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NIETZSCHE: O ATAQUE A EDUCAÇÃO BURGUESA E A REJEIÇÃO DA

ALTERNATIVA SOCIALISTA

Matheus Vieira Silva1


(UFPB)
E-mail: vieira.matheus@outlook.com.br

Resumo: A maior parte das interpretações e leituras nietzschianas sempre apontam para
uma maior relevância em seus escritos da questão moral e da metafísica, e na maior
parte das vezes a questão pedagógica é deixada de lado. Esse artigo possui a pretensão
de mostrar que a questão da educação sempre esteve presente em seus escritos desde as
“obras da juventude” até a sua “maturidade” se caracterizando, dessa forma, como um
tema bastante relevante no encadeamento de seu pensamento. Este artigo, portanto, tem
como objetivo uma melhor contextualização do pensamento nietzschiano no que diz
respeito à educação, colocando, desse modo, a sua crítica à educação burguesa vigente
em seu tempo (e também no nosso) assim como a sua rejeição da alternativa socialista
como um pano de fundo, para que, assim, a sua filosofia da educação fique um pouco
mais esclarecida.

PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; Educação; Capitalismo; Socialismo; Crítica

1
Graduando em filosofia na Universidade Federal da Paraíba.
Um dos principais temas que foi objeto de estudo do que se denominou
academicamente como “o primeiro Nietzsche2”, isto é, do jovem professor que
lecionava uma cadeira de filologia na universidade da Basiléia, foi a questão
pedagógica. Entre janeiro e março de 1872, Nietzsche proferiu no “Akademisches
Kunstmuseum”, na Basiléia, uma série de conferências intituladas “Sobre o futuro dos
nossos estabelecimentos de ensino”, onde o filósofo alemão faz um diagnóstico
perturbador das instituições educacionais na Alemanha, e ao mesmo tempo, também
traz um prognóstico completamente pessimista acerca daquilo que ele chamou de
“decadente educação universal produzida pelos ideais iluministas”. Nestas
conferências, Nietzsche deixa claro que é um feroz adversário da educação oferecida
pela democracia burguesa, e que concomitantemente rejeitava, de maneira
discursivamente violenta, as pretensões do modelo educacional alternativo proposto
pelos comunistas, o que o coloca como um impetuoso anti iluminista3 defensor de uma
educação aristocrática padronizada pelo arquétipo grego.
O impetuoso professor alemão acusou a forma educacional oferecida pelo estado
burguês, de alimentar nos alunos o sentimento de conformidade, integração e submissão
ao sistema capitalista, criando, através do especialista, um estado em que se conservava
a ignorância4. O capitalismo com seu modelo educacional, segundo Nietzsche,
impossibilitaria a criação do gênio, pois, ele o substituiu pela ideia de erudito, isto é, o

2
Tornou-se habitual na academia à distinção entre “o jovem Nietzsche”, ou seja, o professor catedrático
de filologia clássica, e “o Nietzsche maduro”, ou melhor, o filósofo metafísico. Esta separação é bastante
controversa, pois, não podemos identificar uma ruptura drástica nos elementos constitutivos do
pensamento do jovem professor e da filosofia posteriormente desenvolvida pelo arguto pensador alemão,
antes; há uma continuidade na medida em que o filósofo alemão aprofunda questões já manifestas no seu
pensamento jovial, não sendo possível, desta forma, visualizarmos um caráter de abandono de
determinadas ideias de sua juventude no seu amadurecimento enquanto filósofo. Portanto, esta
diferenciação adquirirá, neste trabalho, um fim puramente cronológico, para que o leitor possa enxergar
com clareza o momento em que determinada ideia foi desenvolvida pelo autor alemão.
3
Ao rejeitar tanto os modelos burgueses quanto os socialistas, Nietzsche se coloca contra todas as formas
de “emancipação” oriundas do iluminismo, ficando até mais próximo dos ideais reacionários (sua ideia de
volta/retorno ao modelo grego), do que dos conservadores.
4
Interessante notar que, muito antes dos marxistas (como Lukács e Gramsci), Nietzsche atacou
veementemente a ideia de especialista desenvolvida pela necessidade do modo de produção capitalista, o
culpando do estado de ignorância que os alunos na maior parte das vezes se encontravam.
indivíduo que é especialista em determinada disciplina ou área de pesquisa e um
completo ignorante de todo o resto – do conhecimento do todo5. Dessa forma, o autor
alemão ataca uma sociedade em que o modelo educacional seja produzido para atender
as necessidades econômicas de um modo de produção ou do estado e, contrariamente a
isto, defende uma educação desinteressada em que a pedagogia não esteja a serviço de
um modo de produção, mas que tenha o papel de desenvolver no homem a verdadeira
cultura, desvinculada inteiramente dos interesses do estado.
Por outro lado, ele acusa os socialistas de pretenderem uma certa padronização
da educação, nivelando completamente os indivíduos sem levar em consideração a
peculiaridade do ente para o qual a educação se manifesta como fenômeno inteiramente
antropológico, também impossibilitando o gênio, que para Nietzsche, seria a máxima
produzida por uma época.6 Além de que, numa “sociedade comunista”, todo saber teria
de ser adquirido pelo prazer e sem o princípio da obrigatoriedade eliminando, assim,
toda autoridade. Nietzsche rejeita inteiramente tais princípios, já que para o autor
alemão, a educação tinha que ter um caráter não passional.

A CRÍTICA À EDUCAÇÃO BURGUESA PRODUZIDA ATRAVÉS DO MODO


DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
Os ataques aos malefícios que a educação burguesa produzira (e ainda produz)
no modo de pensar e agir da humanidade não foram monopolizadas apenas pelos
pensadores de esquerda ou marxistas, como muitas vezes se pensa. Na verdade, um dos
primeiros pensadores a empreender uma severa crítica a esta educação foi Hegel, na
Filosofia do Direito, onde ele acusa a forma como as opiniões passam a constituir de
maneira vaga e arbitrária o que chamamos de conhecimento, assim como também já se
desenha um devastador ataque ao conhecimento puramente técnico, ou seja, um
conhecimento prático em pró de um saber especulativo.
É com Nietzsche, no entanto, que esta crítica se radicaliza. Bastante nostálgico
da Polis grega, assim como da educação que era oferecida outrora, Nietzsche começa a
pensar numa educação que pudesse elevar cada vez mais as potencialidades humanas
em sua natureza para aquilo que ela realmente era, isto é – elevar a possibilidade da
razão de ser o mais racional possível sem fazer com que os instintos fossem reprimidos

5
Que para Nietzsche seria um conhecimento metafísico.
6
Para Nietzsche, o objetivo final de toda educação seria criar o pano de fundo no qual poderia ocorrer o
desenvolvimento do gênio.
em pró do “trabalho alienado”.7 Em outras palavras, Nietzsche tenta pensar uma
educação que fizesse o homem desenvolver-se em si mesmo, para que a Vontade de
poder se manifestasse cada vez mais em sua essência ativa.
O saber tecnocênctrico é o principal alvo da crítica nietzschiana. Assim como
Hegel, Nietzsche acredita que o saber da totalidade é o verdadeiro conhecimento.
Observemos esse diálogo do Assim Falou Zaratustra, intitulado “A Sanguessuga”:

Então és talvez aquele que procura conhecer a sanguessuga? − perguntou


Zaratustra. Tu, o consciencioso, escutas a sanguessuga em busca dos seus
últimos fundamentos?"
"Ó, Zaratustra!", respondeu o pisado. Isto seria uma monstruosidade! Como
me atreveria a ter tais intenções? O que eu domino e conheço é o cérebro da
sanguessuga: é esse o meu universo!
E é verdadeiramente um universo! Perdoa, porém, se me deixo revelar aqui o
orgulho, porque nesse domínio não tenho semelhante. Por isso disse: "É este
o meu domínio".
Há quanto tempo persigo este objeto único, o cérebro da sanguessuga, para
que me não escape mais a verdade fugidia. Eis o meu reino!

Zaratustra, ao perguntar ao especialista se ele sabia todos os fundamentos


daquilo que era a sanguessuga, ele responde: “o que eu domino e conheço é o cérebro
da sanguessuga”, com isto, Nietzsche quer mostrar a monstruosidade que o ensino
causou na psique humana, reduzindo cada vez mais os seus saberes, sempre delimitando
cada vez mais e mais aquilo que se dizia saber. Um conhecimento particular em
detrimento do todo. Para Nietzsche, isto não passava de uma aberração. Entretanto, são
apenas nos seus escritos contra a educação que ele deixará claro que esta “doença” foi

7
O termo “trabalho alienado” não foi usado aqui de modo anacrônico por acaso. Mesmo que existam
enormes divergências entre a ontologia nietzschiana e a ontologia do ser social desenvolvida por Marx,
no que diz respeito à educação parece haver um ponto de aproximação. O trabalho alienado, no
pensamento marxiano, é o trabalho que faz com que o homem perca sua essência ao se tornar o oposto
daquilo que ele deveria ser no trabalho compulsório no capitalismo, é o trabalho que o distancia cada vez
mais de sua natureza. E embora a gramática nietzschiana não permita uma análise tão profunda do
trabalho (afinal, este sequer era o objetivo) ela nos dá uma abertura para pensar as condições a priori que
se encontram detrás do conceito do trabalho alienado em Marx se fizermos isso mediante o exame da
educação oferecida pelo modo de ensino (não aprendizagem) desenvolvido no interior do capitalismo.
produzida pelo modo de produção burguês, que intenciona preparar cada um para o
mercado de trabalho e não tende a fazer do homem um ser realizado em si mesmo.

A RECUSA DA ALTERNATIVA SOCIALISTA


A educação sempre foi um tema recorrente no pensamento nietzschiano. Embora
não exista um grande livro específico elaborado para tratar unicamente deste tema,
como ele faz por exemplo com a questão da moral, há diversos fragmentos que tratam
acerca do ensino e da educação8. O livro que mais possui fragmentos falando acerca é o
Humano demasiado Humano, onde o “Nietzsche educador” aparece várias vezes. No
entanto, neste livro o filósofo deixa a crítica à pedagogia burguesa um pouco de lado e
escolhe atacar a alternativa opositora da época – a alternativa socialista.
É importante salientar que a crítica empreendia a dita “educação socialista” foi
uma crítica que tinha como objeto os ideais comunistas, e não uma educação concreta.
Nietzsche não viu a instauração do socialismo no leste europeu, e a única “revolução”
de esquerda que ele foi contemporâneo foi a comuna de Paris, da qual ele foi um grande
opositor. Assim, diferentemente da educação burguesa – da qual Nietzsche tinha a
experiência empírica e concreta – a crítica a sua alternativa é uma crítica às pretensões
ideais e teóricas que os socialistas apresentavam e não a um modelo material e político
que já estivesse vigente.
Um dos conceitos mais rebuscados que Nietzsche apresenta é o conceito de
gênio, para ele, toda a finalidade da pedagogia e educação seria a de aumentar as
possibilidades da formação do gênio. Assim, ele vê na igualdade socialista um modo de
fazer com que o diferente não ocorra, como também enxerga nos valores do socialismo
uma decadência que faria com que os melhores não pudessem ser aquilo que eles eram
por serem colocados como iguais.
Um dos exemplos que ele cita é Dostoievski, que embora sempre tenha sido um
miserável economicamente, sempre possuiu uma riqueza espiritual “maior do que todos
em sua época”, como diria Nietzsche. Para o filósofo alemão, uma total igualdade faria
com que os chamados gênios não mais existissem, afinal, para ele eram as contradições

8
É um fato que a forma fragmentada em que Nietzsche expõe a grande maioria de seus livros não vem à
tona de maneira arbitrária. Ele o faz porque ele assim enxerga o mundo, um mundo dividido, sem visão
de totalidade e completamente fragmentado. Assim, quando ele também expõe as questões pedagógicas
através deste viés, ele o faz porque assim a enxerga – completamente esfacelada sem unidade coesa
alguma.
que permitiam a síntese no gênio. Fica claro, portanto, que a crítica de Nietzsche a
alternativa socialista é uma crítica muito mais abstrata do que real, afinal de contas, o
filósofo não viu realmente o desenvolvimento da pedagogia progressista. Sua crítica,
nesse caso, fica bastante obsoleta (diferente da que ele faz com a pedagogia burguesa).

REFERÊNCIAS

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Primeiro Manuscrito. 2009.


Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm.
Acesso em: 2 out. 2018.

LUKÁCS, György. Os princípios ontológicos fundamentais de Marx. São Paulo:


livraria editora ciências humanas.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Educação. Rio de Janeiro: Edições Loyola,


2003.

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