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Bob May
Introdução[1]
Marx foi claro ao dizer que o que distinguia sua abordagem e o que a
tornava uma crítica ao invés de uma continuação da economia política
era sua análise da forma de valor. Em sua célebre exposição d’“O
caráter fetichista da mercadoria e seu segredo”, ele escreve:
A partir do meio dos anos 60 até o nal dos anos 70, o capitalismo em
nível mundial esteve caracterizado por lutas de classe intensas e
movimentos sociais radicais: das revoltas urbanas nos EUA às greves
insurrecionárias na Polônia, dos movimentos estudantis e da “rebeldia
jovem” à derrubada de governos eleitos e não eleitos pela agitação dos
trabalhadores. Relações aceitas no trabalho foram questionadas, como
foram a família, o gênero e a sexualidade, a saúde mental, e a relação
dos homens com a natureza, em uma contestação geral pela sociedade.
Interligado com estas lutas, o boom econômico do pós-guerra terminou
em uma crise de acumulação capitalista com in ação elevada e
desemprego crescente. A superação revolucionária do capitalismo e sua
pseudo-alternativa nos países do leste parecia a muitos ser a ordem do
momento.
Comunização
Os debates alemães
A revigorada apropriação de Marx da qual a perspectiva da
comunização surgiu era parte de um processo muito mais amplo da
reapropriação e desenvolvimento das leituras radicais de Marx. Após a
Revolução Húngara de 1956, o comunismo o cial não tinha mais uma
hegemonia sobre a divergência e a interpretação de Marx nos países
ocidentais. Enquanto Marx dissera para “duvidar de tudo”, o marxismo
ortodoxo ou tradicional tendia a se apresentar como uma visão de
mundo uni cada com uma resposta para toda pergunta. Tinha uma
loso a geral (“Materialismo Dialético”), uma visão mecanicista da
história (“Materialismo Histórico”), e sua própria teoria econômica
(“Economia Política Marxista”)[23]. Estes pilares da versão o cial do
marxismo foram postos em questão por um retorno ao espírito crítico
de Marx, quase de mesma maneira que uma primeira geração do
marxismo crítico havia a orado na sequência da Revolução Russa[24].
O Marx incompleto?
Um retorno a Marx?
[2] Karl Marx, O capital: crítica da economia política : Livro I : o processo
de produção do capital, São Paulo, Boitempo, 2013, p. 155, nota 32.
[Doravante, O Capital, Livro I]
[3] Uma lista, de modo algum completa, de autores incluiria aqui: Chris
Arthur, Werner Bonefeld, Hans-Georg Backhaus, Riccardo Bello ore,
Michael Eldred, Michael Heinrich, Hans Jürgen Krahl, Patrick Murray,
Moishe Postone, Helmult Reichelt, Geert Reuten, Ali Shamsavari,
Felton Shortall, Tony Smith, Michael Williams.
[7] Ibid., p. 132. Riccardo Bello ore destacou que Rosa Luxemburgo foi
outra exceção entre os marxistas tradicionais que prestou atenção à
forma de valor. Ver sua introdução a Rosa Luxemburg and the Critique of
Political Economy, Routledge, 2009, p. 6.
[8] Ortodoxia passou a signi car marxismo dogmático. Lukács realizou
uma tentativa interessante de redimir o sentido de ortodoxia ao dizer
que se referia exclusivamente ao método. Talvez devido à ambiguidade
do termo “ortodoxia”, os termos marxismo de “visão do mundo” e o
“marxismo tradicional” tenham sido usados por marxistas críticos para
se referir às interpretações recebidas de Marx que desejam derrubar.
Aqui, usaremos marxismo tradicional e ortodoxo como sinônimos.
[13] Esta é uma maneira de ler os Grundrisse que é depois identi cada
com Negri. De fato, se argumentou que o trabalho inicial deste deve
algo a Camatte. Supreendentemente, independentemente das
ambivalências da política autonomista, o capítulo “Comunismo e
Transição”, no Marx além de Marx, de Antonio Negri, argumenta
essencialmente pela comunização.
[25] Um exemplo signi cativo disto é que, como Chris Arthur observa,
quase todas as referências a “incorporado” n’O Capital são traduções do
termo em alemão Darstellung, que seria mais adequadamente
traduzido como “representado”. Ver “Reply to Critics”, Historical
Materialism 13.2, 2005, p. 217.
[29] Uma exceção importante foi Willy Huhn, que in uenciou alguns
membros do SDS de Berlin. Membro do “Rote Kämpfer”, um
reagrupamento do m dos anos 20 dos membros do KAPD, Huhn foi
preso por um curto período pelos nazistas em 1933/34; depois deste
evento, se dedicou a trabalhos teóricos, incluindo uma importante
crítica da Socialdemocracia: Der Etatismus der Sozialdemokratie: Zur
Vorgeschichte des Nazifaschismus. Não obstante, foi só depois do auge do
movimento que os comunistas de conselho foram propriamente
redescobertos e publicados.
[35] Ver nosso artigo “The Moving Contradiction” nesta mesma edição.
[42] Para o debate sobre a derivação do Estado, ver: John Holloway &
Sol Picciotto (eds.), State and Capital: A Marxist Debate, University of
Texas Press, 1978; e Karl Held & Audrey Hill, The Democratic State:
Critique of Bourgeois Sovereignty, Gegenstandpunkt, 1993. [Em
português está disponível o livro de Joachim Hirsch, Teoria Materialista
do Estado, tradução: Luciano Cavini Martorano, Revan, 2010; é de
interesse a tese de doutorado de Camilo Onoda Luiz Caldas, A teoria da
derivação do Estado e do direito, tese de doutorado, Faculdade de
Direito, USP, 2013 (disponível em
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2139/tde-02092014-
163137/pt-br.php)] Muito pouco do debate sobre o Mercado mundial
foi traduzido, mas ver: Oliver Nachtwey & Tobias ten Brink, “Lost in
Transition: the German World-Market Debate in the 1970s”, Historical
Materialism, 16.1, 2008, p. 37–70.
[44] Karl Marx, “Ware und Geld” (Das Kapital, I, Erste Aufgabe, 1867,
1. Buch, Kapitel 1) in Marx-Engels, Studienausgabe, II, “Politische
Ökonomie”, Frankfurt am Main, Fischer, 1966, p. 234, citado em Ruy
Fausto, Marx: Lógica e Política — Investigações para um reconstrução do
sentido da dialética, Tomo I, Editora Brasiliense, São Paulo, 1987, p. 91.
[49] Ver Riccardo Bello ore, “The Value of Labour Value: the Italian
Debate on Marx, 1968–1976” na edição especial em inglês da Rivista di
Politica Economica IV-4–5V, Abril/Maio de 1999.
[51] Uma exceção notável foi o ensaio de Jairus Banaji, “From the
Commodity to Capital: Hegel’s Dialectic in Marx’s Capital”, in Diane
Elson, Value: The Representation of Labour in Capitalism, CSE Books,
1979. [Livro republicado com o mesmo título pela Verso em 2015]
[53] Chris Arthur, “Engels, Logic and History”, in Riccardo Bello ore
(ed.), Marxian Economics: A Reappraisal: Essays on Volume III of Capital,
vol. 1, Macmillan, 1998, p. 14.
[57] Marx aconselhou que a esposa de seu amigo podia, por causa de
sua di culdade, pular a primeira parte d’O Capital (sobre o valor e o
dinheiro) — Eldred se refere aqui ao fato de que muitos dos leitores,
como aqueles persuadidos por Sra a e Althusser pensam que esta é a
maneira correta de abordar Marx.
[62] Ver, por exemplo, Werner Bonefeld, “On Postone’s Courageous but
Unsuccessful Attempt to Banish the Class Antagonism”, Historical
Materialism, 12.3, 2004.
[72] Por exemplo, apesar da maneira com que Rubin pre gura ou
inspira diretamente a teoria muito posterior da forma de valor, algumas
de suas categorias como a categorias trans-histórica de “trabalho
siologicamente igual” e aquela de “trabalho igualado socialmente”
como a base do socialismo podem ser vistas como uma expressão da
maneira que a revolução estava posta no período e a situação de
planejador estatal em que se encontrava. Se a maioria dos teóricos da
forma de valor de hoje não repudiam explicitamente uma concepção
programática da revolução, há, não obstante, um afastamento muito
maior da a rmação do trabalho do que no marxismo crítico anterior. As
implicações “revolucionárias” da forma de valor só são prolongadas
quando o desenvolvimento da luta de classes — isto é, do capitalismo —
permite isto.