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O gráfico baseia-se em informações corretas.

O problema são as
conclusões que se tiram dele. Estaríamos gastando metade
da arrecadação de impostos para manter a dívida? Não seria melhor
atacar essa despesa, em vez de reformar a Previdência?

Na verdade, o gráfico esconde um fato importante: grande parte da dívida


pública é refinanciada, em um arranjo chamado de “rolagem“, que não
envolve gasto de nossos impostos. É troca de dívida velha por dívida
nova. Explico.

Basicamente, para se endividar, o governo vende títulos públicos, com a


promessa de que os repagará com juros depois de algum tempo (ou seja,
no vencimento do título).

Suponha, por exemplo, que o governo vendeu títulos no valor de R$ 100


milhões em 2015, prometendo 10% de juros depois de 2 anos. Hoje, em
2017, esses títulos estão vencendo. E o governo precisa de R$ 110 milhões
para saldar a dívida —isto é, os R$ 100 milhões tomados, mais 10 milhões
de juros.
Em geral, ele não usa recursos dos impostos para pagar integralmente os
R$ 110 milhões (não tira isso tudo da saúde, educação, Previdência etc.).
Se assim o fizesse, a dívida cairia rapidamente, porém implicaria um custo
muito concentrado no tempo em termos de redução de gastos e/ou
aumento de impostos.

O governo, na verdade, emite títulos novos, com vencimento lá na frente,


em substituição a parte dos títulos que estão vencendo hoje. Esse processo
se chama rolagem da dívida.

Se o governo quiser que sua dívida se mantenha igualzinha à de antes, ele


precisa tomar emprestado mais R$ 100 milhões de reais. Para tanto, tem
que emitir R$ 100 milhões em títulos novos (por exemplo, com vencimento
em 2019). Com isso, substitui os R$ 100 milhões de dívida que estão
vencendo em 2017, pelos mesmos R$ 100 milhões de dívida que irão
vencer em 2019. O estoque total de endividamento se mantém, assim,
constante.

Mas ainda faltam os R$ 10 milhões em juros.

Para isso ele precisa economizar recursos. É aqui que entra o tal
do superávit primário, ou seja, a diferença entre arrecadação e gastos do
governo, sem considerar a parte da dívida.

Essa economia de recursos permite que a dívida permaneça estável ao


longo do tempo (na verdade, em tese, a dívida pública como proporção do
PIB poderia permanecer estável mesmo na presença de déficits primários,
caso a taxa de crescimento do PIB fosse maior do que a taxa de juros real;
isso, porém, não se verifica na economia brasileira, que precisa assim de
superávits primários para evitar que a razão dívida-PIB cresça ao longo do
tempo).

É esse montante que seria financiado com o dinheiro de impostos e,


portanto, competiria com outros gastos, como saúde, educação,
Previdência etc. Não o valor total de R$ 110 milhões.

Isso foi verdade apenas até 2013, quando tivemos superávits primários.
Nos últimos anos registramos déficits primários, ou seja, o governo federal
gasta mais do que arrecada, mesmo sem contar os custos associados à
dívida pública. Para 2017 e 2018, a meta é de um deficit primário de R$
159 bilhões.

Não existe economia para pagar parte dos juros, de modo a manter a
endividamento estável. Muito pelo contrário: o governo está tomando
emprestado tanto para pagar os juros da própria dívida como para financiar
o deficit primário!

Em outras palavras, atualmente nenhum centavo dos nossos impostos está


sendo usado para pagar juros da dívida. Esses recursos estão vindo do
aumento da emissão de títulos novos, o que impulsiona o endividamento
público. A dívida federal bruta, como proporção do PIB, está próxima de
75% e em trajetória forte de elevação.

Para limitar esse crescimento, precisamos gerar superávits primários. E é


aqui que entra a Previdência. Ela é, de longe, o principal componente de
despesas primárias (isto é, não financeiras), correspondendo a mais de
40% do total. E só tenderá a crescer ao longo do tempo, à medida que
nossa população envelhece.

Reformar a Previdência não é somente imprescindível para deter esse


processo de crescimento da dívida. Ajuda também a reduzir o alto custo
financeiro associado ao processo de endividamento, reflexo de nossa taxa
de juros ainda elevada na comparação internacional, apesar das quedas
recentes.

Isso porque uma dívida alta não apenas implica um grande volume de juros
para mantê-la. Ela também é vista como mais arriscada (ou seja, com
maiores chances de não ser saldada integralmente) por credores, que
passam a demandar taxas de juros mais altas de modo a compensar esse
risco e, assim, continuar financiando o governo.

Recentemente tivemos uma amostra desse efeito. Se olharmos o


comportamento das taxas de juros de médio prazo (de títulos públicos com
vencimento mais longínquo no tempo, de cinco anos, por exemplo), que
estão menos sujeitas às ações do Banco Central, verificaremos que elas
vêm crescendo significativamente nos últimos meses, acompanhando a
incerteza quanto à reforma da Previdência.

Acertar a “casa” fiscal é crucial para diminuir de vez os custos de


manutenção de nossa dívida pública. E isso não é possível sem controlar
nossos enormes e crescentes gastos com aposentadorias.

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