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PERÍODO VII D CRISTIANISMO MODERNO 699

O Reavivamento Evangélico na Grã-Bretanha;


\V°esley e o ]}'[etodismo

As tendências no pensamento e na vida religiosa da Inglaterra no início do século


dezoito já foram assinaladas (ver VII:3). O término das lutas do século anterior fora
marcado por generalizada letargia espiritual tanto na igreja oficial da Inglaterra como
nas dissidentes. O racionalismo penetrara em todas as classes de pensadores religio­
sos, de modo que mesmo entre os ortodoxos o cristianismo se assemelhava mais a
um sistema de moralidade apoiado por sanções divinas. Joseph Butler (ver VII:3)
pode ser um caso típico. Suas probabilidades álgidas podem ter convencido alguns
intelectos, mas só alguns poucos foram levados à ação. Havia pregadores capazes,
mas o sermão característico era um ensaio descolorido sobre as virtudes morais. A
obra de alcance evangelísrico era mínima. A condição das classes inferiores era de
indigência espiritual. Os divertimentos populares eram grosseiros, o analfabetismo
700 HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

ças e iniqüidade. Nunca o alcoolismo prevaleceu tanto na vida inglesa como naquele
período.
Além disso, a Grã-Bretanha estava às vésperas da revolução industrial que a trans­
formaria, no último terço do século dezoito, de país agrícola em industrial. James
Watt (1736-1819) patenteou o primeiro motor a vapor eficiente em 1769. James
Hargreaves (?-1778) patenteou a máquina de fiar em 1770. RichardArbvright (1732-
1792) inventou o fuso mecânico em 1768. Edmund Cartwright ( 1743-1823) inven­
tou o tear mecânico em 1784. Josiah Wedgwood (1730-1795) tornou as olarias
Staffordshire operacionais a partir de 1762. As mudanças industriais e sociais e os
problemas delas decorrentes foram da maior importância e implicaram em reajustes
de imensas conseqüências práticas para a religião.
No início do século dezoito não faltavam homens e movimentos ansiosos por
melhorar as coisas. William Law não foi apenas um vigoroso oponente do deísmo.
Seu livro intitulado Sério Apelo à Vida Devota e Santa (1728) influenciou profun­
damente John Wesley, e permanece um dos monumentos da literatura exortativa
inglesa. O congregacional Isaac Watts (1674-1748), há muito esquecido como teó­
logo, com justiça tem sido chamado o fundador da moderna hinologia inglesa. Seus
Hinos (1707) e Os Salmos de Davi Imitados na Linguagem do Novo Testamento
(1719) puseram abaixo os preconceitos então existentes, em ambos os lados do Atlân­
tico, nos círculos de língua inglesa não clericais, contra o uso de tudo quanto não
fosse passagens rimadas da Escritura. Tais hinos expressam piedade profunda e vital.
Foram feitos alguns esforços combinados significativos em favor de uma vida
religiosa mais fervorosa. Dentre eles se contam as "sociedades religiosas", sendo a
mais antiga delas aquela formada em Londres por um grupo de jovens, por volta de
1678, para oração, leitura das Escrituras, cultivo de uma vida religiosa, comunhão
freqüente, auxílio aos pobres e aos soldados, marinheiros e encarcerados, e
encorajamento da pregação. Elas se propagaram rapidamente. Por volta de 1700, só
em Londres havia cerca de uma centena, e também podiam ser encontradas em muitas
partes da Inglaterra e até na Irlanda. Em 1702 uma delas foi organizada em Epworth
pelo pai de John Wesley, Samuel Wesley. Em vários sentidos elas se pareciam aos
collegia pietatis de Spener (ver VlI:7) mas não havia um Spener para impulsioná-las.
Eram compostas quase exclusivamente por membros comungantes da igreja
estabelecida. Muitos do clero consideraram esse movimento como "entusiasta", ou,
PERÍODO VII O CRISTIANISMO MODERNO 701

des iriam permanecer e desempenhariam um papel importante no início do


metodismo.
Tais esforços, no entanto, tinham apenas influência local e parcial. O grosso do
povo inglês estava em letargia espiritual ainda que cegamente consciente do pecado e
convencido da realidade da futura punição e recompensa. Não haviam sido desper­
tadas as emoções da lealdade a Cristo, da salvação por seu intermédio, de uma fé
transformadora presente. Era necessário o apelo por um zelo espiritual vívido, mais
dirigido a convencer o coração do que ponderar sobre prudência ou sobre frígida
argumentação lógica. A profunda transformação efetuada na Inglaterra, cujos resul­
tados fluíram em benéficas correntes para todos os territórios de língua inglesa, foi
primordialmente resultado do "reavivamento evangélico". Os primeiros sinais de
um despertamento apareceram no começo do século dezoito. Na Escócia, sob a lide­
rança de Ebenezer (1680-1754) e Ralph Erskine (1685-1752), cresceu um movi­
mento evangélico nos primeiros anos do século; por volta de 1714 Ebenezer foi
forçado a pregar num campo adjacente à sua igreja, para poder acomodar as multi­
dões. Três anos depois, uma obra puritana anônima do século dezessete, provavel­
mente de autoria de Edward Fisher, A Essência da Teologia Moderna, voltou a ser
publicada por incentivo de um zeloso pregador popular, T homas Boston (1677-
1732), de Ettrick. A despeito da censura formulada em 1722 pela Assembléia Geral,
os "Homens Essenciais", com seu ardente espírito evangélico, granjearam muita sim­
patia. Eles organizaram "sociedades de oração" que também lembravam os collegia
pietatis de Spener. Em Gales, Howel Harris (1714-1773) e Daniel Rowlands (1713-
1790) foram líderes de um reavivamento que irrompeu em meados da década de
1730. Mas somente com o surgimento de seus três grandes líderes - John e Charles
Wesley e George Whitefield - o reavivamento evangélico cresceu como poderosa
maré. Durante quatro décadas ele avançou em três vertentes específicas mas intima­
mente relacionadas, todas ligadas à igreja oficial da Inglaterra: as sociedades metodistas
sob a orientação dos irmãos Wesley, os metodistas calvinistas sob Whitefield e os
Evangélicos Anglicanos, estes trabalhando junto a linhas paroquiais mais tradicio­
nais. Não foi senão em 1779 que as primeiras separações formais de quaisquer dessas
vertentes ocorreram na igreja da Inglaterra.
Os pais dos irmãos Wesley eram descendentes de não-conformistas. Seus dois
avós estavam entre os clérigos expulsos em 1662. O pai, Samuel Wesley (1662-1735),
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igreja campesina de Epworth. Homem de zelosa disposição religiosa mas pouco pd­
tico, escrevera a V ida de Cristo em Verso e um comentário do livro de Jó. A mãe,
Susanna (Anneslcy), era mulher de nodvel fortaleza de caráter, sendo, como seu
marido, anglicana devota. Os filhos tiaham muito dos pais, talvez mais da força
materna. Num lar de dezenove filhos, dos quais oito morreram na infância, forçosa­
mente a regra era trabalho duro e estrita economia. John era o décimo quinto e
Charles o décimo oitavo dessa grande ninhada.
John Wesley nasceu em 17 de junho de 1703 e Charles em 18 de dezembro de
1707. Ambos foram salvos com dificuldade de um incêndio na casa paroquial, em
1709. Tal fato deixou impressão indelével na mente de John, que desde então se
considerou literalmente "um tição arrancado do fogo". Em 1714 John ingressou na
Chartcrhousc School, cm Londres e, dois anos após, Charles ingressou na Westminster
School. Os dois meninos se distinguiram como estudantes. Em 1720 John ingressou
no Christ Church College, Oxford, para onde Charles foi seis anos depois. O pro­
gresso intelectual de John foi tamanho que, em 1726, foi nomeado membro do
Lincoln College. Para ser candidato a tal honraria John teria que estar nas ordens
sacras e, então, em 25 de setembro de 1725 foi ordenado diácono. Com sua ordena­
ção começaram as lutas espirituais que só terminariam com sua conversão, em 1738
e, quiçá, em certo sentido, se prolongariam além dessa data.
Entre 1726 e 1729 John Wesley foi a maior parte do tempo assistente de seu pai.
Em 22 de setembro de 1728 foi ordenado sacerdote. Durante sua ausência de Oxford,
na primavera de 1729, Charles Wesley e dois colegas estudantes, Robert Kirkham e
William Morgan, organizaram um pequeno clube, principalmente para levarem avante
seus estudos, mas que logo mostrou-se ideal para a leitura de bons livros e para a
comunhão freqüente. Quando de seu retorno a Oxford, em novembro de 1729,
John Wesley se tornou o líder do grupo que de imediato atraiu outros estudantes.
Sob sua direção, o grupo procurava realizar os ideais de William Law de uma vida
consagrada. Em agosto de 1730, pela influência de Morgan, começaram a visitar os
encarcerados na prisão de Oxford. Os membros do grupo jejuavam. Seus ideais eram
altamente igrejeiros. Os universitários zombavam deles. Chamavam o grupo de "Clube
Santo" e, por fim, algum estudante encontrou um apelido que pegou, os "metodistas"
(nome que já fora usado no século anterior). Estavam, porém, ainda muito longe do
que seria o metodismo. Ainda formavam um grupo que lutava penosamente pela
salvação de suas próprias almas. Como eram então, mais se assemelhavam ao movi-
PlKIUDO VII u 1,n1a 1111.1ui>mu muucn11u

mento anglo-católico do século dezenove que ao metodismo histórico.


O clube recebeu uma importante adesão no começo de 1735 na pessoa de George
Whitefield. Nascido em Gloucester em 16 de dezembro de 1714, filho de um
estalajadeiro, ele crescera pobre, ingressando em Oxford em 1733. Uma grave mo­
léstia na primavera de 1735 provocou uma crise em sua experiência religiosa. Ele
emergiu dessa crise com alegre certeza de paz com Deus. Em junho de 1736 Whitefield
buscou e recebeu ordenação episcopal, e imediatamente, embora bastante jovem,
iniciou sua maravilhosa carreira de pregador. Nenhum pregador anglo-saxão do sé­
culo dezoito exibiu tal poder no púlpito. Homem basicamente sem espírito
denominacional, numa época em que tal espírito era geralmente intenso, ele estava
pronto a pregar em qualquer lugar e em qualquer púlpito que lhe fosse entregue. Por
vezes duvidava da genuinidade de experiências religiosas diferentes da sua, mas era
de natureza profundamente simples e altruísta. Sua mensagem era o Evangelho da
paz e da graça perdoadora de Deus por meio da aceitação de Cristo pela fé, e a
conseqüente vida de serviço em alegria. Seus poucos sermões impressos dão escassa
idéia do seu poder. Um tanto dramático e possuidor de voz maravilhosamente ex­
pressiva, ele dominava grandes auditórios nos dois continentes. Passou grande parte
de seu ministério ativo na América do Norte. Em 1738 esteve na Geórgia. No ano
seguinte voltou à América e sua pregação na Nova Inglaterra, em 1740, foi acompa­
nhada pela maior comoção espiritual jamais vista ali. Não foi menor seu êxito nas
colônias centrais, ainda que ali e na Nova Inglaterra houvesse grande divisão de
opiniões sobre o valor espiritual permanente de sua obra. Os anos de 1744 a 1748
viram-no novamente neste lado do Atlântico e também os de 1751 e 1752 e, ainda,
os de 1754 e 1755. Sua sexta visita foi de 1763 a 1765. Em 1769 retornou para seu
último giro de pregação, e faleceu a 30 de setembro de 1770, em Newburyport,
Massachusetts. Ele .havia se entregado sem restrições ao serviço das igrejas america­
nas de todas as famílias protestantes. Não foi um organizador. Não deixou nenhum
grupo com seu nome, mas despertou milhares.
Nenhum dos dirigentes do Clube Metodista estava destinado a permanecer por
muito tempo em Oxford, nem o seu movimento a ter muita influência na universi­
dade, que estava então em declínio tanto acadêmico quanto religioso. A morte de seu
pai, em 25 de abril de 1735, deixou os irmãos Wesley menos apegados ao lar, e
ambos conseguiram colocação como missionários para a nova colônia da Geórgia,
cuja colonização fora iniciada em 1733 pelo general Oglethorpe. Embarcaram em
·,o; HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

outubro de 1735. Durante a viagem mantiveram-se constantes nos exercícios religi­


osos e no auxílio aos demais viajantes. No navio havia um grupo de vinte e seis
morávios, chefiados pelo bispo David Nitschmann. A animosa coragem dessa gente
durante uma tempestade convenceu John Wesicy de que os morávios tinham uma
confianç, em Deus que de não possuía. Muito aprendeu com eles. Pouco depois de
chegar a Savannah encontrou-se ek com Spangenberg (ver VII:6), que lhe fez esta
embaraçosa pergunta: "Você conhece _ksus Cristo?" Wesley respondeu: "Sei que Ele
é o salvador do mundo". Ao que Spangenbcrg replicou: "Certo. Mas você sabe que
Ele o salvou?"
Na Geórgia, os Wesleys trabalharam com afinco, mas tiveram pouco êxito. Charles
Wesley retornou ao país natal em 1736, desgostoso e enfermo. Mas John permane­
ceu. Demonstrou então seus dotes lingüísticos dirigindo ofícios em alemão, francês
e italiano. Em 1736 fundou em Savannah uma pequena sociedade para o cultivo da
vida religiosa mais fervorosa. Trabalhou infatigavelmente, ainda que com pouca paz
de espírito ou conforto para os outros. Era observador zeloso da Alta Igreja. Faltava­
lhe tato. Caso digno de atenção foi o de Sophie Hopkey, uma mulher sob todos os
aspectos digna de ser sua esposa. A ela e aos amigos dela ele deu motivos para crerem
que sua intenção era casar-se com ela, mas oscilava entre o celibato clerical e a possi­
bilidade de contrair matrimônio. Um resto de superstição que Wesley sempre con­
servou, levava-o a resolver assuntos importantes pelo primeiro versículo da Escritura
lida ao acaso ou lançando sortes. Neste caso recorreu ao último método, e a resposta
foi adversa. A�sim Wesley naturalmente chamou sobre si o ressentimento da moça e
de seus parentes. Melindrada, ela logo casou-se com outro pretendente. O marido
proibiu que ela continuasse a participar das discussões religiosas íntimas de Wesley.
Então este achou não estar Sophie preparada adequadamente para receber a comu­
nhão e negou-lhe o sacramento. Os amigos dela acusaram ser isto o ato de um pre­
tendente desgostoso. Chegava ao fim a influência de Wesley na Geórgia. Iniciaram­
se processos contra ele. Então decidiu voltar à pátria. Em 1 ° de fevereiro de 1738
John Wesley estava de volta à Inglaterra. Em sua viagem para o exterior temera a
morte. Em seu amargurado desapontamento só podia dizer: "Tenho bela religião de
verão". No entanto, era pregador de grande poder e labutava incansavelmente. Caíra
em muitos erros, mas não naqueles que demonstrassem falta de consagração cristã.
Felizmente para o seu angustiado estado de espírito, na semana em que John
retornou os dois irmãos entraram em íntima relação com um morávio, Peter Bõhlcr,
PERIUUD VII O CRISTIANISMO MODERNO

que, viajando para a Geórgia, ficara cm Londres até maio. Ensinava Bohler a te de
completa auto-entrega, a conversáo instantânea e a alegria na fé. Antes de partir,
Bohler organizara uma "sociedade", depois conhecida como "Sociedade Fetter-Lane"
e da qual John Wesley frii um dos membros fundadores. Porém, nenhum dos dois
irmãos ainda encontrara a paz. O que Charles \v'esley denominou sua "conversão"
ocorreu-lhe em 21 de maio de 1738, quando ele estava acometido de grave enfermi­
dade. No dia 25, a experiência trnnsformadora ocorreu a John. Conforme ele relata,
naquela noite ele fora de má vomadc à reunião de uma "sociedade" anglicana na rua
Aldersgate, em Londres, -: ouviu a leitura do prefacio de Lutero ao Comentário a
Romanos. "Cerca de quinze para as nove, enquanto ele [Lutero] descrevia a transfor­
mação que Deus opera no coração por meio da fé em Cristo, senti meu coração
estranhamente aquecido. Senti que confiava em Cristo, em Cristo apenas, para a
salvação; e me foi dada a certeza de que Ele tirara meus pecados, os meus mesmos, e
me salvara da lei do pecado e da morte." Não pode haver dúvida quanto à alta
significação desta experiência. Ela determinou daí em diante a crença de Wesley
quanto ao caminho normal para a entrada na vida cristã. Foi a luz de toda sua visão
teológica. Entretanto, foi de certa forma gradualmente, mesmo depois desta experi­
ência, e por meio da pregação e observação duma obra semelhante nos outros e pela
comunhão com Deus, que ele alcançou plena liberdade do temor e alegria completa
na fé.
John Wesley resolveu conhecer mais os morávios, que o tinham ajudado até ali.
Menos de três semanas após sua conversão viajou para a Alemanha. Lá encontrou-se
com Zinzendorf, em Marienborn, ficou duas semanas em Herrnhut e em setembro
de 1738 estava de volta em Londres. Foi uma grande visita para Wesley. Viu muito o
que admirar, mas nem tudo lhe agradou. Percebeu que Zinzendorf era tratado com
excessiva deferência e que a piedade morávia não escapava às limitações subjetivas.
Ainda que devesse muito aos morávios, Wesley era por demais ativo em sua atitude
religiosa, muito pouco místico, deveras interessado nas grandes necessidades do pró­
ximo para ser cabalmente morávío.
John e Charles então passaram a pregar nas oportunidades que lhes apareciam.
No entanto tiveram muitos púlpitos fechados ao seu "entusiasmo" e falavam princi­
palmente nas "sociedades" em Londres e em seus arredores. No começo de 1739
Wbitefield iniciara seu trabalho em Bristol, e lá, em 17 de fevereiro, começara a
pregar ao ar livre aos mineiros de carváo de Kingswood. Fez amistosas relações com
GREJA r.n1sTÃ
706 HISTÓRIA DA I

Howcl Barris, o qual, desde 1736, trabalhava com grande resultado como pregador
leigo em Gales. W hitefield então convidou John Wesley a ir a Bristol. Hesitava Wesley
em pregar ao ar livre, ni.as a oportunidade de prodamar o Evangelho aos necessita­
dos era irresistível, e a 2 de abril ele começou em Bristol o que viria a ser seu costume
por mais de cinqüenta anos, enquanto as forças lhe permitiram. De imediato Charles
seguiu o exemplo do irmão. Ainda que não possuindo o poder dramático de
Wnitefield, John Wesley era um pregador por poucos igualado quanto ao efeito
sobre o povo - sincero, prático, destemido. Atacado, principalmente no início de seu
ministério, e freqüentemente em risco diante da violência popular, não se assustava
com perigo algum, nenhum distúrbio o abatia. Sob sua pregação, como sob a de
Whitefield, eram freqüentes as notáveis manifestações físicas. Homens e mulheres
choravam, desmaiavam, tinham convulsões. Aos dois pregadores isto pareciá obra
do Espírito de Deus ou a resistência visível do diabo. Estas manifestações, e o desa­
grado que freqüentemente despertavam, foram responsáveis por grande parte da
oposição que esses pregadores encontravam por parte do clero regular.
Os dons de John Wesley como organizador eram notáveis. Porém, a criação do
metodismo foi gradual - sendo uma adaptação dos meios às circunstâncias. Em 1739,
em Bristol, ele fundou sua primeira "sociedade" realmente metodista e lá também
começou a edificação da primeira capela, a 12 de maio desse ano. No fim desse
mesmo ano adquiriu em Londres uma velha fundição que se tornou a primeira cape­
la naquela cidade.
Até então, em Londres, os metodistas se haviam unido à sociedade rnorávia Fetter­
Lane, mas os ideais de Wesley, no entanto, o estavam afastando do rnoravianismo.
Esta separação agravou-se quando, em outubro de 1739, Philipp Heinrich Molther
(1714-1780), recém-enviado por Zinzendorf, afirmou em Fetter-Lane que se alguém
tinha dúvidas não possuía verdadeira fé e devia abster-se dos sacramentos e da ora­
ção, aguardando em silêncio que Deus renovasse sua esperança religiosa. Tal ensino
encontrou pouca simpatia diante da esforçada atividade de Wesley. A Sociedade Fetter­
Lane dividiu-se. Wesley e seus amigos se retiraram, e a 23 de julho de 1740 funda­
ram na fundição urna "Sociedade Unida", puramente metodista. Wesley continuou
amigo de alguns rnorávios, mas desde então os dois movimentos ficaram separados
um do outro.
Wesley não tinha desejo nem intenção de romper com a igreja da Inglaterra. Por
isso não fundava igrejas, mas usava o expediente das antigas sociedades religiosas,
PERIODO VII O CRISTIANISMO MODERNO

que agora consistiam apenas de pessoas convertidas. Estas sociedades estavam dividi-­
das em "bandas" ou grupos desde o início, para o cultivo mútuo da vida cristã. Este
era um expediente morávio, mas a experiência logo ensinou a Wesley algo mais efici­
ente. Pouco após a organização da sociedade de Bristol, Wesley adotou o plano de
conceder "carteiras da sociedade" àqueles que considerava suficientemente capacita­
dos a serem membros plenos e a receber outros cm caráter probatório. Tais carteiras
eram renovadas trimestralmente e proporcionavam uma maneira rápida de joeirar a
sociedade. A dívida sobre a capela de Bristol levou a um arranjo ainda mais impor­
tamc. Em 15 de fevereiro de 1742 os membros foram divididos em "classes" de cerca
de doze pessoas, cada classe tendo um líder encarregado de coletar semanalmente um
penny de cada membro. Esse sistema foi introduzido em Londres a 25 de março.
Suas vantagens para a supervisão espiritual e mútua vigilância de imediato foram
mais evidentes do que seus méritos financeiros. E pronto se tornou um dos traços
característicos do metodismo, ainda que as antigas "bandas" também continuassem
por bastante tempo.
Wesley preferia que todos os pregadores fossem ordenados, mas poucos dentre os
clérigos simpatizavam com o movimento. Desde 1738 Joseph Humphreys, um pre­
gador leigo, o auxiliava, mas o emprego de leigos não foi grande até 1742, quando
Thomas Maxfield começou regularmente esse trabalho, que logo ocupou muita gen­
te. Com o crescer do movimento surgiram outros oficiais leigos: "mordomos" para
cuidar das propriedades, mestres para as escolas, "visitadores de enfermos" para a
visitação de doentes. No princípio Wesley percorria todas as sociedades, localizadas
mormente nas regiões de Londres e Bristol. Entretanto, logo a tarefa se tornou gran­
de demais. Em 1744 ele reuniu os pregadores em Londres - o que foi a primeira das
"conferências anuais". Dois anos após o campo foi dividido em "circuitos", com
pregadores itinerantes e dirigentes mais fixos para "ajudarem principalmente num
lugar". Em pouco, um "assistente", depois chamado "superintendente", foi encarre­
gado de cada "circuito". Através de apropriadas publicações, Wesley se esforçou por
auxiliar o desenvolvimento intelectual de seus pregadores leigos, procurando que
estudassem na medida do possível. Foi em vão que buscou obter para eles ordenação
episcopal; mas não permitiu que homens não ordenados administrassem os sacra­
mentos.
Ainda que teologicamente Wesley permanecesse sobre a base comum da tradicio­
nal doutrina evangélica e considerasse suas sociedades como integrantes da igreja da
708 HISTÓRIA DA IGREJA CPISTÃ

Inglaterra, duas questões conduziram a enorme controvérsia. Uma foi sobre a perfei­
çáo. Wcsley cria ser possível que um cristáo alcançasse retos motivos governantes - o
amor a Deus e ao próximo - e que tal alcance traria libertação do pecado. Con­
forme o cauto e sóbrio critério de Wesley, isso era um alvo antes que um resulta­
do obtido com freqüência - diferente do que julgavam alguns de seus seguidores.
Ninguém foi mais positivo do que ele de que a salvaçáo se evidencia em uma
vida de obediência ativa, zelosa, à vontade de Deus.
A segunda disputa referiu--se à predestinação. Wesley, como no geral a igreja
da Inglaterra de seu tempo, era arminiano. Porém, herdara dos pais uma antipa­
tia especial em relação ao calvinismo, o qual lhe parecia restrito ao esforço mo­
ral. Whitefield era calvinista. De 1740 a 1741 houve uma troca de cartas can­
dentes entre os dois evangelistas. Não obstante, as boas relações pessoais entre
ambos não demoraram a ser restabelecidas quase plenamente. Whitefield encon­
trou apoio, em 1748, em Selina, Condessa de Huntingdon (1707-1791), viúva
rica, convertida ao metodismo, mas possuidora de forte caráter dominante para
permitir a direção insistente de Wesley. Quis ela ser o seu próprio Wesley e,
como ele, fundou e supervisionou sociedades e capelas - a primeira em Brighton,
em 1761 - iniciando assim a "Conexão de Lady Huntingdon". Ela mesma no­
meou Whitefield seu capelão. Sua "Conexão" era calvinista. Em 1769 a contro­
vérsia sobre a predestinação renovou-se com intensidade. Na conferência de 1770
Wesley assumiu forte posição arminiana e foi defendido por seu dedicado discí­
pulo, o suíço John William Fletcher (1729-1785), que se estabelecera na Ingla­
terra e aceitara um cargo na igreja oficial, em Madeley, onde fez obra notável. O
resultado da controvérsia foi confirmar o caráter arminiano do metodismo
wesleyano. No entanto, a "Conexão de Lady Huntingdon de metodistas
calvinistas deve ser considerada como um movimento paralelo, não hostil. Seu
espírito fundamental era essencialmente o mesmo dos irmãos Wesley.
O metodismo wesleyano cresceu consideravelmente. John tinha muitos ami­
gos e assistentes, mas poucos íntimos com os quais pudesse compartilhar suas
responsabilidades. Seu irmão Charles o acompanhara por algum tempo em suas
viagens, mas não tinha a constituição de ferro de John. Charles raramente viajou
depois de 1756. Trabalhou em Bristol e de 1771 até sua morte, em 29 de março
de 1788, pregou em Londres. Sempre foi mais conservador e anglicano que John.
Sua grande obra foi escrever hinos, não apenas para o metodismo mas para toda
PERIBDD VII O CRISTIANISMO MODERNO 709

a cristandade de língua inglesa. Em 1751 John casou-se com a viúva Mary Vazeille
e fez um consórcio infeliz. Então se dedicou de maneira ainda mais irrestrita ao
seu trabalho. E sobre todas as diversas preocupações do metodismo exerceu au­
toridade sábia mas absolura. Naturalmente, conforme as sociedades cresciam e
se multiplicavam os pregadmes, aumentava a pressão para a concessão de autori­
dade para a administração dos sacramentos. A isto Wesley resistiu por muito
tempo, mas como eram poucos os homens ordenados por via episcopal, a força
dos eventos tornou esta pressão irresisrível, apesar da insistência de Wesley de
que seu movimento estava no interior da igreja oficial.
Wesley granjeou muitos simpatizantes que permaneceram na igreja oficial da
Inglaterra. Tais anglicanos evangélicos concordavam no geral com sua ênfase re­
ligiosa - conversão, fé confiante, vida religiosa demonstrada em obras ativas a
favor dos outros. Por outro lado, adotavam pouco dos seus métodos peculiares e,
no geral, se distinguiam teologicamente por um moderado calvinismo mais que
pelo arminianismo. Whitefield era o pai espiritual de muitos deles. Não muito
bem organizados, se desenvolveram no partido evangélico dentro da igreja da
Inglaterra. Pioneiro nesse rumo foi William Grimshaw (1708-1763), vigário de
Haworth, que passou pela experiência da conversão em 1734, a qual o transfor­
mou e o levou ao caminho evangélico. Manteve-se em boas relações com Wesley
e W hitefield. Notável entre os evangélicos foi John Newton (1725-1807), ex­
comandante de navio negreiro. Convertido, se tornou dos mais prestimosos pre­
gadores, primeiro em Olney e depois como pároco de Saint Mary Woolnoth, em
Londres. Seus hinos demonstram sua fé alegre e confiante. Outro evangélico
renomado por seus hinos foi Augustus Toplady (1740-1778), autor de "Rocha
dos Séculos".
Thomas Scott (1747-1821), sucessor de Newton em Olney, ficou mais co­
nhecido por sua Bíblia da Família com Anotações, um comentário de imensa
popularidade em ambos os lados do Atlântico. Richard Ceei! (1748-1810), no
fim da vida foi um dos mais influentes pregadores em Londres. Joseph Milner
(1744-1797), fez de Hull um baluarte evangélico e teve muita influência por
meio de sua História da Igreja de Cristo, continuada após sua morte por seu
irmão Isaac. Nesta obra deu ênfase ao desenvolvimento das biografias cristãs
mais que às disputas dentro do cristianismo. Isaac Milner (1750-1820) foi por
muito tempo professor em Cambridge e ajudou a dar o tom grandemente evan-
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/) HISTÓRIA DA IGREJA CRISlÃ

gélico assumido por essa universidade, trabalho continuado ali por Charles Simeon
(1759-1836).
Não faziam parte das fileiras clericais vJrios que foram instrumentos para a
difusão das idéias evangélicas. Um destes foi William Cowper (]731-1800), o maior
dos poetas ingleses da metade final do século dezoito e amigo íntimo de Newton.
Com Hannah More ( 17 4 5-1833) o evangelismo teve uma defensora pessoalmente
relacionada com os meios lirer;irios, artísticos e tearrais de Londres. Foi escritora de
tratados e estórias de grande popularidade e filantropa generosa e abnegada.
Os anglicanos evangélicos permaneceram dentro da igreja da Inglaterra, mas
as duas correntes metodistas por fim dela se separaram. Em 1779 a Condessa de
Huntingdon e seus companheiros saíram da igreja da Inglaterra; e com o tempo
a conexão se tornou na Igreja Metodista Galesa. Os metodistas wesleyanos sepa­
raram-se da igreja oficial aos poucos e, por fim, somente após a morte de John
Wesley (1791), que desejava que seus seguidores evitassem a separação. Porém,
tinham sido dados dois importantes passos em 1784. Em 28 de fevereiro, por
um "Ato de Declaração" Wesley cuidou para que o movimento continuasse após
sua morte, nomeando uma "Conferência" de cem membros para zelar pelas pro­
priedades e assumir a direção do movimento. Foi um passo adiante na direção
do autogoverno do metodismo. Em 1° de setembro Wesley juntou-se a outros
presbíteros da igreja da Inglaterra para ordenar presbíteros e um superintenden­
te para a América (ver VII: 1 O). Na verdade, isso foi uma ruptura com a igreja da
Inglaterra, ainda que Wesley não tenha considerado dessa forma. A separação
final dos metodistas wesleyanos está, talvez, melhor assinalada pelo "Plano de
Pacificação", de 1795, que estabilizou a então igreja independente.
Wesley conservou suas forças e se manteve em contínua atividade quase até o
fim. Faleceu em Londres a 2 de março de 1791, tendo feito uma obra que revo­
lucionou profundamente a condição religiosa das classes inferior e média da
Inglaterra e ainda de modo mais amplo afetou a América.
Na Escócia, as separações reais da igreja presbiteriana oficial ocorreram mui­
to mais cedo, principalmente em virtude do sistema "patronal" pelo qual o patrono
podia forçar a nomeação de um ministro para uma congregação relutante (ver
VI: 16). Em 1733 Ebenezer Erskine, de Stirling, denunciou tal limitação do po­
der de escolha do ministro por parte da congregação. Seu sínodo o disciplinou,
e ele e vários companheiros foram depostos pela Assembléia Geral, em 1740.
PERIDBD VII O CKIS 111\NlllMU MUUtHNU ,li

Antes de se completarem tais penalidades cle.s fundaram a primeira igreja livre


escocesa, por fim conhecida como Igreja Separada. Ela cresceu rapidamente, mas
logo foi tumultuada pela questão se os eleitores das cidades escocesas poderiam
jurar apropriadamente apoiar "a verdadeira religião ... autorizada pelas leis" da
Escócia. Em 1747 a Igreja Separada se dividiu em duas partes: Anti-Eleitoral ou
"Nonjuror" e eleitoral. Mais tarde ocorreram subdivisões, mas cm 1820 muitos
dos Anti-Eleitorais e dos eleitorais se uniram na Igreja Separada Unida.
A questão do padroado continuou trazendo dissensões. Thomas Gillespie
( 1708-I774), de Carnock, recusou participar na instalação de um ministro numa
congregação recalcitrante. Então, em 1752, foi deposto pela Assembléia Geral.
Em 1761 ele e os ministros que o acompanhavam fundaram a instituição que
veio a ser a Igreja do Alívio. Estas várias divisões conseguiam apoio popular,
especialmente entre os espíritos mais sinceros. Por volta de 1765 se contavam
cento e vinte congregações e cem mil aderentes.
Estas circunstâncias roubaram da igreja oficial boa parte de sua vitalidade
espiritual. O pensamento racionalista penetrou na Escócia com o decorrer do
século dezoito, assim como na Inglaterra e na Alemanha. Não deixaram de ter
influência as especulações de Hume (ver VII:3). O resultado foi o desenvolvi­
mento do assim chamado moderarismo, que dominou na última metade do sé­
culo dezoito e também influiu no seguinte. Para os moderados em geral o cristi­
anismo era em grande medida ético ao invés de fortemente experimental ou dou­
trinário. Acreditava-se que o sistema do padroado favorecesse a indicação dos
moderados, uma vez que as congregações normalmente escolheriam homens de
tipo mais evangélico. Pois de forma alguma a totalidade do espírito do
desperramento se encontrava apenas nas organizações separatistas da Escócia.
Dentro da igreja oficial também havia um partido "Popular" no qual existia
forte tendência evangélica; John Witherspoon (1723-1794), que mais tarde se
tornou presidente de Princeton (1768), escreveu sua poderosa sátira Caracterís­
ticas Eclesiásticas (1753) contra os moderados. Foram porém, estes últimos quem
dominaram a Igreja da Escócia nas décadas finais do século dezoito; em alguns
aspectos as divisões apenas fortaleceram seu domínio.
7p HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

Capítulo 8

O Grande Despertan1ento

O movimento de maior influencia e o mais transformador na vida religiosa da


América no século dezoito foi o Grande Desperramento, um reavivamento c}llt' teve
muitas Cises e se estendeu por mais de cinqüenta anos. Iniciado num tempo em que
os modelos tradicionais cristãos niío demonstravam muita eficácia, e numa época de
expansão do racionalismo e de confusáo cultural, o despcrtamento não apenas levou
a tré'mendo impulso da vida crisrã, mas ainda transformou os conceitos sobre a ma­
neira de se entrar nessa vida de tal modo que afetou profundamente a maioria das
igrejas americanas. Neste aspecto o Grande Despertamento foi análogo ao pietismo
na Alemanha e do despertamento evangélico na Grã-Bretanha. Enfatizou uma mu­
dança transfrlrmadora, regenerativa, uma "conversão", como a maneira normal de
entrada na igreja. Difundiu amplamente uma noção de igreja que enfatiza sua im­
portância como um grupo de cristãos que tiveram a experiência da conversão; a
atenção primeira não estava no preparo cristão. Moralidade estrita e piedade sincera
caracterizaram o movimento como um todo. Sua influência difundiu uma compre­
ensão evangélica de religião não apenas entre igrejas diretamente afetadas mas tam­
bém entre outras denominações, embora em todo canto o movimento fosse conside­
rado controverso. Ao fornecer novas compreensões da autoridade religiosa e novos
princípios de ação, o Grande Despertamento ajudou as comunidades protestantes a
se ajustarem às realidades de seu tempo e fornecerem uma nova apologia da fé diante
dos desafios da religião racional. Sob sua influência, a vida educacional foi estimula­
da e novas faculdades foram fundadas. Sendo um movimento intercolonial, o
despertamento ajudou a colocar as colônias em relação mais íntima e assim indireta­
mente auxiliou no preparo do caminho para a Revolução Americana.
Os primeiros sinais do Grande Despertamento surgiram na década de 1720 nas
congregações da Igreja Reformada Holandesa no Vale do Raritan, em Nova Jersey.
Formalismo e perda de vitalidade caracterizavam muitas das congregações reforma­
das; muitos dos holandeses se satisfaziam em considerar suas igrejas como símbolos
de sua nacionalidade e herança. Mas um jovem pastor, Theodore J. Frelinghuysen
(1691-1748), que se familiarizara com as ênfases puriunas na Holanda, onde fr,ra
PEHIOOO VII O CRISTIANISMO MODERNO 71.1

educado e ordenado, desafiou seu povo a encontrar um conhecimento da fé crista


mais profundo, mais experimental. Embora seu próprio papel positivo como des­
pertador náo esteja totalmente daro, um movimento de reavivamento surgiu nas
igrejas sob seu cuidado e chamou muita atenção. Frclinghuysen recebeu convites
para pregar em vários lugares. Houve quem adotasse a mensagem de reavivamento e
muitos novos membros foram trazidos às igrejas. Mas muitos não gostaram do ardor
e do emocionalismo do reavivamento e a ele se opuseram; os pastores de Nova Iorque
ficaram particularmente pcrmrbados. Apesar da oposição de alguns, no entanto,
ondas de reavivamento contimuram a influenciar as igrejas reformadas holandesas
por muitos anos.
Entre os atraídos pelo despertamcnto havia um grupo de líderes presbiterianos.
William Tennent, Sr. (1673-1745), homem de convicções puritanas, preparara al­
guns jovens para o pastorado, incluindo três de seus quatro filhos. Sua obra educaci­
onal se expandiu de tal maneira que ele acabou fundando cm 1736 o Log College· ao
norte de Filadélfia - um dos predecessores de Princeton. Seu filho Gilbert (1703-
1764) adotou a perspectiva do reavivamento e, como pastor presbiteriano em Nova
Brunswick, se tornou a figura central de um movimento de despertamento em sua
denominação. Nessa época havia dois fortes grupos no presbiterianismo-um repre­
sentando a preocupação do puritanismo inglês quanto à fé experimental, o outro a
insistência escoro-irlandesa sobre a doutrina correta. O grupo de Tennent acentuava
as ênfases puritanas, mas se encontrava no território onde dominava o outro ponto
de vista. Então, em 1738, o grupo organizou o seu próprio presbitério, o de Nova
Brunswick. O "Lado Antigo" excluiu do sínodo este presbitério "Lado Novo", e
desde 1745 o presbiterianismo ficou dividido em dois sínodos: o de Nova Iorque,
representando ênfases puritanas e reavivalistas, e o de Filadélfia, aderindo às idéias
escoro-irlandesas e exigindo que seus ministros subscrevessem a Confissão de
Westminster. A tendência da época favoreceu o crescimento do Lado Novo; a arden­
te pregação de George Whitefield durante suas viagens pela América (ver VII:7)
auxiliava em muito aos reavivalistas. Quando o presbiterianismo se reunificou em
1758, o grupo do despertamento tinha modificado algumas de suas posições mais
extremadas, mas assegurara um lugar para si na vida da igreja. Assim o despertamento,
sendo tão controverso a ponto de dividir uma denominaçáo durante alguns anos,

*N.T. Urna escola com currículo restrito.


.,· n DISTliRIA DA IGREJA CRISTÃ

deixou suas marcas permanentes nela.


O Grande Despertamento chegou a Nova Inglaterra quando um reavivamento
notável varreu a cidade de Northampton, Massachusetts, em 1734-35. Chamou muita
atenção, especialmente quando seu líder, Jonathan Edwards (1703-1758), pastor em
Northampton, descreveu-o num clássico reavivalista - Narmtivtlfiel da surpreendente
obm de Deus convertendo muit,1s centenas de almas... ( 1737). O reavivamento irrompeu
novamente em ] 739, espalhando-se amplamente na Nova Inglaterra. Os líderes
congregacionais foram auxiliados no trabalho por Gilberr Tennent e George
Whitefield, este último então no auge de seu entusiasmo juvenil. Por toda parte
multidões se amontoavam para ouvi-lo; seus sermões provocavam desmaios e grita­
ria. Conforme o despertamento se disseminava, centenas de pessoas eram transfor­
madas para sempre. A condição espiritual de muitas comunidades era modificada.
Mas o despertamento na Nova Inglaterra foi tão controvertido como aquele ocorri­
do nas colônias centrais. Whitefield freqüentemente considerava como não conver­
tidos aqueles que não concordavam com ele, e alguns que foram influenciados por
ele tornaram-se ainda mais censuradores e impiedosos. O reavivamento foi pertur­
bado ainda mais pelas atividades divisionistas do instável James Davenport (1716-
1757), que pregava discursos prolixos, vazios, sem preparo, nos quais atacava, citan­
do nomes, muitos dos ministros dirigentes, considerando-os como não convertidos.
Formaram-se igrejas congregacionais separadas. Em protesto, as "Velhas Luzes", sob
a liderança do pastor da Primeira Igreja de Boston, Charles Chauncy (1705-1787),
atacou as "Novas Luzes", que viam nos reavivamentos uma obra de Deus. A reação
contra o despertamento contribuiu para a difusão do arminianismo e, por fim, do
pensamento unitário entre o congregacionalismo. Foi tamanha a reação contra o
reavivamento que depois da metade do século o despertamento já não era mais uma
força potente nas igrejas congregacionais oficiais, embora continuasse bastante forte
entre os batistas, que então estavam se espalhando rapidamente na Nova Inglaterra,
aproveitando-se grandemente dos exemplos do despertamento.
O Grande Despertamento espalhou-se também nas colônias do sul, contribuin­
do ali para o desenvolvimento dos grupos dissidentes. Nas décadas de 1740 e 1750 o
presbiterianismo se difundiu rapidamente na Virgínia e no sul, principalmente pela
ardente pregação de Samuel Davies (1723-1761). Logo depois de 1750, foram inici­
ados, através de reavivalistas da Nova Inglaterra, reavivamentos entre os batistas na
Virgínia, os quais, diante da resistência dos batistas regulares, organizaram muitas
·.� I '1
PERiUHO VII O CRISTIANISMO MODERNO

igrejas batistas separadas. Estes reavivamentos provocavam elevado entusiasmo emo­


cional, e as pcrseguiçôes por parte das autoridades coloniais serviam apenas para
incrementar a causa. Embora seja verdade que se possa dizer que o Grande
Despertamento, enquanto fenômeno intercolonial de grandes proporções, tenha ter­
minado quando os interesses da revolução tornaram-se muito absorventes, nos mei­
os batista e metodista os traços do despertamento continuaram muito fortes.
O metodismo demorou a chegar na América - a obra não começou antes de
1766. Por volta desse ano P hilip Embury (1728-1 T73) e Robert Strawbridge (?-
1781) começaram atividades metodistas cm Nova Iorque e Maryland, respectiva­
mente. Um dos primeiros dentre os vigorosos pregadores leigos foi o capitão do
exército britânico Thomas Webb (1724-1796). Em 1769 Wesley enviou o primeiro
dos oito mission:írios leigos oficialmente nomeados. O único deles que permaneceu
ativo no metodismo americano durante e após a revolução foi Francis Asbury (1745-
1816). Durante a década de 1770 o metodismo cresceu rapidamente principalmente
em Maryland e Virgínia, como um movimento de sociedades frouxamente ligadas à
igreja da Inglaterra, exatamente como na mãe pátria. Em 1773 foi realizada em Fila­
délfia a primeira conferência metodista americana. O crescimento continuou duran­
te a revolução e diversos pregadores leigos nativos ingressaram no movimento.
Exceto nas sociedades metodistas, houve pouco interesse nas igrejas episcopais no
despertamento. No sul, a corrente racionalista era forte (latitudinarianismo), no norte
a tendência alta-igreja dos missionários da Sociedade Propagadora do Evangelho não
era receptiva ao reavivamento. O mais importante episcopal evangélico foi Devereux
Jarratt (1733-1801), pároco em Virgínia, que fora convertido pela pregação da Nova
Luz presbiteriana mas que se ligara à igreja da Inglaterra porque Wesley e Whitefield
estavam nela. Ele auxiliou sobremaneira as sociedades metodistas antes de elas se
organizarem como igreja independente, em 1784.
As organizações luteranas não foram afetadas muito diretamente pelo Grande
Despertamento. Seu crescimento nesse período foi devido principalmente à afluên­
cia de colonos germânicos. Havia entre eles, porém, considerável sentimento pietista.
Seu preeminente líder, Henry Melchior Muhlenberg (1711-1787), fora estimulado a
vir às colônias pelos dirigentes de Halle. Ele representava um equilíbrio entre as
ênfases pietista e ortodoxa, e era ativo na organização de novas igrejas entre os ale­
mães luteranos, os quais se haviam tornado o maior grupo religioso na Pennsylvania
nos meados do século dezoito. Em 1748 organizou o primeiro sínodo luterano a ter
71 <> HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

existência permanente. O espírito pietista esteve muito mais em evidência entre al­
gumas das organizações alemãs menores.
Das discussões provocadas pelo Grande Despertamento surgiu na Nova Inglater­
ra a contribuição mais considerável que a América do século dezoito fez à teologia -
a obra de Jonathan Edwards e sua escola. Nascido cm l 703 no lar de um pastor, em
Connecticut, Edwards se graduou em Yale, em 1720. Após rápido pastorado
presbiteriano em Nova Iorque, tornou-se tutor em Yale. Em 1727 tornou-se pastor
associado em Northampton, depois pastor titular quando morreu seu avô, Solomon
Stoddard ( 1643-1729). Intelectualmente brilhante, Edwards lia amplamente as obras
filosóficas e científicas de sua época, mergulhando nos escritos de Lockc e Newton.
Cedo convencido da clássica ênfase calvinista na soberania de Deus e na predestinação,
Edwards firmou corajosamente sua posição teológica, usando como grãos para o seu
moinho as mais recentes descobertas da Idade da Razão. Líder nos reavivamentos,
ele defendia aquilo que sentia ser o verdadeiro reavivamento, ou seja, uma obra de
Deus, contra aqueles que, de um lado, rejeitavam todo emocionalismo em religião e
os que, de outro, o exploravam. Em 1746 apareceu o Tratado a Respeito das Emoções
Religiosas, uma defesa teológica do que Edwards cria ser genuíno reavivamento. Nes­
ta obra ele utilizou noções psicológicas, em parte derivadas de Locke. Pastor e eclesi­
ástico, era defensor dos mais altos padrões para os membros da igreja, crendo que
somente os santos - os verdadeiramente eleitos - deveriam ser membros em plena
comunhão. Quando agiu tendo como base esta convicção, não mais permanecendo
na posição mais frouxa, foi demitido de seu púlpito em 1750. Isto a despeito do
cuidadoso tratado sobre o assunto, aparecido no ano anterior, Qualificações Requeridas
para a Plena Comunhão.
Então Edwards se tornou missionário entre os índios, em Stockbridge,
Massachusetts, onde achou tempo para dedicar seus conhecimentos teológicos e fi­
losóficos à defesa do calvinismo contra o arminianismo, termo sob o qual caracteri­
zava as tendências teológicas liberais do século dezoito. Em seu Tratado Sobre o Arbí­
trio (1754) sustentou que conquanto todos os homens tenham capacidade natural
para se voltarem para Deus, falta-lhes capacidade moral - isto é, a inclinação - para
fazê-lo. Esta inclinação determinante é o dom transformador da graça de Deus, em­
bora sua falta não seja desculpa para o pecado. Teólogo sistemático, Edwards plane­
jou uma obra maciça apresentando por completo sua posição. Na realidade, termi­
nou apenas uns poucos fragmentos dela, embora alguns de seus tratados anteriores
PERIDUO VII D CRISTIANISMO MODERNO li?

devessem, aparentemente, ser encaixados nela. Um dos fragmentos foi A Natureza da


Verdadeira Virtude, publicado postumamente, em 1765. Segundo seu pensamento,
virtude é amor ao Ser inteligente cm geral. Mas Deus possui infinitamente a maior
parcela da existência, ele é infinitamente o maior Ser. Assim, a verdadeira virtude
deve consistir essencialmente e radicalmente no supremo amor a Deus. 'làl virtude
verdadeira não pode ser encontracL. arravés da razão e do entendimento, pois é feita
de afei�:ões e disposições; ela surge da ascendência da suprema paixão, amor, sobre 0
amor a si próprio. "Benevolência desinteressada" é uma de suas provas, e é totalmen­
te um dom de Deus. Mas a obra sistemática de Edwards ficou incompleta. Convoca­
do a ocupar a presidência de Prino.:ton, submeteu-se à vacinação durante uma epide­
mia de varíola, contraiu a doença e morreu poucas semanas depois de assumir o
cargo.
As idéias de Edwards foram defendidas por um grupo de seus seguidores: Joseph
Bellamy (1719-1790), Samuel Hopkins (1721-1803), Jonathan Edwards, Jr. (1745-
1801) e Nathaniel Emmons (1745-1840). Estes teólogos eduardianos deram o tom
da discussão teológica na Nova Inglaterra por muitas décadas; eles continuaram a
debater as questões que Edwards havia suscitado, polemizando com os velhos
calvinistas, seguidores da teologia federal ou pactua!. Embora os eduardianos fossem
eruditos competentes e trabalhadores esforçados, faltavam-lhes a criatividade poéti­
ca e a amplitude de perspectivas que caracterizaram o mestre. Hopkins, particular­
mente, lidou com algumas das posturas eduardianas com lógica inflexível. Porém, ao
acentuar o tema da "benevolência desinteressada", inconscientemente preparou o
caminho para algumas das mudanças teológicas do século dezenove. Embora a obra
desses eduardianos tenha ocorrido depois que o Grande Despertamento alcançara
seu ápice nas igrejas congregacionais da Nova Inglaterra, eles verdadeiramente apre­
sentaram e defenderam um calvinismo evangélico que foi influente nos desenvolvi­
mentos posteriores na América (ver VII: 15).
A experiência americana de despertamento teve certa influência no Canadá. Um
Grande Despertamento emergiu na Nova Escócia na década de 1770, em continua­
ção histórica com os congregacionais separatistas de Connecticut, vários dos quais
haviam migrado para a província mais ao norte. Esse despertamento foi liderado por
um homem de Rhode Island que fora para a Nova Escócia ainda menino, Henry
Alline (1748-1784). Familiarizado com os relatos clássicos de conversão nos escritos
puritanos evangélicos, ele respondeu ao chamado para pregar imediatamente após
/ ("l DlillURlft UR lblttdA lilllilll

sua própria experiência de convicção em 1775. Ele elaborou urna "teologia de


despertamento" distinta, a qual proclamava em viagens de pregação itinerante, pro­
vocando intensa resposta, especialmente entre a classe dos trabalhadores. As idéias de
Alline sobre a igreja foram marcadas decisivamente pelo congrcgacionalismo separa­
tista; porém, as congregações da Nova Luz que resultaram de seus esf-orços reavivalistas
não se mostraram estáveis, e algumas, corno suas similares cm Connecticut, foram
mais tarde reconstituídas como igrejas batistas. Assim, na Nova Escócia como na
Nova Inglaterra, os batistas freqüentemente ce ifaram a seara do Grande
Despertamento.

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