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A Queda, a Depravação Total

do Homem em seu Estado Natural


e a sua Total Incapacidade de vir
a Cristo para ter Vida
Sumário

Prefácio Comemorativo............................................................................................ 3

PARTE I – O Homem, Seu Pecado, Sua Queda, Sua Depravação e Sua Miséria:

Introdução à Doutrina da Depravação Humana, por A. W. Pink........................................... 8


As Evidências da Depravação Humana, por A. W. Pink ......................................................15
Não É Razoável Que Pessoas Não-Convertidas Se Alegrem, por R. M. M’Cheyne ..................30
Pecado Imensurável, por C. H. Spurgeon ........................................................................38
As Ramificações Da Depravação Humana, por A. W. Pink ..................................................49
A Terrível Condição Dos Homens Naturais, por R. M. M’Cheyne..........................................69
A Pecaminosidade Do Homem Em Seu Estado Natural, por Thomas Boston .........................74
Um Verdadeiro Mapa Do Estado Miserável Do Homem Por Natureza, por Christopher Love ...96
Homens Em Seu Estado Caído, John Newton ................................................................. 102
As Consequências Da Depravação Humana, por A. W. Pink ............................................. 110
A Santidade De Deus E A Depravação Total Do Homem, Paul Washer .............................. 131
A Porção Dos Ímpios, por Jonathan Edwards ................................................................. 143
O Remédio De Deus Para A Depravação Humana, por A. W. Pink..................................... 171
A Necessidade Da Morte De Cristo, por Stephen Charnock .............................................. 193
Inimigos Reconciliados Pela Morte, por R. M. M’Cheyne .................................................. 197
A Gloriosa Bem-Aventurança Proposta No Evangelho, por A. W. Pink................................ 204

PARTE II – Deus, Sua Graça, Seu Amor, Seu Evangelho e Sua Eterna Salvação:
Uma Breve Exortação Evangélica, por paul Washer ........................................................ 212
Uma Palavra Sincera Aos Não-Convertidos, por Richard Baxter ........................................ 214
Perdão Para Os Maiores Pecadores, por Jonathan Edwards ............................................. 227
JESUS!, por C. H. Spurgeon ......................................................................................... 236
Ele Me Amou, E Se Entregou Por Mim, por John Piper..................................................... 250
Graça Para O Culpado, por C. H. Spurgeon .................................................................... 253
Semper Idem ou A Imutável Misericórdia de Jesus Cristo, por Thomas Adams ................... 262
A Livre Graça, por C. H. Spurgeon ................................................................................ 274
O Som Alegre Do Evangelho Da Graça De Deus, por Augustus Toplady ............................ 288
Graça Abundante, por C. H. Spurgeon .......................................................................... 310
A Plenitude Do Mediador, por John Gill ......................................................................... 324

Referências Dos Textos Deste Volume: ......................................................................... 338

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Prefácio

Louvamos a Deus muitíssimo por mais esta publicação que já é a ducentésima que Ele nos
concede.

Calvino costumava finalizar seus sermões com palavras semelhantes a estas: “Agora,
prostremo-nos em humilde reverência diante da majestade do nosso Deus”. De fato, este
é nosso sentimento agora, e o que temos sentido nos últimos dias e meses. “Vinde, cante-
mos ao SENHOR; jubilemos. Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do
Senhor” (Salmos 95:1, 6).

Semanas atrás escolhemos um tema para esta ocasião que julgamos ser da mais alta
relevância para a Igreja Brasileira, para os Cristãos de forma geral. Pois,

A chave que nos abre o mistério da depravação humana é encontrada em uma corre-
ta compreensão das relações que Deus nomeou entre o primeiro homem e a sua pos-
teridade. Como a grande verdade da redenção não pode ser correta e inteligentemen-
te apreendida até que percebamos a conexão federal, que Deus ordenou entre o
Redentor e os redimidos, nem pode a tragédia da ruína do homem ser contemplada
em sua correta perspectiva, a menos que a vejamos à luz da apostasia de Adão do
seu Criador (A. W. Pink, As Consequências Da Depravação Humana).

Um grande e fundamental erro de nossa geração consiste no entendimento errôneo a res-


peito da Queda, isto é, o pecado de nossos primeiros pais no Éden. Entre alguns círculos
Cristãos atuais a mais absoluta ignorância impera no que diz respeito ao pecado de Adão
e Eva, e aos seus efeitos sobre nós, sua descendência. A grande maioria dos Cristãos des-
ta geração, mesmo alguns mais ortodoxos e saudáveis na fé, pensa que nascemos inocen-
tes e puros, em outras palavras, que os bebês são inocentes e não pecadores, que o nas-
cido de mulher nasce puro e não depravado, quando, na verdade, as Escrituras declaram
que nisto consiste a miséria da descendência de Adão e Eva, a saber, que ela não precisa
fazer nada para pecar e fazer-se condenável diante de um Deus santo, senão somente
nascer; de fato, não nascemos bons, mas, sim, “em pecado e iniquidade” somos formados
e concebidos desde os ventres de nossas mães (Salmo 51:5, veja o Salmo 58:3). Sim, so-
mos “por natureza filhos da ira, como os outros também” (Efésios 2:3). É por isso que um
homem não se torna pecador, mas, ele é naturalmente pecador, por nascimento. O homem
não peca e se torna um pecador, mas ele peca por que já é pecador. O pecado é a expres-
são natural de sua natureza corrupta e depravada. Assim o homem natural vive em pecados
como os peixes vivem na água. E estão tão à vontade no pecado como acontece com os
pássaros quando voam no céu.

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Adão como nosso representante federal pecou e caiu — do seu estado de pureza original
e perdeu sua comunhão com Deus —, e, portanto, nós caímos nele. “Portanto, como por
um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte pas-
sou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12). Desde então os ho-
mens não somente morrem, mas já nascem mortos, mortos em seus delitos pecados, espiri-
tualmente mortos, definitivamente mortos e completamente destituídos da vida Divina. O
homem nasce morto para Deus, e para a santidade, todavia bem vivo e ativo para o serviço
do Diabo, para satisfazer as concupiscências da carne e para amar o mundo. Totalmente
reprovado para o Céu, bem apto para o inferno.

Muitos gemidos são ouvidos da cama de um enfermo, mas jamais algum foi ouvido
de uma sepultura. No santo, como no homem doente, há uma grande luta; a vida e a
morte lutando pelo domínio, mas no homem natural, como no cadáver, não há um só
ruído, porque a morte tem pleno domínio... O homem comeu o fruto do conhecimen-
to do bem e do mal, e passou a conhecer o bem e a praticar o mal. O homem deso-
bedeceu a Deus e morreu. Quando homem comeu o fruto morreu espiritualmente e
ficou completamente morto, morto para Deus e vivo para si mesmo, morto para o céu
e vivo para o inferno; sedento pelo mal e inimigo de todo bem (Thomas Boston, A Pe-
caminosidade Do Estado Natural Do Homem).

Mas, ai! tal é o estado completamente corrompido do homem natural que ele pode mesmo
gabar-se dizendo: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta”, somente para
ouvir da própria boca do Senhor: “não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre,
e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).

Visto que o testemunho claro das Escrituras é que todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus e que homem está morto em delitos e pecados e (Efésios 2; Romanos 1 e
3), quem ousaria dizer que alguém nascido morto-escravo tem livre-arbítrio, e que pode ir
a Cristo quando quiser? Quem diria que um filho de Adão morto em seus pecados e iniqui-
dades não somente pode levantar-se e ir a Cristo, mas também pode resistir à vontade
soberana do Todo-Poderoso? Se os vivos não podem resistir à vontade soberana de Deus,
como poderiam os mortos? Para alguns, Deus já não é o salvador dos homens, mas so-
mente tornou a salvação possível, e depois reserva-se ao papel de torcedor e espectador
impotente esperando para saber a vontade de Suas criaturas. E tais pessoas ainda se
atrevem a chamar este deus de soberano.

Como é que um morto poderia ressuscitar a menos que o “Príncipe da vida” lhe vivificas-
se? O homem natural não está “meio morto” como aquele homem que caiu nas mãos dos
salteadores, como diz a parábola do bom samaritano, mas completamente morto espiritu-

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almente e sepultado na tumba do pecado assim como Lázaro esteve antes de Jesus o
ressuscitar (João 11). O simples fato de eu crer nesta doutrina bíblica da depravação total
do homem me leva a rejeitar completamente a doutrina dos méritos e do livre-arbítrio
humanos e a me apegar com firmeza e inteira certeza de fé às grandes doutrinas bíblicas
da Divina eleição e predestinação dos santos, para filhos de adoção em e por Jesus Cristo,
antes da fundação do mundo, segundo o beneplácito da vontade Divina, para louvor da
glória da livre graça de Deus (Efésios 1:4-6). Se um homem está morto em desobediência,
quem poderia salvá-lo senão Deus somente? Se, como afirmam as Escrituras, os homens
estão presos nos laços do pecado, da morte e do inferno quem poderia libertá-los? O seu
livre-arbítrio e boa vontade? Dizer isto é negar o Deus Salvador e vituperar a Cristo quem
morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e
também intercede por aqueles por quem Ele experimentou a morte, isto é os eleitos de
Deus (Romanos 8:34-39).

Se perdermos a doutrina da Queda, do Pecado Original e da Depravação Total do homem,


perdemos a má notícia e a verdade dos fatos tais como eles são, segundo o testemunho
das Escrituras, e desta forma todo o Evangelho, que é poder de Deus para salvação de
todos aqueles que creem, fica comprometido; a salvação dos homens é prejudicada; e o
mais terrível, o nome de Deus não recebe todo o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e ações de graças que lhe são devidos (Apocalipse 5:12; Judas 25; 1
Timóteo 1:17, 6:16).

Certamente, esta é uma doutrina indesejável para os “dias delicados” em vivemos, onde a
“pregação” do “evangelho moderno” criou um Deus sem ira e um homem sem pecado. Sem
dúvida muitos em nossos dias não suportam ler ou ouvir nada que lhes fale a verdade sobre
o seu pecado em termos claros e dos quais eles não possam escapar. Triste é este caso,
pois o doente que recusa saber de sua doença, também nega a si mesmo a possibilidade
de medicação, e cura.

É impossível valorizar o remédio quando não se tem um conhecimento claro da gravidade


da doença. O Evangelho torna-se literalmente “sem graça” para muitos, pelo simples fato
de que eles não entendem que este é o poder de Deus para salvação e libertação do ho-
mem de seus gravíssimos pecados, e que estes são tão terríveis a ponto de não poderem
ser removidos senão pelo sangue do Cordeiro de Deus.

Eu ainda tinha muito para falar sobre o pecado do homem e a graça de Deus, mas a oca-
sião me obriga a parar por aqui, assim para finalizar direi apenas mais isto:

Conheça sua corrupção e abundante pecado, e somente assim poderás conhecer e real-
mente adorar o grandioso Salvador, Jesus Cristo, e Sua superabundante graça.

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É dito de Jacó que ele obteve a bênção de seu pai por estar vestido com as roupas de
seu irmão mais velho, e assim nós apenas somos abençoados por Deus nosso Pai,
porquanto nós somos vestidos com as vestes de nosso irmão mais velho, Jesus Cristo
(Christopher Love, Um Verdadeiro Mapa Do Estado Miserável Do Homem Por Natu-
reza].

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Aquele que crê no Filho tem a
vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele
permanece. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”
(João 3:16, 36; Marcos 16:16).

William Teixeira, EC.


24 de julho de 2014.

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PARTE I
O Homem, Seu Pecado, Sua Queda,
Sua Depravação e Sua Miséria.

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Introdução à Doutrina da Depravação Humana
Por Arthur Walkington Pink

[Capítulo 14 do livro The Total Depravity of Man • Editado]

A entrada do mal no domínio de Deus é, reconhecidamente, um profundo mistério, no en-


tanto, o suficiente é revelado nas Escrituras para nos prevenir de formar pontos de vista
errô-neos em relação a isto. Por exemplo, é terminantemente contrário à Palavra da ver-
dade apoiar a noção de que a Queda de Satanás e seus anjos ou dos nossos primeiros
pais pegaram Deus de surpresa e arruinaram Seus planos. Desde toda a eternidade Deus
projetou esta terra como devendo ser o palco sobre o qual ele mostraria as Suas perfeições:
na criação, na providência e na redenção (1 Coríntios 4:9). Assim, Ele predestinou tudo o
que viria a acontecer neste cenário (Atos 15:18; Romanos 11:36; Efésios 1:11). Deus não
é um espectador ocioso, olhando à distância os acontecimentos deste mundo, mas é o pró-
prio Ordenador e Modelador de tudo para a promoção final de Sua glória, não só, apesar
da oposição dos homens e Satanás, mas por meio deles, tudo está sendo feito para servir
ao Seu propósito. Nem a introdução do mal no universo ocorre simplesmente pela simples
permissão do Altíssimo, pois nada pode acontecer em oposição à Sua vontade decretiva.
Em vez disso, devemos acreditar que, por razões sábias e santas, Deus predestinou Suas
criaturas mutáveis a cair, e, assim, gerar uma ocasião para Ele demonstrar mais e plena-
mente os Seus atributos.

Partindo da perspectiva de Deus, o resultado da provação de Adão não deixa espaço para
nenhuma incerteza. Antes de formá-lo do pó da terra e de haver soprado o fôlego da vida
em suas narinas, Ele sabia exatamente como a referida provação sucederia. Sim, e ainda
mais: Ele decretou que ele deveria comer do fruto proibido. Está claro em 1 Pedro 1:19-20
que nos diz que o derramamento do sangue de Cristo foi, na verdade, “conhecido ainda an-
tes da fundação do mundo” (cf. Apocalipse 13:8). Como Witsius corretamente afirmou em
relação ao pecado de Adão: “se ele foi conhecido foi também predestinado, assim Pedro
une 'determinado conselho e presciência de Deus’ (Atos 2:23)”. Em plena harmonia com
esta verdade, é preciso lembrar que foi o próprio Deus quem colocou no Éden a árvore do
conhecimento do bem e do mal! Além disso, o célebre Moderador da Assembleia de West-
minster perguntou: “O Diabo não incitou Adão e Eva contra Deus estando no Paraíso? Deus
não poderia ter mantido o Diabo fora do Paraíso? Por que Ele não fez isso? Porven-tura
não é manifestamente aparente que era a vontade de Deus que eles fossem tentados, e
incitados ao pecado? E por que não?” (W. Twisse, 1653). Deus negou-lhes uma maior mani-
festação da Sua glória. Assim como se não houvesse noite não poderíamos admirar a

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beleza do dia, este fundo era necessário escuro no qual a graça e misericórdia Divina pu-
dessem brilhar mais resplandecentes (Romanos 5:20).

Tem-se afirmado, mais dogmaticamente, por papistas e Arminianos, que Deus não poderia
ter impedido a Queda de nossos primeiros pais, sem reduzi-los a meras máquinas. Argu-
menta-se que uma vez que o Criador dotou o homem com uma vontade livre ele deve ser
deixado inteiramente às suas próprias volições, que ele não pode ser coagido, muito menos
compelido, sem destruir sua agência moral. Isso pode parecer um raciocínio sólido, no
entanto, é refutado pelas Sagradas Escrituras! Quando Deus declarou a Abimeleque sobre
a mulher de Abraão: “também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso não te
permiti tocá-la” (Gênesis 20:6). Assim fica muito claro que não é impossível para Deus exer-
cer Seu poder sobre o homem, sem destruir a sua responsabilidade, pois aqui está um caso
onde Ele restringiu a liberdade do homem para fazer o mal e o impediu de cometer pecado.
Da mesma forma, Ele impediu Balaão de realizar os maus desejos do seu coração (Nú-
meros 22:38; 23:2, 20); sim, Ele impediu reinos de fazerem guerra contra Josafá (2 Crônicas
17:10). Por que, então, Deus não exerceu Seu poder para impedir que Adão e Eva pecas-
sem? Porque a Queda deles serviria melhor aos Seus próprios desígnios sábios e benditos.

Mas isso faz de Deus o autor do pecado? O Autor culpado, não, pois, como Piscator há
muito tempo apontou: “A culpabilidade é uma falha em fazer o que deve ser feito”. É eviden-
te que era a vontade Divina que o pecado entrasse neste mundo, ou ele não teria entrado,
pois Deus não somente tinha o poder de evitar isto, mas também nada disso aconteceria,
exceto o que Ele decretou. “Ainda que o decreto de Deus fez a Queda de Adão infalivel-
mente necessária como um evento, contudo isso não se deu por meio de eficiência, ou pela
força e coerção sobre a vontade” (John Gill). Nem o decreto de Deus de forma alguma des-
culpou a maldade dos nossos primeiros pais nem os isentou do castigo. Eles foram deixa-
dos inteiramente livres para o exercício da sua natureza, e, portanto, plenamente responsá-
veis e culpados por suas ações. Enquanto a árvore do conhecimento do bem e do mal e as
tentações da serpente para que comessem do fruto foram as ocasiões de seu pecado,
contudo eles não foram a causa do mesmo, que estava em seu abandono voluntário da
sujeição à vontade de seu Criador e verdadeiro Senhor. Deus não é o autor eficiente dos
pecados dos homens, assim como Ele o é naqueles que Ele opera a santidade.

Que Deus decretou que o pecado deveria entrar neste mundo foi um segredo oculto em Si
mesmo. A respeito disso, os nossos pais nada sabiam, e isso fez toda a diferença no que
concerne à sua responsabilidade, pois tivessem sido informados sobre o propósito Divino
e a certeza de seu cumprimento por suas ações, o caso havia sido radicalmente alterado.
Eles estavam bastante familiarizados com os conselhos secretos do Criador. O que lhes
dizia respeito era a vontade revelada de Deus, e esta era totalmente clara. Ele os havia

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proibido de comer de uma certa árvore, e isso era o suficiente. Porém Ele foi mais longe, o
Senhor mesmo advertiu a Adão das consequências terríveis que sucederiam a sua deso-
bediência, a morte seria a penalidade. Assim, a transgressão de sua parte era inteiramente
indesculpável. Deus o criou moralmente “vertical”, sem qualquer inclinação para o mal. Ele
também não injetou qualquer mau pensamento ou desejo em Eva. Não, “Deus não pode
ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tiago 1:13). Em vez disso, quando a serpente
veio e tentou a Eva, Deus fez com que ela se lembrasse de Sua proibição! Admire, então,
a maravilhosa sabedoria de Deus, pois tendo Ele predestinado a Queda de nossos primei-
ros pais, ainda assim, em nenhum sentido, era Ele o instigador ou aprovador de seus peca-
dos e sua prestação de contas não sofreu nenhum dano.

Nós devemos acreditar nestas duas coisas se não quisermos repudiar a verdade: que Deus
predestinou tudo o que venha a acontecer e que de forma alguma Ele é responsável por
qualquer maldade um homem, a criminalidade deste sendo de sua total responsabilidade.
O decreto de Deus não infringe de modo algum a agência moral do homem, pois nem força
nem impede a vontade do homem, embora as ordene e limite suas ações. Tanto a existên-
cia e as operações do pecado são subservientes aos conselhos da vontade de Deus, mas
isso não diminui o mal da sua natureza ou a culpa do transgressor. “Ainda que Ele não
estime o mal como bem, contudo Ele considera bom que o mal exista” (William Perkins,
1587); no entanto, o pecado é “essa coisa abominável” (Jeremias 44:4), que o Santo sem-
pre odiou. Em relação à crucificação de Cristo houve a agência de Deus (João 19:11; Atos
4:27-28), a agência de Satanás (Gênesis 3:13; Lucas 22:53), e a agência dos homens; con-
tudo, Deus não concordou nem cooperou com as ações internas de suas vontades, e Deus
cobrou depois a maldade de seus atos (Atos 2:23). Deus governa mal o para o bem (Gêne-
sis 44:8, Salmo 76:10), e, portanto, Ele é tão verdadeiramente soberano sobre o pecado e
o Inferno como Ele é sobre a santidade e o Céu.

Deus não deseja nada que seja errado: “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e
santo em todas as suas obras” (Salmo 145:17). Ele, desta forma, não permanece em qual-
quer necessidade de vindicação por nenhuma de Suas insignificantes criaturas. No entanto,
mesmo a mente finita, quando iluminada pelo Espírito da verdade, pode-se perceber como
essa admissão de Deus do mal neste mundo provoca ocasião, para Ele demonstrar Suas
perfeições inefáveis de uma maneira e em um grau que de outra forma Ele não poderia
magnificar a Si mesmo por trazer uma coisa pura de uma impura, e por assegurar a Si mes-
mo o louvor dos pecadores redimidos, como Ele não recebe dos anjos não caídos. Horrível
e terrível além do que se pode descrever foi a revolta do homem contra o seu Criador, tão
terrível e total foi a ruína que ele trouxe consigo toda a sua posteridade. No entanto, a
sabedoria de Deus planejou uma maneira de salvar uma parte da raça humana, de tal
maneira que Ele é mais glorificado neles do que por todas as suas obras da criação e da

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providência, e é assim que a miséria dos pecadores torna-se a ocasião à sua maior felici-
dade; tal é uma maravilha sem fim.

Esse caminho de salvação foi determinado e definido nos termos do eterno Pacto da Graça.
Era aquele pelo qual cada uma das pessoas Divinas é extremamente honrada. Como o
famoso Jonathan Edwards há muito tempo apontou: “Aqui a obra da redenção se distingue
de todas as outras obras de Deus. Os atributos de Deus são gloriosos em suas outras o-
bras; mas as três Pessoas da Santíssima Trindade claramente não são glorificadas em ne-
nhuma outra obra como nesta da redenção. Nesta obra cada Pessoa distinta tem Suas par-
tes e ofícios distintos atribuídos a Si. Cada um tem sua importância especial nela agradavel-
mente às Suas próprias distinções pessoais, relações e organização. O redimido tem um
igual interesse e dependência em relação a cada Pessoa nesta questão, e deve igual honra
e louvor a cada um dEles. O Pai nomeia e provê o Redentor, e aceita o preço da redenção.
O Filho é o Redentor e o preço, Ele redime, oferecendo-se a Si mesmo. O Espírito Santo
nos comunica imediatamente ao que foi comprado; sim, e Ele é o bem adquirido. A suma
do que Cristo comprou para nós é a santidade e a felicidade. ‘Cristo foi feito maldição por
nós... Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que
pela fé nós recebamos a promessa do Espírito’ (Gálatas 3:13-14). A bem-aventurança dos
redimidos consiste na participação da plenitude de Cristo, que consiste na participação na-
quele Espírito que não é dado por medida a Ele. Este é o óleo que foi derramado sobre a
Cabeça da Igreja, que correu para os membros do seu corpo (Salmo 133:2)”.

É um grave erro considerar o Senhor Jesus como nosso Salvador, excluindo as operações
salvíficas do Pai e do Espírito. Se o Pai não houvesse eternamente proposto a salvação de
Seu povo, escolhendo-os em Cristo dando lhes a Ele, se Ele não tivesse entrado em um
Pacto eterno com Ele, encarregando-Lhe a encarnar-Se, e os redimir, Seu Amado nunca
teria deixado o Céu a fim de poder morrer, o Justo pelos injustos. Assim, vemos que Ele
amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito e atribuiu a Ele a salvação da
Igreja: “Que nos salvou... segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito
e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2 Timóteo 1:9).
Igualmente necessárias são as operações do Espírito Santo para realmente aplicar aos
corações dos eleitos de Deus o bem que Cristo realizou por eles: Ele é quem convence do
pecado e lhes concede a fé. Por isso, a sua salvação também é atribuída a Ele: “Mas deve-
mos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido
desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2 Tessalo-
nicenses 2:13). Uma leitura cuidadosa de Tito 3:4-6, mostra as três Pessoas agindo em
conjunto, segundo este propósito: “Deus, nosso Salvador” no versículo 4 é claramente o
Pai, e “nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (v.5),
“Que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (v. 6);
compare a doxologia de 2 Coríntios 13:14!

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É muito abençoador refletir sobre as muitas promessas que o Pai fez a respeito de Cristo.
Após a aceitação do Filho dos termos exatos do Pacto da Graça, o Pai concordou em
investi-lO com um tríplice ofício, autenticando grandemente assim a Sua missão com o selo
do Céu: o profético (Deuteronômio 18:15, 18. Veja também Atos 3:22), o sacerdócio
(Hebreus 5:5, 6:20), e o reinado (Jeremias 22:5; Salmos 89:27). Assim, Cristo não veio sem
ser envia-do. Ele prometeu suprir e preparar o Mediador com o derramamento abundante
das graças e dons do Espírito Santo (Isaías 42:1-2. Veja Atos 10:38; Mateus 12:27-28). Ele
prometeu fortalecer a Cristo, apoiando-O e protegendo-O na realização da Sua grande obra
da reden-ção (Isaías 42:1, 6; Salmo 89:21). Seu compromisso seria marcado com tais
dificuldades que o poder da criatura, ainda que não prejudicado pelo pecado, teria sido
inapropriado para Ele: por isso o Pai Lhe assegurou de tudo que lhe era necessário para
ajuda e socorro, para conduzi-lO através da oposição e aflições que Ele encontraria. É
muito precioso observar como o Filho encarnado repousou sobre essas promessas: Salmo
22:10; Isaías 69:4-7, 1:6-9; Salmo 16:1.

O Pai prometeu levantar o Messias dos mortos (Salmo 21:8; 102:23, 24; Isaías 53:10), e
mais abençoado é observar como Cristo lançou mão disto (Salmo 16:8-11). A promessa de
Sua ascensão também lhe foi feita (Salmo 24:3, 7; 67:18; 89:27; Isaías 52:13.), da qual o
Salvador também se apropriou enquanto ainda na terra (Lucas 24:26). Tendo cumprido
fielmente os termos da Aliança, Cristo foi sumamente exaltado por Deus, e feito Senhor e
Cristo (Atos 2:36), Deus O assentou à Sua mão direita. Essa é uma salvação por senho-
rio, uma dispensação comprometida com Ele como o Deus-homem. Aquele a quem os ho-
mens coroaram de espinhos, Deus tem coroado de glória e honra. O “governo” está sobre
os Seus ombros.

Cristo foi assegurado de uma “posteridade” (Isaías 53:10), Sua crucificação não deve ser
considerada como uma infâmia a Ele, já que era o próprio meio ordenado por Deus, pela
qual Ele deveria propagar uma numerosa descendência espiritual, a isto até Ele se referiu
em João 12:24. A “posteridade”, prometida a Cristo ocupa um lugar de destaque no Salmo
89, veja os versos 3, 4, 31-36 e cf. 22:30. Assim, desde o início, Cristo foi assegurado do
sucesso de seu empreendimento. Posto que havia duas partes no Pacto, então os eleitos
foram dados a Cristo de uma forma dupla. Assim Ele estava a cumprir os seus termos, que
foram confiados a Ele como uma carga; mas no cumprimento dos mesmos, o Pai prometeu
conceder-lhes a Ele como uma recompensa. No primeiro sentido, eles são considerados
como caídos, e Cristo foi responsável por sua salvação, eles estavam comprometidos com
Ele, como ovelhas perdidas e desgarradas (Isaías 53:6), a quem Ele deveria buscar e trazer
para o rebanho (João 10:16). Neste último sentido, eles são vistos como fruto de Sua ago-
nia, os troféus de Sua vitória sobre o pecado, Satanás e a morte; como Sua coroa de regozi-
jo no dia vindouro (quando Ele deverá ser “glorificado nos seus santos, e para se fazer ad-

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mirável naquele dia em todos os que creem”, 2 Tessalonicenses 1:10); como a esposa ama-
da do Cordeiro.

Finalmente, Deus fez a promessa do Espírito Santo a Cristo. Ele repousou sobre Esse du-
rante os dias da Sua carne, ungindo-O para pregar o Evangelho (Isaías 61:1) e operar mila-
gres (Mateus 12:28). Ele, porém, recebeu o Espírito depois de outra forma (Salmo 45:7, A-
tos 2:33) e para uma finalidade diferente após Sua ascensão, ou seja, este o Deus-Homem
Mediador foi dado a administração das atividades e operações do Espírito em relação ao
mundo na providência e em relação à Igreja na graça, João 16:7 deixa claro que o advento
do Espírito era dependente da exaltação de Cristo. Cristo também se apropriou dessa
garantia antes de partir deste mundo, em Sua partida, Ele disse aos seus discípulos: “E eis
que sobre vós envio a promessa de meu Pai” (Lucas 24:49), o qual foi devidamente cum-
prida 10 dias mais tarde. Em pleno acordo com o que acaba de ser apontado, ouvimos o
Salvador do Céu dizendo: “Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus” (Apocalipse 3:1),
“tem” para comunicar ao Seu resgatado individualmente, e às Suas igrejas coletivamente.

O grande desígnio da descida do Espírito a esta terra é glorificar a Cristo (João 16:14). Ele
está aqui para testemunhar-vos a exaltação do Salvador, sendo o Pentecostes o selo de
Deus sobre a Messianidade de Jesus. O Espírito está aqui para substituir a Cristo. Isso é
inferido de Suas próprias palavras aos Apóstolos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16). Até então, o Senhor Jesus
tinha sido o seu Consolador, mas Ele estava às vésperas de voltar ao Céu; no entanto, Ele
graciosamente lhes assegurou: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14:18),
isto foi cumprido plenamente no advento se Seu sucessor. O Espírito está aqui para promo-
ver a causa de Cristo. A palavra Paráclito (traduzida como “Consolador”, no Evangelho de
João) é traduzida como “advogado”, no início do segundo capítulo de sua primeira Epístola,
e um advogado é aquele que aparece como representante de outro. O Espírito está aqui
para interpretar e reivindicar a Cristo, para administrar por Cristo o Seu Reino e a Sua Igreja.
Ele está aqui para fazer bem sucedido o Seu propósito redentor, aplicando os benefícios
de Seu sacrifício àqueles em nome dos quais foi oferecido. Ele está aqui para revestir os
servos de Cristo (Lucas 24:49).

É de primeira importância reconhecer e entender que o Senhor Jesus não só obteve para
o povo de Deus a redenção das consequências penais do pecado, mas também garantiu a
sua santificação pessoal. Ai! quão pouco isso é enfatizado hoje. Em muitos casos aqueles
que pensam e falam da “salvação” que Cristo comprou não acrescentam mais nenhuma
ideia à mesma do que a de libertação da condenação, omitindo a libertação do amor, domí-
nio e poder do pecado. Porém este último não é menos essencial, e é uma bênção tão ne-
cessária quanto a primeira. É tão necessário para criaturas caídas serem libertas da polui-

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ção e impotência moral que elas contraíram, como é o ser liberto das penalidades que te-
nham incorrido; para que, quando forem reintegradas ao favor de Deus, elas possam ao
mesmo tempo ser capacitadas para amar, servir e deleitar-se nEle para sempre. A este res-
peito o remédio Divino também preenche todos os requisitos de nossa doença pecaminosa
(veja 2 Coríntios 5:15; Efésios 5:25-27; Tito 2:14; Hebreus 9:14). Isto é obtido através das
operações graciosas do Espírito de Cristo: iniciado na regeneração, continuado ao longo
de suas vidas terrenas e consumado no Céu.

Não somente o Deus triuno é mais honrado pela redenção que Ele foi desonrado pela de-
serção de Suas criaturas, como os do Seu povo também se tornam maiores ganhadores.
Como isso também magnifica a Sabedoria Divina! Seria maravilhoso, de fato, se tivessem
sido apenas restaurados ao seu estado original, mas é muito mais maravilhoso que eles
sejam levados a um estado muito mais elevado de bem-aventurança, que a Queda seja a
ocasião de sua exaltação! Seu pecado merecia desgraça, porém a eterna bem-aventurança
tornou-se a sua porção. Eles agora são favorecidos com uma maior manifestação da glória
de Deus e a um pleno conhecimento do Seu amor do que de outra forma teriam tido, e é
nessas duas coisas a sua felicidade consiste principalmente. Eles são levados para uma
relação muito mais próxima e afetuosa para com Deus. Eles são agora não apenas criaturas
santas, mas herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo. O Filho tomou a sua natureza
sobre Ele, e vocês tornaram-se seus “irmãos”, os membros do Seu corpo, sim, Sua esposa.
Eles são, assim, providos dos mais poderosos motivos e incentivos para amá-lO e servi-lO
do que tinham em sua condição não caída. Quanto mais apreendemos do amor de Deus,
mais O amamos em retribuição, por toda a eternidade o conhecimento do amor de Deus
em dar Seu Filho amado por nós, e de Cristo ao morrer em nosso lugar, fixará os nossos
corações nEle de uma forma que os Seus favores a Adão nunca teriam feito.

Agora é no Evangelho que o remédio maravilhoso para todos os nossos males é revelado.
Este glorioso Evangelho proclama que Cristo é capaz de salvar perfeitamente aqueles que
se achegam a Deus por meio dEle. Ele nos diz que o Filho do homem veio buscar e salvar
o que estava perdido. Ele anuncia que os pecadores, até mesmo o maior dos pecadores,
são os únicos que são livremente convidados a vir. Ele proclama a libertação aos cativos
de Satanás e a abertura das portas para os prisioneiros do pecado. Ele revela que Deus
escolheu os maiores pecadores para serem os monumentos eternos da Sua misericórdia.
Ele declara que o sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, purifica os crentes de todo o pe-
cado. Ele fornece esperança para os casos mais desesperados. Os prodígios que Cristo
realizou sobre os corpos dos homens eram tipos de Seus milagres de graça sobre as almas
dos pecadores. Nenhum caso estava além de poder para curar. Ele não somente deu a
vista aos cegos e purificou o leproso, mas libertou o endemoninhado e deu vida aos mortos.
Ele nunca recusou um único apelo feito à Sua compaixão. Qualquer que seja o passado do
leitor, se ele confiar no sacrifício expiatório de Cristo, ele será salvo, agora e para sempre.

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As Evidências da Depravação Humana
Por Arthur Walkington Pink

[Capítulo 11 do livro The Total Depravity of Man • Editado]

Após termos descoberto o terreno, pode ser pensado que não havia necessidade de dedi-
carmos uma seção separada para o fornecimento da prova de que o homem é uma criatura
caída e depravada, alguém que se extraviou para longe de seu Criador e legítimo Senhor.
Embora a Palavra de Deus não precise de confirmação por qualquer coisa fora de si mes-
ma, não é sem valor ou interesse achar que o ensino de Gênesis 3 é fundamentado pelos
fatos da história e da observação. E uma vez que não há nenhum ponto em que o mundo
é tão escuro como sobre a sua própria escuridão, julgamos este requisito para fazer a de-
monstração do mesmo. Todos os homens naturais, não-regenerados em suas mentes pe-
las operações salvíficas do Espírito Santo, estão em um estado de trevas com respeito a
qualquer conhecimento vital de Deus. Sejam eles em outras coisas tão instruídos e habili-
dosos, em assuntos espirituais eles são cegos e estúpidos. Mas isso é algo que eles não
podem suportar ouvir falar, e quando eles são pressionados com estas afirmações sua ira
é simultaneamente inflamada. Os intelectualistas orgulhosos se consideram muito mais sá-
bios do que o crente humilde e simples, consideram isto como um conceito vazio de analfa-
betos quando lhes disse que eles “não conheceram o caminho da paz” [Romanos 3:17].
Tais almas enfeitiçadas são completamente ignorantes de sua própria ignorância.

Os Sinais Da Ruína Do Homem

Mesmo no Cristianismo, o crente médio está plenamente satisfeito se ele aprende por repe-
tição alguns dos princípios elementares da Religião. Ao fazer isso, ele conforta a si mesmo
de que ele não é um infiel, e uma vez que ele acredita que há um Deus (apesar deste ser
criado por sua própria imaginação) ele ilude a si mesmo dizendo que ele está longe de ser
um ateu. No entanto, quanto a ter qualquer vida; conhecimento espiritual, influente e prático
do Senhor e dos Seus caminhos, ele é muito estranho, completamente ignorante. Ele tam-
bém não sente a menor necessidade de iluminação Divina; não, ele não tem nenhum prazer
ou desejo de um conhecimento mais íntimo com Deus. Nunca tem percebido a si mesmo
como sendo um pecador perdido, ele nunca buscou o Salvador, pois somente aqueles que
são sensíveis de sua doença é que valorizam um médico, assim como ninguém, senão
aqueles que estão conscientes da fome de suas almas é que anseiam pelo Pão da Vida.
Os homens podem estar orgulhosamente convencidos que este século XX é uma era de
iluminação, e, embora, possa ser assim em um sentido material e mecânico está certamen-

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te muito longe de ser o caso, espiritualmente falando. É muitas vezes asseverado por aque-
les que deveriam saber melhor, que os homens de hoje estão mais ansiosos em sua busca
pela verdade do que nos dias anteriores, mas fatos concretos desmentem tal afirmação.

Em Jó 12:24-25, nos é dito sobre “chefes dos povos da terra” que “nas trevas andam às
apalpadelas, sem terem luz”. Quão evidente isso é para aqueles cujos olhos foram ungidos
com o Espírito Santo, sim, mesmo para os homens naturais que não abandonaram uma
forte desilusão que eles teriam crido em uma mentira. Quem, senão os cegos pelo precon-
ceito são incapazes de perceber a certeza dos fatos que estão diante deles e ainda acre-
ditam no “progresso do homem” e “no avanço constante da raça humana”? E, no entanto,
tais postulados são feitos diariamente por aqueles que são considerados como sendo os
mais instruídos e os grandes pensadores. Alguém tinha suposto que os sonhos vãos dos
idealistas e teóricos teriam sido dissipados pelos acontecimentos dos últimos trinta anos,
quando centenas de milhões de habitantes da Terra estavam engajados em uma luta de vi-
da e morte, em que as desumanidades mais bárbaras foram cometidas, dezenas de milha-
res de cidadãos pacíficos mortos em suas casas, centenas de milhares de mutilados pelo
restante de seus dias, e danos materiais incalculáveis infligidos. Mas tão persistente é o
erro, tão amplamente aceita é essa quimera da “evolução”, e tão radicalmente isso é oposto
àquilo que nós estamos pleiteando, que nenhum esforço deve ser poupado em remover um
e estabelecer o outro. É com o desejo de fazer isto que agora apresento algumas das evi-
dências abundantes que atestam claramente a condição completamente arruinada da hu-
manidade caída.

Estas provas podem ser extraídas a partir do ensinamento da Sagrada Escritura, os regis-
tros de historiadores humanos, nossas próprias observações e experiências pessoais. O
terceiro capítulo de Gênesis descreve a origem da depravação humana, e no próximo capí-
tulo, os frutos amargos da Queda rapidamente começam a se manifestar. No primeiro ve-
mos o pecado em nossos primeiros pais, no último o pecado nos seus primogênitos, que
muito em breve dariam prova de que eles tinham recebido uma natureza má deles. Em Gê-
nesis 3, o pecado era contra Deus, em Gênesis 4 era tanto contra Ele como contra um com-
panheiro. Essa é sempre a ordem: onde não há temor de Deus diante dos olhos, não haverá
respeito genuíno pelos direitos dos nossos semelhantes. No entanto, mesmo nessa data
inicial, nós vemos a graça soberana e distintiva de Deus em ação, pois foi por uma fé dada
por Deus, que Abel apresentou ao Senhor um sacrifício aceitável (Hebreus 11:4), foi en-
quanto ele estava notoriamente em sua vontade própria e autossatisfação que Caim trouxe
do fruto da terra como oferta. Após sua rejeição por parte do Senhor nos é dito: “Caim ficou
muito irado” (Gênesis 4:5), Caim irou-se porque não podia aproximar-se e adorar a Deus
segundo os ditames de sua própria mente, e, assim, mostrou sua inimizade natural contra
Ele. Ciumento por causa de Abel ter sido aprovado por Deus, Caim se levantou e matou
seu irmão.

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Como a lepra, o pecado contamina, se espalha e produz a morte. Perto do fim de Gênesis
4 vemos o pecado corrompendo a vida familiar, pois Lameque era culpado de poligamia,
assassinato e de um espírito de vingança feroz (v. 23). Em Gênesis 5 a morte está escrita
em letras maiúsculas sobre o registro inspirado, por nada menos que oito vezes nós lemos
ali: “e morreu”. Contudo, mais uma vez, nos é mostrada a graça superabundante em meio
ao pecado abundante, pois Enoque, o sétimo depois de Adão, não morreu, sendo trasla-
dado sem ver a morte; o tempo em que esteve na terra foi gasto contendendo e advertindo
o ímpio, dos seus dias é mencionado em Judas 14 e 15, onde nos é dito que ele profetizou:
“Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e
condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impia-
mente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra
ele”. Noé também era um “pregoeiro da justiça” (2 Pedro 2:5) aos antediluvianos, mas apa-
rentemente com pouco efeito, pois lemos: “viu o Senhor que a maldade do homem se mul-
tiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má
continuamente”; que “toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra”, e que a
Terra estava “cheia de violência” (Gênesis 6:5, 12, 13).

Mas, ainda que Deus tenha enviado uma inundação que varreu toda aquela geração perver-
sa, o pecado não foi erradicado do ser humano: em vez disso, novas evidências da depra-
vação do homem foram dadas logo em seguida. Depois de uma misericordiosa libertação
do dilúvio, após assistir a tal terrível demonstração da santa ira de Deus contra o pecado,
e depois do Senhor ter feito um pacto gracioso com Noé, que continha promessas e garan-
tias mui abençoadas, se suponha que a raça humana iria após isso aderir aos caminhos da
virtude. Mas, infelizmente, a próxima coisa que lemos é que “Começou Noé a ser lavrador
da terra, e plantou uma vinha. E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio
de sua tenda” (Gênesis 9:20-21). Os estudiosos nos dizem que a palavra hebraica para
“descobriu-se” indica claramente um ato deliberado, e não um mero efeito inconsciente de
embriaguez, os pecados de intemperança e impureza são irmãs gêmeas. O triste lapso de
Noé deu ocasião para seu filho pecar, e então, em vez de jogar o manto da caridade sobre
a nudez de seu pai, ele desonrou seu pai, manifestando um total desrespeito e insubmissão
a ele. Em consequência disso, ele lançou sobre ele e sobre seus descendentes uma mal-
dição, e os efeitos e resultados desta são visíveis até hoje (v. 25).

Como dissemos há mais de trinta anos, em um artigo sobre o assunto, Gênesis 9 coloca
diante de nós a inauguração de um novo começo, e uma ponderação do mesmo faz com
que nossas mentes se voltem ao primeiro início da raça humana. Uma comparação cuida-
dosa dos dois revela uma série dos mais notáveis paralelos entre as histórias de Adão e
Noé. Adão foi colocado em cima de uma terra que subiu do “grande abismo” (Gênesis 1:2),
assim também fez Noé saiu para uma terra que tinha acabado de imergir das águas do

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grande dilúvio. Adão foi feito senhor da criação (1:28), e na mão de Noé Deus também
entregou todas as coisas (9:2). Adão foi “abençoado” por Deus e disse “e multiplicai-vos, e
enchei a terra” (1:28), da mesma forma como Noé foi abençoado e disse “Frutificai e multi-
plicai-vos e enchei a terra” (9:1). Adão foi colocado por Deus em um jardim “para o lavrar e
o guardar” (2:15), e Noé “começou... a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha” (9:20).
Isto estava no jardim que Adão transgrediu e caiu, e o produto da vinha foi a ocasião da
triste queda de Noé. O pecado de Adão resultou na exposição de sua nudez (3:7), e da
mesma forma, lemos que Noé “descobriu-se no meio de sua tenda” (9:21). O pecado de
Adão trouxe uma terrível maldição sobre sua descendência (Romanos 5:12), e assim fez o
de Noé (Gênesis 9:24-25). Imediatamente após a queda de Adão uma profecia notável foi
dada, contendo em resumo a história da redenção (3:15), e logo após a queda de Noé uma
notável profecia foi proferida, contendo em resumo a história das grandes divisões da nossa
raça.

O Sistema Mundial Carnal

Gênesis 10 e 11 tratam da história da terra pós-diluviana. Eles nos mostram algo dos cami-
nhos dos homens neste novo mundo revoltoso contra Deus, procurando glorificar-se e divi-
nizar a si mesmos. Eles dão a conhecer os princípios carnais pelo qual o sistema do mundo
está agora regulamentado. Desde Gênesis 10:8-12 e 11:1-9, interrompe-se o curso das
genealogias ali indicadas, eles devem ser considerados como um parêntese importante: o
primeiro explica este último. O primeiro está preocupado com Ninrode, e dele aprendemos
que: 1. Ele era descendente de Cão, por meio de Cuxe (10:8), e, portanto, o descendente
da família de Noé em que a maldição repousava. 2. Ninrode significa “o rebelde”. 3. “Ele
começou a ser poderoso na terra”, o que implica que ele lutou por preeminência e pela força
da vontade a obteve. 4. “Na terra” sugere conquista e subjugação, tornando-se um líder e
governante de mais homens. 5. Ele era um poderoso caçador (10:9): mais três vezes em
Gênesis 10 e novamente em 1 Crônicas 4:10, este termo “poderoso” para ele, em hebraico
também está tencionando “chefe “e “líder”. 6. Ele era um poderoso caçador “diante da face
do Senhor”: compare isso com “a terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus”
(6:11) e temos a impressão de que esse rebelde e orgulhoso prosseguiu os seus projetos
ambiciosos e ímpios em desafio aberto ao Todo-Poderoso. 7. Ninrode era um rei e teve sua
sede em Babilônia (10:10).

A partir dos versos inicias de Gênesis 10, fica claro que Ninrode tinha um desejo desen-
freado por fama, a ponto de cobiçar o supremo domínio ou a constituição de um império
mundial (10:10-11), e que ele liderou uma grande confederação em rebelião aberta contra
Jeová. A própria palavra “Babel” significa “a porta de Deus”, mas depois, e por causa do
julgamento Divino infligido sobre ele, ela veio a significar “confusão”. Juntando as diferentes

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informações fornecidas pelo Espírito, não pode haver dúvida de que Ninrode não só orga-
nizou um governo imperial, ao qual ele presidia como rei, mas que ele também instituiu uma
nova e idólatra adoração. Apesar de não ser mencionado pelo nome em Gênesis 11, é
evidente a partir do capítulo anterior que ele era o líder do movimento aqui descrito. A refe-
rência topográfica em 11:2 é muito significativa, moralmente, como “desce para o Egito” e
“sobe a Jerusalém”: “partindo eles do oriente” denota que eles viraram as costas para o
nascer do sol. Deus havia ordenado a Noé para “multiplicar e encher a terra”, mas aqui le-
mos: “E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus,
e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra”
(11:4). Isso foi diretamente contrário a Deus, e Ele imediatamente interveio, levando a nada
o plano de Ninrode, e “dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra” (11:9).

Na Torre de Babel outra crise havia acontecido na história da raça humana. A humanidade
foi novamente culpada de apostasia e declaradamente desafiou ao Altíssimo. A confusão
que Deus trouxe sobre a raça humana deu origem às diferentes nações da terra, e depois
da derrubada do esforço de Ninrode temos a formação de “o mundo”, uma vez que já existia
desde então. Isto é confirmado em Romanos 1, onde o apóstolo fornece a prova da culpa
dos gentios. No versículo 19 lemos sobre “o que de Deus se pode conhecer”, através da
exibição de Suas perfeições nas obras da criação. O versículo 21 vai mais longe, e afirma:
“tendo conhecido a Deus [isto é, nos dias de Ninrode], não o glorificaram como Deus, nem
lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato
se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos [em conexão com a Torre de Babel].
E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corrup-
tível”. Foi então que a idolatria começou. No que se segue nos é dito três vezes que “Deus
os entregou” (vv. 24, 26, 28). Foi então que Ele os abandonou e “deixou andar todas as
nações em seus próprios caminhos” (Atos 14:16).

O próximo acontecimento depois dessa grande crise nos assuntos humanos registrada em
Gênesis 11 foi o chamado Divino de Abraão, o pai da nação de Israel; mas antes de nos
voltarmos para isto, vamos considerar alguns dos efeitos do primeiro. A primeira das nações
dos gentios sobre os quais a Escritura tem muito a dizer são os egípcios, e eles manifesta-
ram claramente a sua evidente depravação por maltratar os hebreus e desafiarem ao Se-
nhor. As sete nações que habitavam Canaã quando Israel entrou naquela terra nos dias de
Josué eram devotadas às mais terríveis abominações e impiedades (Levítico 18:6-25; Deu-
teronômio 9:5). As características dos impérios renomados da Babilônia, Medo-Pérsia, Gré-
cia e Roma são referidas em Daniel 7:4-7, onde eles são comparados a animais selvagens.
Fora dos limites estreitos do Judaísmo o mundo inteiro era pagão, completamente domina-
do pelo Diabo. Após virar as costas para Aquele, que é luz, eles estavam em total escuridão
espiritual e entregues à ignorância, superstição e vício. Todos buscaram a felicidade nos

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prazeres da terra, de acordo com seus vários desejos e apetites. Mas qualquer “felicidade”
que foi apreciada por eles, era apenas uma felicidade animalesca e passageira, totalmente
indigna de criaturas feitas para a eternidade. Eles estavam inteiramente insensíveis de sua
verdadeira miséria, pobreza e cegueira.

É verdade que as artes foram desenvolvidas em um alto grau por alguns dos antigos, e que
havia sábios famosos entre eles, mas as massas populares foram grosseiramente materia-
listas, e seus professores propagaram os absurdos mais selvagens. Eles todos e cada um
deles negaram a criação Divina do mundo, retendo a maior parte daquilo que é de caráter
eterno. Alguns acreditavam que não havia sobrevivência da alma após a morte, outros na
teoria da transmigração, isto é, que as almas dos homens passam para os corpos dos ani-
mais. Em suma, “o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria” (1 Coríntios 1:21), e
onde há ignorância de Deus há sempre a ignorância de nós mesmos. Eles não perceberam
que foram vítimas do grande enganador das almas, que cega as mentes daqueles que não
creem. Nenhuma nação da antiguidade foi tão altamente erudita como os gregos, no entan-
to, as vidas privadas de seus homens mais eminentes foram manchadas pelos crimes mais
revoltantes. Aqueles que tinham o ouvido do público e mais falavam sobre a definição de
homens livres de suas paixões, e gozavam da mais alta estima como sendo mestres da
verdade e da virtude, fizeram-se os escravos abjetos do pecado e de Satanás, e, moralmen-
te falando, a sociedade estava podre até o seu âmago.

O mundo inteiro inflamou-se em sua corrupção. A indulgência sensual foi em todos os luga-
res levada ao seu mais alto grau, a gula era uma arte, a fornicação foi o espetáculo sem
restrição. O profeta mostra (Oséias 4) que, onde não há conhecimento de Deus na terra
não há misericórdia e verdade entre seus habitantes: em vez disso, o egoísmo, a opressão
e a perseguição vem sobre todos. É difícil encontrar uma página nos anais do mundo, que
não forneça ilustrações trágicas da ganância e da opressão, da injustiça e da chicana, da
avareza e falta de consciência, da intemperança e da imoralidade em que caíram e em rela-
ção aos quais a natureza humana é tão terrivelmente propensa. Ah, que triste espetáculo
produz a história presente de nossa raça! Abundantemente ela testemunha a declaração
Divina: “Certamente que os homens de classe baixa são vaidade, e os homens de ordem
elevada são mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais leves do que a vaidade”
(Salmos 62:9). Os infiéis modernos podem pintar uma bela imagem das virtudes de muitas
das nações, e a partir de seu ódio pelo Cristianismo, exaltá-los aos mais altos patamares
da realização intelectual e excelência moral, mas o testemunho claro da história definitiva-
mente os refuta.

A terra foi feita um Aceldama por seus assassinatos e contendas, inundando-a com sangue.
“Os lugares tenebrosos da terra estão cheios de moradas de crueldade” (Salmos 74:20).

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Na Grécia antiga, os pais tinham a liberdade de expor seus filhos a perecer de frio e de fo-
me, ou serem devorados por animais selvagens; e, apesar de que tais exposições fossem
frequentemente praticadas passavam sem punição ou censura. Guerras foram travadas
com a maior ferocidade, e se algum dos vencidos escapasse da morte, a escravidão do tipo
mais abjeto ao longo da vida era a única perspectiva diante deles. Em Roma, que era então
a metrópole do mundo, o tribunal de César estava mergulhado na licenciosidade. Para pro-
porcionar diversão aos seus senadores, seiscentos gladiadores lutaram entre si, mão a
mão, no teatro público. Para não ficar atrás, Pompéia levou quinhentos leões para arena e
envolveu um número igual de seus valentes, e “senhoras delicadas” sentadas, aplaudindo
e regozijando-se sobre o banho de sangue. Os idosos e enfermos foram banidos para uma
ilha no rio Tibre. Quase dois terços do mundo “civilizado” era composto por escravos, e se-
us senhores detinham poder absoluto sobre eles. Sacrifícios humanos eram frequentemen-
te oferecidos nos altares de seus templos. Em seus caminhos estavam a destruição e a
miséria; e não conheceram o caminho da paz (Romanos 3:16-17).

Os “deístas” dos séculos XVII e XVIII discursaram muito sobre a inocência encantadora das
tribos que habitavam nos caramanchões silvestres de florestas virgens, intocadas pelos ví-
cios da civilização, não poluídas pelo comércio moderno. Mas quando as florestas da Amé-
rica foram visitadas pelo homem branco, ele encontrou os índios como sendo tão ferozes e
cruéis como os animais selvagens, de modo que, como se expressou, “A macha-dinha ver-
melha poderia ter sido estampada como o revestimento do braço do homem vermelho, e
seus olhos de vingança eram como o indício de seu caráter”. Quando os viajantes penetra-
ram no interior da África, onde esperava-se encontrar a natureza humana em sua excelência
primitiva, eles descobriram, em vez disso, diabrura primitiva. Tome as raças mais calmas,
olhe para o rosto gentil de um hindu, alguém poderia supor que ele é incapaz de brutalidade
e bestialidade, mas deixe que os fatos da rebelião Sepoy do século passado sejam lidos, e
você encontrará a inclemência do tigre. Assim também é com o chinês plácido, o Levante
dos boxers1 e as atrocidades no início deste século testemunharam desumanidades simila-
res. Se uma nova tribo for descoberta, devemos saber que essa também deve ser depra-
vada e viciosa; apenas o fato de sermos informados de que eles eram homens nos obriga
a concluir que eles eram “odiosos e odiando uns aos outros” [Tito 3:3].

A Depravação Tanto de Judeus Quanto de Gentios

A depravação dos gentios não pode excitar surpresa, uma vez que as suas religiões, em

__________
[1] Levante, Rebelião ou Guerra dos boxers (1899-1900), chamado também de Movimento Yijetuan, foi um
movimento popular antiocidental e anticristão na China (Wikipédia).

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vez de restringir, fornecem estímulo para os vícios mais horríveis, nos exemplos de seus
deuses extravagantes. Todavia os judeus eram melhores? A consideração de seu caso,
deve não só voltar-se a partir do geral para o particular, mas também temos diante de nós
aquelas pessoas que foram designadas por Deus para serem uma amostra da natureza
humana. O Ser Divino os escolheu e os separou de todas as outras nações, derramando
sobre eles Seus benefícios, os fortaleceu com muitos encorajamentos, fez milagres em Seu
nome, os impressionou com as ameaças mais terríveis, castigou-os severamente e fre-
quentemente inspirou Seus servos a dá-nos um relato preciso da Sua resposta. E que
resposta infeliz era esta! Excetuando-se a conduta de alguns indivíduos, entre eles, os
quais, sendo o efeito da graça Divina, não fizeram nada contra o que estamos aqui apenas
demonstrando — na verdade servem para intensificar o contraste — a história triste dos ju-
deus, de forma geral, não foi nada além de uma série de rebeliões e contínuos afastamentos
do Deus vivo. Nenhuma outra nação foi tão altamente favorecida e ricamente abençoada
pelo Céu, e ninguém retribuiu de forma tão miserável à bondade Divina.

Providos com uma lei que foi elaborada e proclamada pelo próprio Deus, e que foi imposta
pela mais cativante e também a mais impressionante das sanções, dentro de poucos dias
após a sua recepção a nação inteira estava envolvida na adoração obscena de um bezerro
de ouro. Foram-lhes concedidos os oráculos e ordenanças Divinas, mas eles não foram
nem apreciados nem atendidos. No deserto eles provocaram muito o Santo por suas mur-
murações, suas concupiscências pelas panelas de carne do Egito, quando supridos com
“pão dos anjos” (Salmo 78:25), sua idolatria se prolongou, (Atos 7:42-43), e também sua
incredulidade (Hebreus 3:18). Depois que eles receberam por herança a terra de Canaã,
logo evidenciaram sua vil ingratidão, pelo que o Senhor disse ao seu servo entristecido:
“Não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1
Samuel 8:7). Então, eles foram avessos a Deus e aos Seus caminhos que eles odiavam,
perseguiram e mataram os mensageiros que Ele enviou para convertê-los de sua maldade.
“Não guardaram a aliança de Deus, e recusaram andar na sua lei” (Salmos 78:10). Eles
declararam: “Não há esperança; porque amo os estranhos, após eles andarei” (Jeremias
2:25).

Após a prova em Romanos 1 da depravação total do mundo gentio, o apóstolo voltou-se


para o caso do privilegiado Israel, e a partir de suas próprias Escrituras demonstrou que e-
les eram igualmente contaminados, e estavam igualmente sob a maldição de Deus. Fazen-
do a pergunta: “Pois quê? Somos nós mais excelentes?”, ele respondeu: “De maneira ne-
nhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo
do pecado” (Romanos 3:9). Assim também em 1 Coríntios 1, onde o maior desprezo é
lançado sobre o que é altamente estimado entre os homens, o judeu é colocado no mesmo
nível que o gentio. Ali nos é mostrado como Deus vê as pretensões arrogantes do intelectual

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deste mundo. Quando ele pergunta “Onde está o sábio?” [v. 20], faz referência aos filósofos
gregos que eram honrados com esse título. Seu próprio questionamento é um derrama-
mento de desprezo sobre suas reivindicações orgulhosas. Com todo o seu conhecimento
alardeado, você já descobriu o Deus vivo e verdadeiro? Eles são desafiados a se apresen-
tarem com seus esquemas de religião. Depois de tudo que você ensinou aos outros, o que
você tem feito? Você já descobriu o caminho para a felicidade eterna? Você já aprendeu
como pecadores culpados podem ter acesso a um Deus santo? Longe de serem sábios,
Deus declara que tais sábios como Pitágoras e Platão eram tolos.

Em seguida, Paulo pergunta “onde está o escriba?” (1 Coríntios 1:20), que era o homem
sábio, o professor estimado entre os judeus. Ele também estava em tão grande distância e
muito ignorante do verdadeiro Deus. Assim, longe de possuir qualquer verdadeiro conhe-
cimento de Deus, ele era um inimigo amargo para o mesmo quando foi proclamado por Seu
Filho encarnado. Embora os escribas apreciaram a vantagem inestimável de possuir as
Escrituras do Antigo Testamento, eles eram, em geral, tão ignorantes da salvação de Deus
como foram os filósofos pagãos. Em vez de apontar para a morte do Messias prometido
como o grande sacrifício pelo pecado, eles ensinaram os seus discípulos a dependerem
das leis e cerimônias de Moisés, e das tradições inventadas por homens. Quando Cristo se
manifestou a eles foram, portanto, os primeiros que, longe de recebê-lO, tornaram-se Seus
perseguidores mais amargos; porque Ele apareceu diante deles na forma de um servo, o
que não se harmonizou com seus corações orgulhosos. Embora Ele fosse “cheio de graça
e de verdade”, não viram nenhuma beleza nEle para que O desejassem. Embora tenha a-
nunciado boas novas, eles se recusaram a dar ouvidos a elas. Quando Cristo realizou mila-
gres de misericórdia, diante deles, eles não acreditaram nEle. Embora Ele tenha buscado
apenas o seu bem, eles lhe retornaram somente o mal. Sua linguagem era: “Não queremos
que este reine sobre nós” (Lucas 19:14).

O Desprezo Por Cristo

A negligência geral e até mesmo desprezo que o Senhor Jesus encontrou entre as pessoas,
proporciona uma visão muito humilhante do que é a nossa natureza humana caída, mas as
profundezas terríveis da depravação humana foram mais claramente evidenciadas pelos
escribas e fariseus, os sacerdotes e os anciãos. Embora bem familiarizados com os profe-
tas, e professando estarem esperando o Messias, contudo com malignidade desesperada
e impiedosa estes buscavam Sua destruição. Todo o curso de sua conduta mostra que eles
agiram contra suas convicções de que Jesus Cristo era o Messias, certamente eles tinham
pleno conhecimento de Sua inocência de tudo que eles O acusavam. Isto é evidente a partir
da clara intimação dEle que ao ler seus corações, e saber o que eles estavam dizendo
dentro de si. “Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo” (Mateus 21:38). Eram tão incansáveis

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quanto sem escrúpulos em sua malícia. Eles ou seus servos, perseguiram Seus passos de
um lugar para outro, esperando que em Sua relação mais íntima com os Seus discípulos
pudessem mais facilmente apanhá-lO, ou encontrar algo em Suas palavras ou ações que
poderiam distorcer para acusá-lO. Eles usaram todas as oportunidades para envenenar as
mentes do povo contra Ele, e, não contentes com calúnias ordinárias dirigidas ao Seu
caráter, disseram que Ele estava ministrando sob a ins-piração imediata de Satanás.

Donde tal tratamento iníquo dispensado ao Filho de Deus procede? Donde, senão das vis
corrupções de seus corações? “Odiaram-me sem causa” (João 15:25), declarou o Senhor
da Glória. Não havia nada, seja em Seu caráter ou em Sua conduta, que merecesse o seu
vil desprezo e inimizade. Eles amaram mais as trevas, e, portanto, odiaram a luz. Eles esta-
vam apaixonados por suas más concupiscências e se deleitavam em gratificá-las. Assim,
também, com seus seguidores iludidos, que deram ouvidos aos falsos profetas, que disse-
ram: “Paz, paz” para eles, lisonjeando-os e encorajando-os em sua carnalidade. Conse-
quentemente, eles não podiam tolerar o que era desagradável aos seus gostos depravados
e condenava suas práticas pecaminosas; e, portanto, este “povo”, bem como seus princi-
pais sacerdotes e governantes gritaram: “Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás” (Lucas
23:18). Depois de O haverem perseguido até a morte de um criminoso, sua má vontade O
perseguiu até o túmulo, pois eles vieram a Pilatos e exigiram que ele guardasse Seu sepul-
cro. Quando o seu esforço foi provado ser em vão, o alto Sinédrio de Israel subornou os
soldados que tentaram guardar o túmulo, e com deliberação premeditada colocaram uma
terrível mentira em suas bocas (Mateus 28:11-15).

Nem a inimizade dos inimigos de Cristo diminui depois que Ele partiu deste cenário e voltou
para o céu. Quando Seus embaixadores saíram a pregar o Seu Evangelho, eles foram pre-
sos e proibidos de ensinar em nome de Jesus, e, em seguida, liberados sob ameaça de
punição (Atos 4). Após a recusa dos apóstolos a cumprir isso, eles foram novamente espan-
cados (Atos 5:40). A Estevão eles apedrejaram até a morte. Tiago foi decapitado, e muitos
outros foram dispersos para escapar da perseguição. Exceto quando Deus quis pôr Sua
mão restringidora sobre eles, e aqueles em quem Ele operou um milagre da graça, judeus
e gentios igualmente desprezaram o Evangelho e voluntariamente se opuseram ao seu pro-
gresso. Em alguns casos, o seu ódio à verdade foi menos abertamente exibido do que em
outros, no entanto, não era menos real. Aconteceu o mesmo desde então. Não importando
quão seriamente e de modo cativante o Evangelho seja pregado, não ganha quem o ouve,
na maioria das vezes eles são como aqueles dos dias de nosso Senhor, “eles, porém, não
fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio” (Mateus 22:5). A
grande maioria é demasiada indiferente a buscar até mesmo um conhecimento doutrinal da
verdade. Há muitas pessoas que consideram esta ebriedade dos perdidos como mera indi-
ferença, mas na verdade é algo muito pior do que isso, ou seja, não gostam de coração das
coisas de Deus, são diretamente antagônicos a Ele.

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Sua hostilidade é evidenciada pela forma como eles tratam o povo de Deus. Quanto mais
próximo o crente anda com o seu Senhor, mais ele será ofendido e maltratado por aqueles
que são estranhos a Ele. Mas “bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da
justiça” (Mateus 5:10). Como alguém pontuou, “É uma forte prova da depravação humana
que as maldições dos homens e as bênçãos de Cristo devam reunir-se nas mesmas pes-
soas. Quem teria pensado que um homem podia ser perseguido e injuriado, e ter todo o
mal dito a seu respeito por causa da justiça?”. Mas os ímpios realmente odeiam a justiça e
integridade, e amam aqueles que os defraudam e erram com eles? Não, eles não se desa-
gradam da justiça que respeita os seus próprios interesses, isso é apenas quanto àquela
espécie de justiça que pleiteia os direitos de Deus. Se os santos estivessem satisfeitos com
o estabelecimento da justiça e da misericórdia amorosa, e deixassem de andar humilde-
mente com Deus, eles poderiam ir por todo o mundo, não somente em paz, mas com a
aprovação do não-regenerado; mas “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus
padecerão perseguições” (2 Timóteo 3:12), pois tal vida reprova a impiedade do ímpio. Se
a compaixão move o Cristão a alertar seus vizinhos pecaminosos de seu perigo, ele é
susceptível de ser insultado por suas advertências. Suas melhores ações serão atribuídas
aos piores motivos. No entanto, longe de ser abatido por tal tratamento, o discípulo deve
regozijar-se de que ele é considerado digno de sofrer um pouco por amor do seu Mestre.

O Repúdio Da Lei De Deus

A depravação do homem aparece em seu repudiar a Lei Divina posta sobre ele. É direito
de Deus ser reconhecido como Soberano por Suas criaturas, mas eles nunca são tão
satisfeitos como quando invadem Sua prerrogativa, quebram Suas leis, e contradizem Sua
vontade revelada. Quão pouco é compreendido que é tudo a mesma coisa, repudiar o Seu
cetro, e repudiar o Seu Ser: quando repudiam Sua autoridade, negam Sua Divindade. Há
no homem natural uma aversão a ter qualquer familiaridade com a regra a qual o seu Cria-
dor lhe impôs: “E, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhe-
cimento dos teus caminhos. Quem é o Todo-Poderoso, para que nós o sirvamos? E que
nos aproveitará que lhe façamos orações?” (Jó 21:14-15). Isso é visto em sua relutância
em usar os meios para a obtenção de um conhecimento de Sua vontade: porém eles são
ávidos em sua busca por todos os outros tipos de conhecimento, embora sejam diligentes
em estudar a formação, constituição e as formas de criaturas, eles se recusam a familia-
rizar-se com o seu Criador. Ao tomar conhecimento de alguma parte de Sua vontade, eles
se esforçam para removê-la: eles não “se importaram de ter conhecimento de Deus” (Ro-
manos 1:28). Se eles não prosperam, eles não têm prazer na consideração de tais conhe-
cimentos, mas fazem o possível para removê-lo de suas mentes.

Se há uma classe de não-regenerados que são exceções à regra geral, são aqueles que

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frequentam a igreja, fazem uma profissão de religião, e tornam-se “estudantes da Bíblia”,
eles são motivados pelo orgulho do intelecto e da reputação. Eles têm vergonha de ser con-
siderados como ignorantes espirituais, e desejam ter uma boa reputação nos círculos religi-
osos. Assim, eles garantem um manto de respeitabilidade, e muitas vezes a estima do povo
de Deus. No entanto, eles não possuem a graça. Eles “detêm a verdade em injustiça” (Ro-
manos 1:18), eles a detêm, mas não aderem a ela, sua influência não os transforma. Se
eles ponderam sobre, não é com prazer; se têm prazer nela, é apenas porque o seu estoque
de informações é aumentado e eles estão melhor equipados para manter suas próprias
opiniões em uma discussão. Seu desígnio é informar a sua compreensão, e não vivificar
sua afeição. Há muito mais hipocrisia do que sinceridade dentro dos limites da Igreja. Judas
era um seguidor de Cristo, porque ele “tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (João
12:6), e não por qualquer amor pelo Salvador. Alguns têm a fé ou a verdade de Deus “em
acepção de pessoas” (Tiago 2:1), eles recebem não da Fonte, mas a partir do canal, de
modo que muitas vezes a mesma verdade entregue por outro é rejeitada, a qual, quando
vindo da boca (e fantasia) de seu ídolo, é considerada como um oráculo. Isso é fazer o
homem e não Deus sua regra, pois, embora seja reconhecido que é verdade, no entanto,
não é recebido no amor da verdade, mas sim como o que é dado por um instru-mento
admirado.

A depravação da natureza humana é vista na reversão triste e geral para a escuridão de


um povo após ter sido favorecido com a luz. Mesmo quando Deus tem sido conhecido e
Sua verdade tem sido proclamada, se Ele deixa os homens ao trabalho de seus maus cora-
ções, eles rapidamente caem em um estado de ignorância. Noé e seus filhos viveram por
séculos após o dilúvio a ponto de fazer conhecidas no mundo as perfeições de Deus, mas
todo o conhecimento dEle logo desapareceu; Abrão e seu pai eram idólatras (Josué 24:2).
Mesmo depois que um homem tem experimentado o novo nascimento e tornar-se o objeto
da influência Divina imediata, quanta ignorância e erro, imperfeição e impropriedade ainda
permanecem! Somente pelo fato de que ele não é completamente sujeito ao Senhor. As
rebeliões e apostasias parciais de Cristãos genuínos são uma demonstração terrível da
corrupção da natureza humana. A nossa tendência a cair em erro após a iluminação Divina
é solenemente ilustrada pelos Gálatas. Eles tinham sido instruídos por Paulo, e por meio
do poder do Espírito tinha acreditado no Salvador anunciado. Então, se alegraram e o
receberam “como um anjo de Deus” (4:14); ainda no decorrer de alguns anos muitos desses
conversos deram ouvidos a falsos mestres, até que renunciaram a seus princípios, a ponto
do apóstolo ter dizer-lhes “estou perplexo a vosso respeito” (4:20). Olhe para a Europa,
Ásia, África, após a pregação dos Apóstolos e aqueles que imediatamente os sucederam.
Embora a luz do Cristianismo tenha iluminado a maioria das partes do Império Romano, foi
rapidamente extinta e deu lugar à escuridão. A maior parte do mundo caiu como vítima do
Catolicismo Romano e do Islamismo.

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Nada demonstra mais fortemente a pecaminosidade do homem do que sua propensão à
idolatria: nenhum outro pecado foi tão fortemente denunciado ou tão severamente punido
por Deus. Ídolos são apenas obra das mãos dos homens, e, portanto, inferiores a eles mes-
mos, logo, quão irracional é adorá-los! Pode a loucura humana ir mais longe do que os
homens imaginarem ser capazes de fabricar deuses? Aqueles que têm caído tão baixo a
ponto de confiar em um bloco de madeira ou pedra chegaram ao extremo da tolice. Como
o Salmo 115 aponta: “Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não veem... A eles se tor-
nem semelhantes os que os fazem”, tornam-se tão tolos, tão incapazes de ouvir e ver as
coisas que pertencem à sua salvação. Os Romanistas e seus imitadores não são melhores
do que os gentios que não possuem uma Bíblia, pois pervertem a espiritualidade e a sim-
plicidade do culto Divino por cerimônias infantis. Deus exige a adoração da alma, e eles
oferecem a Ele a do corpo. Ele pede o coração, eles dão-Lhe os lábios. Ele exige uma ho-
menagem da compreensão, mas eles zombam dEle com altares e crucifixos, velas e incen-
so, vestes pomposas e genuflexões.

A corrupção da natureza humana descobre-se em crianças pequenas. Como os nossos


pais tinham o costume de dizer: “O que é produzido no osso aflora na carne”. E quão cedo
isto acontece! Se houvesse alguma bondade inata no homem, seria certamente mostrada
durante os dias de sua infância, antes dos princípios virtuosos serem corrompidos, e maus
hábitos formados por seu contato com o mundo. Mas podemos encontrar crianças inclina-
das a tudo o que é puro e excelente, e avessas a tudo que seja errado? Elas são mansas,
dóceis, cedendo facilmente à autoridade? Elas são altruístas, magnânimas quando outra
criança pega o seu brinquedo? Longe disso. O resultado invariável do crescimento nos se-
res humanos é que, logo que seja maduro o suficiente para expor quaisquer qualidades
morais através na ação humana eles exibem as más. Muito antes de atingirem idade sufici-
ente para entender seus próprios temperamentos maus, eles manifestam a vontade própria,
cobiça, engano, raiva, rancor e vingança. Eles choram e se afligem pelo que não é bom pa-
ra eles, e estão indignados com os mais velhos por sua recusa, muitas vezes tentando ata-
cá-los. Aqueles nascidos e criados no meio de honestidade são culpados de furtos insig-
nificantes antes mesmo de testemunharem um ato de roubo. Estas manchas não devem
ser atribuídas à ignorância, mas à sua discordância com a Lei Divina, a qual a natureza do
homem foi originalmente conformada; que mudança terrível o pecado operou na constituição
humana. A natureza humana é visivelmente contaminada desde o início de sua existência.

A prevalência universal da doença e morte testemunham inequivocamente a queda do


homem. Todas as dores e doenças dos nossos corpos, pelas quais a nossa saúde é preju-
dicada e nossa passagem por este mundo se torna inquieta, são as consequências de nos-
sa apostasia de Deus. O Salvador fez uma insinuação clara de que a doença é o efeito do
pecado quando Ele curou o homem com a paralisia, dizendo: “Os teus pecados te são per-

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doados” (Mateus 9:2); como o salmista também liga entre si o fato de Deus perdoar o Seu
povo e a cura de suas enfermidades (103:3). “Não é algo que acontece a todos”. Sim, mas
por que deveria? Por que deveria haver desperdício e dissolução? A Filosofia não oferece
nenhuma explicação. A ciência pode fornecer nenhuma resposta satisfatória, para dizer
que a doença resulta da decadência da natureza e com isso somente esquivar-se do questi-
onamento. A doença e a morte são anormalidades. O homem é criado pelo Deus eterno,
dotado de uma alma imortal; por que, então, ele não continua a viver aqui para sempre? A
resposta é: por causa da Queda, a morte é o salário do pecado.

A ingratidão do homem ao Seu benfeitor gracioso é mais uma evidência de sua triste condi-
ção. Os israelitas eram uma amostra lamentável de toda a humanidade a este respeito.
Embora o Senhor os livrou da casa da servidão, milagrosamente os conduziu através do
Mar Vermelho, conduziu-os de forma segura através do deserto, eles não valorizaram isto.
Embora Ele, com uma nuvem, os escondeu do calor do sol, e tenha lhes iluminado de noite
numa coluna de fogo, e os alimentou com pão do céu, tenha feito ribeiros fluírem no deserto
de areia, e os trouxe para a posse de uma terra que mana leite e mel, eles estavam continu-
amente murmurando e descontentes. E nós não somos melhores. As misericórdias de Deus
são recebidas como uma coisa natural. A mão que tão generosamente ministra às suas
necessidades não é reconhecida ou mesmo conhecida pelos homens. Ninguém está satis-
feito com o lugar e parte que lhe foi atribuído pela Providência, ele está sempre cobiçando
o que não tem. Ele é uma criatura dada a mudanças, acometido de uma doença que Salo-
mão chamou de “o vaguear da cobiça” (Eclesiastes 6:9).

“Todo cão que ladra contra mim, cada cavalo que levanta o seu calcanhar contra mim, pro-
va que eu sou uma criatura caída. A criação bruta não tinha inimizade contra o homem an-
tes da Queda. A criação prestou uma homenagem voluntária a Adão (Gênesis 2:19). Eva
não mais temia a serpente do que uma mosca. Mas quando o homem renunciou à fidelidade
do seu Deus, os animais por permissão Divina deixaram a fidelidade ao homem” (John
Berridge, O Mundo Cristão Desvelado). É uma prova de sua degradação que o preguiçoso
seja exortado a “ir ter com a formiga” e aprender com uma criatura muito mais baixa na es-
cala dos seres! Considere a necessidade das leis humanas, cercada com punições e terro-
res para conter as concupiscências dos homens, no entanto, apesar do grande e custoso
aparato das forças policiais, tribunais e prisões, quão pequeno é o sucesso que seus es-
forços alcançam para reprimir a maldade humana! Nem a educação, nem a legislação e
nem a religião são suficientes.

Por fim, pegue a experiência invariável dos santos. É parte da obra do Espírito Santo: abrir
os olhos dos cegos, fazer a alma ver sua miséria e torná-la sensível em relação à sua extre-
ma necessidade de Cristo. E quando Ele, portanto, leva um pecador a perceber sua condi-

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ção arruinada por transmitir um conhecimento experimental do pecado, sua beleza é ime-
diatamente transformada em corrupção, e ele grita: “Eis que sou vil” [Jó 40:4]. Apesar de
graça ter entrado em seu coração, sua depravação natural não foi expulsa. Embora o peca-
do não tenha mais domínio sobre ele, ele se enfurece e, muitas vezes, prevalece contra
ele. Há uma guerra incessante interiormente entre a carne e o espírito. Não há necessi-
dade de nos estendermos sobre este ponto, pois cada Cristão geme dentro de si mesmo,
e por causa da praga do seu coração clama: “Miserável homem que eu sou” [Romanos
7:24]. Miserável, porque ele não vive como sinceramente ele deseja viver, e porque ele mui-
tas vezes faz as próprias coisas que ele odeia, gemendo diariamente durante suas imagi-
nações más, pensamentos errantes, incredulidade, orgulho, frieza, pretensão.

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Não É Razoável Que Pessoas Não-Convertidas Se Alegrem
Por Robert Murray M’Cheyne

“A espada, a espada está afiada e polida. Para grande matança está afiada,
para reluzir está polida. Alegrar-nos-emos pois? A vara de meu filho é que
despreza todo o madeiro.” (Ezequiel 21:9-10)

A partir do segundo verso deste capítulo, aprendemos que esta profecia foi dirigida contra
Jerusalém: “Filho do homem, dirige o teu rosto contra Jerusalém, e derrama as tuas pala-
vras sobre os santuários, e profetiza sobre a terra de Israel” [Ezequiel 21:2].

Já lhes disse que Ezequiel, embora ainda jovem, foi levado cativo por Nabucodonosor, e
colocado, dentre um número de seus compatriotas, junto ao rio Quebar. Foi lá que ele pro-
fetizou durante um espaço de vinte e dois anos. A profecia que eu li foi profetizada no sétimo
ano de seu cativeiro, e apenas três anos antes de Jerusalém ter sido destruída, e o templo
queimado. A partir do versículo 2, aprendemos que estas palavras foram dirigidas contra
Jerusalém, pois embora Deus tenha levado Ezequiel para longe para ministrar aos cativos,
junto ao rio Quebar, contudo, fez-lhe enviar muitas mensagens de advertência e de miseri-
córdia para sua amada Jerusalém. “Filho do homem, dirige o teu rosto contra Jerusalém, e
derrama as tuas palavras sobre os santuários, e profetiza sobre a terra de Israel”.

Deus já havia cumprido muitas das palavras de Seus profetas contra Jerusalém. Ele tinha
cumprido a palavra de Jeremias contra um dos seus reis (Jeoiaquim): “Em sepultura de
jumento será sepultado, sendo arrastado e lançado para bem longe, fora das portas de
Jerusalém” [Jeremias 22:18-19]. Ele tinha cumprido a palavra do mesmo profeta levando
outro rei (Jeconias) para a Babilônia com todos os vasos preciosos da Casa do Senhor.
Mas ainda assim, nem profecias nem julgamentos despertariam Jerusalém; de modo que
nos é dito em 2 Crônicas 36:12 que o próximo rei, Zedequias, “fez o que era mau aos olhos
do Senhor seu Deus; nem se humilhou perante o profeta Jeremias, que falava da parte do
Senhor”, v. 14 em diante: “Também todos os chefes dos sacerdotes e o povo aumentavam
de mais em mais as transgressões, segundo todas as abominações dos gentios; e contami-
naram a casa do Senhor, que ele tinha santificado em Jerusalém. E o Senhor Deus de seus
pais, falou-lhes constantemente por intermédio dos mensageiros, porque se compadeceu
do Seu povo e da Sua habitação. Eles, porém, zombaram dos mensageiros de Deus, e des-
prezaram as suas palavras, e mofaram dos seus profetas; até que o furor do Senhor tanto
subiu contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve”.

Foi em um momento de grande dureza e impenitência em Jerusalém que a profecia dian-

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te de mim foi entregue, e apenas três anos antes da ira de Deus ter sido derramada sobre
eles até ao fim. (1) Tudo era alegria e sensualidade em Jerusalém. (2) Os falsos profetas
profetizavam paz, e as pessoas gostavam que isto fosse assim. (3) Não havia som, senão
o de festas no interior da devotada cidade. Mas no meio desse barulho e folia, o profeta
solitário à beira do rio Quebar ouviu o murmúrio do trovão distante. O fiel servo de Deus viu
Deus armando-se como um homem poderoso para a guerra, e a espada reluzente da
vingança em Sua mão, e ele clama em alta voz, com trovões, para seus conterrâneos, todos
à vontade, despertarem: “A espada, a espada está afiada e polida. Para grande matança
está afiada, para reluzir está polida. Alegrar-nos-emos pois?”.

Meus amigos, aqueles de vocês que não são convertidos estão na mesma situação em que
Jerusalém estava. Nos anos que agora passaram, como as brumas da manhã, quantas
mensagens vocês tiveram da parte de Deus? Quantas vezes Ele enviou Seus mensageiros
para vocês, madrugando e enviando-os? Sua Bíblia está em suas casas, um silencioso,
mas um poderosíssimo defensor de Deus; Sua providência tem estado em suas famílias,
na doença e morte, na abundância ou na pobreza, todos estes lhes rogando fugirem da ira
vindoura e lhes suplicando para apegarem-se ao Senhor Jesus, o único, o Salvador todo-
suficiente.

Todas estas mensagens têm vindo a vocês, e vocês ainda permanecem não-convertidos,
ainda mortos, ossos secos, sem Cristo e sem Deus no mundo. E vocês estão dizendo:
Alma, folgue, coma e beba, e seja feliz. Mas, meus amigos, ouçam mais uma vez, pois
Deus não quer que ninguém pereça. Eu tenho uma palavra de Deus para ti: “A espada, a
espada está afiada e polida. Para grande matança está afiada, para reluzir está polida.
Alegrar-nos-emos pois?”.

Doutrina. Não é razoável que pessoas não-convertidas se alegrem.

1. Não é razoável, porque eles estão sob condenação. A espada está afiada e polida. Ela
está afiada para fazer uma grande matança; está polida para reluzir. Deveríamos, então,
nos alegrar? Há uma ideia comum de que os homens estão em liberdade condicional, como
Adão estava, e que as pessoas sem Cristo não serão condenadas até o julgamento; mas
este não é o caso. A Bíblia diz: “Aquele que não crê já está condenado” [João 3:18]. “Aquele
que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” [João 3:36].
“Maldito (“é maldito” e não “será maldito”) aquele que não confirmar as palavras desta lei,
não as cumprindo” [Deuteronômio 27:26]. Almas sem Cristo estão atualmente no poço
horrível, toda a boca está calada, e elas são culpadas diante de Deus. Elas estão na prisão,
prontas para serem levadas para a execução. Portanto, quando Deus nos envia a pregar
às pessoas sem Cristo Ele chama isto de “pregar aos espíritos em prisão”, ou seja, que

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estão sob condenação. A espada não está somente desembainhada, está afiada e polida.
Paira sobre as suas cabeças.

Vocês deveriam, então, alegrar-se? Não é razoável que um malfeitor condenado alegre-se.
Será que não assombra grandemente toda mente sensível ver um grupo de homens conde-
nados à morte reunidos e alegrando-se, falando de forma descontraída e fazendo zombari-
as, como se a espada não estivesse sobre eles? No entanto, este é o caso daqueles de
vocês que não são convertidos e vivem vidas alegres. Você foi pesado na balança e achado
em falta. Você foi condenado pelo justo juiz. Sua sentença está lavrada. Você está agora
em prisão, e não pode sair dela; a espada é incitada e atraída por você. E oh! não é dema-
siado irracional alegrar-se? Não é mui irrazoável ser feliz e contente consigo mesmo e com
seus amigos? Não é uma loucura cantar a canção do bêbado? “Comamos e bebamos,
porque amanhã morreremos” [Isaías 22:13; 1 Coríntios 15:32].

2. Porque os instrumentos destruidores de Deus estão todos prontos. As pessoas sem


Cristo já estão não apenas condenadas, mas os instrumentos de sua destruição estão pron-
tos. A espada da vingança está afiada e polida. Quando as espadas estão guardadas no
arsenal, são mantidas embotadas, para que a ferrugem não danifique seu fio; mas quando
o trabalho deve ser feito, e elas são levadas para fora para a matança, então elas são
amoladas e afiadas, tornando-se agudas e brilhantes. Assim é com a espada do carrasco;
quando não está em uso, ela é mantida sem corte; mas quando o trabalho deve ser feito,
está afiada e preparada. Ela está aguda e polida, pouco antes do golpe ser desferido, nítida-
mente cortante. Assim é com a espada da vingança de Deus. Não está embainhada e sem
corte, está afiada e polida, está completamente pronta para fazer o seu trabalho, está bas-
tante preparada para uma grande matança. A doença pelo qual cada homem não-conver-
tido morrerá está completamente pronta, talvez esteja em suas veias, neste exato momen-
to. O acidente pelo qual ele deve ser lançado na eternidade está completamente pronto,
todas as partes e meios disso já estão arranjados. A seta que deve lhe ferir não está no
arco, talvez tenha deixado a corda, e esteja agora mesmo voando em sua direção.

O lugar no inferno está completamente pronto para todas as almas não-convertidas. Quan-
do Judas morreu, as Escrituras dizem: “ele foi para o seu próprio lugar” [Atos 1:25]. Este
era seu lugar antes de ir para lá, estando mui preparado e pronto para ele. Como quando
um homem se retira à noite ao seu quarto de dormir, diz-se que ele se foi para seu próprio
quarto, assim, um lugar no inferno está completamente pronto para todas as pessoas sem
Cristo. Este é o seu próprio lugar. Quando o homem rico morreu e foi sepultado, ele foi
imediatamente para seu próprio lugar. Ele encontrou tudo pronto. Ele levantou os olhos no
inferno, estando em tormentos. Então, o Inferno está completamente pronto para todas as
pessoas sem Cristo. Foi preparado, há muito tempo, para o diabo e seus anjos. As chamas
estão todas prontas, e totalmente inflamadas, ardendo.

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Ah! Deverão, então, as almas sem Cristo alegrarem-se? Um malfeitor pode, talvez, dizer
que ele seria feliz, desde que o patíbulo não fosse erigido para que ele morresse. Mas se
lhe fosse dito que o patíbulo estava pronto, que a espada foi afiada e que o carrasco está
pronto, oh! não seria loucura se ele se alegrasse? Ai! esta é a sua loucura, pobre alma sem
Cristo. Você não está apenas condenada, mas a espada está afiada e pronta para ferir a
sua alma; e você ainda pode ser feliz, e sonhar passar os seus dias e noites em prazeres
que perecem pelo uso. A doença está pronta, o acidente está pronto, a seta está no arco,
o túmulo está pronto, sim, o próprio inferno está pronto, o seu próprio lugar está preparado;
e você ainda pode alegrar-se!? Você pode jogar e divertir-se em companhias. Quão verda-
deiramente o seu riso é como o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela: uma chama
flamejante, e então a escuridão das trevas para sempre!

3. A espada pode vir a qualquer momento. As pessoas sem Cristo já não estão apenas con-
denadas, e não somente a espada da vingança está completamente pronta, mas a espada
pode vir a qualquer momento. Não é assim com malfeitores; seu dia é determinado e
anunciado a eles, para que eles possam contar seu tempo. Se eles têm muitos dias eles se
alegram hoje, pelo menos, e ficam sérios amanhã. Mas não é assim com as pessoas sem
Cristo; seu dia está determinado, mas não é dito para elas. Pode ser neste exato momento.
Ah! eles devem, então, alegrarem-se?

Alguns malfeitores foram encontrados muito duros de coração até o fim. Muitos já receberam
a sua sentença com muita indiferença, e com um semblante determinado. Alguns têm até
mesmo ido para o patíbulo mui impassíveis; alguns até mesmo levemente, com o espírito
descuidado. Mas quando a cabeça está posta sobre cepo, quando os olhos são cobertos,
e seu pescoço é desnudado, quando a espada reluzente é suspensa, e pode descer a qual-
quer momento, este é um momento de terrível suspense. Seria muito horrível ver um ho-
mem tranquilo e de espírito descuidado, naquele momento. Oh! Não seria uma loucura
estar feliz naquele momento!? Ai! Esta é a sua loucura, pobre alma sem Cristo. Você não
está apenas condenada, e não somente a espada está pronta, mas pode cair sobre você a
qualquer momento. Sua cabeça está posta, por assim dizer, no cepo. Seu pescoço está
exposto diante de Deus, e a espada afiada está aguçada sobre você; e você ainda pode
alegrar-se? Você pode entreter a sua mente com os negócios e as coisas do mundo, bus-
cando riqueza, construindo e plantando, e se nesta noite a sua alma for requerida de você?
Você pode preencher o seu tempo com jogos e diversões, livros tolos e companheiros
divertidos? Você pode preencher suas horas depois do trabalho com a conversa fiada e
comportamento lascivo, acrescentando pecado a pecado, entesourando ira para o dia da
ira, quando você não sabe a que hora a ira de Deus pode vir sobre você finalmente? Você
pode ir para sua cama à noite sem oração, com sua mente cheia de imaginações sombrias
e horríveis que nem sequer podem ser mencionadas; você não poderia estar no inferno
antes do amanhecer? A espada, a espada, está polida!

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4. Porque Deus não fez nenhuma promessa para almas sem Cristo de deter a Sua mão
nem por um só momento. Todas as promessas de Deus são sim e amém; ou seja, elas são
verdadeiras. Ele sempre cumpre Suas promessas. Mas a mesma Bíblia diz que elas são
“sim e amém em Cristo Jesus” [2 Coríntios 1:20]. Todas as promessas de Deus são feitas
a Cristo e aos pecadores que se unem a Cristo. Eu acredito que é impossível, pela natureza
das coisas, que Deus fizesse uma promessa a um homem não-convertido. Dessa forma,
todas as promessas de Deus são feitas a Cristo, e a cada pecador que se une a Cristo. Mas
as pessoas não-convertidas são aquelas que nunca vieram a Cristo; por conseguinte, não
há promessas feitas para elas [...]. Ele não promete em nenhum lugar mantê-los um
momento sequer fora do inferno. “Alegrar-nos-emos pois?”.

Deixe-me falar com pessoas que estão sem Cristo, entregues à sua própria vontade. Sei
que muitos de vocês que me ouvem estão sem Cristo; e ainda assim vocês percebem que
vocês estão à vontade e felizes. Por que isso é assim? Isso é porque vocês esperam serem
levados a Cristo antes de morrer. Vocês dizem: “outro dia servirá também, e eu te ouvirei
novamente sobre esta questão”, e assim vocês se acomodam agora. Mas isso é muito
irrazoável. Não é digno da racionalidade aquele que age desta forma. Em nenhum lugar
Deus prometeu trazê-lo a Cristo antes de morrer. Deus não colocou-Se sob nenhum tipo
de obrigação para com você. Ele não prometeu em nenhum lugar que você verá o amanhã,
ou que você ouvirá outro sermão. Há um dia à mão quando você não mais verá o amanhã.
Se este não for o último, há ainda um sermão a ser pregado, que será o último que você
ouvirá.

Deixe-me falar com as pessoas sem Cristo que estão preocupadas em relação suas almas.
Alguns que me ouvem sabem que eles estão sem Cristo, e isso os preocupa, e ainda deve-
se temer que alguns estejam perdendo essa ansiedade, e agora voltando para as alegrias
do mundo. Por que isso? Isto é o mais irrazoável. Se você ainda está fora de Cristo, embora
tenha ficado preocupado por causa disto, lembre-se que Deus não fez promessas para
salvar você. A espada ainda está mui polida e afiada sobre você. Ah! Então não se alegre.
Esforce-se para entrar pela porta estreita. Tome o reino dos céus pela força. Porfie por ele.
Nunca descanse até que você esteja nos laços da aliança. Depois, seja tão feliz enquanto
o dia durar.

5. Há uma grande matança: “A espada! a espada!”.

Em primeiro lugar, grande porque será sobre todos os que estão sem Cristo. O horror do
massacre em Jerusalém foi que todos foram mortos, tanto velhos como jovens. A ordem
que o profeta ouviu foi: “Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho, nem
vos compadeçais. Matai velhos, jovens, virgens, meninos e mulheres, até exterminá-los;

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mas a todo o homem que tiver o sinal não vos chegueis” (Ezequiel 9:5-6). Tal é a grande
matança que espera as almas não-convertidas. Todas as pessoas sem Cristo perecerão,
jovens e velhos.

Deus não poupará nem se apiedará o Seu olho. Pensem nisso, pessoas idosas e de cabe-
los brancos, que viveram em pecado, e nunca vieram a Cristo: se vocês morrerem assim,
certamente perecerão na grande matança. Pensem nisso, você, pessoas de meia-idade,
comerciantes e trabalhadores, que ganham dinheiro, mas não vendem tudo pela pérola de
valor. Pensem nisso Martas, que são estão ansiosas e afadigadas com muitas coisas, mas
que se esquecem de uma coisa que é necessária, você também cairá na grande matança.
Pensem nisto, jovens, que vivem sem oração, mas em alegrias e jovialidade, que se reúnem
para zombar e se alegrar nas noites de Sabath, você que anda na vista de seus próprios
olhos, você também cairá na grande matança. Pensem nisso, filhinhos, vocês que são o
orgulho do coração de sua mãe, mas que se desviaram desde o ventre, falando mentiras
[Salmos 58:3]. Filhinhos, que gostam de seus brinquedos, mas não gostam de aproxi-
marem-se de Jesus Cristo, que é o Salvador de crianças pequenas, a espada virá sobre
vocês também.

Oh! é um massacre dolorido, que não poupará o jovem, nem o belo, nem o amável; nem a
mãe gentil e a criança carinhosa; nem a viúva e seu único filho. Então, devemos nos ale-
grar? Famílias não-convertidas, quando vocês se encontram à noite para gracejos e jogos
uns com os outros, façam esta pergunta, deveríamos nos alegrar? É a sua alegria, razoá-
vel? É digna de seres racionais? Companheiros não-convertidos, que se encontram tantas
vezes para regozijo e diversão, vocês devem juntamente se alegrarem quando vocês estão
em tal caso? Ah! quão triste será o contraste quando Deus disser: “Atai-os em molhos para
os queimar” [Mateus 13:30]

Em segundo lugar, grande matança, porque a espada é a espada de Deus. Se fosse apenas
a espada do homem que é polida e afiada para a matança, não seria muito terrível. Mas é
a espada de Deus todo-poderoso, e por isso é muito terrível. “Não temais os que matam o
corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei
aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei”
[Lucas 12:4-5]. Se fosse a espada do homem, ele poderia atingir apenas o corpo; mas, ah!
é a espada de Deus, e o ferro entra na alma. É a mesma espada que apareceu no jardim
do Éden. “Uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore
da vida” [Gênesis 3:24]. É a mesma espada que perfurou o lado de Jesus Cristo em Sua
agonia: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu com-
panheiro, diz o Senhor dos Exércitos. Fere ao pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas” [Zacari-
as 13:7]. É a espada de que Cristo fala, quando diz: “E cortá-lo-á, e destinará a sua parte
com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” [Mateus 24:51 – tradução literal].

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Queridos irmãos, não são algumas feridas na carne que essa espada fará. Ela cortará em
pedaços, será um golpe mortal, morte eterna. Esta é a morte do corpo, mas a alma estará
sempre morrendo, ainda assim, nunca morrerá.

1. Permita-me falar com o idoso. Pode haver algum me ouvindo em quem estas três coisas
se encontram, a saber, ele está velho, sem Cristo e cheio de alegria. Oh! se houver um tal
a me ouvir, considere seus caminhos; considere se a sua alegria pode ser digna de um ser
racional. Eu lhe mostrei claramente a partir das Escrituras o que o seu caso é: (1) Que já
estás condenado. (2) Essa espada de Deus está pronta. (3) Ela pode vir a qualquer mo-
mento. (4) Que Deus não te fez nenhuma promessa para refrear a Sua mão. E (5) isso será
uma grande matança. Considere, então, se é razoável acreditar em uma mentira para enga-
nar sua própria alma e dizer: Paz! Paz! quando não há paz. Segundo o curso normal das
coisas, você deve em breve seguir o caminho de todos os viventes, você deve ser recolhido
aos seus pais; e, em seguida, será cumprido tudo o que eu disse. Então você alegrar-se-
á? Você está cambaleando à beira do inferno, e ainda vivendo sem oração e sem Cristo, e
divertindo-se com ninharias, falando o repetindo os contos de sua juventude, e rindo nas
brincadeiras costumeiras? Ai! Que profundidade de significado há ali na palavra de Salo-
mão! “Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta? Até no riso o coração sen-
te dor e o fim da alegria é tristeza” [Eclesiastes 2:2; Provérbios 14:13].

2. Deixe-me falar com o jovem. Pode haver muitos a me ouvir em quem estas três coisas
se encontram: são jovens na idade, distantes de Cristo e, ainda assim, cheios de alegria.
Agora, meus queridos amigos, peço que vocês considerem se a sua alegria é razoável. A
espada está afiada para uma grande matança. Então, vocês se alegrarão?

Objeção 1. A juventude é o momento de alegria.

Resposta. Eu sei bem que a juventude é o tempo para a alegria. O jovem cordeiro é uma
criatura feliz enquanto salta no pasto verdejante. O jovem cabrito salta de rocha em rocha
com a mais animada alegria. O potro lança seus saltos no ar, cheio de vida e atividade.
Contudo, eles não têm nenhum pecado, e você tem; eles não têm um inferno, e você tem.
Se você se achegar a Jesus Cristo agora, e for liberto da ira, ah! então, você encontrará
que a juventude é o tempo para a alegria; a juventude é o tempo para desfrutar da doce paz
no peito, e da mais vívida comunhão com Deus, e das mais resplandecentes esperanças
de glória.

Objeção 2. Você queria que fôssemos melancólicos e tristes?

Resposta. Deus me livre. Tudo o que eu afirmo é que, até que vocês venham a Cristo, sua

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alegria é louca e irracional. Se você vier a Cristo, então, será tão feliz quanto quiser; não
há limites para sua alegria ali, pois você se alegrará em Deus. E quando você morrer, você
alcançará a plenitude da alegria em Sua presença; à Sua destra há delícias perpetuamente.

Objeção 3. Se eu estiver sem Cristo, ficar triste não me trará a Cristo, então, portanto, eu
posso também ser feliz.

Resposta. É verdade, ficar triste não vai trazê-lo para Cristo; e ainda, se você estivesse re-
almente despertado para clamar a Deus, porventura, Ele ouviria seu clamor. Se você esti-
vesse se esforçando para entrar, você poderia encontrar entrada. Se você estivesse porfi-
ando pelo o reino, você, talvez, pudesse tomá-lo pela violência. Buscai a mansidão, buscai
a justiça. Pode ser que sejais escondidos no dia da ira do Senhor. Se você ficar onde está,
esteja certo que estará perdido. Se você viver em segurança carnal, em alegria e joviali-
dade, enquanto você estiver fora de Cristo, esteja certo de que perecerá.

“Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade,
e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por
todas estas coisas te trará Deus a juízo” [Eclesiastes 11:9].

Dundee, 1837.

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Pecado Imensurável
(Sermão Nº 299)

Pregado na manhã de Sabath, 12 de fevereiro de 1860.


Por C. H. Spurgeon, em Exeter Hall, Strand.

“Quem pode entender os seus erros?” (Salmo 19:12)

O que sabemos é como nada em comparação com o que nós não sabemos. O mar de sa-
bedoria lançou de si uma concha ou duas sobre a nossa praia, mas as suas vastas profun-
dezas nunca foram conhecidas a cada passo do pesquisador. Mesmo as coisas naturais
que conhecemos são apenas matérias superficiais. Aquele, que mais tem viajado pelo vasto
mundo e descido às suas minas mais profundas, ainda assim deve estar ciente de que ele
tenha visto, somente uma parte da mera crosta deste mundo; que, em relação ao seu vasto
centro, seus fogos misteriosos e segredos de fundição, a mente do homem não os tem
ainda concebido! Se você olhará para cima, o astrônomo irá dizer-lhe sobre as estrelas não
descobertas, que a grande massa de mundos que formam a Via Láctea e as massas abun-
dantes de nebulosas, que esses grandes grupos de mundos desconhecidos, infinitamente
excedem o pouco que podemos explorar, como uma montanha excede um grão de areia!
Todo o conhecimento que os homens mais sábios podem, eventualmente, atingir em toda
uma vida não é mais do que aquilo que a criança pode retirar do mar, com sua pequena
xícara, em comparação à imensidão das águas que enchem os seus canais até a borda.
Pois, quando nos tornamos mais sábios, temos que vir para o limiar do conhecimento; não
demos, senão um passo nessa corrida da descoberta que vamos ter que perseguir por toda
a eternidade. Este é igualmente o caso no que diz respeito às coisas do coração e às coisas
espirituais, que diz respeito a este pequeno mundo chamado homem. Não sabemos nada
sobre as coisas, senão superficialmente. Se eu falar com você sobre Deus, de Seus atri-
butos, de Cristo, de Sua expiação, ou de nós mesmos e do nosso pecado, devo confessar
que ainda não conhecemos nada, senão o exterior; que não podemos compreender o com-
primento, a largura, a altura de qualquer um desses assuntos!

O assunto desta manhã: nosso próprio pecado e o erro dos nossos próprios corações, é
aquele que às vezes pensamos que conhecemos, mas do qual podemos sempre ter a cer-
teza de que só começamos a conhecer, e que, quando nós aprendermos o máximo que al-
guma vez conheceremos na terra, a questão ainda será pertinente: “Quem pode entender
os seus erros?”. Agora, nesta manhã me proponho em primeiro lugar, muito brevemente,
de fato, a explicar a questão; em seguida, em maior extensão impressioná-la em nossos
corações; e, finalmente, vamos aprender as lições que ela nos ensina.

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I. Primeiro, então, deixe-me EXPLICAR A PERGUNTA: “Quem pode entender os seus erros?”

Todos nós reconhecemos que temos erros. Certamente não somos tão orgulhosos a ponto
de imaginarmos que somos perfeitos. Se pretendemos perfeição, somos completamente
ignorantes, pois cada profissão da perfeição humana surge da perfeita ignorância! Qualquer
noção de que somos livres do pecado deve ao mesmo tempo ensinar-nos que abundamos
no mesmo. Pois, ao justificar a minha vanglória de perfeição, devo negar a Palavra de Deus,
esquecer a Lei e exaltar a mim mesmo acima do testemunho da verdade de Deus! Por isso,
eu digo, nós estamos dispostos a confessar que temos muitos erros, mas quem de nós
pode entendê-los? Quem sabe com precisão o quanto uma coisa pode ser errada mas, nós
imaginamos ser uma virtude? Quem entre nós pode definir o quanto de maldade está mis-
turado com a nossa retidão, o quanto de injustiça com a nossa justiça? Quem é capaz de
detectar os componentes de cada ação, de modo a ver a proporção de motivo que a consti-
tuiria certa ou errada? Seria realmente um homem astuto aquele que é capaz de desmas-
carar uma ação e dividi-la nos motivos essenciais que são seus componentes. Onde acha-
mos que estamos certos, quem sabe, não estejamos errados? Mesmo onde com o escrutí-
nio mais rigoroso, chegamos à conclusão de que fizemos uma coisa boa, quem entre nós
pode ter certeza de que não foi enganado? Não pode a boa aparência estar tão desfigurada
com motivação interna, a ponto de se tornar um mal real?

Quem pode entender os seus erros, de modo a sempre detectar uma falha quando é come-
tida? As sombras do mal são perceptíveis a Deus, mas nem sempre perceptíveis para nós.
Nossos olhos ficaram tão cegos e sua visão tão arruinada pela Queda, que a absoluta tene-
brosidade do pecado nós podemos detectar, mas somos incapazes de discernir os tons de
sua escuridão. E ainda assim a menor sombra de pecado é perceptível a Deus e cada som-
bra nos separa do Perfeito e nos faz ser culpados de pecado. Quem entre nós tem esse
método apurado de julgar a si mesmo, de modo que ele deve ser capaz de descobrir o pri-
meiro traço de mal? “Quem pode entender os seus erros?”. Certamente ninguém reclamará
uma sabedoria tão profunda como esta. Mas, passemos às questões mais comuns por que,
talvez, nós possamos entender melhor o nosso texto. Quem pode discernir o número de
seus erros? A mente mais poderosa não poderia contar os pecados de um único dia! Tal
qual a multidão de faíscas de uma fornalha, assim são inumeráveis as iniquidades de um
único dia. Podemos antes contar os grãos de areia da praia do mar, do que as iniquidades
da vida de um homem. Uma vida mais purificada e limpa é ainda tão cheia de pecado como
o mar é cheio de sal; e quem é aquele que pode pesar o sal do mar, ou pode detectá-lo,
uma vez que se mistura com cada partícula de água? Mas se ele pudesse fazer isso, ele
não poderia dizer quão grande quantidade de mal satura toda a nossa vida e quão inúmeras
são as ações, pensamentos e palavras de desobediência que nos afastam da presença de
Deus e fazem com que Ele abomine as criaturas que as Suas próprias mãos fizeram!

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Mais uma vez, mesmo se pudéssemos contar o número de pecados humanos, quem, en-
tão, poderia estimar sua culpa? Perante a mente de Deus a culpa de um pecado é indes-
critível e nós estupidamente chamamos de coisa pequena, a culpa de um pecado merece
o Seu desprazer eterno! Até que uma iniquidade seja lavada com sangue, Deus não pode
aceitar a alma e levá-la ao Seu coração como Seu próprio filho. Embora Ele tenha feito o
homem e seja infinitamente benevolente, ainda assim o Seu senso de justiça é tão forte,
severo e inflexível, que para fora Sua presença, Ele lançará o Seu filho querido, se um único
pecado permanecer sem perdão! Quem, então, entre nós pode dizer a culpa da culpa, a
hediondez da ingrata rebelião que a homem iniciou e continuou contra o seu Criador sábio
e compassivo? O pecado, como o inferno, é um poço sem fundo! Oh, irmãos e irmãs, jamais
viveu um homem que realmente soube como ele era culpado! Se tal ser pudesse estar ple-
namente consciente de toda a sua culpa, ele carregaria o inferno em seu coração. Não,
penso muitas vezes que dificilmente os condenados ao inferno podem conhecer toda a
culpa de sua maldade, ou então até mesmo o seu forno seria aquecido sete vezes mais do
as chamas de Tofete, seria ampliado para uma profundidade imensurável! O inferno que
está contido em um único mau pensamento é indescritível e inimaginável! Só Deus conhece
a escuridão, o horror das trevas, que está condensado em um mau pensamento!

Outrossim, eu penso que o nosso texto queria transmitir-nos esta ideia. Quem pode enten-
der o agravamento peculiar de sua própria transgressão? Ora, respondendo à pergunta por
mim, eu sinto que, como ministro de Cristo eu não consigo entender os meus erros. Colo-
cado onde multidões ouvem a Palavra através de meus lábios, minhas responsabilidades
são tão tremendas que no momento em que eu penso nelas, uma montanha cai sobre a
minha alma! Houve momentos em que eu quis imitar Jonas e tomar um navio e fugir para
longe da obra que Deus tem confiado a mim, porque sou consciente de que eu não sirvo
como devo. Quando eu tenho pregado mais sinceramente, eu vou para o meu quarto me
arrepender por eu ter pregado de maneira tão fria. Quando eu choro por suas almas e quan-
do eu agonizo em oração, eu ainda estou consciente que eu não lutei com Deus como eu
deveria ter lutado e que eu não tenho sentido pelas suas almas como eu deveria sentir. Os
erros que um homem pode cometer no ministério são incalculáveis! Não há inferno, eu pen-
so, que deve estar quente o suficiente para o homem que é infiel aqui! Não pode haver uma
maldição horrível demais para ser arremessada sobre a cabeça do homem que leva os
outros a se desviarem quando ele deveria guiá-los no caminho da paz, ou que lida com as
coisas sagradas como se fossem coisas que não têm peso e são de pequena importância.
Traga aqui qualquer ministro de Cristo que vive e se ele está realmente cheio do Espírito
Santo, ele irá dizer-lhe que quando ele está abatido pela solenidade de seu ofício, ele desis-
tiria da obra, se ele se atrevesse; que se não fosse por algo superior, impulsos misteriosos
que o impulsionam para a frente, ele tiraria a mão do arado e abandonaria o campo de ba-
talha. Senhor tenha misericórdia de seus ministros, pois, mais do que todos os outros ho-
mens, nós precisamos de misericórdia!

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E agora eu tomo qualquer outro membro da minha igreja, e qual é a sua posição na vida,
qualquer que seja sua educação, ou as providências peculiares pelo que vocês passaram,
eu insistirei nisso de que há algo de especial sobre o seu caso, que faz seu pecado um tal
pecado que não se pode entender como é vil! Talvez você tenha tido uma mãe piedosa que
chorou por você na sua infância e te dedicou a Deus, quando você estava em seu berço.
Seu pecado é duplamente pecado! Há nisso uma tonalidade escarlate que não pode ser
encontrada em um criminoso comum. Você tem sido dirigido desde a sua mocidade no ca-
minho da justiça e tem se desviado, cada passo que você deu não foi um passo para o in-
ferno, mas um passo lá! O seu pecado é mais grave do que o dos outros. Outras dezenas
de homens correm apressadamente, mas onde há um centavo depositado para outros pe-
cadores, há libras colocadas em sua conta, pois você conhece o seu dever, mas você não
o cumpre. Aquele que rompe do seio de uma mãe para o inferno, vai para as suas profun-
dezas! Não há no inferno nenhum grau de tortura ou profundeza que deva certamente ser
reservado para o homem que pisoteia as orações de uma mãe, para sua própria perdição.
Ou você pode nunca ter de prestar conta por isso; mas você pode ter um agravamento
igual. Você que tem estado no mar, senhor, Muitas vezes você este em perigo de naufragar.
Você teve livramentos milagrosos. Agora, cada um desses naufrágios foi um aviso para
você. Deus o trouxe até as portas da morte e você prometeu que se Ele salvasse a sua al-
ma miserável você levaria uma vida nova, que você começaria a servir ao seu Criador.
Você mentiu para o seu Deus! Seus pecados antes de proferir esse voto foram malignos o
suficiente; mas agora você não apenas quebra a Lei, mas a própria aliança que voluntaria-
mente você fez com Deus na hora da aflição! Talvez alguns de vocês, tenham caído de um
cavalo, ou tenham sido atacados por febre, ou de outras formas foram levados até às portas
da morte, que solenidade está ligada à sua vida agora! Ele que vestiu a balaclava1 e ainda
voltou vivo, aquele que teve sua vida poupada, onde centenas morreram, deve a partir des-
se momento se considerar um homem de Deus, salvo por uma providência singular para
fins singulares! Mas, também, tiveram seus escapes, se não são tão surpreendentes, ainda
assim casos certamente tão especiais da bondade de Deus! E agora, a cada erro que você
cometer torna-se indescritivelmente mau e sobre você eu posso dizer: “Quem pode enten-
der os seus erros?”.

Mas eu poderia esgotar a congregação, trazendo um por um. Aí vem o pai; senhor, os seus
pecados serão imitados por seus filhos! Você não pode, portanto, compreender os seus
erros, porque são pecados contra sua própria prole, você peca contra os filhos que proce-
deram de suas próprias entranhas! Aqui está o magistrado; senhor, os seus pecados são

__________
[1] Balaclava: (palavra ucraniana) Peça de malha feita para aquecer ou defender a cabeça, que a cobre toda até o
pescoço, com uma abertura apenas para os olhos (Dicio.com.br). Aqui provavelmente faz referência à cobertura de
cabeça que usavam aqueles que estavam prestes a serem executados por um determinado motivo.

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de uma cor peculiar, pois, estando em sua posição, seu caráter é visto e conhecido, e faça
o que você fizer se tornará a desculpa de outros homens. Trago um outro homem que não
possui nenhum ofício no Estado e que, talvez, é pouco conhecido entre os homens, mas,
senhor, recebemos a graça especial de Deus; você teve rico gozo da luz do semblante de
seu Salvador. Você tem sido pobre, mas Ele te fez rico, rico em fé! Agora, quando você se
rebelou contra Ele, os pecados dos favoritos de Deus são pecados de fato! Iniquidades
cometidas pelo povo de Deus tornam-se tão grandes como o alto Monte Olimpo e alcançam
as próprias estrelas! Quem de nós, então, pode entender os seus erros, seus agravos
especiais, seu número e sua culpa? Senhor, sonda-nos e conhece os nossos caminhos!

II. Tenho, portanto, tentado brevemente explicar o meu texto; agora eu buscarei IMPRESSI-
ONÁ-LO NO CORAÇÃO, como Deus, o Espírito Santo me ajudar.

Antes que um homem possa entender os seus erros existem vários mistérios que ele deve
saber. Mas cada um desses mistérios, em minha opinião, está além de seu conhecimento
e, consequentemente, a compreensão de toda a profundidade da culpa do seu pecado deve
estar muito além do poder humano. Agora, o primeiro mistério que o homem deve entender
é a Queda. Até que eu saiba o quanto todos os meus poderes estão degradados e depra-
vados, quão completamente a minha vontade está pervertida e meu juízo desviou-se da
retidão, quão real e essencialmente ímpia minha natureza se tornou, não pode ser possível
que eu conheça toda a extensão da minha culpa. Aqui está um pedaço de ferro colocado
sobre a bigorna. Os martelos são brandidos sobre ela vigorosamente. Milhares de faíscas
estão espalhadas por todos os lados. Suponha que seja possível contar cada centelha, que
cai da bigorna; ainda que pudéssemos adivinhar o número de faíscas produzidas, quantas
ainda se encontram latentes e escondidas na massa de ferro? Agora, irmãos e irmãs, a sua
natureza pecaminosa pode ser comparada com a barra de ferro aquecida. As tentações
são os martelos; seus pecados as faíscas. Se você pudesse contá-los (o que você não po-
de), ainda assim quem poderia contar a multidão de iniquidades em gestação, ovos do
pecado que jazem adormecidos em suas almas? No entanto, você deve saber isso antes
de saber toda a pecaminosidade de sua natureza! Nossos pecados visíveis são como pe-
quena amostra que o fazendeiro traz para o mercado. Há celeiros cheios em sua casa. As
iniquidades que vemos são como as ervas daninhas sobre a superfície do solo; mas foi-me
dito, e de fato o tenho visto, que se você cavar seis pés na terra e revolver o solo fresco, ali
será encontrada no solo a seis pés de profundidade, as sementes das ervas daninhas nati-
vas à terra.

E assim, não devemos pensar apenas nos pecados que crescem na superfície, mas se pu-
déssemos revolver o nosso coração até seu núcleo e cerce, iríamos encontrá-lo como total-

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mente envolvido com o pecado como cada pedaço de podridão está com vermes e putrefa-
ção! O fato é que o homem é uma massa cheirando à corrupção. Toda a sua alma é, por
natureza, tão degradada e tão depravada, que nenhuma descrição pode ser dada a ela,
pois nem mesmo línguas inspiradas podem dizer plenamente quão vil e infame ela é! Um
antigo escritor disse uma vez da iniquidade interior como sendo um aquífero que está es-
condido nas profundezas da terra, Deus já rompeu as fontes do grande abismo e, então,
eles cobriram as montanhas vinte côvados para cima. Se Deus retirasse Sua graça restrin-
gidora e abrisse em nossos corações todas as fontes do grande abismo da nossa ini-
quidade, seria uma inundação tão espantosa que cobriria os mais altos cumes das nossas
esperanças e todo o verme dentro de nós seria afogado em temor e desespero! Nenhuma
coisa viva poderia ser encontrada neste mar de mal. Isso cobriria tudo e engoliria toda a
nossa humanidade! Ah, diz um velho provérbio: “Se o homem tivesse que usar seus peca-
dos na testa, ele puxaria o chapéu por sobre os olhos”. Aquele velho romano que disse que
gostaria de ter uma janela para o seu coração, para que todo homem pudesse ver seu inte-
rior, não se conhecia, pois se ele houvesse tido tal janela, ele logo teria implorado por um
par de persianas e ele as teria mantido fechadas, tenho certeza que ele nunca teria visto o
seu coração, pois ele teria sido levado à loucura delirante! Deus, portanto, poupa todos os
olhos, exceto os Seus próprios desta visão desesperadora: um coração humano desvelado.
Grande Deus, aqui nós fazemos uma pausa e clamamos: “Eis que em iniquidade fui for-
mado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no
oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e
ficarei mais branco do que a neve” [Salmos 51:5-7].

A segunda coisa que será necessária entendermos, antes que possamos compreender os
nossos erros é a Lei de Deus. Se eu apenas descrever a Lei, por um momento, você muito
facilmente verá que você nunca pode esperar, por qualquer meio compreendê-la totalmen-
te. A Lei de Deus, como lemos nos Dez Grandes Mandamentos, parece muito simples, mui-
to fácil. Quando chegamos, no entanto, a colocar até mesmo seus preceitos expostos em
prática, descobrimos que é quase impossível para nós mantê-los plenamente. A nossa
surpresa, no entanto, aumenta, quando descobrimos que a Lei não significa apenas o que
diz, mas que tem um significado espiritual, uma profundidade oculta na letra que à primeira
vista nós não descobrimos. Por exemplo, o mandamento: “Não cometerás adultério”, signifi-
ca mais do que o simples ato, ele se refere à fornicação e a impureza de qualquer forma,
tanto no ato, quanto na palavra e no pensamento. Não, para usar a própria exposição de
nosso Salvador: “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração
cometeu adultério com ela” [Mateus 5:28]. É assim, com cada mandamento, a letra nua não
é nada comparada com todo o significado grandioso e rigidez severa da regra. Os manda-
mentos, se assim posso dizer, são como as estrelas, quando vistas a olho nu, parecem ser
pontos brilhantes, mas se pudéssemos nos aproximar deles, veríamos que eles são mun-

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dos infinitos, maiores até mesmo do que o nosso sol, de tão grandiosos que são. Assim é
com a Lei de Deus: parece ser somente um ponto luminoso, porque a vemos à distância,
mas quando chegamos mais perto onde Cristo permaneceu e estimou a Lei, como Ele a
via, então nós encontramos que ela é grande, incomensurável! “O teu mandamento é am-
plíssimo” [Salmos 119:96]. Pense em seguida, por um momento na espiritualidade da Lei,
em sua extensão e rigor. A Lei de Moisés condena por ofensa, sem esperança de per-dão
e o pecado, como uma pedra de moinho, é amarrado ao redor do pescoço do pecador e
lançado nas profundezas. Porém, muito mais a Lei trata de pecados de pensamento, imagi-
nar o mau é pecado! Do fluir do pecado através do coração sai a mancha de impureza por
trás dele. Esta Lei, também, estende-se a cada ato, nos acompanha ao nosso quarto de
dormir, vai conosco para a nossa Casa de Oração, e se descobre mesmo o menor sinal de
hesitação do estreito caminho da integridade, ela nos condena! Quando pensamos na Lei
de Deus, podemos com razão ficar sobrecarregados com horror, e nos sentando dizer:
“Deus, tem misericórdia de mim, pois guardar esta Lei está totalmente fora do meu poder;
até mesmo conhecer a plenitude do seu significado não está dentro da capacidade finita.
Portanto, grande Deus, purifique-nos de nossas falhas secretas, salve-nos por Sua graça,
pois pela Lei nunca poderemos ser salvos”.

Nem mesmo ainda se você soubesse dessas duas coisas, você seria capaz de responder
a essa pergunta; pois para compreender os nossos próprios erros, devemos ser capazes
de compreender a perfeição de Deus. Para se ter uma ideia completa de como o pecado é
sombrio, você deve saber como Deus é brilhante. Vemos as coisas por oposição. Você terá
em um momento que apontar para uma cor que parece perfeitamente branca; ainda é pos-
sível que algo seja ainda mais branco; e quando você acha que já chegou à própria perfei-
ção de brancura, você descobre que ainda há nela uma sombra e que algo pode ser encon-
trado para branqueá-la elevando sua pureza. Quando nos colocamos em comparação com
os apóstolos, descobrimos que não somos o que deveríamos ser. Mas se pudéssemos nos
colocar, lado a lado com a pureza de Deus, oh que manchas! Oh quantas contaminações
encontraríamos em nossa superfície! O Deus imaculado está diante de nós e como o fundo
brilhante revela a escuridão de nossas almas iníquas! Antes que você possa conhecer a
sua própria corrupção, os olhos devem olhar para a glória inexprimível do caráter Divino.
Perante Ele nem os céus são puros, Ele encontra loucura nos anjos, você deve conhecê-
lO antes que você possa conhecer a si mesmo! Não espere, então, que você alcance um
perfeito conhecimento das profundezas do seu próprio pecado!

Mais uma vez, aquele que deseja entender os seus erros em toda a sua hediondez deve
conhecer o mistério do inferno. Devemos caminhar até aquele monte queimando, ficar no
meio da chama ardente; não, senti-lo! Devemos sentir o veneno da destruição, pois faz o
sangue ferver em cada veia. Temos de ter os nossos nervos convertidos em estradas de

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fogo, ao longo do qual os pés quentes da dor devem viajar, correndo como relâmpagos.
Devemos conhecer a extensão da eternidade e, em seguida, a agonia indescritível da ira
eterna de Deus, que habita nas almas dos perdidos, antes que possamos conhecer o cará-
ter terrível do pecado! Você pode mensurar melhor o pecado pela punição. Dependendo
disto, Deus não submeterá suas criaturas a uma dor maior do que a justiça absolutamente
demanda. Não existe tal coisa como tortura soberana ou inferno soberano. Deus não tortura
sua criatura como um tirano; Ele dará a ela, somente o que ela merece e, talvez, até mesmo
quando a ira de Deus é mais feroz contra o pecado, Ele não pune o pecador, tanto quanto
o seu pecado poderia merecer, mas apenas o quanto ele exige. De qualquer forma, não
haverá um grão a mais de absinto no copo dos perdidos do que a pura justiça absoluta-
mente requer! Então, oh meu Deus, se Tuas criaturas devem ser lançadas no lago que arde
com fogo e enxofre, se é para um poço sem fundo que as almas perdidas devem ser condu-
zidas, então que coisa horrível o pecado deve ser! Eu não posso entender esta tortura, por
isso eu não consigo entender a culpa que a merece. No entanto, estou consciente de que
a minha culpa a merece, ou então Deus não teria me ameaçado com ela, porque Ele é justo
e eu sou injusto. Ele é santo, justo e bom, e Ele não me puniria por meus pecados mais do
que os meus pecados absolutamente merecem.

Ainda outra vez, um último esforço para impressionar essa questão do meu texto em nossos
corações. George Herbert diz mui docemente: “Aquele que quiser conhecer o pecado,
deixe-o olhar para o monte das Oliveiras, e ele verá um Homem tão espremido com a dor
que toda a Sua cabeça, Seu cabelo, Suas vestes estavam ensanguentadas. O pecado era
aquela força e impiedade que infligiu dor para perseguir seu sustento através de cada veia”.
Você tem que ver Cristo, suando, por assim dizer, grandes gotas de sangue! Você precisa
ter uma visão dEle com o cuspe escorrendo pelo Seu rosto, com as costas rasgadas pelo
chicote amaldiçoado. Você deve vê-lO indo em Sua jornada dolorosa por Jerusalém. Você
deve contemplá-lO a desmaiar sob o peso da cruz. Você deve vê-lO como os cravos são
conduzidos através de Suas mãos e através de Seus pés. Seus olhos cheios de lágrimas
devem assistir a agonia das sombrias agonias da morte. Você deve beber da amargura do
absinto misturado com fel. Você deve estar na escuridão com sua própria alma triste até à
morte. Você deve gritar terrivelmente assustando a terra: “Lama Sabactâni”, você também,
deve, como Ele fez, sentir toda a pesada ira do Deus todo-poderoso. Você deve ser moído
entre as mós superiores e inferiores de ira e vingança; você deve beber o cálice até às
últimas borras e como Jesus bradar: “Está consumado”, ou de outra forma você nunca po-
derá conhecer todos os seus erros e entender a culpa do seu pecado. Mas isso é clara-
mente impossível e indesejável. Quem quer sofrer como o Salvador sofreu; suportar todos
os horrores que Ele suportou? Ele, bendito seja o Seu nome, sofreu por nós! O cálice está
vazio! A cruz ergue-se não mais para nós morrermos nela! Extinta está a chama do inferno
para sempre para o verdadeiro crente! Deus não mais está irado com o Seu povo, pois Ele

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aniquilou o pecado pelo sacrifício de Si mesmo! No entanto, eu digo novamente, antes que
possamos entender o pecado, devemos conhecer toda aquela terrível ira de Deus, que
Jesus Cristo suportou! Quem, então, pode entender os seus erros?

III. Espero ter a sua atenção paciente, apenas por mais alguns momentos enquanto eu faço
a aplicação prática, passando às lições que são tiradas de um assunto como este.

A primeira lição é: eis a loucura de toda a esperança de salvação pela nossa própria justiça.
Venham aqui, os que confiam em si mesmos. Olhem para o Sinai, completamente em cha-
mas, tremor e desespero! Vocês dizem que têm boas obras. Infelizmente, suas boas obras
são más, não têm vocês sido maus? Vocês negam que já pecaram? Ah, meu ouvinte, você
está tão obcecado a ponto de declarar que todos seus pensamentos foram castos, todos
os seus desejos celestiais, todas as suas ações puras? Oh, homem, se tudo isso fosse ver-
dade, se você não tivesse pecados de comissão, ainda que seria de seus pecados de omis-
são? Você já fez tudo o que Deus e que seu irmão poderiam requerer de você? Oh estes
pecados de omissão! O faminto que você não tem alimentado, o nu que você não tem
vestido, os doentes e os que estão na prisão, que você ainda não visitou, lembre-se que
era por pecados como estes que os bodes foram encontrados na mão esquerda, finalmente!
Não pelo que fizeram, mas pelo que não fizeram, pois pelas coisas que eles deixaram de
fazer esses homens foram lançados no lago de fogo! Oh, meu ouvinte, acabe com sua jac-
tância! Retirem as plumas de vossos capacetes, vós rebeldes, e venham com a vossa glória
arrastando na lama, e com sua roupa brilhante manchada, e agora confessem que vocês
não têm nenhuma justiça própria, que vocês são todos imundos e cheios de pecado!

Se apenas uma lição prática fosse aprendida, seria suficiente para compensar a reunião
desta manhã e uma bênção seria transmitida para todo o espírito que tivesse aprendido.
Mas agora chegamos a outra: quão vãs são todas as esperanças de salvação por nossos
sentimentos. Temos um novo legalismo contra o qual lutar em nossas Igrejas cristãs. Há
homens e mulheres que acham que não devem crer em Cristo até que eles sintam seus
pecados até um ponto demasiado angustiante! Eles acham que devem sentir um certo grau
de tristeza, um alto grau de senso de necessidade, antes que possam vir a Cristo. Ah, alma,
se você nunca pudesse ser salva até que você conhece toda a sua culpa, você nunca seria
salva, pois jamais pôde conhecer isso! Eu lhe mostrei a absoluta impossibilidade de ser
capaz de descobrir as alturas e profundidades inteiras de seu próprio estado perdido. Oh
homem, não tente ser salvo por seus sentimentos! Venha tome a Cristo como Ele é, venha
a Ele assim como você está! “Mas, senhor, posso ir? Eu não sou convidado para ir”. Sim,
você é: “Quem quiser, venha”. Não acredito que os convites do Evangelho são dados ape-
nas para alguns. Eles são, alguns delas, convites ilimitados. Este é o dever de todo homem

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crer no Senhor Jesus Cristo. É o dever sagrado de cada homem confiar em Cristo, e não
por causa de qualquer coisa que o homem é ou não é, mas porque ele é ordenado a fazê-
lo! “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo” [1 João
3:23]:

“Oh, acredite na promessa verdadeira,


Deus para você, Seu Filho deu.”

Confie agora em Seu precioso sangue, e você será salvo e você verá Sua face no Céu! Não
espere ser salvo pelo sentimento, pois sentimentos perfeitos são impossíveis e um perfeito
conhecimento da nossa própria culpa está muito além do nosso alcance! Venha, então, a
Cristo, de coração duro como você está, e tome-o como para ser o Salvador do seu coração
duro. Venha, pobre consciência de pedra, pobre alma gelada, venha como você está! Ele
vai aquecê-la, Ele derreterá você:

“A verdadeira crença e o verdadeiro arrependimento,


Toda graça nos aproxima;
Sem dinheiro,
Venha a Jesus Cristo e compre.”

Entretanto, novamente, há outra doce inferência, e certamente esta poderia muito bem ser
a última, que graça é esta que perdoa o pecado, o pecado tão grande que a maior capaci-
dade não pode compreender sua atrocidade? Oh, eu sei que os meus pecados vão desde
o leste até o oeste, buscando elevarem-se até aos céus eternos como montanhas apontam
para o Céu. Mas, então, bendito seja o nome de Deus, o sangue de Cristo é maior do que
o meu pecado! Essa inundação sem limites do mérito de Jesus é mais profunda do que as
alturas das minhas iniquidades! Meu pecado pode ser grande, mas o Seu mérito é ainda
maior. Eu não consigo conceber a minha própria culpa, muito menos expressá-la, mas o
sangue de Jesus Cristo, Filho amado de Deus, nos purifica de todo pecado! Há infinita cul-
pa, mas há infinito perdão! Iniquidades sem limites, mas méritos ilimitados a ultrapassam
totalmente! E se os seus pecados foram maiores do que a largura do céu, Cristo é maior
do que o Céu! O céu dos céus não pode contê-lO. Se os seus pecados eram mais profundos
do que o inferno sem fundo, ainda assim a expiação de Cristo é ainda mais profunda, pois
Ele desceu mais profundo do que jamais nenhum homem mergulhou, nem mesmo os ho-
mens condenados em todo o horror de sua agonia, pois Cristo foi até o fim da punição e
mais profundo seus pecados nunca poderão mergulhar! Ah, o amor sem limites, que cobre
todos os meus defeitos! Meu pobre ouvinte, creia em Cristo agora. Deus te ajude a crer!
Que o Espírito agora lhe capacite a confiar em Jesus! Você não pode salvar a si mesmo.
Todas as suas esperanças de auto-salvação são ilusórias. Desista delas agora; venha e

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tome a Cristo! Justamente como você está, caia em Seus braços. Ele vai conduzi-lo. Ele te
salvará. Ele morreu para fazer isso e Ele vive para realizá-lo. Ele não lançará fora o espírito
que se lança em Suas mãos e faz dEle seu tudo em Todos.

Eu penso que não devo detê-lo por mais tempo. O assunto demanda uma mente muito mai-
or do que a minha e melhores palavras do que eu possa reunir agora. Mas se tiver lhe atin-
gido, eu sou grato a Deus. Deixe-me repetir uma e outra vez o sentimento que eu desejo
que todos vocês recebam, é apenas este: somos tão vis que nossa vileza está além da
nossa própria compreensão, mas, no entanto, o sangue de Cristo tem infinita eficácia, e
quem crê no Senhor Jesus é salvo, sejam seus pecados muitíssimos, ainda assim aquele
que crê não será perdido, sejam seus pecados mui poucos.

Deus abençoe a todos vocês, por amor de Cristo.

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As Ramificações Da Depravação Humana
Por Arthur Walkington Pink

Parte 1

Enquanto me esforço para apresentar um quadro completo do homem caído como ele é re-
tratado pelo lápis Divino nas Escrituras, é muito difícil evitar uma medida de sobreposição
à medida que nos afastamos de um aspecto ou recurso do mesmo para outro, ou evitamos
uma certa quantidade de repetição quando nos dedicamos a um retrato separado de cada
um. No entanto, visto que este é o método que o Espírito Santo tem tomado em grande par-
te, um pedido de desculpas é pouco exigido daqueles que procuram seguir o Seu plano.
Nos capítulos anteriores mostramos de uma forma mais ou menos geral a terrível devasta-
ção que o pecado operou na constituição humana; agora vamos considerar o mesmo, mais
especificamente. Tendo apresentado as linhas gerais, resta-nos preencher os detalhes. Em
outras palavras, a nossa tarefa imediata é a de refletir e descrever as várias partes da de-
pravação humana de acordo como isso tem corrompido as diversas seções do nosso ho-
mem interior. Embora a alma, como o corpo, seja uma unidade, ela também tem um número
de membros distintos ou faculdades, e nenhum deles ficou isento dos efeitos degradantes
da apostasia do homem em relação ao seu Criador.

A depravação humana, consideramos, foi notavelmente exemplificada nos milagres de


Cristo. Os vários distúrbios corporais que o Divino Médico curou durante Sua jornada na
terra não eram apenas tantas prefigurações das maravilhas da graça que Ele realizou no
reino espiritual em conexão com os redimidos, mas também foram muitas representações
emblemáticas das doenças morais que afetam e afligem a alma do homem caído. O pobre
leproso, coberto de feridas fétidas, solenemente retratou as corrupções horríveis do cora-
ção humano. O homem que nasceu cego, incapaz de contemplar as maravilhas e belezas
das obras exteriores de Deus, expressa o estado ignorante da mente humana, que, por
causa da escuridão que está sobre ela, não é capaz de descobrir ou aceitar as coisas do
Espírito, não importa o quão simples e claramente elas sejam explicadas para ele. Os mem-
bros lânguidos do paralítico prefiguraram a incapacidade da vontade para vir a Deus, sendo
esta totalmente desprovida de qualquer poder para nos converter a Cristo. A mulher deitada
acometida de febre, com desejos não naturais, delírio e etc. retratou o estado desordenado
de nossas afeições. O homem possuído pelo demônio, habitando em meio aos túmulos,
incapaz de ser devidamente contido, gritando e ferindo-se, esboçou as diversas atividades
da consciência no não-regenerado.

A corrupção tem invadido cada parte da nossa natureza, espalhando-se por todo o ser com-

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plexo do homem. Assim como distúrbios físicos não poupam os membros do corpo, de mo-
do muito semelhante o espírito do homem não escapou da devastação da depravação; no
entanto, quem é capaz de compreendê-la em sua terrível amplitude e profundidade, compri-
mento e altura? Não são simplesmente as potências inferiores da alma que foram infetadas
com esta praga do pecado, mas o contágio subiu para as regiões mais altas das nossas
pessoas, poluindo as faculdades sublimes. Esta é uma parte do castigo de Deus. É um
grande erro supor que o julgamento Divino sobre a deserção do homem está reservado
para a próxima vida. A humanidade está fortemente penalizada neste mundo, tanto externa
como internamente, uma vez que nele estão sujeitos a muitas dispensações adversas da
providência: Externamente, em seus corpos, nomes, propriedades, relações e empregos e
finalmente, com a morte física e dissolução. E interiormente, pela cegueira de espírito, dure-
za de coração, paixões turbulentas, o roer de consciência. Embora estas últimas sejam
pouco consideradas, em razão da sua estupidez e insensibilidade, contudo as visitas inter-
nas da maldição de Deus são muito mais terríveis do que as externas, e são consideradas
como tal por aqueles que verdadeiramente temem ao Senhor e veem as coisas em Sua luz.

1. Cegueira de espírito. A mente é aquela faculdade da alma pela qual os objetos e as coi-
sas são primeiramente conscientizados e apreendidos. Para distinguir o entendimento dela,
o último é o que pesa, discrimina e determina o julgamento entre os conceitos formados na
primeira, sendo o guia da alma, o seletor e rejeitador dessas noções que a mente recebeu.
Ambos são igualmente perturbados pelo pecado, pois nos é dito que “os seus sentidos
foram endurecidos” (2 Coríntios 3:14), e também lemos: “Entenebrecidos no entendimento”
(Efésios 4:18). Como um abandonado de Deus, a Queda fechou completamente as janelas
da alma do homem, mas ele pensa que não; sim, enfaticamente ele nega isso. Tanto os
filósofos pagãos como os escolásticos do medievalismo admitiram que as afeições, na parte
inferior da alma, foram um pouco contaminadas, mas insistiram que a faculdade intelectual
era pura, dizendo que a razão ainda dirige e nos aconselha as melhores coisas. Quando
nosso Senhor declarou: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem
vejam, e os que veem sejam cegos”, alguns dos fariseus que o ouviam, indignados pergun-
taram: “Também nós somos cegos?” (João 9:39-40).

Agora, não é estranho que a razão cega pense que pode ver, pois, enquanto ela julga todo
o restante, ela é menos capaz de avaliar-se por causa da muita proximidade consigo mes-
ma. Embora o olho de um homem possa ver a deformidade das mãos ou pés, não pode ver
o que é subjetivo em si mesmo, a menos que tenha uma lente através do qual possa discer-
ni-lo. Da mesma forma, até mesmo a natureza corrupta, por sua própria luz, reconhece a
desordem na parte sensorial do homem, mas ela não pode discernir a corrupção que está
no próprio espírito. A lente da Palavra de Deus é necessária para descobri-la, e até mesmo
o espelho não é suficiente: a luz da graça Divina tem que brilhar interiormente, a fim de

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expor e desvelar a imbecilidade da faculdade de raciocínio. E, portanto, é assim que a Sa-
grada Escritura lança a principal ênfase na depravação desta parte mais alta do ser do ho-
mem. Quando o apóstolo mostrou quão impuros são os incrédulos, embora estes conhe-
cessem a Deus, ele asseverou, “antes o seu entendimento e consciência estão contamina-
dos” (Tito 1:15). Acima de todas as suspeitas, estas partes deles foram contaminadas, es-
pecialmente desde que foram iluminados com alguns raios do conhecimento de Deus. As-
sim, em oposição a esta presunção, as faculdades superiores só são mencionadas, e
enfatizadas com um “antes”.

Quão significativo e pleno o testemunho da Escritura é sobre essa característica solene que
transparece a partir do seguinte: “Porquanto, tendo conhecido a Deus [tradicionalmente],
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvane-
ceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”
(Romanos 1:20-21), a referência aqui é aos gentios, depois do dilúvio. Uma das maldições
terríveis executadas sobre Israel, porque eles não deram ouvidos à voz do Senhor seu
Deus, e se recusaram a observar os seus mandamentos, foi: “O Senhor te ferirá com loucu-
ra, e com cegueira, e com pasmo de coração; e apalparás ao meio-dia, como o cego apalpa
na escuridão”, (Deuteronômio 28:28-29). De toda a humanidade, é dito: “Não há ninguém
que entenda... e não conhecem o caminho da paz” (Romanos 3:11, 17); tão longe disso
que “há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da
morte” (Provérbios 14:12). “O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria” (1 Coríntios
1:21). Apesar de todas as suas escolas, eles eram ignorantes dEle. “Querendo ser mestres
da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1 Timóteo 1:7). “Que a-
prendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Timóteo 3:7).

A escuridão natural que os cega dessas operações regulares que são direcionadas por se-
us sentidos exteriores é dupla: externa ou interna. Quando a noite cai, a menos que haja o
auxílio de luz artificial, eles não podem mais realizar seu trabalho. Se eles forem cegos, en-
tão para eles é noite perpetuamente. Assim também é com a escuridão espiritual: objetiva
e subjetiva, uma escuridão que está tanto sobre os homens quanto nos homens. A primeira
consiste em uma falta desses meios pelos quais, somente, eles podem ser iluminados no
conhecimento de Deus e das coisas celestiais. O que o sol é para a terra em relação às
coisas naturais, assim a Palavra e a pregação do Evangelho são para as coisas espirituais
(Salmo 19:1-4. Cf. Romanos 10:10-11). Esta escuridão está sobre todos a quem o Evange-
lho ainda não foi declarado ou sobre quem o despreza e rejeita. Ora, é a missão e a obra
do Espírito Santo remover essa escuridão objetiva, e até que isso seja feito ninguém pode
ver ou entrar no reino de Deus. Isso Ele faz enviando o Evangelho a um país, nação ou ci-
dade. Ele não obtém entrada ali, nem é retido em qualquer lugar, por acidente ou por
esforço humano, mas é dispensado de acordo com a vontade soberana do Espírito de

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Deus. Ele é Quem capacita, chama e envia homens para pregar, determinando os locais
onde eles ministrarão, seja por Seus impulsos secretos ou pelas operações de Sua provi-
dência (Atos 16:6-10).

Entretanto sobre as mentes dos não-regenerados está a escuridão subjetiva com suas influ-
ências e consequências, o que é aqui mais imediatamente considerado. Esta não é uma
mera coisa privativa, mas algo positivo, que consiste não apenas de ignorância, mas em
uma doença maligna, com uma habitual disposição para mal. “É soberbo, e nada sabe, mas
delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blas-
fêmias, ruins suspeitas, perversas contendas de homens corruptos de entendimento, e pri-
vados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais” (1
Timóteo 6:4-5). Não são apenas as suas mentes que não assentem a sã doutrina, mas eles
estão doentes e corruptos: “delira acerca de questões” [...] Esta destemperança da mente
é também chamada de “comichão nos ouvindo por desejo de ouvir fábulas” (2 Timóteo 4:3-
4). Ainda mais solenemente, a Escritura chama esta sabedoria controversa da qual o erudi-
to deste mundo é tão orgulhoso, de: “terrena, animal e diabólica” (Tiago 3:15); tanto o versí-
culo anterior quanto o seguinte mostram que toda inveja, malícia, mentira e dissimulação,
embora encontrem-se também nas afeições e na vontade, estão enraizadas na compre-
ensão. Por isso, é que Deus deve dar “arrependimento” ou uma mudança de mente antes
que haja um reconhecimento da verdade e uma libertação do laço do Diabo (2 Timóteo
2:25-26).

Esta escuridão do entendimento é a causa da rebelião que está nas afeições e, por esta é
que os homens procuram assim desordenadamente os prazeres do pecado; mas, porque
suas mentes não conhecem a Deus e são estranhas a Ele e não podem ter comunhão com
Ele? Porque toda a amizade e companheirismo são fundamentados no conhecimento. Para
ter comunhão com Deus, é necessário o conhecimento de Deus, e, consequentemente, a
principal coisa que Deus faz quando Ele dá admissão no Pacto da Graça é ensinar os ho-
mens a conhecê-lO (Jeremias 31:33-34): Por outro lado, os homens estão afastados dEle
por ignorância (Efésios 4:17-19). A escuridão da mente não é apenas a raiz de todo o peca-
do, mas é a causa da maioria das corrupções na vida dos homens. Assim vemos que Paulo
menciona “sabedoria carnal”, como a antítese do princípio da graça (2 Coríntios 1:12). Pela
mesma razão, sobre os homens é dito: “são filhos néscios, e não entendidos; são sábios
para fazer mal, mas não sabem fazer o bem” (Jeremias 4:22). Que esta é a causa da maior
parte da maldade que há no mundo Isaías 47:10 deixa bem claro: “a tua sabedoria e o teu
conhecimento, isso te fez desviar”. Raciocínios corruptos e falsos julgamentos das coisas
são os principais motivos de todo o nosso pecado. O orgulho tem o seu lugar de primazia
na mente, como Colossenses 2:18 demonstra.

Que essa escuridão é forte e influente, transparece na dinâmica da expressão registrada

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em Colossenses 1:13: “O qual nos tirou da potestade das trevas”, a palavra significando
aquilo que vacila ou dominado. Isso preenche a mente com inimizade contra Deus e contra
todos os seus caminhos, e leva à vontade no sentido contrário, de modo que, em vez das
afeições serem postas nas coisas de acima, os não-regenerados “só pensam nas coisas
terrenas” (Filipenses 3:19). Essa é a sua inclinação habitual. Ele pensa nas coisas da carne
(Romanos 8:5), buscando atender aos objetivos sensuais para a gratificação do corpo. Ele
preenche a mente com fortes preconceitos contra as coisas espirituais propostas no Evan-
gelho. Esses preconceitos são chamados de “fortalezas” e “conselhos [ou “raciocínios”], e
toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus” (2 Coríntios 10:4-5), que são
destruídos e expressos e derrubados no dia do poder de Deus, levando as almas à sujeição
voluntária a Ele. Os pecados da mente são os mais permanentes, pois quando o corpo se
decompõe e suas concupiscências murcham, os pecados da mente são tão vigorosos e
ativos na velhice como na juventude. Posto que o entendimento é a parte mais excelente
do homem, a sua corrupção é pior do que a das outras faculdades: “Se... a luz que em ti há
são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6:23).

Temerosos de fato são os efeitos dessa escuridão. Suas faculdades se mostram incapazes
de discernir as coisas espirituais ou de recebê-las, pelo que há uma total incapacidade no
que diz respeito a Deus e as formas de agradá-lO. Não importa o quão bem dotado intelec-
tualmente o homem não-regenerado seja, ou a extensão de seu saber e aprendizado, ou
quão hábil em relação às coisas naturais, em assuntos espirituais ele é desprovido de inteli-
gência até que ele seja renovado no espírito de sua mente. Como uma pessoa que não tem
o poder de ver é incapaz de ficar impressionada com os raios mais fortes de luz quando
refletidos sobre ele, e não pode formar qualquer ideia real da aparência das coisas, de mo-
do semelhante o homem natural, por causa desta cegueira de espírito, é incapaz de discer-
nir a natureza das coisas celestiais. Disse Cristo aos judeus de sua época: “Ah! se tu conhe-
cesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está en-
coberto aos teus olhos” (Lucas 19:42). As coisas celestiais estão ocultas de sua percepção
tão eficazmente como as coisas que são propositadamente escondidas de olhares indis-
cretos. Mesmo que um homem tivesse o desejo de descobri-las, ele iria procurar em vão
por toda a eternidade, a menos que Deus quisesse revelá-las, como fez a Pedro (Mateus
16:17).

A cegueira espiritual que está sobre a mente do homem natural não só impossibilita de
fazer a primeira descoberta das coisas de Deus, mas, mesmo quando elas são publicadas
e postas diante de seus olhos, como claramente estão na Palavra da verdade, ele não pode
discerni-las. Quaisquer que sejam as noções que ele possa formar delas, elas são disso-
nantes à sua natureza, e os pensamentos que ele concebe em relação a elas são o inverso
do que de fato são, a mais alta sabedoria eles consideram como loucura, e os objetos mais

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gloriosos em si são desprezados e rejeitados. “Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e
desaparecei; porque opero uma obra em vossos dias, ora tal que não crereis, se alguém
vo-la contar” (Atos 13:41). Os versículos anteriores mostram que Paulo claramente lhes ha-
via pregado a Cristo e Seu Evangelho, e, em seguida, concluído com uma advertência para
que vigiassem para que não viesse sobre eles o que foi dito pelo profeta. Assim, não é a
apresentação clara da verdade que irá convencer os homens. Embora claramente proposta,
a verdade ainda pode ser obscura para eles: “Mas, se ainda o nosso evangelho está enco-
berto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos” (2 Coríntios 4:3-4). Seus entendimentos precisam ser
divinamente abertos para que possam compreender as Escrituras (Lucas 24:45)!

Os objetos desta escuridão são espiritualmente insensíveis e tolos. Isso é o que os impede
de fazer um verdadeiro exame de seus corações. Eles veem apenas o homem exterior, e
não sentem a ferida mortal que está por dentro. Há um mar de corrupção, mas é impercep-
tível. A santidade, beleza e retidão de sua natureza já se foram, mas eles estão mui despre-
ocupados. Eles são miseráveis e pobres, cegos e nus, mas são totalmente inconscientes
disso. Isso é o que faz com que os não-regenerados prossigam em um curso de rebelião
contra o Senhor, e ao mesmo tempo concluam que todas as coisas estão bem com eles.
Assim, eles vivem de forma segura e feliz. Como se a bondade de Deus não os quebran-
tasse, nem os Seus mais dolorosos juízos os movem a consertarem os seus caminhos.
Muito longe disto, eles são semelhantes ao ímpio rei Acaz, de quem está registrado: “E ao
tempo em que este o apertou, então ainda mais transgrediu contra o Senhor” (2 Crônicas
28:22); quão louca e desafiadoramente as massas se comportaram durante a batalha da
Grã-Bretanha! Então, mesmo agora, enquanto a paz de todo o mundo está tão seriamente
ameaçada: “Senhor, a tua mão está exaltada, mas nem por isso a veem” (Isaías 26:11).

Este espaço vai permitir-nos mencionar apenas um outro efeito, e é o que está em Efési-
os 4:17: “A vaidade de sua mente”. As coisas na Escritura são ditas ser vãs quando são
inúteis e infrutíferas; em Mateus 15:9, significa “sem propósito”. Por isso, os ídolos das
nações e os ritos utilizados na sua adoração são chamados de coisas vãs (Atos 15:15). Em
1 Samuel 12:21, coisas vãs seriam aquelas “que nada aproveitam”. Isto também é sinônimo
de loucura, pois em Provérbios 12:11, os homens vãos são todos como aqueles que são
“faltos de juízo”. Em Jeremias 4:14, coisas vãs estão unidas com “maldade”, assim homens
vãos pecaminosos e filhos de Belial são sinônimos (2 Crônicas 13:7). Esta vaidade da men-
te induz o homem natural a perseguir sombras e perder a substância, a envolver-se com
invenções em vez de realidades, a preferir a mentira ao invés da verdade. Isso é o que leva
os homens a seguirem a moda e se deleitarem com os prazeres de um mundo vão. Esta
vaidade pecaminosa da mente está em todos os tipos de pessoas e idades agindo em si
mesma com imaginações insensatas, pelo que cuidam de agradar à sua carne e às suas

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concupiscências. Ela se manifesta em um ódio de pensar sobre as coisas sagradas, de for-
ma que, quando sob a pregação da Palavra a mente vagueia como uma borboleta no jardim.
Ela “apascenta de estultícia” (Provérbios 15:14), e tem uma curiosidade inquietante para
saber dos outros.

2. Dureza de coração. O coração é o centro do nosso ser moral, do qual fluem as fontes da
vida (Provérbios 4:23, cf. Mateus 12:35). A natureza deste é ao mesmo tempo indicada por
ele ser descrito como um “coração de pedra” (Ezequiel 11:19). A figura é muito adequada.
Como uma pedra nada mais é que um produto da terra, assim tem a propriedade da terra,
pesada e com tendência a cair. Assim, é com a mente natural: as afeições dos homens são
totalmente postas sobre o mundo, e se Deus fez o homem reto, com a cabeça erguida, ago-
ra a alma está abatida até o pó. A maldição física pronunciada sobre a serpente também é
cumprida em sua semente, pois as coisas sobre as quais eles se nutrem tornam às cinzas,
assim, que aquele pó é o alimento deles (Isaías 65:25). O pecado deixa o coração do ho-
mem tão calejado que, para com Deus, é sem amor e sem vida, frio e insensível. Essa é
uma razão pela qual a lei moral foi escrita em tábuas de pedra: para representar emblemati-
camente o tipo de coração que os homens tinham, como é claramente implícito o contraste
apresentado em 2 Coríntios 3:3. O coração de pedra é tolo e inflexível.

O coração do regenerado também é comparado a uma “rocha” (Jeremias 23:29), e uma


“pedra de diamante” (Zacarias 7:12), que é mais duro do que uma pederneira. Semelhan-
temente também os não-regenerados são chamados de “duros de coração” (Isaías 46:12),
e em Isaías 48:4, Deus diz: “Porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de fer-
ro, e a tua testa de bronze”. Esta dureza é frequentemente atribuída ao pescoço (“dura cer-
viz”), esta é uma figura da obstinação do homem extraída a partir do exemplo dos bois indo-
mados que não aceitam o jugo. Esta dureza se evidencia por uma completa ausência de
sensibilidade espiritual, pois eles não se importam com a bondade de Deus, não têm temor
de Sua autoridade e majestade, e não temem a sua ira e vingança, uma apresentação das
alegrias do Céu ou dos horrores do Inferno não lhes causam nenhuma impressão. Como o
antigo profeta lamentou: “Ó vós que afastais o dia mau” (Amós 6:3), rechaçando-os de seus
pensamentos como um assunto desagradável sobre o qual meditar. Eles não têm nenhum
sentimento de culpa, nem consciência de ter ofendido o seu Criador, nem se assombram
por Sua ira permanecer sobre eles, antes estão seguros e à vontade em seus pecados. Até
o momento em que o pecado se torne um fardo para eles, ele é a substância e deleite do
desfrute de seus prazeres temporais.

Parte 2

Essa dureza de coração a que se fez referência no encerramento do nosso último capítulo
é a perversidade e obstinação da natureza do homem caído, o que faz com que ele resolva

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continuar no pecado, sem se importar com as consequências do mesmo. A dureza de cora-
ção faz com que ele aborreça ser repreendido pela sua própria loucura, e que se recuse a
abandona-la, não importa quais métodos sejam ordenados e usados para isso. O profeta
fez menção a isso em seus dias, para se referir àqueles que haviam sido advertidos por juí-
zos violentos, e estavam naquele tempo sob as repreensões mais solenes da providência,
Deus tinha a dizer sobre eles, “Não me querem dar ouvidos a mim; pois toda a casa de
Israel é de fronte obstinada e dura de coração” (Ezequiel 3:7). Assim também o Senhor
Jesus se queixou: “Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não
chorastes” (Mateus 11:17). As súplicas mais comoventes e postulações cativantes não mo-
verão o não-regenerado a aderir ao que é absolutamente necessário para sua paz presente
e felicidade final. “São como a víbora surda, que tapa os ouvidos, para não ouvir a voz dos
encantadores, do encantador sábio em encantamentos” (Salmo 58:4-5; e cf. Atos 8:57).

Os corações dos regenerados são flexíveis e maleáveis, facilmente dobrados à vontade de


Deus, mas os corações dos ímpios são tão apegados aos seus desejos a ponto de serem
inatingíveis por qualquer apelo. Há uma disposição tão firme contra as coisas celestiais que
permanecem indiferentes às ameaças mais alarmantes e trovões. Eles nem são conven-
cidos pelos argumentos mais convincentes nem vencidos pelos incentivos mais tentadores.
Eles são tão viciados na autossatisfação que eles não podem ser persuadidos a tomar o
jugo de Cristo sobre eles. Em Zacarias 7:11-12, é dito: “Eles, porém, não quiseram escutar,
e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem.
Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem
as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito por intermédio dos primei-
ros profetas; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos”. Eles são menos suscetíveis a
serem forjados pelo pregador para receber qualquer impressão de santidade do que o
granito é para ser gravado pela ferramenta do artífice. Eles desprezam ser controlados e
se recusam a receber admoestação. Eles são “uma geração contumaz e rebelde” (Salmo
78:8), não estando sujeitos nem à lei e nem ao Evangelho. As doutrinas do arrependimento,
da autonegação e do andar com Deus, não encontram entrada em seus corações.

3. Afeições desordenadas. Alguns escritores ampliam mais e outros menos o escopo do


termo “afeições”, e talvez seja um ponto discutível tanto teológica quanto psicologicamente
se a natureza do desejo deve ser incluída ou considerada separadamente no âmbito das
afeições. No sentido mais amplo, em relação às afeições pode-se dizer que são a faculdade
sensível da alma. Assim como o entendimento é o poder que julga e discerne as coisas,
assim as afeições fascinam e dispõem a alma a favor ou contra os objetos contemplados.
É pelas afeições que a alma torna-se satisfeita ou insatisfeita com o que é percebido pelos
sentidos corporais ou contemplado pela mente e, assim, movida a aprovar ou rejeitar. Como
distinguir os dois? A vontade é essa faculdade que executa a decisão final da mente ou o

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desejo mais forte das afeições, o que motiva a ação. Posto que as afeições pertencem ao
lado sensível da alma, estamos mais conscientes de suas agitações do que dos atos de
nossas mentes ou vontades. Neste capítulo vamos empregar o termo na sua mais ampla
latitude, incluindo os desejos, pois o que os apetites são para o corpo as afeições são para
a alma.

Goodwin comparou o desejo natural ao estômago para o corpo. É um vazio completo, feito
para receber o que vem de fora, ansiando por um objeto satisfatório. Sua linguagem univer-
sal é: “Quem nos mostrará o bem?” (Salmo 4:6). Agora o próprio Deus é o bom chefe do
homem, o único que pode pagar a real, duradoura e plena satisfação. No início Ele o criou
à Sua própria semelhança; assim como a agulha da bússola sempre se move para o norte,
deste modo a alma tocada com a imagem Divina deve levar o entendimento, afeições e
vontade, para Ele mesmo. Ele também colocou a alma em um corpo material, e que, neste
mundo, arranjando-os um ao outro, lhes forneceu todos os elementos necessários e ade-
quados para cada parte do complexo ser do homem. O desejo natural levou a alma à cria-
tura, mas apenas como um meio de desfrutar de Deus. As maravilhas da obra de Deus fo-
ram feitas para serem admiradas, mas, principalmente, como a indicação de Sua sabedoria.
A comida deveria ser usada e apreciada, apenas a fim de aprofundar a gratidão pela bon-
dade do Doador e fornecer força para servi-lO. Mas, infelizmente, quando o homem aposta-
tou, seu entendimento, afeições e vontade se divorciaram de Deus e o exercício destes
passou a ser dirigidos somente pelo amor-próprio.

Originalmente, o Senhor sustentou e dirigiu a ação das afeições humanas para Si mesmo.
Então, Ele reteve o poder, e deixou os nossos primeiros pais por conta própria em sua con-
dição de criatura e, em consequência seus desejos vaguearam buscando alegrias proibi-
das. Eles procuraram a sua felicidade não na comunhão com o seu Criador, mas na relação
com a criatura. Tal como os seus filhos, desde então, eles adoraram e serviram mais a cria-
tura do que o Criador. O resultado foi desastroso em extremo: eles se apartaram do Santo.
Isso foi enfaticamente evidenciado por sua tentativa de esconder-se dEle, se o prazer deles
estivesse em Deus como seu principal bem, o desejo de ocultação não poderia ter possuído
suas mentes. E, como aconteceu com Adão e Eva, assim tem sido com todos os seus des-
cendentes. Muitos provérbios expressam esta verdade geral: “O fluxo não pode subir mais
alto do que a fonte”. “Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”
[Mateus 7:16] [...] A linhagem do pai da família humana produz descendentes de sua própria
natureza. “E, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conheci-
mento dos teus caminhos” (Jó 21:14), isto é o que os corações e as vidas de todos os não-
regenerados dizem ao Todo-Poderoso.

O centro natural da alma do homem não caído, tanto para seu descanso e prazer, era o
Único que lhe deu existência e, portanto, Davi diz: “Volta, minha alma, para o teu repouso”

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(Salmo 116:7). Mas o pecado tem levado os homens a “recuar” de segui-lO, e “apartar-se
do Deus vivo” (Hebreus 10:38, 3:12). Deus não deveria apenas ser a porção deleitosa da-
quele a quem Ele fez à Sua imagem, mas também o fim último de todos os seus movi-
mentos e ações, e seu objetivo deveria ser o de glorificá-lO e agradá-lO em todas as coisas.
Mas ele deixou “o manancial de águas vivas” (Jeremias 2:13), a primavera infinita e perpé-
tua de conforto e alegria. E agora as inclinações e desejos da natureza do homem são
totalmente retirados de Deus, tudo e qualquer coisa é mais agradável para ele do que Deus,
que é a soma de toda excelência; ele faz das coisas temporais e sensuais o seu bem princi-
pal, e o agradar de si mesmo o seu fim supremo. É por isso que as suas afeições são deno-
minadas “ímpias concupiscências” (Judas 18), eles estão todos alienados de Deus. Eles
não gostam da Sua santidade, não possuem nenhum desejo de comunhão com Ele, ne-
nhum desejo de tê-lO em seus pensamentos.

Mas o que acaba de ser pontuado (a aversão de nossas afeições por Deus) é apenas a
parte privativa, o positivo é a sua conversão para outras coisas. Foi disto que Deus acusou
a Israel, “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de á-
guas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas” [Jeremias 2:13].
Apegando-se a pobres ninharias que não lhes dão nenhuma satisfação. A criatura é prefe-
rida antes do Criador, pois toda a preocupação do homem natural está voltada para como
viver à vontade no mundo, e não para honrar e deleitar-se em Deus. Assim eles observam
“falsas vaidades” e “deixam a sua misericórdia” (Jonas 2:8), pois, quanto ao seu vazio, elas
são vãs, e em relação às suas expectativas, “falsas vaidades”. Eles estão enganados por
uma demonstração de vaidade, e o resultado é aflição de espírito, por causa da frustração
de suas esperanças. Assim como o amor de Deus derramado nos corações dos redimidos
não busca eles próprios (1 Coríntios 13:5), assim o amor-próprio não faz nada além disso,
a saber: “todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um
por sua parte” (Isaías 56:11).

Os desejos do não-regenerado não estão apenas apartados de Deus e fixados nas criatu-
ras, mas isso de forma excessiva e ávida. Assim, lemos de “afeições desordenadas” (Colos-
senses 3:5), o que significa tanto imoderadas quanto anormais, um espírito de gula e um
desejo por coisas que são contrárias a Deus: “cobiçando as coisas más” (1 Coríntios 10:6).
O primeiro é o pecado de intemperança, este último tendo “prazer na injustiça” (2 Tessaloni-
censes 2:12). O corpo é valorizado mais do que a alma, visto que todos os esforços do ho-
mem natural são direcionados para fazer provisão para a carne e para satisfazer as suas
concupiscências, enquanto ele pensa pouco e cuida menos ainda de seu espírito imortal.
Quando a providência sorri sobre seu trabalho, sua linguagem é: “Alma, tens em depósito
muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga” (Lucas 12:19). Seus pensa-
mentos se elevam para uma vida superior no futuro. Eles estão muito mais preocupados

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com a roupa e com o adorno do homem exterior do que com o cultivo de um espírito manso
e tranquilo, que aos olhos de Deus é de grande valor (1 Pedro 3:4). A terra é preferida antes
do Céu, as coisas temporais antes do que as eternas. Embora a morte e a sepultura possam
colocar um fim a tudo o que tiveram aqui muito mais cedo do que imaginam, ainda assim
os seus corações estão tão fixados sobre essas coisas que eles se alegram certos de que
não serão privados dessas coisas.

Assim é que as afeições, que no princípio eram servas da razão, agora ocupam o trono.
Aquela que é a glória da natureza humana elevando-a acima dos animais do campo é presa
agora aqui e acolá pela rude turba de nossas paixões. Deus colocou no homem um instinto
de felicidade para que ele encontrasse a felicidade nEle, mas agora este instinto se arrasta
no pó e se derrama sobre cada vaidade. Os conselhos e as invenções da mente estão
engajados para a realização dos desejos carnais do homem. Não somente as suas afeições
não se deleitam nas coisas espirituais como possuem forte preconceito contra elas, pois as
suas afeições correm diretamente para a gratificação de sua natureza corrupta. Seus dese-
jos são fixados sobre mais riqueza, mais honra mundana e poder, mais alegria carnal, e
porque o Evangelho não contém nenhuma promessa de tais coisas ele é desprezado. Por-
que inculca a santidade, a mortificação da carne, a separação do mundo e o resistir ao Dia-
bo o Evangelho torna-se muito desagradável para eles. Pois apartar as afeições daquelas
coisas materiais e temporais das quais ele fez o seu principal bem, e convertê-las às coisas
espirituais invisíveis e às coisas eternas, distancia a mente carnal do Evangelho, pois este
não oferece nada que atraia o homem natural mais do que os ídolos que estão no âmago
de seus corações. Portanto, renunciar à sua justiça própria e fazer-se dependente de Outro
é igualmente desagradável para seu orgulho.

As afeições não estão apenas alienadas e opostas às exigências sagradas do Evangelho,


mas também opostas ao seu mistério. Esse mistério é o que as Escrituras denominam: a
sabedoria oculta de Deus, e, o homem natural não somente é incapaz admira-lo e adorá-
lo, mas considera-o com desprezo e contumácia. Ele olha para todas as partes de sua de-
claração como noções vazias e ininteligíveis. Esse preconceito tem prevalecido sobre os
sábios e entendidos deste mundo em todas as épocas, e nunca tão eficazmente do que em
nosso dia mau. A maior sabedoria de Deus parece loucura para todos os que andam incha-
dos pelo orgulho de sua própria inteligência, e o que é loucura para eles é desprezado e
escarnecido. Aquilo que direciona à fé mais do que a razão é repulsivo. Pois, “não te estri-
bes no seu próprio entendimento, mas confie no Senhor de todo o coração”, é um “duro dis-
curso” para aqueles consideram-se como tendo grande intelecto. Renunciar às suas pró-
prias ideias, abandonar seus pensamentos (Isaías 55:7) e tornar-se como “crianças peque-
nas”, e dizer que sem isto eles de modo algum entrarão no reino dos céus é muitíssimo
abominável para eles. Não pequena parte da depravação do homem consiste na sua dispo-

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nibilidade para abraçar esses preconceitos, a aderir a eles perniciosamente, sendo total-
mente impotentes para livrarem-se deles.

O estado desordenado de nossas afeições é visto no fato de que as ações do homem natu-
ral são reguladas muito mais por seus sentidos do que pela sua razão. Sua conduta consiste
principalmente na resposta aos clamores de suas concupiscências ou invés dos ditames
da razão. Os desejos de crianças são inclinados e velozes para qualquer desvio que leve
à corrupção, mas lentos para exercitarem-se em fazer qualquer bem; daquele dificilmente
podem ser contidos, para estes devem ser obrigados. Que as afeições estão alienadas de
Deus se manifesta cada vez que Sua vontade se opõe aos nossos desejos. Esta doença
aparece muito nos objetos nos quais nossas diversas afeições são colocadas. Em vez do
amor estar posto em Deus, ele está centrado no mundo e na adoração de ídolos. Em vez
de dirigir ódio contra o pecado, elas se opõem à santidade. Em vez de alegrar-se e encon-
trar o seu deleite nas coisas espirituais, gastam-se naquelas que em breve passarão. Em
vez de temer agir de maneira que desagrade ao Senhor, ele teme mais as carrancas de se-
us companheiros. Se há dor, é pela frustração de nossos prazeres e esperanças, e não por
causa da nossa desobediência. Se há compaixão, é exercida sobre si mesmo, e não em
relação aos sofrimentos dos outros.

Agora nos resta salientar que a primeira ambição dos nossos desejos é o próprio mal. As
paixões ou desejos são os movimentos da criatura dirigidos por sua natureza, para uma
inclinação aos objetos que promovam o seu bem, e uma aversão àqueles que são nocivos.
E, assim, eles são para a alma o que as asas são para o pássaro e as velas são para o na-
vio. O desejo está sempre em busca da satisfação, e se é para ser satisfeito deve ser regu-
lado pela razão correta. Mas, infelizmente, a razão foi destronada e as paixões e inclinações
do homem estão sem lei, e, portanto, Suas primeiras aspirações pelos objetos proibidos
são essencialmente más. Estes eram, como Mateus 5 demonstra, negados pelos rabinos,
que restringiram o pecado a uma transgressão aberta e externa. Mas o nosso Senhor decla-
rou que a raiva injustificável contra o outro se constitui um assassinato, e que olhar para
uma mulher e cobiçá-la era uma violação do sétimo mandamento, que pensamentos impu-
ros e imaginações devassas eram nada menos do que adultério. Por isso, é que a Escritura
fala de “concupiscências do engano” (Efésios 4:22), “concupiscências loucas e nocivas” (1
Timóteo 6:9), “paixões mundanas” (Tito 2:12), “concupiscências carnais, que combatem
contra a alma” (1 Pedro 2:11) e “paixões pecaminosas” (Judas 18).

Mesmo a primeira agitação de desejo por algo mau, a menor irregularidade nos movimentos
da alma é pecado. Isso fica claro a partir do mandamento universal: “Não cobiçarás”, ou
desejar qualquer coisa que Deus proibiu. Esse anseio irregular e maligno é chamado de
“concupiscência” em Romanos 7:8 “no qual o apóstolo incluiu o desejo mental bem como o

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sensual” (Calvino). A palavra grega é geralmente traduzida como “desejos”; em 1 Tessaloni-
censes 4:5, este é encontrado em uma forma intensificada: “a paixão da concupiscência”.
Estas concupiscências da alma são seus movimentos iniciais, muitas vezes, inesperados
por nós mesmos, que precedem o consentimento da mente, e são designados “a vil concu-
piscência” (Colossenses 3:5). Eles são as sementes de onde brotam nossas más obras, as
ambições originais da corrupção que habita em nós. Elas são condenadas pela lei de Deus,
pois o décimo mandamento proíbe as primeiras inclinações das afeições para o que perten-
ce a outrem, de modo que o desejo que inicia-se, antes da aprovação da mente ser obtida,
é pecado, e precisa ser confessado a Deus. Gênesis 6:5 declara sobre o homem caído que
“toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente”, pois
pecados enquanto na sua fase embrionária, contaminam a alma, sendo o contrário à pureza
que a santidade de Deus exige.

O que tem sido demostrado acima é repudiado pelos católicos romanos, pois enquanto eles
concordam que os desejos da carne são a matéria do pecado, ou nos quais o pecado se
origina, eles não vão admitir os mesmos como sendo essencialmente maus. O Concílio de
Trento negou que o movimento original da alma tende para o mal é próprio do pecador, afir-
mando que estes só se tornam assim, quando são consentidos ou cedidos. Semelhante-
mente, a maioria dos Arminianos (que em muitas de suas crenças são um com os papistas)
limitam o pecado a um ato da vontade. Agora é livremente confessado por todos os Calvinis-
tas em alto e bom som que a mente entretém-se inicialmente com o desejo do mal e este
é mais um grau de pecado, e que o assentimento real ao mesmo é ainda mais hediondo;
mas os Arminianos, enfaticamente argumentam se o impulso original também é mau aos
olhos de Deus. Se o impulso original é inocente (em si mesmo), como poderia sua gratifica-
ção ser pecado? Os motivos e excitações não sofrem qualquer alteração em sua natureza
essencial em consequência de ser consentida ou incentivada. Não pode ser errado atender
impulsos inocentes. O Senhor Jesus nos ensina a julgar a árvore pelos seus frutos, se os
frutos forem corruptos, assim também é a árvore que a produz.

Em Romanos 7:7, o termo é efetivamente atribuído ao pecado: “Mas eu não conheci o peca-
do senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás [ou desejarás]”, pois no grego a mesma palavra é empregada para ambos os
termos. Aqui, então, o pecado e os desejos são usados alternadamente, qualquer não-con-
formidade interior com a Lei é pecaminosa. Paulo estava ciente desse fato quando o man-
damento foi aplicado com poder, assim como o sol que brilha em um monte de excremento
faz exalar seu fedor. Os homens podem negar que o próprio desejo pelo que é proibido é
culpável, mas a Escritura afirma que até mesmo as imaginação são más, os brotos da
maldade, pois elas são contrárias a essa retidão de coração que a Lei exige. Observe quão
terrível é esta lista que Cristo enumerou com as coisas que procedem do coração, sendo

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iniciada com “maus pensamentos” (Mateus 15:19). Nós não podemos conceber qualquer
inclinação ou propensão para o pecado em um ser absolutamente santo; certamente não
havia nenhuma no Senhor Jesus: “se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em
mim” (João 14:30), nada que fosse capaz de responder às suas solicitações vis, nenhum
movimento de seus apetites ou afeições dos quais ele poderia tirar proveito. Cristo estava
inclinado apenas para o que é bom.

Porque, quando estávamos na carne [ou seja, enquanto os Cristãos estavam em seu esta-
do não-regenerado], as paixões dos pecados [literalmente, as afeições do pecado, ou o
princípio de nossas paixões], que são pela lei, operavam em nossos membros [as faculda-
des da alma, bem como do corpo] para darem fruto para a morte” (Romanos 7:5). Essas
“afeições do pecado” são os fluxos imundos que fluem da fonte poluída de nossos corações.
Eles são os primeiros sinais de nossa natureza decaída, os quais precedem os atos explíci-
tos de transgressão. Eles são os movimentos ilegais de nossos desejos antes de examinar-
mos e consentirmos com os pensamentos pecaminosos da mente. “Mas o pecado [corrup-
ção que habita em nós], tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concu-
piscência [ou concupiscência do mal]” (Romanos 7:8). Atente bem que para a expressão
“operou em mim”, havia uma disposição poluída ou propensão para o mal operando, distinta
da fonte das obras que ele produziu. O pecado que habita em nós é um princípio poderoso,
constantemente exerce uma má influência, estimulando sentimentos profanos, despertando
a avareza, a inimizade, maldade e etc.

Parte 3

Julgamos de tal importância o que foi abordado no final do nosso último capítulo, e que tão
pouco o mesmo é apreendido e compreendido hoje, que agora adicionaremos mais algu-
mas palavras a ele. A ideia popular que prevalece agora é que nada é pecado, exceto uma
transgressão aberta e externa, mas tal conceito está muito aquém do exame e do ensino
humilhante da Sagrada Escritura. Ela afirma que a fonte de toda a tentação está dentro do
próprio homem caído, é a depravação de seu próprio coração que o induz a ouvir o Diabo
ou ser influenciado pelo desregramento dos outros. Se assim não fosse, então há solicita-
ções que induzem ao delito não teriam qualquer força, pois não haveria nada dentro dele
para que fosse estimulado, nada a que essas solicitações correspondessem ou sobre as
quais elas pudessem exercer qual poder. Um exemplo do mal seria rejeitado com horror se
fôssemos interiormente puros. Deve haver um desejo insatisfeito para o qual a tentação
recorra. Onde não há nenhum desejo por comida, uma mesa bem farta não possui poder
de sedução. Se não há amor à aquisição, o ouro não pode atrair o coração. Em todos os
casos a força da tentação está no poder que ela exerce sobre alguma propensão de nossa
natureza caída.

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Aqui reside a singularidade da Bíblia; a saber, a sua altíssima espiritualidade, insistindo que
qualquer inclinação interior, a menor atração da alma para longe de Deus e de Sua vontade
é pecaminoso e culpável, não importando se a ação é realizada ou não. Ela revela que a
primeira aspiração do pecado em si é o de afastar a alma daquilo que ela deveria estar fixa-
da, por meio de um desejo anormal por algum objeto estranho que parece prazeroso. Quan-
do as nossas corrupções naturais são convidadas por algo externo que promete prazer ou
lucro, e as paixões são atraídas pelo mesmo, então a tentação começa, e o coração é atraí-
do após isto. Desde que o homem caído é mormente influenciado por seus desejos, estes
imperaram tanto sobre a sua mente quanto sobre a sua vontade. Tão poderosos são que
governam toda a sua alma; por isso é que o apóstolo disse: “vejo nos meus membros outra
lei” (Romanos 7:23), pois tais desejos são imperiosos, dominando todo o homem. É pelo
fato de que suas cobiças são tão violentas que os homens incorrem tão loucamente no pe-
cado: “andam-se cansando em proceder perversamente” (Jeremias 9:5). Tiago 1:14-15 tra-
ça a origem de todo o nosso pecado, e é para esta passagem que agora nos voltamos.

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. De-
pois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consuma-
do, gera a morte”. Essas palavras mostram que o pecado invade o espírito gradualmente,
e descreve as várias etapas dele ser consumado no ato exterior. Esta passagem revela que
a causa da concepção de todos os pecados reside na alma de cada um, ou seja, em suas
concupiscências, que ele tem dentro de si mesmo tanto a provisão quanto o estímulo para
isso. Justamente sobre isto Goodwin declara: “Você nunca pode chegar a ver o quão pro-
fundamente e quão abominável criatura corrupta você é, até que Deus abra os seus olhos
para que você veja as suas concupiscências”. O velho homem “se corrompe pelas concu-
piscências do engano” (Efésios 4:22).

A cobiça é tanto o útero quanto a raiz de toda a maldade que há sobre a terra. Diz o apóstolo
ao povo de Deus “havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência que há no
mundo” (2 Pedro 1:4) “A corrupção”, é a praga arruinando e destruindo toda a humanidade.
“Que... há no mundo”, como veneno no copo, como a podridão na madeira, como uma pes-
te que contamina o ar e a qual não se pode erradicar. Ela contamina todas as partes de um
homem seja física, mental ou moral; e todos os relacionamentos de sua vida, sejam na
família, sociedade ou país.

“Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência”. Quando
os homens são tentados eles procuram normalmente lançar o ônus sobre Deus, sobre o
Diabo, ou sobre os seus companheiros; ao passo que a culpa recai inteiramente sobre si
mesmos. Primeiro, suas afeições estão afastadas do que é bom e eles são incitados a uma
conduta ilícita por suas inclinações corruptas, sendo atraídos por uma isca que Satanás ou

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o mundo chacoalhe diante dele. “Concupiscência” aqui significa um anseio ou desejo de
obter alguma coisa, e é tão forte a ponto de atrair a alma para um objeto proibido. A palavra
grega para “afastadas” significa forçosamente impelido, uma violência impetuosa do desejo
que cobiça alguma coisa sensual ou mundana exigindo gratificação. Estas nada são senão
uma espécie de vontade própria, um anseio por aquilo que Deus não concedeu, decorrente
do descontentamento em relação à nossa presente condição ou porção. Mesmo que esse
desejo seja passageiro e involuntário, sim, contra o nosso melhor julgamento, ainda assim,
é pecaminoso, e quando consentido produz uma culpa ainda mais profunda.

“E engodado”. A atração pela irregularidade e veemência do desejo, a sedução acontece


pela contemplação do objeto. Mas esse mesmo engodo é algo pelo qual nós somos culpa-
dos. É porque não conseguimos resistir, abominamos e rejeitamos a primeira investida do
desejo ilícito, e em vez disso, o entretemos e o encorajamos, de forma que a isca pareça
tão atrativa. As promessas tentadoras de prazer ou lucro, são o “o engano do pecado” (He-
breus 3:13) atuando no que nos seduz. Em seguida, o mal lhe é doce na boca, e ele o es-
conde debaixo da sua língua (Jó 20:12). “Depois, havendo a concupiscência concebido”:
prazer antecipado é valorizado, e tendo em vista o mesmo a mente consente plenamente.
O ato pecaminoso está presente em embrião, e os pensamentos estão envolvidos em ma-
quinar formas e meios de gratificação. “Dá à luz o pecado” por um decreto da vontade, o
que antes era contemplado agora é realmente perpetrado. Justamente sobre isto Thomas
Manton diz: “O pecado não conhece outra mãe exceto o nosso próprio coração”. “E o peca-
do, sendo consumado, gera a morte”: assim o seu salário é pago e colhe-se o que foi seme-
ado, a condenação sendo o resultado final. Tal é o progresso do pecado dentro de nós, e
esses seus diversos graus de enormidade.

4. Consciência corrompida. Se há uma faculdade da alma do homem mais do que qualquer


outra da qual poderia ser pensado ter retido a imagem original de Deus sobre ela, esta cer-
tamente é a consciência. Tal ponto de vista, de fato, foi amplamente difundido. Então eles
decididamente eram desta opinião, não poucos dos filósofos mais renomados e moralistas
afirmaram que a consciência não é nada menos do que a própria voz Divina falando na
câmara interior do nosso ser. Mas, sem de forma alguma minimizar a grande importância e
o valor deste monitor interno, seja no seu ofício ou em suas operações, deve ser declarado
enfaticamente que tais teóricos erraram, que mesmo essa faculdade não escapou da ruína
comum que atingiu todo o nosso ser. Isto é evidente a partir do claro ensino da Palavra de
Deus sobre isto. Escritura fala de uma “fraca consciência” (1 Coríntios 8:12), dos homens
“tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Timóteo 4:2), e é dito que a sua “consciên-
cia está contaminada” (Tito 1:15), que eles têm “má consciência” (Hebreus 10:22). A de-
monstração disto é feita no que se segue.

Aqueles que afirmam que há algo essencialmente bom no homem natural insistem que a

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sua consciência é uma inimiga para o mal e uma amiga para a santidade. Eles apontam e
ressaltam o fato de que a consciência produz uma convicção interior contra ilegalidade,
uma luta no coração contra o pecado, uma relutância este. Eles chamam a atenção para o
fato de que faraó reconheceu seu pecado (Êxodo 10:16), e que Dario “ficou muito penali-
zado” por seu ato injusto de condenar Daniel a ser lançado na cova dos leões (6:14). Alguns
têm mesmo ido tão longe a ponto de afirmar que a oposição aos maiores e mais grosseiros
crimes se encontra a princípio em todos os homens diferindo pouco ou nada desse conflito
entre a carne e o Espírito descrito em Romanos 7:21-23. Mas tal sofisma é facilmente refu-
tado. Em primeiro lugar, embora seja verdade que o homem caído possui uma noção geral
de certo e errado, e seja capaz, em alguns casos de discernir entre o bem e o mal, contudo
enquanto ele permanece não-regenerado este instinto moral nunca faz com que ele se de-
leite cordialmente no bem ou realmente abomine o mal; e em qualquer medida que possa
aprovar o bem ou reprovar o mal, isto não se deriva de nenhuma consideração por Deus
que porventura ele possua.

A consciência só é capaz de trabalhar de acordo com a luz que tem, e uma vez que o ho-
mem natural não pode discernir as coisas espirituais (1 Coríntios 2:14), isso é inútil em rela-
ção a elas. Quão fraca é a sua luz! É mais parecida com a de uma vela brilhando do que
com os raios do sol, apenas suficiente para fazer a escuridão visível. Devido à estultícia
que se encontra em seu entendimento, a sua consciência é terrivelmente ignorante. E quan-
do ela o faz descobrir o que lhe é hostil, fá-lo débil e ineficazmente. Em vez de esclarecer,
na maioria das vezes confunde. Como isso é manifesto no caso das nações! A consciência
dá-lhes um sentimento de culpa e, em seguida, os leva a praticar os ritos mais abomináveis
e muitas vezes desumanos. Ela os induz a inventar e propagar as deturpações mais ímpias
da Divindade. Como um bálsamo para a sua consciência, eles muitas vezes fazem os pró-
prios objetos de sua adoração os precedentes e patronos de seus vícios favoritos. O fato é
que a consciência é tão tristemente deficiente a ponto de ser incapaz de cumprir o seu
dever até que Deus a ilumine, desperte e renove.

Suas operações são igualmente defeituosas. A consciência não é defeituosa apenas na


visão, mas a sua voz também é muito fraca. Quão fortemente ela deveria censurar-nos por
nossa surpreendente ingratidão para com o nosso grande Benfeitor! Quão alta deveria ser
a voz para opor-se contra a negligência estúpida de nossos interesses espirituais e bem-
estar eterno. No entanto, ela não faz nem uma coisa nem outra. Embora ela ofereça alguns
avisos sobre inocorrências grosseiras no pecado, não faz resistência aos trabalhos mais
sutis e secretos da corrupção que em nós habita. Se ela demanda o cumprimento do dever,
ignora a parte mais importante e espiritual do mesmo. Pode ser desconfortável se não con-
seguirmos passar a mesma quantidade de tempo todos os dias na oração secreta, mas es-
tá pouco preocupada com a nossa reverência, humildade, fé e fervor nela. Aqueles que vi-

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viam nos dias do profeta eram culpados de oferecer a Deus sacrifícios defeituosos, ainda
assim suas consciências nunca lhes perturbaram em relação a isto (Malaquias 1:7-8). A
consciência pode ser muito escrupulosa no cumprimento dos preceitos dos homens ou nos-
sas predileções pessoais, e ainda totalmente negligente naquelas coisas que o Senhor or-
denou, como os Fariseus que não comiam enquanto suas mãos permanecessem cerimo-
nialmente impuras, porém, desconsideravam o que Deus havia ordenado (Marcos 7:6-9).

A consciência é terrivelmente parcial: desconsiderando pecados favoritos e desculpando


aqueles que mais de mais perto nos rodeiam. Todas essas tentativas de atenuar as nossas
faltas são fundadas na ignorância de Deus, de nós mesmos e do nosso dever; caso contrá-
rio, a consciência nos daria o veredito de culpados. A consciência muitas vezes se junta às
nossas concupiscências para incentivar um ato perverso. Saul disse que ele não ofereceria
o sacrifício até que Samuel chegasse, mas para agradar as pessoas e impedir que elas o
abandonassem, ele o fez. E quando esse servo de Deus o repreendeu o rei procurou justi-
ficar seu crime dizendo que os filisteus estavam reunidos contra Israel, e que ele não se
atreveu a atacá-los antes de fazer súplicas a Deus, e acrescentou: “constrangi-me, e ofereci
holocausto” (1 Samuel 13:8-12). A consciência se esforçará para encontrar alguma conside-
ração com a qual apaziguar-se e, em seguida, aprovar o ato de maldade. Mesmo quando
repreende certos pecados, ela encontrará motivos e arranjará incentivos para praticá-lo.
Assim, quando Herodes estava prestes a cometer o assassinato covarde de João Batista,
que era contra as suas convicções, a sua própria consciência veio em seu auxílio, e pediu-
lhe para seguir em frente, instando que ele não deveria violar o juramento que ele havia
feito diante de outros (Marcos 6:26).

A consciência frequentemente ignora grandes pecados enquanto condena outros menores,


como Saul era severo com os israelitas em relação à violação da lei cerimonial (1 Samuel
14:33), mas não teve nenhum escrúpulo de matar oitenta e cinco sacerdotes do Senhor. A
consciência ainda inventará argumentos que favorecem — sim, até mesmo autorizam —
os atos mais ultrajantes e, portanto, ela não é apenas um advogado corrupto pleiteando a
causa do mal, mas um juiz corrupto que justifica o ímpio. Assim, aqueles que clamavam pe-
la crucificação de Cristo o fizeram sob o pretexto de que era lícita e necessária: “Nós temos
uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (João 19:7). Não
é de admirar que o Senhor diz a respeito dos homens que “ao mal chamam bem, e ao bem
mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas” (Isaías 5:20). A consciência nunca move o
homem natural a reder ações de graças e reconhecimento a Deus; nunca o convence da
culpa pesada da ofensa de Adão, que jaz sobre a sua alma, nem de sua falta de fé em
Cristo; e assim a consciência permite que os pecadores durmam em paz em meio a sua
terrível incredulidade, mas estes não são um sono e paz sólidos, pois não há razão ou moti-
vo para isso: é, antes, uma segurança falsa e estúpida. Deus a seu respeito: “Eles não di-
zem no seu coração que eu me lembro de toda a sua maldade” (Oseias 7:2).

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Suas acusações são ineficazes, pois não produzem bons frutos, não produzem mansidão
e humildade, nem arrependimento genuíno, mas sim um medo sensível de Deus como um
juiz severo ou um ódio como inimigo inexorável. As suas acusações não são apenas inefi-
cazes, mas muitas vezes elas são muito errôneas. Por causa da escuridão que está sobre
sua compreensão, a percepção moral do homem natural erra muito. Como Thomas Boston
disse da consciência corrupta: “Por isso, ela é frequentemente como um cavalo louco e
furioso, que violentamente derruba, o seu cavaleiro, e todos que entram em seu caminho”.
Um terrível exemplo disto aparece na previsão de nosso Senhor em João 16:2, que recebeu
cumprimento repetido em Atos: “Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em
que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”. Da mesma maneira Saulo
de Tarso, depois de sua conversão, reconheceu: “Bem tinha eu imaginado que contra o no-
me de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos” (Atos 26:9). Aqui fazer do “amargo,
doce e do doce, amargo” foi o caso! O guia menos confiável é a consciência não-renovada.

Mesmo quando a consciência do não-regenerado é despertada pela mão imediata de Deus


e é ferida com convicções profundas e dolorosas de pecado, tão longe está a alma de mo-
ver-se em busca da misericórdia de Deus através do Mediador, antes enche-se de tremor
e consternação. Como Jó 6:4, declara, quando as flechas do Todo-Poderoso estão crava-
das nele, o veneno delas embebe seu espírito, e os terrores de Deus o assaltam. Até então
tal pessoa tinha feito um grande esforço para abafar as acusações de seu juiz interior, e
agora ele iria fazê-lo de bom grado, mas não pode. Em vez disso, a consciência se enfurece
e murmura, colocando todo o homem em uma consternação terrível, à medida que é aterro-
rizado por um senso da ira de um Deus santo e está com medo do ardor do fogo que há de
devorar os Seus adversários. Isso o enche de tal horror e desespero que, em vez de se
voltar para o Senhor que ele se esforça para fugir dEle. Assim foi o caso de Judas, que,
quando foi levado a perceber a gravidade de sua terrível e vil ação, saiu e enforcou-se. Que
esta violência do pecado dentro do homem natural o leva a desviar-se de Cristo ao invés
de para Cristo, foi demonstrada pelos Fariseus em João 8:9, que, “redarguidos da consci-
ência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos”.

5. Incapacidade da Vontade. Deixamos isso por último, porque a vontade não é o senhor,
mas o servo das outras faculdades, executando a convicção mais forte da mente ou o co-
mando mais imperioso de nossas paixões, pois pode haver apenas uma influência domi-
nante na vontade em um e mesmo tempo. A excelência da vontade do homem consistia,
originalmente, em seguir a orientação da reta razão e submeter-se à influência de autorida-
de apropriada. Mas no Éden a vontade do homem rejeitou a primeira, e se rebelou contra
a última, e em consequência da Queda sua vontade tem estado desde então sob o controle
de um entendimento que prefere antes as trevas do que a luz e de afeições que desejam
mais o mal do que o bem. E assim é que os prazeres fugazes do bom senso e os interesses

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mesquinhos do tempo excitam nossos desejos, enquanto os deleites duradouros da pieda-
de e as riquezas da imortalidade recebem pouca ou nenhuma atenção. A vontade do ho-
mem natural é influenciada por suas corrupções, pois suas inclinações gravitam na direção
oposta ao seu dever e, portanto, ele está completamente cativo ao pecado, impelido por
suas paixões. Não é apenas que os não-regenerados não estão dispostos a buscar a santi-
dade, eles inveteradamente a odeiam.

Desde que a vontade transformou-se em uma traidora de Deus e apresentou-se ao serviço


de Satanás, ela foi completamente incapacitada para fazer o bem. Disse o Salvador: “Nin-
guém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6:44). E por que ele não
pode vir a Cristo por suas próprias forças naturais? Porque ele não somente tem inclinação
para fazer isso, mas porque o Salvador é um objeto que o repele, Seu jugo não é bem-
vindo, Seu cetro é repulsivo. Em relação às coisas espirituais a condição da vontade é como
a da mulher em Lucas 13:11, ela “andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-
se”. Se tal for o caso, então como pode ser dito que o homem é capaz de agir voluntaria-
mente? Pois ele escolhe livremente o mal, e isso porque “a alma do ímpio deseja o mal”
(Provérbios 21:10), e ele sempre realiza esse desejo, exceto quando impedido pelo governo
Divino. O homem é o escravo de suas corrupções, nascido como um potro selvagem, desde
a mais tenra infância ele é avesso à restrição. A vontade do homem é uniformemente rebel-
de para com Deus; quando a providência frustra seus esforços, em vez de se curvar em
humilde resignação, ele se aborrece com inquietação e age como um touro selvagem em
uma rede. Somente o Filho pode “libertá-lo” (João 8:36), e há “liberdade” somente onde es-
tá o Espírito do Senhor. (2 Coríntios 3:17).

Aqui, então, estão as ramificações da depravação humana. A Queda cegou a mente do ho-
mem, endureceu o seu coração, desordenou as suas afeições, corrompeu a sua consci-
ência, mitigou a capacidade de sua vontade, e deste modo não há “coisa sã” nele (Isaías
1:6), “não habita bem algum” em sua carne (Romanos 7:18).

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A Terrível Condição Dos Homens Naturais
Por Robert Murray M'Cheyne

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram,


falando mentiras. O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente; são como a
víbora surda, que tapa os ouvidos, para não ouvir a voz dos encantadores, do
encantador sábio em encantamentos.” (Salmos 58:3-5)

Foi suposto por alguns intérpretes que este salmo foi escrito como uma descrição profética
dos juízes injustos que condenaram nosso Senhor Jesus Cristo. 1. Começa por repreendê-
los pelo seu julgamento injusto. Verso 1: “Acaso falais vós, deveras, ó congregação, a justi-
ça?” e etc. 2. Ele desvela os recessos sombrios de seu coração e história, versículo 3, “Alie-
nam-se os ímpios desde a madre”. 3. E mostra a sua destruição vindoura, versículo 10: “O
justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio” [Salmos
58:10]. Embora possa ser isso: eles possuíam a mesma natureza que nós. Os escribas e
Fariseus que condenaram nosso Senhor tinham corações do mesmo tipo que o nosso, para
que pudéssemos aprender hoje a terrível depravação do coração do homem.

I. Depravação original. Versículo 3: “Alienam-se os ímpios desde a madre”. A expressão


“desde a madre” ocorre frequentemente nas Escrituras e significa: a partir do primeiro perí-
odo de nossa existência. O anjo do Senhor disse à esposa de Manoá: “o menino será nazi-
reu de Deus desde o ventre” (Juízes 13:5); isto é, desde o primeiro momento de sua exis-
tência. Deus diz a Jeremias “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saís-
ses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jeremias 1:5). Jeremias foi desig-
nado como um profeta antes de nascer. Paulo diz: “Mas, quando aprouve a Deus, que
desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho
em mim” [Gálatas 1:15-16a]. Paulo foi separado por Deus para a obra do ministério, desde
o princípio. Assim, nas palavras diante de nós, é declarado que desde o início os ímpios
alienam-se de Deus. Agora, esta alienação é dupla.

1. A cabeça. Toda a mente está afastada de Deus. “Naquele tempo vocês estavam sem
Deus” [Efésios 2:12]. O homem natural é ignorante de Deus desde o ventre materno. Deus
é um estranho para ele, pois não O conhece. Ele não tem uma verdadeira visão da infinita
pureza de Deus, de Sua justiça imutável, e do rigor da Lei. Ele não conhece o amor de
Deus, nem como voluntariamente Ele providenciou um Salvador. Ele é predominantemente
ignorante de Deus. Salmo 10:4: “todas as suas cogitações são que não há Deus”, ou ele

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de modo algum volta sua mente para Deus, ou então ele imagina Deus como sendo intei-
ramente tal como ele mesmo: “Não há ninguém que entenda” (Salmo 14).

2. O coração. Uma criança recém-nascida, naturalmente sente desejo pela mama de sua
mãe; ela naturalmente procura a mama, mas não busca a Deus da mesma forma. “Não há
ninguém que busque a Deus” [Romanos 3:11]. Desde o início somos avessos a Deus. A
criança logo trata de apreciar a presença de seus pais terrenos e de outras crianças, mas
ele não gosta da presença de Deus. A tendência natural do coração é ir para longe de Deus
e manter-se fora de sua vista. Um homem natural não gosta da presença de um santo muito
eminente, se ele tiver plena liberdade ele sairá da sala e procurará outra coisa que fazer
que seja mais adequada ao seu gosto. Esta é a maneira como ele trata a Deus. Deus é
santo demais para ele; Ele é muito puro e, portanto, ele faz todo o possível para sair de Sua
presença. Esta é a razão por que você não pode fazer homens não-convertidos orarem em
secreto. Eles preferem passar meia hora trabalhando no moinho todas as manhãs do que
ir ao encontro de Deus. Esta é a verdadeira condição de cada um de vocês que agora está
não-convertido; na verdade, era a condição de todos nós, mas alguns de vocês foram
libertos dela. A partir do momento que você estava no útero até agora toda a sua cabeça e
coração estavam alienados de Deus, Gênesis 8:21: “a imaginação do coração do homem
é má desde a sua meninice”; Jó 14:4: Quem do imundo tirará o puro?”. Toda a sua natureza
é totalmente depravada. Você está acostumado a pensar que você tem algumas partes
boas, que embora alguma parte tenha sido depravada, outra esteja doente e todo o coração
seja fraco, sua história permanece completamente boa; mas aprenda que toda a sua
cabeça está coberta com o pecado. Você está acostumado a pensar que grande parte de
sua vida tem sido inocente. Você admite que algumas páginas de sua vida estão mancha-
das de carmesim e de pecados escarlates; que você se envergonha de olhar para algumas
páginas do passado; mas certamente você tem algumas páginas de justiça também. Saiba
que você está “alienado desde o ventre”. Você passou cada momento sem Deus e afas-
tando-se dEle; no cabeçalho de cada página de sua vida isto tem sido escrito: “Neste dia
Deus não esteve em nenhum dos meus pensamentos, ele não desejou reter Deus em seu
conhecimento”. Gênesis 6:5: “toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só
má continuamente”.

II. Pecado real. “Alienam-se”. Existem dois caminhos nos quais cada homem natural se
perde assim que nasce.

1. O caminho dos mandamentos de Deus. Este é o caminho puro de luz em que santos an-
jos andam. Eles guardam os Seus mandamentos, obedecendo à voz da Sua palavra (Sal-
mo 103). Esta é uma via pura, tendo dez caminhos nela em que os pés do amor caminham.

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“Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor” [Salmos 119:
1]. “Faze-me andar na vereda dos teus mandamentos, porque nela tenho prazer” [Salmos
119:35]. Deste caminho eles se alienam desde que nascem, falando mentiras. Um desses
caminhos diz: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” [Deuteronômio 5:20]; mas
este é um dos primeiros a ser abandonado, falando mentiras. Isaías 53:6: “Todos nós andá-
vamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho” [Isaías 53:6].

2. O caminho do perdão. Disse-lhe Jesus: “Eu sou o caminho” [João 14:6]; e novamente,
“Estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida” [Mateus 7:14]. O mesmo diz Isa-
ías 35:9: “só os remidos andarão por ele”. Deste modo também “andam errados desde que
nasceram, falando mentiras”. A vida é dada aos pecadores apenas para que eles possam
andar por este caminho, mas eles a gastam indo cada vez mais longe. A parábola da ovelha
perdida mostra o verdadeiro estado de cada alma não-convertida vagando longe do bom
pastor. Ele está buscando salvar os perdidos, você está andando errado para cada vez
mais longe. Romanos 3:12, “Todos se extraviaram”. “Em seus caminhos há destruição e
miséria; e não conheceram o caminho da paz” [Romanos 3:16-17]. E oh! que terrível signi-
ficado isso confere à declaração: “falando mentiras!”, porque está escrito em 1 João 2:22:
“Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?”, E mais uma vez:
“Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê men-
tiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu” [1 João 5:10].
Nenhum homem pode alienar-se de Cristo sem falar mentiras.

Conheça a terrível condição daqueles de vocês que são homens naturais.

Em primeiro lugar, a partir do dia em que nasceu você se desviou do caminho dos manda-
mentos de Deus; cada ano, mês, semana, dia, hora e minuto foi preenchido com o pecado.
Todos os dias têm visto você ir para mais longe da santidade, mais longe de Deus e para
mais perto do inferno. Você está entesourando ira para o dia da ira. Oh! que tesouro é este!
pois contém combustível para queimá-lo por toda a eternidade. Se algum de vocês vive em
bebedeiras ou xingamentos ou em qualquer pecado, você está acumulando combustível
para seu inferno eterno. Você está prosseguindo cada vez mais em seu pecado. Está enro-
lando suas correntes mais e mais em volta de você. Pela lei da natureza humana, cada vez
que pecamos, o hábito se torna mais forte, de modo que você está a cada dia se tornando
mais completamente como o Diabo. A cada dia torna-se mais difícil converter-se. A expe-
riência mostra que a maioria das pessoas são convertidas quando jovens. Queridos jovens,
a cada dia você que vive em pecado será mais impossível converter-se. “Os que cedo me
buscarem, me acharão” [Provérbios 8:17].

Em segundo lugar, desde o dia em que você nasceu, você se alienou de Cristo. O bom

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pastor tem procurado você. Todos os dias que você permanecer não-salvo, você está an-
dando para longe dEle. Todos os dias você está se aproximando do inferno e distanciando-
se de Cristo. A incredulidade fica mais forte a cada dia.

III. A inimizade mortal dos homens naturais contra Deus. “O seu veneno” etc. Por duas
razões:

1. Porque eles são os filhos da antiga serpente, o Diabo. Todos os homens naturais são a
semente da serpente. Veja Gênesis 3:15. Todos os que se opõem e não gostam dos filhos
de Deus fazem isto por que eles são a semente da serpente, e o veneno da antiga serpente
permanece neles. João, o Batista chama os Fariseus de uma raça de víboras (Mateus 3:7).
De maneira ainda mais terrível o nosso abençoado Senhor fala em Mateus 23:33: “Ser-
pentes, raça de víboras”. Os Fariseus e Saduceus não eram de natureza diferente da nossa;
eles tinham a mesma carne e sangue, e o mesmo coração perverso; eles eram filhos de
seu pai, o Diabo, e queriam satisfazer os desejos de seu pai: “O seu veneno é semelhante
ao veneno da serpente”.

2. Porque eles têm uma inimizade mortal contra Deus. O veneno da serpente é um veneno
mortal. Quando ela lança um bote em um homem ela procura matá-lo. Esse é o veneno
cruel do coração natural contra Deus. Ele é um inimigo mortal de santo governo de Deus.
Foi dito: “Se o trono de Deus estivesse dentro de seu alcance, e você soubesse, ele não
estaria seguro nem mesmo por uma hora”. Ele é um inimigo mortal do próprio ser de Deus,
Salmo 14:1: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”, em seu coração ele diz isto,
este é o desejo secreto de cada peito não-convertido. Se o peito de Deus estivesse ao al-
cance dos homens seria esfaqueado um milhão de vezes em um momento. Quando Deus
se manifestou em carne, Ele era totalmente desejável; Ele não cometeu pecado; Ele andava
continuamente fazendo o bem e ainda assim eles O tomaram e O penduraram no madeiro;
eles zombaram e cuspiram nEle. E desta mesma maneira os homens fariam com Deus
novamente.

Conheça: (1) A depravação terrível de seu coração. Atrevo-me a dizer que não há um ho-
mem não-convertido presente que tem uma vaga ideia sobre a maldade monstruosa que
está agora dentro de seu peito. Pare, antes que você esteja no inferno, ou isso irromperá
sem restrição. Mas, ainda deixe-me dizer-lhe o que é: você tem um coração que assassi-
naria a Deus se tivesse poder para isso. Se o peito de Deus estivesse agora ao seu alcance,
um golpe baniria Deus do universo, você tem um coração qualificado para realizar esta
ação. (2) O incrível amor de Cristo: “Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”
[Romanos 5:8].

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IV. Surdos à voz do Evangelho. É um fato bem conhecido que muitos tipos de serpentes
podem ser encantadas pelo poder da música. Isto é referido em Eclesiastes 10:11 e Jere-
mias 8:17. Muitos viajantes ao Egito e à Índia têm visto isso, mas aqui é dito ser um tipo de
serpente que é surda, de modo que não possa ouvir a música, mas que ela tem o poder de
fazer-se surda por um tempo de modo que não fica encantada. Assim é com os homens
não-convertidos.

Cristo é o grande encantador. Sua voz é como o som de muitas águas. Jamais alguém fa-
lou como este homem. Quando André e Pedro O ouviram, eles deixaram tudo e seguiram-
nO; assim como Tiago, João e Mateus. Quando a noiva O ouve, ela exclama: “A voz do
meu amado!”. Quando as ovelhas ouvem a Sua voz elas O seguem; quando os mortos ou-
vem a Sua voz, eles ressuscitam; quando os oprimidos O ouvem, eles encontram descanso.

Mas os homens não-convertidos não ouvirão. Eles são como Manassés, eles não darão
ouvidos; eles são como os judeus quando Estevão pregou, eles taparam os ouvidos e
prosseguiram.

Ah, quantos de vocês estão fazendo a mesma coisa, tapando os seus ouvidos? Quantos
de você taparam seus ouvidos com o barulho do mundo, com seus negócios e cuidados,
com alguma luxúria favorita? A voz do grande encantador foi ouvida muitas vezes neste lu-
gar, e alguns já a ouviram e seguiram-nO; e por que você seria deixado para trás?

Conheça: (1) A loucura disto. Ele busca lhe encantar para abençoá-lo, para lhe trazer a paz,
o perdão e a santidade. “Nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos
ser salvos” [Atos 4:12]. (2) A culpa que há nisto. É o maior de todos os pecados, recusar o
que fala do céu (Hebreus 7:25). Isto é colocado por último aqui. É imperdoável. Todo o pe-
cado e blasfêmia pode ser perdoado a você, mas se você não ouvir a voz de Cristo você
perecerá. Cristo está batendo à sua porta e dizendo: “Se alguém ouvir a minha voz, e abrir
a porta, entrarei” [Apocalipse 3:20]. Oh, pense na culpa de deixar o Filho de Deus esperan-
do em sua porta? Alguns de bom grado colocariam a culpa fora de si mesmos, mas Deus
lava a Si mesmo da culpa do incrédulo. Estes são vocês que tapam seus ouvidos; vocês
sempre resistem ao Espírito Santo. Vocês um dia descobrirão que aquele que não crer será
condenado.

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A Pecaminosidade Do Homem Em Seu Estado Natural
Por Thomas Boston

DOUTRINA: O homem natural está agora completamente corrompido

Agora, confirmarei a doutrina da corrupção da natureza.

Levarei uma lente aos seus olhos, pela qual você possa ver a sua natureza pecaminosa; a
qual, apesar de Deus tomar particular conhecimento sobre ela, muitos inteiramente a igno-
ram. Consultemos a Palavra de Deus e a experiência e observação dos homens. Como
prova Escriturística, consideremos:

Como a Escritura toma particular conhecimento da Queda de Adão, comunicando a sua


imagem à sua posteridade: “E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua se-
melhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete” [Gênesis 5:3]. Compare isto
com o primeiro versículo do capítulo: “No dia em que Deus criou o homem, à semelhança
de Deus o fez”. Eis aqui, como a imagem do homem depois da queda e a imagem em que
ele foi originalmente criado são opostas. O homem foi criado à semelhança de Deus; isto
é, o Deus santo e justo fez uma criatura santa e justa, mas o Adão caído gerou um filho, e
não à semelhança de Deus, mas à sua própria semelhança; ou seja, o corrupto e peca-
minoso Adão gerou um filho pecador e corrupto. Porque, assim como a i magem de Deus
trazia consigo a justiça e a imortalidade, como foi mostrado antes; assim esta imagem do
caído Adão trazia consigo a corrupção e morte (1 Coríntios 15:49-50; compare o versículo
22 do mesmo capitulo). Moisés, no quinto capítulo de Gênesis, dá-nos a primeira nota da
mortalidade que já existiu no mundo, ele começa o capitulo com isso, que, antes morrer,
Adão gerou mortais. Tendo pecado, se tornado mortal, de acordo com a ameaça [Gênesis
2:17]; e por isso ele gerou um filho à sua semelhança, pecaminoso e, portanto, mortal. As-
sim, o pecado e a morte passaram a todos. Sem dúvida ele gerou tanto Caim quanto Abel
à sua semelhança, assim como Sete; mas isto não é registrado de Abel, porque ele não
deixou nenhuma questão por trás dele, e sua queda gerou o primeiro sacrifício de morte no
mundo, isto foi um relatório suficiente a seu respeito, nem isso é registrado de Caim, de
quem poderia ter sido, embora peculiar, por causa da sua maldade monstruosa; e, além
disso, a sua posteridade foi afogada no dilúvio, mas é registrado sobre Sete, porque ele era
o pai da raça santa; e dele toda a humanidade desde o dilúvio descendeu, e a própria seme-
lhança do caído Adão com eles.

Isto se infere a partir do texto da Escritura: “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém” (Jó
14:4). Nossos primeiros pais eram impuros, como então podemos ser puros? Como pode-

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riam nossos pais imediatos ser puros? Como nossos filhos podem ser? A impureza aqui
referida é uma impureza pecaminosa; pois tal impureza é que enche os dias dos homens
de problemas; e é natural, sendo derivada de pais impuros: “O homem, nascido da mulher”
(Jó 14:1), “Como seria puro aquele que nasce de mulher?” (Jó 25:4). O Deus onipotente,
cujo poder não é aqui desafiado, pode trazer uma coisa pura de uma impura, e fê-lo, no
caso do homem Cristo, mas nenhum outro pode. Toda pessoa que nasce de acordo com o
curso da natureza nasce impuro. Se a raiz é corrupta, assim devem ser os ramos. Nem é o
caso reparado, embora os pais sejam santificados; pois eles são santos apenas em parte,
e isto pela graça, não por natureza, mas eles geram seus filhos como homens, não como
homens santos. Portanto, assim como o pai circuncidado gera um incircunciso, e depois
que o grão mais puro é semeado, colhemos joio com o trigo; deste modo os pais mais san-
tos geram filhos profanos, e não podem comunicar a sua graça a eles, como eles fazem
com a sua natureza; isto muitos pais piedosos encontram ser verdadeiro em sua triste
experiência.

Considere a confissão do salmista Davi (Salmos 51:5): “Eis que em iniquidade fui formado,
e em pecado me concebeu minha mãe”. Aqui, ele sobe de seu pecado atual, até a fonte do
mesmo, ou seja, a natureza corrupta. Ele era um homem segundo o coração de Deus, mas
não foi assim com ele desde o princípio. Ele foi gerado em casamento legal, mas quando o
embrião foi gerado no útero, era um embrião pecaminoso. Daí a corrupção da natureza ser
chamada de “velho homem”; sendo tão antiga quanto nós mesmos somos, mais antiga do
que a graça, mesmo naqueles que são santificados desde o ventre.

Ouça a constatação de nosso Senhor sobre este ponto em João 3:6: “O que é nascido da
carne é carne”. Eis aqui a corrupção universal da humanidade — todos são carne! Não que
todos são frágeis, embora, isto seja uma verdade triste demais; sim, a nossa fragilidade na-
tural é uma evidência de nossa corrupção natural, mas esse não é o sentido do texto. O
significado dele é: todos são corruptos e pecadores, e isto se dá de forma natural. Daí o
nosso Senhor argumenta que porque eles são carne, portanto, eles devem nascer de novo,
ou então eles não podem entrar no reino de Deus (vv. 3-5). E assim como a corrupção de
nossa natureza mostra a necessidade absoluta de regeneração, assim a necessidade
absoluta de regeneração claramente comprova a corrupção de nossa natureza; pois, por
que um homem precisa de um segundo nascimento, se a sua natureza não fosse bastante
prejudicada em seu primeiro nascimento?

O homem certamente está mais afundado agora, em comparação ao que ele já foi. Deus o
fez, um “pouco menor que os anjos”, mas agora vamos encontrá-lo comparado aos animais
que perecem. Ele foi obedecido pelos animais, e agora tornou-se como um deles. Como
Nabucodonosor, sua porção em seu estado natural é com os animais, “que só pensam nas

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coisas terrenas” (Filipenses 3:19). Não, os brutos, em algum modo, possuem alguma vanta-
gem sobre o homem natural, que está afundado um grau abaixo do deles. Ele é mais negli-
gente do que lhe diz respeito, mais do que a cegonha, ou a tartaruga, ou o grou, ou a andori-
nha, no que é de seu interesse (Jeremias 8:7). Ele é mais tolo do que o boi ou jumento
(Isaías 1:3). Ele é encontrado sendo enviado à escola da formiga, que não tem nenhum
chefe ou líder para ir antes dela; nem superintendente ou dominador para obriga-la ou pres-
sioná-la para o trabalho; nenhum governante, mas ela pode fazer o que enumera, não es-
tando sob o domínio de ninguém; e ainda assim “prepara no verão o seu pão; na sega ajun-
ta o seu mantimento” (Provérbios 6:6-8); enquanto o homem natural tem tudo isso, e ainda
se expõe à fome eterna. Não, mais do que tudo isso, as Escrituras sustentam o homem
natural, não só como carecendo das boas qualidades dessas criaturas, mas como um com-
posto das más qualidades da pior das criaturas tais como: a ferocidade do leão, o ofício da
raposa, a ignorância do jumento selvagem, a imundície do cão e do porco e o veneno da
víbora. A própria Verdade os chama de “serpentes, raça de víboras!”; sim, e mais, até mes-
mo de filhos do diabo (Mateus 23:33; João 8:44). Certamente, então, a natureza do homem
é miseravelmente corrompida.

Somos “por natureza filhos da ira” (Efésios 2:3). Somos dignos e susceptíveis da ira de
Deus; e isto naturalmente, porquanto sem dúvida somos, por natureza, criaturas pecadoras.
Estamos condenados antes mesmo de termos feito o bem ou o mal; sob a maldição, antes
de sabermos o que ela é. Entretanto, “rugirá o leão no bosque, sem que tenha presa?” (A-
mós 3:4); ou seja, rugirá o Deus santo e justo, em Sua ira contra o homem, se este não ti-
ver, por seu pecado, se tornado uma presa para a Sua ira? Não, Ele não o fará; Ele não
pode. Isso nos leva a concluir, então, que, de acordo com a Palavra de Deus, a natureza
do homem é corrupta.

Se consultarmos a experiência, e observarmos o caso do mundo, nas coisas que são óbvias
para qualquer pessoa que não fechará os olhos contra a luz clara, perceberemos rapida-
mente tais frutos, bem como descobriremos esta raiz de amargura. Vou propor algumas
coisas que podem servir para convencer-nos deste ponto.

Quem não vê uma enxurrada de misérias transbordando do mundo? Para onde um homem
pode ir de maneira que não molhe seu pé, se, antes esta enxurrada passa a cobrir até mes-
mo sua cabeça e orelhas? Todos em casa e na rua, na cidade e no campo, em palácios e
casas de campo, estão gemendo sob alguma uma coisa ou outra que lhes desagrada. Al-
guns são oprimidos pela pobreza, alguns castigados com doenças e dores, alguns estão
lamentando por suas perdas, cada um tem uma cruz de um tipo ou de outro. A condição de
nenhum homem é tão tranquila, antes há sempre algum espinho de mal-estar nela. Com a
morte vem o salário do pecado e depois desses seus arautos, e varrem tudo. Agora, não

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foi o pecado que abriu as comportas da tristeza? Não é uma queixa, um suspiro ouvido no
mundo, uma lágrima que cai de nossos olhos uma evidência de que o homem caiu como
uma estrela do céu; pois “Deus na sua ira lhes reparte dores!” (Jó 21:17). Esta é uma prova
clara da corrupção da natureza; pois aqueles que embora ainda não tenham realmente
cometido pecado, têm sua parcela dessas tristezas; sim, e a sua primeira respiração no
mundo é acompanhada de choro, como se soubessem de pronto que este mundo é um
Boquim, o lugar das carpideiras. Há sepulturas pequenas e grandes no adro da igreja; nun-
ca faltou alguém no mundo, que esteja, como Raquel, chorando por seus filhos, porque
eles já não existem (Mateus 2:18).

Observe quão cedo esta corrupção da natureza começa a aparecer nos jovens. Salomão
observa que “até a criança se dará a conhecer pelas suas ações, se a sua obra é pura e
reta” (Provérbios 20:11). Isso pode em breve ser discernido pela inclinação que se encontra
no coração. Os filhos do caído Adão não seguem os passos de seu pai antes mesmo que
possam andar por conta própria? Não é grande a quantidade de orgulho, ambição, curiosi-
dade pecaminosa, vaidade, teimosia e aversão ao bem que aparece neles? E quando eles
saem da infância, há uma necessidade de usar a vara da correção, para afastar a loucura
que está ligada aos seus corações (Provérbios 22:15), o que mostra que, se a graça não
prevalecer, a criança será como Ismael: “homem feroz” (Gênesis 16:12).

Observe o surgimento grosseiro das múltiplas formas de pecado no mundo, a maldade do


homem está ainda maior na terra. Eis os frutos amargos da corrupção de nossa natureza:
“Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um
ato sanguinário segue imediatamente a outro” (Oséias 4:2). O mundo está cheio de imun-
dícia e de toda sorte de perversidade, maldade e palavrões. De onde vem o dilúvio do peca-
do sobre a terra, senão desde o rompimento das fontes do grande abismo, o coração do
homem? dos quais procedem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os
homicídios, os furtos, a avareza etc. (Marcos 7:21,22). Pode ser que você dê graças a Deus
com todo o coração, pelo fato de pensar que você não é como esses outros homens; e de-
veras, você tem mais razões para isso do que, eu temo, você é consciente, pois “como na
água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Provérbios
27:19). Assim como ao olhar para a água clara, você vê o seu próprio rosto, olhando para
o seu coração, você pode ver o dos outros homens ali; e, olhando para outros homens,
neles você pode ver a si próprio. Pois os desgraçados mais vis e profanos que estão no
mundo, devem servir-lhe como um espelho, no qual você deve discernir a corrupção de sua
própria natureza, e se você fizesse isso, seu coração realmente seria tocado e você daria
graças a Deus e não a si mesmo, pelo fato de você não ser como os outros homens em
suas vidas; visto que a corrupção natural é a mesma em você assim como neles.

Lança o teu olho sobre aquelas terríveis convulsões nas quais o mundo está entregue pelas

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concupiscências dos homens! Leões não são presas de leões, nem lobos matam lobos,
mas os homens são transformados em leões e lobos para seus semelhantes, assassinos
devorando-se uns aos outros. Quão rápidos os homens são para desembainharem suas
espadas uns contra os outros! O mundo é um deserto, onde o fogo mais claro que os ho-
mens podem trazer com eles não afugentará os animais selvagens que o habitam (e isto,
porque são homens e não animais selvagens); antes de uma forma ou outra eles serão feri-
dos. Desde que Caim derramou o sangue de Abel, a terra foi transformada em um matadou-
ro; e a perseguição continuou desde que Ninrode começou sua caça; tanto sobre a terra
como no mar, o maior ainda devora o menor. Quando vemos o mundo com uma tal eferves-
cência, cada um atacando o outro com palavras ou espadas, podemos concluir que há um
espírito maligno entre eles. Esta violência ardente entre filhos de Adão mostra que todo o
corpo está corrompido, toda a cabeça está doente, e todo o coração está fraco. Estes certa-
mente procedem de uma causa interior, “a saber, dos vossos deleites, que nos vossos
membros guerreiam?” (Tiago 4:1).

Considere a necessidade de leis humanas, resguardada por terrores e gravidade; para que
possamos aplicar o que diz o apóstolo: “a lei não é feita para o justo, mas para os injustos
e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas
e matricidas, para os homicidas” (1 Timóteo 1:9). O homem foi feito para a sociedade; e o
próprio Deus disse sobre o primeiro homem, quando Ele o havia criado, que “não é bom
que o homem esteja só” [Gênesis 2:18]; no entanto, o caso é de tal ordem que, agora, na
sociedade ele deve ser coberto com espinhos. E a partir daí podemos ver melhor a corrup-
ção da natureza do homem, consideremos: (1) Todo homem naturalmente gosta de estar
em plena liberdade para agir segundo o que bem lhe parece; de ter sua própria vontade e
sua própria lei e, se fosse para seguir as suas inclinações naturais, ele iria colocar-se fora
do alcance de todas as leis, quer Divinas quer humanas. Por isso em alguns, o poder de
cujas mãos têm respondido à sua inclinação natural, têm, de fato, feito a si mesmos sobe-
ranos e acima da lei; conformemente ao intento inicial e monstruoso dos homens, a saber,
serem como deuses (Gênesis 3:5). (2) Não há um homem que estivesse disposto a aven-
turar-se viver em uma sociedade sem lei: portanto, até mesmo os piratas e ladrões têm leis
entre si, apesar de toda a sociedade desrespeitar a lei e o direito. Assim, os homens se
descobrem como tendo consciência da corrupção natural; não se atrevendo a confiar uns
nos outros, senão quando estão assegurados. (3) Muito embora seja perigoso romper a
sebe, ainda assim a violência das concupiscências faz com que muitos se aventurem diária-
mente a correr riscos. Eles não somente vão sacrificar seu crédito e sua consciência, o qual
a última é desprezada no mundo, por um prazer de alguns momentos que são imediata-
mente sucedidos por terrores interiores, como eles vão expor-se a uma morte violenta pelas
leis do país no qual vivem. (4) As leis são muitas vezes feitas para ceder à concupiscência
dos homens. Às vezes, sociedades inteiras incorrem em tais extravagâncias, como um

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bando de prisioneiros, eles se desfazem de seus grilhões, e lançam fora seus grilhões; e
assim a voz das leis não pode ser ouvida por causa do barulho das armas. E raramente há
um tempo, no qual não há algumas pessoas tão grandes e ousadas, que as leis não se
atrevem a encarar seus desejos na face; por isso Davi disse a Joabe que havia assassinado
Abner: “Estes homens, filhos de Zeruia, são mais duros do que eu” (2 Samuel 3:39). As
concupiscências, por vezes, tornam-se muito fortes para as leis, pelo que a lei torna-se
frouxa, como o pulso de um moribundo (Habacuque 1:3-4). (5) Considere que muitas vezes
surge a necessidade de alterar leis antigas, e fazer novas, por causa do surgimento de no-
vos crimes, para os quais a natureza do homem é muito frutífera. Não haveria necessidade
de concertar a sebe, se os homens não estivessem, como bestas incontroláveis, sempre
quebrando-as. É atordoante ver o que os israelitas, que foram separados para Deus dentre
todas as nações da terra, fizeram de sua história; confusões horríveis estavam entre eles,
quando não havia rei em Israel, como você pode ver a partir do décimo oitavo ao vigésimo
primeiro capítulo de Juízes: o quão difícil era reformá-los, mesmo quando eles tinham o
melhor dos magistrados! E a rapidez com que se desviavam de novo, quando os gover-
nantes maus assumiam o poder! Não posso deixar de pensar, que um grande projeto da
história sagrada, era descortinar a corrupção da natureza do homem e a necessidade abso-
luta do Messias e de Sua graça; e que devemos, ao lê-la, nos aprimorar para este fim. Quão
cortante é a palavra que o Senhor deu para Samuel, sobre Saul: “Eis aqui o homem de
quem eu te falei. Este dominará [ou, como a palavra é, restringirá] sobre o meu povo” (1
Samuel 9:17). Oh! A corrupção da natureza do homem! O temor e o pavor do Deus do céu
não os restringem; antes eles devem ter deuses na terra para fazer isso, “para levá-los à
vergonha” (Juízes 18:7).

Considere os remanescentes da corrupção natural nos santos. Apesar da graça ter sido
infundida, ainda assim a corrupção não é totalmente expulsa; ainda que haja uma nova
criatura, contudo grande parte da velha natureza corrupta permanece; e estas lutam entre
si dentro deles, como os gêmeos no ventre de Rebeca (Gálatas 5:17). Eles encontram isto
presente com eles em todos os momentos e em todos os lugares, mesmo nos lugares mais
recônditos. Se um homem tem um vizinho problemático ele pode mudar-se; se ele tem um
servo doente, ele pode afastá-lo até que melhore; se ele possui uma má companhia, ele
pode, por vezes, sair de casa, e estar livre de ser incomodado por ela, mas se o santo for
para um deserto, ou montar a sua tenda em alguma rocha remota no mar, onde jamais pi-
sou homem, nem besta ou ave houvesse tocado, ali a sua corrupção natural estaria com
ele. Ele poderia ser como Paulo, arrebatado ao terceiro céu, e ainda assim ele voltaria com
ela (2 Coríntios 12:7). A corrupção natural lhe segue como a sombra faz com o corpo; faz
uma mancha na linha mais fina que se possa desenhar. É como a figueira na parede, que,
embora, tenha sido bem cortada, ainda assim cresceu, até que o muro foi derrubado, assim,
pois as raízes da corrupção natural estão fixadas no coração, enquanto o santo está no

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mundo, como raízes de ferro e bronze. É especialmente ativa quando ele deseja fazer o
bem (Romanos 7:21), então as aves descem sobre os cadáveres. Por isso, muitas vezes,
nos deveres sagrados, o espírito de um santo, por assim dizer, se evapora; e ele os deixa
antes que ele esteja ciente, como Mical, com uma imagem na cama em vez de um marido.
Eu não preciso permanecer por mais tempo neste assunto para provar aos piedosos a
corrupção natural que neles há, pois eles sofrem com ele; e tentar provar isto a eles é como
tomar uma vela e ir mostra-la ao sol, assim como para os ímpios, eles estão prontos a atri-
buir pilhas de defeitos aos santos tão grandes como montanhas, se não considerar a todos
como hipócritas. Mas considere estas poucas coisas sobre este assunto: “Se ao madeiro
verde fizeram isto, que se fará ao seco?” [Lucas 23:31]. Os santos não nascem santos, mas
são feitos assim pelo poder da graça regeneradora. (1) Eles têm uma nova natureza, e
ainda a velha permanece neles? Quão grande deve ser a corrupção nos outros, em quem
não há graça! (2) Os santos gemem sob isso, como que sob um fardo pesado. Ouça o
apóstolo: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Roma-
nos 7:24). Porque o homem carnal vive sossegado e tranquilo, e a corrupção natural não é
o seu fardo, ele está, portanto, livre dela? Não, não; é porque ele está morto que ele não
sente o seu peso lhe pressionando para baixo. Muitos gemidos são ouvidos da cama de
um enfermo, mas jamais algum foi ouvido de uma sepultura. No santo, como no homem
doente, há uma grande luta; a vida e a morte lutando pelo domínio, mas no homem natural,
como no cadáver, não há um só ruído, porque a morte tem pleno domínio. (3) O homem de
Deus resiste à sua velha natureza corrupta; ele se esforça para mortificá-la, no entanto, ela
permanece; ele esforça-se por matá-la de fome, e por estes meios enfraquecê-la, ainda
assim, ela está ativa. Como deve se espalhar, então, e se fortalecer naquela alma, onde
não passa fome, mas antes é alimentada! E este é o caso de todos os não-regenerados,
que “cuidam da carne em suas concupiscências” [Romanos 13:14]. Se o jardim do diligente
aguarda um novo dia de trabalho para poda e limpeza, com certeza o jardim do preguiçoso
deve necessariamente estar “todo cheio de cardos” [Provérbios 24:31].

Acrescentarei apenas mais uma observação, e esta é que, em cada homem, naturalmente,
a imagem de Adão caído se manifesta. Algumas crianças, pelas características e traços de
seu rosto, são por assim dizer, como seus pais: e, assim, nos assemelhamos aos nossos
primeiros pais. Cada um de nós carrega a imagem e impressão da queda sobre si, e para
evidenciar a verdade sobre isso, eu faço um apelo às consciências de todos, nestas seguin-
tes particularidades:

Não é a curiosidade pecaminosa natural para nós? E isso não é uma cópia da imagem de
Adão (Gênesis 3:6). Não é o homem, naturalmente, muito mais ávido para saber coisas no-
vas, do que para praticar as antigas verdades já conhecidas? Como o velho Adão, nós não
andamos nesta ânsia por novidades, e perdemos o gosto pelas sólidas doutrinas antigas?

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Nós buscamos o conhecimento mais do que a santidade, e estudamos mais para conhecer
aquelas coisas que são menos edificantes. Nossas fantasias selvagens e errantes precisam
de um freio para contê-las, ao mesmo tempo em que os afetos bons e sólidos precisam ser
vivificados e estimulados.

Se o Senhor, por Sua santa lei e sábia providência, coloca uma restrição sobre nós, para
nos resguardar de qualquer coisa, a restrição não nos afia o gume de nossas inclinações
naturais, e nos faz mais ávidos em nossos desejos? E nisto não somos claramente denun-
ciados, pela verdade de que somos filhos de Adão? (Genesis 3:2-6). Eu acho que isso não
pode ser negado, pois a observação diária evidencia que este princípio natural, que, “as
águas roubadas são doces, e o pão tomado às escondidas é agradável” (Provérbios 9:17).
Os próprios pagãos estavam convencidos de que o homem estava possuído com este
espírito de contradição, embora eles não conhecessem a raiz dele. Quantas vezes os ho-
mens se perderam naquelas coisas, das quais havendo Deus lhes posto em liberdade, eles
desejaram tê-las ligadas a si mesmos! Mas a natureza corrupta tem prazer no próprio ato
de saltar por cima da cerca. E não é uma repetição da loucura do nosso pai, o fato dos ho-
mens desejarem mais o fruto proibido, do que sacudir a árvore da boa providência para
eles, embora eles tenham permissão expressa de Deus para isto?

Qual de todos os filhos de Adão não é, naturalmente, mais disposto a ouvir a instrução que
causa o erro? E não foi essa a pedra sobre a qual nossos primeiros pais se espatifaram
(Gênesis 3:4-6)? Quão apto é o homem fraco, desde aquela época, para negociar com as
tentações! “Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso” (Jó 33:14),
mas ele prontamente ouve a Satanás. Os homens podem, muitas vezes parecer justos ex-
teriormente, como se pudessem desprezar as tentações com horror, quando elas primei-
ramente aparecem; se eles pudessem esmagá-las no broto, eles logo as dissipariam, mas,
ai de mim! Ainda que víssemos um trem em chamas vindo em nossa direção permanece-
ríamos inertes até que ele visse e nos esmagasse com a sua força.

Os olhos de nossas mentes não estão muitas vezes como que cegos? E não era esse o
caso de nossos primeiros pais (Gênesis 3:6)? O homem nunca é mais cego do que quando
ele está olhando sobre os objetos que lhe são mais agradáveis ao sentido. Uma vez que
os olhos dos nossos primeiros pais foram abertos para o fruto proibido, os olhos dos ho-
mens se tornaram as portas para a destruição de suas almas; pelos quais imaginações im-
puras e desejos pecaminosos entraram no coração, ferindo a alma, prejudicando a cons-
ciência e trazendo efeitos funestos, por vezes, a sociedades inteiras, como no caso de Acã
(Josué 7:21). O santo Jó estava ciente do perigo destes dois pequenos corpos redondos,
que podem ser arruinados por uma pequena lasca de madeira; de modo que, assim como
o rei que não ousou, com seus dez mil, sair àquele que vinha contra ele com vinte mil (Lucas

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14:31-32), e mandou pedir condições de paz, assim Jó diz: “Fiz aliança com os meus olhos”
(Jó 31:1).

Não é natural para nós cuidarmos do corpo, mesmo em detrimento da alma? Este foi um
ingrediente no pecado de nossos primeiros pais (Gênesis 3:6). Quão felizes poderíamos
ser se tivéssemos metade das dores de nossos corpos sobre as nossas almas! Se essa
pergunta: “Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” (Atos 16:30), apenas
passasse tão frequentemente em nossas mentes quanto esta: “Que comeremos, ou que
beberemos, ou com que nos vestiremos?” (Mateus 6:31), então, em muitos casos o pedido
se tornaria esperançoso. Mas a verdade é que a maioria dos homens vive como se fosse
nada mais do que um pedaço de carne; ou como se a sua alma não servisse para nenhum
outro uso, senão atuar como sal para guardar seu corpo da corrupção. “Eles são carne”
(João 3:6); Eles “são segundo a carne e inclinam-se para as coisas da carne” (Romanos
8:5); “e vivem segundo a carne” (v. 13). Se a carne obtiver consentimento para agir, o con-
sentimento da consciência raramente é esperado, por isso o corpo é muitas vezes servido
mesmo quando a consciência entra em protesto contra ele.

Não está cada um, por natureza, descontente com a sua presente sorte no mundo, ou com
alguma coisa ou outra nele? Este também foi o caso de Adão (Gênesis 3:5-6). Alguns estão
sempre querendo alguma coisa; pois o homem é uma criatura dada às mudanças. Se algu-
ma dúvida os permite olhar para todos os seus prazeres; e, após uma averiguação sobre
eles, ouvem os seus próprios corações, eles ouvirão um murmúrio secreto sobre a falta de
alguma coisa; embora, talvez, se o assunto fosse considerado corretamente, veriam que é
melhor para eles carecerem do que terem aquela coisa. Desde que no coração de nossos
primeiros pais voou por meio de seus olhos em direção ao fruto proibido, uma noite de escu-
ridão foi assim trazida para o mundo, os seus descendentes têm uma doença natural que
Salomão chama de, “vaguear da cobiça”, ou, como a palavra é: “o passeio da alma” (Eclesi-
astes 6:9). Esta é uma espécie de transe diabólico, no qual a alma percorre o mundo; ali-
menta-se com mil novas futilidades; arrebata a sua e as outras excelências criadas em sua
imaginação e desejo; vai aqui e ali, e em todos os lugares, exceto onde ela deveria ir. E a
alma nunca se cura desta doença, até a graça conquistadora a traga de volta ao seu des-
canso eterno em Deus por meio de Cristo. Entretanto até que isso aconteça, se o homem
fosse criado novamente no paraíso, o jardim do Senhor, todos os prazeres de lá não o
impediriam de cobiças, sim, e ele saltaria sobre a sebe uma segunda vez.

Não somos muito mais facilmente impressionados e influenciados por maus conselhos e
exemplos, do que por aqueles que são bons!? Veja que está foi a ruína de Adão (Gênesis
3:6). O mau exemplo, até hoje, é um dos principais ardis de Satanás para arruinar os ho-
mens. Embora tenhamos, por natureza, mais a ver com a raposa do que com o cordeiro;

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ainda assim, aquela péssima característica desta criatura pode ser observada em alguns,
a saber, que se um cordeiro pular na água, os outros que estiverem próximos logo o se-
guem, tal característica pode ser observada também na disposição dos filhos dos homens;
aos quais é muito natural aderirem a um mau caminho, porque veem os outros andando
nele. Um exemplo frequentemente possui a força de uma correnteza violenta, para levar-
nos para longe do dever claro, mas especialmente se o exemplo for dado por aqueles por
quem temos uma grande afeição; neste caso a nossa afeição cega nosso julgamento; e o
que devemos abominar em outros, é consentido com bom humor neles. Nada é mais claro
do que o fato de que os homens geralmente escolhem fazer o que a maioria faz, em vez de
fazer aquilo que deve ser feito.

Quem de todos os filhos de Adão precisa ser ensinado na arte de coser folhas de figueira,
para cobrir sua nudez (Gênesis 3:7)? Quando nós nos arruinamos, e nos tornamos nus
para nossa vergonha, nós naturalmente procuramos ajudar a nós mesmos: mui fracos
artifícios são empregados, tão tolos e insignificantes quanto as folhas de figueira de Adão.
Que dores os homens não experimentaram para cobrir seu pecado de sua própria consci-
ência, e desenhar sobre ela todas as cores justas que podem! E quando uma vez as convic-
ções são estabelecidas sobre eles, para que eles não consigam deixar de ver a sua nudez,
é muito natural para eles que tentem encobri-la por autoengano, tão naturalmente quanto
os peixes nadam na água ou pássaros voam no ar. Portanto, a primeira questão do con-
vencido é: “Que faremos?” (Atos 2:37). Como vamos nos qualificar? O que devemos reali-
zar? Não considerando que a nova criatura é a própria obra de Deus (Efésios 2:10), mais
do que Adão ponderamos e pensamos em sermos vestidos com peles de sacrifícios (Gêne-
sis 3:21).

Os filhos de Adão não seguem naturalmente os seus passos em esconder-se da presença


do Senhor? (Gênesis 3:8). Somos tão cegos nesta matéria quanto ele foi quando pensou
em esconder-se da presença de Deus, entre as árvores frondosas do jardim. Estamos muito
provavelmente nos prometendo mais segurança em um pecado secreto, do que em um que
esteja abertamente exposto. “Assim como o olho do adúltero aguarda o crepúsculo, dizen-
do: Não me verá olho nenhum” (Jó 24:15). Os homens vão livremente fazer em segredo
aquilo que teriam vergonha de fazer na presença de uma criança; como se a escuridão pu-
desse escondê-los do Deus que tudo vê. Não somos naturalmente descuidados da comu-
nhão com Deus; sim, e até mesmo avessos a ela? Nunca houve qualquer comunhão entre
Deus e os filhos de Adão, onde o próprio Senhor não teve a primeira palavra. Se Ele os
deixasse em paz estes nunca O buscariam; “escondi-me” (Isaías 57:17). Será que ele bus-
caria a Deus escondendo-se? Muito longe disso: “seguiu o caminho do seu coração”.

Quão relutantes os homens são para confessar o pecado e para tomar a culpa e a vergonha

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sobre si mesmos? Não foi assim no caso diante nós? (Gênesis 3:10). Adão confessa a sua
nudez, pois não poderia ser negada; mas não diz uma palavra a respeito de seu pecado; a
razão disso era que ele de bom grado teria escondido, se pudesse. É tão natural para nós
escondermos o pecado quanto o cometermos. Muitos exemplos tristes disto temos neste
mundo, mas uma prova muito mais clara disto será no dia do Julgamento, o dia em que
“Deus há de julgar os segredos dos homens” (Romanos 2:16). Muitas bocas sujas, serão
então vistas, embora agora estes “limpem a sua boca e digam: Não fizemos nada de mal!”
(Provérbios 30:20).

Não é natural para nós atenuarmos o nosso pecado e transferirmos a nossa culpa para
outros? Quando Deus examinou nossos primeiros pais culpados, Adão não colocou a culpa
na mulher? E a mulher não colocou a culpa sobre a serpente? (Gênesis 3:12-13). Agora os
filhos de Adão não precisam ser ensinados nesta política infernal; pois antes que possam
falar bem, se eles não podem negar o fato, eles engenhosamente dirão alguma coisa para
diminuir a culpa deles, e colocar a culpa sobre outro. Não, tão natural isto é para os homens,
que nos maiores pecados, eles colocarão a culpa sobre o próprio Deus; eles blasfemarão
de Sua santa providência sob o nome equivocado de infortúnio ou duro golpe, e, assim,
colocarão a culpa de seu pecado à porta do céu. E não foi este um dos truques de Adão
depois de sua queda? “Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me
deu da árvore, e comi” (Gênesis 3:12). Observe a ordem do discurso. Ele faz o seu pedido
de desculpas, em primeiro lugar, e em seguida, vem a confissão: o seu pedido de desculpas
é longo, mas a sua confissão muito curta; tudo é compreendido em uma palavra: “e comi”.
Quão enfático e distinto é seu pedido de desculpas, como se ele estivesse temeroso de
dizer que ele havia sido enganado! “A mulher”, diz ele, ou “aquela mulher”, como se ele ti-
vesse apontado para o Juiz de suas próprias obras, das quais lemos (Gênesis 2:22). Havia,
então, apenas uma mulher no mundo, de modo que se poderia pensar que ele não precisa-
va ter sido tão refinado e exato em apontar para ela; mas “ela” é tão cuidadosamente acen-
tuada em sua defesa, como se houvesse dez mil: “A mulher que me deste”. Aqui ele fala,
como se ele tivesse sido arruinado pelo dom de Deus. E, para fazer o dom mais sombrio,
ele é adicionou: “me deste por companheira”, como minha companheira constante, para
ficar ao meu lado como uma auxiliadora. Isso parece como se Adão tivesse insinuado um
mau desígnio sobre Senhor, dando-lhe esta dádiva. E, afinal, há uma nova demonstração
aqui, antes que a sentença seja completada; ele não diz: “A mulher me deu”, mas “a mulher,
ela me deu”, enfaticamente; como se ele se referisse diretamente a ela, ela mesma, me
deu da árvore. Isto é muito para seu pedido de desculpas. Mas sua confissão é rapidamente
feita em uma palavra, quando ele falou isso: “e comi”. Não há nada aqui a apontar para si
mesmo e tão pouco para mostrar que ele tinha comido. Quão natural é esta arte negra para
a posteridade de Adão! Aquele que corre pode lê-lo. Então, universalmente a observação
de Salomão se mantém verdadeiras: “A estultícia do homem perverterá o seu caminho, e o

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seu coração se irará contra o Senhor” (Provérbios 19:3). Vamos, então, chamar o caído
Adão de nosso pai; não neguemos a nossa relação, posto que trazemos conosco a sua
imagem.

Para encerrar este ponto, suficientemente confirmado por concordância da evidência da


Palavra do Senhor, e da nossa própria experiência e observação; sejamos convencidos a
acreditar na doutrina da corrupção de nossa natureza; e olhemos para o segundo Adão, o
bendito Jesus, para a aplicação de Seu precioso sangue, para remover a culpa do nosso
pecado; e para a eficácia do Seu Espírito Santo, para nos fazer novas criaturas; sabendo
que “aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” [João 3:3].

[Extraído do livro: Natureza Humana em seu Estado Quádruplo, por Thomas Boston]

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O Terrível Estado Dos Não-Convertidos
Por Jonathan Edwards

“Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitadamente e, trêmulo,


prostrou-se diante de Paulo e Silas. Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores,
que devo fazer para que seja salvo?” (Atos 16:29-30)

Temos aqui e no contexto um relato da conversão do carcereiro, que é uma das mais nota-
veis nas Escrituras. Ele, anteriormente, parece não apenas ter estado completamente in-
sensível às coisas da Religião, mas ter sido um perseguidor, tendo perseguido estes mes-
mos homens, Paulo e Silas, embora agora venha a eles de forma tão urgente, perguntando-
lhes o que devia fazer para ser salvo. Lemos no contexto que todos os magistrados e mul-
tidões da cidade juntaram-se a uma em um tumulto contra Paulo e Silas, arrebatando-os, e
lançando-os na prisão, encarregando o carcereiro da sua guarda. Imediatamente ele os
lançou na prisão interior, e prendeu seus pés ao tronco. E é provável que não tenha agido
assim meramente como um servo ou instrumento dos magistrados, mas que tenha se
juntado com o resto do povo na sua fúria contra os apóstolos, e que assim o fez induzido
por sua própria vontade, bem como pelas ordens dos magistrados, o que o fez executar
suas ordens com tal rigor.

Mas quando, à meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores, repentinamente hou-
ve um grande terremoto, e Deus abriu de forma tão maravilhosa as portas da prisão, e todas
as cadeias foram afrouxadas, o carcereiro ficou extremamente aterrorizado, e, em uma
espécie de desespero, estava prestes a se matar. Mas Paulo e Silas gritaram para ele: “Não
te faças mal algum, pois estamos todos aqui”. Então, pediu uma luz, e saltou dentro [ARC],
como temos o relato no texto. Podemos observar:

1. O objeto de sua preocupação. Ele está ansioso acerca de sua salvação: está aterrorizado
por sua culpa, especialmente por sua culpa no maltrato destes ministros de Cristo. Está
preocupado em escapar desse estado de culpa, o estado miserável que se encontrava de-
vido ao pecado.

2. O senso que tem do horror do seu estado atual. Isto ele manifesta de diversas maneiras:

1. Por sua grande pressa em escapar desse estado. Por seu afã em inquirir o que deve
fazer. Ele parece estar tolhido pela mais premente preocupação, sensível à sua presente
necessidade de libertação, sem qualquer adiamento. Antes, estava quieto e seguro em seu
estado natural; mas agora seus olhos foram abertos, está na mais urgente pressa. Se a

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casa estivesse em chamas sobre sua cabeça, não poderia ter sido mais diligente, ou estar
mais apressado. Se apenas tivesse andado, poderia logo ter chegado a Paulo e Silas, para
perguntar-lhes o que devia fazer. Mas estava em grande pressa para andar apenas, ou
correr, pois saltou; pulou para o lugar em que estavam. Ele fugia da ira. Fugia do fogo da
justiça Divina, e por isso apressava-se, como alguém que foge pela sua vida.

2. Pelo seu comportamento e gesto diante de Paulo e Silas. Ele se prostrou. Que tenha se
prostrado diante daqueles a quem havia perseguido, e atirado à prisão interior, e prendido
os pés ao tronco, mostra qual era o estado de sua mente. Mostra alguma grande perturba-
ção, que o alterou de tal maneira que o levou a isto. Estava, por assim dizer, despedaçado
pela perturbação de sua mente, em um senso do horror de sua condição.

3. Sua maneira urgente de inquiri-los acerca do que devia fazer para escapar desta condi-
ção miserável: “Senhores, que devo fazer para ser salvo?”. Estava tão perturbado, que foi
levado a se dispor a qualquer coisa; ter a salvação em qualquer termo, e por qualquer meio,
mesmo que difícil; foi levado, por assim dizer, a escrever uma fórmula, e entregá-la a Deus,
para que Ele prescrevesse seus próprios termos.

DOUTRINA: Os que estão em um estado natural, estão em uma condição terrível.

Isto me esforçarei para provar por uma consideração particular do estado e condição das
pessoas não regeneradas.

I. Quanto ao seu estado atual neste mundo.

II. Quanto às suas relações com o mundo futuro.

I. A condição daqueles que não são convertidos é terrível no mundo presente.

Primeiro. Devido ao estado depravado de suas naturezas. Os homens, quando vêm ao


mundo, têm naturezas terrivelmente depravadas. O homem, em seu estado primitivo, era
uma peça nobre de habilidade Divina; mas, pela Queda, está horrivelmente desfigurado. É
triste pensar que uma criatura tão excelente deva estar tão arruinada. O horror desta con-
dição, na qual se encontram os não-convertidos neste respeito, prova-se pelo seguinte:

1. O horror de sua depravação evidencia-se pelo fato de serem tão insensivelmente cegos
e ignorantes. Deus deu ao homem a faculdade da razão e do entendimento, que é uma

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nobre faculdade. Por ela, ele se diferencia de todas as outras criaturas inferiores. É exal-
tado em sua natureza acima delas, e é, neste aspecto, semelhante aos anjos, capacitado
a conhecer a Deus, e conhecer as coisas eternas e espirituais. Deus lhe deu entendimento
para este fim, para que O pudesse conhecer, e conhecer as coisas celestiais, e o fez capaz
de compreendê-las como quaisquer outras. Mas o homem degradou a si mesmo, e perdeu
sua glória neste respeito. Tornou-se ignorante da excelência de Deus à maneira das pró-
prias feras. Seu entendimento está cheio de obscuridade; sua mente está cega; está com-
pletamente cego para as coisas espirituais. Os homens são ignorantes de Deus, e igno-
rantes de Cristo, ignorantes do caminho da salvação, ignorantes de sua própria felicidade,
cegos em meio a mais brilhante e clara luz, ignorantes sob todas as formas de instrução.
Romanos 3:17: “Desconheceram o caminho da paz”. Isaías 27:11: “Não é povo de entendi-
mento”. Jeremias 4:22: “O meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e
não inteligentes”. Salmos 95:10-11: “É povo de coração transviado, não conhece os meus
caminhos. Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso”; 1 Coríntios 15:34:
“Alguns ainda não têm conhecimento de Deus; isto digo para vergonha vossa”.

Há um espírito de ateísmo prevalecendo nos corações dos homens; uma estranha disposi-
ção para duvidar da própria existência de Deus, e do outro mundo, e de qualquer coisa que
não possa ser vista com os olhos físicos. Salmos 14:1: “Diz o insensato no seu coração,
não há Deus”. Não percebem que Deus os vê, quando pecam, e os chamará a prestar
contas por isso. E, portanto, se podem esconder os pecados dos olhos dos homens, não
se preocupam, e são ousados em cometê-los. Salmos 94:7-9: “E dizem: O SENHOR não o
verá; nem para isso atentará o Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, lou-
cos, quando sereis sábios? Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho,
não verá? [ARC]”. Salmos 73:11: “E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Al-
tíssimo?”. São tão insensivelmente incrédulos das coisas futuras, do céu e do inferno, que
comumente preferem correr o risco da condenação a serem convencidos. São estupida-
mente insensíveis da importância das coisas eternas. Como é difícil levá-los à fé, e dar-lhes
real convicção de que ser feliz por toda a eternidade é melhor que todos os outros bens; e
ser miserável por toda eternidade, debaixo da ira de Deus, é pior que todo mal. Os homens
mostram-se insensíveis o suficiente nas coisas temporais, porém muito mais nas espiri-
tuais. Lucas 12:56: “Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto,
não sabeis discernir esta época?”. São muito engenhosos para o mal; mas rudes naquelas
coisas que mais os importam. Jeremias 4:22: “São sábios para o mal e não sabem fazer o
bem”. Os ímpios se mostram mais tolos e insensíveis para o que lhes é melhor, do que os
brutos. Isaías 1:3: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura;
mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende”. Jeremias 8:7: “Até a cegonha
no céu conhece as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua
arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do SENHOR”.

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2. Não há bem algum neles. Romanos 7:18: “Em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem algum”. Não há neles nenhum princípio que os disponha a qualquer coisa boa. Os
não-convertidos não têm princípio mais elevado em seus corações do que o amor-próprio.
E nisso não excedem os demônios. Estes amam a si mesmos, e sua própria felicidade, e
temem sua própria miséria. E não vão mais longe. Seriam tão religiosos quanto os melhores
dos não-convertidos, se estivessem nas mesmas circunstâncias. Seriam tão moralistas, e
orariam com o mesmo fervor a Deus, e sofreriam o mesmo tanto pela salvação, se hou-
vesse oportunidades semelhantes. E, assim como não há bom princípio nos corações dos
não-convertidos, também nunca há quaisquer bons exercícios do coração, nunca um bom
pensamento, ou mover de coração neles. Particularmente, neles não há amor por Deus.
Jamais tiveram o mínimo grau de amor pelo Ser infinitamente glorioso. Jamais tiveram o
mínimo respeito verdadeiro pelo Ser que os criou, e em cujas mãos está sua respiração, e
de quem procedem todas as suas misericórdias. Conquanto, às vezes, possam parecer fa-
zer coisas por respeito a Deus, e revestem o rosto como se O honrassem, e altamente O
estimassem, tudo não passa de hipocrisia. Mesmo que haja um exterior limpo, são como
sepulcros caiados; por dentro não há nada senão putrefação e podridão. Não têm amor por
Cristo, o glorioso Filho de Deus, que é tão digno de seu amor, e que mostrou graça tão
maravilhosa pelos pecadores ao morrer por eles. Jamais fizeram qualquer coisa por res-
peito verdadeiro ao Redentor do mundo, desde que nasceram. Jamais produziram quais-
quer frutos a esse Deus que os criou, e em quem vivem, movem-se e tem seu ser. Jamais
responderam de alguma forma ao fim para o qual foram criados. Têm, até agora, vivido
completamente em vão, e sem nenhum propósito. Jamais obedeceram com sinceridade a
um mandamento de Deus; nunca moveram um dedo motivados por um espírito verdadeiro
de obediência a Ele, que os fez para servi-lO. E quando pareceram, externamente, concor-
dar com os mandamentos de Deus, em seus corações não o fizeram. Jamais obedeceram
movidos por um espírito de sujeição a Deus, ou por qualquer disposição em obedecê-lO,
mas meramente foram levados a isso pelo medo, ou de alguma forma influenciados por
seus interesses mundanos. Jamais deram a Deus a honra de nenhum de Seus atributos.
Nunca Lhe deram a honra de Sua autoridade, obedecendo-Lhe. Jamais Lhe deram a honra
por Sua soberania, submetendo-se a Ele. Jamais Lhe deram a honra de Sua santidade e
misericórdia, amando-O. Nunca Lhe deram a honra por Sua suficiência e fidelidade, confi-
ando nEle; mas olharam para Deus como Alguém indigno de ser crido e confiado, e o tra-
taram como se fosse um mentiroso: 1 João 5:10: “Aquele que não dá crédito a Deus o faz
mentiroso”. Eles jamais agradeceram de coração a Deus por uma simples misericórdia
recebida em toda sua vida, embora Ele os tenha sustentado, e tenham vivido debaixo de
Sua liberalidade. Jamais agradeceram genuinamente a Cristo por ter vindo ao mundo, e
morrido para lhes dar a oportunidade de serem salvos. Jamais lhe mostrariam alguma grati-
dão a ponto de recebê-lO, quando bateu em suas portas; mas sempre lha fecharam, embo-
ra tenha batido sem nenhum outro propósito senão o de oferecer-Se para ser seu Salvador.

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Jamais tiveram qualquer desejo verdadeiro por Deus ou Cristo em toda a sua vida. Quando
Deus se ofereceu para ser sua porção, e Cristo, para ser o amigo de suas almas, não os
desejaram. Jamais quiseram ter Deus e Cristo como sua porção. Prefeririam, ao contrário,
estar sem eles, se pudessem evitar o inferno sem Sua companhia. Jamais tiveram um pen-
samento honroso sobre Deus. Sempre estimaram as coisas terrenas antes dEle. E, apesar
de tudo o que ouviram nos mandamentos de Deus e de Cristo, sempre preferiram um
pequeno ganho mundano ou um prazer pecaminoso a eles.

3. Os não-convertidos estão em uma condição terrível devido à horrível impiedade que há


neles.

1. O pecado possui uma natureza terrível, e isso se dá porque é cometido contra um Deus
infinitamente grande e santo. Há na natureza do homem inimizade, desprezo e rebelião
contra Deus. O pecado se levanta como um inimigo do Altíssimo. É terrível para a criatura
ser inimiga do Criador, ou ter no coração algo como uma inimizade, como ficará bem claro,
se considerarmos a diferença que há entre Deus e a criatura, e como as criaturas, com-
paradas a Ele, são como o pó da balança, como nada, menos do que nada, um vácuo. Há
um mal infinito no pecado. Se víssemos a centésima parte do mal que há no pecado, isso
nos tornaria sensíveis que aqueles que têm qualquer pecado, ainda que seja mínimo, estão
em uma condição terrível.

2. Os corações dos não-convertidos estão completamente cheios de pecado. Se tivessem


apenas um pecado neles, seria suficiente para tornar suas condições muito terríveis. Mas
têm não apenas um pecado, mas todo tipo de pecado. Há todo tipo de desejo carnal. O co-
ração é um mero poço de pecado, uma fonte de corrupção, de onde emerge todo tipo de
córregos imundos. Marcos 7:21-22: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que
procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a ava-
reza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura”. Não há um
desejo maligno no coração do Diabo, que não esteja no coração do homem. Os homens
naturais são à imagem do Diabo. A imagem de Deus é demolida, e a imagem do Diabo é
estampada nele. Deus graciosamente se agrada em restringir a impiedade dos homens,
especialmente pelo temor e respeito que têm pelos seus créditos e reputações, e pela
educação. Não fosse tais restrições, não haveria tipo de impiedade que os homens não co-
meteriam, quando lhes viessem ao encontro. A prática daquelas coisas que os homens
agora, à simples menção, prontamente ficam chocados quando ouvem o relato, seria co-
mum e geral; e a terra seria um tipo de inferno. Se não temesse, o que o homem natural
não faria? Mateus 10:17: “acautelai-vos dos homens”. Os homens têm não apenas todo
tipo de luxúria, e disposições ímpias e perversas em seus corações, mas as têm em um
grau desesperador. Não há apenas o orgulho, mas um grau fantástico dele: orgulho tal que
o dispõe a colocar-se acima até mesmo do trono do próprio Deus. Os corações dos não-

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convertidos são meras sarjetas de sensualidade. O homem se tornou como as feras ao
colocar sua felicidade nas diversões sensuais. O coração está cheio das paixões mais re-
pugnantes. Suas almas são mais vis e abomináveis que a de qualquer réptil. Se Deus abris-
se uma janela no coração, de forma que pudéssemos contemplar o seu interior, seria o
espetáculo mais repugnante que já se viu sob nossos olhos. Não há apenas malícia nos
corações dos homens naturais, mas uma fonte dela. Os homens merecem, portanto, a
linguagem aplicada a eles por Cristo em Mateus 3.7: “Raça de víboras, quem vos induziu a
fugir da ira vindoura?” e Mateus 23:33: “Serpentes, raça de víboras!”. Eles, não fosse pelo
medo e outras restrições, não apenas cometeriam toda sorte de pecado, mas a que grau,
a que distância não procederiam! O que impede um homem natural de abertamente blas-
femar contra Deus, como faz qualquer um dos demônios; sim, de destroná-lO, se fosse
possível, e não houvesse o medo e outras restrições no caminho? Sim, não aconteceria
isto com muitos dos que agora aparecem com um rosto justo, falando muito de Deus, e com
muitas pretensões de adorá-lO e servi-lO? A grande impiedade dos homens naturais apa-
rece abundantemente nos pecados que cometem, não obstante todas estas restrições.
Todo homem natural, se refletir, pode ver o suficiente para mostrar-lhe como é excessi-
vamente pecador. O pecado flui do coração com tanta constância como a água flui de uma
fonte. Jeremias 6:7: “Como o poço conserva frescas as suas águas, assim ela, a sua malí-
cia”. E esta impiedade, que abunda desta maneira nos corações, tem domínio sobre eles.
São escravos dela: Romanos 7:14: “eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do peca-
do”. Estão de tal maneira debaixo do pecado, que são conduzidos por suas luxúrias em um
curso contra suas próprias consciências, e contra seu próprio interesse. Apressam-se em
direção à própria ruína, e isso ao mesmo tempo em que suas próprias razões lhes advertem
que isto provavelmente será sua perdição. 2 Pedro 2:14: “Insaciáveis no pecado”. Devido
ao fato dos ímpios estarem de tal maneira sob o poder do pecado, o coração humano é
descrito como desesperadamente corrupto em Jeremias 17:9 e Efésios 2:1 diz: “[estáveis]
mortos nos vossos delitos e pecados”.

3. Os corações dos não-convertidos são terrivelmente endurecidos e incorrigíveis. Nada, a


não ser o poder de Deus, os moverá. Apegar-se-ão ao pecado, e continuarão nele, acon-
teça o que acontecer. Provérbios 27:22: “Ainda que pises o insensato com mão de gral en-
tre grãos pilados de cevada, não se vai dele a sua estultícia”. Não há nada que abale seus
corações, e nada que os leve à obediência: quer sejam misericórdias ou aflições, ameaças
ou chamados e convites da graça, reprovação ou paciência e longanimidade, ou conselhos
e exortações paternais. Isaías 26:10: “Ainda que se mostre favor ao perverso, nem por isso
aprende a justiça; até na terra da retidão ele comete a iniquidade e não atenta para a
majestade do SENHOR”.

Em segundo lugar: O estado relativo dos não-convertidos é terrível. Isso será evidente se
considerarmos:

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1. Seu estado relativo com respeito a Deus; e isso porque:

1. Eles estão sem Deus no mundo. Não têm interesse ou parte com Deus: Ele não é o Deus
deles. Ele próprio declarou que não o seria (Oséias 1:9). Deus e os crentes têm uma relação
pactual mútua e direito um ao outro. Eles são o Seu povo, e Ele é o Deus deles. Mas não
é o Deus pactual daqueles que estão em um estado natural. Há uma grande alienação e
estranhamento entre Deus e os ímpios: Ele não é seu pai e porção, não têm nada com que
possam questioná-lO, não têm direito a nenhum de Seus atributos. O crente pode reivin-
dicar um direito no poder de Deus, em Sua sabedoria e santidade, Sua graça e amor. Tudo
é renovado para ele, em seu benefício. Mas o não-convertido não pode reivindicar direito
algum a qualquer das perfeições de Deus. Não têm Deus para defendê-los e protegê-los
neste mundo mau: para defendê-los do pecado, de Satanás ou de qualquer mal. Não têm
Deus para guiá-los e orientá-los em quaisquer dúvidas ou dificuldades, para confortá-los e
apoiar suas mentes nas aflições. Estão sem Deus em todos as suas ocupações, em todos
os negócios que realizam, em seus assuntos familiares, e em todas os seus projetos
pessoais, nas suas preocupações exteriores e nas preocupações de suas almas.

Como poderia uma criatura ser mais miserável do que estando separada de seu Criador, e
não ter um Deus a quem possa chamar de seu? É miserável, de fato, aquele que vagueia
pelo mundo, sem um Deus para velar por si, e ser seu guia e protetor, e abençoá-lo nos
seus afazeres. A própria luz da natureza ensina que o Deus de um homem é seu tudo.
Juízes 18:24: “Os deuses que eu fiz me tomastes; que mais me resta?”. Não há senão um
Deus, e não têm direito algum a Ele. Estão sem aquele Deus, cuja vontade deve determinar
sua inteira existência, tanto aqui quanto na eternidade. Que os não-convertidos estão sem
Deus mostra que estão sujeitos a todo tipo de mal. Estão sujeito ao poder do Diabo, ao
poder de todo tipo de tentação, pois não têm Deus para protegê-los. Estão sujeitos a ser
seduzidos e enganados pelas opiniões errôneas, e a abraçarem doutrinas condenadas.
Não é possível enganar os santos desta maneira. Mas os não-convertidos podem ser
enganados. Podem tornar-se papistas, ou pagãos ou ateus. Nada que tenham pode livrá-
los disso. Estão sujeitos a ser entregues à dureza judicial de Deus no coração. Eles a mere-
cem, e, uma vez que Deus não é o seu Deus, não têm certeza se não lhes aplicará esse
terrível julgamento. Como estão sem Deus no mundo, estão sujeitos a cometer todo tipo de
pecado, e, até mesmo, o pecado imperdoável. Não podem ter certeza se não vão cometê-
lo. Estão sujeitos a construir uma falsa esperança do Céu, e, com essa esperança, irem ao
inferno. Estão sujeitos a morrer insensíveis e estúpidos, como muitos morrem. Estão
sujeitos a morrer da mesma maneira que morreram Judas e Saul, sem temor do inferno.
Não estão seguros disso. Estão sujeitos a todo tipo de engano, uma vez que estão sem
Deus. Não podem dizer o que poderá lhes suceder, nem quando estão seguros de qualquer
coisa. Não estão seguros nem por um momento. Dez mil enganos fatais podem recair sobre
eles, e torná-los miseráveis para sempre.

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Os que têm Deus por seu Deus estão livres de tais males. Não é possível que recaiam so-
bre eles. Deus é seu Deus pactual, e têm sua promessa fiel de ser seu refúgio. Mas quantos
enganos há que não possam recair sobre os não-convertidos? Quaisquer esperanças que
tiverem poderão ser desapontadas. Qualquer perspectiva ingênua que possa aparente-
mente haver de sua conversão e salvação, pode desvanecer. Podem fazer grandes pro-
gressos em direção ao reino de Deus, e, ainda assim, falhar no final. Podem parecer estar
em um estado deveras esperançoso de serem convertidos, e, ainda assim, jamais o serem.
Um homem natural não tem segurança alguma. Não está seguro de bem nenhum, nem de
escapar de qualquer mal. É, portanto, terrível a condição na qual se encontra o não-
convertido. Os que estão no seu estado natural estão perdidos. Desviaram-se de Deus, e
são como ovelhas perdidas, que se desviaram do seu pastor. São pobres criaturas desam-
paradas, em um deserto cheio de uivos, sem pastor para protegê-las ou guiá-las. Estão
desolados, e expostos a inúmeros enganos fatais.

2. Estão não apenas sem Deus, mas a Sua ira permanece sobre eles, João 3.36: “O que,
todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira
de Deus”. Não há paz entre Deus e eles, mas Deus está irado com eles, diariamente. Não
está apenas irado, mas o está num grau terrível. Há um fogo aceso na ira de Deus: ela está
em chamas. A ira permanece sobre eles, que, se fosse ela executada, os lançaria no mais
profundo inferno, e os tornaria miseráveis por toda eternidade. Provocaram o Santo de
Israel à ira. Deus sempre esteve irado com eles, desde que começaram a pecar: tem sido
provocado diariamente, e mais e mais, a cada hora. A chama de sua ira está continuamente
ardendo. Provocaram a Deus mais do que muitos no inferno, e com maior frequência. Aon-
de quer que vão, convivem com a terrível ira de Deus sobre si. Comem, bebem e dormem
debaixo de Sua ira. Como é terrível, portanto, a condição em que estão! É muito triste para
a criatura ter a ira do seu Criador sobre si. Essa ira de Deus é algo infinitamente terrível. A
ira de um rei é como o rugido de um leão; mas o que é a ira de um rei, que não é senão um
verme do pó, comparada à ira do Deus infinitamente grande e terrível? Como é horrível
estar debaixo da ira do Ser Primeiro, o Ser dos seres, o grande Criador e poderoso dono
dos céus e da terra! Como é terrível para uma pessoa estar debaixo da ira de Deus, que
lhe deu a existência, e em quem se move e existe, que é onipresente e sem o qual ela não
pode dar um passo, nem um suspiro! Os não-convertidos, além de estarem debaixo de ira,
estão debaixo de maldição. A ira e a maldição de Deus estão continuamente sobre eles.
Não podem ter um conforto razoável, portanto, em qualquer de suas diversões, pois nada
sabem, senão que elas lhes são dadas em ira, e serão amaldiçoados por elas, e não aben-
çoados. Como é dito em Jó 18.15: “Espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação”. Como
podem, então, ter algum conforto em suas refeições, ou posses, quando nada sabem senão
que isso lhes é dado para prepará-los para a execução?

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II. O estado relativo deles se mostrará terrível, se considerarmos como estão relacionados
ao Diabo.

1. Os que estão em um estado natural são filhos do Diabo. Assim como os santos são filhos
de Deus, os ímpios são filhos do Diabo: 1 João 3:10: “Nisto são manifestos os filhos de
Deus e os filhos do Diabo”. Mateus 13:38-39: “o campo é o mundo; a boa semente são os
filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o Diabo”. João
8:44: “Vós sois do Diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos”. São, por
assim dizer, descendência do Diabo; procedem dele: 1 João 3:8: “Aquele que pratica o pe-
cado procede do Diabo”. Assim como Adão gerou um filho à sua semelhança, os ímpios
são à imagem e semelhança do Diabo. Eles reconhecem esta relação, e se consideram
filhos do Diabo, consentindo que ele seja seu pai. Sujeitam-se a ele, ouvem os seus con-
selhos, como os filhos ouvem os conselhos de um pai. Ele os ensina a imitá-lo, e a fazer
como ele faz, assim como as crianças aprendem a imitar seus pais. João 8:38: “Eu falo das
coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai”. Como é terrí-
vel este estado! Como é horrível ser um filho do Diabo, o espírito das trevas, o príncipe do
inferno, esse ímpio, maligno e cruel espírito! Ter alguma relação com ele é mui terrível. Se-
ria considerado algo medonho e assustador o mero encontro com o Diabo, aparecendo ele
em uma forma visível para alguém. Como é terrível, então, ser seu filho; como é assustador
para qualquer pessoa ter o Diabo por seu pai!

2. Eles são cativos e servos do Diabo. O homem, antes da queda, estava em um estado de
liberdade; mas, agora, caiu nas mãos de satanás. O Diabo foi vitorioso, e o tomou cativo.
Os homens naturais estão em posse de satanás, e estão sob seu domínio. São conduzidos
por ele em sujeição à sua vontade, para seguirem suas instruções, e fazerem o que ele or-
dena, 2 Timóteo 2:16: “Tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade”. O
Diabo governa sobre os ímpios. São todos seus escravos, e o servem com trabalhos força-
dos. Isto mostra que sua condição é terrível. Os homens consideram um estado de vida
infeliz ser um escravo; e, especialmente, ser escravo de um senhor mau, de alguém que
seja duro, implacável e cruel. Quão miseráveis consideramos aqueles que caíram nas mãos
dos turcos, ou outras nações bárbaras semelhantes, sendo destinados à mais baixa e cruel
escravidão, e tratados pior do que o gado! Mas o que é ser tomado cativo pelo Diabo, o
príncipe do inferno, e ser escravo dele? Não seria melhor ser escravo de qualquer um na
terra a ser seu escravo? O Diabo é, de todos os senhores, o mais cruel, e trata os seus
servos da pior maneira. Coloca-os na realização dos mais vis serviços, os mais desonrosos
no mundo. Nada é mais desonroso que a prática do pecado. O Diabo põe seus servos para
realizarem obras que os degrada abaixo da dignidade da natureza humana. Devem tornar-
se semelhantes às feras para fazer esse serviço e servir às suas concupiscências imundas.
E, além da vileza do trabalho, é um trabalho árduo. O Diabo os escraviza às custas de sua

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própria paz de consciência, e, com frequência, às custas de suas reputações, de suas pos-
ses, e encurtando seus dias. O Diabo é um senhor cruel, pois o serviço a que submete seus
escravos os destrói. Ele os põe em trabalhos forçados, dia e noite, para trabalharem em
suas próprias ruínas. Jamais pretende lhes recompensar por suas lidas, mas estas servem
para edificar sua destruição eterna. Serve para acumular combustível e chamas de fogo
para eles mesmos serem atormentados por toda a eternidade.

3. A alma de um não-convertido é a habitação do Diabo. Ele é não apenas pai deles, e seu
chefe, mas habita neles. É terrível para um homem ter o Diabo nas cercanias, visitando-o
com frequência. Mas é ainda mais terrível tê-lo habitando com um homem, e aceitar sua
habitação; e é ainda terrível tê-lo consigo, habitando no coração. Mas é isto que ocorre com
o não-convertido. Ele tem o Diabo habitando no seu coração. Assim como a alma de um
justo é a habitação do Espírito de Deus, a alma de um ímpio é a habitação de espíritos
imundos. Assim como a alma de um justo é o templo de Deus, a alma do ímpio é a sinagoga
de Satanás. Ela é chamada na Escritura de casa de Satanás, e palácio de Satanás, Mateus
12:27: “Ou como pode alguém entrar na casa do valente”, querendo dizer, o Diabo. E Lucas
11:21: “Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança
todos os seus bens”. Satanás não apenas vive, mas reina, no coração do ímpio. Não ape-
nas fez sua morada lá, mas estabeleceu seu trono. O coração de um ímpio é lugar de en-
contro do Diabo. As portas do seu coração estão abertas aos demônios. Têm livre acesso
a ele, embora esteja fechado para Deus e Jesus Cristo. Há muitos demônios, sem dúvidas,
que se relacionam com um ímpio, e seu coração é lugar de encontro deles. A alma de um
ímpio é, como se diz da Babilônia, a habitação dos demônios, e a casa de todo espírito
imundo, e um ninho de toda ave imunda e odiosa. Assim, terrível é a condição de um ho-
mem natural por causa da relação em que ele está com o Diabo.

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Um Verdadeiro Mapa Do Estado
Miserável Do Homem Por Natureza
Por Christopher Love

Eu vos mostrarei as oito características particulares de um homem sem Cristo.

1. Todo homem sem Cristo é um homem vil;


2. Ele é um escravo;
3. Ele é um homem miserável;
4. Ele é um homem cego;
5. Ele é um homem deformado;
6. Ele é um homem desconsolado;
7. Ele é um homem morto; e
8. Ele é um homem condenado;

Estas são as oito características de um homem sem Jesus Cristo. Primeiro, todo homem
sem Jesus Cristo é um homem vil. Embora você seja nascido de sangue de nobres, e em-
bora você seja da descendência de príncipes, ainda assim, se você não tem o sangue real
de Cristo correndo em suas veias, você é um homem vil.

Em Daniel 11:21 e Salmos 15:4, vocês leem sobre pessoas vis. Assim é todo o homem sem
Cristo, e ele deve ser assim, por que é somente Cristo quem pode retirar esta vileza na qual
cada um está por natureza. Em Isaías 43:4, Deus diz: “isto que foste precioso aos meus
olhos, também foste honrado”. E, em 1 Pedro 2:7: “E assim para vós, os que credes” Cristo
é “precioso”. É Jesus Cristo quem coloca um diamante de honrosa glória sobre os homens.
Todos os que estão fora de Jesus Cristo são homens vis, e isto nestes três aspectos:

1 - Eles vêm de uma origem vil;


2 - Eles comentem ações vis; e
3 - Eles aspiram por finalidades vis.

Todo homem que está fora de Cristo vem de uma origem vil. Ele não tem sua origem no
Espírito, mas na carne. Ele não procede de Deus, que é o Pai das luzes, mas do Diabo,
que é o príncipe das trevas.

Ele é vil porque ele comete ações vis. Todas as ações e serviços de um homem sem Cristo,
no máximo, são apenas como trapos imundos e obras mortas. Um homem, em seu estado

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não-convertido é o escravo e servo do Diabo, um obreiro da iniquidade, ainda executando
os desejos da carne e da mente, sendo entregue a vis afeições.

É um homem vil, aquele que está sem Cristo, porque deseja finalidades vis em tudo o que
faz, e isto de duas formas: (1) Neste mundo, ele anseia por finalidades vis em seu ouvir,
ler, orar, e profissão de fé. Ele se importa consigo mesmo e seus próprios fins em tudo o
que faz. (2) Todas as suas ações tendem a fins vis no mundo vindouro. Como as ações do
homem em Cristo tendem à salvação, assim as ações do homem sem Cristo tendem à
condenação.

Segundo, um homem sem Cristo não é somente um homem vil, mas um escravo. Isto Cristo
nos diz em João 8:36: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres,” indican-
do que se tu não tens um interesse em Cristo para livrar-te da escravidão do pecado e de
Satanás, tu ainda és escravo. Estas servidão e escravidão, de igual modo, consistem em
três particularidades: 1. Eles são escravos do pecado; 2. Do Diabo, e 3. Da Lei.

1. Todo homem sem Cristo é um escravo do pecado. Em João 8:34, Jesus diz: “Em verda-
de, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado”, e em 2
Pedro 2:19: “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque
de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo”. Todo homem, por natureza, é um
servo de suas luxúrias, um escravo do pecado, e das criaturas. Deus fez o homem acima
de todas as criaturas, mas o homem fez-se servo de todas as criaturas.

2. Ele não está somente em servidão e escravidão do pecado, mas também do Diabo. Os
últimos dois versículos de 2 Timóteo 2:25-26 dizem: “Instruindo com mansidão os que resis-
tem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e
tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão
presos”.

3. Ele está em escravidão da Lei, ou seja, ele não faz nada em obediência à Lei; e esta é a
grande miséria de um homem sem Cristo. Ele é limitado a guardar toda a Lei de Deus. Há
uma expressão bem singular em Apocalipse 18:10-13. São João diz que todos aqueles que
adoraram a besta clamarão: Ai! ai daquela grande cidade de Babilônia [caiu], E sobre ela
choram e lamentam, corpos e almas de homens. Todos os homens ímpios são escravos
do anticristo, do pecado e da Lei, e esta é a grande miséria de um homem não-regenerado.

Terceiro, sem Jesus Cristo, você não é somente um homem vil e um escravo, mas um ho-
mem miserável também, pois todas as riquezas da graça e misericórdia estão escondidas
e seladas em Cristo como em uma loja comum ou celeiro. Colossenses 2:3: “Em quem

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estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Se você está fora de Cristo,
você não tem nada. Como está escrito em Apocalipse 3:17: “Como dizes: Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e po-
bre, e cego, e nu”. Você admitirá que é um pobre e miserável o homem que carece destas
quatro coisas: carne para a sua barriga, roupas para as suas costas, dinheiro para a sua
bolsa, e uma casa para descansar sua cabeça. Ora, em todos estes aspectos, cada homem
que está fora de Cristo é um homem miserável.

1. Um homem miserável é alguém que não tem alimento para pôr em seu ventre, e todos
vocês que não têm interesse em Jesus Cristo são miseráveis neste aspecto, porque vocês
não se alimentam do Pão da Vida, nem bebem da Água da Vida, o Senhor Jesus Cristo, A-
quele cuja carne é de fato alimento, e cujo sangue é de fato bebida, sem o que as suas
almas morrerão de fome.

2. Você dirá que é um pobre homem, aquele que não tem roupas para pôr sobre suas
costas. Assim, todo homem sem Cristo, não é apenas pobre, mas nu. Apocalipse 3:17: “e
não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. Este homem que
não está vestido com as longas vestes da justiça de Cristo é um homem nu, e é exposto à
ira e vingança do Deus todo-poderoso. Aqueles que são vestidos com as vestes da justiça
de Cristo são homens que têm um manto para cobrir a sua nudez e vergonha. É dito de
Jacó que ele obteve a bênção de seu pai por estar vestido com as roupas de seu irmão
mais velho, e assim nós apenas somos abençoados por Deus nosso Pai, porquanto nós
somos vestidos com as vestes de nosso irmão mais velho, Jesus Cristo.

3. O homem que não tem dinheiro em sua bolsa é um homem miserável. Assim, embora
as suas bolsas estejam cheias de ouro, se os seus corações não estiverem cheios de graça,
vocês são homens mui miseráveis, Lucas 16:11. A graça é a única riqueza verdadeira. To-
das as riquezas duráveis são vinculadas a Cristo.

4. E finalmente, é um homem miserável aquele que não tem uma casa para reclinar a cabe-
ça, que é destituído de um lar para alojar-se e uma cama para repousar. Assim, você que
não tem interesse em Cristo, quando os seus dias são expirados e a morte vem, você não
sabe o que fazer nem para onde ir. Você não pode dizer como o homem piedoso que quan-
do a morte o tirar daqui, que você será recebido nas habitações eternas. Você não pode
dizer que Cristo partiu antes para preparar um lugar para você no Céu. Assim, então, nestas
quatro particularidades, vocês veem que o homem sem Cristo é um homem mui miserável,
não tendo nem alimento para o seu corpo, nem roupas para as suas costas, nem dinheiro
para a sua bolsa, nem uma casa para reclinar sua cabeça, a menos que esta seja um cala-
bouço das trevas com demônios e espíritos condenados.

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Quarto, outra característica do homem sem Cristo é que ele é um homem cego. Apocalipse
3:17: “e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. Por causa
disso os homens ímpios, durante a sua não-regeneração, são chamados “trevas”. Efésios
5:8: “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da
luz”. Assim, a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque
as suas obras eram más.

Jesus Cristo é para a alma o que o sol é para a terra. Retire o sol da terra, e não é nada,
senão um calabouço das trevas. Assim, retire Cristo da alma, e esta não é nada, senão um
calabouço do Diabo. Embora haja um Cristo no mundo, se o coração está fechado e Jesus
Cristo não está em você, você está no estado de trevas e cegueira.

Quinto, todo homem sem Cristo é um homem deformado, como você pode ler em Ezequiel
16:3-14: “E dize: Assim diz o Senhor DEUS a Jerusalém: A tua origem e o teu nascimento
procedem da terra dos cananeus. Teu pai era amorreu, e tua mãe hetéia”; no versículo 6:
“E, passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue, e disse-te: Ainda que estejas
no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive”. Quando uma po-
bre criança repousa banhada em seu sangue, não enfaixada, não lavada, não cuidada, que
triste condição em que está? E, assim estava você, diz Deus. Mas, depois, leia o versículo
7: “Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo, e cresceste, e te engrandeceste, e che-
gaste à grande formosura”. Depois o que está no versículo 14: “E correu de ti a tua fama
entre os gentios, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da minha glória
que eu pusera em ti, diz o Senhor DEUS”, indicando que, antes de Cristo olhar sobre uma
alma, ela repousa banhada em seu próprio sangue e incapaz de ajudar a si mesma, mas
quando alguém vem graciosamente através de Cristo, formosura é lançada sobre ele. Se
você carece de Cristo, você carece de seu melhor ornamento.

Sexto, outra característica de um homem sem Cristo é que ele é um homem desconsolado.
Cristo é a única nascente de consolo e a fonte de todo júbilo e consolação. Retire Cristo da
alma, e isto é como se você retirasse o sol do firmamento. Se um homem tem todas as bên-
çãos no mundo, e carece de Cristo, ele carece daquilo que poderia adoçar todos os res-
tantes de seus desconfortos. Em Êxodo 15:23-25, você lê sobre as águas de Mara. Elas
eram tão amargas que ninguém poderia bebê-las, mas quando o Senhor mostrou a Moisés
uma árvore a qual, quando ele lançou sobre as águas, as tornou em água doce. Ora, Jesus
Cristo é esta árvore. Ele adoça a amargura de qualquer aflição exterior e Ele pode fazer to-
dos os seus sofrimentos fugirem para longe. Não há nada no mundo que adoce os consolos
e nos dê alegria na posse das coisas desde mundo mais do que ter um interesse em Jesus
Cristo.

Não é nada, amados, ter muito da criatura em nossa casa, mas ter a Cristo em nossos cora-

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ções é o que faz você viver confortavelmente. Todo o pão que você come será pão de a-
margura se você não se alimentar do corpo de Jesus Cristo; e tudo o que você beber será
apenas vinho de assombro de você não beber do sangue de Jesus Cristo. Sem um inte-
resse em Cristo, todos os seus confortos são apenas cruzes; e todas as suas misericórdias
são apenas misérias, como em Jó 20:22: “Sendo plena a sua abastança, estará angustiado;
toda a força da miséria virá sobre ele”. Embora você tenha abundância de coisas desta
vida, embora você tenha mais do que o suficiente, ainda se você não tem um interesse em
Cristo, você não tem nada.

Sétimo, outra propriedade de um homem fora de Cristo é que ele é um homem morto. Você
conhece a notória passagem em 1 João 5:12: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem
o Filho de Deus não tem a vida”. Por isso nós lemos em Efésios 2:1 que os homens não-
regenerados estão mortos em delitos e pecados, e a razão é que Cristo é a vida do crente.
Colossenses 3:3: “e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. Retire Cristo de um
homem e você retira a sua vida, e retire a vida de um homem e ele é uma massa de carne
morta. Homens não-regenerados são estranhos à vida de piedade e, portanto, devem estar
mortos em seus pecados. Embora eles não se agradem da vida de um homem, ainda se a
vida que ele vive não é pela fé no Filho de Deus, ele está espiritualmente morto. Por exem-
plo, você sabe que um homem morto não sente nada. Faça o que quiser com ele, que ele
não sente isto. Assim um homem que é espiritualmente morto não sente o peso de seus
pecados, embora eles sejam um fardo pesado pressionando-o para dentro do abismo do
inferno. Ele é um estranho à vida de piedade, havendo perdido a sensibilidade, entregou-se
a um senso de reprovação, assim ele não sente o peso e fardo de todos os seus pecados.

Um homem morto tem um título de nada aqui nesta vida. Embora ele fosse muito rico, ainda
ele perderia este título por fim, e suas riquezas passariam dele para outro. Assim, sendo
morto espiritualmente, você não pode exigir nada, nem a graça, nem misericórdia, ou felici-
dade por Jesus Cristo. Um homem morto ainda está apodrecendo e voltando ao pó de onde
veio; e assim, um homem que é morto espiritualmente cai de iniquidade em iniquidade, e
de um pecado para outro, até que no fim, cai no fogo do inferno.

Oito, a última característica de um homem sem Cristo é que ele é um homem condenado.
Se ele vive e morre sem Cristo, ele é um homem condenado. Assim diz João 3:18, aquele
que não crê, já está condenado. Ele é certamente condenado como se ele já estivesse no
inferno. Aquele que está sem Jesus Cristo deve seguir sem céu, pois o céu e glória e felici-
dade estão vinculados a Ele. O céu não é dado a ninguém, senão àqueles que são herdei-
ros juntamente com Cristo, e portanto, você que está sem Cristo deve estar sem o céu, e
consequentemente sem felicidade e salvação, e desta forma, você deve ser condenado.

Assim vocês veem, nestas oito características particulares em que triste e miserável condi-

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ção está todo homem sem Cristo, e oh, que o que tem sido agora anunciado a respeito da
desventura de um homem sem Cristo possa provocar cada alma dentre vocês para um en-
tusiasmo e sinceridade de espírito sobre todas as suas buscas, para que se empenhem em
obter a Jesus Cristo.

[Este sermão foi editado por Don Kistler. O resumo é reimpresso de Sola Scriptura, uma loja formalmente
publicada pela Soli Deo Gloria Ministries, com permissão do editor. Para informações adicionais sobre este e
outros livros Puritanos, entre em contato com Don Kistler em: Soli Deo Gloria P.O. Box 451 Morgan, PA 15064
(412) 221-1901/ Fax (412) 221-1902]

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Homens Em Seu Estado Caído
Por John Newton

Ouvimos falar muito nos dias de hoje sobre a dignidade da natureza humana. É bem verda-
de que o homem era uma excelente criatura quando ele saiu das mãos de Deus; mas se
considerarmos esta questão, tendo em vista o homem caído, como depravado pelo pecado,
como podemos nos juntar com o salmista, em nos admirarmos que o grande Deus possa
lembrar-se dele?

Caído como o homem está de seu estado de original felicidade e santidade, suas faculdades
e habilidades naturais constituem prova suficiente de que a mão que o fez é Divina. Ele é
capaz de grandes coisas. Sua compreensão, vontade, afeições, imaginação e memória são
faculdades nobres e surpreendentes. Mas ao vê-lo sob uma luz moral, como um ser inteli-
gente, incessantemente dependente de Deus, responsável diante dEle, e designado por
Ele para um estado de existência em um mundo imutável; considerando esta relação, o ho-
mem é um monstro, uma criatura vil, baixa, estúpida, obstinada e maliciosa; não há palavras
para descrevê-lo por completo. O homem, com toda sua inteligência e realizações alardea-
das, é um tolo; enquanto ele está destituído da graça salvadora de Deus, a sua conduta,
como a suas preocupações mais importantes, são as mais absurdas e inconsistentes, en-
tão, que idiota mais cruel; com relação às suas afeições e objetivos, ele se degrada muito
abaixo das bestas; e pela malignidade e maldade de sua vontade, não pode ser comparado
a nada tão adequadamente quanto com o diabo.

A questão aqui não é sobre este ou aquele homem, um Nero ou um Heliogábalo 1, mas
sobre a natureza humana, toda a raça humana, com exceção dos poucos que nascem de
Deus. Há de fato uma diferença entre os homens, mas é devida às restrições da Divina pro-
vidência, sem a qual a terra seria a própria imagem do inferno. Um lobo ou um leão, en-
quanto acorrentados, não podem fazer muito mal, como se fossem soltos, mas a natureza
é a mesma em toda a espécie.

A educação e a preocupação, o medo e a vergonha, as leis humanas, o poder secreto de


Deus sobre a mente, se combinam para formar muitas personalidades que são externa-
mente decentes e respeitáveis; e até mesmo os mais perdidos estão sob uma restrição que
os impede de manifestar uma milésima parte da maldade que está em seus corações. Mas

__________
[1] Heliogábalo (Emesa, na Síria, c. 203 — Roma, 11 de março 222) foi um imperador romano. Ao tornar-se
imperador tomou o nome de Marcus Aurelius Antoninus Augustus, e só ficou conhecido como Heliogábalo
muito tempo depois de sua morte. Seu reinado foi marcado pela polêmica, idolatria e depravação sexual.

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o próprio coração é universalmente enganoso e desesperadamente corrupto.

O homem é um tolo. Ele pode realmente medir a terra e quase contar as estrelas; ele é rico
em artes e invenções da ciência e da política; e deverá então ele ser chamado de tolo? Os
pagãos antigos, os habitantes do Egito, Grécia e Roma, foram eminentes neste tipo de sa-
bedoria. Eles são até hoje estudados como modelos por aqueles que visam a excelência
em história, poesia, pintura, arquitetura e outros esforços do gênio humano, que são ade-
quados para polir as maneiras, sem melhorar o coração. Mas os seus filósofos mais admira-
dos, os legisladores, os lógicos, oradores e artistas eram tão destituídos como loucos ou
crianças daquele único conhecimento que merece o nome de verdadeira sabedoria. Dizen-
do-se sábios tornaram-se loucos (Romanos 1:22). Ignorantes a respeito de Deus, mas
conscientes de sua própria fraqueza e da sua dependência de um poder acima dos seus
próprios, e estimulados por um princípio interior de medo, do qual não conheciam nem a
origem nem a aplicação correta, eles adoraram a criatura em vez do Criador, sim, colocaram
a sua confiança em madeira e pedras, nas obras das mãos dos homens, em vaidades e
quimeras. Uma familiaridade com a sua mitologia, ou fábulas religiosas se passa conosco,
por um ramo considerável de aprendizagem, porque ele é desenhado a partir de livros anti-
gos, escritos em línguas não conhecidas pelo vulgo; mas no ponto de certeza da verdade,
podemos receber tanta satisfação de uma coleção de sonhos quanto a partir de dos delírios
de lunáticos. Se, portanto, admitimos estes sábios admirando-os como uns espécimes tole-
ráveis de humanidade, não devemos confessar que o homem, em sua melhor condição,
porém estando inteiramente sem a instrução do Espírito de Deus, é um tolo? Mas será que
somos mais sábios do que eles? Nem um pouco, até que a graça de Deus nos faça assim.
Nossas vantagens superiores mostram apenas a nossa loucura de uma forma mais mar-
cante. Por que todas as pessoas são contadas como tolos? Um tolo não tem bom senso;
ele é regido totalmente pelas aparências, e prefere um casaco fino em relação às escrituras
de uma grande propriedade. Ele não considera as consequências. Tolos às vezes ferem ou
matam os seus melhores amigos, e pensam não terem feito mal nenhum. Um tolo não pode
raciocinar, pois os argumentos são inúteis para ele. Ao mesmo tempo, se amarrado com
uma palha, ele não ousa se mexer; em outro momento, talvez, ele dificilmente seja persua-
dido a se mover, embora a casa estivesse pegando fogo. São estas as características de
um tolo? Então, não há tolo como o pecador, que prefere os brinquedos da terra à felicidade
do Céu, que é mantido em cativeiro pelos costumes do mundo, e tem mais medo das amea-
ças do homem, do que da ira de Deus.

Mais uma vez, o homem em seu estado natural é uma besta, sim inferior aos animais que
perecem. Em duas coisas ele se assemelha fortemente aos animais: em olhar para nada
mais elevado do que a gratificação sensual, e o espírito de egoísmo o leva a considera a si
mesmo e ao seu interesse próprio como seu adequado e mais alto fim; entretanto em muitos

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aspectos, ele afunda, infelizmente, abaixo deles. As paixões não naturais e a falta de afei-
ção natural para com os seus descendentes são abominações não encontradas entre a
criação irracional. Que diremos das mães destruindo seus filhos com suas próprias mãos,
ou do ato horrível de suicídio!? Semelhantemente, homens são piores do que animais em
sua obstinação; eles não tomarão advertência. Se um animal foge de uma armadilha ele
será cauteloso para não se aproximar dela novamente, e em vão se estende a rede à vista
de qualquer ave, porém o homem, embora seja muitas vezes repreendido, endurece a cer-
viz e corre em direção à sua própria ruína com os olhos abertos, e pode desafiar a Deus
em sua face e expor-se à condenação.

Mais uma vez, vamos observar como o homem se assemelha ao Diabo. Há pecados espi-
rituais e estes, em sua proeminência, a Escritura nos ensina a julgar o caráter de Satanás.
Cada característica nesta descrição é um forte traço no homem; por isso, então o que o
Senhor disse aos judeus é de aplicação geral: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis
satisfazer os desejos de vosso pai” [João 8:44]. O homem se assemelha a Satanás em or-
gulho; esta criatura fraca e estúpida valoriza-se quanto à sua sabedoria, poder e virtude, e
falará sobre ser salvo por suas boas obras; mas se ele pode, o próprio Satanás não precisa
se desesperar. Ele se assemelha a ele em malícia, e desta disposição diabólica muitas
vezes procede o assassinato, e isto aconteceria diariamente se o Senhor não o restringisse.
Ele deriva de Satanás, o espírito de ódio e inveja. Ele é frequentemente atormentado além
do que se pode expressar por contemplar a prosperidade de seus vizinhos; e proporcional-
mente satisfeito com suas calamidades, embora ele não obtenha nenhuma outra vantagem
com isso além da gratificação deste princípio rancoroso. Ele expressa a imagem de Satanás
em sua crueldade. Esse mal está ligado, até mesmo ao coração de uma criança. A disposi-
ção para ter o prazer de provocar dor nos os outros aparece muito cedo. Crianças, se deixa-
das a si mesmas, desde cedo sentem prazer em torturar insetos e animais. Que miséria é
que a crueldade gratuita de homens inflige a galos, cães, touros, ursos e outras criaturas,
a ponto de aparentarem não terem sido formados para nenhum outro fim senão para delei-
tarem os seus espíritos selvagens com seus tormentos! Se formamos nosso julgamento
dos homens quando eles parecem mais satisfeitos, e não tendo nem raiva nem ressenti-
mento para pleitear sua desculpa, é demasiado evidente, mesmo na natureza de suas
diversões, quem eles são e a quem servem; e eles são os piores inimigos uns dos outros.
Pense nos horrores da guerra, na ira dos de duelistas, nos morticínios e assassinatos com
que o mundo está cheio, e então diga: “Senhor, que é o homem?” [Salmo 144:3]. Além dis-
so, se o engano e a traição pertencem ao caráter de Satanás, então certamente o homem
se assemelha ele. Não é a observação universal, e queixa de todas as eras, um comentário
feito a respeito das palavras do profeta: “Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia;
daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca, pois cada um caça a seu
irmão com a rede” [Miquéias 7:5, 2]. Quantos neste momento têm motivos para dizer com

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Davi: “As palavras da sua boca eram mais macias do que a manteiga, mas havia guerra no
seu coração: as suas palavras eram mais brandas do que o azeite; contudo, eram espadas
desembainhadas” [Salmos 55:21]. Mais uma vez, como Satanás, os homens estão ansio-
sos em tentar outros a pecar; não contentes em condenar a si mesmos, eles empregam to-
das as suas artimanhas e influência para seduzir tantos quantos eles possam a lhes segui-
rem para a mesma destruição. Por fim, na oposição direta a Deus e à bondade, na inimizade
e desprezo ao Evangelho de Sua graça, e em um espírito de perseguição e amarga para
com aqueles que o professam, o próprio Satanás dificilmente pode excedê-los. Aqui, na
verdade, eles são seus agentes e servos voluntários; e porque o próprio Deus bendito está
fora de seu alcance, eles trabalham para mostrar o seu despeito por Ele na pessoa de Seu
povo.

Eu desenharei mais alguns contornos da imagem do homem caído, pois oferecer uma cópia
exata dele, que possuísse cada aspecto do seu pleno agravamento de horror, e pintá-lo
como ele é, seria impossível. Muito já foi observado para ilustrar a propriedade da exclama-
ção: “Senhor, que é o homem?”, talvez alguns dos meus leitores possam negar ou atenuar
este peso, e podem pleitear que não tenho descrito a humanidade, mas somente alguns
dos mais depravados que mal merecem o nome de “homens”. Mas eu já tenho me preca-
vido contra essa exceção. É a natureza humana que descrevo; e os indivíduos mais vis e
perdulários não podem pecar além dos poderes e limites desta natureza que eles possuem
em comum com o mais benigno e moderado. Embora possa haver uma diferença na fecun-
didade das árvores, no entanto, a produção de uma maçã, determina a natureza da árvore
que a gerou, tão certamente como se tivesse produzido mil maçãs, assim, no presente ca-
so, se admitimos que estas extravagâncias não são encontradas em todas as pessoas, isso
seria suficiente confirmação do que eu antecipei, porém elas podem ser encontrados em
qualquer um; a menos que pudesse também ser provado, que os que pareceram mais per-
versos do que outros, são de uma espécie diferente do restante. Mas eu não preciso fazer
esta concessão, devem ser verdadeiramente insensíveis aqueles que não sentem dentro
de si algo tão contrário às nossas noções comuns de bondade, como se quisessem talvez,
antes submeterem-se a ser banidos da sociedade humana, a serem compelidos a estarem
de boa fé ao desvelar cada pensamento e desejo que surgem nos corações de seus com-
panheiros criaturas.

A natureza do homem caído corresponde à descrição que o apóstolo nos deu de sua
sabedoria orgulhosa: é terrena, animal e diabólica [Tiago 3:15]. Tentei esboçar alguns as-
pectos gerais disto nas palavras anteriores; mas o auge de sua maldade não pode ser ade-
quadamente estimado, a menos que nós consideremos as suas atuações com relação à
luz do Evangelho. Os judeus eram extremamente perversos no momento da aparição de
nosso Senhor sobre a terra, mas ainda assim é dito deles: “Se eu não viera, nem lhes hou-

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vera falado” (João 15:22), isto é, a luz e a força do Seu ministério os privou de toda desculpa
para continuar no pecado, esta foi a ocasião de mostrar a sua malícia, da maneira mais
agravada; e todos os seus outros pecados eram apenas provas tênues do verdadeiro esta-
do do seu coração, se comparado com a descoberta que fizeram de si mesmos, por sua
oposição pertinaz a Ele. Neste sentido, o que o apóstolo tem observado em relação à lei de
Moisés, pode ser aplicado ao Evangelho de Cristo: Ele foi introduzido para que o pecado
abundasse [Romanos 5:20]. Se quisermos calcular toda a extensão da depravação humana
e os efeitos mais fortes que ela é capaz de produzir, devemos selecionar nossos casos a
partir da conduta daqueles a quem o Evangelho é conhecido. Os índios, que assam seus
inimigos vivos, dão provas suficientes de que o homem é bárbaro em relação à sua própria
espécie; o que pode também ser facilmente demonstrado, sem ir tão longe de casa; mas a
pregação do Evangelho desvela a inimizade do coração contra Deus de modos e graus que
selvagens ignorantes e pagãos não são capazes.

Por Evangelho, agora eu quero dizer não apenas a doutrina da salvação, uma vez que se
encontra na Sagrada Escritura, mas a pregação pública e oficial desta doutrina que o Se-
nhor Jesus Cristo tem comissionado aos Seus verdadeiros ministros; que, tendo sido eles
mesmos, pelo poder da Sua graça, transportados das trevas para a maravilhosa luz, pelo
seu Espírito Santo, são capacitados e enviados para declarar aos seus companheiros peca-
dores sobre o que viram, sentiram e provaram da palavra da vida. Sua comissão é exaltar
o Senhor somente, e denegrir a soberba de toda a vanglória humana. Eles devem expor o
mal e o demérito do pecado, o rigor, a espiritualidade e a sanção da Lei de Deus e a aposta-
sia total da humanidade; e a partir dessas premissas demonstrar a absoluta impossibilidade
de escapar da condenação do pecado por quaisquer obras ou empreendimentos de sua
autoria; e, em seguida, proclamar a salvação plena e livre do pecado e da ira, pela fé no
nome, sangue, obediência e mediação do Deus manifestado na carne; juntamente com
uma denúncia da miséria eterna a todos os que finalmente rejeitarão o testemunho que
Deus deu de Seu Filho. Embora estes vários aspectos da vontade de Deus em relação aos
pecadores, e outras verdades em conexão com eles, sejam claramente revelados e repeti-
damente incutidos na Bíblia; e que a Bíblia é encontrada em quase todas as casas, no
entanto vemos, de fato, que ela é um livro selado, pouco lido, pouco compreendido, e, por-
tanto, ainda menos considerado, exceto nos lugares que o Senhor se agrada de favorecer
ministros que podem confirmar essas pessoas a partir de sua própria experiência, e que,
por um senso de Seu amor constrangedor e do valor das almas, estão motivados em fazer
um fiel cumprimento de seu ministério e uma grande coisa pelas suas vidas; estes não
visam adquirir riquezas, mas promover o bem-estar de seus ouvintes; são igualmente
indiferentes às carrancas ou sorrisos do mundo; e não amam as suas vidas, contanto que
possam ser sábios e bem sucedidos em ganhar almas para Cristo.

Quando o Evangelho, neste sentido da palavra, em primeiro lugar chega a algum lugar, em-

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bora as pessoas estejam vivendo em pecado, pode ser dito que elas pecam por ignorância;
eles ainda não foram avisados do perigo. Alguns estão bebendo a iniquidade como a água;
outros mais sobriamente enterrando-se vivos nos cuidados e negócios do mundo; outros
encontram um pouco de tempo para o que eles chamam de deveres religiosos e perse-
veram nisto apesar de serem estranhos à natureza ou ao prazer da adoração espiritual; em
parte, eles pensam em barganhar com Deus e compensar tais pecados visto que eles não
optam por abrir mão destes; e em parte porque gratifica o seu orgulho, e lhes proporciona
(como pensam) alguma base para dizer: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os
demais homens” [Lucas 18:11]. A pregação do Evangelho declara a vaidade e o perigo
desses caminhos nos quais os pecadores escolhem. Ele declara, demonstra que embora
pareçam diferentes dos outros eles estão igualmente distantes do caminho da segurança e
da paz, e todos tendem para o mesmo desfecho: a destruição daqueles que persistem ne-
les. Ao mesmo tempo em que se acautelam contra esse desespero no qual os homens se-
riam de outra forma mergulhados quando são convencidos de seus pecados, revelando o
imenso amor de Deus, a glória e a graça de Cristo, e convidando todos a virem a Ele, pa-
ra que possam obter perdão, vida e felicidade. Em uma palavra, isso mostra o abismo do
inferno sob os pés dos homens, e abre a porta, e aponta o caminho para o céu. Vamos a-
gora observar brevemente os efeitos que o Evangelho produz em quem não o recebe como
o poder de Deus para a salvação. Estes efeitos são diversos, assim como os tempera-
mentos e circunstâncias variam; mas todos eles podem nos levar a adotar a exclamação
do salmista: “Senhor, que é o homem?”.

Muitos dos que ouviram o Evangelho, uma ou algumas vezes, não irão mais ouvi-lo; ele
desperta seu desprezo, o ódio e raiva. Eles derramam desprezo sobre a sabedoria de Deus,
desprezam sua bondade, desafiam o seu poder; e eles próprios parecem expressar o espí-
rito dos judeus rebeldes, que disseram ao profeta Jeremias em sua face: “Quanto à palavra
que nos anunciaste em nome do Senhor, não obedeceremos a ti” [Jeremias 44:16]. Os
ministros que pregam o Evangelho são contados como os homens que põem o mundo de
cabeça para baixo; e as pessoas que o recebem, como tolos ou hipócritas. A palavra do
Senhor é um fardo para eles, e eles a odeiam com um ódio perfeito. Quão fortemente a
disposição do coração natural é manifestada pela confusão que muitas vezes ocorre nas
famílias onde o Senhor se agrada em um ou dois daquela casa, enquanto o restante perma-
nece em seus pecados! Professar, ou mesmo ser suspeito disso, ou aderir ao Evangelho
de Cristo, é frequentemente considerado e tratado como o pior dos crimes, suficiente para
anular os vínculos mais fortes de relação ou amizade. Os pais, após tal provocação, odiarão
os seus filhos, e os filhos ridicularizarão seus pais; muitos concordam com a declaração de
nosso Senhor, que a partir do momento em que um sentido do Seu amor tem envolvido seu
coração para amá-lO mais uma vez, seus piores inimigos foram aqueles de sua própria
casa; e que aqueles que expressaram o maior amor e carinho para com eles antes de sua
conversão, agora dificilmente podem suportar vê-los.

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A maior parte do povo, talvez continue a ouvir, pelo menos de vez em quando; e para aque-
les que o fazem, o Espírito de Deus em geral, em um momento ou outro, é um testemunho
para a verdade: as suas consciências são atingidas, e por algum tempo eles creem e ter-
mem. Mas qual é a consequência? Nenhum homem que tomou veneno procura mais inten-
samente ou rapidamente um antídoto, do que estes buscam fazer alguma coisa para abafar
e sufocar suas convicções. Eles buscam as companhias para beber ou para qualquer outra
coisa, buscando alívio contra a intrusão indesejável de pensamentos graves; e quando eles
conseguem recuperar sua antiga indiferença, eles se alegram, como se tivessem escapado
de algum grande perigo. O próximo passo é ridicularizar as suas próprias convicções; e
junto a isso, se percebem algum conhecido com as impressões que ele teve, usam todas
as artimanhas e empregam todos os esforços para que possam torná-los tão obstinados
como eles mesmos. Para este propósito, eles espreitam como um passarinheiro ao passa-
rinho, lisonjeiam ou injuriam, tentam ou ameaçam; e se eles podem, prevalecem, e se são
a ocasião de “endurecimento de qualquer um em seus pecados” eles se regozijam e triun-
fam como se considerassem isso como seu próprio interesse e a sua glória, a saber, ver a
ruína das almas de seus semelhantes.

Por ouvirem frequentemente o Evangelho eles recebem mais luz, e são compelidos a saber,
quer queiram que não, que a ira de Deus paira sobre os filhos da desobediência. Eles levam
uma picada em suas consciências, e, por vezes, sentem-se os mais miseráveis, e não po-
dem, mas gostariam que nunca tivessem nascido, ou que fossem cães ou sapos, ao invés
de criaturas racionais. No entanto, eles se endurecem ainda mais. Eles se determinam a
serem feliz e estarem sossegados, se obrigam a usar um sorriso enquanto a angústia está
presa em seus corações. Eles blasfemam o caminho da verdade, por ver as falhas dos pro-
fessos, e com uma alegria maliciosa publicam suas falhas e os ofendem. Eles veem, talvez,
como o ímpio morre, mas não ficam alarmados; eles veem o justo morrer, mas não são co-
movidos. Nem providências, nem ordenanças, nem misericórdias, nem julgamentos po-
dem pará-los, pois eles estão determinados a prosseguir e morrer com os olhos abertos,
ao invés de se submeterem ao Evangelho.

Porém nem sempre eles rejeitam abertamente as verdades do Evangelho. Alguns que pro-
fessam aprova-las e recebê-las, por este meio desvelam os males do coração do homem,
se possível, em uma luz ainda mais forte. Eles fazem de Cristo um ministro do pecado, e
transformam a Sua graça em libertinagem. Como Judas, eles dizem: “Eu te saúdo, Rabi!”
E O traem. Este é o mais alto grau de iniquidade. Eles pervertem todas as doutrinas do
Evangelho, da eleição eles tiram uma desculpa para continuarem em seus maus caminhos;
e defendem a salvação sem as obras, porque não amam a obediência. Eles exaltam a justi-
ça de Cristo, mas se opõem à santidade pessoal. Em uma palavra, porque eles ouvem que
Deus é bom estão determinados a persistir no mal. “Senhor, que é o homem?”.

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Assim os pecadores obstinados e impenitentes vão de mal a pior, enganando e sendo enga-
nados. A palavra que eles desprezam torna-se para eles um cheiro de morte para morte.
Eles tomam diferentes cursos, mas em todos estão viajando para descer à cova; e, a menos
que a misericórdia soberana impeça, em breve eles cairão para não mais se levantarem. O
evento final normalmente é duplo. Muitos, depois de terem sido mais ou menos comovidos
pela Palavra, se acomodam às formalidades. Se a audição suprisse o lugar da fé, do amor
e da obediência, eles iriam fazê-lo bem; mas aos poucos eles se tornam impassíveis ao
sermão, as verdades que uma vez os atingiram, muitas vezes, perdem o seu poder ao se-
rem ouvidas; e, assim, multidões vivem e morrem na escuridão, embora por muito tempo a
luz tenha brilhado ao redor deles. Outros são mais abertamente entregues a um sentimento
perverso. O desprezo do Evangelho produz infiéis, deístas e ateus. Eles estão cheios de
um espírito de ilusão para acreditarem em uma mentira. Estes são escarnecedores, an-
dando segundo as suas próprias concupiscências; pois onde os princípios da religião são
abandonados, a conduta será vil e abominável. Tais pessoas zombam de si mesmas em
suas dissimulações, e fortemente provam a verdade do Evangelho, enquanto elas disputam
contra ele. Nós muitas vezes achamos que as pessoas deste tipo têm sido anteriormente
objeto de fortes convicções; mas quando o espírito maligno pareceu se afastar por um tem-
po, e voltou novamente, o último estado desse homem é pior do que o primeiro.

Não é improvável que alguns dos meus leitores possam encontrar-se com seus próprios
caráteres sob um ou outro dos vislumbres que dei da maldade desesperada do coração,
em suas atuações contra a verdade. Que o Espírito de Deus possa compeli-los a ler com
atenção, o seu caso é perigoso, mas eu espero que você não se desespere totalmente, po-
is Jesus é poderoso para salvar. Sua graça pode perdoar as ofensas mais graves, e sub-
jugar os hábitos mais inveterados do pecado. O Evangelho que você até aqui desprezou,
resistiu ou se opôs ainda é o poder de Deus para a salvação. O sangue de Jesus, sobre o
qual até agora você tem pisoteado, fala melhor do que o sangue de Abel, e possui virtude
para limpar aqueles cujos pecados são escarlate e carmesim, e para fazê-los brancos como
a neve. Até agora você foi poupado; mas já é tempo de parar, baixar os braços da rebelião,
e humilhar-se aos pés do Senhor Jesus Cristo. Se você fizer isso, você ainda pode escapar;
mas se não, saiba com certeza que a ira vindoura cairá sobre você ao máximo; e você
perceberá em breve, em sua consternação indizível, que terrível coisa é cair nas mãos do
Deus vivo.

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As Consequências Da Depravação Humana
Por A. W. Pink

[Capítulo 4 do livro The Total Depravity of Man • Editado]

A chave que nos abre o mistério da depravação humana é encontrada em uma correta com-
preensão das relações que Deus nomeou entre o primeiro homem e a sua posteridade. Co-
mo a grande verdade da redenção não pode ser correta e inteligentemente apreendida até
que percebamos a conexão federal, que Deus ordenou entre o Redentor e os redimidos,
nem pode a tragédia da ruína do homem ser contemplada em sua correta perspectiva, a
menos que a vejamos à luz da apostasia de Adão do seu Criador. Ele foi o protótipo de toda
a humanidade. Enquanto ele permanecia por toda a raça humana, assim nele Deus lidou
com todos os que descenderiam dele. Se Adão não fosse a nossa cabeça do pacto e repre-
sentante federal, a mera circunstância de que ele era o nosso primeiro pai não nos teria en-
volvido nas consequências jurídicas de seu pecado, nem teríamos o direito de recompensa
legal de sua justiça se ele tivesse mantido a sua integridade e servido sua experiência con-
dicional ao render ao seu Criador e Senhor aquela obediência que Lhe era devida e que
era totalmente capacitado a executar. Foi divinamente constituído o nexo (princípio conec-
tante ou vínculo) e unidade do primeiro homem e toda a humanidade à vista da Lei, o que
explica a participação deste último na penalidade efetuada sobre o primeiro.

Consequências Para Adão

Nos capítulos anteriores deste livro permanecemos durante algum tempo na origem da
depravação humana, e da imputação Divina da culpa da transgressão de Adão a todos os
seus descendentes. Estamos agora considerando as consequências decorrentes da Que-
da. Abominável de fato é o pecado, temerosos são os salários que ele recebe, terríveis são
os efeitos que ele produziu. É aí que nos é mostrada a estimativa do Santo Ser sobre o pe-
cado, na severidade de Sua punição, expressando o Seu ódio a ele. Por outro lado a terrível
desgraça de Adão torna evidente a maldade de sua ofensa. Esse crime não deve ser medi-
do pelo ato exterior de comer o fruto, mas pela terrível afronta que foi feita contra a majesta-
de de Deus. Em seu único pecado havia uma complicação de muitos crimes. Houve ingrati-
dão contra Aquele que tão ricamente o dotou, e o descontentamento com a formosa heran-
ça atribuída a ele. Havia a descrença da santa veracidade de Deus, uma dúvida quanto à
Sua palavra e crença na mentira da serpente. Houve um repúdio das obrigações infinitas
sob as quais ele estava, de amar e servir ao seu Criador, uma preferência à sua própria
vontade e caminho. Houve um desprezo da elevada autoridade de Deus, um rompimento

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de Sua aliança, uma fuga em face de Sua ameaça solene. A maldição do Céu caiu sobre
ele, porque ele deliberada e presunçosamente desafiou o Todo-Poderoso.

Muitíssimo mais estava incluído e envolvido na transgressão de Adão do que comumente


se supõe ou se reconhece. Trezentos anos atrás, aquele profundo teólogo, James Usher,
apontou que isso havia se condensado na “violação de toda a Lei de Deus”. Resumindo em
nossa própria língua o que o Bispo de Armagh desenvolveu extensamente, a violação de
Adão de todos os Dez Mandamentos da Lei moral pode ser definida assim: O primeiro man-
damento ele quebrou ao escolher para si um outro “deus”, quando ele seguiu o conselho
de Satanás. O segundo, ao idolatrar a sua boca, fazendo de seu ventre um deus, por comer
do fruto proibido. O terceiro, por não acreditar na ameaça de Deus, por haver tomando o
Seu nome em vão. O quarto, quebrando o puro descanso no qual ele havia sido colocado.
O quinto, por haver desonrando o seu Pai Celestial. O sexto, pelo seu próprio assassinato
e de toda a sua posteridade. O sétimo, por ter cometido adultério espiritual, e preferir a cria-
tura acima do Criador. O oitavo, colocando as mãos sobre aquilo que ele não tinha direito.
O nono, aceitando o falso testemunho da serpente contra Deus. O décimo, por cobiçar o
que Deus não havia lhe dado.

Nós, de forma alguma, compartilhamos a ideia popular de que o Senhor salvou Adão logo
depois de sua Queda, mas sim tomou decidida exceção por isso. Negativamente, não pode-
mos encontrar qualquer coisa que seja na Sagrada Escritura para fundamentar tal crença:
positivamente, muito pelo contrário. Em primeiro lugar, é claro que o seu pecado não foi um
de “enfermidade”, mas sim uma “presunção”, um, pertencendo àquela classe de pecados
intencionais e desafio aberto a Deus para o qual nenhum sacrifício foi fornecido (Êxodo
21:14; Números 15:30-31; Deuteronômio 17:12; Hebreus 10:26-29) e, portanto, um pecado
imperdoável. Não há o menor sinal de que ele alguma vez se arrependeu de seu pecado
ou registro de sua confissão a Deus; pelo contrário, quando cobrado sobre isso, ele tentou
desculpá-lo e atenuá-lo. Gênesis 3 encerra com a declaração terrível: “E havendo lançado
fora o homem”. Nada que seja foi mencionado para seu crédito posteriormente: nenhuma
oferta de sacrifício, não houve atos de fé ou obediência! Em vez disso, é-nos dito apenas
que ele conheceu a sua esposa (4:1, 25), gerou um filho à sua semelhança, e morreu (5:3-
5). Se o leitor puder ver nessas declarações, intimações ou mesmo indícios de que Adão
era um homem regenerado, então ele tem olhos muito melhores do que os do escritor, ou,
possivelmente, uma imaginação mais vívida.

Também não há uma única palavra a seu favor nas Escrituras posteriores; em vez disso,
tudo o condena. Jó negou que ele cobriu sua transgressão ou escondeu sua iniquidade em
seu seio “como Adão” o fez (31:33). O salmista declarou que aqueles que julgam injusta-
mente e as pessoas dos ímpios deveriam “morrer como homens” (82:7), pois a palavra he-

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braica aqui usada para “homens” é Adão! No Novo Testamento, ele é contrastado em deta-
lhes consideráveis com Cristo (Romanos 5:12, 21; 1 Coríntios 15:22, 45-47), e se ele foi
salvo, então a antítese falharia em seu ponto principal. Além disso, uma anomalia tão gritan-
te é bastante fora de sintonia com o que é revelado sobre o Deus de justiça, que a grande
maioria das pessoas a quem ele representava perecerá eternamente, enquanto a cabeça
responsável será resgatada. Em 1 Timóteo 2:14 é feita menção específica ao fato de que
“Adão não foi enganado”, o que enfatiza a maldade de sua transgressão. Em Hebreus 11,
o Espírito Santo citou a fé dos santos do Antigo Testamento, e embora Ele mencione a de
Abel, Enoque, Abraão, Isaque, Jacó e etc. Ele não diz nada sobre Adão! A sua exclusão da
lista é solenemente significativa. Assim, depois dele ser expulso do Éden, a Escritura não
faz menção de Deus ter qualquer outra vez lidado com Adão!

Antes de dedicar-nos às consequências da deserção de Adão sobre os seus descendentes,


consideremos aqueles que sentiram mais imediatamente sobre ele e sua parte da culpada.
Estes são registrados em Gênesis 3. Tão logo ele se revoltou contra o seu gracioso Criador
e Benfeitor e os efeitos maléficos do mesmo tornou-se aparente. Seu entendimento, origi-
nalmente iluminado com sabedoria celestial, tornou-se sombrio e nublado com crassa igno-
rância. Seu coração, formalmente em chamas com santa veneração em direção ao seu
Criador e aquecido com amor a Ele, agora se tornou alienado e cheio de inimizade contra
Deus. Sua vontade, que estava em sujeição ao seu legítimo Governador, havia rejeitado o
jugo da obediência. Toda a sua constituição moral foi arruinada, tornou-se desequilibrada,
perversa. Em uma palavra: a vida de Deus se retirou de sua alma. Sua aversão por Aquele
que é supremamente excelente apareceu em sua fuga dEle assim que ele ouviu a Sua
aproximação. Sua ignorância crassa e estupidez foram evidenciadas por sua vã tentativa
de esconder-se dos olhos do Onisciente. Seu orgulho foi exibido em se recusar a reco-
nhecer a sua culpa; a ingratidão quando ele indiretamente censurou Deus por dar-lhe uma
esposa. Mas, voltemos ao relato inspirado destas coisas.

“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus” (Gênesis 3:7).
Muito, muito impressionante é isso. Nós não lemos sobre a ocorrência de qualquer altera-
ção quando Eva comeu do fruto proibido, mas assim que Adão fez isso, “foram abertos os
olhos de ambos”. Isto fornece a confirmação definitiva do que nos debruçamos nos capítu-
los precedentes. Adão era a cabeça do pacto e representante legal de sua esposa, bem
como dos futuros filhos que descenderiam deles. Portanto, a penalidade para a desobedi-
ência não foi infligida por Deus até que aquele a quem a proibição fora feita, violasse a mes-
ma, e então, as consequências disso começaram a ser imediatamente sentidas por ambos.
Mas o que se quer dizer com “foram abertos os olhos de ambos”? Certamente não seus
olhos físicos, os quais já haviam sido abertos, portanto, temos aqui mais uma indicação de
que não devemos limitar-nos servilmente ao significado literal de todos os termos usados

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neste capítulo. A resposta, então, devem ser os “olhos” de sua compreensão, ou mais estri-
tamente, os de sua consciência, que veem ou percebem, assim como ouvem, falam e casti-
gam. Nessa expressão, “foram abertos os olhos de ambos” encontra-se a chave para o que
se segue.

O resultado de comer o fruto proibido não foi a aquisição da sabedoria sobrenatural, como
eles ingenuamente esperavam, mas a descoberta de que eles haviam sido reduzidos a uma
condição de miséria. Eles sabiam que estavam “nus”, e isto em um sentido muito diferente
do mencionado em Gênesis 2:25. Embora em seu estado original eles não usassem nenhu-
ma roupa material, ainda assim, não acredito por um momento que eles estavam sem qual-
quer cobertura em absoluto. Em vez disso, concordamos com o Bishop G. H., que eles

...não estavam sem esplendor brilhante a partir deles e em torno deles, que lhes en-
volvia em um radiante e translúcido manto e de certa maneira encantadora obscurecia
seus contornos. É contrário à natureza e é repugnante para nós que alguma coisa
deve estar despida, absolutamente nua. Cada pássaro tem sua plumagem e cada ani-
mal seu casaco, e não há beleza se a cobertura for removida. Remova da mais bela
ave as suas penas, e, embora a forma permaneça inalterada, não mais a admiramos.
Concebemos, então, que os artistas estão totalmente em falta e grosseiramente ofen-
dem a pureza quando retratam a forma humana sem roupa, e pleiteiam como desculpa
o caso de Adão no Éden. Poderiam os animais em todos os seus esplêndidos casacos
de cobertura curvarem-se aos vice-regentes de Deus (Gênesis 1:28), estando antes
totalmente sem roupa? Seria Adão, a coroa e rei da criação, ser o único ser vivente
sem um manto? Impossível. Para o sentido espiritual certamente há a indicação de
algo sobre nossos primeiros pais que impressionava e intimidava a criação animal. O
que era aquilo? O que, senão aquele brilho como o sol, que descreve o corpo da res-
surreição (Daniel 12:3)? Se o rosto de Moisés brilhava de modo que os filhos de Israel
tinham medo de chegar perto dele, quanto mais deve a (desimpedida) habitação do
Espírito de Deus em Adão e Eva ter espalhado ao redor deles um brilho que fazia com
que toda a criação os respeitassem em sua abordagem, contemplando neles a ima-
gem e semelhança do Senhor Deus Todo-Poderoso e glorioso em resplendor-bri-
lhante como um sol?

Complementando o que foi dito acima, permitam ser pontuado que sobre o Senhor Deus,
é dito: “Tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de majestade. Ele se cobre de
luz como de um vestido” (Salmos 104:1-2), e o homem foi feito, originalmente, à sua ima-
gem! Deus “de glória e de honra o coroou”, e fez “com que ele tenha domínio sobre as
obras das Suas mãos” (Salmos 8:5-6), e, consequentemente, o cobriu com roupas brilhan-
tes, como será o caso final daqueles recuperados da Queda e de suas consequências, pois

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“são iguais aos anjos” (Lucas 20:36), comparem “dois homens, com vestes resplandecen-
tes” (Lucas 24:4). Além disso, a implicação de Romanos 8:3 é irresistível: “Deus, enviando
o seu Filho em semelhança da carne do pecado”. Notem como discriminante é esta lingua-
gem: não meramente em “semelhança da carne”, mas literalmente “carne do pecado”.

Após essas palavras, R. Haldane corretamente observou:

Se a carne de Jesus Cristo era a semelhança da carne do pecado, deve haver uma
diferença entre a aparência da carne do pecado e da nossa natureza ou a carne em
sua condição original, quando Adão fora criado. Cristo, então, não foi feito à semelhan-
ça da carne do homem antes que o pecado entrou no mundo, mas à semelhança de
sua carne caída. E uma vez que Cristo restituiu o que Ele não furtou (Salmos 69:4),
então o seu estado ressuscitado nos mostra a sua glória primitiva (Filipenses 3:21).

1ª Consequência da Queda: Foram abertos os olhos de ambos e conheceram que


estavam nus.

Após a declaração “então foram abertos os olhos de ambos”, nós naturalmente esperaría-
mos ler a próxima cláusula: “e viram que estavam nus”, mas em vez disso, diz, “e conhece-
ram que estavam nus”, algo mais do que uma descoberta de sua lamentável condição física
foi incluída nisso. O verbo hebraico é traduzido por “conheceram” na grande maioria das
referências, mas dezoito vezes é traduzido como “perceberam” e três vezes por “sentiram”.
Como a abertura dos seus olhos refere-se aos de sua compreensão, assim, somos informa-
dos sobre o que eles agora discernem, ou seja, a perda de sua inocência. Há uma nudez
da alma, que é muito pior do que um corpo nu, pois a incapacita a estar na presença do
Santo Ser. A nudez de Adão e Eva foi a perda da imagem de Deus, da justiça e santidade
inerentes no qual Ele os criou. Essa é a condição terrível em que todos os seus descen-
dentes nascem. É por isso que Cristo os convida a comprar dEle “roupas brancas, para que
te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez” (Apocalipse 3:18). As “roupas brancas”
é “o manto de justiça” (Isaías 61:10), a “veste de núpcias” de Mateus 22:11-13, sem a qual
a alma está eternamente perdida.

“Eles conheceram que estavam nus”. Como o Bishop o expressou: “A auréola havia desa-
parecido, e o Espírito de justiça que havia sido para eles uma cobertura de luz e pureza
retirou-se, e eles sentiram que eles estavam despidos e descalços. Porém, mais: eles per-
ceberam que a sua condição física registrava a sua perda espiritual. Eles foram dolorosa-
mente conscientizados do pecado e de suas terríveis consequências. Este foi o primeiro
resultado de sua transgressão: a consciência culpada os condenou, e um sentimento de
vergonha possuiu as suas almas. Seus corações os feriram pelo que haviam feito. Agora

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que a temível ação de desobediência havia sido cometida, eles perceberam a felicidade
que arremessaram para longe e a miséria em que eles próprios haviam mergulhado. Eles
conheceram que não estavam apenas despojados de toda a felicidade e honra do estado
do Paraíso, mas foram corrompidos e degradados, e um sentimento de miséria os possuiu.
Eles conheceram que estavam nus de tudo o que é santo. Eles podem agora ser correta-
mente chamado de ‘Icabode’, pois a glória do Senhor havia se retirado deles”. Tal, meu lei-
tor, é sempre o efeito do pecado: ele destrói a nossa paz, rouba a nossa alegria, e traz em
seu trilho uma consciência de culpa e um sentimento de vergonha.

Há, acreditamos, um significado ainda mais profundo nessas palavras, “eles conheceram
que estavam nus”, ou seja, uma percepção de que eles foram expostos à ira de um Deus
ofendido. Eles perceberam que a sua defesa fora embora. Eles estavam moralmente nus,
sem qualquer proteção contra a Lei violada! Isso é muito impressionante e solene. Antes
que o Senhor lhes houvesse aparecido, antes que Ele dissesse uma palavra ou Se aproxi-
masse deles, Adão e Eva conheceram o estado terrível em que eles estavam agora, e
tiveram vergonha! Ah, o poder da consciência! Nossos primeiros pais se auto-acusaram e
autocondenaram! Antes de seu Juiz ter aparecido em cena, o homem tornou-se, por assim
dizer, o juiz de sua própria condição caída e débil. Sim, eles conheceram de si mesmos que
estavam em desgraça: sua santidade contaminada, sua inocência se fora, a imagem de
Deus foi rompida em suas almas, sua tranquilidade perturbada, a sua proteção contra a Lei
removida. Despojados de sua retidão original, eles estavam indefesos. Que terrível desco-
berta a fazer! Tal é o estado em que o homem caído chegou, um do qual ele próprio en-
vergonha-se!

E o que fez a dupla culpada a respeito de sua dolorosa descoberta? Como eles se compor-
tam agora? Clamam a Deus por misericórdia? Buscam a Ele por uma cobertura? Não, de
fato, nem mesmo uma consciência despertada move seu possuidor atormentado para con-
verter-se ao Senhor, embora esta deva fazer o seu trabalho, antes que o pecador fuja para
Ele em busca de refúgio. Uma alma perdida precisa de algo mais do que uma consci-ência
ativa para atraí-lo a Cristo. Isso é muito evidente no caso dos escribas e Fariseus em Sua
presença, pois, “redarguidos da consciência, saíram” (João 8:9). Em vez de uma consciên-
cia condenada os levar a lançarem-se aos pés do Salvador, isso resultou em seu abandono
dEle! Nada menos do que a vivificação do Espírito Santo, subjugando a inimizade, derre-
tendo o coração, concedendo as operações da fé, traz alguém a um contato salvífico com
o Senhor Jesus. Ele, de fato, fere antes que Ele aplique o bálsamo de Gileade, faz uso da
Lei para preparar o caminho para o Evangelho, quebra o solo duro do coração para torná-
lo receptivo à Semente. Porém, mesmo uma consciência despertada por Ele, acusando a
alma com uma voz que não pode ser silenciada, nunca trará, por si mesma, alguém para
“o caminho da paz”.

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2ª Consequência da Queda: Tentativa inútil de ocultar o seu verdadeiro caráter e
esconder sua vergonha de si mesmos.

Não, em vez de recorrerem a Deus, Adão e Eva tentaram reparar o dano que havia feito
neles mesmos por meio de seus próprios esforços insignificantes. “E coseram folhas de fi-
gueira, e fizeram para si aventais” [Gênesis 3:7]. Aqui vemos a segunda consequência do
pecado: um expediente sem valor, tentativa inútil de ocultar o seu verdadeiro caráter e
esconder sua vergonha de si mesmos. Como já foi indicado, os nossos primeiros pais esta-
vam mais ansiosos por salvarem o seu crédito diante um do outro do que estavam buscando
o perdão de Deus. Eles tentaram se armar contra um sentimento de vergonha e, assim,
acalmaram a sua consciência acusadora. Não houve preocupação com a sua inaptidão
para comparecer diante de Deus em tal condição, mas apenas que eles permanecessem
impassíveis diante um do outro! E, é assim com os seus filhos até hoje. Eles têm mais medo
de serem detectados em pecado do que cometê-los, e mais preocupados com a boa apa-
rência diante do que seus companheiros do que em obter a aprovação de Deus. O principal
objetivo que os caídos filhos dos homens propõem para si mesmos é aquietar a sua cons-
ciência culpada e permanecerem bem com seus próximos. E, assim, é que muitos dos não-
regenerados assumem a veste da religião.

3ª Consequência da Queda: um medo de Deus.

“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escon-
deram-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim”
(Gênesis 3:8). Aqui ocorreu a terceira consequência de sua Queda: um medo de Deus. Até
este ponto eles haviam se preocupado apenas com seus próprios egos e miséria, mas
agora eles tiveram que considerar o Outro. Essa foi a aproximação do seu Juiz. Aparen-
temente, eles não viram a Sua forma neste momento, mas ouviram apenas a Sua voz. Isso
foi para prova-los. Mas, em vez de acolherem tal som, eles ficaram horrorizados, e fugiram
em terror. Mas para onde eles poderiam fugir de Sua presença? “Esconder-se-ia alguém
em esconderijos, de modo que eu não o veja? Diz o Senhor” (Jeremias 23:24). Na tentativa
de Adão e Eva isolarem-se entre as árvores vemos como o pecado transformou o homem
em um completo tolo, pois ninguém, senão um imbecil poderia imaginar que ele poderia
esconder-se dos olhos da Onisciência.

Quando Adão e Eva, por um ato de transgressão intencional, quebraram a condição do


pacto ao qual haviam sido colocados, eles incorreram na dupla culpa de descrer da Pala-
vra de Deus e desafiar a vontade dEle. Assim, eles perderam a promessa da vida e trou-
xeram sobre si a pena da morte. Aquele ato deles mudou completamente sua relação com
Deus e, ao mesmo tempo, inverteu os seus sentimentos para com Ele. Eles já não eram os

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objetos de Seu favor, mas sim os sujeitos de Sua ira. Como o efeito de sua pecaminosidade,
e o resultado de sua morte espiritual, o Senhor Deus deixou de ser o objeto de seu amor e
confiança, e se tornou o objeto de sua aversão e desconfiança. Uma sensação de degrada-
ção e do desagrado de Deus encheu-os de medo e os inspirou a uma inimizade terrível
contra Ele. Tão rápida e tão drástica foi a mudança que o pecado produziu em suas relações
e sentimentos em relação ao seu Criador que eles estavam envergonhados e com medo
de comparecer perante Ele, e assim que ouviram a Sua voz no jardim, eles fugiram em hor-
ror e terror, buscando esconderem-se dEle entre as árvores. Temiam ouvi-lO pronunciar a
sentença formal da condenação sobre eles, pois eles conheceram em si mesmos que eles
a mereciam.

Cada ação dos nossos primeiros pais, após a Queda foi emblemática e profética, pois prefi-
gurava como seus descendentes se comportariam. Em primeiro lugar, após a descoberta
de sua nudez, ou perda de sua pureza original e glória, eles costuraram para si aventais de
folhas de figueira, na tentativa de reservar a sua autoestima e tornarem-se apresentáveis
um para o outro. Assim é com o homem natural em todo o mundo; por uma variedade de
esforços ele procura esconder sua miséria espiritual, mas na melhor das hipóteses seus
exercícios religiosos e performances altruístas são apenas coisas temporais, e não resistirá
ao teste da eternidade. Em segundo lugar, Adão e Eva tentaram esconder-se dAquele que
agora eles temiam e odiavam. Assim é com os seus filhos. Eles são caídos e depravados;
Deus é santo e justo, e apesar de seus revestimentos autofabricados de respeitabilidade e
piedade de criatura, a própria ideia de um encontro face a face com o seu Soberano deixa
o não-regenerado inquieto. É por isso que a Bíblia é muito negligenciada, porque nela Deus
é ouvido falar. É por isso que o teatro é preferido à reunião de oração. A prova é esta, que
todos compartilharam do primeiro pecado e morreram em Adão, pois todos herdaram a sua
natureza e perpetuaram a sua conduta.

Quão claramente as ações do casal culpado tornam evidente a mentira da serpente. Quanto
mais de perto os versículos 4 e 5 são examinados à luz da imediata sequela, mais aparece-
rá a falsidade deles. A serpente assegurou a eles. “Vós certamente não morrereis”, mas
eles haviam morrido espiritualmente, e agora fugiram aterrorizados para que eles não per-
dessem as suas vidas físicas. Ela prometeu que eles progrediriam, pois “seus olhos serão
abertos”; em vez disso, eles tinham sido humilhados. Ele havia prometido que eles aumen-
tariam em conhecimento, ao passo que eles se tornaram tão estúpidos de forma a entreter
a ideia de que eles poderiam esconder-se de Alguém onisciente e onipresente. Ele disse
que eles seriam “como deuses”, mas aqui nós os contemplamos como criminosos autoacu-
sados e trêmulos. Tenhamos sempre em mente o pronunciamento do Senhor a respeito do
Diabo: “Ele é um mentiroso, e pai da mentira” (João 8:44), o pervertedor e negador da ver-
dade, o promotor e instigador da falsidade de todos os tipos por toda a terra, sempre empre-
gando a dissimulação e traição, sutileza e engano para promover seus interesses malignos.

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Olhem para as terríveis consequências de ouvir as mentiras do Diabo. Vejam a terrível de-
vastação que o pecado opera. Adão e Eva não apenas irreparavelmente prejudicaram a si
mesmos, mas eles se tornaram fugitivos de seu Criador todo-glorioso. Ele é inefavelmente
puro, e eles foram contaminados e, portanto, procuraram evitá-lO. Quão insuportável o pen-
samento para uma consciência culpada que o pecador não perdoado ainda terá que com-
parecer perante o três vezes Santo! No entanto, ele deve. Não há nenhuma maneira possí-
vel, em que qualquer um de nós possa escapar desse encontro terrível. O escritor e leitor
ainda devem comparecer diante dEle e prestar contas de sua mordomia, e a menos que
tenhamos fugido para Cristo em busca de refúgio, e tenhamos os nossos pecados apaga-
dos pelo Seu sangue expiatório, ouviremos Sua sentença de condenação eterna. Então,
busque-O enquanto se pode achar a misericórdia; invoque-O enquanto está perto em Seus
graciosos oferecimentos do Evangelho, pois “Como nós escaparemos” do lago de fogo se
negligenciarmos “tão grande salvação?” Não declare que você é um Cristão, mas examine
bem o seu fundamento; sim, peça a Deus que sonde o seu coração e mostre-lhe a sua real
condição. Tome o lugar de um pecador merecedor do Inferno e receba o Salvador dos
pecadores.

Nos versos que se seguem podemos descobrir uma quarta sombra solene do dia vindouro.
“E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?” (Gênesis 3:9). Isso foi o Juiz
Divino convocando-o para uma prestação de contas do que tinha feito. Era uma palavra
projetada para imprimir sobre ele a culpa da distância de Deus para a qual o pecado o re-
moveu. Sua ofensa tinha rompido toda a comunhão entre eles, “porque, que sociedade tem
a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?” [2 Coríntios 6:14]. Ob-
servem bem que o Senhor ignorou Eva e limitou o Seu discurso à cabeça responsável!
Deus claramente o avisara sobre o fruto proibido, “no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” [Gênesis 2:17]. E a morte, meu leitor, não é aniquilação, mas alienação; como a
morte física é a separação da alma do corpo, assim a morte espiritual é a separação da
alma do Santo Ser. “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus;
e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Isaías 59:2).
Essa é a terrível situação de todos nós, por natureza, estamos “longe” (Efésios 2:13), e, a
menos que a graça Divina nos salve, nós padeceremos “eterna perdição, longe da face do
Senhor e da glória do seu poder” (2 Tessalonicenses 1:9).

“E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim (o que sugere que Ele havia sido agora visto em
manifestação teofânica), e temi, porque estava nu, e escondi-me” (Gênesis 3:10). Observe
quão totalmente incapaz o homem pecador deve encontrar-se frente à inquisição Divina.
Ele não poderia oferecer nenhuma defesa adequada. Ouça sua triste admissão: “temi”, sua
consciência o condenou. Essa será a situação lamentável de toda alma perdida quando,
trazida do “refúgio de mentiras”, no qual ela anteriormente se abrigava, ela agora aparece

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diante de seu Criador, destituída daquela justiça e santidade que Ele inexoravelmente exi-
ge, e que podemos obter apenas em e de Cristo: cheio de horror e terror. Pese bem essas
palavras: “temi, porque estava nu”. Seu avental de folhas de figueira de nada valeu! Assim,
acontece mesmo agora quando o Espírito Santo convence uma alma. O manto da religião
é descoberto como nada sendo senão trapos imundos, quando a alguém é concedido ver
a luz na luz de Deus; o coração está cheio de medo e vergonha quando ele percebe que
tem que lidar com Alguém diante de quem todas as coisas estão nuas e patentes. Você já
passou por tal experiência? Viu e sentiu a si mesmo sendo um falido espiritual, um leproso
moral, um pecador perdido? Se não, você sentirá isso no dia vindouro.

“E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu?” (v. 11). A este inquérito Adão não res-
pondeu. Em vez de humilhar-se diante de seu Benfeitor ofendido, o culpado não conseguiu
responder. Então o Senhor disse: “Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comes-
ses?”. É impressionante notar que Deus não respondeu às desculpas ociosas e perversas
que Adão proferiu a princípio. Elas eram indignas de Sua atenção. Se as palavras de Adão
no versículo 10 forem cuidadosamente ponderadas, uma omissão grave e fatal delas será
observada: ele não disse nada sobre seu pecado, mas mencionou apenas os efeitos doloro-
sos que isso havia produzido. Como alguém já disse, “esta foi a linguagem da miséria impe-
nitente”. Por isso Deus o dirigiu para a causa desses efeitos. No entanto, observe a maneira
pela qual Ele emoldurou Suas palavras. O Senhor não cobrou diretamente o infrator com o
seu crime, mas em vez disso o interrogou: “Comeste tu?” Isso abriu o caminho e tornou
muito mais fácil para Adão contritamente reconhecer a sua transgressão, mas, infelizmente,
ele não conseguiu valer-se da oportunidade e se recusou a fazer a confissão de sua malda-
de com coração quebrantado.

4ª e 5ª Consequência da Queda: O endurecimento do coração pelo pecado e auto-


justificação.

Deus não colocou essas perguntas a Adão porque Ele desejava ser informado, mas sim
para lhe proporcionar uma ocasião para penitentemente confessar o que havia feito; e em
sua recusa a fazê-lo nós contemplamos a quarta consequência da Queda, ou seja, o endu-
recimento do coração pelo pecado. Não houve profunda tristeza por sua desobediência fla-
grante e, portanto, nenhuma confissão sincera sobre o mesmo. À segunda pergunta de
Deus, o homem disse: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e
comi”. Aqui estava a quinta consequência da Queda: autojustificação por meio de uma ten-
tativa de desculpar seu pecado. Em vez de confessar sua maldade, Adão buscou mitiga-la
e atenua-la, jogando a responsabilidade sobre outro. A entrada do mal no homem produziu
um coração desonesto e hipócrita: ao invés de assumir a culpa sobre si, Adão tentou colocá-
la sobre sua esposa. E assim é com os seus descendentes. Eles se esforçam para engave-

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tar a sua responsabilidade e repudiar sua culpabilidade, atribuindo a transgressão a alguém
ou a alguma coisa, em vez de a si mesmos, atribuindo os seus pecados à força das circuns-
tâncias, a um ambiente mau, às tentações ou ao Diabo.

6ª Consequência da Queda: Uma blasfema contestação do próprio Deus.

Mas, nestas palavras de Adão podemos contemplar algo ainda mais hediondo, e uma sexta
consequência de sua Queda, ou seja, uma blasfema contestação do próprio Deus. Adão
não se limitou a dizer: “minha esposa me deu da árvore, e comi”, mas “A mulher que me
deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. Assim que ele secretamente afronta
o Senhor. Era como se dissesse: Se Tu não tivesses me dado essa mulher, eu não comeria.
Por que Tu puseste tal armadilha sobre mim? Contemple aqui o orgulho e teimosia que ca-
racteriza o Diabo, cujo reino agora fora criado dentro do homem! Assim é com os seus filhos
até hoje. É por isso que somos conclamados: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou
tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tiago 1:13). Isto
é porque a mente depravada da criatura caída é tão inclinada a pensar em buscar refúgio
em cada coisa que vê. “Se Deus não tivesse ordenado Suas providências, eu nunca teria
sido tão fortemente tentado; se Ele tivesse disposto as coisas de forma diferente, eu não
teria sido seduzido, e menos ainda vencido”. Assim nós fazemos, em nossos esforços de
autodefesa, lançamos a reflexão sobre os caminhos dAquele que não pode errar.

“A estultícia do homem perverterá o seu caminho, e o seu coração se irará contra o Senhor”
(Provérbios 19:3). Esta é uma das formas mais vis em que a depravação humana se mani-
festa: que depois de deliberadamente agir como tolo, e ao descobrir que o caminho dos
prevaricadores é difícil, nós murmuramos contra Deus, em vez de nos submetermos humil-
demente à Sua vara. Quando nós pervertemos o nosso caminho da vontade própria, cobiça
carnal, conduta imprudente, ações precipitadas, não cobremos de Deus pelos frutos amar-
gos dos mesmos; uma vez que somos os autores de nossa miséria, não é razoável que nos
queixemos senão contra nós mesmos. Mas tal é o orgulho de nossos corações, e insubmis-
sa inimizade contra Deus, que somos temivelmente aptos a nos queixarmos contra Ele,
como se Ele fosse responsável pelos nossos problemas. Não devemos esperar colher uvas
dos espinheiros ou figos dos abrolhos! Não se queixe da severidade de Deus na colheita
desagradável, mas de sua própria perversidade. Não diga, Deus não deveria ter me dotado
de tais fortes paixões, se eu não posso suportá-las. Não pergunte: por que Ele não conce-
deu tal graça para que eu pudesse resistir à tentação? Não acuse a Sua soberania, não
questione as Suas dispensações, não acolha dúvidas sobre a Sua bondade. Se você fizer
isso, você está apenas repetindo a maldade de seu primeiro pai.

7ª Consequência da Queda: ela produziu uma violação do afeto entre o homem e o


seu próximo.

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“Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”.
Ele realmente recitou os fatos do caso, mas ao fazê-lo tornou isso pior ao invés de melhor.
Ele era a cabeça e protetor da mulher, e, portanto, deveria ter tomado mais cuidado para
evitar que ela caísse no mal. Quando ela havia sucumbido às artimanhas da serpente, mui
longe de seguir o seu exemplo, ele deveria tê-la repreendido e recusado a sua oferta. Plei-
tear que fomos seduzidos por outros não é desculpa válida; ainda assim é algo que acon-
tece comumente. Quando Arão foi acusado de fazer o bezerro de ouro, ele admitiu o fato, mas
procurou atenuar a culpa, culpando a congregação (Êxodo 32:22-24). Da mesma forma, o
desobediente Saul procurou transferir o ônus ao “povo” (1 Samuel 15:21). Assim também
Pilatos deu ordens para a crucificação de Cristo, e depois acusou o crime contra os judeus
(Mateus 27:24). Finalmente, contemple aqui mais uma consequência da Queda: ela produ-
ziu uma violação do afeto entre o homem e o seu próximo, neste caso a sua esposa, a
quem agora ele amava tão pouco que a empurrou para receber o golpe da Divina vingança.

“E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto?” Contemple aqui tanto a infinita con-
descendência do Altíssimo e Sua equidade como Juiz. Ele não agiu em elevada soberania,
desdenhando a conversa com a criatura; nem Ele condenou os transgressores sem ouvi-
los, mas concedeu-lhes a oportunidade de se defenderem ou de confessarem seu crime.
Assim, será no Grande Julgamento: ele será conduzido de forma a torná-lo transparente-
mente evidente que cada transgressor recebe “a devida recompensa por suas iniquidades”,
e que “Deus é puro quando Ele julga” (Salmos 51:4). “E disse a mulher: A serpente me en-
ganou, e eu comi” (Gênesis 3:13). Eva seguiu o mesmo curso e manifesta o mesmo espí-
rito maligno como seu marido. Ela não se humilhou diante do Senhor, não deu nenhum si-
nal de arrependimento, não fez nenhuma confissão de coração quebrantado. Em vez disso,
houve uma vã tentativa de justificar-se, lançando a culpa sobre a serpente. A desculpa ócio-
sa foi essa, pois Deus a havia capacitado a perceber suas mentiras e retidão da natureza
para rejeitá-las com horror. Igualmente inútil para os seus filhos implorarem: “Eu não tinha
intenção de pecar, mas o diabo me tentou”, pois ele não pode forçar ninguém, nem prevale-
cer sem o nosso consentimento.

Permanecendo diante de seu Juiz, auto-cusados e autocondenados, Ele agora começou a


pronunciar a sentença sobre o casal culpado. Mas antes de fazê-lo, Ele lidou com o que
havia sido instrumental na sua Queda: “Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto
fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo;
sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre
ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar” (Gênesis 3:14-15). Observe que nenhuma pergunta foi feita à serpente: em
vez disso, o Senhor lidou com ela como um inimigo declarado. Sua sentença deve ser toma-
da literalmente na sua aplicação à serpente, misticamente em relação a Satanás. “As pala-

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vras podem implicar uma punição visível a ser executada sobre a serpente, como o instru-
mento nesta tentação; mas a maldição foi dirigida contra o tentador invisível, cuja abjeta e
desgraçada condição, e esforços básicos para encontrar satisfação na realização de outros
maus e miseráveis, pode ser figurativamente intimado pelo movimento da serpente sobre
seu ventre, e alimentando-se do pó” (Thomas Scott).

O Senhor começou Suas denúncias, onde o pecado começou, com a serpente. Cada parte
da frase expressa a temível degradação que deve passar a ser a sua porção. Primeiro, ela
foi “maldita mais que toda a fera”, a maldição se estendeu a toda a criação, como Romanos
8:20-23 deixa claro. Em segundo lugar, doravante rastejaria no pó; a partir do que se infere
que originalmente ela permanecia de pé, compare as nossas observações sobre Gênesis
3:1. Em terceiro lugar, o próprio Deus agora coloca uma inimizade entre ela e a mulher, de
modo que, onde houve conversa íntima, agora deve existir aversão mútua. Em quarto lugar,
passando da serpente literal para “a antiga serpente, o diabo”, Deus anunciou que ele deve
finalmente ser esmagado, e não por Sua mão lidar imediatamente com ele, mas por Alguém
de natureza humana, e o que seria ainda mais humilhante, por meio da Semente da mulher.
Satanás havia feito uso do vaso mais frágil, e Deus o derrotaria através do mesmo meio!
Condensado naquele pronunciamento estava uma profecia e uma promessa, ainda assim,
permita ser cuidadosamente notado que ela estava na forma de uma sentença de conde-
nação a Satanás, e não uma declaração graciosa feita a Adão e Eva, dando a entender que
eles não tinham nenhum interesse pessoal nesta!

8ª Consequência da Queda: Sofrimento físico e morte.

As sentenças pronunciadas sobre os nossos primeiros pais não precisam deter-nos, pois
sua linguagem é tão clara e simples que elas não precisam nem de explicação nem de co-
mentário. Desde que Eva foi a primeira na transgressão, e tentou Adão, ela foi a próximo a
receber a sentença. “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua concei-
ção; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”
(Gênesis 3:16). Assim, ela estava condenada a um estado de tristeza, sofrimento e servi-
dão. “E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore
de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor
comerás dela todos os dias da tua vida (definitivamente se opondo à ideia de que, mais
tarde, Deus o salvou!); Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do cam-
po. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste to-
mado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gênesis 3:17-19). Sofrimento, labuta e suor
seriam o fardo pesadíssimo sobre o macho. Aqui nós vemos a oitava consequência da Que-
da: sofrimento físico e morte, “és pó e em pó te tornarás”.

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9ª Consequência da Queda: O homem e desceu ao nível dos animais.

“E chamou Adão o nome de sua mulher Eva (ou seja, “viva”); porquanto era a mãe de todos
os viventes” (v. 20). Isto é manifestamente um detalhe comunicado por Deus a Moisés, o
historiador, pois Eva não deu à luz a nenhuma criança até que ela e seu marido fossem ex-
pulsos do Éden. Parece ser introduzido aqui com o propósito de ilustrar e exemplificar a
parte final da sentença proferida sobre a mulher no versículo 16. Conforme Adão tinha feito
prova de seu domínio sobre todas as criaturas inferiores (1:28), dando nomes a eles (2:19),
de modo que, em sinal de seu domínio sobre sua esposa, ele concedeu um nome sobre
ela. “E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” (Gênesis 3:
21). Com que propósito não nos é dito, para que cada leitor fosse livre para formar sua pró-
pria opinião. Em face de tudo o que faz diretamente oposição a tal teoria, muitos têm supos-
to que estas palavras indicam que Deus agora tratou (tipicamente, pelo menos) em miseri-
córdia com o casal caído, e que emblematicamente eles foram vestidos na justiça de Cristo
e cobertos com as vestes de salvação. Ao contrário, este escritor vê nela a nona conse-
quência da Queda: que o homem tinha, assim, descido ao nível do animal, observe como
em Daniel 7 e Apocalipse 17, onde Deus coloca diante de nós o caráter dos principais reinos
do mundo (como Ele os vê), Ele emprega o símbolo das bestas!

10ª Consequência da Queda: O homem é banido da presença de Deus e lançado,


como um fugitivo, para o mundo.

“Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal”
(v. 22), esta é obviamente, a linguagem do sarcasmo e ironia: “Veja aquele que de forma
vã imaginou que Nos desafiando seria ‘como Deus’ (3:5), agora degradado ao nível das
bestas!”. Por isso o Senhor Deus o lançou fora do jardim do Éden, “para lavrar a terra de
onde ele fora tomado”, ou seja, ordenou-lhe deixar o jardim. Mas, como Matthew Henry indi-
ca, tal ordem não apela de modo algum para o rebelde apóstata. “E havendo lançado fora
o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava
ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gênesis 3:24), assim efetivamente
impedindo o seu retorno. É aí que vemos a décima consequência da Queda: o homem, um
pária de Deus, distante de Seu favor e comunhão, banido do lugar de deleite, lançado um
fugitivo para o mundo. Observe como o verso final corrobora nossa interpretação do verso
21. O Senhor não desvia dEle qualquer filho Seu! E este é o ato finalmente registrado de
Deus em conexão com Adão! Como Ele expulsou do Céu os anjos que pecaram, assim Ele
retirou Adão e Eva do paraíso terrestre, em prova de sua aversão a Ele e alienação dEle.

Consequências Para a Humanidade

Tendo considerado essas consequências que caíram mais imediatamente sobre os nossos

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primeiros pais por seu pecado original, vamos agora olhar para aquelas vinculadas sobre
os seus descendentes. Também não temos que sair do capítulo 3 de Gênesis para encon-
trar a prova de que aquelas consequências penais de sua transgressão são visitadas sobre
a sua posteridade. O que Deus disse a eles foi dito para toda a humanidade, pois o pecado
é comum a todos, assim foi a penalidade também. “E à mulher disse: Multiplicarei grande-
mente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos” (Gênesis 3:16), e tal tem si-
do a porção de todas as filhas de Eva. “Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás
dela todos os dias da tua vida [...] No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes
à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (versículos 17, 19),
e tal tem sido a porção dos filhos de Adão, em todas as gerações e partes da terra. A cala-
midade ou mal, que, em seguida, desceu sobre o mundo continua até esta hora: todos os
filhos de Adão e Eva estão igualmente envolvidos na sentença da dor do parto, na maldição
sobre a terra, na obrigação de viver por meio do trabalho e suor, na decadência e morte do
corpo.

11ª Consequência da Queda: O homem foi alienado da vida de Deus, tornou-se total-
mente depravado e objeto da ira de Deus.

Mas deixe ser sinalizado que as coisas que acabei de mencionar acima, embora sejam se-
veras e dolorosas, são triviais em comparação com o julgamento Divino que foi visto sobre
a alma do homem, de forma que eles são apenas os sinais exteriores e visíveis da calamida-
de moral e espiritual que alcançou Adão e a sua raça. Por sua desobediência, ele perdeu
o favor de seu Criador, caiu sob Sua santa condenação e maldição, recebeu os salários
terríveis de seu pecado, veio para debaixo da penalidade da Lei, foi alienado da vida de
Deus, tornou-se totalmente depravado, e como tal, um objeto da aversão do Santo Ser, ex-
pulso de Sua presença. Desde que a culpa de seu delito foi imputada ou judicialmente co-
brada de todos aqueles que ele representava, segue-se que eles participam de toda a
miséria que se abateu sobre ele. A culpa consiste em uma obrigação ou responsabilidade
de sofrer a punição por um delito cometido, e isto em proporção ao agravamento da mesma.
Em consequência disso, toda criança nasce neste mundo em um estado de pré-natal
desgraça e condenação, e com uma total depravação da natureza ou disposição que ine-
vitavelmente conduz à e produz real transgressão, e com uma completa incapacidade da
alma para mudar a sua natureza ou fazer qualquer coisa agradável a Deus.

12ª Consequência da Queda: A Desgraça de Adão foi passada aos seus filhos, que
passaram a ser como ele, inclusive você que está lendo isto agora.

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando menti-
ras” (Salmos 58:3). Em primeiro lugar, a partir do momento do nascimento toda criança é

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moral e espiritualmente alienada do Senhor, um pecador perdido. “Estranhos a Deus e a
todo o bem: alienados da vida Divina, e dos seus princípios, poderes e bênçãos” (Matthew
Henry). Adão perdeu não somente a imagem de Deus, mas também a Sua graça e comu-
nhão, sendo expulso de Sua presença; e cada um dos seus filhos nasceram fora do Éden,
nasceram em um estado de culpa. Em segundo lugar, em decorrência do mesmo, são delin-
quentes, pervertidos, desde o princípio. Seu próprio ser é contaminado, pois o mal é produ-
zido no osso com eles, a sua “natureza” sendo inclinada somente para a maldade: e se
Deus os deixar por si mesmos, eles nunca voltarão daí. Em terceiro lugar, rapidamente eles
fornecem a evidência de sua separação de Deus e da corrupção de seus corações, como
todos os pais piedosos percebem para a sua tristeza. Enquanto no próprio berço, eles evi-
denciam a sua oposição à verdade, sinceridade, integridade. “A estultícia está ligada ao co-
ração da criança” (Provérbios 22:15); não “infantilidade”, mas “estultícia”, esta propensão
positiva para o mal, a entrada em um curso de impiedade, a formação e seguimento dos
maus hábitos “ligada ao coração” apega-se firmemente por meio das correntes invencíveis
ao poder humano.

Mas em todas as épocas houve aqueles que procuraram atenuar a lâmina afiada do Salmo
58:3, por injustificadamente estreitar seu escopo, negando que ele tem uma ampla aplica-
ção à raça: aqueles que estão determinados a todo custo a se livrarem da intragável verda-
de da depravação total de toda a humanidade. Pelagianos e Socinianos têm insistido que
esse versículo está falando apenas de uma classe particularmente perversa, aqueles que
são flagrantemente rebeldes desde tenra idade. Corretamente pontuou John Owen:

Não há nenhum propósito em dizer que ele fala somente de homens ímpios, isto é, os
que são habitual e libertinamente assim. Pois, seja o que for que qualquer homem
possa posteriormente correr por um caminho de pecado, todos os homens são moral-
mente iguais desde o ventre, e é um agravamento da impiedade dos homens que isso
começa tão cedo e se agarra a um curso ininterrupto. As crianças não são capazes
de falar a partir do útero, assim que nascem; no entanto, aqui se diz que elas falam
mentiras. É, portanto, a atuação perversa da natureza depravada na infância que é
intencionada, pois tudo o que é irregular, que não respondem à lei de nossa criação e
regra de nossa obediência, é uma mentira.

“Éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Efésios 2:3). Esta afirmação
é, se possível, ainda mais terrível e solene do que a do Salmo 58:3. Significa muito mais do
que nós nascermos no mundo com uma constituição contaminada, pois não é simplesmen-
te “filhos de corrupção”, mas “da ira”, desagradáveis a Deus, criminosos à Sua vista. A de-
pravação da nossa natureza não é um mero infortúnio; se fosse, evocaria compaixão, e não
a ira! A expressão “filhos da ira” é um hebraísmo, algo muito forte e enfático. Na margem

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de 1 Samuel 20:30, e 2 Samuel 12:5, lemos sobre “o filho da morte”, ou seja, aquele a quem
a morte é devida. Em Mateus 23:15, Cristo usou o temeroso termo “filho do inferno” isto é,
alguém um cuja porção certa é o inferno; enquanto que em João 17:12, Ele designou Judas
de “o filho da perdição”, Divinamente nomeado a isso. Assim, “filhos da ira” conota aqueles
que são merecedores da ira, os herdeiros da mesma, adequados a ela. Eles nascem para
a ira, e sob ela, como sua herança. Não apenas criaturas contaminadas e corruptas, mas
os objetos da indignação judicial de Deus. Mas por quê? Porque o pecado de Adão é impu-
tado a eles, e, portanto, eles são considerados como culpados de terem violado a Lei de
Deus.

Igualmente enérgicas e explícitas são as palavras “por natureza filhos da ira”, pois isto está
em proposital contraste com o que é adquirido artificialmente. Muitos têm insistido (contrá-
rios aos fatos da experiência comum e observação) que as crianças são corrompidas pelo
contato externo com o mal, que adquirem maus hábitos por imitação dos outros. Não nega-
mos que o ambiente tem uma medida de influência, mas se qualquer bebê for colocado em
um lugar perfeito e cercado apenas por seres sem pecado, logo seria evidente que ele era
corrupto. Nós não somos depravados por um processo de desenvolvimento, mas por gene-
se. Não é “por causa da natureza”, mas “por natureza”, por causa do nosso nascimento,
isto é inato, gerado em nós. Como Goodwin solenemente expressou: “Eles são filhos da
ira, mesmo no útero, antes de cometerem qualquer pecado real”. A própria natureza depra-
vada é um mal penal, e isso é por causa da nossa união federal com Adão, como partici-
pantes de sua transgressão. Nós somos os filhos da ira, porque a nossa cabeça federal
caiu sob a ira de Deus: “não haveria nenhuma verdade na afirmação de Paulo de que todos
são por natureza filhos da ira, se eles já não estivessem sob a maldição antes de seu nas-
cimento” (Calvino).

Mas, um maior do que Calvino nos informou: “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem
tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme,
não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá
ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú” (Romanos 9:11-13). Isso remon-
ta ainda mais longe: Esaú foi um objeto do ódio de Deus antes dele nascer. Obviamente,
um Deus justo não poderia abominar aquele que é puro e inocente. Mas como poderia ser
culpado Esaú antes de fazer qualquer bem ou o mal? Porque ele compartilhava a crimina-
lidade de Adão, e precisamente pela mesma razão todos nós somos por natureza filhos da
ira, detestáveis para a Divina punição, não somente em virtude de nossas próprias trans-
gressões pessoais, mas em primeiro lugar por causa da nossa constituição, que é contem-
porânea com o nosso próprio ser. Somos membros de uma cabeça maldita, ramos de uma
árvore condenada, os fluxos de uma fonte contaminada, numa palavra, a culpa do pecado
de Adão repousa rígida sobre nós. Nenhuma outra explicação é possível; desde que a nos-

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sa culpa e sujeição à punição não são, em primeiro lugar, devido aos nossos pecados pes-
soais, eles o devem ser por causa do ser de Adão imputado a nós.

É pela mesma razão que as crianças morrem naturalmente, pois o pecado não é apenas a
ocasião de dissolução física, mas a causa da mesma. A morte é o salário do pecado, a sen-
tença da Lei quebrada, a imposição penal de um Deus justo. Se Adão nunca pecasse, nem
ele nem nenhum dos seus descendentes se tornariam sujeitos à morte. A morte é completa-
mente não-natural e anormal para o homem, como a longevidade dos patriarcas evidenciou.
Se a culpa pela ofensa de Adão não fosse cobrada de sua posteridade, ninguém morreria
na infância. No entanto, isso não implica necessariamente que qualquer um que expire na
primeira infância está eternamente perdido. Que eles nasceram neste mundo espiritual-
mente mortos, separados da vida de Deus, é claro; mas se morrem eternamente, ou são
salvos pela soberana graça, é provavelmente uma das coisas secretas que pertencem ao
Senhor. Se eles são salvos, deve ser porque eles estão entre o número de eleitos pelo Pai,
redimidos pelo Filho e regenerados pelo Espírito, sem o que ninguém pode entrar no Céu;
mas a respeito destas coisas, a Escritura parece-nos ficar em silêncio. O Juiz de toda a ter-
ra fará o certo, e aqui nós podemos submissamente ainda que confiantemente deixar isso.
Paternidade é uma questão inefavelmente solene!

Nos versículos de abertura de Efésios 2, o Espírito Santo descreveu nosso estado caído.
Em primeiro lugar, como sendo mortos em delitos e pecados (v. 1): mortos judicialmente,
sob a sentença da Lei; mortos experimentalmente, sem uma centelha de vida espiritual. Em
segundo lugar, a maldição exterior disso é retratada (v. 2-3): como completamente domina-
dos pela “carne”, ou o mau princípio, inclinado a um caminhar ímpio por Satanás, de modo
que cada ação nossa é pecaminosa. Em terceiro lugar, a punição resultante (v. 3): desa-
gradáveis ao Juiz Divino, nascidos em tal condição, e permanecendo assim, enquanto em
um estado de natureza. Até que o pecador creia, “a ira de Deus permanece sobre ele” (João
3:36). Embora a sentença ainda não esteja executada, ela está suspensa sobre ele. A pala-
vra “permanece” aqui denota perpetuidade; como Agostinho disse: “Isto esteve sobre ele
desde o nascimento, e permanece sobre ele até este dia”. “Filhos da ira, como os outros
também”: este é o caso de todos descendentes de Adão, e é igualmente assim. É uma he-
rança comum: por natureza, nenhum homem é melhor ou pior do que seus companheiros.
O próprio fato de que esta terrível visitação é universal só pode ser explicada por nossa
relação com o primeiro homem, como nossa cabeça da aliança e representante legal.

Dificilmente seria justo concluir este capítulo sem fazer alguma observação sobre aqueles
que tentam descartar tudo o que tem sido apontado anteriormente por dogmaticamente in-
sistir que “Cristo fez expiação pelo pecado original”, a fim de que a culpa da transgressão
de nosso primeiro pai não repouse sobre os seus filhos. Mas tal afirmação arbitrária é mani-

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festamente contrária aos fatos patentes que nos confrontam em cada lado. O julgamento
que Deus pronunciou sobre Adão e Eva está tão seguramente sendo visitado sobre seus
filhos, hoje como sempre foi antes que o Filho de Deus morresse na cruz. A maldição sobre
a terra, os sofrimentos peculiares das mulheres e toda a dor do parto, a necessidade de
trabalhar duro pelo nosso pão de cada dia, o reinado universal da morte, incluindo a morte
de tantas crianças, são todas exatamente tão evidentes e prevalentes na era do Novo Tes-
tamento como sempre foram no Antigo. Mas, obviamente, essas coisas não poderiam ser
sãs na visão Arminiana, pois se a culpa pelo pecado original foi removida, os seus efeitos
não mais poderiam continuar. Tal afirmação é sem fundamento, não confirmada por uma
única declaração clara nas Escrituras, embora alguns façam uma tentativa absurda de com-
provar isso, apelando para João 1:29.

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo” (João 1:29). Nós desejamos saber quantos de nossos leitores po-
dem perceber qualquer coisa naquelas palavras que lhes parece tão relevante a ponto ne-
garem o que temos dito. Os homens devem certamente ser firmes ao emprega-lo quando
eles insistem nesse versículo a fim de reforçar a sua teoria. O precursor de nosso Senhor
apresentou aqui o Messias ao povo naquele caráter sacrificial que tanto o tipo e a profecia
os haviam preparado para olharem para Ele, e não levantarem uma questão obscura em
teologia, o que não é mencionado em nenhum outro lugar nas Escrituras. Se essas palavras
houvessem sido lembradas nas profundas discussões doutrinárias de Paulo, estaríamos
prontos a procurar um significado mais profundo nelas, embora nós requereríamos algo mui
específico no contexto obrigando-nos a definir “o pecado do mundo” como o pecado de
Adão! João foi o arauto de uma nova dispensação: uma que seria radicalmente diferente
em seu escopo da anterior, e que deve ser inaugurada por quebrar “a parede de separação
que estava no meio” [Efésios 2:14].

Por dois mil anos, a graça de Deus havia sido quase totalmente restrita a uma única nação;
mas agora ela estava a ponto de fluir para todos. O Batista estava ali anunciando a Cristo
como o sacrifício apontado do Céu, que devia expiar o pecado não apenas dos judeus cren-
tes, mas também dos gentios. Embora “o mundo” seja uma expressão geral, não deve ser
considerado como compreendendo uma universalidade de indivíduos, como sinônimo de
humanidade. É uma expressão indefinida, como “e a glória do Senhor se manifestará, e to-
da a carne juntamente a verá” (Isaías 40:5) e “toda a carne saberá que eu sou o Senhor, o
teu Salvador” (Isaías 49:26). “O pecado do mundo” significa todos os pecados do povo de
Deus como um todo coletivo, como um grande e pesado fardo, assim como em Isaías 53:6:
“o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos”. Isto é, toda a penalidade e castigo
do pecado que Cristo tomou sobre Ele mesmo, e levou de diante do Juiz Divino. Como He-
breus 9:26 nos diz: “Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para

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aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”, e desde que o sacrifício foi vicário, é neces-
sariamente removida a culpa de todos aqueles em cujo lugar esse foi feito.

A teoria que estamos aqui nos opondo não é apenas sem qualquer evidência bíblica para
apoiá-la, mas antes, é refutada por evidências muito consideráveis. Se a atenção for dada
às relações que Cristo sustentou por aqueles em cujo lugar Ele obedeceu e sofreu, de uma
vez, evidencia-se que Seu trabalho não era uma mera obra indefinida e geral, mas com um
propósito específico e restrito. Ele a realizou como um Pastor, no lugar de Suas ovelhas
(João 10:11, compare com 10:26), se Ele também morreu pelos bodes e lobos, então não
havia nenhum propósito em dizer que Ele deu a Sua vida pelas ovelhas. Essa foi a relação
de um Marido que serve (Efésios 5:25-27): aqui há a singeleza de afeto, a exclusividade do
amor conjugal! Ele sustentou pelos Seus beneficiários a relação da Cabeça, havendo uma
unidade federal e legal entre eles (Hebreus 2:11). A obra redentora de Cristo era como sua
túnica, “sem costura”, um todo completo e indivisível, de modo que o que Ele fez por um
Ele fez por todos, e não meramente retirou a culpa pelo pecado original.

Se fosse verdade que Cristo expiou a ofensa de Adão, então isso seguiria necessariamente
que o governo sob o qual a raça humana está agora colocada é um que não reconhece a
maldição original. Mas esse está longe de ser o caso. Desde a Queda, até agora, todos
nascem mortos no pecado, objetos do desagrado de Deus. Isso é muito evidente a partir
do ensino de Romanos 3, onde, em linguagem inequívoca, o mundo inteiro é descrito como
estando sob condenação, sendo “condenável diante de Deus” (versículos 10-19), e não
apenas uma possível condenação, mas uma condenação real; não uma condenação que
poderá ser efetuada, mas que já foi constituída, e sob a qual todos estão vivendo agora; e
a única maneira de libertar-se desta é pela fé em Cristo. Precisamente a mesma represen-
tação é dada no Novo Testamento da condição de todos quando visitados pela primeira vez
pelo Evangelho. Eles são tratados como aqueles que são pecadores, perdidos, vivendo sob
a maldição de uma Lei violada, pois, o sombrio plano de fundo do Evangelho é este: “Porque
do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que
detêm a verdade em injustiça” (Romanos 1:18) e até que se cumpram os termos desse
Evangelho, os homens não têm esperança (Efésios 2:12).

A própria cena em que nascemos nos confronta com inúmeras evidências de que a Terra
está sob a maldição do seu Criador. Para citar J. Thornwell:

O aspecto carrancudo da providência, que tantas vezes escurece o nosso mundo e


assusta as nossas mentes, recebe a única solução adequada no fato de que a Queda
tenha temerosamente modificado as relações de Deus e a criatura. Somos manifesta-
mente tratados como criminosos sob guarda. Somos tratados como culpados, sem fé,

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seres suspeitos em quem não se pode confiar por um momento. Nossa terra foi trans-
formada em uma prisão, e sentinelas estão postos em torno de nós para nos ame-
drontar, repreender e vigiar. Ainda assim, existem vestígios de nossa grandeza antiga;
há tanta consideração mostrada para nós como para justificar a impressão de que os
prisioneiros já foram reis, e que este calabouço fora, uma vez, um palácio. Para al-
guém não familiarizado com a história da nossa raça, as relações da providência rela-
tivas a nós devem parecer inexplicavelmente misteriosas. Mas toda a questão é cober-
ta com luz quando a doutrina da Queda é compreendida. Os mais graves erros teoló-
gicos no que diz respeito tanto ao caráter de Deus e ao caráter do homem têm surgido
a partir da hipótese monstruosa que nosso presente é a nossa condição primitiva, que
somos agora o que Deus originalmente nos fez.

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A Santidade De Deus E A Depravação Total Do Homem
Por Paul David Washer

Primeira pregação de uma série de 7 mensagens, intitulada “O Evangelho”.


Proferida, na manhã do dia 1 de março de 2014, na 16ª Consciência Cristã — VINACC.
Campina Grande, Paraíba, Brasil.

É um grande privilégio para mim estar com vocês nesta noite de hoje. E vou ficar aqui sob
uma condição, e a condição é esta: que vocês não quebrem o meu coração. Como é que
vocês vão quebrar o meu coração? Ao atribuir a homens a glória que só pertence a Deus!

[Ouvintes aplaudem]

Outra coisa: Nós já tivemos palmas o suficiente hoje à noite. Por favor, não batam palmas.

Às vezes eu gostaria de pegar você pela mão e conduzir você na história da igreja, eu gos-
taria de introduzir você a homens e a igrejas na história, que estimavam a Deus a tal ponto,
que honravam a Deus a tal ponto, que eles nunca fariam o que vocês fizeram aqui hoje à
noite. Homens são pó, e à parte da graça de Deus eles não são nada mais do que pessoas
que odeiam a Deus. Isso inclui até aqueles de nós que pregamos. Se nós verdadeiramente
conhecemos a Deus. Se nós realmente estamos na Sua Presença, se um homem é verda-
deiramente homem de Deus, ele não pode suportar as palmas, ele não pode suportar as
honras dadas a homens. A Deus somente pertence a glória! Você conhece a Deus? De tal
forma que você O teme, eu conheço um Deus, o Deus das Escrituras, que quando a glória
é dada aos homens, Ele mata aqueles homens. Eu quero viver. Eu quero honrar a Deus. E
eu quero que você aprenda a honrar a Deus, ao não estimar homens. Homens são homens.

O que nós vamos fazer hoje à noite? Nesta manhã, nós falamos sobre a preeminência do
Evangelho. Hoje à noite nós vamos falar sobre a necessidade do Evangelho. Eu tenho que
fazer algo hoje à noite que não será agradável, eu preciso falar do pecado do ser humano,
e eu preciso falar da ira de Deus, só então você consegue entender o Evangelho de Cristo
Jesus. Alguns de vocês vão dizer o seguinte: “Por que ele veio este caminho todo até aqui
para nos ensinar sobre pecado?”, e eu vou te dar uma razão: Porque muitos pregadores
hoje em dia não estão falando sobre pecado, e por causa disso você não consegue apreciar
a graça, e por causa disso você não consegue entender o temor do Senhor. A fim de viver
uma vida Cristã, nós temos que entender e saber quem nós éramos antes de Jesus Cristo
intervir em nossa vida. Eu ouvi muitos pregadores dizerem o seguinte: “Nós não falamos

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muito de pecado em nossa igreja, porque nós queremos falar do amor de Deus. Então, nós
não vamos falar de pecado”. Eu quero dizer das Escrituras, o Espírito Santo não está na-
quela igreja. E o Espírito Santo não está no ministério daquele homem. Por que que eu sei
disso? Por causa daquilo que Jesus disse: Quando o Espírito vier, um dos seus ministérios
prioritários será de convencer o mundo do pecado [João 16:8]. Se a nossa pregação não
está levando as pessoas à convicção de pecado. Então o Espírito Santo não está no nosso
ministério, palavras de Jesus.

Então, agora vamos para umas das passagens mais importantes em toda a Bíblia, Roma-
nos capítulo 3. Vamos começar no verso 23:

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; 24 Sendo justificados


gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. 25 Ao qual Deus
propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela
remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; 26 Para demons-
tração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador da-
quele que tem fé em Jesus. 27 Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei?
Das obras? Não; mas pela lei da fé.

Verso 23, “Pois todos pecaram”, isso atemoriza você? Isso faz você tremer? Quando você
foi convertido, alguém falou para você do pecado? Eles explicaram para você a doutrina do
pecado? Eles explicaram para você quem é Deus, de tal forma que você tremesse diante
do seu pecado? Muitas pessoas hoje em dia não sabem nada sobre o pecado. Os prega-
dores não lhes explicam sobre o pecado. Eles não ensinam os atributos de Deus. Então,
algumas pessoas olham para Deus como se fosse um vovô tolo ou um Papai Noel, e eles
veem o seu pecado como se fosse uma coisa pequena. Não existe forma de eu explicar
para você quão terrível é o pecado diante de um Deus Santo. Deixe-me dar uma ilustração,
no dia da criação Deus ordenou às estrelas a serem colocadas em lugares diferentes do
espaço, e todas elas se curvaram em adoração diante de Deus. Deus falou para os planetas
se moverem em esferas, em círculos, e eles disseram: “Amém”, e obedeceram ao Criador.
Deus falou para as montanhas: “Se levantem”. E Ele falou para os vales: “Abaixem-se”, e
eles se submeteram à Sua voz. Deus falou para o mar: “Tu virás até aqui, mas não passarás
daqui”, e o mar O adorou e O obedeceu. Então, Deus olhou para você, e disse: “Venha”. E
você disse: “Não!”. E por esta razão, se você não está em Cristo no dia do Juízo toda a
criação se levantará e vai acusar você diante de Deus. E eles vão dizer: “Amém!”, quando
Deus condenar a sua alma ao Inferno.

É assim que é o pecado, horrível desse jeito. Mas é tão difícil as pessoas entenderem isto
hoje. Por quê? Porque eles entendem tão pouco sobre Deus... Por que o pecado é horrível?

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Será que é por que resulta em morte? Não! Será que é por que atrapalha a sociedade?
Não! Então, por que é tão horrível? É porque ele é cometido contra um Deus que é absolu-
tamente digno, que é digno de toda adoração, louvor e obediência.

Agora, eu gostaria de por alguns instantes aqui olhar para o pecado em uma perspectiva
bíblica. Eu quero que você observe duas coisas acerca do pecado: Eu quero que você en-
tenda primeiramente que é mais do que uma coisa que você faz, é uma parte de nós. Os
teólogos falam de uma depravação radical. Significa que a corrupção moral permeia todos
os aspectos do nosso ser. E antes de uma pessoa vir a Cristo, é isso que é o homem. Volte
para o livro de Gênesis comigo, por favor. Capítulo 6, verso 5: “E viu o Senhor que a malda-
de do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de
seu coração era só má continuamente”.

Olha para a última frase: “toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má”,
isto aqui está falando do homem, antes do Dilúvio, mas entenda uma coisa: o Dilúvio lavou
a terra dos homens, mas o Dilúvio não poderia lavar o coração dos homens. Assim que
Noé e a sua família saíram da arca o pecado começou de novo. Enquanto estavam na arca
havia pecado. E ele, cresceu, cresceu e cresceu na terra. Agora, veja o que diz, olhe para
sua Bíblia: É isso que é dito de você e de mim antes de nós nos achegarmos a Cristo. E se
você está aqui hoje à noite sem Cristo, este verso descreve você agora! Diz que “todo de-
sígnio do seu coração era continuamente mal”.

Um dia depois de pregar em certo lugar, um repórter se aproximou de mim, ele estava muito
irado. Ele disse: “Eu não acredito no que você está dizendo, eu não acredito no que você
prega sobre o mal estar continuamente presente no coração do homem”. Então, eu olhei
para ele e disse o seguinte: “Senhor, eu não preguei isto, eu li da Bíblia, está na Bíblia, é a
verdade. A Bíblia testifica disto, a História dá testemunho disso e até a sua consciência, se
você tem uma, ela dá testemunho disso”. Deixe-me dar um exemplo: Se eu pudesse chegar
até o seu coração agora, e eu conseguisse tirá-lo, e tirasse todos os pensamentos que você
já pensou, e os colocasse em um DVD. E eu dissesse a você o seguinte: Hoje à noite, ao
invés de pregar, eu vou mostrar o seu DVD. Todo o pensamento que você já teve, todo o
mal que você cometeu na escuridão, toda obra. Eu vou mostrar hoje à noite. O que você
faria? Você cairia de joelhos e imploraria para eu não fazer isso, porque você já pensou coi-
sas tão perversas que você não poderia compartilhar nem com o seu melhor amigo. Se os
seus melhores amigos soubessem o que você já pensou deles em algum momento da sua
vida, eles não seriam amigos seus.

Então, o que a Bíblia testemunha, o que ela diz, é verdadeiro. E eu não estou dizendo isto
porque eu sou mau, eu estou dizendo isto porque eu amo você! E a única maneira de ser

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curado é saber que você tem esse câncer, você tem que saber disso. O que você pensaria
de mim se eu fosse um médico, e soubesse que você tem câncer, mas não tinha vontade
de dizer isto para você, porque eu não queria magoar você. Imagina se eu faço isto. Eu sou
considerado imoral, eu poderia perder a minha licença, quanto mais um pregador! Se eu
sei que a Bíblia diz isso de nós, se eu não proclamo isto, eu sou imoral. Se eu não proclamo
isso, não é porque eu amo você, é porque eu me amo. E eu quero que você goste de mim,
e isso é mais importante para mim do que a sua alma. E é assim que muitos pregadores
são hoje, por causa do temor dos homens, para preservarem a si mesmos, eles vão fazer
“coceirinhas” nos seus ouvidos para você gostar deles. Mas, aí você vai se encontrar com
eles nos Inferno, porque não pode ser assim. Você precisa saber a verdade, é isso que é o
homem. É por isso que um pouquinho de religiosidade não conserta você. É por isso que a
igreja católica e nem a igreja evangélica pode consertar você. Só uma obra sobrenatural de
Deus pode consertar você através da cruz de Jesus Cristo. É assim que nós somos!

Agora, dê uma olhada em Gênesis capítulo 8, verso 21: “E o Senhor sentiu o suave cheiro,
e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do
homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem
tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz”.

O seu coração é mal desde a sua mocidade, diz o texto. O termo hebraico é até mais amplo,
e não se refere somente à mocidade, mas se refere inclusive à infância. E o quê que isso
significa? A corrupção moral do nosso coração, não é algo aprendido, é algo com o qual
nós nascemos é algo que nós somos desde o nosso nascimento. É o resultado da Queda
de Adão. E uma parte disso permanece um mistério, mas a Escritura é clara todos os ho-
mens nasceram em pecado e todos os homens nascem moralmente corruptos [Salmos
51:5]. Eu já ouvi músicas que eram tão heréticas... Uma delas, em particular, tinha a seguin-
te frase: “se crianças nos guiassem o mundo estaria em paz”. Quem escreveu esta música
nunca teve criança, quem escreveu esta música não sabe nada da humanidade e não sabe
nada da Bíblia também. Deixe-me provar isto para você: Eu tenho uma criança de três anos,
e eu a coloco em uma sala, e lhe dou todos os brinquedos do mundo, um a um os coloco
em sua mão; até que eu encontro um brinquedo que ele não quer, então eu o coloco em
sua mão de novo e ele joga fora, eu coloco em sua mão novamente, ele grita e chora e joga
o brinquedo fora de novo. Mas, eu sei de algo que pode fazer a criança desejar aquele brin-
quedo mais do que todos os demais. Sabe o que eu tenho que fazer? Trazer outra criança,
colocar esta criança em frente dela e dar o brinquedo que ela não gosta na mão da outra
criança. E o que acontece? Terceira Guerra Mundial! É assim que nós somos, o que nós
vemos naquelas crianças é a razão de toda a guerra, a razão de todo assassinato, de todo
estupro. Está lá! E, à parte da graça restringidora de Deus, isto permearia o mundo e nós
seríamos destruídos!

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Deixe-me dar um exemplo: Hitler. Você acha que ele era uma anomalia? Você acha que
ele era um fenômeno? Uma pessoa rara, diferente da sociedade? Tem algo que você preci-
sa aprender sobre Teologia: Tem uma graça comum que restringe todo o mundo, e se você
não é como Hitler, é só por causa da graça de Deus que restringe você, e se Deus puxasse
esse “freio” de você, você ia fazer com que Hitler parecesse um mocinho de coral. Você es-
tá entendendo o que eu estou dizendo? Ele não era uma anomalia, ele era um reflexo do
que todos nós somos, a não ser que Deus restrinja a maldade do homem. Essas são ver-
dades que ninguém quer ouvir, e são verdades que pregadores não querem pregar, mas
são necessárias. Elas são as Escrituras! E elas foram ensinadas em toda a História da
Igreja até o presente. Agora os profetas, ao invés de irem até Deus para obterem uma Pala-
vra de Deus para o povo, eles vão até o povo para descobrir o que é que o povo quer ouvir.
Você tem que saber disso para que você seja salvo.

Agora vamos para Isaías 64, verso 6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as
nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas
iniquidades como um vento nos arrebatam”.

Deus é perfeitamente Justo, perfeitamente Reto. E Ele não pode tolerar a injustiça. Deixe-
me provar isto a você: Quantas vezes Adão e Eva pecaram, antes de serem expulsos do
Jardim? Só uma vez. Eles pecaram uma única vez. Eles pecaram uma vez e o universo in-
teiro foi lançado no caos. Toda a criação foi trazida para debaixo do Juízo de Deus... Um
pecado. Pergunta: quantas vezes você pecou? Agora multiplique um pouco, e pense naqui-
lo que está acontecendo. Nós não pensamos muito em pecado, mas nós temos que pensar!
Olhe o que diz aqui “todos nós somos como o imundo”, diz o verso 6. A palavra no hebraico
pode significar diferentes coisas e você tem sempre que considerar o contexto. Refere-se
a coisas tão feias, que não quero nem compartilhar diante de todos que estão aqui. Mas,
uma das coisas que pode se referir aqui nesse texto, é a lepra. Você já viu um leproso? Eu
sei que têm diferentes estágios e fases da lepra. Existe um tipo que é pior e é horrível. Se
eu trouxesse um leproso aqui para este lugar, você ia cheirá-lo. Se eu o trouxesse para o
palco, você não poderia olhar para ele. Mas, supomos que façamos o seguinte: olhamos
para o leproso e temos compaixão. Então, vamos para o Rio de Janeiro e compramos o
melhor linho, a melhor seda que encontramos. Com essa seda linda que achamos, cobri-
mos o leproso de cima em baixo, fazendo-o se tornar “apresentável”, mas só por alguns
segundos. Mas, o que acontece? A corrupção dentro do leproso vai começar a sangrar e a
sujar aquela seda, e vai contaminar tudo. É por isso que você não pode ser salvo pelas
suas boas obras. É por isso que as suas boas obras são como trapos de imundícia. Antes
de ser um Cristão, você não tem boas obras, porque todas elas são permeadas pela corrup-
ção moral do seu coração.

Agora vamos voltar par ao nosso texto [inicial], Romanos, capítulo 3: “Pois todos pecaram”.

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Agora eu quero que você pense em uma coisa. A primeira coisa que eu quero dizer é a se-
guinte: A Bíblia não é um livro de teologia sistemática. A coisa mais próxima de uma teologia
sistemática na Bíblia é o livro de Romanos, onde Paulo está explicando à igreja de Roma
aquilo que ele crê. O livro tem 16 capítulos. Os primeiros 11 capítulos lidam com teologia,
com doutrina. E os capítulos 12 a 16 lidam com a prática. Então, nós temos 11 capítulos de
teologia. Não é incrível que Paulo dedica os três primeiros capítulos à doutrina do pecado?
Um quarto da sistemática dele, ele dedica à doutrina do pecado. Eu acredito que para o
apóstolo Paulo ensinar sobre o pecado era muito importante. Olhe o que ele faz em Roma-
nos, capítulo 3, verso 10: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer”. Paulo é
um apóstolo e escreve sobre a inspiração do Espírito Santo. Mas, ele quer provar o ponto
dele com tanto poder, que ele traz, então, uma longa sequência de textos do Antigo Testa-
mento, “não há um justo”. O que significa justo? Significa um padrão, significa estar de acor-
do com aquele padrão. Qual é o padrão? O caráter de Deus e a vontade de Deus. E, a fim
de que você esteja na Presença de Deus, você tem que estar perfeitamente conformado à
sua Retidão, à Sua Justiça. Sem um pecado sequer.

Às vezes eu estou no avião e eu quero testemunhar para as pessoas. Abro o Novo Testa-
mento grego, porque eles começam a olhar e dizer: “O que é isso? Que língua é essa?”. Aí
me dá uma oportunidade para testemunhar. E, às vezes, alguém vai fazer a seguinte per-
gunta: “O que eu tenho que fazer para ir para o céu?”. Aí, eu olho para a pessoa e falo: “É
fácil... Você tem que ser absolutamente perfeito na sua moral, desde o momento que você
nasce até o momento que você morre”. E, então, eu volto a ler, e eu consigo olhar para
eles, pelos cantos dos meus olhos, e eles estão assim [aparentando perplexidade], e eles
me perguntam: “Como é que eu vou para o céu mesmo?”. Aí eu digo: “Desculpe-me, deixe-
me explicar de novo… Você deve ser moralmente perfeito do momento que você nasce até
a sua morte”, e eu volto a ler. E eles me olham, eles me cutucam no ombro e falam: “Isso
é impossível”, e eu olho para eles e respondo: “É... Realmente é impossível. Então, você
tem um grande problema, não é?”. Então, está vendo? É isso que você deve enxergar: não
é simplesmente ser bom comparado com outras pessoas, você tem que ser perfeitamente
justo em comparação com Deus, sem um desvio sequer da Sua Lei. Paulo diz que não há
justo, nem um sequer. Aí, ele diz no verso 11, que “não há quem entenda, não há quem
busque a Deus”.

Ouça o que eu vou dizer com muita atenção, porque ao redor do mundo eu tenho ouvido o
seguinte, e nos Estados Unidos também, e aqui no Brasil: que há grandes avivamentos a-
contecendo. Não, não está acontecendo, e eu vou [lhes] dizer o porquê não está acontecen-
do: porque a maioria das igrejas que estão repletas, com 10, 15, 20 mil pessoas, eu escuto
a pregação, eles não estão buscando a Deus; o pregador não está pregando a Deus, ele
prega a Deus como se Deus fosse uma máquina, onde você coloca uma moedinha e con-

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segue alguma coisa. E as pessoas se aproximam de Deus, não por causa de Deus, mas
por aquilo que eles podem conseguir de Deus! Isto não é avivamento! Avivamento é quando
você deseja a Cristo somente! É assim que o Espírito de Deus verdadeiramente se move
em você. O que a Bíblia diz sobre o pecador? Ele não busca a Deus. Uma das característi-
cas do homem carnal: Ele não busca a Deus. Ele pode buscar coisas religiosas, ele pode
desejar a prosperidade que supostamente vem de Deus, mas ele não quer Deus somente
porque ele ama a Deus. Tem algo que você precisa entender aqui: Todo mundo quer ir para
Céu, mas tem um problema: A maioria das pessoas não quer que Deus esteja lá quando
eles chegarem, mas o Cristão preferiria ir para o Inferno com Cristo, do que estar no Céu
sem Ele. Um Cristão não tem medo de Inferno, ele tem medo de ser separado de seu Ama-
do! Um Cristão considera tudo como refugo para ter o conhecimento de Deus.

A Bíblia fala que não há quem entenda, não há quem busque a Deus, verso 12: “Todos se
extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um
só”. Ouça o que eu vou dizer. Se nós terminássemos agora e você saísse, mesmo se eu
chegasse até alguns de vocês hoje, se eu perguntasse a alguns de vocês: “se você morrer
você vai para o Céu? Muitos diriam: “Sim”. “Por quê?”. “Eu sou uma pessoa boa, eu nunca
matei ninguém, eu sei que eu já cometi muitos erros moralmente falando, mas eu sou basi-
camente bom”. Você percebe a grande heresia do homem? É que ele pensa que ele é bom.
E a única forma do Cristianismo entrar na vida dele, é realmente conhecer que não é bom.
Você não pode salvar a si mesmo. Você não chega neste tipo de justiça. Não existem um
sequer que seja bom, nenhum sequer.

Vamos agora para o verso 19: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão
debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável
diante de Deus”. Muitas pessoas têm a ideia de que para ir para o Céu, tem que guardar
os dez mandamentos, que através de guardar os dez mandamentos você pode ser salvo.
Você não entende o propósito da Lei. A Lei nunca foi dada para salvar ninguém. Ela está
repleta de coisas lindas, de verdades maravilhosas, é um guia excelente para a vida, é
muito benéfica para a vida Cristã, quando usada apropriadamente. Mas veja o problema
com a Lei: você não consegue guardá-la! Lembra-se do que Moisés disse? Aquele que vive
pela Lei, por ela viverá; aquele que não faz isso, morrerá. Não existe uma pessoa sequer
nesse recinto que viveu de acordo com a Lei. Mas, esse é o propósito da Lei. O propósito
da Lei é condenar você! Você olha para a Lei “não terás outros deuses diante de mim” e se
você é uma pessoa egocêntrica, mas você honestamente olha para a Lei, você percebe,
“eu tenho outros deuses, toda a minha vida eu já tive outros deuses. Eu tenho sido o outro
deus. Eu penso mais sobre carros e roupas, do que eu penso sobre Deus. Eu tenho outros
deuses”. Você não deve fazer uma imagem, diz o mandamento. “Eu já fiz várias imagens,
eu adoro uma série de coisas que fiz com minhas mãos”. Você não pode tomar o nome de

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Deus em vão. Você sabe que você pode tomar o nome de Deus em vão, inclusive falando
“aleluia”? Você sabia disso? Porque você fala “aleluia”, de forma que você não pensa na
profundidade disto, simplesmente falando-a, porque é uma resposta natural. Você percebe
que o Nome de Deus tem que ser dito com muita reverência? Muitas pessoas usam o nome
de Deus em vão. Desobedecendo aos pais? Deus detesta isso! Ele ordenava morte aqueles
que faziam isto. No Antigo Testamento, os jovens morriam por isso. Isso era comum. Adulté-
rio — Jesus deixou isso muito claro: só o olhar para uma mulher com lascívia no seu cora-
ção, e você cometeu adultério [Mateus 5:28].

Então, qual é o propósito da Lei? Deixar-nos, em todos os sentidos, sujeitos a ela. É como
se nos bloqueasse todos os caminhos, se você fosse por este caminho tentar se salvar a
Lei diz: Não! “Ah, eu vou me salvar por aqui”, a Lei diz: “Não!”. “Ah, eu vou me salvar aqui
ou por este caminho aqui”, a Lei diz: “Não!”. Então, nós tentamos passar por baixo e a Lei
é como um chão de cimento. E ela faz isso com um propósito: para que nós olhemos para
cima, para que nós olhemos para o Deus que fez por nós aquilo que nós não podemos fa-
zer por nós mesmos. Nós dizemos: “Eu sou um pecador, eu mereço morte! Eu mereço se-
paração de Deus lá no Inferno! Eu não tenho argumentos, eu não tenho boas obras para
tentar me defender! Ó Deus, tem misericórdia de mim pecador!” Este é o propósito da Lei,
é por isso que você precisar ensinar sobre pecado. Nós temos que amar as pessoas, nós
temos que ser repletos de graça, mas nós precisamos ensinar sobre pecado.

Há mais uma razão antes de nós prosseguirmos: O conhecimento do nosso pecado, nos
torna aptos a apreciar a graça. Se eu chegasse para o Bill Gates: “Bill Gates, está aqui um
sanduíche para você”, ele diria para mim: “Eu não preciso de um sanduiche, eu posso com-
prar um restaurante a cada hora. Eu não preciso de um sanduiche”. Mas, se eu pegar aque-
le mesmo sanduíche e eu chegar na Índia, a uma das vizinhanças mais pobres, e eu chegar
para eles e disser assim: “está aqui um sanduíche para você”, aquele homem vai beijar as
minhas mãos, ele vai chorar, ele vai contar para os seus vizinhos, e ele vai levar aquele
sanduíche inteiro para a sua esposa. E ele vai dizer para a esposa sobre mim, que fez esta
coisa maravilhosa por ele. À medida que um homem cresce em Cristo Jesus, quanto mais
ele vê a Justiça e a Santidade de Deus, mais ele enxerga sua falha moral, e mais cresce o
seu apreço pelo Senhor Jesus e à Sua morte sanguinolenta no Calvário, e é por isso que
eu disse o que eu disse hoje de manhã... Não fale comigo sobre coisas tolas, se eu chegar
na sua igreja não fale para mim sobre prosperidade, não fale para mim sobre a sua fé, não
fale para mim sobre as suas experiências, não compartilhe do seu coração, eu não quero
ouvir! Fale para mim sobre Jesus, fale para mim sobre o que Ele fez por mim na cruz, fale
para mim sobre Deus em toda Sua glória, fale para mim sobre o pecado do homem em toda
a sua depravação, para que quando eu olhe para Jesus de novo Ele fique mais precioso
aos meus olhos. Deixe-me dar um exemplo: Nesta tarde, onde foram as estrelas? Será que

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um gigante pegou uma cesta, colocou as estrelas dentro e as levou embora, onde é que
eles foram? Elas não foram há lugar nenhum, mas porque nós não as conseguíamos ver?
Por causa da luz do Sol. O que é que isso nos ensina? Nós só conseguimos ver a beleza
das estrelas quando existe um céu totalmente escuro por detrás delas. E você só consegue
entender a graça de Deus e ver Sua real beleza, quando você contrasta com o lado negro
da nossa depravação. E, então, você não precisa dessas coisas triviais para você crer, você
não precisa dessas coisas triviais para você amar a Deus, você O ama porque O Seu Filho
morreu por você, e isso basta.

Já falamos um pouco sobre o homem. Agora vamos falar um pouco sobre Deus.

Lá em Oséias 4:6 fala que “O meu povo é destruído por falta de conhecimento”. Ouça-me,
a palavra “destruído”, meu povo é arruinado, eles não sabem como viver, porque eles não
têm o conhecimento de Deus Agora, dê uma olhada em Provérbios 29:18: “Não havendo
profecia, o povo perece; porém o que guarda a lei, esse é bem-aventurado”.

Onde não há visão ou profecia... No contexto aqui, o que ele está falando? Ele está falando
o seguinte: Onde não há revelação do caráter e da Lei de Deus, o quê que acontece com
o povo? Eles correm sem restrições, eles saem fazendo loucura, eles continuam em cor-
rupção. Então, se não há um conhecimento de Deus a imoralidade entre o povo de Deus
cresce cada vez mais.

Você sabe o que torna a igreja dos Estados Unidos famosa, conhecida? Imoralidade. Sabe
o que faz você famoso? Sua Igreja famosa? Você quer saber? A Igreja no Brasil é conhe-
cida pela sua imoralidade. Você pode ficar com raiva, observe que eu me incluí nisto, o meu
povo também. Você tem que encarar isso. Têm muitas pessoas professando fé em Cristo,
que vivem em carnalidade, imoralidade e sensualidade! Isso acontece o tempo todo, em to-
do o Evangelicalismo. Por quê? Qual a razão disso? “Meu povo é destruído porque lhe falta
conhecimento”. Porque não há profecia sobre o caráter de Deus e a Sua Lei. Todos estes
profetas tolos, profetizando coisas tolas. Em todos os Estados Unidos, em todo o Brasil.
Eles não são nada mais do que meninos, que veem rostos em nuvens que não existem.
Eles falam: “Paz! Paz!”, quando não há paz. E se você cair no ensino deles, a sua queda vai
ser terrível. O povo de Deus é destruído por causa de uma falta de conhecimento de Deus.

Vamos dar uma olha em no Salmo 50, verso 17: “Visto que odeias a correção, e lanças as
minhas palavras para detrás de ti”. Eles não querem o ensino de Deus.

“Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros. 19
Soltas

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20
a tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano. Assentas-te a falar contra
teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe”.

Veja um verso importante agora, verso 21:

“Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu...”.

Escute-me, eles pensavam que Deus era como eles. Por que eles pensavam que Deus era
igual a eles? Porque ninguém estava pregando sobre Deus, e quando ninguém está ensi-
nando sobre Deus, o que acontece? As pessoas começam a fazer Deus à sua própria ima-
gem. Domingo de manhã é um dos momentos de maior idolatria em toda a semana; porque
eu digo isso? Porque as pessoas estão adorando um Deus que elas fizeram com a sua
própria mente. Eles criam um deus e então adoram o deus que criam. E você diz: “Irmão
Paul, por que você está falando isto?”. Eu quero que você escute o que eu vou falar, o que
nós estamos falando? O conhecimento de quem é Deus... Escute bem atentamente: Se vo-
cê não conhece o que a Bíblia fala sobre quem é Deus e os Seus atributos, então você terá
a tendência de criar o seu próprio Deus e adorar ao Deus que você construiu em sua mente.
Agora vem uma pergunta. Perguntas para vocês. Perguntas para pastores. Perguntas para
alunos de seminário:

Cristão, quantos anos de sua vida você gastou estudando os atributos de Deus? A maioria
de vocês vai dizer: “nunca”.

Cristão, quantos anos você já esteve sob a pregação de um pregador, onde ele gastou a
maior parte do tempo falando sobre os atributos de Deus, quem é Deus? A maioria de vocês
vai dizer: “Nunca, pastor”.

Agora, para os alunos de Institutos bíblicos... Quando você estuda lá no seminário, no insti-
tuto, quatro anos, quantos foram gastos estudando os atributos de Deus? A maioria de vo-
cês vai dizer: “Um semestre, pastor”.

Quando você vai para o seminário, para obter o seu grau de pastor, quanto tempo você
gasta nos atributos de Deus? Quando você começou a pregar lá no púlpito depois que você
se formou, quanto tempo você gastou e dedicou estudando os atributos de Deus? Quanto
esforço você empreendeu para ensinar o seu povo sobre os atributos de Deus?

Você pode ouvir milhares de sermões amanhã, infelizmente é raro encontrar um sobre os
atributos de Deus. Você diz que Deus é Santo, mas você já estudou isto? Você consegue
entender o que isto significa? Você diz: “Ele é Justo”. Você entende o que isto significa?

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Você sabe como é que Deus olha para o pecado? Você sabe como é que Ele responde a
isto? Você está entendendo o que eu estou dizendo? Eu provei, não provei? O povo de
Deus é ignorante a respeito de Deus.

A razão pela qual há tantos programas e eventos nas igrejas, têm tantas estratégias sobre
discipulado, é porque nestas atividades estamos tentando trocar o conhecimento de Deus
por outra coisa. Se as pessoas são realmente convertidas sob um Evangelho verdadeiro e
são ensinadas nas verdades mais importantes, “Quem é Deus?”, eles vão andar com Ele.
Eles serão um povo santo. Deixe-me dar um exemplo: Se nós fizéssemos uma conferência
aqui no Brasil e nos Estados Unidos e esta conferência fosse sobre prosperidade, se fosse
sobre cura, nós poderíamos encher o maior auditório neste país, mas se nós tivéssemos
uma conferência sobre os atributos de Deus, não encheríamos nem a metade deste auditó-
rio, por quê? Porque eles querem prosperidade, eles não querem Deus. Se nós fizéssemos
uma conferência sobre a cruz de Cristo, e falássemos sobre o Filho de Deus sendo moído
debaixo da ira de Deus, quantas pessoas viriam? Você percebe quão errado tudo isso é?
Avivamento genuíno é quando as pessoas se voltam para Deus em obediência, em amor...
Eu quero ir com vocês bem rapidamente em Jeremias 9, versos 23 e 24: “Assim diz o
Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se
glorie o rico nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me
conhecer, que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque
destas coisas me agrado, diz o Senhor”.

Este texto tinha que estar em seu coração, tinha que estar em seu coração. Por que os ho-
mens não poderiam se vangloriar na sua sabedoria? Por que os fortes não poderiam se
vangloriar na sua força, e os ricos na sua riqueza, mas o que se gloria deveria se gloriar
nisto, que você conhece a Deus, que Ele é Santo, que Ele é Justo.

Alguns de vocês estão muito desapontados... Você veio hoje à noite esperando outra coisa.
Mas, escute uma coisa, antes de eu lhes dizer as boas notícias, eu preciso lhes dizer as
más notícias, para que, quando eu chegar na boas notícias, ela seja realmente boa, a me-
lhor notícia! E ela eclipsa todas as outras coisas! E, é isso que eu desejo para vocês. Como
eu lhes disse hoje de manhã: eu quero que vocês aprendam a discernir as coisas mais ex-
celentes daquelas que são vis, as coisas santas das coisas comuns.

Amanhã, quando eu pregar, se Deus quiser, eu vou falar sobre duas coisas — vão ser difí-
ceis —, eu vou falar sobre o que Deus diz acerca do Juízo dEle sobre o pecador, e eu con-
cluirei com ilustrações diferentes do Antigo Testamento, mostrando a você o que Deus fez
por nós em Cristo Jesus. E, então, no próximo dia, gastaremos tempo em Romanos 3 e fa-
laremos sobre o que significa: “Jesus Cristo morreu”. Eu imploro a você: venha, por favor.

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Nós vamos trabalhar estas verdades e você sairá dessa conferência conhecendo mais do
Evangelho, do que você já sabia antes. E você vai aprender a apreciá-lo: Jesus Cristo! E o
que Ele fez por você. Que Ele sofreu a ira de Deus, e tendo pago o preço pelo seu pecado,
você agora pode ser justificado diante de Deus.

Vamos orar:

Pai, Obrigado por esta oportunidade. Por favor, Senhor, trabalhe no coração das pes-
soas para que elas percebam a necessidade de Te conhecer, em todos os Teus atri-
butos, Senhor, em toda a Tua glória. Que eles escolham a Ti sobre todas as coisas.
Que eles vivam para o Teu Filho, Senhor. Amém.

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A Porção Dos Ímpios
Por Jonathan Edwards

“Mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à


injustiça. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o
mal, ao judeu primeiro e também ao grego.” (Romanos 2:8-9)

É a intenção do apóstolo Paulo, nos três primeiros capítulos desta Epístola, mostrar que
tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado e que, portanto, não podem ser justi-
ficados por obras da lei, mas apenas pela fé em Cristo. No primeiro capítulo, ele mostrou
que os gentios estavam debaixo do pecado. Neste, mostra que os judeus também estão, e
que, conquanto fossem severos nas suas censuras aos gentios, faziam as mesmas coisas
que condenavam, pelo que o apóstolo os acusa: “Portanto, és indesculpável, ó homem,
quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas;
pois praticas as próprias coisas que condenas”. E os adverte que não sigam por este
caminho, prevenindo-os da miséria a que ficariam expostos, e dando-lhes a entender que,
ao invés de sua miséria ser menor que a dos gentios, seria maior, pelo fato de Deus ter
sido mais benevolente para com eles do que para com os gentios. Os judeus achavam que
estavam livres da ira vindoura, porque Deus os escolhera para ser Seu povo peculiar. Mas
o apóstolo os informa que haveria indignação e ira, tribulação e angústia, para a alma de
todo homem, não apenas dos gentios, mas para toda alma, e para o do judeu primeira-
mente e em especial, quando faziam o mal, pois seus pecados tinham mais agravantes.

Na passagem lida, encontramos:

1. Uma descrição dos ímpios, na qual podem ser observadas aquelas suas características
que têm a natureza de uma causa, e as que têm a natureza de um efeito.

Aquelas características dos ímpios aqui mencionadas que têm a natureza de uma causa
são o fato de serem facciosos, e não obedecerem à verdade, mas obedecerem à injustiça.
Ser faccioso significa ser avesso à verdade, disputar com o Evangelho, achar defeitos nas
suas declarações e ofertas. Os incrédulos encontram muitas coisas nos caminhos de Deus
em que tropeçam, e pelas quais se ofendem. Sempre estão disputando e achando defeitos
em uma coisa ou outra. Com isso são impedidos de crer na verdade e render-se a ela.
Cristo é para eles uma pedra de tropeço, uma rocha de ofensa. Não obedecem à verdade,
ou seja, não se rendem a ela, não a recebem com fé. Esse render-se à verdade e abraçá-
la, que se encontra na fé salvífica, é chamado de obedecer, na Escritura. Romanos 6:17:
“Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de

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coração à forma de doutrina a que fostes entregues”. Hebreus 5:9: “E, tendo sido aperfei-
çoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

Mas os ímpios obedecem à injustiça, ao invés de se renderem ao Evangelho. Estão sob o


poder e domínio do pecado, e são escravos de suas luxúrias e corrupções.

São nestas características dos ímpios que está a essência de sua impiedade. Sua descren-
ça e oposição à verdade e sua submissão servil aos desejos pecaminosos são o funda-
mento de toda impiedade.

Aquelas características dos ímpios que têm a natureza de um efeito são o fazer o mal. Esta
é a sua menor oposição contra o Evangelho, e é por serem servilmente submissos a seus
desejos carnais que fazem o mal. Aqueles princípios ímpios são o fundamento, e a prática
ímpia é a estrutura. Aqueles são a raiz, esta, o fruto.

2. Encontramos também a punição dos ímpios, na qual podem ser também notados a causa
e o efeito.

As coisas mencionadas em sua punição que têm a natureza de uma causa são indignação
e ira; ou seja, a indignação e ira de Deus. É o furor de Deus que tornará os homens miserá-
veis. Serão os objetos da ira Divina, e daí surgirá toda sua total punição.

As coisas em sua punição que têm a natureza de um efeito são tribulação e angústia. A in-
dignação e ira de Deus se converterão em extrema dor, aflição e angústia de coração neles.

Doutrina: Indignação, ira, miséria e angústia de alma são a porção que Deus reservou aos
ímpios.

Todo ser humano terá a porção que lhe pertence. Deus reserva a cada um a sua porção. A
porção do ímpio nada mais é senão ira, aflição e angústia de alma. Embora possam gozar
alguns prazeres e deleites vazios e inúteis, por alguns dias, enquanto permanecem neste
mundo, contudo, o que lhes está reservado pelo Senhor e Governador de todas as coisas,
como sua porção, é apenas indignação e ira, tribulação e angústia.

Essa não é a porção que os ímpios escolhem. O que escolhem é a felicidade mundana.
Contudo, essa é a porção que Deus lhes concede. É a porção que, para todos os efeitos,
eles escolhem para si, pois escolhem aquelas coisas que natural e necessariamente con-
duzem a esta porção, e aquelas que são claramente ditas, incontáveis vezes, que levam a
ela. Provérbios 8:36: “Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que

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me aborrecem amam a morte”. Mas, quer a escolham ou não, esta será a porção por toda
a eternidade daqueles que vivem e morrem como ímpios. Indignação e ira os perseguirão
enquanto viverem neste mundo, daqui os arrebatarão, e os seguirão para o mundo vin-
douro. E lá, ira e miséria permanecerão sobre eles por toda a eternidade.

O método que usarei para tratar deste assunto é descrever a ira e a miséria das quais os
ímpios serão os objetos, tanto aqui quanto na eternidade, em suas partes e períodos suces-
sivos, de acordo com a ordem do tempo.

I. Descreverei a ira que frequentemente acompanha os ímpios nesta vida. Indignação e ira,
com frequência, os alcançam ainda aqui.

1. Deus, com frequência, na Sua ira, os entrega a si mesmos. São entregues aos seus pe-
cados, e abandonados para que destruam a si mesmos, e trabalhem em sua própria ruína;
Ele os abandona no pecado. Oséias 4:17: “Efraim está entregue aos ídolos; é deixá-lo”.
Deus, com frequência, permite que caminhem grandes distâncias no pecado, e não lhes
concede a graça refreadora que dá a outros. Ele os entrega à sua própria cegueira, de ma-
neira que permanecem ignorantes de Deus e de Cristo, e das coisas que pertencem à sua
paz [Lucas 19:42]. Eles são, às vezes, entregues à dureza de coração, e se tornam estú-
pidos e insensíveis, de tal maneira que nada, jamais, os despertará completamente. São
entregues à própria cobiça dos corações, para insistirem em certas práticas ímpias, todos
os seus dias. Alguns são entregues à avareza, outros à bebedeira, alguns à impureza, ou-
tros ao orgulho, disputas e espírito invejoso, e alguns a uma disposição acusadora e an-
tagonista para com Deus. Ele os entrega à sua estultice, para agirem com excessiva tolice,
para que adiem os cuidados de suas almas de tempos em tempos, para nunca acharem
que o presente é o melhor tempo, mas sempre O mantêm à distância, e tolamente se gabam
com esperanças de uma vida longa, e adiam o dia mau, e se bendizem no coração, dizendo:
“Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a
bebedice”. Alguns são deixados em tal estado que se tornam miseravelmente endurecidos
e insensíveis, enquanto outros ao seu redor são despertados e, muito preocupados, per-
guntam-se o que devem fazer para ser salvos.

Às vezes, Deus entrega os homens a uma fatal apostasia devido ao mau aproveitamento
dos esforços do Seu Espírito. São abandonados para a apostasia eterna. Terrível é a vida
e a condição dos que são assim deixados sem Deus. Temos exemplos da miséria dos tais
na santa Palavra de Deus, particularmente de Saul e Judas. Estes são, às vezes, entregues
ao poder de Satanás para que os tente, e os conduza a práticas ímpias, agravando bastante
sua própria culpa e miséria.

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2. Indignação e ira são, às vezes, exercidas contra eles neste mundo, sendo amaldiçoados
em todas as suas ocupações. Esta maldição de Deus os segue em tudo. São amaldiçoados
nos seus prazeres. Se eles têm prosperidade, ela lhes é amaldiçoada; se possuem rique-
zas, se têm honra, se desfrutam prazeres, lá está a maldição de Deus presente. Salmos
92:7: “Ainda que os ímpios brotam como a erva, e florescem todos os que praticam a
iniquidade, nada obstante, serão destruídos para sempre”.

Há uma maldição de Deus que acompanha sua alimentação diária: cada pedaço de pão
que comem, cada gota de água que bebem. Salmos 69:22: “Sua mesa torne-se-lhes diante
deles em laço, e a prosperidade, em armadilha”. São amaldiçoados em todas suas ocupa-
ções, em qualquer coisa em que põem a mão; quando vão ao campo trabalhar, ou quando
trabalham nos seus respectivos negócios. Deuteronômio 28:16: “Maldito serás tu na cidade
e maldito serás no campo”. A maldição de Deus permanece na casa em que habitam, e o
enxofre está espalhado nas suas habitações [Jó 18:15]. A maldição de Deus está presente
nas suas aflições, enquanto que as aflições dos justos são correções paternais, e vêm pela
misericórdia. As aflições que os ímpios enfrentam são devidas à ira, e vêm de Deus como
um inimigo, e são o prenúncio de sua punição eterna. A maldição de Deus também os a-
companha nos seus aproveitamentos e oportunidades espirituais, e lhes seria melhor não
haver nascido em uma terra onde há a luz [do Evangelho]. O fato de terem a Bíblia e o Dia
do Senhor apenas agrava sua culpa e miséria. A palavra de Deus quando lhes é pregada
é cheiro de morte para a morte. Melhor lhes seria se Cristo jamais houvesse vindo ao
mundo, se jamais houvesse oferta de um Salvador. A própria vida lhes é uma maldição;
pois vivem apenas para encher a medida dos seus pecados. O que buscam em todos os
divertimentos, e empregos, e preocupações da vida, é sua própria felicidade; mas jamais a
obtêm. Jamais obtêm conforto verdadeiro, todos os consolos que têm são inúteis e não
satisfazem. Se vivessem cem anos, com muito do mundo em sua possessão, suas vidas
seriam todas preenchidas com vaidade. Tudo o que possuem é vaidade de vaidades, não
acham descanso verdadeiro paras suas almas, tudo o que fazem é alimentar o vento orien-
tal [Oséias 12:1] e não têm real contentamento. Sejam quais forem os prazeres exteriores
que possam ter, suas almas estão famintas. Não têm paz real de consciência, não têm nada
do favor de Deus. O que quer que façam, vivem em vão, e futilmente. São inúteis na criação
de Deus, pois não respondem ao fim para o qual foram criados. Vivem sem Deus, não têm
a Sua presença, e nenhuma comunhão com Ele. Pelo contrário, tudo o que têm, e tudo o
que fazem, não têm outro fim senão o de contribuir para sua própria miséria, e tornar seu
estado eterno e futuro mais terrível. Os melhores dos ímpios vivem vidas miseráveis e mes-
quinhas, mesmo com toda a sua prosperidade; suas vidas são muito indesejadas, e, o que
quer que tenham, a ira de Deus permanece sobre eles.

3. Depois de um tempo devem morrer. Eclesiastes 9:3: “Este é o mal que há em tudo quanto

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se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo; também o coração dos homens está cheio
de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos”.

A morte que recai sobre os ímpios é bem diferente da que recai sobre os justos; para os
ímpios é uma execução da maldição da lei, e da ira de Deus. Quando um ímpio morre,
Deus o extirpa em ira, ele é levado por uma tempestade de ira, e é impelido em sua impie-
dade. Provérbios 14:32: “Pela sua malícia é derribado o perverso, mas o justo, ainda mor-
rendo, tem esperança”. Jó 18:18: “Da luz o lançarão nas trevas e o afugentarão do mundo”.
Jó 27:21: “O vento oriental o leva, e ele se vai; varre-o com ímpeto do seu lugar”. Embora
os ímpios, em vida, possam viver na prosperidade mundana, contudo, não podem viver
sempre aqui, mas devem morrer. O lugar que conhecem não mais conhecerão; e o olho
que os veem não mais os verão na terra dos vivos [Jó 7:8].

Seus limites estão inalteravelmente estabelecidos, e, quando o atingirem, devem partir, e


deixar todas as boas coisas mundanas. Se viveram na glória exterior, sua glória não os
acompanhará; nada que possuem poderá ser levado. Eclesiastes 5:15: “Como saiu do
ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá
levar consigo”. Ele deve deixar todas as suas posses para outros. Se estão tranquilos e
quietos, a morte acabará com essa tranquilidade, roubará seu escárnio carnal, e os desnu-
dará de toda sua glória. Como vieram nus ao mundo, nus voltarão, e irão como vieram. Se
estocaram muitos bens, por muitos anos, se armazenaram em depósitos, na esperança de
ter conforto e prazer, a morte lhes cortará tudo isso. Lucas 12:16: “E lhes proferiu ainda
uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abun-dância. E arrazoa-
va consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E
disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo
o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos
bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” Se têm nos seus
peitos muitos desígnios e projetos para promoverem sua prosperidade e vantagem munda-
na, quando vem a morte, tudo vai-se embora com um sopro. Salmos 144:4: “Sai-lhes o es-
pírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios”. E assim,
qualquer diligência que tenham tido em buscar sua salvação, a morte a desapontará, não
aguardará que eles cumpram seus projetos e esquemas. Se afagaram, enfeitaram e ador-
naram seus corpos, a morte roubará todo seu prazer e glória; tornará seu semblante pálido
e seu aspecto repulsivo. Ao invés das alegres roupas e dos belos ornamentos, terão apenas
uma mortalha; sua casa será o escuro e silencioso túmulo; e esse corpo que tanto adora-
vam, se converterá em podridão repugnante, será comido pelos vermes, e se tornará pó.
Alguns ímpios morrem na juventude, a ira os persegue, e logo os derruba e não lhes é
permitido viver metade dos seus dias. Jó 36:14: “Perdem a vida na sua mocidade e morrem

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entre os prostitutos cultuais”. Salmos 55:23: “Tu, porém, ó Deus, os precipitarás à cova
profunda; homens sanguinários e fraudulentos não chegarão à metade dos seus dias”. Eles
são, às vezes, arrebatados em meio ao pecado e à vaidade, e a morte põe fim súbito a to-
dos os seus prazeres juvenis. São, com frequência, interrompidos no meio de uma carreira
no pecado, e se seu coração já se apegou firmemente a essas coisas, devem ser separados
delas. Não possuem bens, senão os exteriores; mas, então, deverão eternamente os aban-
donar, devem para sempre fechar os olhos para tudo o que lhes foi querido e agradável
aqui.

4. Os ímpios são, às vezes, objetos de muita tribulação e angústia de coração nos seus lei-
tos de morte. Às vezes, as dores do corpo são muito extremas e terríveis; e o que suportam
nestas agonias e lutas pela vida, quando corpo e alma estão lutando para se separar,
ninguém saberá. Ezequias teve um senso terrível disso. Ele compara a um leão quebrando
todos os seus ossos. Isaías 38:12, 13: “A minha habitação foi arrancada e removida para
longe de mim, como a tenda de um pastor; tu, como tecelão, me cortarás a vida da urdidura,
do dia para a noite darás cabo de mim. Espero com paciência até à madrugada, mas ele,
como leão, me quebrou todos os ossos; do dia para a noite darás cabo de mim”. Mas isto
é pouco comparado ao que, às vezes, é suportado pelas almas dos ímpios quando estão
no seu leito de morte. A morte parece, às vezes, ter um aspecto muito horrível para eles,
quando ela vem e os encara na face, não conseguem contemplá-la. É sempre assim
quando os ímpios têm notícias da aproximação da morte, e têm a razão e a consciência em
exercício, e não são estúpidos ou distraídos. Quando essa rainha dos terrores vem e se
revela, e são chamados a encontrá-la, oh, como é terrível seu conflito! Mas é necessário
que a encontrem: Eclesiastes 8:8: “Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o
vento para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas
nesta peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega”.

A morte vem a eles com toda sua terrível armadura, e com seu aguilhão; e é o suficiente
para encher suas almas com um tormento que não pode ser expresso.

É ruim para uma pessoa estar em uma cama, doente, ser desenganada pelos médicos,
com os amigos ao redor chorando, como se esperassem partir juntos; e em tais circunstân-
cias não ter esperança, não ter interesse em Cristo, e ter a culpa dos pecados posta sobre
sua alma; estar saindo do mundo ser ter feito a paz com Deus; permanecer diante do Seu
trono de julgamento com todos os seus pecados, sem ter nada para objetar, ou responder.
Ver a única oportunidade para se preparar para a eternidade chegando ao fim, depois da
qual não haverá mais tempo para aprovação, mas sua situação estará inalteravelmente
fixada, e jamais haverá outra oferta de um Salvador. É horrível para a alma chegar às
margens do ilimitado mar da eternidade e insensivelmente se atirar nele, sem qualquer

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Deus ou Salvador para lhe preservar. Ser trazida à beira do precipício e ver a si mesma
caindo no lago de fogo e enxofre, e sentir que não tem nenhum poder de impedir sua queda:
quem poderá contar os apertos e apreensões do coração em tal situação? Como ela tenta
voltar, mas, não obstante, continua; é vão desejar mais uma oportunidade! Oh, como pensa
que são felizes aqueles que estão à sua volta, que ainda podem viver, ter sua vida prolon-
gada, enquanto ele vai para uma eternidade infindável! Como desejaria que acontecesse
consigo o mesmo que ocorre com os que têm mais tempo de se preparar para o julgamento!
Mas não será assim. A morte, enviada com o propósito de chamá-lo, não lhe dará descanso
nem alívio: ele deve comparecer diante do trono de Deus como está, ter seu estado eterno
determinado de acordo com suas obras. Para tais pessoas, como as coisas parecem dife-
rentes dos seus tempos de saúde, quando contemplavam a morte à distância! Como o pe-
cado lhes parece diferente agora, aqueles mesmos pecados que costumavam menospre-
zar! Como é terrível olhar para trás e considerar como gastaram seu tempo, sendo tolos, e
como gratificaram e premiaram seus desejos carnais, e viveram nos caminhos da impieda-
de; como foram descuidados, e como negligenciaram suas oportunidades e vantagens,
recusando-se a ouvir o conselho, e como não se arrependeram apesar de todos os avisos
que receberam! (Provérbios 5:11-13): “e gemas no fim de tua vida, quando se consumirem
a tua carne e o teu corpo, e digas: Como aborreci o ensino! E desprezou o meu coração a
disciplina! E não escutei a voz dos que me ensinavam, nem a meus mestres inclinei os
ouvidos!”

Como o mundo lhes parece diferente agora! Costumavam lhe dar muito valor, e ter seus
corações arrebatados por ele; mas de que vale agora? Como são insignificantes todas as
riquezas! (Provérbios 11:4): “As riquezas de nada aproveitam no dia da ira, mas a justiça
livra da morte”. Que pensamentos diferentes têm agora a respeito de Deus e de Sua ira!
Eles costumavam desprezar a ira de Deus, mas como ela parece terrível agora! Como os
seus corações se comprimem ao pensar em comparecer diante desse Deus! Como seus
pensamentos a respeito do tempo são diferentes! Agora o tempo parece precioso e o que
não dariam por mais um pouco de tempo! Alguns, nestas circunstâncias, foram levados a
clamar: “Oh, um milhão de mundos por uma hora, por um momento!” E como a eternidade
parece diferente agora! Sim, ela é de fato terrível. Alguns, no leito de morte, foram levados
a clamar: “Oh essa palavra ‘eternidade! eternidade! eternidade!’” Que mar sombrio ela lhes
parece, quando chegam às suas margens! Com frequência, nestes tempos, clamam por
misericórdia, e clamam em vão. Deus os chamou, mas não ouviram. “Antes, rejeitastes todo
o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa desven-
tura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei” (Provérbios 1:26). Rogam a outros que orem
por eles, chamam os pastores, mas nada resolve. Chegam mais e mais perto da morte, e
a eternidade está mais e mais à porta. E quem pode expressar o seu horror, quando se
sentem agarrados pelos braços gelados da morte, quando sua respiração falha mais e

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mais, e seus olhos começam a ficar fixos e a fraquejar! O que eles sentem não pode ser
dito ou concebido. Alguns ímpios têm muito do horror e desespero do inferno na sua última
doença. Eclesiastes 5:17: “Nas trevas, comeu em todos os seus dias, com muito enfado,
com enfermidades e indignação”.

II. Descreverei agora a ira que acompanha os ímpios no porvir.

1. A alma, quando separada do corpo, será lançada no inferno. Há, sem dúvida, um julga-
mento específico pelo qual todo homem deve ser provado na morte, além do julgamento
geral, pois a alma, tão logo parte do corpo, aparece diante de Deus para ser julgada. Eclesi-
astes 12:7: “e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Isto é,
para ser julgada e preparada por Ele. Hebreus 9:27: “E, assim como aos homens está orde-
nado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”. Mas este julgamento particular
provavelmente não é uma ocasião solene como aquele que acontecerá no dia final. A alma
deve aparecer diante de Deus, mas não da forma como os homens aparecerão no fim do
mundo. As almas dos ímpios não irão ao céu para se apresentar diante de Deus, nem Cristo
descerá de lá para a alma se apresentar diante dele. Nem se supõe que a alma será carre-
gada a algum lugar, onde haja algum símbolo especial da presença Divina. Mas Deus está
presente em todo lugar, então a alma se conscientizará imediatamente da Sua presença.
As almas em um estado separado [do corpo] estarão sensíveis da presença de Deus e de
Suas operações de maneira diferente do que estão agora. Pode-se dizer que todos os
espíritos separados estão diante de Deus: os santos estão em Sua gloriosa presença, e os
ímpios no inferno estão em Sua terrível presença. Somos informados que são atormentados
na presença do Cordeiro. Apocalipse 14:10: “Também esse beberá do vinho da cólera de
Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre,
diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro”. Assim, a alma de um ímpio, na sua
partida do corpo, ficará imediatamente consciente de que está diante de um Deus infinita-
mente santo e terrível, e do seu próprio Juiz final. E então verá como Ele é um Deus terrível,
verá como é santo, como odeia infinitamente o pecado; estará ciente da grandeza da ira de
Deus contra o pecado, e como é terrível Seu desprazer. Estará consciente da terrível
majestade e poder de Deus, e como é horrível coisa cair em Suas mãos. Então a alma virá
nua, com toda a sua culpa, em toda sua imundície; uma vil, repugnante, abominável criatu-
ra, uma inimiga de Deus, rebelde contra Ele, com a culpa de toda sua rebelião e menospre-
zo dos mandamentos de Deus, e desprezo de Sua autoridade, e desrespeito pelo glorioso
Evangelho, diante de Deus como seu Juiz. Isso a encherá de horror e espanto. Não se deve
pensar que esse julgamento será acompanhado com qualquer voz ou qualquer outro
relatório, como o julgamento no fim do mundo; mas Deus Se manifestará em sua estrita
justiça interiormente, às vistas imediatas da alma, e ao sentido e apreensão da consciência.

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Este julgamento particular não será obstáculo para que a alma seja lançada no inferno
imediatamente ao sair do corpo. Tão logo ela saia do corpo, saberá qual será seu estado e
condição por toda a eternidade.

Enquanto houver vida, há esperança. O homem, enquanto vivia, embora sua situação fosse
extremamente terrível, possuía ainda esperança. Quando estava moribundo, havia ainda
possibilidade de salvação. Mas, uma vez que a união entre a alma e corpo for quebrada,
nesse exato momento o caso se torna desesperador, e não subsiste mais esperança algu-
ma, nenhuma possibilidade. Nos seus leitos de morte talvez tivessem esperança que Deus
se compadeceria deles e ouviria seus clamores, ou que ouviria as preces dos seus amigos
piedosos por eles; estavam prontos para se agarrar em qualquer coisa que encontrassem,
algum afeto religioso ou alguma mudança na sua conduta externa, e se gabavam que eram
então convertidos. Eram capazes de se permitir algum grau de esperança devido às vidas
morais que viviam e que Deus os respeitaria e os salvaria.

Mas tão logo a alma parte do corpo, a partir desse momento o caso está absolutamente
determinado. Haverá então um fim eterno para toda esperança, para tudo que os homens
se agarravam nesta vida; a alma então saberá com segurança que deve ser miserável por
toda eternidade, sem qualquer remédio. Verá que Deus é seu inimigo; verá seu Juiz vestido
em Sua ira e vingança. Então, sua miséria começará e será, neste momento, engolida pelo
desespero. O grande mar estará fixo entre ela e a felicidade, a porta da misericórdia fechada
para sempre, a sentença irrevogável será dada. Então, os ímpios saberão o que está diante
deles. Antes, a alma estava aflita por temer como seria; mas agora, todos os seus temores
sobrevirão. Sobrevirão como um dilúvio poderoso, e não haverá escape. Devido ao medo,
a alma anteriormente estava cheia de espanto; mas agora, quem pode conceber o assom-
bro que a enche, quando toda esperança estiver cortada, e estiver ciente que nada fará
alguma diferença!

Quando morre um homem bom, sua alma é conduzida pelos santos anjos ao céu. Lucas
16:22: “Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu
também o rico e foi sepultado”. Assim, podemos bem supor que quando um ímpio morre,
sua alma é agarrada pelos anjos maus; que eles cercam sua cama prontos para arrebatar
a alma miserável tão logo ela deixe o corpo. E com que violência e fúria estes espíritos
cruéis voarão sobre sua presa e ela será deixada em suas mãos! Não haverá bons anjos
para guardá-la e defendê-la. Deus não terá cuidado dela, não haverá nada que lhe sirva de
auxílio contra estes espíritos cruéis que a tomarão e a levarão ao inferno, para ser atormen-
tada para sempre. Deus a deixará completamente em suas mãos, e a dará para sua pos-
sessão, quando vier a morrer; e será conduzida ao inferno, a habitação dos demônios e
espíritos condenados. Se o temor do inferno no leito de morte, às vezes, enche os ímpios

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de terror, como serão esmagados quando sentirem seus tormentos, quando descobrirem
que são não apenas tão grandes, mas até mesmo maiores que seus temores! Descobrirão
que são muito além do que poderiam conceber ao sentirem; pois ninguém sabe o poder da
ira de Deus, senão os que a experimentam. Salmos 90:11: “Quem conhece o poder da tua
ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?”

As almas dos ímpios que partiram são, sem dúvidas, levadas para algum lugar específico
no universo que Deus preparou para ser o receptáculo dos seus súditos ímpios, rebeldes e
miseráveis. Um lugar onde a justiça vingadora de Deus será glorificada; um lugar feito para
a prisão, onde demônios e ímpios estão reservados até o dia do julgamento.

2. Aqui, as almas dos ímpios sofrerão miséria extrema e incrível, em um estado separado
[do corpo], até ao dia da ressurreição. Esta miséria não é, na verdade, seu castigo pleno,
assim como não é a felicidade dos santos completa antes do dia do julgamento. Acontece
com as almas dos ímpios o mesmo que acontece com os demônios. Embora estes sofram
tormentos extremos agora, contudo ainda não sofrem seu castigo completo; e, portanto, é
dito que foram lançados ao inferno e presos em cadeias. 2 Pedro 2:4: “Ora, se Deus não
poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos
de trevas, reservando-os para juízo”. Judas 6: “E a anjos, os que não guardaram o seu
estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas,
em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”. Eles são reservados no estado em que
estão; e para que estão reservados, senão para grau maior de punição? Logo, vemos que
tremem de medo. Tiago 2:19: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios
creem e tremem”. Da mesma forma, quando Cristo esteve sobre a terra, os demônios ti-
nham muito medo que Ele tivesse vindo para os atormentar. Mateus 8:29: “E eis que grita-
ram: Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo?”
Marcos 5:7: “exclamando com alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altís-
simo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes!”

Mas, ainda assim, lá eles estão, em extrema e inconcebível miséria; privados de todo bem,
sem nenhum descanso ou conforto, e estão sujeitos à ira de Deus. Ele lá executa Sua ira
contra eles sem misericórdia, e são engolidos em ira. Lucas 16:24: “Então, clamando, disse:
Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do
dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”. Aqui nos é dito
que, quando o rico morreu, estando em tormentos, levantou seus olhos e disse a Abraão
que estava atormentado em uma chama. E parece que a chama não estava apenas sobre
ele, mas nele; assim, pede por uma gota de água para refrescar sua língua. Isto, sem dúvi-
da, serve para nos representar que eles estão cheios da ira de Deus, como se fosse fogo,
e estarão lá atormentados em meio a demônios e espíritos condenados; e terão tormentos

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indizíveis devidos às suas próprias consciências. A ira de Deus é o fogo que nunca será
apagado, e a consciência o verme que nunca morre (Isaías 66:24). Como os homens so-
frem do horror da consciência, às vezes, neste mundo! Mas como sofrerão ainda mais no
inferno! Quantas reflexões amargas e atormentadoras terão com relação à tolice de que
foram culpados em suas vidas, por terem negligenciado suas almas, quando tiveram
oportunidade de arrependimento; por terem continuado tão tolamente a entesourar ira para
o dia da ira, acrescentando pecados ao seu registro, dia após dia, fazendo sua miséria cada
mais maior; como atiçaram as chamas do inferno para si mesmos, e passaram suas vidas
ajuntando combustível! Não serão capazes de resolver tais pensamentos em suas mentes;
e como serão atormentadores! E os que vão ao inferno, jamais podem escapar de lá; lá fi-
carão aprisionados até o dia do julgamento, e seus tormentos continuarão perpetuamente.
Os ímpios que morreram muitos anos atrás, suas almas foram para o inferno, e ainda estão
lá; os que foram ao inferno nas eras passadas, desde então, estão lá, sempre em tormen-
tos. Não têm mais nada para passar o tempo, senão sofrendo tormentos, são mantidos
conscientes para nenhum outro propósito; e, embora tenham muitos companheiros no
inferno, contudo não têm conforto, pois não há amigo, amor, piedade, quietude, nem som-
bra de esperança.

3. As almas separadas dos ímpios, além da miséria presente que sofrem, estarão em
terrível medo de seu julgamento mais pleno no Dia do julgamento. Embora sua punição no
estado separado seja extremamente terrível, e muito além do que possam suportar, embora
seja tão grande a ponto de afundá-las e esmagá-las, contudo, não termina aqui, pois estão
reservadas para uma punição muito maior e mais terrível. Seus tormentos serão, então,
vastamente aumentados, e continuarão aumentando por toda a eternidade. Seu castigo
será tão grande que suas misérias nesse estado separado não são senão como uma prisão
antes da execução; elas, bem como os demônios, estão presas em cadeias de escuridão.
Judas 6: “E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu
próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande
Dia”. Os espíritos separados são chamados “espíritos em prisão”. 1 Pedro 3:19: “no qual
também foi e pregou aos espíritos em prisão”. E, se a prisão é terrível, como será terrível a
execução! Quando estamos sofrendo alguma dor muito forte no corpo, como lamentamos
qualquer aumento nela! Só o fato de continuar a doer é muito ruim, quanto mais aumentar.
Como esses espíritos separados, que sofrem os tormentos do inferno, temerão ainda mais
o aumento e plenitude do seu tormento que haverá no Dia do julgamento. O que já sentem
é largamente mais do que podem suportar; quando estão, por assim dizer, rogando por
uma gota d’água para refrescar sua língua, quando dariam dez mil mundos por um mínimo
de abatimento de sua miséria! Como seria então sinistro pensar que, ao invés disso, está
vindo o Dia quando Deus dará do céu a sentença de um grau de miséria muito mais terrível,
e que continuarão debaixo dela para sempre! A experiência que têm do terror da ira de

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Deus os convence completamente como é terrível Sua ira; eles, portanto, ficarão extre-
mamente temerosos dessa ira plena que ele executará no Dia do julgamento; não terão
esperança de escapar, saberão com certeza que ela virá.

O temor disso faz os demônios, estes espíritos poderosos, orgulhosos e teimosos, treme-
rem: eles creem na ameaça, e, portanto, tremem. Se este temor os vence, como não esma-
gará as almas dos ímpios! Todo o inferno treme ao pensar no dia do julgamento.

4. Quando vier o dia do julgamento, deverão levantar-se para a ressurreição da condena-


ção. Quando esse dia vier, toda a humanidade que houver morrido na face da terra ressur-
girá; não apenas os justos, mas também os ímpios. Daniel 12:2: “Muitos dos que dormem
no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eter-
no”. Apocalipse 20:13: “Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entrega-
ram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras”. Os
condenados no inferno não sabem o tempo em que o Dia do julgamento acon-tecerá, mas
quando este tempo chegar, será conhecido, e serão as notícias mais terríveis que jamais
foram ouvidas neste mundo de misérias. Sempre é tempo doloroso no inferno; o mundo da
escuridão é cheio de gritos e clamores dolorosos; mas quando as novas forem ouvidas,
que o Dia apontado do julgamento chegou, o inferno se encherá de gritos mais altos e
clamores mais terríveis que jamais houve. Quando Cristo vier nas nuvens dos céus para o
julgamento, as notícias sobre Ele encherão tanto a terra quanto o inferno com gemidos e
gritos amargos. Lemos que todas as famílias da terra se lamentarão por sua causa, e, da
mesma forma, os habitantes do inferno; e então as almas dos ímpios devem ser unidas aos
seus corpos, e permanecerão diante do Juiz. Não devem vir voluntariamente, mas serão
arrastadas, como o malfeitor é arrastado do calabouço para a execução. Não foi de boa
vontade que morreram, e deixaram a terra para ir ao inferno; mas é de muito mais má
vontade que sairão do inferno para se dirigirem ao julgamento final. Não será uma libertação
para elas, será apenas uma ida para a execução. Retrocederão, mas devem vir; os demo-
nios e espíritos condenados devem vir juntos. A última trombeta será então ouvida, e este
será o som mais pavoroso para os ímpios e demônios que jamais foi ouvido; e não apenas
os ímpios, que então serão achados habitando a terra, a ouvirão, mas também os que esti-
verem nos seus túmulos. João 5:28-29: “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em
que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o
bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do
juízo”. E então as almas dos ímpios deverão entrar novamente nos seus corpos, que esta-
rão preparados apenas para serem os vasos de tormento e miséria. Será uma visão terrível
para elas quando entrarem novamente nos seus corpos, os mesmos que anteriormente
foram usados como membros e instrumentos do pecado e da impiedade, e cujos apetites
e desejos elas permitiram e gratificaram. A separação do corpo e da alma lhes foi terrível

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quando morreram, mas a reunião na ressurreição será ainda mais terrível. Receberão seus
corpos imundos e odiosos, de acordo com a vergonha e desprezo eterno para o qual estão
destinados. Assim como os corpos dos santos surgirão mais gloriosos que na terra, e serão
à semelhança do corpo glorioso de Cristo, da mesma forma, podemos bem supor que os
corpos dos ímpios serão proporcionalmente mais deformados e odiosos. Muitas vezes nes-
te mundo uma alma poluída está escondida em um corpo fino e belo, mas não será assim
então, quando as coisas aparecerão como elas são; a forma e o aspecto do corpo serão de
acordo com a deformidade infernal da alma. Assim surgirão dos seus túmulos, e levantarão
os olhos, e verão o Filho de Deus nas nuvens dos céus, na glória de Seu Pai, com Seus
santos anjos com Ele. Então verão seu Juiz em Sua terrível majestade, que será a visão
mais incrível que jamais tiveram, e acrescentará ainda mais novos horrores. Essa terrível e
esplêndida majestade na qual Ele aparecerá, e as manifestações de Sua infinita santidade,
espicaçará suas almas. Virão dos seus túmulos, todos tremendo e atônitos; o terror os
surpreenderá.

5. Então, aparecerão diante do seu Juiz para prestar contas. Não acharão montanhas ou
rochas que caiam sobre eles, que possam cobri-los, e escondê-los da ira do Cordeiro. Muito
deles verão outros nessa ocasião, que foram seus antigos conhecidos, que aparecerão em
corpos gloriosos, e com semblantes alegres e cânticos de louvor, e se elevando como que
com asas para encontrar o Senhor nos ares, enquanto eles são deixados para trás. Muitos
verão seus antigos vizinhos e conhecidos, seus companheiros, irmãos, e suas esposas
sendo levados. Serão convocados a comparecer diante do tribunal; e devem ir, mesmo que
não queiram; devem permanecer à esquerda de Cristo, em meio a demônios e ímpios. Isto,
de novo, acrescentará mais espanto, e fará com que seu horror seja ainda maior. Com que
terror essa sociedade se ajuntará! E então serão chamados a prestar contas; serão trazidas
à luz as coisas ocultas das trevas; todas as impiedades do coração serão conhecidas; serão
declaradas as reais impiedades de que são culpados; aparecerão seus pecados secretos,
que foram cometidos longe dos olhos do mundo; agora serão manifestos na sua luz
verdadeira aqueles pecados que costumavam apreciar, e desculpar e justificar. E todos os
seus pecados serão apresentados com todos os seus terríveis agravantes, e sua imundície
será trazida à luz para sua vergonha e desprezo eterno. Então ficará claro como muitas
destas coisas eram hediondas, coisas que em vida faziam pouco caso; então aparecerá
como foi terrível sua culpa no seu desprezo por um Salvador tão glorioso e bendito. E todo
mundo verá e muitos se levantarão em julgamento contra eles e os condenarão; seus
companheiros a quem tentaram para a impiedade, outros que foram endurecidos pelo seu
exemplo, se levantarão contra muitos deles; e os pagãos que não tiveram tantas vantagens
em comparação com eles, e muitos que, ainda assim, viveram vidas melhores, se levan-
tarão contra eles. Serão, então, chamados para um relato especial; o Juiz declarará sua
pena, ficarão mudos, sem ter o que dizer, pois verão então como Ele é um Deus grande e

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terrível, este mesmo contra quem pecaram. Então ficarão à Sua esquerda, enquanto outros
a quem conheceram na terra sentarão à direita de Cristo em glória, brilhando como o sol,
aceitos por Cristo, e sentados com Ele para julgá-los e condená-los.

6. Então a sentença da condenação será pronunciada pelo Juiz sobre eles. Mateus 25:41:
“Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. Essa sentença será pronunciada
com terrível majestade; e haverá grande indignação, e terrível ira aparecerá no Juiz, e em
Sua voz, com a qual pronunciará a sentença; e com que horror e surpresa estas palavras
atingirão os corações dos ímpios, para quem serão pronunciadas! Cada palavra e sílaba
será como o mais terrível trovão para eles, e espicaçará suas almas como o relâmpago
mais penetrante. O Juiz lhes ordenará que se apartem dele; os expulsará de Sua presença,
como grandemente abomináveis para Ele, e lhes alcunhará de malditos; serão uma socie-
dade maldita, e não apenas lhes ordenará que saiam de Sua presença, mas que vão para
o fogo eterno, para lá habitar como a sua única morada digna. E o que mostra como o fogo
é terrível é que ele está preparado para o diabo e seus anjos: eles permanecerão para
sempre no mesmo fogo em que os demônios, estes grandes inimigos de Deus, serão ator-
mentados. Quando esta sentença for pronunciada, haverá no vasto grupo à esquerda ter-
mores e soluços, e gritos, e ranger de dentes, de uma nova forma, que jamais houve antes.
Se os demônios, estes espíritos soberbos e elevados, tremem há muitas eras de antemão
ao mero pensamento desta sentença, como irão tremer quando ela vier a ser pronunciada!
E como os ímpios tremerão! Sua angústia será agravada ao ouvirem a bendita sentença
pronunciada para aqueles que estarão à direita: “então, dirá o Rei aos que estiverem à sua
direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde
a fundação do mundo”.

7. Então a sentença será executada. Quando o Juiz ordenar que partam, devem ir; mes-
mo contra sua vontade, devem ir. Imediatamente após o fim do julgamento e a pronúncia
da sentença, chegará ao fim o mundo. A estrutura deste mundo será dissolvida. A pronúncia
da sentença será, provavelmente, seguida de trovões, que rasgarão os céus e tremerão a
terra do seu lugar. 2 Pedro 3:10: “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual
os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; tam-
bém a terra e as obras que nela existem serão atingidas”. Então o mar e as ondas se
agitarão, e as rochas serão derrubadas, e as montanhas serão rasgadas, e haverá um nau-
frágio universal deste grande mundo. Os céus serão dissolvidos, e a terra será posta em
chamas. Assim como Deus, em ira, uma vez destruiu o mundo por um dilúvio de águas, as-
sim agora faz com que ele se afogue em um dilúvio de fogo; e os céus estarão em chamas,
serão dissolvidos, e os elementos se fundirão com o calor fervente. (2 Pedro 3:10); e
aquelas grandes súcias de demônios e ímpios entrarão nessas chamas eternas para a qual
foram sentenciados.

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8. Nesta condição permanecerão por todas as infindáveis eras da eternidade. Sua punição
estará, então, completa, e permanecerá nesta completude para sempre. Agora virá sobre
eles tudo o que temeram enquanto suas almas estavam no estado separado. Habitarão em
um fogo que jamais se apagará, e aqui vestirão a eternidade. Aqui suportarão mil anos após
mil anos, e sem chegar ao fim. Não há cálculo dos milhões de anos ou milhões de eras; to-
da aritmética falha aqui, não há regras de multiplicação que possa alcançar a quantidade,
pois não haverá fim. Não terão nada a fazer para passar a eternidade, a não ser serem
atormentados com aqueles tormentos; este será seu trabalho para todo o sempre; Deus
não terá nenhum outro uso para eles; esta é a maneira que responderão ao propósito de
suas existências. E nunca terão descanso, nem expiação, mas seus tormentos se manterão
a sua altura, e nunca ficarão mais toleráveis, pois jamais se acostumarão a eles. O tempo
lhes parecerá longo, todo momento será longo para eles, mas jamais acabará, como todas
as eras de seu tormento.

Aplicação

I. Assim, que cuidado temos que ter que nosso fundamento para a eternidade esteja asse-
gurado! Os que edificam em um falso fundamento, não estão seguros dessa miséria. Os
que constroem um refúgio de mentiras descobrirão que seu refúgio de nada lhes adiantará.
Os muros que rebocaram com cimento frágil cairão. Quanto mais terrível a miséria, mais
necessidade temos de assegurar que estejamos livres dela. Será terrível, de fato, ser de-
sapontado em tal matéria. Acariciar-nos com sonhos e vãs imaginações de ser filho de
Deus, e de ir para o céu, e, ao fim, acordar no inferno, ver nosso refúgio varrido, e nossa
esperança eternamente perdida, e nos descobrir engolidos pelas chamas, e ver uma eter-
nidade infindável diante de nós; como será terrível!

Haverá muitos que serão assim desapontados. Muitos virão à porta e a encontrarão fecha-
da, estes mesmos que a esperavam aberta, e baterão, mas Cristo lhes dirá que não os
conhece, e os ordenará que partam, e será inútil para eles comunicar a Cristo acerca das
afeições que tiveram, e como foram religiosos, e como foram bem reputados na terra. Não
terão resposta alguma senão: “Apartai-vos de mim, não vos conheço, vós os que praticais
a iniquidade”. Consideremos isto, e tenhamos toda diligência em ver que edificamos na cer-
teza de que, de toda forma, seremos achados em Cristo. Observemos se, de fato, estamos
bem seguros desta terrível miséria. Do que adiantará nos agradar com uma noção de ser-
mos convertidos, e sermos amados por Deus? E do que adiantará termos uma boa reputa-
ção com os nossos vizinhos por alguns dias, se formos no fim lançados no inferno, e apa-
recermos no dia do julgamento à esquerda [de Cristo], e termos nossa porção eterna com
os ímpios? Uma falsa esperança não tem valor, e é mil vezes pior do que o total deses-

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pero. E quem é mais miserável do que aqueles que acham que Deus perdoou seus pecados
e que esperam ter uma porção com os santos na eternidade, mas, enquanto isso, estão se
precipitando de cabeça nesta miséria terrível? Que situação seria mais triste do que a dos
que assim são conduzidos vendados para a morte, prometendo a si mesmos uma felicidade
que jamais virá, pelo contrário, estarão se afogando na tribulação e angústia infindáveis!

Que todos, portanto, que mantêm esperança de seu próprio estado, vejam se estão bem
fundamentados; e que não descansem em sucessos passados, mas prossigam em frente,
para as coisas que estão adiante com toda a sua força.

II. Também podemos derivar um argumento para o despertamento dos ímpios. Esta indig-
nação e ira, tribulação e angústia é a porção reservada a você, se continuar no seu estado
atual. Você é a pessoa a quem me referia; é para você que toda essa miséria está reservada
pelas ameaças da santa Palavra de Deus. É sobre você que permanece essa ira de Deus.
Neste momento, você está em um estado de condenação a esta miséria. João 3:18: “o que
não crê já está condenado”. Ainda não foi executada a sentença, mas você já está conde-
nado a ela; não está simplesmente exposto à condenação, mas já está sob a sentença real
de condenação. Esta é a porção que lhe está reservada pela lei, e você está sob a lei e não
sob a graça. Esta é a miséria na qual você corre o perigo diário de cair. Você não está
seguro nem por uma hora. O tempo em que ela virá, é incerto. Você está suspenso sobre
ela por um fio, que a cada dia se torna mais e mais fraco. Esta miséria terrível, em todas as
suas partes sucessivas, lhe pertence, e é a sua porção.

Se seus amigos e vizinhos, se todos ao seu redor, soubessem qual é a sua condição, pode-
riam muito bem levantar a voz em um clamor alto e amargo por sua causa, quando o con-
templassem. Poderiam dizer: “Eis aqui um ser infeliz, condenado a ser entregue eternamen-
te nas mãos dos demônios e ser atormentado por eles. Eis aqui um miserável, que está em
perigo diário de ser engolido pelo mar sem fundo de tristeza e miséria. Eis aqui uma criatura
miserável e perdida, condenada a passar a eternidade em fogo que não se apaga, e habitar
em meio a chamas eternas; e ainda assim, não tem interesse em um Salvador, não tem
nada para o defender, nada com que possa aplacar a ira de um Deus ofendido”. Aqui, consi-
dere duas coisas:

1. Você não tem razão alguma para questionar a realidade destas misérias e tormentos
futuros, que são ameaçados na Palavra de Deus. Não se exalte com o pensamento de que
isso pode não acontecer. Não diga: “Como eu saberei que existe tal miséria a ser infligida
em outro mundo? Como eu saberei se isso não passa de uma fábula, e que quando vier a
morrer haverá um fim para mim, e ocorrerá comigo o mesmo que acontece com as feras?”

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Não diga: “Como eu saberei se tudo isso não passa de fantasmas da invenção humana?
Como eu saberei se as Escrituras, que ameaçam estas coisas, são a Palavra de Deus?
Talvez Ele tenha ameaçado essas coisas apenas para amedrontar os homens, para mantê-
los no seu dever, sem ter jamais a intenção de cumprir com Suas ameaças”.

Digo que não há base para suspeitas, nem razões para ela, pois que não haverá um castigo
futuro é não apenas contrário à Escritura, mas à razão. Não é razoável supor que não
haverá um castigo futuro, ou supor que Deus, que fez o homem racional, capacitado a reco-
nhecer seu dever, e sensível de que merece punição quando não o faz, deixaria o homem
abandonado, para viver ao seu capricho, e que nunca o puniria por seus pecados, e não
diferenciaria entre o bom e o mau. Ou que faria a humanidade e a abandonaria, que deixaria
o homem viver todos os seus dias na impiedade, no adultério, homicídio, roubo e abuso, e
coisas tais, e permitiria que vivessem prosperamente, sem puni-los jamais; que ficaria pas-
sivo vendo sua prosperidade no mundo, muito além dos justos, sem puni-los na eternidade.
Como é irracional supor que Aquele que fez o mundo deixaria as coisas em tal confusão, e
nunca tomaria cuidado com o governo de Suas criaturas e que jamais julgaria Suas
criaturas racionais! A razão ensina que há um Deus, e também ensina que, se há, Ele deve
ser um Deus sábio e justo, e que deve se preocupar em ordenar as coisas sábia e justa-
mente entre Suas criaturas. Portanto, não é razoável supor que os homens morrem como
as feras e que não há castigo futuro. E se há castigo futuro, não é razoável supor que Deus
não tenha, em algum lugar ou outro, dado aviso aos homens acerca dele, e lhes revelado
que tipo de punição devem esperar. Um legislador sábio manteria seus súditos em ignorân-
cia quanto à punição que devem esperar por quebrar sua lei? E se Deus a revelou, onde
mais será encontrada a não ser na Escritura? Que revelação temos de um estado futuro se
não estiver nela revelada? Onde mais, senão aqui, Deus fala à humanidade que tipo de
recompensas e punições deve ela esperar? E está abundantemente manifesto, por inúme-
ras evidências, que estas ameaças são as ameaças de Deus, e que este livro temível é
Sua revelação. E uma vez que esta ameaça procede de Deus, não há motivo para objeção
quanto ao seu cumprimento. Pois Ele disse, sim, até mesmo jurou, que retribuirá ao ímpio
na sua face, de acordo com suas ameaças, e que será glorificado em sua destruição, e que
este céu e esta terra passarão. Quão tolo é, então, pensar que Deus possa apenas ameaçar
tais castigos para o amedrontamento dos homens, sem jamais pretender executá-los! Pois
tão certo como Deus é Deus, fará conforme Suas palavras. Ele destruirá as montanhas da
iniquidade conforme Suas ameaças, e não haverá escape. Como é vão o pensamento
daqueles que se iludem dizendo que Deus não cumprirá Suas ameaças, e que Ele apenas
atemoriza e engana os homens por meio delas. Como se Deus não pudesse de outra ma-
neira governar o mundo senão por meio de engodos e embustes falaciosos para iludir Seus
súditos! Os que acariciam tais pensamentos, conquanto possam estar endurecidos no pre-
sente, os entreterão somente por um pouco. Sua experiência, em breve, lhes convencerá

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que Deus é um Deus da verdade, e que Suas ameaças não são ilusões. Quando for tarde
demais para escapar, serão convencidos de que ele é um Deus que de forma alguma ino-
centa o culpado, e que Suas ameaças são substanciais e não meras sombras. Deutero-
nômio 29:18-21: “Para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo
cujo coração, hoje, se desvie do SENHOR, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas na-
ções; para que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarga, ninguém que,
ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda
que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a bebedice. O SE-
NHOR não lhe quererá perdoar; antes, fumegará a ira do SENHOR e o seu zelo sobre tal
homem, e toda maldição escrita neste livro jazerá sobre ele; e o SENHOR lhe apagará o
nome de debaixo do céu. O SENHOR o separará de todas as tribos de Israel para calami-
dade, segundo todas as maldições da aliança escrita neste Livro da Lei”. Salmos 50:21:
“Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e
porei tudo à tua vista”.

2. Não há razão para pensar que seja possível que os ministros [do Evangelho] apresentem
este assunto além do que realmente seja; que possivelmente não seja tão horrível e terrível
como se pretende, e que os ministros forçam a sua descrição além dos limites justos. Al-
guns prontamente pensam assim, pois lhes parece incrível que haja miséria tão terrível pa-
ra qualquer criatura; mas não há razão alguma para tais pensamentos, se considerarmos:

Primeiro. Quão é grande a punição que merecem os pecados dos ímpios. A Escritura nos
ensina que qualquer pecado merece a morte eterna: Romanos 6:23: “porque o salário do
pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso
Senhor”. E que ele merece a maldição eterna de Deus. Deuteronômio 27:26: “Maldito aque-
le que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém! ”
Gálatas 3:10: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque
está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro
da lei, para praticá-las”. Tudo isso implica que o menor pecado merece destruição eterna e
total. A morte eterna, no seu grau mínimo, equivale a tal grau de miséria, assim como a
destruição perfeita da criatura, a perda de todo bem, e a perfeita miséria; e, portanto, ser
maldito de Deus implica nisso. Ser maldito de Deus é ser destinado à perfeita e final
destruição. A Escritura ensina que os ímpios serão punidos em seu completo merecimento,
que devem pagar toda sua dívida.

Segundo. Não há razão para achar que os ministros descrevem a miséria dos ímpios além
do que ela é, porque a Escritura nos ensina que este é um dos fins dos ímpios: Romanos
9:22: “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”. A

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Bíblia, com frequência, nos diz que é parte da glória de Deus que Ele seja um Deus terrível
e temível. Salmos 68:35: “Ó Deus, tu és tremendo nos teus santuários”; que é um fogo
consumidor. Salmos 66:3: “Que tremendos são os teus feitos! Pela grandeza do teu poder,
a ti se mostram submissos os teus inimigos”. E que assim uma parte da glória de Deus seja
representada, é terrível coisa injuriar e ofender a Deus. A ira de um rei é como o rugido de
um leão, a de um homem é, às vezes, terrível, mas a punição futura dos ímpios serve para
mostrar como é a ira de Deus; é para mostrar a todo o universo a glória do Seu poder. 2
Tessalonicenses 1:9: “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do
Senhor e da glória do seu poder”. E, portanto, o sofrimento aqui descrito não é de forma
alguma incrível, e não há razão para supor que tenha sido minimamente descrito além do
que realmente seja.

Terceiro. A Escritura mostra que a ira de Deus sobre os ímpios é terrível além do que
possamos conceber. Salmos 90:11: “Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera,
segundo o temor que te é devido?” Assim como não sabemos senão um pouco acerca de
Deus, da mesma forma que não conhecemos e podemos conceber senão um pouco do seu
poder e de sua grandeza, também é verdade que não conhecemos senão um pouco do
terror de Sua ira; e, portanto, não há razão para crer que a apresentamos além do que é.
Temos razão, ao contrário, para supor que, após ter dito e pensado no nosso limite, tudo o
que dissemos ou pensamos não passa de tosca sombra da realidade.

Somos ensinados que a recompensa dos santos está além de tudo que pode ser dito ou
concebido. Efésios 3:20: “Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que
tudo quanto pedimos ou pensamos”. 1 Coríntios 2:9: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouvi-
ram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles
que o amam”. E assim podemos racionalmente supor que o castigo dos ímpios da mesma
forma será inconcebivelmente terrível.

Quarto. Não há razão para pensar que apresentamos a miséria do inferno além da reali-
dade, porque a Escritura nos ensina que a ira de Deus é de acordo com seu temor (Salmos
90:11). Esta passagem afirma que a ira de Deus é de acordo com os Seus grandiosos
atributos, a sua grandeza e seu poder, sua santidade e força. A majestade de Deus é
extremamente grande e temível, e de acordo com Seu temor é a Sua ira; este é o sentido
das palavras. Daí, podemos concluir que a ira de Deus é, sem dúvidas, terrível, além de
toda expressão e significado. Como é, de fato, grande e temível Sua majestade, que criou
os céus e a terra, e com que majestade virá julgar o mundo no último dia! Virá para tomar
vingança contra os ímpios. A visão desta majestade atingirá os ímpios com apreensões e
temores de destruição.

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Quinto. A descrição que fiz da tribulação e ira que virá sobre os ímpios não está além da
verdade, pois é a mesma descrição que a Escritura dá. Ela diz que os ímpios serão lan-
çados na fornalha de fogo; não apenas no fogo, mas em uma fornalha. Mateus 13:42: “e os
lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes”. Apocalipse 20:15: “E, se
alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de
fogo”. Salmos 21:8, 9: “A tua mão alcançará todos os teus inimigos, a tua destra apanhará
os que te odeiam. Tu os tornarás como em fornalha ardente, quando te manifestares; o
SENHOR, na sua indignação, os consumirá, o fogo os devorará”.

Se, portanto, representei esta miséria além da verdade, então a Escritura fez o mesmo. É
evidente, então, que não há razão para se exaltar com tais imaginações. Se Deus for ver-
dadeiro, você encontrará Sua ira, e sua miséria futura, tão plena quanto grande; e não
apenas isso, mas muito maior, e descobrirá que conhecemos um pouco, e dissemos pou-
co sobre ela, e todas as nossas expressões são toscas quando comparadas à realidade.

III. Da mesma maneira, pode ser derivado um argumento para convencer os ímpios da
justiça de Deus ao reservar-lhes tal porção. Os ímpios, quando ouvem falar de como é
terrível a miséria que os ameaça, com frequência levantam os corações contra Deus por
isso; parece-lhes muito dura a maneira que Deus lida com as Suas criaturas. Não concebem
o porquê de Deus ser tão severo com os ímpios, por seus pecados e tolices transitórios
neste mundo; e quando consideram que Ele ameaçou tais castigos, são prontos a entreter
pensamentos blasfemos contra Ele. Portanto, esforçar-me-ei para lhe mostrar como você
está, com justiça, exposto a essa indignação e ira, tribulação e angústia, que ouviu. Em
particular, quero mostrar:

Primeiro, como seria justo se Deus o abandonasse a si mesmo: seria muito justo se Deus
rejeitasse estar com você ou ajudá-lo.

Você abraçou e se recusou a abandonar aquelas coisas que Deus odeia; recusou-se a
esquecer de seus desejos carnais e abandonar os caminhos do pecado que são abominá-
veis a Ele. Quando Deus lhe ordenou que os abandonasse, se recusou, e ainda permane-
ce neles, de maneira obstinada! Nem se apartou seu coração até hoje do pecado; mas ele
lhe é querido, você o guarda no melhor lugar do coração, e ali o entroniza. Seria incrível
então se Deus o abandonasse completamente, já que você não abandonará o pecado? Ele
sempre declarou Seu ódio pela iniquidade; e seria incrível se não estivesse disposto a
habitar junto com o que lhe é tão odioso? Não é razoável que Deus insista que você se
aparte da concupiscência a fim de desfrutar Sua presença, e, visto que há tanto tempo se
recusa, não seria justo se Deus o abandonasse completamente? Você sustenta e abriga

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os inimigos mortais de Deus, o pecado e Satanás; como é justo, portanto, que Deus se
mantenha à distância! Ele é obrigado a estar presente com alguém que abriga Seus
inimigos, e se recusa a abandoná-los? Seria Ele injusto, se o abandonasse completamente
a si mesmo, já que você não esqueceu seus ídolos?

Considere como seria justo se Deus o abandonasse, já que você O abandonou. Você não
O buscou e à Sua presença e auxílio como deveria ter feito. Você O negligenciou. Não seria
justo, portanto, se Ele o negligenciasse? Por quanto tempo muitos de vocês viveram na
negligência de buscá-lO? Por quanto tempo vocês restringiram as orações? Portanto, uma
vez que se recusaram tanto a buscar a Sua presença e ajuda, não poderia Ele, com justiça,
reter [essas bênçãos] para sempre, e, dessa maneira, deixá-los completamente entregues
a si mesmos?

Você fez o que esteve ao seu alcance para se alienar de Deus, e fazer com que Ele o aban-
donasse completamente. Quando Deus, nos tempos passados, não o abandonou, mas foi
incansável em despertá-lo, você não resistiu aos movimentos e influências do Seu Espírito?
Não se recusou a ser conduzido, ou render-se a Ele? Zacarias 7:11: “Eles, porém, não qui-
seram atender e, rebeldes, me deram as costas e ensurdeceram os ouvidos, para que não
ouvissem”. Como seria justo, então, que Deus recusar-se a mover ou lutar por você! Quan-
do Deus esteve batendo a sua porta, você se recusou a abri-la; como seria justo então se
Ele fosse embora, e não mais batesse nela! Quando o Espírito de Deus esteve lutando com
você, não foi você culpado de entristecer o Espírito Santo ao dar espaço a um espírito dis-
putador, e ao render-se como uma presa para a luxúria? E alguns de vocês não apagaram
o Espírito, e não são culpados de apostasia? E Deus é obrigado, apesar disso tudo, a conti-
nuar a lutar com Seu Espírito com vocês, a ser resistido e entristecido, até o momento que
se agradarem? Pelo contrário, não seria justo se os abandonasse eternamente, e os deixas-
se sozinhos?

2. Como seria justo se você fosse amaldiçoado em todos os seus interesses neste mundo!
Seria justo se Deus o amaldiçoasse em tudo, e fizesse todas as suas diversões e ocupa-
ções voltarem-se para a sua destruição.

Você vive aqui em todas as ocupações da vida como um inimigo de Deus; e usou todas as
suas posses e prazeres contra Ele, e para a Sua desonra. Não seria, então, justo se Deus
o amaldiçoasse nessas coisas, e as revertesse contra você, e para a sua destruição? Que
benção temporal que Deus lhe deu, que você não usou no serviço de suas luxúrias, e no
serviço do pecado e de Satanás? Se teve prosperidade, você a usou para a desonra de
Deus; quando prosperou, abandonou o Deus que o criou. Como não seria justo, portanto,
se a maldição de Deus acompanhasse todas as suas diversões! Quaisquer empregos que

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teve, não serviu a Deus com eles, mas aos Seus inimigos. Como seria justo então se fosse
amaldiçoado nos seus empregos! Os meios de graça que desfrutou, você não fez uso deles
como deveria ter feito; mas os menosprezou, e os tratou de uma maneira desrespeitosa e
descuidada; fez o pior e o não o melhor com eles. Assim atendeu e fez uso do Dia do Se-
nhor, e das oportunidades espirituais, apenas como ocasião para manifestar seu desprezo
por Deus e por Cristo, e pelas coisas Divinas, pela sua maneira profana de aproveitá-los.
Portanto, não seria justo se a maldição de Deus acompanhasse seus meios de graça, e as
oportunidades que você desfruta para a salvação da sua alma?

Você aproveitou seu tempo apenas com provocações e acrescentando às suas trans-
gressões, em oposição a todos os chamados e avisos que lhe poderiam ter sido dados;
quão justo seria, portanto, se Deus tornasse a sua própria vida uma maldição, e se Ele o
tolerasse apenas para encher a medida dos seus pecados!

Você, agindo ao contrário dos conselhos de Deus, fez uso das suas diversões apenas para
ferir sua [própria] alma, portanto, se Deus as revertesse para a sua dor e ruína, estaria
lidando com você como você lida consigo mesmo. Deus o aconselhou incansavelmente a
usar os aproveitamentos temporais para o seu bem espiritual, mas você se recusou a ouvi-
lo, e tolamente os perverteu para entesourar ira para o dia da ira, e voluntariamente usou o
que Deus lhe deu para a sua ruína espiritual, para aumentar a culpa e machucar sua própria
alma; e, portanto, se a maldição de Deus os acompanhar, de forma que eles se tornem pa-
ra a ruína da sua alma, você estaria sendo tratado da mesma forma como trata a si mesmo.

3. Como seria justo se Deus o cortasse e pusesse um fim a sua vida!

Você grandemente abusou da paciência e longanimidade de Deus, que já foi exercida em


seu favor. Deus, com maravilhosa longanimidade, suportou-o, quando se rebelou contra
Ele, e recusou-se a se desviar dos maus caminhos. Ele o contemplou caminhando obsti-
nadamente nos caminhos da provocação, e ainda assim não derramou sua ira sobre você,
para destruí-lo, mas ainda tem aguardado para ser gracioso. Ele tem sido longânimo com
você, ao permiti-lo ainda viver em Sua terra, e respirar Seu ar; e o manteve e o preservou,
e continuou a alimentá-lo, e vesti-lo, e a mantê-lo, e dar-lhe tempo para se arrepender. Mas,
em vez de fazer o melhor em troca de sua paciência, você fez o pior, em vez de ser
quebrantado por isso, você foi endurecido, e se tornou mais ousado no pecado. Eclesiastes
8:11: “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos
dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal”. Você foi culpado de desprezar as
riquezas de Sua bondade, e tolerância e paciência ao invés de ser levado ao arrependimen-
to por elas. Você não pode viver um só dia sem que Deus o mantenha e sustente; não pode
dar um suspiro, ou viver um momento, a menos que Deus o sustente, pois a sua respiração

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está nas Suas mãos, e Ele preserva a sua alma com vida, e Sua visitação preserva o seu
espírito. Mas, que graças Deus recebeu por isso, uma vez que você, ao invés de se voltar
para Ele, apenas tornou-se mais plenamente consolidado e terrivelmente endurecido nos
caminhos do pecado? Como seria justo, portanto, se a paciência de Deus se acabasse, e
Ele cessasse de ainda tolerar você.

Você não apenas abusou de Sua paciência passada, mas também abusou de Suas inten-
ções de paciência futura. Tem se gabado de que a morte não está próxima, e que deve
viver muito tempo no mundo, e isto o tornou ainda mais abundantemente ousado no peca-
do. Portanto, uma vez que esse foi o uso que fez da esperança de ter sua vida preservada,
como seria justo se Deus desapontasse sua expectativa, e lhe cortasse dessa longa vida
de que você se gaba, e em cujos pensamentos se encoraja no pecado contra Ele! Como
seria justo se sua respiração fosse em breve cortada, e isso repentinamente, quando menos
pensasse, e você fosse levado na sua impiedade!

Enquanto vive no pecado, nada faz senão sobrecarregar o solo, você é completamente
inútil e vive em vão. Aquele que se recusa a viver para a glória de Deus não responde ao
fim da sua criação, e vive para quê? Deus fez os homens para servi-lO. Para este fim, lhes
deu vida; e se não devotarem suas vidas a este fim, não seria justo se Deus se recusasse
a continuar ainda com suas vidas? Ele o plantou em sua vinha, para produzir fruto; e se
você não produz, por que deveria ainda mantê-lo? Como seria justo se o cortasse!

Enquanto você viveu, muitas das bênçãos de Deus foram gastas com você dia após dia;
você devora os frutos da terra e consome muito de sua gordura e doçura; e tudo sem
nenhum propósito senão mantê-lo vivo para pecar contra Deus, e gastar tudo na impiedade.
Toda a criação, por assim dizer, geme por sua causa; o sol nasce e se põe para lhe dar à
luz, as nuvens derramam chuva sobre você, e a terra produz seus frutos e labores de ano
a ano para supri-lo; e você, neste meio tempo, não responde ao fim daquele que criou todas
as coisas. Como seria justo, então, se Deus o cortasse, e o levasse embora, e libertasse a
terra deste peso, para que a criação não mais gema por sua causa, e lhe expulsasse como
um ramo abominável! Lucas 13:7: “Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar
fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutil-
mente a terra?” João 15:2,6: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta;
e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Se alguém não permanecer
em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo
e o queimam”.

4. Como seria justo se você morresse no maior horror e espanto!

Com quanta frequência você tem sido exortado a aproveitar seu tempo, construir um funda-

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mento de paz e conforto para o seu leito de morte; e, ainda assim, recusou-se a ouvir! Você
tem sido muitas e muitas vezes lembrado de que morrerá, que é incerto quando, e que não
sabe a hora, e foi-lhe dito quão vis e insignificantes todos os seus prazeres terrenos então
parecerão, e como serão incapazes de lhe dar qualquer conforto no seu leito de mor-te. Vo-
cê tem sido sempre alertado sobre como é terrível estar em um leito de morte numa condi-
ção sem Cristo, nada tendo para lhe confortar senão os prazeres mundanos. Você foi, com
frequência, conscientizado do tormento e espanto que os pecadores, que aproveitaram mal
seu precioso tempo, estão sujeitos quando arrastados pela morte. Foi-lhe dito como neces-
sitaria infinitamente ter Deus como seu amigo, e ter o testemunho de uma boa consciência,
e uma esperança bem fundamentada de bem-aventurança futura. E com que frequência foi
exortado a ter o cuidado de prover contra este dia, e entesourar nos céus, para que possa
ter algo em que depender quando partir deste mundo, algo para esperar quando todas as
coisas aqui falharem! Mas lembre-se como esteve despreocupado, como foi lerdo e negli-
gente de tempo em tempo, quando se assentou para ouvir estas coisas, e, ainda assim,
obstinadamente recusou-se a se preparar para a morte, e não teve cuidado em assentar
um bom fundamento contra este tempo. E você não apenas foi aconselhado, mas presen-
ciou outros em seus leitos de morte, em temor e aflição, ou ouviu falar deles, e não tomou
aviso; sim, alguns de vocês estiveram doentes, e ficaram temerosos de que estivessem nos
seus dias finais, porém Deus foi misericordioso, e os restaurou, mas não ficaram alertas
para se prepararem para a morte. Como seria justo então se você pudesse ser o objeto
desse horror e espanto que ouviu, quando a sua hora chegar!

E não apenas isso, mas como você arduamente gastou seu tempo entesourando coisas
para a tribulação e angústia naquele dia! Você não foi apenas negligente em assentar um
fundamento para a paz e conforto então, mas gastou seu tempo contínua e incansavel-
mente assentando um fundamento para a aflição e o horror. Como alguns de vocês conti-
nuaram dia após dia, empilhando mais e mais culpa; mais e mais ferindo a própria consci-
ência, aumentando ainda a porção de tolice e impiedade para que você mesmo venha a
refletir sobre elas! Como seria justo, portanto, se essa tribulação e angústia viessem sobre
você!

5. Como é justo que você deva sofrer a ira de Deus em outro mundo!

Porque voluntariamente provocou e atiçou essa ira. Se não está disposto a sofrer a ira de
Deus, então por que O provocou à ira? Por que agiu como se pudesse arranjar uma maneira
para que ele não se irasse contra você? Por que desobedeceu deliberadamente a Deus?
Você sabe que a desobediência deliberada tende a provocar aquele que é desobedecido;
assim acontece com um rei, chefe ou pai terreno. Se você tem um servo que é delibera-
damente desobediente, isto provoca sua ira. E, novamente, se não suporta a ira de Deus,

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por que, com tanta frequência, O despreza? Se alguém despreza os homens, isto tende a
provocá-los: quanto mais a Majestade infinita dos céus pode ser provocado, quando é me-
nosprezado! Você também roubou de Deus a sua propriedade, recusou-se a dar a Ele o
que Lhe pertence. Os homens são provocados quando são privados do que lhes é devido
e quando tratados injuriosamente; quanto mais Deus pode ser provocado quando você O
rouba!

E também desprezou a bondade de Deus para com você, e esta é a maior bondade e amor
que se pode conceber. Você tem sido supremamente ingrato e tem abusado dessa bonda-
de. Nada provoca mais os homens do que ter sua bondade menosprezada e abusada;
quanto mais Deus pode ser provocado quando os homens retribuem Sua misericórdia infi-
nita apenas com desobediência e ingratidão! Portanto, se continua a provocá-lO, e atiçar a
Sua ira, como pode esperar outra coisa, senão sofrer essa mesma ira? Se, então, você de
fato sofrer a ira de um Deus ofendido, lembre-se que é o que procurou para si mesmo, é
um fogo que você mesmo acendeu.

Você não aceitou a libertação da ira de Deus, quando lhe foi ofertada. Quando Ele, em sua
misericórdia, enviou Seu Filho unigênito ao mundo, você se recusou a admiti-lO. Amou
demais seus pecados para que os abandonasse e viesse a Cristo, e por causa deles rejeitou
as ofertas de um Salvador, de forma que escolheu a morte ao invés da vida. Após assegurar
a ira para si mesmo, apegou-se a ela, e não a abandonou pela misericórdia. Provérbios
8:36: “Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me aborrecem
amam a morte”.

6. Como seria justo se você fosse entregue nãos mãos do Diabo e seus anjos, para ser
atormentado para sempre, já que voluntariamente se entregou para servi-los aqui! Você os
ouviu, ao invés de ouvir a Deus. Como seria justo, então, se Deus o entregasse a eles! Vo-
cê seguiu a Satanás e aderiu aos seus interesses em oposição a Deus, e se sujeitou a sua
vontade neste mundo, ao invés de se submeter à vontade de Deus; como seria justo então
se Deus o entregasse para a vontade do Diabo daqui para frente!

7. Como seria justo se o seu corpo fosse feito objeto do tormento do porvir, o mesmo corpo
que você tornou instrumento do pecado neste mundo! Você entregou o seu corpo como um
sacrifício para o pecado e Satanás: como seria justo então se Deus o entregasse como um
sacrifício para a ira! Você empregou seu corpo como um servo para os seus desejos vis e
odiosos. Como seria justo, portanto, se Deus, no porvir, ressuscitasse seu corpo para ser
objeto e instrumento da miséria; e para enchê-lo tão plenamente do tormento como eles
estiveram cheios do pecado!

8. Mas a maior objeção dos ímpios contra a justiça do futuro castigo que é ameaçado por

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Deus advém da grandeza desse castigo: que Deus deva infligir sobre os impenitentes tor-
mentos tão extremos, tão incrivelmente terríveis, ter seus corpos lançados na fornalha de
fogo de tão imenso calor e fúria, lá ficar sem se consumir, e ainda cheio de senso e sen-
timento, com chamas por dentro e por fora; e a alma cheia do ainda mais terrível horror e
tormento; e assim permanecer sem remédio ou descanso para sempre, e sempre, e sem-
pre. Portanto, mencionar-lhe-ei algumas coisas, para mostrar como você, com justiça, está
exposto à punição tão terrível.

1. Esta punição, tão terrível quanto seja, não é maior do que o grandioso e glorioso Ser
contra quem você pecou. É verdade que é uma punição terrível além de toda expressão e
concepção, da mesma forma que a grandeza e glória de Deus estão muito acima de toda
expressão e concepção; mas, ainda assim, você continua nos seus pecados contra Ele,
sim, tem sido ousado e presunçoso nos seus pecados, e tem multiplicado as transgressões
contra Ele infinitamente. A ira de Deus, que vocês ouviram, terrível como é, não é mais que
essa Majestade que vocês desprezaram e pisaram. Essa punição é de fato suficiente para
encher de horror alguém que meramente pense sobre ela; e assim, se você a concebesse
corretamente, ficaria cheio de no mínimo igual horror em pensar em pecar tão grandemente
contra Deus tão grandioso e glorioso. Jeremias 2:12-13: “Espantai-vos disto, ó céus, e
horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o SENHOR. Porque dois males cometeu o meu povo:
a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que
não retêm as águas”. Deus, sendo tão infinitamente grande e excelente, não o influenciou
a pecar contra Ele, mas você o fez ousadamente, e fez pouco caso, milhares de vezes; e
pelo fato dessa miséria ser tão infinitamente grande e terrível, impediria Deus de infringi-la
sobre você? 1 Samuel 2:25: “Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro;
pecando, porém, contra o SENHOR, quem intercederá por ele?”

2. Sua natureza não abomina mais esta miséria que você ouviu, do que a natureza de Deus
abomina o pecado de que você é culpado. A natureza do homem é muito avessa à dor e
ao tormento, e é especialmente avessa a tal tormento terrível e eterno; mas, ainda assim,
isso não impede que seja justo o que é infligido, pois os homens não odeiam a miséria mais
do que Deus odeia o pecado. Deus é tão santo, e de natureza tão pura, que tem aversão
infinita ao pecado; mas, ainda assim, você menospreza o pecado, e eles têm excessiva-
mente se multiplicado e crescido. A consideração de que Deus o odeia não impediu você
de cometê-lo; por que, portanto, a consideração de que você odeia a miséria deveria
impedir Deus de trazê-la sobre você? Deus representa a Si mesmo na Sua Palavra como
cansado e aborrecido com os pecados dos ímpios: Isaías 1:14: “As vossas Festas da Lua
Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou
cansado de as sofrer”. Malaquias 2:17: “Enfadais o SENHOR com vossas palavras; e ainda
dizeis: Em que o enfadamos? Nisto, que pensais: Qualquer que faz o mal passa por bom
aos olhos do SENHOR, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo?”.

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3. Você não se preocupou com o quanto a honra de Deus tem sofrido; e por que Deus
deveria se preocupar que a sua miséria não fosse tão grande? Você foi alertado sobre como
aquelas coisas que praticou traziam desonra a Deus; contudo, não se importou, mas con-
tinuou a multiplicar as transgressões. A consideração de que quanto mais você pecava,
mais Deus era desonrado, nem ao menos o restringiu. Se não fosse pelo temor do desgosto
de Deus, você não teria se importado que o desonrasse dez mil vezes como fez. Devido à
falta de respeito a Deus, você não se importou com o que sucedeu de Sua honra, nem de
Seu deleite, não, nem do Seu Ser. Por que então Deus é obrigado a ser cuidadoso com o
quanto você sofre? Por que deveria se preocupar com o seu bem estar, ou usar qualquer
precaução para que não venha a colocar sobre você mais do que possa suportar?

4. Tão grande quanto seja esta ira, não é maior do que o amor de Deus que você des-
prezou e rejeitou. Deus, em sua infinita misericórdia pelos pecadores perdidos, forneceu
um modo para eles escaparem da miséria futura, e obterem vida eterna. Para esse fim deu
o Seu Filho unigênito, uma pessoa infinitamente gloriosa e honrada, em si mesmo igual a
Deus, e infinitamente próximo a Ele. Foi dez mil vezes mais do que se Deus houvesse dado
todos os anjos nos céus, ou o mundo inteiro pelos pecadores. Ele O deu para se encarnar,
sofrer a morte, ser feito maldição por nós, sofrer a terrível ira de Deus em nosso lugar, e
assim adquirir-nos a glória eterna. Esta Pessoa gloriosa foi ofertada a você inúmeras vezes,
e ele esteve e bateu em sua porta, até que Seus cabelos ficassem úmidos com o orvalho
da noite; mas tudo o que fez não o ganhou; você não viu nEle forma nem formosura, nem
beleza alguma que o agradasse. Quando Ele se ofertou a você como o seu Salvador, você
jamais o aceitou livremente e de coração. Este amor que você dessa maneira abusou é tão
grande quanto essa ira que você corre perigo. Se você o houvesse aceitado, teria o gozo
deste amor ao invés de suportar essa terrível ira: assim, a miséria que você ouviu não é
maior que o amor que você desprezou, e a felicidade e glória que rejeitou. Como seria justo
então em Deus executar essa ira sobre você, que não é maior do que o amor que você
desprezou! Hebreus 2:3: “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salva-
ção? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada
pelos que a ouviram”.

5. Se você reclama desta punição como sendo muito grande, então por que ela não foi
grande o suficiente para o impedir de pecar? Conquanto seja grande, você fez pouco caso
dela. Quando Deus ameaçou infringi-la, você não se importou com as ameaças, mas foi
ousado em desobedecê-lO, e fazer aquelas mesmas coisas pelas quais Ele ameaçou esta
punição. Grande como ela é, não foi o suficiente para impedi-lo de viver deliberadamente
uma vida ímpia, e continuar nos caminhos que sabia que eram maus. Quando soube que
tais e tais coisas certamente o expunham a essa punição, você não se absteve por esses
relatos, mas continuou dia a dia, ainda mais presunçoso, e Deus ameaçar tal punição não

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teve um efeito sobre você. Por que, portanto, reclama agora que essa punição seja grande
demais, e dispute contra ela, dizendo que Deus não é razoável e é cruel em infringi-la? Ao
dizer assim, se condena com sua própria boca, pois se é um castigo tão terrível, mais do
que é justo, então porque não foi grande o suficiente para restringi-lo do pecado deliberado?
Lucas 19:21: “Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas
o que não semeaste. Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei”. Você
reclama que a punição é grande demais, contudo, agiu como se não fosse grande o sufici-
ente, e a desprezou. Se a punição é tão grande, por que você se esforçou para torná-la
ainda maior? Pois continuou dia após dia entesourando ira para o dia da ira, acrescentado
ao seu castigo, e o aumentando substancialmente; e ainda assim agora você reclama que
seja grande demais, como se Deus não pudesse justamente infligir castigo tão grande.
Como é absurda e contraditória a conduta de alguém que reclama de Deus por tornar o
castigo grande demais, mas dia a dia grandemente ajunta e recolhe combustível, para tor-
nar o fogo maior!

6. Você não tem motivo para reclamar da punição ser injusta; pois muitíssimas vezes
provocou a Deus com o seu pior. Se você proibisse um servo por fazer uma dada coisa, e
o ameaçasse de que, se a fizesse, você infligiria sobre ele uma punição terrível, e ele, ape-
sar disso tudo a fizesse, e você renovasse o mandamento, e o avisasse da maneira mais
estrita possível a não fazê-lo, e lhe dissesse que certamente o puniria se persistisse, e
declarasse que sua punição seria muito terrível, e ele completamente o desprezasse, e
desobedecesse novamente, e você continuasse a repetir seus mandamentos e avisos, ain-
da falando do terror do castigo, e ele, ainda sem se preocupar, continuasse e continuasse
a desobedecê-lo descaradamente e isso imediatamente após suas proibições e ameaças:
você poderia agir de outra maneira senão fazendo o que fosse mais terrível? Mas assim
você agiu com Deus; você teve Seus mandamentos repetidos, e Suas ameaças postas di-
ante de si centenas de vezes, e foi mui solenemente advertido; contudo, apesar disso tudo,
continuou nos caminhos que sabia serem pecaminosos, e fez as exatas coisas que foram
proibidas, diretamente diante de Sua face. Jó 15:25-26: “porque estendeu a mão contra
Deus e desafiou o Todo-Poderoso; arremete contra ele obstinadamente, atrás da grossura
dos seus escudos”. Você assim invocou o desafio ao Todo-Poderoso, mesmo quando viu
a espada de Sua ira vingadora desembainhada, pronta a cair sobre sua cabeça. Seria
então, uma maravilha se Ele o fizesse conhecer como é terrível essa ira, na sua completa
destruição?

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O Remédio De Deus Para A Depravação Humana
Por Arthur Walkington Pink

Parte 1

Talvez alguns de nossos leitores mais jovens e mais impacientes estejam inclinados a ob-
jetar: “Por que dedicar um capítulo especial para isso? Nós já sabemos tudo sobre isso: o
remédio para o homem arruinado encontra-se na salvação de Deus”. Mas isso é uma visão
muito superficial a tomar, e uma visão injusta também; pois a maior e mais grandiosa de to-
das as obras maravilhosas de Deus nunca deve, ser mencionada de forma tão banal e des-
prezada tão superficialmente. Além disso, a questão está muito longe de ser tão simples
quanto is-so, e uma vez que há essa ignorância generalizada sobre a doença em si, é
necessário exa-minar de perto e entrar em alguns detalhes sobre a descrição da cura para
a mesma. O fato precisa ser profundamente percebido desde o início para toda perspicácia
natural, que a condição do homem natural e caído está além do reparo, de forma que
enquanto a autoajuda ou habilidade humana é considerada, o seu caso é sem esperança.
Sim, nenhum outro além do próprio Filho de Deus declarou: “Aos homens isso é impossível”
(Mateus 19:26), e isto é apenas como nós percebemos, em alguma mínima extensão, os
vários as-pectos em que essa impossibilidade baseia-se, para que possamos começar a
apreciar o milagre da graça que assegura a recuperação dos pecadores perdidos.

A doença mortal que se apoderou do homem não é algo simples, mas complexo, não con-
sistindo de um único elemento, mas de uma combinação destes, cada um dos quais é fatal
em si mesmo. Olhem para alguns deles. A própria natureza do homem é totalmente corrom-
pida, mas ele não é sensato, e nem fica horrorizado por causa disso. O pecado não é ape-
nas parte integrante do seu ser, mas ele é profundamente apaixonado por ele. Ele está
cheio de inimizade contra Deus, e seu coração é tão duro quanto uma pedra. Ele está total-
mente paralisado para ir a Deus, e completamente sob o domínio e influência de Satanás.
Ele não somente está desprovido de justiça, mas é um pecador culpado sem uma centelha
de santidade, um leproso moral. Ele é completamente incapaz de ajudar a si mesmo, pois
ele está “fraco” (Romanos 5:6). A ira de Deus permanece sobre ele, e ele está morto em
delitos e pecados. O homem caído não está apenas em perigo de ruína e destruição, mas
já está afundado na mesma. Ele é como um tição próximo de um fogo intenso, que rapida-
mente será consumido a menos que a mão Divina o arranque dali (Zacarias 3:2). Sua
condição não é apenas infeliz, mas desesperada, na medida em que ele é totalmente inca-
paz de conceber qualquer expediente para a sua cura.

O pecador é culpado, e nenhuma criatura pode fazer expiação por ele. Ele é um pária de

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Deus, aterrorizado por Suas próprias perfeições, e, portanto, faz o possível para baní-lO de
seus pensamentos. Nenhuma língua pode expressar ou coração é adequadamente afetado
com a situação lamentável e abjeta miséria do homem natural. E tal será o seu caso para
sempre a menos que Deus intervenha. No entanto, tudo isso representa apenas um lado
do problema — e o menos ruim — isto é, que mesmo assim ele permanecer no caminho
onde o homem ainda pode ser recuperado. Para a inteligência finita pareceria que uma
criatura tão vil e contaminada, tão desobediente e rebelde, tão desagradável à justa mal-
dição da Lei, está além de toda esperança, e que não seria incompatível à honra Divina
salvar tal verme. Como um transgressor pode ser perdoado de forma coerente com os re-
quisitos daquela Lei que ele desprezou e ignorou, e ser liberto da penalidade que ela justa-
mente demanda, e como ele poderia ser recuperado até o favor de Deus em concórdia com
a manutenção do governo Divino, apresentou-se uma dificuldade que nenhuma sabedoria
angelical poderia resolver. Este foi um segredo escondido em Deus até que Ele teve o
prazer de fazê-lo conhecido.

Há aqueles, sem consideração com a Palavra da verdade, que supõem ao fato de que Deus
deve perdoar e receber em favor aqueles que renunciam às armas de sua rebelião contra
Ele e pedem misericórdia. Mas a solução para o problema está longe de ser tão simples
quanto uma questão como esta. Encontrando essas pessoas em seu próprio terreno, deve
ser salientado que a razão humana não pode promover nenhum argumento válido e sufici-
ente pelo qual Deus deveria perdoar o pecador somente porque ele se arrepende, ou que
isso poderia ser feito de forma consistente com o Seu governo moral. Em vez disso, o con-
trário é evidente. A contrição de um criminoso não o exonerará em um tribunal humano de
direito, pois isso não oferece nenhuma satisfação e reparação por seus crimes. Qualquer
pecador que acalenta a ideia de que seu arrependimento lhe oferece uma reivindicação de
clemência e favor Divinos demonstra que ele é um estranho ao verdadeiro arrependimento;
e nunca se arrependerá até que ele abandone tal presunção. A experiência e observação
universais, bem como a Escritura, atestam plenamente o fato de que nenhum dos homens
jamais se arrepende enquanto é deixado a si mesmo, e não são feitos os sujeitos daquelas
operações Divinas para as quais eles não têm nenhuma reivindicação, e que a mera razão
é incapaz de concluir que Deus lhes concederá.

Que um adequado remédio para a doença complexa e fatal pela qual o homem está atingido
deve ser de Deus é muito óbvio; é necessário que seja da Sua concepção, Sua providência,
Sua aplicação, Sua realização eficaz do mesmo. Isso é apenas outra maneira de dizer que
isso deve ser inteiramente dEle do início ao fim, pois se qualquer parte disso for deixado
para o pecador, em qualquer fase, a falha é certa. Ainda assim, é necessário ser destacado
mais uma vez que Deus não tinha obrigação alguma de efetuar tal disposição, pois quando
o homem deliberadamente apostatou dEle, perdeu toda recompensa favorável do seu Cria-

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dor. Não somente Deus poderia agora justamente infligir a pena total de Sua Lei violada
sobre toda a raça humana, mas, de acordo com a Sua santa natureza, Ele poderia ter deixa-
do toda a humanidade perecer eternamente naquela condenação em que eles mesmos ha-
viam se lançado. Se Ele inteiramente abandonasse toda a posteridade do apóstata Adão e
os deixasse como os anjos irremediavelmente caídos, isso não teria qualquer repercussão
sobre a Sua bondade, mas sim uma demonstração de Sua inexorável justiça. Portanto,
sempre que a redenção é mencionada, ela é constantemente descrita como procedente da
graça soberana e pura misericórdia (Efésios 1:3-11).

No entanto, algo mais do que um desígnio gracioso foi exigido da parte de Deus a fim de
que qualquer pecador fosse salvo. A graça é de fato a fonte disso, ainda assim, ela não foi
suficiente em si mesma. Alguém pode ser preenchido com as intenções mais amáveis, mas
ser incapaz de realizá-las. Quão frequentemente o terno amor de uma mãe impotente está
na presença de seu filho em sofrimento! Deve haver também a aplicação de poder Divino
se o propósito da graça deve ser cumprido. E não qualquer poder ordinário, mas, como a
Escritura afirma: “a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos,
segundo a operação da força do seu poder” (Efésios 1:19). Demanda o exercício de muito
mais força para recriar uma criatura caída do que é demandado para criar o universo a par-
tir do nada. Por que isso? Porque nisto não havia oposição, nada para resistir à Sua obra;
enquanto no caso do homem caído, há a hostilidade de sua vontade, a alienação de seu
coração, a inimizade inveterada de sua mente carnal a serem superadas. Além disso, há a
malícia e a oposição de Satanás a serem neutralizadas, pois ele se esforça com todas as
suas forças para manter o seu domínio sobre suas vítimas. O Diabo deve ser despojado da
vantagem que ele tinha obtido, pois não é consistente com a glória de Deus, que lhe seja
permitido triunfar em seu sucesso.

Porém, algo mais do que o exercício do poder de Deus ainda era necessário: a onisciência
deve ser exercida, bem como onipotência. A força em si mesma não construirá uma casa:
deve haver também a arte de planejar e harmonizar os materiais. A habilidade é o principal
requisito de um arquiteto. Permitam fracamente ilustrar o que procuramos expressar aqui.
Aqueles que são salvos não são apenas os produtos da maravilhosa graça de Deus e poder
onipotente, mas eles também são “feitura Sua” (Efésios 2:10). Maravilhosamente a sabedo-
ria de Deus aparece no belo tecido de Sua graça, no templo espiritual que Ele ergue para
a Sua própria morada. Ele “para isto mesmo nos preparou” (2 Coríntios 5:5); como as pe-
dras são esculpidas e polidas, assim os crentes são “pedras vivas” nesse edifício em que
Deus habitará para sempre. Ora, o que é excelente na execução serve para fazer manifesta
a excelente habilidade no planejamento da mesma. A contrapartida da Lei de Deus nos co-
rações dos Seus filhos vivificados não é menos o fruto de Sua sabedoria do que ela escrita
em tábuas de pedra: sabedoria na primeira formação disso, sabedoria também na impres-
são dela sobre a compreensão e as afeições.

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Não é nem nas maravilhas da criação, nem nos mistérios da providência que as profundida-
des e riquezas da sabedoria de Deus devem ser encontradas: antes, é no plano e frutos da
redenção que elas são mais plena e ilustrativamente reveladas. Isso fica claro a partir de
várias Escrituras. É no Mediador Deus-Homem “em quem estão escondidos todos os tesou-
ros da sabedoria e da ciência” (Colossenses 2:3): Sim, Ele é expressamente denominado
“sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:24). Aos “principados e potestades nos céus” agora está
sendo manifesta, por meios, “pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus” (Efésios 3:10).
A elaboração de um método pelo qual uma parte da humanidade deve ser resgatada de
sua condição miserável é de fato a obra-prima da sabedoria Divina: nada, senão a própria
onisciência poderia ter encontrado uma maneira de efetuar tal triunfo de uma forma ade-
quada para todas as perfeições Divinas. Os sábios deste mundo são chamados de “prínci-
pes” (1 Coríntios 2:6, 8), mas os anjos são designados “principados e potestades nos luga-
res celestiais”, por causa de sua dignidade, sabedoria e força superiores. No entanto, ape-
sar de serem tão grandes em inteligência, sempre contemplando a face do Pai, ainda assim,
uma nova e grandiosa descoberta da sabedoria de Deus é feita a eles por meio da Igreja,
pois a Sua obra na redenção dela transcende em muito a compreensão natural deles.

As hierarquias celestes testemunharam a desonra que havia sido feito à autoridade de Deus
e a discórdia trazida para a esfera de Seu governo pelo pecado e rebelião de Adão. Era,
portanto, necessário, moralmente falando, que esse desafio ao governo de Deus fosse tra-
tado, e que essa afronta ao Seu trono fosse corrigida. Isso não poderia ser feito a não ser
pela imposição daquela punição que na regra inalterável e padrão de justiça Divina era de-
vida para isso. A tolerância do pecado em quaisquer outros termos deixaria o governo de
Deus em indizível desonra e confusão. “Porque, onde está a justiça do governo se o maior
pecado e provocação que a nossa natureza era capaz de praticar, e que trouxe confusão
sobre toda a criação, ficasse para sempre impune? A primeira intimação expressa que Deus
deu de Sua justiça no governo da humanidade foi a Sua ameaçadora punição equivalente
ao demérito da desobediência em que o homem poderia cair: ‘no dia em que dela comeres,
certamente morrerás’ [Gênesis 2:17]. Se Ele revogasse e invalidasse esta sentença, como
a glória de Sua justiça no governo de tudo será conhecida? Mas como essa punição deveria
ser sofrida, a qual consistia na ruína eterna do homem, e ainda assim o homem ser salvo
eternamente, foi uma obra para a sabedoria Divina idealizar” (John Owen).

Não apenas era necessário à honra da justiça de Deus, sendo Ele o Governador moral e
Juiz supremo de toda a terra, que o pecado fosse sumariamente punido, mas foi neces-
sário que houvesse uma obediência a Deus, e tal obediência como que traria mais glória a
Ele do que a desonra e opróbrio que resultou da desobediência do homem. “Isto foi devido
à glória da Sua santidade ao dar a Lei. Até isso foi feito, a excelência daquela Lei como
sendo a santidade de Deus, e como um efeito disso, não poderia ser feita manifesta. Pois,

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se esta nunca fosse mantida em qualquer instância, nunca cumprida por qualquer pessoa
no mundo, como a glória dela seria declarada? Como a santidade de Deus seria represen-
tada por ela? Como seria evidente que a transgressão não era antes algum defeito na pró-
pria Lei, do que de qualquer mal naqueles que deveriam ter rendido obediência a ela? Se
a Lei dada ao homem nunca fosse cumprida, sobretudo, em perfeita obediência por qual-
quer um que seja, poderia ser pensado que a própria Lei não era adequada à nossa nature-
za, e impossível de ser assim cumprida” (John Owen). Ele não se tornou o Reitor do uni-
verso para dar ao homem uma Lei cuja espiritualidade e equidade nunca pudesse ser
exemplificada em obediência. Essa Lei não foi imposta, principalmente, para que o homem
sofresse justamente por sua transgressão, mas sim para que Deus fosse glorificado em seu
desempenho. Mas, desde que a ofensa de Adão trouxe ruína sobre toda a sua posteridade,
de forma que eles são incapazes de responder às suas demandas, como poderia uma
perfeita obediência ser prestada a ela? Somente a onisciência poderia fornecer a resposta.

Oh, que coisa verdadeiramente surpreendente é, leitor Cristão, que a sabedoria de Deus,
por meio de nossa redenção, fez daquilo que é a maior desonra possível a Ele tornar-se a
ocasião de Sua maior glória! Ainda assim, tal é verdadeiramente o caso. Nada é tão desa-
gradável ao Altíssimo quanto o pecado, nada desonra tanto a Ele, pois isto é em sua própria
natureza inimizade contra Deus, desprezo a Ele. O pecado é uma vergonha à Sua majesta-
de, um insulto à Sua santidade, uma insurreição contra o Seu governo. E, no entanto esta
“coisa abominável”, que Ele odeia (Jeremias 44:4), para a qual Ele não pode olhar, senão
com infinito desfavor (Habacuque 1:13), é feita por ocasião do maior bem possível. Que
milagre dos milagres é que o Senhor faça a ira do homem louvá-lO (Salmos 76:10), que o
próprio mal que visa destronar a Ele transmute-se em meios de magnificação dEle; sim,
pois, assim Ele fez a grandiosa manifestação de Suas perfeições que sempre existiram. O
pecado lança desprezo sobre a Lei de Deus, no entanto, por meio da redenção, aquela Lei
é extremamente honrada. Nunca o Rei do Céu foi tão gravemente menosprezado como
quando aqueles feitos à Sua imagem e semelhança irromperam em revolta contra Ele;
nunca tal honra foi prestada ao Seu trono, como pela forma com a qual Ele escolheu efetuar
a salvação de Seu povo. Nunca a santidade de Deus foi tão menosprezada como quando
o homem preferiu prestar lealdade à antiga serpente, o Diabo; nunca a santidade de Deus
brilhou tão rutilantemente como na vitória que Ele obteve sobre Satanás.

Igualmente maravilhoso é, leitor Cristão, que Deus planejou uma maneira pela qual um
transgressor flagrante deve tornar-se inocente, e que aquele que é completamente destituí-
do de justiça seja justificado ou declarado justo pelo Juiz de toda a terra. Houvesse coisas
como estas sido submetidas à solução, elas sempre pareceriam ser contradições irreconcili-
áveis para todas as compreensões finitas. Parece ser absolutamente impossível para um
culpado condenado o ser inocentado de qualquer acusação contra ele. O pecado implica

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necessariamente em punição, como pode, então, qualquer transgressor fugir da “devida
recompensa” de suas obras (Lucas 23:41), exceto por uma manifesta violação da justiça?
Deus declarou claramente que Ele “não inocenta o culpado” (Êxodo 34:7). Ele tem determi-
nado por um decreto inalterável de que o pecado deve ter a paga de seus salários; então
como pode o culpado ser isentos da sentença de morte? Nem é menos formidável o proble-
ma de como Deus pode, com equidade perfeita, declarar justos aqueles que não têm cum-
prido as exigências da Lei. Conceder a declaração de obediência àquele cujo registro é de
desobediência ao longo da vida parece ser algo pior do que uma anomalia. No entanto, a
Onisciência planejou uma solução para ambos os problemas, uma solução que é, em todos
os aspectos, uma solução perfeita e gloriosa.

Sem essa solução, a restauração de qualquer um da humanidade no favor e na comunhão


e gozo do próprio Deus seria totalmente impossível. Isso seria assim não somente por cau-
sa da própria depravação total do homem, mas por causa da relevância da glória das per-
feições Divinas em nosso pecado e apostasia. Eles não somente estavam acometidos de
uma doença fatal, da qual não havia a menor esperança de libertação, a menos que fosse
fornecido um remédio sobrenatural, mas o governo de Deus estava tão gravemente indig-
nado com nossa revolta, que a compensação integral deveria ser feita ao Seu cetro insul-
tado, e a completa satisfação oferecida à Sua Lei violada, para que o trono do Céu pudesse
ser satisfeito. Muito além da concepção da inteligência finita como foi a dificuldade de repa-
rar os danos causados em toda a nossa constituição e ser pelo pecado, ainda mais longe
estavam os obstáculos que permaneciam no caminho do exercício da graça e da misericór-
dia de Deus na restauração do pária. Essa maneira de restauração deve ser algo no qual
Deus seja magnificado, Sua justiça vindicada, Suas ameaças cumpridas e Sua santidade
glorificada. A maneira pela qual todos esses fins foram alcançados e esses resultados ga-
rantidos é a maravilha adorada, semelhantemente, pelos redimidos e pelos anjos.

Como outros antes de nós têm apontado, se o governo Divino fosse vindicado, toda a obra
do nosso resgate deveria ser realizada em nossa natureza, e a própria natureza daqueles
que pecaram, e que viriam a ser recuperados desde as ruínas da Queda e trazidos à felici-
dade eterna: a partir da natureza humana, mas esta teria que ser não somente livre de qual-
quer contaminação, mas intrinsecamente santa. Quanto à salvação de pecadores, nenhu-
ma satisfação poderia ser feita para a glória de Deus, devido, à depravação da natureza
apóstata do homem e todos os frutos malignos desta, contudo deveria ser por uma natureza
igual à daqueles que pecaram e deveriam ser salvos. A entrega da Lei por Deus aos nossos
primeiros pais foi por si só um efeito de Sua sabedoria e santidade, em que a glória delas
seria exaltada, se essa regra de justiça fosse cumprida por uma natureza de um tipo total-
mente diferente? Se um anjo a cumprisse, a sua obediência não seria nenhuma prova de
que a Lei era adequada à natureza do homem, para a qual ela foi originalmente prescrita;

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antes, poderia um cumprimento angelical da Lei ter sido um reflexo da bondade Divina em
concedê-la aos homens. Nem poderia ter havido a necessária relação entre a natureza do
substituto e aqueles em nome de quem o substituto agiu e sofreu, e, portanto, tal arranjo
não teria magnificado a sabedoria Divina, antes teria sido, na melhor das hipóteses, uma
obra insatisfatória.

As Escrituras são muito explícitas em seu ensino sobre a necessidade da natureza ser a
mesma entre o fiador e aqueles a quem ele representava, como sendo condescendente à
sabedoria de Deus. Falando sobre a forma de nosso auxílio, o apóstolo declarou: “E, visto
como os filhos participam da carne e do sangue, também ele [o Resgatador] participou das
mesmas coisas” (Hebreus 2:14). A natureza humana foi aqui expressa por: “da carne e do
sangue”, que deveria ser liberta, e, portanto, era em natureza humana que esta libertação
deveria ser feita. O apóstolo entra em detalhes consideráveis sobre este ponto em Roma-
nos 5:12-21, a soma disso é: “se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça
de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos”
[v.15]. A mesma natureza que transgrediu deve operar o remédio para a mesma. Mais uma
vez, em 1 Coríntios 15:21: “Porque assim como a morte veio por um homem, também a res-
surreição dos mortos veio por um homem”. A nossa ruína não poderia ser recuperada, nem
a libertação de nossa culpa ser efetuada, exceto por alguém em nossa própria natureza.

Além disso, deve ser observado que a libertação para ser assegurada deve ser feita por al-
guém cuja substância foi derivada de nossos primeiros pais. Não havia encontrado as exi-
gências do caso para que Deus criasse um segundo homem do pó da terra, ou de qualquer
coisa que seria de natureza diferente de nós mesmos, pois, nesse caso, não haveria nexo
e relação entre ele e nós, e, portanto, não teríamos, de modo algum, uma participação em
qualquer coisa que ele fizesse ou sofresse. Essa aliança dependia apenas disso, que Deus
“de um só sangue fez toda a geração dos homens” (Atos 17:26). Todavia, neste momento
uma dificuldade adicional foi apresentada, uma que outra vez se provava insuperável a
todas as inteligências criadas, não houvesse “o único Deus sábio” revelado a Sua provisão
para a resolução da mesma. Qualquer libertador de homens pecadores deveria derivar sua
natureza de suas ações originais, mas ele não deveria trazer junto com ele a menor mácula
de corrupção ou a mesma responsabilidade, que temos em nossa própria conta, pois, se a
sua natureza se contaminasse, se ela carecesse da imagem de Deus, ele não poderia fazer
nada que fosse aceitável a Deus, e ele estaria sujeito à penalidade da Lei por conta própria,
então ele não poderia fazer nenhuma satisfação pelos pecados dos outros. Mas, desde que
todo descendente de Eva é formado em pecado e concebido em iniquidade, como poderia
qualquer um de sua semente estar sem pecado? Somente a Onisciência poderia trazer algo
imaculadamente puro da completa impureza.

Não devemos perder de vista os fundamentos em que a corrupção e culpa aderem à nossa

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natureza, como elas atuam em todos os indivíduos. Primeiramente, toda a nossa natureza,
quanto à participação nela, estava em Adão como nossa cabeça pactual e representante
federal. Portanto, sua ofensa era nossa também, e justamente imputada a nós. Porque nós
pecamos nele, nos tornamos “por natureza filhos da ira”, os sujeitos do desagrado judicial
de Deus. Em segundo lugar, nós derivamos a nossa natureza de Adão por meio de geração
natural, de modo que a sua profanação é comunicada a todos os seus descendentes. Nós
somos as plantas degeneradas de uma vinha degenerada. Assim, ainda outra dificuldade
foi apresentada: a natureza de um libertador para o homem caído deveria, como em sua
substância, ser derivada de nossos primeiros pais, mas de modo a não ser em Adão como
representante legal, nem ser derivado dele por geração natural. Mas como isso poderia
ocorrer: que sua natureza estivesse verdadeiramente relacionada a Adão, como a nossa,
e ainda assim, não sendo participante da culpa de sua transgressão, nem participando de
sua contaminação? Tal prodígio estava totalmente fora do conceito de toda mente finita.

Parte 2

No último capítulo, nos dedicamos a algumas das dificuldades, sim, aparentemente impos-
sibilidades que estavam no caminho do resgate de qualquer um dos filhos caídos de Adão,
mostrando que precisava haver algo mais do que um benigno propósito da graça da parte
de Deus para efetuar o mesmo, algo mais do que aplicar o Seu grande poder, de forma que
os obstáculos que precisam ser removidos eram tantos e tão grandes que “a multiforme
sabedoria de Deus” (Efésios 3:10) também precisou ser convocada para a ação. A dificulda-
de do lado humano era o estado desesperado do pecador: como sua escuridão poderia ser
transformada em luz, sua inimizade em amor, sua falta de vontade em vontade, sem qual-
quer tipo de violência sendo feita em sua agência moral. Os obstáculos do lado Divino eram
como o Altíssimo poderia restaurar tais desgraçados ao Seu favor, e ainda assim não com-
prometer as Suas perfeições: como Ele poderia ter relações com leprosos morais, sem
manchar a Sua santidade, inocentar o culpado sem repudiar a Sua Lei, exercer misericórdia
em coerência a Sua justiça, e, contudo, fornecer um remédio para tal doença, e fazê-lo de
uma maneira que honrasse Seu trono, estava muito além do alcance da inteligência criada.

Nós vimos que, a fim de salvar um pecador legalmente condenado e merecedor do infer-
no era necessário que algum método e meio fosse concebido pelo qual ele seria liberto de
todas as consequências da Queda, e ao mesmo tempo atendesse a todas as exigências
do governo Divino. O pecado tinha que ser tratado severamente, mas os transgressores
deveriam ser eximidos de sua merecida condenação. Uma plena conformidade à Lei deve-
ria ser realizada, mas por alguém na mesma natureza que aqueles que a tinham violado.
Isso foi claramente esboçado sob os tipos do Antigo Testamento: o redentor tinha que ser
um parente de quem ele favorecia (Levítico 25:25; Rute 4:4-6). Além disso, as exigências

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da Lei somente poderiam ser atendidas por um alguém cuja natureza fosse derivada da
mesma linhagem como a daqueles em nome de quem ele efetuou, mas a sua humanidade
não deveria ser maculada em menor grau pela corrupção comum deles. Era necessário
que ele fosse um homem da descendência de Adão (Lucas 3:38) e Eva (Gênesis 3:15), no
entanto, um homem absolutamente puro e santo, pois nenhum outro poderia pessoal e
perpetuamente obedecer em pensamento, palavra e ação. Mas ninguém assim existia: “Na
verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque” (Eclesias-
tes 7:20), nem jamais haveria alguém se a raça humana fosse deixada por si mesma. Nada,
senão a multiforme sabedoria e poder sobrenatural de Deus poderiam produzi-lo.

Ainda assim, alguém que era mais do que o homem, mesmo alguém perfeito, sim, muito
superior àqueles seres celestiais que cobrem o rosto na presença da Divindade era neces-
sário, a fim de quitar as responsabilidades dos pecadores depravados, e renová-los em
santidade. Isto é evidente a partir de várias considerações. A criatura mais exaltada, sim-
plesmente porque é uma criatura, é obrigada a prestar obediência perfeita ao seu Criador,
e, portanto, não poderia merecer nada em nome de outros. Se ele cumpriu plenamente o
seu dever, ele de fato, aperaria uma justiça e direito à recompensa da Lei; mas ele necessi-
taria daquela justiça em sua própria conta, e, portanto, esta não estaria disponível para a
imputação a outro, e menos ainda a muitos outros. Mais uma vez, a obra que ele tinha de
fazer, a saber, pagar integralmente a dívida incalculável incorrida por aqueles que deveriam
ser salvos, fazer expiação por todos os seus pecados, reconciliá-los com Deus, restaurá-
los ao Seu favor, fazê-los encontrar a herança dos santos na luz, estava muito além da
abrangência de qualquer mera criatura, não importa quão alta fosse a sua posição. Além
disso, qualquer libertador dos apóstatas filhos de Adão deveria ser essencial e infinitamente
santo, pois ninguém menos poderia ser qualificado para pôr de lado a infinita culpa das
inúmeras iniquidades deles.

Para que qualquer parte da humanidade fosse eternamente salva para a glória de Deus,
era necessário que não somente a obediência impecável fosse prestada à Lei de Deus,
mas tal obediência como que trouxesse mais honra à Sua santidade do que a desonra que
foi lançada sobre ela por meio da desobediência de todos; afirmar que pouco importa o que
aconteça com a glória de Deus, desde que os miseráveis pecadores sejam salvos de uma
maneira ou outra não é senão o vômito blasfemo da mente carnal. Onde Deus é reverencia-
do e amado acima de tudo, mui diferentes serão os sentimentos de tal pessoa; ou seja,
bem melhor que toda a raça de Adão pereça do que o caráter da Deidade ser manchado e
os fundamentos de Seu trono prejudicado. Mas tal obediência não poderia ser prestada por
qualquer mera criatura, não importa quão puro a sua natureza ou eminente a sua posição,
pois, necessariamente, não há algo do Divino nele, para que o seu desempenho possua
um valor infinito. Nem deve esta obediência ser constrangida, mas sim ser voluntária, pois

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o que é forçado não procede do amor e é sem valor. Nem deve a sua conformidade à Lei
ser uma em que ele seja pessoalmente responsável a render-se a ela, pois em tal caso,
isso não poderia ser aceito como uma devida compensação pela desobediência de todos.

Não era apenas uma única pessoa que devia ser resgatada a partir da Queda e ser trazida
para a glória, mas “milhares” (Judas 1:14), e cada um deles tinha mais pecados em sua
conta do que cabelos sobre a cabeça, e cada pecado tinha em si uma culpa imensurável,
uma vez que fora cometido contra a infinita Majestade do Céu. A desventura em que todos
eles eram ofensivos também era infinita, posto que a duração desta era eterna, tudo indes-
critivelmente terrível e doloroso para que a nossa natureza seja capaz de suportar. Nem
eles poderiam ser libertos da terrível consequência do pecado, sem uma satisfação adequa-
da sendo feita à justiça ofendida de Deus. Afirmar o contrário é como se alguém dissesse
que não importa para Deus se Ele é obedecido ou desobedecido, se Ele é honrado ou de-
sonrado em e por Suas criaturas, e isso seria negar Seu próprio ser, visto que é diretamente
contrário à glória de todas as Suas perfeições. Mas, onde estava a pessoa qualificada e
capacitada para realizar a requerida propiciação pelo pecado? Onde estava a pessoa apro-
priada para agir como mediador entre Deus e os homens, entre o Santo e o profano? Onde
estava o único que poderia conceder vida aos mortos, e mérito de bem-aventurança eterna
para eles?

Se um remédio é providenciado aos pecadores, ele deve ser aquele que lhes restaura àque-
la mesma condição e dignidade em que foram colocados antes da Queda. Pois, recuperá-
los a alguma menor honra e bem-aventurança do que aquelas que eram as deles original-
mente não consistiria tanto com a Divina sabedoria ou recompensa. “Sim, considerando
isso, a infinita graça, bondade e misericórdia de Deus para restaurá-lo, parece agradável
para a glória das Divinas excelências em suas operações que ele deve ser levado a uma
condição melhor e mais honrosa do que a que ele tinha perdido” (John Owen). Em seu esta-
do primitivo o homem não estava sujeito a ninguém, senão ao seu Criador. Embora ele fos-
se menos digno do que os anjos, ainda assim, ele não lhes devia nenhuma obediência, eles
eram seus conservos do Senhor Deus. Obviamente [como Owen também apontou], se o
pecador fosse salvo por qualquer mera criatura, ele não poderia ser restaurado ao seu pri-
meiro estado e dignidade, pois, nesse caso, ele deveria fidelidade e subserviência àquela
criatura que o havia redimido, ele se tornaria a propriedade de quem o comprou. Isso não
somente introduziria maior confusão, mas o pecador estaria em um caso ainda pior do que
estava antes da Queda, pois ele não estaria na posição em que ele devia sujeição e honra
apenas a Deus.

A partir do exposto, será visto que o único suficiente libertador dos homens caídos deve ser
alguém possuidor de infinita dignidade e merecimento, a fim de que ele seja capaz de mere-

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cer bênçãos infinitas. Ele deve ser uma pessoa de poder e sabedoria infinitas, porque a o-
bra que ele deve executar não poderia ser realizada com sucesso por ninguém menos. Ain-
da mais, era necessário que ele fosse uma pessoa que era infinitamente querida de Deus
Pai, a fim de conceder um valor infinito às suas operações na estima do Pai, e que o amor
do Pai por ele pudesse equilibrar a ofensa e a provocação de nossos pecados. Ele também
deveria ser uma pessoa que poderia agir nesta questão em seu próprio direito, que, em si
mesmo, ele não fosse um servo e sujeito ao Altíssimo; caso contrário, ele não poderia mere-
cer alguma coisa por aqueles que ele salvaria. Além disso, ele deveria ser uma pessoa do-
tada de infinita misericórdia e amor, pois ninguém voluntariamente assumiria uma tarefa tão
árdua, tão humilhante, e envolvendo tanto sofrimento indizível, por criaturas tão indignas e
sujas quanto os homens caídos. Mas onde, em todo o universo alguém assim seria encon-
trado? Nenhuma pessoa criada possuía as qualificações necessárias. Quando o apóstolo
João contemplou (na visão) o livro com sete selos, nos é dito que ele chorava muito, porque
ninguém no céu ou na terra foi achado digno de abrir o livro (Apocalipse 5:1-4), e não tivesse
a multiforme sabedoria de Deus encontrado a solução para todos esses problemas, homens
e anjos, igualmente, ficariam para sempre perplexos por eles.

Os vários elementos do complicado problema da salvação para qualquer um dos filhos de


Adão estão longe de estar esgotados naqueles já foram apontados. O homem foi feito para
servir e glorificar a Deus. Em espírito, alma e corpo, em todas as suas faculdades e forças,
em tudo o que foi dado e confiado a ele, ele não era seu próprio, mas em lugar de um servo.
O mesmo era, igualmente, o caso com os anjos. Uma criatura e alguém que em todos os
aspectos está em sujeição ao seu Criador são termos conversíveis. Mas a essa condição
e posição a raça humana em Adão se revoltou, determinando ser “como deuses”, senhores
sobre si mesmos. Há algo disso em cada pecado: a preferência da vontade própria e rejei-
ção da vontade do Todo-Poderoso. Por sua insurreição, o homem caiu em completa escra-
vidão ao pecado e a Satanás. A fim de libertar o pecador de seu cativeiro, era necessário
para qualquer libertador tomar a posição que o homem originalmente ocupou, ele deveria
entrar no lugar de absoluta sujeição a Deus, subordinando inteiramente a sua própria von-
tade à dEle, pois de nenhuma outra maneira poderia ser feita adequada compensação ao
insultado governo de Deus, e os danos causados pelos nossos primeiros pais serem repa-
rados. Mas, como qualquer ser incriado ocuparia a posição de uma criatura? Com que pro-
priedade um possuidor de infinita dignidade e excelência poderia sofrer tamanha humilha-
ção? Como poderia aquele que estava acima de toda a Lei, submeter-se à Lei e prestar-
lhe obediência?

Mais uma vez, em seu estado original o homem não tinha nada, senão o que o Criador con-
cedesse a ele. Feito do pó da terra, ele era dotado de inteligência e agência moral, mas pa-
ra serem empregadas no serviço Divino. Ele também era dependente de seu Criador para
cada movimento de sua respiração. Esse estado de necessidade e dependência ele delibe-

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radamente abandonou, determinando enriquecer a si mesmo e assumir o domínio absoluto.
Mas o seu terrível crime trouxe sobre ele e todos a quem ele representava a perda de seus
dons originais: ele perdeu a imagem de Deus, o seu direito às criaturas aqui abaixo, sua
própria alma. Consequentemente, qualquer salvador para ele deveria necessariamente ex-
perimentar a degradação e a pobreza que o pecador tinha trazido sobre si mesmo, de modo
que ele não teria aonde reclinar a cabeça. Mas como essa experiência foi possível para
quem seria infinitamente rico em si mesmo, e em seu próprio direito? Desde que Adão re-
presentava e agia em nome de todos aqueles a quem ele representava legalmente, segue-
se que qualquer salvador não deveria servir em uma capacidade privada, mas como a cabe-
ça da aliança daqueles a quem ele devia resgatar. Finalmente, uma vez que Deus fez o pri-
meiro homem senhor da terra, dando-lhe o domínio sobre todas as criaturas nela, cujo do-
mínio ele perdeu na sua Queda, então, um libertador deveria ser capaz de recuperar a pro-
priedade perdida. Mas onde estava aquele que era capaz de comprar tão vasta herança?

“As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus” (Lucas 18:27). A Onis-
ciência encontrou uma solução para todos os problemas que sempre haviam confundido
as mentes dos homens. A Escritura lança não pouca ênfase sobre isso. É referida como “a
sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa
glória”, ou seja, a nossa salvação (1 Coríntios 2:7). “Em mistério” denota aquilo que é in-
sondável pela razão humana, incompreensível para a capacidade finita, completamente
escondido até que fosse Divinamente revelado, e, mesmo assim, para além dos nossos po-
deres de compreender plenamente. Em Efésios 1:8, somos informados de que: “ele fez a-
bundar para conosco em toda a sabedoria e prudência”. A palavra “abundou” tem a força
de jorrando, transbordando. É chamado de “toda a sabedoria”, por sua excelência. Não foi
um único conceito ou ato, mas um conjunto de muitos excelentes fins e meios para a glória
de Deus. À sabedoria é adicionada a “prudência”: a primeira refere-se ao planejamento e-
terno de um caminho, a prudência refere-se à ordenação de todas as coisas ao cumprimen-
to dos conselhos ou propósitos de Deus; sabedoria na elaboração, a prudência na execu-
ção. Em Efésios 3:10, isso é designado como: “a multiforme sabedoria de Deus” por causa
de sua complexidade e variedade; a salvação dos pecadores, a derrota de Satanás, a plena
revelação da Santíssima Trindade, em suas diferentes pessoas, operações separadas,
ações combinadas e expressões de bondade; e por causa da vastidão de sua extensão.

Essa multiforme sabedoria de Deus, agora exibida diante dos anjos na redenção da Igreja,
é dita ser “segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” (Efésios
3:11). O Filho eterno de Deus, predestinado a ser o mediador Deus-homem é o grande me-
io, capacidade e manifestação da onisciência Divina e, portanto, Ele é chamado de “A Pala-
vra de Deus” (Apocalipse 19:13), e “sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:24). “Tornando a nós
conhecido o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si

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mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos
tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Efésios 1:9-10). “O misté-
rio da vontade de Deus são os Seus conselhos referentes à Sua própria glória eterna na
santificação e salvação da Igreja aqui na terra, para ser unida àquela acima. A origem
absoluta disso foi o Seu próprio prazer, ou a atuação soberana de Sua sabedoria e vontade.
Mas tudo isso devia ser efetuado, em Cristo, o qual o apóstolo repete duas vezes: Ele reuniu
‘tudo naquele que é a cabeça, Cristo’, ou seja, somente nEle”.

“Assim, é dito dele com respeito à Sua futura encarnação e obra de mediação que ‘O Se-
nhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde
a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra’ (Provérbios 8:22-23).
A eterna existência pessoal do Filho de Deus estava nestas expressões... sem isso nenhu-
ma dessas coisas poderiam ser afirmadas sobre Ele. Mas há uma relação de ambas, a Sua
futura encarnação e a realização dos conselhos de Deus por meio desta. Com relação a
isso, Deus O possuiu no princípio de Seus caminhos, ungiu-O desde a eternidade. Deus O
possuía eternamente como a Sua sabedoria essencial, pois Ele sempre foi e sempre esteve
no seio do Pai, no amor mútuo, inefável do Pai e do Filho, no vínculo eterno do Espírito.
Mas Ele notavelmente O possuía no princípio de Seu caminho como a Sua sabedoria
atuando na produção de todos os caminhos e obras que existem exteriormente nEle. O
início do caminho de Deus antes de Suas obras são os Seus conselhos que lhes dizem
respeito, assim como os nossos conselhos são o início de nossas maneiras com relação
aos trabalhos futuros. E Ele O ungiu desde a eternidade como o fundamento de todos os
conselhos de Sua vontade, e por meio de quem eles deveriam ser executados e cumpridos”
(John Owen).

O oitavo capítulo de Provérbios é um capítulo extremamente profundo, mas também mui


abençoado. Nele, como o primeiro versículo demonstra, a voz da “sabedoria” é ouvida falar.
Que há uma pessoa que está ali em vista é evidente, mais uma vez, a partir do versículo
12: “Eu, a sabedoria, habito com a prudência”, e versículo 17: “Eu amo aos que me amam”.
Que esta é uma pessoa Divina pode ser visto a partir do versículo 15: “por mim reinam os
reis”. Mas é igualmente claro a partir da linguagem dos versículos 24 e 25, “fui gerada”, e
“eu estava com Ele [o Pai]... perante Ele” [versículo 30], que tais expressões não podiam
ser predicadas ao Filho de Deus absolutamente, que é co-eterno e co-igual com o Pai. Não,
“sabedoria” aqui deve ser entendida como o Filho enquanto Mediador Homem-Deus em
suas duas naturezas, como o Alguém ordenado para ser a encarnação da “sabedoria de
Deus” (1 Coríntios 1:24). Quando Ele diz: “O Senhor Me possuiu: princípio [no hebraico é
sem o “no”] de Seus caminhos, desde então, e antes de suas obras”, este é o Mediador
falando na subsistente aliança que Ele tinha diante de Deus antes que o universo fosse
chamado à união com o Filho eterno, era “o princípio” (Apocalipse 1:8) dos “caminhos” do
Deus Triuno, pois em todas as coisas Ele deve “ter a preeminência” (Colossenses 1:18).

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O primeiro conselho de Deus relacionou-se ao Homem Cristo Jesus, pois Ele foi nomeado
para ser não somente a cabeça da Sua Igreja, mas “o primogênito de toda a criação” (Colos-
senses 1:15), Aquele a quem o Senhor dos Exércitos indicou como “o homem que é o meu
companheiro” (Zacarias 13:7) foi predestinado para a graça da união e da glória Divina. “Na
cabeça [assim é que está no grego] do livro está escrito de Mim” (Hebreus 10:7). Sendo Ele
o Objeto e Sujeito do decreto original de Deus. “Nosso Redentor saiu do ventre de um de-
creto desde a eternidade, antes que Ele saísse do ventre da virgem no tempo. Ele esteve
escondido na vontade de Deus antes que Ele se manifestasse na carne de um Redentor.
Ele era um Cordeiro que foi morto no propósito, antes que Ele fosse morto na Cruz. Ele foi
possuído por Deus no princípio ou no início de Seus caminhos (a Cabeça de Suas obras),
e ungido desde a eternidade para ter as Suas delícias entre os filhos dos homens” (Char-
nock). A pessoa do Deus-Homem Mediador foi a origem dos conselhos Divinos. Como tal,
o Jeová Triuno “possuiu” ou abraçou-o, como um Tesouro no qual todos os conselhos Divi-
nos foram depositados, como um Agente eficaz para a execução de todas as Suas obras.
Cristo foi o primeiro Eleito de Deus (Isaías 42:1) e, em seguida, a Igreja foi escolhida nEle
(Efésios 1:4).

“Desde a eternidade fui ungida” [Provérbios 8:23]. Essa declaração diz respeito a Ele não
essencialmente como Deus o Filho, mas economicamente como o Mediador: “estabelecido”
ou, literalmente, “ungido” por uma constituição da Aliança e pela subsistência Divina diante
da mente de Deus. Antes de todos os mundos, no “conselho de paz” (Zacarias 6:13), Cristo
foi designado e ungido com o Seu caráter oficial. Antes que Deus planejasse criar qualquer
criatura, Ele primeiro “ungiu” a Cristo como o grande Arquiteto e Origem. “Então eu estava
com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em
todo o tempo” (Provérbios 8:30). Não foi a complacência do Pai na segunda Pessoa da
Trindade (como tal) que está ali em vista, mas a Sua satisfação e alegria no Mediador, co-
mo Deus O contemplou nas lentes de Seus decretos como o Repositório de todos os Seus
desígnios. A palavra hebraica para “arquiteto” também significa “mestre construtor”, e é as-
sim apresentado na Versão Revisada [da Bíblia King James], quão abençoadamente isso
descreveu Aquele que seria invocado para realizar o propósito do Pai! Em Seus pensamen-
tos eternos e visões primitivas, o homem Cristo Jesus era o objeto do amor de Deus. Por
Ele todas as coisas seriam criadas. Por meio dEle, vasos seriam formados para a Sua gló-
ria. Por Ele, o grande remédio seria fornecido para as vítimas do pecado.

É realmente lamentável que tão poucos do povo do Senhor estejam sendo instruídos nestas
“profundezas de Deus” (1 Coríntios 2:10), pois elas foram reveladas para sua edificação e
consolação. O que temos procurado explicar em Provérbios 8 lança luz sobre outras passa-
gens. Por exemplo, quantos leitores perplexos foram confundidos por João 6:62: “Que seria,
pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?”. Em que sentido Ele

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estava no Céu como Homem antes que Ele se tornasse encarnado? Mas, ainda que nós
sejamos ignorantes desta verdade maravilhosa, santos do Antigo Testamento não eram,
como é evidente a partir do Salmo 80:17: “Seja a tua mão sobre o homem da tua destra,
sobre o filho do homem, que fortificaste para ti”. Embora o Homem Jesus Cristo ainda não
tinha existência histórica, Ele tinha uma subsistência Pactual perante o Pai, como tomada
em união com a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Como a fé concede uma presen-
te “substância” (a palavra grega significa “uma verdadeira subsistência”) no coração e
mente do crente sobre as coisas que se esperam, a fim de que ele tenha um presente gozo
de coisas ainda futuras, assim, na mente dEle diante de quem todas as coisas estão sempre
presentes, Cristo como encarnado foi sempre uma realidade viva. Assim, quando Deus
disse: “Façamos o homem à nossa imagem” (Gênesis 1:26), a referência final foi ao Deus-
homem, que é por excelência a “imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15).

Façamos uma pausa aqui e admiremos e adoremos a gloriosa sabedoria de Deus, que en-
controu um caminho para salvar o Seu povo, de uma forma que foi infinitamente apropriada
e honrosa para Si próprio, e nos prostremos em admiração e adoração diante do Senhor
Jesus, que, não obstante a vergonha e o sofrimento indizíveis envolvidos nisso, agradou-
Lhe fazer a vontade do Pai. A multiforme sabedoria de Deus é vista em Sua escolha de Al-
guém para ser a Cabeça e Salvador da Igreja, em que Ele era em todos os aspectos ade-
quado para desempenhar esse ofício e obra, dotado de todas as qualificações necessárias,
e em que Ele era a única Pessoa apropriada para isso. A sabedoria abundante de Deus foi
demonstrada em Seu conhecimento de que Cristo era uma pessoa apta. Ninguém, senão
a própria onisciência poderia ter pensado sobre o querido Filho de Deus tornando-se o
Redentor de pecadores merecedores do Inferno.

Parte 3

A escolha de Deus sobre a Pessoa que deveria ser o Restaurador de Sua honra, o Con-
quistador de Satanás, o Vitorioso sobre a morte, e o Libertador de Seu povo caído, foi uma
escolha que nada, senão a própria onisciência fez. Quem, senão Aquele dotado de infinita
sabedoria alguma vez teria pensado em selecionar o Seu Filho unigênito para um empre-
endimento tão temível? Pois, Cristo, como Deus, é uma das Três Pessoas eternas que foi
ofendida pelo pecado, e contra quem os homens haviam se rebelado. Eles eram seus ini-
migos declarados, e dEle, eles mereciam infinita punição. Quem, então, O conceberia como
Aquele que pôs Seu coração sobre miseráveis depravados, que exerceria infinito amor e
compaixão para com eles, estando disposto a prover um remédio todo-suficiente para todos
os males deles? Mas quando essa escolha foi feita, dificuldades insuperáveis pareciam per-
manecer no caminho de sua realização. Como era possível para uma Pessoa Divina entrar
no lugar de pecadores arruinados, vir sob a Lei e prestar-lhe perfeita obediência, e assim

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elaborar uma justiça perfeita para quem não tinha nenhuma? E como poderia ser possível
para o Ser Santo ser feito uma maldição, para o Senhor da glória sofrer a penalidade da
Lei violada, para o Amado do Pai experimentar o fogo da ira Divina, para o Senhor da vida,
morrer? Tais problemas como estes teriam desconcertado todos as inteligências criadas.
Mas a sabedoria Divina encontrou uma solução.

Em primeiro lugar, a multiforme sabedoria de Deus ordenou que Seu Filho amado seria
constituído o último Adão, que, como Ele fez um pacto de obras com o primeiro homem que
esteve na terra, assim Ele faria uma Pacto da Graça com o “segundo homem”, que é o
Senhor do céu. Que, como o primeiro Adão permaneceu como a cabeça da aliança e repre-
sentante federal de toda a sua posteridade, assim, este último Adão ficaria como a Cabeça
pactual e representante de toda a Sua descendência. Mas, como o primeiro Adão quebrou
o Pacto de Obras e trouxe ruína sobre todos aqueles que ele representava, portanto, este
último Adão deveria cumprir os termos do Pacto da Graça, e, assim, garantir a bem-aventu-
rança eterna de todos em nome de quem Ele efetuou. Assim, um pacto foi firmado entre o
Pai e o Filho, o Pai prometendo uma recompensa gloriosa sobre o cumprimento pelo Filho
de todas as condições deste. Esta maravilhosa transação é referida no Salmo 89:3-5: “Fiz
uma aliança com o meu escolhido, e jurei ao meu servo [o antitípico] Davi [que significa
“Amado”], dizendo: A tua semente estabelecerei para sempre, e edificarei o teu trono de
geração em geração (Selá). E os céus louvarão as tuas maravilhas, ó Senhor, a tua fideli-
dade também na congregação dos santos”. Essa passagem, como Provérbios 8, leva-nos
de volta para os eternos conselhos de Deus, pois o Salmo 89:19 declara: “Então falaste em
visão ao teu santo, e disseste: Pus o socorro sobre um que é poderoso; exaltei a um eleito
do povo”, plenamente capaz de realizar Meus grandiosos e graciosos desígnios.

Esse Pacto da Graça foi um compacto mútuo que foi voluntariamente assumido entre o Pai
e o Filho, Aquele prometendo uma rica recompensa em troca do cumprimento dos termos
acordados: o Outro solenemente comprometendo-se a desempenhar as suas estipulações.
Muitas são as Escrituras que falam de Cristo em conexão com o pacto. Em Isaías 42:6,
ouvimos o Pai dizendo a Ele: “Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e
te guardarei, e te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios”. Em Malaquias 3:1,
Cristo é designado “o mensageiro da aliança” porque Ele veio aqui para fazer conhecido o
Seu conteúdo e proclamar as suas boas novas. Em Hebreus 7:22, Ele é designado um
“fiador de melhor aliança”, em 9:15: “o mediador de um novo testamento”, enquanto em
13:20 lemos sobre “o sangue da aliança eterna”. Nesse pacto, o Filho concordou em ser a
Cabeça dos eleitos de Deus, e fazer tudo o que era necessário para a glória Divina e a
garantia da bem-aventurança eternal deles. A isso, faz-se referência em “segundo o seu
próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos”
(2 Timóteo 1:9), uma relação federal, então, subsistiu entre Cristo e a Igreja, embora a mes-

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mo não foi plenamente manifesta até que Ele Se encarnou. Foi, então, que o Filho foi desig-
nado para o ofício de Mediador, quando Ele foi “estabelecido” ou “ungido”, quando foi “gera-
do” a partir do decreto eterno (Provérbios 8:23-24) e concedido um pacto de subsistência
diante do Deus Triuno.

Foi proposto e livremente pactuado que o Amado do Pai tomaria sobre Si a forma de servo
e seria feito em semelhança da carne do pecado. Assim, quando veio a plenitude dos
tempos, Ele foi “nascido de mulher”, tendo um espírito, alma e corpo humanos em união
perpétua conSigo mesmo. Como o corpo de Adão foi feito de maneira sobrenatural a partir
da terra virgem pela imediata mão de Deus, assim o corpo de Cristo foi sobrenaturalmente
feito da substância da Virgem pela operação imediata do Espírito Santo. Assim também a
união da alma e do corpo em Adão prefiguraram a união hipostática de nossa natureza com
o Filho de Deus, de forma que Ele não é duas pessoas em uma, mas uma Pessoa com
duas naturezas, não sendo estas naturezas confundidas, mas cada uma preserva as suas
propriedades distintivas. Owen bem fez a observação: “Sua concepção no ventre da Vir-
gem, como à integridade da natureza humana, foi uma operação milagrosa do poder Divino.
Mas a prevenção desta natureza de qualquer subsistência de si mesma, por sua assunção
à união pessoal com o Filho de Deus, em primeira instância de sua concepção, é aquela
que está acima de todos os milagres, nem pode ser designada por esse nome. Isto é misté-
rio, assim, muito acima da ordem de todas as operações da criação e providenciais, que
transcende totalmente a esfera daqueles que são os maiores milagres. Nisto, Deus glorifica
todas as propriedades da natureza Divina, agindo em uma maneira de infinita sabedoria,
graça e condescendência”.

Aquele que era o Senhor de todos, e não devia nenhum serviço ou obediência a qualquer
um, sendo em forma de Deus e igual a Ele, desceu em uma condição de submissão absolu-
ta. Como Adão deliberadamente abandonou o lugar de completa submissão a Deus, que
era adequado à sua natureza e adequado a Deus, aspirando por senhorio, assim o Filho
de Deus deixou o estado de domínio absoluto que era Seu, por direito, e tomou sobre Si o
jugo da servidão. A descida do Filho envolveu muito maior humilhação para Si mesmo do
que a glória da ascensão que o primeiro homem aspirava em seu orgulho. Como já foi mos-
trado, esta auto-humilhação do Senhor da Glória a um estado de completa sujeição é referi-
da pelo apóstolo em Hebreus 10:5, onde Cristo é ouvido dizendo: “corpo me preparaste”.
Essas palavras são uma paráfrase explicativa de “os meus ouvidos abriste”, a margem
escavada no Salmo 40:6, o que por sua vez, remota a Êxodo 21:6, onde um estatuto foi
nomeado para o efeito de alguém que voluntariamente se entregou ao serviço absoluto e
perpétuo, significava o mesmo que ter a orelha furada com uma sovela. Assim, Hebreus
10:5, à luz do Salmo 40:6 e Êxodo 21:6, implica que o corpo de Cristo foi preparado para
Ele com o desígnio expresso de Seu serviço absoluto a Deus nele.

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Por Sua assunção da natureza humana, Cristo não foi capacitado apenas para prestar su-
jeição a Deus, mas Ele se tornou qualificado para servir como mediador entre Deus e os
homens. Pois, é necessário que o mediador seja relacionado a ambas as partes que se re-
conciliariam, e seja igual a cada uma delas, assim, um anjo não estaria qualificado para es-
te ofício, já que ele não possui nem a natureza Divina, nem a humana. Era necessário que
Cristo fosse homem de verdade, assim como Deus, a fim de realizasse a obra da redenção.
Homem, para que Ele fosse suscetível a sofrer, qualificado para oferecer a Si mesmo como
um sacrifício, e fosse capaz de morrer. Assim também a assunção da natureza humana
capacitou a Cristo para ser um Substituto de Seu povo, a não somente agir em seu nome,
mas em seu lugar e proveito. Verdadeiramente, tomar o lugar deles na Lei e prestar plena
satisfação a esta, obedecendo seus preceitos e suportando a sua penalidade. Mas isso,
por sua vez, exigiu que Ele fosse seu Fiador e Responsável; ou seja, fosse tão relacionado
a eles de forma legal e federal que pudesse apropriadamente servir como seu Substituto.
Como havia uma unidade federal e representativa entre o primeiro Adão e aqueles a quem
Ele representava, então deveria haver uma semelhante unidade entre o último Adão e
aqueles por quem Ele tratou, de forma que, como a culpa do primeiro foi cobrada na conta
de sua posteridade, assim, a justiça do último fosse imputada a toda a sua descendência.

Ainda assim, a verdade sobre a posição que o Filho de Deus assumiu não se expressa ple-
namente pelas declarações acima. Não é suficiente dizer que Ele se tornou o seu Fiador e
Substituto, mas temos de ir mais para trás e perguntar: O que foi aquilo que o fez cumprir
isso, de forma que Ele tornou-se o Fiador e Responsável de Seu Povo diante do ofendido
Legislador e Juiz deles? E a resposta é: Sua união pactual. Cristo serviu como seu Fiador
e Substituto porque Ele era um com eles e, portanto, Ele poderia e Ele assumiu e cumpriu
todas as responsabilidades deles. Na Aliança da Graça Cristo disse ao Pai: “Anunciarei o
teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. E outra vez: Porei
nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu”
(Hebreus 2:12-13). Mais abençoadamente isto é explicado no que se segue imediatamente:
“E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mes-
mas coisas”, portanto, Ele não se envergonha de lhes chamar irmãos. A Federação é a raiz
desta maravilhosa misericórdia, a identificação da chave que a destranca. Cristo não veio
para os estranhos, mas para os Seus “irmãos”: Ele assumiu a natureza humana, não a fim
de adquirir um povo para Si mesmo, mas para garantir um povo já era Seu (Efésios 1:4;
Mateus 1:21).

Uma vez que existia uma união entre Cristo e Seu povo desde toda a eternidade, inevitav-
elmente segue-se que quando Ele veio a esta terra, Ele tomou sobre Si as suas dívidas, e
agora que Ele foi para o Céu, eles devem ser revestidos (Isaias 61:10), com todos os frutos
de Sua perfeita obediência. Isto é muito mais do que uma questão técnica de teologia, sen-

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do o pilar mais forte de todos nos muros da verdade que protegem a Expiação, embora seja
algo atacado com mais frequência e ferocidade por seus inimigos. Os homens têm argu-
mentado que a punição do Inocente como se Ele fosse culpado foi um ultraje à justiça. No
reino humano, punir uma pessoa por algo quando ela não é responsável nem culpada está
fora de questão, é injusto. Entretanto essa objeção é inválida e totalmente inútil em conexão
com o Senhor Jesus, pois Ele voluntariamente adentrou no lugar e porção de Seu povo de
um modo tão íntimo que se pode dizer: “Porque, assim o que santifica, como os que são
santificados, são todos de um” (Hebreus 2:1). Eles não são apenas um em natureza, mas
também são tão unidos diante de Deus e diante de Sua Lei a ponto de envolver a identifica-
ção das relações jurídicas e as obrigações e direitos recíprocos: “[...] pela obediência de
um muitos serão feitos [legalmente constituídos] justos” (Romanos 5:19).

Foi exigido do Fiador do povo de Deus que Ele não somente prestasse uma obediência
plena e perfeita aos preceitos da Lei, e, assim, fornecesse os meios meritórios da justifica-
ção deles, mas que Ele também efetuasse a plena satisfação dos pecados deles, por ter
visitado sobre Si a maldição da Lei. Mas antes que a punição fosse infligida, a culpa dos
transgressores deveria ser transferida para Ele, ou seja, os seus pecados deveriam ser
judicialmente imputados a Ele. A esse concerto o Santo Ser consentiu voluntariamente, de
modo que aquele que “não conheceu pecado” foi legalmente “feito pecado” por eles (2
Coríntios 5:21). Deus derramou sobre Ele a iniquidade de todos eles, e, em seguida, a
espada da justiça divina O feriu (Zacarias 13:7), exigindo a plena satisfação. Sem derrama-
mento de sangue não há remissão. A remoção das transgressões, obtendo para nós o favor
de Deus, a compra da herança celestial, exigiu a morte de Cristo. Aquilo que exigiu a pena
de morte foi a culpa de nossos pecados; faça com que isto seja removido, e a condenação
para nós se vai para sempre. Porém, como a culpa poderia ser “removida”? Apenas por
sua transferência a outro. A punição devida à Igreja foi levada por seu Fiador e Substituto.
Deus demandou dEle todos os pecados de Seus eleitos e procedeu contra Ele nesse
sentido, visitando sobre Ele a Sua ira judicial.

Quão maravilhosos são os caminhos de Deus! Como a morte foi destruída pela morte, a
morte do Filho; assim, o pecado pelo pecado, o maior que já foi cometido — a crucificação
de Cristo — afastou a si mesmo, tanto quanto o oriente está do ocidente [Salmos 103:2].
Porque Deus imputou as transgressões de Seu povo ao seu Fiador, Cristo foi condenado
para que eles fossem absolvidos. Cristo tomou sobre Si as suas dívidas acumuladas e incal-
culáveis, e por Seu pagamento do mesmo, eles estão para sempre livres e absolvidos. Por
meio de Seu precioso sangue todas as iniquidades deles foram expiadas, para que o
desafio triunfante ressoe: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?” (Ro-
manos 8:33). Ao longo de Sua vida e por Sua morte Cristo esteve restaurando e reparando
todos os prejuízos que os pecados da Igreja haviam feito à manifesta glória de Deus. Deus

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agora perdoa os pecados de todos os que verdadeiramente creem em Cristo, porque a
Deidade recebeu uma satisfação vicária, mas plena para eles na Pessoa de seu Substituto.
Através de Cristo, eles são libertos da ira vindoura. Necessariamente assim, pois a aceita-
ção do sacrifício do Cordeiro de Deus obteve a redenção eterna de todos por quem ele foi
oferecido. Da forma como uma nuvem escura se esvazia sobre a terra e, em seguida, se
derrete sob os raios do sol, assim, quando a tempestade do juízo Divino havia se esgotado
sobre a cruz, nossos os nossos pecados desapareceram de diante da face de Deus, e
fomos recebidos em Seu favor eterno.

Tão maravilhosa foi a obra que o Filho encarnado realizou por Seu povo, ainda assim, algo
mais ainda era necessário a fim de fornecer um remédio completo para complexa ruína de-
les, pois, isto cobria apenas os aspectos jurídicos da punição deles. Um milagre da graça
necessitava ser operado neles, a fim de torná-los experimentalmente prontos para glória
eterna; sim, tal é absolutamente indispensável para adequá-los à comunhão com Deus
nesta vida. Os Seus eleitos precisam ser vivificados e levados à novidade de vida, sua inimi-
zade contra Deus precisa ser destruída, suas trevas, dissipadas, suas vontades, libertadas,
o amor ao pecado e o ódio à santidade também precisam retificados. Em uma palavra, eles
precisavam experimentar uma mudança completa do coração, um princípio de graça ser
comunicado a eles, e serem feitos novas criaturas em Cristo. Que milagre da graça é reali-
zado pelo Espírito Santo naqueles que são “por natureza filhos da ira, como os outros tam-
bém” (Efésios 2:3). Mas quão pouco isso é compreendido hoje; a insistência disso tem qua-
se desaparecido do púlpito moderno, mesmo naqueles que se orgulham de serem ortodo-
xos. A obra do Espírito na salvação dos pecadores não tem lugar no credo do membro de
igreja normal, e onde isso é nominalmente reconhecida, não possui nenhum peso real e
não exerce nenhuma influência prática.

Na maioria dos lugares onde o Senhor Jesus ainda é formalmente tido como o único Sal-
vador, o ensino atual é que Ele tornou possível que os homens sejam salvos, mas que eles
próprios devem decidir se querem ou não querem ser salvos; e, assim, a maior de todas as
obras de Deus é deixada na dependência da inconstante vontade dos homens quanto a
saber se será um sucesso ou um fracasso. Estreitando o círculo para aqueles lugares onde
ainda é considerado que o Espírito tem uma missão e ministério, em conexão com o Evan-
gelho, a ideia geral que prevalece é que, quando a Palavra é pregada com fidelidade, o
Espírito convence os homens do pecado e revela-lhes a sua necessidade de um Salvador;
mas, além disso, muito poucos estão dispostos a ir. A visão popular é que o pecador tem
que cooperar com o Espírito: que ele deve se entregar ao Seu “esforço”, ou ele não será e
não pode ser salvo. Mas um conceito tão pernicioso e insultante a Deus repudia dois fatos
cardinais: afirmar que o homem natural é capaz de cooperar com o Espírito é negar que ele
está “morto em delitos e pecados”, pois um homem morto é impotente para fazer algo de

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bom; enquanto dizer que as operações específicas do Espírito no coração e na consciência
de um homem podem ser assim resistidas, como a frustrar seus esforços, é negar a Sua
onipotência.

O fato solene e intragável é, meu leitor, que se Espírito de Deus fosse retirado em suas
operações, nem uma única pessoa na terra se beneficiaria salvificamente da obra redentora
de Cristo. O homem natural é como um inimigo de Deus e tão obstinado em sua rebelião
que ele não aprecia um Cristo santo, e continua se opondo ao Seu caminho de salvação
até que seu coração seja divinamente renovado. Essa criminosa escuridão e ilusão que
preenche toda a alma na qual reina o pecado não podem ser removidas por qualquer agen-
te, senão por Deus o Espírito, por meio de Seu conceder um novo coração e iluminar a
compreensão para que perceba a excessiva malignidade do pecado. De fato, há milhares
de pessoas dispostas a responder ao erro fatal que os pecadores podem ser salvos sem
lançar para baixo as armas de sua guerra contra Deus; que recebem a Cristo como seu
Salvador, mas que não estão dispostos a renderem-se a Ele como seu Senhor. Eles gosta-
riam de obter Seu descanso, mas eles recusam submeterem-se ao Seu “jugo”, sem o qual
o Seu descanso não pode ser obtido. Suas promessas agradam a eles, mas os Seus pre-
ceitos lhes são repulsivos. Eles acreditam em um Cristo imaginário que é adequado para a
sua natureza corrupta, mas eles desprezam e rejeitam o Cristo de Deus. Como as multidões
do passado, eles estão satisfeitos com Seus pães e peixes, mas para o Seu exame de cora-
ção, mortificação da carne, ensino condenatório do pecado, eles não têm apetite. Nada, se-
não o poder milagroso do Espírito pode transformá-los.

“O homem é absoluta e totalmente avesso a tudo o que é bom e direito. ‘Porquanto a incli-
nação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus, nem, em verdade,
o pode ser’ (Romanos 8:7). Vá através de toda a Escritura, e você encontrará continuamen-
te a vontade do homem descrita como sendo contrária às coisas de Deus. O que disse
Cristo naquele texto tantas vezes citado pelo Arminiano para refutar a própria doutrina que
ele afirma claramente? O que Cristo disse àqueles que imaginaram que os homens viriam
sem a influência Divina? Ele disse, em primeiro lugar, “Ninguém pode vir a mim, se o Pai
que me enviou o não trouxer” [João 6:44], mas Ele disse algo mais severo: “E não quereis
vir a mim para terdes vida” [João 5:40]. Aqui reside o erro mortal: não apenas ele é impoten-
te para fazer o bem, mas ele é poderoso o suficiente para fazer o que é errado, e que sua
vontade é desesperadamente tendenciosa contra tudo o que é certo. Homens não virão;
você não pode forçá-los por todos os seus trovões, nem atraí-los por todos os seus convites,
até que o Espírito os atraia, eles não querem vir, nem o podem” (Spurgeon).

A multiforme sabedoria de Deus é tão evidente na tarefa oficial atribuída ao Espírito Santo,
como na obra que o Filho foi comissionado a executar. Os milagres da regeneração e santi-

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ficação são tão maravilhosos quanto a obediência e sofrimentos, a morte e a ressurreição
de Cristo foram; e o santo está tão verdadeira e tão profundamente em dívida para com um
quanto para com o outro. Se foi um ato de maravilhosa condescendência para Deus, que o
Filho deixou a glória do Céu e assumiu para Si mesmo a natureza humana, igualmente foi
para Deus, que o Espírito descesse a esta terra e fixasse morada em homens e mulheres
caídos; e se Deus assinalou a maravilha e a importância de alguém por poderosos prodígios
e sinais, assim o fez em relação a este último — a música do coro angelical (Lucas 2:13),
com o seu homólogo no “som do céu” (Atos 2:2), a “glória” Shekinah (Lucas 2:9) nas “lín-
guas como que de fogo”. Se nós admiramos as obras graciosas e poderosas de Cristo na
purificação do leproso, fortalecendo o paralítico, dando visão aos cegos e dando vida aos
mortos, não menos o Espírito deve ser adorado por Suas operações sobrenaturais na vivifi-
cação das almas mortas, na iluminação de suas mentes, libertando-os do domínio do peca-
do, removendo a sua inimizade contra Deus, unindo-os a Cristo, e criando neles o amor à
santidade.

De tudo o que esteve diante de nós, será visto quão completo e perfeito é o remédio que a
graça e a sabedoria de Deus providenciaram para o Seu povo. Como eles estavam federal-
mente em Adão, e, portanto, tinham responsabilidade pelo que ele fez, eles estão federal-
mente em Cristo e, portanto, desfrutam de todos os benefícios de Sua obra meritória. Como
eles estavam arruinados pela quebra de um pacto, assim, eles são restaurados pela guarda
de outro. Como eles estavam eram culpados pela desobediência de Adão, sendo cobrada
em sua conta, assim eles são justificados diante do trono de Deus, porque a justiça de seu
Fiador é imputada a eles. Como eles caíram sob a maldição da Lei, estavam alienados de
Deus e tornaram-se filhos da ira, por meio da redenção de Cristo, eles têm direito à recom-
pensa da Lei, reconciliados com Deus e restaurados ao seu favor. Como eles herdam uma
natureza corrupta de sua primeira cabeça, assim, eles recebem uma natureza santa de sua
segunda Cabeça. Em todos os aspectos, o remédio corresponde à enfermidade.

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A Necessidade Da Morte De Cristo
Por Stephen Charnock

[Extraído de Cristo, Nossa Páscoa • Editado]

“Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas


e entrasse na sua glória?” (Lucas 24:26)

Vejamos aqui o mal do pecado. Nada é mais adequado para mostrar a baixeza do pecado
e a grandeza da miséria por causa dele, do que a satisfação devida por ele; como a gran-
deza de uma enfermidade é vista pela força do remédio, e o valor da mercadoria pela gran-
deza do preço que custou. Os sofrimentos de Cristo expressam o mal do pecado, muito aci-
ma dos julgamentos mais severos sobre qualquer criatura, tanto no que diz respeito à gran-
deza da Pessoa, e a amargura do sofrimento. Os gemidos moribundos de Cristo mostram
a terrível natureza do pecado aos olhos de Deus; como Ele foi maior do que o mundo, por
isso Seus sofrimentos declaram que o pecado é o maior mal do mundo. Quão maligno é
que o pecado deva fazer Deus sangrar para curá-lo! Ver o Filho de Deus levado até a morte
pelo pecado é a maior porção de justiça que jamais Deus executou. A terra tremeu sob o
peso da ira de Deus, quando Ele puniu a Cristo, e os céus estavam escuros como se esti-
vessem fechados para Ele, e Ele clama e geme, e nenhum alívio aparece; nada, senão o
pecado é a causa da meritória aquisição disto.

O Filho de Deus foi morto pelo pecado da errônea criatura; se houvesse alguma outra ma-
neira de expiar um mal tão grande, havia permanecido com a honra de Deus, que está incli-
nado a perdoar, remeter o pecado sem uma compensação por morte, não podemos pensar
que Ele teria consentido que Seu Filho se submeteria assim a tão grande sofrimento. Nem
todos os poderes no céu e na terra poderiam nos conduzir ao favor novamente, sem a morte
de algum grande sacrifício para preservar a honra da veracidade e da justiça de Deus; nem
a interposição graciosa de Cristo, sem que Ele se tornasse mortal, e bebesse o cálice da
ira, poderia aplacar a justiça Divina; nem as Suas intercessões, sem que sofresse os golpes
devidos a nós, poderiam remover a miséria da criatura caída. Toda a santidade da vida de
Cristo, a Sua inocência e boas obras, não nos redimiriam, sem a morte. Foi por meio disto
que Ele fez expiação por nós, satisfazendo a justiça vindicatória do Pai, e restaurou-nos de
uma morte espiritual e inevitável. Quão grandes eram os nossos crimes, que não poderiam
ser lavados pelas obras de uma criatura pura ou a santidade da vida de Cristo, mas exigiram
a efusão do sangue do Filho de Deus para a libertação deles! Cristo em Sua morte foi trata-
do por Deus como um pecador, como Alguém que permaneceu em nosso lugar, caso con-

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trário, Ele não poderia ter sido sujeito à morte. Pois Ele não tinha pecado de Sua autoria, e
“a morte é o salário do pecado” (Romanos 6:23). Isto não é consistente com a bondade e
a justiça de Deus como Criador, o afligir uma criatura sem causa, nem com o Seu infinito
amor por Seu Filho O moer por nada. Algum mal moral deve, portanto, ser a causa; pois
nenhum mal físico é infligido sem algum mal moral anterior. A morte, como uma punição,
supõe uma falha. Cristo, não tendo nenhum crime Seu próprio, deve, então, ser um sofredor
por nós. “Nossos pecados estavam sobre ele” (Isaías 53:6), ou transferidos sobre Ele. Ve-
mos, assim, como o pecado é odioso a Deus, e, portanto, deve ser abominável para nós.

Devemos ver o pecado nos sofrimentos do Redentor, e, em seguida, pensar amavelmente


sobre eles, se conseguirmos. Vamos então, nutrir o pecado em nossos corações? Isto é a-
centuar mais pregos que perfuraram Suas mãos, e dos espi-nhos que feriram a Sua cabeça,
e fazer dos gemidos de Sua morte o tema de nosso deleite. É expor a Cristo que sofreu,
para que sofra novamente; um Cristo que é ressusrreto e ascendido, sentado à mão direita
de Deus, novamente à terra; coloca-lO sobre uma outra cruz e restringi-lO a um segundo
túmulo. Nossos corações deveriam ser quebrantados diante da consideração da necessi-
dade de Sua morte. Nós devemos expurgar o nosso coração de nossos pecados por meio
do arrependimento, como o coração de Cristo foi aberto pela lança. É isto que “não convinha
que o Cristo padecesse?” nos ensina.

Não estabeleçamos o nosso descanso em qualquer coisa em nós mesmos, não em


qualquer coisa abaixo de um Cristo morrendo; nem no arrependimento ou reforma.
O arrependimento é uma condição de perdão, não uma satisfação da justiça; isto às vezes
move a bondade Divina para afastar o julgamento, mas não é nenhuma compensação à
justiça Divina. Não há aquele bem no arrependimento quanto há o mal no pecado de que
se arrepende, e a satisfação deve ter algo de equidade, tanto da injúria e da pessoa deson-
rada; a satisfação que é suficiente para uma pessoa particularmente errada não é suficiente
para um príncipe justamente ofendido; pois a grandeza do mal remonta à dignidade da
pessoa. Ninguém pode ser maior do que Deus, e, portanto, nenhuma ofensa pode ser tão
maligna como as ofensas contra Deus; e poderiam algumas lágrimas ser suficentes aos
pensamentos de alguém para lavá-los? O mal cometido contra Deus pelo pecado é de um
nível mais elevado do que a ser compensado por meio de quaisquer boas obras da criatura;
embora de mais grandiosa elevação. O arrependimento de qualquer alma é tão perfeito a
ponto de ser capaz de responder à punição à justiça de Deus exigida na Lei? E se a graça
de Deus nos ajudasse em nosso arrependimento? Não pode ser concluído a partir disso,
que o nosso perdão é formalmente adquirido pelo arrependimento, mas que somos dispos-
tos por ele a receber e valorizar um perdão. Não é congruente com a sabedoria e justiça de
Deus a concessão de perdões a obstinados rebeldes. O arrependimento não é em nenhum
lugar citado como expiatório do pecado; um coração quebrantado é chamado de um sacrifí-

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cio (Salmos 51:17), mas não é um propiciatório. O pecado de Davi foi expiado antes que
ele escrevesse esse Salmo (2 Samuel 12:13). Embora um homem possa chorar muitas
lágrimas como as gotas de água contidas no oceano, enviar o maior número de rajadas de
orações como ser houvesse gemidos emitidos de cada criatura desde a funda-ção do mun-
do; embora ele fosse capaz de sangrar tantas gotas de seu coração como se tivessem sido
derramadas de veias de sacrifícios de animais, tanto na Judéia e de todas as partes do
mundo; embora ele fosse capaz, e verdadeiramente aplicasse à caridade todos os metais
das minas do Peru; ainda assim isto não poderia absolvê-lo da menor culpa, nem limpa-lo
da menor impureza, nem conceder o perdão do menor crime por meio de qualquer valor
intrínseco nos atos em si mesmos; os próprios atos bem como as pessoas podem falhar
sob a censura da justiça ardente. Somente a morte de Cristo nos concede a vida. Somente
o sangue de Cristo sacia aquele justo fogo que o pecado acendeu no coração de Deus con-
tra nós. Indicar qualquer outro meio de apaziguamento de Deus, além da morte de Cristo,
é fazer com que a cruz de Cristo não tenha nenhum efeito. Nós devemos aprender isso a
partir de “não convinha que o Cristo padecesse?”

Portanto, sejamos sensíveis sobre a necessidade de um interesse na morte do Re-


dentor. Não pensemos em beber das águas da salvação de nossas próprias cisternas, mas
das feridas de Cristo. Não retirem vida de nossos próprios deveres mortos, mas dos gemi-
dos de Cristo. Nós temos culpa. Nós mesmos podemos expiá-la? Nós estamos sob justiça;
conseguiremos apaziguar isto por meio de qualquer coisa que possamos fazer? Há uma
inimizade entre Deus e nós; podemos oferecer-Lhe qualquer coisa digna de ganhar a Sua
amizade? Nossas naturezas estão corrompidas; podemos sará-las? Nossos serviços estão
contaminados; podemos purificá-los? Há uma grande necessidade de que possamos apli-
car a morte de Cristo a todos aqueles, como havia para Ele o submeter-se a ela. O leproso
não foi limpo e curado pelo derramamento do sangue do sacrifício por ele, mas pela asper-
são do sangue do sacrifício sobre ele (Levítico14:7). Como a morte de Cristo foi considerada
uma causa meritória, assim a aspersão de Seu sangue foi predita como a causa formal de
nossa felicidade (Isaías 52:15). Por meio de Seu próprio sangue, Ele entrou no Céu e glória,
e por nada senão o Seu sangue nós podemos ter a ousadia de esperar por isto, ou a confi-
ança de obter isto (Hebreus 10:19). Toda a doutrina do Evangelho é Cristo crucificado (1
Coríntios 1:23), e toda a confiança de um Cristão deveria ser Cristo crucificado. Deus não
teria misericórdia exercida com uma negligência da justiça por meio do homem, embora a
uma pessoa miserável: “Não respeitarás o pobre, nem honrarás o poderoso; com justiça
julgarás o teu próximo” (Levítico 19:15). Será que Deus, que é infinitamente justo negli-
gencia a Sua própria regra? Nenhum homem é um objeto de piedade, até que ele apresente
uma satisfação à justiça. Como há uma perfeição em Deus que chamamos de misericórdia,
o que exige fé e arrependimento da Sua criatura antes que Ele venha a conceder o perdão,
assim há uma outra perfeição da justiça vingativa que exige uma satisfação. Se a criatura

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pensa que a sua própria miséria motiva a demonstração da perfeição da misericórdia, isto
deve considerar que a honra de Deus requer também o contentamento de Sua justiça. Os
anjos caídos, portanto não têm nenhuma misericórdia concedida a eles, porque ninguém
jamais satisfez a justiça de Deus por eles. Não vamos, portanto, cunhar novas formas de
buscar perdão, e falsos modos de apaziguar a justiça de Deus. O que podemos encontrar
por detrás disso, capaz de contender contra as chamas eternas? Que refúgio pode haver
por trás disso capaz de nos abrigar do ardor da ira Divina? Podem as nossas lágrimas e
orações serem mais prevalentes do que os clamores e lágrimas de Cristo, que não pôde,
por toda a força deles, desviar a morte de Si mesmo, sem a nossa perda eterna? Nenhum
caminho senão a fé em Seu sangue. Deus, no Evan-gelho, nos envia Cristo, e Cristo pelo
Evangelho nos traz a Deus.

Valorizemos este Redentor e a redenção por meio de Sua morte. Desde que Deus resol-
veu ver Seu Filho mergulhado em um condição de esvaziamento desgraçado, vestido na
forma de um servo e exposto a sofrimentos de uma dolorosa cruz, ao invés de deixar o
pecado impune, nós nunca deveríamos pensar nisto sem gratos retornos, tanto para o Juiz
quanto para o Sacrifício. Pelo que Ele foi afligido, senão para adquirir a nossa paz? Moído,
senão para sarar nossas feridas? Levado perante um juiz terreno para ser condenado, se-
não para que pudéssemos ser trazidos diante de um Juiz celestial para sermos absolvidos?
Caído sob as dores da morte, senão para derrubar para nós os grilhões do inferno? E tor-
nou-Se amaldiçoado na morte, senão para que fôssemos abençoados com a vida eterna?
Sem isto a nossa miséria teria sido irreparável, a nossa distância de Deus [seria] perpétua.
Que relações poderíamos ter tido com Deus, enquanto nós estávamos separados dEle por
crimes de nossa parte e por justiça da Sua? O muro deve ser derrubado, a morte deve ser
sofrida, para que a justiça possa ser silenciada, e a bondade de Deus novamente comuni-
cada a nós. Esta foi a maravilha do amor Divino, agradar-se com os sofrimentos do Unigê-
nito, para que Ele pudesse se agradar de nós, em consideração àqueles sofrimentos. Nossa
redenção em tal caminho, como por meio da morte e sangue de Cristo, não foi apenas por
graça. Seria assim se fosse apenas redenção; mas sendo uma redenção por meio do san-
gue de Deus, isto merece do apóstolo não menos do que o título do que “riquezas da graça”
(Efésios 1:7). E isto merece e espera não menos de nós do que tal elevado reconhecimento.
Isto nós aprendemos a partir de “não convinha que o Cristo padecesse?”

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Inimigos Reconciliados Pela Morte
Por Robert Murray M'Cheyne

“A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento


pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela
morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se,
na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da
esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que
há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.” (Colossenses 1:21-23)

I. A condição passada de todos os que agora são crentes: “A vós também, que noutro tempo
éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más”. Quando duas famí-
lias brigavam umas com as outras, tornam-se estranhas umas das outras: elas não se visi-
tam mais; seus filhos não eram autorizados a conversarem entre si, como antigamente; se
eles se encontrassem na rua, eles se olhariam de outra maneira. Assim é com os pecadores
não-convertidos e Deus; eles são estranhos a Deus; eles não visitam a Deus; eles não pro-
curam a Sua presença; eles não amam encontrar os Seus filhos; eles não gostam de Suas
palavras, nem de Seus caminhos. Quando Deus lida com eles em um sermão severo ou
providência, eles tentam olhar para outro caminho, de forma que eles não possam encontrar
os olhos de Deus.

1. Separados. Esta palavra é usada três vezes: “Que naquele tempo estáveis sem Cristo,
separados da comunidade de Israel” (Efésios 2:12), “separados da vida de Deus” [Efésios
4:18]. E mais uma vez aqui. Ao todo, isso retrata a vida e o verdadeiro caráter de cada ho-
mem não-convertido. É inútil esconder isso, queridos irmãos não-convertidos. Vocês podem
fingir o maior amor pelos ministros, pelos sacramentos, pelas reuniões de Cristãos; ainda
assim, o verdadeiro estado do vosso coração é a separação de Deus. Ah! Temo que muitos
de vocês vêm para a igreja, e até mesmo para o sacramento, com o nome de Cristo em
seus lábios, e um coração frio, distante em seu peito: “Todavia lisonjeavam-no com a boca,
e com a língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele” (Salmos
78:36-37)

2. Inimigos no entendimento. Isso é mais do que estranhamento. Vocês podem ser estra-
nhos a um homem, e ainda assim, não odiá-lo; mas as almas não-convertidas odeiam a
Deus. A Bíblia inteira é testemunha de que todos os homens não-convertidos odeiam a
Deus. Em Romanos 1:28 diz: “eles não se importaram de ter conhecimento de Deus”, então,
Deus os entregou a um sentimento perverso, para que eles se tornassem “inimigos de
Deus”. Em Êxodo 20:5, Deus diz: “Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o

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Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira
e quarta geração daqueles que me odeiam”. E ainda: “não sabeis vós que a amizade do
mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo cons-
titui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4).

Será que Deus diria isso se este não fosse o caso? Deus sabe melhor o que realmente há
no coração do homem. É verdade que vocês podem não mostrar esse ódio em suas pala-
vras, ou em sua atitude; vocês podem não amaldiçoar a Deus, nem mesmo em um sussur-
ro; mas Deus diz que isso está na sua mente. Isso está na parte inferior deste poço de
lama. No inferno, onde todas as restrições são retiradas, vocês amaldiçoarão a Deus por
toda a eternidade.

O julgamento mais surpreendente que poderia haver disto foi quando Deus veio a este
mundo. Deus foi manifestado em carne. NEle habitou toda a plenitude da Divindade. Todas
as perfeições de Deus fluíam através de Seu seio. Não havia uma característica de Deus,
senão a que estivesse brilhando através de Seu glorioso semblante, mas suavizado aos
olhos humanos por todas as perfeições de sua Humanidade. Será que os homens O ama-
ram quando O viram? Permitam que Isaías responda: “Era desprezado, e o mais rejeitado
entre os homens”. Ou, ouçam suas próprias palavras: “O mundo não vos pode odiar, mas
ele me odeia a mim” [João 7:7]. E, mais uma vez: “Aquele que me odeia, odeia também a
meu Pai. Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam
pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai”. [João 15:23-24]. Como
lidaram com Ele? Eles O mataram, e penduraram em um madeiro, eles bateram e cuspiram
nEle, eles O açoitaram e O crucificaram, eles O pregaram e O traspassaram. Eles não eram
piores do que os outros homens; homens de paixões semelhantes a nós, ainda assim, a
oportunidade mostrou o que há no homem.

É inútil que vocês escondam isso, queridos irmãos não-convertidos, que o vosso coração
está cheio de inimizade contra Deus; que vocês são inimigos de Deus. Embora seja teme-
roso pensar, é verdade que todos os que são amigos do mundo são inimigos de Deus; e
embora eu creio em meu coração que não há um dentre vocês aqui presentes que delibe-
radamente matem uma mosca ou um verme, ainda assim eu temo que há muitos que, se
pudessem, matariam a Deus.

Qual é a razão dessa inimizade? Resposta. “Por causa das más obras”. É o amor aos seus
pecados que faz com que os homens odeiem a Deus. O próprio Jesus diz-lhes isto: “O mun-
do não vos pode odiar, mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras
são más” [João 7:7]. Vocês mal podiam imaginar que fosse possível que qualquer pessoa
pudesse odiar o Senhor Jesus. “Ele é totalmente desejável” [Cânticos 5:16]. Não há perfei-

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ção em Deus, senão a que habitasse nEle; não há beleza no homem, senão a que brilhasse
nEle. E, nessa ocasião, a Sua missão foi uma de mais puro amor. Ele veio buscar e salvar
o que estava perdido. Ele curou todos os que vieram a Ele; falou amavelmente a todos. Até
mesmo Suas ameaças se misturavam com lágrimas de compaixão. Como eles poderiam
odiá-lO? Ele falou-lhes de seus pecados; que esses pecados estavam afundando-os em
direção ao inferno. Ele disse: “morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis
vós vir” [João 8:21]. Ele Se ofereceu para salvá-los de seus pecados; para dar-lhes
descanso; aliviá-los do cansativo fardo da culpa; aliviá-los da agitação de um coração ímpio.
Foi isso que os enfureceu. Eles amavam as suas más obras; eles não queriam ser salvos
delas; portanto, eles odiavam a Jesus.

Ainda hoje é assim. Muitos de vocês, quando ouviram pela primeira vez o Evangelho, dis-
seram: Isso é muito bom, “acerca disso te ouviremos outra vez” [Atos 17:32]. A oferta de
perdão e do céu, uma coroa e uma harpa, e de ser liberto do inferno; tudo isso soa bem;
mas quando vocês descobriram que é preciso por “fim aos teus pecados, praticando a jus-
tiça” [Daniel 4:27], que Cristo “salvará o seu povo dos seus pecados” [Mateus 1:21], então
vocês começaram a protelar, a ponderar, hesitar, voltar atrás e odiar a Deus. Quando vocês
viram que Cristo vos separaria de seu copo, de seus juramentos, de suas cartas e dados,
de suas luxúrias, então vocês O odiaram. Ai, que escolha triste vocês fizeram! Amaram o
seu pecado, e odiaram o Salvador! “Todos os que me odeiam amam a morte” [Provérbios
8:36].

Filhos de Deus, este era o vosso estado. Comam ervas amargas com a sua páscoa neste
dia. Oh! não esqueçam o seu pecado. Vocês em algum momento estavam separados e ini-
migos de Deus pelas suas obras más. Vocês podem olhar para trás sem ficarem descon-
certados?

II. A reconciliação: “agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte”, ver-
sículo 21. Esta é a maravilhosa obra do Senhor Jesus Cristo, e este é o estado abençoado
para o qual Ele traz todas as almas salvas.

1. Ele tomou sobre Si um corpo de carne. Retirado do amor puro pelos vermes merecedores
do inferno, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esva-
ziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” [Fili-
penses 2:6-7]. Para ser o Salvador dos pecadores, Ele obedece a Lei, que nós nunca havía-
mos obedecido; Ele tem que viver uma vida de obediência sem pecado; mas como o grande
Deus que fez a Lei fará isso? Ele foi nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para que
pudesse resgatar os que estavam debaixo da Lei. Mais uma vez, se Ele salvará os peca-

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dores, Ele deve beber o cálice do seu sofrimento, Ele deve suportar os seus vergões e
pecados em seu próprio corpo. Mas como o Deus infinitamente santo, feliz e imutável, sofre
isso? Porque os filhos eram de carne, Ele mesmo também se tornou participante desta. Ele
tornou-se unido a uma alma e corpo humanos fracos e frágeis, para que Ele pudesse sofrer,
chorar, gemer, sangrar e morrer. “Grande é o mistério da piedade, Deus se manifestou em
carne” [1 Timóteo 3:16]. Mais uma vez: se Ele será o Salvador e Irmão mais velho dos
pecadores; se Ele conhecerá as suas tristezas, e será o Seu compassivo Pastor; Ele deve
ter um coração humano [...]. Mas como pode ser isso, quando Ele é infinitamente santo,
sábio, justo e verdadeiro? Ah! Ele se tornou osso de nosso osso e carne da nossa carne.
“Então todas as tribos de Israel vieram a Davi, em Hebrom, e falaram, dizendo: Eis-nos
aqui, somos teus ossos e tua carne” (2 Samuel 5:1), e assim podemos em ir a Cristo: “Ele
pode compadecer-se de nossas fraquezas” (Hebreus 4:15). Ah! Por toda a eternidade a
encarnação de Jesus será o tema da nossa admiração e louvor. Irmãos, todos vocês verão
aquela face. Alguns de vocês chorarão quando a virem. Quando aquele amável rosto brilhar
através das nuvens, vocês chamarão pelas rochas e montanhas para cobri-los. Ele é o
Salvador a quem vocês têm rejeitado e desprezado.

2. Ele morreu: “Pela morte”. A morte de Cristo é o evento mais maravilhoso que já ocorreu
no universo; e, portanto, a Ceia do Senhor é a mais maravilhosa de todas as ordenanças.
Os anjos desejam contempla-lo. Eu não tenho dúvida de que os anjos circundam a mesa
da comunhão, e cantam seus louvores mais doces ao Cordeiro, quando veem o pão partido
e este vinho derramado. Se a encarnação de Jesus foi maravilhosa, muito mais maravilhosa
foi a Sua morte. Este foi o ponto mais alto de Sua obediência: “obediente até à morte”. Esta
foi a mais baixa profundidade de Sua humilhação. Ele ficou em silêncio sob nossas acusa-
ções; permaneceu sob a nossa maldição; Ele suportou o nosso inferno, e morreu a nossa
morte. Ele era o grande Legislador, o Juiz de todos, diante do qual toda criatura deve perma-
necer e ser julgada; e ainda assim Ele concordou em vir e ficar no tribunal de Suas criaturas
ímpias, e ser condenado por eles! Ele era adorado por toda criatura santa; seus louvores
mais doces foram derramados aos Seus pés; e ainda assim Ele veio ser cuspido e insultado,
ser escarnecido, cravado e crucificado pelos mais vis dos homens! “Nele estava a vida!”
[João 1:4]. Ele era o Príncipe da vida, o autor de toda a vida natural e espiritual; Ele deu
vida a todos, a respiração e todas as coisas; e ainda assim eles O mataram. Ele entregou
o espírito, Ele esteve no túmulo frio. O Pai O amava infinitamente, eternamente, sem come-
ço ou intervalo ou fim; e ainda assim Ele foi feito maldição por nós, suportou o mesmo furor
que se derramou sobre espíritos malditos.

Ah! Irmãos, aqui houve amor infinito. Infiéis zombam disso, os insensatos o desprezam;
mas isso é a maravilha de todo o céu. O Cordeiro que foi morto será a maravilha da eterni-
dade. Hoje Cristo é, evidentemente, estabelecido crucificado. Anjos, eu não tenho dúvidas,

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olharão para baixo, em surpreendente maravilha para aquela mesa. Vocês olharão com
corações frios e impassíveis? Esta é uma visão do Cordeiro imolado que move as hostes
do céu ao louvor. Apocalipse 5:8: “prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles har-
pas e salvas de ouro cheias de incenso”. Vocês não O louvarão?

3. Ele nos reconciliou: “Agora, contudo, vos reconciliou”. Pecadores, nós não somos recon-
ciliados no dia de nossa eleição, nem na morte de Cristo, mas na hora da conversão. Oh!
Isso é precioso agora: “Agora... vos reconciliou”. É um momento feliz, quando o Senhor
Jesus se aproxima da alma pecadora, e a lava, purifica em Seu precioso sangue, e a veste
em Suas vestes brancas, e assim a reconcilia com Deus. Há uma dupla reconciliação que
acontece na hora de crer. (1) Deus torna-Se reconciliado com a alma. Quando a alma
encontra-se em Cristo, o Pai diz: “Eu sararei a sua infidelidade, eu voluntariamente os ama-
rei; porque a minha ira se apartou deles”. [Oséias 14:4]. A alma responde a Deus: “ainda
que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas” [Isaías 12:1]. Deus não im-
puta àquela alma as suas ofensas; Ele imputa a ela a obediência do Senhor Jesus. Deus a
justifica: “O Senhor teu Deus, o poderoso, está no meio de ti, ele salvará; ele se deleitará
em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo” (Sofonias 3:17).
(2) A alma é reconciliada com Deus. O Espírito Santo, que inclina a alma a submeter-se a
Jesus, muda o coração para amá-lO. Quando os animais entraram na arca, suas naturezas
foram alteradas; eles não rasgaram uns aos outros em pedaços, mas em amor entraram
de dois em dois na arca; o leão não devorou o manso cervo, nem a águia perseguiu a pom-
ba. Assim, quando os pecadores vêm a Cristo, seu coração é alterado da inimizade para o
amor.

Queridos irmãos, Ele vos reconciliou com Deus? Vocês estavam, em algum momento lon-
ge; vocês foram trazidos para perto? Vocês estavam, alguma vez em trevas; vocês foram
iluminados no Senhor? Vocês em algum momento estavam separados e inimigos em sua
mente; Ele vos reconciliou? Ele vos trouxe para a luz do semblante reconciliado de Deus?
A ira de Deus afastou-se de vocês? Vocês podem cantar; “Graças te dou, ó SENHOR,
porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas” [Isaías 12:1],
ou: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios.
Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades, que
redime a tua vida da perdição” (Salmos 103:2-3). Vocês já foram transformados para amar
a Deus? Vocês amam a Sua Palavra, Seu povo, Sua forma de vos conduzir?

III. O objetivo futuro em vista: “para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e
inculpáveis”.

Dias sacramentais são dias solenes, mas não há um dia mais solene ao nosso alcance,

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mesmo à porta. Aqui nos reunimos para ensiná-los, alimentá-los e levá-los a encontrar-se
com Cristo, e viver nEle; ali nos encontraremos para vos apresentar como uma virgem pura
a Cristo. Naquele dia Cristo levará aqueles de vocês que Ele redimiu e reconciliou, e vos
apresentará a Si mesmo igreja gloriosa. Ele confessará o vosso nome diante de Seu Pai, e
vos apresentará irrepreensíveis diante da presença de Sua glória, com júbilo. Há uma dupla
perfeição que os santos terão naquele dia.

1. Vocês serão perfeitamente justos. Vocês serão “irrepreensíveis”. Satanás vos acusará,
e o mundo, e a consciência; mas Cristo dirá: “O castigo que lhes traz a paz estava sobre
Mim”. Cristo mostrará as Suas cicatrizes, e dirá: “Eu morri por essa alma”.

2. Vocês serão perfeitamente santos: “Santos, e irrepreensíveis”. O corpo de pecado, vocês


o deixarão para trás. O Espírito que habita em vocês agora completará a Sua obra. Vocês
serão como Jesus; pois vocês O verão como Ele é. Vocês serão santos como Deus é santo,
puro como Cristo é puro.

Cada um que é reconciliado por Cristo, Ele o faz santo e o confessa diante de seu Pai: “aos
que justificou a estes também glorificou” [Romanos 8:30]. Se Cristo verdadeiramente
começou a boa obra em vocês, Ele a completará até o dia de Jesus Cristo. Cristo diz: “Eu
sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro” [Apocalipse 22:13].
Sempre que Ele começa, Ele consumará. Sempre que Ele constrói uma pedra como fun-
damento, Ele a preservará inabalável até o fim. Apenas certifiquem-se de que vocês estão
sobre o fundamento, que vocês estão reconciliados, que vocês têm a verdadeira paz com
Deus, e então vocês podem olhar através das montanhas e rios que estão entre vocês e
aquele dia, e dizer: “Ele é poderoso para guardar-me de tropeçar” [Judas 1:24]. Vocês têm
apenas dois rasos riachos a atravessar, a saber, o da doença e o da morte; e Ele prometeu
vos encontrar, para ir com vocês, a cada passo. Mais algumas lágrimas, mais algumas ten-
tações, mais algumas orações agonizantes, mais alguns sacramentos e vocês estarão com
o Cordeiro no Monte Sião!

IV. A perseverança é necessária para a salvação: “Se, na verdade, permanecerdes fun-


dados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido”,
versículo 23. Todos a quem Cristo reconcilia serão salvos; mas apenas no caminho da per-
severança na fé. Ele os fundamenta e estabelece na fenda da rocha, e os impede de serem
movidos.

Caros crentes, verifiquem se vocês permanecem na fé. Lembrem-se que vocês serão pro-
vados.

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1. Vocês podem ser provados por falsas doutrinas. Satanás pode transforma-se em anjo
de luz, e tentar enganar vocês por meio de um outro Evangelho. “Conserva o modelo das
sãs palavras” [2 Timóteo 1:13].

2. Vocês serão provados pela perseguição. O mundo vos odiará por seu amor a Cristo. Eles
falarão todo tipo de mal contra vocês.

3. Vocês serão provados pela lisonja. O mundo sorrirá para vocês. Satanás espalhará seus
caminhos com flores; ele perfumará o seu leito com mirra, aloés e canela [Provérbios 7:17].

Vocês permanecerão na fé? Vocês não se afastarão? Vocês poderão suportar todos esses
inimigos? Lembrem-se, a perseverança é necessária para a salvação; tão necessária quan-
to a fé ou quanto o novo nascimento. É verdade, todo aquele que crê em Cristo será salvo;
mas eles serão salvos, por meio da perseverança: “Se alguém não estiver em mim, será
lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem” [João 15:6].
Eis que em Jesus há um poder para a perseverança. Esse pão e vinho hoje são uma garan-
tia disso. Busquem por graça perseverante hoje. Peçam isso quando vocês tomarem o pão
e o vinho.

Hipócritas! Um dia vocês serão conhecidos por isso. Muitos de vocês parecem estar unidos,
os quais realmente não estão. Todos vocês tiveram convicções de pecado que já passaram,
todos vocês têm a aparência de Cristãos, mas interiormente um coração não-convertido,
todos os que participam das ordenanças, mas vivem em alguma forma de pecado, em breve
serão descobertos. Vocês revestem-se de uma aparência, vocês fingem que se apegam a
Cristo, e obtêm graça de Cristo, oh! Quão em breve vocês mostrarão as suas verdadeiras
cores. Oh! Que a consideração possa perfurar seu coração, para que mesmo agora, embo-
ra vocês venham com uma profissão mentirosa em sua mão direita, sejam persuadidos a
unirem-se a Jesus em verdade. Amém.

São Pedro, 1 de agosto de 1841.

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A Gloriosa Bem-Aventurança Proposta No Evangelho
Por Arthur Walkington Pink

[Capítulo 14 do livro The Total Depravity of Man • Editado]

A entrada do mal no domínio de Deus é, reconhecidamente, um profundo mistério, no en-


tanto, o suficiente é revelado nas Escrituras para nos prevenir de formar pontos de vista
errôneos em relação a isto. Por exemplo, é terminantemente contrário à Palavra da ver-
dade apoiar a noção de que a Queda de Satanás e seus anjos ou dos nossos primeiros
pais pegaram Deus de surpresa e arruinaram Seus planos. Desde toda a eternidade Deus
projetou esta terra como devendo ser o palco sobre o qual ele mostraria as Suas perfeições:
na criação, na providência e na redenção (1 Coríntios 4:9). Assim, Ele predestinou tudo o
que viria a acontecer neste cenário (Atos 15:18; Romanos 11:36; Efésios 1:11). Deus não
é um espectador ocioso, olhando à distância os acontecimentos deste mundo, mas é o pró-
prio Ordenador e Modelador de tudo para a promoção final de Sua glória, não só, apesar
da oposição dos homens e Satanás, mas por meio deles, tudo está sendo feito para servir
ao Seu propósito. Nem a introdução do mal no universo ocorre simplesmente pela simples
permissão do Altíssimo, pois nada pode acontecer em oposição à Sua vontade decretiva.
Em vez disso, devemos acreditar que, por razões sábias e santas, Deus predestinou Suas
criaturas mutáveis a cair, e, assim, gerar uma ocasião para Ele demonstrar mais e plena-
mente os Seus atributos.

Partindo da perspectiva de Deus, o resultado da provação de Adão não deixa espaço para
nenhuma incerteza. Antes de formá-lo do pó da terra e de haver soprado o fôlego da vida
em suas narinas, Ele sabia exatamente como a referida provação sucederia. Sim, e ainda
mais: Ele decretou que ele deveria comer do fruto proibido. Está claro em 1 Pedro 1:19-20
que nos diz que o derramamento do sangue de Cristo foi, na verdade, “conhecido ainda
antes da fundação do mundo” (cf. Apocalipse 13:8). Como Witsius corretamente afirmou
em relação ao pecado de Adão: “se ele foi conhecido foi também predestinado, assim Pedro
une 'determinado conselho e presciência de Deus’ (Atos 2:23)”. Em plena harmonia com
esta verdade, é preciso lembrar que foi o próprio Deus quem colocou no Éden a árvore do
conhecimento do bem e do mal! Além disso, o célebre Moderador da Assembleia de West-
minster perguntou: “O Diabo não incitou Adão e Eva contra Deus estando no Paraíso? Deus
não poderia ter mantido o Diabo fora do Paraíso? Por que Ele não fez isso? Porventura não
é manifestamente aparente que era a vontade de Deus que eles fossem tentados, e incita-
dos ao pecado? E por que não?” (W. Twisse, 1653). Deus negou-lhes uma maior manifesta-
ção da Sua glória. Assim como se não houvesse noite não poderíamos admirar a beleza

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do dia, este fundo era necessário escuro no qual a graça e misericórdia Divina pudessem
brilhar mais resplandecentes (Romanos 5:20).

Tem-se afirmado, mais dogmaticamente, por papistas e Arminianos, que Deus não poderia
ter impedido a Queda de nossos primeiros pais, sem reduzi-los a meras máquinas. Argu-
menta-se que uma vez que o Criador dotou o homem com uma vontade livre ele deve ser
deixado inteiramente às suas próprias volições, que ele não pode ser coagido, muito menos
compelido, sem destruir sua agência moral. Isso pode parecer um raciocínio sólido, no
entanto, é refutado pelas Sagradas Escrituras! Quando Deus declarou a Abimeleque sobre
a mulher de Abraão: “também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso não te
permiti tocá-la” (Gênesis 20:6). Assim fica muito claro que não é impossível para Deus exer-
cer Seu poder sobre o homem, sem destruir a sua responsabilidade, pois aqui está um caso
onde Ele restringiu a liberdade do homem para fazer o mal e o impediu de cometer pecado.
Da mesma forma, Ele impediu Balaão de realizar os maus desejos do seu coração (Núme-
ros 22:38; 23:2, 20); sim, Ele impediu reinos de fazerem guerra contra Josafá (2 Crônicas
17:10). Por que, então, Deus não exerceu Seu poder para impedir que Adão e Eva pecas-
sem? Porque a Queda deles serviria melhor aos Seus próprios desígnios sábios e benditos.

Mas isso faz de Deus o autor do pecado? O Autor culpado, não, pois, como Piscator há
muito tempo apontou: “A culpabilidade é uma falha em fazer o que deve ser feito”. É eviden-
te que era a vontade Divina que o pecado entrasse neste mundo, ou ele não teria entrado,
pois Deus não somente tinha o poder de evitar isto, mas também nada disso aconteceria,
exceto o que Ele decretou. “Ainda que o decreto de Deus fez a Queda de Adão infalivelmen-
te necessária como um evento, contudo isso não se deu por meio de eficiência, ou pela for-
ça e coerção sobre a vontade” (John Gill). Nem o decreto de Deus de forma alguma descul-
pou a maldade dos nossos primeiros pais nem os isentou do castigo. Eles foram deixados
inteiramente livres para o exercício da sua natureza, e, portanto, plenamente responsáveis
e culpados por suas ações. Enquanto a árvore do conhecimento do bem e do mal e as ten-
tações da serpente para que comessem do fruto foram as ocasiões de seu pecado, contudo
eles não foram a causa do mesmo, que estava em seu abandono voluntário da sujeição à
vontade de seu Criador e verdadeiro Senhor. Deus não é o autor eficiente dos pecados dos
homens, assim como Ele o é naqueles que Ele opera a santidade.

Que Deus decretou que o pecado deveria entrar neste mundo foi um segredo oculto em Si
mesmo. A respeito disso, os nossos pais nada sabiam, e isso fez toda a diferença no que
concerne à sua responsabilidade, pois tivessem sido informados sobre o propósito Divino
e a certeza de seu cumprimento por suas ações, o caso havia sido radicalmente alterado.
Eles estavam bastante familiarizados com os conselhos secretos do Criador. O que lhes
dizia respeito era a vontade revelada de Deus, e esta era totalmente clara. Ele os havia
proibido de comer de uma certa árvore, e isso era o suficiente. Porém Ele foi mais longe, o

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Senhor mesmo advertiu a Adão das consequências terríveis que sucederiam a sua deso-
bediência, a morte seria a penalidade. Assim, a transgressão de sua parte era inteiramente
indesculpável. Deus o criou moralmente “vertical”, sem qualquer inclinação para o mal. Ele
também não injetou qualquer mau pensamento ou desejo em Eva. Não, “Deus não pode
ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tiago 1:13). Em vez disso, quando a serpente ve-
io e tentou a Eva, Deus fez com que ela se lembrasse de Sua proibição! Admire, então, a
maravilhosa sabedoria de Deus, pois tendo Ele predestinado a Queda de nossos primeiros
pais, ainda assim, em nenhum sentido, era Ele o instigador ou aprovador de seus pecados
e sua prestação de contas não sofreu nenhum dano.

Nós devemos acreditar nestas duas coisas se não quisermos repudiar a verdade: que Deus
predestinou tudo o que venha a acontecer e que de forma alguma Ele é responsável por
qualquer maldade um homem, a criminalidade deste sendo de sua total responsabilidade.
O decreto de Deus não infringe de modo algum a agência moral do homem, pois nem força
nem impede a vontade do homem, embora as ordene e limite suas ações. Tanto a exis-
tência e as operações do pecado são subservientes aos conselhos da vontade de Deus,
mas isso não diminui o mal da sua natureza ou a culpa do transgressor. “Ainda que Ele não
estime o mal como bem, contudo Ele considera bom que o mal exista” (William Perkins,
1587); no entanto, o pecado é “essa coisa abominável” (Jeremias 44:4), que o Santo sem-
pre odiou. Em relação à crucificação de Cristo houve a agência de Deus (João 19:11, Atos
4:27-28), a agência de Satanás (Gênesis 3:13; Lucas 22:53), e a agência dos homens; con-
tudo, Deus não concordou nem cooperou com as ações internas de suas vontades, e Deus
cobrou depois a maldade de seus atos (Atos 2:23). Deus governa mal o para o bem (Gêne-
sis 44:8, Salmo 76:10), e, portanto, Ele é tão verdadeiramente soberano sobre o pecado e
o Inferno como Ele é sobre a santidade e o Céu.

Deus não deseja nada que seja errado: “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e
santo em todas as suas obras” (Salmo 145:17). Ele, desta forma, não permanece em qual-
quer necessidade de vindicação por nenhuma de Suas insignificantes criaturas. No entanto,
mesmo a mente finita, quando iluminada pelo Espírito da verdade, pode-se perceber como
essa admissão de Deus do mal neste mundo provoca ocasião, para Ele demonstrar Suas
perfeições inefáveis de uma maneira e em um grau que de outra forma Ele não poderia
magnificar a Si mesmo por trazer uma coisa pura de uma impura, e por assegurar a Si mes-
mo o louvor dos pecadores redimidos, como Ele não recebe dos anjos não caídos. Horrível
e terrível além do que se pode descrever foi a revolta do homem contra o seu Criador, tão
terrível e total foi a ruína que ele trouxe consigo toda a sua posteridade. No entanto, a
sabedoria de Deus planejou uma maneira de salvar uma parte da raça humana, de tal
maneira que Ele é mais glorificado neles do que por todas as suas obras da criação e da
providência, e é assim que a miséria dos pecadores torna-se a ocasião à sua maior felicida-
de; tal é uma maravilha sem fim.

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Esse caminho de salvação foi determinado e definido nos termos do eterno Pacto da Graça.
Era aquele pelo qual cada uma das pessoas Divinas é extremamente honrada. Como o
famoso Jonathan Edwards há muito tempo apontou: “Aqui a obra da redenção se distingue
de todas as outras obras de Deus. Os atributos de Deus são gloriosos em suas outras o-
bras; mas as três Pessoas da Santíssima Trindade claramente não são glorificadas em ne-
nhuma outra obra como nesta da redenção. Nesta obra cada Pessoa distinta tem Suas par-
tes e ofícios distintos atribuídos a Si. Cada um tem sua importância especial nela agradável-
mente às Suas próprias distinções pessoais, relações e organização. O redimido tem um
igual interesse e dependência em relação a cada Pessoa nesta questão, e deve igual honra
e louvor a cada um dEles. O Pai nomeia e provê o Redentor, e aceita o preço da redenção.
O Filho é o Redentor e o preço, Ele redime, oferecendo-se a Si mesmo. O Espírito Santo
nos comunica imediatamente ao que foi comprado; sim, e Ele é o bem adquirido. A suma
do que Cristo comprou para nós é a santidade e a felicidade. ‘Cristo foi feito maldição por
nós... Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que
pela fé nós recebamos a promessa do Espírito’ (Gálatas 3:13-14). A bem-aventurança dos
redimidos consiste na participação da plenitude de Cristo, que consiste na participação na-
quele Espírito que não é dado por medida a Ele. Este é o óleo que foi derramado sobre a
Cabeça da Igreja, que correu para os membros do seu corpo (Salmo 133:2)”.

É um grave erro considerar o Senhor Jesus como nosso Salvador, excluindo as operações
salvíficas do Pai e do Espírito. Se o Pai não houvesse eternamente proposto a salvação de
Seu povo, escolhendo-os em Cristo dando lhes a Ele, se Ele não tivesse entrado em um
Pacto eterno com Ele, encarregando-Lhe a encarnar-Se, e os redimir, Seu Amado nunca
teria deixado o Céu a fim de poder morrer, o Justo pelos injustos. Assim, vemos que Ele a-
mou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito e atribuiu a Ele a salvação da
Igreja: “Que nos salvou... segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito
e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2 Timóteo 1:9).
Igualmente necessárias são as operações do Espírito Santo para realmente aplicar aos co-
rações dos eleitos de Deus o bem que Cristo realizou por eles: Ele é quem convence do
pecado e lhes concede a fé. Por isso, a sua salvação também é atribuída a Ele: “Mas deve-
mos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido
desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2 Tessalo-
nicenses 2:13). Uma leitura cuidadosa de Tito 3:4-6, mostra as três Pessoas agindo em
conjunto, segundo este propósito: “Deus, nosso Salvador” no versículo 4 é claramente o
Pai, e “nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (v.5),
“Que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (v. 6);
compare a doxologia de 2 Coríntios 13:14!

É muito abençoador refletir sobre as muitas promessas que o Pai fez a respeito de Cristo.

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Após a aceitação do Filho dos termos exatos do Pacto da Graça, o Pai concordou em in-
vestir Ele com um tríplice ofício, autenticando grandemente assim a Sua missão com o selo
do Céu: o profético (Deuteronômio 18:15, 18. Veja também Atos 3:22), o sacerdócio (He-
breus 5:5; 6:20), e o reinado (Jeremias 22:5; Salmos 89:27). Assim, Cristo não veio sem
ser enviado. Ele prometeu suprir e preparar o Mediador com o derramamento abundante
das graças e dons do Espírito Santo (Isaías 42:1-2. Veja Atos 10:38; Mateus 12:27-28). Ele
prometeu fortalecer a Cristo, apoiando-O e protegendo-O na realização da Sua grande obra
da redenção (Isaías 42:1, 6; Salmo 89:21). Seu compromisso seria marcado com tais dificul-
dades que o poder da criatura, ainda que não prejudicado pelo pecado, teria sido inapro-
priado para Ele: por isso o Pai Lhe assegurou de tudo que lhe era necessário para ajuda e
socorro, para conduzi-lO através da oposição e aflições que Ele encontraria. É muito precio-
so observar como o Filho encarnado repousou sobre essas promessas: Salmo 22:10; Isaías
69:4-7; Salmo 16:1; Isaías 1:6-9.

O Pai prometeu levantar o Messias dos mortos (Salmo 21:8; 102:23, 24; Isaías 53:10), e
mais abençoado é observar como Cristo lançou mão disto (Salmo 16:8-11). A promessa de
Sua ascensão também lhe foi feita (Salmo 24:3, 7; 67:18; 89:27; Isaías 52:13.), da qual o
Salvador também se apropriou enquanto ainda na terra (Lucas 24:26). Tendo cumprido fiel-
mente os termos da Aliança, Cristo foi sumamente exaltado por Deus, e feito Senhor e
Cristo (Atos 2:36), Deus O assentou à Sua mão direita. Essa é uma salvação por senhorio,
uma dispensação comprometida com Ele como o Deus-homem. Aquele a quem os homens
coroaram de espinhos, Deus tem coroado de glória e honra. O “governo” está sobre os
Seus ombros.

Cristo foi assegurado de uma “posteridade” (Isaías 53:10), Sua crucificação não deve ser
considerada como uma infâmia a Ele, já que era o próprio meio ordenado por Deus, pela
qual Ele deveria propagar uma numerosa descendência espiritual, a isto até Ele se referiu
em João 12:24. A “posteridade”, prometida a Cristo ocupa um lugar de destaque no Salmo
89, veja os versos 3, 4, 31-36 e cf. 22:30. Assim, desde o início, Cristo foi assegurado do
sucesso de seu empreendimento. Posto que havia duas partes no Pacto, então os eleitos
foram dados a Cristo de uma forma dupla. Assim Ele estava a cumprir os seus termos, que
foram confiados a Ele como uma carga; mas no cumprimento dos mesmos, o Pai prometeu
conceder-lhes a Ele como uma recompensa. No primeiro sentido, eles são considerados
como caídos, e Cristo foi responsável por sua salvação, eles estavam comprometidos com
Ele, como ovelhas perdidas e desgarradas (Isaías 53:6), a quem Ele deveria buscar e trazer
para o rebanho (João 10:16). Neste último sentido, eles são vistos como fruto de Sua ago-
nia, os troféus de Sua vitória sobre o pecado, Satanás e a morte; como Sua coroa de rego-
zijo no dia vindouro (quando Ele deverá ser “glorificado nos seus santos, e para se fazer
admirável naquele dia em todos os que creem”, 2 Tessalonicenses 1:10); como a esposa
amada do Cordeiro.

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Finalmente, Deus fez a promessa do Espírito Santo a Cristo. Ele repousou sobre Esse
durante os dias da Sua carne, ungindo-O para pregar o Evangelho (Isaías 61:1) e operar
milagres (Mateus 12:28). Ele, porém, recebeu o Espírito depois de outra forma (Salmo 45:7,
Atos 2:33) e para uma finalidade diferente após Sua ascensão, ou seja, este o Deus-
Homem Mediador foi dado a administração das atividades e operações do Espírito em
relação ao mundo na providência e em relação à Igreja na graça, João 16:7 deixa claro que
o advento do Espírito era dependente da exaltação de Cristo. Cristo também se apropriou
dessa garantia antes de partir deste mundo, em Sua partida, Ele disse aos seus discípulos:
“E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai” (Lucas 24:49), o qual foi devidamente
cumprida 10 dias mais tarde. Em pleno acordo com o que acaba de ser apontado, ouvimos
o Salvador do Céu dizendo: “Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus” (Apocalipse 3:1),
“tem” para comunicar ao Seu resgatado individualmente, e às Suas igrejas coletivamente.

O grande desígnio da descida do Espírito a esta terra é glorificar a Cristo (João 16:14). Ele
está aqui para testemunhar-vos a exaltação do Salvador, sendo o Pentecostes o selo de
Deus sobre a Messianidade de Jesus. O Espírito está aqui para substituir a Cristo. Isso é
inferido de Suas próprias palavras aos Apóstolos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16). Até então, o Senhor Jesus
tinha sido o seu Consolador, mas Ele estava às vésperas de voltar ao Céu; no entanto, Ele
graciosamente lhes assegurou: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14:18),
isto foi cumprido plenamente no advento se Seu sucessor. O Espírito está aqui para pro-
mover a causa de Cristo. A palavra Paráclito (traduzida como “Consolador”, no Evangelho
de João) é traduzida como “advogado”, no início do segundo capítulo de sua primeira Epís-
tola, e um advogado é aquele que aparece como representante de outro. O Espírito está
aqui para interpretar e reivindicar a Cristo, para administrar por Cristo o Seu Reino e a Sua
Igreja. Ele está aqui para fazer bem sucedido o Seu propósito redentor, aplicando os bene-
fícios de Seu sacrifício àqueles em nome dos quais foi oferecido. Ele está aqui para revestir
os servos de Cristo (Lucas 24:49).

É de primeira importância reconhecer e entender que o Senhor Jesus não só obteve para
o povo de Deus a redenção das consequências penais do pecado, mas também garantiu a
sua santificação pessoal. Ai! quão pouco isso é enfatizado hoje. Em muitos casos aqueles
que pensam e falam da “salvação” que Cristo comprou não acrescentam mais nenhuma
ideia à mesma do que a de libertação da condenação, omitindo a libertação do amor, domí-
nio e poder do pecado. Porém este último não é menos essencial, e é uma bênção tão ne-
cessária quanto a primeira. É tão necessário para criaturas caídas serem libertas da polui-
ção e impotência moral que elas contraíram, como é o ser liberto das penalidades que te-
nham incorrido; para que, quando forem reintegradas ao favor de Deus, elas possam ao
mesmo tempo ser capacitadas para amar, servir e deleitar-se nEle para sempre. A este res-

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peito o remédio Divino também preenche todos os requisitos de nossa doença pecaminosa
(veja 2 Coríntios 5:15; Efésios 5:25-27; Tito 2:14; Hebreus 9:14). Isto é obtido através das
operações graciosas do Espírito de Cristo: iniciado na regeneração, continuado ao longo
de suas vidas terrenas e consumado no Céu.

Não somente o Deus triuno é mais honrado pela redenção que Ele foi desonrado pela
deserção de Suas criaturas, como os do Seu povo também se tornam maiores ganhadores.
Como isso também magnifica a Sabedoria Divina! Seria maravilhoso, de fato, se tivessem
sido apenas restaurados ao seu estado original, mas é muito mais maravilhoso que eles
sejam levados a um estado muito mais elevado de bem-aventurança, que a Queda seja a
ocasião de sua exaltação! Seu pecado merecia desgraça, porém a eterna bem-aventurança
tornou-se a sua porção. Eles agora são favorecidos com uma maior manifestação da glória
de Deus e a um pleno conhecimento do Seu amor do que de outra forma teriam tido, e é
nessas duas coisas a sua felicidade consiste principalmente. Eles são levados para uma
relação muito mais próxima e afetuosa para com Deus. Eles são agora não apenas criaturas
santas, mas herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo. O Filho tomou a sua natureza so-
bre Ele, e vocês tornaram-se seus “irmãos”, os membros do Seu corpo, sim, Sua esposa.
Eles são, assim, providos dos mais poderosos motivos e incentivos para amá-lO e servi-lO
do que tinham em sua condição não caída. Quanto mais apreendemos do amor de Deus,
mais O amamos em retribuição, por toda a eternidade o conhecimento do amor de Deus
em dar Seu Filho amado por nós, e de Cristo ao morrer em nosso lugar, fixará os nossos
corações nEle de uma forma que os Seus favores a Adão nunca teriam feito.

Agora é no Evangelho que o remédio maravilhoso para todos os nossos males é revelado.
Este glorioso Evangelho proclama que Cristo é capaz de salvar perfeitamente aqueles que
se achegam a Deus por meio dEle. Ele nos diz que o Filho do homem veio buscar e salvar
o que estava perdido. Ele anuncia que os pecadores, até mesmo o maior dos pecadores,
são os únicos que são livremente convidados a vir. Ele proclama a libertação aos cativos
de Satanás e a abertura das portas para os prisioneiros do pecado. Ele revela que Deus
escolheu os maiores pecadores para serem os monumentos eternos da Sua misericórdia.
Ele declara que o sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, purifica os crentes de todo o pe-
cado. Ele fornece esperança para os casos mais desesperados. Os prodígios que Cristo
realizou sobre os corpos dos homens eram tipos de Seus milagres de graça sobre as almas
dos pecadores. Nenhum caso estava além de poder para curar. Ele não somente deu a
vista aos cegos e purificou o leproso, mas libertou o endemoninhado e deu vida aos mortos.
Ele nunca recusou um único apelo feito à Sua compaixão. Qualquer que seja o passado do
leitor, se ele confiar no sacrifício expiatório de Cristo, ele será salvo, agora e para sempre.

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PARTE II
Deus, Sua Graça, Seu Amor, Seu Evangelho
e Sua Eterna Salvação.

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Uma Breve Exortação Evangélica
Por Paul David Washer

Você não é Cristão? A Bíblia diz que hoje é o dia da Salvação, hoje! Você não deve esperar,
pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus e vivemos em um mundo onde o
pecado não é tão mal visto, mas diante de Deus é uma abominação e por causa de seu
pecado você merece a ira de Deus, o juízo eterno de Deus, mas Deus por meio de Seu
Filho abriu um caminho de Salvação. Há dois mil anos atrás, o Filho de Deus, na cruz do
Calvário levou o pecado de Seu povo, e experimentou toda a irá de Deus que merecíamos
e pagou a pena que estava contra nós, e podemos ser salvos pois Ele ressuscitou dentre
os mortos e os que confiam nEle são salvos. Porém também tenho que fazer uma adver-
tência por causa do evangelho superficial que é pregado pelos evangélicos do dia de hoje,
há muitos que creem ser salvos, mas que não o são.

Quando eu vim pela primeira vez ao Peru em 1988, com os taxistas, com as pessoas nas
ruas, eu sempre começava uma conversa assim: “Se você morresse agora mesmo para
onde iria?”; e a reposta quase sempre era: “Eu vou par ao Céu, porque sou uma boa pes-
soa, porque leio a bíblia ou porque vou à igreja”. Mas eram católicos falando assim. Agora
eu retorno e falo com pessoas na rua: “Senhor, amigo, se você morrer agora para onde
iria?”, eles respondem: “Para o Céu”; “Por que?”, Um homem uma vez me respondeu: “Por-
que sou evangélico”. “Porque você é evangélico?”, “Sim! Vou para a igreja evangélica, e de
vez em quando leio a Bíblia”. Vejam o que aconteceu: ele está confiando em uma igreja,
em uma religião, não está confiando em Cristo. Se eu morresse agora mesmo eu iria para
o Céu, porque há dois mil anos Jesus morreu por este pecador e esta é minha única espe-
rança. E muitos no dia de hoje que estão tão enganados, crendo que irão ao Céu, quando
na verdade não vão.

Há outros que conhecem a reposta correta, eles dizem: “Vou par ao céu”, “por que”, “porque
estou confiando em Cristo”. Mas sua vida contradiz a sua confissão, por meio de sua vida
você pode saber que eles não são crentes, não vivem como crentes, não possuem frutos
de crentes. Talvez você tem estado na igreja evangélica por toda a tua vida, isso não é cer-
teza de que você vai par ao céu. Talvez você tenha recebi a Cristo em seu coração por
meio de uma oração, isso não significa que você vai para o céu ou que você é salvo. Talvez
saiba tudo o que a vida diz sobre a doutrina correta, mas isso não significa que você vai
para o Céu.

A evidência de que você irá para o Céu é que você está confiando unicamente na Pessoa
e na Obra de Jesus Cristo, e há evidências de que Ele está transformando sua vida, que

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Aquele que começou a boa obra em sua vida, é Aquele que até hoje está aperfeiçoando-a;
a evidência que uma vez você se arrependeu para salvação, é que você continua se
arrependendo; a evidência que você uma vez creu para salvação é que você continua cren-
do hoje, e crescendo na graça de Deus.

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Uma Palavra Sincera Aos Não-Convertidos
Por Richard Baxter

[A presente tradução consiste somente no Prefácio do Livro A Call to the Unconverted, to Turn and
Live, que é composto por este Prefácio e mais 4 Sermões baseados em Ezequiel 33:11 • Editado]

Para todas as pessoas não santificadas que lerão este livro; especialmente para os meus
ouvintes em Borough e Paróquia de Kiderminster.

Homens e irmãos,

O Deus eterno, que fez vocês para a vida eterna, e os redimiu por meio de Seu único Filho,
quando vocês perderam isto e a si mesmos, estando consciente de vocês em vosso pecado
e miséria, tanto compôs o Evangelho, e o selou por Seu Espírito, e ordenou a seus ministros
prega-lo ao mundo, para que o perdão seja livremente oferecido a vocês, e o Céu sendo
posto diante de vocês, Ele pode chama-los para fora de seus prazeres carnais, e de seguir
após o mundo enganador, e familiariza-los com a vida para a qual vocês foram criados e
redimidos, antes que vocês estejam mortos e fora de remediação.

Ele enviou a vocês não profetas ou apóstolos, que receberam a sua mensagem por imedia-
ta revelação; mas ainda assim Ele vos chamou por Seus ministros comuns, que são comis-
sionados por Ele a pregar o mesmo Evangelho o qual Cristo e Seus apóstolos pregaram,
primeiramente. O Senhor vê como vocês se esqueceram dEle e o vosso fim último, e quão
leve vocês consideram as coisas eternas, como homens que não compreendem o que tem
que fazer ou padecer. Ele vê quão vigorosos vocês são em pecar, e quão alarmantemente
sem temor, e quão descuidados de suas almas, e como as obras de infidelidade estão em
suas vidas, enquanto a crença dos Cristãos está em suas bocas.

Ele vê o dia terrível à mão, quando seus sofrimentos começarão e vocês deverão lamentar
tudo isso com clamores infrutíferos em tormento e desespero; e, então, a lembrança de sua
insensatez rasgará seus corações, se a verdadeira conversão não impedir isto agora. Em
compaixão de suas miseráveis almas pecaminosas, o Senhor, que melhor conhece o seu
caso do que vocês possam conhecê-lo, tem feito disto o nosso dever, falar com vocês em
Seu nome (2 Coríntios 5:19) e falar claramente do seu pecado e miséria, e qual será o seu
fim, e como é triste a mudança que vocês verão em breve, se assim ainda continuarem um
pouco mais [...].

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Ele vê e se compadece de vocês, enquanto vocês estão afogados em cuidados e prazeres
mundanos, e ansiosamente seguindo brinquedos infantis, e desperdiçando esse curto e
precioso tempo por uma coisa sem valor, no qual vocês deveriam preparar-se para uma vi-
da eterna; e, portanto, ele altamente nos ordenou a chamá-los, e dizer-lhes como vocês
perdem os seus labores, e estão quase a perder as suas almas, e falar-lhes que maiores e
melhores coisas vocês podem seguramente ter, se ouvirem o Seu chamado (Isaías 55: 1-
3). Nós cremos e obedecemos à voz de Deus; e viemos a vocês com a Sua mensagem,
que nos responsabiliza a pregar, e ser urgentes com vocês em tempo e fora de tempo, e
para que ergamos a nossa voz como uma trombeta, e mostremos a vocês as suas trans-
gressões e seus pecados (Isaías 58:1-2; 2 Timóteo 4: 1-2). Mas, ai! Para a tristeza de nos-
sas almas e sua própria ruína, vocês cerram os seus ouvidos, vocês endurecem as suas
cervizes, vocês endurecem os seus corações, e nos enviam de volta a Deus com gemidos,
para contar a Ele que nós entregamos a Sua mensagem, mas não conseguimos fazer ne-
nhum bem a vocês, nem mal conseguimos uma audiência sóbria. Oh! Que nossos olhos
fossem uma fonte de lágrimas, para que nós pudéssemos lamentar a nossa ignorância,
pessoas descuidadas, que têm a Cristo diante deles, e perdão, e vida, e o Céu, e que, no
entanto, não possuem corações para conhecer o Seu valor! Que podem ter a Cristo, e gra-
ça, e glória, bem como os outros, se não fosse por sua voluntariosa negligência e desprezo!

Oh, que o Senhor enchesse os nossos corações com mais compaixão por estas almas
miseráveis, para que pudéssemos nos lançar mesmo aos seus pés, e segui-los até as suas
casas, e falar-lhes com as nossas lágrimas amargas: Pois, por muito tempo temos pregado
a muitos deles em vão; nós estudamos com clareza para fazê-los entender, e muitos deles
não nos entenderão; nós estudamos sério, esquadrinhando as palavras, para fazê-los sen-
tir, mas eles não sentirão. Se os maiores assuntos funcionassem com eles, nós os desperta-
ríamos; se as coisas mais doces funcionassem, nós os atrairíamos e ganharíamos os seus
corações; se as coisas mais terríveis dessem certo, nós no mínimo os atemorizaríamos
com a sua impiedade; se verdade e certeza aproveitassem para eles, nós os convenceria-
mos logo; se o Deus que os criou, e Cristo que os comprou, fossem ouvidos, o caso seria
logo alterado com eles; se a Escritura fosse ouvida, nós em breve prevaleceríamos; se a
razão, mesmo a melhor e mais forte razão, pudesse ser ouvida, nós, sem dúvida, rapida-
mente os convenceríamos; se a experiência pudesse ser ouvida, mesmo a sua própria
experiência, e a experiência de todo o mundo, a questão poderia ser corrigida; sim, se a
consciência dentro deles pudesse ser ouvida, o caso seria melhor com eles do que é. Mas,
se nada pode ser ouvido, o que então faremos por eles? Se o terrível Deus do Céu é despre-
zado, quem, então, será considerado?

Se o inestimável amor e sangue de um Redentor são considerados sem valor, o que então
será valorizado? Se o Céu não tem nenhuma glória desejável para eles, e os júbilos eternos

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não têm nenhum valor, se eles podem zombar do Inferno, e dançar próximo ao abismo sem
fundo, e brincar com o fogo consumidor, e isto quando Deus e o homem os alertam sobre
isto, o que faremos por tais almas como essas?

Mais uma vez, em nome do Deus do Céu, eu anunciarei a mensagem a vocês, a qual Ele
tem ordenado a nós, e a deixarei nestas linhas permanentes para convertê-los ou para con-
dená-los; para mudá-los, ou para erguerem-se em julgamento contra vocês, e para que se-
jam uma testemunha para as suas faces, que uma vez vocês tiveram um sério chamado a
converterem-se. Ouçam, todos vocês que são escravos do mundo, e servos da carne e de
Satanás! Que desperdiçam os seus dias em buscar prosperidade na terra, e mergulham as
suas consciências em bebedices, e glutonaria, e preguiça, e esportes tolos, e conhecem o
seu pecado, e ainda assim pecam, como se desafiassem a Deus, e O provocassem a fazer
o Seu pior e não poupar! Ouçam, todos vocês que não se importam com Deus, e não têm
o coração nas coisas santas, e não sentem nenhum prazer na Palavra ou no culto ao Se-
nhor, ou em pensamentos ou menção da vida eterna, que são descuidados de suas almas
imortais, e nunca despendem uma hora em investigar em que condição elas estão, se
santificadas ou não santificadas, e se vocês estão preparados para se apresentarem diante
do Senhor! Ouçam, todos vocês, que por pecarem à luz, têm banqueteado a vós mesmos
em infidelidade, e não creem na Palavra de Deus. Aqueles que têm ouvidos para ouvir que
ouçam, deixem-no ouvir o gracioso e, ainda assim, terrível chamado de Deus! Enquanto
Seus olhos estão completamente sobre vocês. Seus pecados estão registrados, e vocês
certamente os ouvirão novamente.

Deus mantém o livro agora, e Ele escreverá tudo isto sobre as suas consciências com seus
terrores, e então vocês também devem guarda-lo; ó pecadores, que vocês soubessem ape-
nas o que estão fazendo! E a Quem vocês estão ofendendo todo este tempo! O sol em si
mesmo é trevas diante daquela Majestade, a qual vocês diariamente abusam e provocam
descuidadamente. Os anjos pecadores não foram capazes de permanecer diante dEle, mas
foram lançados a baixo para serem atormentados com os demônios. E ousam estes vermes
tolos como vocês a despreocupadamente ofender, e colocarem-se a si mesmos contra o
seu Criador! Oh, que vocês apenas soubessem um pouco em que condição esta miserável
alma está, que tem envolvido o Deus vivo contra ela! As palavras de Sua boca, que te fize-
ram, podem te desfazer; a carranca de Sua face cortará a ti e lançará a ti na completa escu-
ridão. Quão ansiosos estão os demônios para estarem contigo, que têm tentado a ti, e ape-
nas esperam pela palavra de Deus para tomar-te e usar-te como deles próprios! E então,
em um momento, tu estarás no Inferno. Se Deus é contra ti, todas as coisas são contra ti:
este mundo é apenas a tua prisão, para tudo o que tu tanto amas; tu estás apenas preso
nele para o dia da ira [Jó 21:30]. O Juiz está vindo, tua alma mesmo está indo. Ainda em
pouco tempo, e teus amigos dirão de ti: “Ele está morto”; e tu verás as coisas que tu agora
desprezas, e sentirás aquilo em que agora tu não queres crer.

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A morte trará um tal argumento que tu não poderás responder, um argumento que deve
refutar efetivamente teus sofismas contra as palavras e caminhos de Deus, e todos os teus
autoconceitos caducos. E então, quão breve tua mente será mudada? Então, seja um incré-
dulo, se tu puderes; permaneça, assim, com todas as tuas palavras anteriores, as quais tu
eras acostumado a proferir contra a vida santa e celestial. Torne boa esta causa diante de
Deus, que tu estavas acostumado a alegar contra os teus mestres, e contra o povo que
temia a Deus. Então, permaneça com tuas velhas opiniões e desdenhosos pensamentos
sobre a diligência dos santos; prepare agora as tuas mais fortes razões, e fique de pé, en-
tão, diante do Juiz, e pleiteie como um homem por tua vida carnal, mundana e ímpia. Mas,
saiba que terás Alguém com quem pleitear, que não estará inseguro por ti; nem é tão facil-
mente dissuadido como nós, teus companheiros, criaturas.

Ó pobre alma! Não há nada além de um fino véu de carne entre ti e aquela terrível visão,
que rapidamente te silenciará, e converterá o teu tom, e te fará de outro ânimo! Tão logo a
morte retire esta cortina, verás primeiro, o que rapidamente te deixará sem palavras. E quão
brevemente aquele dia e hora chegarão! Quando tu tiveres apenas mais algumas poucas
horas alegres, e apenas mais um pouco mais dos agradáveis jogos e bocados, e um pouco
mais das honras e riquezas do mundo, a tua porção será desperdiçada, e os teus prazeres
findados, e tudo então se vai do que tu estabeleceste sobre teu coração; de tudo pelo que
tu vendeste teu Salvador e salvação, não é deixado, senão o severo e pesado acerto de
contas. Como um ladrão, que se assenta alegremente em uma cervejaria, gastando o di-
nheiro que ele havia roubado, enquanto os homens cavalgam apressados para prendê-lo,
assim é com vocês. Enquanto vocês estão mergulhados em cuidados ou prazeres carnais,
e alegrando-se em sua própria vergonha, a morte está chegando apressada para apoderar-
se de você, e levar as suas almas para um lugar e estado que agora vocês bem pouco co-
nhecem ou cogitam. Suponham, quando vocês estão apegados e ocupados em seu peca-
do, que um mensageiro estivesse vindo de Londres para prendê-los e tirar-lhes a vida; em-
bora vocês não o vissem, mas se soubessem que ele estava chegando, isso estragaria a
sua alegria, e vocês estariam pensando na pressa dele, e obedecendo, atentando para
quando ele batesse em sua porta.

Oh, que vocês pudessem apenas ver com que pressa a morte vem, que, ainda assim, ela
ainda não ultrapassou vocês! Ninguém nomeia tão rápido! Nenhum mensageiro é mais
certo! Tão certo quanto o sol estará com vocês na parte da manhã, embora ele tenha muitos
milhares e uma centena de milhares de milhas para percorrer à noite, desta forma, tão cer-
tamente, a morte estará rapidamente com vocês; e, então, onde está o seu esporte e lazer?
Então, vocês brincarão e enfrentarão ela? Então, vocês zombarão daqueles que lhes avisa-
rão? Assim, é melhor ser um santo crente ou um mundano sensual? “E o que tens prepara-
do, para quem será” todas as coisas que tens ajuntado? (Lucas 12:19-21). Vocês não ob-

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servam que os dias e as semanas rapidamente se foram, e as noites e manhãs vêm em rit-
mo acelerado, e rapidamente sucedem um ao outro? Vocês dormem, mas “a sua perdição
não dormita”, vocês tardam, mas “não será tardia a sentença” (2 Pedro 2:3-5); a qual está
reservada para “os injustos para o dia do juízo” (2 Pedro 2:8-9). Oh, que vocês fossem
sábios para entender isso, e que atentassem para o seu fim (Deuteronômio 32:29). “Aquele
que tem ouvidos para ouvir, ouça o chamado de Deus neste dia de sua salvação”.

Ó pecadores descuidados! Que vocês apenas conhecessem o amor que vocês negligen-
ciam, e a preciosidade do sangue de Cristo que vocês desprezam! Oh, que vocês apenas
conhecessem as riquezas do Evangelho! Oh, que vocês apenas conhecessem um pouco
da segurança, glória e bem-aventurança daquela vida eterna, na qual vocês não querem
agora colocar o vosso coração, nem são persuadidos, a primeiro e diligentemente busca-
rem (Hebreus 11: 6 e Mateus 6:12). Se vocês ao menos conhecessem a vida eterna com
Deus, que vocês agora negligenciam, quão rapidamente vocês renunciariam a vosso peca-
do, quão brevemente vocês mudariam de mente e vida, curso e companhia; e converteriam
os fluxos de suas afeições, e definiriam os seus cuidados de outra maneira! Quão resoluta-
mente vocês desdenhariam entregar-se a tais tentações que agora vos enganam e vos
carregam para longe! Quão zelosamente vocês apressariam a si mesmos para aquela vida
mui bem-aventurada! Quão sinceramente vocês estariam com Deus em oração! Quão
diligentes no ouvir, e aprender, e investigar!

Quão sérios em meditar sobre as leis de Deus! (Salmos 1:2). Quão temerosos de pecar em
pensamento, palavra ou ação; e quão cuidadosos para agradar a Deus e crescer em santi-
dade! Oh, que pessoas transformadas vocês seriam! E por que a segura Palavra de Deus
não seria crida e prevaleceria com vocês, a qual revela para vocês estas coisas gloriosas
e eternas? Sim, permitam-me dizer-lhes que, mesmo aqui na terra, vocês pouco sabem a
diferença entre a vida que vocês recusam, e a vida que vocês escolheriam. O santificado
está conversando com Deus, quando vocês mal ousam pensar nEle, e enquanto vocês
estão conversando apenas com terra e carne. A conversação deles está no Céu, enquanto
vocês são completamente estranhos a isso, e o seu ventre é o seu deus, e vocês estão
cuidando de coisas terrenas (Filipenses 3:18-20).

Eles estão buscando a face de Deus, enquanto vocês não buscam por nada maior do que
esse mundo. Eles estão ocupados em alcançar uma vida sem fim, onde eles serão iguais
aos anjos (Lucas 20:36). Enquanto vocês estão ocupados com uma sombra e com uma
coisa transitória de nada. Quão longa e vil é a sua vida terrenal, carnal, pecaminosa em
comparação à vida nobre, espiritual dos verdadeiros crentes!? Muitas vezes eu tenho olha-
do para tais homens com dor e piedade, ao vê-los marchar sobre o mundo, e desperdiçar
as suas vidas, cuidados e trabalho por nada, senão um pouco de alimento e vestuário, ou

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um pouco de riqueza murcha, ou prazeres carnais, ou honras vazias como se eles não
tivessem nenhuma coisa mais elevada em mente. Qual é a diferença entre a vida desses
homens e dos animais, que perecem, que gastam seu tempo em trabalhar, comer e viver
apenas para que eles possam sobreviver?

Eles não provam os prazeres celestiais interiores que os crentes provam e vivem. Eu prefiro
ter um pouco de seu conforto, que as antecipações de sua herança celestial concedem a
eles, embora eu tivesse, com isso, todos os seus desprezos e sofrimentos, do que ter todos
os prazeres e tesouros da prosperidade. Eu não gostaria de ter uma de suas dores secre-
tas e sofrimentos de consciência, e sombrios e terríveis pensamentos sobre a morte e vida
vindoura, por tudo o que o mundo já fez por vocês, e por tudo o que vocês podem razoavel-
mente esperar que ele vos faça. Se eu estivesse em um estado carnal não convertido, e
soubesse apenas o que eu sei agora, e acreditasse apenas no que eu creio agora, minha
vida seria uma antecipação do Inferno. Quantas vezes eu estaria pensando nos terrores do
Senhor daquele Dia sombrio que está se apressando! Certamente que a morte e o Inferno
ainda estariam diante de mim. Eu pensaria neles de dia, e sonharia com eles à noite; eu
me deitaria com temor, e levantaria com medo, e viveria com receio de que a morte viesse
antes que eu fosse convertido. Eu teria pouca felicidade em qualquer coisa que eu pos-
suísse, e pouco prazer em qualquer companhia, e pequena alegria em qualquer coisa no
mundo, desde que eu soubesse que eu estava sob a maldição e ira de Deus.

Eu ainda estaria com medo de ouvir aquela voz: “Louco! esta noite te pedirão a tua alma”
(Lucas 12:20). E essa temerosa sentença estaria escrita sobre a minha consciência: “Não
há paz para os ímpios, diz o meu Deus” (Isaías 48:22 e 57:21). Oh, miseráveis pecadores!
Esta é uma vida mais jubilosa do que esta em que vocês podem viver, se vocês verda-
deiramente apenas desejassem ouvir a Cristo, e voltar para casa, para Deus. Vocês se
aproximariam de Deus com ousadia, e chamá-lO-iam de vosso Pai, e confortavelmente
confiariam a Ele as suas almas e corpos. Se vocês olhassem para as promessas, diriam:
elas são minhas; se olhassem para as maldições, diriam: destas eu estou livre! Quando
vocês lessem a Lei, veriam que vocês estão salvos! Quando lessem o Evangelho, veriam
Aquele que lhes redimiu, e veriam o curso de Seu amor, Sua vida santa, e sofrimentos, e
O observariam em Suas tentações, lágrimas e sangue, na obra de vossa salvação.

Vocês veriam a morte vencida, e o céu aberto, e vossa ressurreição e glorificação providen-
ciadas na ressurreição e glorificação de seu Senhor. Se vocês olhassem para os santos,
poderiam dizer: “Eles são meus irmãos e companheiros”. Se [olhassem] para os não santi-
ficados, vocês se regozijariam em pensar que foram salvos daquela condição. Se olhassem
acima, para os céus, o sol, a lua e inumeráveis estrelas pensariam e diriam: “A face de meu
Pai é mais gloriosa; é de substância mais elevada o que Ele tem preparado para os Seus

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santos; acolá é apenas a corte exterior do Céu; a bem-aventurança que Ele prometeu é tão
mais elevada que carne e sangue não podem contempla-la”. Se vocês pensassem na se-
pultura, lembrariam do Espírito glorificado, da Cabeça viva e de um amorável Pai, todos em
tão próxima relação com o vosso pó, que isso não pode ser esquecido ou negligenciado,
porém, mais certamente ressuscitarão do que as plantas e flores na primavera, porque a
alma, que permanece viva, é a raiz do corpo; e Cristo vive, que é a raiz de ambos. Mesmo
a morte, que é o rei dos temores, poderia ser lembrada e entretida com júbilo, como sendo
o dia de vossa libertação dos restos do pecado e tristeza, e o dia em que vocês creram, e
esperaram e anelaram, quando verão as coisas benditas que ouvirão, e serão encontrados,
por experiência de presente júbilo, o que fora escolhido como a melhor porção, e você seria
um crente sincero e santo. O que vocês dizem, senhores? Esta não é uma vida mais delei-
tosa, estar seguro da salvação e pronto para morrer, em vez de viver como os ímpios, que
têm os seus corações sobrecarregados com glutonaria, embriaguez e com as preocupa-
ções da vida, e assim, aquele dia venha sobre eles de surpresa? (Lucas 21: 34, 36).

Vocês poderiam não viver uma vida confortável, se uma vez fossem feitos os herdeiros do
Céu, e seguros de que eram salvos quando partissem do mundo? Oh, olhem para vocês,
então, e pensem no que vocês fazem, e não lancem fora tais esperanças como essas pelo
próprio nada. A carne e o mundo não podem vos dar tais esperanças e consolos. E, além
de toda a miséria que vocês trazem sobre si mesmos, vocês são os perturbadores de outras
pessoas, desde que vocês não são convertidos. Vocês atribulam os magistrados ao gover-
nar vocês por suas leis; vocês atribulam os ministros por resistirem à luz e orientação que
eles vos oferecem.

O vosso pecado e miséria são a maior dor e dificuldade para eles no mundo. Vocês atribu-
lam a comunidade, e atraem os juízos de Deus sobre si. São vocês que mais perturbam a
santa paz e a ordem das igrejas, e impedem nossa união e reforma, e são a vergonha e o
transtorno das igrejas aonde se introduzem, e dos lugares onde vocês estão. Ah! Senhor,
quão severo e triste caso é este, que até mesmo na Inglaterra, onde o Evangelho abunda
acima de qualquer outra nação do mundo, onde o ensino é tão claro e comum, e toda a
ajuda que podemos desejar está disponível; quando a espada tem nos traspassado, e o
julgamento se alastrado como um fogo pela Terra; quando os livramentos nos têm aliviado,
e tantas admiráveis misericórdias nos têm sido concedidas por Deus, pelo Evangelho e
uma vida santa; que após tudo isso, nossas cidades, vilas e países se infestaram com multi-
dões de homens não santificados e abundantes em tanta sensualidade por todos os luga-
res, para nossa tristeza, nós vemos!

Alguém poderia pensar que, depois de toda essa luz, e toda essa experiência, e todos estes
julgamentos e misericórdias de Deus, o povo desta nação seria reunido, como um só ho-

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mem, para voltar para o Senhor, e se achegariam ao seu piedoso mestre, e lamentariam
por todos os seus pecados anteriores, e pediriam a ele que se unisse a eles em humilhação
pública, para confessá-los abertamente e pedir perdão por eles ao Senhor, e anelariam por
Sua instrução para o tempo vindouro, e estariam felizes por serem governados pelo espírito
interior e pelos ministros de Cristo, de acordo com a Palavra de Deus. Alguém poderia pen-
sar que após tal razão e evidência escriturística, e depois de todos esses meios e misericór-
dias, não restaria uma pessoa ímpia entre nós, nenhum mundano, nem bêbado, nem um
inimigo da reforma, nem um inimigo da santidade a ser encontrado em todas as nossas ci-
dades ou países. Se nem todos nós concordamos em relação a algumas cerimônias ou for-
mas de governo, alguém poderia pensar que, antes disso, nós deveríamos todos concordar
em viver uma vida santa e celestial, em obediência a Deus, e aos ministros, e em amor e
paz uns com os outros.

Mas, infelizmente! Quão longe o nosso povo está deste curso! A maioria deles, na maioria
dos lugares, coloca os seus corações nas coisas terrenais, e não buscam “primeiro o reino
de Deus e a sua justiça”, mas olham para a santidade como coisa desnecessária. Suas fa-
mílias estão sem oração, ou então, umas poucas palavras impiedosas, sem vida devem
servir, em vez de orações diárias calorosas, ferventes [ou talvez, apenas no dia do Senhor,
à noite]; os seus filhos não são ensinados no conhecimento de Cristo, e no Pacto da Graça,
nem criados na doutrina do Senhor, embora eles firmemente prometem tudo isso no batis-
mo deles.

Eles não instruem seus servos nas questões da salvação, mas desde que o seu trabalho
seja feito, eles não se importam. Há mais discursos injuriosos em suas famílias do que pala-
vras graciosas que tendem à edificação. Quão poucas são as famílias que temem ao Se-
nhor, e investigam em Sua palavra e ministros como eles deveriam viver, e o que eles deve-
riam fazer, que estão dispostas a serem ensinadas e governadas, e que sinceramente bus-
cam pela vida eternal! E aqueles poucos que Deus fez tão feliz são comumente o provérbio
de seus vizinhos; quando vemos que alguns vivem em bebedeiras, outros em orgulho e
mundanismo e a maioria deles têm pouco cuidado com a sua salvação, embora a causa
seja flagrante e supere toda a controvérsia, ainda assim, eles dificilmente são convencidos
de sua miséria, e mui dificilmente recuperam-se e reformam-se, mas quando fizemos tudo
o que fomos capazes para salvá-los de seus pecados, deixamos a maioria deles como os
encontramos.

E se, de acordo com a lei de Deus, nós os expulsamos da comunhão da igreja, quando eles
obstinadamente rejeitaram todas as nossas advertências, eles se enfurecem contra nós,
como se fôssemos seus inimigos, e seus corações são cheios de malícia contra nós, e eles
mais cedo estabelecem-se contra o Senhor e contra Sua lei, igreja e ministros do que contra

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seus pecados mortais. Este é o triste caso da Inglaterra: Temos magistrados que apoiam
os caminhos da piedade, e uma feliz oportunidade pela unidade e reforma está diante de
nós, e ministros fiéis anelam por ver a correta ordem da igreja e das ordenanças de Deus;
mas o poder do pecado de nosso povo frustra quase tudo. Em quase nenhum lugar um mi-
nistro fiel pode estabelecer a inquestionável disciplina de Cristo, ou retirar os pecadores im-
penitentes mais escandalosos da comunhão da igreja e da participação dos sacramentos,
sem que a maioria do povo os xinguem e os injuriem; como se essas almas ignorantes e
descuidadas fossem mais sábias do que seus mestres ou do que o próprio Deus.

E assim, no dia da nossa visitação, quando Deus nos conclama a reformar a Sua igreja,
embora os magistrados e os ministros fiéis pareçam dispostos, ainda há a multidão de
pessoas indispostas, e tanto cegaram a si mesmos e endureceram o seu coração, que
mesmo nestes dias de luz e graça eles são os inimigos obstinados da luz e da graça, e não
querem ser levados pelos apelos de Deus a ver a sua loucura e conhecer o que é para seu
bem. Oh, que o povo da Inglaterra “conhecesse também, ao menos neste teu dia, o que à
tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos” (Lucas 19:42).

Oh almas miseráveis e insensatas! (Gálatas 3:1). Quem vos fascinou a mente em tal insen-
satez, e seus corações para tal mortandade, para que vocês sejam tão inimigos mortais de
si mesmos, e prossigam tão obstinadamente para a condenação, de forma que nem a Pala-
vra de Deus, nem as convicções dos homens, podem mudar as suas mentes, ou deter as
suas mãos, ou parar vocês, até que sejam remediados! Bem, pecadores! Esta vida não du-
rará para sempre; nem esta paciência ainda esperará por vocês. Não pensem que vocês
abusarão do vosso Criador e Redentor, servirão aos Seus inimigos, rebaixarão as suas al-
mas, atribularão o mundo, errarão na igreja, reprovarão o piedoso, injuriarão os seus mes-
tres, dificultarão a reforma e tudo isso sem custo. Vocês ainda não sabem o que isso deve
custar-lhes, mas vocês logo saberão, quando o justo Deus os tomará pela mão, Quem lida-
rá convosco de maneira diferente do que os magistrados mais severos ou os pastores mais
diretos o fizeram, a menos que vocês impeçam os tormentos eternos por uma sonora con-
versão e uma rápida obediência ao chamado de Deus. “Aquele que tem ouvidos para ouvir,
ouça”, enquanto a misericórdia tem uma voz para chamar.

Uma objeção que eu encontro ser a mais comum na boca dos ímpios, especialmente nos
últimos anos é esta: eles dizem, “Não podemos fazer nada sem Deus, não podemos ter
graça se Deus não nos der, e, se Ele quiser, seremos rapidamente convertidos; se Ele não
nos predestinou, e não quiser nos converter, como podemos converter a nós mesmos e ser
salvos; não depende de quem quer ou de quem corre”. E assim eles pensam que estão des-
culpados. Eu respondi a isso anteriormente, e neste livro, mas permitam-me agora dizer isto:
1. Embora vocês não possam curar-se, vocês podem ferir e envenenar a si mesmos. É
Deus que deve santificar os vossos corações; mas quem os corrompe? Vocês deliberada-

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mente tomarão veneno, porque você não podem curar a si mesmos? Parece-me que vocês
deveriam desistir disso. Vocês tomariam mais cuidado de pecar, se vocês não pudessem
emendar o que o pecado estraga.

2. Embora vocês não possam ser convertidos sem a graça especial de Deus, ainda assim
vocês devem saber que Deus dá a Sua graça no uso dos Seus santos meios, que Ele de-
terminou para esse fim; e a graça comum pode permitir-lhes abandonar o vosso pecado
grosseiro (quanto ao ato externo) e utilizar esses meios. Vocês podem realmente dizer que
vocês fazem o que são capazes de fazer? Vocês não são capazes de deixar de ir à porta
da cervejaria, ou abandonar a companhia que lhes endurece em pecado? Vocês não são
capazes de ouvir a Palavra, e pensar no que ouviram quando chegarem em casa, e consi-
derarem consigo mesmos sobre a vossa própria condição e sobre as coisas eternas? Vocês
não são capazes de ler bons livros no dia a dia, pelo menos no Dia do Senhor, e de conver-
sar com aqueles que temem ao Senhor? Vocês não podem dizer que têm feito o que são
capazes.

3. E, portanto, vocês devem saber que podem perder a graça e a ajuda de Deus pelo seu
pecado intencional ou negligência, embora vocês não possam, sem a graça, converterem-
se a Deus. Se vocês não quiserem fazer o que podem, é justo que Deus negue a graça a
vocês, pela qual vocês poderiam fazer mais.

4. E, por decretos de Deus, vocês devem saber que eles não separam os meios dos fins,
mas os amarram unindo-os. Deus nunca decretou salvar alguém, senão o santificado, nem
condenar ninguém, exceto o não santificado. Deus tão verdadeiramente decretou se a vos-
sa terra, neste ano, será estéril ou frutífera, e exatamente por quanto tempo vocês viverão
no mundo, como Ele decretou se vocês serão salvos ou não, e ainda assim, vocês poderiam
pensar de um homem, senão que fosse tolo, se deixasse de arar e semear, e dissesse: “Se
Deus decretou que a minha terra dará milho, ela dará, se eu arar e semear ou não. Se Deus
já decretou que eu viverei, eu viverei, se eu comer ou não; mas se Ele não o fez, não é
comer que me manterá vivo”.

Vocês sabem como responder a tal homem, ou não? Se vocês souberem, então vocês
sabem como responder a si mesmos; pois o caso é semelhante com respeito ao decretos
de Deus, é tão decisivo sobre os vossos corpos quanto às vossas almas; se vocês soube-
rem, façam conclusões sobre os seus corpos, antes que se aventurem a tenta-las sobre as
vossas almas; vejam primeiramente se Deus manterá vocês vivos sem comida ou roupa, e
se Ele vai conceder-lhes milho sem preparo e labor, e se Ele os levará ao final do vossa
jornada sem esforço ou transporte; e, se vocês se saírem bem nisto, então experimentem

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se Ele vos levará para o Céu sem o vosso uso diligente dos meios, então sentem-se e
digam: “nós não podemos santificar a nós mesmos”.

Bem, senhores, eu farei apenas três solicitações a vocês, e concluo. Em primeiro lugar, que
vocês lerão seriamente este pequeno tratado; (e, se vocês têm tal necessidade em suas
famílias, que vocês o leiam uma e outra vez para eles; e se aqueles que temem ao Senhor
puderem ir agora, e depois, ao seu vizinho ignorante, e ler este ou algum outro livro para
eles sobre este assunto, eles podem ser meios de ganhar almas). Se não conseguimos es-
timular os homens a tão pequeno esforço, pela sua própria salvação, como ler tais peque-
nas instruções como estas, eles fazem pouco por si mesmos e querem, mui justamente,
perecer.

Em segundo lugar, quando vocês lerem este livro, eu vos suplico que estejam sozinhos, e
reflitam um pouco sobre o que já leram; reflitam, como que diante de Deus, se este é ou
não verdade, e se não toca intimamente as suas almas, e se não teve tempo de tocar vocês.
E também, vos peço, que vocês estejam sobre os seus joelhos clamando ao Senhor que
abra os seus olhos para que compreendam a verdade, e converta os seus corações ao
amor de Deus, e implorem a Ele por toda aquela graça salvífica que vocês por tanto tempo
negligenciaram, e sigam-no dia após dia até que os seus corações sejam transformados.
E, além disso, que vocês possam ir até os seus pastores (que estão estabelecidos sobre
vocês, para cuidar da saúde e segurança de suas almas, como o médico faz por seus cor-
pos), e desejem deles um direcionamento para que curso devam se direcionar, e familiari-
zem-se com eles sobre a vossa condição espiritual, para que vocês obtenham benefícios
de seus conselhos e auxílio ministerial. Ou, se vocês não tiverem um pastor fiel perto de
casa, façam uso de algum outro, por tão grande necessidade.

Em terceiro lugar, quando por meio da leitura, consideração, oração e conselho ministerial
vocês estiverem uma vez familiarizados com seu pecado e miséria, com o seu dever e re-
médio, não adiem, mas imediatamente abandonem as vossas companhias e trajetórias pe-
caminosas, convertam-se a Deus e obedeçam ao Seu chamado. Como vocês amam as
suas almas, cuidem para que não prossigam contra tão sonoro chamado de Deus, e contra
o seu próprio conhecimento e consciências, para que não ocorra pior com vocês no Dia do
Juízo do que com Sodoma e Gomorra. Investiguem sobre Deus, como um homem que está
disposto a conhecer a verdade e não a seja um trapaceiro intencional de sua alma. Exami-
nem a Santa Escritura diariamente, e vejam se estas coisas são assim ou não; julguem im-
parcialmente se é mais seguro confiar no Céu ou terra, e se é melhor seguir a Deus ou ao
homem, o espírito ou a carne, se é melhor viver em santidade ou em pecado e se é seguro
para vocês permanecerem mais um dia em um estado não santificado; e quando vocês
encontrarem o que é melhor, resolvam consistentemente, e façam a sua escolha sem mais
delongas.

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Se vocês serão fiéis às suas próprias almas, e não amam os tormentos eternos, peço-lhes,
como da parte do Senhor, que vocês apenas tomem este aviso razoável. Oh, que felizes
cidades e países, e que nação feliz nós teríamos, se pudéssemos apenas convencer os
nossos vizinhos a concordarem com uma movimentação tão necessária! Que homens ale-
gres todos os ministros seriam, se eles pudessem ver o seu povo verdadeiramente celestial
e santo; isto seria a unidade, paz, segurança e a glória de as nossas igrejas; a felicidade
de nossos vizinhos e o consolo de nossas almas. Assim, quão confortavelmente pregaría-
mos perdão e paz para vocês, e ministraríamos os sacramentos, que são os selos de paz
para vocês! E com que amor e alegria viveríamos em vosso meio! No vosso leito de morte,
quão corajosamente poderíamos consolar e encorajar as vossas almas que partem! E no
vosso enterro, quão confortavelmente poderíamos deixá-los na sepultura, na expectativa
de encontrar às vossas almas no Céu, e ver os seus corpos elevados àquela glória!

Mas, se a maioria de vocês ainda continuar em uma vida descuidada, ignorante, carnal,
mundana e impura, e todos os nossos desejos e labores não puderem, então, prevalecer
de forma a guarda-vos da condenação intencional de vocês mesmos; nós devemos, assim,
imitar o Senhor, que Se deleita naqueles poucos que são joias, e no pequeno rebanho que
receberá o reino, enquanto a maioria colherá a miséria que semeou. Na natureza, as coisas
excelentes são poucas. O mundo não tem muitos sóis ou luas; é apenas um pouco de terra
que é ouro ou prata. Príncipes e nobres são apenas uma pequena parte dos filhos dos
homens; e não há grande número de eruditos, judiciosos ou sábios aqui no mundo. E,
portanto, se a porta é estreita e mui apertada são apenas poucos os que encontram a sal-
vação, ainda assim, Deus terá a Sua glória e prazer nestes poucos. E quando Cristo vier
com Seus poderosos anjos em labaredas de fogo, tomar vingança daqueles que não co-
nhecem a Deus, e não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, Sua vinda
será glorificada em Seus santos e admirada por todos os verdadeiros crentes (2 Tessalo-
nicenses 1:7-10)

[...]

Leitor, eu terminei contigo, (quando tiveres percorrido este livro), mas o pecado ainda não
finalizou contigo, (mesmo aqueles que tu pensavas que haviam sido esquecidos há muito
tempo), e Satanás ainda não finalizou contigo, (embora agora ele esteja fora de vista) e
Deus ainda não concluiu contigo, porque tu não estás persuadido a ir até o fim com o pe-
cado mortal reinado sobre você. Eu escrevi a ti estas persuasões como alguém que está
entrando em outro mundo, onde as coisas são vistas como falei aqui, e como alguém que
sabe que tu mesmo brevemente deves estar ali.

Se alguma vez tu quiseres me encontrar com consolo diante do Senhor que nos fez; se
alguma vez tu quiseres escapar das finais pragas eternas preparadas para os negligencia-

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dores da salvação, e para todos aqueles não são santificados pelo Espírito Santo, e se tu
amarás a comunhão dos santos, como membros da santa Igreja católica; e se alguma vez
tu esperas ver o rosto de Cristo, o Juiz, e da majestade do Pai, com paz e conforto, e ser
recebido na glória, quando partires nu deste mundo; peço-te, eu te ordeno: ouça e obedeça
o chamado de Deus, e resolutamente, converta-te para que possas viver. Mas, se tu não
quiseres, mesmo quando tu não tenhas razão para isso, mas apenas porque tu não queres,
eu te invoco a responder por isso diante do Senhor, e exijo de ti que carregues o meu teste-
munho que te dei aviso, e que não foste condenado por falta de um chamado para con-
verter-se e viver, mas porque não acreditou nisso e nem o obedeceu; o que também deve
ser o testemunho de

Teu sério admoestador,

11 de dezembro de 1657, Richard Baxter.

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Perdão Para Os Maiores Pecadores
Por Jonathan Edwards

“Por amor do Teu nome, Senhor, perdoa minha iniquidade, pois é grande.”
(Salmos 25:11)

É evidente por algumas passagens deste Salmo, que quando foi escrito, era um momento
de aflição e perigo para Davi. Isto transparece particularmente até o 15º e seguintes versos:
“Meus olhos estão sempre voltados para o Senhor; pois ele tirará os meus pés da rede”, e
etc. Seu sofrimento o faz pensar de seus pecados, e leva-o a confessá-los e clamar a Deus
por perdão, como é apropriado em um momento de aflição. Veja o verso 7: “Não te lembres
dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões”; e verso 18: “Olha para
a minha aflição, e minha dor, e perdoa todos os meus pecados”.

É observável no texto que argumentos o salmista usa ao implorar por perdão.

1. Ele implora perdão por causa do nome de Deus. Ele não tem nenhuma expectativa de
perdão por causa de qualquer justiça ou merecimento dele por quaisquer boas ações que
ele tenha feito, ou por qualquer compensação que havia feito por seus pecados; mesmo
que se a justiça de um homem pudesse ser usada como argumento, Davi teria tido tantos
argumentos quanto a maioria. Mas ele implora que Deus o perdoe por causa de Seu próprio
nome, por Sua própria glória, pela glória da Sua própria livre graça, e pela honra da Sua
própria fidelidade.

2. O salmista usa a grandeza de seus pecados como argumento para misericórdia. Ele não
apenas não usa sua justiça própria como argumento, ou a insignificância de seu pecado;
ele não apenas não diz: “Perdoa minha iniquidade, pois eu tenho feito tanto para compensá-
las”; ou “Perdoa minha iniquidade, pois é pequena, e Tu não tens tanta razão para estar
zangado comigo; minha iniquidade não é tão grande que Tu tenhas qualquer justa causa
para usá-la contra mim; minha ofensa não é tal que não possas negligenciá-la”, mas ao
contrário, ele diz: “Perdoe minha iniquidade, pois ela e grande”; ele argumenta a grandeza
de seu pecado, não a pequenez dele; ele reforça sua oração com essa consideração, que
seus pecados são muito hediondos.

Mas como ele podia fazer disso um pleito para perdão? Eu respondo: Porque quanto maior
sua iniquidade, maior a necessidade tinha de perdão. É como se ele tivesse dito, “Perdoe
minha iniquidade, pois ela é tão grande que eu não posso suportar a punição; meu caso
será excessivamente miserável, a não ser que Te agrades em me perdoar”. Ele faz uso da

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grandeza do seu pecado, para reforçar seu apelo por perdão, como um homem usaria uma
grande calamidade para implorar por alívio. Quando um mendigo implora por pão, ele argu-
mentará sua grande pobreza e necessidade.

Quando um homem em perigo implora por piedade, que argumento mais adequado pode
ser usado além da extremidade do seu caso? E Deus permite tal argumento como este, po-
is ele não é movido à misericórdia para conosco por nada em nós, além da grande miséria
do nosso caso. Ele não se apieda de pecadores porque são dignos, mas por eles precisam
de Sua compaixão.

DOUTRINA: Se nós realmente formos a Deus por misericórdia, a grandeza do nosso


pecado não será impedimento para perdão. Se fosse um impedimento, Davi jamais teria
usado isso como argumento, como vemos que ele faz neste texto.

As seguintes coisas são necessárias a fim de realmente irmos a Deus por misericórdia:

I. Devemos ver a nossa miséria, e nos sensibilizarmos da nossa necessidade de misericór-


dia. Os que não estão conscientes de sua miséria não podem realmente olhar a Deus por
misericórdia; pois é a própria noção da misericórdia Divina, que é a bondade e a graça de
Deus para com o miserável. Sem miséria no objeto, não pode haver exercício da miseri-
córdia. Supor misericórdia sem supor miséria, ou compaixão sem calamidade é uma contra-
dição. Portanto os homens não podem olhar para si mesmos como apropriados objetos de
misericórdia, a menos que eles primeiro conheçam a si mesmos como miseráveis; e então,
a não ser que este seja o caso, é impossível que eles vão a Deus por misericórdia. Eles de-
vem perceber que são filhos da ira; que a lei está contra eles, e que estão expostos à mal-
dição dela: que a ira de Deus permanece sobre eles; e que Ele está irado com eles todos
os dias enquanto estão debaixo da culpa do pecado. Eles precisam sensibilizarem-se de
que a culpa do pecado faz deles criaturas miseráveis, não importando qual alegria temporal
eles tenham; que eles não podem ser nada além de miseráveis, criaturas desfeitas, enquan-
to Deus está zangado com eles; que eles estão sem força, e devem perecer, e isto eterna-
mente, a não ser que Deus os ajude. Eles precisam ver que o caso deles é de completo
desespero, por qualquer coisa ou qualquer um possa fazer por eles; que eles pairam sobre
o abismo da miséria eterna; e que eles necessariamente devem cair nele, se Deus não tiver
misericórdia deles.

II. Eles devem ser sensíveis que não são dignos da misericórdia de Deus. Aqueles que real-

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mente vêm a Deus por misericórdia, vêm como mendigos, e não como credores. Eles vêm
por mera misericórdia. Por graça soberana, e não por qualquer coisa que lhes é devido.
Portanto, eles devem ver que a miséria sob a qual estão é justamente trazida a eles, e que
a ira na qual estão expostos é ameaçado contra eles justamente também; e que eles têm
merecido que Deus seja seu inimigo. Eles devem ser sensíveis que seria justo da parte de
Deus fazer como Ele ameaçou em sua santa Lei, isto é, fazer deles objetos da Sua ira e
maldição no inferno por toda a eternidade. Aqueles que vêm a Deus por misericórdia de
uma maneira correta não estão dispostos a achar falta em Sua severidade, mas eles vêm
num senso de sua completa indignidade, como com cordas em seus pescoços, e deixados
no pó aos pés da misericórdia.

III. Eles devem vir a Deus por misericórdia em e através de Jesus Cristo somente. Toda
sua esperança de misericórdia deve vir da consideração de quem Ele é, do que Ele fez e
do que Ele sofreu; e que não há outro nome dado debaixo do céu, entre os homens, pelo
qual possamos ser salvos, além do nome de Cristo; que Ele é o Filho de Deus, e o Salvador
do mundo; que o Seu sangue limpa todo pecado, e que Ele é tão digno, que todos os peca-
dores que estão nEle podem ser perdoados e aceitos. É impossível que qualquer um venha
a Deus por misericórdia, e ao mesmo tempo não tenha nenhuma esperança de misericór-
dia. A vinda deles a Deus por misericórdia, implica que eles têm alguma esperança de obtê-
la, de outro modo eles não pensariam valer a pena o tempo de vir. Mas aqueles que vêm
de maneira correta têm toda sua esperança através de Cristo, ou da consideração de sua
redenção e suficiência dela. Se pessoas assim vêm a Deus por misericórdia, a grandeza
de seus pecados não será impedimento de perdão. Deixe que seus sejam tantos, e gran-
des, e graves isso não fará Deus nem um grau menos disposto a perdoá-los. Isso pode ser
evidenciado pelas seguintes considerações:

1. A misericórdia de Deus é tão suficiente para o perdão de grandes pecados quanto para
os menores; e isso porque Sua misericórdia é infinita. O que é infinito está muito acima do
que é grande, Ele está tão acima dos reis como ele está acima dos mendigos; Ele está tão
acima do maior anjo, como está do pior verme. Uma medida finita não chega nem perto da
extensão do que é infinito. Então a misericórdia de Deus sendo infinita, deve ser tão sufici-
ente para o perdão de todo pecado quanto de um só. Se um dos menores pecados não
está além da misericórdia de Deus, então também não está o maior, ou dez mil deles. No
entanto, deve-se reconhecer que isso apenas não prova a doutrina. Pois apesar de que a
misericórdia de Deus possa ser suficiente, e ainda sim os outros atributos podem se opor
à dispensação de misericórdia em outros casos. Portanto eu observo,

2. A satisfação do sacrifício de Cristo é tão suficiente para a remoção da maior culpa quanto

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da menor, 1 João 1:7: “O sangue de Cristo purifica de todo pecado”. Atos 14:39: “Por ele
todo aquele que crê é justificado de todas as coisas que não pudestes ser justificados pela
lei de Moisés”. Todos os pecados daqueles que verdadeiramente vêm a Deus por misericór-
dia, sejam o que forem, são propiciados, se Deus é verdadeiramente o que nos diz ser; e
se eles são satisfeitos, certamente não é incrível que Deus estaria pronto para perdoá-los.
Sendo o sacrifício de Cristo completamente satisfeito por todo pecado, ou tendo operado a
satisfação que é suficiente por todos, não é, agora, nem um pouco inconsistente com a
glória do atributo Divino perdoar os maiores pecados daqueles que vêm de uma maneira
correta até Ele por perdão. Deus pode agora perdoar os maiores pecadores sem nenhum
prejuízo à honra de Sua santidade. A santidade de Deus não O deixa mostrar uma menor
severidade ao pecado, mas O inclina a dar testemunhos apropriados ao Seu ódio ao peca-
do. Mas Cristo tendo satisfeito por todo pecado, Deus pode agora amar o pecador, e não
mostrar nenhuma severidade ao pecado, por mais terrível que o pecador tenha sido. Foi
um suficiente testemunho da aversão de Deus ao pecado, que Ele derramou Sua ira em
Seu próprio Filho amado, quando Ele assumiu a culpa sobre si. Nada pode demostrar me-
lhor o ódio de Deus ao pecado do que isso. Se toda a humanidade tivesse sido eternamente
condenada não teria sido tão grande testemunho quanto este.

Deus pode, através de Cristo, perdoar os grandes pecadores sem nenhum prejuízo à honra
de Sua majestade. A honra da Divina majestade de fato requer satisfação; mas os sofrimen-
tos de Cristo reparam completamente o dano. Que o desprezo seja sempre tão grande,
ainda sim se tão honrável Pessoa como Cristo se compromete a ser um Mediador para o
infrator, e sofre muito por ele, isso repara completamente o dano causado à Majestade do
céu e da terra. Os sofrimentos de Cristo satisfazem completamente a justiça. A justiça de
Deus, como supremo Governador e Juiz do mundo, requer punição para o pecado. O su-
premo Juiz deve julgar o mundo de acordo com uma regra de justiça. Deus não mostra mi-
sericórdia como um soberano, e Sua justiça como um Juiz deve ser feita de maneira con-
sistente um com o outro; e isso é feito através dos sofrimentos de Cristo, no qual o pecado
é completamente punido, e justiça é satisfeita. Romanos 3:25-26: “Ao qual Deus propôs
para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos
pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça
neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”.
A Lei não é impedimento no caminho do perdão dos grandes pecados, se os homens vierem
verdadeiramente a Deus por misericórdia, pois Cristo cumpriu a Lei, Ele suportou a maldi-
ção dela em Seus sofrimentos, Gálatas 3:13: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazen-
do-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no
madeiro”.

3. Cristo não se recusará a salvar grandes pecadores, que de maneira correta vierem a

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Deus por misericórdia; pois esta é Sua obra. É o Seu ofício ser um salvador de pecadores;
é o trabalho para qual Ele veio ao mundo; e portanto, Ele não se negará a fazê-lo. Ele não
veio para chamar os justos, mas pecadores ao arrependimento (Mateus 9:13). O pecado é
o próprio mal que Ele veio ao mundo para remediar, portanto Ele não se oporá a nenhum
homem por ele ser muito pecaminoso. Quanto mais pecaminoso ele for, mais há a neces-
sidade de Cristo. A pecaminosidade do homem foi a razão da vinda de Cristo ao mundo;
está é a mesma miséria da qual Ele veio libertar os homens. Quanto mais eles os têm, mais
eles precisam ser libertos; “Os sãos não precisam de médico, apenas os que estão doentes”
(Mateus 9:12). O médico não se oporá a curar o homem que o solicita, que está em grande
necessidade de ajuda dele. Se um médico compassivo vai entre doentes e feridos, certa-
mente ele não se recusará a curar aqueles que estão em maior necessidade de cura, se
ele é capaz de curá-los.

4. Aqui a glória da graça pela redenção de Cristo deve consistir em Sua suficiência para o
perdão dos maiores pecadores. A totalidade da ideia do caminho da salvação é para este
fim, para glorificar a graça gratuita de Deus. Deus tinha em Seu coração por toda a eterni-
dade, glorificar este atributo; e, portanto, o dispositivo de salvar pecadores por Cristo foi
concebido. A grandeza da Divina graça muito aparece nisso que Deus por Cristo salva
grandes infratores. Quanto maior culpa de qualquer pecador, mais gloriosa e maravilhosa
é a graça manifestada em seu perdão, Romanos 5:20: “onde o pecado abundou, supera-
bundou a graça”. O apóstolo, ao contar quão grande pecador ele tinha sido, observa a graça
abundante em seu perdão, na qual sua grande culpa era a ocasião: 1 Timóteo 1:13: “A mim,
que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz
ignorantemente, na incredulidade”. O Redentor é glorificado, no que Ele prova ser suficiente
para a redenção daqueles que são excessivamente pecadores, no que Seu sangue prova
suficiência para lavar a maior culpa, no que Ele é capaz de salvar homens até o fim, e no
que Ele redime mesmo da maior miséria. Esta é a honra de Cristo por salvar grandes peca-
dores: quando eles vêm até Ele, como é a honra de um médico que cura a mais deses-
peradora doença ou ferida. Portanto, sem dúvida, Cristo estará disposto a salvar grandes
pecadores, se eles vierem a Ele; pois Ele não se negará a glorificar a Si mesmo, e para
recomendar o valor e a virtude de Seu próprio sangue. Vendo que Ele se dispôs a redimir
pecadores, Ele não estará indisposto a redimir os pecadores, Ele não vai estar indisposto
a mostrar que Ele é capaz de redimir até ao fim.

5. Perdão é tão oferecido e prometido para os grandes pecadores como para qualquer ou-
tro, se eles vierem de maneira correta a Deus. Os convites do Evangelho estão sempre em
termos universais: como, aquele que tem sede; venham a mim todos que estão cansados
e oprimidos; e, quem quiser, venha. E a voz da Sabedoria é para os homens em geral:
Provérbios. 8:4 “A vós, ó homens, clamo; e a minha voz se dirige aos filhos dos homens”.

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Não para homens moralistas, ou homens religiosos, mas para você, homem. Então Jesus
promete em João 6:37: “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Está é a
direção de Cristo para Seus apóstolos, depois de Sua ressurreição, Marcos 16:15,16: “Ide
e pregai o evangelho a toda criatura: quem crer e for batizado, será salvo”. O que está de
acordo com o que o apóstolo disse, que “o evangelho tem sido proclamado a toda criatura
que está debaixo céu” (Colossenses 1:23).

APLICAÇÃO

O uso apropriado desse assunto é encorajar pecadores cuja consciência está pesada com
um senso de culpa, para imediatamente irem a Deus através de Cristo por misericórdia. Se
vocês forem na maneira que descrevemos, os braços estão abertos para abraçá-los. Vocês
não precisam de maneira alguma sentir mais medo de vir a Deus por causa de seus peca-
dos, mesmo que sejam tão terríveis. Se vocês tivessem tanta culpa sobre cada uma de su-
as almas como todos os homens perversos do mundo e todas as almas condenadas no
inferno; ainda sim se vocês vierem a Deus por misericórdia, sensíveis de sua própria vileza,
e buscando perdão apenas pela misericórdia gratuita de Deus através de Cristo, vocês não
precisariam ter medo; a grandeza dos seus pecados não seria impedimento para perdão.
Portanto, se suas almas estão pesadas e vocês estão angustiados por medo do inferno,
vocês não precisam mais suportar esse peso e angústia. Se vocês estão apenas dispostos,
vocês poderão gratuitamente vir e aliviarem a si mesmos, e lançar todo o seu peso em
Cristo, e descansar nEle.

Mas aqui eu falarei sobre algumas OBJEÇÕES que alguns pecadores despertados podem
estar prontos a fazer contra o que eu acabei de exortá-los.

I. Alguns podem estar prontos para objetar: “Eu gastei toda minha juventude e tudo de me-
lhor da minha vida no pecado, e eu temo que Deus não me aceite quando eu ofertar a Ele
apenas a minha velhice”, a isto eu respondo:

1. Deus disse em algum lugar que Ele não aceitará pecadores idosos que vêm a Ele? Deus
fez com frequência ofertas e promessas em termos universais; e há alguma exceção colo-
cada nelas? Por acaso Cristo disse: Todos que têm sede, venham a mim e beba, exceto
os pecadores idosos? Venham a mim todos que estais cansados e sobrecarregados, exceto
os pecadores velhos, e vos darei descanso? Aquele que vier a mim, eu de maneira alguma
o lançarei fora, se ele não for um pecador velho? Vocês já leram alguma dessas exceções
em algum lugar na Bíblia? E porque vocês devem ceder a exceções que vocês criam em

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suas próprias cabeças, ou melhor, que o Diabo põe nas suas cabeças, e que não têm fun-
damento na Palavra de Deus? De fato é mais raro que pecadores idosos estejam dispostos a
vir do que outros; mas se eles vierem, serão tão prontamente aceitos como qualquer outro.

2. Quando Deus aceita pessoas jovens, não é por causa do serviço que eles farão para Ele
depois, ou porque a juventude vale mais do que a idade avançada. Vocês parecem errar
inteiramente na questão em pensar que Deus não aceitará vocês porque são idosos, que
Ele aceita prontamente pessoas jovens, por que suas juventudes são mais dignas de acei-
tação; enquanto que é apenas por causa de Jesus Cristo que Deus está disposto a aceitar
qualquer um.

Vocês dizem que suas vidas estão quase gastas e que vocês têm medo que o melhor tempo
de servir a Deus passou; e que portanto Deus não irá aceitá-los; como se fosse por causa
do serviço que as pessoas fazem para Ele, depois de serem convertidos, que Ele os aceita;
um espírito de justiça própria está no fundo de tal objeção. Homens não podem tirar a noção
que é por alguma bondade ou serviço próprios, feitos ou esperados, que Deus aceita pes-
soas e os recebe em favor. De fato que aqueles que negaram a Deus em sua juventude, a
melhor parte de suas vidas, e gastaram-na no serviço de Satanás, terrivelmente pecaram
e provocaram a Deus; e Ele frequentemente os deixa na dureza de coração quando se tor-
nam idosos, ainda assim se eles estão dispostos a vir a Cristo quando idosos, Ele está tão
pronto a recebê-los quanto a qualquer outro, pois nessa questão Deus tem respeito apenas
a Cristo e Seu mérito.

II. Mas, diz alguém, eu temo que eu tenha cometido pecados que são peculiares a réprobos.
Eu tenho pecado contra luz e fortes convicções de consciência; eu tenho pecado presunço-
samente e tenho resistido aos esforços do Espírito de Deus, que eu temo ter cometido tais
pecados como nenhum dos eleitos de Deus jamais cometeu. Eu não posso pensar que
Deus deixará quem Ele intenta salvar continuar e cometer pecados contra tanta luz e con-
vicção, e com tão horrível presunção. Outros podem dizer: Eu tive exaltações de coração
contra Deus; pensamentos blasfemos, um espírito rancoroso e mal-intencionado, tenho
abusado da misericórdia e dos esforços do Espírito, pisado no Salvador e meus pecados
são tão peculiares àqueles que são reprovados à condenação eterna. Para tudo isso eu
respondo:

1. Não existem pecados peculiares a réprobos a não ser o pecado contra o Espírito de
Deus. Você já leu sobre algum outro na Palavra de Deus? E se você não leu em nenhum
lugar, que fundamento você tem para pensar tal coisa? Que outra regra nós temos para jul-
gar tais questões a não ser a Palavra Divina? Se nos aventurarmos a ir além dela, nós

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estaremos miseravelmente no escuro. Quando nós pretendemos, em nossas determina-
ções, ir além da Palavra de Deus, Satanás nos surpreende e nos arrebata. Parece que para
você tais pecados são peculiares a réprobos, e tais Deus nunca perdoa, porém que razão
você pode dar para eles se você não tem a Palavra de Deus para revelá-las? É por que
você não pode ver que a misericórdia de Deus é suficiente para perdoar, ou que o sangue
de Cristo pode limpar tais pecados presunçosos? Se é assim, você nunca verá a suficiência
do sangue de Cristo, e você não sabe quão longe sua virtude se estende. Algumas pessoas
eleitas sentiram culpa de todo tipo de pecado, exceto pecado contra o Espírito Santo, e a
menos que você seja culpado disso, você não tem sido culpado de nada que é peculiar a
réprobos.

2. Os homens podem ser menos propensos a acreditar, pelos pecados que cometeram, e
não menos prontamente perdoado quando eles acreditam. Deve-se reconhecer que alguns
pecadores estão em mais perigo do inferno do que outros. Embora todos estão em grande
perigo, alguns são menos propensos a serem salvos. Alguns tem menos probabilidade de
serem convertidos e virem a Cristo: Mas todos que vêm a Ele são igualmente aceitos; e há
tanto encorajamento para um homem vir a Cristo como para qualquer outro. Tais pecados
que vocês mencionam são de fato extremamente hediondos e provocativos contra Deus e
de uma especial maneira trazem à alma o perigo da condenação e o perigo do endureci-
mento final do coração; e Deus mais comumente desiste de homens para o julgamento de
dureza final por tais pecados. Mas ainda assim não são peculiares a réprobos; existe ape-
nas um pecado que o é: aquele contra o Santo Espírito. E não obstante se vocês podem
encontrar em seus corações a vontade de vir a Cristo, e submeterem a Ele, vocês não
serão aceitos menos prontamente por terem cometido tais pecados. Embora Deus mais
raramente faz com que tais tipos de pecadores venham a Cristo do que outros, não é por
que Sua misericórdia ou a redenção de Cristo não seja suficiente para eles como para
outros, mas porque em sabedoria Ele vê adequado assim dispensar Sua graça para um
homem perverso; e porque está em Sua vontade dar a graça da conversão no uso de meios,
entre os quais este é um, levar uma vida religiosa e moral e de acordo com nossa luz e as
convicções de nossas consciências. Mas quando uma vez qualquer pecador está disposto
a ir a Cristo, a misericórdia está tão pronta para ele quanto para qualquer outro. Não há ne-
nhuma consideração dos pecados dele, mesmo que sejam tão pecaminosos, seus pecados
não são lembrados; Deus não os censura.

III. “Mas é melhor eu ficar até que tenha me feito melhor antes de eu presumir ir a Cristo.
Eu tenho sido, e vejo a mim mesmo, muito perverso agora; mas estou com esperança de
concertar a mim mesmo, e tornando-me pelo menos não tão perverso, então eu terei mais
coragem de vir a Deus por misericórdia”. Em resposta a isso,

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1. Considerem como vocês agem irracionalmente: Vocês estão lutando para se tornarem
os seus próprios salvadores; vocês estão lutando para conseguir algo de si mesmos, por
conta de que vocês possam ser mais prontamente aceitos. Então com isso vocês não bus-
cam serem aceito apenas por causa de Cristo. E isso não é roubar a glória de Cristo de ser
seu único salvador? Ainda sim este é o modo no qual vocês têm esperanças de fazer Cristo
disposto a salvar vocês.

2. Vocês nunca poderão vir a Cristo a não ser que vocês vejam primeiro que Ele não os a-
ceitará mais prontamente por nada que vocês possam fazer. Vocês devem primeiro ver que
é totalmente em vão que vocês tentem fazer a si mesmos melhores por tal razão. Vocês
devem perceber que nunca poderão fazer a si mesmos mais dignos, ou menos dignos, por
qualquer coisa que possam fazer.

3. Se alguma vez vocês realmente vierem a Cristo, vocês devem ver que há o suficiente
nEle para seu perdão, embora vocês não sejam melhores do que são. Se você não vê a
suficiência de Cristo para o seu perdão, sem nenhuma justiça sua para o recomendar, você
nunca virá de forma a ser aceito por Ele. A maneira de ser aceito é vir não com tal encora-
jamento, que agora você fez a si mesmo melhor e mais digno, ou não tão indigno, mas com
o mero encorajamento do valor e mérito de Cristo e da misericórdia de Deus.

4. Se vocês alguma vez vierem a Cristo, vocês devem vir para que Ele faça com que vocês
se tornem melhores. Vocês devem vir como um paciente vai ao seu médico, com suas do-
enças e feridas para serem curadas. Derrame toda sua perversidade diante dEle, e não ar-
gumente sua bondade; mas sua maldade e sua necessidade nesse aspecto: e diga, como
o salmista no texto — não perdoe minha iniquidade, pois não é tão grande como era —
mas: “Perdoe minha iniquidade, pois ela é grande”.

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JESUS!
(Sermão Nº 1434)

Pregado na manhã do Dia do Senhor, 15 de setembro de 1878.


Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

“E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS;


porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mateus 1:21)

Bernardo deliciosamente disse que o nome de Jesus é mel para a boca, melodia para o ou-
vido e alegria para o coração. Alegro-me com essa expressão no que me diz respeito, pois
ela me dá o prazer que me cabe e me leva a esperar que, enquanto eu estou falando, a do-
çura do precioso nome de Jesus venha a encher minha própria boca. Aqui, também, há
uma porção para vocês que estão ouvindo, é melodia para os ouvidos! Mesmo que minha
voz venha a ser dura e as minhas palavras discordantes, vocês ainda podem ter música de
ordem excelente, pois o nome em si é essencial melodia e todo o meu sermão vai badalar
com sua nota de prata! Que ministro e ouvinte juntem-se à terceira palavra da frase de Ber-
nardo e que possamos todos nós tê-lo como alegria em nossos corações, um jubileu dentro
de nossas almas! Jesus é o caminho para Deus, por isso vamos pregá-lO! Ele é a verdade,
por isso vamos ouvir dEle! Ele é a vida, portanto que nossos corações se alegrem nEle! Tão
indescritivelmente perfumado é o nome de Jesus que dá um delicioso perfume a tudo o que
está conectado com ele.

Nossos pensamentos vão voltar-se, nesta manhã, ao primeiro uso do nome em conexão
com o nosso Senhor, quando a criança que ainda estava para nascer foi chamada Jesus.
Aqui encontramos tudo sugestivo a consolo. A pessoa a quem esse nome foi revelado pela
primeira vez foi José, um carpinteiro, um homem humilde, um homem trabalhador, desco-
nhecido e medíocre, exceto pela justiça de seu caráter. Para o artesão de Nazaré foi esse
nome primeiramente comunicado! Não é, portanto, um título a ser monopolizado pelos ouvi-
dos dos príncipes, sábios, sacerdotes, guerreiros ou homens de riqueza, é um nome a ser
feito uma palavra familiar entre as pessoas comuns! Ele é o Cristo do povo, pois nos tempos
antigos foi dito dEle: “Eu exaltei um escolhido dentre o povo”. Que cada carpinteiro e cada
trabalhador de todo tipo se alegre com todos os outros tipos de homens no nome de Jesus!

Há consolo no mensageiro que revelou esse nome a José, pois era o anjo do Senhor que,
nas visões da noite, sussurrou esse nome encantador em seu ouvido e, a partir daí, os ale-
grou o anjo por vir com ele? Então há um laço de simpatia entre nós e os espíritos angelicais
e viemos, no dia de hoje, não somente “à universal assembleia e igreja dos primogênitos”,

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[Hebreus 12:23], mas “a uma incontável companhia de anjos”, por quem esse nome é consi-
derado com reverente amor!

Também não é a condição de José, quando ouviu este nome, completamente sem instru-
ção. O anjo falou com ele em um sonho, esse nome é tão suave e doce que ele não inter-
rompe o descanso de ninguém, mas sim produz uma paz inigualável, a paz de Deus! Com
tal sonho, o sono de José foi mais abençoado do que o seu despertar. O nome tem sempre
esse poder, pois, para aqueles que o conhecem, Ele revela uma glória mais brilhante do
que os sonhos jamais ilustraram! Sob Seu poder, jovens tem visões e os velhos sonham so-
nhos, e estes não zombam deles, mas são profecias fiéis e verdadeiras! O nome de Jesus
traz à nossa mente uma visão de glória nos últimos dias, quando Jesus reinará de polo a
polo, e ainda outra visão de glória indizível quando o Seu povo estará com Ele onde Ele
está!

O nome de Jesus foi doce a princípio por causa das palavras que o acompanharam, pois
elas tinham como objetivo remover a perplexidade da mente de José e algumas delas foram
ditas assim: “Não temas”. Em verdade, nenhum nome pode banir o medo como o nome de
Jesus! Ele é o começo da esperança e o fim do desespero! Deixe só o pecador ouvir sobre
“o Salvador”, e ele se esquece de morrer! Ele espera viver! Ele se levanta da apatia mortal
de seu desespero e, olhando para cima, ele vê um Deus reconciliado e não teme mais. Es-
pecialmente, irmãos e irmãs, este nome está cheio de raras delícias, quando meditamos
sobre a preciosidade infinita da pessoa a quem foi atribuído. Ah, aqui está a vara de Jônatas
pingando mel de cada ramo e aquele que o prova terá os seus olhos iluminados [1 Samuel
14:27]! Nós não temos um Salvador comum, pois nem terra, nem Céu poderiam produzir
Seu igual!

No momento em que o nome foi dado, Sua pessoa completa não tinha sido vista por olhos
mortais, pois Ele estava ainda escondido. Mas logo Ele saiu, tendo nascido de Maria por
obra do Espírito Santo! Um homem incomparável, Ele tem a nossa natureza, mas não a
nossa corrupção! Ele foi feito em semelhança da carne do pecado, mas ainda na Sua carne
não há pecado! Esse santo é o Filho de Deus e, ainda assim Ele é o Filho do Homem! Esta
extraordinária excelência da natureza faz o Seu nome mais precioso! Vou pedir o exercício
de sua paciência enquanto eu considero sete coisas em referência a esse nome arreba-
tador. É como um bálsamo derramado e seu aroma é tão variado que contém a essência
de todas as fragrâncias. Estes sete pontos vão ser vistos muito claramente por você, se vo-
cê continuar a olhar para o texto e sua conexão.

I. Primeiro, iremos observar que O NOME DE JESUS É UM NOME DIVINAMENTE DETER-


MINADO E EXPOSTO.

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De acordo com o texto, o anjo trouxe uma mensagem do Senhor e disse: “E lhe porás o no-
me de Jesus”. É um nome que, como Ele que o leva, desceu do Céu. Nosso Senhor tem
outros nomes de funções e relacionamentos, mas este é especialmente e peculiarmente
Seu próprio nome pessoal e é o Pai que deu esse nome a Ele. Tenha certeza, portanto,
que é o melhor nome que Ele podia receber! Deus não teria Lhe dado um nome de valor
secundário, ou sobre o qual houvesse um traço de desonra. O nome é o maior, mais brilhan-
te e mais nobre de todos os nomes: é a glória de nosso Senhor para ser um Salvador. Para
o melhor que já foi nascido de mulher, Deus deu o melhor nome que qualquer filho do ho-
mem poderia receber. JESUS é o nome mais apropriado que o nosso Senhor poderia re-
ceber. Disso estamos muito certos, pois o Pai sabia tudo sobre Ele e poderia chamá-lO
apropriadamente. Ele sabe muito mais sobre o Senhor Jesus Cristo do que todos os santos
e anjos juntos, pois: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai”.

Deus O conhecia perfeitamente e Lhe deu o nome de Jesus. Podemos estar certos, então,
de que nosso Senhor é, mais do que tudo, o Salvador e é melhor descrito por esse termo.
Deus, o Pai, que melhor O conhece, vê essa como sua maior característica, que Ele é o
Salvador e é melhor representado pelo nome “Jesus”. Já que a infinita sabedoria o esco-
lheu, podemos ter certeza de que é um nome que deve ser verdadeiro e deve ser verificada
por fatos de nenhuma ordem mediana. Deus, que não pode ser confundido, o chama de
Jesus, o Salvador e, por isso, Jesus, o Salvador Ele deve ser grandemente — continuamen-
te, abundantemente e de forma mais aparente! Nem irá Deus se recusar a aceitar a obra
que Ele realizou, uma vez que pelo dom desse nome Ele O encarregou de salvar os peca-
dores. Quando suplicamos o nome de Jesus diante de Deus, nós trazemos-lhe sua própria
Palavra e apelamos a Ele por seu próprio decreto e ação.

Não é o nome de Jesus para ser visto com prazer reverencial por cada um de nós, quando
nos lembramos de onde Ele veio? Ele não é um Salvador de nossa própria criação, mas
Deus, o Pai eterno O designou como nosso Libertador e Salvador, dizendo: “E lhe porás o
nome de JESUS”. É um nome que o Espírito Santo explica, pois Ele nos diz a razão para o
nome de Jesus: “porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. “Salvador” é o signi-
ficado do nome, mas tem um sentido mais completo e profundo escondido, pois em sua for-
ma hebraica significa, “a salvação do Senhor”, ou “o Senhor da salvação” ou “o Salvador”.
O anjo interpreta, “Ele salvará “, e a palavra para “Ele”, é muito enfática.

De acordo com muitos estudiosos, o nome Divino, o título incomunicável do Altíssimo está
contido em “Yeshua”, a forma hebraica de Jesus, para que, plenamente, a palavra signifique
“Jeová Salvador”, e resumidamente signifique “Salvador”. Ele é dado ao nosso Senhor, por-
que “Ele salva”, não de acordo com qualquer salvação temporária e comum, dos inimigos
e problemas, mas ele salva de inimigos espirituais e especialmente dos pecados. Josué do

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passado foi um salvador, Gideão foi um salvador, Davi era um salvador, mas o título é dado
ao nosso Senhor acima de todas as outras pessoas, porque Ele é o Salvador, em um senti-
do em que ninguém é ou pode ser — Ele salva o Seu povo dos seus pecados! Os judeus
estavam à procura de um Salvador, eles esperavam por um que iria quebrar o jugo romano
e salvá-los de serem sujeito à servidão a uma potência estrangeira! Mas nosso Senhor
Divino não veio para tal finalidade. Ele veio para ser o Salvador de um tipo mais espiritual
e para quebrar completamente outro jugo, salvando seu povo de seus pecados. A palavra
“salvar”, é muito rica em significado, seu pleno e exato vigor dificilmente pode ser atribuído
a palavras em português. Jesus é a salvação no sentido de libertação e também no de pre-
servação. Ele dá saúde. Ele é tudo o que é salutar para o Seu povo. No sentido mais amplo
e completo Ele salva o Seu povo.

A palavra original significa preservar, manter, proteger do perigo e assegurar. Os signifi-


cados grandiosos geralmente habitam nas palavras mais curtas e, neste caso, a palavra
“salvar”, é um poço onde o prumo demora a encontrar um fundo! Jesus traz uma grande
salvação, ou como diz Paulo: “tão grande salvação”, assim como ele sentiu que nunca po-
deria estimar sua grandeza (Hebreus 2:3). Ele também fala dela como “salvação eterna”
(Hebreus 5:9), e mesmo como disse Isaías: “Israel será salvo no Senhor, com uma salvação
eterna” (Isaías 45:17). Imensuravelmente glorioso é o nome “Jesus”, como é divinamente
exposto para nós, pelo que a própria exposição do Deus eterno garante o sucesso do Sal-
vador!

Ele declara que Ele salvará Seu povo e salvar o Seu povo Ele irá. Deus O coloca diante de
nós como:

“Jesus, Salvador, Filho de Deus,


Portador de carga do pecador.”

Assim, temos um nome, queridos amigos, que não temos de explicar por nós mesmos. Co-
mo não o escolhemos, então não somos deixados para O expor, Deus foi quem deu o texto
e quem pregou-nos o sermão! Aquele, que deu o nome foi quem nos deu a razão para isso,
de modo que não somos deixados na ignorância ou incerteza. Poderíamos ter dito: “Sim,
seu nome é Jesus, mas se refere a uma salvação que estava em rigor na antiguidade”. Mas
não, a Palavra do Senhor nos diz: “E lhe porás o nome de JESUS, porque Ele salvará o
seu povo dos seus pecados”, e isto é para todos os tempos, já que Ele sempre tem um po-
vo e essas pessoas sempre precisam ser salvas dos seus pecados! Alegremo-nos por ter-
mos um tal Salvador e pelo nome de Jesus reter toda a doçura e poder que ele já teve e
deve retê-los até que todas as pessoas escolhidas sejam salvas; e, então, para todo o
sempre.

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Além disso, além de expor este nome, o Espírito Santo, pelo evangelista Mateus, se agra-
dou de nos referir ao sinônimo dele e assim dar-nos o seu significado por comparação.
Deixe-me ler os próximos versículos. “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi
dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco” [Mateus
1:22-23]. Se, quando nosso Senhor nasceu e foi nomeado, “JESUS”, a antiga profecia que
dizia que ele deveria ser chamado de Emanuel foi cumprida [veja Isaías 7:14], segue-se
que o nome “JESUS”, tem um significado equivalente ao de “EMANUEL” e que seu signifi-
cado potencial é “Deus conosco”.

Na verdade, irmãos e irmãs, Ele é Jesus, o Salvador, porque Ele é o Emanuel, Deus conos-
co! E assim que Ele nasceu e assim se tornou o Emanuel, o Deus encarnado, Ele tornou-
se por isso mesmo, Jesus, o Salvador! Ao descer do Céu para esta terra e tomar sobre Si
nossa natureza, Ele transpôs o abismo, de outra forma intransponível, entre Deus e o ho-
mem! Sofrendo nessa natureza humana e transmitindo, através de Sua natureza Divina,
uma eficácia infinita a esses sofrimentos, Ele removeu o que teria nos destruído e nos
trouxe vida e salvação eterna! Ó Jesus, o mais querido de todos os nomes na terra ou no
Céu, eu amo Sua música mais do que tudo porque é de tal doce harmonia com outro que
toca melodiosamente em meus ouvidos, o nome de Emanuel, Deus conosco! Nosso Sal-
vador é Deus e, portanto, capaz! Ele é Deus conosco e, portanto, inspira piedade! Ele é
Divino e, portanto, infinitamente sábio! Mas Ele é humano e, portanto, cheio de compaixão!

Esta, então, o nosso primeiro ponto é: este encantador nome de Jesus é uma joia do cofre
dos Céus. Ele vem a nós como uma maçã de ouro e é tratada por uma exposição que a
coloca em uma salva de prata! O nome é precioso como o assento dourado de misericórdia 1
e sobre ele queima a luz da glória Divina, para que possamos não tropeçar nela, mas pos-
samos nos alegrar com a grande luz! Ele nos permite conhecer o próprio coração de Deus,
em referência ao seu Filho, porque Ele O enviou; o que Ele intentou que Ele fosse e fizesse
— desta maneira Ele se glorificam. A salvação é o som festivo, que toca desde os sinos do
vestuário de nosso Sumo Sacerdote à medida que Ele vem para nos abençoar! Deus, que
falou aos nossos pais pelos Seus profetas, agora fala-nos por Seu Filho, cujo nome é a
Salvação! Não há uma fonte de alegria nisto?

II. Em segundo lugar, embora este nome tenha sido assim escolhido por Deus, NOSSO
SENHOR FOI NA VERDADE CHAMADO PELO NOME DE JESUS pelo homem. A isto eu

_______
[1] Golden Mercy Seat: a expressão “Mercy Seat”, significa literalmente “assento de misericórdia”, é uma
expressão, que em português, equivale a “propiciatório”.

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chamo sua atenção especial. “Ela (Maria) dará à luz um filho, e você (José) porás o nome
de JESUS”. O Deus do Céu por seu anjo nomeia o nome da criança, mas Seu pai de renome
deve anunciá-lo! Tanto José e Maria, de acordo com a ordem Divina, uniram-se em chamar
a criança pelo nome designado. Veja, então, que o nome que é escolhido de Deus é total-
mente aceito por homens instruídos. Aqueles que são ensinados por Deus com alegria re-
conhecem que Cristo é a salvação e sem uma pergunta dão-Lhe o nome bem amado de
Jesus, o Salvador. Aqui, note que o nome de Jesus, Salvador, foi dado ao nosso Senhor
por dois corações simples no momento em que Ele foi revelado a eles. Eles só precisavam
saber quem Ele era e por que Ele veio, como Ele nasceu e qual a finalidade de Sua encar-
nação e eles imediatamente aceitaram a mensagem Divina e nomearam o bebê com o
nome de Jesus. E, irmãos, todos nós a quem Cristo é revelado, O chamamos de Jesus, o
Salvador!

Existem muitos que pensam que conhecem nosso Senhor, mas como eles só falam dEle
como um Profeta, um Mestre, ou um Líder e não O tratam como um Salvador, está claro
que eles estão na ignorância quanto ao Seu caráter principal. Seu primeiro nome, Seu nome
pessoal, eles não conhecem. O Espírito Santo não pode ter revelado a Cristo a todo o ho-
mem se aquele homem permanece ignorante do Seu poder salvador! Aquele que não O
conhece como Jesus, o Salvador, não O conhece! Alguns cristãos anti-Cristãos estão astu-
ciosamente exaltando Cristo para que possam ferir Jesus, quero dizer que eles exaltam a
Jesus como o Messias, enviado de Deus, para exibir um grande exemplo e fornecer um
código unicamente moral, mas eles não podem suportar Jesus como Salvador, redimindo-
nos pelo Seu sangue e pela Sua morte libertando-nos do pecado! Não estou certo de que
eles sigam o Seu exemplo de vida santa, mas eles ruidosamente o exaltam e todos com a
finalidade de tirar os pensamentos dos homens do caráter e objetivo principais da perma-
nência de nosso Senhor no meio de nós, ou seja, a libertação de Seu povo do pecado! Se
os homens conhecessem ao nosso Senhor eles O chamariam de Jesus, o Salvador, e não
O considerariam apenas como um bom Homem, um grande Mestre, um nobre Exemplo,
mas como o Salvador dos pecadores!

Agora, José e Maria não só acreditaram, de modo a dar ao menino o nome em suas próprias
mentes, mas no devido tempo eles O levaram ao templo e O apresentaram de acordo com
a Lei e ali publicamente Seu nome foi chamado Jesus. Todos os corações a quem Deus
compromete Seu Cristo deveriam reconhecer publicamente a Ele, da maneira mais solene,
segundo a Sua ordenança e deveriam desejar, em todos os lugares apropriados, confessá-
lO como o Salvador. O menino Jesus foi comprometido ao cuidados e proteção de José e
Maria. Maravilha das maravilhas, que Ele precisasse de um tutor, Ele que é o Preservador
dos homens e o Pastor de Seus santos! Em Sua fraqueza como um bebê Ele precisava de
cuidado parental e cuidando dEle, José e Maria não hesitaram em confessar sua fé, dando-

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Lhe um nome que indicou Seu destino! Nem se recusaram a declarar o Seu nome no Templo
diante dos sacerdotes e da congregação.

Agora, em certo sentido, Cristo está comprometido com a preservação de todo o Seu povo.
Hoje temos uma tarefa a cumprir, devemos preservar o Seu Evangelho no mundo, manter
a Sua verdade e publicar a Sua salvação e, portanto, somos compelidos a ostentar este
testemunho, que Ele é Jesus, o Salvador dos pecadores! Devemos salientar isso muito
bem. Outros dirão o que quiserem sobre Ele e se eles falarem bem de Seu caráter em qual-
quer aspecto nos alegraremos que eles o façam, não importa o quão pouco eles saibam.
Mas este é o nosso testemunho especial, que o nosso Senhor salva do pecado! Nada é
mais importante sobre um homem do que o seu nome — dificilmente podemos falar dele
sem se pronunciar o seu nome —, e assim nós sentimos que não podemos mencionar o
nosso Senhor, sem falar da salvação! Se Ele é tudo, Ele é Jesus, o Salvador!

Nós O conhecemos melhor por esse nome! Nós pregamos aos homens Jesus! Insistimos
sobre Ele primeira e principalmente que Ele é o Salvador do pecador! Ele é justo e ama a
justiça, mas Ele é primeiramente conhecido pelos homens como o Amigo dos pecadores.
Ele é a Testemunha fiel e verdadeira, o Príncipe dos reis da terra, mas Seu primeiro trabalho
é salvar! Depois disso Ele ensina e governa os Seus salvos. Afundados em pecado, os ho-
mens precisam ser resgatados desse mal tremendo e a consequente ira, e essa terrível ne-
cessidade é satisfeita por Jesus, o Salvador! Assim, amados, vocês veem que o nome esco-
lhido por Deus é dado a Ele por todos aqueles que O conhecem e a quem o Seu Evangelho
é confiado. E ele é dado de coração, com zelo e coragem! Sim, todos nós O chamamos de
Jesus, se nós O conhecemos e estamos decididos a publicar Seu nome amplamente, en-
quanto vivermos!

Se Ele era Jesus no berço, que é Ele agora que está exaltado nos céus? Como Emanuel,
Deus conosco, a Sua própria encarnação O fez Jesus, o Salvador dos homens! Mas o que
eu direi dEle agora que, além de Sua encarnação, temos Sua expiação? E, acima de Sua
expiação, Sua ressurreição? E, além disso, Sua ascensão e, para coroar tudo, Sua interces-
são perpétua? Quão grandiosamente o título convém a Ele, agora que Ele é capaz de salvar
perfeitamente os que vem a Deus por Ele, pois Ele vive sempre para interceder por eles!

Se nos braços da virgem Ele é o Salvador, que é Ele no trono de Deus? Se envolto em fai-
xas Ele é Jesus, o que Ele é agora que os Céus O receberam? Se na oficina de Nazaré e
sentado no Templo entre os doutores, Ele era o menino Jesus, o Salvador, que é Ele, agora
que Sua infância e adolescência acabaram e Ele é exaltado acima de todos os principados
e potestades? Se Ele era Jesus quando estava na cruz, apresentando-se como uma oferta
para o Seu povo, o que é Ele agora que Ele, por um sacrifício, aperfeiçoou para sempre os

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que são separados? O que Ele é agora que Ele está sentado à direita de Deus, esperando
até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés?

Vamos todos nos unir em chamar nosso Senhor por este afetuoso nome humano de Jesus!
Não somos Sua mãe, irmã e irmão? Ele não se referiu a todos os crentes por esses títulos
afetuosos? Então, nós, também, vamos chamá-lo de Jesus. “Jesus, nome acima de todos
os nomes! Jesus, melhor e mais próximo! Jesus, fonte de amor perfeito, o mais santo, o
mais terno, o mais querido! Jesus, fonte da Divina glória consumada! Jesus o mais santo,
o mais doce! Jesus, Salvador Divino, Teu nome, e só Teu!”.

III. O NOME TINHA SIDO USADO POR OUTRO, MAS AGORA É RESERVADO SOMENTE
A ELE. Houve um Jesus antes do nosso Jesus. Refiro-me a Josué e você sabe que em
nossa versão o nome de Jesus é usado duas vezes onde o significado é, na verdade, Josué.
A primeira é Atos 7:4-5, onde lemos dos pais que entraram com Jesus para a posse dos
gentios, evidentemente significando Josué. E a segunda, em Hebreus 4:8: “Se Jesus lhes
houvesse dado descanso”. Josué é a forma hebraica e Jesus a forma grega, mas Jesus e
Josué são a mesma palavra. Havia alguém, então, antigamente, que levou este famoso
nome de Jesus, ou Yeshua, e era parecido com nosso Jesus. O que Josué fez? Quando
Moisés não podia levar o povo em Canaã, Josué o fez. E assim o nosso Jesus realiza o
que a Lei nunca poderia ter feito! Josué derrotou os inimigos do povo de Deus. Embora eles
fossem muito numerosos e muito fortes e tivessem cidades edificadas até o céu e carros
de ferro, mas em nome do Senhor, como príncipe do exército do Senhor, Josué os der-
rotou! Assim também é que o nosso glorioso Yeshua derrota nossos pecados e todos os
poderes das trevas! E Ele destrói completamente os nossos inimigos espirituais. Diante de
Josué, Amaleque é derrotado, Jericó cai e os Cananeus são postos em debandada — en-
quanto Jesus nos dá triunfos em todo lugar!

Além disso, Josué conquistou uma herança para Israel, levou-os através do Jordão, instalou-
os em uma terra que mana leite e mel e deu a cada tribo e cada homem a estar na sua
porção, a qual Deus tinha ordenado para ele. Precisamente isso é o que o nosso Jesus faz,
só que a nossa herança é mais Divina e para cada um de nós ela está certamente mais
vinculada. Embora Josué não pudesse dar ao povo o Sabatismo celeste, ou o descanso da
melhor espécie, ele ainda lhes deu um repouso mais agradável, e todo o homem sentou-
se debaixo da sua videira e figueira, sem ninguém a temer. Mas o nosso glorioso Josué nos
deu infinito, eterno descanso, porque Ele é a nossa paz e os que O conhecem entraram em
descanso!

Josué, filho de Num, fez com que o povo servisse ao Senhor todos os seus dias, mas ele

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não poderia salvar a nação de seus pecados, pois depois de sua morte eles dolorosamente
se extraviaram. Nosso Yeshua reserva para Si mesmo um povo zeloso de boas obras, pois
Ele sempre vive e é capaz de preservá-los de cair. Josué não levanta mais espada ou lança
em nome de Israel, mas Jesus ainda cavalga adiante, vencendo e para vencer, e todo o
Seu povo tem a vitória, pelo Seu sangue! Bem é o Seu nome chamado Jesus! Lemos sobre
um outro Jesus nos livros de Esdras e Zacarias. A forma que a palavra tem ali é Yeshua ou
Yehoshua. Ele era o sumo sacerdote que veio à frente do povo em seu retorno da Babilônia.
O profeta Zacarias fala dele em termos que o fazem um representante adequado de cada
um de nós. Mas eis que Jesus de Nazaré é agora o único Sumo Sacerdote, e tendo apre-
sentado Seu único sacrifício para sempre, Ele continua como um Sacerdote de acordo com
o poder de uma vida sem fim! Ele lidera a marcha da Babilônia e Ele guia o Seu povo de
volta a Jerusalém!

O nome de Jesus não era de todo incomum entre os judeus. Josefo menciona nada menos
que 12 pessoas com o nome de Jesus. A Salvação de algum tipo era tão almejada pelos
judeus que sua ânsia era vista nos nomes de seus filhos. Seus pequeninos foram, por suas
esperanças, nomeados como salvadores, mas salvadores eles não eram! Quão comuns
são salvadores nominais! “Eis aqui”, eles dizem, “aqui está um salvador!”, “Ei-lo ali”, eles
clamam, “outro salvador!” Estes têm o nome, mas não o poder e agora, de acordo com o
texto, Jesus Cristo separou o título para Si mesmo! Seu nome será Jesus, pois Ele, somen-
te, é um Príncipe e Salvador e realmente salva o Seu povo dos seus pecados!

Outros salvadores nada fazem além de zombar das esperanças da humanidade, prometem
bastante, mas enganam totalmente! esta santa criança, este abençoado e glorioso Deus
Conosco, realmente nos trouxe a salvação e Ele diz: “Olhai para mim, e sereis salvos, vós,
todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro” [Isaías 45:22]. Este Jesus
de Nazaré, o Rei dos reis, é o único e suficiente Salvador! Ele, e ninguém além dEle, salvará
o Seu povo! Ele salvará por Seus próprios atos e obras — Ele e ninguém mais! Sozinho e
individualmente Ele salvará o Seu povo! Pessoalmente, e não por outro! Em Seu nome e
por Sua conta Ele deve, por Si mesmo, expiar o pecado!

Ele fará todo o trabalho e não deixará nada por fazer — Ele o começará, o continuará e o
concluirá — e, portanto, é o Seu nome chamado Jesus porque Ele salvará completamente
e perfeitamente o Seu povo dos seus pecados! O nome tem sido, de uma forma inferior,
aplicado a outros, mas agora ninguém mais pode usá-lo, pois não há outro Salvador e ne-
nhum outro nome dado debaixo do Céu entre os homens pelo qual devamos ser salvos.

IV. O quarto ponto se desenvolve a partir da redação do texto. ESTE NOME DE JESUS
IDENTIFICA NOSSO SENHOR COM SEU POVO. “E lhe porás o nome de JESUS”, pois

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esse nome declara Sua relação com o Seu povo. É para eles que Ele é o Salvador. Ele não
seria Jesus se Ele não tivesse um povo! Ele não poderia ser, pois não poderia haver Salva-
dor se não houvesse ninguém para salvar! E não poderia haver Salvador do pecado, se
não houvesse pecadores. Observem, queridos amigos, a conexão importante aqui revelada
entre nosso Senhor e Seu povo já que Seu próprio nome depende dela, Seu nome próprio,
pessoal não tem nenhum significado sem Seu povo. “Ele salvará o Seu povo”.

O texto não diz “o povo de Deus”, pois então teria sido entendido como significando apenas
os judeus, ou teria sido suposto que se referia a algumas pessoas, boas e santas que per-
tenciam a Deus, separadas do Mediador. Não, mas, “Ele salvará o seu povo” — aqueles
que são os Seus e que pessoalmente pertencem a Ele! Estes são, evidentemente, um povo
muito peculiar, um povo separado como o próprio tesouro de Cristo. Eles são um povo que
pertencem ao Deus Encarnado, o povo de Emanuel. A estes Ele salva. Quem são eles
senão os seus eleitos, a quem Seu Pai Lhe deu antes da fundação do mundo? Quem são
eles senão aqueles cujos nomes estão gravados nas palmas das Suas mãos e escritos em
Seu coração? Quem são eles senão aqueles por quem Ele pagou o preço da redenção?
Quem são eles senão aqueles por quem Ele tornou-se um Fiador, cuja estultícia Ele su-
portou? Quem são eles senão as ovelhas numeradas que serão requeridas de Suas mãos
pelo grande Pai, as quais Ele deveria retornar pela contagem e número, dizendo: “Eu tenho
guardado aqueles que tu me deste, porque são teus”?

Sim, o Senhor conhece os que são Seus e Ele os preserva em Seu reino eterno e glória.
“Ele salvará o seu povo”. Você não vê que este nome de Jesus é um nome de eleição, afi-
nal de contas? É um grande e profundo nome querido pelos pecadores, dado aos pecado-
res, contudo, nas profundezas do seu significado tem uma influência especial sobre um
povo escolhido, tem um timbre de soberania nele que é mais doce por causa disso para
aqueles que veem em sua própria salvação uma exibição de distinta glória.

Agora surge a pergunta, quem é o Seu povo? Estamos ansiosos para saber quem são e
temos o prazer de descobrir que o Seu povo, sejam quem forem, precisam ser salvos e
serão salvos, pois está escrito: “Ele salvará o seu povo”. Não é dito: “Ele recompensará Seu
povo pela sua justiça”. Nem é prometido que Ele: “os salvará de se tornarem pecadores”,
mas, “Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Vocês precisam de salvação, irmãos e
irmãs? Será que o Espírito Santo lhes mostrou que vocês precisam de salvação? Deixe seu
coração ser incentivado! Este é o caráter de todo o seu povo, Ele nunca teve um escolhido
que servisse sem antes ter sido lavado no sangue do Salvador! Se você é justo em si
mesmo, você não pertence ao Seu povo! Se você nunca esteve doente na alma, você não
faz parte daqueles a quem o Grande Médico veio curar!

Se você nunca foi culpado de pecado, você não é nenhum daqueles que Ele veio para

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libertar do pecado. Jesus não vem em uma missão desnecessária e não assume nenhum
trabalho desnecessário, se vocês sentem necessidade de serem salvos, então lancem-se
sobre Ele, pois, assim como você estão Ele veio para os salvar! Observe, mais uma vez, o
gracioso, mas surpreendente fato de que a ligação de nosso Senhor com o Seu povo possui
relação com seus pecados. Isto é uma condescendência incrível! Ele é chamado de Salva-
dor, em conexão com o Seu povo, mas é em referência aos seus pecados, porque é dos
seus pecados que eles precisam ser salvos! Se eles nunca tivessem pecado nunca teriam
precisado de um Salvador e não teria havido nenhum nome de Jesus conhecido na terra!
Esse é um texto maravilhoso — você já meditou sobre ele? — “Cristo morreu por nossos
pecados, segundo as Escrituras” [1 Coríntios 15:3].

Como Martinho Lutero diz, Ele nunca se deu por nossa justiça, mas Ele deu a Si mesmo
por nossos pecados! O pecado é um mal horrível, um veneno mortal, mas é isto que dá a
Jesus Seu título quando Ele o vence. Que maravilha pensar sobre isso! A primeira ligação
entre a minha alma e Cristo não é a minha bondade, mas minha maldade! Não é o meu
mérito, mas minha miséria! Não é a minha posição, mas minha queda! Não é minha riqueza,
mas a minha necessidade. Ele vem visitar o Seu povo, mas não para admirar sua beleza,
mas para remover sua deformidade! Ele não vem para recompensar as suas virtudes, mas
para perdoar os seus pecados! Ó pecadores! Eu quero dizer pecadores de verdade, não
vocês que chamam a si mesmos assim porque lhes foi dito que vocês o são, mas vocês
que se sentem culpados diante de Deus, aqui está uma boa notícia para vocês! Vocês pe-
cadores autocondenados que sentem que se vocês algum dia tiverem a salvação, Jesus
deve trazê-la para vocês e ser o princípio e o fim de tudo, peço-vos que se alegrem neste
querido, precioso e bendito nome, pois Jesus veio para salvá-los, até mesmo VOCÊ! Apro-
ximem-se dEle como pecadores! O chamem, “Jesus”, e clamem: “Ó Senhor Jesus, seja
Jesus para mim, pois eu preciso da Tua Salvação!”. Não duvidem que Ele cumprirá o Seu
próprio nome e exibirá o Seu poder em vocês! Apenas confessem a Ele os seus pecados
e Ele vai salvá-los deles! Somente creiam nEle e Ele será a sua salvação!

V. O quinto ponto é muito claro e bem digno de nota. O NOME DE “JESUS” INDICA SUA
PRINCIPAL OBRA. “E lhe porás o nome de JESUS, porque Ele salvará”. Ele salvará do
pecado. Por que os homens escrevem biografias de Cristo, que nada sabem sobre o Seu
principal negócio e objetivo? Por que alguns pregam a respeito de Cristo embora não co-
nheçam a essência e o coração dEle? Pense em conhecer Milton, mas não como um poeta,
e Bacon, mas não como um filósofo! Não há conhecimento de nosso Senhor, se Ele não é
conhecido como um Salvador, porque Ele é isso ou nada! Aqueles que ficam aquém da
Sua salvação não conhecem nem Seu nome! Como, então, eles poderiam conhecê-lO?

Seu nome não é chamado de Jesus porque Ele é nosso exemplo embora, na verdade, Ele

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seja a perfeição em si, e nós desejamos seguir Seus passos. Mas Seu nome é chamado
Jesus, porque Ele veio para salvar o que está perdido! Ele é o Cristo, também, ou o Ungido,
mas então Ele é Jesus Cristo, ou seja, é como um Salvador que Ele é ungido! Ele não é
nada se Ele não é um Salvador! Ele é ungido para este fim. Seu próprio nome é uma farsa
se Ele não salva Seu povo dos seus pecados! Agora, Jesus salva o Seu povo dos pecados,
pois, em primeiro lugar, Ele o faz tomando todos os pecados de Seu povo sobre Si. Você
acha que é uma expressão forte? Ela é justificada pelas Escrituras. “O Senhor fez cair sobre
Ele a iniquidade de nós todos” [Isaías 53:6]. Os ombros de Cristo carregaram a culpa de
Seu povo e porque Ele levou a sua carga, o Seu povo é livre e não tem, portanto, mais
nenhum fardo de pecado para carregar.

Ele salva o Seu povo através da Sua substituição pessoal, tomando sua posição e sofrendo
em seu lugar. Não há outro caminho para a salvação além de Seus sofrimento e morte
vicários! Então, Ele os salva suportando a pena devida ao seu pecado. Onde o pecado
está, aí a pena cai. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados”. “Ele foi feito maldição por nós”. “Cristo padeceu por nós” [Isaías 53:6; 2
Coríntios 5:21; 1 Pedro 4:1]. Ele morreu, “Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo
pelos injustos, para levar-nos a Deus” [1 Pedro 3:18]. Ele suportou a ira de Deus, que era
devida a nós. Ele tomou o pecado e pagou a penalidade, e agora mentirosos entram e
falsamente afirmam que nós ensinamos que o homem deve crer no dogma da expiação e,
em seguida, ele é salvo e pode viver como ele desejar!

Eles sabem melhor! Eles sabem que eles nos deturpam, pois nós sempre ensinamos que
esta grande obra de substituição e sofrimento da pena por Cristo opera na pessoa que parti-
cipa de seus benefícios, o amor a Deus, gratidão a Cristo e consequente ódio a todo peca-
do! E essa mudança de coração é o cerne e a essência da salvação! É assim que Cristo
salva o Seu povo de seus pecados — resgatando-os, pela força do Seu amor — do poder,
tirania e domínio do pecado que até então tinha o domínio sobre eles. Eu sabia o que era
lutar contra o pecado como uma pessoa moral, buscando vencê-lo. Mas eu encontrei-me
dominado pelo pecado, como Sansão, quando seu cabelo foi cortado, e os filisteus o amar-
raram. Mas desde que eu cri em Jesus, acho motivos para ser santo, que são mais influentes
em relação a mim do que qualquer outro que eu conhecia anteriormente! Acho armas para
lutar contra o meu pecado que eu nunca soube como manejar antes e uma nova força me
foi dada pelo Espírito Santo.

“Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” [1 João 5:4]. Este é o poder que expulsa
as víboras do pecado da alma, o precioso sangue de Jesus! Aquele que crê em Jesus como
sua expiação e reparação torna-se, assim, através do poder do Espírito Santo, renovado
no coração! Ele tem novos objetivos postos diante dele; motivos frescos o convencem, e,

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assim, Jesus salva o Seu povo dos seus pecados! Amados, se tivéssemos espaço neste
momento, eu gostaria de falar sobre como completamente Cristo salva Seu povo dos seus
pecados, como quando Ele entra Ele expulsa poderosamente o valente armado! Embora
aquele valente armado procure voltar novamente e consiga, tanto quanto possa, ganhar
uma entrada parcial, contudo Jesus o lança fora de novo! Assim, todos os danos e sujeira
que foram deixados dentro da casa pelo antigo inquilino são gradualmente removidos por
Jesus, até que por fim o seu povo esteja totalmente santificado como templo do Deus vivo.

Seus santos ficarão sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, e nenhum sinal de que
o Diabo alguma vez habitou dentro deles permanecerá sobre eles! Visualizando cada um
de seus corpos ressuscitados como um templo de Deus, você poderá explorar aqueles cor-
pos completamente e não encontrará um traço de domínio do pecado! Você poderá olhar
para o coração, para a mente, para o entendimento, mas quando Jesus houver feito a Sua
obra de purificação não haverá cicatriz ou sinal que mostre que o pecado esteve alguma
vez ali! Tão completamente Ele salvará o Seu povo dos seus pecados que eles serão aptos
a morar com os anjos! Melhor, eles serão aptos a habitar com Deus! Posso dizer melhor do
que isso? Eles serão um com Jesus, um com Ele por toda a eternidade! A plenitude dAquele
que enche tudo em todos. Quão gloriosa, quão transcendente é a salvação que o Senhor
Jesus nos trouxe!

VI. Este NOME DE JESUS É UM NOME COMPLETAMENTE JUSTIFICADO PELOS FATOS.


Foi dado a Ele antes que Ele tivesse feito algo. Enquanto Ele ainda era um bebê, ou antes
que Seus pés trêmulos tivessem aprendido a pisar o chão da casa em Nazaré, Ele era
Jesus, o Salvador! Mas este nome é justamente merecido? Muitas crianças receberam um
grande nome e sua vida o contradisse. Lembro-me de um túmulo em que há o nome de
uma criança: “Consagrado à memória de Matusalém Coney, que morreu com idade de seis
meses”. Seus pais estavam grandemente errados quando o chamaram Matusalém!

Muitos outros nomes são igualmente inadequados e provam ser assim, no decorrer dos
anos. Mas esse Jesus é um Salvador, um verdadeiro Jesus! Ele leva um nome que Ele bem
merece. Venha para o Cristo e veja, lá, os muitos que uma vez se revolveram em pecado
e rolaram na lama, eles estão lavados! Eles estão santificados e agora eles se regozijam
na santidade! Quem os purificou? Quem, senão Jesus? Aquele que salva o Seu povo dos
pecados deles os salvou! Vá para os leitos de morte e ouça os santos falando do Seu amor
e falando do Céu, que já está amanhecendo em suas almas! Alguns deles podem ter uma
vez sentado na roda dos escarnecedores, mas Jesus os limpou!

Suba para o Céu e veja o exército branco como a neve, brilhando como o sol em pureza

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imaculada. Pergunto-lhes de onde eles vieram? A resposta é que eles lavaram as suas ves-
tes e as branquearam no sangue do Cordeiro! É a mais pura verdade que Jesus salva o
Seu povo de seus pecados, a terra sabe disso, o inferno uiva por isso e o Céu canta! O
tempo tem visto isso e a eternidade o revelará! Não há ninguém como Jesus no poder sal-
vador! Toda a glória seja a Ele! Ele virá do Céu com alarido e todos os Seus exércitos
estarão com Ele. O dia da Ceia do Cordeiro virá e a Noiva já se aprontou. E ela, que é a ra-
inha toda gloriosa, usando sua veste de ouro trabalhado deve sentar-se à mesa de Deus,
com seu glorioso Marido, então se verá que Ele salvou a Sua Igreja, o Seu povo, de seus
pecados!

VII. Em último lugar, ESSE NOME É O NOME PESSOAL DE CRISTO PARA SEMPRE. É
um nome familiar. É o nome que Seu pai Lhe deu! É o nome que sua mãe lhe deu — Jesus,
o Menino Jesus. Nós também pertencemos à Sua família, pois aquele que crê nEle torna-
se Seu pai, mãe, irmã e irmão — e esse nome mais querido e familiar pelo qual Ele era
conhecido em casa está sempre em nossas bocas! Ele é o Senhor e nós O adoramos! Mas
Ele é Jesus e nós O amamos! Jesus é também o nome do coração e está cheio da música
de amor. Aqueles que mais O amaram lhe deram o nome, especialmente Sua mãe, que
ponderou tudo sobre Ele em seu coração. É o nome que move nossos afetos e inflama nos-
sas almas:

“Jesus, só de pensar em Ti
Com doçura se enche meu peito.”

Deixem os seus corações irem em direção a Ele em carinhosa união. Jesus é o Seu nome
de morte: “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”, foi escrito na Sua cruz. Esse é o Seu nome
de ressurreição. Esse é o nome de Seu Evangelho que pregamos. É o nome que Pedro
pregou para os gentios, quando ele disse: “Este é Jesus de Nazaré, por quem é pregada a
vocês a remissão dos pecados”. E este, amados, é o Seu nome Celestial! Eles cantam a
Ele lá como Jesus! Veja como Ele conclui a Bíblia. Leia Apocalipse! Leia seus louvores e
veja como eles adoram a Jesus, o Cordeiro de Deus! Vamos e contemos sobre esse nome!
Meditemos continuamente sobre ele! Vamos amá-lo a partir de hoje e para sempre! Amém.

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Ele Me Amou, E Se Entregou Por Mim
Por John Stephen Piper

Eu quero que os crentes em Cristo deleitem-se em serem amados por Deus ao maior grau
possível. E eu quero que Deus seja magnificado ao maior grau possível por nos amar do
jeito que Ele ama. É por isso que me importa o que Jesus realmente realizou por nós quan-
do morreu.

Há uma maneira comum de pensar sobre a morte de Cristo, que diminui a nossa experiên-
cia de Seu amor. Trata-se de pensar que a morte de Cristo não expressa mais amor por
mim do que por qualquer outra pessoa da raça humana. Se essa é a maneira que você
pensa sobre o amor de Deus por você na morte de Jesus, você não se regozijará em ser
amado por Deus tão grandemente quanto você realmente é.

Sentindo-Se Especialmente Amado Por Deus

Eu me pergunto se você já se sentiu especialmente amado por Deus por causa de Efésios
2:4-5? “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo
(pela graça sois salvos)”.

Seis coisas se destacam aqui em Efésios 2:4-5.

1. O termo “muito amor”.

“Pelo seu muito amor com que nos amou”. Essa frase é usada somente aqui, no Novo Tes-
tamento. Mergulhe nisso. Deus ama os Seus próprios com “muito amor”. Certamente Paulo
escreve isto para que possamos desfrutar que somos muito amados.

2. A grandeza peculiar desse amor move Deus a nos “nos vivificar”.

“Pelo seu muito amor com que nos amou [...] nos vivificou”. Seu grande amor é a causa de
nossa vida. Nossa vida não causou a grandeza de Seu amor por nós. É o contrário: A gran-
deza de Seu amor nos deu vida.

3. Antes que Ele nos vivificasse, nós estávamos “mortos”.

“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou”. Isto é, algo como vivendo

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mortos. Jesus disse: “Deixa os mortos enterrar os seus mortos” (Lucas 9:60). Antes que
Deus nos vivificasse, éramos mortos-vivos.

Nós podíamos respirar, pensar, sentir e desejar. Mas estávamos espiritualmente mortos.
Estávamos cegos para a glória de Cristo (2 Coríntios 4:3-4); estávamos com o coração en-
durecido para a Sua Lei e não poderíamos nos submeter a Ele (Efésios 4:18, Romanos 8:7-
8); e não éramos capazes de discernir as coisas espirituais (1 Coríntios 2:14). Somente
Deus poderia superar este amortecimento para que pudéssemos ver a glória de Cristo e
crer (2 Coríntios 4:6). Foi o que Ele fez quando Ele “nos vivificou” (Efésios 2:5).

4. Deus não vivifica a todos

O que aconteceu com você, a sua condução à fé, não ocorreu a todos. E lembre-se, você
não merece ser vivificado. Você estava morto. Você era “filho da ira, como os outros tam-
bém” (Efésios 2:3). Você não fez nada para mover Deus a vivifica-lo. Isso é o que significa
estar morto.

5. Portanto, o muito amor de Deus por você é realmente por você, particularmente
por você.

Este não é um amor geral por todos. Caso contrário, todos estariam espiritualmente vivos.
Ele escolheu especificamente vivificar você. Você não merecia isso mais do que qualquer
outro. Mas, por motivos insondáveis, Ele pôs o Seu amor particularmente sobre você.

6. Ele não prejudicou ninguém, pois ninguém merece ser salvo.

Ninguém merece ser vivificado. Todos nós pecamos e merecemos a morte (Romanos 3:23,
6:23). Ele poderia ter deixado todos nós na condição de morte em nossa rebelião, e com
isso não faria nada de errado.

Mas se você já viu a sabedoria da Sua cruz, e confiou em Sua promessa, e entesourou a
Sua glória, Ele vivificou você. Ao contrário de muitos outros, não mais mortos do que você,
você foi muito amado.

O Amor Especial Da Nova Aliança

Agora, aqui há a conexão com a morte de Cristo. Quando Jesus morreu, Ele garantiu para
nós a remoção da nossa condição de morte, e comprou para nós o dom da vida e da fé.
Em outras palavras, “o muito amor” de Deus poderia nos vivificar, porque em Cristo este

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mesmo muito amor providenciou a punição por todos os nossos pecados e a provisão de
toda a nossa justiça.

Sabemos disso porque Jesus disse na última Ceia: “Este cálice é o novo testamento no
meu sangue” (Lucas 22:20). O sangue de Jesus é o preço que Deus pagou para estabelecer
a Nova Aliança. E o Novo Testamento, em sua essência, é a garantia de Deus, por meio
do sangue de Jesus, vivificando os corações de pecadores mortos.

“Farei uma aliança nova [...] lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos
seus pecados” (Jeremias 31:31, 34). “Tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei
um coração de carne”. “E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos” (Ezequiel 36:27).

Jesus Comprou A Ativação

Isto é o que Jesus comprou para nós quando Ele morreu. E é isso que o muito amor de
Deus fez por nós quando Ele nos deu vida em Cristo Jesus. Portanto, o propósito específico
de Deus na morte de Jesus não foi o mesmo para todos. O muito amor de Deus, mostrado
por você na morte de Jesus, foi a compra de sua fé quando você estava morto.

Ele não comprou meramente a possibilidade de sua vida que você, em seguida, ativaria.
Pessoas mortas não agem. O que Ele comprou foi a ativação. Cristo não comprou a possi-
bilidade de você erguer-se dos mortos. Ele comprou a sua ressurreição. Por causa de um
muito amor por você, em particular.

Sinta A Grandeza De Seu Amor Por Você

Assim, quando Efésios 2:4-5 diz: “Pelo seu muito amor com que nos amou [...] nos vivificou”,
e Lucas 22:20 diz, que o sangue de Jesus estabelece um novo testamento, e Ezequiel
11:19 diz que na Nova Aliança Deus nos dá corações vivificados, compreendemos que o
derramamento do sangue de Jesus foi uma expressão do muito amor que nos deu vida.

Qualquer outra coisa que a morte de Cristo realiza ou é, não é menos do que isso. E é isso
o que eu quero que cada crente desfrute. [...]. O amor que Deus tem por você O moveu a
fazer com que você vivesse quando você não podia fazer nada para tornar-se vivo. E esse
mesmo amor O levou a comprar a sua vida por meio da morte de Seu Filho.

Portanto, quando você disser com o apóstolo Paulo: “O qual me amou, e Se entregou a Si
mesmo por mim” (Gálatas 2:20), sinta a grandeza das palavras: “Ele me amou”. Ele me a-
mou.

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Graça Para O Culpado
(Sermão Nº 2563)

Um sermão destinado para ser lido no Dia do Senhor, 27 de março de 1898.


Pregado por C. H. Spurgeon, em New Park Street Chapel, Southwark,
Na noite do Dia do Senhor, 25 de novembro de 1855.

“Apaguei as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados


Como a nuvem; torna-te para mim, porque eu te remi.” (Isaías 44:22)

Esta declaração não foi feita para um povo piedoso e de oração, que se manteve perto de
seu Deus, mas foi falada ao idólatra Israel, que depois de ter bebido da fonte de águas vi-
vas, se virou para beber as gotas que foram encontradas em cisternas rotas. Foi falado pa-
ra um povo que, depois de ter provado as boas coisas de Deus e conhecido os altos privi-
légios da verdadeira religião, desviou-se com as nações do mundo, abandonou o Deus de
Jacó, fez para si mesmo imagens esculpidas que não eram deuses, provocaram o Senhor
ao zelo e O levou a irar-se contra eles por causa de seus pecados.

Estas palavras de maravilhosa misericórdia não foram ditas à nação de Israel, enquanto
viviam perto de Deus, que, não obstante, teria pecados a lamentar e a serem perdoados;
mas foram dirigidas a uma nação brutal e insensata, a um povo prostituído que tinha come-
tido maldade com todos os ídolos das nações! Eles eram aqueles que haviam oferecido
incenso em seus altos a falsos deuses, que tinham feito os seus filhos passarem pelo fogo
de Tofete no vale dos filhos de Hinom, logo, homens que estavam cheios de pecados abo-
mináveis e repugnantes, homens que cometeram os crimes de Sodoma e prostraram-se
diante de Baal e Astarote!

Esta promessa foi feita para aqueles que haviam se afastado de Deus, e não porque se
arrependeram, ou porque criam, mas simples e inteiramente pela graça soberana de Deus,
porque, depois de ter colocado a Sua afeição sobre eles, Ele não iria se afastar deles por-
que, depois de ter prestado juramento ao seu pai Abraão que Ele abençoaria a sua descen-
dência para sempre, Ele ainda se lembrava deles. Ele não lhes esqueceu, apesar de que
O tivessem esquecido dias sem número, ainda assim proveu-lhes um Salvador, e agora
envia a eles, pela boca de Seu profeta, essa garantia confortável: “Apaguei as tuas trans-
gressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te para mim, porque eu
te remi”.

Vamos considerar este texto como ele deverá se abrir para nós de forma gradual e, por is-

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so, damos-lhes os pensamentos como eles vêm até nós. [Este sermão é o descrito na Auto-
biografia de C.H. Spurgeon, Volume I, capítulo 32, onde o amado pregador dá um relato
gráfico de uma certa noite de Sabath, quando ele pregou um discurso de improviso sobre
um texto que o Espírito Santo vivamente imprimiu em sua mente enquanto a congregação
estava cantando o hino imediatamente antes do sermão. Os leitores da autobiografia tam-
bém verão quão oportuna foi a extinção súbita e inesperada das luzes de gás mencionada
no final do presente discurso].

I. A primeira é que OS PECADOS DOS HOMENS PODEM SER REALMENTE PERDOA-


DOS MUITO ANTES QUE ELES SAIBAM DISSO, pois está escrito: “Apaguei as tuas trans-
gressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem”.

Se eles soubessem disto, não haveria necessidade de dizer isso a eles. Se eles entendes-
sem em seus corações que suas transgressões foram apagadas, que necessidade eles
teriam que um profeta viesse a dizer-lhes que isso era assim? Muito antes de um homem
saber que as suas transgressões são perdoadas, Deus pode tê-las perdoado e apagado.
Eu não digo que um homem recebe o perdão real em sua própria alma, ou um sentimento
de justificação sem saber disso. Eu não posso acreditar, como alguns, que um homem pode
nascer de novo, sem ter consciência disso. Eu sei que nunca houve um parto natural, sem
contrações e dores, e estou igualmente certo de que nunca haverá um nascimento espi-
ritual, sem algum sofrimento e algumas agonias.

Um homem não é nascido de novo enquanto ele está dormindo, ele deve conhecê-lo e
sabê-lo ele irá, em um momento ou outro em sua vida! Não constantemente, pode ser, mas
mesmo assim ele saberá, mesmo que seja apenas por uma hora, que ele é um filho de
Deus! Eu penso que aquele que nunca teve um minuto de segurança, nunca teve fé. Aquele
que nunca conheceu a si mesmo como sendo um filho de Deus, nunca poderia dizer: “Eu
creio em Jesus”, nunca poderia ver seus pecados apagados. Eu acho que tal pessoa não
sabe o que é a fé. Isto pode durar até mesmo bem curto espaço de tempo, mas se ele é a
garantia real, brota a verdadeira fé e o homem é salvo. Mas um homem pode ter seus peca-
dos apagados antes que ele saiba disso. E eles podem ser apagados quando ele não acre-
dita que eles o são, e apagados quando ele está cheio de dúvidas sobre a questão, sim,
eles podem ser perdoados, mesmo quando ele não pode estar convencido de que eles
realmente sejam.

Posso dizer-vos de pessoas que, no fundo da minha alma, eu acredito serem os sujeitos
da graça Divina. Eu posso ver neles as marcas do poder de Deus. Ele os tem convencido
do pecado, eles são humildes, são penitentes, são pessoas de oração, eles sentem a sua

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culpa, eles a confessam, mas eles têm uma indefinição sobre os seus pontos de vista sobre
a expiação e disso surge grande escuridão de espírito. Eles não podem ver o plano da sal-
vação e porque eles não podem ver o plano, eles, portanto, não possuem uma noção feliz
da coisa em si. No entanto, se essas pessoas estivessem prestes a morrer, eu estou bem
certo de que antes que elas partissem desta vida, Deus lhes daria tal vislumbre de luz do
sol que todas as nuvens seriam dissipadas e elas seriam capazes de entrar no Céu cantan-
do, assim que eles entrassem através das correntes do Jordão, “Cristo está comigo! A morte
não é nada. Cristo está comigo! Ele é o meu auxílio e meu Refúgio”. Muito antes de conhe-
cer isto, os seus pecados estão perdoados.

Além disso, esta é uma doutrina muito escandalizada por certos professores e rejeitada por
muitas pessoas, mas uma na qual eu acredito firmemente. Refiro-me, à doutrina da justifica-
ção eterna e completa de todos os eleitos na Pessoa de Jesus Cristo. Eu vejo que quando
o Fiador Divino pagou as nossas dívidas, nossas dívidas foram pagas. Que quando Ele to-
mou nossa culpa sobre a Sua cabeça e sofreu por nós no Calvário, os pecados foram, na-
quele momento, apagados. Alguns dirão: “Mas os pecados não existiam, então”. Não, eles
não existiam, exceto na presciência de Deus, no pré-conhecimento de Deus haviam todos
aqueles pecados sido escritos no livro da Sua presciência muito antes de serem cometidos.
E pelo sangue de Cristo, “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”, Ele decre-
tou para sempre apagar os crimes e pecados de todo o povo de Seu Pacto, de modo que
todos os que serão salvos afinal, foram justificados em Cristo quando Ele morreu.

Os pecados de todos os que serão salvos foram expiados por Cristo, embora eles não sai-
bam de nada sobre isto até que Deus o revele para eles, pelo Seu Espírito, no momento
em que exercem fé no Senhor Jesus Cristo. Se a dívida foi paga, então certamente um reci-
bo completo foi dado! Se o crime foi então colocado sobre a cabeça de Jesus e Ele então
foi punido por isso, certamente o crime deixou de existir! Se você diz que o crime não existia
porque não foi cometido, eu lhe direi que Cristo morreu por ele antes que ele fosse come-
tido. Portanto, nós estamos absolutamente certos em dizer que ele foi apagado antes que
fosse cometido.

Eu recebi o meu perdão quando eu cri, mas isso foi adquirido quando Cristo morreu. Na
Pessoa de Cristo, eu estava tão completamente e tão verdadeiramente, aos olhos de Deus,
justificado, então, como eu estou agora! Mas eu não sabia disto, não havia sido revelado a
mim, eu não poderia me alegrar com isso, eu não poderia ser abençoado por isto. O perdão
comprado pelo sangue não poderia me absolver até que eu tivesse o senso dele; o perdão
de Cristo não poderia me resgatar da prisão do pecado até que eu tomasse conhecimento
dele, embora virtualmente já havia sido dado a mim. Quando o preço do resgate foi pago,
a liberdade foi realmente garantida, embora o escravo ainda estivesse cheio de cicatrizes,

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marcas e acorrentado a seu remo. Ele era um homem comprado e um dia receberia a sua
liberdade. Oh, não estão os seus corações jubilosos e não brilham os seus olhos? Embora
você não saiba que você está perdoado, pode ser verdade que os seus pecados são apa-
gados!

Embora você não saiba que você tem sido justificado, pode ser verdade que você está
“aceito no Amado”. “Oh”, diz alguém, “se eu pensasse que havia uma esperança ou até
mesmo a chance de tal coisa para mim, gostaria de ir a Jesus, embora os meus pecados
fossem ‘elevados como uma montanha’”. Vá, então, pobre pecador, e se você não pode ler
o seu perdão, ali, se você não pode ver o escrito de dívidas que era contra você pregado
na Sua cruz, volte e diga que eu não falo a verdade de Deus! Houve muitos pecadores que
foram a Cristo cheios de pecado, mas nunca houve alguém que veio de volta dEle como
ele foi! Muitos culpados têm ido a Ele, mas nenhum foi e se afastou de Sua porta sem
perdão! Ele apaga, como uma névoa, as suas transgressões, e como uma nuvem, os seus
pecados.

Um homem pode ter seus pecados perdoados, então, antes que ele saiba disso, e um ver-
dadeiro Cristão que veio para o Senhor Jesus pode ter seus pecados apagados, mesmo
quando ele não acredita que eles são. O Diabo pode fazer você acreditar em qualquer coi-
sa. Nenhum advogado é igual a ele — embora alguns advogados têm, na maioria, sem dú-
vida, aprendido algumas lições em suas mãos — pois não somente ele pode fazer o que é
meia verdade parecer toda a verdade, mas ele pode pegar uma mentira e revesti-la com o
ouro da verdade. Quantas vezes ele convence um homem verdadeiramente justificado que
ele não está justificado! Muitas vezes acontece que, quando Deus perdoou um pobre peca-
dor, o Diabo virá para ele a dizer-lhe que ele não está perdoado, e muito lógico ele vai usar
isto com ele, que ele vai fazê-lo acreditar que ele não é perdoado, embora ele realmente
seja.

Apesar de todos os crimes deste homem terem sido perdoados há muito tempo, apesar de
todas as suas iniquidades terem sido lançadas nas profundezas do mar, Satanás agitará a
sua consciência, despertará a sua alma, o amarrará com incredulidade, lançará cascalho
na sua comida, para que ele coma absinto e beba água de fel, como Jeremias disse, até
que ele não somente negue que ele já provou que o Senhor é bom, mas para que ele esteja
em tal desespero que ele irá imaginar que não é possível que ele possa mesmo ser salvo.
Satanás convencerá um homem justificado que ele ainda está “em fel de amargura, e em
laço de iniquidade”.

Não existem alguns de vocês que tiveram muitos dias agradáveis, muitas horas doces de
comunhão com Cristo, mas em algum momento escuro o pensamento passou pela sua ca-

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beça que você pode ser um hipócrita, afinal de contas? Desde essa hora você não foi capaz
de chegar perto dEle e embora você tenha confiado sob a sombra de Suas asas, você ainda
não viu a luz do Seu rosto. Bem, mas deixe-me dizer-vos, irmãos e irmãs, o perdão não foi
revogado porque está escondido da vista! O perdão é tão bom quando você não pode vê-
lo como quando você o vê. O perdão é um perdão e ainda que o criminoso condenado não
veja o perdão, este não é revogado. Deus cuida de nosso perdão por nós!

Ele não o coloca em nossas mãos, pois Satanás pode levá-lo para longe de nós, mas Ele
nos permite ter uma cópia do mesmo para ler e, mesmo que Satanás roube a cópia, ele
não pode ter o original, que está seguro nos arquivos do Céu! Lá em cima, na Arca de Deus,
onde Ele mantém as obras do universo, ali Ele preserva os escritos do perdão de nossos
pecados! Sim, embora eu possa duvidar de que eu estou perdoado, se eu realmente sou
assim, eu sou assim! E eu não devia depender muito de minhas próprias circunstâncias e
sentimentos em relação a isso. Deus me disse uma vez: “Eu apaguei os vossos pecados”.
Ele disse-me isso duas vezes! Eu li isso em Sua Palavra e, apesar de Satanás dizer que
eles não estão removidos, eu acredito que eles estão. E eu permanecerei firme nesta ga-
rantia, porque Deus disse: “Apaguei as tuas transgressões como a névoa, e os teus peca-
dos como a nuvem”.

II. Outra observação sobre o nosso texto é que NADA PODE TÃO FORTEMENTE LEVAR
UM HOMEM A VIR A DEUS COMO UM SENSO DE PERDÃO DOS SEUS PECADOS.
“Apaguei as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te
para mim, porque eu te remi”.

Teólogos entusiasmados têm pensado que os homens devem ser trazidos à virtude pelos
sibilos do caldeirão fervente. Eles imaginavam que, batendo um tambor do Inferno nos ouvi-
dos dos homens, eles poderiam fazê-los crer no Evangelho. Que pelas terríveis visões e
sons do monte Sinai, poderiam conduzir os homens ao Calvário. Eles têm pregado perpetu-
amente: “Faça isso e você está condenado”. Em sua pregação prepondera uma voz horrível
e assustadora. Se você os ouve, você pode pensar que você sentou-se perto da boca do
Abismo e ouviu os “gemidos lúgubres e gemidos soturnos”, e todos os gritos dos torturados
em perdição!

Os homens pensam que por estes meios pecadores serão levados ao Salvador. Eles, no
entanto, na minha opinião, pensam erroneamente! Os homens estão assustados no Inferno,
mas não no Céu. Os homens às vezes são levados ao Sinai pela poderosa pregação. Longe
de nós condenarmos o uso da Lei de Deus, pois, “a lei nos serviu de aio para nos conduzir
a Cristo” [Gálatas 3:24], mas se você deseja ganhar um homem para Cristo, a melhor ma-

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neira é levar Cristo ao homem! Não é pela pregação da Lei e terrores que os homens são
levados a amar a Deus:

“Lei e terrores nada fazem, senão endurecer,


Durante todo o tempo que eles trabalham sozinhos.
Mas um senso de perdão comprado pelo sangue,
Logo dissolve um coração de pedra.”

Às vezes eu prego “o terror do Senhor”, como Paulo fez, quando disse: “Assim que, saben-
do o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé” [2 Coríntios 5:11]. Mas
eu faço isso como fez o apóstolo, para trazê-los a um senso de seus pecados. A maneira
de levar os homens a Jesus, para dar-lhes a paz, para dar-lhes alegria, para dar-lhes a
salvação através de Cristo, é pela assistência de Deus, o Espírito, pregar a Cristo, pregar
um completo, gratuito, perdão perfeito. Oh, existem tão poucas pregações sobre Jesus
Cristo! Não pregamos o suficiente sobre o Seu Nome glorioso. Alguns pregam doutrinas
secas, mas não há a unção do Santo revelando a completude e preciosidade do Senhor
Jesus.

Há uma abundância de “faça isso e viva”, mas não o suficiente de “crê no Senhor Jesus
Cristo e serás salvo”. Ó doce Jesus, não têm alguns de Seus discípulos esquecido de Ti?
Não têm alguns de seus pregadores quase perdido o som de seu nome glorioso e mal
sabem a sua bendita pronúncia? Envie-nos, mais uma vez, peço-vos, o espírito de amor e
de uma mente sã, para que possamos pregar mais plenamente Jesus Cristo, nosso Senhor!

Mas agora, meus amigos, deixe-me perguntar-lhes sinceramente: quando de vocês chega-
ram a sentir, sob o senso do pecado, a maior inclinação para vir ao Salvador? Eu acho que
vocês responderão de uma vez, quando vocês sentiram que havia esperança para vocês e
que Ele apagou os seus pecados! Nenhum homem virá a Jesus enquanto ele pensa dura-
mente dEle. Mas quando ele tem pensamentos doces a Seu respeito, então, ele vem. Vo-
cês, sem nenhuma dúvida, ouviram a velha figura, emprestada de John Bunyan, de um cer-
to exército que estava dentro de uma cidade e que foi atacado por outro exército. O rei fora
disse: “desistam da cidade, imediatamente, ou eu vou pendurar cada um de vocês”. “Não”,
eles disseram, “vamos lutar até a morte e nunca vamos desistir!”. “Eu vou queimar sua
cidade”, disse ele, “e destruí-la totalmente, arrastá-la para o chão e matar suas esposas e
filhos. Eu irei acabar com sua raça e exterminá-los”. “Ah”, eles disseram, “então vamos lutar
até a morte! Nós nunca abriremos as portas”. Vendo que as ameaças foram em vão, ele
mandou outra mensagem: “Se você somente abrirem os portões e saírem a mim, eu vou
deixar vocês irem embora, com armas e bagagens. Eu vou dar tudo a vocês, suas vidas e
liberdade e, e mais, eu vou deixar vocês possuírem suas terras novamente, por um pequeno

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tributo, e sereis meus servos e amigos para sempre”. “Imediatamente”, diz a parábola, “eles
destrancaram os portões e vieram curvando-se ao monarca”. Esse é o caminho, com a
ajuda do Espírito, para levar um pecador a vir penitente a Jesus, dizer-lhe que o Senhor diz
isso: “Apaguei as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem;
torna-te para mim, porque eu te remi”.

Venha, amado! Por que você está com medo de Jesus? Ele diz: “torna-te para mim, porque
eu te remi”. Vamos, irmãos e irmãs, venham ao Senhor Jesus, se você é um pecador! Eu
falo para aquele que se sente alguém perdido e culpado. Venha comigo para Jesus, pois
Ele apagou as tuas transgressões como uma névoa e, como uma nuvem, os teus pecados.
E Ele te redimiu. “Oh”, diz alguém, “eu não me atrevo a entrar! Ele irá desaprovar-me”. Ve-
nha experimente-O! Ele diz que perdoou você, entre na porta e você encontrará a verdade
que Cristo tem lhe perdoado! Acho que vejo você em pé, olhando para si mesmo e dizendo:
“Oh, eu não era pior do que dez mil tolos por ter medo de entrar, por ter medo de confiar
nEle quando Ele tinha me perdoado de antemão? Eu não estava pior do que o ignorante
por ficar para trás do meu melhor Amigo, como se Ele tivesse sido um leão, por ficar longe
do querido Jesus, que tinha comprado o meu resgate, como se Ele fosse meu inimigo?”.

Alguém poderia pensar, queridos amigos, quando vocês estão tão relutantes em ir a Cristo,
que vocês estavam vindo para receber condenação em vez de vindo a serem salvos! Os
homens vêm a contragosto à execução, mas eles devem vir como de má vontade a Cristo,
como eles fazem para a execução? Você pensa dEle como algum Juiz irado. Você tem idei-
as ruins de meu doce Jesus, ou então você não iria se manter afastado quando Ele está
continuamente clamando: “Torna-te para mim!” “Torna-te para mim!”, oh como você iria
ama-lO e se regozijaria nEle, pois você sentiria o maior prazer do mundo em vir a Ele! [Al-
gum alarme foi aqui ocasionado pelas luzes de gás que de repente apagaram. Após a con-
fusão temporária ser acalmada, o Sr. Spurgeon começou a abordar o grande e animado
auditório sobre um assunto diferente. Em sua autobiografia, ele menciona que os discursos
entregues nestas circunstâncias incomuns foram abençoados com a conversão de alguns
de seus ouvintes].

***

EXPOSIÇÃO DE C. H. SPURGEON — SALMO 125

Verso 1. Os que confiam no SENHOR serão como o monte de Sião, que não se abala,
mas permanece para sempre: Vários conquistadores destruíram os edifícios sobre o Mon-
te Sião, mas o monte em si, ainda está lá. Ninguém já o cavou o e lançou no mar Mediter-
râneo. Ele permanece firme ali enquanto o mundo durar. E “os que confiam no Senhor se-

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rão como o monte Sião”, eles permanecerão tão firmemente como a montanha sagrada!
Nada pode movê-los ou removê-los. Eles estão nas mãos de Cristo e ninguém pode arre-
batá-los dali. “Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos”, diz Cristo, “e ninguém pode
arrebatá-las da mão de meu Pai”. Oh, que força a fé dá a um homem!

2. Assim como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o Senhor está em volta
do seu povo desde agora e para sempre: Esse versículo mostra a segurança do crente,
como o anterior mostrou sua estabilidade. Como as montanhas se erguem para guardar a
cidade santa, deste modo Deus cerca o Seu povo como uma parede de fogo. Antes que
alguém venha a ferir o crente, ele devem primeiro romper as muralhas da Divindade! Não
é apenas dito que os cavalos de fogo e carros de fogo estão em redor de Seu povo, apesar
de que é verdade, mas que o Senhor, Ele próprio, rodeia, e isso não ocasionalmente, mas
“desde agora e para sempre”. Eu acredito na segurança eterna dos santos e iria baseá-la
sobre esses dois versículos se não houvesse outros nas Escrituras para o efeito! Se eles
nunca devem ser abalados mais do que o Monte Sião e se Deus está ao redor deles para
sempre, então eles devem viver e eles devem permanecer. Não há, “se” ou “mas”, coloca-
dos aqui, não há, “desde que eles se comportem”, e assim por diante. Não, mas, confiando
em Deus, eles nunca serão movidos e Deus vai cercá-los como segura defesa! Imagino
que ouço alguém dizer: “Se é assim, por que eu estou tentado e conturbado?”. Ah, meu
irmão, nunca foi contemplado que você deve estar livre de problemas! Há uma vara no
Pacto e se você nunca sentir isso, você pode suspeitar que você não está no Pacto!

3. Porque o cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que
o justo não estenda as suas mãos para a iniquidade: Você sentirá aquela vara, mas não
repousará sobre você. Os dias de perseguição serão abreviados por causa dos escolhidos,
e apesar de que, talvez, o Diabo possa estar mais furioso com você do que nunca, e tem
grande ira, porque ele sabe que seu tempo é curto, ainda assim, Deus vai colocar um fim
ao seu sofrimento, à sua perseguição, à sua opressão, porque Ele conhece a sua situação,
Ele está ciente de que, talvez, se a tentação fosse longe demais, que você pode ceder.
Portanto Ele faz um caminho de escape para você. Ele utiliza este meio para experimentar
e testá-lo, mas não muito. Ele diminuirá o ardor da ira do homem e o libertará.

4. Faze bem, ó Senhor, aos bons e aos que são retos de coração: Verdadeiros crentes
são bons, especialmente eles são bons de coração, pois a Graça Divina os fez assim e
Deus, portanto, lhes fará bem. Ele vai abençoá-los mais e mais. Ele vai santificá-los e prepa-
rá-los para o bem inefável que está em Sua mão direita para todo o sempre.

5. Quanto àqueles que se desviam para os seus caminhos tortuosos, levá-los-á o


SENHOR com os que praticam a maldade; paz haverá sobre Israel: Há — sempre houve

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— na Igreja de Deus alguns que foram a desonra da Igreja. Eles têm seus próprios cami-
nhos tortuosos e, em devido tempo, sob estresse de perseguição, ou através da tentação,
eles “se desviam para os seus caminhos tortuosos”. Eles deixam o caminho da confia-
bilidade e da santidade, como Judas fez, como Demas fez, como muitos têm feito. O que
Deus fará com eles? Ele “levá-los-á”. Ele vai mostrar-lhes. Ele irá levá-los para a Sua luz.
E em que companhia vai Ele levá-los? “Com os que praticam a maldade”, pois se não fos-
sem tais em ação exterior, eles eram realmente assim em pensamento e coração! E onde
Ele vai levá-los? Ele vai levá-los para a execução, devem ir entre os malfeitores, eles serão
levados adiante para a morte. Mas será que isso fere o povo do Senhor? Não. Quando o
joio é separado do trigo, o trigo deve ser por completo mais puro. “Paz haverá sobre Israel”.
Todos os eleitos, suplicantes, povo principesco — Seu Israel — terão paz sobre eles! Que
possamos ser encontrados entre eles, por amor de Cristo! Amém.

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Semper Idem
ou
A Imutável Misericórdia de Jesus Cristo
Por Thomas Adams

“Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.” (Hebreus 13:8)

Pelo nome de Jeová, Deus era conhecido por Israel, desde o momento da primeira missão
de Moisés junto a eles, e seu êxodo do Egito, e não antes. Pois, disse Deus a Moisés: “A-
pareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, O
SENHOR, não lhes fui conhecido” (Êxodo 6:3). Este EU SOU é uma palavra eterna, com-
preendendo três tempos: “que era, que é, e que há de vir”.

Agora, para testificar a igualdade do Filho com o Pai, a Escritura dá a Jesus a mesma eter-
nidade que é dada a Jeová. Ele é chamado o Alfa e Omega, primus et novissimus, “o Pri-
meiro e o Último: o que é, que era e que há de vir” (Apocalipse 1), e aqui, “o mesmo ontem,
e hoje, e eternamente”. Desta forma, Ele era não apenas Christus Dei, o ungido de Deus,
mas também Christus Deus, o próprio Deus ungido; tendo em vista esta eternidade, que
não tem começo nem fim, que é exclusiva e apropriada apenas para Deus.

As palavras podem ser distinguidas em um centro, uma circunferência, e uma linha interme-
diária, referindo uma à outra. O centro imutável é Jesus Cristo. A circunferência, que aqui
o circunda, é a eternidade: “Ontem, hoje, e eternamente”. A linha intermediária relacionando-
os émesmo: “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre”.

I. O centro é Jesus Cristo. Jesus foi o Seu Nome próprio, Cristo foi o Seu sobrenome.
Jesus um Nome de Sua natureza, Cristo foi o Seu ofício e dignidade; como uma fala Divina.

Jesus, um nome de toda a doçura, Mel in ore, melos in aure, jubilus in corde. (Bernardo:
Mel na boca, música ao ouvido, júbilo no coração). Um reconciliador, um Redentor, um Sal-
vador. Quando a consciência luta com a lei, pecado, morte, não há nada além de terror e
desespero sem Jesus. Ele é “o caminho, a verdade, e a vida”, sem Ele, error, mendacium,
mors (erro, decepção, morte). Si scribas, non placet, nisi legam ibi, Jesum, disse Bernardo:
Se tu escreves a mim, tua carta não me agrada, sem que eu leia Jesus ali. Se tu conversas,
teu discurso não é doce, sem o nome de Jesus. O bendito Restaurador de tudo, de mais
do que tudo o que Adão perdeu; pois nós temos obtido mais por sua graça regeneradora
do que perdemos pelo pecado corrompedor de Adão.

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Cristo é o Nome de Seu ofício; sendo designado e ungido por Deus um Rei, um sacerdote,
um profeta.

Este Jesus Cristo é nosso Salvador: cujo nome eu me abstenho de mais discurso, sendo
incapaz, mesmo que eu falasse a língua dos anjos, de falar algo digno tanto nomine, tanto
numine (do nome grandioso, da grandiosa majestade). Tudo o que possa ser dito é somente
um pouco; mas, em suma, eu devo dizer apenas um pouco. Mas de todos os nomes dados
ao nosso Redentor, Jesus ainda é o mais doce. Os demais, disse Bernardo, são nomes de
majestade; Jesus é um Nome de misericórdia. A Palavra de Deus, o Filho de Deus, o Cristo
de Deus, são títulos de glória; Jesus, o Salvador, é um título de graça, misericórdia, re-
denção.

Este Jesus Cristo é o centro deste texto; e não apenas deste, mas de toda a Escritura, [...]
a soma da Escritura é o Evangelho; a soma do Evangelho é Jesus Cristo; em uma palavra:
nihil continet verbum Domini, nisi verbum Dominum. Não há nada incluído na Palavra de
Deus; apenas, Deus, a Palavra.

Ele não é o centro apenas desta Palavra, mas [o centro] de nosso descanso e paz. “Porque
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Coríntios 2:2). Tu
nos fizeste para Ti, ó Cristo; e nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Ti.
Isto é natural a tudo appetere centrum, desejar o centro. Mas “nossa vida está oculta junta-
mente com Cristo, em Deus” (Colossenses 3:3). Nós devemos necessitar amare (amar),
onde nós devemos animare (viver).

Nossa mente está onde está o nosso prazer, nosso coração está onde está o nosso tesouro,
nosso amor está onde está a nossa vida; mas tudo isto, nosso prazer, tesouro, vida, estão
depositados em Jesus Cristo. “Tu és a minha porção, ó Senhor”, disse Davi. Tome a palavra
que deleita, deixe sua porção estar em Cristo. “Eis que nós tudo deixamos”, disse Pedro,
“e te seguimos” (Mateus 19:27); vocês não têm perdido nada por isto, disse Cristo, pois vo-
cês têm tido a Mim. Nimis avarus est, cui non sufficit Christus. Ele é tão cobiçoso, aquele a
quem Cristo não pode satisfazer.

Busquemos este centro, disse Agostinho: Quaeramus inveniendum, quaramus inventum.


Ut inveniendus quaratur, paratus est: ut inventus quaeratur, immensus est: Busquemo-lO
até que O encontremos; e ainda O busquemos quando O encontrarmos. Nesta busca, nós
podemos encontrá-lO, Ele está pronto; neste encontro, nós podemos busca-lO, Ele é infi-
nito. Vocês veem o centro.

II. A linha de referência, apropriada a este centro, é Semper idem, “Sempre o Mesmo”.

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Não há mutabilidade em Cristo; “sem mudança, ou sombra de variação” (Tiago 1:17). Todas
as luzes inferiores têm sua inconstância; mas no “Pai das luzes” não há mutabilidade.

O sol tem sua sombra; o “Sol da Justiça” é sem sombra, (Malaquias 4:2); o sol gira em torno
do relógio de sol; mas Cristo não tem mudança. “Aqueles a quem amou, ele os amou até o
fim” (João 13:1). Ele nos ama até o fim; em Seu amor não há fim. Tempus erit consumman-
di, nullum consumendi misericordiam (O tempo será levado a um término, mas a misericór-
dia nunca será finalizada).

Sua misericórdia será aperfeiçoada em nós, nunca acabada. “Num ímpeto de indignação,
escondi de ti a minha face por um momento; mas com misericórdia eterna me compadeço
de ti, diz o SENHOR, o teu Redentor” (Isaías 54:8). Sua ira é breve, Sua benignidade é pa-
ra sempre. “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha
misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o
SENHOR, que se compadece de ti” (versículo 10).

As montanhas são coisas estáveis, os montes são firmes; ainda os montes, montanhas,
sim, toda a terra, será abalada sobre suas fundações, sim, mesmo “céus passarão com es-
trepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados;” (2 Pedro 3:10); mas a Aliança
de Deus não será quebrada. “Desposar-te-ei comigo para sempre” (Oséias 2:19). Este vín-
culo matrimonial nunca será cancelado; nem o pecado, nem a morte, nem o inferno serão
capazes de nos divorciar. Por vinte e seis vezes em um salmo, aquele doce cantor entoa
isto: “Sua misericórdia dura para sempre” (Salmo 136). “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o
mesmo e o será para sempre”.

Enquanto esta meditação destila muito conforto em nossos corações crentes, então, deixe-
mos que isto nos dê algumas instruções. Duas coisas são prontamente ensinadas a nós:
um cuidado dissuasivo, e uma lição persuasiva.

1. Isto afasta a nossa confiança em coisas mundanas, por que elas são inconstantes. Por
quão pouco espaço elas permanecem, “o mesmo’'. Para provar isto, você tem em Juízes
1:7, um júri de setenta reis para tomar seus juramentos. Cada um tinha seu trono, ainda ali
eles lambem as migalhas sob a mesa de outro rei; e brevemente este mesmo rei, que os
fez tão miseráveis, fez a si mesmo mais miserável. Salomão compara as riquezas a uma
ave selvagem. “A riqueza fará para si asas, como a águia que voa pelos céus” (Provérbios
23:5). Nem algum manso pássaro doméstico, ou um falcão podem ser trazidos para baixo
com uma isca, ou achados novamente através de seus sinos; [quanto] mais uma águia, que
violentamente corta o ar, e se vai ao antigo chamado de volta.

A riqueza é como um pássaro; que salta o dia todo de homem para homem, como um pás-

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saro o faz de árvore para árvore; e ninguém pode dizer aonde ele irá empoleirar-se ou des-
cansar à noite. Ela é como um companheiro andarilho, que devido ele ter grandes ossos, e
habilidade de trabalhar, um homem o acolhe, e o mantém aquecido; e talvez, por um tempo
ele trabalha duro; mas quando ele percebe oportunidade, o servo fugitivo se vai, e faz mais
distante com ele do que todo o seu serviço veio. O mundo pode parecer a ti permanecer
em algum lugar, por um período, mas por fim, este irrevogavelmente foge, e leva consigo
as tuas alegrias; teus bens, como Raquel roubou os ídolos de Labão; tua paz e conten-
tamento de coração se vão com [o mundo], e tu és deixado desesperado.

Você percebe quão rapidamente as riquezas deixam de ser “o mesmo”: e pode alguma ou-
tra coisa terrena ostentar mais estabilidade? A honra deve despir-se de suas vestes quando
a cena é finalizada; nunca faz tão gloriosa uma apresentação neste estágio mundano, ela
tem apenas um pequeno momento para atuar. Um grande nome de glória mundana é ape-
nas como um estrondo ressoado em sinos, em que as pessoas comuns são os badalos; a
corda que os move é a popularidade; se você por uma vez deixar ir o seu segurar e
abandonar o badalar, o badalo fica imóvel a, e adeus à honra. A força, apesar de, como Je-
roboão, estender o braço de opressão: este logo cairá seco (1 Reis 13:4). A beleza é como
um almanaque: vai bem se dura um ano. O prazer é como raio: oritur, moritur (ouve-se e
morre); doce, mas breve; um clarão e se vai.

Todas as vaidades são apenas borboletas, as quais crianças irresponsáveis gananciosa-


mente capturam (Anselmo): e algumas vezes elas voam ao lado delas, algumas vezes na
frente delas, algumas vezes atrás delas, algumas vezes próximo a elas; sim, entre os seus
dedos, e ainda elas sentem sua falta; e quando elas as têm, elas são apenas borboletas;
elas têm asas coloridas, mas são lagartas toscas e esquálidas. Assim são as coisas deste
mundo, vaidades, borboletas.

Vel sequendo labimur, vel assequendo laedimur (com frequência aquilo pelo que nós nos
esforçamos, depois nos ferirá quando nós o obtivermos). O mundo em si mesmo não é dife-
rente de uma alcachofra; nove partes desta são folhas não proveitosas, a escassa décima
parte é boa e sobre esta há um pouco de carne a colher, nada tão saudável quanto apetito-
sa: no meio desta há um caroço, que é o suficiente para asfixiar aqueles que o comem.

Oh, então não coloquem os seus corações sobre estas coisas: calcanda sunt (elas existem
para serem pisadas), como Jerônimo observa sobre Atos 4: “Aqueles que vendiam suas
posses, traziam os valores, e os depositavam aos pés dos Apóstolos” (Atos 4:35). Aos seus
pés, não aos seus corações; elas são mais apropriadas para serem pisadas sob os pés, do
que para serem servidas com os corações.

Eu concluo isto com Agostinho. Ecce turbat mundus, et amatur: quid si tranquillus esset?

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Formoso quomodo hareres qui sic amplecteris faedum? Flores ejus quam colligeres, qui sic
a spinis non revocas manum? Quam confideres aterno, qui sic adhaeres caduco? Olhe, o
mundo é turbulento e cheio de tormentos, ainda é amado; como seria abraçado se ele fosse
calmo e tranquilo? Se ele fosse uma formosa donzela, como eles o admirariam, já que o
beijam sendo uma deformada estigmatizada? Quão gananciosamente podem eles ajuntar
as flores, aqueles que não se abstêm dos espinhos? Aqueles que o admiram tanto sendo
transitório e temporal, como eles poderiam se encantar com aquilo que é eterno?

Mas “o mundo passa” (1 João 2:17), e Deus permanece. “Eles perecerão; tu, porém, perma-
neces; sim, todos eles envelhecerão qual veste; também, qual manto, os enrolarás, e, como
vestes, serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão
fim” (Hebreus 1:11-12).

Deste modo, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas no Deus
vivo (1 Timóteo 6:17). E então, “os que confiam no SENHOR são como o monte Sião, que
não se abala, firme para sempre” (Salmo 125:1). “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e
o será para sempre”.

2. Isto nos persuade à imitação da constância de Cristo. Deixe a estabilidade de Sua mise-
ricórdia por nós operar uma estabilidade de nosso amor a Ele. E seja como for, tal quais os
corpos celestes inferiores, nós temos uma inclinação natural de nós mesmos do bem para
o mal, ainda assim, experimentemos o maior poder para nos mover sobrenaturalmente de
mal para o bem. Existe em nós, de fato, uma carne relutante, “mas vejo, nos meus mem-
bros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente” (Romanos 7:23). Assim, Agos-
tinho confessa: Nec plane nolebam, nec plane volebam. And, Ego eram qui volebam, ego
qua nolebam. (Confissões) Eu nem plenamente garantido, nem totalmente rejeitado; e fui
eu mesmo que tanto desejava quanto não desejava. Mas a maturidade de nosso Cristianis-
mo deve sobrepujar os vacilantes pensamentos.

Irresolução e instabilidade são detestáveis, e contrários ao nosso Mestre, Cristo, que é


sempre o mesmo. “Um homem de coração dobre é inconstante em todos os seus cami-
nhos” (Tiago 1:8). O homem inconstante é um estranho em sua própria casa: todos os seus
propósitos são apenas convidados, seu coração é a pousada. Se eles se hospedarem lá
por uma noite, é tudo; eles se vão pela manhã. Muitos movimentos vêm se aglomerando
em cima dele, e como um grande prensa em uma porta estreita, enquanto todos se esfor-
çam, nenhum pode entrar. O epigramático diz, espirituosamente: Omnia cum facias, miraris
act facias nil? Posthume, rem solam qui facit, ille facit. (Em tudo o que você faz, você quer
saber por que você não conclui nada? Depois que você morrer, você fará uma coisa, nome-
adamente isto).

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Aquele que terá um remo para o barco de cada homem, não deve deixar de remar o seu
próprio. Eles, disse Melanchthon, que saberão aliquid in omnibus (alguma coisa sobre
tudo), também saberão nihil in toto (absolutamente nada). Sua admiração ou caducidade
de algo é extrema para a época, mas é um milagre se isto sobreviver à era de uma maravi-
lha, a qual é calculada em apenas nove dias. Eles são irritados com o tempo, e dizem que
os tempos estão findos, porque eles não mais produzem inovações. A sua investigação so-
bre todas as coisas não é quam bonus (o que é bom?), mas quam novum (o que é novi-
dade?). Eles estão quase fatigados de sol que continuamente brilha. A continuidade é uma
discussão suficiente contra as melhores coisas; e o maná do Céu é odiado, pois é comum.

Isto não é para ser sempre o mesmo, mas nunca o mesmo; e enquanto eles querem ser tu-
do, eles não são nada: tal como o verme sobre a qual Plínio escreveu, multipoda, que tem
muitos pés, ainda que esteja em ritmo lento. Por algum tempo, você o terá na Inglaterra, a-
mando a simples verdade; em breve em Roma, cultuando diante de uma imagem. Em pou-
co tempo, depois ele ter saltado para Amsterdã; e ainda ele deve continuar sendo transfor-
mado, até que não haja nada, a não ser tonar-se Turco. Hibernar uma opinião é mui tedioso;
ele tem sido muitas coisas. O que ele será, você bem pouco saberá até que ele não seja
nada.

Mas o Deus de constância deseja fazê-lo constante. Firme na sua fé nEle. “Permaneceis
na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do Evangelho” (Colos-
senses 1:23). Firme na sua fidelidade ao homem, prometendo e não desapontando (Salmo
15:4). Faça isto aliud stantes, aliud sedentes (esteja em pé ou sentado) para que a sua mu-
dança com Deus O ensine a mudá-lo. Nemo potest tibi Christum auferre, nisi te illi auferas
(Ambrose). Nenhum homem pode desviar a Cristo de ti, a menos que tu desvies a ti mesmo
de Cristo, oh, “Jesus Cristo é o mesmo ontem, etc.”.

III. Agora, nós chegamos à circunferência, onde há uma distinção de três tempos; passa-
do, presente e futuro. Tempora mutantur: os tempos mudam, os círculos da circunferência
em volta, mas o centro é “o mesmo para sempre”.

Devemos solucionar esta triplicidade em uma triplicidade. Cristo é o mesmo, de acordo com
esses três termos distintos, de três formas diferentes: 1. Objetivo, na Palavra 2. Subjetivo,
em Seu poder, 3. Eficaz, em sua operação graciosa.

1. Objetivamente, Jesus Cristo é o mesmo em Sua Palavra; e que (1) Ontem na pré-
ordenação; (2) Hoje na encarnação; (3) Para Sempre em aplicação.

(1) Ontem na pré-ordenação. Assim, São Pedro, em seu sermão, diz aos judeus, que “ele

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foi entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (Atos 2:23). E em sua
epístola, que “ele foi preordenado antes da fundação do mundo” (1 Pedro 1:20). Ele é cha-
mado de “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8). Prius
profuit, quam fuit (Antes que alguma coisa possa funcionar, isto deve existir). Seus profetas
Lhe anunciaram, os tipos que O prefiguraram, o próprio Deus O prometeu. Ratus ordo Dei:
o decreto de Deus é constante.

Muito consolo eu devo deixar aqui para a sua meditação. Se Deus preordenou um Salvador
para o homem, antes mesmo que Ele tivesse criado o homem, o ou homem corrompido a
si mesmo, como escreveu Paulo a Timóteo: “Ele nos salvou segundo o sua própria determi-
nação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2 Timóteo
1:9), então, certamente Ele afirma que nada pode nos separar do Seu Amor Eterno neste
Salvador, (Romanos 8:39). Quos elegit increatos, redemit perditos, non deseret redemptos.
Aquele que os escolheu antes que eles fossem criados, e quando eles estavam perdidos,
os redimiu, não os abandonará enquanto estão sendo santificados.

(2) Hoje na encarnação. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho,
nascido de mulher” (Gálatas 4:4). “O Verbo se fez carne” (João 1:14); o qual foi, disse Emis-
seno, Non deposita, sed seposita, majestate (Não repudiando, mas colocando de lado a
majestade). Assim, ele tornou-se mais jovem do que sua mãe, aquele que era tão eterno
quanto o Seu Pai. Ele era no passado Deus antes de todos os mundos, Ele agora foi feito
homem no mundo. Sanguinem, quem pro matre obtulit, antea de sanguine matris accepit.
(Eusébio) O sangue que Ele verteu de sua mãe, Ele o tinha de sua mãe. O mesmo Eusébio,
sobre o capítulo nove de Isaías, perfeitamente, “Porque um menino nos nasceu, um filho
se nos deu” (Isaías 9:6). Ele era Datus ex Divinitate, natus ex virgine. Datus est qui erat;
natus est qui non erat. Ele foi dado da Deidade, nascido de virgem. Ele que foi dado, era
antes; Ele, enquanto nascido, não era antes; Donum dedit Deus aequale sibi: Deus deu um
presente igual a Si mesmo.

Então, Ele é o mesmo ontem e hoje, objetivamente em Sua Palavra. Idem qui velatus in
veteri, revelatus in novo. (O que foi ocultado no passado, é no presente revelado). In illo
praedictus, in isto praedicatus. Ontem prefigurado na Lei, e hoje o mesmo manifestado no
Evangelho.

(3) Para sempre na aplicação. Ele, continuamente pelo seu Espírito, aplica às nossas
consciências a virtude de Sua morte e Paixão “A todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (João 1:12).
“Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”
(Hebreu 10:14). Isto é consolo seguro para nós; por mais que Ele tenha morrido há quase

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1629 anos atrás, Seu sangue não está seco. Seus ferimentos são tão frescos para nos fa-
zerem bem, como estavam para aqueles santos que os contemplaram sangrantes na cruz.
A virtude de Seus méritos não é diminuída, embora muitas mãos de fé já tenham tirado
grandes porções de Seu tesouro, mesmo que infinitas almas tenham bebido amáveis goles,
e tenham satisfeito sua sede. Apenas porque nós não conseguimos compreender isto de
nós para nós mesmos, portanto, Ele tem prometido nos dar “O Espírito da Verdade, que
habitará em nós” (João 14:17), e aplica isto a nós para sempre. Assim, você tem visto a
primeira triplicidade, como Ele é o mesmo, objetivamente, na Sua palavra. Agora, Ele é

2. Subjetivamente, em Seu mesmo Poder; e isso (1) Ontem, pois Ele criou o mundo; (2)
Hoje, pois Ele governa o mundo; (3) Para sempre, pois Ele julgará o mundo.

(1) Ontem, na criação. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada
do que foi feito se fez” (João 1:3). “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e
sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados,
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Colossenses 1:16). Todas as
coisas, mesmo o grandioso e claro livro do mundo, em três tão grandes medidas, coelum,
solum, salum; céu, terra e mar. O profeta o chamou de “Pai da Eternidade” (Isaías 9:6);
Daniel de “Ancião de Dias” (Daniel 7:9). Salomão disse, que “O SENHOR me possuía no
início de sua obra, antes de suas obras mais antigas” (Provérbios 8:22). Então Ele mesmo
disse aos judeus incrédulos: “Antes que Abraão existisse, EU SOU” (João 8:58).

Nós devemos, então, nós mesmos a Cristo por nossa criação; mas quão mais por nossa
redenção? Si totum me debeo pro me facto, quid addam jam pro me refecto? In primo opere
me mihi dedit: in secundo se mihi dedit (Bernardo). Se eu devo a Ele tudo de mim por ter
me criado, o que eu teria que dar a Ele em pagamento por me redimir? Na primeira obra,
Ele deu a mim mesmo a mim; na segunda, Ele deu a Si mesmo a mim. Pelo duplo direito,
nós devemos nós mesmos a Ele; nós somos dignos de uma dupla condenação, se não
dermos a Ele o que Lhe é próprio.

(2) Hoje, em Seu Governo. “Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (He-
breus 1:3), Ele é o pater familias (o pai de família), e ordenou todas as coisas no universo
com o maior cuidado e providência do que qualquer chefe de casa possa gerenciar os
negócios de sua família em particular. Ele não a deixa, como o carpinteiro que tendo cons-
truído a estrutura de uma casa, para que outros a aperfeiçoem, mas Ele mesmo a cuida.
Sua criação e providência são como a mãe e a enfermeira, uma gera, e a outra preserva.
Sua criação foi uma pequena providência; Sua providência, uma perpétua criação. Uma
projeta a estrutura da casa, e a outra a mantém em reparação.

Tampouco isso é um menosprezo à majestade de Deus, como os vãos Epicureus imagina-

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ram, curare minima, considerar as mínimas coisas, mas, sim, uma honra, curare infinita,
considerar todas as coisas. Nem mesmo isto abrange apenas as coisas naturais, encadea-
das juntamente por uma ordem regular de sucessão, mas mesmo as coisas casuais e
contingentes. Frequentemente, cum aliud volumus, aliud agimus (embora pretendamos
uma coisa, fazemos outra), o fato atravessa o nosso propósito; o que deve nos contentar,
embora ocorra de forma contrária ao que imaginamos, porque Deus determinou como
deveria acontecer. É o suficiente que algo alcance a sua própria finalidade, embora isto
fruste as nossas; que a vontade de Deus será cumprida, embora a nossa seja crucificada.

Mas deixe-me dizer: Tem Deus cuidado das aves e flores, e Ele não se importará com você,
a Sua própria imagem? (Mateus 6:26-30). Sim, deixe-me ir mais longe, tem Deus cuidado
dos ímpios? Porventura, tem despejado as felizes influências celestes sobre os “injustos
homens na terra”? (Mateus 5:45). E a fidelidade irá sem a sua bênção? Porventura, Ele
provindecia aos filhos de Belial, e deixará os Seus filhos perecerem? Ele dará carne e
vestes aos restantes, mas a Sua bondade excederá a Benjamim. Se Moabe, sua bacia de
lavar, provou os seus benefícios, então Judá, o sinete em Seu dedo, não pode ser esque-
cido.

O rei governa todos os assuntos no seu domínio, mas os seus servos que esperam em sua
corte participam de seus mais principescos favores. Deus cura as feridas do mais ímpio;
mas se isto for dito a Ele: “Senhor, aquele a quem tu amas está enfermo” (João 11:3), é o
suficiente, ele será sarado. O ímpio pode ter bênçãos exteriores sem as interiores, e isto é
o guisado de Esaú sem [o direito de] sua primogenitura; mas o eleito tem as bênçãos in-
teriores, embora sem as exteriores, e esta é a herança de Jacó, sem a sua sopa.

(3) Para sempre: porque Ele julgará o mundo. “Deus estabeleceu um dia em que há de
julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou” (Atos 17:31). “No dia em
Deus julgará os segredos dos homens por meio de que Jesus Cristo” (Romanos 2:16).
Deixe os ímpios lisonjearem a si mesmo que tudo é apenas conversação sobre algum juízo
vindouro; todos são apenas terriculamenta nutricum, meros bebês assustados. Scribarum
pennee mendaces; eles têm escrito mentiras, não importa tanto. Mas quando virem o
Cordeiro “a quem traspassaram” e desprezaram (Apocalipse 1:7), “clamarão aos montes e
aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos” (Apocalipse 6:16). Agora eles bajulam a si
mesmos com a Sua morte; Mortuus est, ele está morto e se foi; e Mortuum Caesarem quis
metuit? Quem ferirá a César, quando ele está morto? Mas, “Ele que esteve morto, vive;
mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos. Amém” (Apocalipse 1:18). Jesus Cristo,
ontem, hoje e sempre. Quaesitor scelerum veniet, vindexque reorum. (O Juiz da iniquidade
virá e a punição será cumprida).

Aqui está questão de consolo infalível para nós: “Levantai as vossas cabeças, porque a

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vossa redenção está próxima” (Lucas 21:28). Aqui nós somos presos, martirizados, tortu-
rados; mas quando vierem este grandioso juízo e completa libertação de prisão, mors non
erit ultra, “lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor” (Apocalipse 21:4). “Se, de fato, é justo para com Deus que ele
dê em paga tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio
juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu
poder,” (2 Tessalonicenses 1:6-7). Então, nós O encontraremos o mesmo; o mesmo Cordei-
ro que nos comprou, nos dirá a Venite beati, “Vinde, vós benditos, receber o seu reino”.
Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus! (Apocalipse 22:20).

3. Efetivamente em Sua graça e misericórdia. Então, Ele é o mesmo, (1) Ontem, para os
nossos pais; (2) Hoje, para nós mesmos; (3) Para Sempre, para nossos filhos.

(1) Ontem, para nossos pais. Todos os nossos pais, cujas almas estão agora no Céu, a-
queles “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hebreus 12:23), foram, como as próximas pa-
lavras indicam, salvos “por Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão
que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel”. Enquanto eles viveram sob a natu-
reza, ou sob a lei, Cristo foi a sua expectação; e eles foram justificados credendo in ventu-
rum Christum, por crerem na vinda do Messias. Então em Lucas 2:25, Simeão afirma
“esperar a consolação de Israel”.

(2) Hoje, para nós mesmos. Sua misericórdia é eterna; Sua verdade dura de geração em
geração. O mesmo gracioso Salvador que Ele foi ontem para nossos pais, Ele O é hoje pa-
ra nós, se somos, hoje, fiéis a Ele. Tudo é alcançado neste consolo, mas em vão sem a
mão da fé. Não há defeito nEle; mas não há algum em ti? Cristo é Tudo, e o que és tu?

Ele perdoou Maria Madalena de muitos pecados graves, por isso, ele vai perdoar-te, se tu
podes derramar as lágrimas de Maria Madalena. Ele levou o malfeitor da cruz para o
Paraíso; ali Ele vai receber-te se tu tens a mesma fé. Ele foi misericordioso com um apóstolo
que O negou; desafie a ti a mesma misericórdia, se tu tens o mesmo arrependimento. Se
seremos como estes, Cristo, com certeza, será sempre como a Si mesmo. Quando qual-
quer homem confesse-se como um pecador, Ele não deixará de ser um tal Salvador.

Hoje Ele é teu, se hoje tu fores dEle: teu amanhã, se ainda amanhã tu fores dEle. Mas,
como se a sombria morte impede a luz do amanhã? Ele era ontem, então tu eras; Ele é
hoje, então tu és; Ele é amanhã, então talvez tu podes não ser. O tempo pode mudar-te,
entretanto, não pode muda-lO. Ele não é (mas tu és) sujeito a mudanças. Isto eu corajo-
samente ouso dizer: aquele que se arrepender apenas um dia antes de morrer, encontrará
o mesmo Cristo em misericórdia e perdão. A iniquidade em si está contente em ouvir isto;

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mas deixe o pecador ser fiel em sua parte, como Deus é misericordioso em Sua parte:
deixem-no ter certeza de que se se arrepende um dia antes que morra, do qual ele não po-
de ter certeza, exceto que se arrependa todos os dias; pois nenhum homem sabe qual o
seu último dia. Latet ultimus dies, ut observetur omnis dies. Porquanto, disse Agostinho,
nós não conhecemos nosso último dia, devemos vigiar todos os dias. “Hoje, se ouvirdes a
sua voz” (Salmo 95:7).

Tu desperdiçaste o passado negligentemente, tu perdeste o hoje obstinadamente; e talvez


podes perder o amanhã inevitavelmente. É justo que Deus puna a negligência de dois dias
com a perda do terceiro. A mão da fé pode ter murchado, a fonte do arrependimento, seca-
do; o olho da esperança, cego, o pé da caridade, coxo. Hoje, então, ouça a Sua voz, e faça-
O teu. Ontem se perdeu, hoje pode ser obtido; mas este se vai, e tu com ele, quando tu és
morto e julgado, e fará a ti um pequeno consolo, que “Jesus é o mesmo para sempre”.

(3) Para sempre para nossos filhos. Ele que foi ontem o Deus de Abraão, é hoje o nosso
[Deus], e o será para sempre para nossos filhos. Como bem hoje é “a luz dos gentios”,
como antes “a glória de Israel” (Lucas 2:32). Eu serei o Deus de tua descendência, disse o
SENHOR a Abraão. “A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem”
(Lucas 1:50).

Muitas pessoas são solicitamente perplexas, [sobre] como seus filhos farão quando eles
morrerem; ainda eles não consideraram como Deus providenciou a eles quando eram
crianças. “Está a mão do SENHOR encolhida?”. Ele te tirou dos seios de tua mãe; e “quando
os teus parentes te abandonarem” (como disse o Salmista), se tornará o teu Pai? E não
pode esta misericórdia experimentada a ti persuadir de que Ele não te abandonará? Não é
“Jesus Cristo o mesmo ontem, hoje e para sempre”? “Fui moço”, disse Davi, “e já, agora,
sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o
pão” (Salmo 37:8).

Muitos pais desconfiados são tão ansiosos em relação à sua posteridade, que, enquanto
vivem eles matam de fome os seus corpos e arriscam as suas almas, para deixá-los ricos.
Para um pai como este é dito, justamente: O problema de você ser rico, é que pobre e de-
samparado você é. Como uma espécie de galinha, ele alimenta seus pintinhos, e ele mes-
mo morre de fome. Se a usura, a evasão, a opressão, a extorsão, pode torná-los ricos, eles
não deverão ser pobres. Sua loucura é ridícula, pois eles temem que seus filhos sejam mi-
seráveis, ainda assim tomam o único caminho para tornar-los miseráveis; pois eles deixam
não mais heranças de seus bens quanto de seus males. Eles certamente herdam os peca-
dos de seus pais como suas terras: “Deus guarda sua iniquidade para os seus filhos, e a
sua descendência se quer um bocado de pão” (Jó 21:19).

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Ao contrário, “o homem bom é misericordioso, e empresta, e a sua descendência é aben-
çoada” (Salmo 37:26). Que as coisas mundanas façam a sua posteridade pobre, Deus diz
que que fará o homem bom abençoado. O preceito dá uma promessa de misericórdia à o-
bediência, não apenas limitada ao homem obediência em si mesmo, mas extendida à sua
descendência, e mesmo até mil gerações (Êxodo 20:6). Confie, então, teus filhos a Cristo;
quando os teus amigos falharão, a usura findar, a opressão for condenada ao inferno, tu
mesmo apodrecer no pó, o próprio mundo revirar-se e queimar em cinzas, ainda “Jesus é
o mesmo ontem, hoje e sempre”.

Agora, então, como “graça e paz da parte daquele que é, e que era, e que há de vir”, a gló-
ria e honra são com Ele, que é, que era, e que há de vir; a “Cristo, o mesmo ontem, e hoje,
e eternamente” (Apocalipse 1:4).

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A Livre Graça
(Sermão Nº 233)

Pregado na manhã de Sabath, 9 de janeiro de 1859.


Por C. H. Spurgeon, no Music Hall, Surey Gardens.

“Não é por amor de vós que eu faço isto, diz o Senhor DEUS
notório vos seja; envergonhai-vos, e confundi-vos por causa
dos vossos caminhos, ó casa de Israel.” (Ezequiel 36:32)

Há dois pecados do homem que são formados nos ossos e que vêm continuamente à carne.
Um deles é auto-dependência e o outro é a auto-exaltação. É muito difícil, mesmo para o
melhor dos homens, conter-se desde o primeiro erro. O mais santo dos Cristãos e aqueles
que entendem melhor o Evangelho de Cristo encontram em si uma inclinação constante de
olhar para o poder da criatura, em vez de olhar para o poder de Deus e o poder de Deus,
somente. Uma e outra vez a Sagrada Escritura tem nos lembrado do que nós nunca deve-
mos esquecer, isto é, que a salvação é obra de Deus do começo ao fim, e não do homem,
nem por homem algum. Mas assim é este erro antigo, a saber, que devemos salvar a nós
mesmos, ou que estamos a fazer alguma coisa em matéria de salvação. Este erro sempre
se levanta e nos encontramos continuamente tentados por ele a nos afastarmos da simpli-
cidade de nossa fé no poder do Senhor, nosso Deus. Pois mesmo Abraão, não estava livre
do grande erro de confiar em sua própria força! Deus havia prometido a ele que iria dar-lhe
um filho — Isaque, o filho da promessa. Abraão creu, mas por fim, cansado de esperar, ele
adotou a medida carnal de tomar para si mesmo Agar como esposa, e assim ele imaginava
que Ismael iria certamente ser o cumprimento da promessa de Deus. Mas, em vez de
Ismael ajudar a cumprir a promessa, ele trouxe tristeza ao coração de Abraão, porque Deus
não queria que Ismael habitasse com Isaque. “Lançai fora”, diz a Escritura, “a escrava e
seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro com o filho da mulher livre” [Gálatas
4:30].

Agora, na questão da salvação, estamos aptos a pensar que Deus se demora muito tem-
po no cumprimento de Sua promessa e nos propomos a nós mesmos trabalhar para fazer
alguma coisa e o que fazemos? Afundamo-nos mais profundamente na lama e acumula-
mos para nós mesmos um depósito de problemas e dissabores futuros! Não lemos que
pesou o coração de Abraão por enviar Ismael embora? Ah, e muitos Cristãos têm sido
ofendidos por essas obras da natureza, que eles realizaram com o projeto de ajudar o Deus
da graça! Ó Amados, nós com muita frequência nos encontramos tentados a executar a
tola tarefa de auxiliar a Onipotência e ensinar o Onisciente! Em vez de olhar para graça

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para nos santificar, encontramo-nos a adotar regras e princípios filosóficos que achamos
que efetuarão a obra Divina. Mas nós a estragamos! Nós trazemos dor aos nossos próprios
espíritos. Mas se, em vez disto, nós em toda a obra olharmos para o Deus da nossa salva-
ção por ajuda, força, graça e socorro, então o nosso trabalho irá proceder resultado em
nossa própria alegria e consolo para a glória de Deus!

Esse erro, então, eu digo, está em nossos ossos e sempre vai morar conosco e, portanto,
é que as palavras do texto são colocadas como um antídoto contra esse erro. É claramente
afirmado em nosso texto que a salvação é de Deus. “Não é por amor de vós que eu faço
isto”; Ele não diz nada sobre o que temos feito ou podemos fazer. Todos os precedentes e
todos os versículos seguintes falam do que Deus faz: “Vou levá-lo de entre as nações”;
“Então aspergirei água pura sobre vós”; “Vou dar-lhe um novo coração”; “Porei meu Espírito
dentro de vocês”; é tudo de Deus. Portanto, mais uma vez recordamos à nossa memória
esta doutrina e desistamos de toda a dependência de nossa própria força e poder! O outro
erro a que o homem está muito propenso é o de confiar em seu próprio mérito. Embora não
haja justiça em qualquer homem, ainda assim em cada homem há uma tendência de confiar
em algum mérito imaginário. Estranho que isto deva ser assim, mas os caráteres mais
reprováveis ainda têm alguma virtude, segundo a imaginação deles, de que dependem!

Você vai encontrar o bêbado mais desleixado orgulhando-se de que ele não é um blasfe-
mador. Você vai encontrar o bêbado blasfemador orgulhando-se de que pelo menos ele é
honesto. Você vai encontrar homens sem nenhuma outra virtude no mundo exaltando o
que eles imaginam ser uma virtude, o fato de que eles professam não ter nenhuma! Eles
pensam ser extremamente excelentes, porque eles têm a honestidade, ou antes impudên-
cia suficiente para confessar que eles são totalmente vis! De alguma forma a mente humana
se apega ao mérito humano. Ela sempre o reterá e quando você tira tudo em que você acha
que ela poderia confiar, em menos de um momento ela forma algum outro motivo para a
confiança em si mesma! A natureza humana no que diz respeito ao seu próprio mérito é
como a aranha, que leva o seu suporte em suas próprias entranhas e parece como se fosse
mantê-lo girando por toda a eternidade. Você pode retirar uma teia, mas ela logo faz outra.
Você pode pegar o fio de um lugar e você vai encontrá-lo agarrado ao seu dedo e quando
você procurar retirá-lo com uma mão, você o encontrará agarrado à outra! É difícil se livrar
dele. A natureza humana está sempre pronta para tecer sua teia e vincular-se a algum
terreno de falsa confiança.

É contra todo o mérito humano, que eu vou falar nesta manhã e eu sinto que vou ofender
muita gente aqui. Estou prestes a pregar uma doutrina que é fel e vinagre para carne e
sangue, que vai fazer moralistas rangerem seus dentes e fazer com que outros vão embora
e declarem que sou um Antinomiano e talvez dificilmente apto para viver! No entanto, essa

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consequência é uma que eu não devo lamentar muito se ligado a ela houver em outros
corações uma rendição a esta gloriosa verdade de Deus e rendendo-se ao poder e graça
de Deus que nunca irá nos salvar, a não ser que estivermos preparados para deixá-lO ter
toda a glória!

Em primeiro lugar, me esforçarei para expor como um todo a doutrina contida neste texto.
Em seguida eu devo me esforçar para mostrar a sua força e veracidade. Em seguida, em
terceiro lugar, buscarei o Espírito Santo de Deus para aplicar as lições úteis e práticas que
devem ser tiradas a partir dele.

I. Vou tentar expor este texto. “Não é por amor de vós que eu faço isto, diz o Senhor Deus”.
O motivo para a salvação da raça humana se encontra no seio de Deus e não no caráter
ou condição do homem.

Duas raças se revoltaram contra Deus: uma angelical, a outra humana. Quando uma par-
te desta raça angelical se revoltou contra o Altíssimo, a justiça rapidamente os alcançou.
Eles foram arrastados de suas cadeiras no céu estrelado e, doravante, eles estão reser-
vados na escuridão até o grande dia da ira de Deus! Nenhuma misericórdia foi apresenta-
da a eles, nenhum sacrifício jamais foi oferecido por eles. Eles estavam sem esperança e
misericórdia, para sempre remetidos para o abismo de tormento eterno! A raça humana,
muito inferior em ordem de inteligência, pecou tão atrozmente quanto, de qualquer forma,
se os pecados da humanidade que temos ouvido fossem colocados juntos e corretamente
pesados, mal posso entender como até mesmo os pecados dos demônios poderiam ser
muito mais malignos do que os pecados da humanidade! No entanto, o Deus que em Sua
infinita justiça passou sobre os anjos e permitiu-lhes eternamente expiar seus crimes no
fogo do inferno, e teve o prazer de olhar para baixo para o homem. Ali estava a eleição em
grande escala! A eleição da natureza humana e a reprovação da natureza angélica caída!
Qual foi a razão para isso? A razão estava na mente de Deus, uma razão inescrutável que
não sabemos e mesmo que se soubéssemos, provavelmente não conseguiríamos enten-
der. Tivesse eu e você sido postos a determinar a escolha de qual teria sido poupado, eu
acho que é provável que teríamos escolhido que anjos caídos deveriam ter sido salvos.
Eles não são mais brilhantes? Será que eles não possuem a maior força mental? Se eles
tivessem sido redimidos, será que não glorificariam a Deus mais, como nós julgamos, do
que a salvação de vermes como nós?

Esses seres brilhantes — Lúcifer, filho da alva e essas estrelas que andava em seu curso
— se tivessem sido lavados em Seu sangue redentor; se tivessem sido salvos pela sobera-
na misericórdia, que canção teriam eles levantado ao Altíssimo e eterno Deus! Mas Deus,

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que faz o que Ele quer com o que é Seu próprio e não dá conta dos Seus assuntos; Ele
que lida com as Suas criaturas como o oleiro lida com seu barro, não tomou sobre Si a na-
tureza dos anjos, mas tomou sobre Si a descendência de Abraão e escolheu homens para
serem os vasos de Sua misericórdia! Este fato se sabe, mas qual é a sua razão? Certa-
mente não está no homem! “Não é por amor de vós que eu faço isto, diz o Senhor DEUS;
notório vos seja; envergonhai-vos, e confundi-vos por causa dos vossos caminhos, ó casa
de Israel”.

Aqui, pouquíssimos homens objetam. Observamos que se estamos falando sobre a eleição
dos homens e da não eleição de anjos caídos, não há qualquer objeção nem por um
momento! Todo homem aprova o Calvinismo até que sinta que ele é o perdedor por ele.
Mas quando ele começa a tocar seus próprios ossos e sua carne, então tal homem chuta
contra isto. Venha, então, temos de ir mais longe! A única razão pela qual um homem é
salvo e não outro não reside, em qualquer sentido, no homem salvo, mas no peito de Deus!
A razão pela qual neste dia o Evangelho é pregado a você e não às nações distantes não
é, por que, como uma raça, nós sejamos superiores aos pagãos! Não é por que mereçamos
mais das mãos de Deus! Sua escolha da Grã-Bretanha, na eleição de privilégio, não é
causada pela excelência da nação britânica, mas inteiramente por causa de Sua própria
misericórdia e Seu próprio amor! Não há razão em nós pela qual nós devemos ter o
Evangelho pregado a nós mais do que qualquer outra nação. Hoje alguns de nós receberam
o Evangelho e foram transformados por ele, e tornaram-se os herdeiros da luz e da imorta-
lidade, enquanto outros ainda são deixados para ser os herdeiros da ira! Mas não há nenhu-
ma razão em nós pela qual deveríamos ter sido tomados e outros deixados:

“Não havia nada em nós para merecer estima


Ou dar deleite ao Criador.
Foi assim mesmo, Pai! Nós deveremos eternamente cantar,
Porque pareceu bem aos Teus olhos.”

E agora, vamos rever esta doutrina extensamente. Somos ensinados nas Escrituras As-
gradas que muito antes deste mundo ter sido criado, que Deus de antemão conheceu e
previu todas as criaturas que Ele intentou formar. E, em seguida, foi ali preordenado que a
raça humana cairia em pecado e mereceriam Sua ira; foi determinado em Sua própria
mente soberana que uma imensa parcela da raça humana deveria ser Seus filhos e deve-
ria ser levada para o Céu. Quanto ao resto, deixou-os a seus próprios méritos, para semear
vento e colher tempestade, para espalhar o crime e herdar a punição. Agora, no grande
decreto da eleição, a única razão pela qual Deus escolheu os vasos de misericórdia deve
ter sido porque Ele o fez. Não havia nada em qualquer um deles que levou Deus a escolhê-
los! Nós todos éramos iguais, todos perdidos, todos arruinados pela Queda, todos sem a

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menor reivindicação de Sua misericórdia. Todos, de fato, merecendo Sua maior vingança!
Sua escolha de qualquer um e Sua escolha de todo o Seu povo é sem causa, na medida
em que nada neles foi sua causa. Foi o efeito de Sua soberana vontade e de nada do que
fizeram, poderiam fazer ou até mesmo fariam! Porque assim diz o texto: “Não é por amor
de vós que eu faço isto, ó casa de Israel!”.

Quanto ao fruto da nossa eleição, em devido tempo, Cristo veio a este mundo e comprou
com o Seu sangue todos aqueles a quem o Pai escolheu. Agora vamos para a cruz de
Cristo! Traga esta doutrina com você e lembre-se que a única razão pela qual Cristo deu a
Sua vida para ser um resgate por suas ovelhas foi porque Ele amava Seu povo, não havia
absolutamente nada no Seu povo que O faria morrer por ele! Eu estava pensando quando
eu vinha para cá nesta manhã, se alguém deve imaginar que o amor de Deus por nós foi
causado por alguma coisa em nós, seria como se um homem olhasse para um poço para
encontrar os mananciais do mar, ou cavasse um formigueiro para encontrar um Alpe! O
amor de Deus é tão imenso, tão ilimitado e tão infinito que não se pode conceber por um
momento que ele poderia ter sido causado por qualquer coisa em nós!

O pouco de bem que há em nós, ou melhor, o nada de bom que há em nós, não poderia
ter causado o amor ilimitado, sem fundo, sem margens, sem cume que Deus manifesta ao
Seu povo! Fiquem ao pé da cruz, vocês sedendos-de-mérito, vocês que se deleitam em
suas próprias obras, respondam a estas perguntas: Vocês pensam que o Senhor da vida e
glória poderia ter sido trazido do Céu; ter sido feito como um homem e levado a morrer por
qualquer mérito seu? Poderão estas veias sagradas serem aberta com qualquer faca,
senão a aguda faca de Seu próprio amor infinito? Vocês concebem que seus pobres méri-
tos, tal como eles são, podem ser tão eficazes a ponto de pregar o Redentor no madeiro e
fazê-lO dobrar Seus ombros sob a enorme carga de culpa do mundo? Você não pode imagi-
nar isto! A consequência é tão grande em comparação com o que você acha ser o caso,
que a sua lógica falha de imediato. Você pode conceber que um inseto coral eleva uma ro-
cha por sua multiplicidade e por seus muitos anos de trabalho, mas você não pode conceber
que todos os méritos acumulados da humanidade, se tais coisas existissem, poderiam ter
trazido o Eterno do trono de Sua majestade e incliná-lO à morte de cruz, isso é uma coisa
tão claramente impossível a qualquer mente pensante como a impossibilidade pode ser!
Não, da cruz vem o brado: “Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel”.

Após a morte de Cristo vem, no lugar seguinte, a obra do Espírito Santo. Aqueles a quem
o Pai escolheu e a quem o Filho redimiu, em devido tempo, o Espírito Santo chama “das
trevas para a maravilhosa luz”. Agora, o chamado do Espírito Santo é, não está vinculado
a algum mérito em nós. Se neste dia o Espírito Santo deve chamar desta congregação cem
homens e levá-los para fora de seu estado de pecado para um estado de retidão, você pode

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trazer esses cem homens e deixá-los marchar em revista, e se você pudesse ler seus
corações, você seria obrigado a dizer: “Eu não vejo nenhuma razão pela qual o Espírito de
Deus deveria ter operado nestes! Não vejo nada de tudo o que poderia ter merecido tanta
graça como esta, nada que pudesse ter causado as operações e moções do Espírito a
trabalhar nestes homens”. Pois bem, olhe aqui, é dito que, por natureza, os homens estão
mortos no pecado.

Se o Espírito Santo vivifica, não pode ser por causa de qualquer poder nos homens mortos,
ou qualquer mérito deles, pois eles estão mortos, corruptos e podres na sepultura de seu
pecado! Se, então, o Espírito Santo diz: “Sai para fora e vive”, não é por causa de qualquer
coisa nos ossos secos, deve ser por algum motivo, em Sua própria mente, mas não em
nós. Portanto, saibam disso, irmãos e irmãs, para que todos estejamos em terreno nivela-
do! Nós não temos, nenhum de nós, qualquer coisa que pode nos recomendar a Deus. E
se o Espírito escolhe operar em nossos corações para a salvação, Ele deve ser movido a
fazê-lo por Seu próprio amor supremo, pois Ele não pode ser movido a fazê-lo por qualquer
boa vontade, bom desejo ou boa ação que habita em nós por natureza!

Para avançar um pouco mais, esta verdade de Deus, que é válida até o momento, será
válida até o fim. O povo de Deus, depois haver sido chamado pela graça, é preservado em
Cristo Jesus — eles são “guardados pelo poder de Deus mediante a fé para a salvação”.
Eles não têm permissão para pecar afastando-se da sua herança eterna, mas à medida
que surgem as tentações que têm certa força com que encontrá-los, e que à medida que
que o pecado os escurece, eles são novamente lavados e purificados. Entretanto, obser-
vem, a razão pela qual Deus preserva Seu povo é a mesma que os fez o Seu povo: Sua
própria livre graça soberana! Se, meus irmãos e irmãs, vocês forem livrados na hora da
tentação, façam uma pausa e lembrem-se que não foram libertos pela sua própria benigni-
dade, não havia nada em você que merecesse a libertação! Se você tem sido alimentado
e suprido em sua hora de necessidade, não é porque você tem sido um fiel servo de Deus,
nem porque você tem sido um Cristão fervoroso.

É simples e somente por causa da misericórdia de Deus! Ele não é movido por qualquer
coisa que Ele faz por você nem por qualquer coisa que você faz para Ele, Seu motivo para
o abençoar encontra-se total e completamente nas profundezas do seu próprio peito!
Bendito seja Deus, o Seu povo deve ser conservado:

“Nem a morte, nem o inferno jamais removerão


Seus favoritos de Seu peito!
No querido seio do Seu amor
Eles devem eternamente descansar.”

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Mas por que? Porque eles são santos? Porque eles são santificados? Porque eles servem
a Deus com boas obras? Não, mas porque Ele, em Sua graça soberana, os amou, os ama
e os amará até o fim!

E para concluir minha exposição deste texto. Isto deve manter-se válido no próprio Céu! O
dia está chegando quando cada, filho lavado pelo sangue, comprado pelo sangue de Deus
deverá andar nas ruas de ouro vestidos de branco. Nossas mãos em breve terão palmas.
Nossos ouvidos devem se deleitar com melodias celestes e os olhos cheios de visões
arrebatadoras da glória de Deus. Mas note, a única razão pela qual Deus nos levará para
o Céu será o Seu próprio amor e não porque merecemos isso, temos de combater o
combate, mas não obtemos a vitória porque nós combatemos! Devemos trabalhar, mas o
salário no fim dos dias deve ser um salário pela graça e não uma dívida! Devemos honrar
a Deus aqui, esperando a recompensa do galardão, mas que nenhuma recompensa será
dada em um terreno legal, porque merecemos, mas nos foi dada inteiramente porque Deus
nos ama, e não por qualquer motivo que estava em nós!

Quando você e eu e cada um de nós entrarmos no Céu, o nosso canto deve ser: “Não a
nós, não a nós, mas ao teu nome seja toda a glória”. E isso deverá ser verdade! Isto não
será um mero exagero de gratidão. Será verdade! Seremos obrigados a cantá-lo, porque
não poderíamos cantar qualquer outra coisa. Sentiremos que não fizemos nada e que não
éramos nada, mas que Deus fez tudo, que não tínhamos nada em nós para ser o motivo
para levá-lO a fazer isto, mas que Seu motivo estava em Si próprio! Por isso a Ele será
cada partícula de honra para todo o sempre.

Agora, isso, presumo, é o significado do texto. Desagradável é para a grande maioria, mes-
mo dos Cristãos professos nesta era. Esta é uma doutrina que requer uma grande quanti-
dade de sal, ou então poucas pessoas vão recebê-la. É muito desagradável para elas. No
entanto, lá está: “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso”. Sua verdade nós temos
que pregar e ela devemos proclamar. A salvação é “não de homens, nem por homem al-
gum. Não da vontade da carne, nem do sangue”, nem de nascimento, mas da soberana
vontade de Deus e de Deus somente!

II. E agora, em segundo lugar, eu irei ilustrar e reforçar este texto. Considere por um mo-
mento, o caráter do homem. Ela vai humilhar-nos e ele tenderá a confirmar esta verdade
de Deus em nossas mentes.

Deixe-me dar uma ilustração. Vou considerar o homem como um criminoso. Ele certamente
é tal aos olhos de Deus e não vou difamá-lo. Suponha agora que algum grande criminoso

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é finalmente pego no seu pecado e preso em Newgate. Ele cometeu alta traição, assas-
sinato, rebelião e cada maldade possível. Ele quebrou todas as leis do reino, cada uma
delas! O clamor público está em toda parte: “Este homem deve morrer! As leis não podem
ser mantidas a menos que ele seja feito um exemplo de seu rigor. Aquele que não tem a
espada em vão desta vez deve deixar a espada provar o sangue. O homem deve morrer.
Ele merece isso!”. Você olha para o seu caráter, você não pode ver um só traço que possa
redimi-lo.

Ele é um velho ofensor. Ele tem por muito tempo perseverado na sua iniquidade, a ponto
de você ser obrigado a dizer: “O caso é sem esperança para este homem. Seus crimes são
muitíssimo agravados, nós não podemos fazer um pedido de desculpas por ele, embora
ainda devemos tentar! Nenhuma astúcia jesuítica, em si, poderia conceber qualquer preten-
são de desculpa, ou qualquer esperança de um fundamento para este desgraçado abando-
nado. Deixe-o morrer!”. Agora, se sua majestade a rainha, tendo em suas mãos o poder
Soberano de vida ou morte escolhe que este homem não irá morrer, mas que ele será
poupado, você não vê tão claro como a luz do dia que a única razão que pode levá-la a
poupar este homem deve ser o seu próprio amor, sua própria compaixão? Como eu já supu-
nha que não há nada no caráter do homem que pode ser um pedido de misericórdia, mas
que, pelo contrário, todo o seu caráter clama por vingança contra o seu pecado. Quer quei-
ramos ou não, esta é apenas a verdade de Deus concernente a nós! Este é apenas o nosso
caráter e posição diante de Deus!

Ah, meu ouvinte, você pode girar sobre os calcanhares revoltado e ofendido! Mas há al-
guns aqui que acham que isto seja solenemente verdadeiro em suas próprias experiência-
as e, portanto, eles vão beber na doutrina, pois é a única maneira pela qual eles podem ser
salvos. Meu ouvinte, talvez a sua consciência está lhe dizendo esta manhã que você pecou
tão horrendamente que não há entrada para um raio solitário de esperança em sua pessoa.
Você adicionou aos seus pecados este outro, você se rebelou contra o Altíssimo desenfre-
ada e perversamente! Caso você não tenha cometido todos os pecados do calendário do
crime, foi porque a providência Divina deteve sua mão, o seu coração tem sido sombrio o
suficiente para tudo isto. Você sente que a vileza de sua imaginação e seus desejos têm
alcançado a consumação da culpa humana e você não poderia ir mais longe. Seus pecados
prevaleceram contra você e passaram sobre sua cabeça.

Agora, homem, a única base sobre a qual Deus pode salvá-lo é o Seu amor! Ele não pode
salvá-lo, porque você merece, pois você não merece, não há desculpa que possa ser dada
para o seu pecado! Não, você é inescusável e você sente isso. Oh! bendiga o Seu querido
nome, que Ele concebeu desta maneira pela qual Ele pode salvá-lo sobre a base de Seu
próprio amor soberano e ilimitada graça sem nada em você!

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Eu quero que você volte novamente para Newgate e a este criminoso. Supomos agora que
este criminoso é visitado por Sua majestade em pessoa. Ela vai até ele e diz-lhe: “Rebelde,
traidor, assassino eu tenho compaixão por você em meu coração. Você não merece isso,
mas eu vim hoje para lhe dizer que se você se arrepender você terá misericórdia pelas
minhas mãos”. Suponha que esse homem, se levante, e a amaldiçoasse — Amaldiçoar
este anjo de misericórdia em sua face; cuspir sobre ela e proferir blasfêmias, maldições,
imprecações sobre sua cabeça? Ela se retira. Ela se vai.

Mas tão grande é sua compaixão que no dia seguinte ela envia um mensageiro. E por dias,
semanas e meses e anos ela envia continuamente mensageiros e estes vão para ele e
dizem: “Se você se arrepender de suas transgressões, você terá misericórdia. Não é porque
você merece, mas porque Sua majestade é compassiva e sua alma graciosa deseja a sua
salvação. Você vai se arrepender?”. Suponha que este homem amaldiçoasse o mensagei-
ro; tapasse os ouvidos contra a mensagem, cuspindo nele e dissesse que ele não se im-
porta consigo mesmo. Ou suponha um caso melhor, suponha que ele sai de seu lugar e
diz: “Eu não me importo se estou enforcado ou não. Vou levar a minha oportunidade, junta-
mente com outras pessoas. Eu não tomar conhecimento de vocês”. E suponha que mais
do que isso, levantando de seu assento, ele se entrega de novo em todos os crimes pelos
quais ele já foi condenado e mergulha de cabeça de novo nos mesmos pecados que trouxe-
ram seu pescoço para a corda da forca. Agora, se Sua majestade poupasse um homem
como esse, em que termos ela poderia fazê-lo? Você diz: “Pois ela não pode, a não ser que
ela faça isso por amor! Ela não pode por causa de qualquer mérito nele! Tal como animal
este deve morrer!”

E agora o que você e eu somos por natureza, senão como este ladrão? E meu ouvinte não-
convertido, o que é isso, senão um retrato seu? O próprio Deus já não visitou sua consciên-
cia? Será que Ele não disse a você: “Pecador! Venha agora, vamos raciocinar juntos. Ainda
que os seus pecados sejam como a escarlata se tornarão como a neve”. E o que você fez?
Tapou seu ouvido contra a voz da consciência, amaldiçoou e praguejou contra Deus,
blasfemou contra o Seu santo nome, desprezou Sua Palavra e ralhou contra Seus minis-
tros. E hoje, mais uma vez, com lágrimas nos olhos, um servo de Deus veio para você e
sua mensagem é: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo. Como eu vivo, diz o Senhor,
não tenho prazer na morte do que morre, mas antes quero que ele se converta a mim e
viva”. E o que você vai fazer? Se deixados a si mesmos, vocês vão rir da mensagem, e
desprezá-la! E vocês vão desprezar a Deus, novamente, como haviam feito anteriormente!
Você não vê, então, que, se Deus devesse salvá-lo, isto não pode ser por amor de vós?
Deve ser de Seu próprio amor infinito. Não pode ser a partir de qualquer outro motivo, posto
que você tem rejeitado a Cristo, desprezado o Seu Evangelho, pisado o sangue de Jesus
e recusada ser salvos! Se Ele te salva, deve ser por livre graça e livre graça somente.

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Mas agora imagine um pouco mais sobre este criminoso em Newgate. Não contente com
o haver adicionado pecado a pecado e tendo rejeitado a misericórdia para si, este desgra-
çado laboriosamente emprega-se em dar ir a todas as celas onde os outros estão confina-
dos e endurecer seus corações também, contra a misericórdia da rainha! Ele mal pode ver
uma pessoa, que começa a contaminá-la com a blasfêmia de seu próprio coração. Ele
profere coisas prejudiciais contra a majestade que o poupa, e se esforça para fazer os
outros tão vis como ele mesmo! Agora, o que diz a justiça? Se este homem não deve mor-
rer por sua própria conta, então ele deve morrer para o bem dos outros! E se ele é poupado,
não é tão simples, que sendo ele o cabeça do grupo ele não pode ser poupado por causa
de qualquer motivo nele? Deve ser por causa da compaixão inconquistável da soberana!

E agora olhe aqui, não é esse o caso de alguns aqui presentes? Vocês não somente pecam,
vocês mesmos, mas vocês levam outros ao pecado! Eu sei que esta foi uma das minhas
pragas e tormentos, quando Deus me trouxe para Si mesmo, que eu tinha levado outros à
tentação. Não existem homens aqui que ensinaram outros a blasfemar? Não estão aqui
pais que ajudaram a destruir as almas de seus próprios filhos? Não existem alguns de vocês
que são como a mortal árvore Upas? Você estica seus ramos e de cada folha cai veneno
sobre aqueles que vêm sob a sua gama mortal! Não existem alguns aqui que têm seduzido
os virtuosos; que enganaram aqueles que eram aparentemente piedosos e que são, talvez,
tão endurecidos que eles ainda gloriam-se nisto? Não contente com estar condenando a si
mesmos, vocês estão buscando levar outros ao poço do inferno também! Achando que não
vos é suficiente estar em inimizade com Deus, vocês querem imitar Satanás, arrastando os
outros com vocês! Ó meu ouvinte, não é este o seu caso? Seu coração não o confessa? E
as lágrimas não descem em suas bochechas? Lembre-se, então, isso deve ser verdade:
se Deus lhe salvar, isto será porque Ele o fará!

Eu só vou usar uma outra ilustração e então eu acho que o texto terá sido feito suficiente-
mente claro. Não há tanta diferença entre o preto e um tom mais escuro de preto como há
entre o branco puro e o preto. Todos podem ver isso. Assim, não há tanta diferença entre
o homem e o Diabo como há entre Deus e o homem. Deus é a perfeição. Estamos pretos
com o pecado. O Diabo é apenas um tom mais escuro de preto. E grande como pode ser
a diferença entre o nosso pecado, e o pecado de Satanás, contudo não é tão grande como
a diferença entre a perfeição de Deus e a imperfeição do homem. Agora, imagine por um
minuto que em algum lugar na África deve haver uma tribo de demônios vivendo, e que
você e eu tivéssemos em nosso poder salvar esses demônios de alguma ira ameaçadora
que deve alcançá-los. Se você ou eu devêssemos ir lá e morrer para salvar aqueles de-
mônios, o que poderia ser a nossa motivação? Pelo que sabemos do caráter de um demo-
nio, o único motivo que poderia levar-nos fazer isso deve ser o amor. Não poderia ser qual-
quer outro. Deve ser simplesmente porque tivemos corações tão grandes que poderíamos

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até mesmo abraçar demônios dentro deles. Bem, agora, não há tanta diferença entre o
homem e o Diabo como entre Deus e o homem. Se, então, o único motivo que poderia levar
os homens a poupar um demônio, deve ser o amor do homem, não se segue com força
irresistível que o único motivo que poderia levar Deus a salvar os homens deve ser o próprio
amor de Deus. De qualquer forma, se isso não é convincente, o fato é indiscutível: “Não é
por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel”. Deus nos vê abandonados, maldosos,
iníquos e merecendo a Sua ira. Se Ele nos salva, é por que Seu infinito, insondável amor
que O leva a fazê-lo, pois absolutamente nada em nós o levaria a nos salvar!

III. E agora, tendo assim pregado esta doutrina e reforçando-a, eu venho a uma APLICA-
ÇÃO PRÁTICA muito solene. E aqui que Deus, o Espírito Santo, me ajude a laborar com
os seus corações!

Em primeiro lugar, uma vez que esta doutrina é verdade, quão humilde Cristão deve ser!
Se você é salvo, você não teve nada a ver com isso, foi Deus o fez. Se você é salvo, não
foi porque você merecesse. Foi misericórdia imerecida que você recebeu!

Tenho, por vezes, sido muito feliz quando eu vi a gratidão de pessoas abandonadas para
qualquer um que os tenha ajudado. Lembro-me de visitar uma casa de refúgio. Havia uma
menina pobre lá que tinha caído em pecado há muito tempo e quando ela se viu gentil-
mente tratada e reconhecida pela sociedade e viu um ministro Cristão desejoso de buscar
o bem de sua alma, isso quebrou seu coração. Por que um homem de Deus se importa
com ela? Ela era tão vil. Como pode ser que o Cristão falasse com ela? Ah, mas quanto
mais deve esse sentimento elevar-se em nossos corações? “Meu Deus! Me rebelei contra
Ti e ainda Tu me amaste, indigno-me! Como pode ser? Eu não posso levantar-me de orgu-
lho, devo me curvar diante de ti em palavras de gratidão!”.

Lembrem-se, meus queridos irmãos e irmãs, que a misericórdia que você e eu recebemos
foi não somente imerecida, mas foi sem ser solicitada! É verdade que você orou, mas não
até que a livre graça fizesse você orar. Você teria estado até hoje endurecido de coração,
sem Deus e sem Cristo, se a livre graça não tivesse te salvado. Você pode se orgulhar?
Orgulhoso da misericórdia que, se posso usar o termo, foi forçada sobre você? Orgulhoso
da graça que foi dada contra a sua vontade, até que a sua vontade fosse mudada pela
graça soberana? E pense novamente! Toda a misericórdia que você tem, foi uma vez
recusada. Cristo ceou com você. Não seja orgulhoso de seu companheiro!

Lembre-se, houve um dia em que Ele bateu na porta e você O recusou, quando Ele veio
até a porta e disse: “Abre-me, amada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho,

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os meus cabelos das gotas da noite” [Cânticos 5:2]. E você o barrou em Sua face e não O
deixou entrar! Não seja orgulhoso, então, do que você tem, quando você lembrar que você
uma vez O rejeitou! Será que Deus abraça você em Seus braços de amor? Lembre-se, uma
vez que você levantou sua mão de rebelião contra Ele! Está o seu nome escrito no Seu
livro? Ah, houve um tempo em que, se tivesse estado em seu poder, você teria apagado as
linhas sagradas que continham a sua própria salvação! Podemos, ousadamente, levantar
nossas cabeças perversas com orgulho quando todas estas coisas devem nos fazer baixar
a cabeça na mais profunda humildade?

Essa é uma lição, vamos aprender outra.

Esta doutrina é verdadeira e, portanto, deve ser um assunto da maior gratidão. Ao meditar
sobre este texto ontem, o efeito que teve em cima de mim foi o de gerar a alegria. Oh! eu
pensei, sobre em qual outra condição eu poderia ter sido salvo? E eu olhei para trás, para
meu estado passado. Vi-me piedosamente treinado e educado, mas me revoltei contra tudo
isso. Vi lágrimas de uma mãe derramadas por mim em vão e a admoestação de um pai
rejeitada por mim, e eu ainda encontrei-me salvo por graça e eu só podia dizer: “Senhor,
Eu te bendigo que é pela graça, pois se tivesse sido por mérito eu nunca teria sido salvo!
Se Tu tivesses esperado até que houvesse algo de bom em mim, Tu terias esperado até
que eu afundasse na perdição sem esperança do inferno, pois nunca haveria algo de bom
no homem, a menos que Tu tivesses primeiro o colocado lá”.

E então eu pensei imediatamente: “Ah, como eu poderia ir e pregar para o pobre pecador!”.
Ah, me deixe tentar, se eu não posso. Ó pecador, você diz que não se atreve a vir a Cristo,
porque você não tem nada para lhe recomendar. Ele não precisa de nada para recomendar
você! Ele não vai te salvar se você tem alguma coisa para lhe recomendar, pois Ele diz:
“Não por sua causa que eu faço isto”. Vá para Cristo com brincos nas orelhas e joias em
cima de você. Lave o rosto e exiba-se com ouro e prata e vá diante dEle e diga: “Senhor,
salva-me! Lavei-me e vesti-me, salva-me!”, “Tire-o daqui! Não é por amor de vós que eu
vou fazer isso”. Vá a Ele novamente e diga: “Senhor, eu coloquei uma corda em volta do
pescoço e saco sobre os meus lombos, olha como eu estou arrependido! Olha como eu
sinto a minha necessidade! Agora salve-me!”, “Não”, Ele diz, “eu não iria salvá-lo por causa
das belas vestes que você exibiu e agora não vou lhe poupar por causa de seus trapos! Eu
vou te salvar não por algo que haja em você. Se eu salvá-lo, isto vai ser por algo em meu
coração, e não por qualquer coisa que você sente. Saia daqui!”

Mas, se hoje você for a Cristo e disser: “Senhor Jesus, não há nenhuma razão no mundo
pela qual eu deveria ser salvo, há uma no Céu. Senhor, eu não posso instigar a qualquer
alegação; eu mereço ser perdido, eu não tenho nenhuma desculpa para dar por todos os

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meus pecados, nenhum pedido de desculpas a oferecer. Senhor, eu mereço o inferno e
não há nada em mim pelo que eu deveria ser salvo, pois se Tu me salvares eu deveria ser
feito um Cristão pobre, depois de tudo. Temo que minhas futuras obras não serão em home-
nagem a Ti, eu gostaria que elas pudessem ser, mas Tua graça deve fazê-las boas, ou
então elas ainda serão ruins! Mas, Senhor, embora eu não tenha nada para trazer e nada
a dizer por mim mesmo, eu digo isso: Ouvi dizer que Tu vieste ao mundo para salvar os
pecadores, então, Ó Senhor, salva-me!

‘Eu sou o principal dos pecadores.’

Confesso que não sinto isso como eu deveria, eu não luto como devo. Eu não tenho ne-
nhum arrependimento para me recomendar. Não, Senhor, eu não tenho fé para me reco-
mendar também, pois eu não acredito na Tua promessa como devo. Mas, oh! eu me agarro
a este texto. Senhor, Tu disseste que não vais fazer isso por minha causa. Eu Te agradeço
por ter dito isso! Tu não poderias fazer isso por mim, pois não tenho nenhuma razão pela
qual Tu devesses. Senhor, eu reivindico sua promessa graciosa! ‘Tem misericórdia de mim,
pecador’”.

Ah, vocês pessoas boas, esta doutrina não combina com alguns de vocês! É muito humi-
lhante, não é? Vocês que têm frequentado suas igrejas regularmente e estiveram em reu-
niões tão piedosamente, vocês que nunca quebraram o Sabath, ou nunca fizeram um jura-
mento, ou algo errado — isso não combina com vocês! Você diz que fará muito bem pregar
a prostitutas, e bêbados, e praguejadores, mas não irá servir para pessoas tão boas como
nós somos.

Ah, bem, este é o vosso texto: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, ao arre-
pendimento”. Vocês são “sãos”, vocês “não precisam de médico, mas os que estão doen-
tes”. Sigam o seu caminho! Cristo não veio para salvar tais como vocês são! Vocês pensam
que podem salvar a si mesmos. Façam isso e pereçam ao fazê-lo! Mas eu sinto que o
mesmo Evangelho que atende uma prostituta me atende e a graça livre que salvou Saulo
de Tarso deve me salvar, caso contrário eu nunca fui salvo”. Venham, vamos todos juntos!
Todos nós somos culpados — alguns mais, outros menos — mas todos irremediavelmente
culpados. Vamos juntos para o escabelo de Sua misericórdia e embora não ousamos olhar
para cima, vamos ficar lá no pó e suspirar de novo: “Senhor tenha misericórdia de nós por
quem Jesus morreu:

“Assim como eu sou, sem um fundamento,


Mas o Teu sangue foi derramado por mim!
E que Tu me ordenas a vir a Ti,
Ó Cordeiro de Deus, eu venho, eu venho!”

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Pecadores, venham agora! Vinde, pois, rogo-vos, venham agora! Ó Espírito do Deus vivo,
atraía-os agora! Que estas débeis e fracas palavras sejam o meio de atrair almas para
Cristo! Você vai rejeitar o meu Mestre de novo? Você vai sair dessa casa endurecido mais
uma vez? Você pode nunca mais ter sentimentos como estes que estão despertados em
sua alma. Venham, agora, receber a Sua misericórdia! Agora dobre seus pescoços dis-
postos ao seu jugo! E então eu sei que você irá longe para provar Seu amor fiel e, finalmen-
te, cantar no céu a canção dos redimidos: “Àquele que nos amou, e em seu sangue nos
lavou dos nossos pecados, a Ele seja a glória para sempre. Amém”:

“Ó Grande Jesus eterno,


Alto e poderoso Príncipe da Paz!
Como as Tuas maravilhas brilham resplandecentes,
Nas maravilhas de Tua graça

Teu rico Evangelho despreza condições,


Sopra salvação gratuita como o ar;
Apenas sopra misericórdia triunfante,
Na culpa desconcertante e todo o desespero!

Oh! a grandeza do Evangelho,


Como soa o sangue purificador;
Mostra o coração de um Salvador,
Mostra o terno coração de Deus!

Trata apenas de amor eterno,


Aumenta a graça toda-abundante,
Nada sabe, senão vida e perdão,
Redenção completa, paz sem fim!”

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O Som Alegre Do Evangelho Da Graça De Deus
Por Augustus Montague Toplady

A essência de um discurso pregado na Lock Chapel,


Nas proximidades de Hyde Park Corner, no Domingo, 19 de Junho de 1774.

“Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade, pelo que os filhos dos


homens se abrigam à sombra das tuas asas.” (Salmos 36:7)

“Bem-aventurado o povo que conhece o som alegre;


andará, ó Senhor, na luz da tua face. Em teu nome se alegrará todo o dia,
e na tua justiça se exaltará.” (Salmos 89:15-16)

Muitas vezes maravilhei-me diante da dureza daqueles escritores que presumiram ao afir-
mar que o Evangelho, ou mensagem da livre e plena salvação, pelo sangue e justiça do
Filho coeterno de Deus, era desconhecida daqueles que viviam sob a dispensação legal.

Nada pode ser mais falso. Nós podemos tão razoavelmente afirmar que o sol não brilhou
durante a dispensação legal. E, como era o mesmo sol que agora brilha, este que então ilu-
minava o mundo, assim era o mesmo Sol da justiça, que agora resplandece sobre as almas
de Seu povo trazendo cura em suas asas (Malaquias 4:2), que então brilhou sobre os eleitos
de Deus, visitou-os com as irradiações de Seu amor, e os salvou pela fé em Sua própria
futura justiça e expiação. Até nós, como diz o apóstolo, o Evangelho é pregado, assim como
a eles (Hebreus 4:2). E, novamente, aqueles todos morreram na fé, tendo visto as promes-
sas de longe; e creram nelas [πεισθεντες, foram assegurados do interesse por elas], e sau-
daram-nas (Hebreus 11:13). Então, isto podemos afirmar com confiança, no que diz respei-
to a todas as pessoas iluminadas por Deus que viveram antes da encarnação do Messias,
que como Abraão (João 8:56), elas viram o dia de Cristo em perspectiva, e alegraram-se
na crente antecipação daquela bendita visão.

Como a depravação da natureza humana é intrinsecamente a mesma em todas as épocas


e os homens em e de si mesmos não eram nem melhores nem piores, durante a economia
Mosaica, assim eles têm sido desde então, e o são neste dia; isso segue que a desordem
deve ser a mesma, o remédio também deve ser o mesmo; e, é evidente, que não há duas
formas de salvação, uma para os judeus crentes, e outra para os gentios crentes; senão
aquela declaração que nosso Senhor nosso já fez, e deve sempre permanecer boa: “Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Su-

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ponha que nós carregamos o nosso apelo para este salmo, para a verdade da observação
feita aqui. O que você acha que Davi canta neste texto? Certamente ele canta aqueles con-
solos sobrenaturais, transmitidos por meio do Espírito Santo, e os quais o salmista sabia
que seriam adquiridos para todos os eleitos, pelo sangue de Cristo. Portanto, ele, de mesmo
modo, celebra os louvores daquela justiça, em que, e em que somente, os remidos do
Senhor são exaltados a um estado de comunhão com Deus, e à herança dos santos na luz.

Não admire, portanto, que um salmo tão ricamente carregado de verdade evangélica deva
abrir em um ímpeto de louvor e gratidão ao Deus de toda graça, cujo amor ao Seu povo os
envolve, sem começo e os seguirá sem fim. “As benignidades do SENHOR cantarei perpe-
tuamente; com a minha boca manifestarei a tua fidelidade de geração em geração” [Salmos
89:1]. Agora, você acha que Davi não apreciava o que já foi chamado da plena segurança
de fé? Ou você pode imaginar que Davi não estava familiarizado com o que tem sido cha-
mado de doutrina da perseverança final? Certamente ele foi conduzido à clara percepção
de ambas destas verdades; ou ele não poderia ter dito: As benignidades do SENHOR can-
tarei perpetuamente; não apenas hoje e amanhã, se eu viver; não só este ano e no próximo,
se eu viver; não somente na vida, mas quando eu vier a morrer; e não apenas quando eu
passar pelas correntezas da morte, mas quando eu pousar em segurança do outro lado; os
altos louvores de Sua misericórdia e fidelidade devem estar sempre na minha boca. Davi
estava flagrantemente equivocado em suas opiniões, se o que alguns, de forma blasfema,
afirmam for verdade, que “aquele que é um filho de Deus hoje, pode ser um filho do diabo
amanhã”. Você deve ou negar que o salmista escreveu sob a orientação infalível do Espírito
de Deus, ou deve admitir que a preservação final do regenerado povo de Deus é uma
doutrina do Livro de Deus.

Mas não é o suficiente para os verdadeiros crentes que estejam sensíveis à misericórdia
do Senhor, e à perpetuidade da Sua graça; eles anelam difundir a fragrância do Seu nome
por toda parte, e efetuar a resolução de Davi: “com a minha boca manifestarei a tua fideli-
dade de geração em geração”. Alguns que conhecem a verdade evitam declará-la, e têm
medo de falar; eles escondem a marca de Cristo na palma de suas mãos, em vez de usá-
la em suas testas; e embrulham o seu Cristianismo em um manto de sigilo; como se eles
considerassem ser sua maior desonra o serem vistos com a farda de Cristo em suas costas.
Ao contrário, tais crentes enquanto são fortes na fé, dando glória a Deus, (ao invés de ocul-
tarem-se através de estradas e caminhos privados, escondidos numa liteira coberta com as
cortinas fechadas sobre eles) preferem desejar ir para ali, sobre a via pública de uma profis-
são declarada, numa carruagem aberta, com para serem vistos e conhecidos de todos os
homens. Mas os ministros do Evangelho, acima de toda a humanidade, ao lado, deveriam,
com a boca, fazer a fidelidade de Deus conhecida; e, ao invés de desejar escapulir para o
céu pela porta de trás (se houver qualquer porta ali), marchar publicamente, com cores

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ondulantes, e com som de trombeta para o grande portão da cidade celestial, e labutar para
levarem para lá tantas almas com eles quanto seja possível. Por isso, eles devem ser ur-
gentes e inoportunos, em tempo e fora de tempo; repreendendo, corrigindo, exortando, com
toda a longanimidade e doutrina (2 Timóteo 4:2); o ministério da Palavra, sendo a principal
foice que o Espírito de Deus faz uso para cortar as excrescências venenosas da autojustiça,
para cortar as ervas daninhas perniciosas de licenciosidade prática, e para reunir os peca-
dores eleitos para a santificação e conhecimento salvífico de Si mesmo. Deixe, no entanto,
ser observado que as chamadas ministeriais e exortações dos embaixadores de Deus, im-
pelidas e dirigidas, para o despertado bem como para o não despertado de maneira nenhu-
ma implicam que, na intenção Divina, a graça é universal, como os Arminianos falam; nem
que o homem, pelo uso apropriado de suas faculdades razoáveis, vem a arquitetar a sua
própria Salvação. Não. Muito pelo contrário. Um pescador que permanece sobre a costa, e
lança a sua rede no mar em geral, não é tão desvairado a ponto de pensar que pescará
todos os peixes do mar, embora ele lance a rede indefinidamente, e sem exceção. Assim,
quando o ministro Cristão espalha a rede do Evangelho, ele prega para todos que adentram
na esfera de sua intervenção; não com a expectativa de resgatar a todos, mas de pescar
tantos quanto Deus se agradar, sabendo que é o Espírito Santo, somente, que pode
conduzir as almas à rede, e efetivamente alcança-las para Jesus Cristo.

O que foi aquilo que fez Davi tão desejoso de cantar as misericórdias do Senhor? O que foi
aquilo que o aqueceu e o encorajou em todos os eventos para fazer conhecida a fidelidade
de Jeová de uma geração para outra? Foi o Evangelho da glória do Deus bendito, visto à
luz do Espírito Santo, e experimentado através da influência da graça. Aqui está a razão do
zelo de Davi: “Pois disse eu: a tua benignidade será edificada para sempre; tu confirmarás
a tua fidelidade até nos céus” [Salmos 89:2]. O que é essa misericórdia, que está edificada
para sempre, senão o gracioso plano, a gloriosa e graciosa obra de nossa salvação, fun-
dada no propósito eterno de Deus, levado à execução, pelo labor e morte de Jesus Cristo,
e, então, aplicado e trazido para o interior do coração, pela iluminação e poder de conversão
do Espírito Santo? Esta é aquela misericórdia que é edificada para sempre. Foi planejada
desde a eternidade, e não conhecerá a ruína nem a decadência através da linha ilimitada
da própria eternidade. Quem é o construtor desta obra? Não é o livre-arbítrio do homem.
Não é a justiça própria, nem a sabedoria do homem. Não é o poder humano, nem a capaci-
dade humana. Todo verdadeiro crente reunir-se-á com Davi: é Deus, e somente Deus,
quem constrói o templo de Sua igreja; e quem, como o construtor da mesma, é sozinho inti-
tulado de toda a glória.

Os eleitos compõem e formam uma grande casa de misericórdia; uma casa, erguida para
demonstrar e perpetuar as riquezas da livre graça do Pai, o mérito da expiação do Filho; e
a eficácia da ação do Espírito Santo. Esta casa, ao contrário do destino de todos os edifícios

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terrestres, nunca cairá, nem alguma vez será lançada para baixo. Como nada pode ser a-
crescentado (Eclesiastes 3:14) a ela, assim, nada pode ser tirado dela. O fogo não pode
prejudicá-la; as tempestades não podem desfazê-la; o tempo não pode danificá-la. Ela está
sobre uma rocha (Mateus 7:25, 16:19), e é imóvel como a rocha em que se encontra; a trí-
plice rocha do decreto inviolável de Deus, da redenção consumada de Cristo e da fidelidade
infalível do Espírito. Deus não é um arquiteto imprudente, nem fraco nem caprichoso. Ele
não forma um sistema miserável, passível de ser frustrado, e que, na melhor das hipóteses,
dificilmente permanecerá consistente; mas está tudo bem ordenado; tudo é eterno; tudo
está seguro; nada expedido por pensamento posterior ou porventura. Deus, irreversível-
mente, desenhou o Seu plano, e Cristo, tendo completamente cumprido a obra redentora,
o assina-la; o Espírito sagrado tem apenas que soprar sobre os corações de Seu povo no
chamado eficaz, dar-lhes a fé, imbuí-los com a santidade interior, preservar e aumentar a
santidade que Ele comunica, faze-los prosseguir nos caminhos do dever e da obediência
exterior, exercitá-los com deserções, visitá-los com Seus consolos; guardá-los de cair, ou
restaurá-los quando caírem, selá-los para o dia de Cristo, e conduzi-los de forma segura
através da morte para o céu.

Assim, a benignidade será edificada para sempre. E tão certo como este livro é o Livro de
Deus; tão certo como o Espírito de Deus o inspirou, e inclinou Davi a escrever estas pala-
vras; assim, certamente, é uma verdade o que as próprias palavras transmitem. Nenhuma
parte da salvação é deixada em seis ou sete; mas tudo é um plano que honra a sabedoria
infinita; um plano, concebido e oculto (Efésios 3:9) na mente onisciente de Deus desde os
tempos eternos, mas depois feito conhecido externamente na Palavra escrita, ou Evangelho
da graça; e desdobrado salvificamente nas almas dos homens, quando o bendito Espírito
começa a nos converter das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus (Atos
26:18).

Eu estava, ontem, há alguma pequena distância da cidade; e tive um entretenimento muito


refinado, indo a uma soberbíssima e elegante mansão que, dentro e fora, exibia tal combi-
nação de imponência, beleza e perfeição de gosto, que eu não podia deixar de sentir uma
curiosidade de saber em quanto tempo aquele edifício magistral fora construído! E, ao ser
informado de que ela foi tanto fundada quanto finalizada no período de apenas 10 meses;
eu não pude deixar de observar, para alguns amigos que estavam comigo, que se a arte
humana e mãos humanas poderiam realizar tão transcendente obra como aquela, em tão
curto tempo, porque seria estranho pensar que Jesus Cristo foi capaz de finalizar, e Ele de
fato consumou, a obra da salvação humana em um período de trinta e três anos?

Bendito seja Deus, a nossa salvação é uma obra consumada. Ela não precisa, nem admi-
tirá, suplemento. E aqui, lembremo-nos de que, quando falamos de uma salvação consuma-

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da, nós queremos dizer a completa e infalivelmente efetiva redenção realizada pelo mérito
propiciatório da própria obediência pessoal de Cristo e dos próprios sofrimentos pessoais
de Cristo; tanto um quanto o outro dos quais têm a perfeição infinita da expiação e eficácia
da justificação, que está absolutamente fora do nosso poder o acrescentar algo ao mérito
ou validade de qualquer uma. Cada indivíduo da humanidade, por quem Cristo obedeceu,
e por quem Ele sangrou, certamente será salvo por Sua justiça e morte, e sem a exceção
de nenhum dos redimidos; considerando que Cristo pagou, totalmente pagou, a dívida da
perfeita obediência e o sofrimento penal; assim, aquela justiça Divina deve transformar-se
em injusta, se fosse possível para uma única alma perecer por todas ou qualquer uma da-
quelas dívidas que Cristo tomou sobre Si mesmo para libertação, e que Ele absolutamente
libertou conforme o acordo.

O Arminianismo não consegue digerir esta grandiosa verdade Bíblica. Assim, aquela pobre,
maçante, cega criatura, o Bispo Taylor, nos diz em algum lugar, se não estou enganado,
que “devemos expiar os nossos grandes pecados pelo choro; e os nossos pequenos peca-
dos por um suspiro”. Se nossos pecados não têm outra expiação além dessa, vamos conti-
nuar chorando, e lamentando, e rangendo os dentes, por toda a eternidade. Mas, graças à
Divina graça, a obra da expiação não é feita agora. Cristo já lançou fora os nossos pecados
pelo sacrifício de Si mesmo (Hebreus 9:26). Estamos absolvidos de culpa e reconciliados
com Deus, não por nossas próprias lágrimas, mas pelo precioso sangue de Jesus Cristo,
como de um Cordeiro sem mancha ou defeito (1 Pedro 1:19); não os nossos próprios suspi-
ros, e lágrimas e tristezas; mas a humilhação, a agonia, o suor sangrento, e a morte amarga
dAquele que não cometeu pecado, dAquele que foi feito na forma de homem, e tornou-Se
obediente até à morte e morte de cruz; isto, e isto somente, é a propiciação pelos nossos
pecados (1 João 2:2). E tão certo como Cristo obedeceu, tão certo como Cristo expirou, tão
certo como Ele ressuscitou novamente, tão certo como Ele intercede por todo o povo de
Seu amor; assim, certamente serão todos eles, o primeiro e o último, capacitados a cantar
a Sua fidelidade por todas as gerações; e esta misericórdia, a qual será edificada para
sempre em sua glorificação plena, livre e final.

Isto é mais confirmado por estas palavras do salmista: “Tu confirmarás a tua fidelidade até
nos céus” [Salmos 89:2]. Como para dizer: “Quando todo o Teu povo escolhido, redimido e
convertido for reunido ao redor de trono; então Tu darás, nos céus, uma prova eterna da
Tua fidelidade eterna”. Tão longe estará Deus de deixar o Seu povo perecer em sua passa-
gem pelo deserto da vida, ou através do rio da morte, que Ele apresentará a todos eles,
imaculados, diante da presença de Sua glória com exultante alegria (Judas 1:24). Deus
ama mui bem as Suas joias, e Cristo as comprou com um mui querido preço, e o Espírito
Santo as lustra com muita atenção, quer para jogá-las fora, quer para perdê-las finalmente.
Não, eles serão poupados (Malaquias 3:17); o seu número será cumprido; e em sua glorifi-
cação toda a Trindade será glorificada.

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Agora, após levantamento de alguns dos ramos, olhemos para a grande raiz de onde eles
brotam. Tendo tomado uma visão apressada desses ribeiros, pelos quais a Igreja de Deus
é enriquecida para a salvação; esforcemo-nos para contemplá-los em sua grande Fonte e
Cabeça. Isto você encontrará no terceiro versículo; onde Deus, o Pai diz: “Fiz uma aliança
com o meu escolhido, e jurei ao meu servo Davi, dizendo: A tua semente estabelecerei para
sempre, e edificarei o teu trono de geração em geração” [Salmos 89: 3-4]. Você acha que
isto foi dito a Davi, apenas para sua própria pessoa? Não, em verdade, mas para Davi como
o antitipo, figura e precursor de Jesus Cristo. Por isso, a versão Septuaginta o torna: Fiz
aliança τοις εκλεκοις μω, com o meu povo eleito, ou com os meus escolhidos; ou seja, com
eles em Cristo, e com Cristo em seu nome. “Jurei ao meu servo Davi”, ao Messias, que foi
tipificado por Davi; ao meu Filho coeterno, que aceitou tomar sobre si a forma de servo; “a
tua descendência”, ou seja, todos aqueles a quem eu tenho dado a Ti no decreto da eleição,
todos aqueles por quem Tu vives e morres para redimir, “para sempre os estabelecerei”, de
modo a tornar irreversível e irrevogável a sua salvação; “firmarei o teu trono”, o Teu trono
de mediação, como Rei dos santos, e Cabeça da Aliança dos eleitos, “de geração em gera-
ção”, sempre haverá uma sucessão de pecadores favorecidos a serem chamados e santifi-
cados, em consequência da Tua obediência federal até a morte; e a cada período de tempo,
recompensará os Teus sofrimentos da aliança com o aumento da renovação de almas con-
vertidas, até que tantos quanto estejam ordenados para a vida eterna (Atos 13:48) sejam
reunidos.

Observe-se, aqui, que quando Cristo recebeu esta promessa do Pai, relativa ao estabeleci-
mento do Seu trono [ou seja, de Cristo] por todas as gerações; o significado claro é, que
Seu povo será assim estabelecido; pois considere Cristo em Sua capacidade como o Filho
de Deus, e o Seu trono já foi estabelecido, e havia sido desde a eternidade; e continuaria a
ser estabelecido sem fim, mesmo que Ele nunca tivesse encarnado em absoluto. Portanto,
a promessa indica que Cristo reinará, e não simplesmente como uma pessoa da Divindade
(o que Ele sempre fez, e deve sempre fazer); mas relativamente, mediatorialmente e em
seu caráter de ofício, como o Libertador e Rei de Sião. Por isso, segue-se que o Seu povo
não pode ser perdido, porque Ele seria um pobre tipo de rei miserável que não tinha, ou
não poderia ter, súditos sobre quem reinar. Consequentemente, aquele trono de glória, em
que Cristo está sentado, já está cercado, em parte e, finalmente será completamente cer-
cado, e feito ainda mais glorioso, por inumeráveis companhias, desta assembleia geral, e
igreja dos primogênitos, que estão arrolados no céu (Hebreus 12:23); para a remissão de
cujos pecados o Seu sangue foi derramado; para a justificação de pessoas cuja a Sua justi-
ça foi operada; para a preservação de quem, em estado de graça, a Sua intercessão é ain-
da exercida no céu; e para restaurar e resgatar aqueles da desonra pessoal de pecado, o
Espírito Santo desce e faz morada em seus corações, e nunca deixará a Sua graciosa tutela
até que Ele os santifique para o reino de Deus.

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Bem pode o salmista acrescentar: “E os céus louvarão as tuas maravilhas, ó Senhor, a tua
fidelidade também na congregação dos santos” (Salmos 89:5). O que devemos entender
aqui pelos céus? Devo supor que os habitantes primários do céu; a saber, os anjos de luz.
Bondade eletiva, misericórdia redentora, graça santificadora, e poder preservador, tão
beneficamente demonstrados na salvação do homem caído, são maravilhas, mesmo para
os próprios anjos. Mas os anjos são os únicos seres que devem admirar-se com essa de-
monstração de amor? Não. “E na assembleia dos santos, a tua fidelidade”. Na congregação
dos santos crentes abaixo, e dos santos glorificados acima. Para santos e anjos, no gran-
dioso resultado das coisas, quando as transações da graça e providência forem reveladas
e definidas, claramente desveladas para a vista deleitosa; em um augusto período, santos
e anjos, os remidos e os espíritos não-redimidos (mas ambos eleitos, um bem como o ou-
tro), que foram sempre incorpóreos e os santos cujas almas foram por um tempo desalo-
jadas do corpo em consequência do pecado original, mas que receberão seus corpos nova-
mente na ressurreição dos justos; todos estes, quando eles se levantarem e brilharem aci-
ma, deverão reunirem-se com suas coroas de fundição, e tocarão as suas harpas douradas
para louvar a Ele, que amou o Seu povo, e os redimiu para Deus, por meio de Seu sangue
(Apocalipse 5:9).

O tempo não me permite considerar, como eu projetei todos os versos preliminares que
conduzem ao texto. Eu espero que tenha sido suficiente para justificar a declaração em que
o texto começa: “Bem-aventurado o povo que conhece o som alegre”! É terrivelmente
insinuando que há alguns que sentam-se na esfera do som jubiloso, mas que, não o conhe-
cem, sentem e apreciam. É para eles uma vox, et præterea nihil: um som e nada mais que
um som. Mas, a bem-aventurança resulta para aqueles que conhecem o som alegre e cujas
almas crentes podem dizer: “As bênçãos gratuitas do Evangelho são toda a nossa salvação
e todo o nosso desejo”.

Isto é uma coisa muito comum, quando falamos do conhecimento das coisas que perten-
cem à nossa paz espiritual e eterna, que pessoas não-convertidas bradem: “Ó, como você
é presunçoso!” Eu repudio totalmente a acusação. Não é presunçoso tomar Deus em Sua
Palavra, e crer e ter certeza de que haverá um cumprimento das coisas que são ditas e pro-
metidas pelo Senhor (Lucas 1:45). Assim, quando Deus assegura ao pecador penitente:
“Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus peca-
dos não me lembro” (Isaías 43:25); não é humildade, mas a própria presunção, e a própria
quintessência da incredulidade, que nos ordena colocar um negativo na afirmação solene
de Deus, e nos induzir a questionar se Ele bem cumprirá, de fato, a Sua promessa. Eu sou
firmemente da opinião que o homem que lê e professa crer na Bíblia deve ter um grande
estoque de segurança, no pior sentido da palavra (ou seja, de audácia e desfaçatez), se
ele se atreve a negar esta garantia, no melhor sentido da palavra, ou uma clara percepção

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e convicção de interesse no amor perdoador de Deus, é o privilégio possível ao povo con-
vertido de Cristo. Estes certamente concordarão com Davi, em defini-los como bem-aventu-
rados em conhecer o som alegre: os que conhecem o som festivo, cujos corações têm sido
lavrados pelo Espírito Santo, para receber a semente do Evangelho; e em quem esta brota
para justiça e paz e alegria no Espírito Santo (Romanos 14:17). Disto, e disto somente, sur-
ge a plena concepção de conhecer o som alegre. Por isso, podemos aprender que pessoas
têm este conhecimento de fato. Não a Igreja do Povo da Inglaterra, em detrimento de outras;
Não os Romanistas; não os membros da Igreja da Escócia; nem, em suma, os partidários
de qualquer denominação em particular. Mas os muitos indivíduos que, pela graça, são
habilitadas a conhecer o som alegre, são aqueles que Deus toma daquelas e de outras de-
nominações, para ser um povo para o Seu nome (Atos 15:14); a saber, os eleitos de cada
época, local e parte. Todos os convertidos de Deus, todo o Seu povo penitente, crente, obe-
diente, através de toda a extensão da terra, abaixo, de uma extremidade do céu a outra; to-
dos cujos corações são todos tocados pelo poder atrativo de seu Divino Espírito são as
pessoas que conhecem o som alegre.

O som alegre de quê? Aquele da livre graça, que é o empreendimento dos ministros de
Deus proclamar, dizendo: “Paz, paz para o que está longe, e para o que está perto” (Isaías
57:19). Esse som alegre que diz: “Ah, todos (sem exceção de tempo, ou lugar, ou pessoa),
vós, os que tendes sede, vinde às águas” (Isaías 55:1) da vida, alegria e salvação. Mas,
observe que mesmo isto não é uma chamada universal. Deus me livre de ser mal inter-
pretado por alguém que me escuta hoje. Não pense que eu estou içando as cores Armi-
nianas, e erguendo a falsa bandeira Arminiana. Não, de maneira nenhuma. Acho que não
há praticamente uma chamada mais indefinida, em toda a Palavra de Deus, do que a que
eu citei por último. Mas, em seguida, note, que se destina apenas para os que têm sede,
ou seja, àqueles que tanto conhecem o som alegre quanto desejam uma participação expe-
rimental das bênçãos que ele proclama. Seria leviano chamar às águas os que não têm
sede. Seria ridícula zombaria, se convidássemos os mortos para sentarem-se à mesa, e
colocar um prato, uma faca e um garfo, diante deles, e perguntar-lhes porque eles não co-
mem? O fato é: eles não podem comer nem beber. Eles devem, antes, serem feitos vivos
para que possam ter algo como qualquer apetite.

Há uma passagem mui frequentemente, porém muito ociosamente, insistida pelos Arminia-
nos, como se fosse um martelo que poderia a um só golpe esmagar ao pó toda a obra da
livre graça. A passagem é: “Por que morrereis, ó casa de Israel” (Ezequiel 18:31). Mas a-
contece que a morte aqui aludida não é nem a morte espiritual, nem morte eterna; como
abundantemente aparece em todo o teor do capítulo. A morte intencionada pelo profeta é
uma morte política; a morte de prosperidade, tranquilidade e segurança nacionais. E o sen-
tido da pergunta é justa e precisamente este: O que é isto que faz você se apaixonar pelo

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cativeiro, banimento e ruína civil? A abstinência da adoração de imagens pode, como um
povo, isentá-los daquelas calamidades, e mais uma vez fazer de vocês uma nação respeitá-
vel. São as misérias da devastação pública tão sedutoras como para atrair a vossa busca
determinada? Por que morrereis? Morrer como a casa de Israel e considerada como um
corpo político? Assim, razoavelmente, o profeta argumentou o caso. Adicionando, ao mes-
mo tempo, esta declaração não menos razoável: “Porque não tenho prazer na morte do
que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei” (Ezequiel 18:32). O que implica
nestas duas coisas: 1. Que o cativeiro nacional dos judeus não acrescentou nada à felici-
dade de Deus. Isto não lhe trouxe qualquer adesão de lucro ou prazer. E eu me pergunto
(filosoficamente falando) se seria possível adicionar o que quer que seja à felicidade Divina,
já que é infinita; e, consequentemente, insuscetível de aumento. 2. Que, se os judeus se
convertessem da idolatria, e lançassem fora as suas imagens, eles não morreriam em um
país hostil estrangeiro, mas viveriam em paz em sua própria terra, e desfrutariam de suas
liberdades como um povo independente.

E agora, o que tem tudo isto tem a ver com as bênçãos da graça e glória? Não mais do que
isto tem a ver com Gogue e Magogue. Não seria muito absurdo se eu permanecesse no
jardim da igreja e dissesse para os corpos enterrados ali: “Por que morrereis?” Não, em
meu pensamento, seria menos do que se eu dissesse a um pecador morto espiritualmente:
“Por que morrereis?” Ai, ele já está morto; e colocar tal questionamento para alguém nesta
condição, seria, na realidade, perguntar para um homem que já está caído em Adão (como
todo homem está): “Por que tu caíste em Adão?” Deixe os Arminianos falarem desta
maneira se o consideram adequado. Eles terão, para mim, todo o falatório, não invejado e
não rivalizado, para eles mesmos. Eu acho que isto não suportará água.

Uma coisa muito diferente é o som alegre do Evangelho da graça. Ele transmite a vida aos
mortos, e saúde para os vivos. Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e
pecados (Efésios 2:1). E, diz Deus a respeito da vivificação de sua Igreja: “Eis que lhe trarei
[não a provocarei com uma oferta vazia; mas, verdadeiramente] saúde e cura” (Jeremias
33:6). A regeneração dá vida espiritual e a santificação dá saúde espiritual, para a alma.
Como a saúde espiritual é evidenciada para nós mesmos e para outros? Não por pender
no encosto da cadeira da preguiça; mas por abundar na obra do Senhor. Pois, embora algu-
mas pessoas nos chamem Antinomianos (como o próprio Cristo e os apóstolos eram, então
— Mateus 11:19 e Romanos 3:8 — chamados antes de nós, pelos desenvergonhados
fariseus daquela época), e falsamente acusam nossa boa conversação (1 Pedro 3:6), como
se fôssemos inimigos da lei moral; estamos tão longe disso, que (eu declaro isto ousada-
mente, e deixe que qualquer um o contradiga, se puder), nós que cremos que a salvação é
o dom absoluto da graça absoluta somos as únicas pessoas que reafirmam as devidas
honras da lei, e estabelecemos sua autoridade de forma inabalável.

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1. Afirmamos suas honras, por considerá-las como uma transcrição da própria santidade
de Deus; como absolutamente perfeitas em todas as Suas requisições; como o padrão inva-
riável de excelência moral; como a sublime regra pela qual o próprio Cristo ajustou Sua pró-
pria obediência incomparável; e como o instrutor que, em subserviência à influência do
Espírito Santo, nós prepara (pela severidade da sua disciplina) para a recepção de Cristo,
e para ouvirmos, para um bom propósito, aquele som da graça do Evangelho que é jubiloso
apenas para aqueles a quem a lei, assim vista, tem instrumentalmente (Gálatas 3:24; Ro-
manos 3:20) convencido do pecado.

2. Estabelecemos sua autoridade (Romanos 3:31), por enxertar a nossa obediência sobre
o princípio perpétuo (1 Coríntios 13:8 e Mateus 27:40) do amor a Cristo; por objetivar a
conformidade prática aos Seus preceitos, como o grande prova visível da nossa parte na
eleição de Deus e na redenção do Messias (1 Pedro 1:2); acreditando e afirmando que ela
ainda permanece em pleno vigor, e assim permanecerá enquanto o sol e a lua existirem,
como a regra moral da nossa caminhada; e suplicando a Deus pelo Espírito Santo (Hebreus
8:10) para escrevê-la em nossos corações adequadamente. Pois, qualquer que seja a
obrigação absolutamente moral, é e deve ser, em sua própria natureza, irrevogável.

Assim, o som festivo proclama a majestade, e até mesmo acrescenta às sanções da lei mo-
ral. Para cumprir toda a justiça dessa lei, e suportar a sua terrível pena, como um pacto de
obras, o Filho de Deus Altíssimo inclinou-se dos céus e desceu, para fazer o Seu povo res-
gatado amar essa lei como uma diretriz de conduta; e para torná-la realmente transcrita ao
seu máximo em suas vidas, como um meio de sua conformidade a Deus; o Espírito incriado
desce sobre suas almas como uma pomba, e opera neles tanto o querer quanto o efetuar.

Mas ainda devemos considerar a lei como na mão de Cristo (1 Coríntios 9:21): E lembre-
se, que o amor de Deus, graciosamente derramado (Romanos 5:5) no coração é o único
princípio pelo qual os crentes agem.

Agora, aquele som alegre que as pessoas são ditas bem-aventuradas em conhecer, consis-
te grandemente, no que a Palavra de Deus traz à luz sobre (Efésios 3:11) aquele propósito
eterno da eleição de graça que Ele estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor. Pois, não
obstante os esforços profanos de alguns em deturpar essa grande e preciosa verdade como
uma doutrina obscura, desconfortável, aqueles cujos olhos Deus iluminou, e aqueles cujos
corações Deus tocou, sabem que este não é um som triste, mas jubiloso; e o desejo de
todos os seus corações é: oh, que eu pudesse, com fé mais desanuviada, contemplar meu
nome brilhando no Livro da vida do Cordeiro! O próprio Cristo, o grande pregador da predes-
tinação, e que certamente foi um juiz competente desta questão, considerou a eleição uma
doutrina reavivadora do coração; ou Ele nunca ordenaria aos Seus discípulos que se ale-

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grassem por terem Seus nomes escritos no céu (Lucas 10:20). Qualquer que prega o Evan-
gelho sem considerar a eleição absoluta, este ministro dá as costas para a árvore da vida,
apaga uma das principais luzes que ele deveria elevar no velador, e retém de Seu povo a
própria raiz e essência do som alegre.

O qual é a livre remissão do pecado, por meio do sangue precioso e expiação de Jesus
Cristo; o qual é incondicional e irreversível justificação, através da imputada justiça de
Cristo; o qual é aquela verdade que nos diz que o Espírito de Cristo é o regenerador, o habi-
tante, o iluminador e o eterno consolador dos filhos de Deus; o qual é essa palavra que nos
assegura que o Senhor não ficará longe das pessoas de Seu amor, nem Se compadece
para finalmente afastar-Se deles, mas que Ele os selará como Seus para sempre, e os
preservará durante a vida e a morte, para a glória, embora cada passo que deem sobre a
terra esteja cheio de armadilhas, e, se deixados por si mesmos um momento, eles cairiam
no inferno mais baixo; o qual é a contínua advocacia de Cristo, pelo qual Ele veste Seu sa-
cerdócio em Seu trono, e intercede por Seu povo militante, de modo que, enquanto eles
estão peregrinando, ou lutando, ou enfraquecendo, Ele está orando, com a apresentação
perpétua de Si mesmo diante de Deus, como um Cordeiro recém-assassinado; o qual são
as promessas que se relacionam com o socorro, apoio e libertação da alma, na morte; que
garantem uma ressurreição corporal para a glória, honra e imortalidade; e que certifica-o
em beatificação sem fim, da alma e corpo juntos, no reino de Deus; digo eu, o são todos
esses, senão as muitas porções e ramos do som alegre? E um som alegre isto é. Que Deus
o faça assim para nós!

Fosse a questão deixada na mão da nossa livre-agência, o som alegre logo escureceria em
um som funesto. Nunca entraríamos em um estado de graça em absoluto. E, se Deus nos
colocasse nisto, e depois nos entregasse à nossa própria gestão, deveríamos rapidamente
naufragar em absoluto. Adão, no estado de inocência, não permaneceu, provavelmente,
por 24 horas. E como deve o crente, que está em um estado misto de pecado e graça, e
em quem estão (Cantares 6:13) a fileira de dois exércitos, a carne e o espírito, em guerra
perpétua entre si; como poderia uma pessoa possivelmente continuar, mesmo por vinte de
quatro minutos, se o mesmo amor Todo-Poderoso, que o colocasse na Aliança, não o sus-
tentasse na mesma?

Um bom homem do século passado, diz, e com grande verdade “o crente mais forte dentre
todos nós é como um copo sem uma base, que não pode permanecer um momento a mais
do que ele seja mantido”. E nosso Senhor tinha uma visão semelhante sobre o assunto,
quando Ele declarou, que Ele mantém todas as Suas ovelhas em Sua mão (João 10:28;
Veja também Deuteronômio 33:8); se Eu te deixasse por um instante, tu cairias; portanto,
Eu te seguro firme, e ninguém pode arrebatar-te da Minha mão.

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Oh, quão confortável é isso, quando o Senhor faz essas verdades conhecidas ao coração,
pelo Seu Espírito! Quão bem-aventuradas são as pessoas que, assim, conhecem o som
alegre! Quem podem ver que Deus as amou em Seu Filho; podem sentir que Cristo morreu
por elas, para ser a sua paz eterna; que estão convencidas de que a paz não está por ser
realizada agora, mas foi completamente cumprida e selada pelo precioso sangue da Sua
cruz, eras e eras antes que eles puxassem a respiração; que estão docemente seguros de
que o Espírito Santo, que já começou a mostrar-lhes as grandes coisas de Cristo, prosse-
guirá mais claramente a mostrar-lhes que Ele nunca os deixará, nem os abandonará, na
vida, na morte, nem mesmo em sua jornada final! Este é aquele som alegre que Deus per-
mite que Seu povo conheça. E qual é a consequência de conhecê-lo?

Bem-aventurado é o povo que conhece o som alegre. Por que eles são bem-aventurados,
ou felizes? E em que a sua bem-aventurança consiste? Eles andarão, ó Senhor, na luz da
Tua face. Como para dizer, nós precisamos somente conhecer este som alegre para ser-
mos felizes. Nós precisamos apenas saber o que é ser amado, escolhido, redimido e santifi-
cado dentre os homens; e então, este conhecimento nos fará (Habacuque 3:19) andar so-
bre as suas alturas, e triunfar em o nome de nosso Deus. Nós vamos experimentar o sorriso,
nós fruiremos da luz do sol, da face de Deus sobre as nossas almas.

Qual é o significado dessa frase: “andará, ó Senhor, na luz da tua face”? Suponha que qual-
quer grande personagem apadrinhou um homem sombrio, e o favoreceu com sua peculiar
intimidade e amizade. Seria, nesse caso, natural que nós disséssemos: “tal pessoa é gran-
demente contemplada por este ou aquele nobre”. Assim aqui: Eles andarão na luz da Tua
face, ou seja, estarão, sensivelmente, no favor de Deus. Eles fruirão de confortável comu-
nhão e amizade com Deus. Eles terão uma persuasão satisfatória de que o Senhor está
em paz com eles, através do sangue de Cristo; e que (Romanos 5:1), sendo justificados
pela fé, estão também, por sua parte, em paz com o Senhor. Eles (Romanos 5:11) recebem
a expiação (pois o verdadeiro assunto da fé é, não fazer a expiação, mas simplesmente
receber e descansar sobre a expiação de Cristo, já feita, a qual a fé em si mesma não a
torna mais eficaz do que intrinsecamente é). Às vezes, a maré da segurança rola tão rica-
mente sobre a alma, como a subir quase (se assim posso dizer) até a marca d’água, e não
deixa tanto como a sombra de uma dúvida sobre a mente. Quando é assim com o crente,
ele pode ser eminentemente dito que anda na luz da face de Deus. A fé olha (Hebreus 6:19)
dentro do véu. A cena interposta se abre. Nós quase ouvimos os anjos cantarem. Nós quase
vemos as almas dos glorificados prestando homenagens à graça, e lançando as suas
coroas no escabelo Divino. Nós quase contemplamos o Rei dos santos (Isaías 33:17) em
Sua beleza, brilhando como (Apocalipse 5:6) o Cordeiro no meio do trono. Estes são
momentos preciosos! Mas, logo a cena se fecha. Nós descemos do topo da montanha, e
encontramo-nos de novo no vale.

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Se Deus, no entanto, ainda não lhe deu qualquer garantia de Seu amor, não imagine que
você é, portanto, um estrangeiro e um bastardo. Pois, eu imagino, que a face de Deus, ou
favor, e a luz da Sua face, ou o conhecimento claro e confortável de Seu favor, são duas
coisas distintas. Deus pode ter um favor para conosco, Ele pode nos amar, e estar resolvido
a nos salvar; e ainda não nos saciar com a luz imediata de Sua face. Mas sobre uma coisa
eu sou tão claramente positivo, quanto agora estou pregando na Capela Lock: a saber, que
ninguém cujo coração, é em absoluto operado pelo do dedo do Espírito de Deus, pode
sentar-se, muito fácil e contentemente, sem visitar a experiência do que a luz da face de
Deus significa. Seu desejo é conhecê-la, andar nela, e andar digno dela.

Você nunca observou, depois que o sol tem brilhado, talvez por horas a fio, uma névoa difu-
sa surge da terra, ou uma nuvem flutuante interpõe-se no céu, e sombreia o grande luminar
de seu ponto de vista? Ainda assim, é a realidade, o sol ainda brilhava como antes, embora
a sensação de seu brilho fora suspensa. Assim, nas épocas mais obscuras de angústia
espiritual, a face de Deus, ou favor, ainda está em sua direção para o bem; e brilha, não a-
penas com intensidade inextinguível, mas também não diminuível. Esta não é, no entanto,
uma felicidade mais desejável; para ver e sentir a luz do Seu rosto, sorrindo plenamente
sobre nós, como um sol quando se levanta na sua força (Juízes 4:31); isto é, o que quer
indicar o apóstolo, onde diz: “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz,
é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus” [ou seja, para nos iluminar no conhecimento da gloriosa graça do Pai, como demons-
trada] εν προσωπω, na Pessoa, [e conforme exibida na salvação final] de Jesus Cristo (2
Coríntios 4:6). E isto é, igualmente, o que o salmista indica no texto: Andarão, ó Senhor, na
luz da Tua face.

Você pergunta: “Como esta comunhão feliz com Deus deve ser alcançada?”. Eu respondo:
isto não é de realização humana, mas da concessão do Espírito Santo. Donde Davi, em ou-
tro lugar, ora: “Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto” (Salmos 4:6).

Você pergunta mais: “Como esta doce iluminação e amizade devem ser buscadas, culti-
vadas e acalentadas?”. Eu respondo que a sabedoria e a vontade de Deus, neste ordenado
encadeamento de uma bênção a outra, que Ele estabeleceu em Sua Aliança da graça, tudo
concorre para nos assegurar de que, se quisermos desfrutar dos raios não interceptáveis
dentro de Sua presença, devemos cultivar a santidade, abundar em boas obras, estar muito
na companhia de Deus, através da oração e súplica com ações de graças, beber continua-
mente da fonte da Sua Palavra escrita e conversar com frequência, e comparar experiên-
cias, com os outros dos filhos de Deus, mais especialmente com aqueles ou eminentemente
vivificados, ou notavelmente exercitados em deserções; tais conversações são sempre
proveitosas, e frequentemente fazem (Lucas 24:32) nossos corações arderem interiormen-

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te, enquanto nós mutuamente abrimos as Escrituras, e (Malaquias 3:18) falamos uns com
os outros, sobre (Atos 10:3) as coisas concernentes ao reino de Deus. Os doentes e os em
leitos de morte do povo de Cristo são, em um grau muito eminente, as escolas de instrução
e consolo. Muitas vezes fui para eles tão frio (espiritualmente falando), como uma pedra, e
retornei deles tão aquecido quanto um anjo.

Em uma palavra: a comunhão com Deus requer que nós sejamos encontrados em todos
os meios de graça, e no caminho do dever universal; e nós evitarmos, como faríamos com
veneno ou a peste, tudo o que tende a lançar um pano úmido sobre a nossa relação com o
Espírito Santo, para manchar nossas graças, ou escurecer nossas evidências. Se você
descobrisse que até mesmo a travessia de uma palha favorecesse a vinda de uma nuvem
sobre sua alma e obstruiria a sua comunhão com Deus, seria o seu máximo dever o abster-
se de cruzar essa palha como se, “tu não atravessarás uma palha” fosse um dos dez man-
damentos. Mas em todos estes aspectos cada homem deve julgar por si mesmo, em parti-
cular. Deus tem, em geral ligado bem com o bem e o mal com o mal. Se, portanto, você so-
fre por estar fora de Sua guarda, e fora de Sua vigilância, embora você não possa (se você
é um verdadeiro crente) cair e quebrar seu pescoço, ainda assim você pode quebrar seus
membros de forma a ir hesitante para o dia de sua morte. O Senhor graciosamente “fortale-
ce (Litania), bem como suporta”, e efetivamente “levanta (Litania) até os que caem”; fazen-
do tanto estes quanto aqueles mais ardentes e mais cuidadosos praticamente do que nun-
ca, para caminhar na luz de Sua face! Porque, certamente, próximo do amor do coração de
Deus, os crentes valorizam os sorrisos de Sua face; a partir dos quais, como a partir da
ação do sol, surgem as construções de alegria consciente; as folhas da profissão imácula-
da; a variada floração dos temperamentos santos; e os frutos benéficos da justiça moral.

Estão totalmente enganados aqueles que supõem que a luz da face de Deus, e os privi-
légios do Evangelho, e os consolos do Espírito, nos conduzem à indolência e inatividade
no caminho do dever. O texto corta esta suposição pelas raízes. Pois não diz que eles
devem sentar-se à luz de Tua face; ou que eles se deitarão a luz de Tua face; mas que an-
darão na luz da Tua face. O que é andar? É um movimento progressivo de um ponto para
outro do espaço. E o que é esta caminhada santa a qual o Espírito de Deus capacita a todo
o Seu povo observar? É um movimento contínuo, progressivo, do pecado à santidade; de
tudo o que é mau para toda a boa palavra e obra.

E a mesma luz da face de Deus, na qual você, ó crente, é habilitado a andar, e que a prin-
cípio lhe deu pés espirituais com os quais andar, irá mantê-lo em um andar e em um estado
de trabalho até o fim de sua guerra. Assim que o caminho deverá, sob as iluminações de
seu Espírito (pois não podemos fazer nada, senão enquanto Ele nos concede a Sua graça
a cada momento), brilhar mais e mais até ser dia perfeito (Provérbios 4:18). Os verdadeira-

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mente justos prosseguirão em seu curso, e aqueles que têm as mãos puras irão crescendo
em força (Jó 17:9). Eles não somente andarão, ó Senhor, na luz da Tua face; eles deverão
também, às vezes, até mesmo correr e não se cansarão (Isaías 39:31), ou seja, quando
eles são eminentemente inclinados para Deus. Leva-nos; correremos após ti (Cânticos 1:4).

Embora Deus encontre todos os Seus filhos natimortos ou mortos espiritualmente, antes
que Ele os vivifique por Seu próprio poder eficaz e graça, ainda assim Ele os vivifica, a fim
de que eles possam viver posteriormente para Sua honra e glória (1 Pedro 2:9). Ele levanta
a luz de Sua face sobre a mente humana, com uma visão análoga ao que Ele faz com a luz
do sol natural, que sobe sobre o mundo. Com que finalidade o sol brilha sobre nós em uma
manhã? Não é para que possamos continuar a fechar os olhos e pálpebras, e pressionemos
o dia todo a cama da indolência; mas para que levantemos e estejamos agindo. E por que
a luz do Espírito de Deus brilha interiormente sobre o Seu povo? Para que eles possam
levantar e caminhar na luz de Sua face e fazer as obras de Deus enquanto é dia (João 9:4),
como Jesus Cristo deu-lhes o exemplo: ande de modo digno dAquele que lhes chamou pa-
ra Sua glória e virtude. Pois não é santo falar, mas santo caminhar, o que prova que somos
filhos de Deus.

No entanto, depois que fizemos o máximo, e tenhamos andando tão longe, nos caminhos
de Deus como sua graça nos permitiu, o que é o tema de nossa confiança e alegria? Não
nós mesmos, nem os nossos próprios desempenhos, mas a livre misericórdia do Pai, e o
todo-perfeito mérito dAquele que morreu e ressuscitou. Como o bom Sr. Hervey pergunta:
“Podem os nossos atos de caridade expiar os nossos inúmeros crimes? Como uma gota
de água fresca pode corrigir e adoçar a salmoura insondável do oceano. Podem nossas
performances defeituosas satisfazer as exigências de uma lei perfeita, ou os nossos erros
nos ocultar do desagrado de um Deus irado? Assim como a nossa mão erguida pode eclip-
sar o sol, ou interceptar o raio quando se arremessa através da nuvem prestes a romper.
Nós podemos ser reconciliados com Deus apenas por Jesus Cristo (veja o sermão do Sr.
Hervey, intitulado ‘O Ministério da Reconciliação’)”. É o doce emprego da fé que faz tantas
boas obras quanto puder; e renuncia a elas tão rápido quanto ela possa lhes dizer: “Senhor,
quando te vimos com fome, e te demos de comer…?” [Mateus 25:37].

Assim, aprendemos, a partir do texto, que as mesmas pessoas que andam na luz da face
de Deus, e são ativas nas observações do dever moral, têm, quando elas têm feito de tudo,
algo infinitamente melhor pelo que se alegrar e para depender do que a santidade da sua
caminhada, e os vários deveres que efetuam. Em Seu nome, e não em sua própria retidão,
se alegrará todo o dia, e na Sua justiça, e não em suas próprias obras, se exaltará. Durante
o dia da vida terrestre, eles devem cantar, com o apóstolo: “Mas longe esteja de mim gloriar-
me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6:14); e quando, tendo o seu

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último respirar na terra, eles voam para praia da imortalidade, são, então, incoativamente
(o início de uma ação), e serão (após a auditoria final) completa e eternamente, elevados
para o reino de Deus, na e através da justiça imputada, somente, de seu Salvador, o seu
Fiador e a sua Cabeça.

Pelo nome de Cristo, no qual os eleitos são aqui ditos alegrarem-se, eu entendo o próprio
Cristo: a Pessoa bendita, representada por esse Nome. O qual é o brilho, o  a
emanação, ou exterior feixe luz radiante, da glória do Pai (Hebreus 1:4), e é, pela virtude
desta derivação eterna e incompreensível (ς  ). Deus de Deus; Luz da
Luz; verdadeiro Deus de Deus verdadeiro, gerado, não criado; co-igual participante de uma
substância [ou seja, da mesma natureza e essência numérica] com o Pai, e por quem todas
as coisas foram feitas.

Em Seu Nome, ou seja, na Divindade de Sua Pessoa, e em Seus ofícios como mediador;
em Sua expiação consumada, na perfeita justiça de Sua obediência, e na Sua intercessão
infalível por todos os eleitos; este é o privilégio do humilde, do contrito, do fraco, do tentado
e do crente caído (se retornando), pelo que se alegrar; porque foi para tais homens, e para
a sua salvação, que este Ser adorável desceu do Céu, e derramou a Sua alma na morte.

Não imagine que Davi era um Antinomiano, porque ele não faz nenhuma menção de boas
obras como objetos de alegria e de dependência. A verdade é que não se diz, “os santos
se alegrarão em sua fidelidade, em suas mortificações emocionadas, ou mesmo naquelas
obras que brotam da graça genuína”. Não; não nestes, mas em Seu nome, os gentios creem
(Mateus 12:21), e apenas de Sua única justiça eles farão a Sua glória. Graças inerentes e
deveres pessoais são os ornamentos, mas não a fundação, nem os pilares, do templo
místico de Deus.

Como a justiça de Cristo é o único mérito que pode nos exaltar à presença e ao reino de
Deus; assim esta doutrina sozinha deve ser considerada tão evangélica, de forma que aba-
te a justiça do homem, e exalte a justiça de Cristo; o que nos leva a confiar, não no que fa-
zemos, mas individualmente sobre o que Ele fez e sofreu por nós. O trabalho da Lei é nos
derrubar do pedestal da autoconfiança, e nos moer; como Moisés reduziu ao pó, e dis-
persou os materiais dos ídolos israelitas. A obra da graça é nos erguer do pó, e estabelecer-
nos em Cristo, a Rocha Eterna, para colocar um cântico novo de salvação gratuita em
nossas bocas, e ordenar os nossos passos no caminho dos mandamentos de Deus. Isto é
(mesmo o poder do Espírito Santo, que pela primeira vez nos quebra em pedaços pelo
martelo da Lei, e, em seguida, nos restaura pela graça do Evangelho) que nos permite nos
gloriemos em nome de Cristo, todo o dia. Não que a alegria de um crente seja ininterrupta,
a partir do momento de sua conversão até o momento de sua chegada ao céu; pois os

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eleitos têm o seu choro, bem como a sua temporada de triunfo, e sua peregrinação é sabia-
mente contrastada e diversificada, tanto com alegrias e tristezas que o mundo não conhece.
O significado, portanto, do texto, é que um pecador não é mais cedo nascido de novo do
que quando Cristo, e Cristo somente, torna-se o objeto da dependência deste pecador; que
possa, a partir daí, dizer com o Dr. Watts:

“Enquanto judeus de suas próprias obras dependem,


“E os gregos da sabedoria se vangloriam;
Eu amo Teu mistério encarnado,
E ali eu fixo a minha confiança.”

O pecador convertido tendo assim, por meio da boa mão de Deus sobre ele, fixado todas
as suas esperanças em Jesus Cristo, o Justo, viaja o restante de seu caminho, encostado
nos méritos (Cantares 8:5) do amado mediador; e é, enfim, exaltado à participação efetiva
da herança celestial acima, em e pela virtude desta justiça Divina, a qual Deus Filho operou,
que Deus o Pai imputa, que Deus o Espírito aplica, e sentindo-se esvaziar, recebe a fé.

O erudito e evangélico Sr. Thomas Cole, um renomado e útil ministro de Cristo, no século
passado, tinha uma observação ou duas, em sua última doença plena para o sentido da
cláusula com a qual o texto conclui: Na tua justiça eles se exaltarão. “Seria uma infeliz mor-
te, se não tivéssemos algo de cada forma adequado às exigências da lei, para fundamentar
as nossas esperanças de vida eternal. Nós temos uma entrada abundante no Reino de
Deus, pelo caminho da justiça de Cristo. O Diabo e a Lei podem nos encontrar; ainda assim
não podem nos impedir de entrar no céu por aquela Justiça. Devemos estar certos de en-
contrar com o Diabo, com a consciência, com homens ímpios e com a Lei de Deus, em nos-
so caminho para o céu; e não podemos lidar com nenhum deles, senão através da Justiça
que foi toda satisfeita. Vamos trazer isso junto conosco, e todos eles fugirão diante desta.
Se um pecador vem em sua própria justiça, “expulse-o”, diz Deus; assim diz a consciência,
assim diz a Lei. Mas, quando alguém vem vestido com a Justiça de Cristo, “deixo-o entrar”,
diz Deus; assim diz a consciência; assim diz a Lei; e deixe que o Diabo e o mundo digam o
contrário, se ousarem”.

Eu não deveria me atrever a olhar a morte de frente, se não fosse a garantia confortável
que a fé me dá sobre a vida eterna em Cristo Jesus, e pelas emanações confortáveis e
abundantes desta vida. Isto não é o que eu trago para Cristo, mas, o que eu recebo dEle.
Os primórdios do que eu vejo saltando para a vida eterna.

Algumas pessoas pensam em triunfarem elas mesmas como um todo, por sua própria
justiça moral, mas este é o caminho pronto para morrer no horror da consciência.

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“Se você quer a manifestação do perdão de todos os pecados, leva-os para a livre graça;
que tendo-os apagado, sabe dar-lhe uma percepção disto. O Evangelho de nossa salvação
é um Evangelho da livre graça, e aqueles que gostariam de outra forma podem reunir o que
puderem, e vão ostentando para as portas do céu; mas eles voltarão novamente”.

E como foi com este grande homem de Deus apoiado pela justiça de Cristo, quando na
visão imediata da morte? Aprenda o que esta justiça pode fazer por nós, pelo seguinte dis-
curso memorável, que ele dirigiu a um dos seus visitantes: “Você está vindo para ouvir os
meus últimos gemidos agonizantes, mas saiba, quando você os ouvir, que eles são a res-
piração mais doce eu jamais aspirei desde que eu conheci Cristo Jesus”.

Ó bendito Filho de Deus, exalta-nos em Tua justiça, e retira de nós a nossa própria! Vós,
que hoje me ouvem, oh, o que vós estais procurando? Serem encontrados e exaltados na
obediência de Cristo? Ou herdarem perdição e condenação em sua própria? Deus vos
capacite e leve-os a escolher a boa parte!

Corte fora, tanto quanto o homem pode fazê-lo, todos os fundamentos de orgulho, incredu-
lidade hipócrita, deixe-me concluir com duas ou três observações pertinentes.

1. Porque a notícia do Evangelho da salvação é chamada de “o som alegre”? Não, por tem-
po indeterminado, uma alegria, mas peculiarmente, e exclusivamente de todos os outros
regimes que sejam, o som alegre?

Porque ele é o veículo de fazer conhecido a nós que Deus é amor, e que Ele (no sangue e
justiça de Cristo) abriu um canal para o Seu amor exercitar-se na salvação do indigno. Os
perdidos são encontrados; os cegos veem; os surdos ouvem; os coxos andam; os leprosos
são limpos; os mortos são vivificados, e tudo isso sem dinheiro e sem preço (Isaías 4:1).

2. Você tem alguma parte ou porção nesta bem-aventurança de que o texto fala? Alguma
visão confortável, ou esperança de proveito na eleição de Deus, e na propiciação de Cristo,
e na graça regeneradora do Espírito? Pedi, e isto (não é vendido a você pelos seus traba-
lhos e pelo seu cumprimento imaginário das pretendidas condições, mas um sentimento de
interesse) vos será dado; procurai, somente pelo Nome e somente pela justiça por amor de
Cristo, e achareis as misericórdias que desejam; batei, mas deixe que isto seja com a mão
vazia, na porta da clemência divina, e esta vos será aberta. “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai,
e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca,
encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á” (Mateus 7:7-8). Tão certo como Deus inclina você
para Cristo, tão certamente Cristo, ao Seu tempo determinado, fará de você um participante
da bem-aventurança dos que conhece o som alegre.

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3. Você, que crê com o coração para justiça (Romanos 10:10) dê toda a glória; e ore para
que você possa ter continuamente visões mais vivificantes desta justiça imputada, na qual
Ele levou você a confiar. Como, por um lado, nada pode garantir e animar a sua alegria;
tanto, por outro (para usar a expressão de um bom homem, agora com Deus), “Nada pode
efetivamente matar o pecado, senão uma contemplação clara da justiça de Cristo”. Apegue-
se a essa âncora segura e firme, e você finalmente subirá mais elevado, tanto das ondas
de aflição, e da lama de suas próprias concupiscências e corrupções.

4. Faça disto o seu objeto predominante de ambição, o caminhar na luz da face de Deus.
Se você é bem-aventurado com o Seu sorriso, não importe-se mesmo que toda a criação
possa franzir a testa.

5. Mas se você anda na luz ou escuridão, no conforto ou sofrimento, lembre-se que você
não tem nada, senão o Nome, a Aliança, a Pessoa e a Obra de Cristo, em que alegrar-se
e no que depender. Nós, diz o apóstolo, somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus
no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.

6. Saiba de onde toda a sua salvação espiritual e eterna surge. Não vem de vocês mesmos,
em nenhum aspecto, nem em qualquer grau. A livre-agência, até ser santificada pela rege-
neração, é um dente quebrado, e um pé fora da articulação. E obras “feitas antes da graça
de Cristo e da inspiração de seu Espírito são”, como a nossa igreja justamente os pronuncia
ser, “pecaminosas e desagradáveis a Deus”. Não, mesmo as melhores obras que podem
ser executadas após a conversão caem imensamente aquém do que a Lei de Deus requer,
no ponto, tanto de matéria e de forma, de quantidade e qualidade, de número, extensão,
pureza e peso. O que, então, seria de nós, se não fosse a justiça de Cristo? O próprio São
Paulo, com todo o seu séquito incomparável de obras santas e trabalhos úteis, teria afun-
dado, do próprio andaime do martírio, no inferno mais baixo. Bendita, portanto, seja a livre
graça de Deus, por esta preciosa palavra de promessa infalível: Na Tua justiça o Teu povo
se exaltará!

7. O que é isto que fez, e para sempre continuará a fazer, a justiça de Cristo, tão infinita-
mente meritória e eficaz? A Divindade de Sua Pessoa. Todos os seres criados no universo,
seja angélico ou humano, não caídos, caídos ou restaurados, nunca, por seus maiores
esforços unidos, seriam capazes de fornecer e operar uma justiça de valor suficiente para
reivindicar o favor de Deus sobre o fundamento da justiça e mérito, ou de apresentar qual-
quer uma das sementes escolhidas irrepreensível diante dos olhos flamejantes de infinita
santidade. Tal poder pertence apenas à justiça do Deus-homem, Jeová encarnado. Nada
além deste mérito todo-perfeito e eterno, o qual é o resultado complexo de Sua obediência
e do Seu sacrifício, pode nos exaltar e resgatar para a dignidade e felicidade do Céu.

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A Divindade de Cristo dificilmente pode receber a prova mais forte da Escritura do que a-
quela que nosso texto fornece. Pois o conjunto de dois versículos, que têm sido objeto de
nossa meditação, nesta manhã, é um endereço solene ao Messias; não como Homem e
Messias, mas, em Sua mais elevada capacidade, como Deus com Deus, ou como o eterno
e unigênito do Pai. Vamos dar ao texto uma breve revisão, e nós imediatamente percebe-
mos que não é nem mais nem menos do que uma aplicação devocional, explicitamente
direcionada para a segunda pessoa da Trindade: uma aplicação formada nos termos mais
estritos de culto, até mesmo de adoração absoluta e devidamente Divina; e que não pode,
sem a idolatria mais grosseira e condenável, ser oferecida a qualquer ser inferior ao próprio
Deus.

Bem-aventurado o povo que conhece o som alegre, por Ti; Eles andarão, ó Jeová, na luz
da Tua face; em Teu nome se alegrarão todo o dia, e na Tua justiça se exaltarão.

Agora, o que você pensaria do homem que ofereceria, tal discurso todo como este para o
mais elevado arcanjo no céu? E o que foi Davi, se pudesse solene e deliberadamente escre-
ver este discurso para uma inteligência criada; e fazer com que isto fosse cantado publica-
mente pelos levitas, e pelos principais cantores de Israel, e até mesmo deixá-lo no registro
para a sedução da posteridade? E ao mesmo tempo, também, quando a nação judaica era
particularmente cuidadosa para execrar e evitar tudo o que tinha a menor tendência à ido-
latria? Ou Cristo é verdadeiramente Deus, ou Davi foi o sacrílego adorador de alguém falso.

Se, portanto, qualquer um de vocês for assediado pela astúcia dos homens que ficam à es-
preita para enganar; você deve encontrar com tais quem dizem que Cristo não é Jeová, ou
verdadeiro e eterno Deus; lembre-se, se houvesse nenhuma outra passagem da Escritura,
ainda assim estes dois versos, e seu contexto; irão, por si só, a qualquer momento, bastar
para colocar em fuga o sofisma dos párias.

Nós podemos nos exaltar na justiça de uma criatura? Será que Deus, o Pai aceitaria, e nos
ordenaria confiar na expiação de um ser finito? Pela mesma regra, poderíamos (com os Pa-
pistas insolentes) confiar nos supostos méritos da Virgem Maria, ou de São alguém. E pela
mesma regra, poderíamos descer um degrau mais baixo, e (com os ainda mais descarados
Pelagianos) confiar em nossos supostos próprios méritos, e queimar incenso para o braço
murcho do nosso próprio maldito livre-arbítrio. Em suma, não há fim para as impiedades
horríveis, que fluem pelo atropelamento da Divindade e da justiça de Cristo sob os pés.

Além disso, se Cristo não era Deus sobre todos, bendito para sempre, cada indivíduo da
humanidade que confia no mérito do Messias entraria no circuito daquela tremenda maldi-
ção denunciada pelos lábios dAquele que é capaz de salvar e destruir. “Assim diz o Senhor:

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Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração
do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem”
(Jeremias 17:5, 6). A fé em Cristo seria o pecado mais condenável sob a cúpula do céu, e
a Lei de Deus pronunciar-nos-ia amaldiçoados por confiar nEle, se Ele não fosse tão abso-
lutamente Jeová como o Pai. E devo acrescentar que este impressionante texto conclui
igualmente forte contra os Fariseus de todos os tipos e tamanhos que confiam tanto em
anjos, ou em espíritos dos mortos, ou em seus próprios miseráveis “eus”, para qualquer
parte da salvação, se pouco ou muito. Cristo somente deve ser crido para perdão, para a
justificação, para a vida eterna e para toda a nossa segurança e felicidade, do começo ao
fim. De onde isto é imediatamente adicionado, no capítulo acima de Jeremias: “Bendito o
homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor. Porque será [isto é, o homem
que confia e espera em Jesus somente] como a árvore plantada junto às águas, que esten-
de as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica
verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto” [Jeremias 17:7-8].

Percebo os elementos que estão sobre os sacramentos! Mesa. E eu não duvido que muitos
de vocês pretendem apresentar-se naquele trono da graça, que Deus misericordiosamente
ergueu na justiça e sofrimentos de Seu Filho co-igual. Oh, cuidem de não vir com um sen-
timento em seus lábios e outro em seus corações! Acautelai-vos de dizer, com a boca: “Nós
não viemos à esta mesa, ó misericordioso Senhor, confiando em nossa justiça própria”; em-
bora talvez vocês tenham, na realidade, algumas reservas secretas em favor daquela mes-
ma justiça própria que vocês professam renunciar; e pensem que o mérito de Cristo por si
só não irá salvá-los, a menos que vocês adicionem uma coisa ou outra para torná-lo eficaz.
Não sejam tão enganados; porque Deus não será assim, ridicularizado, nem Cristo, será
assim insultado com impunidade. Chamem os seus labores que quiserem, se os termos,
causas, condições ou suplementos; o assunto vem para o mesmo ponto, e Cristo é igual-
mente lançado fora do Seu trono mediador, por estes ou quaisquer outros pontos de vista
semelhantes de obediência humana. Se vocês não dependerem inteiramente de Jesus co-
mo o Senhor a sua justiça (Jeremias 23:6); se vocês misturarem a sua fé nEle com qualquer
outra coisa; se a obra consumada do Deus crucificado não for sozinha a sua âncora reco-
nhecida e fundamento de aceitação junto do Pai, tanto aqui como para sempre; cheguem
à sua mesa e recebam os símbolos de Seu corpo e sangue para o seu perigo! Deixem a
sua justiça própria para atrás de vocês, ou vocês não têm parte ali. Vocês estão sem a
veste nupcial; e Deus dirá a vocês: amigo, quão sinceramente você está aqui? Se vocês
vão mais adiante, vivem e morrem neste estado de incredulidade, vocês serão encontrados
sem palavras e indesculpáveis no Dia do Juízo; quando o Salvador desprezado dirá aos
Seus anjos a vosso respeito: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exte-
riores [ali haverá pranto e ranger de dentes]. Porque muitos são chamados, mas poucos
escolhidos” (Mateus 22:12, 14).

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Pelo contrário, vocês que podem realmente dizer: “nós não viemos a Ti, confiando em nossa
própria justiça”, mas sentem e confessam ser, vocês mesmos: “indignos mesmo de recolher
as migalhas sob tua mesa”; em Ti somente procuramos ser justificados, e em Ti somente
(Isaías 14:25) nos gloriamos; deixe os tais “aproximarem-se com fé, e tomar este santo
sacramento para seu consolo”. O Senhor lhes permita trazer seus pecados e seus deveres,
e vocês e seu tudo, à grande Propiciação! Que Ele nos lave em Seu próprio sangue, vista-
nos com a Sua própria justiça, e sele-nos um povo santo para Si mesmo, pelo Seu Espírito!
Então seremos convidados aceitáveis em Sua mesa abaixo; e amadureceremos rapida-
mente para a casa da glória acima; enquanto tudo isso for o nosso apelo e toda a nossa
canção: “Senhor, eu não sou digno que entrar debaixo de tua morada, em que tu possas
entrar na minha; mas (Apocalipse 5:12) o Cordeiro que foi morto é digno; e cada partícula
da minha esperança centra-se nEle, em Sua Aliança, em Sua obediência, cruz, humilhação
e exaltação. Por causa de Suas agonias, retire as minhas iniquidades. Por causa de Sua
justiça, receba-me graciosamente. E no manto de Seu mérito imputado, que eu possa
(Filipenses 3:9) ser achado vivendo, estando antes morrendo, no tribunal do julgamento, e
por toda a eternidade”.

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Graça Abundante
(Sermão Nº 501)

Pregado na manhã de sábado, 22 de março de 1863.


Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

“Eu voluntariamente os amarei.” (Oséias 14:4)

Esta frase é uma Teologia Sistemática em miniatura. Aquele que compreende o seu signifi-
cado é um teólogo, e quem pode mergulhar em sua plenitude é um verdadeiro mestre em
Divindade! “Eu os amarei”, é uma condensação da gloriosa mensagem de salvação que foi
entregue a nós em Cristo Jesus, nosso Redentor. O sentido se desdobra em cima da pala-
vra “voluntariamente”. “Eu os amarei”, aqui está o glorioso, o apropriado, o caminho Divino
pelo qual flui o amor do Céu à terra! É, de fato, a única maneira em que Deus pode amar-
nos como somos. É possível que Ele possa amar anjos por causa de sua bondade, mas
Ele não poderia amar-nos por esse motivo. A única maneira pela qual o amor pode vir de
Deus para criaturas caídas é expressa na palavra “voluntariamente”. Aqui temos amor es-
pontâneo fluindo para aqueles que não merecem, não o compraram, nem procuraram
buscar por ele!

Uma vez que a palavra “voluntariamente” é a própria tônica do texto, devemos observar
seu significado comum entre os homens. Usamos a palavra “voluntariamente” para aquilo
que é dado, sem dinheiro e sem preço. Ela se opõe a toda ideia de barganha, de toda a
aceitação de um equivalente, ou o que pode ser interpretado em um equivalente. Um ho-
mem é dito dar livremente quando ele concede sua caridade simplesmente requerentes
que jazem em sua pobreza, nada esperando ganhar. Um homem distribui voluntariamente,
quando, sem pedir qualquer compensação, ele considera que é mais abençoado dar do
que receber. Agora, o amor de Deus vem aos homens totalmente livre e sem preço, sem
que tenhamos mérito para merecê-lo, ou dinheiro para consegui-lo. Eu sei que está escrito:
“Vinde, comprai vinho e leite” [Isaías 55:1], mas não é acrescentado, “sem dinheiro e sem
preço”? “Eu os amarei”, ou seja: “Eu não vou aceitar as suas obras em troca de Meu amor,
Eu não vou receber o seu amor como uma recompensa para Mim, vou amá-los, todos indig-
nos e pecadores como eles são”.

Os homens dão “voluntariamente”, quando não há indução. Um grande número de presen-


tes de atrasados tem sido dado à princesa de Gales, e isso é muito bom, mas a posição da
princesa é tal que não vemos isto como qualquer grande liberalidade ao conceder um colar
de diamantes, uma vez que aqueles que os dão são honrados por sua aceitação. Agora, a

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gratuidade do amor de Deus é mostrada nisto, a saber, que os objetos dele são totalmente
indignos, pode conferir sem honra, e não tem condições de ser uma indução para abençoá-
los. O Senhor os ama livremente. Algumas pessoas são muito generosas em suas próprias
relações, mas aqui, mais uma vez, eles dificilmente podem ser considerados livres, porque
o laço de sangue os compele, os seus próprios filhos, o seu próprio irmão, a sua própria
irmã, se os homens forem generosos aqui, eles devem dizer “por meio” e “através de”! Mas
a generosidade do nosso Deus é recomendada a nós em que Ele amou os Seus inimigos,
e sendo nós ainda pecadores, no devido tempo, Cristo morreu por nós! A palavra
“voluntariamente” é “extremamente vasta”, quando usado em referência ao amor de Deus
aos homens. Ele seleciona aqueles que não têm nem mesmo sombra de uma rei-vindicação
sobre ele, e os coloca entre os filhos de Seu coração!

Usamos a palavra “voluntariamente”, quando um favor é conferido sem ele está sendo pro-
curado. Dificilmente pode-se dizer que o nosso rei nas antigas histórias perdoou os cida-
dãos de Calais livremente quando sua rainha teve primeiro de prostrar-se diante dele, e
com muitas lágrimas para induzi-lo a ser misericordioso. Ele foi gentil, mas ele não era
voluntário em sua graça! Quando uma pessoa tem sido perseguida por um mendigo nas
ruas, embora ela possa virar e dar liberalmente para se livrar do pedinte clamoroso, ela não
dá “voluntariamente”. Lembre-se, no que diz respeito a Deus, que a Sua graça ao homem
foi totalmente espontânea. Ele dá a graça Divina para aqueles que a procuram, mas ninguém
jamais iria procurar a menos que a graça não procurada primeiro lhe houvesse sido conce-
dida. A graça soberana não espera pelo homem, nem se demora pelos filhos dos homens.
O amor de Deus vai aos homens quando eles não têm nenhum pensamento de buscá-lO,
quando eles estão buscando todo tipo de pecado e devassidão. Ele os ama livremente, e
como o efeito deste amor, eles então começam a buscar a Sua face. Mas não é nossa bus-
ca, nossas orações, nossas lágrimas, que inclinam o Senhor a nos amar. No início, Deus
nos ama voluntariamente, sem quaisquer solicitações ou súplicas, e então chegamos tanto
a suplicar quanto a implorar Seu favor.

Aquele que vem sem qualquer esforço de nossa parte chega até nós “voluntariamente”. Os
governantes cavaram o poço, e como eles cavaram, eles cantaram: “Brota, ó poço!”. Em
tal caso, onde um poço tem sido escavado com muito trabalho, a água dificilmente pode
ser descrita como subindo espontaneamente. Mas ali, no vale do riso, a fonte jorra do lado
da colina e derrama sua torrente cristalina entre os seixos brilhantes. O homem não cavou
a fonte, ele não perfurou o canal, pois, muito antes de ele ter nascido, ou desde sempre o
peregrino cansado inclinou-se para seu fluxo refrescante, ele havia saltado de alegria em
seu caminho certo espontaneamente, e vai fazê-lo, enquanto a lua perdure, voluntariamen-
te, voluntariamente, voluntariamente. Tal é a graça de Deus! Nenhum labor do homem a
procura; nenhum empenho humano pode fazê-lo. Deus é bom a partir da simples necessi-

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dade de Sua natureza; Deus é amor simplesmente por que Sua essência é ser assim, e Ele
derrama Seu amor em correntezas abundantes a objetos indignos, merecedores do mal e
do inferno, simplesmente por que Ele “se compadecerá de quem Ele se compadecer, e terá
misericórdia de quem Ele tiver misericórdia”. Isto não depende de quem quer, nem de quem
corre, mas de Deus que se compadece!

Se você pedir uma ilustração da palavra “voluntariamente”, eu aponto para o sol. Quão
voluntariamente ele espalha os seus raios vivificantes! Preciosos como o ouro são os seus
raios, mas ele os espalha como o pó, ele semeia a terra com as pérolas do oriente, e a pa-
vimenta com esmeralda, rubi e safira, e tudo muito voluntariamente. Você e eu esquecemos
de orar pela luz do sol, mas ela vem a seu tempo determinado, e sim, sobre o blasfemo que
amaldiçoa Deus, o dia nasce e à luz do sol o aquece tanto quanto ao mais obediente filho
do Pai celestial! Este raio de sol cai sobre a fazenda do avarento, e sobre o campo do tolo;
o sol ordena o grão dos ímpios se expandir em seu calor cordial, e produz a sua colheita; o
sol brilha na casa do adúltero, na face do assassino, e na cela do ladrão. Não importa o
quão pecador o homem possa ser, ainda assim à luz do dia desce sobre ele sem ser
convidada ou procurada! Tal é a graça de Deus, aonde ela vem, não vem, porque é pedida,
ou merecida, mas simplesmente da bondade do coração de Deus, que, como o sol, aben-
çoa como Ele quer! Note os ventos suaves do céu, o sopro de Deus para reviver o enfra-
quecido, as brisas suaves. Veja o doente à beira-mar bebendo na saúde das brisas do mar
salgado; aqueles pulmões podem em suspiro proferir a canção lasciva, mas o vento de cura
não é contido, se é o peito de um santo ou de um pecador, ainda assim aquele vento não
cessa para ambos!

Assim acontece com as visitações da graça, Deus não espera até que o homem seja bom,
antes Ele envia o vento celeste, com a cura sob suas asas, mesmo como Lhe agrada, então
Ele sopra, e os mais indignos vêm! Observe a chuva que cai do céu. Cai sobre o deserto,
bem como sobre o campo fértil; cai sobre a rocha que recusará a sua umidade fertilizante,
bem como sobre o solo que abre a sua boca para beber com gratidão! Veja, ele cai sobre
as ruas duras da cidade populosa, onde não é requerida, e onde os homens até mesmo a
amaldiçoam por ter vindo, e ela não cai mais livremente onde as flores doces estiveram
suspirando por ele, e as folhas murchas estiveram farfalhando suas orações. Tal é a graça
de Deus. Ela não nos visita, porque nós a buscamos, e muito menos porque merecemos,
mas como Deus quer, e os frascos do Céu são destapados, assim como Deus quiser, e a
graça Divina desce. Não importa o quão vis, sombrios, faltosos e sem Deus os homens
possam ser, Ele terá misericórdia de quem Ele tiver misericórdia! Essa livre, rica, transbor-
dante bondade dEle pode fazer dos piores e menos merecedores os melhores e mais
excelentes objetos de Seu Amor!

Você me entende. Deixe-me não sair deste ponto até que eu tenha definido bem o seu sig-

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nificado. Quero dizer isso, queridos amigos, quando Deus diz: “Eu voluntariamente os ama-
rei”, Ele quer dizer que nenhuma oração, nem lágrimas, nenhumas boas obras, nenhuma
esmola são indução para que Ele ame os homens, não, não apenas nada, em si, mas nada
em qualquer outro lugar foi a causa de Seu amor por eles! Nem mesmo o sangue de Cristo,
nem mesmo os gemidos e lágrimas de Seu Filho amado! Estes são os frutos do Seu amor,
não a causa dele. Ele não ama porque Cristo morreu, Cristo morreu porque o Pai amou!
Lembre-se que esta fonte de amor tem sua nascente em Si próprio, não em você, nem em
mim, mas somente no próprio coração gracioso, infinito do Pai de bondade. “Eu voluntaria-
mente os amarei”, espontaneamente sem qualquer motivo extra, mas inteiramente porque
Eu escolhi fazê-lo.

No texto, temos duas grandes doutrinas. Vou anunciar a primeira, e estabelecê-la, e então
eu vou me esforçar para aplicá-la.

I. A primeira grande doutrina é essa, que NÃO HÁ NADA NO HOMEM PARA ATRAIR O
AMOR DE DEUS A ELE.

Temos que estabelecer esta doutrina, e nosso primeiro argumento é encontrado na origem
deste amor. O amor de Deus para com o homem existiu antes que houvesse qualquer ho-
mem. Ele amava o Seu povo escolhido antes de qualquer um deles haver sido criado, não,
antes que houvesse sido formado o mundo sobre o qual o homem habita, Ele havia posto
o Seu coração sobre o Seus amados e lhes ordenado para a vida eterna! O amor de Deus,
portanto, existia antes de haver qualquer coisa boa no homem, e se você me diz que Deus
amou os homens por causa da previsão de alguma coisa boa neles, eu respondo a isso,
que a mesma coisa não pode ser ao mesmo tempo causa e efeito!

Agora, é absolutamente certo que qualquer virtude que pode haver em qualquer homem é
o resultado da graça de Deus. Se ela é o resultado da graça Divina, não pode ser a causa
da graça Divina! É absolutamente impossível que um efeito devesse ter existido antes de
uma causa, mas o amor de Deus existia antes de bondade do homem, portanto, essa
bondade não pode ser uma causa. Irmãos e Irmãs, a Doutrina da antiguidade do Amor
Divino está gravada como com uma ponta de diamante sobre a própria fronte da Revelação!
Quando os filhos ainda não haviam nascido, nem tendo feito bem nem o mal, o propósito
da eleição ficou firme — quando ainda éramos como o barro na massa da criação, e Deus
tinha poder para fazer da mesma massa um vaso para honra ou um vaso para desonra —
Ele escolheu fazer Seu Povo vasos para honra. Isso não poderia ter sido por causa de
alguma coisa boa neles, pois eles, eles próprios, não seriam, muito menos a sua bondade!
As palavras do Salvador: “Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” [Mateus 11:26], revelam
não somente a soberania, mas a gratuidade do amor Divino.

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Vocês não sabem, queridos amigos, em segundo lugar, que todo o plano da bondade Divina
é totalmente oposto ao antigo Pacto de Obras? Paulo é muito forte neste ponto, ele expres-
samente nos diz que, se é de graça, não pode ser pelas obras, e se é pelas obras, não
pode ser pela Divina graça, não havendo possibilidade dos dois entrelaçarem-se (fundirem-
se)! Nosso Deus, falando pelo profeta, diz: “Não conforme a aliança que fiz com seus pais,
no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a
minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor” [Jeremias 31:32]. O Pacto
da Graça está tão distante quanto os polos separaram-se do Pacto das Obras! Agora, o
teor do Pacto de Obras é este: “Faze isto e viverás”, se, então, nós fazemos o que o Pacto
de Obras exige de nós, nós vivemos, e vivemos como o resultado de nosso próprio fazer.
Mas o oposto deve ser o caso do Pacto da Graça. Ele nunca pode ser o resultado de qual-
quer coisa que façamos para ser salvos sob essa Aliança, ou então os dois são o mesmo
pacto, ou pelo menos semelhantes. Considerando que em toda a Bíblia, eles são definidos
em oposição um contra o outro, como providenciados em princípios opostos, e atuando a
partir de diferentes fontes. Ó vocês que pensam que qualquer coisa em você pode fazer
com que Deus os ames, fique ao pé do Sinai e aprenda que a única coisa que pode levar
Deus a aceitar o homem com base na Lei é a perfeita obediência! Leia os Dez Mandamen-
tos, e veja se você pode manter um deles na plenitude do seu espírito, e eu tenho certeza
que você vai ser obrigado a clamar: “Seu mandamento é extremamente amplo. Grande
Deus, eu pequei”. E, no entanto, se você ficar na posição do que você é, você deve receber
todos os dez, e você deve mantê-los ao longo de uma vida inteira, nunca falhar em um míni-
mo ponto, ou então você certamente deve ser abominado por Deus!

O Pacto da Graça não fala daquele modo de maneira nenhuma. Ele vê o homem como
culpado, e não tendo nenhum mérito, e ele diz: “Eu vou, eu vou, eu vou”. Ele não diz: “Se
eles forem”, mas “eu quero, e eles deverão, vou borrifar água pura sobre eles, e eles serão
limpos, e de todas as suas iniquidades os purificarei”. Esse Pacto não olha para o homem
como inocente, mas como culpado! “E, passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu
sangue, e disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive” [Ezequiel 16:6]. O primeiro Pacto
foi um contrato: “Faça isso, e eu vou fazer isto”. Mas o outro não tem a sombra alguma de
barganha nele. Ele é: “Eu te abençoarei, e vou continuar a te abençoar. Embora vocês
abundem em transgressões, vou continuar a abençoá-los até eu vos aperfeiçoar, e, final-
mente, trá-los-ei para minha glória”. Não pode ser, então, que não haja qualquer coisa no
homem que faça Deus amá-lo, porque todo o plano do Pacto da Graça é oposto ao Pacto
de Obras!

Em terceiro lugar, a substância do amor de Deus — a substância do Pacto, que brota do


amor de Deus —, mostra claramente que não pode ser a bondade do homem que faz com
que Deus o ame. Se você me dissesse que havia algo de tão bom no homem que, por isso,

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Deus deu-lhe pão para comer, e vestes para vestir, eu poderia acreditar em você. Se você
me disser que a excelência do homem obrigou o Senhor colocar o fôlego em suas narinas,
e dar-lhe o conforto da vida, eu poderia ceder a você. Mas vejo ali o próprio Deus feito ho-
mem, eu vejo que Deus, o Homem, finalmente cravado na cruz, eu O vejo no madeiro expi-
rando em agonias desconhecidas; ouço Seu terrível grito: “Eloi, Eloi, lama sabactâni”. Vejo
o sacrifício terrível de Filho unigênito de Deus, que não foi poupado, mas entregue livremen-
te por todos nós, e estou certo de que seria nada menos do que blasfêmia se eu admitisse
que o homem poderia merecer tal presente como a morte de Cristo! Os próprios anjos no
Céu, com uma eternidade de obediência, nunca poderiam ter merecido tão grande dádiva,
como Cristo na carne, morrer por eles! E oh, devemos nós, que estamos totalmente sujos
e contaminados olhar para essa querida cruz e dizer: “Eu merecia este Salvador”? Irmãos
e irmãs, isto seria o cúmulo da arrogância infernal, deixe estar longe de nós, deixe-nos, em
vez disso, sentirmos que não poderíamos merecer tal amor como este, e que, se Deus nos
ama a ponto de dar Seu Filho por nós, deve ser por algum motivo oculto em Sua própria
vontade, não pode ser por causa de alguma coisa boa em nós!

Além disso, se você recordar os objetos do amor de Deus, bem como a substância deles,
em breve você vai ver que eles não poderiam ter qualquer coisa neles que compelisse Deus
a amá-los. Quem são os objetos do amor de Deus? Eles são fariseus, os homens que jeju-
am duas vezes na semana, e que pagam o dízimo de tudo que eles possuem? Não, não,
não! Eles são os moralistas que, no que diz respeito à Lei, são irrepreensíveis, e andam
em todas as observâncias de sua religião, sem um deslize? Não, os publicanos e as mere-
trizes entrarão no reino dos Céus antes deles! Quem são os escolhidos de Deus? Deixe
agora toda a tribo no Céu falar por si próprios, e eles vão dizer: “Temos lavado nossas ves-
tes, (elas precisavam, elas eram manchadas), e as branqueamos no sangue do Cordeiro”.
Apelo a qualquer dos santos na terra, e eles vão te dizer que eles nunca poderiam perceber
alguma coisa boa em si mesmos.

Eu tenho procurado em meu próprio coração — eu espero com certo grau de seriedade —
e muito longe de encontrar qualquer razão em mim mesmo pela qual Deus deveria amar-
me, eu posso encontrar mil razões pelas quais Ele deveria me destruir, e lançar-me para
sempre de Sua presença! Os melhores pensamentos que temos se contaminaram com o
pecado, a nossa própria fé é misturada com incredulidade, a devoção mais nobre que nós
já prestamos a Deus é muito inferior a Suas doçuras, e é marcado com enfermidade e culpa!
Lembre-se que muitos daqueles que são os verdadeiros servos de Deus eram os piores
servos de Satanás! Será que isso não os surpreende, que os homens que eram os compa-
nheiros da prostituta agora são santos do Altíssimo? O bêbado, o blasfemo, o homem que
desafiou as leis humanas, bem como as de Deus, como foi o caso de alguns de nós, mas
nós fomos lavados, fomos purificados, fomos santificados! Eu nunca conheci, e eu nunca

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esperaria encontrar-se com qualquer alma salva que jamais iria, por um momento, tolerar
o pensamento de que haja bondade em si mesma a ponto de merecer a estima de Deus!
Não, vil e cheio de pecado sou, e se Tu tens misericórdia de mim, ó Deus, é porque Tu
Terás, pois eu não tenho nenhum mérito!

Ademais disso, somos constantemente informados nas Escrituras que o amor de Deus e o
fruto do amor de Deus são dons. “O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de
Deus é a vida eterna”. Agora, se o Senhor permanece barganhando com você e comigo, e
diz: “Eu te darei isso se... se... se...”. Ele, então, não amaria voluntariamente. Mas se, por
outro lado, é simples, pura e somente um dom oferecido como tal, não por qualquer recom-
pensa a ser dada posteriormente, então o dom é um presente puro, um verdadeiro dom, e
por isso o texto é confirmado dizendo: “Eu voluntariamente os amarei”. Agora, o dom de
Deus é a vida eterna, e queridos amigos, se você e eu nunca entendermos isto, precisamos
obtê-la como um dom gratuito de Deus, de modo algum como os salários que ganhamos,
pois nossos pobres ganhos nos trarão a morte! Apenas o dom de Deus pode nos dar vida.

Em todas as passagens da Palavra, o amor do Senhor é grande e maravilhosamente louva-


do. A Palavra nos diz que tão alto quanto o Céu está acima da terra, assim são os Seus ca-
minhos acima de nossos caminhos. Se o Senhor amou os homens, por alguma amabilidade
neles não haveria nada de maravilhoso nisto, você e eu podemos fazer o mesmo! Espero
que eu possa amar um homem que possui excelência moral. Vocês sentem, cada um de
vocês, que, se a conduta de um homem para com você é gratificante e boa, você não pode
deixar de amá-lo, ou se você não fizer isso, torna-se uma falha de sua parte. Com reverên-
cia, deixe-me dizê-lo: se há algo de bom no homem, não é de admirar que Deus deveria
amá-lo, seria injusto se Ele não fizesse isso! Se naturalmente no homem há alguma virtude,
se há algum louvor, se houver algum arrependimento louvável, ou qualquer fé aceitável —
o homem deve ser amado! Esta não é uma coisa para maravilhar as eras, nem para levar
os anjos a cantar, nem para mover as montanhas e colinas em espanto, mas para Deus
amar um homem que é totalmente mau, e o amasse quando há todos os motivos para odiá-
lo, quando não há um traço de bondade nele, oh! isso é o suficiente para fazer as rochas
quebrarem o silêncio, e as colinas irromperem em música!

Esta é a primeira doutrina. Eu não posso pregar sobre ela como eu gostaria nesta manhã,
pois a minha voz está muito fraca, e a dor de falar distrai minha mente. Mas não importa
como eu pregue sobre ela, pois o assunto em si é tão extraordinariamente cheio de conforto
a uma alma realmente despertada que não precisa de guarnição minha, manjares gostosos
e excelentes não necessitam de habilidade do cozinheiro, sua própria delícia assegura-lhes
boa aceitação!

Mas qual é o uso prático disso? Para você que está procurando estabelecer a sua própria

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justiça, aqui está um golpe mortal para suas obras e confiança carnal! Deus não te amará
meritoriamente, Deus somente te amará voluntariamente. Por que é que você vai, então,
gastar o seu dinheiro naquilo que não é pão, e o seu trabalho naquilo que não satisfaz? Vo-
cê pode se vangloriar como quiser, mas você terá que vir a Deus em pé de igualdade com
o pior dos piores, e o quando você vem, você terá que ser aceito — você que é o melhor
dos homens — nas mesmas condições, como se você tivesse sido o mais impuro dentre
os impuros! Portanto, vão e não se aproximem ocupados vocês mesmos com toda essa
justiça imaginária, mas cheguem-se a Jesus como vocês estão! Venham agora, sem quais-
quer obras suas, pois vocês devem vir assim ou de nenhum outro modo! Deus disse: “Eu
voluntariamente os amarei”, e dependendo dEle, Ele nunca te amará de qualquer outra for-
ma! Você pode pensar que está labutando pelo Céu, quando você está apenas trilhando
seu caminho através das montanhas da auto-justificação, para as profundezas do Inferno!

Essa doutrina oferece conforto para aqueles que não se sentem aptos a vir a Cristo. Você
não percebe que o texto é um golpe mortal para todos os tipos de aptidões? “Eu voluntaria-
mente os amarei”. Agora, se houver qualquer aptidão necessária em você perante Deus
para que Ele te ame, então Ele não te ama voluntariamente, pelo menos este seria um im-
pedimento e uma desvantagem para a gratuidade do mesmo. Mas está escrito: “Eu te
amarei voluntariamente”. Você diz: “Senhor, mas meu coração é tão duro”. “Eu te amarei
voluntariamente”. “Mas eu não sinto a minha necessidade de Cristo como eu poderia dese-
jo”. “Eu não te amarei porque você sente a sua necessidade, eu te amarei voluntariamen-
te”. “Mas eu não sinto o quebrantamento de espírito que eu desejo”. Lembre-se, o quebran-
tamento de espírito não é uma condição, não há condições! O Pacto da Graça não tem
condições sejam quais forem. Estas são as incondicionais, fiéis misericórdias de Davi, para
que você, sem qualquer aptidão, possa vir e aventurar-se sobre a promessa de Deus, que
foi feita para você em Cristo Jesus, quando Ele disse: “Quem crê nele não é condenado”
[João 3:18]. Nenhuma aptidão é necessária: “Eu voluntariamente os amarei”. Varra tudo o
que é de madeira e restolho para fora do caminho! Oh, que haja graça em seus coração
para saber que a graça de Deus é livre, é livre para você, sem preparação, sem aptidão,
sem dinheiro e sem preço!

Tampouco o uso prático de nossa doutrina termina aqui. Há alguns de vocês que dizem:
“Eu me sinto esta manhã que eu sou tão indigno, eu posso muito bem acreditar que Deus
abençoará minha mãe, que Cristo se apiedará de minha irmã, eu posso entender como
outras almas podem ser salvas, mas eu não posso entender como eu posso ser. Sou tão
indigno”. “Eu voluntariamente os amarei”. Oh, não se cumprirá em seu caso? Se você fosse
o mais indigno de todos os seres criados, se você tivesse agravado o seu pecado até que
você houvesse se tornado o mais abominável e mais vil de todos os pecadores contudo,
“Eu voluntariamente os amarei”, coloca o pior em igualdade de condições com o melhor!

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Ele define vocês, que são miseráveis do Diabo, em pé de igualdade com o mais esperanço-
so! Não há nenhuma razão para o amor de Deus em qualquer homem, então se não houver
nenhuma em você, você não está pior do que o melhor dos homens, pois não há nenhuma
neles!

Outrossim, eu acho que esse assunto convida desviados para retornar. Na verdade, o texto
foi escrito especialmente para tais: “Eu sararei a sua infidelidade, eu voluntariamente os
amarei”. Aqui está um filho que fugiu de casa. Alistou-se como soldado. Ele se comportou
tão mal em seu regimento que teve que ser expulso do mesmo. Ele foi viver em um país
estrangeiro e tão cruel de forma que ele tem reduzido seu corpo pela doença, seus lombos
são cobertos com trapos, suas características são as do vagabundo e criminoso. Quando
ele foi embora, ele fez isso de propósito, para atormentar o coração de seu pai, e ele trouxe
os cabelos brancos de sua mãe, com pesar, para a sepultura. Um dia, o rapaz recebe uma
carta cheia de amor. Seu pai escreve: “Volte para mim, meu filho, eu vou te perdoar por
tudo, eu te amarei voluntariamente”. Agora, se essa carta tivesse dito: “Se você se humilhar
tanto, eu te amarei, se você voltar e me fizer tais e tais promessas, eu te amarei”. Eu posso
supor a natureza orgulhosa do rapaz subindo, mas certamente aquela bondade vai derretê-
lo! Eu acho que a generosidade do convite irá de uma só vez quebrar o seu coração, e ele
vai dizer: “Eu já não o ofenderei mais, eu retornarei imediatamente”.

Desviado, sem qualquer condição você está convidado a voltar! “Eu sou casado com você”,
diz o Senhor. Se Jesus já te amou, Ele nunca parou de te amar, você pode ter deixado de
participar dos meios de graça Divina, você pode ter sido muito frouxo na oração particular,
mas se você alguma vez já foi um filho de Deus, você é um filho de Deus ainda, e Ele clama:
“Como posso desistir de você? Como colocá-lo como Admá? Como posso fazê-lo como
Zeboim? As minhas compaixões à uma se acendem, eu sou Deus, e não homem, vou retor-
nar a ele em misericórdia”. Retorne, desviado, e busque a face de seu Pai injuriado! Acho
que ouvi um murmúrio em algum lugar: “Bem, esta é uma doutrina muito, muito, muito anti-
nomiana”. Sim, Objetor, é de tal doutrina que você vai precisar um dia. É a única doutrina
que pode atender o caso dos pecadores realmente despertos! “Mas Deus prova o seu amor
para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).

II. Uma vez que está escrito. “Eu os amarei voluntariamente”, acreditamos que nada no ho-
mem pode ser um obstáculo eficaz para o AMOR DE DEUS.

Esta é a mesma doutrina colocada em outro formato. Nada no homem pode ser a causa do
amor de Deus, de modo que nada no homem pode ser um impedimento eficaz para o amor
de Deus, eu quero dizer um obstáculo tão eficaz a ponto de impedir Deus de amar o homem.

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Como posso provar isso? Se houver qualquer coisa em qualquer homem que pode ser um
impedimento à graça de Deus, então isso teria sido um obstáculo eficaz para a Sua vinda
a qualquer um da raça humana. Todos os homens estavam nos lombos de Adão, e se hou-
vesse um impedimento em você para o amor de Deus, que teria estado em Adão, conse-
quentemente, estando em Adão, teria sido um impedimento ao amor de Deus à toda raça!
Se houver algum pecado em você, eu digo, que pode eficazmente impedir Deus de mostrar
graça para você, então, que estava em Adão, vendo que estava nos lombos de Adão, e
que iria, portanto, ter sido um impedimento eficaz para graça de Deus para a raça em qual-
quer dos seus membros. Ao ver que a graça de Deus não encontrou barreiras sobre as
quais não pôde saltar, nem comportas que não poderia estourar, nenhuma montanha que
não pôde passar por cima, estou convencido de que não há nada em você pelo que Deus
não deveria mostrar Sua graça para você!

Além disso, alguém poderia pensar que, se há um obstáculo em qualquer um, ele teria im-
pedido a salvação daqueles que estão indubitavelmente salvos. Mencione qualquer pecado
que você gosta, e eu lhe garanto sobre a autoridade Divina que os homens cometeram tais
pecados e ainda foram salvos. Falo um ato que manchou o caráter de um homem para
sempre — aquele ato abominável de adultério e assassinato — ainda que não impediu o
amor de Deus fluir para Davi! E mesmo que você tenha ido a esse ponto, e suponho que
não há nenhuma pessoa aqui que tenha ido mais longe, ainda assim isso não pode impedir
que o amor Divino brilhe sobre você! Assim como Deus não ama porque há excelência,
assim também Ele não recusa amar porque há pecado! Deixe-me selecionar o caso de
Manassés. Ele derramou muitíssimo sangue inocente, ele curvou-se diante de ídolos. O
que foi pior, ele fez os seus filhos passarem pelo fogo para o filho de Hinom, matar seus
próprios filhos em sacrifício ao deus falso, e ainda por tudo isso, o amor de Deus se apode-
rou dele, e Manassés tornou-se uma estrela brilhante no Céu, embora uma vez tenha sido
tão vil como os perdidos no inferno! Se existe alguma coisa em você, então, que o faz pen-
sar que Deus não pode te amar, eu respondo, IMPOSSÍVEL!

Certamente seus pecados não excedam os do maior dos pecadores. Paulo diz ele que era
o principal dos pecadores, e ele quis dizer isso, ele falou por Inspiração, e não há dúvida
de que ele era. Agora, se o maior dos pecadores passou pela porta estreita, deve haver es-
paço para o segundo maior! Se o maior pecador do mundo foi salvo, então há uma possibili-
dade para você e para mim, por que não podemos ser tão grandes pecadores como o pró-
prio principal dos pecadores. Mas vou ousar dizer que, mesmo que fosse, mesmo se pudés-
semos ultrapassar Paulo, ainda assim não seria uma barreira! O pecado do homem, para
dizer mais do mesmo, é apenas o ato de uma criatura finita, a graça de Deus é o ato de
bondade infinita. Deus não permita que eu deva desvalorizar suas ofensas, pois elas são
repugnantes, pois elas são infernais em si mesmas; contudo são apenas atos de uma cria-

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tura, as obras de um verme que hoje existe e amanhã é esmagado. Mas a graça Divina, o
amor e a piedade de Deus, oh! estes são infinitos, eternos, perpétuos, infindáveis, incompa-
ráveis, inextinguíveis e invencíveis, e, portanto, a graça de Deus pode superar e se mostrar
mais forte do que a sua culpa e pecado! Não há obstáculo, portanto, ou então teria havido
um obstáculo no caso dos outros.

Será que não danificaria a soberania de Deus se caso houvesse um homem no qual existis-
se algo que pudesse eficazmente impedir que o amor de Deus flua para ele? Então não
seria: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”. Não, seria: “Eu terei misericórdia
de quem eu poder ter misericórdia”, mas não existe um tal homem, “Eu não posso ter miseri-
córdia dele, pois ele foi longe demais”. Não, glória seja dada a Deus por essa frase: “Terei
misericórdia de quem eu tiver misericórdia”. O Diabo pode dizer: “O quê? Por que o homem,
este homem? Ele foi longe demais!”, “Ah, mas”, diz Deus, “se Eu quero isso, embora ele
tenha ido longe demais. Eu terei misericórdia dele”. Eu não sei se alguma vez já senti mais
a ilimitada soberania da graça de Deus, do que quando eu olhei esse texto na face e vi,
não, “Terei misericórdia daqueles que estão dispostos a tê-la”, nem, “Terei misericórdia de
penitentes”. Não, está escrito: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia”. E
assim, se Deus quer salvá-lo, não pode haver nenhum impedimento para isto, ou então isto
seria uma deterioração e uma limitação da soberania de Deus!

Isso não seria um grande insulto lançado sobre a graça de Deus? Suponhamos que eu pu-
desse encontrar um pecador tão vil que Jesus Cristo não pudesse alcançá-lo? Então os
demônios do inferno iriam levá-lo através de suas ruas como um troféu! Eles diriam: “Este
homem era mais do que páreo para Deus! Seu pecado era muito grande para a graça de
Deus”. O que diz o Apóstolo? “Onde o pecado abundou”, este é você, pobre pecador! “Onde
o pecado abundou”. Em quais pecados você mergulhou na noite passada, e em outras oca-
siões sombrias! “Onde o pecado abundou” — o quê? Condenação? Desespero sem espe-
rança? Não — “Onde o pecado abundou, superabundou a graça” [Romanos 5:20]. Acho
que vejo o conflito na grande arena do universo. O homem acumula uma montanha de pe-
cado, mas Deus vai igualá-lo, e Ele levanta uma montanha mais elevada da graça Divina!
O homem amontoa uma colina ainda maior de pecado, mas o Senhor a supera com 10 ve-
zes mais graça! E assim a disputa continua, até que finalmente o poderoso Deus arranca
até as montanhas pela raiz e enterra o pecado do homem abaixo dela como uma mosca
pode ser enterrada debaixo dos Alpes. O pecado abundante não é obstáculo para a supera-
bundante graça de Deus!

E então, queridos amigos, não iria isso diminuir a glória do Evangelho, se pudesse ser pro-
vado que houve algum homem em quem o Evangelho não pode operar desta maneira? Su-
ponhamos que o Evangelho, que é “digno de toda aceitação”, não pudesse atender a certos

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casos. Suponha que eu escolhi 12 homens que estavam tão doentes que o remédio do
Evangelho não poderia atender o seu caso? Oh, então eu acho que eu deveria calar minha
boca totalmente a respeito da glória da cruz, eu não conseguiria mais dizer com o Apóstolo:
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” [Gá-
latas 6:14], posto, então, que o Evangelho não seria o poder de Deus para salvação de todo
aquele que crê. Não, ele seria o poder de Deus para todos, exceto destes doze! Mas, oh,
tão frequentemente como eu venho a este púlpito, ele me dá alegria de saber que eu tenho
um Evangelho para pregar que é apropriado a cada caso! Um amigo me disse outro dia
que muitas notáveis personagens roubaram às vezes. Graças a Deus por isso! “Ah”, disse
alguns, “mas eles vêm só para rir”. Não se preocupe! graças a Deus, se eles vêm. “Ah, mas
eles vão fazer escárnio do Evangelho”. Não, o Senhor sabe como transformar zombadores
em pranteadores; esperemos pelo pior, e trabalhemos pelo mais sem esperança.

O amor de Deus providenciou meios para atender o caso mais extremo. Eles são dois. O
poder de Cristo e o poder do Espírito Santo. Você me diz que o pecado é um obstáculo?
Eu respondo: “Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens” [Mateus 12:31]. “O
sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” [1 João 1:7]. A expiação
de Cristo é capaz de remover dos homens todos os tipos, tamanhos e tinturas de iniquidade.
“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a
neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” [Isaías
1:18]. “Ah”, grita um, “a dureza de coração do homem está no caminho do amor de Deus”.
Amados, o Espírito Santo está pronto para atender o caso do coração endurecido. “Limita-
ram o Santo de Israel” [Salmos 78:41]. Há alguma coisa difícil para o Senhor? Você me diz
que a incredulidade é uma barreira. Eu respondo “Não”, por que não pode o Espírito Santo
fazer o incrédulo acreditar? Sim, se o Espírito Santo uma vez entra em contato eficaz com
o espírito mais descrente e obstinado, ele deve crer imediatamente! Olhe para o carcereiro,
a poucos minutos atrás, ele foi colocar Paulo no tronco. O quê, o que é isso que vem sobre
ele? “O que eu devo fazer para ser salvo?”, “Creia”, diz o Apóstolo, e ele crê, e torna-se tão
dócil como uma criança! Fora com os homens que pensam que o homem é senhor sobre
Deus! Se Ele quiser parar, neste momento, o perseguidor mais sangrento, o homem mais
licencioso e imoral, se Ele quiser transformar o ateu mais perverso de coração em um dos
mais bri-lhantes dentre santos, não há nenhuma maneira de detê-lO! Em um momento, o
amor oni-potente pode fazê-lo. Os meios são fornecidos, tanto no sangue de Cristo para a
limpeza, quanto no poder do Espírito para a renovação do homem interior!

Portanto, eu digo que está estabelecido, além de qualquer dúvida, que não há nada no
homem que pode vencer o amor Divino! “Qual é o uso prático desta”, diz alguém. O uso
prático desta é a abertura do portão da misericórdia. Eu gosto de sempre pregar sermões
que deixam a porta entreaberta da misericórdia para o pior dos pecadores, mas nesta

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manhã eu escancarei bem as portas! Um homem caído aqui dentro que tem pensado há
anos: “Eu me entreguei ao pecado na minha juventude, e eu me extraviei desde então, não
há nenhuma esperança para mim”. Eu digo a você, alma, tudo o que você já fez não é
empecilho ao amor de Deus para você, pois Ele não te ama por causa de alguma coisa boa
em você, e aquilo que é sombrio em você não pode impedi-lO de te amar, se Ele assim o
quer. Digo-lhe o que gostaria que você fizesse. Eu vi aqueles que, como você, vieram para
o pé da cruz e eles disseram:

“Assim como eu sou, e não esperando


Livrar a minha alma de uma mancha negra,
A Ti cujo sangue pode limpar cada mancha,
Ó Cordeiro de Deus, eu venho!”

Se em sua alma agora pode confiar no amor de Deus em Cristo, você está salvo! Não im-
porta quem você seja, você está salvo, nesta manhã, e você sairá desta casa uma alma re-
generada — por você ter pela, graça de Deus, crido em Jesus —, e assim o amor de Deus
chegou até você! Toda a sua vida passada é esquecida e perdoada; toda a sua ingratidão
passada, e blasfêmia, e pecado, são lançados nas profundezas do mar, e, tão longe quanto
o Ocidente está do Oriente, assim tem Ele afastado as suas transgressões de ti!

Eu reconheço o momento em que, se eu tivesse ouvido o sermão desta manhã, fraco e dé-
bil que fosse, eu deveria ter dançado de alegria! Eu sinto uma intensa satisfação interior e
alegria enquanto prego, pois eu acredito que é a abertura de prisão aos que estão presos!
Cristo não morreu pelo justo, mas pelos pecadores! Ele deu a Si mesmo pelos nossos peca-
dos, e não pela nossa justiça! Esta antiga doutrina luterana — a justificação pela fé em
Cristo — esta grande doutrina que abalou a antiga Roma desde os seus alicerces, penso
que deve conceder aos pobres pecadores conforto e paz! Eu sei que muitos não irão ver
nada nela, é claro que ninguém senão o doente vê qualquer valor na medicina. Eu sei que
há alguns aqui que vão pensar que o sermão não é para eles; oh, que o Espírito de Deus
faça alguém aceitar este conforto. Mas eles não vão, a menos que o Espírito de Deus opere
neles! Muitos de nós são como pacientes tolos que não vão tomar o remédio do médico, e
ele precisa nos segurar, e enfiá-lo goela abaixo antes para que tomemos. Isto é como o
Senhor lida com muitos, não contra a sua vontade, mas ainda contra a sua vontade como
ela costumava ser! Ele lhes dá o remédio da Sua Divina graça e o faz por inteiro. Em suma.
O que eu quero dizer é isto: tem sozinho aqui, nesta manhã, um pobre homem trabalhador,
o esforçado mecânico, o jovem pedreiro, o homem que leva uma vida corrida, o miserável
que leva uma vida grosseira, a mulher, talvez, que tenha ido longe no erro. Eu quero dizer
aos tais, vocês estão perdidos, mas o Filho do Homem veio buscar e salvar vocês!

Eu digo a vocês, filhos e filhas de pais morais, que não são convertidos, mas talvez sinta-

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se ainda pior do que o imoral. Eu digo a você que a esperança ainda não é passada! Deus
vai te amar voluntariamente, e é assim que o Seu amor é pregado a vocês: “Aquele que crê
no Senhor Jesus Cristo será salvo”. Venha como você está! Deus vai te aceitar como você
é! Venha como você é, sem qualquer preparação ou habilidade! Venha como você está e
onde a cruz é erguida com o Filho de Deus sangrando sobre ela, caia com o rosto no chão,
aceitando o amor manifestado ali, disposto a receber neste dia a graça Divina, que Deus
voluntaria e livremente dá!

Como pecadores, sem qualquer qualificação, como pecadores, como pecadores indignos,
meu Senhor os receberá graciosamente e voluntariamente os amará! Amém.

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A Plenitude Do Mediador

Um sermão pregado em 15 de junho de 1736, à Sociedade que apoia


a Tarde de Leitura do Dia do Senhor, próximo de Devonshire-Square.

“Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nEle habitasse.”


(Colossenses 1:19)

O apóstolo, após sua habitual saudação à igreja de Colossos, com uma grande dose de
deleite, toma conhecimento da fé deles em Cristo, e amor a todos os santos, eleva várias
petições em sua consideração, para um crescimento do conhecimento espiritual, santidade,
fecundidade, paciência e força; agradece por algumas bênçãos especiais da graça que Ele
e eles foram participantes; tais como alcançar o Céu; a libertação do poder das trevas; a
ida para o reino de Cristo; a redenção, pelo Seu sangue; e o perdão dos pecados, e em
seguida, toma uma ocasião para expressar as glórias e grandezas da pessoa de Cristo;
que, segundo ele (v. 15), é a imagem do Deus invisível, a original, essencial, eterna, não-
criada, perfeita e expressa imagem da Pessoa de Seu Pai, a quem nenhum dos homens
viu, em qualquer momento. E o primogênito de toda criação, não que Ele foi a primeira cria-
tura que Deus fez, o que não concordará com o raciocínio do apóstolo no versículo seguinte,
pois nEle foram criadas todas as coisas; e será passível por essa contradição manifesta,
que Ele foi o criador de Si mesmo; mas o significado é: que tanto Ele é o unigênito do Pai
desde toda a eternidade, sendo o Filho natural e eterno de Deus, Quem, como tal, já existia
antes de que qualquer criatura fosse trazida à existência; ou que Ele é o primeiro pai, ou
gerador de cada criatura, como a palavra porta-se para ser compreendida, se ao invés de
prwtótokoV, lemos prwtotokóV, que nada mais é do que mudar o lugar do acento, e pode
ser mui facilmente se aventurado, vendo que os acentos foram todos adicionados desde os
dias do apóstolo, e, especialmente, visto que isso faz que seu raciocínio nos seguintes ver-
sículos apareçam com muito mais beleza, resistência e força; Ele é o primeiro pai de toda
criatura: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi
criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por
ele” [Colossenses 1:16-17].

Em seguida o apóstolo prossegue a considerar Cristo em Sua relação de ofício, e capacida-


de de mediação, e Ele é a cabeça do corpo, da igreja; mesmo da assembleia geral e da
Igreja, o primogênito, dos que estão inscritos no Céu, todos os eleitos de Deus, sobre os
quais Ele é uma cabeça de domínio e poder, e para quem Ele é uma cabeça de influência
e suporte; Ele acrescenta: é o princípio, tanto da velha quanto da nova criação, o primo-

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gênito dentre os mortos, aquele que primeiro ressuscitou dos mortos pelo Seu próprio poder
para uma vida eterna, está sentado à direita de Deus, tem todo o julgamento entregue a
Ele, para que em tudo tenha a preeminência; pelo que Ele é abundantemente qualificado,
uma vez que aprouve a Deus que nEle habitasse toda a plenitude. O método que tomarei
ao considerar esta passagem da Escritura será este:

I. Examinar que plenitude de Cristo é aqui intencionada.


II. Fazer algumas considerações sobre a natureza e as propriedades dela.
III. Mostrar em que sentido pode-se dizer que ela habita em Cristo.
IV. Fazer notório, que a sua habitação em Cristo é devido à boa vontade e agrado do Pai.

Examinarei em que sentido a plenitude de Cristo é aqui referida, uma vez que as Escrituras
falam de mais de uma:

I. Em primeiro lugar, esta é a plenitude pessoal de Cristo, ou a plenitude da Divindade, a


qual é dita pelo nosso apóstolo (Colossenses 2:9) nesta mesma epístola: “Porque nele
habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Não há perfeição essencial à Divinda-
de, a não ser a que está nEle; nem há algo que o Pai tenha, senão o que Ele também tem.

A eternidade é peculiar à Divindade: Cristo não foi apenas antes de Abraão, mas anterior à
Adão, sim, antes de existir qualquer criatura; Ele é o alfa e o ômega, o primeiro e o derradei-
ro, o princípio e o fim, o que é, e que era, e que há de vir (Apocalipse 1:8); Ele é de eternida-
de a eternidade. A onipotência, ou um poder de fazer todas as coisas, só pode ser predicado
de Deus.

As obras da criação, providência, redenção e a ressurreição dos mortos, juntamente com


outras coisas, nas quais Cristo foi envolvido, proclamam em voz alta que Ele é o todo-pode-
roso. Onisciência, outra perfeição da Divindade, o meu ser facilmente observou em Jesus
Cristo: “E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque Ele bem sabia o
que havia no homem” (João 2:25). Aquele que é a Palavra Viva de Deus, que é “apto para
discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta
diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem
temos de tratar” [Hebreus 4:12-13]; quem em um breve tempo fará todas as igrejas, sim,
todo o mundo conhecer, que Ele é que esquadrinha rins e corações.

Onipresença e imensidão são apropriadas a Deus, e encontrados em Jesus Cristo, que


está no Céu, ao mesmo tempo em que Ele esteve aqui na terra; o que Ele não poderia es-

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tar, se Ele não fosse o Deus onipresente; mais do que Ele poderia realizar as promessas
que Ele fez, que Ele estará com o Seu povo quando eles se encontram em Seu nome, e
com Seus ministros até o fim do mundo, nem Ele poderia estar presente com as igrejas em
todos os lugares, como Ele certamente está; nem preencher todas as coisas, como Ele
certamente o faz.

A imutabilidade pertence apenas a Deus: Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre
(Hebreus 13:8). Em suma, a existência independente e necessária, que são essenciais à
Divindade, devem ser atribuídas a Ele, porque Ele é Deus de Si mesmo. Embora como
homem e mediador, Ele teve uma vida que lhe foi comunicada pelo Pai; contudo como
Deus, Ele não deve Sua existência a ninguém; esta não é derivada de outro, Ele é sobre
todos, Deus bendito eternamente, e deve, portanto, ser o verdadeiro Deus e a vida eterna.

Se alguma perfeição da Divindade estivesse ausente nEle, a plenitude, toda a plenitude dE-
le não poderia ser dita habitar nEle, nem ser dito dEle, como Ele é, ser igual a Deus. Agora,
alguns pensam que esta é a plenitude projetada em nosso texto, e o leem, a plenitude da
Divindade, o que parece ser transcrito de outra passagem nesta epístola já mencionada; e
supõem que isto se adapte bem à intenção do apóstolo de provar a primazia e preeminência
de Cristo sobre todas as coisas. Mas deve ser observado que a plenitude da Divindade
possuída pelo Filho de Deus, não depende da vontade e agrado do Pai; não é o que, como
tal, Ele natural e necessariamente goza por uma participação da mesma natureza indivisível
e essência do Pai e do Espírito e, portanto, não pode ser a plenitude aqui intencionada.

Em segundo lugar, há uma plenitude relativa, que pertence a Cristo, e não é diferente do
Seu corpo, a Igreja, da qual Ele é o Cabeça, que é chamada a plenitude daquele que cum-
pre tudo em todos (Efésios 1:23) e por esta razão que ela está preenchida por Ele. Quando
todos os eleitos são reunidos, a plenitude dos gentios trazidos, e todo o Israel salvo, quando
estes são preenchidos com todos os dons e graça de Deus, designadas para eles, e são
cultivados até sua justa proporção no corpo, e tenham atingido a medida da estatura da
plenitude de Cristo; então, eles serão rigorosamente, e poderão ser verdadeiramente, deno-
minados assim. Alguns intérpretes são de opinião, que esta é a plenitude aqui significada.
Mas, embora a Igreja habite em Cristo, e Ele nela, e isto através da boa vontade e prazer
do Pai; e embora ela seja completa em Cristo, e é dita ser a Sua plenitude; ainda assim,
propriamente falando, ela não é assim ainda, pelo menos nesse sentido, como ela será;
nem ela é alguma vez dita ser toda a plenitude, como no texto, e, portanto, não pode ser
aqui pretendida.

Em terceiro lugar, há uma plenitude de aptidão e habilidades em Cristo para cumprir a Sua
obra e ofício como mediador, que grandiosamente repousa em Seu ser tanto Deus e Ho-

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mem, ou na união das duas naturezas, Divina e humana, em uma Pessoa. Nisto Ele se
torna abundantemente qualificado para ser o árbitro entre nós, capaz de pôr a mão sobre
nós ambos, ou em outras palavras, para ser o mediador entre Deus e o homem, para ser
tanto um sumo sacerdote misericordioso e fiel, naquilo que é de Deus, e para fazer
propiciação pelos pecados do povo (Jó 9:33; 1 Timóteo 2:5; Hebreus 2:17).

Por ser homem, Ele tinha pouco a oferecer em sacrifício a Deus, e foi assim capaz de fazer
satisfação naquela natureza a qual pecou, o que a Lei e a justiça de Deus pareciam ter exi-
gido, e também de transmitir as bênçãos da graça adquiridas por Ele para eleger os ho-
mens; motivo pelo qual, Ele não tomou sobre si a natureza dos anjos, mas a descendência
de Abraão.

A santidade da natureza humana de Cristo grandemente O habilitou a ser um sumo sacer-


dote, advogado e intercessor, e muitas vezes a ênfase é colocada sobre isso nos escritos
sagrados, como quando dEle é dito (João 3:5; Hebreus 9:14; 1 Pedro 1:10) tirar o pecado,
e nEle não há pecado, para oferecer-se a si mesmo imaculado a Deus, e nós somos ditos
ser redimidos pelo sangue de Cristo, como de um Cordeiro imaculado ou incontaminado.
E, de fato, tal Redentor é adequado para nós, tal advogado nos convém, que é Jesus Cristo,
o justo, tal sumo sacerdote tornou-se-nos, é de toda forma apropriado para nós, aquele que
é santo, inocente, imaculado, e separado dos pecadores.

Sendo Deus bem como homem, há uma virtude suficiente em todas as Suas ações e sofri-
mentos para atender ao que eles foram designados: em Seu sangue para limpar de todo o
pecado, em Sua justiça para justificar deste, e em Seu sacrifício para expiar e redimir dEle.
Sendo o poder de Deus, Ele poderia viajar na plenitude da Sua força, achegar-se a Deus
por nós, oferecer-se a Deus, carregar os nossos pecados, e toda a punição devida a eles,
sem falhar ou ser desencorajado; Seu próprio braço sozinho foi capaz de levar a Salvação
para Si mesmo e para nós; não há nenhuma carência nEle, para torná-lO um salvador com-
pleto do corpo e cabeça da Igreja. Agora, isso pode ser tomado no sentido de nosso texto,
mas não é todo ele; pois,

Em quarto lugar, há plenitude dispensatória, comunicativa, a qual é da boa vontade e agra-


do do Pai, colocada nas mãos de Cristo, para ser distribuída aos outros: E isso é principal-
mente concebido aqui, e é,

A plenitude da natureza. Cristo é o cabeça de todo homem, e o cabeça sobre todas as


coisas para a igreja; Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas, mesmo na natureza: A
luz da natureza é nEle e dEle, e Ele é a verdadeira luz que ilumina todo o homem que vem
ao mundo (João 1:9). As coisas da natureza estão todas nEle, e à Sua disposição, a terra

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é do Senhor, e a Sua plenitude (Salmos 24:1); e Ele a dá ao Seu povo escolhido e especial
de uma forma peculiar. As bênçãos da natureza são bênçãos da mão esquerda da sabe-
doria, como as da graça são as suas prediletas da mão direita. O mundo e os que nEle
habitam, são Seus, até mesmo os homens do mundo; a parte ímpia do mundo é, em algum
sentido, dada a Ele para ser subserviente aos fins do Seu reino mediador e glória. Pede-me,
diz o Pai, para Ele (Salmos 2:8-9), e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra
por tua possessão. Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como
a um vaso de oleiro.

A plenitude da graça. Cristo é dito ser cheio de graça e de verdade (João 1:14, 16) e é desta
plenitude que o crente recebe, e graça sobre graça; uma espécie de plenitude a partir
dessa, todo o tipo de graça, cada medida, e toda a provisão dela.

(1) Há uma plenitude do Espírito da graça e dos dons do Espírito em Cristo; pois Ele é o
Cordeiro no meio do trono, tendo sete pontas e sete olhos, que são os sete espíritos de
Deus (Apocalipse 5:6) não sete distintas subsistências pessoais; mas a frase designa o
bendito Espírito de Deus, e a perfeição de Seus dons e graça, representados pelo número
sete, que, no sentido mais ampliado, habita em Cristo; o espírito de sabedoria e de
entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor
do Senhor (Isaías 11:2) repousa sobre Ele. Ele é ungido com o óleo da alegria, do Espírito
Santo, mais do que a seus companheiros, qualquer dos filhos dos homens, que são feitos
participantes de sua graça e glória; porque não lhe dá Deus o Espírito por medida (Salmo
45:7). Todos esses dons extraordinários do Espírito Santo, com o qual os apóstolos foram
cheios no dia de Pentecostes, foram dados a partir de Cristo, como a Cabeça da Igreja;
que, quando Ele ascendeu ao Céu para preencher todas as coisas, recebeu dons para os
homens, e deu-lhes a eles, para qualificá-los para trabalho e serviço extraordinário. E Ele
tem, em todos os tempos, mais ou menos, concedido dons aos homens, para capacitá-los
para a obra do ministério e para a edificação de Seu corpo, a Igreja, e lhe sobejava espírito.

(2) Há uma plenitude das bênçãos da graça em Cristo. O Pacto da Graça é ordenado em
todas as coisas, assim como é seguro, Ele é pleno de todas as bênçãos espirituais. Agora,
esta Aliança é feita com Cristo, está em Suas mãos, sim, Ele é a própria Aliança; todas as
bênçãos dEle estão sobre Sua cabeça, e nas mãos de nosso antitípico José, mesmo com
a coroa sobre o alto da cabeça daquele que foi separado de seus irmãos; e, portanto, se
alguém é abençoado com estas bênçãos, são abençoados com elas nos lugares celestiais
em Cristo; e de fato, de uma forma muito peculiar e surpreendente elas vem dEle para nós,
até mesmo através de Seu ser feito maldição por nós; pois Ele foi feito maldição por nós,
para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por meio dEle. A particularidade: há
em Cristo a plenitude da justificação, perdão, adoção e graça santificadora.

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Há uma plenitude de graça justificadora nEle. Uma parte de Sua obra e ofício, como Media-
dor, era trazer a justiça eterna; uma justiça que pode atender à todas as exigências da Lei
e da justiça, a qual deve responder por Seu povo em um tempo futuro, e dura para sempre:
tal justiça que Ele operou e trouxe, pela qual a justiça é satisfeita, a Lei é magnificada e
feita honrosa, e com o qual Deus se agrada, pelo que Ele é verdadeiramente chamado, o
Senhor nossa justiça e o Sol de justiça e força (Jeremias 23:6; Malaquias 4:2), somente de
Quem obtemos a nossa justiça.

Agora esta justiça operada pelo Filho de Deus, é nEle, e com Ele, como o autor e o sujeito
da mesma; e para Ele as almas sensibilizadas são dirigidas, para Ele olham, e para Ele
elas solicitam por isso; e cada uma delas mesmas diz enquanto sua fé cresce: certamente,
no Senhor há justiça e força; dEle elas recebem este dom da justiça, e com ela uma abun-
dância da graça, enquanto flui, um transbordar dela. Como foi operada livremente para eles,
é livremente imputada a eles, e concedida a eles, sem qualquer consideração das suas
obras; e é tão plena e ampla, que é suficiente para a justificação de todos os eleitos, e isto
de todas as coisas, das quais não poderiam ser justificados de nenhuma outra maneira.

Há também uma plenitude de graça perdoadora em Cristo. O Pacto da Graça tem ampla e
plenamente provido o perdão dos pecados de todo o povo do Senhor. Um ramo conside-
rável disto é (Hebreus 8:12), Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, E de
seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais. Em consequência dessa
Aliança, e dos compromissos de Cristo nela, Seu sangue foi derramado por muitos, para a
remissão dos pecados. A questão é que nEle temos a Redenção, pelo Seu sangue, a remis-
são dos pecados, segundo a riqueza da Sua graça (Mateus 24:28; Efésios 1:7), a qual, como
é inteiramente livre, as riquezas, a glória da graça e misericórdia são eminentemente exibi-
das nEle, por isso é grande e abundante, plena e completa; pois Deus, de acordo com o
Pacto da Sua graça, e olhando para o precioso sangue de Seu Filho, perdoa todas as trans-
gressões de Seu povo, passadas, presentes e futuras.

Há uma plenitude de toda a graça em Cristo, para suprir todas as nossas necessidades,
apoiar as nossas pessoas, e para nos conduzir com segurança e conforto através deste
deserto. Há uma plenitude de luz e vida, de sabedoria e conhecimento, força e habilidade,
alegria, paz e consolo nEle; toda a luz espiritual está nEle, e dEle. Enquanto toda esta luz
foi disseminada por toda a criação, foi no quarto dia reunida, e saiu para o grande luminar,
o sol; de modo que toda a plenitude da luz espiritual habita em Cristo, o sol da justiça, de
quem recebemos tudo o que temos; que aos poucos cresce, aumenta, e brilha mais e mais
até ser dia perfeito. Toda a vida espiritual é nEle, com Ele está a fonte dela; dEle temos o
princípio vivo da graça, e por Ele, ela é mantida em nós até a vida eterna. NEle estão escon-
didos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento e, a partir dEle esses são comuni-

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cados para nós. Como nEle está a justiça para nos justificar, assim nEle está a força que nos
permite opor cada corrupção, suportar todos os inimigos, exercitar toda a graça, e executar
cada dever.

Embora nós não possamos fazer qualquer coisa de nós mesmos, e sem Ele nada podemos
fazer; ainda por meio dEle que nos fortalece, podemos fazer todas as coisas. Em uma
palavra, há uma fonte completa, e um fundamento sólido de toda a paz espiritual, alegria e
consolo em Cristo; se há algum consolo para ser tido em qualquer lugar, é em Cristo; isso
surge a partir e é fundamentado sobre a Sua pessoa, sangue, justiça e sacrifício; em uma
visão do qual um crente é, às vezes, preenchido com alegria indizível e cheia de glória. Por-
que, assim como as aflições de Cristo, aquelas que nós sofremos por Cristo, são abundan-
tes em nós, assim também a nossa consolação abunda por meio de Cristo (2 Coríntios 1:5).
Há uma graça suficiente em Cristo para nos carregar sob, e nos conduzir em meio a todas
as tribulações, exercícios e aflições da vida; para nos fazer frutificar em toda a boa obra, e
para nos fazer continuar e resistir até o fim. Há uma plenitude de graça de frutificação e
preservação em Cristo.

(3) Há uma plenitude da promessa da graça em Jesus. Há muitas diversas promessas mui
grandes e preciosas, apropriadas aos diversos casos e circunstâncias dos filhos de Deus.
Nunca houve um caso de um crente que tenha sido desde a criação do mundo, e eu arrisco
a dizer, nunca haverá um até o fim de tudo, senão o que tenha uma promessa concedida
apropriada a ele. A Aliança da Graça é plena dessas promessas; por isso, elas são transcri-
tas para o Evangelho, e estão espalhadas por toda a Bíblia; e o que é o melhor de tudo:
todas as promessas de Deus são em Cristo sim, e por Ele o amém, para glória de Deus por
nós (2 Coríntios 1:20); todos elas são colocadas em Suas mãos para o nosso uso, e são
todas seguras e protegidas por Ele, que velará por isso, para que elas sejam real e plena-
mente cumpridas, não somente a grande promessa de vida, mesmo da vida eterna, a qual
Deus, que não pode mentir, prometeu antes da fundação do mundo, está em Cristo Jesus;
mas todas as outras promessas estão nEle também. Assim, quaisquer que são partici-
pantes delas, são participantes delas nEle, por meio do Evangelho.

Além da plenitude da natureza e da graça, que está em Cristo, há também a plenitude da


glória e da vida eterna e felicidade. Deus não apenas possui a graça de Seu povo, mas
também a Sua glória nas mãos de Cristo. Sua porção, a Sua herança, é reservada para
eles com Ele; onde está são e salvo. Eles são herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo;
de modo que sua herança é segura para eles. Como a sua vida de graça, assim a vida de
glória deles, está escondida com Cristo em Deus; e quando Cristo, que é a sua vida se
manifestar, então aparecerão com Ele em glória; o que grandemente consistirá em ser
como Cristo, e vê-lO como Ele é. Os santos serão semelhantes a Cristo, tanto em corpo e

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alma. Seus corpos, que são redimidos pelo Seu sangue, e são membros dEle, serão trans-
formados como o Seu corpo glorioso, na espiritualidade, imortalidade, incorruptibilidade,
poder e glória; e brilharão como o sol, com esplendor e brilho, no reino de Seu Pai.

Suas almas serão feitas como Cristo no conhecimento e santidade, tanto quanto as criatu-
ras são capazes. Eles irão, então, vê-lO como Ele é; contemplar a Sua glória mediadora,
vê-lo-ão por si mesmos, e não outro; será indescritível o deleite com as excelências dEle,
e sempre continuam com Ele, e estarão na presença dAquele, em cuja presença há plenitu-
de de alegria, e em cuja mão direita há delícias perpetuamente. Ora, tudo isso é garantido
em Cristo para os santos; tudo do que eles podem esperar; nisto eles podem confiar; pois
o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho (1 João
5:11). Assim, toda a plenitude da natureza, graça e glória, estão em Cristo Jesus nosso
Senhor. Eu prossigo,

II. Para oferecer algum relato da natureza e das propriedades desta plenitude; particular-
mente a plenitude da graça:

Esta é muito antiga. Não devemos supor que essa plenitude foi primeiro colocada nas mãos
de Cristo sobre a Sua ascensão ao Céu, e o assentar-se à mão direita de Deus; por que
Ele é, então, dito ter recebido dons para homens, e os dá a eles, porque havia, então, uma
distribuição extraordinária dos dons e graça do Espírito para os apóstolos, ainda assim,
Deus havia dado o Espírito a Cristo sem medida muito antes. Os discípulos, nos dias de
Sua carne, em Seu estado de humilhação, quando o Verbo se fez carne, e habitou entre
nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade
(João 1:14), e muito antes deles, Isaías viu este aspecto da Sua glória, Seu manto enchendo
o templo. Todos os santos do Antigo Testamento olharam para Ele, creram nEle, e depen-
diam dEle, como seu Redentor vivo; todos e cada um disseram: Certamente no Senhor há
justiça e força (Isaías 14:24). Eles foram supridos com ambas desta plenitude: eles tiraram
água com alegria das fontes da salvação em Cristo; e foram salvos pela graça do Senhor
Jesus, assim como nós fomos.

Sim, esta questão deve ser levada ainda mais adiante, não apenas para os tempos do
Antigo Testamento, ou para antes da fundação do mundo, porém mesmo dentro da eterni-
dade em si. Pois tão cedo quanto os eleitos foram dados a Cristo, tão cedo foi a graça dada
a eles nEle; que era antes do começo do mundo; tão cedo quanto a escolha deles nEle, o
que foi antes da fundação do mundo, tão cedo eles foram abençoados com todas as bên-
çãos espirituais nEle; tão logo Cristo foi o mediador da Aliança, e isso foi tão cedo quanto
o próprio Pacto, que foi desde a eternidade; tão logo essa plenitude da graça foi depositada

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com Ele. O Senhor me possuía, diz a sabedoria ou Cristo, isto é, com toda esta plenitude
da graça, no início de seus caminhos de graça — Ele iniciou com isso, antes de suas obras
mais antigas, da criação e da providência — “Desde a eternidade fui ungida, desde o
princípio, antes do começo da terra” (Provérbios 8:22-23), como o mediador da Aliança,
encarregado de todas as bênçãos e promessas da mesma. Agora isso serve grandemente
para expor a eternidade da Pessoa de Cristo, a antiguidade de Seu ofício, e a remota estima
que Jeová tinha pelo Seu povo escolhido; o que expressa fortemente o Seu amor maravi-
lhoso, e graça distintiva por eles.

Esta é uma plenitude mui rica, e enriquecedora. É uma plenitude da verdade, bem como da
graça; pois Cristo é cheio de graça e de verdade, o que o Evangelho amplamente desvela
para nós; toda a verdade deste é uma pérola de grande valor, e todos juntos compõem um
tesouro inestimável, mais valioso do que todas as riquezas das Índias. Agora em Cristo
estão depositados e escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Colossenses
2:3) Que rico e enriquecedor depósito, fundamento e plenitude de verdade, há em Jesus
Cristo!

As promessas da graça são preciosas a todos aqueles que viram a graça que há nelas, a
quem elas tenham sido desveladas pelo Espírito Santo da promessa, e tenham sido por
Ele, adequada e sazonalmente aplicadas; para os tais, elas são muitíssimo preciosas de
fato, elas são como maças de ouro em salvas de prata, alegram mais do que um grande
despojo, e preferíveis são a todas as riquezas do mundo; e essas, como já foi observado,
estão todas em Cristo. Não há somente riquezas da graça, mas riquezas da glória em
Cristo, mesmo insondáveis riquezas, as quais nunca podem ser descritas ou contadas; as
quais são sólidas e substanciais, satisfatórias, eternas e duráveis.

Através da pobreza de Cristo nós somos enriquecidos com aquelas riquezas aqui e no futu-
ro; e isso serve tanto para aumentar a glória, excelência, gratuidade e plenitude de Sua
graça: “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor
de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2 Coríntios 8:9).

Esta plenitude é completamente livre, no que diz respeito à nascente e fonte dela, à distri-
buição da mesma, às pessoas envolvidas na mesma, e a maneira pela qual elas recebem
dela. A fonte e origem dela é a soberana boa vontade e prazer, graça e amor de Deus.
Aprouve ao Pai colocá-la em Cristo: Ele não foi induzido a isso por qualquer coisa em Seu
povo, ou obras deles; pois isso foi colocado em Cristo antes de terem feito o bem ou o mal.
Ele não poderia ser influenciado por Sua fé e santidade para fazê-lo; uma vez que estas
são recebidas de fora: Pois da Sua plenitude todos nós recebemos, e graça sobre graça;
(João 1:14), uma graça, assim como a outra, toda a espécie de graça, fé e santidade entre

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as demais; Ele não podia ser movido a eles por Suas boas obras; vendo que estes são fru-
tos dessa graça que é derivada dEle. Isto é realmente dito para aqueles que O temem, e
confiam nEle; mas estas frases são apenas descritivas das pessoas que receberam dEle,
e são feitas assim por Ele; não que o temor e a fé foram as causas ou condições do mesmo:
pois, então, a bondade de Deus não seria tão amplamente demonstrada nEle, como o sal-
mista (Salmos 31:19) lembra; quando diz: Oh! quão grande é a Tua bondade, que guardaste
para os que Te temem, a qual operaste para aqueles que em Ti confiam na presença dos
filhos dos homens!

E, como ela foi livremente depositada, é livremente distribuída. Nosso Senhor a dá liberal-
mente e não lança em rosto; Ele dá esta água viva a todos os que Lhe pedem, sim, para
aqueles que não a pedem; Ele dá maior graça, grandes medidas, novos suprimentos dela,
aos Seus santos humildes, pronta e alegremente, enquanto eles estão em necessidade
dela; Ele não retém nenhuma coisa boa àqueles que andam em retidão.

As pessoas a quem é dada são muito indignas, e ainda cordialmente bem-vindas. Quem
tem sede, e tem vontade de vir, pode vir e tomar a água da vida, este convite também é
válido para quem não tem dinheiro, nem nada que seja de uma retribuição, que não têm
nem a pena, nem a dignidade própria, podem vir e comprar vinho e leite, sem dinheiro e
sem preço. E esta plenitude de Cristo, este bem de graça é profundo, e não temos nada a
tirar, a fé, o balde de fé é dado gratuitamente. A graça, pela qual recebemos dEle, não é de
nós mesmos, é dom de Deus; e, com ela tiramos água com alegria das fontes da salvação
completa, que estão em Cristo Jesus.

Esta plenitude é inesgotável. Como toda a família no Céu e na terra toma o nome de Cristo,
assim eles são sustentados por Ele. Se pela família no Céu entendemos os anjos, como
era de costume dos judeus chamá-los de uma família, e a família acima; que grandes medi-
das de graça de confirmação os anjos eleitos têm recebido de Cristo! Pois Ele é a cabeça
da graça para eles, assim como para nós: nós somos perfeitos nEle, que é a cabeça de
todo principado e poder (Colossenses 2:10). Ou, se pela família no Céu, entende-se os san-
tos que já se foram para a glória; que vasta medida de graça tem sido dispendida desta
plenitude para leva-los para lá!

A graça de nosso Senhor tem sido abundante, superabundante; ela flui e transborda; tem
sido um pleonasmo, uma redundância dela no caso de um único crente. Oh, que abundância
dela deve ter havido em todos os santos em todas as eras, tempos e lugares, desde a
fundação do mundo! E ainda há o suficiente para a família na terra, ainda atrás. Cristo ainda
é a fonte de todos os Seus jardins, as igrejas, um poço de água viva, que lhes fornece tudo;
e as correntes do Líbano, que docemente os refrescam e deleitam. Sua graça ainda é o
suficiente para eles; Ele é o mesmo hoje, ontem e para sempre. Eu prossigo,

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III. Para mostrar em que sentido essa plenitude pode ser dita habitar em Cristo, e o que
esta frase implica, E

Isso expressa o ser (a existência) dela nEle. Não é apenas em intenção, em desígnio e
propósito, mas está realmente e de fato nEle; ela é concedida a Ele, colocada em Suas
mãos, e repousa nEle. E, por isso, ela vem a ser comunicada aos santos; porque está nEle,
eles recebem dela, e graça sobre graça.

Ele é a cabeça em quem ela habita, estes são membros dEle, e assim ela deriva dEle. Ele
é deles, e eles são Seus, e assim tudo o que Ele tem pertence a eles. Sua pessoa é deles,
em quem eles são aceitos por Deus; o Seu sangue é deles, para purificá-los de todo pe-
cado; a Sua justiça é deles, para justificá-los a partir dEle; Seu sacrifício é deles para expiá-
los; e Sua plenitude é deles, para suprir todas as suas necessidades; e por isso eles são
tão cheios, como são ditos serem cheios do Espírito Santo, cheios de fé, de bondade (Atos
6:3, 8; Romanos 15:14), não que eles sejam assim de tal sentido como Cristo é; pois essa
plenitude está nEle sem medida, neles em medida; está nEle como uma fonte transbor-
dante, mas neles como correntes fluindo dEle.

Esta plenitude encontra-se em Cristo, e não em outro. As fontes da salvação estão apenas
nEle, não há salvação em nenhum outro; é em vão o esperar isso de qualquer outra parte;
nenhum nível de luz e vida espiritual, graça e santidade, paz, alegria e consolo, deve ser
obtido em outro lugar. Tais, portanto, que negligenciam, omitem ou abandonam esse ma-
nancial de águas vivas, cavam cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas (Jeremias
2:13). Portanto, convém a todos os que têm algum conhecimento de si mesmos, qualquer
senso de seus desejos, e visões da plenitude de Cristo, o requererem dEle; pois, para aon-
de deve ir alguém, senão para Aquele que tem as palavras de vida eterna?

Isto implica na continuidade dela com Ele. É uma plenitude permanente, e produz um supri-
mento diário, contínuo; os crentes podem ir todos os dias até Ele, e receber dela; a graça
que há nEle sempre será suficiente para eles, até o fim de seus dias. E a esta natureza
permanente dela, a morada eterna dela em Cristo é devida a perseverança final dos santos;
pois, porque vive Aquele que é tão pleno de graça e de verdade, eles vivem e viverão tam-
bém. Grande razão têm os crentes de se fortificarem na graça que há em Cristo Jesus (2
Timóteo 2:1).

Esta plenitude irá permanecer em Cristo até o fim dos tempos, até que todos os eleitos
estejam reunidos, e eles estejam cheios de graça, e levados à glória. Haverá tanta graça,
e tão ampla suficiência dela para o último crente que for nascido no mundo, assim como
para o primeiro. Além disso, há uma plenitude de glória em Cristo, que permanecerá nEle

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por toda a eternidade; a partir do qual os santos estarão continuamente recebendo glória
sobre glória, bem como aqui, graça sobre graça; eles terão toda a Sua glória de e a partir
de Cristo, então, como eles têm agora toda a sua graça dEle, e por meio dEle.

Isso indica a certeza e segurança da mesma. Cada coisa que está em Cristo é certa e segu-
ra. As pessoas da eleição de Deus, sendo nEle, estão em máxima segurança, ninguém
pode arrebatá-las das mãos dEle. A graça deles está ali, ela nunca pode ser perdida; a
glória deles está ali, eles nunca podem ser privados deste direito. Sua vida, tanto de graça
e glória, está escondida com Cristo em Deus, e por isso fora do alcance dos homens e
demônios. Cristo é o depósito e armazém de toda a graça e glória, e um bem fortificado;
Ele é uma rocha, uma torre forte, um lugar de defesa, tal como Alguém contra quem os
portões do inferno não prevalecerão. Apresso-me,

IV. Para fazer notório que a existência e habitação desta plenitude em Cristo são devidas
da boa vontade e prazer do Pai.

A frase, “O Pai”, não está de fato no texto original, mas é justamente fornecida pelos nossos
tradutores; desde que Ele é expressamente mencionado no contexto, e é falado como
Aquele que faz com que os santos sejam participantes da glória celeste, que livra do poder
e do domínio do pecado e de Satanás, e transporta para o reino do Seu Filho amado (vv.
12-13); e, como Aquele, que por Cristo, reconcilia todas as coisas conSigo mesmo, quer no
Céu quer na Terra, mesmo tais que foram alienados e inimigos dEle em suas mentes (vv.
20-21). Ora, É devido à boa vontade do Pai ao Seu Filho, que esta plenitude habita nEle.
Cristo sempre foi como mediador, como um que estava com Ele, e era Seu arquiteto; era
cada dia as Suas delícias, alegrando-me perante Ele em todo o tempo (Provérbios 8:30) e
assim Ele sempre continuou a ser; e como evidência e demonstração disso, Ele entesoura
toda a plenitude nEle. Isto parece ser a indicação das palavras de nosso Senhor, quando
Ele diz, o Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos (João 3:35), isto é,
Ele demostrou Seu amor a Ele, e deu uma prova plena disso, ao entregar todas as coisas
para Ele, para que estejam à Sua vontade e disposição. Este sentido das palavras bem
concorda com o contexto, o que representa Cristo em Sua capacidade de mediação, como
exaltado pelo Pai, com este ponto de vista, para que em todas as coisas tenham a preemi-
nência.

É devido à boa vontade do Pai aos eleitos, que essa plenitude habita em Cristo; pois é por
causa deles, e sobre a sua consideração, que isto é colocado nas mãos de Cristo. Deus os
amou com um amor eterno; e, portanto, cuida eternamente deles, e faz provisão eterna
para eles. Eles eram os objetos de Seu amor e prazer desde a eternidade; e, portanto, Ele

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estabeleceu a Cristo como mediador desde a eternidade, e dotou-Lhe com essa plenitude
para eles. Houve boa vontade no coração de Deus em relação a esses filhos dos homens;
e, portanto, lhe agradava dar um passo como este, e estabelecer uma oferta suficiente por
eles, tanto para o tempo quanto para a eternidade.

Aprouve a Deus que essa plenitude habitasse em Cristo; por considerá-lO como a Pessoa
mais adequada para confiar isso. É bom para nós, que não seja colocada em nossas mãos
de uma só vez, mas aos poucos, enquanto estamos em necessidade; não teria sido seguro
que esta plenitude estivesse sob nossa própria manutenção. É bom para nós, que não foi
colocada nas mãos de Adão, nosso primeiro pai, a nossa cabeça natural e federal, onde
ela poderia ter sido perdida. É bom para nós, que não foi colocada nas mãos dos anjos,
pois, como eles são criaturas, e assim impróprios para tal confiança, eram também em sua
criação, criaturas mutáveis, como a apostasia de muitos deles declara abundantemente. O
Pai viu que ninguém estava apto para essa confiança, senão o Seu Filho, e, portanto, lhe
aprouve entrega-la a Ele. É da vontade e agrado de Deus que toda a graça deva vir até nós
por meio de Cristo. Se Deus vai comungar conosco, isto deve ser a partir do propiciatório:
Cristo Jesus. Se tivermos alguma comunhão com o Pai, deve ser através do Mediador. Se
tivermos alguma graça dEle, que é o Deus de toda a graça, isso deve vir até nós desta
forma; pois somente Cristo é o caminho, e a verdade, e a vida (João 14:6), não apenas o
caminho de acesso a Deus, e aceitação dEle, mas do envio de toda a graça, de todas as
bênçãos da graça para nós.

Agora, na medida em que é o prazer do Pai que toda a plenitude da natureza, graça e glória
devam habitar em Cristo, o Mediador, isto estabelece a glória de Cristo. Um aspecto consi-
derável da glória de Cristo, como Mediador, encontra-se no fato dEle ser cheio de graça e
de verdade; o que as almas sensíveis de Seus próprios anelos, veem com prazer. É isso
que faz dEle o mais formoso dos filhos dos homens, por que a graça, a plenitude dela, é
derramada em seus lábios. É isso que faz com que Ele pareça ser branco e rosado, o pri-
meiro entre dez mil; e seja tão adorável, mesmo totalmente desejável, na opinião de todos
que O conhecem. É isso que o torna tão muitíssimo precioso, e tão valorizado e estimado
por, todos os que creem.

Isso nos instrui para onde buscar por uma fonte. Os egípcios, nos sete anos de fome, quan-
do clamaram a Faraó por pão, este tendo estabelecido a José sobre seus depósitos, os
ordena a irem ter com ele, dizendo: Ide a José; o que Ele vos disser, fazei (Gênesis 41:55).
Cristo é por Seu Pai, constituído como o cabeça sobre todas as coisas da Igreja. Ele é o
nosso antitípico José, que tem todo o nosso estoque de graça na mão. Todos os tesouros
dela estão escondidos nEle; Ele tem toda a disposição da mesma, e, portanto, a Ele deve-
mos ir para tudo o quanto estivermos necessidade. E disso nós podemos ter a certeza: de

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que não há nada que queremos, senão o que está nEle; e nada nEle é apropriado para
nós, senão o que Ele pronta e livremente nos comunica.

Isso nos direciona a dar toda a glória do que temos a Deus, por meio de Cristo, visto que
Ele é a via de transmissão de toda a graça a nós, “portanto, ofereçamos sempre por Ele a
Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hebreus
13:15). Isto é pela graça de Deus em Cristo; por meio dEle e para Ele, nós somos o que
somos; isso é o que nos fez ser diferentes de outros. Não temos nada, senão o que nós
temos de certa forma recebido, nada senão o que temos recebido a partir da plenitude de
Cristo; e, portanto, não devemos nos gloriar, como se não tivéssemos recebido: Mas se
qualquer um de nós se gloria, gloriemo-nos em Cristo “o qual para nós foi feito por Deus
sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Coríntios 1:30).

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use estes textos para trazer muitos
Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.

Sola Scriptura!
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Solus Christus!
Soli Deo Gloria!

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Referências Dos Textos Deste Volume:

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altere o seu conteúdo nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

PARTE I — O Homem, Seu Pecado, Sua Queda, Sua Depravação e Sua Miséria.

Introdução À Doutrina Da Depravação Humana – Arthur W. Pink


Via: EternalLifeMinistries.org • Título em Inglês: The Total Depravity of Man – Chapter 1: Introduction
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira.

As Evidências Da Depravação Humana – Arthur W. Pink


Via: EternalLifeMinistries.org • Título Original: The Total Depravity of Man – Chapter 11: Evidences •
Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Almeida.

Não É Razoável Que Pessoas Não-Convertidas Se Alegrem – Robert Murray M’Cheyne


Via: Books.Google.com.br • Título original: It is Unreasonable in Unconverted Persons to Make Mirth •
Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Almeida.

Pecado Imensurável, Sermão Nº 299 – Charles H. Spurgeon


Via: SpurgeonGems.org • Título Original: Sin Immeasurable • Tradução por William Teixeira • Revisão
Camila Almeida.

As Ramificações Da Depravação Humana – Arthur W. Pink


Via: EternalLifeMinistries.org • Título Original: The Total Depravity of Man – Chapter 10: Ramifications •
Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Almeida.

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A Terrível Condição Dos Homens Naturais – Robert Murray M´Cheyne
Via: Books.Google.com.br • Título Original: The Fearful Condition of Natural Men • Tradução por William
Teixeira • Revisão por Camila Almeida.

A Pecaminosidade Do Homem Em Seu Estado Natural – Thomas Boston


Via: Chapellibrary.org • Título Original: The Sinfulness of Man’s Natural State • Tradução por William
Teixeira • Revisão por Camila Almeida.

O Terrível Estado Dos Não-Convertidos – Jonathan Edwards


Via: CCEL.org • Título Original: Natural Men in a Dreadful Condition • Tradução por Tiago Cunha • Revisão
por William Teixeira.

Um Verdadeiro Mapa Do Estado Miserável Do Homem Por Natureza – Christopher Love


Via: PuritanSermons.com • Título Original: A True Map of Man's Miserable Estate by Nature • Tradução
por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Homens Em Seu Estado Caído – John Newton


Via: Pbministries.org • Título Original: Man in His Fallen Estate • Tradução por William Teixeira • Revisão
por Camila Almeida.

As Consequências Da Depravação Humana – Arthur Walkington Pink


Via: EternalLifeMinistries.org • Título Original: The Total Depravity of Man – Chapter 4: Consequences •
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

A Santidade De Deus E A Depravação Do Homem – Paul David Washer


Transcrição da pregação proferida na 16ª Consciência Cristã – VINACC. Noite do dia 1º de março de
2014. Campina Grande–PB, Brasil • Assista ao vídeo desta pregação: Youtu.be/ymQwV5zkwrs •
Transcrição por William Teixeira • Revisão por Ilanna Praseres.

A Porção Dos Ímpios – Jonathan Edwards


Via: CCEL.org • Título Original: The Portion Of The Wicked • Tradução por Tiago Cunha • Revisão por
Camila Almeida.

O Remédio De Deus Para A Depravação Humana – Arthur Walkington Pink


Via: EternalLifeMinistries.org • Título Original: The Total Depravity of Man – Chapter 13: Remedy •
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira.

A Necessidade Da Morte De Cristo – Stephen Charnock


Via: Chapellibrary.org • Extraído de “Cristo, nossa Páscoa” • Tradução por Camila Almeida • Revisão por
William Teixeira.

Inimigos Reconciliados Pela Morte – Robert Murray M'Cheyne

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Via: Books.Google.com.br • Título original: Enemies Reconciled Through Death • Tradução por Camila
Almeida • Revisão por William Teixeira

A Gloriosa Bem-Aventurança Proposta No Evangelho – Arthur Walkington Pink


Via: EternalLifeMinistries.org • Título Original: The Total Depravity of Man – Chapter 14: Summary •
Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Almeida.

PARTE II — Deus, Sua Graça, Seu Amor, Seu Evangelho e Sua Eterna Salvação.

Uma Breve Exortação Evangélica – Paul David Washer


Via: I´ll be Honest – Global (Youtube.com/user/ibhglobal) • Uma breve exortação por Paul Washer, após
um estudo intitulado, “Como Ser Uma Mulher de Deus?” ministrado na Igreja do Salvador, Peru, em
Junho de 2012 • Pregação Transcrita do original em espanhol por Camila Almeida • Revisado e editado
por William Teixeira.

Uma Palavra Sincera Aos Não-Convertidos – Richard Baxter


Via: CCEL.org • Título Original: A Call to the Unconverted, to Turn and Live • Este texto é uma edição do
Prefácio do clássico Um Chamado aos Não-Convertidos. Este pequeno tratado é composto por este
Prefácio e mais 4 Sermões baseados em Ezequiel 33:11 • Tradução por Camila Almeida • Revisão por
William Teixeira.

Perdão Para Os Maiores Pecadores – Jonathan Edwards


Via: The-HighWay.com • Título Original: Pardon for the Greatest Sinners • Tradução por Amanda
Ramalho • Revisão por William Teixeira.

Sermão Nº 1434, JESUS! – Charles H. Spurgeon


Via: SpurgeonGems.org • Título Original: Jesus! • Tradução por Camila Francine Ventura • Revisão
por Camila Almeida.

Ele Me Amou, E Se Entregou Por Mim – John Stephen Piper


Via: DesiringGod.org • Título Original: He Loved Me and Gave Himself for Me • Tradução por Camila
Almeida • Revisão por William Teixeira.

Sermão Nº 2563, Graça Para O Culpado – Charles H. Spurgeon


Via: SpurgeonGems.org • Título Original: Grace For The Guilty • Tradução por William Teixeira • Revisão
por Camila Almeida.

Semper Idem ou A Imutável Misericórdia De Jesus Cristo – Thomas Adams


Via: PuritanSermons.com • Título Original: Semper Idem; or, the Immutable Mercy of Jesus Christ •
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira.

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Sermão Nº 233, A Livre Graça – Charles H. Spurgeon
Via: SpurgeonGems.Org • Título Original: Free Grace • Tradução por William Teixeira • Revisão por
Camila Almeida.

O Som Alegre Do Evangelho Da Graça De Deus – Augustus Montague Toplady


Via: PBMinistries.org • Título Original: Good News From Heaven or The Gospel A Joyful Sound • Tradução
por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão Nº 501, Graça Abundante – Charles H. Spurgeon


Via: SpurgeonGems.org • Título Original: Grace Abounding • Tradução por William Teixeira • Revisão por
Camila Almeida.

A Plenitude Do Mediador – John Gill


Via: PbMinistries.org • Título Original: The Fullness of the Mediator • Tradução por Camila Almeida •
Revisão e William Teixeira.

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 Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a  Pacto da Graça, O — Mike Renihan
Doutrina da Eleição  Paixão de Cristo, A — Thomas Adams
 Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos  Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards
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— Sola Scriptura • Sola Fide • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —
2 Coríntios 4
1
Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2
Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
3
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
4
encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
5
de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
6
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
7
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 10
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
11
se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
12 13
nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
14
por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
15
também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
16
Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
17
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
18
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo

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