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17/07/2019 Umbanda E Candomblé: Conhecer É O Caminho Para a Quebra Do Preconceito | Brasil de Fato

Umbanda e Candomblé: conhecer é o caminho


para a quebra do preconceito
No 1º Encontro dos Povos de Terreiro, em Minas Gerais, representantes dos
povos de axé comentam o desafio da tolerância

Agatha Azevedo COMPARTILHE


Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG), 17 de Junho de 2019 às 10:56

Cerca de 400 lideranças do Candomblé e da Umbanda estiveram presentes ao encontro entre 13 e 16 de julho
/ Foto: Rafael Stedile

Com a benção dos mais velhos e dos mais novos, o itan e o oriki — formas de cântico e
oração dos povos de axé no idioma yorubá — iniciam os trabalhos, as celebrações e as
festividades dessa cultura milenar que resiste nos territórios tradicionais ao redor do mundo.
E é sob este manto de ancestralidade espiritual que cada dia do 1º Encontro dos Povos de
Terreiro Ègbé — eu e o outro se inicia, sempre respeitando os tempos dos orixás e do
sagrado. O evento foi organizado pelo Centro Nacional de Africanidade e Resistência
Afro-Brasileira, e aconteceu entre 13 e 16 de junho, em Belo Horizonte (MG).

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17/07/2019 Umbanda E Candomblé: Conhecer É O Caminho Para a Quebra Do Preconceito | Brasil de Fato

Em meio a essa troca de energia, mulheres e homens de axé falam de suas realidades, e do
sequestro de seus ancestrais africanos, vendidos em solo brasileiro, mas que mantiveram a
ancestralidade mesmo debaixo do açoite. "A gente fez até uma estratégia política de esconder
nossos Orixás atrás de um altar, e cultuar os santos da Igreja Católica para poder satisfazer
os feitores", explica Mãe Jaciara.

A baiana de 52 anos é uma yalorixá do Candomblé, e explica que “ser um yalorixá significa
ser uma mãe da comunidade”. Ela conta também que “os terreiros de Candomblé hoje são
um espaço de resistência, onde a liderança maior é matriarcal, mulheres são escolhidas para
ser yalorixá”.

Mãe Jaciara explica que “o terreiro de Candomblé é um espaço que contempla reconstruir
valores, e o principal é a questão da família pelo fato de nossa religião vir de África de uma
forma subumana, arrancados de África tendo que ocultar o nome, esquecer a identidade”, diz
e continua: “tem até uma história de que a gente tinha que dar 9 voltas na árvore para
esquecer o que era ser africano — mas nós não éramos escravos em África, nós éramos reis
e rainhas”.

Com quase meia década dedicadas às práticas e vivências das religiões afro, “30 anos de
santo e 46 anos de jurema”, como ela diz, Mãe Izabel de Acorodan é uma doné da Umbanda
— referência de maior idade e iniciação à religiosidade —, na Paraíba. Segundo ela, sua
resistência cotidiana vem da espiritualidade ancestral, que mostra a necessidade de ajudar o
outro.

“A Umbanda nos dá a magia para que a gente possa ajudar as pessoas, como todas as nossas
religiões, a Umbanda tem a força da mulher porque tudo começa com as mães”, ensina Mãe
Izabel.

Ambas religiões matriarcais, o Candomblé vem do continente africano e resiste à tentativa de


destruição durante a diáspora africana, que espalhou pessoas escravizadas para trabalhar
forçadamente ao redor do mundo. Já a Umbanda é genuinamente brasileira, mas ambas
carregam elementos do período de resistência dos afro-brasileiros para manterem seus cultos
sagrados mesmo com a imposição da Igreja Católica Apostólica Romana como a única forma
de crença permitida.

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17/07/2019 Umbanda E Candomblé: Conhecer É O Caminho Para a Quebra Do Preconceito | Brasil de Fato

Lideranças participam do encontro em Belo Horizonte. (Foto: Rafael Stedile)

Falta de conhecimento

Mesmo em um estado laico, a reparação das experiências de opressão dos povos negros em
forma de aceitação de sua religiosidade ainda é um caminho longo a ser percorrido. Sobre o
preconceito, Mãe Izabel afirma que o que acontece “é mais que uma falta de conhecimento,
porque no passado, no tempo dos Usineiros, eles sempre tinham um benzedor nas suas terras,
e quando o dono das terras estava com tiriça, preguiça, quebranto, eram eles quem
resolviam”, afirma ela, dizendo que “sempre reconheceram o dom, mas não o aceitam por
hipocrisia”.

Com bom humor, Mãe Izabel fala que se considera macumbeira. “Macumba, que eu saiba, é
um instrumento feito de madeira, parece um reco-reco, mas como nós somos de catiça [de
magia, encantados, feiticeiros], o povo nos batizou de macumbeiros, e nós assumimos esse
negócio aí”, conta em tom de piada. Em sua casa de Umbanda, ela tem alecrim, malva,
levante, pé de quiabo, e muitas outras plantas.

“As pessoas que viessem visitar iam sentir um cado de perfume, um tanto de um cheiro
forte”, explica Izabel, falando sobre a importância de estar aberto a conhecer, afinal “ninguém
nasceu, nem cresceu para ser criticado no meio da rua por qualquer razão que seja”.

Leão da intolerância
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Para os povos de terreiro, não existe céu nem inferno. Mãe Jaciara conta que o terreiro é o
local onde os povos se fortalecem, independente de cor, de credo e de etnia. “As pessoas que
não conhecem o candomblé acham que a gente cultua o diabo, mas o diabo para mim é da
Igreja Católica, o anjo Lúcifer, nós cultuamos Exú, que é o mensageiro entre o natural e o
sobrenatural, e cultuar Exú é cultuar a alegria, a fertilidade, a vida”.

Segundo a líder espiritual, a religiosidade dos povos de axé está presente em todas as esferas
da vida e os terreiros não são um lugar apenas de oração “a gente recria espaços de
acolhimento ancestral, espiritual e psicológico, as pessoas chegam no terreiro com muita
fragilidade, seja pela exclusão, pelo racismo, pelo ódio, pela forma como o negro é tratado
no Brasil”, explica.

Para lidar com a intolerância, Mãe Jaciara diz que “todo dia a gente tem que matar um leão
para estar vivo, mas é um momento que o país está passando, e só mesmo dentro do terreiro
de Candomblé com rituais de acolhimento, com folha sagrada, com banho de ervas, com
banho de água de cachoeira, que a gente está mantendo um equilíbrio”. Por isso mesmo, se
preocupa com os ataques que as casas e terreiros sofrem, que para ela, tem a ver com o
aumento do ódio e da intolerância.

“A gente não bate na porta de ninguém para ser do Candomblé, ou diz que o Orixá vai
cobrar, o maior pecado que o ser humano tem é errar com o outro”, pontua.

Cultuando a força da natureza, do ar, do tempo, das águas, e da vida, Mãe Jaciara fala sobre
a importância do equilíbrio energético para a vida e para a espiritualidade para a construção
de territórios que libertem. "O terreiro de Candomblé faz trabalhos sociais, dá curso, faz roda
de diálogo, caminhadas para impactar no ódio religioso e pedir a paz”, completa a líder
comunitária, falando da vida, da ética e da autoestima, valores do Candomblé.

Essa conexão com o sagrado também se faz presente na espiritualidade Umbandista. “Você já
parou para pensar quantos Caciques morreram para eu chegar aqui? Quantos ciganos
morreram?”, pergunta Mãe Izabel, para falar da ancestralidade. “Os ancestrais voltam para
casa para ficar nos olhando, é um jogo de existência, meus antigos me dão e eu busco os
novos para dar o que eu tenho”, explica, com tranquilidade.

Mãe Izabel afirma que os povos de terreiro estão abertos para serem descobertos. “Eu diria
para vocês ficarem nus de todo o conhecimento e recomeçarem, pois o nosso corpóreo já é
uma roupa, e tudo que você receia encosta em você, justamente essa negatividade, esse
preconceito”, e recomenda que, para conhecer e quebrar preconceitos, as pessoas se vistam de
amor, pois sua única obrigação ao longo da vida é ser feliz.
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17/07/2019 Umbanda E Candomblé: Conhecer É O Caminho Para a Quebra Do Preconceito | Brasil de Fato

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira

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