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1) A morte sempre parece enaltecer a figura do autor/a.

Casos como os de
Bolaño (1953-2003) e Levreiro (1940-2004) de certa forma mostram isso.
Você pensa que escritor bom é escritor morto?

Prefiro bons escritores. Vivos ou mortos? Tanto faz. Particularmente prefiro estar
vivo. Já romantizei muito sobre a morte, mas hoje tenho uma família (uma mulher
linda, que me ama, e que tem duas filhas que gosto como se fossem minhas) e
pretendo viver o máximo de tempo possível ao lado delas. Creio que a tese do
escritor bom e morto tem a ver com certa ideia piegas de posteridade ou
“imortalidade literária”. Stendhal afirmou que só seria compreendido em 1900 e
Nietzsche contraiu a mesma tara pelo futuro ao remeter aos próximos séculos o
entendimento de seu Zaratustra. No fundo sabemos que, para um escritor, esse tipo
de esperança é o consolo de todo ressentido. Se não serei lido no meu tempo desejo
que os leitores de amanhã nunca entrem em um sebo (em 2050 todos os sebos
ficarão em porões ou parques de diversão desativados). A boa nova é que o escritor
que sonha com a imortalidade literária não estará aqui para ser confirmado ou
desmentido. De qualquer modo, Nietzsche e Stendhal acertaram.

2) Na sua opinião, ser autor hoje em dia significa ser: um utopista incurável
ou um constante ato de resiliência?

Significa ter uma vocação, posteriormente desenvolvida com muita leitura e


trabalho diário. Claro que escrever em um país onde leitores são cada vez mais raros
é antes de tudo um ato de suicídio. Mas tudo depende da maneira como o escritor
lida com a questão. O escritor só tem uma grande inimiga: a expectativa. Em
literatura, grandes expectativas geram grandes desilusões. No geral, é preciso saber
que você não ganhará dinheiro suficiente com direitos autorais, não ficará famoso e
não venderá mais de mil livros. E estou sendo otimista! Nunca tive ilusões, então, a
saída que encontrei foi à Bolaño: escrever como um louco e inscrever meus livros
em prêmios literários que paguem em dinheiro. Não há um único prêmio literário
do tipo neste país onde eu não esteja ou inscrito ou em vias de me inscrever. O único
escrúpulo que ainda mantenho é com a qualidade do meu texto. Não troco meus
diamantes por cacos de vidro, só preciso ganhar a vida, como qualquer um. Mas a

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glória não me interessa, nem a posteridade. Só quero uma casinha de subúrbio, com
um basset salsicha chamado Pato mijando pela sala. A única coisa que me interessa
hoje é a segurança da minha família. Sou um grafomaníaco que beija os dados antes
de apostar na roleta. E aposto alto, pois aposto a vocação de toda uma vida.

AA. En tú opinión, ¿autor hoy en día significa es ser: un utopista incurable o un


constante acto de resiliencia?

TS. Significa tener una vocación, posteriormente desarrollada con mucha lectura y
trabajo diario. Claro que escribir en un país en donde lectores son cada vez más
raros es, antes que nada, un suicidio. Pero todo depende de la manera como el
escritor lidia con la cuestión. El escritor solo tiene una gran enemiga: la expectativa.
En literatura, grandes expectativas generan grandes desilusiones. En general, es
preciso saber que vos no ganarás dinero suficiente con derechos autorales, no te
harás famoso y no venderás más de mil libros. ¡Y estoy siendo optimista! Nunca tuve
ilusiones, entonces, la salida que encontré fue la de Bolaño: escribir como un loco e
inscribir mis libros en premios literarios que paguen en dinero. No existe premio
literario en este país en el cual no esté inscrito o en vías de inscribirme. El único
escrúpulo que aún mantengo es con la calidad de mi texto. No cambio mis diamantes
por pedazos de vidrio, solo preciso ganarme la vida, como cualquiera. Pero la gloria
no me interesa, ni la posteridad. Solo quiero una casita suburbana, con un basset
salchicha llamado Pato meando por la sala. La única cosa que me interesa hoy es la
seguridad de mi familia. Soy un grafomaníaco que besa los dados antes de apostar
en la ruleta. Y apuesto alto, ya que apuesto la vocación de toda una vida.

3) Você reivindica o papel do leitor antes do papel do escritor, ou melhor


dizendo, acredita muito no escritor que é primeiro que nada leitor. Como você
acha que sua escrita reflete isso?

Reflete muito. No caso da “Associação Robert Walser” esse reflexo é visível. Nos
outros, o reflexo fica oculto nos mecanismos do texto. O escritor que não é um leitor
obsessivo está fadado a se repetir. Antes de tudo, a leitura é uma técnica de escuta.
Você aprende a escutar. Isso desenvolve sua empatia, sua capacidade de se colocar

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no lugar do outro. E a empatia é essencial a um escritor. Sem ela, ficamos
eternamente presos àquela sujeira amarela que enche nosso umbigo (aqui se chama
“flunfo”) ou lambendo o próprio saco e sentindo pena de nós mesmos, como um
cachorro abandonado na floresta por um índio.

4) Há mais ou menos um mês estava lendo a entrevista que o Rascunho fez a


Gonçalo M. Tavares, e descobri que ele escreveu o livro intitulado “A máquina
do Joseph Walser”. Você sabe quem é Joseph Walser e se é parente de Robert?
Você leu esse livro? Com certeza já lhe fizeram essa pergunta, mas por que
escolheu Robert Walser para o título do seu livro?

Não sei. Do Gonçalo só li o romance “Jerusalém”. Mas como ele também gosta de
colocar escritores como personagens de seus livros, acredito que Joseph Walser seja
uma referência ao Robert. Já a escolha de Robert Walser como patrono de uma
associação de sósias tem a ver com o fato de que a tese do apagamento de si mesmo
(raiz da psicologia do sósia) está presente em todos os livros que li do Walser, em
especial no Jakob von Gunten. Além disso, apostei no efeito cômico de colocar, como
narrador do livro, um sósia de um escritor desconhecido (pelo menos até bem pouco
tempo atrás, Walser era absolutamente desconhecido) quando, grosso modo, sósias
preferem copiar celebridades.

5) Os títulos dos capítulos são muito poéticos. Também há muitas frases que
fazem parte do acervo oral de um povo. Eu pessoalmente acho de uma riqueza
sem igual encontrar esse tipo de escrita em um romance de um escritor jovem.
Por outro lado, esse tipo de construção comparativa me fez lembrar do livro
“Los siete locos” de Roberto Arlt. No Recife ainda as pessoas usam esse tipo de
fala ou é algo que você recuperou dos seus pais ou avôs?

Não li esse do Arlt. Li o “El juguete rabioso” (que por aqui saiu com o título “A Vida
Porca”). Agora vou contar algo aqui em primeira mão: em 2010 tive uma crise de
estresse que culminou em uma depressão que me levou a passar sete dias em uma
clínica para doidinhos moderados. Depois que saí, fiz tratamento de um ano e estou
bem desde então. O fato é que tanto na clínica quanto na terapia fora dela, participei

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de grupos de autoajuda para pessoas na mesma condição em que eu estava e, nas
reuniões, era muito comum o uso de ditados populares e frases-feitas do tipo, para
confortar o sofrimento das pessoas. Todas as reuniões da Associação Robert Walser
são baseadas nessas reuniões que participei. De modo que o acervo oral a que você
se refere vem dessa fonte de jargões, frases de encorajamento e outras coisas que
ouvi naquela época. O barato é que, apesar de estar sofrendo, consegui enxergar algo
de muito cômico e de muito teatral naqueles encontros. Essa marca d’água
humorística sobre um sofrimento terrível perpassa todo o meu romance. Lembro
que na clínica, sempre depois de jogar nosso pebolim (há um pebolim na Associação)
íamos para a fila receber nossos remédios, mas cada um fazia questão de ceder o
lugar para o outro, de modo que o andamento da fila ficava comprometido. Todos lá
eram muito educados, muito cordiais, excessivamente até, e esse excesso de polidez
se observa nos personagens da Associação. Outra lembrança que me emociona: no
pátio onde íamos fumar havia um telefone público. Um dia perguntei a um deles qual
a razão daquele telefone estar ali. Ele respondeu: “Somos as máquinas quebradas de
Deus. Estamos sendo consertados. Assim que estivermos prontos, Deus irá ligar para
dizer que já podemos ir”. Essa cena também está no romance, de modo que
Chapman, Sílvio, Allen, Hussein, Lennon e todos os outros existem realmente. Eu os
conheci. Anotei o número do telefone público e ligava para eles todo final de ano. Só
parei depois que, ano após ano, encontrava cada vez menos dos amigos que fiz lá.
Até que um dia liguei e ninguém atendeu. Espero que tenham recebido alta, que Deus
tenha finalmente telefonado para eles. E se por um acaso do destino algum deles
chegar a ler essa entrevista um dia, só quero dizer uma coisa: amigos, nunca me
esqueci de vocês, nossa bandeira (que é a bandeira de André Breton) segue
hasteada, obrigado por tudo.

6) Como você definiria seu romance? Eu às vezes o senti como uma


pantomima ou um simulacro literário. Qual é sua opinião? De alguma forma
nele está sua visão do mundo literário brasileiro atual? Me conta como surgiu
a ideia para o romance e como foi o processo criativo?

Concordo: é tanto uma pantomima quanto um simulacro. A Adriane Garcia chegou a


apontar elementos nele da comédia e do teatro do absurdo. A verdade é que não

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poderia escrever um romance que colocasse em xeque a questão da identidade, sem
colocar em xeque também a questão da autoria, ou da relação entre fama e
anonimato, ficção e realidade, história e imaginação. Mas o gatilho para a ideia do
romance surgiu de um fato prosaico: conheci, em 2012, um amigo no trabalho que é
um sósia anônimo do Mark Chapman. Ele sequer sabia disso até que eu revelasse.
Tive que alertá-lo, pois ele estava tirando visto para visitar os EUA. Se colocasse o
pé lá poderia ser morto por algum beatlemaníaco paranoico que acreditasse que
Chapman houvesse saído da cadeia.

7) Você tem mais 2 livros publicados, um de contos Breves fraturas portáteis


(Fina-Flor Editora, 2005) e outro de poesia, Paisagem com ideias (Bartlebee,
2012). Sei que está prestes a lançar um novo romance. O que mudou depois de
vencer o 2do Prêmio Pernambuco de Literário? De que maneira influenciou,
se é que o fez, esse prêmio na sua escritura?

Mudou que tive oportunidades que não teria se não ganhasse o Prêmio. Costumo
dizer que o Prêmio me salvou. Já havia disponibilizado 11 livros inéditos na internet
e estava prestes a pendurar as chuteiras (leia-se: não querer mais publicar e seguir
escrevendo para sempre no anonimato), mas o Prêmio Pernambuco mudou tudo
isso. Ganhei um bom dinheiro também, com o qual pude comprar um computador
de ponta e um software original do Word.

8) Uma curiosidade. Por que o narrador não tem nome? O narrador é você,
quer dizer, um você literário?

Sim. É um recurso que gosto muito. Meu novo romance, “E se Deus for um de nós?”
também tem um narrador não nomeado. Sairá ainda esse ano pela Confraria do
Vento. Gosto dele porque é um romance totalmente diverso do “Associação”. É uma
história de ficção científica, envolvendo um assassino em série de ruivas virgens e o
Exército Republicano Irlandês. Na verdade, não pretendo escrever outro livro como
o “Associação”. Gosto muito dele, mas a metalinguagem, as referências literárias,
exigem um tipo de leitor mais apurado. Quero agora escrever para o leitor comum.
Enquanto eles existirem.

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9) Por último, gostaria de saber se você tem algum conto, poema ou livro
publicado, tanto impresso quanto online, na Argentina?

Ainda não. E adoro a Argentina. Vocês produziram a melhor literatura do nosso


continente. Quem sabe depois dessa entrevista, não é?

Grande Marcelão: um privilégio. Obrigado! Segue endereço:


Rua Nair Pentagna Guimarães, 300, apt. 202, bloco 9, Heliópolis, BH-MG CEP 31741-
545.
Conosco vai tudo bem, ganhando a vida dia a dia ou, como disse Adoniran Barbosa,
“aprendendo o basquete”.
Grande abraço meu amigo.
Já te enviei o “E se Deus for um de nós”?
Se não, me passa teu endereço também. Presente.

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