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Porto Alegre
2010 / 02
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RESUMO
O objetivo deste trabalho é, sem a pretensão de esgotar o assunto, apresentar um estudo sobre
as normas de contabilidade emitidas por órgãos como o Comitê de Pronunciamentos
Contábeis, Conselho Federal de Contabilidade, Comissão de Valores Mobiliários e Instituto
Brasileiro de Auditores Independentes, com o objetivo de identificar se há uma evolução na
emissão de normas de caráter ambiental que possam embasar o desenvolvimento da chamada
contabilidade ambiental no Brasil. O trabalho desenvolveu-se com base no método de análise
bibliográfica de materiais de apoio que tratam de assuntos ligados ao meio ambiente em geral,
bem como de literatura direcionada à contabilidade ambiental, e também junto aos sites de
órgãos reguladores responsáveis pela emissão de normas de contábeis. Chegou-se a conclusão
de que a contabilidade ambiental ainda carece de um corpo teórico próprio para que seja
equiparado aos outros ramos da Ciência Contábil. Constatou-se também que as normas
contábeis que tratam de matéria ambiental são escassas, porém, recentemente percebe-se uma
evolução com a aprovação do CPC 25 e a sinalização por parte do Conselho Federal de
Contabilidade com a possibilidade de criação de normas contábeis que tratem especificamente
de matéria ambiental.
1 INTRODUÇÃO
desenvolvimento sustentável. Todo esse esforço em busca de uma relação mais racional com
a natureza passa, sem dúvida, por uma melhoria do uso dos recursos naturais. Essa mudança
na forma de exploração do meio ambiente terá, certamente, cada vez mais impactos para as
empresas. A profissão contábil, por estar inserida neste contexto, também vem apresentando
reflexos decorrentes destas mudanças, e por conseqüência, deve estar preparada para adequar-
se a essa nova realidade.
Segundo Rebollo (2004), a partir da segunda metade do século XX, face ao crescente
interesse verificado em todo mundo, ocorreram inúmeros eventos internacionais direcionados
aos problemas decorrentes de degradações ambientais.
No Início da década de 70, a ONU estabeleceu o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente – PNUMA. Desde então tema ambiental tornou-se uma preocupação global.
Discussões sobre o meio ambiente natural e poluição em todas as suas formas e
conseqüências, foram incorporadas as planos estratégicos e pautas de agendas de organismos
internacionais. Também por meio da ONU, o conceito de desenvolvimento sustentável e suas
premissas foram amplamente difundidos.
De acordo com Paiva (2003), a contabilidade, por se tratar de uma ciência que tem por
objeto o patrimônio, também precisa registrar e prestar informações de todos os fatos
referentes ao meio ambiente, tendo em vista que esse patrimônio é de interesse de todas as
pessoas. Para proporcionar informações específicas e diferenciadas sobre o meio ambiente, a
contabilidade teve que se desdobrar em mais uma ramificação: a contabilidade ambiental.
Para Kraemer (2005), a contabilidade ambiental passou a ter status de novo ramo da
ciência contábil em fevereiro de 1998, com a finalização do “relatório financeiro contábil
sobre passivos e custos ambientais” pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental das Nações
Unidas de especialistas em Padrões Internacionais de Contabilidade e Relatórios (ISAR –
United Nations Intergovernamental Working Group of Experts on International Standards of
Accouting end Reporting).
Paiva (2003), coloca que a contabilidade ambiental pode ser entendida como a
atividade de identificação de dados e registro de eventos ambientais, processamento e geração
de informações que subsidiem o usuário servindo como parâmetro em suas tomadas de
decisões.
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O objetivo deste trabalho será apresentar o contexto onde começam a surgir essas
mudanças na Contabilidade e, principalmente, identificar e apresentar normas brasileiras de
caráter ambiental emitidas por órgãos responsáveis pela emissão de normas contábeis, como o
Comitê de Pronunciamentos Contábeis, Conselho Federal de Contabilidade, Comissão de
Valores Mobiliários e Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, com o objetivo de
verificar se ocorre uma evolução na normatização relacionada à contabilidade ambiental no
Brasil. A execução do presente trabalho se deu com base no método de pesquisa de análise
bibliográfica.
A análise bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos e tem por finalidade colocar o pesquisador em
contato com o que já se produziu a respeito de seu tema de pesquisa (Pádua, 2004).
Desse modo, foi realizado levantamento detalhado de materiais de apoio que tratam de
assuntos ligados ao meio ambiente em geral, bem como de literatura direcionada à
contabilidade ambiental, e também junto a sites de órgãos reguladores responsáveis pela
emissão de normas de contábeis.
A seguir serão descritos alguns dos principais eventos decorrentes dos movimentos
supracitados direcionados ao desenvolvimento sustentável, e que tiveram repercussão global
na definição de políticas de preservação ambiental, as quais deram impulso à criação das
normas de caráter ambiental que são objeto deste trabalho.
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Essa visão foi resumida no estudo mais famoso da época, o modelo computadorizado
sobre o futuro global, realizado pelo Clube de Roma, que atraiu a atenção do mundo. O Clube
de Roma era um grupo de cerca de 50 homens (e mulheres) autodenominados “sábios” que se
reunia regularmente na tentativa de endireitar o mundo, como fazia o grupo de cientistas do
movimento Pugwash em relação à Guerra Fria. Publicado com o título de “Limites do
Crescimento” (The Limits to Growth, Meadows e Meadows, 1972), o modelo do Clube de
Roma analisava cinco variáveis: tecnologia, população, nutrição, recursos naturais e meio
ambiente. A principal conclusão do estudo foi a de que, se as tendências da época
continuassem, o sistema global se sobrecarregaria e entraria em colapso até o ano 2000. Para
que isso não ocorresse, tanto o crescimento populacional quanto o crescimento econômico
teriam de parar (Meadows e Meadows, 1972). Embora o estudo “Limites do Crescimento”
tenha sido muito criticado, ele tornou pública pela primeira vez a noção de limites externos –
a idéia de que o desenvolvimento poderia ser limitado pelo tamanho finito dos recursos
terrestres.
Segundo Rebollo (2004), as conclusões deste estudo no início da décadade1970,
geraram, por um lado, inúmeras controvérsias e debates e, por outro, serviram para
sensibilizar fortemente a comunidade mundial sobre os temas investigados.
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Meio Ambiente do Rio grande do Sul – CEMA-, instituído pela Lei Estadual nº 11.520/00
explicitamente incorporou não somente a idéia, mas também o texto em sua forma quase que
integral, conforme menciona o artigo 14, item XIX – desenvolvimento sustentável:
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.
2.4.1 Agenda 21
Segundo Sá (2002, p.48), a Contabilidade, nos últimos anos do século passado, foi
diretamente atingida por modificações de base. O consagrado objeto desta ciência, ou seja, a
riqueza das células sociais, passou, instintivamente, por uma ampliação indagativa. Rompeu-
se a barreira do ambiente interno das empresas e instituições e passou-se a buscar conexões
com fatos de maior amplitude. Tal rompimento, todavia, exigiu mudanças de métodos
científicos e de óticas de observação para que pudesse, inclusive, utilizar racionalmente os
progressos e atender com maior adequação às novas necessidades das empresas e instituições.
Para a NPA 11, o passivo ambiental é “toda agressão que se pratica ou praticou contra
o Meio Ambiente e consiste no valor dos investimentos necessários para reabilitá-lo, bem
como multas e indenizações em potencial”, portanto, continua a norma, “uma empresa tem
Passivo Ambiental quando ela agride, de algum modo ou ação, o Meio Ambiente, e não
dispõe de nenhum projeto para sua recuperação, aprovado oficialmente ou de sua própria
decisão”.
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4.3.1 Terreno contaminado em que é praticamente certo que a legislação será aprovada
Esse exemplo dado pelo CPC 25 trata de uma entidade que opera no setor de petróleo.
Ela causa contaminação no ambiente em que atua, mas somente efetua a limpeza quando é
requerida nos termos da legislação de um país em particular onde opera. Esse país hipotético
do referido exemplo não possui legislação requerendo a limpeza, porém, a entidade vem
contaminando o terreno nesse país a diversos anos. Entretanto, em 31 de dezembro de um
determinado ano é praticamente certo que um projeto de lei requerendo a limpeza do terreno
já contaminado será aprovado rapidamente após o final do ano.
Neste caso, segundo o CPC 25, existe uma obrigação presente como resultado de
evento passado que gera uma obrigação. O evento passado que gera a obrigação é a
contaminação do terreno, pois é praticamente certo que legislação venha a requerer a limpeza
do terreno, ou seja, é provável uma saída de recursos envolvendo benefícios futuros na
liquidação.
Neste caso, quando é provável que haja uma saída de recursos envolvendo benefícios
futuros, o CPC 25 estabelece que uma provisão deve ser reconhecida pela melhor estimativa
dos custos de limpeza.
Neste segundo exemplo, trata-se de uma entidade que também atua no setor de
petróleo causando contaminação em um país que não possui legislação ambiental, Entretanto,
a referida entidade possui uma política ambiental amplamente divulgada, na qual ela assume a
limpeza de toda a contaminação que causa. Essa entidade apresenta um histórico de honrar
essa política publicada.
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Neste caso, de acordo com o referido pronunciamento, o evento que gera a obrigação é
a contaminação do terreno, que dá origem a uma obrigação não formalizada, pois, entende-se
que a conduta da entidade criou uma expectativa válida na parte afetada pela contaminação de
que a entidade irá reparar o dano causado. Sendo assim, uma saída de recursos envolvendo
benefícios futuros na liquidação é provável e, portanto, uma provisão deve ser reconhecida
pela melhor estimativa dos custos de limpeza.
importância para o contexto deste trabalho está expressa no item um da Deliberação que
estabelece o seguinte:
Com a aprovação desta norma, será dado um passo importante na relação entre a
contabilidade e as questões ambientais no Brasil, pois a mesma será a primeira formulada para
tratar especialmente dos aspectos contábeis decorrentes das interações das entidades com o
meio ambiente.
Cabe ressaltar ainda que a própria minuta, em seu item 3, esclarece que as operações
de comercialização de Redução Certificada de Emissões (RCE) e valores ambientais a elas
relacionadas serão tratadas em normas específicas, ou seja, sinaliza que novas normas
referentes a questões ambientais deverão criadas brevemente e, portanto, o tema meio
ambiente deve receber cada vez mais atenção da profissão contábil no Brasil.
5 CONCLUSÃO
Este trabalho foi realizado com o objetivo de verificar se existe, no Brasil, uma
evolução nas normas de contabilidade emitidas pelos diversos órgãos incumbidos desta tarefa,
e que pudessem ser relacionadas com questões ambientais. Para isso foram apresentados fatos
relevantes que levaram a sociedade a preocupar-se com as relações entre o homem e o meio
ambiente e que formaram o contexto onde surge a chamada contabilidade ambiental.
Atribuir à contabilidade ambiental o status de um novo ramo da ciência contábil
parece um tanto demasiado. No Brasil, em comparação com outros ramos da Ciência
Contábil, ela ainda carece de um arcabouço teórico próprio e as normas que envolvem
aspectos ambientais ainda são escassas. No entanto, como foi demonstrado no trabalho,
existem algumas normas, atualmente, que podem dar suporte aos profissionais da
contabilidade para a divulgação de informações e reconhecimento de efeitos contábeis
decorrentes da interação das entidades com o meio ambiente.
Percebe-se também que há uma evolução, no sentido de que já ocorre a obrigação de
reconhecer provisões e passivos contingentes decorrentes de questões ambientais com base no
CPC 25. Além disso, há uma sinalização por parte dos órgãos responsáveis pela emissão de
normas contábeis, de que brevemente serão criadas normas para tratar especificamente de
matéria contábil ambiental.
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ABSTRACT
The objective of this work is, without claiming to exhaust the subject, present a study on the
accounting standards issued by bodies such as the Accounting Pronouncements Committee,
the Federal Accounting Council, Securities Commission and the Brazilian Institute of
Independent Auditors, the order to identify if there is an evolution in the emission standards
of environmental nature that can support the development of so-called environmental
accounting in Brazil. The work was developed based on the method of literature review of
support materials that deal with issues related to the environment in general as well as reports
related to environmental accounting, and also adjacent to sites of regulatory agencies
responsible for issuing standards statements. Came to the conclusion that the environmental
accounting still lacks a theoretical framework itself to be assimilated to other branches of
Science Accounting. It was also found that the accounting rules that deal with environmental
matters are scarce, but recently we can see a trend with the approval of CPC 25 and signaling
by the Federal Accounting Council with the possibility of setting accounting standards that
deal specifically of the environment.
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