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A DUAS FLORES (Castro Alves) Beijo eterno (Castro Alves)

São duas flores unidas, Quero um beijo sem fim,


São duas rosas nascidas Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Talvez no mesmo arrebol, Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Vivendo no mesmo galho, Beija-me assim!
Da mesma gota de orvalho, O ouvido fecha ao rumor
Do mesmo raio de sol. Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Unidas, bem como as penas Só para o meu amor!
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu... Fora, repouse em paz
Como um casal de rolinhas, Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Como a tribo de andorinhas Ou se debata, das tormentas presa,
Da tarde no frouxo véu. Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Unidas, bem como os prantos, Sinto em meu peito de teu seio,
Que em parelha descem tantos Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Das profundezas do olhar... Com o mesmo ardente amor!
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto, ...
Como as estrelas do mar.
Diz tua boca: "Vem!"
Unidas... Ai quem pudera Inda mais! diz a minha, a soluçar... Exclama
Numa eterna primavera Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
Viver, qual vive esta flor. "Morde também!"
Juntar as rosas da vida Ai! morde! que doce é a dor
Na rama verde e florida, Que me entra as carnes, e as tortura!
Na verde rama do amor! Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim,


Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
A Escravidão (Tobias Barreto)
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Se Deus é quem deixa o mundo
Só para o meu amor!
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres, Victor Hugo (Tobias Barreto)
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo Mostras na fonte os estragos
Maior que a religião. Dos raios que a sorte tem;
Na falange dos teus Magos
Se não lhe importa o escravo Tu és um mago também.
Que a seus pés queixas deponha, Joelhas, quebro da idéia,
Cobrindo assim de vergonha Ante a luz que bruxuleia
A face dos anjos seus, Dos futuros através!
Em seu delírio inefável, Por grande, os teus te renegam;
Praticando a caridade, Cem anátemas fumegam
Nesta hora a mocidade Sufocados a seus pés...
Corrige o erro de Deus!...
O estilo d'oiro que empunhas,
Foi o Senhor quem t'o deu.
Leva a águia a presa nas unhas,
Ninguém lhe diz: isto é meu!
Estrelas, mundos, idéias,
Bíblias, monstros, epopéias,
Tudo que empolga é teu...
Cabeça que pesa um astro
Na mente de Zoroastro,
Na mão de Ptolomeu!
O Guesa - Canto Terceiro (Sousândre) O Amazonas (Gonçalves Magalhães)

As balseiras na luz resplandeciam — Baliza natural ao norte avulta


O das águas gigante caudaloso,
oh! que formoso dia de verão!
Que pela terra alarga-se vastíssimo;
Dragão dos mares, — na asa lhe rugiam
Do oceano rival, ou rei dos rios,
Vagas, no bojo indômito vulcão! Se é que o nome de rei o não abate;
Sombrio, no convés, o Guesa errante Pois mais que o rei supera em pompa e brilho
De um para outro lado passeava No sólio, à multidão em torno curva,
Mudo, inquieto, rápido, inconstante, Supera o Amazonas na grandeza
E em desalinho o manto que trajava. A quantos rios há grandes no mundo!
O Kiang, o Nilo, o Volga, o Mississipe
A fronte mais que nunca aflita, branca
Inda que as águas suas reunissem,
E pálida, os cabelos em desordem, Com êle competir não poderiam.
Qual o que sonhos alta noite espanca, Ao lado seu direito, e ao esquerdo lado,
"Acordem, olhos meus, dizia, acordem!" Mil feudatários rios vêm pagar-lhe
E de través, espavorido olhando Tributo perenal de suas águas.
Com olhos chamejantes da loucura, Ressupino gigante se afigura,
Propendia pra as bordas, se alegrando Qual outro Briaréu, mas verdadeiro,
Que estende os braços pra abraçar a terra!
Ante a espuma que rindo-se murmura:
Pujante assim no Atlântico se entranha,
Sorrindo, qual quem da onda cristalina Ante si repelindo o argênteo salso,
Pressentia surgirem louras filhas; Como se êle na terra não coubera,
Fitando olhos no sol, que já sinclina, Ou como de inundá-la receoso,
E rindo, rindo ao perpassar das ilhas. Se mais longo e mais lento a discorresse!
— Está ele assombrado?... Porém, certo O Amazonas co Oceano furioso
Luta renhida trava interminável
Dentro lhe idéia vária tumultua:
Para roubar-lhe o leito; e ronca e espuma.
Fala de aparições que há no deserto, Qual no lago, enlaçada a cauda a um tronco,
Sobre as lagoas ao clarão da lua. Feroz sucuriúba hórrida ronca,
Quando sente mover-se à flor das águas
Imagens do ar, suaves, flutuantes, Lontra ligeira ou anta descuidada,
Ou deliradas, do alcantil sonoro, E, inchando as fauces, a cabeça eleva,
Cria nossa alma; imagens arrogantes, Os queixos escancara, a língua solta,
Para de uma só vez tragar o anfíbio:
Ou qual aquela, que há de riso e choro:
Tal no pleito co Oceano o Amazonas
Uma imagem fatal (para o ocidente, Para sorvê-lo a larga foz medonha
Para os campos formosos dáureas gemas, Léguas abre setenta! A ingente língua
O sol, cingida a fronte de diademas, Estende de três vezes trinta milhas,
índio e belo atravessa lentamente): Como uma longa espada que se embebe
Estrela de carvão, astro apagado Ao través do Atlântico iracundo,
Prende-se mal seguro, vivo e cego, Que gemendo recua no arremesso,
E em montes alquebrado o dorso enruga.
Na abóbada dos céus, — negro morcego
Armas que joga ao mar, são grossos troncos
Estende as asas no ar equilibrado. Arrancados na fúria, são pedaços
De esboroadas montanhas que êle mina;
Seus gritos são trovões tão horrorosos
Que ali parece submergir-se o mundo;
Quando se incha o seu corpo desmedido,
Equórea, espessa nuvem se levanta,
Como uma chuva contra o céu erguida,
Refletindo do sol os sete raios:
Tal o conquistador que cos despojos
Dos reis destronizados se opulenta,
Ou cos tributos dos vencidos povos,
Em pé firme no carro de combate,
Envolto numa nuvem de poeira,
Na frente vai levando debandada Ingente
aluvião de imigas hostes,
E ante as portas de bronze do castelo
Nova vitória alterca por fiosa.
Rio de Janeiro e Nápoles (Gonçalves Magalhães) Horas de Saudade (Castro Alves)

Niterói! Niterói! como és formosa! Tudo vem me lembrar que tu fugiste,


Eu me glorio de dever-te o berço!
Tudo que me rodeia de ti fala.
Montanhas, várzeas, lagos, mares, ilhas,
Prolífica natura, céu ridente, Inda a almofada, em que pousaste a fronte
Léguas e léguas de prodígios tantos, O teu perfume predileto exala
Num todo tão harmônico e sublime,
Onde os olhos verão longe deste Éden? No piano saudoso, à tua espera,
Não és tão belo assim, cerúleo golfo Dormem sono de morte as harmonias.
Onde a linda Partênope se espelha, E a valsa entreaberta mostra a frase
Tão risonha e animada como a noiva
A doce frase qu'inda há pouco lias.
No dia nupcial leda se arreia
Para mais encantar do esposo os olhos!
Não és tão belo assim, quando torrentes As horas passam longas, sonolentas...
De puríssima luz vão esmaltando Desce a tarde no carro vaporoso...
Tuas mágicas ribas, apinhadas D'Ave-Maria o sino, que soluça,
De garbosas cidades, de palácios É por ti que soluça mais queixoso.
Entre bosquetes e odorosas tempes,
E combros de ruínas gloriosas
E não vens te sentar perto, bem perto
Da romana grandeza, que inda choras;
Ou quando no teu céu voluptuoso, Nem derramas ao vento da tardinha,
Onde o ar perfumado amor inspira A caçoula de notas rutilantes
Entre os círios da noite alveja a lua, Que tua alma entornava sobre a minha.
No mar mostrando ao longe a bela Capri
E a saudosa Sorrento, onde meus olhos E, quando uma tristeza irresistível
Cuidam ver inda infante o egrégio Tasso,
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
Brincando à sombra de frondosos louros;
Como a harpa de Davi teu riso santo
Ou mesmo quando, inopinado, às vezes,
O teu vulcano monte, contrastando Meu acerbo sofrer já não acalma.
A brandura da doce natureza,
Horríssono troando e estremecendo, É que tudo me lembra que fugiste.
Das sulfúreas entranhas arremessa Tudo que me rodeia de ti fala...
Pela boca infernal, de fumo envolta, Como o cristal da essência do oriente
Altos jorros de lavas inflamadas,
Mesmo vazio a sândalo trescala.
Como ardentes colunas crepitantes,
Que estalam no ar e rompem-se em chuveiros,
E umas sobre outras caem em catadupas No ramo curvo o ninho abandonado
E torrentes de fogo, que lambendo Relembra o pipilar do passarinho.
Vão o seu dorso, avermelhando as nuvens. Foi-se a festa de amores e de afagos...
Meu pátrio Niterói te excede em galas, Eras — ave do céu... minh'alma — o ninho!
Na grandeza sem par muito te excede!
Por onde trilhas — um perfume expande-se
Há ritmo e cadência no teu passo!
A Tristeza
Triste sou como o salgueiro És como a estrela, que transpondo as sombras,
Solitário junto ao lago, Deixa um rastro de luz no azul do espaço...
Que depois da tempestade
Mostra dos raios o estrago. E teu rastro de amor guarda minh'alma,
De dia e noite sozinho Estrela que fugiste aos meus anelos!
Causa horror ao caminhante,
Que levaste-me a vida entrelaçada
Que nem mesmo à sombra sua
Na sombra sideral de teus cabelos!...
Quer pousar um só instante.
Fatal lei da natureza
Secou minha alma e meu rosto;
Profundo abismo é meu peito
De amargura e de desgosto.
À ventura tão sonhada,
Com que outrora me iludia,
Adeus disse, o derradeiro,
Té seu nome me angustia.
Do mundo já nada espero,
Nem sei por que inda vivo!
Só a esperança da morte
Me causa algum lenitivo.
A BELEZA (Gonçalves Magalhães) O canto do guerreiro (Gonçalves Dias)

Aqui na floresta
Oh Beleza! Oh potência invencível, Dos ventos batida,
Que na terra despótica imperas; Façanhas de bravos
Se vibras teus olhos Não geram escravos,
Quais duas esferas, Que estimem a vida
Quem resiste a teu fogo terrível? Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
Oh Beleza! Oh celeste harmonia, — Ouvi meu cantar.
Doce aroma, que as almas fascina;
Se exalas suave Valente na guerra,
Tua voz divina, Quem há, como eu sou?
Tudo, tudo a teus pés se extasia. Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
A velhice, do mundo cansada, Quem golpes daria
A teu mando resiste somente; Fatais, como eu dou?
Porém que te importa — Guerreiros, ouvi-me;
A voz impotente, — Quem há, como eu sou?
Que se perde, sem ser escutada?
Quem guia nos ares
Diga embora que o teu juramento A frecha emplumada,
Não merece a menor confiança; Ferindo uma presa,
Que a tua firmeza Com tanta certeza,
Está só na mudança; Na altura arrojada
Que os teus votos são folhas ao vento. onde eu a mandar?
— Guerreiros, ouvi-me,
Tudo sei; mas se tu te mostrares — Ouvi meu cantar.
Ante mim como um astro radiante,
De tudo esquecido, Quem tantos imigos
Nesse mesmo instante, Em guerras preou?
Farei tudo o que tu me ordenares. Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Se até hoje remisso não arde Quem golpes daria
Em teu fogo amoroso meu peito, Fatais, como eu dou?
De estóica dureza — Guerreiros, ouvi-me:
Não é isto efeito; — Quem há, como eu sou?
Teu vassalo serei cedo ou tarde.
Na caça ou na lide,
Infeliz tenho sido até agora, Quem há que me afronte?!
Que a meus olhos te mostras severa; A onça raivosa
Nem gozo a ventura, Meus passos conhece,
Que goza uma fera; O imigo estremece,
Entretanto ninguém mais te adora. E a ave medrosa
Se esconde no céu.
Eu te adoro como o anjo celeste, — Quem há mais valente,
Que da vida os tormentos acalma; — Mais destro que eu?
Oh vida da vida,
Oh alma desta alma,
Um teu riso sequer me não deste!

Minha lira que triste ressoa,


Minha lira por ti desprezada,
Assim mesmo triste,
Assim malfadada,
Teu poder, teus encantos pregoa.

Oh Beleza, meus dias bafeja,


Em teu fogo minha alma devora;
Verás de que modo
Meu peito te adora,
E que incenso ofertar-te deseja.
Leito de folhas verdes (Gonçalves Dias) A Concha e a Virgem (Gonçalves Dias)

Linda concha que passava,


Por que tardas, Jatir, que tanto a custo Boiando por sobre o mar,
À voz do meu amor moves teus passos? Junto a uma rocha, onde estava
Da noite a viração, movendo as folhas, Triste donzela a pensar,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Perguntou-lhe: — "Virgem bela,
Que fazes no teu cismar?"
Eu sob a copa da mangueira altiva — "E tu", pergunta a donzela,
Nosso leito gentil cobri zelosa "Que fazes no teu vagar?"
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores. Responde a concha: — "Formada
Por estas águas do mar,
Sou pelas águas levada,
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco, Nem sei onde vou parar!"
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces, Responde a virgem sentida,
No silêncio da noite o bosque exala. Que estava triste a pensar:
— "Eu também vago na vida,
Como tu vagas no mar!
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa, "Vais duma a outra das vagas,
A cujo influxo mágico respira-se Eu dum a outro cismar;
Um quebranto de amor, melhor que a vida! Tu indolente divagas,
Eu sofro triste a cantar.

A flor que desabrocha ao romper d'alva "Vais onde te leva a sorte,


Um só giro do sol, não mais, vegeta: Eu, onde me leva Deus:
Eu sou aquela flor que espero ainda Buscas a vida, — eu a morte;
Doce raio do sol que me dê vida. Buscas a terra, — eu os céus!

Sejam vales ou montes, lago ou terra,


Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Que me Pedes (Gonçalves Dias)
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Tu pedes-me um canto na lira de amores,


Meus olhos outros olhos nunca viram, Um canto singelo de meigo trovar?!
Não sentiram meus lábios outros lábios, Um canto fagueiro já — triste — não pode
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas Na lira do triste fazer-se escutar.
A arazóia na cinta me apertaram.
Outrora, coberto meu leito de flores,
Um canto singelo já soube trovar;
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Mas hoje na lira, que o pranto umedece,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores, As notas d'outrora não posso encontrar!
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Outrora os ardores que eu tinha no peito
Em cantos singelos podia trovar;
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes Mas hoje, sofrendo, como hei de sorrir-me,
À voz do meu amor, que em vão te chama! Mas hoje, traído, como hei de cantar?
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!
Não peças ao bardo, que aflito suspira,
Uns cantos alegres de meigo trovar;
À lira quebrada só restam gemidos,
Ao bardo traído só resta chorar.
Saudades (Casimiro de Abreu)

Que é - Simpatia (Casimiro de Abreu) Nas horas mortas da noite


Como é doce o meditar
Simpatia - é o sentimento Quando as estrelas cintilam
Que nasce num só momento, Nas ondas quietas do mar;
Sincero, no coração; Quando a lua majestosa
São dois olhares acesos Surgindo linda e formosa,
Bem juntos, unidos, presos Como donzela vaidosa
Numa mágica atração. Nas águas se vai mirar!

Simpatia - são dois galhos Nessas horas de silêncio,


Banhados de bons orvalhos De tristezas e de amor,
Nas mangueiras do jardim; Eu gosto de ouvir ao longe,
Bem longe às vezes nascidos, Cheio de mágoa e de dor,
Mas que se juntam crescidos O sino do campanário
E que se abraçam por fim. Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
São duas almas bem gêmeas Que nos enche de pavor.
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais; Então — proscrito e sozinho —
São vozes de dois amantes, Eu solto aos ecos da serra
Duas liras semelhantes, Suspiros dessa saudade
Ou dois poemas iguais. Que no meu peito se encerra.
Esses prantos de amargores
Simpatia - meu anjinho, São prantos cheios de dores:
É o canto de passarinho, — Saudades — dos meus amores,
É o doce aroma da flor; — Saudades — da minha terra!
São nuvens dum céu dagosto
É o que minspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!

Três Cantos (Casimiro de Abreu)

Quando se brinca contente


Risos (Casimiro de Abreu)
Ao despontar da existência
Nos folguedos de inocência,
Ri, criança, a vida é curta,
Nos delírios de criança;
O sonho dura um instante.
A alma, que desabrocha
Depois... o cipreste esguio
Alegre, cândida e pura —
Mostra a cova ao viandante!
Nesta contínua ventura
E' toda um hino: — esperança!
A vida é triste — quem nega?
— Nem vale a pena dizê-lo.
Depois... na quadra ditosa,
Deus a parte entre seus dedos
Nos dias da juventude,
Qual um fio de cabelo!
Quando o peito é um alaúde,
E que a fronte tem calor:
Como o dia, a nossa vida
A alma que então se expande
Na aurora é — toda venturas,
Ardente, fogosa e bela —
De tarde — doce tristeza,
Idolatrando a donzela
De noite — sombras escuras!
Soletra em trovas: — amor!
A velhice tem gemidos,
Mas quando a crença se esgota
— A dor das visões passadas —
Na taça dos desenganos,
A mocidade — queixumes,
E o lento correr dos anos
Só a infância tem risadas!
Envenena a mocidade;
Então a alma cansada
Ri, criança, a vida é curta,
Dos belos sonhos despida,
O sonho dura um instante.
Chorando a passada vida —
Depois... o cipreste esguio
Só tem um canto: — saudade!
Mostra a cova ao viandante!
Moreninha (Casimiro de Abreu) A Flor do Maracujá (Fagundes Varela)

Moreninha, Moreninha, Pelas rosas, pelos lírios,


Tu és do campo a rainha, Pelas abelhas, sinhá,
Tu és senhora de mim; Pelas notas mais chorosas
Tu matas todos d'amores, Do canto do sabiá,
Faceira, vendendo as flores Pelo cálice de angústias
Que colhes no teu jardim. Da flor do maracujá!

(...) Pelo jasmim, pelo goivo,


Pelo agreste manacá,
Morena, minha Morena, Pelas gotas do sereno
És bela, mas não tens pena Nas folhas de gravatá,
De quem morre de paixão! Pela coroa de espinhos
— Tu vendes flores singelas Da flor do maracujá!
E guardas as flores belas,
As rosas do coração?!.. Pelas tranças da mãe-d'água
Que junto da fonte está,
Moreninha, Moreninha, Pelos colibris que brincam
Tu és das belas rainha, Nas alvas plumas do ubá,
Mas nos amores és má; Pelos cravos desenhados
— Como tu ficas bonita Na flor do maracujá!
Co'as tranças presas na fita,
Co'as flores no samburá! Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Eu disse então: — "Meus amores, Pelos tesouros ocultos
"Deixa mirar tuas flores, Nas minas do Sincorá,
"Deixa perfumes sentir" Pelas chagas roxeadas
Mas naquele doce enleio, Da flor do maracujá!
Em vez das flores, no seio,
No seio te fui bulir! Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Como nuvem desmaiada Pelas florestas imensas
Se tinge de madrugada Que falam de Jeová!
Ao doce albor da manhã; Pela lança ensanguentada
Assim ficaste, querida, Da flor do maracujá!
A face em pejo acendida,
Vermelha como a romã! Por tudo o que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Tu fugiste, feiticeira, Eu te juro que minh'alma
E de certo mais ligeira De tua alma escrava está!...
Qualquer gazela não é; Guarda contigo esse emblema
Tu ias de saia curta.... Da flor do maracujá!
Saltando a moita de murta
Mostraste, mostraste o pé! Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em — a —
Ai! Morena, ai! meus amores, Mas ouve meus juramentos,
Eu quero comprar-te as flores, Meus cantos ouve, sinhá!
Mas dá-me um beijo também; Te peço pelos mistérios
Que importam rosas do prado Da flor do maracujá!
Sem o sorriso engraçado
Que a tua boquinha tem?...

Apenas vi-te, sereia,


Chamei-te — rosa da aldeia —
Como mais linda não há.
— Jesus! Como eras bonita
Co'as tranças presas na fita,
Co'as flores no samburá!
A um Coração (Castro Alves) Desejo (Castro Alves)

Ai! Pobre
Por coração!
ela tudo Assim
daria...vazio Se eu soubesse que no mundo
E frio — A vida, o céu, a razão! Existia um coração,
Sem guardar a lembrança de um amor! Que só por mim palpitasse
Nada em teus seio os dias hão deixado!... De amor em terna expansão;
É fado? Do peito calara as mágoas,
Nem relíquias de um sonho encantador? Bem feliz eu era então!

Não frio coração! É que na terra Se essa mulher fosse linda


Ninguém te abriu... Nada teu seio encerra! Como os anjos lindos são,
O vácuo apenas queres tu conter! Se tivesse quinze anos,
Não te faltam suspiros delirantes, Se fosse rosa em botão,
nem lágrimas de afeto verdadeiro... Se inda brincasse inocente
É que nem mesmo — o oceano inteiro — Descuidosa no gazão;
Poderia te encher!...
Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;

Se as tranças fossem escuras,


Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;

Se a fronte pura e serena


Brilhasse dinspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;

Se a voz fosse harmoniosa


Como dharpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;

E se o peito lhe ondulasse


Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;

E se essa mulher formosa


Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria...
— A vida, o céu, a razão!

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