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Cessaram os dons espirituais?

Por Donald MacLoad

Até aqui não temos falado nada acerca da mais controversa das afirmações
pentecostais, a saber, que a prova do batismo com o Espírito é a possessão de
certos dons espirituais, especialmente o dom de línguas. O protestantismo,
tradicionalmente mantém a opinião de que os dons miraculosos cessaram com
a era apostólica. Todavia, Edward Irving (1792-1834) afirmou que os dons
eram para todas as épocas da igreja e sob a sua influência um grupo de
cristãos em Londres formaram a Igreja Católica Apostólica completa com
apóstolos, profetas, curas e o falar em línguas. O movimento de Irving se
petrificou. Mas no século XX, do seio do movimento wesleyano derivado do
movimento da santidade se levantaram as igrejas pentecostais, mantendo,
segundo um de seus porta-vozes representativos que “na Bíblia o falar em
línguas é a única evidência do batismo com o Espírito.” Desde a Segunda
Guerra Mundial os aderentes desta opinião se multiplicaram dentro das
principais denominações, dando lugar ao neopentecostalismo. As igrejas
reformadas não ficaram isentas desta influência e muitas das igrejas
independentes da Inglaterra e do País de Gales se dividiram tragicamente sobre
este tema.

Qualquer resposta bíblica a este movimento deve insistir em dois pontos


fundamentais: primeiro, que alguns dos dons cessaram; e segundo, que a
Igreja de hoje permanece como uma instituição completamente carismática.
Este capítulo se limita somente ao primeiro ponto, mas devemos ter em mente
que, a longo prazo, a preocupação pela natureza carismática positiva da igreja
é mais importante que a negação das modernas pretensões carismáticas.

O APOSTOLADO

A posição pentecostal requer a perpetuação da exata situação que prevalecia


na igreja apostólica. Em particular requer que tenhamos todos os dons, todas
as experiências e todos os ofícios de que gozava a igreja primitiva. Todavia, a
desesperança desta exigência chega a ser evidente quando refletimos no ofício
do apostolado. Que os seus dons tinham o claro propósito de serem temporais
fica demonstrado pelo fato de que um requisito essencial para o seu apostolado
era que tivessem visto a Cristo ressuscitado. Por isso, Pedro estabelece em At
1:21-22 que a pessoa escolhida para substituir Judas deveria ser “testemunha
conosco de sua ressurreição”. Paulo relacionou claramente o seu apostolado
com este fato “e o último de todos, como um nascido fora do tempo, me
apareceu” (1 Co 15:8-9). Quando os gálatas negaram o apostolado de Paulo, o
assunto estava relacionado com este fato, que Paulo não era um verdadeiro
apóstolo porque nunca teria visto a Cristo e teria recebido o seu evangelho de
segunda mão. Paulo protesta vigorosamente que ele não recebeu o seu
evangelho da parte dos homens, mas por revelação de Jesus Cristo (Gl 1:12). O
seu chamado para ser apóstolo estava intimamente ligado ao fato de ter visto
ao Filho de Deus (Gl 1:16).

O argumento de que não se repete os requisitos do apostolado é reforçado com


o fato de que os apóstolos nunca designaram sucessores, nem estabeleceram
os requisitos que deveriam ter tais sucessores. Eles estiveram contentes em
deixar os evangelistas para a implantação de novas igrejas, e o cuidado das
existentes sob os cuidados dos pastores e mestres. O mais próximo sucessor de
um apóstolo que temos é Timóteo, mas ele é descrito como um evangelista
cuja autoridade não vai além de implementar, nas igrejas, as ordenanças que
Paulo estabeleceu.

A natureza temporal do apostolado está implícita em sua própria natureza. Era


fundacional, a igreja é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”
(Ef 2:20). A mesma ideia ocorre em Ap 21:14, onde nos declara que os muros
dos doze apóstolos. Claro que é verdade que a edificação do templo espiritual
continua em nossa era cristã (1 Pe 2:5), quando cada pedra é escolhida e
preparada. Mas o lançar das bases ou fundamentos, teve lugar de uma vez
para sempre na encarnação. Cristo era a pedra angular. Os apóstolos são os
fundamentos. Isto é de uma vez para sempre visto claramente no Novo
Testamento. Assim como Cristo se ofereceu uma única vez para sempre, da
mesma maneira o é a fé, uma vez por todas entregue aos santos (Jd 3).
Consequentemente a atitude correta frente à tradição apostólica não é
desenvolvê-la e acrescer-lhe, senão que é de preservá-la (2 Ts 2:15). É uma
herança sagrada que deve ser conservada (1 Tm 6:20).

A unicidade[1] do período durante o estabelecimento da autoridade dos


fundamentos é inerente ao Novo Testamento, por isso, Oscar Cullmann está
correto ao afirmar que “o escândalo do Cristianismo é crer que nestes poucos
anos, que para a história secular não tem nem maior, nem menor significação
que outros períodos, são o centro e a norma da totalidade do tempo.”

PROFECIA

Com a mesma confiança podemos sustentar que o dom de profecia cessou. No


Novo Testamento a profecia não era meramente um dom expositivo que
capacitava um homem para extrair o significado de uma vasta revelação, como
o era no Antigo Testamento. Os profetas eram instrumentos de revelação,
homens a quem Deus lhes dava a conhecer a sua vontade e a quem Ele
autorizou atuar como seus porta-vozes. Na igreja de Corinto, por exemplo, os
profetas eram homens que tiveram revelações e “entenderam todos os
mistérios”. Algumas vezes, a revelação era uma pregação, e em outras era uma
diretiva, e em outras ocasiões (como no Apocalipse de João), era uma
complexa revelação da mente de Deus que abrangia uma ampla variedade de
temas doutrinários, exortativos e escatológicos.
Portanto, temos o direito de esperar dos profetas “mistérios e revelações”.
Quando aplicamos este critério às profecias modernas, fica evidente, bem
dolorosamente que o dom de profecia cessou. As razões não estão longe de ser
verificadas.

Em primeiro lugar, assim como o apostolado, a profecia era fundacional. O


fundamento a que se refere Ef 2:20 é o dos apóstolos e profetas. Durante o
tempo de lançar os fundamentos, assim como os seus predecessores do Antigo
Testamento, os profetas estavam produzindo material que mais tarde seria
incorporado na Bíblia. Além disso, estes profetas estavam resolvendo a urgente
necessidade de instrução e guia para as responsabilidades diárias, até que a
igreja tivesse suficiente Escritura. Mas estas responsabilidades não poderiam
prolongar-se além da época de lançar os fundamentos.

Em segundo lugar, incluso dentro do Novo Testamento há a evidência de que o


restabelecimento do ofício profético (depois de um longo período de silêncio
desde Malaquias a João Batista) foi somente transacional. Enquanto se
apresenta de forma proeminente na vida da igreja conforme relatado em 1
Coríntios 12 a 14, se encontra quase ausente nas últimas epístolas de Paulo, ou
seja, as pastorais (Timóteo e Tito). Também está ausente em outros livros
tardios do Novo Testamento, tais como em 1 Jo. Isto fortemente sugere que o
ministério dos profetas estava suprimindo-se, inclusive antes que o cânon se
fechasse.

Em terceiro lugar, sendo o ministério profético revelacional, estava intimamente


relacionado ao desenvolvimento do cânon. Enquanto o cânon estava
incompleto, a igreja tinha que possuir outros meios de acesso à mente de
Deus, principalmente mediante a profecia. Agora que o cânon está completo,
tudo o que é necessário para a salvação, ou está claramente expresso na Bíblia,
ou pode-se deduzir dela por boa e necessária consequência, tal como nos
recorda a Confissão de Fé de Westminster (CFW I.6). Afirmar que a profecia
ainda é necessária, é o que mesmo que afirmar que a Bíblia está incompleta e
imperfeita e que, portanto, necessita suplementá-la. E se esta suplementação é
oferecida pelos profetas pentecostais ou por decretos papais, o princípio é o
mesmo: a consciência da Igreja está atada mediante algo que é adicional à
Bíblia.

FALAR EM LÍNGUAS

O falar em línguas tem um lugar especial no pentecostalismo, não só como o


comum dos dons, senão como o sinal inicial do batismo com o Espírito Santo, o
meio de manifestar profunda devoção, e como sendo o supremo objetivo do
anelo cristão. Apesar de todos os argumentos avançados pelos carismáticos,
não vemos razão alguma para abandonar o ponto de vista tradicional de que o
dom de línguas cessou com os apóstolos.
Por exemplo, parece indiscutível que como questão de fato este dom
desapareceu. Isso não significa que durante os séculos I a XX não existiram
pretensões reclamando que este dom ainda existe. Mas estas pretensões foram
esporádicas, localizadas e duvidosas. Michael Harper cita Justino, o mártir, em
apoio a perpetuidade dos dons. Cullmann, com a mesma confiança também cita
Justino, o mártir, contra. Ainda mais significativo, durante o longo período entre
o Novo Testamento e Edward Irving, o dom de línguas nunca foi reclamado por
nenhum dos líderes mais proeminentes da Igreja. Isto é certo dos Pais da
Igreja, tais como Atanásio e Santo Agostinho, Bernardo e Crisóstomo, é
verdadeiro também dos reformadores como Martinho Lutero, Zwínglio, Calvino
e Knox, e ainda o é de proeminentes pregadores modernos como Whitefield,
Chalmers, Spurgeon e Lloyd-Jones.

O fato de que este dom não foi concedido a estes grandes homens de Deus,
com toda certeza, é a resposta total à pretensão de Wesley (e com frequência
repetida pelos pentecostais), que a razão pela qual estes e outros dons
declinaram era porque “os cristãos se tornaram pagãos e somente tinham uma
forma morta de Cristianismo.” É um absurdo depreciar como mortos, ou como a
caracóis inertes do Cristianismo homens como Chalmers ou Spurgeon, ou as
igrejas que eles representaram.

Outro fato que pesa fortemente contra o ponto de vista pentecostal é que
atualmente é extremamente difícil estar seguro em que consiste exatamente o
dom de línguas. Seria realmente temerário a quem empreender a tarefa de
provar mediante exegese do Novo Testamento que o que se entende hoje por
dom de línguas corresponda ao dom que prevaleceu no tempo dos apóstolos.

Pelo menos existem dois níveis de incerteza. Em primeiro lugar, está longe de
ser claro que o fenômeno descrito em At 2 seja o mesmo que de 1 Co 14. O
primeiro descreve como “falar em outras línguas”, enquanto o outro como
“falar em línguas”. No livro de Atos os que falaram em outras línguas foram
facilmente entendidos pela multidão, mas em Corinto somente poderiam ser
entendidos por aqueles que tinham o dom especial de interpretação. Em
Corinto os que falavam línguas eram um sinal do juízo de Deus sobre os
incrédulos, do qual não há registro algum no livro de Atos. Em vista dessas
dificuldades, não podemos assumir levianamente que os dois fenômenos foram
iguais.

Em segundo lugar, há incerteza quanto à natureza das línguas, e não somente


há discrepâncias quanto ao que ocorreu com as línguas do Novo Testamento,
senão que também há desacordo quanto ao que ocorre nas reuniões
pentecostais hoje em dia. Segundo alguns carismáticos, as línguas são línguas
estrangeiras que podem reconhecer, e que a princípio, podem ser traduzidas.
Segundo outros, as línguas são uma forma de discurso extático, no qual o
cristão expressa conceitos e emoções que transcendem a linguagem, é o que
Donald Gee chama de “uma expressão quase espontânea, de algo que de outra
maneira indizível.” Tais expressões não somente seriam impossíveis de traduzir,
senão também impossíveis de interpretar. Segundo outros, o falar em línguas é
“uma manifestação do Espírito de Deus empregando os órgãos da fala
humana.” De acordo com esta opinião, ainda que as expressões tenham um
padrão de linguagem, as cordas vocais são controladas não pelo intelecto
humano (o que permanece imóvel? 1 Co 14:14), senão pelo Espírito Santo.

No momento não é importante definir esta questão de identificação. Somente


necessitamos notar que não há acordo entre os eruditos de Novo Testamento,
ou entre os próprios pentecostais quanto ao que era, ou é o falar em línguas.
Se o dom de línguas deveria ser um sinal inicial para o batismo com o Espírito
esta situação é estranha. Como posso saber que falo em línguas, quando não
sei o que era o falar em línguas?

IMPORTÂNCIA DECRESCENTE

Quanto ao problema de identificação devemos acrescentar que, no próprio


Novo Testamento, podemos ver uma decrescente importância do falar em
línguas. No livro de Atos que nos leva até o primeiro encarceramento de Paulo
em Roma, o dom de línguas ainda é proeminente. Todavia, este dom estava
em evidência quando Paulo escreve a sua primeira carta aos Corintos. Mas nas
cartas pastorais não se menciona este dom, mesmo quando Paulo está
preocupado em estabelecer os requisitos para o ofício (o que inclui o dom de
falar em línguas), e em dar instruções detalhadas quanto à conduta no Culto e
na Adoração e o comportamento dos cristãos nas reuniões públicas. Além do
mais, o dom de línguas não é mencionado inclusive em ocasiões de desordem,
nas epístolas do Senhor às sete igrejas da Ásia (Ap 2 e 3). Tampouco é
mencionado o dom de línguas nas epístolas de João apesar de que estas
epístolas mostram um considerável interesse no ministério do Espírito.

Estes fatos demonstram enfaticamente que o conceito de transição que temos


aplicado ao dom da profecia, pode-se aplicar igualmente ao dom de línguas. No
tempo do cânon estava completo, o dom de línguas havia, virtualmente
desaparecido.

Este não é um argumento que os pentecostais aceitam facilmente. Eles


afirmam que isso equivale a meter tesouras na Bíblia e retirar grandes porções
dela. Parte da resposta a isto é que as porções cortadas não são tão grandes
assim, porque as referências ao dom de línguas são notavelmente poucas. Além
do mais, afirmar que o dom de línguas não mais existe na Igreja, não significa
que as referências bíblicas digam que não tenham nada mais o que nos ensinar
hoje. Por exemplo, o comer comida oferecida aos ídolos, assim, não é um tema
vivo (até sabemos). Mas os princípios que Paulo estabelece no transcurso da
discussão acerca disso, são mais relevantes para a vida e prática cristã. Do
mesmo modo, apesar do dom de línguas ter cessado, o ensino de Paulo em 1
Co 14 tem ainda mais para nos dizer acerca da natureza da adoração, e do uso
dos dons que ainda continuam na igreja.

Mais importante ainda, na prática, cada cristão aceita que algumas partes da
Bíblia foram abolidas. Não mais oferecemos sacrifícios que foram prescritos em
Levíticos, e não mais limpamos os leprosos segundo o ritual do Antigo
Testamento. Nem sequer os teonomistas apedrejariam aos adúlteros e aos
quebraram o dia do repouso, nem administram a circuncisão, nem celebram a
páscoa.

Mas, estas coisas não deixariam o Novo Testamento ainda mais completo, de
tal modo que para cada coisa que reclamamos precedente no Novo Testamento
continuaria sendo a norma? Desde o momento em que aceitamos que não
temos mais apóstolos, então, rompemos com este princípio. Reconhecemos que
a Igreja do Novo Testamento tinha algo que não teremos. Na realidade o
conjunto de princípios e práticas abolidas é muito mais amplo do que numa
simples leitura esperaríamos. Hoje em dia os missionários não estão regidos
pela diretiva de Lc 10:4 “não leveis bolsa, nem alforja, nem calçado e a
ninguém saudeis pelo caminho”. Tampouco estão sob as ordens de confinar a
sua evangelização às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10:6). Do mesmo
modo, não estamos obrigados as decisões eclesiásticas de Atos 2 a 5, pelas
quais os apóstolos se encarregavam de todo o ensino e toda a administração, e
os cristãos praticavam uma propriedade comum dos bens. Inclusive quando
olhamos o testemunho do Batismo com o Espírito Santo somente encontramos
o que é uma vergonha para o pentecostalismo, porque o sinal em At 2:2-3 não
era somente o falar em línguas, senão “um vento impetuoso e línguas
distribuídas entre eles, como de fogo”. Se o dom de línguas é normativo e
perpétuo, então, por que não o são os outros sinais?

A verdade é que simplesmente não podemos congelar a revelação de At 2:4 ou


em 1 Co 14:26, como tampouco podemos congelá-la em Lc 10:4, ou Lv 17. A
revelação é progressiva e acumulativa, e ainda que Deus nunca negue a
verdade do que Ele revelou anteriormente, Ele decreta que algumas estruturas
e instituições sejam abolidas. A segunda epístola de Paulo a Timóteo não
somente tem o mesmo direito de ser nossa norma, como a primeira escrita aos
Coríntios, mas resguardadas as diferenças, a primeira epístola a Timóteo, tem
maior direito de ser nossa norma porque se encontra mais distante da linha da
revelação acumulativa.

A razão para o desaparecimento gradativo do dom de línguas é exatamente o


mesmo que se aplica a da profecia. O dom de línguas era um dom revelacional.
Como os próprios teólogos pentecostais o admitem, o falar em línguas somado
à interpretação equivale à profecia, pois “no Espírito ele falou em mistérios”.
Como tal, satisfez as necessidades da Igreja enquanto o cânon estava em
formação, e daria lugar ao ministério expositivo do mestre quando a revelação
estivesse completa.

UM ESQUEMA NÃO BÍBLICO

O limite deste capítulo nos permite uma breve menção de outro argumento,
todo o esquema em que o pentecostalismo coloca o dom de línguas é
antibíblico. A pretensão não somente é que o falar em línguas persiste na
Igreja, mas que é o indispensável sinal inicial de um batismo especial com o
Espírito Santo depois da conversão, o qual eleva aos que o experimentam a
uma “vida superior”, ou mais profunda devoção, poder grandioso e o encontro
de um novo gozo. Esta perspectiva é totalmente falsa. Como temos visto
anteriormente, algumas das maiores figuras da Igreja pós-apostólica nunca
falaram em línguas e, e por isso, teriam que ser classificados como cristãos de
segunda categoria, se a doutrina pentecostal fosse verdadeira. Além do mais,
há uma considerável ambiguidade na doutrina. O batismo/falar em línguas é
algo que se alcança por nossa santidade? Ou é a causa da nossa santidade?
Logicamente esperamos que seja o segundo, que o batismo com o Espírito
Santo é a precondição da “vida superior”. Com efeito, a ordem é comumente
invertida pelos pentecostais. Os “sete passos fáceis” de Torrey incluem a
renúncia a todo pecado conhecido, e faz com que a santidade seja a condição
do batismo com o Espírito. O lamento de Wesley, no sentido de que a Igreja
não tem dons espirituais porque está espiritualmente morta, pertence à própria
perspectiva pentecostal. Se a própria Igreja pudesse reviver, então, o Espírito
retornaria.

Dois pontos a serem considerados.

É muito difícil defender que o falar em línguas do modo que prevalece hoje,
seja um sinal especial de espiritualidade cristã quando, segundo muitos
observadores, o próprio fenômeno pode ser encontrado entre as religiões não
cristãs, tais como a religião muçulmana. O mesmo problema é inerente na
incidência do falar em línguas entre os católicos romanos carismáticos. Não
vamos ofender negando que muitos católicos romanos são devotos, ainda que
cristãos mal orientados, mas é difícil de se crer que qualquer um deles desfrute
de uma grande medida da plenitude do Espírito, ou possa até mesmo ter algum
entendimento da Bíblia, ou até mesmo algum entendimento da experiência da
salvação, como para adorar imagens, render homenagem à virgem, e também
o distanciar-se (mediante um anátema) da doutrina de Lutero acerca da
justificação.

Finalmente, não há no Novo Testamento a mínima sugestão de que o falar em


línguas seja um sinal de especial espiritualidade. A igreja em Corinto não tinha
falta de nenhum dom (1 Co 1:7). Todavia, estava rodeada de uma multidão de
problemas que iam desde desunião até a heresia e imoralidade. Certamente
não era uma igreja com “vida superior”. Além do mais, em 1 Co 13, Paulo deixa
claramente esclarecido que é possível falar em línguas humanas e angelicais,
todavia, sem ter amor. O próprio Cristo ensinou no mesmo sentido em Mt 7:22.
Os homens podem reivindicar que profetizaram, expulsaram demônios e
realizaram milagres (todos em nome de Cristo), e, todavia, serem totalmente
estranhos à comunhão do Salvador. E quando Paulo pergunta “todos falam em
línguas?”, claramente espera uma resposta: “não!” Paulo não dá a menor ideia
de que isto fosse uma grande omissão que deveria ser remediada
instantaneamente.
NOTAS:

[1] O termo “unicidade” é usado pelo autor significando uma situação única ou
que não é repetida.

Donald MacLeod, El Bautismo con El Espíritu Santo (San José, CLIR, 2002), pp.
49-61

Traduzido por Ewerton B. Tokashiki

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