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~ Ajahn Chah ~

[1] O Wat Wana Potiyahn [2] aqui é certamente muito tranquilo, mas isso pouco
significa se nossas mentes não estiverem calmas. Todos os lugares são tranquilos. Que
alguns pareçam nos distrair é por causa das nossas mentes. No entanto, um lugar
sossegado pode ser útil para nos acalmar, dando-nos a oportunidade de treinar e, assim,
harmonizar com esse sossego.

Vocês devem ter em mente que essa prática é difícil. Treinar outras coisas não é tão
difícil, é fácil, mas a mente humana é dura de treinar. O Senhor Buddha treinou sua
mente. A mente é uma coisa importante. Tudo dentro desse sistema corpo-mente está
unido. Olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo recebem sensações e as enviam à mente,
que é o supervisor de todos os outros órgãos sensoriais. Por isso é importante treinar a
mente. Se ela estiver bem treinada, todos os problemas acabam. Se ainda houver
problemas é porque a mente ainda duvida, ela não está em conformidade com a verdade.
Por isso há problemas.

Então, reconheçam que todos vocês vieram completamente preparados para praticar o
Dhamma. Estejam em pé, sentados, caminhando ou reclinados, as ferramentas que
vocês precisam para praticar foram todas providenciadas, onde vocês estiverem. Elas
estão aí, assim como o Dhamma. O Dhamma é algo que está em todo lugar. Exatamente
aqui, na terra ou na água…. em qualquer lugar… o Dhamma está sempre lá. O Dhamma
é perfeito e completo, é a sua prática que ainda não é completa.

O Senhor Buddha, Completamente Iluminado, ensinou maneiras por meio das quais
todos nós podemos praticar e conhecer esse Dhamma. Não é uma grande coisa, apenas
uma pequena coisa, mas é correta. Por exemplo, os cabelos. Se nós conhecemos apenas
um dos fios de cabelo, então conhecemos todo o cabelo, o nosso e o dos outros. Nós
entendemos que eles são simplesmente “cabelos”. Conhecendo um fio de cabelo nós
conhecemos todos os cabelos.

Ou considerem pessoas. Se vemos a verdadeira natureza das condições dentro de nós


mesmos, então sabemos de todas as outras pessoas no mundo também, porque todas as
pessoas são iguais. Dhamma é assim. É uma coisa pequena e ainda assim é grande. Ou
seja, ver a verdade de uma condição é ver a verdade de todas elas. Quando conhecemos
a verdade como ela é todos os problemas chegam ao fim.

No entanto, o treinamento é difícil. Por que é difícil? É difícil por causa do querer,
taṇhā. Se não “querem’” vocês não praticam. Porém, se praticarem a partir do desejo,
vocês não verão o Dhamma. Pensem nisso, todos vocês. Se não querem praticar vocês
não podem praticar. Primeiro vocês devem querer praticar para depois realmente
praticarem. Um passo a frente ou um recuo e vocês encontrarão o desejo. É por isso que
os cultivadores do passado disseram que esta prática é algo extremamente difícil de
fazer.

Você não vê o Dhamma por causa do desejo. Às vezes o desejo é muito forte, você quer
ver o Dhamma de imediato, mas o Dhamma não é a sua mente – a sua mente ainda não
é o Dhamma. O Dhamma é uma coisa e a mente, outra. Também não se pode pensar que
tudo aquilo que gostamos seja o Dhamma e o que não gostamos não seja. Não funciona
dessa forma.
Na verdade, esta nossa mente é simplesmente uma condição da natureza, como uma
árvore na floresta. Se você quer uma prancha ou um feixe, estes devem vir da árvore,
mas a árvore ainda é apenas uma árvore. Ainda não é um feixe ou uma prancha. Antes
que a árvore possa ser realmente útil para nós devemos serrá-la em vigas ou tábuas. É a
mesma árvore, mas transformada numa outra coisa. Intrinsecamente é apenas uma
árvore, uma condição da natureza. Mas em seu estado bruto ainda não é de muita
utilidade para aqueles que precisam de madeira. Nossa mente é assim. É uma condição
da natureza. Como tal, ela percebe pensamentos, discrimina em termos de beleza e
feiura, e assim por diante.

Esta nossa mente deve ser mais treinada. Nós não podemos simplesmente deixá-la ser.
É uma condição da natureza… treiná-la para perceber que é uma condição da natureza.
Melhore a natureza de modo que seja adequada às nossas necessidades, que é o
Dhamma. Dhamma é algo que deve ser praticado e trazido para dentro.

Se você não praticar você não vai saber. Falando francamente, você não conhecerá o
Dhamma se apenas o ler ou estudar. Ou, se você o conhece, o seu conhecimento ainda
está imperfeito. Por exemplo, esta escarradeira aqui. Todos sabem que é uma
escarradeira, mas não conhecem verdadeiramente a escarradeira. Porque não a
conhecem plenamente? Se eu chamasse esta escarradeira de panela, o que diria você?
Suponha que de cada vez que eu a pedisse dissesse “Por favor, traga aquela panela
aqui”, isso iria confundi-lo. Por quê? Porque você não conhece plenamente a
escarradeira. Se você a conhecesse, não haveria problema. Você poderia simplesmente
pegar aquele objeto e entregá-lo a mim, porque na verdade não há qualquer
escarradeira. Você entendeu? É uma escarradeira devido a uma convenção. Esta
convenção é aceita em todo o país, por isso é escarradeira. Mas não há qualquer
escarradeira “real”. Se alguém a quiser chamar panela pode ser uma panela. Ela pode
ser o que você a chamar. Isso é chamado “conceito”. Se nós conhecermos plenamente a
escarradeira, mesmo se alguém lhe chamar panela não há problema. O que quer que
outros lhe possam chamar, nós não nos perturbamos porque não somos cegos à sua
verdadeira natureza. Este é aquele que conhece o Dhamma.

Agora, vamos retornar a nós mesmos. Suponham que alguém diga: “você é louco” ou
“você é estúpido”, por exemplo. Mesmo que isso possa não ser verdade, vocês não se
sentiriam tão bem. Tudo se torna difícil por conta das nossas ambições de ter e realizar.
Por conta desses desejos de tomar para nós e de ser, porque não sabemos de acordo com
a verdade, não temos contentamento. Se conhecêssemos o Dhamma, se fôssemos
iluminados pelo Dhamma, aversão e ilusão desapareceriam. Quando entendermos o
modo como as coisas são, não haverá nada para servir de base a elas.

Por que a prática é tão difícil e árdua? Por causa dos desejos. Assim que nos sentamos
para meditar queremos estar em paz. Se não quiséssemos encontrar a paz, não iríamos
nos sentar, não iríamos praticar. Assim que nos sentamos, queremos que a paz esteja
bem ali, mas querendo que a mente esteja calma cria-se confusão, e sentimo-nos
inquietos. É assim que acontece. Então, o Buddha diz: “Não fale com desejo, não se
sente com desejo, não saia com desejo… O que quer que faça, não o faça com desejo”.
Desejo significa querer. Se você não quiser fazer algo você não irá fazê-lo. Se nossa
prática chegar a esse ponto, podemos ficar muito desanimados. Como podemos
praticar? Assim que nos sentamos há desejo na mente.
É por causa disso que o corpo e a mente são difíceis de observar. Se eles não são o ‘eu’
nem pertencem ao ‘eu’, então ao que eles pertencem? É difícil resolver essas coisas,
temos de confiar na sabedoria. O Buddha diz que devemos praticar com “deixar passar”,
não é? Se deixarmos passar, então simplesmente não praticamos, certo?… Porque nós já
deixamos passar.

Suponha que fomos comprar alguns cocos no mercado, e enquanto carregávamos-mos


de volta alguém tenha perguntado:

“Para que você comprou esses côcos?”

“Eu os comprei para comer”.

“Você vai comer as cascas também?

“Não”.

“Eu não acredito em você. Se você não vai comer as cascas, então, por que você as
compra também?”

Bem, o que você diria? Como você vai responder à pergunta deles? Nós praticamos com
desejo. Se não tivéssemos desejo nós não praticaríamos. Praticar com desejo é taṇhā.
Contemplar deste modo pode dar origem à sabedoria, você sabe. Por exemplo, aqueles
côcos: Você vai comer as cascas também? Claro que não. Então porque levá-los?
Porque a hora de jogá-las fora ainda não chegou. Elas são uteis para envolver o côco.
Se, depois de comer o côco, você joga as cascas fora, não há problema.

Nossa prática é assim. O Buddha disse: “Não ajam no desejo, não falem pelo desejo,
não comam com desejo”. Ficando em pé, andando, sentando-se ou se reclinando… seja
o que for… não o façam com desejo”. Isso significa fazê-lo com desapego. É assim
como comprar os côcos do mercado. Nós não vamos comer as cascas, mas ainda não
está na hora de jogá-las fora. Nós ficamos com elas, inicialmente. É assim como a
prática é. Conceito e transcendencia são coexistentes, tal como um côco. A polpa, as
conchas e a casca estão todas juntas. Quando compramos, nós compramos o conjunto
todo. Se alguém quiser nos acusar de comer cascas de côco, isto é problema dele, nós
sabemos o que estamos fazendo.

Sabedoria é algo que cada um de nós encontra por si mesmo. Para vê-la, não devemos ir
nem depressa nem devagar. O que devemos fazer? Ir para o lugar onde não há nem
depressa nem devagar. Ir depressa ou devagar não é o caminho.

Mas todos nós somos impacientes, estamos com pressa. Tão logo começamos já
queremos chegar ao fim, não queremos ficar pra trás. Queremos ter sucesso. Quando
chega a hora de consertar suas mentes pela meditação, algumas pessoas vão longe
demais… elas acendem incenso, prostram-se e fazem um voto: “enquanto este incenso
não tiver sido completamente queimado eu não me levantarei de minha almofada [de
meditação] mesmo que eu tenha um colapso ou morra, não importa o que aconteça… eu
morrerei sentado”. Tendo feito seu voto, sentam-se. Tão logo se sentam, as hordas de
Mara [4] vêm correndo de todos os lados. Elas se sentam por um instante e já pensam
que o incenso queimou-se todo. Elas abrem os olhos para dar uma espiada… “Ó, ainda
faltam séculos!”.

Eles rangem os dentes e sentam-se um pouco mais, sentindo calor, perturbados, agitados
e confusos… Chegam a tal ponto que pensam: “Deve ter acabado agora”… Dão mais
uma olhadinha… “Ó, não! Não está nem na metade ainda!’”

Duas ou três vezes e ainda não acabou, então eles simplesmente desistem, finalizam e
sentam-se lá odiando a si mesmos. “Eu sou tão idiota, estou tão desesperado!” Eles se
sentam e se odeiam, sentindo-se um caso perdido. Isso só gera frustração e obstáculos.
Isso é chamado o impedimento pela má vontade. Eles não podem culpar os outros então
eles culpam a si mesmos. E por que isso? É tudo por causa do desejo.

De fato, não é necessário passar por tudo isso. Concentrar-se significa se concentrar
com desapego, não se concentrar nos nós. Mas talvez leiamos as escrituras sobre a vida
do Buddha, como ele se sentou sob a Árvore da Bodhi e firmou sua determinação:
“Tanto quanto eu não tiver atingido a Suprema Iluminação eu não me levantarei deste
lugar, mesmo que meu sangue se seque”.

Ao ler isto nos livros, pensamos que podemos experimentar por nós mesmos. Fá-lo-
emos como o Buddha. Mas não levamos em conta de que o nosso carro é pequeno. O
carro do Buddha era grande, podia levar tudo de uma só vez. Apenas com o nosso
carrinho, pequenino, como poderemos levar tudo de uma só vez? É uma história bem
diferente.

Porque pensamos assim? Porque somos demasiado extremistas. Às vezes, vamos bem
baixo, outras vezes muito acima. O ponto de equilíbrio é muito difícil de conseguir.

Agora eu falo somente por experiência própria. No passado, minha prática foi assim.
Praticar a fim de obter além do querer… se não queremos, podemos praticar? Eu estava
empacado nisso. Mas praticar com querer é sofrimento. Eu não sabia o que fazer, estava
confuso. Então, percebi que a prática que é constante é o que importa. Deve-se praticar
de forma consistente. Isso é chamado de prática que é “consistente em todas as
posturas”. Continuem refinando a prática, não deixem que ela se torne um desastre.
Prática é uma coisa, desastre é outra [5]. A maioria das pessoas geralmente cria
desastre. Quando têm preguiça, não se preocupam em praticar, elas só praticam quando
se sentem energéticas. Esta era a minha tendência.

Agora, perguntem a si mesmos, isto está certo? Praticar quando se está a fim e não
praticar quando não se está a fim: isso está em concordância com o Dhamma? Isso é
correto? Está em linha com os ensinamentos? Isso é o que faz a prática ser
inconsistente.

Estando a fim ou não, vocês deveriam praticar da mesma forma: essa é a maneira que o
Buddha ensinou. A maioria das pessoas espera até que estejam a fim antes de praticar e,
quando não estão a fim, elas não se importam. Isso é o mais longe que chegam. Isso se
chama “desastre”, não é prática. Na verdadeira prática, estejam felizes ou deprimidos,
vocês praticam; seja difícil ou fácil, vocês praticam; esteja quente ou frio, vocês
praticam. É assim direto. Na prática real, seja em pé, caminhando, sentados ou
reclinados, vocês deve ter a intenção de continuar regularmente, fazendo com que seus
satis sejam consistentes em todas as posições.

Num primeiro momento, parece como se devêssemos ficar em pé tanto tempo quanto
andamos, andamos com a mesma duração que sentamos, e sentamos pelo mesmo tempo
em que ficamos deitados…. eu tentei isso, mas não fui capaz. Se um praticante fica em
pé, caminha, senta ou deita, tudo com a mesma duração, quantos dias é que ele vai
aguentar? Fique em pé por cinco minutos, sente-se por cinco minutos… eu não
conseguiria manter isto por muito tempo. Então, pensei um pouco mais sobre isto: “O
que será que isto quer dizer? As pessoas não conseguem praticar desta maneira”.

Então eu entendi… “Ó, isto não está certo porque é impossível. Ficar em pé, caminhar,
sentar e deitar… faça com que estas posturas sejam consistentes. Fazer isto da maneira
que está nos livros é impossível.”

Mas é possível fazer isto: a mente… considere apenas a mente. Para ter sati, recordação,
sampajañña, auto-consciência e paññā, sabedoria geral… isso você pode fazer. É algo
que realmente vale a pena praticar. Isso significa que enquanto estamos de pé, temos
sati; enquanto caminhamos, temos sati; enquanto sentamos, temos sati; e enquanto
reclinamos, temos sati, consistentemente. Isso é possível. Colocamos a atenção ao
ficarmos de pé, ao caminharmos, ao sentarmos, ao deitarmos – em todas as posições.

Quanto a mente estiver treinada dessa forma, ela constantemente recordará Buddho,
Buddho, Buddho… que é saber. Saber o quê? O que é certo e errado todo o tempo. Sim,
isso é possível. Isso é ir direto para a verdadeira prática. Ou seja, de pé, caminhando,
sentando ou deitando existe sati contínuo.

Então, vocês devem entender aquelas condições que vocês devem abandonar e aquelas
que vocês devem cultivar. Vocês conhecem a felicidade, vocês conhecem a infelicidade.
Quando vocês conhecem a felicidade e a infelicidade, suas mentes irão se fixar naquele
ponto livre de felicidade e infelicidade. Felicidade é o caminho fácil,
kāmasukallikānuyogo. Infelicidade é o caminho rigoroso, attakilamathānuyogo. Se nós
conhecermos esses dois extremos, nós rejeitaremos ambos. Nós sabemos quando a
mente está inclinada para a felicidade ou infelicidade e rejeitamos isso, e não
permitimos que isso continue. Nós temos esse tipo de consciência, aderimos ao
Caminho Uno, o único Dhamma. Nós aderimos à consciência, não permitindo que a
mente siga suas inclinações.

Mas, em sua prática, não tende a ser assim, não é? Você segue suas inclinações. Se você
segue suas inclinações fica fácil, não é? Mas esta é a facilidade que causa sofrimento,
como alguém que não pode ser incomodado no trabalho. Ele fica calmo, mas quando
chega a hora de comer, ele não alcançou nada. Isto é o que acontece.

Então, eu disputava com muitos aspectos do ensinamento do Buddha no passado, mas


eu realmente não conseguia vencê-los. Hoje em dia eu os aceito. Aceito que os muitos
ensinamentos do Buddha são profundamente diretos, de modo que tomo esses
ensinamentos e os uso para treinar tanto a mim mesmo quanto aos outros.

A prática que é importante é patipadā. O que é patipadā? É simplesmente todas as


nossas várias atividades, ficar de pé, andar, sentar, reclinar e tudo mais. Este é o
patipadā do corpo. Agora o patipadā da mente: quantas vezes no decurso do dia de hoje
você já se sentiu deprimido? Quantas vezes você já se sentiu bem? Houve alguns
sentimentos perceptíveis? Devemos conhecer-nos assim. Depois de ter visto esses
sentimentos podemos deixá-los passar? O que ainda não conseguirmos deixar passar,
temos de trabalhar com ele. Quando vemos que ainda não conseguimos abrir mão de
algum sentimento especial devemos tomá-lo e examiná-lo com sabedoria. Pensar nele.
Trabalhar com ele. Isto é a prática. Por exemplo, quando você está se sentindo zeloso,
pratique, e em seguida, quando você se sentir preguiçoso, tente continuar a prática. Se
não conseguir continuar a “toda a velocidade” pelo menos faça-o pela metade. Não
desperdice o dia sendo preguiçoso e não praticando. Fazer isso levará ao desastre, não é
o caminho de um cultivador.

Agora, eu tenho ouvido pessoas dizerem: “Ó, nesse ano eu estava realmente em um mau
caminho”.

“Por quê?”

“Eu estive doente todo o ano. Eu não pude praticar”.

Ó, se eles não praticam quando a morte está perto, então quando praticarão? Se eles se
sentem bem, vocês pensam que eles praticarão? Não, eles apenas se perdem na
felicidade. Se eles estão sofrendo, eles ainda não praticam, e se perdem nisso. Eu não
sei quando as pessoas acham que vão praticar! Elas podem ver somente que estão
doentes, com dor, quase mortos de febre… muito bem, assuma isso com tudo, é aqui
que a prática começa. Quando as pessoas estão se sentindo felizes, isso simplesmente
sobe às suas cabeças, e elas se tornam vãs e vaidosas.

Devemos cultivar a nossa prática. O que isto significa é que se você está feliz ou infeliz
você deve praticar da mesma forma. Se você está se sentindo bem, você deve praticar, e
se você estiver se sentindo doente, você também deve praticar. Aqueles que pensam:
“Este ano eu não pude praticar nada, eu estava doente o tempo todo”… se essas pessoas
se sentissem bem, elas apenas andariam por aí cantando canções. Este é um pensamento
errado, não é pensamento correto. É por isso que os cultivadores do passado todos
mantiveram o treinamento constante do coração. Se as coisas estão indo mal, apenas as
deixam estar no corpo, não na mente.

Houve um tempo em minha prática, depois de eu ter praticado cerca de cinco anos, que
eu senti que a convivência com os outros era um obstáculo. Eu sentava no meu kuti e
tentava meditar e as pessoas continuavam passando para conversar e me perturbando.
Eu fugi para viver sozinho. Eu pensava que não podia praticar com essas pessoas me
incomodando. Eu estava cansado, então fui morar em um pequeno e abandonado
mosteiro na floresta, perto de uma pequena aldeia. E fiquei lá sozinho, falando com
ninguém – porque não havia mais ninguém com quem falar.

Depois de estar lá cerca de quinze dias, o pensamento surgiu, “Humm. Seria bom ter um
principiante ou pa-kow [7] aqui comigo. Ele poderia me ajudar com alguns pequenos
trabalhos”. Eu sabia que ia chegar, e com certeza, lá estava ele!

“Ei! Você é um personagem real! Você diz que está farto de seus amigos, farto de seus
companheiros monges e noviços, e agora você quer um iniciante. O que é isso?”
“Não”, ele diz, “Eu quero um bom principiante”.

“Aí está! Onde estão todas as boas pessoas, você pode encontrar alguma? Onde você vai
encontrar uma boa pessoa? Em todo o mosteiro havia apenas pessoas não boas. Você
deve ter sido a única pessoa boa, para ter que fugir assim!”

Vocês têm que fazer o acompanhamento assim, sigam o caminho de seus pensamentos
até verem…

“Hmm. Este é o mais importante. Onde uma boa pessoa pode ser encontrada? Não
existem boas pessoas, vocês devem encontrar a pessoa boa dentro de si mesmo. Se
vocês são bons em si mesmos, então onde quer que vocês forem será bom. Se os outros
os criticarem ou elogiarem, vocês ainda serão bons. Se vocês não são bons, então
quando os outros fizerem críticas, vocês ficam com raiva, e quando eles elogiam, vocês
ficam satisfeitos.

Àquela época, eu refleti sobre isso e cheguei à conclusão de que é verdade, desde aquele
dia até hoje. Bondade deve ser encontrada dentro. Tão logo vi isso, aquela vontade de
sair correndo desapareceu. Depois disso, quando aquele desejo surgia, eu o deixava
passar. Quando ele se mostrava, eu estava atento e mantinha minha vigilância sobre ele.
Assim, eu tinha uma fundação sólida. Onde quer que eu morasse, se as pessoas me
condenavam ou diziam qualquer coisa, eu refletiria que o ponto não é que eles fossem
bons ou maus. Bem e mal devem ser vistos dentro de nós mesmos. Como quer que as
outras pessoas sejam, é uma preocupação delas.

Não vão pensar: “Ó, hoje está muito quente” ou “Hoje está muito frio” ou “Hoje
está….” Como quer que o dia esteja isto é apenas a maneira como ele está. Na verdade,
vocês simplesmente estão culpando o tempo pela própria preguiça de si mesmos.
Devemos ver o Dhamma dentro de nós mesmos, então há um tipo mais seguro de paz.

Assim, para todos os que têm vindo praticar aqui, mesmo que seja apenas por alguns
dias, muitas coisas ainda irão surgir. Muitas coisas ocorrerão, das quais vocês ainda não
estão cientes. Há algum pensamento correto, algum pensamento errado… muitas,
muitas coisas. Por isso eu digo que essa prática é difícil.

Apesar de muitos de vocês poderem experienciar alguma paz quando se sentam em


meditação, não se apressem em se autoparabenizarem. Da mesma maneira, se existe
alguma confusão não se culpem. Se as coisas parecem boas não se deleitem com elas, e
se elas não são boas não tenham aversão por elas. Apenas olhem para tudo isso, olhem
para o que vocês têm. Apenas olhem, não se aborreçam julgando. Se isso é bom não se
apeguem tão depressa, se é ruim, não se agarrem a isso. Bom e ruim podem ambos
morder, então não se apeguem depressa a eles.

A prática é simplesmente sentar, sentar e observar tudo. Boa disposição e má disposição


vão e vêm como é da sua natureza. Não façam só elogios à sua mente nem estejam
sempre a condená-la, saibam qual o tempo certo para essas coisas. Quando for o
momento de a elogiar, façam-no, mas só um pouco, não abusem. É como ensinar uma
criança, às vezes temos de ralhar um pouco com ela. Na nossa prática, às vezes, talvez
tenhamos de nos castigar, mas não se castiguem o tempo todo. Se nos castigarmos o
tempo todo, depois de algum tempo abandonaremos a prática. Mas também não
podemos estar sempre a nos divertirmos e a relaxar o tempo todo. Não é a forma de
praticarmos. Praticamos de acordo com o Caminho do Meio. O que é o Caminho do
Meio? O Caminho do Meio é difícil de seguir, não podemos confiar na nossa disposição
e desejos.

Não pensem que apenas sentar-se com os olhos fechados é prática. Se vocês pensam
desta forma, então mudem rapidamente o pensamento! Prática firme é ter a atitude de
prática enquanto se está em pé, andando, sentado e deitado. Ao sair da meditação
sentada, reflitam que vocês estão simplesmente mudando de postura. Se vocês
refletirem desta forma, terão paz. Onde quer que estejam, vocês terão com vocês,
constantemente, esta atitude de prática, vocês terão uma firme conscientização dentro de
si mesmos.

Aqueles de vocês que, ao acabarem as suas sessões noturnas de meditação,


simplesmente se entregam aos seus humores, deixando suas mentes vagarem por onde
querem o dia inteiro, irão descobrir que, na próxima noite quando sentarem-se em
meditação, a única coisa que obterão será o retorno esparramado de todo o seu pensar
sem propósito. Não há fundação para a calma porque ela foi deixada esfriando durante
todo o dia. Se praticarem dessa forma, suas mentes ficarão cada vez mais longes da
prática. Quando pergunto a alguns de meus discípulos: “Como anda sua meditação?”.
Eles dizem: “Ah, tudo já foi.” Vocês veem? Eles podem mantê-la por um mês ou dois,
mas em um ano tudo terá terminado.

Por que isto? É porque eles não tomam em conta esse aspecto essencial na sua prática.
Quando eles terminam o sentar eles perdem a samādhi. Sentam-se por periodos cada vez
mais curtos até que, por fim, mal começam querem logo terminar. Eventualmente já não
se sentam. É o mesmo com a protração à imagem do Buddha. No início fazem o esforço
da prostração todas as noites antes do adormecer, mas após algum tempo as suas mentes
começam a devanear. Rapidamente deixam as prostrações, limitando-se a baixar a
cabeça, até que por fim nada fazem. Param completamente a prática.

Por isso, para entender a importância de sati, pratique constantemente. Prática correta é
pratica firme. Seja em pé, andando, sentando ou reclinando, ela deve continuar. Isso
significa que a prática, meditação, é feita na mente e não no corpo. Se sua mente é
zelosa, é conscienciosa e fervorosa, então haverá consciência. A mente é algo
importante, pois é ela que supervisiona tudo o que fazemos.

Quando nós compreendemos corretamente, então nós praticamos corretamente. Quando


nós praticamos corretamente nós não nos extraviamos. Mesmo se nós fizermos só um
pouquinho está bem. Por exemplo, quando vocês terminam de meditar, lembrem que
vocês não estão finalizando a meditação, você estão simplesmente mudando de postura.
Suas mentes ainda estão focadas. Seja sentados, em pé, caminhando, ou reclinados,
vocês mantém sati com vocês. Se vocês têm esse tipo de consciência, vocês podem
manter suas práticas internas. De noite, quando se sentarem novamente, a prática
continua sem interrupção. Seus esforços são contínuos, permitindo que a mente atinja a
calma.

Isto é chamado prática constante. Se estamos falando ou fazendo outras coisas nós
devemos tentar fazer a prática contínua. Se a nossa mente tem recordação e
autoconscientização de forma contínua, a nossa prática vai desenvolver-se naturalmente;
gradualmente tudo se harmonizará. A mente encontrará paz, porque ela saberá o que é
certo e o que é errado. Ela vai ver o que está acontecendo dentro de nós e perceber a
paz.

Se quisermos desenvolver sīla (restrição moral) ou samādhi (firmeza da mente) é


preciso primeiro ter paññā (sabedoria). Algumas pessoas pensam que vão desenvolver
restrição moral em um ano, samādhi no próximo e sabedoria no seguinte. Elas acham
que essas três coisas são separadas. Elas pensam que este ano elas vão se desenvolver,
mas se a mente não é firme (samādhi), como podem fazer isso? Se não houver
entendimento (paññā), como podem fazer isso? Sem samādhi ou paññā, sīla será
desleixada.

De fato, estes três reúnem-se no mesmo ponto. Quando temos sīla temos samādhi,
quando temos samādhi temos paññā. Eles são todos um, como uma manga. Pequena ou
totalmente crescida, é uma manga. Quando está madura ainda é a mesma manga. Se
pensarmos em termos simples como este, podemos vê-lo com mais facilidade. Não
temos de aprender um monte de coisas, apenas saber estas coisas, conhecer a nossa
prática.

Quando se trata da meditação, algumas pessoas não conseguem o que querem, e então
simplesmente desistem, dizendo que não têm ainda o mérito para praticar meditação.
Elas podem fazer coisas ruins, elas têm esse tipo de talento, mas não têm o talento para
fazer coisas boas. E elas acrescentam que não têm uma fundação boa o bastante. Este é
o modo como as pessoas são, elas tomam o lado de suas próprias impurezas.

Agora que você tem a oportunidade de praticar, por favor, entenda que se você achar
difícil ou fácil desenvolver samādhi, isso vem inteiramente de você, e não de samādhi.
Se for difícil, isso é porque você está praticando de forma errada. Em nossa prática
temos de ter a “perspectiva correta” (sammā-diṭṭhi). Se nosso ponto de vista está
correto, tudo o mais está correto: entendimento correto, pensamento correto, linguagem
correta, ação correta, meios de vida correto, esforço correto, lembrança correta,
concentração correta – o Caminho Óctuplo. Quando há o entendimento correto, todos os
outros fatores o seguirão.

Aconteça o que acontecer, não deixe que a sua mente se desvie para fora do caminho.
Olhe para dentro de si mesmo e você verá claramente. Para a melhor prática, a meu ver,
não é necessário ler muitos livros. Pegue todos os livros e tranque-os. Basta ler sua
própria mente. Vocês todos estão enterrando-se em livros desde o momento que
entraram na escola. Acho que agora você tem a oportunidade e o tempo, pegue os livros,
coloque-os num armário e tranque a porta. Apenas leia a sua mente.

Sempre que algo surge na mente, quer você goste ou não, pareça certo ou errado, apenas
corte-o pensando: “Isso não é uma coisa certa”. Tudo que surgir apenas corte: “Não
tenho certeza, não tenho certeza”. Com este único machado você pode cortar tudo. É
tudo “não tenho certeza”.

Durante este próximo mês em que vocês ficarão neste mosteiro na floresta, farão muitos
progressos. Verão a verdade. Este “não tenho certeza” é realmente algo importante. É
algo que desenvolve a sabedoria. Quanto mais você olha, mais você vai ver a natureza
do “não tenho certeza”. Depois que você eliminar alguma coisa com “não tenho
certeza” ela pode vir circulando ao redor e aparecer novamente. Sim, é verdadeiramente
“não tenho certeza.” O que quer que apareça apenas cole este rótulo em tudo… “não
tenho certeza”. Você fixa o sinal… “não tenho certeza”… e algum tempo, quando
chegar a hora, ela surge de novo … “Ah, não tenho certeza”. Escave aqui! Não tenho
certeza. Você verá esta mesma coisa velha que tem enganado você mês a mês, ano após
ano, desde o dia em que nasceu. Há apenas este que tem enganado você o tempo todo.
Veja isto e perceba a forma como as coisas são.

Quando sua prática atingir este ponto, vocês não se apegarão a sensações, porque todas
elas são incertas. Vocês já tinham percebido alguma vez? Talvez vocês vejam um
relógio e pensem: “Ó, este é lindo”. Vocês o compram e vejam… em poucos dias vocês
estão já estão entediados com ele. “Esta caneta é realmente muito bonita”, então, vocês
se dão ao trabalho de comprar uma. Em poucos meses vocês se cansam dela novamente.
É assim que são as coisas. Onde é que existe alguma certeza?

Se conseguimos ver todas essas coisas como incertas então seu valor se desvanece.
Todas as coisas se tornam insignificantes. Por que devemos nos agarrar a coisas que não
têm valor? Nós as mantemos apenas como poderíamos manter um pano velho para
limpar nossos pés com ele. Vemos todas as sensações como iguais em valor, porque
todas elas têm a mesma natureza.

Quando entendemos as sensações entendemos o mundo. O mundo é sensações e


sensações são o mundo. Se não estamos enganados por sensações não somos enganados
pelo mundo. Se não somos enganados pelo mundo não somos enganados por sensações.

A mente que vê isso terá uma base sólida de sabedoria. Tal mente não terá muitos
problemas. Quaisquer problemas que ela tenha ela pode resolver. Quando não há mais
problemas não existem mais dúvidas. A paz surge em seu lugar. Isso é chamado de
“prática”. Se realmente praticamos deve ser assim.

Notas:

[1] Palestra da no Wat Keuan a um grupo de estudantes universitários que tomaram


ordenação temporária, durante o verão de 1978.

[2] Uma dos muitos mosteiros afiliados do mosteiro principal de Ajahn Chah, Wat Pah
Pong.

[3] Conceito (sammuti) se refere à realidade suposta ou provisória, enquanto que


transcedência (vimutti) se refere à libertação em relação ao apego ou a ilusão dentro
dela.

[4] Māra: a personificação buddhista do mal, o Tentador, aquela força que se opõe a
quaisquer tentativas de desenvolver a bondade e a virtude.

[5] O jogo de palavras aqui entre o tailandês “phadtibut” (prática) e “wibut” (desastre)
fica perdida na tradução.
[6] Esses são dois extremos indicados como caminho errôneo pelo Buddha em seu
Primeiro Discurso. Normalmente são traduzidos como “indulgência nos prazeres
sensoriais” e “automortificação”.

[7] Pa-kow: um postulante de oito preceitos, que frequentemente vive com bhikkhus e,
além de sua própria prática meditativa, também ajuda-os com certos serviços que os
bhikkhus são proibidos de realizar pelo Vinaya.

Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda


com a permissão dos detentores do copyright
© 2014 Edições Nalanda

Nota: “Os Ensinamentos de Ajahn Chah” consiste de uma coletânea de ensinamentos


dados por um dos mais importantes mestres da tradição das florestas da linhagem
Theravada da Tailândia.

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