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~ Ajahn Chah ~

[1] Hoje estamos reunidos como fazemos todos os anos após o exame anual sobre o
Dhamma [2]. Neste momento todos vocês devem refletir sobre a importância da
realização de várias funções no mosteiro, aquelas referentes ao preceptor e aquelas
relativas aos professores. Isto é o que vai nos manter juntos como um único grupo, o
que nos permite viver em harmonia e concordância. Elas também são o que nos leva a
ter respeito um pelo outro, o que é benéfico para a comunidade.

Em todas as comunidades, desde o tempo do Buddha até o presente, não importa a


forma que elas possam ter, se os moradores não têm respeito mútuo eles não podem
progredir. Sejam elas comunidades seculares ou monásticas, se lhes falta o respeito
mútuo elas não têm solidariedade. Se não houver respeito mútuo, a negligência se
estabelece e a prática degenera.

Nossa comunidade de praticantes do Dhamma tem hoje cerca de vinte anos,


constantemente crescendo, mas ela poderia se deteriorar. Devemos entender este ponto.
Entretanto, se todos formos cuidadosos, tivermos respeito mútuo e continuarmos a
manter o padrão das práticas, sinto que nossa harmonia se manterá firme. Nossa prática
como grupo será uma fonte de crescimento para o Buddhismo por muito tempo.

Em relação ao estudo e à prática, eles são um par. O Buddhismo cresceu e floresceu até
o tempo presente porque o estudo tem andado de mãos dadas com a prática. Se
aprendermos as escrituras de forma descuidada, a negligência aparecerá… Por exemplo,
no primeiro ano aqui, tínhamos sete monges para o Retiro das Chuvas. Naquele tempo,
pensei comigo mesmo: “Sempre que os monges começam a estudar para os Exames de
Dhamma a prática parece degenerar”. Levando isto em consideração, tentei determinar
a causa, então comecei a ensinar os monges que lá estavam para o Retiro das Chuvas –
todos os sete. Ensinei por cerca de quarenta dias, começando após a refeição e indo até
às seis horas da tarde, todos os dias. Os monges foram para os exames e isso produziu
um bom resultado em relação ao desejado, todos os sete passaram.

Isso era bom, mas havia certa complicação em relação àqueles que estavam com falta de
prudência. Para estudar, é necessário fazer muita recitação e repetição. Aqueles que não
têm moderação e limites tendem a ser negligentes com a prática da meditação e gastar
todo o seu tempo estudando, repetindo e memorizando. Isso faz com que joguem fora
sua antiga morada, os seus padrões de prática. E isso acontece com muita frequência.

Por isso, quando eles terminavam os seus estudos e suas provas eu podia ver uma
mudança no comportamento dos monges. Não havia a meditação andando, só um pouco
de sentar, e um aumento na socialização. Havia menos moderação e compostura.

De fato, em nossa prática, quando fazemos a meditação andando, realmente devemos


querer andar; sentado em meditação, você deve se concentrar na realização somente
disso. Mas quando estudamos muito, as mentes ficam cheias de palavras, elas se ligam
aos livros e se esquecem de si mesmas. Elas ficam perdidas em coisas externas. Agora,
isso é assim só para aqueles que não têm sabedoria, que são desenfreados e não têm um
sati constante. Para tais pessoas, estudar pode ser uma causa de declínio. As mentes
ficam cada vez mais distraídas. Palavrório sem objetivo, falta de restrição e socialização
passam a ser a ordem do dia. Isto é a causa do declínio da prática. Não é devido ao
estudo em si mesmo, mas porque essas pessoas não fazem o esforço necessário para a
prática e, assim, acabam por esquecer-se delas mesmas.

Na verdade, as escrituras são ponteiros ao longo do caminho da prática. Se realmente


compreendermos a prática, ler ou estudar são outros aspectos da meditação. Mas se
estudarmos e depois nos esquecermos de nós mesmos isso dá origem a muitas conversas
e atividades infrutíferas. As pessoas deitam fora a prática da meditação e logo a seguir
querem tirar o manto. A maioria dos que estudam e falham em breve deixam o manto.
Não é que o estudo não seja bom, ou que a prática não esteja certa. É que as pessoas
fracassam no examinarem-se a si próprias.

Vendo isto, no segundo retiro das chuvas deixei de ensinar as escrituras. Muitos anos
mais tarde, mais e mais jovens vieram a se tornar monges. Alguns deles não sabiam
nada sobre o Dhamma-Vinaya e desconheciam os textos, então decidi corrigir a
situação, pedindo aos monges seniores, que já haviam estudado, que ensinassem, e eles
têm ensinado até ao presente momento. Foi assim que acabamos por ter estudo aqui.

Entretanto, a cada ano, quando as provas terminam, eu peço a todos os monges para
reestabelecer sua prática. Todas aquelas escrituras que não estão diretamente
relacionadas com a prática, coloquem-nas nos armários. Reestabeleçam a si próprios,
voltem para os padrões regulares. Reestabeleçam as práticas comunitárias, tais como se
reunir para as recitações diárias. Esse é nosso padrão. Façam isso mesmo se para resistir
à sua própria preguiça e aversão. Isso encoraja a diligência.

Não descartem suas práticas básicas: comer pouco, falar pouco, dormir pouco;
moderação e compostura; distanciamento; caminhadas regulares e meditação sentada;
reuniões regulares em momentos apropriados. Por favor, esforcem-se com essas
práticas, cada um de vocês. Não desperdicem esta excelente oportunidade. Façam a
prática. Vocês têm esta chance de praticar porque vivem sob a direção de um professor.
Ele os protege, em um certo nível, então vocês devem se dedicar à prática. Vocês já
fizeram meditação andando antes; portanto, agora vocês devem caminhar. Vocês já
fizeram meditação sentada antes; portanto, agora vocês devem sentar. No passado,
vocês recitaram juntos nas manhãs e nas tardes; e, portanto, agora vocês devem se
esforçar. Esses são seus deveres específicos; por favor, dediquem-se a eles.

Aqueles que simplesmente “matam o tempo” com as vestes não tem qualquer esforço,
vocês sabem. Os que estão vacilantes, com saudades de casa, confusos … vocês os
veem? Esses são aqueles que não colocam suas mentes na prática. Eles não têm nenhum
trabalho para fazer. Não podemos simplesmente nos acomodar aqui. Ser um monge ou
noviço buddhista faz com que se viva e se coma bem, e isso não deveria ser tomado
como certo. Kāmasukallikānuyogo [3] é um perigo. Façam um esforço para encontrar
sua própria prática. Qualquer falha que houver, trabalhem para retificar, não se percam
em coisas externas.

Aquele que tem zelo nunca perde a meditação em pé nem a meditação sentada, nunca
interrompe a manutenção da contenção e da compostura. Basta observar os monges
aqui. Aquele que, tendo terminado a refeição e qualquer outra coisa que seja, tendo
pendurado as suas vestes, anda em meditação – e quando passarmos por seu kuti [4]
veremos as marcas de sua caminhada numa trilha nitidamente usada, e veremos isto
constantemente – esse monge não está entediado com a prática. É alguém que se
esforça, que tem zelo.

Se todos vocês se devotarem assim à prática, então não surgirão muitos problemas. Se
vocês não persistirem na prática, a meditação andando e sentada, não haverá nada além
de uma viagem. Não gostando disso aqui, vocês viajam para lá, não gostando disso lá,
vocês voltam para cá. Isso é tudo o que há, seguindo seus narizes por todo lado. Essas
pessoas não perseveram, isso não é bom o suficiente. Vocês não precisam viajar muito,
apenas fiquem aqui e desenvolvam a prática, aprendam-na em detalhe. Viajar pode ficar
para mais tarde, isso não é difícil. Façam um esforço, todos vocês.

Prosperidade e declínio se conectam a isso. Se você realmente quer fazer as coisas


corretamente, então você estuda e pratica na mesma proporção; use ambos em conjunto.
É como o corpo e a mente. Se a mente está à vontade e o corpo livre de doenças e
saudável, a mente se torna estabelecida. Se a mente está confusa, mesmo se o corpo é
forte haverá dificuldades, quanto mais quando o corpo experimenta desconforto.

O estudo da meditação é o estudo do cultivo e da renúncia. Aquilo que eu quero dizer


com estudo é isto: sempre que a nossa mente experiencia uma sensação, ainda nos
apegamos a ela? Ainda criamos problemas à volta disso? Ainda experienciamos
contentamento ou aversão em relação a isso? Colocando de maneira simples: ainda nos
perdemos nos nossos pensamentos? Sim, nos perdemos. Se não gostamos de alguma
coisa, reagimos com aversão; se, pelo contrário, gostamos de alguma coisa, reagimos
com prazer. Então, a mente torna-se impura e contaminada. Se este é o caso, temos de
reconhecer que ainda temos falhas, ainda somos imperfeitos, ainda temos trabalho para
fazer. Tem de haver mais renúncia e um aperfeiçoamento mais persistente. Isto é o que
eu quero dizer com estudar. Se ficamos agarrados a alguma coisa, reconhecemos que
estamos agarrados. Sabemos em que estado estamos e trabalhamos para nos
corrigirmos.

Morar com o professor ou sem o professor deveria ser a mesma coisa. Algumas pessoas
têm medo. Elas têm medo de que, se não fizerem meditação andando, serão
repreendidas ou xingadas. Isso é bom de certa forma, mas na prática verdadeira vocês
não precisam ter medo dos outros, mas apenas estar consciente das falhas em suas
próprias ações, palavras ou pensamentos. Quando vocês veem as falhas nas suas ações,
palavras ou pensamentos, vocês devem tomar conta de si mesmos. Attano codayattānam
– “vocês devem se exortar”, não deixem que outros o façam. Devemos rapidamente nos
aprimorar, nos conhecer. Isto é chamado “aprendizado”: cultivar e renunciar. Olhem
para isso até verem claramente.

Vivendo assim contamos com a resistência, perseverança em face de todas as


impurezas. Muito embora isso seja bom, ainda está no nível de “praticar o Dhamma sem
tê-lo visto”. Se praticamos e vemos o Dhamma, então, do que quer que esteja errado,
vamos logo nos livrar, o que quer que seja útil, vamos cultivar. Vendo isso dentro de
nós mesmos experimentamos a sensação de bem-estar. Não importa o que os outros
digam, conhecemos a nossa própria mente, não somos atingidos. Podemos estar em paz
em qualquer lugar.

Agora, os monges mais jovens e iniciantes que apenas começaram a praticar podem
pensar que o Ajahn sênior parece não meditar muito caminhando ou sentado. Não o
imitem nisso. Vocês devem emular, mas não imitar. Emular é uma coisa, imitar é outra.
O fato é que o Ajahn sênior habita interiormente em seu particular contentamento
permanente. Mesmo que ele não pareça externamente praticar, ele pratica internamente.
O que está em sua mente não pode ser visto pelo olho. A prática do Buddhismo é a
prática da mente. Mesmo que a prática possa não estar aparente em suas ações ou fala, a
mente é uma questão diferente.

Assim, um professor que tenha praticado por um longo tempo, que é proficiente na
prática, pode parecer que não está ligando para suas ações e palavras, mas ele guarda a
sua mente. Ele tem compostura. Vendo apenas suas ações externas, vocês podem tentar
imitá-lo, relaxar e dizer o que quiserem, mas não é a mesma coisa. Vocês não estão no
mesmo time. Pensem sobre isso.

Há uma diferença real, vocês estão atuando a partir de diferentes lugares. Embora o
Ajahn pareça simplesmente estar sentado, ele não está sendo negligente. Ele vive com
as coisas, mas não é confundido por elas. Nós não podemos ver isso, o que quer que
esteja em sua mente é invisível para nós. Não julguem apenas pelas aparências externas,
a mente é o mais importante. Quando falamos, nossas mentes seguem esse discurso.
Qualquer ação que fazemos, nossas mentes seguem, mas quem já tenha praticado, pode
fazer ou dizer coisas que a mente não segue, porque ela é dedicada ao Dhamma e ao
Vinaya. Por exemplo, às vezes o Ajahn pode ser severo com seus discípulos, seu
discurso pode parecer rude e descuidado, suas ações podem parecer grosseiras. Vendo
isso, tudo o que podemos ver são suas ações corporais e verbais, mas a mente que é
dedicada ao Dhamma e ao Vinaya não pode ser vista. Sejam fieis à instrução do
Buddha: “Não sejam negligentes. Diligência é o caminho para a não morte. Negligência
é a morte”. Considerem isso. O que quer que os outros façam não é importante, apenas
não sejam negligentes, esta é a coisa mais importante.

Tudo o que disse aqui foi simplesmente para alertá-los que agora, tendo completado os
exames, vocês têm a chance de viajar e fazer muitas coisas. Que vocês tenham sempre
em mente que são praticantes do Dhamma; um praticante deve ser sereno, sóbrio e
discreto.

Considerem o ensinamento que diz: “Bhikkhu: aquele que pede o alimento”. Se


definimos isso assim, a nossa prática assume uma forma… muito grosseira. Se
entendermos essa palavra do jeito que o Buddha a definiu, como aquele que vê o perigo
do saṁsāra [5], será muito mais profundo.

Aquele que vê o perigo do saṁsāra é aquele que vê as falhas, o problema deste mundo.
Neste mundo, há tantos perigos, mas a maioria das pessoas não os vê, elas veem os
prazeres e a felicidade do mundo. Agora, o Buddha diz que um bhikkhu é aquele que vê
o perigo do saṁsāra. O que é o saṁsāra? O sofrimento do saṁsāra é esmagador, é
intolerável. A felicidade também é saṁsāra. O Buddha nos ensinou a não se apegar a
eles. Se não vemos o perigo do saṁsāra, então, quando há felicidade, nós nos apegamos
a ela e nos esquecemos do sofrimento. Nós somos ignorantes em relação a ele, como
uma criança que não conhece o fogo.

Se entendermos a prática do Dhamma dessa maneira… “Bhikkhu: quem vê o perigo no


saṁsāra”… se tivermos esse entendimento, andando, sentados ou deitados, onde quer
que estejamos, nós sentiremos desapego. Refletimos sobre nós mesmos e a diligência
está lá. Mesmo sentados à vontade, nós sentiremos dessa maneira. O que quer que
façamos, veremos esse perigo, estaremos num estado muito diferente. Esta prática é
chamada de “aquele que vê o perigo do saṁsāra”.

Aquele que vê o perigo do saṁsāra, vive no saṁsāra mas, mesmo assim, não vive nele.
Dessa maneira, ele entende os conceitos e entende a sua transcendência. O que quer que
essa pessoa diga não será como uma pessoa normal. O que fizer não será o mesmo, o
que pensar não será o mesmo. O seu comportamento será muito mais sábio.

Por isso se diz: “Emular, mas não imitar” Há dois caminhos – emulação e imitação.
Aquele que é tolo vai agarrar-se a tudo. Vocês não devem fazer isso! Não se esqueçam
de si mesmos.

Quanto a mim, este ano o meu corpo não está tão bem. Algumas coisas eu vou deixar
para os outros monges e noviços para ajudar a cuidar. Talvez eu descanse. Desde
tempos imemoriais tem sido assim, e no mundo é a mesma coisa: enquanto o pai e a
mãe ainda estão vivos, as crianças estão bem e prósperas. Quando os pais morrem, as
crianças separam-se. Tendo sido ricos se tornam pobres. Isso geralmente é como as
coisas acontecem, mesmo na vida laica, e também se pode ver aqui. Por exemplo,
enquanto a Ajahn ainda está vivo todo o mundo está bem e próspero. Assim que ele
morre as coisas começam a decair imediatamente. Por que isso? Porque enquanto o
professor está vivo as pessoas se tornam complacentes e esquecem de si próprias. Elas
realmente não fazem um esforço com o estudo e a prática. Como na vida leiga,
enquanto a mãe e o pai ainda estão vivos, as crianças deixam os pais tratar de tudo. Eles
se apoiam nos seus pais e não sabem como cuidar de si mesmos. Quando os pais
morrem, eles se tornam indigentes. Na vida monástica é a mesma coisa. Se o Ajahn vai
embora ou morre, os monges tendem a socializar, dividir-se em grupos e derivar no
declínio, quase sempre.

Por que isso? É porque eles esquecem de si mesmos. Vivendo do mérito do professor,
tudo corre bem. Quando o professor falece, os discípulos tendem a se dividir. Suas
opiniões se chocam. Aqueles que pensam erroneamente vivem em um lugar, aqueles
que pensam corretamente vivem em outro. Aqueles que se sentem desconfortáveis
deixam seus antigos companheiros e criam novos lugares, e começam novas linhagens
com os seus próprios grupos de discípulos. Isto é o que acontece. No presente, é a
mesma coisa. Isto é porque nós estamos em falta. Enquanto o professor ainda está vivo,
estamos em falta, vivemos descuidadamente. Nós não tomamos os padrões de prática
ensinados pelo Ajahn e os estabelecemos dentro de nossos próprios corações. Não
seguimos de fato os seus passos.

Mesmo no tempo do Buddha ocorria o mesmo, lembram-se das escrituras? Aquele


velho monge, qual era o nome dele …? Subhadda Bhikkhu! Quando o Venerável Mahā
Kassapa retornava de Pāvā ele perguntou a um asceta no caminho: “O Senhor Buddha
está indo bem?” O asceta respondeu: “O Senhor Buddha entrou em Parinibbāna há sete
dias”.

Os monges que ainda eram não iluminados ficaram aflitos, chorando e lamentando. Os
que haviam alcançado o Dhamma refletiram consigo mesmos: “Ah, o Buddha faleceu.
Ele seguiu adiante”. Mas aqueles que ainda estavam cheias de impurezas, como o
Venerável Subhadda, disse:
“Pelo quê vocês estão chorando? O Buddha faleceu. Isso é bom! Agora podemos viver
com tranquilidade. Quando o Buddha ainda estava vivo, ele estava sempre nos
incomodando com uma ou outra regra, nós não podíamos fazer isso ou dizer aquilo.
Agora que o Buddha faleceu, está ótimo! Podemos fazer qualquer coisa que quisermos,
dizer o que quisermos… Por que vocês deveriam chorar?”

Tem sido assim desde antigamente até o dia de hoje.

Seja como for, mesmo que seja impossível de se preservar inteiramente…. Suponha que
tenhamos um copo e que tomamos o cuidado de preservá-lo. Cada vez que o usamos, o
limpamos e o guardamos em um lugar seguro. Sendo muito cuidadoso com o copo
poderemos usá-lo por um longo tempo, e depois, quando tivermos terminado de usar,
outros também poderão usá-lo. Agora, usar copos descuidadamente e quebrá-los todos
os dias, e usar um copo por dez anos antes de ele quebrar – o que é melhor?

Nossa prática é assim. Por exemplo, se entre todos nós aqui vivendo, praticando
firmemente, apenas dez de vocês praticarem bem, então Wat Pah Pong vai prosperar.
Assim como nos vilarejos: num vilarejo de cem casas, mesmo se houver apenas
cinquenta pessoas boas, o vilarejo irá prosperar. Na verdade, seria difícil encontrar até
mesmo apenas dez. Ou peguem um mosteiro como esse aqui: é difícil encontrar pelo
menos cinco ou seis monges que têm real compromisso, que realmente sigam a prática.

Em qualquer caso, não temos quaisquer responsabilidades agora, além de praticar


também. Pensem nisso, o que nós possuímos aqui? Não temos riqueza, posses e nem
família. Mesmo alimentos, comemos apenas uma vez por dia. Nós já abandonamos
muitas coisas, coisas ainda melhores do que essas. Como monges e noviços, desistimos
de tudo. Nada possuímos. Todas essas coisas que as pessoas realmente gostam, foram
descartadas por nós. Abandonar a vida no lar como um monge buddhista tem como
objetivo poder praticar. Então, por que devemos ansiar por outras coisas, entregando-
nos à cobiça, aversão ou ilusão? Ocupar o coração com outras coisas já não é mais
apropriado.

Considere: “Por que nos tornamos monges? Estamos praticando?” Tornamo-nos


monges para praticar. Se não praticamos apenas enrolamos. Se não praticamos, então,
estamos pior do que leigos, não temos nenhuma função. Se não atuamos em nenhuma
função ou aceitamos nossas responsabilidades é a perda de uma vida de samaṇa [6]. Isso
contradiz os objetivos de um samaṇa.

Se esse é o caso, então, somos negligentes. Ser negligente é como estar morto. Pergunte
a si mesmo: “Você vai ter tempo de praticar quando você morrer?” Constantemente
pergunte a si mesmo: “Quando vou morrer?” Se contemplarmos desse jeito nossa mente
estará alerta todo segundo, cautelosamente vai sempre estar presente. Quando não há
negligência, sati – a recordação do que é o quê – vai aparecer automaticamente. A
sabedoria vai ser clara, vendo todas as coisas claramente como elas são. A recordação
guarda a mente, sabendo sobre o aparecimento das sensações, dia e noite. Isto é o que
deve ser sati. Ter sati é ser sereno. Ser sereno é ser cauteloso. Se alguém é cauteloso,
então, está praticando corretamente. Esta é a nossa responsabilidade específica.

Então hoje eu gostaria de apresentar isto a todos vocês. Se no futuro forem embora
daqui para uma das ramificações do mosteiro ou para outro lugar qualquer, não se
esqueçam de quem são. O fato é que ainda não são perfeitos, ainda não estão completos.
Ainda têm muito trabalho para fazer, muitas responsabilidades para suportar,
nomeadamente as práticas de cultivo e de renúncia. Preocupem-se com isto, todos
vocês. Quer vivam neste mosteiro ou numa das suas ramificações, conservem os
padrões da prática. Hoje em dia somos muitos e há muitos templos-ramificações. Todas
as ramificações devem a sua origem ao Wat Pah Pong. Poderíamos dizer que o Wat Pah
Pong foi o ‘pai’, o professor, o exemplo para todas as ramificações. Então,
especialmente os professores, os monges e os noviços do Wat Pah Pong deveriam tentar
dar o exemplo, ser o guia de todos os templos-ramificações, continuando zelosos nas
suas práticas e responsabilidades de samaṇas.

Notas

[1] Palestra dada em Wat Pah Pong, depois do término dos exames de Dhamma, 1978.

[2] Muitos monges passam por exames escritos a respeito de seu conhecimento
escritural, por vezes, como Ajahn Chah aponta – em detrimento de sua aplicação dos
ensinamentos na vida diária.

[3] Entrega aos prazeres sensoriais, entrega ao conforto.

[4] Kuti – uma cabana, a moradia de um bhikkhu.

[5] O ciclo de existência condicionada, o mundo da ilusão.

[6] Samaṇa: um buscador religioso que vive uma vida de renúncia. Vem do termo
original sânscrito “aquele que se esforça”, a palavra significa alguém com um profundo
compromisso com a prática espiritual.

Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda


com a permissão dos detentores do copyright
© 2011 Edições Nalanda

Nota: “Os Ensinamentos de Ajahn Chah” consiste de uma coletânea de ensinamentos


dados por um dos mais importantes mestres da tradição das florestas da linhagem
Theravada da Tailândia.

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