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Educacao e museus: seducao, riscos e ilusdes Ulpiano T. Bezerra de Meneses* Resumo CO objetivo deste texte € abrir escago pera uma reflexdo sobre questGes importantes relativas a politicas educacionais recentes praticadas por museus brasileires. Sao analisaclas quatro premissas da educago nos museus, assim come as respostas por eles trazides & que so, acredita, c&modas ¢ seclutoras, mas muito insatislatdrias, cheias de ilusdo ¢ até mesmo danasas: a necessidede de larmagae critica, a importéncia de objetivos cognitivos {e no sé informacionais), @ papel especilico do museu quanto 4 problemdtica ds culture material € © controle das recursos tecnoldgices para lazer face as trés dinetrizes acima: Palavras-chave Museu, educagSo, educacdo no museu Education and museums: alluring, risky and deceptive issues Abstract The purpose of this paper is to open space lor a critical review of some important issues concerning recent educational policies of museums in Brazil. Four premises are analyzed dlong with responses brought about by museums, which | repute ta be combortable and alluring, out rether unsatistactory, deceptive or even harmful: the necessity of critical national) objectives, the specific role of museums concerning material culture and the control of technological resources to meet the requicements of the aleresaid guidelines. density, the importance of cognitive Cand nat only inl Key words h : Museum, education, museum education. *Ulpiane T. Bezerra de Meneses & Faculdade de Filosofia, Letras & rofessor titular do Departamento da Humanas da USP/Sdo Paulo. g 92 O objetivo inicial deste texto cra desenhar um quadro estruturado — e com fundamento no estudo de casos e de declaragées - das directi- zes que tém norteado, entre nds, 0 trabalho educacional nos museus ¢, a seguir, submeré-lo a uma reflexdo capaz de salientar as inconveniéncias, enganos sedutores e cOmodas miragens que parecem predominar, a meu ver, nas posturas mais freqientes. Tal empreendimente teria que se gui- ar por padres do conhecimento cientifica, até na apresentagao formal. No entanto, seja por razGes materiais, seja para uma maior eficacia, seja, enfim, pela oportunidade, julguei mais pertinente resumir uma experi- éncia de quase quatro décadas em muscus ¢ oferecer um texto informal, a que nao faltasse, mesmo, um toque de paixdo ¢ radicalismo, desaconselhdveis em outro tipo de texto. O alvo é apontar, cautelarmente, 0s riscos que, ao longo desse tempo, tive ocasifio de perceber ¢ os rumos que, a meu ver, deveriam atrair nossa atengao. Com esse objetivo, re- solvi partir de quatro textos meus ja publicados e desenvalvé-los, adap- tando-os ¢ canalizando-os para © tema em questo!. Seja como for, limi- to-me, aqui, sem identificar casos, a diretrizes que se reconhecerac como usuais e tidas, em geral, como benéficas ¢ autojustificadas sem necessi- dade de discussao, Nao se trata de fendmeno exclusivamente nacional: infelizmente é generalizado; apenas estamos um pouco menos conscien- tes dos problemas de que vou falar e wm pouco mais iludides e desmu- niciados para enfrenté-los. Convém, antes de entrar no tema, expor mais duas ressalvas. A primeira é que nao pretendo fazer nenhum balango de situagao dos mu- seus brasileiros no tocante a seu papel educacional. Mais que nos cami- nhos, estou aqui interessado nos descaminhos, o que pode fazer supor que é negativa a visio que tenho do mundo museoldégico no Brasil. Ao contrério, um balango seria, no final, capaz de justificar muita esperan- ga. A segunda ressalva é que as questdes que aqui apresento necessitari- am, todas, de fundamentagio mais ampla ¢ exame de implicagoes em nivel operacional, pratico. Preferi limitar-me, porém, &s premissas, de que dependem todas as praticas, porque clas é que, entre nds, castumam ser colocadas 4 sombra. TNos textos referidos s¢ encontrario nfio séas premissas gerais de que parto, coma também bibliografia adequada para situé-las ¢ fundamenta-las; A Hise t6ria, cativa da memoria? Para um mapeamenta da meméria no campo das cidneias sociais, Revista do Instituta de Estudos Brasileiras / USP, 34, p.9-24, 1992; A problematiea da identidade cultural nos museus: de objerive (de agio) a objeto (de conhecimento), Anais do Musere Paulista, nse, 1, p-207- 224, 1993; Do teatro da memdria ao laboratdrio da Histéria: a exposicae museolégiea ¢ o conhecimento histérico, Anais do Museu Paulista, 1.8.2, p.9- 42, 1994 ¢ n.s.3, p.103-126, 1993; Museu virtual: o museu do futurol, in: Anais do Eneontro Latino-americana de museus, So Paulo, Secretaria Estadual da Cultura, 2000 (no prelo). ‘Coe. fee, Porta Alegre, a.27, p.S1101, jan jen. 2000 A educagao vem sendo percebida pelos museus nao 86 como.cam- po estratégico e de extraordindrio porencial, mas até como aquele capaz de justificar por si s6 sua propria existéncia ¢, quem sabe, redimi-la dos pecados do passado, como o elitismo, o estetismo redutor, o papel homologatério dos interesses dominantes, a alienag4o social, os compro- missos ideoldgicos, ete.,etc. E preciso estar atento, porém, para os riscos de a educagio transformar-se numa cémoda tabua de salvagao, anestesiando as consciéncias e responsabilidades profissionais que nao se empenham nas exigéncias amplas, tigorosas ¢ profundas que a acao educacional imperiosamente determina, A simples boa intengdo, neste como em outros casos, pode redundar em danos e omissdes graves. Educacaéo como formagio critica Antes de mais nada, seria prudente comegar por indagar que con- ecito de educagiio preside aos projetas, agdes e habitas em causa. As formas recorrentes pelas quais os museus tratam o problema da meméria ¢ da idenridade so caracteristicas - ¢ nao sé no campo da educagaa, é clara, - do automatismo de moda com que se definem pria- ridades ¢ abjetivos educacionais bem como metodologias pedagégicas. As ciéncias sociais contam hoje com vasto arsenal de estudos (em que se distinguem os de Psicologia Social, Sociologia e Antropologia), que de- monsttam cabalmente a natureza ideolégica, processual ¢ situacional das processos identitérios e dos mecanismos da memdria. Assim, conwém ter presente que memdria nao pode ser objeto de “resgate”, pois cla ndo deve ser confundida com os suportes pelos quais individuos, grupos e sociedades constroem ¢ continuamente teconstro- em (sempre em funcao das necessidades impostas pelas situagGes) uma auto-imagem de estabilidade ¢ permanéncia. Trata-se de um processo, historicamente mutavel, de um trabalho, ¢ nao de uma coisa objetivada ou de um pacote fechado de recordagdes. Além disso, mais que mecanis- mo de registro ¢ revencia, depdsita de informagGes, conhecimento € ex- periéncias, a memaria é um mecanismo de esquecimento programado. E se a meméria se constrdi filtrando e sclecionands, ela pode também ser induzida, provocada. Finalmente, a nogio de que a memdria aparece como enraizada no passado, que lhe fornece a seiva vital e ao qual ela serve (restando-lhe, quanto ao presente, transmitir os bens que ]4 tiver acumulado) é também falsa: a elaboragdo da memoria se da no presente © para responder a solicitagGes do presente Da mesma forma, a identidade nfo é uma esséncia, imanente e imutivel, imune as transformagées (0 “tipico” tende sempre a congelar tais esséncias fora da histéria, a qual, no entanto, tados os mortais estamos submetidos). Doutra parte, os processes identitirios — também eles Pana Alege, m2? pILDI, jandare 2000 B extremamente variaveis conforme as situagdes - definem-se mais pelas diferencas que procuram marear do que pelas semelhangas consigo mes- mo, Em outras palavras, tais processos precisam ser entendidos, antes de mais nada, como estratégias de excluséo, em fungac de um “eu” (indivi- dual ou social) que se define sempre em confronte com um outro, do qual busca distinguir-se. Identidade ¢ meméria sfo assim ingredientes fundamentais da interagdo social, presentes em quase todos os seus dominios — e, por isso, no poderiam em hipétese alguma estar ausentes dos museus que pretendam dar conta dos aspectos fundamentais de uma sociedade viva, no presente ou no passado. A idenctidade e meméria garantem @ produ- cao e repradugio da vida social, psiquica e biolégica. Dao suporte a um eixo de atribuigdo de sentidos sem o qual a vida se fragmentaria num permanente salto no escuro. Contudo meméria € identidade nao sio fendmenos eticamente neutros, nem maquinalmente bons: que o digam os conllitos étnicos na Africa, no Médio Oriente, nos Balcas, na Irlanda, na Espanha, ou em outras partes do mundo contempordneo, em que os atos mais crutis sio justificados por memorias ¢ identidades. Que significaria, entio, uma ago educativa dos muscus no to- cante aos prablemas da memoria ¢ da identidade? Colaborar na constre- edo ou reforgo e valoragéo das identidades e memérias, essénc (ou, quando impuras, que se impde purificar}! Eo caminho m: imediato ¢ de uma eficacia de resposta rdpida. Mas também ¢ de novo enredar-se complacentemente numa miragem ideoldgica, ainda que se sustente, agora, tratar-se da “boa” ideologia... A mim me parece que um museu que se transforma no arauto de identidades e memérias concre- tas, ahist6ricas, reificadas, é tudo menos educador. Educar nao poderia ser entendide como agio indutora de modelos univecos de homem € sociedade, muito menos utilizando, para tanto, os suportes poderosos que o museu pode fornecer para as identidades ¢ memérias: por que os museus nao se lembram, jamais, de incluir entre suas responsabilidades a de permitir a consciéncia das processos ¢ mecanismes de identidade e meméria — o que sfia, como se formam, como utilizam os vetores mate- tiais (objetos, imagens), como funcionam, que efeitos provocam, etc.? > seria suficientemente “educativo"? Convém sempre relembrar a diretriz essencial de John Dewey: educar é garantir ao individuo condigSes para que ele continue a edu- car-se. Em outras palavras, educar € promaver a autonomia do ser cons- ciente que somos - capazes de proceder a escolhas, hierarquizar alterna- tivas, formular e guiar-se por valores ¢ critérias éticos, definir conveni- éncias miltiplas ¢ seus efeitos, reconhecer erros ¢ insuficiéncias, propor é repropor diregdes. Pode haver educagio que nao tenha como eixo a formagao crfti- ca? Estou seguro de que no, A capacidade critica é, precisamente, a capacidade de separar, distinguir, circunscrever, levantar diferencas e avalié-las, situar e articular as infimeres fenémenos que se entrelagam na complexidade da vida de todos os dias ¢ nas transformagées mais pro- fundas de tempo rapido ou lento. E com a formagéa critica que os museus deveriam comprometer-se ac trabalhar com as questoes da identidade e da histéria. Identidade e histéria nao podem ser objetivos de um museu, mas objetos seus de tratamento critico — até mesmo para fundamentar uma agao educacional legitima ¢ socialmente fecunda. Entretanto nao é esse o horizonte de atuagao de nossos museus, salvo excegdes. O dominio dos museus histéricos - aquele que melhor conhego - confirma tal juizo. O esforco educacional e pedagégico desses museus, na maior parte, objetiva apresentar uma versao da Histéria atu- alizada e assimildvel, como se a Histdria fosse um conjunto de informa- gbes que podem eventualmente ser corigidas, ampliadas, redirecionadas —e nado aquele conhecimento produzido por leituras e releicuras de fe- némenos de estruturacdo, funcionamento e transformagao das socieda- des, leituras ¢ releituras que sé valem em fungdo do que valerem o referencial e as formas de mobilizd-lo (e que, portanto, nao poderiam ficar ocultos, principalmente num contexto educacional). E possivel ensinar histéria sem ensinar a fazer Histéria? E possivel aprender Histé- tia sem aprender a fazer Histdria? Em minha experiéncia docente, en- contre apenas elementos que fundamentam uma resposta negativa a tais indagagGes. Descarto aqui objegdo tantas vezes ouvida, de que problemas como estes so muito sofisticados para o ptblico a que se dirigem nossos mu- seus, Ora, nico estou falando e nao falarei aqui de linguagens museoldgicas (tema que entre nds, com extrema freqiténcia, é redutoramente confun- dido com comunicagéo visual...). Os pardmecros das linguagens museoldégicas, sem qualquer divida, devem ser a simplicidade, a acessi- bilidade ¢ a eficiéncia, Aqui, todavia, estou falande do rigor absoluto que deve presidir as tarefas de concepgao ¢ desenvolvimento das poltti- cas museolégicas. Para dizer de outra forma: as atividades académicas, de certo modo, sao mais leves se comparadas iis dos museus, pois nestes, além das exigéncias de carter cientifico, somam-se as de comunicagao cultural e educacional. E possivel que haja ainda quem ignore que escte- ver (camo se deve) um livro didético é mais dificil do que redigir um. artigo cientifico sobre o mesmo tema? Conhecimento Os museus se prestam a-muitas fungdes, todas elas de inegavel valor e desejabilidade: a fruigdo estética, o relacionamento afetivo, o devaneio, o sonho, a evasao, a nostalgia, sem excluir a informagao - € (Cheue, Jes Poeen Alegre, w.27, (oOI-104, osha, 2600 Jee Porta Alegre, 0.27, pSHIOL jana, LOOP a

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