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Resumo e Análise
Raquel Santos, n.º 684
Porém, para este estudo, interessa-nos encarar a cultura como um sector muito
poderoso, como um meio de comunicação capaz de ultrapassar barreiras geográficas e
linguísticas. Ao longo da História, a cultura já foi usada para fins políticos e sociais,
porque pode ser usada para promover estes valores, unindo pessoas numa só
“equipa”, por assim dizer. O exemplo mais óbvio deste tipo de utilização são os
movimentos artísticos que sempre surgiram associados a todas as ditaduras políticas
na história mundial, tanto da parte dos governos como da parte dos revolucionários,
tentando unir a população através de uma ideologia.
A um nível estritamente europeu, a cultura sempre teve um papel muito
relevante ao longo da história. Durante o período das descobertas e colonizações, a
cultura europeia acabou por funcionar como “embaixadora” dos valores europeus,
acabando por se fundir com valores locais e permitindo a uma melhor, e mais
amistosa, miscigenação de culturas e povos. Mesmo dentro do próprio continente
europeu, a cultura sempre ajudou num diálogo mais fácil e numa melhor compreensão
entre países. Actualmente, o mundo atingiu um nível de multiculturalidade tal que
podemos encontrar vestígios da dita cultura ocidental europeia em todos os outros
continentes.
Por si só, o potencial social e político da cultura deveriam ser suficientes para
atrair o interesse da União Europeia, uma vez que há já alguns anos este projecto
deixou de ser exclusivamente económico (nos tempos ainda da Comunidade
Económica Europeia) e passou a ser também um projecto com uma certa dimensão
social e política.
Porém, a componente económica continua a ter um grande peso na União
Europeia, como, aliás, sempre teve na relação entre os países europeus ao longo da
história. Nesse sentido, torna-se imperativo avaliar em que medida podemos usar a
cultura para que seja também economicamente benéfica para a Europa. Porém, esta
tarefa nunca foi encarada muito a sério, ou, pelo menos, com muita coesão a nível
internacional: sistemas de análise pouco eficientes e muito diferentes uns dos outros,
falta de informação ou mesmo estudos feitos de maneira pouco adequada à natureza
deste sector (que, no fundo, não deixa de ter uma natureza mais subjectiva que, por
exemplo o sector cientifico ou tecnológico).
Mesmo assim, o interesse económico na cultura tem vindo a aumentar,
conforme este sector se foi tornando cada vez mais importante na vida das pessoas,
consequência no aumento de qualidade de vida (mais dinheiro e mais tempo livre
geram novas necessidades). Para além disso, foram-se desenvolvendo cada vez mais as
chamadas indústrias culturais, que são muito mais interessantes do ponto de vista
económico. Em última análise, podemos considerar a multiculturalidade e a
globalização também responsáveis, no sentido em que mais opções e maior liberdade
de escolha, por assim dizer, levam as pessoas a quererem individualizar-se (a serem
únicas nos seus gostos) e, ao mesmo tempo, a quererem integrarem-se na sociedade,
criando um maior interesse em conhecer mais e mais culturas, numa espécie de ciclo
vicioso.
Para além disso, hoje em dia é dada cada vez mais relevância ao uso da cultura
em sectores não-culturais. Isto é, da criatividade posta ao serviço de outras áreas,
como a ciência e as tecnologias. Neste texto, o exemplo dado deste tipo de uso é o
design. O design, não sendo um meio cultural, serve-se da criatividade para tornar
objectos práticos mais apelativos, fazendo uso do sentido estético. Para além disso,
penso que também podemos tomar como exemplo a publicidade, que não é
considerada um meio cultural, mas faz um brilhante uso da criatividade (e, por vezes,
até mesmo de referências culturais) para gerar interesse por qualquer tipo de
produtos.
Na minha opinião, a Europa continua muito mais voltada para a ideia da “arte
pela arte” e, no caso do cinema, para a ideia de filme enquanto objecto artístico único,
que deve ser projectado em película numa sala de cinema, do que os E.U.A.. Parece-
me provável que assim seja porque a Europa sempre viveu habituada a grandes
artistas ao longo da história e conta com grandes nomes das artes “não industriais”. Ao
passo que os E.U.A. surgiram como país com identidade artística própria muito mais
tarde, historicamente mais perto da era da revolução industrial e da massificação.
Nesse sentido, parece-me lógico que os E.U.A. sempre tenham tido mais
facilidade em encarar as indústrias culturais como potencial económico.
Em conclusão, penso que o cinema europeu pode ter nas novas tecnologias da
informação e comunicação uma grande oportunidade de vingar a um nível menos
nacional e mais europeu ou, até mesmo, global, estando assim mais perto dos
objectivos da Estratégia de Lisboa.
Assim, poderá beneficiar muito mais facilmente das vantagens económicas que
esta poderosa indústria cultural oferece.