais vão ocorrendo, novas trajetórias vão sendo criadas ou bifurcadas, gerando
uma ampla gama de trajetórias tecnológicas no tempo.
Dentro do paradigma tecnológico vigente, é selecionada uma determinada
tecnologia. Segundo B. Arthur (citado por López, 1996), a tecnologia não é eleita por ser a
mais eficiente, mas torna-se mais eficiente por que foi eleita, isto é, as tecnologias tornam-
se mais atrativas quanto mais são utilizadas. Assim, a tecnologia possui interdependência
temporal (path-dependent), ou seja, ela será resultado de trajetórias previamente definidas.
Isso gera um efeito de lock-in, fazendo com que as firmas fiquem presas à tecnologia mais
difundida e ao paradigma tecnológico vigente. Esses eventos têm grandes efeitos sobre a
capacidade da firma em achar soluções para problemas específicos, ou seja, sobre a
capacidade de inovar da firma.
Rosemberg (1976) aponta alguns fatores que poderiam induzir as inovações
tecnológicas: problemas tecnológicos entre as atividades inter-relacionadas; escassez ou
abundância de insumos; composição, mudanças e taxas de crescimento da demanda;
mudanças no custo de produção e padrões de concorrência industrial. Mesmo sendo estes
fatores de caráter predominantemente econômico, outros fatores não econômicos –
institucionais e sociais – têm grande influência no processo inovativo, pois estão
diretamente relacionados com o ambiente seletivo.
Estas considerações induzem ao segundo aspecto da investigação mais ampla –
como direcionar a mudança tecnológica – e levanta a seguinte questão: o que capacita as
firmas a gerar e adotar inovações? Há uma série de fatores – econômicos, sociais,
institucionais e científicos – que irão influenciar na capacitação das firmas a se tornarem
inovadoras. Em linhas gerais, pode-se agrupá-los em fatores internos e externos às firmas.
Dentre os fatores internos, pode-se destacar: as competências específicas para resolução de
problemas, a capacidade de absorção da firma e o acesso às inovações desenvolvidas por
terceiros. Dentre os fatores externos, que estão intimamente relacionados com o ambiente
seletivo, estão: o paradigma tecnológico vigente, o Sistema Nacional de Inovação, o
contexto macroeconômico, as medidas de caráter regulatório e o grau de competição do
mercado no qual a firma está inserida.
As competências específicas da firma para resolução de problemas, o primeiro dos
fatores internos, são acumuladas ao longo do tempo. Ou seja, são habilidades e
conhecimentos que a firma possui, adquiridos com o tempo, que determinam sua
35
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
18
Sunk-cost são custos que não podem ser recuperados caso a firma deixe o mercado. Em geral, representam
ativos específicos da firma (Schmalensee, 1990).
36
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
19
Para uma discussão mais aprofundada sobre o tema e a experiência de alguns países ver Nelson, 1993.
37
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
e podendo ser a única forma de sobrevivência no mercado. Nessa perspectiva, a firma tem
dois destinos: inovar ou morrer.
Devido às alterações que mudanças nas trajetórias tecnológicas ou no paradigma
tecnológico vigente provocam na estrutura industrial, é de se esperar que a adoção de
padrões tecnológicos mais limpos venha a alterar a estrutura industrial vigente e, portanto,
provocar mudanças nas formas de concorrência setorial.
20
A dimensão local refere-se aos danos ambientais que ocorrem nos limites geográficos do país; a
transfronteiriça quando os danos ambientais afetam negativamente o meio ambiente de outros países vizinhos
ou da mesma região e a global quando os danos ambientais afetam recursos comuns a todos os países.
38
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
21
A eco-eficiência é a situação em que a inovação da firma leva à redução do impacto de suas atividade
sobre o meio ambiente ao mesmo tempo em que gera ganhos financeiros.
39
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
22
As tecnologias ambientais são classificadas de maneira distinta, mas a abrangência é a mesma. Por
exemplo, o National Science and Technology Council (Preston, 1997) subdivide as tecnologias ambientais
em quatro categorias: tecnologias de monitoramento e avaliação, que servem para medir as emissões e
determinar suas origens, e fornecer informações sobre os efeitos da degradação ambiental e do uso de
insumos contaminantes sobre os ecossistemas e a saúde humana; tecnologias para evitar impactos
ambientais, que variam desde modelos que reduzam a quantidade de insumos necessário à produção até a
substituição de materiais; tecnologias de controle, que são do tipo EOP, incluindo a reciclagem e reutilização
de materiais; tecnologias de remediação e restauração, aquelas específicas para limpar, restaurar ou
recuperar o meio ambiente degradado. Medhurst (1993) subdivide as tecnologias ambientais em:
equipamento end-of-pipe, técnicas de minimização de resíduos, melhoria no controle do processo produtivo,
tecnologia limpas, técnicas de manejo de resíduos, reciclagem e recuperação de recursos e produtos limpos.
40
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
42
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
ganhos de escala. Por fim, existe o dilema entre a necessidade de acelerar a criação e
difusão de tecnologias ambientais e a necessidade de minimizar a irreversibilidade
tecnológica.
Para Kemp e Soete (1990) a criação e a difusão de tecnologias ambientais diferem
do processo tradicional de mudança tecnológica em geral, que consiste na sucessão de
técnicas de produção mais novas e eficientes. Assim, apontam os fatores essenciais para o
desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientais nos diversos setores da economia.
Tais fatores podem ser separados nos que afetam a oferta e naqueles que afetam a demanda
por tecnologias ambientais.
Do lado da oferta, pode-se destacar as oportunidades tecnológicas, que diferem
tanto inter quanto intrasetorialmente. Essas oportunidades dependem dos conhecimentos
científicos e técnicos existentes e dos equipamentos disponíveis, pois dada a diversidade
dos problemas ambientais, alguns podem ser facilmente resolvidos com a tecnologia
disponível, enquanto que outros não têm solução imediata e nem no futuro próximo.
O outro fator refere-se às condições de apropriabilidade. Por um lado, dado o
interesse social na rápida difusão dessas tecnologias, provavelmente haverá uma maior
regulamentação no sentido de limitar o tempo de apropriabilidade. Por outro lado, dada a
crescente expectativa em relação ao aumento da quantidade e da rigidez das
regulamentações ambientais, o domínio de tecnologias mais limpas pode tornar-se um
importante fator competitivo para as firmas. Finalmente, a instabilidade da demanda por
tecnologia ambiental faz com que a indústria de tecnologia ambiental não se desenvolva
plenamente.
Dentre os fatores que afetam a demanda por tecnologias ambientais, os autores
destacam, em primeiro lugar, os problemas relacionados com o conhecimento e a
informação. Nestes estão incluídos tanto as competências técnicas para adaptar novas
tecnologias, como também o conhecimento sobre quais técnicas estão disponíveis, como
acessá-las e como obter financiamento para adotá-las. A insegurança e a incerteza em
adotar de tecnologias ambientais, devido ao risco envolvido, é outro fator que afeta a
demanda. Novas tecnologias requerem mudanças de rotina e treinamento de pessoal, além
das incertezas inerentes aos seus resultados. Além do mais, as tecnologias ambientais
podem ficar rapidamente obsoletas, na medida em que os padrões de proteção ambiental se
43
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
tornam mais rígidos. A avaliação de tais riscos varia de uma firma para outra e entre
setores.
A relação produtor usuário também influencia diretamente na demanda por
tecnologias ambientais. Dada a diversidade dos problemas ambientais, é difícil haver um
produtor de tecnologias mais limpas para todos os setores. Além do mais, o produtor de
tecnologias ambientais, devido à especificidade de seu produto, não será o maior provedor
de tecnologia para as empresas. O último fator apontado refere-se à distinção entre
inovações de produto e de processo. As inovações de produto devem atender à demanda
dos consumidores por produtos ecologicamente corretos, que vai depender da importância
que atribuem ao meio ambiente e à disponibilidade de pagar por esse tipo de produto. As
inovações de processo estão relacionadas com os objetivos e valores da firma, onde
predominam os fatores de eficiência de custos. São, portanto, fatores diferentes que
induzem cada tipo de inovação ambiental.
Além desses fatores, a estrutura de mercado do setor poluidor influencia na difusão
de tecnologias ambientais. As pequenas e médias empresas têm menos percepção dos
problemas ambientais e possuem menos conhecimento e informações sobre as tecnologias
disponíveis. É esperado, portanto, que firmas desse tipo sejam menos inovadoras, ao
mesmo tempo em que não percebem a influência da preservação ambiental sobre seus
negócios. O grau de competição entre as firmas e a situação financeira delas também
influenciam na adoção de tecnologias ambientais. Mercados onde a competição se dá via
preços, que possuem margens de lucro muito baixas e que são caracterizados pela ausência
de competição – como monopólios e reservas de mercado – tendem a influenciar
negativamente nas decisões da firma em adotar e desenvolver tecnologias ambientais.
Preston (1997) aponta as razões pelas quais tecnologias ambientais não têm sido
difundidas de maneira rápida e universal, como deveriam para superar problemas
ambientais urgentes:
→ Subsídios governamentais: em geral estimulam o uso intensivo de determinados
insumos – como energia e água – com base em tecnologias antigas, desestimulando as
inovações tecnológicas que podem reduzir impactos ambientais. Por exemplo, subsídios
para água, que reduzem o custo da oferta de água, do esgotamento sanitário e da irrigação,
além de ofertar água para população a um preço abaixo do seu custo econômico.
Certamente é um incentivo ao desperdício e não estimula tecnologia de reciclagem e
44
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
conservação desse recurso natural. O mesmo raciocínio vale para subsídios para
combustíveis, energia elétrica e outros.
→ Não cobrar de poluidores: o fato de não cobrar dos poluidores o custo total dos
problemas ambientais causados por suas atividades gera o mesmo problema dos subsídios.
Por exemplo, os poluidores do ar, ao não incorporarem os custos decorrentes das doenças,
mortes e perda de produtividade provocadas pela poluição que causaram, não se
preocupam em reduzir as quantidades de emissões e não estimulam a inovação
tecnológica. Assim, os preços de mercados devem incorporar os custos da poluição para
incentivar as inovações.
→ Financiamento da “lacuna”: em vários países, inclusive no Brasil, o governo financia
a pesquisa básica e a indústria financia a aplicação científica no processo produtivo.
Entretanto, há uma lacuna entre a pesquisa básica e a aplicação efetiva no processo
produtivo, que não há muito interesse em ser financiada por parte do governo, pois já é
específica para uma determinada aplicação industrial, e por parte da indústria, pois nesse
estágio as incertezas envolvidas são muito grandes.
→ Risco, incerteza das regulamentações e fragmentação do mercado: os riscos
associados ao investimento no setor de tecnologias ambientais são altos em relação aos
retornos. Os investidores em geral não se mostram muito interessados em investir num
setor caracterizado pela incerteza e guiado pela regulamentação e gastos governamentais.
Logo, o mercado de tecnologias ambientais é instável. Além do mais, como cada estado
possui legislação ambiental específica, e muitas vezes divergente entre si e da legislação
ambiental federal, os mercados de tecnologias ambientais tornam-se fragmentados, com
várias subdivisões. Assim, os investimentos em novas tecnologias tornam-se grandes em
relação ao tamanho dos mercados específicos. Adicionalmente, os mercados de capitais
esperam retornos a prazos mais curtos do que o tempo de retorno do investimento em
tecnologias ambientais. Os instrumentos de política ambiental também têm um papel
importante na geração de inovações ambientais. Instrumentos que induzem a adoção de
determinada tecnologia (best available technology) contribuem para a difusão dessa
tecnologia, mas podem gerar um efeito de lock-in. Adicionalmente, uma nova tecnologia
começa com desvantagens, pois as licenças para o funcionamento de qualquer planta são
baseadas em tecnologias existentes, que podem diferir substancialmente da nova
tecnologia.
45
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
46
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
retorno dos investimentos em inovações ambientais pode ser grande, o que dificulta o
interesse de financiamento dessas inovações.
Dentre os fatores indutores, que podem ser considerados como neutralizadores
parciais dos fatores inibidores, estão os de ordem tecnológica, política, mercadológica, e
estrutural:
Tecnológicos: (i) aumento e redirecionamento da P&D, induzindo a incorporação da
variável ambiental – internalização das questão ambiental na mudança tecnológica; (ii)
oportunidades tecnológicas que facilitam a solução imediata de problemas ambientais.
Políticos: (i) melhoria e disseminação da base de informações sobre a natureza e
extensão dos problemas ambientais e suas soluções, estimulando a formação de banco
de dados e utilizando tecnologias de informação; (ii) regulamentações que estimulem
as firmas a inovarem, fazendo com que a preservação ambiental seja vista como uma
oportunidade e não um custo.
Mercadológicos: (i) demanda por produtos, serviços e processos produtivos
ecologicamente mais adequados, tanto do lado dos consumidores quanto das empresas
exigindo de seus fornecedores; (ii) aumento da velocidade de comercialização de novas
tecnologias, ou seja, esforço de vendas por parte dos produtores de equipamentos
menos agressivos ao meio ambiente.
Estrutural: (i) novas estruturas organizacionais nas firmas que permitam o
desenvolvimento de tecnologias mais limpas, incluindo o conhecimento tácito dos
funcionários ligados diretamente à produção; (ii) remodelagem das instituições para
induzirem a inovação ambiental.
Essa análise da relação entre tecnologia e meio ambiente é importante para a
compreensão da relação entre regulamentação ambiental, inovação tecnológica e
competitividade. Dado que a regulamentação ambiental é um dos fatores mais importantes
para induzir a adoção de inovações, e estas últimas, seguindo a racionalidade da teoria
evolucionária, seriam importantes para manter a posição competitiva da firma, é preciso
aprofundar mais a discussão sobre regulamentações e competitividade. A natureza dos
objetivos de política ambiental – em relação ao prazo de cumprimento, ao tipo de mudança
e aos custos sociais e privados envolvidos – é determinante na escolha do tipo de
instrumento que pode induzir o desenvolvimento de tecnologias ambientais.
47
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
23
A literatura aponta vários exemplos de firmas que são pró-ativas em relação ao meio ambiente. Para
algumas referências sobre as firmas estrangeiras ver Schmidheiny (1992) e para a firmas brasileiras –
multinacionais ou não – ver Maimon e Lustosa (1999).
48
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
Entretanto, mesmo com a melhoria das práticas ambientais por parte de algumas
firmas industriais, tais esforços no plano microeconômico são insuficientes para atender às
demandas por melhorias ambientais no plano macroeconômico. Problemas ambientais
globais e locais continuam na pauta de discussão – como as mudanças climáticas e os
recursos hídricos –, mesmo com os avanços obtidos com tecnologias mais limpas,
reciclagem e reutilização dos rejeitos industriais e processos produtivos mais energo-
eficientes.
Para explicar esse paradoxo micro-macro, algumas questões devem ser
consideradas: primeiro, que a estratégia ambiental das firmas é guiada mais pelo medo de
uma falha em relação à questão ambiental – que pode levar os consumidores a boicotarem
seus produtos – do que em antecipar o sucesso de uma estratégia pró-ativa (Howes et alii,
1997). Segundo, o comportamento ambiental das firmas difere significativamente em
relação ao tamanho, ao mercado consumidor – externo ou interno – e ao tipo de negócio24,
dando a falsa impressão de que a implantação da gestão ambiental por parte das grandes
firmas é suficiente para resolver os problemas ambientais causados pela indústria. Por
exemplo, as pequenas firmas poluidoras ficam invisíveis aos olhos do público, mas grandes
firmas, mesmo adotando uma gestão ambiental correta, ficam mais vulneráveis às criticas
do público quando surge algum problema ambiental decorrente de sua atividade industrial.
Desta forma, é importante identificar os fatores que induzem as firmas a adotarem
práticas mais saudáveis para o meio ambiente25. Howes et alii (1997) apontam quatro
fatores: as pressões das regulamentações ambientais, as pressões dos consumidores finais e
intermediários, a pressão dos grupos de interesses (stakeholders) e a pressão dos
investidores.
Como o comportamento das firmas é guiado pela obtenção de lucro, predominando
entre seus objetivos os fatores de eficiência de custos, a adoção de métodos de produção
ambientalmente corretos, por meio de uma gestão ambiental eficiente, não é um objeto
prioritário, apesar da crescente consciência de seu papel poluidor e das pressões sociais
(Kemp e Soete, 1990). O objetivo implícito de uma gestão ambiental é estreitar as relações
com a população em geral e com as instituições públicas, de modo a permitir que as firmas
e setores industriais mantenham-se competitivos (Howes et alii, 1997). Logo, haverá
24
Ver capítulo 2.
49
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
poucas atitudes voluntárias para combater a poluição e a degradação dos recursos naturais
como um objetivo explícito. Nesse caso, as regulamentações seriam necessárias para
induzir as firmas a adotarem tecnologias mais limpas e os setores considerados mais
poluidores seriam os mais pressionados a diminuírem seus impactos ambientais.
Se por um lado as regulamentações ambientais são socialmente necessárias, por
outro fazem com que as firmas sejam obrigadas a obedecer a determinados padrões e a
adotar determinados comportamentos, ou induzidas a tomar atitudes menos agressivas ao
meio ambiente. Os órgãos reguladores estabelecem instrumentos de política ambiental que
são imperfeitos e passíveis de várias críticas, principalmente quando reduzem o
desempenho ambiental da firma à obediência de regras definidas externamente ao setor
industrial. Ao modificarem suas rotinas e estratégias, as firmas passam a ter resultados
diferenciados em seu desempenho, gerando um questionamento acerca da competitividade
das mesmas.
A regulamentação ambiental tem sido alvo de intensas discussões no meio
acadêmico. Há um relativo consenso quanto à necessidade de regulamentação das
atividades produtivas que geram impactos ambientais, mas os tipos de instrumentos a
serem utilizados estão longe do consenso. Diferentes tipos de instrumentos induzem
diferentes atitudes das firmas reguladas. A relação entre regulamentação e a capacidade
inovativa das firmas coloca questões importantes: é uma restrição ou estímulo à inovação?
Acelera ou retarda o desenvolvimento econômico? De que modo a firma pode ser induzida
a fazer algo novo? (Kemp et alii, 2000).
25
Ver capítulo 2, item 2.3, sobre as evidências empíricas dos determinantes dos investimentos ambientais no
Brasil.
50
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
26
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (em inglês, Organisation for Economic Co-
Operation and Development – OECD). É composta por 30 países membros, a saber: Austrália, Áustria,
Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda,
Itália, Islândia, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Hollanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal,
República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos.
51
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
maioria dos setores industriais. Assim, algumas hipóteses são apresentadas para justificar
tal conclusão:
i) Peso econômico insuficiente: Estudos empíricos mostram que os custos ambientais
não passam de 1% a 2% do total de custos ou receitas totais da maior parte dos setores
industriais27. Consequentemente, os custos de conformidade das políticas ambientais
não constituem um fator determinante para a competitividade ou para o comércio
internacional no plano macroeconômico.
ii) Dados e métodos imperfeitos: Os dados relativos aos custos das medidas anti-
poluição nos países da OCDE são imperfeitos e apresentam lacunas, tornando um
obstáculo para a verificação concreta dos efeitos macroeconômicos das políticas
ambientais.
iii) Custos marginais da redução da poluição: A maior parte das indústrias dos países
da OCDE está situada numa parte relativamente pouco inclinada da curva de custo
marginal de redução da poluição. Isso significa que melhorias ambientais podem ser
obtidas por um custo adicional muito baixo. Pode ser que, futuramente, quando as
indústrias estiverem num ponto mais inclinado da curva de custo marginal de redução
da poluição – melhorias ambientais ocorreriam a custos muito elevados –, as políticas
ambientais passem a influenciar negativamente na competitividade. Mas pode ser,
também, que o progresso técnico faça com que essa curva de custo marginal seja
continuamente deslocada para baixo, mantendo os custos sempre baixos.
iv) Neutralização dos efeitos favoráveis e desfavoráveis: No nível macroeconômico, os
efeitos desfavoráveis dos custos das medidas anti-poluição sobre a competitividade
podem ser compensados pelos investimentos necessários para a realização das
melhorias ambientais, como os serviços ambientais, produtos ecológicos, inovações
tecnológicas que aumentam a eficiência produtiva e reduzam os custos dos
equipamentos, entre outros.
v) Concepção das políticas ambientais: Os instrumentos de política ambiental foram
concebidos e praticados com o intuito de minimizar os possíveis efeitos sobre a
competitividade industrial, por meio de mecanismos compensatórios, como
financiamentos, entre outros.
27
Ver Nordström e Vaughan (1999).
52
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
53
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
28
Êxodo industrial significa a transferência da produção realizada por diferentes empresas e migração
industrial é a transferência da produção de um setor industrial.
54
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
A hipótese de Porter
Para Porter e van der Linde (1995a e 1995b), que rejeitam o argumento da
existência do trade-off entre competitividade e preservação ambiental, a incompatibilidade
entre meio ambiente e indústria baseia-se numa visão estática da regulamentação
ambiental, na qual tecnologia, produtos, processos e as necessidades dos consumidores são
fixos. Além do mais, como as firmas teoricamente sempre operam em condições de custos
mínimos, padrões ambientais mais rígidos certamente levariam ao aumento de custos e
tenderiam a reduzir a parcela de mercado das empresas no mercado internacional
globalizado (Porter e van der Linde, 1995a).
A argumentação teórica dos economistas ortodoxos está baseada em dois pilares de
sustentação do mainstream: o equilíbrio de mercado e a racionalidade substantiva – ou
maximizadora – dos agentes econômicos (Possas, 1996). Entretanto, as empresas atuam
num ambiente caracterizado pela competição dinâmica, baseada em inovações,
incompatível com os pilares teóricos da ortodoxia. As pressões exercidas sobre as firmas –
de competidores, de clientes e das regulamentações – fazem com que elas busquem
soluções inovadoras para manterem-se competitivas. Logo, a imposição de padrões
ambientais adequados pode estimular as empresas a adotarem inovações que reduzem os
custos totais de um produto ou aumentam seu valor (Porter e van der Linde, 1995b).
Com vários exemplos de setores e empresas que sofreram pressões para tornarem
seus produtos e/ou métodos de produção ambientalmente corretos, os autores argumentam
29
Para uma discussão desses aspectos ver OCDE (1993) e Albrecht (1998), por exemplo.
55
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
que as inovações adotadas para cumprir com as regulamentações ambientais fazem com
que as firmas utilizem seus insumos – matérias-primas, energia e trabalho – de modo mais
produtivo, reduzindo custos e compensando os gastos com as melhorias ambientais. O
argumento central é que a imposição de regulamentações ambientais adequadas pode
induzir inovações que irão, em parte ou mais do que totalmente, compensar os custos31 de
adequar-se a tais regulamentações – essa é a hipótese de Porter. Assim, a preservação
ambiental está associada ao aumento da produtividade dos recursos utilizados na produção
e, consequentemente, ao aumento da competitividade da empresa.
O aumento da produtividade dos recursos é possível porque a poluição é, muitas
vezes, um desperdício econômico. Resíduos industriais – sólidos, líquidos ou gasosos –
podem ser reaproveitados, utilizando-os para a co-geração de energia, extraindo
substâncias que serão reutilizadas e reciclando materiais. Ao analisar o ciclo de vida do
produto32, há também outros desperdícios, como o excesso de embalagens e o descarte de
produtos que requerem uma disposição final de alto custo. Tanto o desperdício dos
resíduos industriais quanto os desperdícios ao longo da vida do produto estão embutidos
nos preços dos produtos, fazendo com que os consumidores paguem, sem perceber, pela
má utilização dos recursos.
É nesse sentido que a utilização mais racional dos recursos, somente possível por
meio de inovações, pode aumentar a produtividade e tornar a empresa mais competitiva:
pela redução de custos e/ou pela melhoria de seus produtos – pelos quais os consumidores
estariam dispostos a pagar mais. Porter e van der Linde (1995a) classificam as inovações
ambientais resultantes de regulamentações em duas categorias: a primeira refere-se às
ações mais eficientes da firma no tratamento da poluição que já ocorreu. Estas podem ser
relativas ao processamento de substâncias tóxicas, às melhorias no tratamento de resíduos
e ao modo de reduzir a quantidade gerada de materiais perigosos, inclusive tornando-os
vendáveis. Nesse caso, há uma redução dos custos de cumprir com o controle de poluição,
sem nenhuma outra mudança.
30
Ver Jaffe et alii (1995), López (1996), Albrecht (1998), Lanoie e Tanguay (1998), Nordström e Vaughan
(1999) e Sinclair-Desgagné (1999), por exemplo.
31
Porter e van der Linde referem-se aos custos privados de cumprir com as regulamentações ambientais e
não aos custos do sociais (despesas do Estado) em impor tais regulamentações.
32
O ciclo de vida do produto refere-se à análise de seus impactos ambientais desde a extração da matéria-
prima até a sua disposição final, quando não é mais útil, ou seja, analisa o produto do “berço ao túmulo”.
56
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
57
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
A hipótese de Porter foi rejeitada por Palmer et alii (1995), que concentraram seus
argumentos em quatro pontos. A primeira crítica aponta que, apesar de Porter e van der
Linde defenderem as regulamentações ambientais mais restritivas, não há referência aos
benefícios sociais de tais regulamentações. Assim, seguindo a abordagem da teoria
econômica tradicional, deveria ser feita uma análise custo-benefício das regulamentações,
ou seja, comparar os benefícios sociais – redução da mortalidade, aumento das
oportunidades de lazer, aumento do valor da terra devido à despoluição, entre outros – com
os custos (privados e governamentais) de impor tais regulamentações. É nesse tipo de
análise que surge o trade-off entre competitividade e preservação do meio ambiente.
A argumentação de Porter e van der Linde refere-se à firma e seus custos, ou seja,
tratam de custos privados de redução de impactos ambientais. Em momento algum os
autores sustentaram que as inovações, advindas de regulamentações mais restritivas, iriam
compensar os custos públicos com controle, monitoramento, entre outros necessários para
implementar e fazer cumprir com a legislação ambiental.
58
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
33
Ver item 1.5.4 para a discussão sobre a avaliação de custos das regulamentações ambientais ex-ante e ex-
post da implementação.
59
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
adotadas para fazer face a tais regulamentações. Palmer et alii apresentam dados do
Environmental Economics Division of the Commerce Department’s Bureau of Economic
Analysis (BEA) sobre os gastos de abatimento e de controle de poluição dos Estados
Unidos e concluem que os custos são muito maiores que os ganhos. Além do mais, mesmo
que houvesse uma compensação dos custos, deveria ser levado em conta o custo de
oportunidade do investimento realizado para cumprir com as regulamentações, o que
elevaria o custo da regulamentação ambiental.
Porter e van de Linde argumentam que os esforços para obter melhorias ambientais
sempre se concentraram no controle da poluição, isto é, no tratamento da poluição depois
que ela já ocorreu. Nessas condições, realmente espera-se que haja um aumento de custos.
Mas os autores enfatizam o conceito de inovações cujos resultados podem compensar os
custos de implementá-las, pois a poluição é considerada uma utilização improdutiva dos
recursos, dado que as firmas nem sempre estão minimizando custos e, assim, um aumento
da produtividade do recurso pode levar a melhoria da preservação ambiental. Além do
mais, os investimentos ambientais representam uma porcentagem muito pequena dos
investimentos totais da maioria das indústrias, não apresentando custos de oportunidade
relevantes34.
Algumas considerações merecem ser feitas quanto às duas vertentes acima
consideradas: a vertente que se alinha com o mainstream possui incompatibilidades
teóricas com a análise da mudança tecnológica. A teoria evolucionária é mais adequada
para tratar esta questão, inclusive a questão ambiental. Mais especificamente, como coloca
López (1996), o marco teórico da teoria econômica ortodoxa é criticado em dois aspectos
específicos que são fundamentais para essa discussão: a teoria da firma e a teoria da
mudança tecnológica e da inovação. Isso não quer dizer, entretanto, que inexiste o trade-
off entre competitividade e preservação do meio ambiente, mas as justificativas do
argumento certamente são diferentes das do mainstream.
A vertente da hipótese de Porter apresenta evidências importantes e argumentos
pertinentes, porém mostra-se insuficiente. No que tange a questão da análise custo-
34
Os custos de operação para abatimento de emissões na indústria norte-americana representam, em média,
0,6% do valor da produção, segundo dados do Census Bureau (1996). Esse valor aumenta para 1,5% a 2%
para as indústrias mais poluentes – Petróleo e produtos de carvão; Químicos e derivados; Metalurgia
primária; Papel e derivados (Nordström, e Vaughan 1999). Apesar de os custos de operação para abatimento
de emissões não serem os mesmos que investimentos ambientais, os dados revelam que abater as emissões
industriais não implica necessariamente em alto custo.
60
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
benefício, fica evidente que o enfoque de Porter e van der Linde é microeconômico e não
macroeconômico. Fazer uma análise desse tipo no nível macro é complicado quando se
pretende medir – e os métodos de valoração são muitos controversos35 – os benefícios
sociais da preservação ambiental. Por exemplo, qual a perda para a sociedade se um
ecossistema sofrer uma alteração por causa de uma empresa poluidora? Quanto a
sociedade atual ganha em recuperar um ecossistema degradado? E as gerações futuras?
Qual a taxa de desconto que se deve utilizar para ter o valor presente da preservação
ambiental para futuras gerações, ao fazer uma análise custo-benefício?
A hipótese de Porter, levantada nos artigos citados (Porter e van der Linde, 1995a e
1995b), não evidencia sua fundamentação teórica. Há uma convergência muito grande
com os autores evolucionários (como acima definidos), pois ambos criticam a economia
neoclássica (mainstream) em bases semelhantes e colocam a inovação como um elemento
fundamental no processo de concorrência das firmas capitalistas. Além do mais, o
conceito de competitividade de Porter é convergente com o conceito de competitividade
dos autores evolucionários.
Palmer et alii (1995) utilizam um modelo estático e sem incertezas para mostrar
que restrições adicionais levam a firma a uma posição pior que antes das restrições. A
insuficiência dessa argumentação é clara pelas hipóteses irreais que utilizam, além de que
não se pode analisar a hipótese de Porter na concepção de curto prazo da teoria econômica
convencional, que é totalmente oposta à visão de competitividade dinâmica de Porter e van
der Linde. Outros autores, como Jaffe et alii (1995), ao analisarem a questão, concluem
que, no caso da indústria norte-americana, não há evidências suficientes para supor que as
regulamentações ambientais tiveram um efeito adverso significativo sobre a
competitividade.
Ainda sobre o conceito de competitividade, vale ressaltar que a competitividade a
qual se refere a hipótese de Porter é diferente daquela entendida pelos seus críticos. Como
esses últimos partem do referencial teórico da economia neoclássica, a competitividade é
estática e está associada a variações nos preços – visão de curto prazo. Nessa perspectiva,
o aumento dos preços dos produtos, decorrentes da elevação de custos provocada pelas
regulamentações ambientais, levaria à perda de competitividade das empresas e do país –
por meio do aumento de preços e a conseqüente perda de mercados. A competitividade
35
A respeito dos métodos de valoração e as suas limitações ver Seroa da Motta (1998).
61
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
62
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
Apesar da hipótese de Porter II/López ser mais flexível, ainda coloca de maneira
simples a relação entre regulamentação ambiental e competitividade, fazendo relações
diretas entre os efeitos positivos – as inovações – da regulamentação ambiental sobre os
setores mais competitivos, no sentido de reforçar sua competitividade. Essa visão
simplista pode ser entendida como uma forma de “construir” uma vantagem competitiva (à
la Porter) para a indústria norte-americana de equipamentos ambientais, que é uma das
mais desenvolvidas no mundo. Além do mais, toda a argumentação de Porter e van der
Linde é baseada em conclusões sobre estudos de caso de setores específicos dos países
desenvolvidos, que pode tornar-se inválida para outros setores e para os países em
desenvolvimento.
Dessa maneira, o entendimento da polarização do debate leva a concluir que nem
Porter, nem a análise mainstream apresentam-se como interpretações suficientes da relação
entre regulamentação ambiental, inovações ambientais e competitividade. A relação entre
competitividade e resultados inovativos é indireta e complexa: “competitiveness depends
very much on industry conditions and on general frame conditions including
cultural traits like trust, entrepreneurship and social relationships —
determinants of innovation that act separately from regulations, or as a mediating
force. From a competitiveness point of view the focus of regulation impact studies
should be on the determinants of innovation and the overall changes throughout a
value chain that occur under different regulatory policies” (Kemp et alii,
2000:iii).
Dentre os fatores externos que influenciam as firmas a inovarem (item 1.3 acima),
estão as medidas de caráter regulatório e entre elas as regulamentações ambientais. A
maneira pela qual estas últimas influenciam as inovações não é simples e direta: não se
pode dizer de maneira generalizada que as regulamentações ambientais irão restringir e
inibir a capacidade das firmas a inovarem (seja pela elevação de custos ou pela imposição
de normas e padrões) ou que irão induzi-la (as firmas passam a perceber oportunidades que
antes não estavam visíveis).
63
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
36
Kemp et alii (2000) coloca que a regulamentação tem um conteúdo informacional além do normativo.
64
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
37
O passivo ambiental é definido pela Norma de Procedimento de Auditoria (NPA 11 - Balanço e Ecologia)
do Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON) como toda a agressão que se pratica ou praticou contra o
meio ambiente, que podem ser entre outros: o valor dos investimentos para reabilitá-lo; as multas,
indenização; os gastos com projetos e licenças ambientais; as restrições a empréstimos.
65
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
estão cada vez mais preocupadas com o passivo ambiental, elevando o seguro quando a
firma pode acumular um passivo ambiental indesejado. É nesse sentido que os custos
ambientais adquirem uma especificidade: de reduzir o passivo ambiental38.
É importante salientar, portanto, que os custos ambientais devem ser vistos como
diferentes de outros custos da firma, pois podem gerar benefícios futuros que não são
estritamente econômicos. Além do mais, dependendo da natureza do custo ambiental, ele
pode ser considerado um ativo da firma, na medida em que gera benefícios futuros. Assim,
na verificação empírica do efeito dos custos ambientais sobre o desempenho financeiro e
competitivo das firmas, é importante separar os custos ambientais naqueles que são
considerados ativos e os que não são ativos – que devem ser considerados como custo no
sentido de uma despesa – incorporando elementos da contabilidade ambiental das
empresas, até então desconsiderada na discussão do trade-off entre competitividade e
preservação ambiental.
São exemplos de custos ambientais considerados como ativos o reforço de tanques
e dutos para redução de riscos de vazamentos futuros, aquisição e instalação de
equipamentos de controle da poluição, implantação de processos produtivos que geram
menos resíduos e/ou utilizam menos insumos, entre outros. Os custos ambientais
considerados como despesas são os processos de despoluição, o pagamento de multas pelo
não cumprimento da legislação ambiental, pagamento de indenizações por danos
ambientais, entre outros. Pode-se perceber, portanto, que danos ambientais passados
podem ser custos/despesas no presente e que danos ambientais evitados no presente geram
redução de custos/despesas no futuro, por isso os custos de evitar danos ambientais no
presente devem ser considerados ativos, na medida em que evitam despesas futuras e ainda
podem gerar redução de custos do processo produtivo (redução da relação quantidade
insumo/unidade de produto).
Uma questão importante é se os efeitos sobre a competitividade de curto prazo das
regulamentações ambientais são elaborados com base nas avaliações de custo ex-ante ou
ex-post. Para Harrington et alii (1999), na comparação das avaliações ex-ante e ex-post, é
importante a distinção entre custo total da regulamentação e custo unitário. Nesse caso, a
quantidade total de poluição abatida é fundamental, pois muitas vezes o custo total ex-post
38
Ver capítulo 2, item 2.3, para exemplos de como o passivo ambiental pode afetar o comportamento dos
investidores.
66
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
é menor (ou maior) do que o ex-ante, mas a quantidade de poluição abatida também vai ser
menor (ou maior). Portanto, somente uma coincidência faria com que custos unitários
iguais levassem à redução (ou aumento) da poluição proporcionalmente. Pode-se ter várias
situações: o custo total ex-post é menor, mas o custo unitário é maior, ou seja, gastou-se
menos do que o esperado, mas a quantidade de poluição abatida foi menos do que
proporcional à diminuição do custo total; o custo total ex-post é maior, mas o custo
unitário é menor, isto é, gastou-se mais, porém abateu-se uma quantidade de poluição
proporcionalmente maior. Assim, a discussão de custos deve também passar,
necessariamente, pela quantidade de poluição abatida, para avaliar como a amplitude do
custo privado trouxe benefícios sociais.
Os mesmos autores, ao compararem as avaliações ex-ante e ex-post das
regulamentações ambientais norte-americanas chegam a conclusões interessantes. A
primeira é que a grande maioria das avaliações é ex-ante, que são feitas pelos órgãos
governamentais ou pela firmas. As avaliações ex-post, além de serem em quantidade
bastante reduzida, são geralmente feitas por acadêmicos. A segunda é que, em geral, há
uma tendência à superestimação dos custos das regulamentações, seja pelas firmas ou
órgãos governamentais, quando eles são comparados com a linha de base (baseline). A
razão mais importante dessa discrepância é atribuída às inovações tecnológicas, que não
são consideradas nas previsões de custos. As outras seriam atribuídas ao cálculo errôneo
da linha de base – que levaria a um resultado final distorcido – e ao caráter institucional do
processo regulatório – que modificam as regras até sua publicação final, quando as
estimativas são feitas na versão preliminar da regulamentação, além da tendência de
sempre considerar o máximo custo estimado.
Dessa forma, destaca-se a importância das inovações tecnológicas na redução dos
custos de conformidade. Devido ao caráter incerto das inovações, é realmente difícil
prever a possibilidade de redução de custos por este meio, o que justificaria em parte a
superestimação de custos. Entretanto, Harrington et alii (1999) ressaltam que isso não
implica que a regulamentação ambiental leva necessariamente a inovações tecnológicas e
que a indução de inovações via regulamentações é uma questão separada da redução de
custos atribuída às inovações não previstas. Esse alerta dos autores reforça a idéia de que
um ambiente – um Sistema Nacional (ou setorial) de Inovações – que favoreça as firmas a
inovarem é importante para reduzir as tensões da relação produção e qualidade ambiental.
67
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
Além disso, mais uma vez pode-se perceber que regulamentação ambiental, com
seu caráter predominante de trazer benefícios sociais, pode não representar um custo muito
alto para as firmas. Mesmo que as avaliações de custos das regulamentações sejam
superestimadas, elas são importantes para que se possa analisar os desdobramentos de tais
regulamentações e considerar seus impactos diretos e indiretos, contribuindo para a busca
de uma alternativa menos custosa que leve a pouca ou nenhuma redução dos benefícios
ambientais a serem obtidos. As avaliações do custo podem influenciar na avaliação
antecipada dos empresários em adotar tecnologias ambientalmente saudáveis para estar em
conformidade com a regulamentação. É igualmente importante estudar os impactos diretos
e indiretos das regulamentações ambientais por meio do estudo da cadeia produtiva do
setor analisado, pois uma regulamentação sobre determinada etapa da cadeia pode ter
influência sobre as outras etapas.
Segundo a teoria evolucionária, o mercado é o principal locus de seleção de
inovações e, nesse caso, a demanda da sociedade – consumidores e grupos de interesse –
por produtos e processos de produção menos agressivos ao meio ambiente faz com que
algumas firmas gerem inovações ambientais e outras as adotem, ocorrendo a difusão da
inovação. Do lado da oferta, é importante saber o ambiente competitivo no qual a firma
está inserida e se o tratamento adequado – com a adoção de tecnologias ambientalmente
saudáveis – da questão ambiental é importante para manter a posição competitiva. Nesse
caso, o mercado teria uma importância cada vez maior para induzir as firmas a adotarem
inovações ambientais, reforçando sua competitividade.
A decisão da firma em adotar tecnologias ambientais depende, entre outras coisas,
da avaliação antecipada dos empresários quanto à lucratividade da inovação, sendo esta
uma variável expectacional. Um dos fatores que afeta a lucratividade da inovação é o
preço do recurso natural – se estiver baixo, não compensa a busca para substituí-lo ou para
adotar tecnologias que o utilizem de maneira mais eficiente.
Um exemplo é o petróleo, um recurso natural não-renovável. Até o primeiro
choque do petróleo em 1973, os desenvolvimentos tecnológicos eram no sentido de reduzir
o custo de exploração para ter o domínio de reservas a baixo custo, aumentando a
velocidade de exploração. A elevação dos preços do cru, viabilizou o desenvolvimento de
tecnologias de fontes alternativas de energia e de melhor rendimento do recursos e seus
derivados.
68
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
***
69
Capítulo 1 – Regulamentação ambiental, inovação e competitividade: uma abordagem evolucionária
70
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
Capítulo 2
MEIO AMBIENTE E COMPETITIVIDADE: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA A
INDÚSTRIA BRASILEIRA
71
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
72
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
39
Ver anexo I para as questões da PAEP relativas ao meio ambiente.
73
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
40
Classificação Nacional da Atividades Econômicas, utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
41
São consideradas empresas de inserção internacional aquelas que possuem alguma ligação com o exterior,
seja por meio de exportações, de participação acionária (total ou parcial) estrangeira, de filiais de
74
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
Tabela 2 – Empresas que consideram perdas de mercados devido aos efeitos de sua
atividade sobre o meio ambiente e seus percentuais médios de exportações sobre o total das
vendas, segundo origem do capital controlador – 1996
Pela tabela 3 observa-se que são as empresas de capital parcial ou total controlado
por estrangeiros que mais consideraram a elevação de custos derivada dos efeitos de sua
atividade sobre o meio ambiente – mais de 40% para as duas categoria de empresas contra
14,8% das de capital nacional. As empresas que responderam afirmativamente a esta
questão possuem percentuais médios de exportação sobre o total de vendas maiores do que
aquelas que responderam negativamente.
76
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
Tabela 3 – Empresas que consideram elevação de custos derivada dos efeitos de sua
atividade sobre o meio ambiente e seus percentuais médios de exportações sobre o total das
vendas, segundo origem do capital controlador – 1996
percentuais médios de exportações sobre o total das vendas do que aquelas que não o
fizeram.
Tabela 6 – Empresas que realizaram investimentos na substituição de insumos
contaminantes para redução de problemas ambientais decorrentes de suas atividades e seus
percentuais médios de exportações sobre o total das vendas, segundo origem do capital
controlador – 1996
79
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
A tabela 9 evidencia que cerca de metade das empresas de capital parcial ou total
controlado por estrangeiros adotou programas e técnicas para melhoria de métodos
produtivos para defesa do meio ambiente. Se consideradas as empresas de capital
controlador nacional, apenas um quarto delas admitiu ter adotado tais programas e
técnicas. Independentemente da origem do capital controlador, as empresas que adotaram
tais programas e técnicas apresentaram maiores percentuais médios de exportações sobre o
total de vendas.
80
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
81
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
significativas, seja no manejo florestal, seja no processo produtivo, por pressão do mercado
internacional43.
Mesmo tendo comprovado que as empresas de inserção internacional foram as mais
sintonizadas com as questões ambientais, duas observações devem ser ressaltadas para
evitar um possível viés das conclusões. A primeira, como foi dito no início desta seção, as
empresas nacionais representam cerca de 98% das empresas da pesquisa. Assim, os dados
referentes ao total das empresas têm uma forte influência do comportamento das empresas
nacionais.
A segunda é que as empresas nacionais são majoritariamente pequenas, de acordo
com o pessoal ocupado44 (67,9%), como pode ser observado na tabela 10. As empresas de
capital controlador estrangeiro são em sua maioria médias e grandes – cerca de 70% para
os dois tamanhos – e as de capital nacional e estrangeiro seguem o mesmo padrão – 64%
de empresas médias e grandes.
Tabela 10 – Tamanho das empresas de acordo com o pessoal ocupado, segundo a origem
do capital controlador – 1996
43
Ver Dalcomuni (1998) e Castilho (1994).
44
Essa classificação do porte da empresa segundo o pessoal ocupado é a mesma adotada pelo Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas – SEBRAE. É considerada microempresas até 19 pessoas
ocupadas, de 20 a 99 é pequena, de 100 a 499 é média e mais de 500 é grande. Nas tabelas seguintes, a
pequena empresa possui de 30 a 99 pessoas ocupadas, pois não fez parte da amostra da PAEP as empresas
com menos de 30 pessoas ocupadas.
82
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
Tabela 11– Faixa de receita líquida das empresas (em R$), segundo a origem do
capitalcontrolador – 1996
45
Adicionalmente, a indústria brasileira passou por um processo de downsizing no início dos anos 90, como
conseqüência da maior abertura da economia brasileira ao mercado externo. Muitas empresas terceirizaram
serviços não essenciais, reduzindo o pessoal ocupado, e passando para uma faixa mais baixa de pessoal
ocupado.
83
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
com maior receita líquida podem também dispor de maiores recursos financeiros – seja
próprio ou de terceiros – para realizar investimentos na área de meio ambiente.
84
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
85
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
86
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
Pela tabela 16, observa-se que quanto maior o tamanho da empresa, maior a
importância da estratégia de preservação do meio ambiente como fator de motivação para a
empresa inovar. Entretanto, independentemente do tamanho da empresa, mais de 80%
delas acreditaram ser o meio ambiente uma motivação para inovação (Importante, Muito
Importante e Crucial), mostrando sua importância como uma forma de buscar
competitividade.
A tabela 17 mostra a mesma variável da tabela anterior por faixa de receita líquida.
Observa-se que a maioria das empresas (mais de 75%), independentemente da faixa de
receita líquida, acreditou que a estratégia de preservação do meio ambiente como fator de
motivação para a empresa inovar é Importante, Muito Importante e Crucial. Porém, são as
empresas de maior receita líquida (56%) que atribuíram maior grau de importância ao meio
ambiente como motivação para inovação.
87
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
2.1.3 Inovação
No capítulo anterior, foram apontados três fatores internos à firma que influenciam
na sua capacitação para se tornar inovadora. Dois deles – as competências específicas
para resolução de problemas e a capacidade de absorção – dependem dos investimentos em
P&D. Logo, as firmas que realizam atividades de P&D estariam mais capacitadas para
gerar e adotar inovações. A questão que se coloca é se tais empresas seriam também mais
aptas a adotar inovações ambientais. A variável escolhida para refletir as firmas que
realizam atividades de P&D foi Fontes internas para atividades inovativas, de 1994 a 1996:
departamento de P&D ou licenciamento e aquisição de patentes. O primeiro elemento
indica o grau de importância do departamento interno de P&D como fonte indutora de
desenvolvimento da atividade inovativa na empresa e o segundo indica o grau de
importância do licenciamento e aquisição de patentes como fonte indutora.
A tabela 18 mostra as empresas que investiram em mudanças no processo de
produção devido a problemas ambientais, de acordo com a importância do departamento
interno de P&D para a atividade inovativa da empresa. Quanto mais cresce a importância
do departamento interno de P&D, mais empresas fizeram investimentos no processo
produtivo para solucionar problemas ambientais. Das empresas que atribuíram pouca
importância ao departamento interno de P&D (Indiferentes e Pouco importante), 31,6%
realizaram investimentos em mudanças no processo produtivo e 68,4% não realizaram tais
investimentos. Esses percentuais mudam para 44,5% e 55,5%, respectivamente, quando
consideradas as empresas que acham Muito importante e Crucial o departamento interno
de P&D como fonte indutora de desenvolvimento da atividade inovativa na empresa.
89
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
91
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
92
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
Tabela 23– Empresas que adotaram programas e técnicas para melhoria de métodos
produtivos para defesa do meio ambiente, segundo a importância do licenciamento e
aquisição de patentes como fontes internas para atividade inovativas – 1996
93
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
46
Ver no anexo II os setores industriais da CNAE a 3 dígitos.
94
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
95
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
96
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
97
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
de resíduos, multas, etc. derivada dos efeitos de sua atividade sobre o meio ambiente. A
perda de mercado apresentou baixos percentuais para todos os setores, com exceção de
Fabricação de Celulose (211) e Fabricação de caminhões e ônibus (342), que são setores
exportadores, e Fabricação de armas, munições e equipamentos militares (297).
As atividades da Metalurgia básica (setores que iniciam por 27), de alto potencial
poluidor, foram os que apresentaram menos preocupação em relação à questão ambiental.
A Construção, montagem e reparação de aeronaves (353), mesmo sendo um setor
exportador, também não registrou preocupações ambientais significativas. Os setores de
Fabricação de produtos de metal, exclusive máquinas e equipamentos (setores que iniciam
por 28) também não se mostraram muito preocupados com esta questão, entretanto alguns
dos setores classificados como de alto potencial poluidor possuem atividades de médio
potencial poluidor (ver anexo III).
Pela tabela 25 pode-se observar o comportamento dos setores industriais em relação
às variáveis consideradas como indicadores de inovação ambiental para melhorar a
competitividade. Dentre os setores de alto potencial poluidor, os setores de Fabricação e
refino de açúcar (156), Curtimento e outras preparações de couro (191), Celulose, papel
(211 e 212), Refino de petróleo (232), Produção de álcool (234), Fabricação de defensivos
agrícolas (246), Fabricação de automóveis camionetas e utilitários (341) e Fabricação de
caminhões e ônibus (342) foram os de alto potencial poluidor que mais realizaram os três
tipos de investimento. A Fabricação de cimento (262) investiu mais nas mudanças de
processo produtivo e na reutilização e tratamento de resíduos para reduzir problemas
ambientais da atividade das empresas. Este último tipo de investimento foi o mais
importante realizado pelos setores de Abate e preparação de produtos de carne e de
pescado (151), Produção de óleos e gorduras vegetais e animais (153), Fabricação de
produtos químicos orgânicos (242) e Fabricação de armas, munições e equipamentos
militares (297).
98
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
100
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
As atividades da Metalurgia básica (setores que iniciam por 27), mesmo com alto
potencial poluidor, realizaram poucos investimentos na redução dos problemas ambientais
resultantes de suas atividades produtivas. A Construção, montagem e reparação de
aeronaves (353) também não realizou investimentos nesse sentido. Algumas atividades do
setor têxtil classificadas como de alto potencial poluidor (171 e 173) também não se
apresentaram como investidores em resolução de problemas ambientais, entretanto
apresentam atividades de médio potencial poluidor.
A análise setorial leva à conclusão de que, entre os setores de maior potencial
poluidor, o sucro-alcooleiro (156 e 234), de couro (191), de papel e celulose (211 e 212),
de refino de petróleo (232), alguns setores da química (245, 246 e 248) e de transporte (341
e 342) consideram mais a questão ambiental para sua competitividade. As indústrias de
alto potencial poluidor que menos levam em consideração as variáveis ambientais em sua
competitividade são: borrachas e plásticos, metalúrgica, naval e aeroespacial.
Os setores industriais com potencial poluidor médio, baixo e desprezível realizaram
menos investimentos ambientais que os setores de alto potencial poluidor. Uma vez que
são setores cujas atividades apresentam problemas ambientais menores, é esperado que não
realizem grandes investimentos nessa área. As exceções são Fabricação de produtos do
fumo (160), de baixo potencial poluidor, que realizou mudanças no processo produtivo por
causa dos impactos ambientais de suas atividades; Fabricação de pilhas, baterias e
acumuladores elétricos (314), de médio potencial poluidor, que realizou mudanças no
processo produtivo e reutilização e tratamento de resíduos47; Fabricação de resinas e
elastômeros (243), de médio potencial poluidor, que realizou os três tipos de investimento.
Entretanto, é importante ressaltar que não foi considerado o efeito escala, ou seja,
mesmo que esses setores individuais apresentem impactos ambientais potencialmente
pequenos, o aumento da escala de produção nesses setores pode gerar um nível absoluto de
emissões alto, caso não haja algum tipo de tratamento dos rejeitos industriais.
A análise dos dados da PAEP revela algumas conclusões interessantes:
47
Este setor foi alvo de regulamentação específica, a Resolução Conama
101
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
aos anos de 1998 e 1999, incluindo o meio ambiente como um fator associado à
competitividade empresarial. Esta pesquisa teve caráter amostral, num total de 1.158
empresas em 16 estados brasileiros, que foram agregados em quatro regiões: Sudeste com
57,8% da amostra, Sul com 26,0%, Nordeste com 9,7% e Norte/Centro-Oeste com 6,6%.
A unidade de análise foi o estabelecimento, sendo que para empresas com mais de um
estabelecimento, foi considerado os dados referentes ao de maior faturamento no estado.
O porte das empresas foi determinado a partir do número de empregados, divididas
em quatro faixas: microempresas com até 19 empregados (64,0% da amostra), pequenas
com 20 a 99 empregados (18,5% da amostra), médias com 100 a 499 empregados (9,3% da
amostra) e grandes com mais de 500 empregados (8,2% da amostra). Como há um maior
número de microempresas, os resultados totais não foram obtidos pela média aritmética
simples dos resultados de cada empresa, para evitar distorções. Os totais foram, portanto,
ponderados pelos “resultados obtidos para cada porte pelo número de empregados que cada
um possui no universo de empresas, evitando-se, assim, dar o mesmo peso para todas as
empresas da amostra” (CNI et alii, 2001:9). Os setores industriais, num total de 23, foram
classificados segundo a CNAE a dois dígitos48.
Os resultados desta pesquisa mostram o comportamento das empresas em relação
ao seu porte. No tocante à gestão ambiental, 57,5% das microempresas não adotam
qualquer prática deste tipo de gestão, enquanto que somente 5,3% das grandes empresas
têm o mesmo comportamento. Por outro lado, das empresas que adotam gestão ambiental,
41,7% das microempresas não verificaram benefícios decorrentes deste tipo de gestão e
4,4% das grandes tiveram a mesma opinião. Quanto aos percentuais de receita operacional
líquida49 aplicados em investimentos ambientais, não há grandes diferenças entre o porte
das empresas: em 1998, esses percentuais foram de 0,5% para as micro, 0,9% para as
pequenas, 0,7% para as médias e 0,5% para as grandes; em 1999, esses percentuais
atingem 0,6% para as micro, 0,9% para as pequenas, 0,9% para as médias e 0,8% para as
grandes empresas.
Do total de empresas, os gastos em investimentos ambientais foram de 0,7% da
receita operacional líquida em 1998 e 0,8% em 1999, sendo a maioria realizada com
recursos das próprias empresas – mais de 67% nestes anos contra 22,1% dos recursos de
48
Ver no anexo II os setores industriais da CNAE a dois dígitos.
103
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
bancos governamentais. As empresas de médio e grande portes tiveram mais acesso a esse
último tipo de recurso nos anos de 1998 e 1999 – 49,0% das grandes empresas contra 2,0%
das microempresas.
Como resultados destes investimentos, cerca de 67% das empresas consideram que
houve melhoria da sua imagem – para as médias empresas este percentual é de 74,5% e
para as grandes 86,7% –; aproximadamente 25% perceberam aumento nas vendas – as
médias e grandes empresas apresentam percentuais maiores, 30,1% e 28,2%,
respectivamente –; o acesso a novos mercados foi identificado por 29,2% – para as
grandes empresas 41,8% e para as médias 32,1%; e o aumento no custo final dos
produtos foi identificado por 39,0% das grandes empresas, 37,3% das médias, 34,6% das
pequenas e 18,8% das micro.
Os investimentos realizados em gestão, controle e melhorias operacionais e
tecnológicas otimizaram a utilização de insumos (redução de emissão de poluentes do ar e
melhoria do controle de efluentes líquidos) em quase metade das empresas,
aproximadamente 30% delas reduziram os resíduos sólidos e 18% não obtiveram
benefícios desses investimentos. Nos anos de 1998 e 1999, 63% da empresas realizaram
investimentos na redução de perdas e refugos de materiais e produtos acabados. Outras
áreas, como tratamento e controle de efluentes líquidos; tratamento e controle de
efluentes sólidos; tratamento e controle de ruídos; e conservação de energia, obtiveram
investimentos de mais de metade das empresas. Para todos esses tipos de investimentos, as
grandes empresas sempre superam as demais em termos percentuais.
A principal motivação para realizar investimentos ambientais é o atendimento à
legislação – 62,4% das empresas, com percentuais superiores para as grandes (72,2%) e
médias empresas (65,3%). A segunda motivação mais importante é a busca de melhoria
da imagem da empresa – 61,2% para todas as empresas, sendo esse percentual superior
para as grandes (65,6%) e pequenas empresas (62,9%). As outras possíveis respostas –
acesso a novos mercados de gestão e melhoria da gestão – obtiveram percentuais entre
20% e 30%.
49
“A ROL (receita operacional líquida) é definida como faturamento bruto menos impostos” (CNI et alii,
2001:90).
104
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
50
A pesquisa cobre 22 dos 23 setores da CNAE (ver anexo II), mas “... não se conseguiu um número de
empresas considerado suficientemente alto para apresentação dos resultados desagregados em seis setores –
fumo; coque, refino de petróleo e elaboração de combustíveis nucleares; máquinas para escritório e
equipamentos de informática; material eletrônico e aparelhos e equipamentos de comunicações; outros
equipamentos de transporte; e equipamentos de instrumentação médico hospitalares, instrumentos de
precisão e óticos, equipamentos para automação industrial, cronômetro e relógios. O setor de reciclagem não
foi pesquisado” (CNI et alii, 2001:9).
51
De acordo com a classificação da FEEMA apresentada no item anterior.
105
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
106
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
52
Esta pesquisa foi realizada durante a as feiras de Equipamentos ECOBRASIL (em São Paulo) e de
Tecnologias Ambientais – ECOTECH – (no Rio de Janeiro) em junho de 1992. Foram entrevistadas 108
empresas produtoras de equipamentos e serviços ambientais, das quais 80 atuavam no mercado brasileiro. O
objetivo da pesquisa foi verificar a estrutura, a capacitação tecnológica, os determinantes do crescimento do
mercado e as estratégias das empresas fornecedoras de tecnologias ambientias.
53
Às outras opções de resposta, pouco influente e não influencia, foram atribuídos percentuais de 7% e 3%
respectivamente.
107
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
108
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
teria uma importância cada vez maior para induzir as firmas a adotarem inovações
ambientais, reforçando sua competitividade.
Quanto à pressão dos grupos de interesses, dado a fraca organização social no
Brasil – com exceção de alguns sindicatos e mais recentemente com as organizações não
governamentais (ONGs) –, a sociedade civil não possui muito poder de pressão para fazer
com que as empresas mudem suas atitudes em relação ao meio ambiente. Adicionalmente,
há grande desinformação do público em geral quanto às questões ambientais. A maioria
do conhecimento da sociedade sobre os problemas ambientais é adquirida através da mídia,
que não faz uma divulgação sistemática e educacional das questões ambientais,
concentrando-se nos “escândalos ambientais”, como os grandes vazamentos de petróleo,
desmatamento desenfreado da Amazônia e ameaças à biodiversidade e à saúde humana
causadas por níveis poluição absurdos – despejo de esgoto sanitário e rejeitos industriais
em corpos hídricos, níveis elevados de emissões veiculares, entre outros.
Entretanto, há uma crescente preocupação com os stakeholders54, em que a atuação
de ONGs ambientalistas nacionais e estrangeiras é muito importante. Resultados positivos
da pressão desses grupos já ocorreram e as empresas que ganharam a concessão para
exploração e produção de petróleo (nos leilões de 1999 e 2000) estão consultando os
stakeholders sobre as possíveis conseqüências ambientais de suas atividades.
Quanto à pressão dos investidores, pode-se observar uma preocupação crescente
com o desempenho ambiental da firma, principalmente de setores com alto potencial
poluidor – química e petroquímica, por exemplo. Os casos da Rhodia e da Parmalat
ilustram uma situação em que o passivo ambiental herdado trouxe prejuízos às empresas.
Em 1976, quando a Rhodia, subsidiária da Rhône Poulenc, adquiriu a planta da Clorogil
para produção de substâncias para tratamento de madeiras, viu-se diante de uma passivo
ambiental que lhe foi cobrado dezoito anos mais tarde: uma decisão judicial impôs à
Rhodia a descontaminação de quatro áreas em São Vicente (SP), o que lhe custou cerca de
US$ 8 milhões (Gazeta Mercantil, 21/08/1998 e 24/02/2000). A Parmalat assumiu um
passivo ambiental de US$ 2 milhões quando comprou duas unidades da Etti, cujo principal
problema era emissão irregular de resíduos (Gazeta Mercantil, 21/08/98).
Grande parte da maior preocupação com o passivo ambiental está associada à Lei
de Crimes Ambientais, de 1998, que possibilitou a cobrança de valores extremamente altos
109
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
54
Sobre o stakeholder approach, ver Vinha (1999).
55
Ver capítulo 3 (item 3.5) para comentários sobre a Lei de Crimes Ambientais.
110
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
56
De um balanço de 720 projetos de tecnologias limpas na França, 70% apresentaram economia no consumo
de água, 60% de matérias primas e 13% de energia. O reaproveitamento de resíduos foi da ordem de 26%, a
redução dos riscos de acidentes de 25% e a melhoria das condições de trabalho em 30% (Clean Technology
Task Force-France, apud Tigre et alii, 1994:92).
57
Além dos fatores já mencionados, a competição (31%) e a pressão dos sindicatos (13%) foram também
possíveis respostas para a questão: “Dadas as regulamentações governamentais existentes ou esperadas, quais
são os fatores que mais facilitam a adoção, por seus clientes, de tecnologias ambientais? Por favor marque
aqueles mais relevantes” (Tigre et alii, 1994:91)
58
Por exemplo, Hettige, Wheeler, Laplante, Lanoie, Dasgupta, Panayotou.
111
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
empresa, o potencial poluidor (verde, marrom ou vermelho para setores menos e mais
intensivos em poluição, respectivamente) e escolaridade para contratação. Dados
referentes à esfera municipal também foram utilizados: multas, advertências e o número de
postos da CETESB existentes em cada município; a importância da indústria no município
a partir de dados do IBGE; e a proporção de votos que foram para deputados estaduais e
federais de partidos “verdes”, o número de ONGs ambientais por município, nível de
escolaridade e renda do município.
Os resultados obtidos coincidem com os obtidos na análise dos dados da PAEP
(item 2.1.):
• o tamanho da empresa tem influência positiva na probabilidade de realização de
investimento ambiental.;
• as empresas com propriedade parcial ou total do capital estrangeiro apresentam maior
probabilidade de realizar investimentos ambientais;
• as unidades locais que fazem inovação e mudança de processo para alcançar maior
produtividade e competitividade têm maior probabilidade de fazerem investimento
ambiental;
• as firmas mais antigas apresentam maior probabilidade de realizarem investimento
ambiental;
• quanto maior a proporção de exportações sobre vendas, maior é a probabilidade da
firma fazer investimento ambiental;
• os setores industriais verde e marrom (com baixa e média intensidades de poluição,
respectivamente) têm menor probabilidade de realizarem investimento ambiental;
• a pressão formal é importante, pois a “unidades locais que estão localizadas em
municípios onde o regulador (CETESB) distribuiu mais advertências por unidades
locais têm uma maior probabilidade de fazer investimentos ambientais” (Ferraz e
Seroa da Motta, 2001:8);
• as variáveis de pressão informal – número de votos “verdes”, de ONGs e a renda – não
se apresentaram como significativas. Logo, a idéia da regulação informal, aplicável
para os países desenvolvidos, não parece válida para o estado de São Paulo59.
59
Os autores advertem que as conclusões são preliminares e que uma possível explicação para a estes
resultados é que a CETESB (agência reguladora estadual) tem uma atuação eficiente, reduzindo a
importância da regulação informal. Cabe contrapor, entretanto, que São Paulo é um dos estados que tem a
112
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
população civil mais organizada e educada do Brasil, logo mais apta a exercer pressões sobre as empresas.
Assim, dado que a maioria dos outros estados não possui tais condições, a regulação informal também seria
fraca.
113
Capítulo 2 – Meio ambiente e competitividade: evidências empíricas para a indústria brasileiras
114
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Capítulo 3
A CADEIA PRODUTIVA DO PETRÓLEO
60
O barril é a medida-padrão da indústria do petróleo, que teve origem no armazenamento de óleo cru em
barris de uísque, pois à época houve grande aumento da produção e não havia instalações suficientes para
estocar toda a produção. Um barril corresponde a 159 litros e a aproximadamente 153 quilogramas.
61
MARINHO JR., Ilmar Penna (1970). Petróleo, soberania e desenvolvimento. Rio de Janeiro:Bloch, p. 25
apud Menezello (2000).
115
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
62
Tigre (1998) aponta três áreas de inovações que alteraram o perfil da estrutura da indústria como um todo,
resultando em novos modelos de firmas e mercados: a eletricidade, o motor a combustão e as inovações
organizacionais. As duas últimas estão diretamente relacionadas com as condições que possibilitaram o
crescimento da indústria do petróleo, tornando-a uma das mais importantes do século XX.
63
No Brasil, a Shell instalou-se em 1913, com o nome de The Anglo Mexican Petroleum Products Company
Limited.
116
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
117
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
64
O decreto-lei no 395/38.
65
A corrida em busca do petróleo fez com que surgissem as primeiras especulações sobre a possibilidade de
exploração no mar – offshore – em 1897, na Califórnia (EUA). Foi construído um píer de madeira para
verificar se os poços encontrados perto da praia estendiam-se mar adentro. Confirmada esta hipótese, dez
píeres foram instalados para a prospecção de petróleo com 6 a 20 poços em cada píer, utilizando a mesma
tecnologia para exploração na terra (Ciência Hoje, 2001). A produção offshore começou em maior escala a
partir de 1947, com a descoberta de petróleo no Golfo do México, em frente do estado norte-americano da
Louisiana. A partir de então, iniciou um desenvolvimento tecnológico para adaptar as plataformas aos novos
ambientes, sujeitos às adversidades naturais e às profundidades cada vez maiores.
118
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
119
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
66
A produção no mar dos países não pertencentes à Opep cresceu de três milhões de barris/dia em
1973 para mais de dez milhões barris/dia em 1985 (Santos e Cueille, 1998).
120
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
cada vez mais profundas e a indústria mundial do petróleo parecia ter retomado a expansão
à longo prazo.
Após o segundo choque do petróleo, duas tendências foram reforçadas: a política
energética ativa dos países importadores, no sentido de reduzir a dependência dos
derivados do petróleo, e o aumento da produção de petróleo dos países não pertencentes à
OPEP. Assim, ocorreu uma mudança importante, " ... com a transformação das condições
de base de contexto de oferta limitada e concentrada em um número restrito de países e
demanda crescente para um contexto de oferta excedente e menos concentrada e
demanda estabilizada" (Pinto Jr e Fernandes, 1998:3). Esse cenário criou as condições
para o contra-choque do petróleo ocorrido em 1985/1986, quando o preço do petróleo caiu
em termos reais, marcando uma nova fase na dinâmica concorrencial da indústria do
petróleo.
Com a baixa da cotação do barril de petróleo, aliada às crescentes dificuldades de
conseguir financiamento externo, os investimentos no setor petrolífero foram reduzidos
substancialmente e de maneira generalizada, bem como as atividades de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) realizadas pelas empresas, que se concentraram no setores mais
promissores. Mesmo assim, graças a alta de preços forçada pela Opep nos dois choques do
petróleo, as majors puderam desenvolver e dominar novas tecnologias, lançando-se na
estratégia de diferenciação de produtos, em petróleo “não convencional” e em energias
alternativas. Assim, na medida em que ocorreram as mudanças no ambiente concorrencial,
os países da OPEP só poderiam retomar a posição dominante se conseguissem inibir as
estratégias de diferenciação dos concorrentes com uma estratégia muito agressiva de
dominação por baixos custos.
Os resultados dos investimentos tecnológicos foram muito positivos: a taxa de
exploração bem sucedida aumentou, os custos de exploração e desenvolvimento foram
reduzidos, a taxa de exploração das jazidas cresceu e foi possível a exploração de novas
regiões de difícil acesso. Por exemplo, em meados da década de 80, o custo médio de
descoberta e desenvolvimento da reservas de petróleo caiu pela metade (Santos e Cueille,
1998:236). Os progressos tecnológicos na exploração offshore continuaram crescendo.
Os investimentos em P&D foram retomados no final da década de 80, dada a
importância estratégica das inovações tecnológicas na concorrência da indústria do
petróleo. São três grandes eixos pelos quais a tecnologia pode influenciar a concorrência
121
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
122
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
123
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
124
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
67
Por exemplo, a Standard Oil Co. of Brazil era, em1946, a maior companhia distribuidora do país, que no
primeiro ano de atividades no Brasil teve um lucro líquido de 332% do capital investido (MARINHO Jr.,
125
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Ilmar P. Petróleo: política e poder. Rio de Janeiro:José Olympio, 1989 apud Menezello, 2000).
68
Este nome foi dado em 1975.
126
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
69
As lâminas d’água profundas vão de 400 a 1.000 metros e as ultraprofundas de 1.000 a 2.000 metros.
70
A Petrobras estima que cerca de 50% das reservas a serem descobertas estão em águas ultraprofundas.
71
A Petrobras foi considerada a maior empresa do Brasil em relação a vendas (receita operacional bruta), a
lucros (lucro líquido ajustado), a patrimônio (patrimônio líquido ajustado) e a receitas líquidas em 2000
(Exame, Maiores e Melhores 2001, julho/2001, p. 74 e 77).
72
As reservas de petróleo e gás natural estão classificadas em três categorias: provadas, que “...com base na
análise de dados geológicos e de engenharia, se estima recuperar comercialmente de reservatórios
descobertos e avaliados, com elevado grau de certeza, e cuja estimativa considere as condições econômicas
vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os regulamentos instituídos pela legislações
petrolífera e tributária brasileiras”; prováveis, na qual “... a análise dos dados geológicos e de engenharia
indica uma maior incerteza na sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas provadas”; e
127
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
tecnológica: sobre a balança comercial, que se trnou deficitária a partir de 1995, e sobre o
desenvolvimento regional, pois as atividades da indústria petrolífera passaram a ter peso
importante nas economias de alguns Estados Nordestinos – Ceará, Rio Grande do Norte,
Sergipe e Bahia – e mais recentemente na região Norte (Neves, 2001).
A Lei do Petróleo
possíveis, “... cuja análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na sua
recuperação quando comparada com a estimativa de reservas prováveis” (ANP, glossário).
73
O CNPE é composto por nove membros: seis Ministros de Estado – Minas e Energia (presidente);
Ciência e Tecnologia; Planejamento e Orçamento; Fazenda; Meio Ambiente; Indústria, Comércio e
Turismo –, o Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, um representante dos Estados
e do Distrito Federal, um cidadão brasileiro especialista em matéria de energia e um representante da
universidade brasileira, especialista em matéria de energia (Menezello, 2000).
128
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
derivados e gás natural. Estas atividades só podem ser desenvolvidas por “... empresas
constituídas sob leis brasileiras, com sede e administração no País” (art. 5o da Lei
9.478/97), com concessão ou autorização da União.
Foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP) como órgão regulador da
indústria do petróleo e vinculado ao Ministério de Minas e Energia. A agência reguladora
ficou responsável, portanto, pela regulação, contratação e fiscalização das atividades
petrolíferas. Cabe, portanto, à ANP a administração dos direitos de exploração e produção
de petróleo e gás natural, realizando licitações e celebrando os contratos de concessão das
atividades do upstream, inclusive a manutenção, coleta e administração do acervo técnico
sobre as bacias sedimentares brasileiras. A ANP também concede as autorizações para
construção, ampliação e operação de refinarias; estocagem, construção de instalação,
efetuação de transporte, importação e exportação de petróleo, derivados, gás natural e
condensado.
Em termos de capacitação tecnológica para o setor petróleo, a Lei do Petróleo
estabeleceu que parte dos royalties arrecadados com a lavra em plataforma continental
devem ser destinados ao Ministério de Ciência e Tecnologia “... para financiar programas
de amparo à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico aplicados à indústria do
petróleo” (Lei Federal no 9.478/97, art. 49). Esta passou a ser outra fonte de financiamento
para o desenvolvimento tecnológico no setor, que antes ficava quase que exclusivamente a
cargo da Petrobras. O capítulo 5 trata da aplicação desses recursos e como a área
ambiental tem sido contemplada.
Para estudos e projetos da área ambiental, além dos recursos do CTPETRO, a Lei
do Petróleo estabelece que 10% do pagamento da participação especial – que ocorre em
casos de grande volume de produção ou de rentabilidade elevada – devem ser destinados
ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). Tais recursos são destinados especificamente
para o desenvolvimento de estudos e projetos para recuperação de áreas degradadas pelas
atividades da indústria do petróleo e para a preservação do meio ambiente.
Além da Lei do Petróleo, outra mudança legal afetou a indústria do petróleo: a
regulação ambiental. Há dois marcos importantes: o primeiro é a Lei Federal no 9.605/98,
também conhecida como Lei de Crimes Ambientais, que prevê sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, tanto para o
poluidor quanto para o órgão regulador que se omitir diante de crimes ambientais. O
129
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
segundo marco foi o acidente da Baía de Guanabara em janeiro de 2000, que gerou novas
regulamentações ambientais e mudou também a estrutura organizacional da Petrobras no
que tange o meio ambiente (ver capítulo 5).
A legislação ambiental mais restritiva foi uma tendência dos países da América do
Sul ao adotarem políticas para o desenvolvimento do setor energético – principalmente no
setor de petróleo e gás. O fato de muitas áreas com potencial para o desenvolvimento da
exploração e produção estarem em regiões ecologicamente sensíveis, com ameaças ao
equilíbrio de ecossistemas e de populações indígenas, tornou a questão ambiental parte do
processo de investimentos no setor. Esta tendência foi reflexo do crescimento da
preocupação internacional com os impactos ambientais oriundos da geração de energia, o
rápido crescimento de leis e políticas internacionais para o meio ambiente nas duas últimas
décadas, a publicidade entorno do precário desempenho ambiental do setor no passado, e
as regulamentações nacionais em reposta às pressões ambientais (Wagner, 1998).
No caso do Brasil, além de seguir a tendência dos países da América do Sul, fica
evidente a mudança drástica no marco regulatório tanto da indústria do petróleo, com Lei
do Petróleo de 1997, quanto da área ambiental, a partir da Lei de Crimes Ambientais de
1998 e regulamentações subseqüentes. Dessa forma, essa dupla mudança demanda uma
análise mais cuidadosa e detalhada das relações entre a indústria do petróleo e seus
impactos ambientais. As modificações na regulação requerem, além do conhecimento das
novas regras, a avaliação de como os agentes econômicos irão percebê-las, interpretar a
nova regulação e reagir às demandas legais e às pressões que vão surgir da sociedade. Ou
seja, transformações importantes estão ocorrendo no ambiente seletivo e é fundamental
analisar suas principais tendências.
A importância de estudar as relações entre a indústria do petróleo e seus impactos
ambientais reside no fato de que a abertura do mercado para torná-lo mais competitivo gera
novas formas de concorrência, que aliado a uma legislação ambiental mais restritiva, leva
ao questionamento da importância da preservação ambiental como estratégia competitiva
numa indústria potencialmente poluidora e com alto potencial de risco, porém com alto
dinamismo tecnológico em algumas fases da cadeia produtiva.
130
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
O petróleo é a base de diversas atividades produtivas, seja como matéria prima (ver
item 3.2 sobre a cadeia produtiva do petróleo), seja como fonte de energia primária. Do
consumo mundial de energia primária, o petróleo foi o responsável por 40% no ano de
2000 (British Petroleum, 2001).
A distribuição das reservas provadas de petróleo no mundo é bastante desigual e
está em grande parte concentrada no Oriente Médio – 65%, na tabela 26. Ao considerar as
reservas provadas da OPEP, esse percentual eleva-se para 78%. Os países da OCDE74,
considerados os mais desenvolvidos, detêm somente 8% das reservas provadas e
apresentam baixa relação reservas/produção (11,5) se comparados à OPEP (74,3).
74
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em inglês, Organisation for
Economic Co-Operation and Development (OECD). É composta por 30 países membros, a saber: Austrália,
Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria,
Irlanda, Itália, Islândia, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Hollanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia,
Portugal, República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos.
131
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Ao contrário das previsões catastróficas do final dos anos 60, as reservas provadas
de petróleo vêm aumentando. Em final de 1980 eram de 660 bilhões de barris e passaram
para 1.046 bilhões de barris em final de 2000. O Brasil aumentou substancialmente suas
132
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
reservas de 1,3 bilhões de barris no final de 1980 para 8,1 bilhões75 de barris no final de
2000, participando com 0,8% das reservas provadas mundiais.
A distribuição mundial da produção e do consumo de petróleo é também desigual,
evidenciando uma divisão em um bloco de países produtores e outro de consumidores – em
termos líquidos (produção menos consumo). Pela tabela 27, pode-se observar que os países
desenvolvidos – considerando os da OCDE – são grandes consumidores, responsáveis por
62,4% do consumo mundial. Entretanto, esses mesmos países são responsáveis por 28%
da produção mundial, apresentando um déficit de consumo de mais de 24 mil barris/dia. Os
Estados Unidos, apesar de serem um grande produtor, aproximadamente 10% da produção
mundial, consomem cerca de um quarto do petróleo produzido mundialmente,
apresentando um déficit de consumo de 11 milhões de barris/dia.
Anos 19 99 2000
Países Produção Consumo Produção Consumo Superávit Produção Consumo
ou Déficit % do total % do total
Estados Unidos 7730 18635 7745 18745 -11000 9,8% 25,6%
Canadá 2605 1795 2710 1775 935 3,5% 2,4%
México 3345 1765 3450 1840 1610 4,8% 2,4%
Total América do 13680 22195 13905 22360 -8455 18,1% 30,4%
Norte
Argentina 850 440 820 430 390 1,1% 0,6%
Brasil 1115 1805 1255 1825 -570 1,8% 2,4%
Colômbia 840 240 710 230 480 1,0% 0,3%
Venezuela 3175 480 3235 495 2740 4,6% 0,6%
Outros Am. Central 765 1670 815 1685 -870 1,2% 2,3%
e do Sul
Total Am. Central 6745 4635 6835 4665 2170 9,7% 6,2%
e do Sul
Noruega 3205 215 3365 205 3160 4,4% 0,3%
Reino Unido 2885 1720 2660 1675 985 3,5% 2,2%
Outros da Europa 875 14115 930 14045 -13115 1,3% 18,9%
Total da Europa 6965 16050 6955 15925 -8970 9,2% 21,4%
Rússia 6180 2535 6535 2475 4060 9,0% 3,5%
Cazaquistão 630 120 745 125 620 1,0% 0,2%
Outros da ex-URSS 745 910 755 875 -120 1,0% 1,3%
Total da ex-URSS 7555 3565 8035 3475 4560 11,0% 5,0%
Irã 3550 1210 3770 1170 2600 5,2% 1,6%
75
Esse aumento de mais de quatro vezes das reservas provadas de petróleo no Brasil nesse período “...
coincide com as descobertas realizadas em águas profundas na Bacia de Campos, em especial os campos de
Marlim, Barracuda e Roncador” (Neves, 2001: 8).
133
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Por outro lado, são os países menos desenvolvidos que são também os maiores
produtores de petróleo: os da OPEP, maiores detentores das reservas provadas, produzem
cerca de 41% e consomem somente 18% do petróleo mundial; os países não-OPEP
também apresentam superávit em relação ao consumo de cerca de 16%. São, portanto, os
países desenvolvidos – Estados Unidos (25,6%), Japão (7,2%) e Europa (21,4%) – os
grandes consumidores e os maiores importadores do petróleo mundial.
A tabela 28 e a figura 1 mostram a evolução da produção, do consumo e o déficit
de consumo em relação à produção de petróleo no Brasil. Pode-se observar que as ações
134
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
2000
1800
1600
1400
1200
1000
Fonte: Elaboração própria a partir de British Petroleum (2001).
800
600
400
200
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
135
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
136
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
137
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
138
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Petroquímica
Extração de petróleo e gás natural
Refino de petróleo
Petroquímica básica e intermediária
Fabricação de resinas, fibras artificiais e sintéticas e elastômeros sintéticos
Elementos químicos
Produção de elementos químicos, compostos orgânicos e inorgânicos não petroquímicos ou
ou carboquímicos
139
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Portanto, os consumidores mais na ponta não serão considerados, pois são numerosos, e
sob o ponto de vista ambiental, avaliar os impactos sobre o meio ambiente das atividades
produtivas dos consumidores da cadeia do petróleo, seria analisar grande parte dos
impactos ambientais da própria economia. As questões ambientais ligadas ao consumo de
combustíveis derivados do petróleo serão analisadas de maneira genérica (ver capítulo 4),
pois este não faz parte da cadeia a ser estudada.
A cadeia do petróleo é curta, pois não inclui a atividade de montagem76, porém
cada segmento é composto por operações de grande complexidade. Ela pode ser dividida
em duas etapas: extração, que inclui as atividades de exploração e produção (E&P) – o
upstream – e a produção de insumos básicos, que inclui a atividade de refino. Outras
atividades – transporte e armazenamento (T&A) e a distribuição – não são consideradas
um processo de transformação em si, mas são auxiliares e essenciais para etapa do refino,
logo consideradas como secundárias. Estas três últimas atividades são denominadas
downstream (ver quadro 2).
Além das duas etapas principais e as secundárias, a cadeia do petróleo estabelece
relações com atividades de suporte, que são os serviços necessários para o
desenvolvimento das atividades nas diferentes etapas da cadeia produtiva. São serviços de
análises sísmicas, estudos e elaboração de projetos, estudos e relatórios de impactos
ambientais, instalação de equipamentos, etc. .
UPSTREAM DOWNSTREAM
140
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
793
Indústria da
5.998 borracha
Extração de Refino e
petróleo e gás petroquímica
2.617
Artigos de
2.413 Químicos 270 plástico
diversos
387
456 Farmacêutica
e perfumaria
76
Um exemplo de uma cadeia que possua essas três etapas é a do cimento: extração de pedra calcárea, argila
e outros materiais para produção do cimento; transformação em cimento; e montagem de artefatos de
cimento (Prochnik, 1989).
141
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
O Upstream
O upstream – também chamado de exploração e produção (E&P) – é a atividade de
extração de petróleo, que inclui as etapas de exploração, o estudo de reservas e
reservatórios, o planejamento do desenvolvimento da produção, a perfuração de poços, a
completação dos poços e a produção. Cada uma dessas atividades possui etapas
específicas, como podem ser observadas no quadro 4. Essas diferentes atividades geram
uma cadeia de suprimento de equipamentos e serviços para a construção, montagem,
instalação, operação e manutenção de sistemas de produção de petróleo.
Essa cadeia de suprimento de equipamentos e serviços está ligada a diferentes
setores industriais e a outras cadeias produtivas. Ao desagregar os investimentos na E&P
offshore a preços de mercado, a ONIP/IE-UFRJ (2000) chega aos seguintes setores, de
acordo com a tabela 31.
142
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Exploração
Geofísica
Reservatório
Estudo de
reserva e Projeto de
Projeto de
reservatórios instalação de
poços
superfícies
Perfuração
Aplicação dos
Revestimento
fluídos de Perfuração Cimentação
de poços
perfuração
Completação
estimulação
química -acidificação
Isolamento Testes de mecânica - Colocação de
das zonas vazão e fraturamento hidráulico árvore de
produtoras pressão natal
químico-mecânico
Produção
Operação de Tratamento
Escoamento Separação armazenamento
Elevação do óleo
143
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
Dentre os setores que são mais demandados pelos investimentos offshore estão o
próprio setor de petróleo e gás (perfuração, perfilagem e cimentação de poços) com 17,2%
dos investimentos realizados – realizando a perfuração, perfilagem e cimentação de poços
–; o de máquinas e equipamentos com 14,4% – ofertando serviços de instalação industrial,
turbinas, turbo-compressores, árvore de natal molhada –; o de peças e outros veículos com
27,3% – fornecendo embarcações, peças e acessórios – e os serviços prestados com 14,9%
– realizando levantamento geofísico e serviços técnicos especializados. Somente estes
quatro setores respondem por mais de 70% da demanda dos investimentos na E&P
offshore.
Além do upstream exercer demanda a outros segmentos industriais, gerando direta
e indiretamente renda para diversos setores da economia, também é responsável por uma
fonte de receita importante – os royalties do petróleo. A tabela 32 mostra que os royalties
144
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
em 1999 foram divididos em três partes, cabendo cada uma delas aos estados, municípios e
outras instituições. A região mais beneficiada foi a Sudeste, com 20% do total, sendo o
estado do Rio de Janeiro o maior beneficiário, com 19% do total de royalties deste ano,
devido à produção da Bacia de Campos (RJ), sem contar com a participação nos fundos
especiais. Logo, são também os municípios fluminenses que recebem mais royalties
(21%). As instituições beneficiadas são o Ministério da Ciência e Tecnologia – com 12%
do total –, que destina os recursos ao CTPETRO (ver item 3.1.2) e o Comando da Marinha
com 14%.
145
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
O Downstream
As atividades do downstream englobam o transporte e o armazenamento do
petróleo bruto77 e derivados, o refino e a distribuição. O petróleo extraído dos poços pode
ser de diversos tipos, dado que a constituição e o aspecto do petróleo bruto variam de
acordo com a formação geológica do terreno de onde foi encontrado. Alguns são mais
leves e claros, outros têm uma coloração marrom, amarela, verde, preta e verde-escura.
Essa variabilidade na composição do petróleo bruto vai ter reflexos no refino, pois a gama
de produtos que podem ser obtidos e os processos utilizados varia conforme o tipo de
petróleo.
As atividades do downstream começam com o transporte do petróleo (extraído em
território nacional ou estrangeiro) por meio de dutos, de petroleiros ou outra embarcação,
ou pela utilização desses dois processos de maneira integrada até as refinarias, onde são
recolhidos nos tanques de armazenamento. O petróleo a ser destilado passa por uma
avaliação laboratorial, para verificar sua adequação à refinaria78 e saber a possibilidade de
obtenção dos derivados. Estes últimos são obtidos por uma série de beneficiamentos do
petróleo em seu estado bruto, ou seja, o refino, que constitui a separação das frações
desejadas e seu processamento posterior para torná-las produtos finais e intermediários
para a venda (ver figura 2).
77
Encontra-se na literatura o termo “middlestream” para designar as atividades de transporte e
armazenamento de petróleo não refinado, pois não estariam vinculada a E&P (upstream) e nem ao refino e
etapas posteriores (downstream) (Malheiros, 2000b).
78
Segundo a Petrobras, a “... acentuada variação de viscosidade ou maior ou menor teor parafínico poderão
acarretar distúrbios no funcionamento dessas unidades (de processamento das refinarias) e mesmo posterior
paralisação” (site da Petrobras).
146
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
147
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
internalizada por uma indústria de alto risco e potencial poluidor. A seguir são analisadas
as características e a dinâmica interna das etapas da cadeia produtiva do petróleo no Brasil,
procurando identificar elementos que foram transformados e outros que ainda não tiveram
tempo suficiente para sofrer mudanças, mas que irão evoluir. Por fim, faz-se uma breve
referência aos determinantes da competitividade internacional da indústria do petróleo.
3.3.1. O upstream
Essa atividade da cadeia produtiva do petróleo apresenta no Brasil características
estruturais de um setor não exportador e de alto valor agregado. É classificado com
integrante da indústria extrativa, pois está baseada na extração de minerais do subsolo.
Dos setores que compõem o micro-complexo petroquímico brasileiro, a extração de
petróleo e gás natural foi o que mais cresceu no período 1996/1999 – 12% pela tabela 33.
Este resultado pode ser atribuído ao esforço de auto-suficiência na produção de petróleo,
inclusive com redução de 6,8% das quantidades importadas nesse mesmo período.
empresas, nacionais ou estrangeiras, a fim de incrementar suas atividades, seja por meio de
troca de tecnologias ou para maior aporte de investimentos.
A ANP é, portanto, a responsável pela realização de licitações para a concessão de
blocos exploratórios, pela celebração dos contratos de concessão do consórcio vencedor
das licitações e pela fiscalização da execução dos mesmos. Nestes contratos, a ANP
incluiu uma “... cláusula que prevê investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento de
novos produtos e processos por parte das empresas concessionárias. Estes investimentos
deverão ser realizados diretamente pelas Concessionárias junto às universidades e
instituições de pesquisa nacionais, credenciados pela ANP” (site da ANP).
Em 1999, começou a licitação de blocos exploratórios, que ocorreu por meio de três
leilões públicos – em 1999, 2000 e 2001. As tabelas do anexo IV mostram os resultados
das três rodadas dos blocos licitados. Na primeira rodada em 1999, 11 empresas,
individualmente ou em consórcio, foram as vencedoras do leilão. Dos 12 blocos licitados,
a Petrobras foi a operadora em três deles, a Agip em três, a Texaco em dois e as demais –
Amerada Hess, Esso, Unocal e British Petroleum (BP) – em um bloco. A figura 3 mostra a
participação das empresas por área licitada, sendo a principais Agip (26%), Texaco (21%),
Petrobrás (12%) e Esso (11%).
Unocal YPF
5% Agip
Texaco 2%
26%
21%
Amerada
5%
Shell
3%
British Borneo
Petrobras 3%
BP
12% Kerr Mcgee Esso
8% Área total:
4% 11%
54.659 km2
Fonte: ANP
Figura 3 – Área Concedida por Empresa
149
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
150
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
79
Há uma tendência das empresas se especializarem na operação de blocos offshore ou onshore.
151
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
3.3.2. O downstream
A principal atividade do downstream é o refino, que apresenta alto valor de
produção. É integrante da indústria de transformação e apresentou taxas médias anuais de
crescimento no período 1999/1996 de 5% (ver tabela 6). Apesar da redução do déficit de
consumo, graças ao esforço de atingir a auto-suficiência na produção de petróleo,
reduzindo a quantidade de importação em 3,5% no período 1999/1996, este segmento da
cadeia produtiva ainda depende de importações de petróleo bruto e fica sujeito a variações
dos preços internacionais.
Até 1996, o setor foi beneficiado pela valorização do real frente ao dólar,
diminuindo o custo do barril importado (Haguenauer et alii, 2001). Entretanto, em 2000, a
elevação do preço do barril de petróleo – média anual de US$ 28,5/barril – elevou a
participação do petróleo bruto para 5,7% das importações totais, com um volume médio
152
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
importado menor do que em 1999 (306 mil barris/dia em 2000 contra 370 mil em 1999,
pela tabela 29)80.
Existem no Brasil treze refinarias81: além das onze sob o controle da Petrobras82,
existem duas privadas – Manguinhos83 (RJ) e Ipiranga (RS) – que foram excluídas do
monopólio da União, porque foram instaladas antes do monopólio da Petrobras. Sua
produção é pequena, visto que a Petrobras respondeu por 97,8% da capacidade de refino no
Brasil em 1999 (tabela 35). As refinarias brasileiras processaram, em 1999, 1.557.017
barris/dia, utilizando cerca de 78% da capacidade de refino brasileira.
As refinarias são heterogêneas84, diferenciando-se quanto às complexidades
tecnológicas, às matérias primas processadas, aos produtos a serem obtidos e aos mercados
consumidores. Como a maior parte do petróleo brasileiro é do tipo pesado, o que implica
maior número de conversões para conseguir produtos de qualidade superior, algumas
refinarias realizaram investimentos nos últimos quinze anos para adaptação ao tipo de
petróleo nacional e para o aumento da qualidade dos produtos, elevando a capacidade de
conversão de frações pesadas para mais leves, que possuem maior valor agregado. Ou
seja, os investimentos foram no sentido de aumentar a complexidade das refinarias e,
consequentemente, sua capacitação tecnológica.
80
No período de 1990 a 1999, o volume importado de petróleo (óleo cru e condensado) sofreu uma redução
de 11,35%. Entretanto, o valor da importação (FOB) a dólares constantes cresceu 20,66% e o preço médio
do barril (FOB) a dólares constantes cresceu 36,11% (fonte site ANP, dados estatísticos).
81
Para detalhes da estrutura produtiva das refinarias ver Mariano (2001).
82
A Repsol YFP fez um acordo com a Petrobras e adquiriu 30% da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap).
Mas Repsol YFP tem uma estratégia de expansão no Brasil. “Além da aquisição de uma fatia da Refap, a
Repsol YPF assume em maio o controle de 350 postos na Região Sul da BR, a distribuidora da Petrobras que
lidera o varejo nacional de combustíveis. Em troca, cede à Petrobras quase a totalidade da Eg3, marca com
700 postos e 12% de participação no mercado argentino” (Exame, A Última Reserva).
83
Manguinhos foi criada em 1954. A Repsol YFP adquiriu, em 1999, 50% da Refinaria de Manguinhos.
84
“As refinarias brasileiras melhor adaptadas ao seu mercado consumidor são aquelas de relativo grau de
complexidade, de maior escala e próximas a um centro consumidor relevante. No caso brasileiro, ainda há a
particularidade de proximidade com o centro de produção de petróleo, o que reduz os custos de transporte de
óleo cru. Este é o caso das refinarias do Sudeste, em particular da REDUC, da RPBD, da REVAP e da
REPLAN. A RECAP ... tem a particularidade de se localizar próxima à Petroquímica União, o que lhe
garante parte do escoamento de sua produção a um baixo custo de transportes. Por outro lado, existem
refinarias que não estão em posição tão vantajosa, seja porque não têm escala – caso da REMAN – seja
porque não têm capacidade de conversão elevada – caso da REFAP” (Tolmasquim et alii, 2000:139)
153
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
154
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
2 .5 0 0
P e tró le o P ro ce s s a d o
2 .0 0 0
C a p a cid a d e d e P ro ce s s a m e n to
103 barris/dia
1 .5 0 0
1 .0 0 0
500
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Ano
G á s L i q u e fe ito d e O u tro s 1
P e tró le o 4% G a s o li n a Au to m o tiva
8% 20%
Ó le o
C o m b u s tíve l
18% Q u e ro s e n e d e
Avi a ç ã o
4%
N a fta
11% Ó le o D ie s e l
35%
Vo lu m e to ta l p r o d u z id o :
3 3
9 2 .5 0 7 x 1 0 m
155
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
O u tr o s 1 C o m b u s tíve l p a r a
G a s o l i n a Au to m o ti va 3% N a vi o s ( b u n k e r )
22% 40%
Ó l e o C o m b u s tíve l
35% E x p o r t a ç õ e s t o t a is :
3 3
6 .8 6 1 x 1 0 m
85
Em janeiro de 2000, a Transpetro incorporou a Frota Nacional de Petroleiros (Fronape), criada em 1949 e
passando a ser uma unidade operacional da Petrobras logo após sua criação. A Fronape cresceu com a
Petrobras, tornando-se a maior empresa de transporte de petróleo do hemisfério sul. Em maio de 2000, as
atividades de operação de dutos e terminais da Petrobras passou também a ser de responsabilidade da
Transpetro.
156
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
O u tr a s 1 P e tr o b r a s
A g ip
B a n d e ir a 10% D is t r ib u id o r a
4%
Bra nc a 25%
6%
Es s o
10% S h e ll
13%
Te xa co Ip ir a n g a /
12% A t la n t ic To ta l d e p o s to s :
20% 2 6 .6 6 0
157
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
refinarias, visto o possível aumento da produção dos blocos já concedidos e a demanda por
combustíveis de melhor qualidade – com maior redução do teor de enxofre na gasolina e o
óleo diesel metropolitano, para redução de quantidade de dióxido de enxofre (SO2) lançada
na atmosfera. Até o final de 2001, havia um projeto de instalação de nova refinaria no
Brasil, aprovado em 1998 – do grupo alemão Thyssen –, que não tinha iniciado suas
operações.
Existe a possibilidade de que com o crescimento da economia a partir de 2002 e o
aumento da produção de petróleo nacional, a capacidade de refino nacional chegue ao seu
limite, colocando o país numa situação de exportador de petróleo bruto e importador de
derivados. Logo, são urgentes os investimentos em refino, pois a construção de refinaria é
demorada, cerca de dois a três anos, e exige investimentos na ordem de US$ 2 bilhões
(Folha Online, 28/10/2001). O investimento no aumento da complexidade, além de
permitir processar petróleo de diferentes tipos, “... a médio e longo prazos representam
uma enorme vantagem, diante das restrições ambientais cada vez maiores e da alteração
nas especificações dos combustíveis” (Tolmasquim et alii, 2000:142).
Na área de importação e exportação também espera-se a entrada de companhias
estrangeiras, o que pode alterar a estratégia competitiva do parque nacional de refino. A
concorrência interna com derivados importados de melhor qualidade e a produção interna
com normas de qualidade superiores, visando a exportação e a garantia da rentabilidade
das refinarias, são fatores importantes que podem mudar o quadro competitivo. O aumento
da produção de petróleo, derivados e gás gera a necessidade de investimentos na rede de
transporte e de melhorias na logística das refinarias, a fim de reduzir os custos e aumentar
a segurança. Na distribuição, apesar de não ter sido monopólio da União, devem surgir
novas empresas, acirrando a concorrência pela qualidade e preço dos produtos (Neves,
2001).
158
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
86
A CBD teve 168 signatários no Rio de Janeiro em 5 de junho de 1992. Abrange três aspectos principais: a
conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes, e a repartição justa e
eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos.
87
A Convenção Quadro sobre Mudança do Clima foi assinada durante a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. Centra-se na preocupação de que a
crescente concentração de gases do efeito estufa (GEE), resultado das atividades antrópicas, pode resultar no
aquecimento da superfície da Terra e da atmosfera, trazendo conseqüências desconhecidas para os
ecossistemas e as populações. Objetivos: (i) estabilizar a concentração de GEE na atmosfera num nível que
possa evitar uma interferência no sistema climático; (ii) assegurar que a produção alimentar não seja
ameaçada e (iii) possibilitar que o desenvolvimento econômico ocorra de forma sustentável.
88
“O Brasil ocupa o primeiro lugar dentre os países detentores de megadiversidade; possui entre 15% e 20%
do total de espécies da Terra; dispõe da flora de maior diversidade, com 20% a 22% do número total de
espécies de plantas; conta com cerca de 10% dos anfíbios e mamíferos; e 17% das aves do planta”
(KRAUSE, Gustavo. Apresentação. In: Seroa da Motta, 1998).
89
Este é um dos principais gases que provocam o efeito estufa, ver capítulo 4.
159
Capítulo 3 – A cadeia produtiva do petróleo
90
São vantagens associadas à empresa que toma a iniciativa de desenvolver alguma tecnologia que no futuro
será amplamente utilizada. Assim, quando a tecnologia estiver sendo difundida, esta empresa além de
dominá-la, realiza ganhos da venda da tecnologia.
91
O relativo descuido do Estado com a questão ambiental no processo de industrialização brasileira é
analisado por Young e Lustosa (2001).
160
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
Capítulo 4
A CADEIA PRODUTIVA DO PETRÓLEO E O MEIO AMBIENTE
161
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
4.1.1 O upstream
As principais etapas da Exploração e Produção (E&P) podem ser dividas em
exploração, perfuração e produção. Os impactos ambientais são diferenciados se a E&P
ocorre em terra (onshore) ou no mar (offshore). Na etapa de exploração, as atividades
sísmicas onshore implicam em desmatamentos para a abertura das linhas sísmicas, que são
de grande extensão, em torno de 0,1 a 0,2 hectares (Souza Jr., 1991). Em geral, se esses
desmatamentos não forem seguidos de outras agressões ao ambiente, há uma tendência à
regeneração das matas, que não reverte ao seu estado anterior, com uma vegetação mais
rasteira. A perda de biodiversidade subjacente a essa atividade não é avaliada, mas
certamente ocorre mesmo com a recuperação parcial da mata. Em alguns casos de
levantamento sísmico, são utilizadas cargas explosivas, que têm de ser recolhidas se não
tiverem sido detonadas, pois podem causar acidentes posteriores.
Na sísmica offshore há impactos sobre a pesca, pois o movimento dos barcos nas
linhas sísmicas – com 2,5 km de extensão em águas rasas e 6 km em águas profundas –
pode afugentar os cardumes e os cabos podem atingir equipamentos de pesca. O air gun
pode desorientar os mamíferos marinhos, além da possibilidade de rompimento da bexiga
natatória dos peixes e provocar impactos com o golpe de ar sobre as aves que mergulham
entre as linhas sísmicas para capturar peixes (Brasil Energia, no 230, jan/2000:35).
Na atividade de perfuração, os impactos ambientais são mais significativos que na
etapa de exploração, pois se utilizam equipamentos mais complexos e substâncias
químicas, que geram resíduos tóxicos. O primeiro impacto da perfuração onshore está na
92
Ver Souza Jr. (1991) para os impactos ambientais na região Amazônica e Gouvêa (1994) para os impactos
ambientais na bacia de Campos.
162
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
163
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
93
Os metais pesados encontrados na água de produção são: bário (maiores concentrações), mercúrio,
arsênico, selênio, sulfetos, rádio 226 e o estrôncio 90 (estes dois últimos são radioativos).
164
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
Existe a possibilidade de extrair ao máximo o óleo bruto contido na água que é jogada no
mar e levá-lo para o refino (Gouvêa, 1994).
4.1.2 O refino
O refino de petróleo é realizado em grandes unidades industriais, muitas vezes
localizadas próximas de centros urbanos, gerando externalidades negativas no seu entorno.
A emissão de poluentes na atmosfera, nos corpos hídricos e a inadequada disposição dos
resíduos sólidos, constituem os principais problemas ambientais desta atividade. Por ser
um processo industrial altamente complexo, envolvendo diversas etapas produtivas, os
principais poluentes resultantes do refino estão descritos a seguir, não sendo objetivo fazer
uma análise detalhada sobre o tema94.
Os processos industriais do refino são considerados poluidores da atmosfera, sendo
os principais poluentes emitidos “... os óxidos de enxofre e nitrogênio, o monóxido de
carbono, os materiais particulados, e os hidrocarbonetos (que geralmente constituem as
emissões fugitivas de compostos orgânicos voláteis, os VOC’s). Tais poluentes são
liberados nas áreas de armazenamento (tancagem), nas unidades de processo, nos eventuais
vazamentos e nas unidades de queima de combustíveis fósseis (fornos e caldeiras) que
geram calor e energia para o consumo da própria refinaria” (Mariano, 2001:62). Os odores
desagradáveis vindos das refinarias são resultantes destas emissões, causando mal-estar às
populações circunvizinhas.
Nos diversos processos da atividade de refino, é utilizada uma grande quantidade
de água, principalmente para resfriamento e geração de vapor nas caldeiras, resultando em
diversos e diferentes efluentes líquidos em função do tipo de petróleo processado, da
complexidade das refinarias e da forma de operação das suas unidades. São comumente
encontrados nos efluentes líquidos das refinarias: óleos, compostos orgânicos sulfurados,
compostos orgânicos nitrogenados, ácidos naftênicos, ácidos minerais, sais inorgânicos,
fenóis, fenilatos, lamas ácidas, partículas diversas em suspensão, entre outros (Mariano,
2001). Estas substâncias apresentam grande toxidade, com efeitos pouco conhecidos sobre
o meio aquático.
94
Ver Mariano (2001) para uma descrição detalhada das etapas do processo de refino e seus respectivos
impactos ambientais.
165
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
Também resultam das atividades de refino os resíduos sólidos, que também variam
de acordo com o tipo de petróleo processado e a complexidade da refinaria. Estes resíduos
podem ser lamas oriundas de diversos processos, sedimentos dos fundos dos tanques de
armazenamento de cru e derivados, borras oleosas, argilas de tratamento e sólidos
emulsionados em óleo. “Os constituintes típicos (destes resíduos) incluem elementos
químicos tóxicos tais como arsênio, cádmio, cromo, chumbo, bário, mercúrio, selênio e
prata, compostos orgânicos ..., hidrocarbonetos halogenados e poliaromáticos, ... amônia e
ácido sulfídrico” (Mariano, 2001:125). Estes componentes possuem níveis de toxidade
elevada, necessitando de destinação adequada para evitar danos ambientais.
As estimativas de emissões ligadas às atividades rotineiras do refino de petróleo
foram calculadas a partir da Industrial Pollution Projection System (IPPS), uma base de
dados desenvolvida pelo Banco Mundial95, que auxilia na estimativa da carga de poluição
de setores industriais para países que não possuem base de cálculo própria. Estas
estimativas foram calculadas por Young et alii (2000) para poluentes da água e do ar –
utilizando as contas nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os
coeficientes do IPPS por valor da produção – e por Lustosa (1999) para poluentes do ar –
utilizando os dados de emprego de 1990 da Pesquisa Industrial Anual (PIA) pelo IBGE e
os coeficientes do IPPS por unidade de emprego.
O IPPS considera somente a indústria de transformação, excluindo a extrativa.
Assim, não foi possível obter estimativas de emissões para as atividades do upstream e
nem para outras atividades do downstream consideradas como serviços – transporte e
armazenamento, e distribuição. A base de dados IPPS é útil para estimar a carga de
emissão setorial relativa a:
ar (dióxido de enxofre – SO2 –, dióxido de nitrogênio – NO2 –, monóxido de carbono –
CO –, compostos orgânicos voláteis – COV –, partículas finas – PF – e partículas
suspensas totais – PST);
água (demanda bioquímica de oxigênio – DBO – e sólidos suspensos totais – SST).
95
O IPPS avalia a intensidade da poluição setorial, segundo a classificação ISIC 4 revisão 3, definindo-a
como quantidade de poluente por unidade de valor da produção, por unidade de valor agregado ou por
unidade de emprego. Essas estimativas foram feitas com base em dados de produção e emissão de 200 mil
fábricas nos Estados Unidos no ano de 1987. Para maiores informações sobre a metodologia do IPPS, ver
HETTIGE, H., MARTIN, P., SINGH, M., WHEELER, D. IPPS - The industrial pollution projection system.
Washington, DC:Banco Mundial, 1994, download do site: http://www.worldbank.org/nipr.
166
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
96
São calculadas as estimativas para os anos de 1985 e 1990 a 1996. Somente serão apresentadas as
estimativas para o ano de 1996, por ser o mais recente.
167
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
emprego setorial de acordo com a PIA/IBGE de 1990. Utilizado uma classificação setorial
mais desagregada, foram obtidas estimativas de emissões atmosféricas para o refino do
petróleo para o ano de 1990.
97
Para SO2, por exemplo, a Metalurgia de não ferrosos, a Fabricação cimento e clínquer, a Siderurgia e o
Refino de petróleo são responsáveis por mais de 64% das emissões estimadas. Para outros poluentes do ar
ver Lustosa (1999c).
168
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
98
Os acidentes no transporte serão tratados no próximo item.
169
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
4.1.4. Os acidentes
Os acidentes industriais podem ocorrer nas atividades de Exploração e Produção,
no Transporte e Armazenamento, e no Refino: incêndios, explosões e liberações tóxicas
nos poços, nas áreas de tancagem de petróleo e derivados, nas unidades de refino, como,
por exemplo, o vazamento de dutos e navios, explosões de poços e tanques, e incêndio nas
unidades de refino. Os acidentes industriais podem provocar danos ambientais
significativos, com grande repercussão na mídia, passando uma imagem negativa da
indústria do petróleo perante a sociedade.
Na produção offshore, os maiores riscos de acidentes ambientais estão na
transferência do petróleo das plataformas para os navios. Essa transferência pode ser feita
por meio de mangotes (no mar) ou de dutos (em terra), onde existe a possibilidade de
vazamentos (Brasil Energia, no 230, jan/2000:35). Mesmo que estes sejam pequenos, ainda
não há estudos suficientes sobre seus impactos de longo prazo sobre os ecossistemas
marítimos, como manguezais e estuários. As estimativas da quantidade de petróleo
lançada anualmente nos oceanos é de cerca de 4 milhões de toneladas, “... decorrente de
acidentes com petroleiros, limpeza de tanques, transferência de óleo de um navio a outro,
colisões de navios e atividades petrolíferas na plataforma submarina” (Gouvêa, 1994:27).
No Brasil foram registrados diversos acidentes na indústria do petróleo. Os
acidentes ocorrem na Petrobras desde sua criação. Em 1957, um incêndio antes da
inauguração da refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP), deixou três pessoas
feridas. Em março de 1975, um petroleiro fretado pela empresa derrama 6 mil toneladas de
óleo na Baía de Guanabara (RJ), causando grande dano ambiental. Cinco anos mais tarde,
um incêndio na plataforma de Garoupa interrompe a produção por seis meses (O Estado de
São Paulo, 16/03/2001).
Em 1984, a tragédia de Vila Socó, em Cubatão, matou 93 pessoas nos barracos que
foram construídos num mangue, sob o qual passavam dutos da Petrobrás. No mesmo ano,
uma explosão causada por vazamento de gás, na plataforma Enchova, causou 37 mortes.
Nos anos seguintes, novas explosões ocorreram em plataformas da Petrobrás: Zapata,
170
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
Pampo, Enchova e Pargo I. Em 1994, 2,7 milhões de litros de óleo vazaram de um terminal
em São Sebastião (SP) e 18 praias foram atingidas (O Estado de São Paulo, 16/03/2001).
Em janeiro de 2000, o rompimento do duto que ligava a Refinaria de Duque de
Caxias ao terminal da Ilha D'água, na Baía de Guanabra (RJ), provocou um vazamento de
1,29 milhão de toneladas de óleo e uma mancha de cerca 4 km² no espelho d´água de 38
km², atingindo 8 km de praias na Baixada Fluminense. Este mesmo duto já havia rompido
em 1997, apesar de ter sido utilizado apenas 10 de seus 40 anos de vida útil (Gazeta
Mercantil/Página A8, 20 e 21/01/2000). A multa lavrada pela Ibama foi de R$ 51 milhões
e como foi paga antecipadamente, obteve um desconto de 30% – o saldo foi depositado em
um fundo para recuperação da Baía de Guanabara. O governo do Rio de Janeiro também
lavrou uma multa de R$ 95 mil, que foi posteriormente retirada99. A despesa com
campanha publicitária, para melhorar a imagem da empresa, foi além de R$ 1 milhão
(Gazeta Mercantil, 09/02/2000).
Mesmo com a maior multa ambiental aplicada até então, “... a maior parte dos
profissionais mantém as projeções sobre os números de seu balanço (da Petrobras), por
considerar os gastos decorrentes do acidente pouco significativo frente às receitas
projetadas. De janeiro a setembro de 1999, a receita líquida da estatal foi de R$ 17,3
bilhões” (Gazeta Mercantil, 09/02/2000, grifo meu). O acidente da Baía de Guanabara foi
um marco, tanto para os órgãos ambientais quanto para a Petrobras. Após o acidente, a
Petrobras reviu sua política de proteção ambiental, na qual eram investidos por ano R$ 200
milhões (Gazeta Mercantil/Página A6, 24/01/2000).
Após esse vazamento de óleo na Baía de Guanabara, outros foram registrados pela
imprensa. Em 10 de junho de 2000, ocorreu um acidente durante o bombeamento de
petróleo bruto de um navio, ancorado no terminal da refinaria de Manguinhos, na Baía de
Guanabara. A refinaria foi autuada pela FEEMA, apesar de não ter sido registrado dano
ambiental (Gazeta Mercantil, 29/06/2000).
Em 26 de junho deste mesmo ano, devido a uma falha no sistema de transporte de
um navio da Transpetro, ocorreu um derramamento de 380 mil litros de óleo no entorno da
Ilha do Governador – mais um na Baía de Guanabara –, provocando um mancha de um
quilômetro de extensão no espelho d’água. A Petrobras foi multada pela Prefeitura do Rio
99
Depois do acidente da Baía de Guanabara, o governo do Estado do Rio de Janeiro propôs uma lei de
sanções administrativas que possibilitou a cobrança de multas por danos ambientais de até R$ 50 milhões.
171
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
de Janeiro em R$ 500 mil e pela FEEMA em R$ 50 milhões, por ser reincidente no não
cumprimento à legislação ambiental (Gazeta Mercantil/Página A8, 29/06/2000).
Em julho de 2000, o vazamento do duto que abastece a refinaria Presidente Getúlio
Vargas (Repar), em Araucária (PR), derramou 3,9 milhões de litros de petróleo cru nos rios
Barigüi e Iguaçú. Este foi o sétimo acidente verificado em instalações da Petrobras – entre
vazamentos em dutos e navios, além de falhas operacionais em refinarias – até julho de
2000, de acordo com a presidente do Ibama à época (Gazeta Mercantil/Página A5, 19 e
21/072000).
Neste caso, o IBAMA triplicou o valor da multa por causa da reincidência,
enquadrando a empresa em três artigos da Lei de Crimes Ambientais: a principal
penalidade, de R$ 50 milhões, foi pela poluição de um rio federal (Iguaçu), mas como a
empresa já havia poluído a Baía da Guanabara, a multa elevou-se a R$ 150 milhões. Os
danos causados à fauna da baía agravaram aqueles provocados no rio e a multa de R$ 1
milhão passou a R$ 3 milhões. O prejuízo à área de preservação, que teve 150 hectares
danificados, rendeu outra multa de R$ 15 milhões. A multa total foi de R$ 168 milhões.
Além da pesada multa, foram gastos cerca de R$ 14 milhões para retirar o óleo do rio
Iguaçu e da refinaria, segundo cálculos da Associação dos Empresários da Cidade
Industrial de Araucária, com base na movimentação financeira provocada pelo aluguel de
equipamentos e na contratação de mão-de-obra terceirizada para executar a remoção do
óleo. (Gazeta Mercantil/Página A8, 02/08/2000).
Estima-se que de janeiro a agosto de 2000, a Petrobras esteve envolvida em dez
acidentes de diferentes causas e dimensões, com valor total das multas ultrapassando R$
300 milhões. Dentre eles, além dos rompimentos dos dutos na Baía de Guanabara e em
Araucária, estão o vazamento de óleo de um navio prestador de serviços para a Transpetro,
também na baía, em junho; um incêndio e um vazamento de propeno na Refinaria de
Duque de Caxias, ambos em fevereiro; e outro no duto que liga a Refinaria de Cubatão ao
Planalto Paulista, também em janeiro. (Gazeta Mercantil/Página A8, 03/08/2000).
Este valor das multas pode estar superestimado, pois houve descontos quando do
pagamento da algumas multas e a empresa entrou com recurso judicial para a suspensão de
outras. Como a empresa não divulgou o valor total da multas efetivamente pagas, não foi
possível verificar qual o valor delas em relação ao total de recursos destinados ao meio
ambiente – que em 2000 foi de R$ 200 milhões. Este valor incluía os programas sociais de
172
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
173
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
na Bolsa de Valores de São Paulo, nem tanto pelas proporções do vazemento, mas pela
imagem negativa da emrpesa (O Estado de São Paulo, 13/04/2001). O IBAMA multou a
Petrobras em R$ 20 milhões pelos danos ambientais causados pelas plataformas P-36 e P-7
(Reuters, 20/04/2001).
Antes do acidente de P-7, no final de março de 2001, dez mil litros de resíduos de
gasóleo vazaram de um dos dutos da Refinaria Landulpho Alves, na região metropolitana
de Salvador. Este resíduo inflamável estava aquecido quando era bombeado da refinaria
para uma unidade de dragagem. Como se solidificou no solo em contato com o meio
ambiente, evitou que ocorressem maiores danos ecológicos (Agência Estado, 27/03/2001).
O acidente com o navio Norma, em outubro de 2001, derramou 392 mil litros de
nafta na Baía de Paranaguá (PR) após a colisão com uma pedra submersa. Foi registrada a
morte de um mergulhador que trabalhava na operação de segurança. O porto de Paranaguá
ficou interditado e posteriormente funcionando em estado de alerta por causa do risco de
explosão do navio, sendo estimados prejuízos diários de R$ 500 mil enquanto não fossem
retirados todos os derivados contidos no navio. Foram mobilizados cerca de 400 técnicos
para normalizar a situação e 50 embarcações para eventuais acidentes (Agência Estado,
Gazeta Mercantil em 19/10/2001; Comitê de Coordenação Petrobras/ Transpetro e
Coordenação Estadual de Defesa Civil do Paraná em 20/10/2001 e Gazeta Mercantil em
23/10/2001).
Em novembro de 2001, uma rachadura no duto da refinaria de Maguinhos provocou
um vazamento de 100 mil litros de petróleo bruto na Baía de Guanabara, provocando uma
mancha de 2 km de diâmetro no espelho d’água. Este foi considerado o maior vazamento
desde o acidente com o duto da Petrobras em janeiro de 2000 (Jornal do Brasil,
24/11/2001).
Os acidentes nas operações da Petrobras são mais freqüentes, dada sua participação
majoritária na indústria do petróleo. Apesar de terem sido relatados os principais e mais
recentes acidentes de vazamento de petróleo ocorridos no Brasil, estes possuem caráter
ilustrativo, não pretendendo ser um inventário dos acidentes no país. Existem registros de
vazamentos de petróleo e derivados no mundo inteiro100, revelando que estes não ocorrem
somente na indústria petrolífera brasileira.
100
Ver site no National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) os relatórios e publicações de
estudos de caso sobre vazamento de petróleo (http://response.restoration.noaa.gov/oilaids/reports.html).
174
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
Os altos valores das multas, das indenizações e dos gastos com despoluição
mostram que são elevados os custos financeiros associados aos acidentes na indústria do
petróleo, sem incluir os danos ambientais, as mortes de trabalhadores, as perdas
patrimoniais, entre outros. Os custos, financeiro e outros de difícil valoração, dos danos
podem ser maiores que os da prevenção. Portanto, nem todo gasto deve ser considerado
como custo nas questões de segurança e meio ambiente na indústria do petróleo, podendo
ser considerado como investimento (ver capítulo 1), pois além de serem ativos da empresa,
evitam danos que levam a custos efetivos.
101
Os principais gases do efeito estufa são: Vapor d’água (H20); Ozônio (O3); Dióxido de carbono (CO2);
Metano (CH4 ); Óxido Nitroso (N20); Clorofluorcarbonos (CFCs); Hidrofluorcarbonos (HFCs).
Perfluorcarbonos (PFCs).
102
Há uma controvérsia científica quanto à influência das atividades econômicas sobre o efeito estufa. “A
partir dos dados disponíveis até 1990 e da tendência de emissões nos níveis atuais, sem a implementação de
políticas específicas para redução de emissões, a projeção do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate
Change) é que o aumento da temperatura média na superfície terrestre seja entre 1 e 3,5°C no decorrer dos
próximos 100 anos, enquanto o aumento observado no século XIX foi entre 0,3 e 0,6°C” (BNDES/MCT,
1999:6). Na dúvida, adota-se o princípio da precaução, ou seja, reduzir a emissão dos GEE para não acelerar
esse fenômeno.
176
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
103
Antes da Revolução Industrial, a concentração de CO2 na atmosfera era de 280 ppm (parte por milhão, em
volume) passando para 340 ppm em 1980 (La Rovere, 1996).
104
Há uma enorme literatura sobre Mudança Climática. Ver, por exemplo, BNDES/MC (1999) e Seroa da
Motta et alii (2000).
105
O Protocolo de Quioto foi assinado na 3ª Conferência (COP-3) realizada entre 1 e 12 de dezembro de
1997, em Quioto – Japão. Este inclui metas e prazos relativos à redução ou limitação das emissões futuras de
dióxido de carbono e outros gases responsáveis pelo efeito estufa, exceto aqueles já controlados pelo
Protocolo de Montreal.
177
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
178
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
106
Para uma análise mais detalhada da gestão ambiental pública no Brasil ver D’Avignon (2001, capítulo 3).
179
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
controle ambiental. Dentre suas atribuições estavam “... evitar condutas predatórias, estar
atenta à poluição, principalmente a de caráter industrial, e proteger a natureza”
(D’Avignon, 2001:83).
Entretanto, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) somente foi instituída
em 1981 nos termos da Lei no 6.938, quando foram estabelecidos seus objetivos, ações e
instrumentos. Dentre esses últimos estão o estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental, o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, e o licenciamento
ambiental e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.
Essa mesma lei constituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama),
integrado pelo: Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão deliberativo e
normativo; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA107), executor da PNMA, cabendo-lhe a responsabilidade pelo controle e
fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental em âmbito nacional
e regional; órgãos estaduais e municipais de controle ambiental, que possuem as mesma
funções do IBAMA, entretanto, em nível local.
A Constituição Federal de 1988 foi um grande avanço na inclusão das questões
ambientais, com destaque para a proteção ambiental. O artigo 225 estabelece que todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo à União, Estados e
Municípios zelar pela proteção ao meio ambiente e combater a poluição.
A década de 90 foi marcada por avanços na legislação ambiental. Em 1996, foi
instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei no 9.433), criando também o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos. Em 1998, as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente passam a
sofrer sanções penais e administrativas estabelecidas pela Lei no 9.605 – a Lei de Crimes
Ambientais. Esta lei é considerada um marco importante no aparato regulatório do meio
ambiente, pois estabelece sanções tanto para o poluidor quanto para os órgãos reguladores
do meio ambiente, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas (artigos 2 e 3), agravando a
pena em caso de reincidência. As multas por infração administrativa podem chegar até R$
50 milhões.
107
O IBAMA foi criado em 1989 e assumiu os direitos, créditos, obrigações e receitas dos órgãos reguladores
extintos – a SUDEHVEA (Superintendência da Borracha), o IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal), a SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente) e a SUDEPE (Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca).
180
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
108
Ver Mariano (2001, anexo II) para maiores detalhes sobre a legislação ambiental incidente sobre a
atividade de refinob – federal, do Estado do Rio de Janeiro e dos EUA.
181
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
109
De acordo com a resolução Conama 237, cabe ao IBAMA o licenciamento ambiental “de
empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber: I
- localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma
continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da
União; II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados; III - cujos impactos ambientais diretos
ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados; IV - destinados a pesquisar, lavrar,
produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem
energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia
Nuclear - CNEN; V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.
110
A resolução Conama 237, no art. 5o, estabelece que “Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito
Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades: I - localizados ou desenvolvidos em
mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; II -
localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente
relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem
consideradas por normas federais, estaduais ou municipais; III - cujos impactos ambientais diretos
ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios; IV – delegados pela União aos Estados ou ao
Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio”.
184
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
185
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
outras específicas ao setor – como ficou evidenciado acima (ver quadro 9). Por falta de
regulamentações específicas, a aplicação daquelas de caráter geral leva a uma situação de
análise de caso por caso, fato que contribui para a demora nos processos de licenciamento.
A questão das competências dos órgãos ambientais é igualmente importante, pois
“há consenso entre juristas (Machado, 2000 e Milaré, 2000), de que existe indefinição de
competências, na área de meio ambiente, para a ação nas esferas federal, estadual e
municipal. Isto gera, de um lado, disputas e conflitos de licenciamento e fiscalização e, de
outro, acarreta vazios e omissões, que muitas vezes são utilizados em detrimento da
qualidade ambiental e em benefício de interesses privados” (D’Avignon, 2001:95).
A fragilidade institucional da gestão ambiental pública é uma barreira para o
gerenciamento ambiental adequado para a indústria do petróleo. A falta de infra-estrutura
dos órgãos ambientais – federais, estaduais e municipais – e a baixa remuneração dos
técnicos qualificados, provocando uma migração para o setor privado, são questões que
merecem especial atenção para o melhor desempenho destes órgãos. Estas condições
deficientes refletem na falta de monitoramento sistemático e de qualidade, o que remete à
falta inventários, banco de dados e indicadores, ou seja, de linhas de base e
acompanhamento sistemático dos impactos ambientais e sociais da indústria do petróleo
(Wagner, 2001).
Percebe-se, portanto, que a falta de recursos humanos e financeiros é maior do que
de uma legislação ambiental adequada. A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA),
estabelecida nos termos da Lei 6.938/81, elege 12 instrumentos de controle industrial (art.
9o)111. Entre eles, os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental, constitui-se
numa poderosa estratégia do IBAMA para tornar-se uma referência nacional de
111
A saber: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de
impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; os
incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a
melhoria da qualidade ambiental; a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse
ecológico e reservas extrativistas; o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; o Cadastro
Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental; as penalidades disciplinares ou
compensatórias do não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental; a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo
IBAMA (inciso incluído pela Lei 7.804, de 18/07/89); a garantia da prestação de informações relativas ao
Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistente (inciso incluído pela Lei
7.804, de 18/07/89); o Cadastro Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais (inciso incluído pela Lei 7.804, e 18/07/89) (D’Avignon, 2001).
186
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
112
O Boletim Ambtech disponível no site do IBAMA, que visa a divulgação de tecnologias ambientalmente
saudáveis, é de 1998 (ver http://www2.ibama.gov.br/ditam/tas7.htm). Arquivo consultado em
novembro/2001.
187
Capítulo 4 – A cadeia produtiva do petróleo e o meio ambiente
UPSTREAM DOWNSTREAM
Decreto 99274/90 – Trata no capítulo IV do licenciamento das atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras, bem assim os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de
prévio licenciamento do órgão estadual competente integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.
Decreto 2508/98 – Promulga a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Causada por Navios, concluída em Londres em
02/11/73, seu Protocolo, concluído em Londres em 17/02/78, suas Emendas de 1984 e seus Anexos Opcionais III, IV e V
Resolução Conama 01/86 – Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para o Relatório de Impacto Ambiental - RIMA
Resolução Conama 06/90 – Dispõe sobre a aplicação de dispersantes químicos em vazamentos, derrames e descargas de petróleo
Resolução Conama 09/93 – Estabelece definições e torna obrigatório o recolhimento e destinação adequada de todo o óleo lubrificante
usado ou contaminado.
Resolução Conama 16/93 – Torna obrigatório o licenciamento ambiental junto ao IBAMA para as especificações, fabricação,
comercialização e distribuição de novos combustíveis e sua formulação final para uso em todo o país.
Resolução Conama 23/94 – Institui procedimentos específicos para o licenciamento das atividades relacionadas à exploração e lavra de
jazida de combustíveis líquidos e gás natural
Resolução Conama 237/97 – Regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente
Resolução Conama 265/00 – Sobre o derramamento de óleo na Baía de Guanabara e Indústria do Petróleo
Resolução Conama 273/00 – Estabelece e disciplina o licenciamento ambiental para postos de revenda
189
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
Capítulo 5
A PESQUISA E O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NA
INDÚSTRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL
113
Ver capítulo 4, item 4.1.
114
Nesse sentido, coloca-se um problema identificado teoricamente: como saber ex-ante qual a inovação
mais limpa ou ecologicamente mais correta, uma vez que há duas prioridades, a saber: a primeira é atender a
determinado parâmetro de emissão ou de utilização de insumos; a segunda é que o atendimento de tais
parâmetros não ocorram em detrimento de outras variáveis. Há, portanto, uma componente de incerteza
muito grande.
190
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
direcionados à área de meio ambiente, mesmo com as limitações acima mencionadas. Este
capítulo tem como objetivo verificar:
• os temas abordados pelos projetos ambientais;
• quais os tipos de parcerias que estão se formando na área de tecnologia ambiental –
atores envolvidos e origem dos recursos. Esta análise é importante para perceber que
alianças estão se formando e como isso pode influenciar no ambiente seletivo e na
competitividade das firmas.
Desta forma, não é objetivo fazer um inventário das tecnologias ambientais da
indústria do petróleo, mas verificar quais os principais temas em que trajetórias
tecnológicas que estão sendo desenvolvidas pelos agentes – a Petrobras, a principal
inovadora do setor em todas as áreas tecnológicas no Brasil (incluindo a ambiental), e os
projetos em desenvolvimento financiados pelo CTPETRO.
191
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
115
Aspecto já levantado no capítulo 1. É importante sinalizar para as empresas o custo das regulamentações
ambientais com já faz a agência ambiental federal dos EUA – o EPA. Mesmo que haja uma defasagem entre
o custo estimado e o efetivo, é uma sinalização para os investidores dos custos e investimentos ambientais
necessários à realização do empreendimento.
192
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
116
Este mesmo artigo prevê distribuição diferenciada dos royalties conforme o local da lavra.
193
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
vertente setorial identifica as áreas consideradas como desafios tecnológicos para o setor:
a) exploração; b) águas profundas; c) recuperação avançada de petróleo; d) refino; e) gás
natural e f) produtos. A vertente regional busca respeitar as especificidades regionais,
como distribuição de reservas, infra-estrutura produtiva, capacitação de P&D e impactos
sócio-econômicos.
O meio ambiente é identificado como um dos elementos importantes para melhorar
a competitividade do país. Se por um lado a indústria do petróleo se apresenta como um
dos motores do crescimento econômico, por suas demandas a outros setores da economia e
pela geração adicional de receitas para o Governo, por outro lado, por apresentar alto risco
e potencial poluidor, é importante prevenir e minimizar tais impactos sobre o meio
ambiente e, consequentemente, sobre a sociedade.
A questão ambiental perpassa todas as vertentes: na nacional, os outros temas estão
estreitamente relacionados com o meio ambiente, como a segurança industrial para evitar
acidentes, o desenvolvimento de produtos e processos mais limpos, a logística
minimizando os impactos ambientais do transporte. Na setorial, os desafios tecnológicos
devem ter a questão ambiental internalizada para buscar maior eficiência na aplicação dos
recursos, por meio de tecnologias cada vez mais limpas – ao desenvolver tecnologias que
geram impactos negativos no meio ambiente, serão despendidos recursos adicionais para o
desenvolvimento de tecnologias de limpeza e recuperação ambiental, do tipo final de tubo
(end-of-pipe).
Na vertente regional, as especificidades dos ecossistemas devem ser respeitadas,
dada a necessidade de desenvolvimentos tecnológicos específicos para cada localidade. Por
exemplo, o grande potencial de exploração de petróleo e gás na região Amazônica
brasileira, um dos biomas com maior concentração de biodiversidade do mundo, requer
tecnologias adequadas de forma a minimizar os impactos ambientais das atividades
exploratórias117, além de ser um alvo fácil de críticas internacionais.
Tendo desenvolvido alta tecnologia de E&P em águas ultra-profundas, a
preservação da imagem do país como pioneiro nesta tecnologia deve estar aliada também à
responsabilidade ecológica e social. “A efetiva incorporação da variável meio ambiente
117
A região Amazônica é bastante diversa tanto em seus aspectos biológicos como em aspectos sócio-
econômicos. Wagner (2001) ressalta que as empresas que possuem experiência em E&P na Amazônia
equatoriana e peruana devem experimentar diferenças significativas em relação à região sob domínio
194
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
pelo processo decisório no âmbito do setor petróleo e gás natural representa um de seus
maiores desafios” (CTPETRO, 2000a:9). Porém, é também uma oportunidade única, pois
as mudanças no marco regulatório do setor, com a criação de um fundo de financiamento
de P&D, e o novo ciclo de investimentos podem propiciar o desenvolvimento e a difusão
de tecnologias ambientalmente saudáveis, tornando o país umas das lideranças em
tecnologias ambientais específicas ao setor.
Nos anos de 1999 e 2000, as linhas de pesquisa do CTPETRO foram para:
“ • pesquisa e monitoramento da qualidade dos combustíveis;
• apoio a projetos individuais de pesquisa científica e tecnológica relacionadas ao setor,
sob a coordenação do CNPq;
• apoio à infra-estrutura das universidades das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste
(exceto Distrito Federal) e do Estado do Espírito Santo;
• atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico – compreendendo a pesquisa
aplicada, o desenvolvimento experimental, a engenharia não-rotineira, a tecnologia
industrial básica e os serviços de apoio técnico – em áreas temáticas definidas e
atividades consideradas prioritárias para os diferentes segmentos da indústria do
petróleo;
• pesquisa e desenvolvimento de novos instrumentos para análise da qualidade de
combustíveis” (CTPETRO, 2000a).
O apoio a projetos individuais de pesquisa científica e tecnológica sob coordenação
do CNPq foi objeto de um convênio cooperativo firmado entre a Finep e o CNPq em 2000.
Os projetos dos três editais aprovados até 2001 contemplaram 453 bolsas específicas do
programa RHAE (Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades
Estratégicas), no total de R$ 7,8 milhões.
Os recursos financeiros do CTPETRO no ano de 2000 foram da ordem de R$ 166
milhões (Furtado, 2001) e a previsão é de crescimento da disponibilidade de tais recursos.
Para o exercício de 2001, a previsão é de R$ 184 milhões, para 2002 de R$ 206 milhões e
para 2003 de R$ 236 milhões (MCT et alii, 1999b).
brasileiro, onde os grupos indígenas são menos organizados, devendo estar atentas para as formas de uso do
solo e das condições sociais que prevalecem na região.
195
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
Em relação ao edital 03/2000, apesar da previsão inicial de que 73% dos recursos
fossem destinados a projetos em parcerias com empresas (as intervenientes), o efetivo foi
de 53%. Foram 17 intervenientes contempladas com os recursos, sendo que a Petrobras
respondeu por 81% dos projetos com empresas, recebendo 72% dos recursos aprovados
(Furtado, 2001).
Esta análise demonstra que apesar das intenções em diversificar os atores do
sistema setorial de inovação da indústria do petróleo, este objetivo não vai ser alcançado a
curto prazo. A Petrobras, por possuir capacitação tecnológica adquirida ao longo de muitos
anos, foi apropriou-se de grande parte dos recursos do CTPETRO. A fraca participação das
118
Os editais podem ser feitos pela Finep ou pelo CNPq. Quando não tiver nenhuma especificação, são
editais da Finep e quando for do CNPq está especificado Edital CNPq.
196
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
outras empresas pode ser explicada, por um lado, pela baixa capacitação tecnológica
específica à área de petróleo das empresas nacionais, e, por outro, pela P&D das empresas
estrangeiras serem desenvolvidos fora do país. Por fim, sem menosprezar a importância do
CTPETRO como fonte de financiamento para a C&T na indústria do petróleo, o montante
absoluto de recursos é pequeno em relação aos investimentos das grandes empresas
petrolíferas mundiais.
119
Estas informações e as referentes ao Proamb foram obtidas por meio de entrevista informal com o
Coordenador do Programa Tecnológico de Meio Ambiente do Cenpes, Pedro Penido D. Guimarães.
Entretanto, segundo o coordenador, muitas informações não estão organizadas de forma sistemática, o que
ocorrerá no início de 2002.
197
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
programas podem ter impactos positivos no meio ambiente, pois buscam aumentar a
eficiência e a redução do risco do processo de extração de petróleo, postergando a abertura
de novos poços e, consequentemente, os impactos ambientais inerentes.
O Programa Tecnológico da Petrobras para Sistemas de Exploração em Águas
Ultraprofundas em até 3.000m, PROCAP-3000, é uma continuação do Programa de
Capacitação Tecnológica (Procap), iniciado em 1986. Busca-se a exploração em águas
cada vez mais profundas, onde está situada a maior parte das reservas provadas de petróleo
no Brasil. O Programa de Desenvolvimento de Tecnologias Estratégicas de Refino
(Proter) visa a redução de custos na área de refino. O objetivo é conciliar o aumento de
produção de petróleo nacional, mais pesado do que o importado, com a demanda crescente
por óleo diesel e gasolina no mercado interno. Procura-se também atender à demanda na
melhoria da qualidade da gasolina, melhorando seus padrões ambientais. Este programa
também pode gerar impactos positivos sobre o meio ambiente, na medida em que estejam
sendo pesquisadas gasolinas que atendem a padrões ambientais superiores.
O Programa Tecnológico de Dutos (Produt) visa aumentar a confiabilidade e a
capacidade operacional dos dutos, aumentar a vida útil dos mesmos, minimizar os riscos de
vazamentos e custos operacionais, e reduzir o tempo de reparo dos dutos e os impactos de
vazamentos no meio ambiente. Este projeto cresce em importância na medida em que se
espera o aumento da malha dutoviária de cerca de 12 mil km atuais para 21 mil km em
2001 (site da Petrobras, 2001). Este programa mostra-se com potencial para gerar
impactos ambientais positivos, principalmente em relação aos vazamentos de dutos, que
foram causas de muitos acidentes recentes envolvendo a indústria do petróleo. Falta,
entretanto, uma avaliação mais profunda para ver se estes possíveis impactos positivos
sobre o meio ambiente dos projetos acima descritos não serão anulados por outros
impactos negativos por eles gerados.
O Programa Tecnológico de Meio Ambiente (Proamb) é específico à área de meio
ambiente e tem seus projetos centrados principalmente em remediação, tratamento de
rejeitos e emergências, ou seja, tecnologias de final de tubo (end-of-pipe). Os objetivos do
Proamb na área de pesquisa é desenvolver e disponibilizar tecnologias para a excelência
ambiental e na área de emergências de fornecer suporte técnico às emergências ambientais.
198
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
120
O grande número de projetos e a não disponibilização de forma sistemática das informações a eles
concernentes, reforça a intenção de analisar os principais temas em que trajetórias tecnológicas que estão
sendo desenvolvidas pelos agentes envolvidos.
121
Na década de 90, as grandes empresas petrolíferas mundiais passaram a denominar-se de empresas de
energia. A British Petroleum (BP), por exemplo, tem um programa chamado de “Green Operations” que
dissemina, por meio de uma rede de comunicação, as experiências dos gerentes e engenheiros das unidades
industriais da companhia espalhadas em muitos países. Dentro do “Green Operations” existe um programa
tecnológico para identificar a distância entre o desempenho de suas atividades produtivas e as expectativas
ambientais da sociedade (redução na emissão de gases do efeito estufa, conservação da biodiversidade e
gerenciamento das águas), com relatos de experiências bem sucedidas (informações obtidas na própria
empresa). A BP já utiliza o termo “beyond petroleum”, coincidente com as iniciais da empresa, que significa
“além do petróleo”.
199
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
ECONORFLU
201
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
Banco de Dados Ambientais para a Indústria Monitoramento Fund. de Apoio ao não há 03/2000
do Petróleo - BAMPETRO Ensino, Pesquisa e
Extensão do
CCMN da UFRJ /
REDEPETRO
Laboratório de Análise e Monitoramento Infra-estrutura Fund. da Univ. 04/2000
Ambiental do Gás Natural Estadual de MS /
UEMS
Monitoramento, manipulação, controle e Monitoramento Univ. do Estado do 04/2000
avaliação do meio ambiente (físico e social) na RN / idem
sua relação com a produção de petróleo na
religião de Mossoró/RN – MMCAMA
Implantação do Laboratório de Estudos Infra-estrutura Inst. Tecnologia e não há 04/2000
Ambientais – LEA Pesquisa /Univ.
Tiradentes
Eliminação dos particulados de diesel com Controle de Inst. Tecnoloiga e não há s.i.
catalizadores promovidos emissões Pesquisa / Univ.
Tiradentes
Laboratório de referência para análise de Infra-estrutura Inst. Oceanográfico não há s.i.
hidrocarbonetos de petróleo – Lab. Quim. Org.
da Marinha / USP
Elaboração de procedimentos para avaliação Monitoramento Pró-Reitoria de TBG / s.i.
ambiental estratégica da implantação de Pesq. e Extensão / GASPETRO/
unidades termoelétricas e de gasodutos de UEMS MS GÁS
transporte no território nacional
Compósitos magnéticos para aplicação em Recuperação FUB – Núcleo de FUB s.i.
despoluição ambiental Física Aplicada /
UNB
Avaliação da vulnerabilidade à contaminação Monitoramento FAURGS / Inst. de não há s.i.
das águas subterrâneas relacionadas ao sistema Geociências -
de dutos no trecho TEDUT (município de UFRGS
Ozório) – RETAP (município de Canoas) RS
s.i. = sem informação
* Classificação da área temática de elaboração própria.
Fonte: FINEP
Quadro 10 – Projetos Ambientais CTPETRO
Provavelmente, por viés do edital 03/2000, que deu prioridade para 13 áreas
temáticas, entre elas Monitoramento e Conservação do Meio Ambiente, houve uma grande
concentração de projetos na área de monitoramento. Entretanto, a conservação ficou
restrita ao tratamento de resíduos e recuperação de áreas degradadas, principalmente,
seguido de montagem de infra-estrutura, reutilização de resíduos e controle de emissões –
ou seja, do tratamento de final de tubo (end-of-pipe). Não foi identificado nenhum projeto
de conservação do meio ambiente no sentido da prevenção da poluição, que exige
inovações radicais, como a geração de energia fora do paradigma dos hidorcarbonetos.
202
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
203
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
122
Ver art. 50 da lei 9.478/97 – a Lei do Petróleo.
204
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
123
“Gas-to-liquids” – GTL – em inglês. Este processo consiste na separação e recombinação das moléculas
de hidrocarbonetos, podendo ser obtidas por meio do gás natural ou do carvão.
205
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
derivados de petróleo é uma alternativa para viabilizar produtos de qualidade superior, sem
enxofre e a emissão de material particulado, quando da sua utilização.
As empresas petrolíferas estrangeiras estão investindo em P&D para obter
futuramente o domínio deste mercado. A Shell e a Sasol possuem plantas de GTL em
operação e outras empresas (Rentech, Syntroleum, Sasol, Chevron e BP-Amoco-Arco)
pretendem realizar investimentos em novas plantas. Outras empresas petrolíferas, como a
Kerr-McGee, a Marathon, a Phillips, a Statoil, a Texaco e a YPF, obtiveram licenças para
adotar a tecnologia com o intuito de investirem neste mercado (Almeida, 2001).
Além da convergência tecnológica das indústrias do gás e do petróleo, passou a
haver uma concorrência de combustíveis produzidos por cada uma delas. O gás natural
veicular (GNV) e a pilha a combustível possibilitam a utilização do gás no setor de
transporte. No caso do GNV, o gás comprimido é diretamente utilizado como
combustível124. Em relação à pilha a combustível, o gás é utilizado para produzir
hidrogênio, por meio de um reformador. Este hidrogênio abastece a pilha, que produz
eletricidade para o motor elétrico do veículo.
Nessa perspectiva, o domínio de reservas de gás natural passa a ser estratégica para
a competitividade neste mercado, atraindo empresas que tradicionalmente não estão
ligadas nem à indústria do gás e nem à do petróleo, crescendo o interesse no
desenvolvimento de reservas de gás que não estão associadas ao petróleo. Desta forma,
diante das convergências tecnológicas em curso e da maior concorrência entre os
energéticos, abre-se a possibilidade de modificação nas configurações das estruturas de
ambas as indústrias.
As fontes de energia alternativas, incluindo as renováveis, apresentam-se como uma
tendência de desenvolvimento tecnológico nas grandes empresas petrolíferas mundiais. A
British Petroleum detém 20% do mercado mundial de células solares, que possui
participação muito pequena na geração de energia elétrica, dado seu alto custo de
produção. A Shell tem realizado parcerias com outras empresas – Siemens e Eon – na
busca de aumentar para 15% sua participação neste mercado. A empresa acredita que as
células solares serão uma importante fonte de geração de energia por volta de 2060
(Financial Times, 17/10/2001).
124
Atualmente há cerca de 230 mil veículos movidos a GNV no Brasil.
206
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
A Petrobras também realiza este tipo de investimento, entretanto não foi possível
obter o montante que a empresa está investindo nesta área, a fim de saber o esforço de
P&D nesse sentido. O Projeto Tendências do CTPETRO recomenda o P&D de fontes
alternativas de energia, sobretudo as renováveis, por meio da “... abertura de edital
específico para o tema Tecnologias relacionadas à viabilização econômica de fontes
alternativas de energia: biomassas, xisto, solar, eólica e células combustíveis (CTPETRO,
2000:35).
Esta é uma oportunidade de desenvolvimento tecnológico ímpar para o Brasil.
Mesmo com o fim do Programa Nacional do Álcool (Pró-álcool), iniciado em 1975, é
importante a P&D em fontes alternativas de energia, aprofundando os estudos da
viabilidade do álcool como fonte energética, o aproveitamento do lixo – um dos maiores
problemas ambientais das cidades brasileiras –, a produção de óleo combustível a partir de
vegetais – o babaçu, o dendê, entre outros –, a energia solar e a eólica. Nestas áreas, o país
possui vantagens de dotação destes recursos – que são renováveis, ao contrário do petróleo
e do gás – e desenvolvendo tecnologias economicamente viáveis pode-se apropriar das
vantagens do pioneiro.
125
Este item foi elaborado a partir das informações obtidas no site do U.S. Department of Energy
(DOE) - http://www.fetc.doe.gov/
207
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
126
Nos EUA, o cumprimento das regulamentações ambientais pela indústria do petróleo está se tornando
mais complexa e cara. Em 1996, esta indústria, incluindo o refino, gastou US$ 8,2 bilhões com proteção
ambiental (site DOE).
208
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
209
Capítulo 5 – A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias ambientais na indústria do petróleo no Brasil
importância da indústria do petróleo, mas reconhecer suas limitações por estar apoiada em
um recurso natural não renovável, portanto finito, e cujo consumo é a principal causa do
aquecimento global.
Este desafio é ainda maior para a indústria brasileira do petróleo, que passa por
momentos de transformação e consolidação de uma nova estrutura. Se não forem
incorporadas as tendências da indústria mundial – incluindo as questões ambientais –,
corre-se o risco de ficar cada vez mais dependente de tecnologias dos países
desenvolvidos, sem aproveitar e desenvolver o potencial de ciência e tecnologia do país,
possivelmente mais capacitado para achar soluções próprias para as questões ambientais
tão específicas ao cenário brasileiro. Isto afeta a competitividade da indústria, mas os
programas de pesquisa e desenvolvimento não estão sendo formulados a partir desta ótica.
A reformulação desta lógica trará benefícios no longo prazo não só na esfera ambiental,
mas também na competitiva.
210
Conclusões
CONCLUSÕES
211
Conclusões
212
Conclusões
de inovações ambientais que requerem mudanças mais radicais. Pode haver, portanto, uma
incompatibilidade entre os objetivos de curto e longo prazos.
As regulamentações ambientais e as políticas vigentes podem não ser compatíveis
com atitudes inovadoras das firmas. Além do mais, surge uma possível incompatibilidade
entre a diversidade tecnológica, possivelmente mais adequada às diferentes questões
ambientais, e a padronização, que reduz custos e gera ganhos de escala. As evidências
empíricas para a indústria brasileira mostram que, mesmo sendo considerada como um
custo, a pressão legal é o fator que mais induz à adoção de tecnologias ambientais.
A análise do comportamento da indústria brasileira em relação às questões
ambientais e sua posição competitiva revela as seguintes evidências: as empresas de
inserção internacional demonstraram maiores preocupações com as questões ambientais,
seja por pressão de seus investidores, por reproduzirem a gestão ambiental das matrizes,
por serem de grande porte com visibilidade de suas ações, por pressão do mercado externo
ou por terem capacidade financeira para realizarem investimentos no meio ambiente;
As maiores empresas consideraram que as questões ambientais influenciam na sua
competitividade e o meio ambiente é um fator de motivação para a inovação. A maioria
das empresas, independente do tamanho, considera importante a estratégia de preservação
do meio ambiente em suas inovações, revelando a importância crescente da variável
ambiental na estratégia de competitividade empresarial.
As empresas mais inovadoras são mais motivadas a adotar inovações ambientais.
A fonte de inovatitivade para empresa pode ser importante para na solução de problemas
ambientais.
As empresas de setores de alto potencial poluidor tendem a considerar mais a
influência das questões ambientais em sua competitividade do que aquelas de menor
potencial poluidor, com exceção de borrachas e plásticos, metalúrgica, naval, aeroespacial
e algumas atividades do setor têxtil.
A difícil generalização das conclusões acerca da relação entre preservação
ambiental e competitividade levou ao estudo da cadeia produtiva do petróleo, por ser um
setor estratégico tanto na geração primária de energia quanto no fornecimento de insumos
para outros setores industriais. Seu alto potencial poluidor e de risco é motivo de
preocupações crescentes por parte da sociedade, além de envolver perda de ativos e gerar
213
Conclusões
214
Conclusões
215
Conclusões
216
Referências Bibliográficas
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Environmental Costs and Liabilities. United Nations Conference on Trade and
Development, Workshop Programme on Accounting and Financial Reporting for
Environmental Costs and Liabilities, Rio de Janeiro, 5-6 nov..
WAGNER, Jay P. (2001). Key Policy and Regulatory Issues in Brazilian E&P: the
environmental and social dimension. 1o Seminário sobre Proteção Ambiental na
Exploração e Produção de Petróleo. ANP/IBP/SPE, Rio de Janeiro, outubro.
224
Referências Bibliográficas
_______ (1998). Oil and gas operations and environmental law in Latin America. Journal
of Energy & Natural Resources Law. Vol. 16, n. 2, p. 153-185.
Sites
• Agência Nacional do Petróleo - ANP – www.anp.org.br
• Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq –
www.cnpq.org.br
• Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) –
IE/UFRJ – www.nuca.ie.ufrj.br/ambiente
• National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)
http://response.restoration.noaa.gov/
• Petrobras – www.petrobras.com.br
• Sociedade Brasileira de Economia Ecológica – ECO-ECO –
www.eco.unicamp.br/ecoeco
• U.S. Department of Energy (DOE) - www.fetc.doe.gov/
Jornais e Revistas
Exame, nov/2001
Brasil Energia, no 230, jan/2000:35
O Estado de São Paulo, 16/03/2001
Gazeta Mercantil/Página A8, 20 e 21/01/2000
Gazeta Mercantil, 09/02/2000
Gazeta Mercantil/Página A6, 24/01/2000
Gazeta Mercantil, 29/06/2000
Gazeta Mercantil/Página A5, 19 e 21/07/2000
Gazeta Mercantil/Página A8, 02/08/2000
225
Referências Bibliográficas
226
Anexos
ANEXOS
227
Anexo I
ANEXO I
228
Anexo I
1 Indiferente
2 Pouco importante
3 Importante
4 Muito importante
5 Crucial
A Não se aplica
229
Anexo I
8.2 Os efeitos sobre o meio ambiente derivados da atividade de sua empresa implicam:
1 SIM
2 NÃO
8.3 Identifique o tipo de investimento que a empresa já realizou para reduzir os problemas
ambientais causados por sua atividade.
1 SIM
2 NÃO
230
Anexo I
QUESTIONÁRIO
MEIO AMBIENTE
Não deixar respostas em branco. Se o valor for nulo, colocar 0 (zero), pois o item em
branco será considerado não resposta.
Na direção geral
Na gerência de produção
Outros (especificar)_________________________________________________________
Vendas
231
Anexo I
Imagem da empresa
Outros (especificar)________________________________________________________
Nenhum benefício
29 Assinale com um ”X” os tipos de investimentos associados à gestão ambiental que seu
estabelecimento já realizou e/ou pretende realizar para melhorar o seu desempenho
ambiental:
232
Anexo I
Outros (especificar)________________________________________________________
31 Assinale com um “X” as fontes de financiamento que seu estabelecimento tem utilizado
ou pretende utilizar nos futuros investimentos em meio ambiente:
Nos últimos Nos Não utilizou e
dois anos próximos não pretende
dois anos utilizar
Próprios
Bancos governamentais
Bancos privados
233
Anexo II
ANEXO II
234
Anexo II
235
Anexo II
236
Anexo II
237
Anexo II
238
Anexo III
ANEXO III
239
Anexo III
240
Anexo III
241
Anexo IV
ANEXO IV
BM-C-3 1.660 *Petrobras (40%), Agip (40%) e YPF (20%) 25% 20%
BM-ES-2 2.409 *Unocal (40,5%), Texaco (32%) e YPF (27,5%) 50% 35%
BM-FZA-1 14.088 *BP (30%), Esso (25%), Petrobras (20%), Shell 20% 20%
(12,5%) e British Borneo (12,5%)
Fonte: ANP
242
Anexo IV
243
Anexo IV
244
Anexo IV
BM-CAL-6 *Petróleo Brasileiro S.A. (45%); Queiroz Galvão Perfurações 50% 70%
S.A. (18,34 %); El Paso CGP Company (18,33%); Petroserv
S.A. (18,34 %)
BM-S-13 *El Paso CGP Company (100 %) 40% 50%
BT-POT-5 *Rainier Engineering Limited (100 %) 50% 70%
* Operadora do bloco
Fonte: ANP
245
Anexo V
ANEXO V
RELAÇÃO DOS PROFISSIONAIS CONSULTADOS
246