Vous êtes sur la page 1sur 4

A TENSÃO ENTRE LAICIDADE E DEMOCRACIA NO ESPAÇO PÚBLICO

BRASILEIRO: UM OLHAR HABERMASIANO SOBRE A PEC 99/2011

Raique Lucas de Jesus Correia1


Marta Regina Gama Gonçalves2

RESUMO

Mesmo em face do “processo de racionalização”, a “fé” renasce nas sociedades


modernas, angariando novos adeptos e penetrando cada vez mais nos espaços
secularizados. Tal configuração, no mínimo problemática, suscita uma série de
questionamentos e suspeitas acerca da participação desses grupos na esfera pública,
sobretudo, na instância legislativa, tão logo provoca os teóricos sociais, a uma reflexão
sobre este fenômeno, que malgrado latente na sociedade brasileira, denuncia um
movimento global. Ex positis, empenhados em discutir tais questões no contexto
brasileiro, tomando no plano teórico o pensamento de Jürgen Habermas, o presente
trabalho estatuiu como objeto de pesquisa a PEC 99/2011, ao passo que elegeu a revisão
bibliográfica e a análise de conteúdo como ferramentas metodológicas, de modo a
averiguar se a incursão legislativa pela aprovação da referida PEC, e mesmo seu teor,
violam a laicidade estatal ou, a contrario sensu, corroboram com as teses habermasianas
de pós-secularização e democracia deliberativa.

Palavras-chave: Sociedade pós-secular. Modernidade. Jürgen Habermas.


Democracia deliberativa. PEC 99/2011.

INTRODUÇÃO

A expansão pentecostal no Brasil ocorre de modo constante já há meio século, o


que permitiu que o pentecostalismo se tornasse o segundo maior grupo religioso do país.
Este avanço não é expressivo apenas nos planos religioso e demográfico, estende-se por
diversos outros campos. (MARIANO, 2004, p. 121-128).
No campo político este avanço pode ser percebido com a criação no Congresso
Nacional da Frente Parlamentar Evangélica em 2003, fato que causa uma série de
dúvidas acerca da participação desses grupos na esfera pública, a começar pelo receio
de embargos a pautas progressistas, ou ainda uma possível imposição de preceitos
próprios em face da coletividade.
Dito isto, levando em conta à tensão entre o "divino" e o secular na
contemporaneidade, Jürgen Habermas, trouxe à tona um arranjo social (sociedade pós-

1
Raique Lucas de Jesus Correia. Direito. Faculdade Social da Bahia.
2
Marta Regina Gama Gonçalves. Direito. Faculdade Social da Bahia.
secular) capaz de reunir num mesmo espaço, através de processos bilaterais de
aprendizagem e cooperação, as duas "faces de Jano". (HABERMAS, 2003, 2007, 2013).
Ao reconhecer os potenciais de bem comum e humanidade presentes na semântica
religiosa, bem como o “saber virtuoso” na genealogia da razão, Habermas cunha na
modernidade a figura do pensamento pós-metafísico, isto é, uma espécie de
“secularização autoreflexiva”, no sentido de tornar viável a troca de conhecimentos entre
as visões piedosas e científicas, mantendo sempre – é verdade – a fronteira entre
“método” e “revelação”, rechaçando, contudo, um modelo “cientificista extremado”.
(HABERMAS, 2007).
Ao lado deste ideal, Habermas nos oferece um projeto inclusivo, no que tenta
através da razão comunicativa, levar a efeito com vez no espaço público, os ditames de
uma democracia deliberativa, incluindo as vozes periféricas no processo decisório, de
modo a legitimá-lo. Para tanto, deve ser permitido que todo sujeito possa participar das
discussões, devendo, é claro, prevalecer o melhor argumento, na qualidade de
exteriorizações racionais passíveis de universalidade. (HABERMAS, 1989, 2003, 2007).
Empenhados em discutir tais questões no contexto brasileiro, tomando Jürgen
Habermas como referencial teórico, o presente trabalho estatuiu como objeto de pesquisa
a PEC 99/2011, ao passo que elegeu a revisão bibliográfica e a análise de conteúdo
como ferramenta metodológica, de modo a discutir se a incursão legislativa pela
aprovação da PEC 99/2011, e mesmo seu teor, violam a laicidade ou, a contrario sensu,
corroboram com o ideal habermasiano de sociedade pós-secular e democracia
deliberativa.

METODOLOGIA

De modo a viabilizar o objetivo perseguido, foi empreendida uma revisão


bibliográfica como forma de alinhavar os conceitos sedimentados no corolário da
obra habermasiana, ao passo que a análise de conteúdo (BARDIN, 1997) foi eleita,
no sentido de permitir o confronto entre o caso concreto e as categorias teóricas
formuladas à sombra do pano de fundo teórico adotado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como fundamentação do pedido proposto em sede da PEC 99/2011, cujo teor
versa sobre a inclusão das entidades religiosas de âmbito nacional no rol dos
legitimados do art. 103 da Constituição Federal, a Frente Parlamentar Evangélica
suscitou a liberdade de culto e de religião como uma conquista sedimentada na
Constituição Federal, atentando quanto à peregrinação evangélica como um dos
principais fatores que concorreram para pacificar aqueles princípios no cerne da
República.
Como justificativa a modificação pretendida, o receio de violações por parte do
órgão legiferante de direitos fundamentais garantidos aos religiosos, foi posto como
principal argumento a se conferir as entidades religiosas de âmbito nacional,
capacidade postulatória para posição de ADI e ADC em face de lei ou ato normativo.
Os pareces aprovados na CCJC e na Comissão Especial, atentam para
importância das entidades religiosas para vida nacional, reconhecendo não só sua
influência, como também a sensibilidade desses grupos para determinados
assuntos, inclusive na qualidade de pressupostos interpretativos às normas jurídicas.
Na comissão especial, o parecer aprovado, remete a supremacia da
Constituição e a importância do controle de constitucionalidade para efetivação
daquele princípio. Nesta senda, se prima facie, cabia apenas ao Procurador-Geral
da República a faculdade de propor ações em sede de controle abstrato, a Carta
Política de 1988 tornou-se o paradigma da abertura deste rol a outros entes,
inclusive na democratização quanto a penetração dos anseios sociais na agenda do
STF.
Outro efeito provocado por essa guinada no rol dos legitimados, foi a
consolidação do STF como instância contramajoritária, posto que os partidos de
oposição, não tendo força no Congresso Nacional para obstar determinados
projetos, passaram a recorrer a Suprema Corte, informando com isso a magnitude
da mudança provocada com o texto constitucional de 1988 na defesa dos direitos
das minorias.
Na audiência pública, convocada em virtude da PEC 99/2011, o ministro Ives
Gandra Filho, criticou a ideia de um estado laicista, isto é, no entender do ministro,
uma configuração social que exorta todas as formas de vida religiosas a esfera
íntima do indivíduos, excluindo-as do debate político, dando preferência a
argumentos científicos.
CONCLUSÕES / CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo os religiosos uma parcela volumosa da população brasileira, sob a


óptica habermasiana, não parece que a PEC 99/2011 viole a laicidade estatal, em
verdade ao permitir que as instituições religiosas sejam também legítimas para
proposição de ADI e ADC, incluem essas vozes no processo de formação da
vontade normativa do Estado, do qual também eles fazem parte, de modo a
favorecer a construção de uma ordem jurídica de fato legítima. Além disso, se por
um lado a PEC 99/2011 milita em prol da soberania popular, por outro permite que
grupos religiosos minoritários, provoquem a Suprema Corte quando se sentirem
ameaçados em seus direitos por decisões endossadas por maiorias religiosas,
corroborando com isso para autodeterminação desses grupos em seus direitos
subjetivos.
Finalmente, para que possam propor ADI e ADC as entidades religiosas terão
que comprovar pertinência temática, e o mérito de eventuais pedidos terão que
passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal. Sendo assim, a PEC 99/2011 e
mesmo seu curso pela instancia legislativa, haja vista também que as
fundamentações trazidas repousam numa linguagem “racional”, não ferem o Estado
laico, ao contrário, concorrem com as teses habermasianas de pós-secularização e
democracia deliberativa.

REFERÊNCIAS

MARIANO, Ricardo. Expansão pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal.


ESTUDOS AVANÇADOS 18 (52), 2004, p. 121-128.

HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Trad. De Guido Antônio


de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.

______. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Trad. Flávio Beno


Siebeneichler. 2ª ed. Vol. 1. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

______. Entre Naturalismo e Religião. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007.

______. Fé e Saber. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

Vous aimerez peut-être aussi