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“Uma vez que os meios de controle técnico atingem uma certa dimensão, um certo grau de
interligação, as possibilidades de liberdade desaparecem de uma vez por todas. A Palavra perde
reforçaram e nos tornamos dia a dia mais ignorantes. Com a tecnologia, cada qual se
encapsulou em sua própria fonte de informações e versão dos fatos, lidando mal com a
divergência, sobretudo, com o advento das redes sociais. Ninguém dialoga mais com
ninguém. E o que todos acreditavam ser “ágora” não passa de uma feira para
intolerantes.
Para além das singularidades históricas de um país como o nosso, que sequer
completou seu ciclo de alfabetização ou o acesso popular à cultura e se viu jogado, sem
mais nem menos, na arena mundial dos leões, existe outro fator, de foro íntimo: cada
gozando uma solidão assistida. O fenômeno da opinião como estilo surge com a
invenção da imprensa e tem no Facebook seu ápice, a partir do qual as palavras perdem
sua objetividade e passeiam tão vazias quanto inócuas. Nas redes sociais, somos todos
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simultânea e de longo alcance desse mesmo fato produzem dissociação da realidade e
enredamento automático na teia das mil narrativas virais que, em menos de um segundo,
apagam, no fato que surge, todas as suas referências concretas. Isso nos dá a falsa
sensação de que o que conhecemos faz parte de uma única pista de gelo escorregadia.
Essa desordem fertiliza a paranoia e sua tese clássica de que tudo o que está conectado
conspira para nossa ruína. A intenção é velha conhecida: disseminar o medo, gerando
acompanhado desse ruído de fundo por trás das informações, um ruído de fundo que
com peixes de Adriane Garcia discutem essa questão. Creio que a busca do primeiro
pela luz pacífica e sem som do fundo do mar e o voyeurismo do segundo pela imersão
na vida silenciosa dos peixes é cada vez mais a metáfora do embate da lucidez e do
Betzaida quanto Garcia atingiram bem mais alvos do que esperavam quando escreveram
Já nos livros de Thomas Pynchon isso fica ainda mais claro. Com o triunfo da
paranoia não pode haver diálogo. É que se todos orbitam ao seu redor ou para
concordar ou para conspirar contra você, você não convive nem dialoga com ninguém,
salvo com suas próprias alucinações. Antigas gravuras hindus retratam o Diabo como
alguém com grandes orelhas para ouvir. Mas nós, os conectados, somos tão surdos
quanto Deus.