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INSTITUTO DASEIN

FORMAÇÃO EM CLÍNICA FENOMENOLÓGICA E HERMENÊUTICA

A SUBJETIVIDADE EM JOGO, NA ANSIEDADE EXACERBADA EM


ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS, SOB O OLHAR FENOMENOLÓGICO

DANIEL DIAS GONÇALVES

SÃO PAULO
2019
DANIEL DIAS GONÇALVES

A SUBJETIVIDADE EM JOGO, NA ANSIEDADE EXACERBADA EM


ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS, SOB O OLHAR FENOMENOLÓGICO

Monografia apresentada para conclusão da


Formação em clínica fenomenológica e
hermenêutica do Instituto Dasein, como
requisito para a obtenção do Certificado de
conclusão.

Orientadores: Prof. André Assis e Prof. e


Paulo Roberto Reimão Machado

SÃO PAULO
2019
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os alunos, professores, coordenadores e


gestores de universidades e cursos simulares, mas principalmente os dois primeiros
citados, porque vivenciam todos os dias a rotina ansiolítica, e o sofrimento que veste
tanto alunos quanto professores, e vestir-se pode ser carregar sobre os ombros,
sentir o peso, e ficar ansioso para livrar-se dessa vestimenta.
AGRADECIMENTOS

Aos familiares, que suportaram o distanciamento em função dos momentos


dedicação absoluta, acolheram os momentos de crise, angústia e incerteza, mas
sempre ofereceram muito amor em troca.
Ao pimpão, meu cachorro, que ficou dias deitado aqui ao meu lado, em vários
momentos abanando o rabo pedindo para passear, mas esteve ao lado sempre.
A minha mãe, pai, irmã, cunhado e sobrinhos, que com carinho, sempre me
acolheram nos momentos de ansiedade, angústia, e compartilham alegrias.
Aos colegas de curso que compartilharam a angústia de pensar o tema,
discutir, e enviar mensagens do tipo “você já começou sua monografia?”. Agradeço
essa troca, que enriqueceu minha base de consulta, e me trouxe um novo olhar.
A minha psicoterapeuta, que me acompanha desde antes do início da
faculdade, e me proporcionou a oportunidade de trabalhar a minha ansiedade para
que eu pudesse me formar, e chegar a escrever este trabalho.
Agradeço aos amigos que sempre incentivaram, respeitaram esse tempo
longe de curtirmos juntos algum momento, porém estando sempre próximo e
disponível quando solicitados.
“Os aspectos positivos do eu
desenvolvem-se quando o indivíduo
enfrenta, suporta e derrota as experiências
geradoras de ansiedade”.
(Søren Aabye Kierkegaard)
RESUMO:

A ansiedade em estudantes universitários é tema em pauta alguns anos,


Rollo May citou a ansiedade como agente facilitador ou não do aprendizado, no seu
livro “O significado de ansiedade” de 1977. Através de Heidegger, que escreveu
sobre o sentido da existência humana e o desvelamento dos fenômenos, iluminou a
nossa forma de compreender a experiência existencial do ser humano, deixando de
ser percebido por causalidade, ampliando a compreensão do sentido do existir. É
com estes referenciais fenomenológicos e existenciais que, pinçando alguns trechos
do TCC sobre estresse e ansiedade em estudantes universitários de 2017, será
discutida a questão, não em base metafísica, mas descrita sob a luz da experiência
vivida neste período, mais próxima do ser do estudante que, predisposto a
ansiedade sufocante, sofre de crises durante o período universitário por diversas
questões que permeiam sua existência.

Palavras chave: Ansiedade, Graduação, Alunos universitários,


Ansiedade na graduação, Fenomenologia, Existencialismo, Estudantes
universitários, Drogas, Álcool, Suicídio.

ABSTRACT:

Anxiety in college students has been a subject for some years, Rollo May cited
anxiety as a facilitator or non-facilitator of learning in his 1977 book The Meaning of
Anxiety. Through Heidegger, who wrote about the meaning of human existence and
the unveiling of phenomena illuminated our understanding of the existential
experience of the human being, failing to be perceived by causality, broadening our
understanding of the meaning of existence. It is with these phenomenological and
existential references that, by drawing some excerpts from the CBT on stress and
anxiety in university students in 2017, the question will be discussed, not on a
metaphysical basis, but described in the light of the experience lived in this period,
closer to being a student who, predisposed to suffocating anxiety, suffers from crises
during the university period due to various questions that permeate his existence.

Keywords: Anxiety, Graduation, University Students,


Anxiety at graduation, Phenomenology, Existentialism, College students, Drugs,
Alcohol, Suicide.
7

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 8
2. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8
2.1 BREVE INTRODUÇÃO DO MODELO DE ENSINO UNIVERSITÁRIO VIGENTE 8
2.2 CONTEXTUALIZANDO OS PRINCIPAIS CONCEITOS DE HEIDEGGER EM
SER E TEMPO ............................................................................................................ 9
2.3 COMO É A ANSIEDADE DESCRITA POR HEIDEGGER .................................. 11
2.4 COMPREENSÃO FENOMENOLÓGICA DE ANSIEDADE EM ROLLO MAY .... 11
3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 18
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 18
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 18
4. MÉTODO ............................................................................................................ 19
4.1 PESQUISA QUALITATIVA ................................................................................. 19
4.2 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DE DADOS ..................................................... 19
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 21
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 26
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29
8

1. APRESENTAÇÃO

Essa monografia é uma pesquisa bibliográfica, que procura refletir sobre o


que é a ansiedade do estudante universitário, e como podemos ajuda-los a lidar com
esse sofrimento para que consigam desenvolver uma formação que tenha sentido, e
que venha a agregar tanto profissionalmente, quanto no desenvolvimento do ser-aí,
no-mundo.
Este, é um retorno ao TCC de Gonçalves et al. (2017) que trabalhei junto ao
grupo de faculdade de Psicologia, sobre “Causas e consequências do estresse e
ansiedade em alunos universitários: reflexões de uma releitura bibliográfica”, agora
iluminado pelo olhar fenomenológico, onde é feito uma conjunção da estrutura
técnica do TCC, com a experiência fenomenológica, singular de ser-aí.
Compreende-se nos estudos realizados, que a ansiedade é elemento natural
e necessário ao ser humano, é o que o coloca biologicamente em posição de defesa
e ataque, e gera movimento para que alguma ação seja exercita em função da
ameaça subjetiva. Porém a ansiedade exacerbada distorce a compreensão do ser,
que volta-se para si mesmo e pode ficar estagnado, aumentando o sofrimento e a
ansiedade. É nesse aspecto subjetivo da experienciação da ansiedade não
saudável, que revisando o TCC, buscarei novos signos para descrever a experiência
de cursar a universidade.
Não buscarei defender qualquer pensamento de responsabilização sobre a
ansiedade e o sofrimento, mas prover uma reflexão sustentada na fenomenologia e
existencialismo, buscando a compreensão da ansiedade como característica natural
do ser, e como fazer uso desta, em benefício próprio.

2. INTRODUÇÃO

2.1 Breve introdução do modelo de ensino universitário vigente

No TCC, apresentado por Gonçalves et al. (2017), foi abordada a origem do


modelo atual de ensino, aplicado nas universidades, que carrega as políticas
neoliberais com objetivo de crescimento de riqueza com abundância e velocidade,
9

descaracterizando as origens das universidades federais e estaduais, de ser solo


fertilizado para que alunos possam desenvolver novos conhecimentos, que venham
a melhorar a vida dos seres humanos.
Cito um trecho do artigo em apresentado no TCC:
[...] da educação da esfera política para a esfera do
mercado, negando sua condição de direito social e
transformando-a em uma possibilidade de consumo
individual, variável segundo o mérito e a capacidade dos
consumidores” (GENTILLI, 1998, p. 19, apud MANCEBO;
MAUÉS; CHAVES, 2006, p.42).
De acordo com Mancebo, Maués e Chaves (2006), como resultado desse
perfil neoliberal que tomou força na política Brasil nos anos de 1990, advindo da
crise econômica em meados dos anos 70, criou-se universidades que perdem o
sentido puro de criação e estímulo do pensar em profundidade, para a formação de
organizações competitivas, que buscam lucro e formação do maior número de
estudantes possível, sendo o ganho de capital o principal objetivo dos gestores.
No mesmo TCC, é descrito um sistema de compra de vagas em universidade.
Ao mesmo tempo a criação de universidades particulares abriu oportunidade para a
população de todas as classes econômicas e sociais, criou-se uma forma
comercializadora de formação de mão de obra especializada, voltando-se para o
ensino em curto prazo, com as melhores notas possíveis, tentando automatizar a
inserção da informação na cabeça das pessoas, através de técnicas, e não mais
criar um ambiente propício para a absorção, e criação de novos conhecimentos.

2.2 Contextualizando os principais conceitos de Heidegger em Ser e Tempo

Heidegger, nascido na Alemanha em 1889, conhecido como um dos


principais filósofos fenomenólogos na Europa, sendo também importante para o
existencialismo, tendo publicado em 1927 sua principal obra “Ser e Tempo”, 32 anos
antes de iniciar os “Seminários de Zollikon, a convite de Medard Boss, psiquiatra e
psicoterapeuta suíço.
10

Em “Ser e Tempo” (2012), Heidegger introduz novos conceitos sobre a


existência humana, que são descritos em um novo conjunto de palavras para
nomear sua compreensão singular da experiência existencial do ser no mundo
fático, sendo este o local onde o dasein está habitando corporalmente e
espacialmente, descrito por Heidegger como “ente”. O ente é o ser-aí presente no
mundo fático, que só pode existir, se existir o homem. (HEIDEGGER, 2017, p.182).
O ser-aí, ou no termo original criado por Heidegger, Dasein, é uma abertura
para o mundo, é onde o ser experimenta o mundo fático e por onde, sempre e sem
opção de não ser, vive no mundo, porque sempre foi e é conectado ao mundo fático,
invariavelmente. E dessa maneira, a essência que habita no ente, está radicalmente
impelida a ter-de-ser.
Ter-de-ser é, portanto, a tarefa existencial do ser, sem possibilidade de
refutar. É ter de escolher como ser-no-mundo, sendo que, optar por não ser não é
uma opção, e deixar-se levar pelas escolhas prévias do mundo fático, também já
uma decisão do ser, o que o coloca na obrigação de ser.
O ser que decide por tentar não escutar sua chamada existencial, vive em um
dos dois “modi-de-ser”. Um que Heidegger chama de impropriedade, em
contrapartida do ser que, se conhecendo e apropriando de si, é um ser que viver no
modo próprio, em direção e escuta da sua chamada existencial. Tanto os modos
próprio e impróprio são de igual relevância, sendo o modo impróprio a possibilidade
de o dasein realizar atividades, ocupar-se no mundo, vivenciar seus interesses, e
possibilidade fazer uso da “capacidade-de-gozar”. Pode tornar-se problema o ser
que venha a viver somente no modo impróprio, ocupando-se de atividades sem
sentido.
Para Heidegger (2012), o tempo do ser não é o mesmo tempo do mundo
fático, que ele chama de chronos. O chronos é este apontado no relógio, criado pelo
homem para controlar a atividade produtiva, e tentar prever quanto tempo falta para
a morte. O tempo do ser é aquele em que se encontra aberto a ir ao encontro do
chamado existencial, é o que ele está experienciando, sem preocupar-se com o
chronos, é o tempo que se tem, para ser o que se é, sem pré ocupar-se com o vir a
ser.
11

2.3 Como é a ansiedade descrita por Heidegger

O “Seminários de Zollikon”, livro criado em 1987, consolida os diversos


seminários aplicados por Heidegger e Medard Boss ao longo de sua carreira,
elaborado a posteriori, pela associação de Daseinsanalyse.
Heidegger (2017, p.179) em Seminários de Zollikon, aborda a questão do
desejo, desejar, tender e ansiar, que considera como sinônimos, e compreende,
revolucionariamente na época, como atos psíquicos não isolados. Divergindo da
teoria as pulsões, Heidegger estabelece que considerar estes apenas como atos
psíquicos, não os levaria a estrutura-do-cuidado, do ser-no-mundo, não sendo então
um ato simplesmente emocional, mas modos de exercer o ser-no-mundo.
Nos “Seminários de Zollikon”, Heidegger (2017, p.179) argumenta que,
explicar estes atos por pulsões é tentar explicar o que é descritível a partir da
mecânica de um funcionamento, e não da experienciação do homem. A
subjetividade humana não pode ser estudada pela analítica da mecânica, mas a
partir do subjetivo do ser que é no-mundo, com todas as coisas.
Heidegger (2017, p.180-181) relata que o anseio é ansiado pelo Dasein,
sendo o ansioso o próprio ser-no-mundo, e “o ser do Dasein é o anteceder-se-a-si-
mesmo-no-já-em-(um-mundo)”. O maníaco é aquele que deseja devorar tudo que há
disponível. Explica Heidegger que este vai além do anteceder-se-a-si-mesmo, não
reflete sobre o que pode ser, sendo este anteceder-se-a-si-mesmo, impróprio.
Heidegger compreender que a psicanálise torna o humano objeto da impulsividade,
enquanto na visão fenomenológica, aquele que sofre de intensa ansiedade (o
maníaco), confunde-se com essa antecipação e pensa ser este si mesmo, sendo
então impróprio acreditando ser próprio.

2.4 Compreensão fenomenológica de ansiedade em Rollo May

Rollo May foi um psicólogo existencialista americano, nascido no estado de


Ohio em 1909, e publicou a obra escolhida como referência para este trabalho “The
Meaning of Anxiety”, publicado em 1950. Neste livro, May relata seu interesse em
estudar com profundidade a ansiedade, que assola a todos no mundo moderno, com
interesse na linguagem clara para profissionais, e mesmo estudantes, como ele
descreve no prefácio desse livro.
12

O modelo de trabalho fenomenológico utilizado por May, aplica a ciência


conforme apresentada por Heidegger (2012), fazendo a descrição da experiência
vivida pelas pessoas estudadas. Este pensamento vai de encontro com a
compreensão que se busca neste trabalho, um olhar fenomenológico da experiência
de ser estudante universitário, concomitante com o próprio desejo de May em
conseguir alcançar os estudantes, utilizando uma linguagem acessível, e auxiliando-
os a compreender o resultado do seu minucioso estudo.
May, em seu livro “The Meaning of Anxiety” (1950), que aqui trabalharemos
na versão traduzida “O significado de ansiedade” (1977), buscou de maneira sólida,
através de anos de pesquisa, compreender a ansiedade em suas diversas nuances,
buscando no filósofo Kierkegaard, e psicoterapeutas como Freud, embasamento
teórico reflexivo, não se perdendo da metodologia de redução fenomenológica
(epoché), que é o suspender os próprios juízos para deixar que o fenômeno se
apresenta tal como é. Este método foi apresentado por Heidegger (2012), e descrito
no artigo “Reflexões sobre a angústia em Rollo May”, (Ponte, 2013).
No prefácio, May (1977, p.14), diz “ansiedade é a experiência de Ser
afirmando-se contra o Não-Ser”, o que será discutido no momento oportuno.
A política, de acordo com May (1977, p.31-32) surge como um dos fatores
contribuintes da ansiedade do indivíduo, quando o estado de direitos se coloca na
posição de provedor de segurança em troca de dedicação ao trabalho intensivo
como retribuição a sociedade. Porém este fato que não se concretiza, a segurança
prometida não é possível de ser cumprida pois não há controle total sobre tudo, e a
abre-se um espaço onde a ansiedade emerge.
O sentimento de insegurança provoca ansiedade generalizada, tornando-se
adubo para o desenvolvimento de posicionamentos excludentes e facistas (o mesmo
serve para o comunismo e totalitarismo), que buscam o extermínio daquele que é
visto como causador de tal ansiedade, que não compartilham do mesmo
pensamento e atitudes, assim como ocorreu na ascensão de Hitler. Todo este
processo decorre de uma ansiedade neurótica generalizada.
De acordo com May (1977, p.34), Kierkegaard diz que a ansiedade é o “medo
do nada”, ou do “não ser”, o que May descreve como uma ausência de significado
para a existência do indivíduo. Através do psicólogo social R. R. Willoughby, May
descreve que possíveis reações a ansiedade são: suicídio, distúrbios mentais e o
divórcio.
13

Embasado em psicólogos da aprendizagem que citou (Mowrer, Miller e


Dollard), May (1977, p.36) afirma que estudos científicos da época já apontavam a
ansiedade impregnada na educação escolar da criança.
Nos estudos quanto a ansiedade relacionada a cultura, May (1977, p.39-43)
explora que desde o período da Renascença (entre os séculos XIV e XVI), que
marca a mudança da idade média para a moderna, cresce o pensamento neoliberal,
reprimindo o que se chamava de experiência “irracional”, para valorizar somente o
“racional”. Através desse pensamento, a cultural tornou-se elemento de grande
influência no desenvolvimento da ansiedade, pelas ideias dominantes que passam a
ser “verdades” únicas, considerando apenas o pensamento racional centralizado,
esquecendo-se do ser em questão.
Dessa forma, o ser que antes tinha a si mesmo como referência, passa a ter
a ideia dominante como verdade, causando uma distância entre conhecer a própria
necessidade e realização, para realizar-se a partir das ideias dominantes e comuns,
sem necessidade de tirar suas próprias conclusões, pois já estariam então, pré-
determinadas como a de seus semelhantes. Esse modo de “ignorar os sentimentos”,
ou o “irracional” estendeu-se até o século XIX, chegando ao século XX.
É apresentado por May (1977, p.53), o pensamento Kierkegaardiano, de
ansiedade “normal” e “neurótica, sendo a normal uma característica positiva e
necessária do ser humano, pois o move a alguma ação. Em contrapartida, a
ansiedade neurótica foi compreendida como “não criadora e mais constringente de
ansiedade que resulta do fracasso do indivíduo em avançar em situações de
ansiedade normal”. Kierkegaard é citado por May (1977, p.45), que “a confiança não
é a remoção da dúvida (e ansiedade), mas, antes, a atitude de que podemos seguir
em frente apesar da dúvida e ansiedade”.
May, fundamentado em Kierkegaard, conceitua que a liberdade
(individualidade), se revela quando o sujeito consegue enfrentar a ansiedade e
progredir com ela, ao invés de fugir para outras atividades, e descreve “A liberdade
depende, antes, de como um indivíduo se relaciona com seu eu a cada momento da
existência” (MAY, 1977, p.55).
Esse enfrentamento, que May descreve como “salto para o
autoconhecimento”, é a criação de novo conteúdo que constitui o ser, trazendo o
que era não consciente, para a consciência. Essa consciência leva o ser a sentir-se
um pouco mais conhecedor das próprias capacidades independentes, deixando de
14

perceber-se com alguém meramente dependente das ações do meio. A ansiedade


deixa então de ser tão assustadora, e se torna reflexiva, e o indivíduo adquire
capacidade de dirigir seu próprio desenvolvimento. May apresenta-os um ponto que
descreve como crucial: A ansiedade envolve um conflito interior, um desejo daquilo
que se teme. (MAY, 1977, p.55-57).
O medo é distinguido da ansiedade, que ter medo, é de algo, e o indivíduo
move-se em uma determinada direção, afastando-se do objeto de medo. Em
contrapartida, na ansiedade não há um perigo real, mas um conflito interior, onde o
indivíduo não tem como fugir de si mesmo, tendo então uma relação conflituosa com
o próprio ser (MAY, 1977, p.58)
A criatividade é apontada por May (1977, p.58) como elemento articulador da
ansiedade, pois não há possibilidade de ansiar por algo sem a capacidade de criar
distintas possibilidades. E, como criar é natural do ser, recuar a criação por não
conseguir lidar com a ansiedade é fugir a responsabilidade consigo próprio, e surge
o sentimento de culpa. Em outras palavras, quanto mais a pessoa é criativa, maior o
sentimento de culpa que potencialmente pode experimentar. May completa “a força
do eu se desenvolve a partir do confronto bem-sucedido do indivíduo com as
experiências geradoras de ansiedade” (MAY, 1977, p.54). E complementa na página
78 que, o indivíduo que é mais original, experimenta de profunda ansiedade, por ter
de lidar com a não aceitação externa.
Observado biologicamente, um organismo ainda não desenvolvido, ou seja,
em estágio infantil, reage de modo mais reflexivo, enquanto o amadurecido, aquele
que enfrentou a ansiedade e constituiu uma nova parte do eu, desenvolve controles
corticais. Este estado infantil pode perdurar durante toda a vida, não tem relação
com a idade, e sim com o amadurecimento psíquico do ser.
Seguindo na compreensão da ansiedade, May apresenta a atividade sexual
(sexo e masturbação) como uma forma possível de aliviar a ansiedade. Através do
orgasmo o indivíduo em situação normal sente alívio da ansiedade, porém, se este
entregar-se a rotina da masturbação ou outra atividade sexual, poderá experimentar
aumento da ansiedade, sendo então uma armadilha cíclica (MAY, 1977, p.85)
May começa a explorar em seu livro, após a página 86, algumas defesas do
ser contra essa ansiedade, o conflito não resolvido. Estas defesas surgem como
estratégia para reduzir o contato com a ansiedade, e consequente o mau estar do
qual não se pode fugir, como explanado anteriormente. Alguns exemplos são o uso
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de drogas, obsessões e compulsões, hostilidade, uso rigoroso da técnica e


planejamento, sadomasoquismo e destrutividade.
De maneira encurtada, compreendeu que este modo de tentar resolver pela
fuga, é um ciclo ansiógeno. O indivíduo em estado de ansiedade faz uso, por
exemplo, de hostilidade, que o afasta do objeto que entende ser causador desta,
afasta-se das relações, e desencadeia uma nova ansiedade, tornando-se escravo
desse ciclo.
Algumas consequências aparecem neste estudo, como a psicossomática,
compreendida como uma compensação do conflito não resolvido a nível psíquico
(ansiedade), desenvolvendo doenças que restringem o indivíduo, através da
impossibilidade de ir de encontro com a ameaça, justificado pela impossibilidade
física. Em outras palavras, seria uma outra forma de proteção contra ansiedade,
desviando o foco para uma doença física. O adoecimento orgânico tende a
desaparecer com a ansiedade, por reduzir drasticamente as possibilidades de
resolução do problema, ou seja, apontando para uma doença física, não existem
outras possibilidades existenciais e nem a incerteza (MAY, 1977, p.101), logo não há
conflito.
Culturalmente, de acordo com May (1977, p.95-99), o indivíduo é
condicionado a tentar resolver a ansiedade de determinada forma, desde o início da
vida, que pode não ser da maneira a qual deveria, o enfrentamento, mas alternativas
de fuga, como uso de álcool e outras drogas. Como exemplo, a úlcera é associada a
competitividade ocidental, hipertensão é vista como ansiedade de repressão da
raiva, e asma como dependência parental.
Goldstein é citado novamente por May, explicando que um medo específico
indica uma capacidade de objetivar, enquanto a ansiedade fica no campo do
subjetivo, da experiência vivida pelo indivíduo, e sem clareza do que se teme. Tal
comportamento já é percebido desde a infância, sendo que no bebê é percebido que
duas coisas despertam uma resposta de alerta, um som muito forte, e a perda de
apoio. Logo a frente May consolida seu pensamento dizendo que nas famílias onde
os pais, portam ansiedade demasiada, a relação com os filhos costuma ser
perturbadas, o que gera ansiedade nos filhos pela experiência de instabilidade e
insegurança. Em resumo, é provável que os “medos infantis sejam formas
objetivadas de ansiedade subjacente” (MAY, 1977, p.108-115).
16

O estresse surge como forma de alívio da ansiedade, uma vez que no


estresse existe um foco em que se atentar, deixando de lado por algum tempo a
convivência com a ameaça indeterminada. May escreve: “Quando existe grande
estresse, pode haver liberdade da ansiedade” (MAY, 1977, p.118). Isso corrobora
com a ideia de que a fobia é “uma cristalização de ansiedade em torno do algum
evento externo”, que seria um medo neurótico, como estratégia de esconder uma
ansiedade (MAY, 1977, p.121).
Entrando na questão da desintegração do eu, May compreende através de
Epstein, a relação entre amor-próprio e ansiedade, sendo o baixo amor-próprio
esteira onde percorre “infelicidade, desorganização, ansiedade e constrangimento”,
e o oposto produz sentimentos de “felicidade, integração, energia, disponibilidade,
liberdade e expansividade” (MAY, 1977, p.120).
May, por meio das pesquisas de Mowrer sobre ansiedade, descreve que na
aprendizagem a ansiedade pode ser positiva, desde que se faça uso de métodos
construtivos e saudáveis de trabalha-la em sala de aula, tendo como resultado a
motivação na educação (MAY, 1977, p.124).
O modo de vida socialmente estabelecido surge como fator colaborador da
ansiedade. A sociedade criou ao longo dos anos, regras comuns, padrões éticos,
que são impostos para que exista a possibilidade de uma vida saudável em grupo.
Por já termos comportamentos e decisões normatizados previamente, a aceitação
social vem muitas vezes em sentido oposto a necessidade singular do indivíduo, que
em conflito entre aquilo que intrinsecamente acredita, segue sentindo-se obrigado a
seguir as regras sociais pois aprendeu a depender do reconhecimento externo para
confirmação do eu aceito, conflito esse que gera ansiedade. E como vimos
anteriormente, é justamente o conflito psíquico a fonte da ansiedade. (MAY, 1977,
p.123-130).
Essa criação de padrões sociais, que tem sua utilidade positiva, carrega
outras armadilhas. A repressão da autenticidade do ser, pela normatização do modo
social de comportar-se, estimulam comportamentos agressivos pela competitividade
socialmente aceita e enaltecida. Essa cultura oculta uma culpa pela exploração do
outro, por ser considerado “bem-sucedido” socialmente, aquele que faz uso do outro
para o desenvolvimento social.
Na mesma linha, aqueles que não utilizam deste pensamento, são julgados
“fracos” e “neuróticos”, sendo estimulados a não demonstrarem agressividade para
17

com os exploradores, por ter aprendido como verdade que é culpada por ser como
é, “fraco”. E May consolida afirmando que este é o dilema da pessoa dependente da
avaliação de uma autoridade exterior ao eu, pois o interesse desta autoridade não
condiz com a necessidade do eu, gerando conflito psíquico, e um ciclo de
ansiedade. (MAY, 1977, p.131-135).
Com o crescimento do mercado, durante e após a Renascença, o ser humano
passa a ser avaliado externamente e constantemente, pelo valor de mercado, ou
seja, o valor que ele agrega pelo que produz ao outro, e não mais a partir de si
mesmo para satisfazer a necessidade do eu. Esse pensamento gera uma forma de
dependência da aprovação externa, cria certa hostilidade intra-social, acometendo
agressão e competitividade. May diz: “A luta pelo sucesso torna-se uma força tão
poderosa porque é equivalente a autopreservação e amor-próprio”. (MAY, 1977,
p.190-198).
Essa forma de constituição enfraquece, ou não permite o fortalecimento do
eu, criando dependência nunca suprida pelo outro, causando um ciclo vicioso, onde
o valorizado tornou-se aquele que faz uso do vulnerável, que é julgado como inferior
e explorável.
A proposta de May (1977, p.335-360), então, é que o enfrentamento da
ansiedade nomeada por ele como neurótica, provém ao indivíduo o desenvolvimento
de autoconhecimento, e estrutura no eu a partir de si mesmo, amenizando a
necessidade de aprovação externa, competitividade extrema e manipulação do outro
ser em benefício próprio. A auto realização, sendo o uso criativo das próprias
capacidades do indivíduo, “só pode ocorrer quando o indivíduo se defronta com as
experiências geradora de ansiedade e as supera” (MAY, 1977, p.358).
O receio de desaprovação por pessoas significativas, é fonte de ansiedade, já
desde quando bebê. Representada pelo receio da desaprovação materna,
desenvolve comportamentos compulsivos (repetitivos) que aprendeu funcionar para
manter a pessoa desejada neste laço dinâmico que necessita de constante
realimentação (MAY, 1977, p.165-169).
A expectativa que uma pessoa tem sobre algo, pode ser estimuladora de
ansiedade. Segundo Liddell (1949, apud MAY, 1977, p.357), quando existe um hiato
entre a expectativa e a realidade, existe ansiedade, que pode aumentar ou diminuir
se, distanciar-se ou aproximar-se da realidade. Quanto maior o hiato em realidade e
expectativa, maior será a ansiedade.
18

Os estudantes, descreve May, podem fazer uso construtivo da ansiedade. De


acordo com sua compreensão, aqueles que são mais criativos, se saem melhor nos
estudos, possuem mais ansiedade, desde que consigam lidar com ela ao invés de
utilizar-se da esquiva. Ao mesmo tempo, os estudantes menos criativos possuem
menor competitividade, e aliviam a ansiedade culpando uns aos outros por seu baixo
desempenho. Os indivíduos de maior criatividade, conseguem executar tarefas
cognitivas com melhor desempenho sob pressão. Isso mostra que a ansiedade, que
é diretamente ligada a criatividade, pode ser interessante ao estudante, desde que
não extrapole o limite e torne-se avassaladora. Alguns, buscam a ansiedade como
forma de estimular a realização de atividades com qualidade superior. (MAY, 1977,
p.356).

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Descrever e refletir sobre as questões existenciais que se apresentam de


diferentes maneiras para os estudantes universitários, como a ansiedade reside em
todos eles, embora singulares.

3.2 Objetivos específicos

• Compreender como a subjetividade do ser é influenciada pela ansiedade,


e qual o reflexo no estudante universitário.
• Refletir sobre as questões subjetivas do ser humano, que são
influenciadas pela política, sociedade e sistema de ensino universitário.
• Propostas de enfrentamento da ansiedade nos estudantes universitários.
19

4. MÉTODO

4.1 Pesquisa qualitativa

No presente trabalho optou-se pela pesquisa qualitativa, que busca entender


um caso ou um fato específico, dessa forma ela não se prende a números, a regras,
e não generaliza. Ela busca incentivar o sujeito a pensar livremente sobre
determinado assunto ou conceito. A partir de análises feitas com uma abrangência
bastante detalhada e lógica, a pesquisa qualitativa consegue certificar
empiricamente seus resultados, ou seja:
A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2001, p. 22).

O método da pesquisa qualitativa é apropriado para um conhecimento


permissível, trabalha com a experiência, com as vivências e com os resultados das
práticas do cotidiano.
De acordo com Heidegger (2012), uma ciência de caráter fenomenológico,
não pode seguir os caminhos das ciências naturais e mensurar com medidas, mas
cabe a descrição das experiências vividas e relatadas, deixando o fenômeno revelar-
se por si mesmo.
Fenomenologia, para Heidegger (2012, p.101), quer dizer, “as coisas elas
mesmas”, aquilo que é por si só. Através do discurso, que é um existenciário da
abertura (Dasein), é possível obter-se a descrição fenomenológica, que revela o
sentido da vivência no mundo pelo ser em questão. Dessa forma, a pesquisa
fenomenológica é uma forma de pesquisa qualitativa, por seu caráter descritivo e
relevador da experiência vivida.

4.2 Procedimentos e análise de dados

Foi adotado o procedimento de pesquisa em livros de base fenomenológica e


existencial, através de leitura consistente, demorando-se no tema afim de apropriar-
se com profundidade.
20

Depois foram pontuados as partes de maior relevância para o tema estudado,


chegando à consolidação do conhecimento adquirido.
Por fim, foi descrito neste trabalho o conteúdo compreendido e reflexionado,
agregando a experiência vivida durante a criação do mesmo.
21

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como a introdução trouxe distintas compreensões de ansiedade, e este


trabalho é fundado na fenomenologia, de agora em diante passarei a usar ansiedade
a partir da visão de Heidegger, sendo o ansioso o próprio ser-no-mundo, ou seja,
aquele que está em contato com tudo e, portanto, é provido de possibilidades
diversas. Heidegger utiliza o termo maníaco, que em minha compreensão está
alinhado com a ideia de neurótico usada por May, sendo aquele ser que não reflete
sobre o que pode vir-a-ser, tentando constantemente anteceder-se-a-si-mesmo,
sendo impróprio consecutivamente.
Apesar de Heidegger utilizar o termo maníaco, é preciso um cuidado extra,
pois em nossa cultura “maníaco” é pejorativo, de caráter às vezes criminoso, e
poderia criar um estigma das pessoas que são comumente chamadas de “ansiosas”.
De agora em diante, para substituir o termo maníaco, será utilizado conduzido pela
ansiedade, para falar desse Dasein que antecede-se-a-si-mesmo de maneira
imprópria e insaciável. “Ansiedade” será utilizado como é por si só, um elemento
natural do Dasein, que antecede-a-si-mesmo-no-já-em-(mundo).
Partindo então de que o conduzido pela ansiedade é este que sempre tenta
antecipar-se-a-si-mesmo, compreendo que ao viver na impropriedade, distancia-se
de ser quem é, e cada vez mais caminha em direção ao aumento da ansiedade.
Diversos fatores influenciam as diferentes formas do ser experimentar a
ansiedade, seja através da cultura, relações sociais, econômicas, e da relação
parental, e da forma como o ser-aí se relaciona com-os-outros.
Alguns recortes do TCC serão trazidos, e feita uma compreensão
fenomenológica a partir das ideias de Heidegger e Rollo May.
Se voltarmos na política das universidades em meados dos anos 90, citada
na introdução deste trabalho, extraído do TCC de Gonçalves et al. (2017), quando o
neoliberalismo foi reforçado pelas novas leis dentro das universidades, vemos que a
há realmente uma mudança significativa na forma como a cultura dentro das mudo.
A maneira objetiva e de linha de produção do ensino crescente nesta nova
política, parece deixar de abrir espaço para o processo criativo para que as ideias se
revelem, mas em contrapartida, May (1977) mostrou em seu estudo que pessoas
criativas que sabem continuar sua busca apesar da ansiedade, tendem a produzir
22

melhor com pressão. Porém, diferentemente dos conduzidos pela ansiedade, estes
retraem-se e buscam como alternativa atitudes mundanas pré-aprovadas
socialmente, mesmo que estas sejam contraditórias ao que acreditam
subjetivamente. Dessa forma, pode desencadear o aumento da ansiedade já
exacerbada.
Observado na introdução por May (1977, p.31-32), o estado de direitos, pela
ideologia política, põe a entender que este é o provedor de segurança, e que
seguindo o caminho pré-estabelecido, o ser conseguirá concretizar a expectativa
social. Nesse momento surge um conflito subjetivo, o ser em questão é colocado a
prova para dedicar grande parte do seu tempo para estudar e mostrar resultados a
um estado que não devolve aquilo que se propôs. O sujeito apenas busca
incessantemente a sua segurança em troca da própria existência, confrontando-se
com o tempo chronos (HEIDEGGER, 1927) e a finitude indiscutível, e intensifica a
ansiedade, por não ter tempo de realizar-se. Todo este processo decorre de uma
ansiedade neurótica generalizada.
O conflito, como visto, é alicerce onde se estrutura a ansiedade que acua o
ser-aí, que restringe a liberdade de escolha, e desenvolve estratégias de proteção
do núcleo vital ser. Este conflito parece vir de diversas fontes, da política, cultura da
sociedade, cultura intrafamiliar, cultura intra-universidade, cultural dentro dos cursos
pelo perfil de sujeito que fez a escolha por identificação, e apreensões criadas a
partir das experiências vivenciadas pelo ser-aí no mundo fático.
O ser que aí, tem seu chamado existencial mas não persegue, influenciado
desde cedo pela política, cultura e sociedades (e todas estão inter-relacionadas e se
influenciam mutuamente), acredita que está seguindo em direção a felicidade
“prometida”, mas sente, a todo instante, que sua relação com aquele estar-sendo
não supre sua necessidade existencial, e surgem os conflitos. A certeza aprendida
de que será feliz, contradiz a própria experiência que mostra que não está feliz.
A experiência universitária exige diversas e muitas vezes árduas horas de
dedicação, e se aquele ser que não sente que aquele tempo investido faz sentido,
pode sofrer de um conflito mais intenso, e desenvolver formas de proteção através
da compulsão, doenças psicossomáticas, e/ou uso de diversas drogas que alteram
seu estado de consciência, de percepção do mundo, para que este, prometido como
prazeroso e seguro, assim se confirme dentro desse momento apenas, podendo
criar uma dependência dessa relação de alívio e prazer.
23

Se olharmos para o estudo de May (1977), ele cita três tipos de reação a
ansiedade. O ser que, criativo, permanece e extrai benefício próprio da ansiedade e
da pressão, movendo-se em direção ao seu chamado existencial. Outros, menos
criativos, voltam-se para culpar os demais por seu insucesso, não assumindo-se
como é. Há ainda, os conduzidos pela ansiedade, que se deparam com ela e pré
ocupam-se, no sentido de antecipar-se a ocupação do objetivo de almejado, vivendo
na impropriedade, fazendo uso de métodos pré-determinados de pseudo-resolução
da ansiedade, mas contraditoriamente, afastam o ser de seu sentido-de-ser, e acaba
por experimentar mais ansiedade.
Quanto a este terceiro, o conduzidos pela ansiedade, podemos relacionar
com o uso de álcool e outras drogas apresentado no TCC por Gonçalves et al.
(2017), utilizando-se destes artifícios para aliviar a ansiedade em um curto espaço
de tempo chronos, visto que na cultura ocidental, “não há tempo a perder”, mas que
este tempo não seja o mesmo de resolução interna dos conflitos. Como discutido por
May (1977), o uso de artifícios de fuga para aliviar a ansiedade, como sexo,
masturbação, álcool e outras drogas, produzem um alívio imediato, mas podem em
seguida levar a um aumento da ansiedade do sujeito, que ilusoriamente “se livrou da
ansiedade”, mas logo em seguia, após o efeito, ela reaparece, porque não é um
medo objetivo, mas um conflito subjetivo, existencial.
Outras estratégias de defesa são, doenças psicossomáticas, obsessões e
compulsões, hostilidade, uso da técnica e planejamento exacerbado,
sadomasoquismo e destrutividade. O desenvolvimento do estresse é uma defesa do
ser para aliviar a ansiedade, portanto embora sentir-se estressado tem um caráter
comprometedor do corpo, funciona como alívio para o sofrimento psíquico do ser,
em contato constante como ser-no-mundo, sendo-aí, e tendo-de-ser
invariavelmente. Pode-se concluir que tais defesas surgem pela radical
impossibilidade de não vivenciar a ansiedade, pois radicalmente já-se-é-sempre-no-
mundo, aí, e por não resolver o conflito do ser, distribui essa carga no corpo do ser,
presente no mundo fático.
Ansiedade, como já comentado, não é igual para todos, é diferente do ponto
de vista de como a pessoa percebe a ameaça (MAY, 1977, p.68). Para Goldstein
(1938 apud MAY, 1977, p.74), o medo excita, estimula os sentidos do indivíduo em
defesa contra aquela ameaça real. A ansiedade, em contrapartida, “paralisa os
sentidos e os torna inutilizáveis”. E complementa que essa ansiedade que descreve
24

como grave, ocorre na pessoa como uma experiência de desintegração do eu, “uma
dissolução da existência de sua personalidade”.
Fazendo um paralelo do TCC com o estudo de May (1977), o ser que
experimenta demasiada ansiedade, pode desenvolver o estresse como proteção a
esta ansiedade, e quando se fala em “focalizar no fator estressor”. Compreendo que
a compulsão entra como estratégia para que o ser, conduzido pela ansiedade,
mantenha-se em situação de proteção dessa ameaça ao sistema vital (MAY, 1977).
O ser, criando rotinas e processos repetitivos para não precisar enfrentar a
ansiedade (HEIDEGGER, 2017, p.180-181), como uma estratégia de tentar
anteceder-se-a-si-mesmo-já-em-(mundo) de forma pseudo-controlada, visto a
impossibilidade de não experimentar a ansiedade.
Na mesma linha, a expectativa estudada por Liddell (1949, apud MAY, 1977,
p.357), relaciona-se com a questão da política, sociedade e cultura acima discutidas,
uma vez que este mesmo ser, aprendendo desde criança que existe um padrão para
ser-no-mundo, desenvolve uma convicção de que esta é a maneira de ser que o fará
feliz, e esta expectativa não se confirma na experienciação sendo-aí-no-mundo,
possibilitando a frustração e sentimento de incapacidade do sujeito, que convicto de
que o mundo está certo pois todos aparentam ser felizes, acredita que está a falhar
com seu projeto existencial, e poderá cair em tédio, no sentido Heideggeriano,
perder todo o sentido da vida, e afundar-se na mundanidade.
Qualquer ser está sujeito a viver na impropriedade, cursando ou não a
Universidade. O ambiente que se dá dentro deste âmbito universitário, neste período
em que o sujeito dedica arduamente grande parte do seu tempo acreditando em um
ideal já pronto, o coloca de frente com a impossibilidade de realizar seu sentido
existencial de maneira antecipada, por não mais poder gozar do direito de ser quem
é (se é que um dia o fez), e sentir-se realizado no mundo fático.
Poderia dizer que este momento é um confrontar o outro (o mundo pronto
externo aprendido), porém para haver um confronto é necessário que exista o eu
(autêntico) para confrontar o mundo. Nesse momento o sujeito percebe-se
conduzido pela ansiedade, pois não encontra seu eu autêntico, mas uma pintura do
mundo pronto desenhado nas paredes do seu eu oco, criando uma incoerência, um
conflito entre o mundo pronto em si, o sujeito que quer rejeitar (o eu oco com
desenhos do mundo pronto), vendo em si mesmo como aquilo que está rejeitando, e
travando um inevitável contato com seu vazio existencial, e ansiedade extrema.
25

Por uma perspectiva, esse momento de queda no vazio é negativo, trás risco
ao estudante, ao ser, que na mundanidade, vive na dependência de facilidades
amenizadoras da dor do vazio existencial. Porém, talvez este seja o único caminho
para deixar de ser-como-o-mundo-propõe. Entrar no vazio, é uma forma de despir-
se do mundo aprendido para encontrar o sentido do ser, e lançar-se no seu projeto
existencial autêntico.
A condução apropriada apontada por May, seria o enfrentamento da
ansiedade, viver nesse vazio e na ansiedade, para que consciente do que está
vivenciando, o ser possa construir à partir das próprias experiências, momento a
momento, apropriando-se do seu sentir, para então conseguir distinguir-se do
mundo dado, e tornar-se singular, no seu projeto de ser.
26

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desejo que não se crie rótulos ou compreensões encurtadas a partir de


termos como “maníaco”, e que não seja feito disso exclusão, mas busque-se suporte
para que todos consigam superar a ansiedade mesmo dentro da universidade,
obtenham desenvolvimento psíquico, e posso usufruir do que há de mais importante
neste período da vida de muitas pessoas, aprender a relacionar-se, a refletir, tornar-
se singular, e adquirir conhecimento.
A universidade pode ser mais do que uma produtora de mão de obra mais
especializada, e formar pessoas mais preparadas para ser-no-mundo com
oportunidade de realizar sua tarefa existencial. Creio que alguns, nem todos,
ingressam na faculdade já tendo em si um objetivo autêntico, não aquele formado
socialmente, e estes saem para o mercado melhor posicionados pois estão já-
sendo-aquilo-que-o-chamado-existencial-lhe-é-com-o-mundo, e portanto não vivem
diante de tal conflito existencial, não há um hiato entre expectativa e realidade, e
podem usufruir de sua tarefa de ser-no-mundo.
Durante o desenvolvimento deste trabalho foi possível compreender que a
ansiedade em estudantes universitários pode ser causada por diversos fatores
intrínsecos do ser humano, uma compreensão um pouco diferente da encurtada da
obtida no TCC, sendo descrita como “causada pelo grande número de atividades
paralelas dentro do curso, como estágios, trabalho e vida pessoal”, o que seria a
descrição causal com olhar encurtado aos fatos do mundo fático, e não a
compreensão ontológica obtida neste trabalho.
Considero, finalmente, que como refletido na discussão, a faculdade não é a
causa da exacerbada ansiedade que adoece diversos estudantes, mas local onde
este experimenta o conflito do “ser feliz” aprendido com a infelicidade sentida pela
ausência de sentido no tempo investido para obtenção de realização mediante
aprovação social, ao mesmo tempo que percebe seu oco desenhado com verdades
prontas e acreditadas até então, e surgem as diversas alternativas para sobreviver a
este momento, desde deixar a faculdade porque descobriu que não há sentido, até o
uso de meios de alteração de consciência para obtenção de prazer imediato, as
drogas, para conseguir permanecer dentro desse ciclo sem sentido.
27

Seguindo os estudos de May, sugiro aqui uma nova reflexão sobre como
combater, ou minimizar o impacto aos estudantes universitários que estão sendo
conduzidos pela ansiedade?
Como aqueles que conseguem lidar com sua ansiedade não é o foco deste
trabalho, mas os que sofrem as consequências da ansiedade acuada, gostaria de
iniciar uma reflexão sobre como apoiar o desenvolvimento destes alunos.
Não há como saber as origens da ansiedade de cada estudante, e nem é
papel da universidade fazer isso, mas como o objetivo é abrir oportunidade a todos,
então é necessário que se provenha condições psicológicas para aprender sobre si
mesmo, e superar-se, não apenas obter um diploma de reconhecimento social,
como é para muitos. Poderia haver psicólogos de plantão para acolher e realizar
atendimento aos estudantes com questões de ansiedade exacerbada, como
ferramenta para este desenvolver-se e vir a superar esta ansiedade, se possível, e
prosseguir curso de sua existência reduzindo os danos ao próprio ser. Como
discutido, a dor do vazio existencial por ser insuportável, e o psicólogo poderá ser
fundamental no trabalho de construção do eu, preenchendo o vazio com um sentido
existencial
Mesmo que não seja possível proporcionar suporte psicológico a todos, os
próprios alunos podem ajudar-se. Talvez seja conflituoso ajudar aquele que
socialmente será o “concorrente no mercado”, mas falo em ajudar um outro ser
humano, que está sofrendo, e quer superar-se, libertar-se, antes de realizar uma
tarefa social. Trazendo Heidegger, talvez para alguns, formar-se seja muito mais do
que um diploma, já seja o estar-sendo e realizando a tarefa existencial, e este não
tenha a necessidade de ajuda, mas pode, como ser humano, ajudar outro a alcançar
tal liberdade e viver para seu chamado existencial.
Talvez aos professores, caiba a tarefa de refletir sobre quem estão sendo-no-
mundo-com-os-outros, com os alunos, elaborar formas de encaminhar aqueles que
carecem de auxílio para um serviço especializado, não acomodando-se na tarefa de
entregar conhecimento e aplicar avaliações. Sim, penso que muitos vão além, e que
existe resistência dos próprios alunos, que possuídos pelo pensamento ansioso,
querem finalizar a tarefa universitária ao invés de dedicar-se a cuidar de si também,
dificultando essa abertura para o cuidado no sentido fenomenológico, de estar no
seu caminho, respondendo ao chamado existencial.
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Aos gestores, que venham a ler este trabalho, que é desejo de quem o
escreve, pediria a reflexão sobre qual é o objetivo da instituição de ensino que
gerenciam, que pessoas desejam formadas e vivendo no mundo, saudáveis ou não?
Pode ser que alguém pense que é uma “seleção natural”, o que é um pensamento
competitivo, mas justamente a proposta deste trabalho é pensar menos no
competitivo e mais no ser humano que vai realizar-se a partir da vivência na
universidade. Então, que mudanças criativas podem ser feitas, para que se realize a
necessidade do sistema, sem penalizar aqueles que estão estudando para realizar-
se?
Aos estudantes, por fim, e mais importante, cabe a difícil, mas essencial
tarefa de refletir, e colocar em prática como podem ajudar-se sem esperar que a
mudança venha da instituição, pai, mãe ou professores. Como vimos ao longo do
trabalho, a ansiedade é de cada um, e só pode ser superada por quem a enfrenta.
Lidar com seu vazio pode conduzir a preencher-se de si mesmo, que pode ser feito
com acompanhamento profissional de um psicólogo.
Como última reflexão, não é possível delegar tal responsabilidade de superar
a própria ansiedade e realizar sua tarefa existencial a uma entidade externa, ou
continuará fazendo aquilo que sempre aprendeu, aguardar e receber de fora o
preenchimento do de um falso sentido da sua existência, que não faz o menor
sentido. Para Heidegger, a tarefa existencial de ser é única e exclusive do ser-aí,
indelegável, e radicalmente impossível de não fazê-lo por si mesmo, visto que já
somos todos aí, no mundo, invariavelmente. Como escrito por Kierkegaard: A
liberdade depende, antes, de como um indivíduo se relaciona com seu eu a cada
momento da existência” (MAY, 1977, p.55).
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REFERÊNCIAS

GONCALVES, D. D. et al., Causas e consequências do estresse e ansiedade em


alunos universitários: reflexões de uma releitura bibliográfica [trabalho de conclusão
de curso], Campinas: Universidade Paulista Unip Campus Swift; 2017.

HEIDEGGER, M. Ser e Tempo (1927), Tradução CASTILHO, F.,


Campinas/Petrópolis: Editora da Unicamp/Vozes, 2012.

HEIDEGGER, M. Seminários de Zollikon, Tradução ARNHOLD, G. e PRADO, M. F.


A., Revisão da tradução: PRADO, M. F. A. e KIRCHNED, R., 3 ed., Escuta, 2017.

MAY, R. O significado de ansiedade, Tradução CABRAL, A., Rio de Janeiro: Zahar


Editores S. A., 1977.

MANCEBO, D.; MAUES, O.; CHAVES, V. L. J. Crise e reforma do Estado e da


Universidade Brasileira: implicações para o trabalho docente. Educ. rev., Curitiba, n.
28, p. 37-53, Dec. 2006. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
40602006000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 10 abr. 2019.

PONTE, C. R. S. Reflexões sobre a angústia em Rollo May. Rev. NUFEN, São


Paulo, v. 5, n. 1, p. 45-56, 2013. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912013000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 abr. 2019.

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