Vous êtes sur la page 1sur 5

Exposição da obra “o Existencialismo é um Humanismo”

Discente: Rangel Mendes Francisco


Orientador: Prof. Dr. Renato dos Santos Belo
Pesquisa: a política e a moral em Sartre
Bibliografia: SARTRE, J. Paul. O Existencialismo é um Humanismo (1946). Tradução: Rita
Correia Guedes. Fonte: L’ Existentialisme est un Humanisme, Les Éditions Nagel, Paris, 1970.

A obra “O Existencialismo é um Humanismo” foi publicada em 1946 por Jean-


Paul Sartre. Baseado em uma palestra proferida no ano anterior à publicação da obra, o
texto visa a defesa da doutrina existencialista, a qual sofrera uma série de críticas
articuladas por intelectuais contrários às ideias do filósofo francês. Assim, a presente
exposição tem como objetivo destacar os argumentos centrais da defesa sartreana e o
cerne da moral existencialista.
Faz-se necessário destacar as principais críticas que foram direcionados ao
Existencialismo. Em primeiro lugar, os comunistas acusaram a concepção sartreana de se
resumir a uma filosofia burguesa. Tal acusação deve-se à tese de que o existencialismo
levaria ao imobilismo do desespero, desconsiderando a possibilidade da ação. Portanto, a
filosofia vigente seria a da contemplação, o que remete ao luxo burguês. Em segundo
lugar, tem-se a crítica de que o existencialismo se esqueceu da solidariedade humana,
visto que tal corrente filosófica parte do pressuposto de que o homem é puramente
subjetivo. Observa-se, então, as críticas cristãs, as quais afirmam ainda que os
existencialistas presam pela pura gratuidade, levando a uma espécie de libertinagem em
que cada homem age de acordo com as suas vontades, já que a doutrina existencial
desconsidera a existência de Deus.
Com as críticas expostas, torna-se cabível uma definição de existencialismo.
Sartre, após destacar que há dois tipos de existencialistas, os cristãos e os ateus, afirma
que “O que eles têm em comum é simplesmente o fato de todos considerarem que a
existência precede a essência, ou, se se preferir, que é necessário partir da subjetividade.”
(pág. 3). Portanto, o existencialismo é uma corrente filosófica que tem a pura
subjetividade do homem como ponto de partida. Ela acredita que o homem nasce como
uma tábula rasa, e a partir daí se constrói no mundo, sem nenhuma espécie de essência
pré-definida. Assim, pode-se estabelecer um primeiro argumento contra as acusações
supracitadas. As críticas destacadas se relacionam na medida em que enxergam o
existencialismo como uma doutrina pessimista, e, de certa forma, negativa.
Retoricamente, Sartre lança o seguinte questionamento:
[...] são estas as pessoas que acusam o existencialismo de
ser demasiado sombrio, a tal ponto que eu me pergunto se elas
não o censuram, não tanto pelo seu pessimismo, mas, justamente
pelo seu otimismo. Será que, no fundo, o que amedronta na
doutrina que tentarei expor não é fato de que ela deixa uma
possibilidade de escolha para o homem?” (pag. 3).
Com essa provocação, o filósofo demostra um entendimento do existencialismo:
“[...] como uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara
que toda verdade e toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana.” (pag. 2).
Assim, o existencialismo não busca a negação humana, mas a sua afirmação, ao passo em
que busca conceder ao homem a construção de seu futuro.
Jean Paul Sartre representaria o existencialismo ateu. Tal corrente afirma que não
há natureza humana, já que não existe um Deus para defini-la. Isso significa que não há
fator exterior que possa influenciar na essência do homem. Para ser, o homem precisa
existir, e é existindo que ele começa a escolher e, então, a se construir. Caso existisse um
Deus, o homem seria condicionado, o que, em Sartre, não é cabível. O primeiro princípio
existencialista, nas palavras de Sartre, é o que afirma que “o homem nada mais é do que
aquilo que ele faz de si mesmo” (pág. 4). Esse princípio afirma a subjetividade humana.
A definição de subjetividade que mais é compatível com o existencialismo é a seguinte:
“[...] escolha do sujeito individual por si próprio e, por outro lado, impossibilidade em
que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana” (pág. 5). Isso
faz com que o homem torne-se responsável por aquilo que é, já que é ele quem faz as
escolhas, e escolhendo, escolhe a todos os outros homens. Com essa consciência, a
responsabilidade humana torna-se cada vez maior.
Com os preceitos básicos do existencialismo expostos, pode-se agora discutir
acerca de uma moral existencialista, a qual partiria das definições existenciais
mencionados por Sartre. Como construir uma moral despida de valores pré-
estabelecidos? Para isso, é importante avaliar a posição sartreana em relação a outros
tipos de moral. Primeiramente, o filósofo cita uma moral laica, a qual foi defendida por
alguns professores franceses da época. Ela afirmava a possibilidade de eliminar a
existência de Deus com o mínimo de danos possíveis, considerando-o uma ilusão inútil e
caduca. Já para a doutrina existencialista, a inexistência de Deus seria algo incômodo, de
certa forma. Ao ter a consciência de que Deus não existe, o homem vê-se desamparado,
sem valores pré-estabelecidos para definir o que é o bem e o que é mal, por exemplo, e aí
está uma consequência. Por outro lado, é justamente esse desamparo existencial que o
condena à liberdade. O homem é livre e não possui determinismo que conduza a sua
conduta.
Partindo do extremo laico para um extremo religioso, Sartre analisa agora uma
moral cristã. Tal moral estabelece que as atitudes humanas devem se fundar na caridade
e os homens devem amar uns aos outros. Mas quem são “os outros”? O cristianismo, para
Sartre, não é capaz de definir ao certo como os homens devem agir, por possuir uma moral
rasa e inespecífica. Há ainda a moral kantiana, que vê no imperativo categórico – o agir
de modo que a ação torne-se uma máxima universal – uma solução para determinar a ação
humana. Kant afirmava ainda que devemos tratar os outros como fim e nunca como meio.
Entretanto, para Sartre, ao agir, o homem escolhe um fim, e tudo aquilo que não foi
escolhido, passa a ser um meio. Assim, o francês vê na moral kantiana mais um tipo de
doutrina que não concede ao homem a base para o agir.
Agora, então, pode-se introduzir uma moral existencialista. Sartre chama de moral
da ação e do engajamento um tipo de moral em que os valores são contemporâneos ao
ato. Assim, a moral é construída com o agir, sem se deixar influenciar por fatores
exteriores. Nas palavras de Sartre:
“o sentimento constrói-se através dos atos praticados; não
posso, portanto, pedir-lhe que me guie. O que significa que não
posso nem procurar em mim mesmo a autenticidade que me
impele a agir, nem buscar numa moral os conceitos que me
autorizam a agir.” (pág.8)
Para melhor exemplificar, o filósofo compara a moral que tenta construir a uma
obra de arte e seu autor. Ao pintar um quadro, o artista não possui valores à priori que
ditarão qual será o resultado da obra, e o quadro que ele deveria ter feito, é o quadro que
fez. Assim é a moral que Sartre tenta estabelecer: uma moral criativa. A pintura só será
julgada se for feita, bem como a moral, que só terá valor com a prática do ato. À priori,
não há como decidir o que fazer; o homem inventa e cria seus valores com a própria ação.
Com isso, não há gratuidade no ato, mas um “construir a si próprio” por meio do agir.
Reforçando tal ponderação, Sartre afirma que:
“O homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele
se constrói escolhendo a sua moral; e a pressão das circunstâncias
é tal que ele não pode deixar de escolher uma moral. Só definimos
o homem em relação a um engajamento.” (pág.12)
Assim, para o filósofo, a moral existencialista não dita os rumos do homem, mas
concede a liberdade para que ele aja livremente, sem basear a ação em nenhum valor
exterior.
Tomando como base o entendimento de moral sartreana estabelecida acima, pode-
se agora relacioná-la com os efeitos da consciência e da responsabilidade anteriormente
citadas. Assim, discute-se alguns conceitos postulados por Sartre. Tais conceitos, segundo
o filósofo, foram usados com má-fé contra a doutrina existencialista e necessitam de
melhor esclarecimento. São eles: a angústia, o desamparo e o desespero.

Define-se a primeira (angústia) como:

“o homem que se engaja e que se dá conta de que ele não


é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que
escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não
consegue escapar ao sentimento de sua total e profunda
responsabilidade.” (pág. 5).
A segunda (desamparo) significa que “Deus não existe e que é necessário levar
esse fato às últimas consequências.” (pág. 6). Para complementar:
“De fato, tudo é permitido se Deus não existe, e, por
conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra
nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar,
não encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a
essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma
natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe
determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro
lado, se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou
ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos
nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos
valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós,
sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem
está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si
mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no
mundo, é responsável por tudo o que faz.” (pág. 7).
Entende-se, então, que o desamparo é a consciência de que o homem está livre e
só no mundo, e não existem valores que auxiliem na vivência humana.
Quanto ao terceiro conceito, o desespero, tem-se a definição de que “só podemos
contar com o que depende da nossa vontade ou com o conjunto de probabilidades que
tornam a nossa ação possível.” (pág. 10). Quando um homem sai de casa, por exemplo,
tem que contar com as inúmeros possibilidades exteriores a ele. O homem que deseja algo
tem que fazer tudo o que está a seu alcance, pois acerca do que está fora dele, nada pode
ser feito. E o ser humano deve ser julgado por aquilo que pode fazer e fez. Um homem só
é o que é após ter realizado um ato, e não por aquilo que quis fazer, ou poderia fazer, mas
não o fez. Assim, Sartre pondera:
"O que as pessoas, obscuramente, sentem, e que as
atemoriza, é que o covarde que nós lhes apresentamos é culpado
por sua covardia. O que as pessoas querem é que nasçamos
covardes ou heróis. Uma das críticas mais freqüentemente feitas
aos Caminhos da Liberdade pode ser formulada deste modo:
“Mas, afinal, esses seres tão fracos, como poderão ser
transformados em heróis?”. Tal objeção é um tanto ridícula, pois
pressupõe que as pessoas nasçam heróis. E, no fundo, é isso que
todos desejam pensar: se eu nasço covarde, posso viver em
perfeita paz, nada posso fazer, serei covarde a vida inteira, o que
quer que eu faça; se nasço herói, também viverei inteiramente
tranqüilo, serei herói durante a vida toda, beberei como um herói;
comerei como um herói. O que o existencialista afirma é que o
covarde se faz covarde, que o herói se faz herói; existe sempre,
para o covarde, uma possibilidade de não mais
ser covarde, e, para o herói, de deixar de o ser. O que conta é o
engajamento total, e não é com um caso particular, uma ação
particular, que alguém se engaja totalmente." (pág. 12).
Em virtude do que foi citado, pode-se concluir que a obra “O Existencialismo é
um Humanismo” é coerente ao revisar a base existencialista a fim de defendê-la das
críticas expostas. A doutrina existencialista não trabalha na perspectiva da natureza
humana, mas da condição humana. Em suma, para Sartre, a afirmação de que “a
existência precede a essência” concede ao homem a oportunidade de se construir a cada
dia, planejando e consumando o seu futuro. Baseando-se ainda nesta afirmação, a moral
existencialista não visa ditar quais os atos que devem ser praticados pelos homens, mas
mostrar que ela está em constante construção. Responsável por si e pelos outros, o homem
pode se tornar angustiado, desamparado e desesperado, e tais conceitos são decorrentes
do fato de que o homem está sozinho em sua existência, sem valores para protegê-lo de
suas ações.

Vous aimerez peut-être aussi