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Conteúdo Programático:
Objetivos:
- Apresentar objeto de estudo, objetivos e constituição história da Psicologia Evolutiva
- Esclarecer concepções sobre desenvolvimento cognitivo e aprendizagem de acordo
com a abordagem cognitiva pela Epistemologia Genética e pela Teoria do
Processamento da Informação, relacionando-as com desenvolvimento das pessoas
com deficiência e educação especial.
- Abordar o desenvolvimento psicossexual da personalidade de acordo com a
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REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Maria. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo:
Saraiva, 1999.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2008.
PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A psicologia da criança. 13. ed. Rio de janeiro:
Bertrand Brasil, 1994.
SALVADOR, César Coll et al. Psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 1999.
TAILLE, Yves de La; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky,
Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Sócrates) e o Empirismo iniciado por Aristóteles de Estagira (384 a 322 a.C) (discípulo
de Platão).
Para o INATISMO de Platão, ao nascermos trazemos em nossa alma os
princípios racionais (leis da razão) e ideias verdadeiras. Conhecer para Platão seria
recordar em vida das verdades já existentes em nossa alma. Platão perguntava como
saberíamos que temos uma ideia verdadeira ao encontrá-la se antes não a
conhecêssemos? Como poderíamos diferenciar verdade e mentira se não
soubéssemos o que é a verdade?
Para ele, conhecemos (nossa alma) a verdade no mundo das ideias e
quando escolhemos encarnar no mundo material, devemos ter em mente que as coisas
existentes materiais são meras cópias imperfeitas das coisas verdadeiras que nossa
alma conheceu. Afastar-se do que os sentidos mostram em busca do conhecimento da
ideia pura que habita nossa alma é o que a Filosofia possibilita, graças à Razão.
Segundo Chauí (2008, p. 124), já para o EMPIRISMO nascemos como
folhas em branco a serem “escritas” pelas experiências, ou seja, todo conhecimento
seria proveniente das experiências que temos. Ao contrário de seu mestre Platão,
Aristóteles não daria tanto crédito à fonte de todo conhecimento verdadeiro como
sendo o mundo suprassensível das ideias. Aristóteles não faria tal separação entre o
inteligível e o sensível.
Para Aristóteles, aquilo que o homem conhece é formado por informações
oriundas dos graus sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio
e intuição, havendo, portanto, uma continuidade entre o conhecimento sensível e o
intelectual.
com deficiência mental, inspirados pelo empirismo de John Locke (1632-1704), cujas
ideias apontavam a experiência humana como decisiva para o desenvolvimento da
razão, da inteligência (KASSAR, 1999).
No entanto, trabalhos e pesquisas também evidenciarão que os estímulos
ambientais têm seus efeitos limitados sobre a alteração de diversas condições,
sobretudo aquelas que também envolvem fatores genéticos e de integridade de tecido
neuronal. Assim, sobretudo no final do Séc. XIX e ao longo do Séc. XX, com o advento
da teoria genética e expressiva evolução das ciências médicas, o interacionismo se
firmará como fundamento para considerações a respeito das possibilidades de
desenvolvimento e educação das pessoas com deficiência.
explicações inatistas, ora para explicações empiristas, mas nunca apenas uma ou
outra.
Enfim, vamos tratar das teorias mais expressivas que pertencem a três das
principais abordagens da Psicologia, Cognitivismo, Psicanálise e Sociointeracionismo,
observando em que elas colaboram para a Educação Especial.
primeiro contato do sujeito com o objeto, ou seja, das suas estruturas internas pré-
formadas com as características próprias do objeto ou realidade em questão.
Todo objeto novo apresenta novidades, ou seja, resistências às estruturas
mentais prévias do sujeito que entra em contato com ele (se o objeto não é novo, mas
apresenta características desconhecidas, vale o mesmo processo). Nesse momento,
de chegada de informações estranhas para o sujeito, ocorre um desequilíbrio de sua
estrutura.
Ocorre então a Assimilação, como movimento interno em que a estrutura
aplica formas já existentes ao novo objeto para reconhecê-lo, mas como algumas
características dele são desconhecidas e não se “encaixam” na estrutura, não se
mostram organizáveis por ela. É quando agimos sobre algo (elemento novo) que
estamos conhecendo, aplicando modos de pensar e agir que já formamos antes.
O processo de conhecimento então deverá seguir, pois o homem buscará
restaurar seu estado de equilíbrio anterior. Ele fará uma série de regulações e
compensações, coletando informações internas oriundas de outros objetos já
conhecidos com características próximas daquele objeto novo ou informações externas
oriundas do próprio objeto e outros; rejeitará formas antigas de lidar física ou
mentalmente com aquele objeto e criará novas formas de fazê-lo.
Ou seja, ele precisará estruturar, organizar aquele novo objeto, agindo sobre
ele, adaptando-se a ele até que ele se torne conhecido. Essa adaptação receberá o
nome de acomodação. A acomodação pontua o momento de reequilíbrio da estrutura
cognitiva. É quando, diante da resistência oferecida pelo objeto, entendemos que nós é
que precisamos nos transformar para lidar com ele. Cada adaptação realizada para
cada objeto conhecido soma-se e integra-se a outras.
Conhecimento será esse processo de estruturação da realidade, essa
integração entre forma e conteúdo.
A essas adaptações diferenciadas e também relacionadas que fazemos com
objetos (sensório-motores e simbólicos) chamaremos aqui de estruturação da
realidade. Os conjuntos dessas adaptações chamaremos de esquemas, ou seja, são
conjuntos ação sobre o mundo que construímos, ampliamos e experimentamos colocar
em prática sobre novos elementos (assimilação). Assim, um esquema tátil, por
exemplo, se refere ao conjunto de todas as adaptações feitas com todos os objetos
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organizando-as (lembra? Estruturar, dar forma?) como seres que guardam relação de
semelhança e formará esquemas simbólicos (signo “cítrico” e significado de “fruta
cítrica”) para reconhecê-los depois (assimilação), já atribuindo “formas do
entendimento” a eles. Ao organizá-los em grupos diferentes (limão como mais azedo e
menos doce; laranja como menos azeda e mais doce), você estabelecerá relações de
diferença ou exclusão entre eles.
Perceba que as relações também têm como propriedade a reciprocidade:
limão é igual à laranja, assim como laranja é igual a limão. O mesmo se dá ao afirmar
suas diferenças, mas vamos além, tratando de outras relações entre elementos, de
modo mais desafiante um pouco.
Digamos que seja possível estabelecer uma relação de causalidade entre os
conceitos de injustiça e violência (elementos abstratos). Poderíamos dizer que
“injustiça causa violência”. Pela lei da reciprocidade, exigência do pensamento lógico,
“violência é consequência da injustiça”, concorda? Perceba que é como revertermos a
direção da relação: A → B e depois A ← B. Lógica é uma relação reversível.
Pois bem, agora você entendeu que lógica é a relação reversível entre
elementos (são muitas as formas de relação, como semelhança, diferença, inclusão,
exclusão, causa-consequência, meio-fim, oposição, silogismo, tautologia etc.) e que
“operação mental” é o ato de agir mentalmente sobre os elementos de modo a
organizá-los pelo estabelecimento de relações lógicas reversíveis. Esta capacidade,
segundo Piaget, só estará madura (ainda não plenamente) por volta dos 6 a 7 anos de
idade, quando a criança puder estabelecer relações lógicas reversíveis (operar
mentalmente) sobre elementos concretos da realidade que ela pode sentir, ou
representar mentalmente (Estágio Operatório Concreto). Porém, como diríamos, o
“embrião” desta capacidade de operar logicamente sobre a realidade já estará presente
no Estágio Sensorio-Motor. Como?
A criança pequena, o bebê, ao agir sobre os objetos e no ambiente
apresenta ações ritmadas repetitivas, puxando várias vezes um pedaço de pano,
batendo um objeto plástico nas grades do berço ou no chão, balbuciando sons
repetidamente, etc. É como se ele experimentasse várias vezes a mesma ação e sua
reação resultante. Percebe? Ação e anulação da ação, ir e voltar, mover da esquerda
para a direita e depois voltar ao ponto de partida, silêncio-som-silêncio são
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que a criança desenhe como ele, o avaliador, enxerga as montanhas. A criança no pré-
operatório mais uma vez desenha como ela mesma vê as montanhas, pois é incapaz
de considerar o ponto de vista do avaliador. Por tudo que já explicamos, você deve
entender que este deslocamento precisa do pensamento reversível.
Por não conservar transformações dinâmicas, intermediárias, a criança não
consegue relacionar os estados iniciais e finais de um processo, ou seja, não opera
por reversibilidade, como dissemos. É como se ela “tirasse duas fotos” da realidade,
uma no início outra no final, e ainda não visse relação entre elas (como uma levou ou
foi levada pela outra). Alguns teóricos denominarão essa forma de pensar como
“percepção episódica da realidade”.
Raciocina transdutivamente. Significa que estabelece relações
associativas entre as coisas do particular para o particular, sem considerar relações
lógicas. As crianças precisam estabelecer relações de causa e efeito, mas como não
têm experiência suficiente e não operam logicamente, criam relações entre fatos de
modo ilógico. Para ser lógico, seu planejamento deveria considerar as classificações
dos fenômenos e a possibilidade de generalização das conclusões (de particular para o
geral). O raciocínio transdutivo se fundamenta na percepção imediata dos fenômenos:
“depois que ouviu que a banana verde dá dor de barriga, o alface (verde...) dá dor de
barriga”.
A criança ainda apresentará os pensamentos mágico-fenomenistas:
Realismo: tornar material os processos psicológicos como pensamentos e
sentimentos. Ex: “o pensamento é uma boca que está atrás da minha cabeça e que
fala com a boca da frente”.
Animismo: aquilo que não é vivo ganha vida e características humanas
como intenções e sentimentos. Ex: “a nuvem tá chorando mamãe, tá triste”; “A lua
segue a gente”;
Fenomenismo: fenômenos que ocorrem próximos no tempo são
relacionados como causa e efeito. Ex: “quando fico com fome o almoço fica pronto”;
Finalismo: tudo que existe naturalmente foi construído artificialmente pelo
homem ou pelo ser supremo. Ex: “o mar ficou cheio depois de jogar muitos baldes de
água dentro”; “A fumaça fez a nuvem”.
Perceba que as relações de causalidade e finalidade estão presentes (como
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p. 111-128).
“Formal” está relacionado à ideia de “forma”. Lembra-se das “formas da
razão pura” de Immanuel Kant? Pois bem, aprendemos que as operações mentais
organizam, estruturam, dão forma à realidade (organização em séries, classes,
hierarquias, ciclos, causas, consequências, meios, fins, etc.).
Aquele que opera no nível formal, portanto, considera mais as relações
lógicas da realidade e deixa em segundo plano os elementos concretos dos quais
dependia para pensar no Operatório Concreto. Ele não precisa que lhe seja dito “10
ovos menos 2 ovos é igual a 8 ovos”. Para ele, “10 quaisquer coisas menos 2
quaisquer coisas é igual a 8 quaisquer coisas” ou “10x – 2x = 8x”.
Perceba que seu pensamento agora é completamente livre da realidade
concreta. Isso significa que ele pode estabelecer relações lógicas entre quaisquer
coisas. O tipo de pensamento típico desse estágio é o hipotético-dedutivo, pois
relações possíveis entre elementos são imaginadas assim como as consequências
dessas relações. Este pensamento é fundamental para a criação de teoria e solução de
problemas que podem pedir diferentes hipóteses a serem testadas.
Ocorre que o pensamento operatório formal pede pelo adequado
desenvolvimento cognitivo nos estágios anteriores, o que infelizmente não ocorre com
aqueles que foram pouco expostos a experiências e desafios que exigissem
pensamentos operatórios. Como já esclarecemos no início, todos os fatores
determinantes do desenvolvimento cognitivo precisam estar harmonizados e alinhados
para que o mesmo ocorra com sucesso, incluindo estímulo por parte de pais e
professores.
(BZUNECK, 2004, p. 24), forçando o sujeito a ter que reforçá-la continuamente para
não perdê-la. Outra fragilidade da Memória de Curo Prazo é a quantidade de
informações que ela comporta, apenas sete itens em média, conforme diversos
experimentos.
são os “macetes” que os professores de cursinho usam para que os alunos fixem fatos
e fórmulas, por exemplo. Seu efeito, em termos de retenção, tende a ser mais
passageiro do que o da codificação semântica e sua associação limitada a esta
formação, sem grandes possibilidades de outras ligações. Isso porque, na codificação
semântica (Memória Semântica), as informações são associadas às informações
prévias de modo significativo e coerente, formando-se uma estrutura prolongada de
informações na Memória de Longo Prazo. Significa formar memórias para significados.
nome mais conhecido (popularmente falando) da Psicologia entre nós no Brasil e talvez
no mundo, inclusive gerando crenças oriundas de senso comum de que ele seria o
próprio “pai da psicologia”, o que não é verdade.
Ao final do Século XIX e início do Século XX, o espírito positivista e
cartesiano (René Descartes) conferia ao homem poder pleno sobre a natureza e sobre
si mesmo graças aos poderes da Razão, da Consciência.
Freud revoluciona o pensamento da época afirmando que todos estavam
superestimando os poderes da razão humana, fundamentando que não temos este
controle todo sobre nossos atos e pensamentos. Movidos por impulsos, desejos
incontroláveis, muito (a maior parte) dos nossos atos e pensamentos e sentimentos,
seriam determinados por uma estrutura da nossa personalidade, o Id, plenamente
impulsivo e irracional e que, logo, não poderia “habitar” em nossa consciência, mas sim
em nosso Inconsciente.
corpo. Charcot procurava demonstrar como, após aplicada a hipnose, braços e pernas
paralisadas em pacientes recuperavam o movimento durante o tempo em que as
mulheres estavam hipnotizadas, mas depois voltavam os sintomas ou mesmo se
deslocavam de um local para o outro. A tensão muscular e o deslocamento dela
levaram Freud a construir o início de sua teoria psicodinâmica.
Freud chegou a utilizar a hipnose como técnica para alcançar os conteúdos
inconscientes reprimidos que se manifestavam por trás das Neuroses de Conversão
das histéricas, de modo a compreendê-los. Notava que mesmo após relatar e
interpretar para as pacientes o que estava encoberto em seu inconsciente, outros
sintomas surgiam, como por exemplo, em um caso dos mais famosos, sede intensa até
completa cegueira sem nenhum tipo de trauma físico que o explicasse.
Estando elas fora do estado de hipnose, porém, Freud conversava com as
pacientes e notou que pelo diálogo em que relatavam seus sonhos, por exemplo,
surgiam evidências bem escondidas e disfarçadas daqueles conteúdos inconscientes
que ele havia notado durante a hipnose. No decorrer das falas, também notou que
pacientes, sem querer, diziam palavras sem nexo com o discurso e logo se corrigiam.
Ao interpretar para os pacientes em estado consciente os conteúdos que
notava nestes sonhos e falhas de comunicação (atos falhos) que pareciam estar
ligados entre si, Freud notou que de repente surgia à consciência das pacientes
histórias completas das quais elas nunca tiveram conhecimento, que mais tarde veio a
explicar que se tratavam de situações ameaçadoras à estrutura do Ego (como
situações incestuosas, por exemplo), os famosos traumas.
Perceba que, a não ser que tenha passado por psicanálise, ninguém pode
dizer e relatar conscientemente que teve um “trauma psicológico” pelo fato do trauma,
em termos de imagem do episódio, na verdade, estar reprimido no inconsciente e em
termos de emoção sentida na ocasião, estar fixado energicamente, como pulsão, na
mente e no corpo (obsessões e sintomas psicossomáticos, por exemplo).
Apenas trazendo o conteúdo reprimido na mente e no corpo à tona
(disfarçados pelos mecanismos de Ego e Superego em sonhos, atos falhos, piadas e
ações físicas não notadas pelos pacientes, os acting outs), haveria superação do
trauma e, logo, eliminação das Neuroses. As pacientes tinham insights (resgate das
imagens do episódio gerador do trauma e suas relações lógicas recalcadas) e catarses
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bebê busca satisfação (Fase Oral, até 1 ano de idade em média). Uma prova de que o
Id não diferencia objetos representados de objetos reais é que para o bebê não importa
o que traz à boca, pois qualquer coisa poderia satisfazer sua necessidade e desejo
oral. Mas o Ego criado pelo Id, racional e em contato com a realidade, logo dará a ele
controle sobre impulsos e procurará pelos objetos reais que eliminam suas pulsões
(alimento, por exemplo).
Se a cultura (os pais, por exemplo) forem muito repressores e impedirem a
busca pelo que ele deseja, o Superego poderá ser mais forte do que o Ego, rompendo
com suas defesas e fazendo das experiências orais situações desagradáveis. Por outro
lado, se os pais permitirem tudo, deixarem que tudo seja comido ou levado à boca, o
Ego poderia ser dominado pelo Id impulsivo.
Na medida em que a Psicanálise considera não as pessoas em si que são
Pai e Mãe biológicos, mas as funções paterna e materna de regulação da
psicodinâmica, pessoas que não necessariamente são pais biológicos exercem essas
funções. Inclusive, é possível que uma mesma pessoa exerça ambas as funções
estruturantes da personalidade.
É importante em especial destacar isto aqui pelo fato de que professores e
professoras em creches e turmas de Educação Infantil têm significativo tempo de
contato diário durante todo um ano letivo com as crianças. Sua influência no
desenvolvimento delas, enquanto representação dada pela mente infantil de suas
ações inerentes a funções maternas e paternas não deve ser ignorada.
Voltando, a forma como se lida com a dinâmica energética da criança na
Fase Oral poderia ter reflexos na personalidade da pessoa para o resto da vida.
Nomea-se tal fenômeno como fixação e o retorno de comportamentos típicos de
estágios na infância e adolescência como regressão.
Não há regras ou receitas a respeito de modos de criar ou educar que geram
determinadas fixações, sobretudo porque o que faz efeito no fim das contas é a
interpretação que a criança tem dos atos maternos e paternos e não a intenção dos
pais. Isto de certa forma é um ponto frustrante da teoria, na medida em que na
verdade, como pais e educadores, não teríamos controle do que de fato será formado
em termos de personalidade da criança. Resta-nos procurar agir do modo mais
equilibrado possível, com foco no fortalecimento de um Ego possivelmente “forte,
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Psicanálise tem uma conotação muito mais importante e relevante: Poder. A ação fálica
simbolicamente remete ao poder de ação e afirmação do sujeito na sociedade, sua
inserção ativa dentro de algum papel que exerça.
Sobretudo, a mãe da criança sempre foi o meio privilegiado de descarga de
sua libido, na Fase Oral, quando amamentava, e na Fase Anal, quando da mãe vinha o
reconhecimento da autonomia e do produto (lembre-se de que estamos tratando de
função materna). É natural que continue sendo assim. A descarga da tensão libidinal
pelos órgãos genitais por parte da criança é completamente diferente do ato sexual
adulto, cujo propósito e significados são outros, formados a partir da adolescência. A
criança não tem “malícia” na busca de sua satisfação. Ela apenas é guiada pelas
pulsões que pedem pela diminuição do desconforto, o que tem sua função biológica,
como afirmamos. Posto isso, podemos tratar agora do Complexo de Édipo, evento
primordial de formação da personalidade.
Freud, afeto a metáforas, nomeou sua proposição teórica a respeito do
dinamismo psicossexual na Fase Fálica a partir da história mitológica grega Édipo Rei.
O menino tem em sua mãe um meio de descarga da tensão libidinal,
enquanto objeto de desejo. A sociedade entende tal situação como incesto. Seu pai,
representante da sociedade, castra simbolicamente o falo de seu filho, pelo
impedimento da satisfação oriunda da descarga pulsional (castração de poder). Neste
momento, o filho odeia seu pai e deseja matá-lo devido à frustração causada pela
castração. Em um segundo momento, conformado com o fato de não poder exercer
seu ato sexual com a mãe, o menino reconhece o poder do falo paterno (reconhecido e
aceito antes pela mãe) e passa a desejar ser como o pai, identificando-se com ele para
um dia poder satisfazer seu desejo, como o pai conseguiu.
Com a menina, ocorreria algo diferente. Também apaixonada pela mãe a
princípio, a menina posteriormente se frustra com uma “traição” da mãe: ter feito ela já
castrada. Odiando a mãe e desejando ter um falo, a menina inveja os homens (seu
poder). Passa então a ver no pai alguém que tem o falo e que pode lhe dar,
apaixonando-se por ele. Finalmente, após reconhecer que não pode tê-lo, pela razão
do incesto, aceita sua castração e identifica-se com a mãe, mas de um modo diferente
do menino. Para a mulher, a compensação pela castração com a qual já nasceu virá
quando tiver seu filho, um substituto fálico. O filho será o meio de realização da mãe,
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obter satisfação por impulsos fálicos ou buscar satisfazê-los por meios “escondidos e
ilícitos” para determinados contextos ou para a sociedade como um todo. Pessoas
excessivamente reprimidas na Fase Fálica tenderiam a encontrar formas mais sutis e
disfarçadas de exercer poder, principalmente pelo controle obsessivo e punitivo de
outras pessoas.
Voltando ao desenvolvimento “normal”, a culpa pelo incesto leva a criança a
“cegar-se” como Édipo, ou seja, ela reprime intensamente seus desejos (aqui, dentro
de um nível normal que possibilitaria depois o retorno dos desejos também em nível
harmônico), os quais permanecerão em suposto repouso (com pulsão crescente na
verdade, e por isso o nome Fase de Latência) por longos cinco anos. Assim, dos 6 aos
11 anos em média, as zonas erógenas “se acalmariam”, ou seja, seria reduzida a
pulsão e a energia libidinal da criança que precisa de algum escape seria mais
sublimada pelo trabalho (escolar) e pela organização de rotinas, um período também
de organização de sua personalidade após a turbulenta passagem pelo drama edípico
(superação do Complexo de Édipo) ocorrido na Fase Fálica.
A Fase de Latência corresponde ao período das séries iniciais do Ensino
Fundamental. Cabe aos educadores e pais aproveitarem o momento de canalização
sublimada de energia para tarefas que venham a desenvolver uma série de habilidades
da criança, favorecendo inclusive a afirmação de sua personalidade.
Mas então, após os 11 anos, chegaríamos à quinta fase, a Fase Genital, no
sentido do amadurecimento psicossexual e, logo, psicossocial, pois conseguiríamos
canalizar adequadamente nossa busca de desejos para boas relações sociais e
construção de um relacionamento duradouro, a fim de perpetuar a espécie (estrutura
de personalidade equilibrada pelo sucesso na construção do Ego).
Ocorre que a puberdade inicia a preparação do corpo para a busca do
parceiro sexual. Uma das consequências é o retorno de uma intensa pulsão sexual
concentrada no órgão sexual, levando inclusive ao comportamento de intensa
masturbação para se livrar do incômodo gerado pela tensão, o que é normal e
saudável.
Porém, sendo o púbere ainda vinculado à família, ocorre inconscientemente
um retorno dos desejos incestuosos que por tanto tempo ficaram reprimidos e que
agora se expressam intensamente. O horror à situação do incesto pela dor da
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castração seria inconscientemente revivido, gerando uma forte rejeição ao contato com
os pais, tão forte que o adolescente rejeita em si os traços paternos e maternos,
entrando numa profunda crise de identidade.
Na busca de construir uma identidade própria, ele se lança ao encontro
daqueles que, como ele, buscam o mesmo. O grupo de adolescentes passa a ser a
referência de identidade, substituto dos pais.
Como consequências da crise, assistiremos o adolescente ensaiando
revoltas impulsivas e passando por repressões moralizantes por meio de ideologias
políticas, religiosas, causas sociais e ecológicas, visando reconstituição do Ego pelos
confrontos de Id e Superego. Brigas e submissões aos pais e com os membros do
grupo também podem ocorrer. Ensaiará modos de constituição de Ego para lidar com
suas crises de identidade, experimentando roupas diferentes, estilos de música
diferentes, identificando-se com ídolos avaliados como bem-sucedidos.
Enfim, sendo os pares substitutos dos pais, tenderá a identificar entre os
pares aquele com quem poderá se relacionar sexualmente sem culpa, transferindo
para este o amor que foi castrado no Complexo de Édipo (não seria de estranhar que o
parceiro sexual do adolescente ou jovem adulto guarde semelhanças com seus pais às
vezes). A boa resolução deste encontro culminará em um vínculo que substitui a
relação mãe-filho e acaba por gerar outra vida, reiniciando todo o processo.
O professor de adolescentes vivencia todas estas crises e modos de
solução. É importante que saiba auxiliar o adolescente na construção de sua
identidade, lembrando que ele tem uma função materna ou paterna comumente
projetada pelo adolescente. Ao rejeitar os pais em busca de outros modelos de
identidade, o professor ganha imenso valor como referência, o que se percebe
claramente pela relação de paixão e ódio que os adolescentes nutrem por ele, em suas
transferências.
Cabe a ele, portanto, cuidar daquilo que Freud denominava como processos
transferenciais, ou seja, transferência de paixões e ódios originalmente direcionados
aos pais para ele. Deve ter conhecimento para compreender que desejos sexuais de
compensação da frustração causada pela castração não devem ser confundidos com
paixões maduras e adultas, bem como para compreender que as transferências de
ódio não são pessoais e que cabe a ele abrigar este ódio e possibilitar a resolução
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mesmo nos casos em que está em jogo um fator orgânico, a criança não tem
só que fazer face a uma dificuldade inata, mas ainda à maneira como a mãe
traduz este defeito num mundo fantasmático que acaba por ser comum aos
dois. (MANNONI, 1964/1977, p. 19 apud BERNARDINO, 2007).
ou adquirida frustra a autorrealização imaginada, tendo que dar lugar a uma outra
forma de autorrealização, construída a partir da imagem oriunda da nova realidade.
Esta nova realidade, apesar de diferente da idealizada, não deverá impedir a
consideração do filho como ser simbólico e desejante que é. Os conflitos entre pais e
filhos que resultam na constituição psíquica e na estruturação da personalidade devem
ocorrer do modo como ocorreriam se não houvesse a deficiência. Brincadeiras,
broncas, permissões, proibições, carinhos e distanciamentos que fazem parte de
qualquer relação precisam estar presentes, ao contrário do que pensam as mães
(pessoas que exercem função materna, lembre-se) que reduzem seus filhos a
organismos com deficiência que precisam apenas de cuidados e tratamento médico.
Mas qual seria a razão desta destituição da condição de sujeito desejante
feita pela mãe? Recorde-se de que, pelo Complexo de Édipo feminino, o filho seria
uma compensação pela “castração congênita” da mulher. Sendo esse filho deficiente, a
compensação não se daria, mas sim, uma dupla castração. Lembre-se de que falo
significa poder e se o falo é deficiente, continua impossibilitado à mãe ter poder. “O
problema da criança é vivido como um defeito da mãe” (BERNARDINO, 2007).
Reações como rejeição e superproteção se dariam como consequência.
Outro efeito nocivo à criança seria a falta de permissão pela mãe da entrada
em cena da ação castradora do pai (função paterna), culminando em uma relação de
dependência absoluta com a mãe. Mãe e filho nesse caso poderiam ficar eternamente
atrelados um ao outro, em uma relação psicótica na qual os sujeitos anulam a
subjetividade de um e do outro, consequência do “édipo” mal resolvido.
Educadores mal formados poderiam cometer o mesmo erro de
desconsideração da pessoa com deficiência enquanto sujeito desejante, infantilizando-
o e reduzindo-o à deficiência, condenando assim seu desenvolvimento.
Bernardino (2007) afirma que cabe aos pais e aos educadores criarem
espaços de “escuta” das crianças com deficiência. Significa respeitar suas diferenças
enquanto sujeitos com diferentes desejos que são como quaisquer outros, ou seja,
respeitar o fato de que são todos iguais no sentido de serem diferentes, uma lema bem
conhecido da educação inclusiva. Atividades que permitam autoexpressão dos sujeitos,
como pinturas, debates, modelagens e jogos, são fundamentais para sua legitimação e
desenvolvimento.
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quando internalizados pelo sujeito, visto que por meio da linguagem o homem começou
a operar sobre o comportamento dos outros e sobre seu próprio comportamento.
Aprimorar a Linguagem significaria aprimorar comunicação e poder de
desenvolvimento da sociedade e de si mesmo em relação a essa sociedade.
2 – As funções psicológicas humanas se originam nas relações
entre o indivíduo e seu contexto cultural e social (OLIVEIRA, 1995).
significa que o Mediado agora sabe usar por conta própria seus instrumentos
psicológicos aumentando seu poder de autonomia, objetivo maior de toda e qualquer
educação, algo que antes só conseguia com ajuda do Mediador.
A figura abaixo torna mais claro tudo o que dissemos acima, veja:
são compostos por signos que, apesar de terem significantes diferentes, carregam
significados comuns aos da Língua Portuguesa escrita ou falada. Pessoas com
deficiência podem internalizar signos e desenvolver conceitos cotidianos para
científicos assim como pessoas sem deficiência.
A defesa pela inclusão foi uma das grandes marcas deixadas por Vygotsky.
Beyer (2003) expõe em artigo um belo trecho que reflete a rejeição de Vygotsky por
escolas especiais de sua época e lugar que mais ajudavam na promoção da exclusão
do que no desenvolvimento das pessoas com deficiência visual. Apesar do trecho ser
longo, vale a pena lê-lo pela indiscutível importância das palavras do próprio Vygotsky:
Sem dúvida, a escola especial cria uma ruptura sistemática do contato com o
ambiente normal, aliena o cego e o situa num microcosmo estreito e fechado,
onde tudo está adaptado ao defeito, onde tudo está calculado por sua medida,
onde tudo lhe recorda. Este ambiente artificial não tem nada em comum com o
mundo normal no qual o cego deve viver. Na escola especial se cria muito
prontamente uma atmosfera insalubre, um regime de hospital. O cego se move
dentro do estreito âmbito dos cegos. Neste ambiente cego. Por sua natureza, a
escola especial é antissocial e educa a antissociabilidade, tudo alimenta o
defeito, tudo fixa o cego em sua cegueira e o “traumatiza” precisamente nesse
ponto. [...] o que é mais importante, é que a escola especial acentua aquela
“psicologia do separatismo” – segundo uma expressão de Scherbina –, que por
si só é forte. Não devemos pensar em como se pode isolar e segregar quanto
aos cegos da vida, senão em como é possível incluí-los o mais cedo e
diretamente na mesma. O cego tem que viver uma vida em comum com os
videntes, para o que deve estudar na escola comum. Por suposto que certos
elementos do ensino e da educação especiais devem conservar-se na escola
especial ou introduzir-se na escola comum. Porém, como princípio, deve ser
criado o sistema combinado da educação especial e comum [...] A outra
medida consiste em derrubar os muros de nossas escolas especiais. [...] O
ensino „especial‟ deve perder seu caráter “especial” e então passará a ser parte
do trabalho educativo comum. Deve seguir o rumo dos interesses infantis. A
escola auxiliar, criada apenas como ajuda à escola normal, não deve romper
nunca nem em nada (cursivo no original) os vínculos com ela. A escola
especial deve tomar com frequência por um período aos atrasados e restituí-los
de novo à escola normal. Orientar-se pela norma, desterrar por completo tudo o
que agrava o defeito e o atraso – este é o objetivo da escola. Não deve ser
vergonhoso estudar ali e sobre suas portas não deve estar escrito: „Perdei toda
esperança os que aqui entrais” (VYGOTSKY,1997, p. 84-85, 93)