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No mesmo ano em que Cristóvão Colombo e sua tripulação empreenderam sua jornada, os
reis católicos da Espanha (Isabella I de Castela e Fernando II de Aragão) deram efeito ao Decreto
da Alhambra, no qual anunciaram a expulsão de judeus do território espanhol, depois da
reconquista católica do então emirado de Granada (mais tarde editais semelhantes a cidadãos
muçulmanos). Os judeus que se converteram à fé católica, comumente chamados de convertidos,
podiam evitar o exílio, mas eram proibidos de emigrar para as colônias americanas. Mesmo assim,
alguns registros históricos documentam como alguns convertidos embarcaram nessas viagens,
possivelmente em uma tentativa de evitar a perseguição a que estavam sujeitos em seu país.Por
outro lado, a emigração dos sefaraditas para o Brasil a partir de Portugal, tem uma história
diferente.
Mais de 60 mil judeus espanhóis refugiam-se em Portugal após o Decreto de Alhambra,
onde a conversão forçada com o aparecimento dos chamados “cristãos-novos” ocorre apenas em
1497. Muitos destes cristãos-novos emigraram ao Brasil especialmente para a região Nordeste.
Diversos historiadores concordam que em torno de 30% dos imigrantes portugueses para o Brasil
entre os séculos XVI e XVII eram cristãos-novos.
Por meio de análises genéticas sofisticadas, este estudo está ajudando a superar algumas das
limitações impostas pelos registros históricos e, consequentemente, a entender melhor o impacto
dessas migrações. "Até muito recentemente, os métodos estatísticos e informações genéticas
disponíveis não nos permitiam estudar os processos de mistura genética na América Latina além
das contribuições gerais de populações com diferentes origens continentais", diz Andrés Ruiz-
Linares, líder do Consórcio CANDELA e um dos responsáveis desta investigação. "Muitos estudos
descreveram amplamente a mistura de europeus, africanos subsaarianos e nativos americanos que
caracteriza a região, mas as origens específicas e a possível contribuição de outras populações estão
apenas começando a ser compreendidas.
"As populações atuais que mais se parecem com os ancestrais de muitos latino-americanos estão
assentadas no sul da Espanha, provavelmente perto dos portos de onde os navios partiram", diz
Garrett Hellenthal, o outro responsável por este estudo. "Também encontramos grandes
quantidades de ancestrais alemães e italianos no sul do Brasil, bem como DNA do leste da Ásia em
diferentes partes do continente, mostrando uma consistência clara com registros históricos."
A Profa. Lavínia Schüler-Faccini (que coordena junto com a Profa. Maria Cátira Bortolini
da UFRGS o CANDELA-Brasil) comenta: “A história da colonização do Brasil inclui uma forte
influência portuguesa. Nossos dados estão em sincronia ao mostrar que o Tratado de Tordesilhas,
assinado em 1494, na verdade nunca foi respeitado pelos lusitanos e brasileiros, que expandiram sua
área progressivamente para o interior do continente. As incursões dos bandeirantes, desbravando o
interior do Brasil, criavam povoamentos, muito além do Tratado de Tordesilhas. Isto levou à
assinatura do Tratado de Madrid em 1750, com o objetivo de resolver o litígio entre Espanha e
Portugal com relação aos limites de suas colônias na América do Sul. Muito mais tarde, imigrantes
de outras partes da Europa se estabeleceram no Brasil, com um predomínio de alemães e italianos
na Região Sul, durante o período imperial no século XIX. Esta contribuição genética também
aparece no estudo.”