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FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
Solidariedade e indivisibilidade
Seminaristas: Amalia da Silveira Gewehr Paulsen e Bruno Dutra Iankowski
Sumário
Introdução
1. O vínculo nas obrigações solidárias e indivisíveis: pluralidade ou unidade?
a. Análise do vínculo nas obrigações solidárias
b. Análise do vínculo nas obrigações indivisíveis
2. Abordagem metodológica
a. Aspectos materiais e processuais da solidariedade
b. Aspectos materiais e processuais da indivisibilidade
Conclusão
Referências Bibliográficas:
Quadro sinótico:
Não é comum instituí-la, pois traz alguns inconvenientes. Há risco de um credor recebendo a
totalidade, não faça a divisão. Pode haver prevenção judicial, no caso de um dos credores propor
ação de cobrança.
A discussão, então, era se haveria solidariedade ativa ou não, pois os outros 3 advogados
estavam cobrando o sucumbente a sua parte, pela aplicação do art. 269.
Por mais que certo, que o sucumbente não irá efetuar o pagamento da verba honorária a outros
advogados, se quitado todo o valor sucumbencial através de depósito nos autos. De mais a mais,
se um dos advogados credores deixar de repassar o percentual que cabe a um ou aos demais
colegas, lógico que estes procurarão receber os seus créditos através do procedimento judicial
próprio, dirigido não em face dela apelante, mas a desfavor daquele que recebeu a totalidade do
crédito sucumbencial.
A respeito da matéria já se posicionou o STJ por sua 3ª Turma no REsp 246.124-SP, rel. Min.
Pádua Ribeiro, publicado no DJU de 07/04/2003, anotado por Theotônio Negrão no Código de
Processo Civil, 3ª ed., páginas 1102/1203: 'A outorga independente de mandatos, pela mesma
pessoa, a dois ou mais advogados, para a mesma causa, relaciona individualmente cada
mandatário à outorgante no direito de reclamar-lhe honorários, quando de outro modo não for
estipulado' (RF (303/199). 'Constatando do instrumento da procuração autorização para que os
advogados possam agir em conjunto ou separadamente, qualquer deles é parte legítima para
pleitear o arbitramento dos honorários, bem como para ajuizar a ação de execução da verba
incluída na condenação por arbitramento ou sucumbência.'
Houve então a incidência do art. Art. 269 do CC e a dívida do sucumbente foi extinta com relação
aos honorários sucumbenciais pagos a um dos credores.
Executado o devedor, um dos credores não quis compor o polo ativo da lide, pelo que o
juiz ordenou que fossem ajustados os cálculos retirando a quota parte deste credor. O
nosso Tribunal de Justiça decidiu, então, que, por não haver a individualização dos valores, foi
contratada a compra e venda sob o regime da solidariedade ativa, podendo a execução prosseguir
pelo valor total, já que cada um dos credores tem o direito de exigir do devedor o cumprimento da
prestação por inteiro (art. 267 do CC), assim como, se um dos credores receber a prestação por
inteiro, aos outros assistirá o direito de exigir dele a parte que lhe caiba (art. 261 do CC). (Nº
70079907150 (Nº CNJ: 0355927-38.2018.8.21.7000)
Por fim, um exemplo que pode ser considerado mais ordinário é a CONTA CONJUNTA, em que
dois ou mais credores asseguram-se o direito de movimentar indistintamente a conta comum. Em
diversos casos, cheques nominais a um dos correntistas, que não seja compensado, leva a
possibilidade o outro correntista executar a dívida.
Em que pese seja a regra geral do CC a divisibilidade das obrigações, casos que apliquem a
questão da indivisibilidade das obrigações são mais escassos.
Caso 1 (TJRS – AI - Nº 70066209610)
A indivisibilidade poderá também resultar, além das hipóteses do art. 258 (a prestação tem por
objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem
econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico), de uma expressa disposição legal.
Talvez a mais comum e conhecida seja a regra do art. 1.791 do Código Civil,
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários
sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à
propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas
normas relativas ao condomínio.
Essa regra foi enfrentada pelo TJRS, em um caso de partilha de expurgos inflacionários da
caderneta de poupança pelos herdeiros. Foi discutida a legitimidade de apenas 2 dos 3 herdeiros
reclamarem os valores em juízo, tendo em vista a inexistência do interesse do terceiro herdeiro.
Os dois herdeiros demonstraram interesse em resgatar a sua cota parte do saldo bancário da
caderneta de poupança do de cujus, ante a divisibilidade do montante cobrado. (possível a
aplicação da Lei 6.858/80)
A sentença recorrida entendeu ser caso de litisconsórcio ativo necessário, quando em verdade é
litisconsórcio unitário (que pode ser facultativo). Os dois herdeiros solicitaram em recurso a
admissão dos autores no pólo ativo da ação, com o reconhecimento da inocorrência de
litisconsórcio ativo necessário.
A regra geral no direito das obrigações, quando da pluralidade de devedores ou de credores é
expressa no art. 257 do Código Civil, que no ponto adota aquela expressada pela conhecido
conceito “concursu partes fiunt”, segundo a qual a obrigação será dividida em tantas obrigações
independentes quantas forem as respectivas partes. Como um dos herdeiros não tem interesse
na ação, e que, na forma do previsto na Lei 6.858/80, é possível o ajuizamento da demanda sem
que todos os herdeiros do então titular da conta estejam no pólo ativo da ação, já que postula
quantia abaixo do equivalente a 500 ORTNs.
Eis o que diz o citado artigo 257: “Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em
obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações iguais e distintas, quantos os
credores e os devedores” (verbis).
Gustavo Tepedino no seu Código Civil Interpretado (ed. Renovar, 2004, 1º volume, p. 257)
preleciona que “o preceito comporta exceção em duas hipóteses: no caso de indivisibilidade e
quando houver solidariedade”.
A obrigação não se enquadrava em nenhuma das hipóteses do art. 258 do Código Civil:
Art. 258 - A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma
coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo
de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.”
E por igual não se versa sobre uma obrigação indivisível por natureza, pois nada é tão
caracteristicamente divisível como a prestação consistente em pagar uma determinada soma em
dinheiro. Aliás, no próprio conceito da obrigação divisível ou fracionária (aquela em que o objeto
da prestação pode ser dividido entre os sujeitos) está implícito que a obrigação pecuniária é
divisível, constituindo-se, por isso mesmo, como o exemplo clássico da divisibilidade.
Havia entendimento de que, não ainda aberto ou já encerrado o inventário, era caso de
litisconsórcio ativo necessário. No entanto, pela inexistência de interesse de um dos herdeiros,
não se poderia obstar a o direito de acesso ao judiciário e nem obrigar alguém a que, contra a
sua vontade, litigue em juízo.
Foi aduzido que tanto no art. 260 (indivisibilidade ativa), quanto no 267 (solidariedade ativa) um
credor pode exigir a totalidade da dívida.
No entanto, a Lei Ao afastar a impositiva abertura de inventário ou arrolamento para o
recebimento, por parte dos herdeiros, de saldos bancários, de contas de cadernetas de poupança
e de fundos de investimento, até essa alçada de hoje aproximadamente R$ 30.000,00, a lei
invocada por igual afastou, até esse limite, a indivisibilidade legal que recaia sobre os bens
transmitidos pela sucessão, e que só poderia ser quebrada pela partilha no respectivo inventário.
A obrigação, portanto, seria concursu partes fiunt (as partes se satisfazem pelo concurso, pela
divisão) divisível e o sendo, cada um teria direito a sua quota parte, prosseguindo-se a ação.
Recorrentes: Devedores
Recorridos: Credores
Dos fatos reconhecidos pelo Tribunal de origem, extrai-se que os devedores realizaram
o pagamento integral a um dos credores, mas não aos demais.
A controvérsia resume-se, portanto, a verificar a persistência da dívida, considerando-se
que o pagamento foi feito a apenas um dos credores. O que o STJ decidiu é que, não
podendo ser presumida a solidariedade, não tendo ela sido estipulada em Contrato e
não existindo caso de solidariedade ativa ex lege1, tem-se que a obrigação era divisível,
não se aplicando a indivisibilidade.
Ou seja, não se aplicava o art. Art. 269 do CC, que diz o seguinte:
O devedor de obrigação divisível, não havendo solidariedade, deve cuidar para que o
pagamento seja feito a todos os credores.
Assim, a negligência dos devedores, devedores que pagaram mal, foi decisiva para que
os demais credores os tivessem como inadimplentes e pudessem, com sucesso, buscar
a resolução do negócio jurídico.
Todavia, essa negligência não afasta o princípio da boa-fé, que deve nortear todos os
negócios jurídicos. Assim, foi acertada a determinação do Tribunal de origem para que
se restabeleça o “status quo ante”. A devolução da parte do preço recebida com
atualização é medida de justiça. Tal fato não afasta, ademais, o direito de pleitear
indenização daqueles que eventualmente tenham se enriquecido sem justa causa,
recebendo o pagamento do qual não eram credores.
CONCLUSÃO
1
Maria Helena Diniz nosso ordenamento jurídico não conhece casos de solidariedade
ativa ex lege (Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações. Vol. II. São
Paulo: Saraiva, 1997, p. 157
Concluímos que não há, obrigatoriamente, solidariedade nas obrigações indivisíveis.
Na SEGUNDA PARTE, nós vimos a aplicação prática de alguns institutos, como, por
exemplo, a possibilidade de um credor solidário receber toda a prestação, dando-a por
quitada, como no caso dos honorários sucumbenciais, cuja solidariedade foi estabelecida
no mandato.
Por fim, notamos que é possível extrair, dos julgados apresentados, uma interpretação
favorável aos credores, no tocante à caracterização das obrigações como solidárias ou
indivisíveis.
Bem como, em situação semelhante, o STJ decidiu que a obrigação seria indivisível, e
não solidária, pois houve pagamento a apenas um dos credores, sem que este tivesse a
caução de ratificação dos demais credores, realizando-se, então a reintegração de posse
do imóvel.
Daí o conceito apresentado por Karl Larenz: "Relación de obligación es aquella relación jurídica por la que
dos o más personas se obligan a cumplir y adquieren el derecho a exigir determinadas prestaciones". 12