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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE LETRAS
Letras Língua Portuguesa a Distância
Disciplina: Literatura Brasileira 2
Professor: Álisson da Hora

Aluno(a): __________________________________________ Data: ___ / ___ / ___

Polo:

PROVA FINAL

Texto 1

“Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito,
levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá.
Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me
criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela
outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz:
é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas
alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos
igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de
espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das
paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo...
Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Mata-cavalos, já
ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo
meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também
análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e
lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o
mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.”
(Machado de Assis, Dom Casmurro, Capítulo II)

Texto 2

“Sobre as paredes de terra, erguidas por escravos, pregavam-se papéis decorativos


europeus ou aplicavam-se pinturas, de forma a criar a ilusão de um ambiente novo,
como os interiores das residências dos países em industrialização. Em certos exemplos,
o fingimento atingia o absurdo: pintavam-se motivos arquitetônicos greco-romanos -
pilastras, arquitraves, colunatas, frisas etc. - com perfeição de perspectiva e
sombreamento, sugerindo uma ambientação neoclássica jamais realizável com as
técnicas e materiais disponíveis no local. Em outros, pintavam-se janelas nas paredes,
com vistas sobre ambientes do Rio de Janeiro, ou da Europa, sugerindo um exterior
longínquo, certamente diverso do real, das senzalas, escravos e terreiros de serviço"
(Roberto Schwarz – As ideias fora do lugar in: Ao vencedor, as batatas)
1 – A partir da leitura dos textos 1 e 2 articule uma reflexão de como Machado de Assis,
mesmo rejeitando os princípios da estética realista-naturalista, faz uma representação da
realidade brasileira, sem perder de foco o seu interesse no universal. (4 pontos)

É esperado que o discente cite em algum momento, direta ou indiretamente, Instinto de


nacionalidade, artigo no qual Machado de Assis expressa sua recusa pela insistência na
exigência na representação, pela literatura, dos temas nacionais, e no quanto isso estava
em desacordo com a realidade, na qual a sociedade brasileira buscava uma
representação em total desacordo com o instituído, tentando negar a escravidão, a
mediocridade do cotidiano e a miséria das relações sociais.

Texto 3

A litania dos pobres (trechos) - Cruz e Sousa

Os miseráveis, os rotos
São as flores dos esgotos.
São espectros implacáveis
Os rotos, os miseráveis.

São prantos negros de furnas


Caladas, mudas, soturnas.

São os grandes visionários


Dos abismos tumultuários.

As sombras das sombras mortas,


Cegos, a tatear nas portas.

Procurando o céu, aflitos


E varando o céu de gritos.

Faróis a noite apagados


Por ventos desesperados.

Inúteis, cansados braços


Pedindo amor aos Espaços.

Mãos inquietas, estendidas


Ao vão deserto das vidas.

Figuras que o Santo Ofício


Condena a feroz suplício.

Arcas soltas ao nevoento


Dilúvio do Esquecimento.
Perdidas na correnteza
Das culpas da Natureza. [...]

2 - Cruz e Sousa constituiu-se como o maior nome do Simbolismo brasileiro e teve, por
uma série de razões diversas, seu reconhecimento negado em vida. Contudo, sua
concepção de Simbolismo, ainda que tivesse uma fidelidade extrema à estética
simbolista, traz inúmeras diferenciações. Discorra brevemente sobre a poética particular
de Cruz e Sousa. (3 pontos)

Espera-se que o discente mobilize seu conhecimento sobre as questões básicas da


estética simbolista, mas também acrescentando o quanto Cruz e Sousa apresentou
desviantes usando do Simbolismo como ferramenta de crítica social e às estruturas
vigentes no final do Império e começo da República.

Texto 4

“A excitação recrudesceu; eu rolava na cama sobre um tormento de lascas cortantes.


Que fazer? Denunciar o Franco de madrugada? Correr, às escuras, e abrir o escoadouro
ao tanque?
Prevenir aos colegas pedindo que espalhassem? A controvérsia avultava-me no crânio
como uma inchação de meninges. Dar-se-ia caso que Franco, possuído de
arrependimento, fosse apresentar cedinho aos inspetores a delação do próprio feito?
Cheguei a tentar o engodo da consciência com a ponderação de que talvez não
saltassem ao tanque muitos de uma vez, e o primeiro ferido salvaria os outros. Mas a
febre vencia, com a perspectiva do sangue. Dez, vinte, trinta rapazes, à borda, gemendo,
extraindo dificilmente da carne as lascas encravadas!
E eu, cúmplice, que o permitira, e maior culpado, que me não cegava a razão, em suma,
de justa desforra...
Ergui-me da cama, e descalço nas tábuas frias, para ver se me acalmava o mal-estar,
errei pelos salões adormecidos.
Os colegas, tranquilos, na linha dos leitos, afundavam a face nas almofadas, palejante da
anemia de um repouso sem sonhos. Alguns afetavam um esboço comovedor de sorriso
ao lábio; alguns, a expressão desanimada dos falecidos, boca entreaberta, pálpebras
entrecerradas, mostrando dentro a ternura embaciada da morte. De espaço a espaço, os
lençóis alvos ondeavam do hausto mais forte do peito, aliviando-se depois por um
desses longos suspiros da adolescência, gerados, no dormir da vigília inconsciente do
coração. Os menores, mais crianças, conservavam uma das mãos ao peito, outra a
pender da cama, guardando no abandono do descanso uma atitude ideal de voo. Os
mais velhos, contorcidos no espasmo de aspirações precoces, vergavam a cabeça e
envolviam o travesseiro num enlace de carícias. O ar de fora chegava pelas janelas
abertas, fresco, temperado da exalação noturna das árvores; ouvia-se o grito
compassado de um sapo, martelando os segundos, as horas, a pancadas de tanoeiro;
outros e outros, mais longe. O gás, frouxamente, nas arandelas de vidro fosco,
bracejando dos balões de asa de mosca, dispersava-se igual sobre as camas, doçura
dispersa de um olhar de mãe.
Que venturosa segurança naquele museu de sono! E amanhã, pobres colegas! o banho,
a volta, pés ensanguentados, listrando de vestígios vermelhos o caminho!”
(Raul Pompeia – O Ateneu)

3 – Discorra sobre a obra “O Ateneu”, de Raul Pompeia, levando em consideração suas


convergências e divergências com a estética realista-naturalista e sua importância à
época. (3 pontos).

Espera-se que o discente articule a resposta levando em consideração o caráter de


romance psicológico que O Ateneu se constitui, mesclando elementos românticos,
realistas e mesmo naturalistas no que é considerado o único romance impressionista até
então da literatura brasileira.

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