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ALGUMAS MULHERES

DA

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
E A QUESTÃO DE GÊNERO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

MATERIAL INTEGRANTE DE PROPOSTAS METODOLÓGICAS DESENVOLVIDAS


PELO AUTOR PARA CAPACITAÇÃO DOCENTE, COMO DO USO DO TEATRO NA
AULA DE MATEMÁTICA QUE CONSTA NESTA REPORTAGEM:
NOVO OLHAR SOBRE A MATEMÁTICA, Paulo Henrique Gadelha, Beira do Rio,
Ano XXVI No 93, abril de 2011.
www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/124-edicao-93–abril/1189-
novo-olhar-sobre-a-matematica

JOÃO BATISTA DO NASCIMENTO


UFPA/ICEN/Matemática, http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, joaobatistanascimento@yahoo.com.br
www.facebook.com/profile.php?id=100009348279475

Versão em lembrança das DOCENTES PIONEIRAS DE MATEMÁTICA DA


UFPA e em memória do Matemático Paraense CONSTANTINO MENEZES DE
BARROS,(Óbidos-Pa, 19/08/1931, Rio de Janeiro-RJ, 06/03/1983), Ex-Docente UFF e
UFRJ, o qual é tema do meu informe: MATEMÁTICO QUE LIGA O PARÁ/BR AOS
MAIORES CENTROS DO MUNDO E COMPARÁVEL AOS GRANDES ÍCONES DA
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA I, www.chupaosso.com.br/index.php/obidos/educacao/2149-
vida-e-obra-de-constantino-menezes-de-barros
(os informes de II a V no mesmo ainda não foram publicados e disponibilizo por e-mail)

Versão Març/2016 - sem revisão técnica - apenas para divulgação, proibida qual-
quer forma de venda e agradeço por qualquer divulgação.

ESTE TRABALHO NÃO POSSUI QUALQUER FONTE DE FINANCIAMENTO.


Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 2

CONTEÚDO Pág.
INTRODUÇÃO 3
ENHEDUANA - A MATEMÁTICA DOS TEMPOS BÍBLICOS QUE É UMA DAS MAIS ATUAIS 4
ELISA - PERSONAGEM DA LITERATURA UNIVERSAL INSPIRADA EM SABER MATEM ÁTICO 7
HIPÁTIA - PROFESSORA DE MATEMÁTICA FOI BARBARAMENTE ASSASSINADA 9
ROSVITA - A PROFESSORA DE MATEMÁTICA PERFEITAMENTE MUITO ALÉM DA MÉDIA 11
MADAME DU CHÂTELET - A MATEMÁTICA QUE CONCILIAVA DOIS GÊNIOS 14
APÊNDICE - UM POUCO NA DIFERENÇA DAS FORMULAÇÕES DE CÁLCULO NEWTONIANO E LEIBNIZIANO

MARIA GAETANA AGNESI - A MATEMÁTICA AUTORA DO PRIMEIRO TEXTO 19


DIDÁTICO EM CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL E QUE RESOLVIA PROBLEMA AT É DOR-
MINDO
MARIE-SOPHIE GERMAIN - A MATEMÁTICA QUE LANÇOU BASE DO QUE HOJE HÁ 22
DE MAIS AVANÇADO EM ENGENHARIA
TORRE EIFFEL- CANDIDATA AO MAIOR SÍMBOLO DE DISCRIMINAÇÃO DA MULHER EM 24
MATEMÁTICA e MARIE-SOPHIE GERMAIN - VENCEU GRANDES OBSTÁCULOS PARA
ESTUDAR MATEMÁTICA E SENDO VENCIDA PELO PRECONCEITO
MARY FAIRFAX SOMERVILLE - A MATEMÁTICA QUE CONQUISTOU PARTE DO CÉU, 28
MAS NÃO SE LIVROU DE SOFRER CERTOS PRECONCEITOS TERRENOS
ADA LOVELACE - A MATEMÁTICA QUE FAZ PARTE DA BASE DA COMPUTAÇÃO MOD- 31
ERNA ou A POETISA DAS NOVAS TECNOLOGIAS
SONJA KOVALEVSKY - A MATEMÁTICA QUE FAZIA QUESTÃO DE ESTUDAR COM 34
GRANDES MESTRES E SUPEROU ALGUNS DESSES
EMMY NOETHER - A MATEMÁTICA QUE NOS LEGOU ANÉIS BRILHANTES 36
MILEVA MARIC - NOS CEM ANOS DE EINSTEIN UM MINUTO PARA ESSA MATEMÁTICA 41
E SUA EX-ESPOSA
ALAN TURING - UM DOS MAIS ESCANDALOSOS CASOS DE DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO 43
DOS TEMPOS RECENTES
ALGUMAS PIONEIRAS EM MATEMÁTICA DO BRASIL 52
MARÍLIA CHAVES PEIXOTO - A MATEMÁTICA BRASILEIRA DINAMICAMENTE 52
À FRENTE DO SEU TEMPO
MARÍLIA CHAVES PEIXOTO E JOAQUIM GOMES DE SOUZA, O 55
SOUZINHA - OS PAIS DA MEDALHA FIELDS BRASILEIRA
MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES - UMA DAS PRIMEIRAS 58
DOUTORAS EM MATEMÁTICA DO BRASIL E EDUCADORA QUE SE PROJETA POR DENTRO
DA NOSSA REALIDADE MAIS DURA
PRIMEIRAS DOUTORAS EM MATEMÁTICA DO BRASIL - FLORES DE 75
CORES CONCENTRADAS DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA BRASILEIRA
PROFESSORA SANTANA - CANDIDATA A MELHOR DOCENTE DO ENSINO BÁSICO 81
PARAENSE
EDUCAÇÃO & DUNA QUENTE - A PROFESSORA QUE RACHAVA OS PÉS PELO 86
SABER
JAPIIM FÊMEA (Cacicus cela) - A ENGENHEIRA DONA DO NINHO QUE BALANÇA 87
ANNE FRANK - A ALUNA TAGARELA QUE MOSTRA O QUE É SER DOCENTE DE 89
MATEMÁTICA DE QUALIDADE
DIGRESSÕES 91
BURRICE COMO PRODUÇÃO DE GÊNERO E FUNDAMENTADORA DE DESGRAÇAS DO EDUCA- 91
CIONAL [ CASOS: PARAENSE, BRASILEIRO E IBERO-AMERICANO ]
ANÁLISE DE UM ARTIGO - CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E ENSINO QUALIFICADO DA MATEMÁTICA 94
DIZEM SER PRECONCEITO
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 3

INTRODUÇÃO
¨É certo que só no caminho do traço é que se vai assim de ponto em ponto.¨
Cecı́lia Meireles (1091-1964), Poetisa Brasileira

Quando má educação torna-se sustentáculo altamente promissor de vertentes polı́ticas, como
no caso do Brasil, o que deveria ser educacional tende virar panacéia e locus concentrando até as
piores discriminações. Asim como, escola também recebe os que pouco tocaram em tais fatores e
em condições de desenvolverem alguma mudança. São chances de esperança quase vã dentro da
realidade brasileira, quando não devemos sequer pensar noutro meio de mudar tal panorama.
Um dado que diria nem haver discriminação de gênero feminino, de fato se fosse seria no
sentido inverso, é o predomı́nio histórico das mulheres em docência nas séries inicias no Brasil.
Mas, e à medida que subimos na escala escolar, avista-se, especialmente nas áreas de Exatas e Tec-
nológicas, um quadros de espantosa ausência dessas. E o mais grave: alguns quadros que apresentam
até certas reversões, como o número global de matrı́cula no ensino superior brasileiro já ser maior
de mulheres, isso não se caracteriza por mudanças apreciável dessa questão, mas por outras razões
conjunturais, portanto, sem qualquer garantia de que não se retorne ao ponto inicial ou não reflita a
mesma discriminação apenas deslocada para outra posição; os dados Capes/CNPq, em Exatas, do
avanço feminino em atingir pós não refletem nem de longe o quantitativo dessas chefiando pesquisa.
Na história da matemática, nosso foco principal, a presença feminina, em termos de reg-
istro, sempre foi esporádica. Na mais antiga escola dessa especialidade, pitagórica, uma lembrada
é Theano, nascida em 546 a.C., é também conhecida como Filósofa e Fı́sica. Essa foi aluna de
Pitágoras e supõe-se que tenha sido sua mulher. Acredita-se que ela e as duas filhas tenham assum-
ido a escola pitagórica após a morte do marido.
Relatarei alguns casos e conhecer a história de algumas não é suficiente, precisa rebuscar
os métodos e parâmetros que estão nas formulações do ensino, não apenas da matemática, e na
estruturação geral das concepções da escola que alimenta isso. Portanto, urge ser preocupação de
toda formação docente.
Neste apenas se faz um pequeno apanhado de algumas dessas mulheres e casos outros de
gênero para servir de referência inicial para proposta metodológica que desenvolvo - preconizo que
só ganhará profundidade com mais pesquisa e prática escolar - , sem que com isso se queira de-
preciar qualquer outra mulher que não fiz constar e nem as demais obras existentes no tema, mas
aqui terá farei algumas abordagens absolutamente diferente. Uma dessa fica bem visı́vel: não se
pretende apenas falar da vida pública dessas, como delinear um pouco dos conceitos matemáticos
com os quais essas se envolveram visando capacitação docente. Pois, a má qualidade do ensino da
matemática é intrumento para processo de discriminação, dado que, estamos dentro de processo
de emprego e renda que aponta melhores ganhos para profissões com maior base matemática, com
exceção de docência.
E por tudo isso será essencial treinar perceber diferença. O que exige, especialmente no caso
docente, acuidade, muito estudo, paciência e vigilância permanente. Posto que, os preceitos que al-
imentam preconceitos e discriminação jogam no campo do que nos adestraram e propositadamente
bloquearam. É preciso lembrar que a grande força de uma ideologia não fica com os seus claramente
partidários, mas quando praticada até pelo que tem toda caracterı́stica de ser sua vı́tima, inocente
útil ou que supõe-se neutro.
Assim, finalizando, em tudo que relato, em forma de artigos, o foco principal são os conteúdos
e o ensino da matemática, pois são esses conhecimentos que farão com que o aprendiz compreenda
e valorize cada uma e todas.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 4

E N H E D U A N A (Aprox. 2.300 a.C )


A MATEMÁTICA DOS TEMPOS BÍBLICOS QUE É UMA DAS MAIS
ATUAIS
¨ QUINTA-FEIRA, 5 DE AGOSTO DE 1943
... Apinhados em volta do rádio, todos ouvem extasiados
a BBC. Esta é a única hora em que os membros da Por Nascimento, J.B
famı́lia do Anexo não se interrompem, já que nem UFPA/ICEN/Matemática
mesmo o Sr. Van Daan consegue discutir com o alto- http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
falante.¨ E-mail: jbn@ufpa.br, Maio/2012
Frank, O.H e Pressle, M., O Diário de Anne Frank,
Trad. Alves Calado, 25a Edição, Ed. Record, 2008

De tão comum, rarı́ssimo de nós deixa de ter um ao alcance das mãos, sua importância
fica imperceptı́vel e ainda mais o quanto há nesse de matemática. Entretanto, calendário além de
instrumental que nos leva viajar no tempo em qualquer direção, passado ou futuro, veremos que
envolve conceitos matemáticos dos mais avançados. Uma apresentação da personagem em tela é a
seguinte:

¨A acádia Enheduana viveu em aproximadamente 2.300 a.C.


(geralmente especificado como o perı́odo entre 2.280 e 2.200 a.C.),
sendo a primeira princesa na história a tomar o posto de Alta Sacerdo-
tisa, na cidade de Ur, que na época fazia parte da Babilônia. Ela ajudou
a decifrar as estrelas e desenvolver os calendários, tornando-se um
sı́mbolo e referência importante para os astrônomos e matemáticos.

Ela foi também a primeira autora da literatura universal, devido ao fato de, apesar
de haver outros autores (como, por exemplo, os escribas), ser Enheduana a primeira a
assinar suas obras.¨
Extraı́do do Blog Falta do que Fazer, http://faltadqf.blogspot.com.br/2009/11/as-
maiores-cientistas-da-historia.html, acesso ma/12

Mesmo que só se tenha por visão de calendário colocar alguns números numa tabela, saber
de número nessa época, sendo o processo de numeração extremamente mais complexo do que os
atuais, era ter um nı́vel intelectual espantoso. E a reflexão inicial que proponho - padrão quando
nos parece simplório-, é considerar não haver nenhum processo de calendário e pensar como seriam
certas atividades do cotidiano. E não tendo como recuperar algum dessa época é estudando os
atuais que veremos o quanto há de engenhosidade matemática por trás disto.

E tudo começa pelo seguinte: quanto é uma laranja mais uma maçã? Digo que não sei (isso
pode ser por ignorância minha, falta de criatividade, ... pesquise!). Mas, uma fruta mais outra
fruta convencionamos ser duas frutas. Parece uma diferença tola, mas o pensamento matemático
as colocam numa distância imensa e quando essa transição é feita instintivamente não se entende
como alguém teria dificuldade de aprendizagem por isso. Para tanto, vamos ampliar para que fique
mais evidente.

Na folha de calendário indicada ao lado, a coluna de


quinta-feira pode ser descrita como (Q, 5), (Q, 12), (Q, 19) e
(Q, 26), portanto essa é Subconjunto do Produto Carte- D S T Q Q S S
siano {D, S, T, Q, Q, S, S} × {1, 2, 3, ..., 31} e ¨quinta-feira¨ 1 2 3 4 5 6 7
8 9 10 11 12 13 14
funciona como uma sacola (um equivalente disto paraense é 15 16 17 18 19 20 21
paneiro) contendo apenas os números 5, 12, 19 e 26, com a 22 23 24 25 26 27 28
propriedade de que sabendo-se qual é um desse os demais 29 30 31
possı́veis diferem por múltiplo de sete.

Essa capacidade de sı́ntese sempre foi o requerido em calendários, mais ainda nos tempos
em que recursos e materiais para impressão eram escassos. E um conceito matemático capaz de
relizar sı́ntese chama-se: RELAÇÃO DE EQUIVALÊNCIA.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 5

Definiç~ao - Dado um conjunto não vazio A, chama-se relação (∼) em A qualquer lei que associa
entre si dois elementos de A, de princı́pio, de qualquer forma. E para dizer que um elemento x se
relaciona segundo essa com y denotamos por x ∼ y.

Caso particular: Uma Relação (∼) em A é dita de Equival^


encia se satisfaz as seguintes
propriedades:
1 - Reflexiva - Todo elemento de A se relaciona consigo, (∀ x ∈ A, x ∼ x);
2 - Simétrica - Se x se relaciona com y, então y se relaciona com x ( x ∼ y ⇒ y ∼ x); e
3 - Transitiva - Sempre que x se relaciona com y e y se relaciona com z, então x se relaciona
com z ( (x ∼ y) ∧ (y ∼ z) ⇒ x ∼ z ).
Definida uma Relação de Equivalência em A e dado x ∈ A, O conjunto de todos os elemen-
tos de A que estão relacionados com x, denotado por [x] = {y; x ∼ y}, é chamado de Classe de
Equival^encia de x, cuja propriedade central é a seguinte:

Teorema: Seja ∼ uma Relaç~ ao de Equival^ encia em A e x e y elementos de A. Então [x] = [y]
se, e somente se, x ∼ y. E se x não estiver relacionado com y (x  y), então [x] ∩ [y] = ∅.

Prova. A propriedade 1 diz que todo x é elemento de [x], portanto, ocorrendo a igualdade
[x] = [y], em particular, y é elemento de [x], logo x ∼ y.

Reciprocamente, consideremos que x ∼ y e tome z elemento de [x], i.e, z ∼ x. Assim, ficamos


com z ∼ x e x ∼ y, que por 3), y ∼ z, significando que z é elemento de [y]. Ou seja, provamos
que todo elemento de [x] também é de [y] e, analogamente, todo elemento de [y] também é de [x],
concluindo pela igualdade desses conjuntos. A segunda afirmativa fica para ser provada.

Exemplo - Considere em Z = {..., −2, −1, 0, 1, 2, ..}, com as operações canônicas, a relação:
m ∼ n quando m − n é múltiplo de 7. Isto é, existe k inteiro tal m − n = 7.k. Nesse caso dizemos
m ≡ n(mod.7) (lê-se: m é c^
ongruo com n módulo 7 ). Temos que:
A - Para todo m inteiro, m−m = 0 = 7.0, portanto, m ≡ m(mod.7), i.e, é uma relação reflexiva.
B - Caso m ∼ n, existe inteiro k tal que m − n = 7.k =⇒ n − m = 7.(−k), portanto, n ∼ m,
i.e., é simétrica.
C - m ∼ n e n ∼ p, existem k e t tais que m − n = 7.k e n − p = 7.t, cuja soma das duas
igualddes é (m − n) + (n − p) = m − p = 7.k + 7.t = 7(k + t), portanto, m ∼ p, i.e, é transitiva.

Nesse exemplo, [5] = {x inteiro tal que x − 5 = 7k} = {5 + 7.k, onde k é inteiro} =
{.., −9, −2, 5, 12, 19, 26, ...}

O exposto é apenas um pouco e esperamos servir de motivação no aprofundamento no


tema, parte dos fundamentos da matemática e aplicado em conteúdos como Fração ( há mais em
Emmy Noether, pág. 36, Laura Mouzinho, pág. 58). Logo, finalizando, ENHEDUANA com-
parece nos primórdios da história lidando e desenvolvendo temas dos mais relevantes e atuais em
matemática.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 6

Referências

[1] Garcia, A. e Lequain,Y., ÁLGEBRA: UM CURSO DE INTRODUÇÃO, Proj. Euclides /IMPA/SBM, 1988.

[2] Maria da Conceição Vieira Fernandes e Maria Betânia Fernandes Vasconcelos, A HIST ÓRIA DE MUL-
HERES NO CAMPO DA MATEMÁTICA, VI EPBEM - Monteiro, PB - 09, 10 e 11 de novembro de 2010
http://www.sbempb.com.br/anais/arquivos/trabalhos/CC-12058626.pdf, acesso maio/12

[3] A MATEMÁTICA DAS ABELHAS ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, Rômulo Alexandre


Silva, Marı́lia Lidiane Chaves da Costa e Débora Janaı́na Ribeiro e Silva,
www.sbempb.com.br/anais/arquivos/trabalhos/CC-17039362.pdf, acesso mai/12

[4] A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA CIÊNCIA: PROBLEMATIZAÇÕES SOBRE AS DIFERENÇAS


DE GÊNERO, Fabiane Ferreira da Silva e Paula Regina Costa Ribeiro
www.tanianavarroswain.com.br/labrys/labrys20/bresil/fabiene.htm, acesso mai/12

[5] MULHERES DA ANTIGUIDADE - ENHEDUANA, Blog de Clóvis Barbosa,


http://clovisbarbosa.blogspot.com.br/2011/05/mulheres-da-antiguidade-enheduana.html, ac. mai/12

[6] MULHERES ULTRAPASSAM HOMENS EM CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO, O Globo,


http://oglobo.globo.com/pais/mulheres-ultrapassam-homens-em-cursos-de-mestrado-doutorado-4883120, acesso mai/12

[7] Souza, Maria Celeste Reis Fernandes de , GÊNERO E MATEMÁTICA(S) - JOGOS DE VERDADE NAS
PRÁTICAS DE NUMERAMENTO DE ALUNAS E ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE PESSOAS JOVENS E ADUL-
TAS, Programa de Pós- Graduação em Educação, UFMG, Orientadora: Profa. Dra. Maria da Conceição Ferreira
Reis Fonseca, 2008, http://pct.capes.gov.br/teses/2008/32001010001P7/TES.pdf, celeste.br@gmail.com

[8] LAS MUJERES MATEMÁTICAS MÁS IMPORTANTES DE LA HISTORIA,


www.youtube.com/watch?v=LnKEo8th77g, acesso març/16

[9] Stone, Maddie , ESTE TEXTO ANTIGO DE ASTRONOMIA DA BABIL ÔNIA MUDA A HISTÓRIA, 29
de janeiro de 2016, http://gizmodo.uol.com.br/calculo-astronomia-babilonia/, acesso març/16
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 7

ELISA
PERSONAGEM DA LITERATURA UNIVERSAL INSPIRADA EM SABER
MATEMÁTICO
¨Naturalmente, as pessoas desejam manter o aspecto
agradável da ciência sem o aspecto negativo;
mas até o momento as tentativas de fazer isso fracassaram.¨
Bertrand Russel (Inglaterra,1872-1970), matemático, filósofo e
ganhador do Nobel de literatura de 1950.

Por Nascimento, J.B


UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, Març/2012

Não se conhece registro quanto haver algum lugar no qual matemática seja algo prazeroso
para todos os estudantes. E não é comum caso como o brasileiro em que autor de livro didático se
dispõe ilustrar o número sete com um gatinho sendo jogado do sétimo andar e se faz até pesquisa
que tira sangue de estudante supondo que nota baixa nessa disciplina deriva de doença genética.
Ante essa tragédia, a qual é extremamente maior, é irrelevante o interesse dos centros de
formação docente em matemática no Brasil inserir estudos que façam perceber conceitos matemáticos
em campos outros, porquanto, implementar forma de ensino que inclua algo além de apenas ma-
nipulações.
Nisso, a impossibilidade mais forte é por exigir diálogos com as demais formações e o factual
é que a dissociabilidade dessas implementada no Brasil, o mais premente na geração de precon-
ceitos, faz com que nem se possa dizer haver realmente formação docente, mas apenas processo
de diplomação. Obviamente que há exceções, mas fruto da iniciativa própria, até enfrentando re-
sistência feroz desses centros e havendo uma verdade eterna: exceção não qualifica nada, apenas
tende adiar barbárie por completo.
O exemplo que abordarei exige que, pelos menos, se façam antes na escola dois trabalhos:
- Docente de História ter abordado Grécia Antiga e formação das suas principais cidades e da
importância que cada uma teve na estruturação dessa civilização; e
- Docente de literatura ter abordado os principais clássicos da Grécia Antiga.
E nisso precisam atuar profissionalmente, porquanto, longe da combinação em que um faz
só o que interessa aos outros e unicamente por isso. E um trecho de interesse matemático é esse da
obra Eneida de Virgı́lio ( 70 a.C.- 19 a.C):

¨Uma mulher é o chefe da expedição. Chegados ao local onde verás agora enormes
muralhas e a imponente cidadela de Cartago, compraram todo o terreno que um couro de
touro podia cercar.¨

O histórico de Cartago deixa claro que só engenhosidade das mais significativas da mente
humana poderia fazê-la brotar de apenas um couro de touro. E Elisa esbanja criatividade ao
transformá-lo no maior fio possı́vel e depois atinge um nı́vel matemático dos mais impressionantes
quando dispõe esse, dentro das condições dadas, de forma que cercasse o máximo de área possı́vel.
Assim, essa resolveu um problema matemático classificado como sendo isoperimétrico, a
qual é área da matemática de riqueza vasta e oferece algumas versões de problemas para ser tra-
balhado em todo nı́vel escolar. E feito isso, agora o conhecimento matemático deve fluir ampliando
a visão do quanto magistralmente essa personagem foi construı́da e aprendam ser essa uma obra
que se revigora em toda época por haver momentos desse nı́vel em condições de eternizá-la através
das gerações.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 8

Há ainda outro fator no qual Elisa fica submersa, posto que, matemática é uma das partes
mais substanciais do tipo de desenvolvimento cientı́fico e tecnológico que permeia os dias atuais e
isso não pode ser feito com qualidade razoável sem que integre a todos. E nada é mais desintegrador
do que preconceito e, assim como em toda Ciência, o relacionado ao gênero feminino na matemática
é histórico.
E, finalizando, como combater preconceito é uma ação que precisa envolver todos da escola,
fica sendo um dado da mais alta relevância todo saber que o poeta Virgı́lio colocou no nascedouro
de importante cidade da nossa civilização uma mulher aplicando conhecimento matemático.

Referência

- AS MULHERES NA MATEMÁTICA, Daniel C. de Morais Filho, Campina Grande.PB,


www.rpm.org.br/conheca/30/2/mulheres.htm, acesso març/12

- SEM HABILIDADE COM NÚMEROS, Junia Oliveira, O Estado de Minas, 08/06/2010


http://wwo.uai.com.br/EM/html/sessao 18/2010/06/08/interna noticia,id sessao=18&id noticia=141062/interna noti-
cia.shtml, acesso jun/210

- http://www.exkola.com.br/scripts/noticia.php?id=34579041

- http://blog.opovo.com.br/educacao/sem-habilidade-com-numeros/

- http://vghaase.blogspot.com/, acesso ag/10

- http://discalculialnd.blogspot.com/, acesso ag/10

- Decifrando uma incógnita, www.ufmg.br/boletim/bol1698/4.shtml, acesso, ag/10

- Pesquisa dos Laboratórios de Neuropsicologia e de Genética da UFMG pode ajudar a desvendar causas e con-
sequências da discalculia, 7 de junho de 2010
http://www.ufmg.br/online/arquivos/015678.shtml

- Neuropsicologia e genética decifram causas e consequências da discalculia,


ISaúde.Net, Saúde Pública, http://isaude.net/z9h8, acesso ag/10

- Doença que dificulta aprendizado de matemática é alvo de especialistas


http://saude.ig.com.br/minhasaude/doenca+que+dificulta+aprendizado+de+matematica+e+alvo+de+especialistas/ n15970747370

- Discriminação Tira Mulheres de Áreas Exatas e Preocupa Governo


http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/discriminacao+tira+mulheres+de+areas+exatas+e+preocupa+governo/
n1238144853610.html, acesso maio/2011
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 9

H I P Á T I A
MATEMÁTICA QUE FOI BARBARAMENTE ASSASSINADA
¨Sem dúvida alguma uma semente da verdade permaneceu na alma,
e ela vem reanimar um ensino esclarecedor.¨
Boécio, 480 - 524 d.C, Professor de matemática e filósofo
Por Nascimento, J.B
UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, Març/2016
NO EQUIVALENTE AO ATUAL MÊS INTERNACIONAL DAS MULHERES, UMA JOVEM
E TALENTOSA PROFESSORA DE MATEMÁTICA TEVE MORTE HORRÍVEL NO ANO DE
415 d.C., QUANDO UMA TURBA DE INTOLERANTES A MASSACROU EM PLENA RUA
DE ALEXANDRIA; USANDO CONCHAS DE OSTRAS, RETALHARAM COMPLETAMENTE
O SEU CORPO.

Por volta do ano 380 da era cristã, na cidade de Alexandria, nascia a filha do matemático
e professor TEÃO, chamada HIPÁTIA ( o nome HIPÁCIA também é adotado) e que desde
cedo encantava a todos pela sua inteligência. O pai ensinou-lhe astronomia e matemática. Hipátia
preferiu estudar geometria, embora não apenas, daı́ ser chamada ¨A Geômetra¨. Esta passou al-
gum tempo em Atenas, onde Plutarco, o jovem, ainda lecionava em público, sobre Aristóteles e
Platão.
Provavelmente Hipátia fez parte do seleto grupo de iniciados que estudou com Plutarco.
E não demorou muito para que esta jovem de extraordinária beleza e talentosa professora de
matemática fosse reconhecida e distinguida nas ruas pelo o seu manto de filósofa. De inquestionável
capacidade cientı́fica, assumiu o posto de maior relevância em ciência que já existiu em todos os
tempos: a direção do Museu de Alexandria. Pois, trata-se da mais completa Universidade que
existiu até a era moderna.
Defensora intransigente da liberdade de pensamento, da liberdade de expressão, de aprender
e ensinar, Hipátia atrai contra si, embora não apenas, o poder virulento que sempre teve a parcela
mais aldravante, corrupta, dogmática, incompetente, torpe e zopeira. (de fato, sempre foram maio-
ria e graças à prestimosa ajuda que recebem dos omissos. Não é à toa, ser este tipo dileto que esta
parcela adora diplomar!)
Além disso, e também, pela sua condição de mulher, cultuava-lhe ódio os obscurantistas de
tudo quando era tipo; a Idade Média é o maior triunfo dos seus inimigos. Só não contavam que
esta haveria de referenciar alguns poucos e valiosos, em condições de sacrificarem suas vidas para
ensinar seriamente um pouco de matemática.
Aos que acham dever sua popularidade por compactuar com medı́ocres, registra a história
que esta, e como último recurso, contra um tolo que persistia em confundir a sua condição de
professora com a de mulher, perdendo tempo lhe insinuando galanteios ao invés de estudar, esta
saca o seu pano menstrual em plena sala de aula, dizendo-lhe:
¨- é isto que eu sou, é a isto que você ama¨.
Um ato absolutamente notável para uma mulher, se considerarmos que só após cerca de
1.400 anos, alguma teve coragem de sacar o seu sutiã e queimá-lo em praça pública.
Em março de 415, ao regressar do Museu de Alexandria, esta jovem e esplendorosa
professora de matemática foi covardemente atacada por uma turba, excitada que fora
pelos seus desafetos, quando dilaceram o seu corpo usando conchas de ostra.
Matou-se não apenas uma mulher, mas uma era fundamental da Matemática, da Ciência e
da História. Sendo este mais um exemplo na história da humanidade em que apagam um luminoso
raio de luz para seguir nas trevas.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 10

Algumas indicações Hipatianas


- Compreender as coisas que nos rodeiam é a melhor preparação para compreender o que há
mais além.
- Todas as formas religiosas dogmáticas são falaciosas e não devem ser aceitas por auto-respeito
pessoal.

- Reserve o seu direito a pensar, mesmo pensar errado é melhor do que não pensar.
- Ensinar superstições como verdades é uma das coisas mais terrı́veis.

REFERÊNCIA:
- Boyer, C. B. - História da Matemática - Ed. Blücher, Trad. Elza Gomide (IME. USP);
- www.agnesscott.edu/Iriddle/womem;
- www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/matematicos/hipatia.htm/hypatia.htm
- Sampaio, M., A Guardiã da Tecnologia da Informação - 1, 01.03.2011,
http://ne10.uol.com.br/coluna/difusao/noticia/2011/03/01/a-guardia-da-tecnologia-da-informacao–1-259408.php, acesso
ab/13
Sampaio, M., A Guardiã da Tecnologia da Informação - 2, Marcelo Sampaio, 16/03/2011
http://m.ne10.uol.com.br/noticia/?t=co&n=difusao&a=2011&m=03&d=16&id=261542, acesso ab/13
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 11

ROSVITA
A PROFESSORA DE MATEMÁTICA PERFEITAMENTE MUITO ALÉM
DA MÉDIA
¨O primeiro a examinar o conceito do infinito em detalhes foi o filósofo Zenão.¨
Morris, R
Por Nascimento, J.B
UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, Març/2009

ROSVITA DE GANDERSHEIM viveu por volta do ano 1.000 d.C e só


isso já torna inusitado ser professora e ainda mais de matemática. Acrescido que
nos livros de História da Matemática mais usuais nos cursos de licenciatura em
matemática no Brasil pouco citam dessa época, quanto menos ainda sendo mulher.

Dos fatores que tornam Rosvita da mais alta relevante histórica podemos citar o seguinte:
o poder mais fundamental da educação de qualidade não é evitar desgraça, embora também, mas
referenciar tudo que se faz necessário para se sair disto. Ou seja, os sinais de que estamos numa
geração um pouco melhor do que ela viveu, deve-se ao fato de ter havido docente como Rosvita.
E, falando restritivamente de quem tem cargo de docente de matemática em universidade pública,
fica lastimável quando algum não honre essa herança histórica.
Além disso, afamada teatróloga, o papel mais importante dessa de professora da escola
básica ficou obscurecido ao longo da história. O que é uma profunda ironia com essa que iluminou
esplendorosamente o ensino da matemática e penoso porque isso contribui para que atualmente,
como é o caso do Brasil, o ensino dessa disciplina apresente situações catastróficas.
Um dos seus feitos, peça de teatro envolvendo conteúdo de matemática, é produção da mais
alta intensidade na história do ensino da matemática se apenas reproduziu o que tenha lido e com
isso provar que lia texto matemático de alto nı́vel, encantou-se e copiou na sua peça. Cresce expo-
nencialmente se apenas repassou o texto para que suas alunas, já que era professora de mosteiro,
repetisse na encenação da peça. E se alguém tomou conhecimento dessa peça e fez estudantes rep-
resentá-la, muitı́ssimo provável, justifica fazermos substancial esforço para que a existência dessa
professora de matemática permaneça viva.
Ou seja, apenas por conhecer a peça de teatro que essa fez abordando conteúdos de matemática
já faz Rosvita esplendorosa. Sendo aqui apenas uma ı́nfima parte, pois sua ação é muito mais pro-
funda. E isso exige delinear um histórico envolvendo conceitos e resultados da matemática que
estão em peça rosvitiana e que permite a todo, se quiser aprender completando os detalhes, fazer
um curso razoável em Teoria dos Números.
No que seque apenas consideramos Números Naturais N = {0, 1, 2, 3, · · · }, porquanto,
versões, se possı́vel, para Inteiros Z = {· · · , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, · · · } é exercı́cio. Os dois con-
ceitos básicos são:
Número Primo (p) - É todo Número Natural diferente de 1 cujos únicos divisores são 1 e o
próprio. Com mais divisores é dito Número Composto.
Exercı́cio 1 - Os Números Primos forma um subconjunto infinito de N [3].
Exercı́cio 2 - Se n = pr × q k , sendo p e q primos distintos, então n possui (r + 1) × (k + 1)
divisores. Quais são todos? Generalize.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 12

Exercı́cio 3 - Uma série numérica a1 , a2 , · · · , an é dita uma Progressão Geométrica (P.G)


quanto existe r tal que ak = r × ak−1 , para todo k > 1. Prove que, fora o caso de r = 1, Sn =
a1 − r n × a 1
a1 + a 2 + · · · + a n = . Em particular: 1 + 2 + 22 + · · · + 2n−1 = 2n − 1
1−r
Número Perfeito - É todo cuja soma dos seus divisores, naturais, próprios resulta nesse. Por
exemplo, 6 é número perfeito, pois os divisores são: 1, 2, 3 e 6 e 1 + 2 + 3 = 6.
O professor da USP Luiz Jean Lauand, [2], Pág.42 - acho essa pequena obra conter grandes
tesouros e aqui revelo só uma gota, portanto, de leitura indispensável -, assim registra conteúdo da
peça rosvitiana ¨Sabedoria¨:

¨Rosvita sabe, o que pode surpreender os que ignoram a história da matemática


medieval, que 6, 28, 496 e 8128 são perfeitos, bem como o velho critério para geração
de números perfeitos: p = (2n − 1) × 2n−1 será perfeito se 2n − 1 for primo.¨
Exercı́cio 4 - Verifique que os citados são números perfeitos.
Cabe esclarecer que nem hoje, e quanto menos nos tempos de Rosvita, não carece de tanto
se for apenas para surpreender os que ignoram matemática. Pelo contrário, o nı́vel avançado do
exposto indica que ela correu riscos dos mais terrı́veis de ser tomada por louca, quando mesmo
assim ainda seria o de menor gravidade. Isso fica reforçado pelo seguinte: se hoje no Brasil algum
docente de qualquer escola privada entrar na sala e colocar esse resultado no quadro como tema da
aula, correrá sérios riscos de não ter o emprego no dia seguinte.
E o mais provável disto não acontecer não é tal ameaça, mas por considerá-lo irrelevante
ou não saber demonstrá-lo ou medo das diversas nuances que traz e que fica, porquanto, passivo
de algum perguntar; a concepção de que esse seria, assim como achar qualquer outro resultado da
matemática irrelevante, caracteriza não ser e potencializa nunca ser Matemático.
O mais acreditável é que Rosvita teria refeito e comprovado que os já citados são números
perfeito e entendido da validade da fórmula euclidiana. Pois, nessa época circulavam textos que
podemos dizer que foram inspiradores dos atuais livros didáticos - no caso do Brasil só em termos
gerais, pois em qualidade matemática há elementos indicando que eram melhores - como os dos
matemáticos Boécio ( Anicius Manlius Torquatus Severinus Boetius, Romano, 480 a 524
d.C.), Iâmbico de Cálcis (c. 325) e Nicômaco de Gerasa ( c. 100 d.C), que versavam no tema
bem próximo do que diz Boyer, [4], pág. 80, no seguinte trecho comentando os Elementos de
Euclides (300 a.C):

¨A proposição seguinte, a última do livro IX, é a fórmula bem conhecida para


números perfeitos. ’Se tantos números quantos quisermos, começando com a unidade,
forem colocados continuamente em dupla proporção até que a soma de todos seja um
primo, e se a soma for multiplicada pelo último, o produto será perfeito.’ Isto é, em
notação moderna, se Sn = 1 + 2 + 22 + · · · + 2n−1 = 2n − 1 é um primo, então 2n−1 .(2n − 1)
é perfeito. A prova é fácil, em termos da definição de número perfeito dada no Livro V II.
Os gregos antigos conheciam os quatros primeiros números perfeitos: 6, 28, 496 e 8.128.
Euclides não respondeu à pergunta recı́proca - se essa fórmula fornece todos ou não todos
os números perfeitos. Sabe-se agora que todos os números perfeitos pares são desse tipo,
mas a questão da existência de números perfeitos ı́mpares é ainda um problema não
resolvido. Das duas dúzias de números perfeitos conhecidos hoje todos são pares, mas é
arriscado supor que todos sejam.¨

Alguns, como [7], apenas citam que o quinto número perfeito fora descoberto no séc. V
d.C, corresponde na fórmula euclidiana a n = 13 e é 33.550.336. Portanto, é compreensivo que
Rosvita não soubesse desse ou não tivesse meios para conferir, pois fazia conta com algarismos
romanos. E o seu aguçado tino matemático desponta quando estudos posteriores revelam lances
fabulosos envolvendo conteúdo que divulgou, notando que a fórmula euclidiana só comprova ser
perfeito depois que se sabe ser 2n − 1 primo.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 13

Um grande estudioso desse fator em particular, foi o frade franciscano Marin de Mersene
(1588-1648). E em sua homenagem todo esse que for primo é chamando de número primo
de Mersene e alguns autores denotam por Mn [7]. E temos que: se n é par e não primo, i.e,
n = 2k, k > 1, então 2n − 1 = 22k − 1 = (2k )2 − 1 = (2k − 1)(2k + 1), portanto, composto. Assim
como, há n primo sem que 2n − 1 seja. Por exemplo, n = 13, 213 − 1 (verifique) é composto.
Exercı́cio 5 - Provar que 2n − 1 é primo de Mersene apenas se n for primo. Ou seja, se n é
composto, então 2n − 1 também será.
O matemático suı́ço Leonhard Euler (1707-1783) além de provar que M 31 é primo de
Mersene ainda mostra o que fecha para sempre uma das indagações que vinha dos tempos de
Euclides, com o seguinte resultado:
Teorema - Todo número par e perfeito é dado pela fórmula euclidiana. Isto é, se m é par e
perfeito, então existe n tal que m = 2n−1 .(2n − 1).
Diversos outros resultados permeiam números perfeitos e com o advento do computador já
foi possı́vel determinar alguns com enorme quantidade de dı́gitos e dois problemas que parecem
persistirem, porquanto, não sei hoje se provado, são:
- Haver ou não número perfeito ı́mpar.
- Se os primos de Mersene são infinitos.
E o divulgado por Rosvita atinge até o glamouroso, que é a posição reservada aos casos
em que além de transcender no tempo, como já vimos, ainda permite generalizações. Posto que,
Mersene definiu n como sendo número multiplamente perfeito de ordem k quando a soma de
todos os seus divisores, S, é tal que S = k.n. Obviamente inspirado no caso de que todo perfeito é
multiplamente perfeito de ordem dois, i.e, n perfeito, então S = 2n. O mesmo teria achado os três
primeiros números multiplamente perfeito de ordem 3, qual sejam: 120, 672 e 523.776 [7]. Sendo
que esse comunicou da sua proposta em carta ao matemático francês René Descartes (1596 -
1650), o qual em resposta envia uma lista de nove desses.
Para finalizar, tudo isso mostra da perfeição com que Rosvita cruzou com alguns conceitos
da matemática. Porém, essa prova o mesmo valor em termo de educação ao oferecer ao seu Rei um
livro, como ilustra gravura que usamos e consta em [3] - A. Düner, A monja Rosvita apresenta
um livro a Otão I (kupferstichkabinett, Berlim).

REFERÊNCIAS
[1] A Experiência Matemática, Davis P. J. e Herst R., Ciência Aberta, Ed. Gradiva, 1 a 1995
[2] Educação, Teatro e Matemática Medievais, Lauand, L., Ed. Perspectiva, 1986
[3] Os Elementos de Euclides, Tradução e Introdução de Irineu Bicudo, Ed. Unesp, 2009
[4] História da Matemática, BOYER, C. B., trad. Elza F. Gomide (IME/USP), 2 a Edição, Ed. Edgard Blücher
Ltdda, 1988
[5] Introdução à história da matemática, EVES, HOWARD, tradução de Domingues, H.H, 3 a edição, Ed. Uni-
camp, SP: 2002.
[6] Introdução à Teoria dos Números, Santos, J.P. O, Col. Mat. Universitária, Impa, 1998
[7] Números e Numerais (Tópicos de História da Matemática para Uso em Sala de Aula), Gundlach, B. H,
tradução de Domingues H.H, Ed. Atual, 1998
[8] Números Notáveis, Shokranian, S., Ed. UnB, 2002
[9] Uma Breve História do Infinito - Dos paradoxos de Zenão ao Universo Quântico, Morris, R., Ed. Zahar, 1997
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 14

MADAME DU CHÂTELET, (França, 17/12/1706 -10/09/1749)


A MATEMÁTICA QUE CONCILIAVA DOIS GÊNIOS
¨Para Lenard, Einstein era o protótipo do ¨pensamento judeu degenerado¨,
que traı́a as idéias simples e claras da Fı́sica Clássica.¨
Heisenberg, E., A Vida Polı́tica de um Apolı́tico, Ed..Ars Poetica

Por Nascimento J.B.


http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
www.cultura.ufpa.br/matematica/?pagina=jbn
Email: jbn@ufpa.br, 18/março/2012

Imagine em pleno séc. XVIII uma jovem em trajes masculino batendo


na porta de café parisiense onde matemáticos se encontravam, não que ela
quisesse enganar ninguém, mas como protesto por haver tentado entrar
antes para debater com alguns desses e tinha sido impedida.

E nem há qualquer indı́cio de que ela seria ingênua que não soubesse que em tais lugares
poderia servir algo mais do que café. O que essa sempre demonstrou é que sabia separar os seus
interesses cientı́ficos dos demais. Essa recebeu ao nascer o nome de GRABRIELLE ÉMILIE
TONNELIER DE BRETEUIL e conhecida historicamente por Émilie, Madame ou Mar-
quesa Du Châtelet.

Ficando lamentável que historiador da matemática ante suas obras transpareça mais pre-
ocupado com os seus bilhetes amorosos, como os que ela fazia para o seu maior leitor, confidente
cientı́fico e amante, François Marie Arouet, filósofo francês mais conhecido por Voltaire (1694
-1778). Isso faz com que, como no caso de Eves H, [8], pág. 482, essa seja apresentada nos seguintes
termos: ¨Embora mais uma divulgadora do que uma criadora de matemática...¨.

Eves, em cujo prefácio defende que sua obra se propõe ser útil para formação docente, comete
um disparate ao contrapor divulgador com criador. Posto que, desconhece o óbvio: saber sem di-
vulgação é quase inútil e docência só existe pelo valor que há em divulgar saberes. Esse deveria ter
se lembrado, pelo menos, que a obra mais lida da matemática, Os Elementos de Euclides (séc. III
a.C), não apenas se compõe de resultados originais, que os há, como é compilação de resultados
que estavam dispersos e foram reavivados num arranjo genial que tornou possı́vel divulgá-los.

Vamos mostrar que essa fez um trabalho de divulgação exemplar na história da matemática,
coisa impossı́vel para quem não domina esse saber. Para tanto, é preciso conhecer um pouco do
quanto sua época estava sobrecarregada por uma disputa feroz centrada na base essencial da Ciência
e Tecnologia moderna, a qual é Cálculo Diferencial e Integral. Pois, partidários dos dois principais
formuladores disso, os matemáticos Sir Isaac Newton (inglês, 1642-1727) e Gottfried Wilhelm
von Leibniz (alemão, 1646-1716), enfrentavam-se numa briga feroz. E quem nos mostra um pouco
do nı́vel disto é o seguinte trecho de livro de Voltaire publicado em 1739:

¨Se uma falsa experiência não tivesse conduzido Newton a esta conclusão, podemos
acreditar que ele teria raciocinado de forma absolutamente diferente.¨
Elementos da Filosofia de Newton, Voltaire, trad. Maria das Graças S. do Nascimento,
Ed. Unicamp, 1996

Dado que, até um pensador como Voltaire se dispõe fazer um argumento tão canhestro
deste em defesa de Newton, endeusando-o por retirar-lhes até os erros de suas experiências. E o
seguinte trecho de artigo [11, pág. 18-19], dimensiona quase tudo (g.n):
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 15

¨Em Leibniz Newton encontrou um adversário mais de seu calibre. Hoje em dia,
está bem estabelecido que Newton desenvolveu o cálculo antes de Leibniz
pensar em estudar seriamente matemática. É quase universalmente aceito
que Leibniz chegou mais tarde ao cálculo independentemente. Nunca houve
dúvida de que Newton não publicou seu método dos fluxos; assim, foi o
artigo de Leibniz, em 1684, que primeiramente tornou o cálculo público. Nos
Principia Newton deu dicas desse método, mas ele não o publicou realmente
antes de anexar dois artigos ao seu Ótica de 1704. Nessa época, a controvérsia
já estava perdendo seu calor.
É impossı́vel dizer quem começou. O que eram apenas ácidas crı́ticas rapidamente se
tornou fortes acusações de plágio de ambos os lados. Levado por seguidores ansiosos
por ganhar reputação às suas custas, Newton se deixou levar ao centro da
discórdia; e, uma vez que seu temperamento foi espicaçado por acusações de desonesti-
dade, sua ira ficou além dos limites. A condução da controvérsia por Leibniz não foi muito
agradável, mas era pálida perante a de Newton. Apesar de nunca ter aparecido em
público, Newton escreveu a maioria das peças que apareceram em sua defesa,
publicando-as em nome de seus jovens discı́pulos, que nunca negaram a autoria.
Como presidente da Royal Society, ele apontou um comitê ’imparcial’ para inves-
tigar a questão, secretamente escreveu o relatório oficialmente publicado e a
resenhou anonimamente nas Philosophical Transactions. Mesmo a morte de
Leibniz não diminuiu a fúria de Newton, e ele continuou a perseguir o inimigo além do
túmulo. A batalha com Leibniz e a necessidade incontrolável de afastar a acusação de
desonestidade dominaram os últimos 25 anos da vida de Newton. Isso o envolvia quase
inconscientemente. Quase todos os artigos em qualquer assunto nesses últimos anos
continham um parágrafo furioso contra o filósofo alemão, e ele afiou os instrumentos
de sua fúria com ainda mais cuidado. No fim, apenas a morte de Newton aplacou sua
vingança.¨

Foi nesse ambiente de alta toxidade das mentalidades cientı́ficas que em 1740 Madame Du
Châtelet publica Institutions de Physique, na qual defende ideias de Leibniz, porquanto, um
anos após Voltaire publicar em defesa de Newton e quando já dividiam lençóis, o que mostra da
sua total independência nesse tocante. E anos depois essa pede e consegue autorização real para
fazer a primeira e definitiva tradução francesa da obra mais fundamental de todos os tempos da
aplicação do Cálculo Diferencial e Integral: Principia de Newton.
Ficando grávida, na medida em que a gravidez avançava mais essa ultimava terminar essa
tradução e não escondia a razão de ninguém: temia morrer de parto. Isso era tão evidente que
nesse advento estavam presentes marido e amantes. E as correspondências que trocaram logo após
o parto, felizes por tudo ter transcorrido normalmente, porquanto, aliviados, comprova tudo. En-
tretanto, dias após essa se sente enferma e no leito pede que lhe trouxesse as anotações prontas da
tradução de Newton, anota nessa 10/09/1749 e logo falece.
Postumamente, em 1756, o mundo conhece a magistral tradução e descobre que não era
apenas isso, pois estava recheada de comentários próprios dos mais valiosos. Havendo um detalhe:
se vivo fosse, Newton teria pelos menos dois aborrecimentos. Posto que, pelo numa página que
encontrei na internet, ela usou a notação leibniziana para derivada e integral e uma proposição
que Newton resolve aplicando integração numa esfera, no seu comentário ela faz no
geral para esferóide. Lembro que isso ocorre nos primórdios do Cálculo, porquanto, integração
em uma variável e mesmo com o instrumental que temos hoje as duas integrações nem sempre são
de dificuldades equivalentes.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 16

Émilie Du Châtelet referencia profissionalismo mostrando que a Ciência só perde com
briga tipo Newton-Leibniz, envolvendo paixões pessoais, desprezo pelos preceitos cientı́fico, fora
do interesse público e servindo para todo tipo de adulações, prescindindo conciliar com base de
validade técnica o que houver de bom de ambos os lados. E essa premissa é porque Ciência e De-
senvolvimento Cientı́fico e Tecnológico precisam até mais do que dessa conciliação, exigem avançar
e inovar as formulações, não apenas no sentido técnico, isso até ocorreu razoavelmente no caso do
Cálculo, mas em divulgação, porquanto, qualificando o ensino/formação docente disto.

E um fato que mostra do quanto o feito por Madame Du Châtelet precisa continuar sendo
perseguido é o seguinte trecho de livro escrito em 1977 do ex-professor de filosofia e matemática da
Kingston University Paul Stranthern, pág. 64-65, [13]:

¨Ainda no séc. XVIII, Pitágoras foi admirado por Leibniz, figura quase fértil intelec-
tualmente e quase tão excêntrica quanto ele. O grande polı́grafo e medı́ocre matemático
alemão (além de diplomata nada diplomático, inepto plagiador, negocista frustrado etc.)
via-se como parte ’tradição pitagórica’ Fez o melhor que pôde.¨

E em paı́ses como Inglaterra as desqualificações que tal mentalidade permeia no ensino da


matemática em nı́vel superior são amortecidas no desenvolvimento tecnológico via outros fatores,
como a qualidade do ensino da matemática no nı́vel básico. Entretanto, em outros que não dispõem
de nada substancial capaz disto, como é o caso do Brasil, isso explode nos cursos de Exatas
e Engenharia num quadro dantesco do nı́vel de rendimento em Cálculo. Um dado de
um determinado ano que obtemos da UFPA aponta que de 140 ingressantes em cursos
de Exatas, apenas 13 foram aprovados na primeira disciplina desse tema.

E nada disto é socialmente sensı́vel no Brasil por fatores da má educação, como não haver
nos sites dos cursos os dados estatı́sticos do nı́vel de aprovação/reprovação. E o mais verdadeiro
em tudo é que tais dados trágicos são normalizados em função do péssimo ensino
básico em matemática, porquanto, esse não cumpre à exigência mı́nima de preparar
o educando para tal evento. Muito pelo contrário, destrói os fatores predecessores no
entendimento dos conceitos gerais de Cálculo, como já dissemos, pouco dependem da
versão, pelo menos, no caso Newton-Leibniz.

Émilie Du Châtelet, finalizando, haverá de ser lembrada sempre que


tiver alguém seriamente empenhado em Ciência, porquanto, pelo menos
livre dos preconceitos mais banais, os mais terrı́veis. E tudo aqui enfoca
apenas sua contribuição em matemática, havendo diversos outros pontos
para encontrá-la sem qualquer possibilidade de não ter algo para leitura
com alta densidade, dado que, MADAME DU CHÂTELET escrevia
tendo ao lado uma tina com água gelada para ir resfriando sua mão.

Ilustrações obtidas em
http://www.flickr.com/photos/fundoro/5415666228/, acesso Marc/12
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Madame du Ch%C3%A2telet.jpg, aceso Marc/12
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APÊNDICE
UM POUCO NA DIFERENÇA DAS FORMULAÇÕES DE CÁLCULO
NEWTONIANO E LEIBNIZIANO

Qual é toda essa? Factualmente não sei. Mas num aspecto é patente: Newton fazia o seu
cálculo visando o que já estava posto nas suas teorias, especialmente em mecânica, e
Leibniz estava mais centrado nos fundamentos filosóficos dos resultados. É como hoje
acontece em computação quando quando programa diferentes podem até fazer aparecer no monitor
do computador o que possa ser visto como o mesmo por usuárias comuns, e até transparece como
verdade cientı́fica. Entretanto para quem conhece programação e mais profundamente a diferença
pode ser imensa. Havendo um fator agravante nisso: a Mecânica Newtoniana é eterna, mas em
termos de Ciência e Tecnologia é um belo passado.

Vamos ilustrar com o seguinte exemplo bem comum em livro de Cálculo:

Considere que uma escada de 5m de comprimento, antes encostada


numa parede perfeitamente vertical, comece a deslizar se afastando da
parede numa direção perfeitamente horizontal. Se quando essa se encontrar
numa posição que dista 4m da parede a velocidade com que se afasta é de
3 m/s, determina a velocidade e posição da parte superior verticalmente
em descida.

Resolução

Adotando a notação cartesiana e que velocidade se afastando da origem é positiva e negativa


no contrário, para todo instante de tempo t, o Teorema de Pitágoras diz que

x2 (t) + y 2 (t) = 25 (1)

dx dy
Diferenciando (1) em t, Regra da Cadeia, fica: 2x(t) + 2y(t) = 0 e, portanto,
dt dt
dx dy
x(t) + y(t) = 0 (2).
dt dt
Como no instante procurado x(t0 ) = 4 , por (1), obtemos que y(t0 ) = 3 e como ainda nesse
dx dy
instante (t0 ) = 3 m/s, substituindo esses valores em (2), conclui-se que (t0 ) = −4 m/s.
dt dt
E todas as formulações de Cálculo que conheço chegam nessas condições nessa mesma con-
clusão.

Agora considere que x esteja bem próximo de 5m. A equação (1) no diz que y fica bastante
dy
próximo de zero. Logo, para calcular nesse caso vou precisar dividir por y bastante próximo
dt
de zero. Porém, os fundamentos de Cálculo diz que tal aproximação faz com que a
velocidade exploda. Entretanto, mecânica nenhuma, quanto menos newtoniana, aceita uma coisa
desta de bom grado. Portanto, surgem perguntas: qual é o limite aceitável dessa aplicação?
Quais são isso de todos os casos? Qual filosofia do ensino da matemática abarca tudo
isso?
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 18

REFERÊNCIAS

[1] ÉMILIE DU CHÂTELET,


http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89milie du Ch%C3%A2telet, acesso Marc/12

[2] ÉMILIE DU CHATELET, UN PASSEUR SCIENTIFIQUE AU XVIIIE SIECLE, D’EUCLIDE A LEIBNIZ,


Mireille Touzery
http://histoire-cnrs.revues.org/7752, acesso març/12

[3] ÉMILIE DE BRETEUIL, MARQUESA DU CHÂTELET, CIENTÍFICA DEL SIGLO DE LAS LUCES,
SHAHEN HACYAN
http://www.revistas.unam.mx/index.php/cns/article/view/12091, acesso Marc/12

[4] FEMALE PIONEERS IN MATHEMATICS FOUND STRENGTH IN NUMBERS,


http://www.theaustralian.com.au/news/arts/female-pioneers-in-mathematics-found-strength-in-numbers/story-e6frg8nf-
1226098373410, acesso Marc/12

[5] GREATEST WOMEN MATHEMATICIANS


http://www.successstories.co.in/greatest-women-mathematicians/, acesso Marc/12

[6] HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, Boyer, C. B, trad. Elza F. Gomide (IME/USP), 2a Edição, Ed. Edgard
Blücher Ltdda, 1988

[7] HISTORIOGRAFIA DA CIÊNCIA: ELEMENTOS QUANTITATIVOS COMO BASE PARA A ANÁLISE


QUALITATIVA, Sergio Nobre, Unesp - Rio Claro,
http://www.sepq.org.br/IIsipeq/anais/pdf/mr1/mr1 7.pdf, acesso Marc/12

[8] INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, Eves, H., tradução: Hygino H. Domingues, 3a edição,
Ed. Unicamp, SP: 2002

[9] LA MARQUESA QUE TRADUJO LOS PRINCIPIOS MATEMÁTICOS DE NEWTON AL FRANCÉS


http://www.camiri.net/?p=5085, acesso Marc/12

[10] MADAME DU CHÂTELET


http://revistaphilomatica.blogspot.com.br/2010/03/madame-du-chatelet.html, acesso Marc/12

[11] MAT5766-EPISTEMOLOGIA DA MATEMÁTICA, Seminário: Newton e o cálculo, Guilherme de Souza


Rabello e William Vieira, 5/11/ 2002
http://www.ime.usp.br/ brolezzi/semin.pdf, acesso Marc/12

[12] MARQUESA DE CHÂTELET,


http://matedanse.no.sapo.pt/pagina11.htm, acesso mar/12

[13] PITÁGORAS E O SEU TEOREMA EM 90 MINUTOS, Stranthern, P., trad. Marcus Penchel, Jorge Zahar
Ed. 1988

[14] ÉMILIE DU CHÂTELET: A MULHER QUE A CIÊNCIA ESQUECEU, Por Jessica Nunes , nov 8, 2015
www.universoracionalista.org/emilie-du-chatelet-a-mulher-que-a-ciencia-esqueceu/, acesso dezfrm[o]–5
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 19

M A R I A G A E T A N A A G N E S I (Milão, 1718 - 1799)


A MATEMÁTICA AUTORA DO PRIMEIRO TEXTO DIDÁTICO EM
CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL E QUE RESOLVIA PROBLEMA
ATÉ DORMINDO
¨Nem todo processo nervoso, muito menos todo processo cerebral, é
acompanhado de consciência.¨ Erwin Schrödinger
(fı́sico austrı́aco, 1887-1961, Nobel de 1933)
O que é Vida? O Aspecto Fı́sico da Célula Viva, seguido de Mente e
Matéria e Fragmentos Autobiográficos, Trad. Assis, J. P. e Assis V. Y.
P., Ed. Unesp, 1997
Por Nascimento, J.B
UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, Març/12

Nem Havia florescido a metade do séc.XVII quando uma menina italiana com nove anos
de idade publica artigo em latim defendendo o direto das mulheres ingressar em curso superior. E
mesmo que fosse apenas uma peraltice já teria valor histórico, mas estava longe disto. Trata-se de
MARIA GAETANA AGNESI, filha de docente de matemática da universidade de Bolonha e
já respeitada nesse cı́rculo acadêmico como dominadora de vários saberes.

E aos que pensaram tudo permanecer no campo teórico, GAETANA AGNESI deu-lhes
resposta pouco mais da dobra do tempo, a qual foi a seguinte registrada em Eves, [3], pág 479 (g.n):

¨Quando tinha vinte anos, publicou Propositiones Philosophicae, uma coletânea


de 190 ensaios que, além de matemática, se ocupam de lógica, mecânica, hidromecânica,
elasticidade, gravitação, mecânica celeste, quı́mica, botânica, zoologia e mineralogia.
Esses ensaios resultaram das discussões nas tertúlias em casa de seu pai.¨

Visando preparar irmão que demonstrava interesse por Exatas, porquanto, mais ainda útil
para qualquer outro, em 1748, AGNESI publica Instituzioni Analitiche cobrindo em dois
volume o que ainda hoje em paı́ses como o Brasil é o essencial para se começar uma graduação
promissora em Exatas e Engenharia. Esse assume aspecto didático por trazer os fundamentos
matemáticos que dão suporte para o entendimento de Cálculo, mais conhecido no Brasil por pré-
cálculo/revisão e serve de referência do que se deve fazer no ensino básico.

Traduzida para o inglês, porquanto essa obra influenciou em diversos paı́ses, os livros atuais
seguem próximos desse padrão. E um caso que essa tratou serve para situarmos a importância de
tudo de forma um pouco mais técnica. Trata-se de uma curva que Pierre de Fermat (1601 -
1665) havia definido, a qual, por erros de diversas traduções, ficou conhecida por FEITICEIRA
ou CURVA DE AGNESI.

Lembro que não tenho essa obra de AGNESI para colocar exatamente tudo que ela fez em
função desta curva. De fato, nem é essa a intenção, mas mostrar como pode ser feito um pequeno
exame só usando essa para determinar se alguém domina o essencial de Cálculo e, porquanto, serve
para todo que quiser preencher os detalhes para testar os seus conhecimentos.

Considere um cı́rculo de raio a e centro (0, a), a reta tangente desse


em (0, 2a) e uma reta secante ao cı́rculo passando pela origem, cujo
segundo ponto de interseção é G e faz interseção com a reta tangente
em H. As retas, paralelas ao eixo − y passando por H e ao eixo − x
passando por G, tem P por ponto de interseção. A curva é a descrita
por todos os lugares geométricos de P assim obtidos.

Os tópicos principais são:


Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 20

1 - Saber tirar de informações descritivas Equações Algébricas, mostrando que a equação


dessa curva é y(x2 + 4a2 ) = 8a3 .
2 - Saber o mı́nimo de derivação, porquanto, calcular as derivadas primeiras e segundas, y 0 e
y 00 , usando caso particular da Regra do Quociente e Regra da Cadeia.
3 - Interpretar conceitos via derivação, como o de Ponto de Inflexão, mostrando nesse caso
que, por exemplo, a reta secante passando pela origem fazendo um angular de 60 o com o eixo − x
tem Ponto de Inflexão dessa curva.

4 - Que o eixo − x é Reta Assı́ntota dessa curva.


5 - Saber que área limitada pela curva e eixo − x pode ser calculada por
Integral de y(x).
6 - Conhece, pelo menos num caso particular, o Cálculo de Primitiva do
inverso de polinômio do segundo grau com discriminante negativo.
7 - Conhece o conceito de Integração com limite no infinito o suficiente
para calcular a área limitada por essa curva e o eixo − x, obtendo ser o
quádruplo da do cı́rculo de raio a.
8 - Conhece as técnicas básicas do cálculo por integração em uma variável
da Área e Volume de Sólido Gerado pela Rotação de curva, cal-
culando tais elementos do obtido pela rotação dessa curva em torno do eixo−x.

Em 1749, MARIA GAETANA AGNESI foi designada pelo Papa Benedito XIV como
membro da Universidade de Bolonha, sem que haja qualquer outro fator mais preponderante para
tal atitude papal do que acreditar nos seus dotes cientı́ficos. Entretanto, tudo indica - começando
que não acho anais da própria universidade indicando o contrário, e deveria fazê-lo com orgulho-,
que essa nunca exerceu efetivamente o cargo de docente nessa universidade. E este episódio, in-
dependentemente de tudo, mostra o nı́vel a que discriminação contra mulher pode chegar quando
anula efeito de decreto papal em pleno séc. XVIII.

Finalizando, um fato que muitos citam como excentricidade, quiçá acidental, acho ser mais
obra da engenhosidade humana na busca de aprender. Posto que, sofrendo de sonambulismo essa
antes de deitar-se arruma a sua escrivaninha deixando separados os problemas mais duros ou que
nem sabia resolver. E uma vez atacada por essa disfunção do sono, levanta-se, acende sua lampar-
ina, resolve-os, voltar para ao leito para acabar de dormir e ao acordar revisa o feito, sem que haja
qualquer registro de que MARIA GAETANA AGNESI tenha errado na resolução dos que fez
acordada ou sonâmbula.

Ilustrações copiadas de:


http://en.wikipedia.org/wiki/File:Il frontispizio delle Instituzioni analitiche dell’ Agnesi.png, acesso
Març/12
http://it.wikipedia.org/wiki/File:5407 - Palazzo di Brera, Milano - Busto a Gaetana Agnesi - Foto
Giovanni Dall%27Orto, 1-Oct-2011.jpg, acesso Març/12
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 21

Referências

[1] AS MULHERES NA MATEMÁTICA, TCC de Kátia Cristina da Silva Souza, Licencianda em Matemática,
UCB/DF, Orientador: Sinval Braga de Freitas,
www.ucb.br/sites/100/103/TCC/22006/KatiaCristinadaSilvaSouza.pdf, acesso Març/12

[2] CURVA DE AGNESI


http://pt.wikipedia.org/wiki/Curva de Agnesi, acesso Març/12

[3] INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, Eves, H., tradução: Hygino H. Domingues, 3a edição,
Ed. Unicamp, SP: 2002,

[4] MARIA GAETANA AGNESI


http://instructional1.calstatela.edu/sgray/Agnesi/, acesso Març/12

[5] MARIA GAETANA AGNESI


www.robertnowlan.com/pdfs/Agnesi,%20Maria%20Gaetana.pdf, acesso Març/12

[6] 7 NOTÁVEIS MULHERES MATEMÁTICAS


www.fichariodematematica.com/2011/04/7-notaveis-mulheres-matematicas.html, acesso Març/12
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 22

M A R I E − S O P H I E G E R M A I N ( França,1776 - 1831)
A MATEMÁTICA QUE LANÇOU BASE DO QUE HOJE HÁ DE MAIS
AVANÇADO EM ENGENHARIA
¨Gosto da gota d’água que se equilibra na folha rasa, tremendo no vento.¨
Cecı́lia Meireles
Por Nascimento, J.B
UFPA/ICEN/Matemática
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E-mail: jbn@ufpa.br, Out/2011
Numa vista rápida, enxerga-se nas pirâmides egı́pcias e em alguns prédios atuais como obras
esplêndidas da engenharia de cada época. E o diferencial é abismal: enquanto as pirâmides são den-
tro de uma concepção de extrema rigidez, entendendo que vibração é perigosa, alguns atuais são
feitos exatamente para não cair por balançar durante terremotos.
Inúmeras pessoas contribuı́ram nisso, muitos anonimamente e de diversas áreas. E todo
que deu foi por fazer dos estudos algo de seriedade e determinação, portanto, superando diversos
obstáculos. Nesse caso, o que geralmente é raro, há uma contribuição inédita, fundamental e que
surpreende muita gente por ser de uma mulher. Posto que, historicamente essas sofrem discrimi-
nações e mais ainda na área dessa, matemática, o que ainda hoje é uma trágica realidade brasileira.
MARIE-SOPHIE GERMAIN, francesa, nasceu em 1776, época em que escola para
meninas era apenas o suficiente para escrever e ler cartas de amor. Na sua adolescência, em função
de grandes agitações sociais, especialmente na sua cidade, Paris, os seus pais colocaram-na para
passar o dia na biblioteca, portanto, proibida de sair na rua, quando teria lido e se encantado com
a vida e obra do matemático Arquimedes de Siracusa (287 a.C. - 212 a.C), reconhecidamente
um dos maiores matemático e engenheiro de todos dos tempos. Arquimedes foi morto por soldado
invasor enquanto transcrevia na areia da praia algum resultado, quando havia determinação supe-
rior de protegê-lo. Ou seja, mesmo prisioneiro seria valioso aos inimigos.
Germain demonstra interesse significativo por matemática ao ponto do tempo na biblioteca
ser insuficiente e adentrar na noite estudando no seu quarto. E além da preocupação com a saúde
dessa e da inutilidade que viam na época menina estudar matemática, os seus pais passaram em
racionar as suas velas e tudo mais para que ela fosse dormir mais cedo. Entretanto, a obstinação
de Germain convenceu-os do quanto nada disso fazia diminuir o seu interesse por matemática.
Havendo um dado relevante: os seus estudos capacitava, e só interessava, para ingressar na
École Polytechnique, que era o centro em termos de Ciência e Tecnologia, entretanto, proibido às
mulheres. Pior ainda: mesmo o seu pai sendo da burguesia nada podia fazer contra isso e, pela
agitação social reinante, seria até perigoso cogitar ingresso de mulher no equivalente hoje ao nı́vel
superior.
Germain coloca em evidência mais uma vez a sua singular obstinação e descobre haver
nessa um que não comparecia: Monsieur Antoine-August Le Blanc, E age como se fosse ele e
logo numa disciplina avançada ministrada pelo já famoso na época e seu compatriota, o matemático
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813). Lagrange toma um susto lendo trabalhos dos seus alunos.
Como Le Blanc, até então matematicamente obscuro, isso pelo fato de nem lembrar quem seria,
tinha evoluı́do tanto. Ante isso, Lagrange solicita presença na sua sala.
Lagrange teria tomado outro susto maior pela figura que adentra sua sala. É o primeiro a
falar observando que Le Branc deveria passar péssimos momentos por ter um peitoral tão avanta-
jado. Nisso, Germain releva toda verdade e ganha de Lagrange mais do que admiração, incentivo
para estudar matemática.
Paralelamente a isso, Germain, como se fosse Le Blanc, já vinha atravessando fronteiras
trocando correspondência com um dos maiores matemático de todos os tempos: Johann Carl
Friedrich Gauss(Alemanha, 1777-1855) e ganhara profundo respeito deste por conseguir fazer
comentários de alguns dos seus livros sem que esse visse nada que pudesse considerar qualquer
fraqueza matemática.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 23

Gauss reconhece da profundidade matemática de alguns trabalhos que recebe do que sabia
ser monsieur Le Blanc. Esse só soube da verdade muito depois, 1806, quando recebeu visita de
comandante francês que invadiu sua cidade, era a época das invasões francesas, e o avisa de que
estivera salvo de qualquer perigo por pedido direto da sua amiga Sophie Germain. Foi o que
ela pode fazer para não correr o risco de reviver o que ocorreu com Arquimedes. Isso mostra que
mesmo tendo contato social para tanto, nada pode fazer diretamente contra a proibição de mulher
ingressar na École Polytechnique.
Autora de vários resultados originais em matemática, uma das teorias que desenvolveu
tinha na raiz o fato de que certas vibrações, ao contrário da crença geral, ao invés
de destroçar as estruturas, derrubando-as, contribuı́am para mantê-las. É nisso, Su-
perfı́cies Elásticas, que versa um dos seus trabalhos e pelo qual ganhou, em 1816, prêmio da
Academia Francesa de Ciência, tornando-se a primeira mulher a ser aceita nessa. E a primeira
grande obra de engenharia que se sabe aplicar isso é a Torre Eiffel, inaugurada em 1889 em Paris.
E cometeram uma injustiça sem tamanho quando em lápide desta fizeram constar nomes de cientis-
tas e engenheiros que ajudaram na sua concepção, sem que constasse o nome de Sophie Germain.
Germain fez contribuição importante no já famoso Último Teorema de Fermat (Pierre
de Fermat, 1601 - 1665), o qual afirma que para todo n inteiro maior do que dois a equação
xn + y n = z n não possui solução nos inteiros. O feito dela é o maior de todos antes, sem que se
tenha notı́cia de algum que não tenha tentado, e perdurou assim por muitas décadas. Esse só foi
resolvido pelo matemático inglês Andrew Wiles em 1994.
Finalizando, Gauss submete à universidade de Göttingen, Alemanha, reconhecer trabalho
de Germain como tese de doutorado. E quando a documentação de aceite do tı́tulo chega, a
Matemática MARIE-SOPHIE GERMAIN havia falecido de câncer na mama.

Referência
- BOYER, C. B - História da Matemática, trad. Elza F. Gomide (IME/USP), 2 a Edição, Ed. Edgard Blücher
Ltdda, 1988, Pág. 347
- DISCRIMINAÇÃO TIRA MULHERES DE ÁREAS EXATAS E PREOCUPA GOVERNO,
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/discriminacao+tira+mulheres+de+areas+exatas+e+ preocupa+governo/
n1238144853610.html, acesso maio/2011

- EVES, HOWARD - Introdução à História da Matemática, tradução: Hygino H. Domingues, 3 a edição, Ed.
Unicamp, SP: 2002
- SINGH, S. - O Último Teorema de Fermat, Editora Record, 1998.
- SOPHIE GERMAIN: AN ESSAY IN THE HISTORY OF THE THEORY OF ELASTICITY,
http://books.google.com/books?id=tCTMGbB4wQ4C&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false, acesso
out/2011
- TARADA POR NÚMEROS, Revista Galileu,
http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT832482-2680,00.html, acesso out/11
- UM TEOREMA DE SOPHIE GERMAIN,
http://serolmar.wordpress.com/2010/12/14/um-teorema-de-sophie-germain/, acesso jan/11

(*) Foto em: http://www.math.rochester.edu/u/faculty/doug/UGpages/sophie.html, acesso out/11


Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 24

TORRE EIFFEL
CANDIDATA AO MAIOR SÍMBOLO DE DISCRIMINAÇÃO DA
MULHER EM MATEMÁTICA

MARIE-SOPHIE GERMAIN
(FRANÇA, 1776 - 1831) - VENCEU GRANDES OBSTÁCULOS PARA
ESTUDAR MATEMÁTICA E SENDO VENCIDA PELO PRECON-
CEITO
¨recentemente, uma colega, aluna do doutorado em matemática ¨pura¨,
em tom de lamento, contou-me que seu professor disse a ela
e às suas colegas, todas professoras universitárias:
¨se voc^es n~ao entendem nem isto, ent~ ao v~ao vender avon¨ [16]

Por NASCIMENTO, J. B.,


UFPA/ICEN/Matemática
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www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2011/124-edicao-93–abril/1189-novo-olhar-sobre-a-matematica,
Email: jbn@ufpa.br/ joaobatistanascimento@yahoo.com.br,
www.facebook.com/profile.php?id=100009348279475&sk=about&section=education

Além de marco do desenvolvimento tecnológico, sendo tudo disto fruto direto de racionali-
dades que estão até no substrato da matemática, a Torre Eiffel também acalenta sonhos dos mais
românticos, incluindo-se até mesmo para ser realizado só. Este último é do tipo que faz alguns re-
fletirem da possı́vel utilidade de ingenuidades ao visualizarem como exagero e radicalismo do poder
de se construir saberes quando se formata o que possa matar esses idı́lios.
Apostando haver capacidade em suportar incompreensão que possa gerar, mostrarei haver
por trás da sensibilidade estética que essa torre transmite, o coração de uma matemática balançando
fortemente embalado na mais profunda tristeza provocada pela injustiça de não colocarem o seu
nome na placa que homenageou contribuintes nesse avanço tecnológico.

Versão em lembrança da educadora matemática Beatriz D’Ambrosio, falecida em


21/09/2015
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 25

ALAVANCANDO CONHECIMENTO MATEMÁTICO NUMA SITUAÇÃO AB-


SURDAMENTE ADVERSA e VENCENDO SUA PRIMEIRA BATALHA: DAS VE-
LAS - MARIE-SOPHIE GERMAIN (Paris, 01/04/1776 - Paris, 02/06/1831) [2,3,6,7,10,17]
nasceu num tempo em que mesmo sendo a França um dos centros mais avançados, educação formal
para mulher não era nada além do necessário para que lesse e escrevesse simplórias cartinhas. E já
tendo conhecimento até de sobra nesse tocante e considerando as agitações polı́ticas e sociais, seus
pais decidiram não apenas retirá-la da escola, como ainda confiná-la em casa, quando tinha que
passar grande parte do dia na biblioteca do pai.

Ante tudo isso, assim como ocorreu com a imensa parte da população feminina da sua época,
em nada seria admirável caso Sophie tivesse apenas passado sua vida em tédio. Ocorre que essa
encontra na biblioteca exemplares em matemática grega, sendo o que virou sua paixão falava da
vida e obra de um dos maiores matemáticos de todos os tempos: Arquimedes de Siracusa (287
a.C. - 212 a.C).

Como dito, os pais colocaram-na apenas para passasse o dia na biblioteca e ela, achando
esse tempo pouco, convida alguns livros, pelo menos alguns de matemática, para o seu quarto, fi-
cando estudando até alta horas. Por isso, seus pais passaram inclusive racionar suas velas, fazendo
com que ela furtivamente escondesse restos de velas para ser possı́vel estudar, até que seus pais
percebessem ser uma batalha perdida.

BRILHANTISMO MATEMÁTICO E OUTRAS COISAS FARTAS, NÃO SÃO


FÁCEIS DE ESCONDER OU A BATALHA QUE ELA NÃO GANHOU POR NÃO
TER HAVIDA DE FATO - Germain atinge em poucos anos um alto nı́vel matemático, mesmo
sabendo que universidade francesa não aceitava mulher e menos ainda nesta área. E talvez até para
se certificar dos seus dotes, daria um jeito de aparecer, mesmo que fosse apenas para ¨visitar¨, no
que então se constituı́a no melhor departamento de matemática de toda França. Ficava na École
Polytechnique, cuja expressão mais representativa era o já famoso matemático Francês Joseph-
Louis Lagrange (1736-1813).

Ela descobre que o aluno Monsieur Antoine-August Le Blanc praticamente não apare-
cia e resolveu fazer por ele as listas de exercı́cios precisamente numa disciplina ministrada por La-
grange. Ao mesmo tempo, usava esse pseudônimo para se corresponder com outros matemáticos,
inclusive com o grandioso Johann Carl Friedrich Gauss (Alemanha, 1777-1855).

E mesmo que tais listas fossem dentro da prática mais comum, apenas reforço do já feito em
aula, o incomum talento matemático de Germain deixou marcas suficientes para que Lagrange
requeresse a presença do onsieur Le Blanc na sua sala para que recebesse os mais merecidos
elogios. Germain foi ao encontro desse vestindo-se de homem, mas seus seios a denunciam ante o
primeiro olhar de Lagrange.

Esse fato em nada mudou os elogios que Lagrange reservara para tal encontro, encorajou-a
assumir sua identidade e publicar seus trabalhos como tal, ao mesmo tempo em que tinha ante si
uma prova do quanto tal proibição de mulher fazer curso superior era ridı́cula. Portanto, Marie-
Sophie Germain não fez curso superior por alguma incapacidade ou deficiência de aprendizagem,
mas por causa de um processo de exclusão do mais baixo nı́vel.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 26

UMA VIBRANTE VITÓRIA OU SER MATEMÁTICA NÃO DEPENDE DE


TER DIPLOMA - Embora ainda seja atualı́ssimo quase não se enxergar outros valores além
de rituais acadêmicos e papel chamado diploma, mesmo quando isso transborda de mediocridade,
[12], Marie-Sophie Germain acabava de ganhar um bem de valor inestimável: carinho e respeito
matemático de Joseph-Louis Lagrange, simplesmente um dos maiores matemáticos franceses
de todos os tempos. O que sempre será algo suficiente para um ser comum, mas pouco para essa
adorável matemática.

Pois, como Monsieur Le Blanc, ela já tinha ganho isso e muito mais do majestoso Johann
Carl Friedrich Gauss ao fazer crı́ticas de alguns resultados desse e apresentar alguns dos originais
que havia produzido. Gauss também ficou sabendo quem de fato era essa pelo seguinte: ao haver
uma invasão francesa na região, o comandante colocara em proteção toda propriedade de Gauss e
entrega-lhe uma carta em que essa se identifica e avisa haver ordens expressas de não importuná-lo.

Germain, como já disse, conhecia da trágica história de Arquimedes de Siracusa haver
sido morto por soldado invasor que achou fosse esse apenas um velho rabugento que dizia insolência
por esse pisar nos seus desenhos. Este é um exemplo do quanto a falta de conhecimento pode matar.
O chefe militar tinha por ordem manter Arquimedes vivo, sendo que sua falha foi compensada com
a morte do soldado. Assim, Gauss fica sabendo que tinha por ardorosa fã uma jovem francesa que
o tomava por tão valioso quanto Arquimedes e também sendo essa uma matemática esplendorosa.

Em 1816, Marie-Sophie Germain ganha um prêmio da Academia Francesa de Ciência


com um trabalho em superfı́cies elásticas, consagrando-se em definitivo como matemática e
ainda sendo a primeira mulher a ser aceita em sessões dessa. E enquanto na sua França a situação
acadêmica não se alterava, na Alemanha de então, pessoas da posição acadêmica do nı́vel de Gauss
podia coligar trabalhos de alguém da sua área e propor um tı́tulo de doutorado. Assim fez Gauss,
sendo aprovado e antes que fosse receber, Marie-Sophie Germain falece de câncer nas mamas.

ERGER TORRE QUANDO SE SABE DOS FUNDAMENTOS MATEMÁTICOS


DE SUSTENTAÇÃO PODE SER FÁCIL, MAS DERRUBAR PRECONCEITO NÃO
É - Marie-Sophie Germain, até com as inestimáveis colaborações e estı́mulos tanto de La-
grange quanto de Gauss, obteve uma ampla formação em matemática e uma paixão por teoria
dos números, fazendo com que ela obtivesse sucesso onde centenas de matemáticos simplesmente
afundaram. Pois, ela conseguiu um imenso avanço num famoso teorema de Fermat [Pierre de
Fermat (França, 1601 - 1665)]. Esse problema é pelo seguinte: ao contrário da abundância quando
n = 1, para n = 2 há algumas ternas de números naturais (x, y, z), chamadas de ternas pitagóricas,
como (3, 4, 5), em que x2 + y 2 = z 2 , i.e., x, y são tamanhos de catetos e z de hipotenusa de
um triângulo retângulo. O que ficou conhecido pelo Último Teorema de Fermat diz que para
n > 2, xn + y n = z n não tinha solução de terna de naturais, fora da trivial x = y = z = 0. Esse
resultado, [2,5,6, 17], foi demonstrado em m 1995 pelo matemático inglês Andrew Wiles.

E, voltando no tempo, quando em 1794 fundaram a École Polytechnique, tinham por obje-
tivos trazerem novas percepções e capacitarem com mais qualidade em matemática e engenharia.
Porém, o já exposto prova que o preconceito contra ingresso de mulher impôs um dano simples-
mente irreparável no campo da matemática. E como isso se soma, em termos de engenharia é tudo
absurdamente lastimável.

Germain introduziu pioneiramente estudo de vibrações em placas, o que a fez ganhar


prêmio da Academia e que trouxera no bojo a percepção de que se revelou o novo marco da engen-
haria: certas vibraç~oes n~ao destruiria a estrutura, como em alguns casos seria isso
necessário para mant^ e-la. Em outras palavras: se formos verificar com quem começou essa
possibilidade permitindo hoje haver prédio que balança durante terremoto sem cair e, portanto,
salvando vidas, a História da Ciência indica sem nenhuma sombra de dúvida: Marie-Sophie
Germain.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 27

Finalizando, ocorre que também como forma de comemorar essa nova época da engenharia
francesa, tendo a École Polytechnique, como centro de excelência, construı́ram em 1889 a Torre
Eiffel, a qual nada mais é do que avó da tecnologia francesa desses prédios atuais que balançam.
Portanto, é a primeira obra de alta engenharia que aplica os resultados de Germain.
E, como fruto insano da discriminação contra mulher, na base da torre colocaram os nomes de
quase uma centena de colaboradores dessa nova engenharia, mas não o de MARIE-SOPHIE
GERMAIN.
(*) Figuras que ilustram foram copiadas dos seguintes endereços:
www.uniquecoloringpages.com/eiffel-tower-coloring-pages-and-book.html,
www.scienza3.altervista.org/eventi/Germain.html

Referências
[1] Bodanis, D., Mentes Apaixonadas, trad: Carolina de Melo Araújo, Ed. Record,
www.record.com.br/livro sinopse.asp?id livro=26164, acesso set/15
[2] Boyer, C. B., História da matemática, 11o . ed. , São Paulo, Edgard Blucher, 1974.
[3] Bruno, S.S., TCC: O Último Teorema de Fermat para n = 3, Orientador; Silas Fantin DME/UNIRIO,
www2.unirio.br/unirio/ccet/profmat/tcc/o-ultimo-teorema-de-fermat-para-n-3, ag/15
[4] Equipe de Popularização da Ciência do CNPq, Artigo Aponta Primeiras Doutoras em Matemática no Paı́s,
13/Abr/2015,
www.cnpq.br/web/guest/noticias-popularizacao/-/journal content/56 INSTANCE a6MO/10157/2533999,
acesso ag/15
[5] Eves, Howard. Introdução à história da matemática. Trad. Hygino H. Domingues. Campinas: Editora da
Unicamp, 1995.
[6]Guedj, Denis. O teorema do papagaio. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
[7] IMPRENSAJOVENSCIENTISTAS, Conheça Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, Uma das Primeiras Doutoras
em Matemática do Brasil!, 02/2/20165, http://encontrodejovenscientistas.com/2015/02/02/conheca-maria-laura-
mouzinho-leite-lopes-uma-das-primeiras-doutoras-em-matematica-do-brasil/, acesso ag/15
[8] Kishi, Kátia, Divulga Cientista - Marı́lia Chaves Peixoto, Primeira Doutora em Matemática no Brasil,
17 de agosto de 2015, https://blogdivulgaciencia.wordpress.com/2015/08/17/divulga-cientista-marilia-chaves-peixoto-
primeira-doutora-em-matematica-no-brasil/, acesso ag/15
[9] Nascimento, J. B., Algumas Mulheres da História da Matemática e a Questão de Gênero em C& T - Marie-
Sophie Germain (França,1776 - 1831): A matemática que Lançou Base do que Hoje há de mais avançado em engen-
haria, http://sitiodascorujas.blogspot.com.br/2013/06/mulheres-na-matematica.html, acesso ag/15
[10] Nascimento, J. B., Professora Santana: Candidata a Melhor Docente do Ensino Básico Paraense, Blog
Chupa Osso, 23 Junho 2013, www.chupaosso.com.br/index.php/obidos/educacao/2453-proessora-santana-candidata-
a-melhor-docente-do-ensino-basico-paraense, acesso ag/15
[11] Nascimento, J.B., Gomes, S.C. L., Magno, C. S. e Moreira, A. M. S., Cicloide e Braquistócrona,
www.sobralmatematica.org/preprints/preprint 2015 01.pdf, acesso fev/15
[12] Nassar, Nagib - Estatı́sticas Cientı́ficas Alarmantes, www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=84791, acesso
fev/13
[13] O Globo, Iraniana é a Primeira Mulher a Ganhar Medalha Fields, o ¨Nobel¨ da Matemática, 13/08/2014
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/iraniana-a-primeira-mulher-ganhar-medalha-fields-nobel-da-matematica-
13579751, acesso set/15
[14] Prado, Quem é Melhor de Matemática: Homens ou Mulheres?, http://epocanegocios.globo.com/Revista/
Common/0,,EMI102752-16366,00-QUEM+E+MELHOR+DE+MATEMATICA+HOMENS+OU+MULHERES.html,
[15] Reutes, Educação Mundial para Meninas será Avaliada por Novo Índice Anual, 01/09/2015,
http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/educacao-mundial-para-meninas-sera-avaliada-por-novo-indice-anual-
17366909, acesso ag/15
[16] Silveira, M.R.A., A Crı́tica ao Ensino da Matemática, Amazônia - Revista de Educação em Ciências e
Matemática, V.2-n3-jul.2005/ dez.2005, V.2-n.4, 2006/jun.2006,
www.ppgecm.ufpa.br/revistaamazonia/vol 02/v02 p01.pdf, acesso maio/13
[17] Singh, S., O Último Teorema de Fermat, Ed. Record, 1998
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 28

MARY FAIRFAX SOMERVILLE (Escócia, 1780-1872)


A MATEMÁTICA QUE CONQUISTOU PARTE DO CÉU, MAS NÃO SE
LIVROU DE SOFRER CERTOS PRECONCEITOS TERRENOS
¨Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a minha sombra é que vai devagar.¨
Cecı́lia Meireles (1091-1964), Poetisa Brasileira
Por Nascimento J.B.
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, Març/2016

A máxima tão antiguı́ssima de que dinheiro vence tudo não valia na Escócia pela entrada do
séc. XIX ao ponto de que Os Elementos de Euclides não era vendido para quem fosse do gênero
feminino. Porquanto, o preconceito de que matemática não seria algo para mulher aprender vencia
a força da grana.

MARY FAIRFAX SOMERVILLE transpõe esta barreira pedindo que irmão seu com-
prasse o livro. E empreende autodidatamente uma jornada pela matemática ficando até conhecida
por ter estudado Traité de Mécanique Celeste do matemático Francês Pierre Simon Laplace
(1749 - 1827), a qual era, no geral, e mais ainda em termos de matemática, talvez a obra cientı́fica
mais intricada da época, ante o uso sistemático de Cálculo Diferencial e Integral. Por isso, ela foi
convidada, desafiada de fato, por sociedade de divulgação cientı́fica a fazer versão mais popular
disto.

Assim, em 1830 foi publicada a obra The Mechanisms of the Heavens de MARY
FAIRFAX SOMERVILLE, na qual incluiu os fundamentos matemáticos necessários e acrescen-
tou uma série de diagramas que reconhecidamente tornava a obra de Laplace mais acessı́vel. E a
parte em matemática foi de qualidade tão boa que justificou fazer, em 1832, outra publicação de
SOMERVILLE só disto intitulada de A preliminary dissertation on the mechanisms of
the heavens.

Fica admirável o nı́vel que essa chegou sozinha quando mesmo seguindo todo o ritual
acadêmico isso não é fácil. O todo serve para que toquemos de maneira bem suscita, e apenas
em poucos aspectos, nas dificuldades que estão postas no ensino da matemática no Brasil que blo-
queiam o desenvolvimento do aluno no tema Cálculo. Porém, esse bloqueio é generalizado, posto
que, os centros públicos brasileiros nunca se preocuparam em formar docente e os de matemática
aprofunda mais essa tragédia por não conceberem sequer haver seriedade em matemática das séries
iniciais, portanto, mata-se pela base.

A estrutura matemática central nas séries iniciais é N = {0, 1, 2, · · · , ∞(inf inito)}. E os


problemas começam quando tomam por simplório o quanto é 1 + 1. O péssimo ensino praticado
leva impor que isso é dois porque tem de ser dois e só pode ser dois. Obviamente que isso é fruto
de um adestramento, jamais de aprendizagem, posto que, o a ser ensino deve se revestir de elemen-
tos da filosofia, psicologia, história, etc, para que fundamente diálogos; de métodos que permitam
executar os operacionais propostos; e de parâmetros que nortearam os limites das aplicações na
estrutura a ser aprendida e quais espaços há para possı́veis outras abordagens.

Nisso até o filósofo da Grécia Antiga Sócrates colocou em dúvida como um objeto mais
outro produz novo objeto chamado de dois. E lamento que, tudo indica por medo da comunidade
pitagórica, esse não tenha se aprofundado mais na questão. E se foram ao ponto de intimidá-lo, não
há como as crianças não se sentirem ameaçadas quando mesmo experiências simples demonstram
que nisso há muito a ser pensado.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 29

Uma experiência das mais simples é colocar uma gota perfeitamente sobrepondo outra.
Para quem viu ocorrer uma gota caindo sobre a outra a contagem é que são duas gotas. Mas, para
quem estava fora do espaço e tempo dessa aplicação e agora tendo que responder vendo o resul-
tado, só pode falar racionalmente haver uma gota. Entretanto, para uma Ciência, como no caso da
Matemática, que pretende ser mais universal do que local, isso é de uma fragilidade terrı́vel. E o
quê mais se usa para romper isso? Força, imposição, medo e a tirania didática.

Vamos colocar um exemplo dentro do defendido aqui:

Fato a ser aprendido: oito dividido por dois.

Filosofia subjacente: repartir igualmente.

Método: pode ser desenhar oito palitos e duas pessoas e repartir igualmente os palitos en-
tre essas e determinar quanto exatamente será para cada uma. Se já sabe multiplicação, pode ser
usando a equivalência de que multiplicando por dois o quanto cabe a cada uma o produto é oito, etc.

Parâmetros: Quem garante, por exemplo, que o educando não teve experiência em que repartir
em partes iguais não se aplicou e que, como vivência humana, isso tinha até legitimidade? Como o
processo didático atua na superação disto? Quais reflexões permeiam isso?
2 0
A presença do zero impõe fatos como: e . Veja que o zero consta, falou-se de divisão e,
0 0
portanto, achar que todo haverá de ignorar, i.e., isso não existir de fato é por ter produzido fator
que oblitera todos esses. E partir-se para o simples inexistir por não existir, por ser impossı́vel
existir, etc., é engatinhar uma grande tragédia futuramente.

E isso avança via a questão do infinito quando aparece questionamentos do tipo ¨Quantos
naturais existem?¨, ¨Quando acaba?¨, etc., e conjuga com o anterior, fora outros como para do
0 ∞ ∞
todo k natural, k + ∞ = ∞, k × ∞ = ∞, ∞ × ∞ = ∞, etc., nos seguintes casos: , , , etc.
∞ 0 ∞
Note que tudo transpassa para a cadeia numérica N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R que deve ser construı́da
desde do Ensino fundamental e será aprofundada no Ensino Médio, sem que se detecte nenhum
ponto na formação docente no Brasil que não seja de ignorar tudo. Entretanto, Cálculo irá absorver
todo o aritmético anterior e superar algumas dessas situações que chamamos de indeterminadas.

Qual é a filosofia subjacente? Embora seja contribuição de muitos, quem condensa é Zenão
de Eléia, contemporâneo de Sócrates e que enfrentou até a ira da poderosa comunidade pitagórica.
Sendo apenas informativo nisso, considere um segmento unitário e suponha que num extremo tenha
ponto móvel que irá percorrer o segmento da seguinte forma: anda a metade, depois a metade da
metade que falta, seguido da metade da que falta e assim sucessivamente. A construção impede
obviamente que se mova mais do que uma unidade. E menos? Também não, posto que, sendo o
processo contı́nuo qualquer valor antes da unidade será superado ao mover-se por alguma metade.

Ou seja, estamos antes um impasse: seguramente não faz sentido dizer que se moveu
nem mais e nem menos do que uma unidade. Uma das possı́veis saı́da é admitir que moveu
uma unidade. Entretanto, :::::
esse ::::::::::::
¨admitir¨:::::::
gera ::::::
uma ::::::::
teoria,::::::
não ::::::
uma::::::::::
verdade:::::::::::
absoluta::::
e,
portanto, por isso não se determina ser impossı́vel outras possibilidades.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
E Cálculo
Diferencial e Integral ao qual estamos nos referindo é construı́do com base nessa admissão
que é a Teoria de Limite.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 30

x2 − 1 22 − 1
Exemplo: considere f (x) = . Se for para calcular f (2) = , todo o algébrico já
x−1 2−1
estudado se aplica normalmente. Porém, caso se queira fazer algum cálculo em x = 1 o educando
0
é levado ao obliterado pela forma de ensino . E uma vez que sua mentalidade tiver presa nisso
0
fundamentos dos estudos da mente são quase inválidos na superação, posto que, isso tem a mesma
equivalência de outros males dessa área.

O método que se aplica nisso é o seguinte: Considere que x seja um valor próximo de 1,
x2 − 1 (x − 1)(x + 1)
mas não esse. Nesse caso fica legı́timo f (x) = = = x + 1, pois sendo x 6= 1
x−1 x−1
o termo x − 1 6= 0 e, portanto, pode ser cancelado nas duas expressões. Ou seja, para x próximo
de 1 o que devo avaliar dentro dessa teoria é x + 1. :::::
Note:::::
que :::::
esse :::::
nem ::::::::
sempre::é:::::::
maior :::
do:::::
que :::
2,
posto que, posso tomar algum valor próximo do 1 e menor que 1, o que resulta em x+1 menor do
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
que 2. Por argumento análogo, esse também nem sempre é menor do que 2. Nesse caso digo que
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
x2 − 1
o limite da f (x) quando x tende a 1 é 2. Cuja notação é: lim = 2.
x→1 x − 1

Cálculo então é um conjunto de formalizações disto e aplicações decorrentes. E que isso em-
base processos que geram Ciência e Tecnologia é uma verdade posterior do que se chama, e sempre
é uma construção ideológica, o que venha ser isso. E construir um ensino da matemática que ajuste
tudo isso nunca se defendeu ser tarefa fácil e, portanto, menos ainda como fez MARY FAIRFAX
SOMERVILLE.

Finalizando, ela ainda iria levar com que a Royal Society of London
protagonizasse em 1842 um ato da mais extrema discriminação. Pois, inau-
guraram um busto seu no saguão, sem dúvida uma homenagem merecida,
porém, pelo menos como devia, sendo essa recebida em festa, MARY
FAIRFAX SOMERVILLE nunca o viu por ser proibida entrada de mulher
em tal recinto.

Ilustrações copiadas de:


A BUST OF MARY SOMERVILLE
http://vcencyclopedia.vassar.edu/collections-curiosities/mary-somerville.html, acesso Març/12
http://www.cambridge.org/gb/knowledge/isbn/item2708878/?site locale=en GB, acesso Març/12

Referências
[1] EARLY WOMEN SCIENTISTS
http://telasiado.suite101.com/early-women-scientists-a68086, acesso Marc/12
[2] INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, Eves, H., tradução: Hygino H. Domingues, 3a edição,
Ed. Unicamp, SP: 2002.
[3] MARY SOMERVILLE: SCIENCE, ILLUMINATION, AND THE FEMALE MIND (Cambridge Science Bi-
ographies)
www.amazon.com/Mary-Somerville-Illumination-Cambridge-Biographies/dp/0521622999, acesso Marc/12
[4] MARY SOMERVILLE AND THE WORLD OF SCIENCE
www.chronon.org/reviews/Mary Somerville.html, acesso Marc/12
[5] PERSONAL RECOLLECTIONS OF MARY SOMERVILLE, http://books.google.com.br/books/about/
Personal Recollections of Mary Somervill.html?id=srF6-GTae8EC&redir esc=y, acesso Marc/12
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 31

A D A L O V E L A C E (1815 -1852)
A MATEMÁTICA QUE FAZ PARTE DA BASE DA COMPUTAÇÃO
MODERNA ou A POETISA DAS NOVAS TECNOLOGIAS
¨A universidade constatou que metade do
gênero humano é constituı́da de mulheres e
que as mulheres são tão inteligentes quanto Por Nascimento J.B.
os homens.¨ http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
O porquê de Cambridge, uma das mais antigas
universidades do mundo, Passou a aceitar ingresso www.cultura.ufpa.br/matematica/?pagina=jbn
de mulher. Email: jbn@ufpa.br, Ab/2012
CHASSOT, A. I., A CIÊNCIA É MASCULINA?,
Coleção Aldus 16, Ed. Unisinos, 2a edição, 2006

Depois de objeto para preparar iguarias e guardar restos mortais, talvez o próximo mais
comum entre todas as culturas seja o que envolve processo mecânico para registrar e/ou fazer con-
tagem. Uma boa exposição nisso consta em [12]. Obviamente que uma má educação promove ojeriza
com o pensamento cientı́fico ao ponto de não respeitar o nı́vel de desenvolvimento dos saberes e
levar ao deslumbramento maléfico.
E um dos valores do pensamento matemático, uma vez delimitadas as hipóteses, isto é, o
contextual cientı́fico, histórico e cultural, é buscar, porquanto apreciar, os fatos decorrentes. Por
isso, do ponto de vista da evolução do saber o marcar quantidade em osso com riscos pode ser uma
evolução cientı́fica tão espetacular quanto o que representa o atual computador.
E quando em paı́ses como o Brasil todas as pesquisas do nı́vel da aprendizagem em matemática
induzem ser impossı́vel ensinar mesmo fazer contas básicas para humanos, não deixa de ser ad-
mirável haver como ensinar máquina fazer isso. Obviamente nisso se envolveram pessoas que fiz-
eram do estudar e aprender algo expressivo das suas vidas. O objetivo aqui é um pouco de apenas
uma dessa.
ADA AUGUSTA BYRON KING, britânica, reconhecida como
CONDESSA DE LOVELACE, filha do famoso poeta Lord Byron
(1788-1824), teve desde da infância, por razões pessoais da sua mãe, os
seus estudos mais direcionados para exatas, embora estejamos falando de
uma época em que mulher pouco tinha acesso ao ensino formal.
E teve, formal ou informalmente, como docentes de matemática
expoentes históricos, tais como: Augustus De Morgan (1806-1871),
Charles Babbage (1791-1871) e Mary Fairfax Somerville (1780-1872).

Quando Ada conheceu Babbage, 1833/4, este estava empenhado em construir a máquina
que é considerada a versão mais próxima dos atuais computadores. Esta, em termos apenas de
máquina, disputa hoje primazia com a recentemente descoberta da Anticı́tera da Grécia Antiga,
[5-8], Porém, a máquina de Babbage traz algo espetacular: a possibilidade de programá-la.
Ada encanta-se ante tal possibilidade e aplica os seus conhecimentos matemáticos na criação
de programas para máquina de Babbage e, portanto, tornar-se a primeira programadora da
história. Inventa o conceito de subrotina, que é um subprograma que pode ser usando em diversos
pontos do original, porquanto, funciona como nó de um laço que serve aos fios que passam por esse.
E vai muito além do seu tempo quando teoriza no que viria ser o desvio condicionado: a própria
leitora que alimenta o programa desviaria para um outro programa quando satisfeita proposição
do tipo ¨se¨.
Lembrando que o nosso objetivo é matemática, porquanto, delinear o que pode servir de base
para estudo, começo fixando a seguintes situação: estamos ante uma cultura em que todo só sabe
contar de 1 a 5, acrescido por algo como ¨muito¨ (M) para toda quantidade que ultrapasse a isso
e que ainda esse saiba fazer o que é possı́vel de conta de somar tal qual fazemos com quantidades
inteiras. Assim a sua ¨tabuada¨ de soma é a seguinte:
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 32

Nesse caso, a tendência é dividir essa


¨tabuada¨ com duas zonas: a representada
pelo triângulo superior, passiva de com-
putação, no sentido de ficar possı́vel fazer uma
máquina que reproduza esses resultados e pelo
triângulo inferior, não-computável, no sentido
de não parecer ser possı́vel fazer uma máquina
controlando resultados disto.

É preciso se dizer que nada dito impede que o pensamento matemático abstrato esteja
atuando nessa zona do triângulo inferior, quiçá, desenvolvendo elementos culturais. Como, por ex-
emplo, desenvolvendo noção de ¨muito muito¨ e outros derivados. Bem como, não se discute em
matemática ser essa cultura inferior ou superior, apenas se estuda todas as possibilidades matem-
aticamente possı́veis dentro dessas condicionantes.
Por mais estranho que pareça, o computador em geral é um ¨ser¨ de uma ¨cultura¨ que só
conhece 0 e 1; circuito ligado e desligado. Como então fica possı́vel esse operar tal qual fazemos,
por exemplo, com os Naturais N = {0, 1, 2, 3, · · · }? Parte pelo seguinte resultado:
T eorema - Fixado qualquer Natural k ∈ N − {0, 1}, que será chamado de Base, todo outro
número natural n 6= 0 pode se escrito unicamente da forma n = a0 × k 0 + a1 × k 1 + a2 × k 2 + · · · +
am × k m , onde os naturais ai ∈ {0, 1, 2, · · · , m − 1}, am 6= 0 e ap = 0, ∀ p > m.
Ilustro o caso em que k = 2 e n = 11. Pelo Algoritmo de Euclides, a divisão de 11 por 2
produz por quociente 5 e deixa resto 1. Logo: 11 = 1 + 2 × 5 = 1 × 2 0 + 2 × 5. Por sua vez, 5 divido
por 2 produz quociente 2 e resto 1. Ou seja, 5 = 1 × 20 + 2 × 2 = 1 × 20 + 1 × 22 e substituindo esse
resultado no anterior, fica 11 = 1 + 2 × 5 = 1 × 20 + 2 × (1 × 20 + 12 ) = 1 × 20 + 1 × 21 + 1 × 23 .
Por isso dizemos que 11 = (111)2 [lê-se: um, um, um na base 2] e o Algoritmo de Euclides diz
que no caso base 2 só restará 0 ou 1.
Voltando à personagem central, um trecho que relata da vida cientı́fica dela é o seguinte (g.n):

[Não são todos que acreditam na contribuição de Ada na criação de Babbage. Dorotothy
Stein, autora de um livro biográfico da Condessa, declara que a maioria dos programas
escritos e estudados foram feitos pelo criador da máquina. E essa constatação não saiu de
sua imaginação. Babbage escreveu em Passages from the Life of a Philosopher em 1864:
”Eu então sugeri que ela [Ada Lovelace] acrescentasse algumas notas na tradução de
Menebrea, idéia que foi imediatamente adotada. Nós discutimos juntos várias interpretações
que poderiam ser introduzidas: Eu sugeri várias, mas a seleção foi inteiramente dela. Da
mesma maneira que aconteceu com o trabalho algébrico em diferentes problemas, exceto, de
fato, aquela sequência de números de Bernoulli, na qual eu havia me oferecido a fazer para
poupar a Lady Lovelace. Nisso ela me devolveu para fazer alguns ajustes, tendo detectado
um erro grave cometido por mim durante o processo.”]
Extraı́do de Ada Lovelace: Condessa britânica do século 19 e primeira programadora da
história http://henrique.geek.com.br/posts/19087-ada-lovelace-condessa-britanica-do-seculo-
19-e-primeira-programadora-da-historia, acesso Març/12

O quê quis dizer Babagge por ¨durante o processo¨? Se for um erro nas contas, ponto
para CONDESSA DE LOVELACE, cuja denominação carinhosa de Babbage era ¨A En-
cantadora dos Números¨. E é uma pontuação grande pelo seguinte: Babbage era oficialmente
matemático, professor dessa disciplina e uma das motivações que o levou produzir tal máquina era
por haver uma quantidade imensa de tabelas com erros, tais como: logarı́tmicas, trigonométricas,
etc.
Por outro lado, ao citar ¨processo¨ e não erro de conta, o altamente provável é que estivesse
se referindo com isso a programação em si e novamente isso mostra ADA dominando com mais
maestria esse tema.E não é simples separar o feito por duas pessoas geniais, mas cientificamente
reduzi-la a mera espectadora é inconcebı́vel.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 33

Finalizando, atualmente em sua homenagem existe a Linguagem


de Programação ADA e sua mãe, Anne Isabelle Milbanke, se
possı́vel fosse saber do que se faz hoje por programação computacional,
entenderia que a sua tentativa de desviar sua filha da poesia fracas-
sou. Posto que, programação é uma arte do mesmo nı́vel das obras dos
maiores poetas e do mesmo sabor Por isso, considero a CONDESSA
DE LOVELACE como A MATEMÁTICA POETISA DAS NO-
VAS TECNOLOGIAS.
Ilustrações copiadas de
http://henrique.geek.com.br/posts/19087-ada-lovelace-condessa-britanica-do-seculo-19-e-primeira-
programadora-da-historia, /www.well.com/user/adatoole/, acessos Març/12, assim como os demais
links.

Referências
[1] ADA BYRON KING - A CONDESSA DE LOVELACE
www.miniweb.com.br/atualidade/tecnologia/artigos/ada %20byron.html,
[2] ADA BYRON LOVELACE
http://mikezatir.wordpress.com/2008/12/09/november-25-2008/
[3] ADA LOVELACE, Sharla D. Walker
http://myhero.com/go/hero.asp?hero=a lovelace
[4] ADA LOVELACE.WMV
http://www.youtube.com/watch?v=68vQ7C7gJSI
[5] ”COMPUTADOR”GREGO CALCULAVA ECLIPSES E DATA DAS OLIMP ÍADAS, por JR Minkel, Scien-
tif American, 11/08/2008
www2.uol.com.br/sciam/noticias/-computador- grego calculava eclipses e data das olimpiadas imprimir.html
[6] MÁQUINA DE ANTICÍTERA, blog Café com Ciência
http://cafecomciencia.wordpress.com/2009/10/12/maquina-de-anticitera/
[7] MÁQUINA DE ANTICÍTERA
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1quina de Antic%C3%ADtera
[8] MECANISMO DE ANTICÍTERA: COMPUTADOR DE 2 MIL ANOS REPLICADO EM LEGO
www.youtube.com/watch?v=CjyKkTwvpn8
[9] O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (Alan Turing e a Invenção do Computador), Leavirr, D., Ed. Novo Con-
ceito, 2011
[10] PROVA DE GÖEDEL, Nagel, E., e Newman, J.R., 2a edição, Ed. Perspectiva, 1998
[11] THE CALCULATING PASSION OF ADA BYRON
www.amazon.com/The-Calculating-Passion-Ada-Byron/dp/0208021191
[12] TURING E O COMPUTADOR, Strathern, P., Série 90 minutos, Ed. Jorge Zahar, RJ, 2000
[13] CIÊNCIA: SUBSTANTIVO FEMININO, Cássio Leite Vieira, Ciência Hoje / RJ, 08/06/2010,
http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/ciencia-substantivo-feminino/?searchterm=matem%C3%A1tica
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 34

S O N J A K O V A L E V S K Y (1850 - 1891)
A MATEMÁTICA QUE FAZIA QUESTÃO DE ESTUDAR
COM GRANDES MESTRES E SUPEROU ALGUNS DESSES
¨O fator humano é o elemento fundamentalmente incerto
e inconstante na vida social e em todas as instituições sociais.¨
Karl Popper (1902-1994)

Por Nascimento J.B


http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, nov/2011

O quê teria levado uma jovem russa enfrentar todo tipo de


preconceito percorrendo grandes centros da época para estudar
com os mestres mais afamados e numa área historicamente inóspita
ao seu gênero? Talvez uma época de frio tenebroso possa explicar. Pois,
ante uma situação dessa os seus pais forraram o quarto da então adolescente
SOPHIA KORVIN-KRUKOVSKY com anotações em cálculo que o seu
pai havia cursado.

Ela decide estudar essas e colocá-las em ordem, portanto, revela um profundo apreço por
matemática e disposição para enfrentar toda aleatoriedade. E superou tudo ao ponto de ir aos 17
anos estudar Cálculo Diferencial e Integral com professor da Escola Naval de S. Petersburgo, algo
impossı́vel se não tivesse demonstrado habilidades muito além da média.

E uma vez ser proibido ingressar mulher em universidade russa, haver barreiras sociais e fa-
miliares impedindo-a estudar em outros paı́ses, essa não se deu por vencida, faz casamento arranjado
com Wladimir Kovalevsky e, porquanto, nascia sua denominação SONJA KOVALEVSKY,
como consta nos anais da História da Matemática.

Em seguida o casal muda-se para Heidelberg, onde KOVALEVSKY assiste preleções com
o matemático Paul de Bois Reymond (1831-1889), os fı́sico-matemático Gustavo Kirchhoff
(1824-1887), Hermann Helmholz ( 1821-1894) e Leo körnigsberg (1937-1921). E este último
chama sua atenção para um mestre: Karl Weierstrass (1815 - 1897), já famoso nessa época e tem
tudo para continuar eternamente consagrado como um dos maiores analistas.

KOVALEVSKY não teve qualquer dúvida. Foi para Berlim objetivando estudar com
Weierstrass e encontrou o mesmo preconceito vigente no seu paı́s quanto à mulher fazer curso
superior. Weierstrass encanta-se com o nı́vel matemático dessa e aceita-a como aluna particular
repetindo-lhe o que fazia na universidade, entre 1870-1874. E KOVALEVSKY vai muito além
de ¨graduar-se¨ com todos os méritos. Obteve resultados que melhoravam trabalhos dos mais
altos nı́veis. Um desses, em Equações Diferenciais Parciais - EDP, generalizava resultado do
famoso matemático Francês Augustin-Louis Cauchy (1789 -1857), sendo hoje conhecido por
TEOREMA DE CAUCHY-KOVALEVSKY [3], [5], [6] e [7]. Por esse trabalho ela obteve o
tı́tulo de Doutora em Filosofia pela Universidade de Göttingen, do qual foi dispensada da defesa
oral. E o seu trabalho valia tanto que basta apenas recolocá-lo em linguagem atual que isso é capaz
de compor tese de mestrado na área e defensável nos maiores centros do Brasil

KOVALEVSKY ingressa em 1884 como docente de matemática de nı́vel superior na uni-


versidade de Estocolmo, na época em que Mittag-Leffler (1846-1927) era docente desta univer-
sidade, sendo esse um feito de extrema raridade. Conquista de forma singuları́ssima, em 1888, o
Prêmio Bordin da Academia Francesa com o trabalho ¨Sobre o Problema de Rotação
de um Corpo Sólido em Torno de um Ponto Fixo¨, quando havia cerca de quinze (15)
concorrentes e por ser o seu tão superior aumentaram o valor do prêmio de 300 para 500 francos.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 35

Assim, KOVALEVSKY percorreu um longo circuito de matemática brilhante pelos maiores


centros da Europa e regressa à sua pátria, a qual negara-lhe estudo universitário, como a primeira
mulher da Academia de Ciências da Russa. E, finalmente, tudo aqui visa honrar o lema que
SONJA KOVALEVSKY tanto prezava: ¨diga o que você sabe, faça o que você deve,
conclua o que puder.¨

(*) A Foto ilustradora consta em:


http://wikis.educared.org/certameninternacional/index.php/ SONIA KOVALEVSKY?w=115, acesso nov/11

Referências
[1] A poetisa das equações - Como Sonya Kovalevskaya venceu preconceitos e abriu portas para as mulheres,
Revista Galileu,
http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT596217-2680,00.html, acesso nov/11
[2] BOYER, C. B - História da Matemática, trad. Elza F. Gomide (IME/USP), 2 a Edição, Ed. Edgard Blücher
Ltdda, 1988, Pág. 347
[3] DISCRIMINAÇÃO TIRA MULHERES DE ÁREAS EXATAS E PREOCUPA GOVERNO,
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/discriminacao+tira+mulheres+de+areas+exatas+e+
preocupa+governo/n1238144853610.html, acesso nov/2011
[4] Cooke R., The Cauchy-Kovalevskaya Theorem,
http://www.emba.uvm.edu/ cooke/ckthm.pdf, acesso nov/11
[5] EVES, HOWARD - Introdução à história da matemática, tradução: Hygino H. Domingues, 3 a edição, Ed.
Unicamp, SP: 2002, pág. 618 - 620
[6] GANTUMUR T., MATH 580 LECTURE NOTES 2: THE CAUCHY-KOVALEVSKAYA THEOREM,
http://www.math.mcgill.ca/gantumur/math580/downloads/notes2.pdf, acesso nov/11
[7] Ghisi M., The Cauchy-Kovalevsky Theorem and Noncompactness Measures, J. Math. Sci. Univ. Tokyo, 4
(1997), 627-647.
http://journal.ms.u-tokyo.ac.jp/pdf/jms040307.pdf, acesso nov/11
[8] Zuazua E., Equaciones en derivadas parciales,
http://pt.scribd.com/doc/58813604/5/El-Teorema-de-Cauchy-Kovalevskaya, acesso nov/11
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 36

EMMY N OET HER


(Baviera 1882 - Pennsylvania 1935)
A MATEMÁTICA QUE NOS LEGOU ANÉIS
BRILHANTES
Por Nascimento, J.B.
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, Dez/2011

¨Não vejo em que o sexo de um candidato possa


ser um argumento contra sua admissão como Privat-
dozent. Afinal, o Conselho não é nenhuma casa de
banhos¨
David Hilbert, 1862-1943, insurgindo contra os que
obstavam Emmy ser aceita como docente.

¨Um pouco de reflexão nos diz que as grandes


etapas da História brotam efetivamente do singular.¨
Beppo Levi, 1875-1961, matemático ı́talo-argentino,
autor da obra Lendo Euclides, Civilização Brasileira,
2008
www.on.br/certificados/ens dist 2008/site/conteudo/
modulo2/8-surge a trg/trg.html

APRESENTAÇÃO

É inegável ser AMALIE EMMY NOETHER uma das mais fundamentais


algebristas e Matemática das mais talentosas. Filha do algebrista e professor da
Universidade de Erlanger Max Noether (1844-1921), defendeu tese de doutorado
em 1907 intitulada Sobre Sistemas Completos de Invariantes para Formas Bi-
quadradas Ternárias, cujo orientador foi Paul Gordan (1837-1912). Sendo que
os trabalhos de EMMY NOETHER tiveram influência de matemáticos como
Ernst Fischer (1875-1959) e David Hilbert (1862-1943).

Além de ter sofrido pelos já arraigados preconceitos de gênero, EMMY


NOETHER foi uma das cientistas perseguida pelo nazismo, forçando-a ir para
os Estados Unidos, quando foi uma das integrantes do Instituto Avançado de
Princeton. E quando se consociam o abstracionismo que caracteriza sua área
e o nı́vel trágico do ensino da matemática, como é o caso brasileiro, essa fica
praticamente invisı́vel. Pois, quase nada do que ela desenvolveu, agora em termos
de graduação, é abordado. O que segue é tentativa de despertar interesse num dos
temas desenvolvido por EMMY NOETHER.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 37

O cerne da Álgebra, no caso univalente, é a Operação, a qual, dados os Conjuntos A, B


.
e C, não vazios, faz associar cada elemento de A × B = {(a, b); a ∈ A e b ∈ B} um único de C,
? : A × B 7−→ C, onde a ? b = c. É uma concepção abstrada, portanto, ficando irrevelado fatores
da natureza dos conjuntos e do que efetivamente essa operação faz. Essa é apenas a que chamamos
de Operação Binária e Univalente.
Mesmo no caso de Adição de Números Naturais dúvida, como essa socrática: ¨por
que um objeto mais outro é um novo objeto chamado dois?¨, tira toda trivialidade. E nesse caso,
definido que 1 + 1 = 2 o próximo passo 1 + 1 + 1, traz dúvidas se possı́vel fazer e por haver ordens
diferentes, tais como: ( 1 + 1 ) + 1 ou 1 + (1 + 1 ), onde os parênteses indicam o que se faz primeiro.
Quando necessário usaremos colchetes [ ] e chaves {} para ordenações posteriores. Ou seja, dada a
operação ? é relevante se faz sentido e se sempre ocorrerá (a ? b) ? c = a ? (b ? c), caso que se diz ser a
Operação Associativa. Pelo contrário é Não-Associativa. Portanto, tomando-se tal Adição no
Naturais por Associativa, temos: (1 + 1) + 1 = 2 + 1 = 3 = 1 + (1 + 1) = 1 + 2, [(1 + 1) + 1] + 1 =
(2 + 1) + 1 = 3 + 1 = 4 = 1 + [(1 + 1) + 1)] = 1 + (2 + 1) = 1 + 3, etc.
Note que na base definidora, 1 + 1, esses não guardam diferenciação de representação, pois
é pressuposto que alguma natureza do objeto representado pelo primeiro 1 consta na do segundo,
a qual estará na formação do objeto chamado 2. Por exemplo, 1 fruta + 1 fruta = 2 frutas, sem
que qualquer outra diferenciação dessas esteja sendo levada em consideração. E, dada a Operação
? qualquer, a validade da Comutatividade, a ? b = b ? a, ∀a, b, ou não, é tema de estudo.
Ante o exposto, estão construı́dos o Conjunto dos Naturais N = {0, 1, 2, 3, , . . . }, e a
Operação Adição m + n que é Associativa e Comutativa. Nesse caso dizemos ainda ser uma
Operação Interna por envolver elementos de mesma natureza - ou que se fez ou considere como
tal - e Fechada por resultar em elemento de um dos mesmos conjuntos. E o papel do elemento 0,
por satisfazer m + 0 = 0 + m = m, ∀m ∈ N é definido por Elemento Neutro da Adição.
.
Já a Multiplicação de Números Naturais é dada, para m, n ∈ N − {0} = N∗ , por
m×n = m | +m+ {z· · · + m} = n
| +n+{z· · · + n} = n × m, complementado com m × 0 = 0 × m =
n−vezes m−vezes
0, ∀ m ∈ N. Essa também fica Associativa, Comutativa, Interna e Fechada. E o Elemento
Neutro dessa é 1, posto que, 1 × m = 1| + 1 +{z· · · + 1} = m = 1 × m, ∀m ∈ N − {0} e 1 × 0 = 0
m−vezes
E quando há mais de uma operação fica possı́vel valer a Propriedade Distributiva de uma
operação em relação a outra, a qual vale nos Naturais, i.e., (m+n)×k = m×k +n×k, ∀m, n, k ∈ N.
E ainda temos nos Naturais:
- Potência - Dados m, n ∈ N, com n 6= 0, mn = m
| ×m×
∗ 0
{z· · · × m}. E, ∀m ∈ N , m = 1.
n−vezes
- Ordenação - Dados m, n ∈ N, dizemos que m < n ( Lê-se: ¨m menor do que n¨), que é
equivalente n > m ( Lê-se: ¨n maior do que m¨), quando existe k ∈ N∗ tal que n = m + k, Caso
não se queira excluir haver igualdade, ser k = 0, denota-se por m ≤ n (respect. n ≥ m ).
-Subtração - Dados m, n ∈ N, com m ≤ n , n − m = k ∈ N tal que n = m + k.
- Divisão - Dados m, n ∈ N, com n 6= 0 , dizemos que n divide m , n|m , quando existe k ∈ N
tal que m = n × k
Teorema - Sejam m, n, p ∈ N∗ , tal que m|n e n|p. Então m|p.
Prova: Como m|n e n|p, temos que existem k1 , k2 ∈ N∗ tal que n = k1 × m e p = k2 × n ∴ p =
k2 × (k1 × m) = (k2 × k1 ) × m ∴ m|p
Algoritmo da Divisão de Euclides - Dados m, n ∈ N, com n 6= 0, existem únicos
q, r ∈ N, com r < n , tal m = n × q + r.
Alguns Subconjuntos de N que integram estudos interessantes:
- Dos Divisores de m, D(m): Dado m ∈ N, esse é formado por todos os seus divisores. Ex.
D(10) = {1, 2, 5, 10} e D(0) = N∗ .
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 38

- Subconjuntos Gerados por m: Aditivamente m + N = {n + m; n ∈ N} = {0 + m, 1 +


m, 2 + m, 3 + m, . . . e multiplicativamente ou dos Múltiplos mN =< m >= {n × m; n ∈ N} =
{0 × m, 1 × m, 2 × m, 3 × m, . . . }
Número Primo - p ∈ N∗ − {1} é dito Primo quando só é divisı́vel por 1 e si mesmo. Isto é, p
é Primo se, e somente se, D(p) = {1, p}
Fatoração - Dado m ∈ N∗ − {1}, m = pr11 × pr22 × · · · × prkk , onde pi , i = 1, 2, . . . k, são primos e
ri 6= 0. Nesse caso, a quantidade de divisores de m, i.e, a cardinalidade do conjunto dos divisores
de m, #(D(m)), é (r1 + 1) × (r2 + 1) × · · · × (rk + 1).
Prova: Sejam m > 1. Caso m seja da forma pk , onde p é primo, essa é a fatoração e o seus
divisores são 1, p, p2 , · · · , pk , portanto, tem r +1 divisores. Deixamos para o leitor fazer o caso geral.
O exposto acima nos diz que os Primos e suas potências geram os naturais m ∈ N ∗ − {1} e
uma pergunta nisso era quanto ser esses em quantidade finita ou infinita. A resposta já constava
em Os Elementos de Euclides, sendo a seguinte.
Teorema: Existe uma quantidade não finita de números naturais primos.
Um fato relevante é estudar operação quando restrita aos subconjuntos. E a Adição e a
Multiplicação de naturais quando restritas aos Subconjuntos Gerados m + N e < m > fi-
cam invariantes. Isto é, dados t, s ∈ m + N [ Respect. t, s ∈ mN], temos que t + s ∈ m + N e
t × s ∈ m + N [ Respect. t + s ∈ mN e t × s ∈ mN]
Um modo de ampliar tudo isso é definindo estruturas algébricas mais abrangentes. Vamos
expor um pouco disto.
Definição - Um Conjunto não vazio G com uma operação interna e fechada ? : G × G 7−→ G
é dito ser Grupo Associativo quando para todo a, b, c ∈ G, valem:
1) Associatividade - a ? (b ? c) = (a ? b) ? c
2) Existência do Elemento Neutro - Existe e ∈ G tal que a ? e = e ? a = a, ∀a ∈ G
3) Inverso à direta - Dado a ∈ G, existe b ∈ G tal que a ? b = e. E é dito à esquerda, nas
mesmas condições, se b ? a = e
Caso seja válido em todo caso que a ? b = b ? a, G é dito Grupo Abeliano [ Homenagem
ao matemático norueguês Niels Henrik Abel(1802 - 1829) ] ou Comutativo, quando o inverso
à esquerda e à direta são os mesmos e denotado por a−1 . E a Teoria de Grupo é um campo atual
de pesquisa em matemática englobando quando não é associativo e/ou comutativo. E no que seque,
se nada for dito ou mesmo dispensável, Grupo já incluirá ser associativo e abeliano.
Teorema - Em um Grupo (G, ?) toda equação a ? X = b tem por solução X = a −1 ? b.
Por isso, (N, +) não é Grupo por não haver natural que resolva equação como 3 + X = 1
e nem (N, ×) ou (N∗ , ×) são Grupos. Já (Z = {. . . , −2, −1, 0, +1, +2, . . . }, +) com a Adição usual
é Grupo. E denotando a multiplicação por um ¨·¨ ao invés de ¨×¨, em (Z, ·) ou (Z ∗ , ·) equações
como 3.X = 4 não têm soluções nos inteiros e, portanto, não são Grupos.
E mais um conceito algébrico é o seguinte:
Relação de Equivalência - Seja A 6= ∅. Uma relação ∼ entre elementos desse, portanto, em
A × A, é dita de equivalência, se satisfaz:
a) Reflexiva: ∀a, a ∼ a b) Simétrica: a ∼ b 7−→ b ∼ a c) Transitiva: a ∼ b e b ∼ c , então a ∼ c
.
Classes de Equivalência - Essa é, dado a ∈ A, o subconjunto a = [a] = {b ∈ A; a ∼ b}.
As quais são iguais para elementos relacionados e disjuntas se não for o caso, i.e., se a  b, então
a ∩ b = ∅. Portanto, uma relação de equivalência em A o divide em subconjuntos disjuntos for-
madores das classes, i.e., A = ∪˙ a∈A [a] e significa que, se possı́vel definir uma operação que não
dependa do representante da classe, ser viável tratar cada classe como um elemento.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 39

Ex1 - Construção dos Racionais - Q - Defina em Z × Z∗ que (a, b) ∼ (c, d) ⇐⇒ a.d =


b.c. Mostre que é uma Relação de Equivalência e, para efeito didático, represente a Classe de
a a c . a.d + b.c a c . a.c
Equivalência de (a, b), [(a, b)], por . Depois, faça + = e · = . Para
b b d b.d b d b.d 0 0
validade disto é preciso mostrar que não dependem dos representantes. Isto é, se (a, b) ∼ (a , b ) e
a c a0 c 0 a c a0 c 0
(c, d) ∼ (c0 , d0 ), então + = 0 + 0 e · = 0 · 0 . É por isso que quando estamos operando
b d b d b d b d
com Frações a troca de qualquer uma dessas por outra da sua Classe de Equivalência não altera o
resultado.
Teorema - Ambos, (Q, +) e (Q∗ ·) são Grupos
Ex2 - Congruência em Z - Dados m ∈ N∗ − {1} e p, q ∈ Z dizemos que ¨p é côngruo a q
módulo m¨, p ∼= q (mód. m), quando m|(p − q) ou, equivalentemente, p − q ∈< m > ou p − q = m.k,
para algum k ∈ Z. E para todo p ∈ Z, como Algoritmo de Euclides continua válido em Z, existe
0 ≤ r ≤ m − 1 tal que p = m.k + r ⇐⇒ p − r = m.k ⇐⇒ p ∼ = r (mód. m). Ou seja Todo inteiro
já pertence a uma das Classe 0, 1, · · · , m − 1 e para quaisquer dois 0 ≤ r1 , r2 ≤ p − 1, temos que
Z .
r1  r2 (mód. m). Nesse caso denotamos: = Z/mZ = Zm = { 0, 1, · · · , m − 1}
mZ
Definindo em Zm : r1 ⊕ r2 = r1 + r2 e r1 ⊗ r2 = r1 · r2 , observando que, por exemplo,
para m = 6 ocorre de 2 ⊗ 3 = 2 · 3 = 0, temos:
Teoremas a) ∀m ∈ N, (Zm , ⊕) é Grupo. b) (Z∗m , ⊗) é Grupo se, e somente se, m é Primo.
Definição - Seja (G, ?) Grupo. ∅ 6= H ⊂ G é dito Subgrupo quando (H, ?) for Grupo.
Teorema - Um subconjunto não vazio H é subgrupo de (G, ?) se, e somente se
i) ∀h, k ∈ H, h ? k ∈ H ii) ∀h ∈ H, h−1 ∈ H
Teorema - Nas hipóteses anterior, se H for finito basta i) ser verdadeira.
Seja (G, ?) grupo e a ∈ G. Definindo a0 = e, para n ∈ N∗ an = a ? an−1 , a−n = (a−1 )n
e < a >= {an ; n ∈ Z}, a propriedade an+m = an ? am diz que (< a >, ?) é Subgrupo de G,
designado por Subgrupo Cı́clico Gerado por a. Caso exista algum a ∈ G tal que < a >= G,
dizemos que (G, ?) Grupo Cı́clico. E mais ainda: dado um subconjunto qualquer V ⊂ G, com
V −1 = {a−1 ; a ∈ V }, então < V >= {a1 ? a2 ? · · · ? an , ai ∈ V ou V −1 } é Subgrupo, chamado
de Subgrupo Gerado por V , o qual é o menor\ subgrupo contendo V , i.e, se H é subgrupo e
V ⊂ H, então < V >⊆ H e ainda: < V >= Hi .
Hi subgrupo, V ⊂Hi
Homomorfismo de Grupo - Sejam (G, ?) e (K, ∗) grupos. Uma aplicação ψ : G 7−→ K é dito
um Homomorfismo quando ψ(a ? b) = ψ(a) ∗ ψ(b), ∀a, b ∈ G, Nesse caso são válidas:
a) ψ(eG ) = eK b) ψ(g −1 ) = [ψ(g)]−1 , ∀g ∈ G c) O Núcleo de ψ, também denotado por
Ker ψ, {a ∈ G; ψ(a) = eK } é subgrupo de G d) A Imagem, Im ψ, {ψ(g); g ∈ G} ⊂ K é
subgrupo.
Classes Laterais - Seja H um subgrupo de (G, ?). x ∼ y ←→ x ? y −1 ∈ H define uma relação
de Equivalência em G, sendo H uma das Classes. E um estudo interessante é determinar em que
condições essas Classes forma grupo ao induzirmos a operação para essas.
Definição - A 6= ∅ munido de duas operações + : A×A 7−→ A e · : A×A 7−→ A é chamado
de Anel quando satisfaz: a1 ) (A, +) é Grupo a2 ) ∀ a, b, c ∈ A, a·(b·c) = (a·b)·c
a3 ) ∀ a, b, c ∈ A, a · (b + c) = a · b + a · c e (a + b) · c = a · c + b · c.
Se ainda satisfaz (quando for necessário, supomos isso no que segue)
a4 )∀a, b ∈ A, a · b = b · a, é dito Anel Comutativo.
a5 )∃1 ∈ A; a · 1 = a, ∀a ∈ A, é dito Anel com Unidade.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 40

Note que todo inteiro não nulo é soma repetida de +1 ou −1. Por isso dizemos que (Z, +)
é gerado por −1, 0, +1. Assim como, todo inteiro diferente de 0 e 1 é, a menos de sinal, produto
de potências de primos. E sempre que a multiplicação estiver presente, e nada dito pelo contrário,
se diz que a estrutura é gerado quando todo elemento é combinação dessa forma, podendo ainda
acrescentar-se determinados coeficientes. E dependendo de situação geral, a quantidade necessária
poder ser finita ou não.
Definição - Dado um Anel (A, +, ·) e um subconjunto não vazio I ⊂ A, dizemos que esse é
Ideal se: I1 : (I, +) é Subgrupo de (A, +) I2 : ∀a ∈ A e r ∈ I, a · r ∈ I
Definição - Um Anel (A, +, ·) em que todo Ideal seja finitamente Gerado é chamado de
Noetheriano, [4].

Finalizando, é desse ponto em diante que os estudos de EMILY NOETHER ganham origi-
nalidade e profundidade.

Referências

[1] Boyer, C. B - História da Matemática, trad. Elza F. Gomide (IME/USP), 2 a Edição, Ed. Edgard Blücher
Ltdda, 1988
[2] Discriminação tira Mulheres de Áreas Exatas e Preocupa Governo,
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/discriminacao+tira+mulheres+de+areas+exatas+e+ preocupa+governo/
n1238144853610.html, acesso dez/2011
[3] Dean, R. A - Álgebra Abstrata, LTC, 1974
[4] Endle, O. - Teoria do Números Algébricos, Projeto Euclides, IMPA, 1986
[5] Eves, H. - Introdução à História da Matemática, trad. Hygino H. Domingues, 3 a edição, Ed. Unicamp, SP:
2002
[6] Garcia, A. e Lequain, Y. - Álgebra : Um curso de Introdução, Projeto Euclides, IMPA, 1988
[7] Gonçalves, A. - Introdução à Álgebra, Projeto Euclides, IMPA, 1979
[8] Herstein, I. - Tópicos de Álgebra, Ed. Polı́gono, 1970
[9] Lang, S. - Algebra, Addison Wesley, 1965
[10] Monteiro, L.H. Jacy - Elementos de Álgebra, IMPA
[11] Surge a Teoria Relativı́stica da Gravitação
www.on.br/certificados/ens dist 2008/site/conteudo/modulo2/8-surge a trg/trg.html, acesso dez/11
[12] The Emmy Noether Lectures, Presented by the Association for Women in Mathematics,
http://www.awm-math.org/noetherbrochure/TOC.html, acesso dez/11
[13] AMALIE NOETHER: UMA GRANDE CIENTISTA DESCONHECIDA, IG Ciência, reproduzido do The
New York Times, 30/04/2012, http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2012-04-30/amalie-noether-grande-cientista-
que-ninguem-ouviu-falar.html, acesso maio/12
[14] MULHERES NA FÍSICA CASOS HISTÓRICOS, PANORAMA E PERSPECTIVAS, ELISA M. B.
SAITOVITCH / RENATA Z. FUNCHAL/ MARCIA C. B. BARBOSA / SUANI T. R. DE PINHO / ADEMIR E.
SANTANA (ORG.), www.livrariadafisica.com.br/detalhe produto.aspx?id=143523, acesso mar/16
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 41

M I L E V A M A R I C (1875-1948)
NOS CEM ANOS DE EINSTEIN UM MINUTO PARA ESSA
MATEMÁTICA E SUA EX-ESPOSA
¨Sustento firmemente que a Ciência é mais útil que nociva. Jamais que não é perigosa.¨
Bertland Russel, 1872-1970
Por Nascimento, J.B
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, 2009
Inquestionável para sempre há de ser a genialidade do fı́sico alemão Albert
Einstein, 1879-1955, Nobel de Fı́sica/1921. Apenas, quando o mundo comemora
o Centenário da Teoria da Relatividade, desejamos disseminar alguns
fatos que circundam tão singular momento da história. Pois, alguns destes têm
sido obscurecidos e negligenciados, o que é extremamente grave para o ensino.
Chegam ao ponto de negarem a existência como Matemática e desprezo, nada
surpreendente
::::::::::::::
por trata-se de uma mulher, pela Sérvia MILEVA MARIC, que
MILEVA MARIC foi a primeira esposa de Einstein.
Inicialmente esclarecemos que não há Prêmio Nobel de matemática e, mesmo que houvesse,
tudo desta ciência que foi usado na relatividade já havia sido publicado décadas antes; são fatos
da Geometria Riemanniana e do Cálculo Tensorial. E mais: afirmativa do tipo ”Em primeiro
lugar, Mileva Maric não era uma brilhante ’cientista’ ”, que consta em sites no tema, só re-
força preconceito ao fazer uma confusão absurda entre ser famoso e ter significação; desconhecer a
contribuição fundamental de anônimos para a ciência é não ter noção como esta de fato se constrói.
Mais triste ainda é quando escrevem:”mas ela fracassou, por duas vezes, nos exames para
a obtenção do diploma de professora secundária” e não esclarecem que Einstein foi reprovado
para ingressar ao mesmo instituto e que isto é o seu maior legado à educação: prova ao
mundo que nunca foi o imbecil que os testes, e foram muitos, quiseram dizer ao reprová-lo, mas
a forma, por vezes até criminosa, de elaboração dos mesmos. Que escola/universidade dissemina,
ou guarde para averiguações independentes, todas as provas e resoluções que já aplicaram? Mais,
tais afirmativas sublimam fatos como achar-se que os milhões de reprovados em vestibulares, por
exemplo, o são por deficiências mentais e não por haver até marginalidades subjacentes; o que
faz uma universidade que só tem três mil vagas e arrecada inscrição de cerca de oitenta mil can-
didatos: uma prova para avaliar os melhores ou para ganhar fácil a taxa e se livrar dos indesejáveis?
Mileva, assim como Einstein, ingressa aos 17 anos no Instituto Politécnico de Zurique,
o famoso ETH, com a seguinte diferença fundamental: Ela ingressa para Matemática, en-
quanto Ele para Fı́sica. Isto é assaz importante, pelas seguintes razões:
I - Embora este instituto tenha Poli (na atualidade, o mais comum é centro) no nome, in-
duzindo aos leigos haver uma convivência harmoniosa entre as áreas, nas entranhas não há como
ser diferente dos atuais, onde cada grupo cuida dos seus interesses, sem o mı́nimo de moralidade
pública, ética ou escrúpulo. Soterram até os interesses da Nação e da Ciência, para aten-
der caprichos pessoais; o trânsito entre as diversas áreas é quase impossı́vel.
II - Entre os fı́sicos que Einstein convivia a geometria de Euclides era a divina perfeição
e a mecânica newtoniana, o sagrado. Já entre os Matemáticos com quais Mileva estudava,
geometria riemanniana, que reduz a euclidiana a um caso particular, já era uma realidade em
textos, cursos e seminários, e a mecânica newtoniana acumulava inúmeras suspeitas.
Pelo exposto, a beleza que se traduziu em equações como E = MC2 , onde E = energia, M
= massa e C = Velocidade da luz (tida por constante no vácuo = 300.000 km/seg), nos faz acreditar
que esta não se revelaria isoladamente a um ou outro, pois a natureza há sempre se buscar a forma
mais sublime para se desnudar. Além disso, é fato que Einstein se refere, em carta para Mileva,
ao ”nosso trabalho” e, para quem conhece o mı́nimo do meio cientı́fico, sabe que tal coisa não
:::::::::::::::
se diz nem brincando, quanto mais documentá-la em carta assinada, se não houvesse inconteste
veracidade.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 42

Ressaltamos que a conseqüência imediata do que estava sendo proposto era a demolição do
maior, mais vigoroso e imponente sustentáculo da teoria newtoniano: a hipótese de que o
universo era euclidiano.
Tal hipótese indicava que a luz percorria caminho retilı́neo
no sentido da geometria euclidiana. No entanto, um dos novos
conceitos da geometria riemanniana, o de geodésica (o caminho
que realiza a menor distância), indicava que tal trajetória era quali-
ficada pela geometria do objeto e os cálculos relativistas eliminavam
o euclidianismo do universo. Fato este confirmado por experiências,
como a que foi realizada em 1919 na cidade de Sobral-Ce. Durante
uma eclipse detectarem raios de luz chegando sem que houvesse
qualquer caminho retilı́neo disponı́vel para isto.

Após a divulgação da Teoria da Relatividade, 1906, que foi seguida por outras, como a
versão de mecânica quântica do alemão Werner Karl Heisenberg, 1901-1976, prêmio nobel
de fı́sica/1932, nasceram especulações para aplicações. No rol estava a mais famigerada criação
humana: a bomba atômica.

Para concluir, Mileva ainda oferece outras faces, que associada a sua condição de mulher,
serve para moldar o seu perfil humano, como ficar grávida no final do curso. Fato este que ainda
hoje é motivo de mais de 60% do abono escolar feminino em todos os nı́veis. Complementa-o com a
condição de divorciada, e, em 1948, esquecida por todos, falece a Matemática Sérvia MILEVA
MARIC.

(*) Foto em:


www.uni-muenster.de/Physik/Physikstudium/mileva maric einstein.html,
http://personalpages.umist.ac.uk, acesso 2009

Referência

[1] Berstein, Jeremy, Albert Einstein e As Fronteiras da Fı́sica, ed. Claroenigma, SP, 2013
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 43

ALAN T U R I N G (23/06/1912 - 08/06/1954)


UM DOS MAIS ESCANDALOSOS CASOS DE DISCRIMINAÇÃO DE
GÊNERO DOS TEMPOS RECENTES
¨Tudo Poderia ter continuada assim, não fosse a
brilhante e exaustiva biografia de Turing produzida
por Andrews Hodges em 1985.¨ Paul Stratern
¨Parece provável que uma vez que o método
de pensar da máquina tenha começado, não levaria
muito tempo para que ela suplantasse nossos limita-
dos poderes.¨ Alan Turing
Nascimento, J.B, UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527 E-mail: jbn@ufpa.br,
joaobatistanascimento@yahoo.com.br
http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/124-edicao-93–abril/1189-novo-
olhar-sobre-a-matematica
INTRODUÇÃO - Durante a segunda guerra mundial havia um tênue fio condutor de es-
peranças ligando mentes e corações de todos que lutavam por liberdade: a rádio BBC de Londres.
E para cada um não deixava de ser terrı́vel o medo de ao ligar o dial ouvisse um discurso nazista.
Assim como, muitos sentiram quando o rumo da guerra começou desfavorecer aos nazistas; algo
para se sentir de coração, posto que, era do mais alto segredo militar.
ALAN MATHISON TURING, nasceu em 23/06/1912, filho do funcionário civil Julius
e Ethel Sara Turing. Recortes de lembrança materna e verso de festa natalina da sua escola, [1,
pág. 17], desenham com facilidade o que foi o jovem Alan Turing, tais como:

’A Sra. Turing continua revelando, com muita modéstia, que ela ensinou a dividir
números longos, observando que ¨quando criança ele sempre buscava entender os
princı́pios subjacentes e aplicá-los. Quando aprendeu na escola a determinar
a raiz quadrada de um número, deduziu por si mesmo como encontrar a raiz
cúbica.¨’

’Turing gosta do campo de jogo.


Pois as linhas do gol possibilitam problemas geométricos.’

O exposto, assim como tudo que se conhece dessa fase da sua vida, mostra que se Turing tinha
pretensão cientı́fica grandiosa era segredo que ele guardava muito bem. E como o objetivo maior
em tudo é aqui fazer um diálogo em educação e ensino da matemática, estamos antes grandiosos
exemplos. Pois quando se procura das razões que fazem Inglaterra uma nação tecnologicamente
desenvolvida, usualmente querem o que possam imitar com pompas polı́ticas.

Nisso a Sra. Turing é exemplar de um dos patrimônios educacionais britânico, quase todos
invisı́veis, vizinhos nem enxergam, composto por mães minimamente preparadas não para substi-
tuir o dever da escola, mas para o emergencial e, principalmente, não meter medos na criançada. E
isso serve mais como aviso ao docente para de que mamãe não é tão ignorante no tema que apenas
a sua palavra decida tudo.
Entretanto, e sem se falar quanto escola no Brasil não percebe pais como objeto da educação,
nos centros de matemática, e só público me interessa e no geral, exceção é apenas isso, matemática
básica é tratada por coisa para ser feita por insignificante, desprovida de pouco valor cientı́fico. E só
isso implica não haver de fato licenciatura em matemática, pois essa deveria abranger na formação
o todo socialmente necessário, enquanto curso de pedagogia e similares quase não abordam isso das
séries inicias e o mais comum é reproduzindo o trágico de sempre. E não se confunda ter algo na
grade curricular e possibilidade de se ganhar extra com interesse e respeito cientı́fico que o tema
merece.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 44

Turing mostra o esperado do estudante nessa via de várias mãos que é educação. Portanto,
prescinde de esforço da parte desses e até tentar ir um pouco mais longe. Ou seja, ao educando
cabe aprender o trabalhado em sala de aula, do que consideramos saber, e até tentar dos que não.
Logo, vamos ao mais esquecido no Brasil, estudo é um trabalho dos mais duros e por isso condições
básicas estruturais, livros, etc., não podem ser negligenciadas. E a dureza nisso é por necessitar de
aprofundamento no que a humanidade produziu, conceber do que já foi sonhado e tocar em alguns
dos seus mistérios.

HISTÓRICO, MATEMÁTICA BINÁRIA DE LEIBNIZ E ÁLGEBRA BOOLEANA


Lembrando que tudo aqui é para despertar curiosidade, fazer estudo e pesquisa, uma coisa
que nunca foi ministério é que computador no sentido de registrar, armazenar, recuperar informação
e fazer cálculos, em versões separadas ou integradas, se desconhece que civilização não teve [2-6].
Pois um calendário, por exemplo, é isso, dado que, ¨teclando¨ com o olhar uma folha localizamos
dia, mês e ano, porquanto, obtemos essa informação.
E de todos que se conhece, o computador antigo mais avançado é a máquina denominada
de Anticı́tera, por acharem os seus resto em águas próximas dessa ilha Grega em 1901 e só teve
parte da sua funcionalidade desvendada recentemente. De aproximadamente do séc. I a.C, nem se
sonhava haver tal tipo de máquina ou capacidade cientı́fica e tecnológica para fazê-la.
Em qualquer aspecto que se queira concentrar nesse tema é uma história longa e puxarei
para o lado matemático, porquanto, os processos de cálculo computacionais e só os aritméticos mais
simples. Além disso, apenas um pouco e do tempo recente. Um destaque em máquina de calcular é
o matemático francês Blaise Pascal (1623 -1662). Algumas das suas máquinas ainda funcionam,
operam adições e subtrações com até oito dı́gitos e as engrenagens são exemplares primorosos da en-
genharia mecânica disponı́vel nessa época. Atualmente, denominação Linguagem de Programação
Pascal é em sua homenagem.

E a intervenção inigualável antes dos contemporâneos de Turing, deve-se ao matemático


alemão Gottfried Wilhelm Von Leibniz (1646-1716), que resumo repoduzindo os seguintes dois
trechos (g.n):

¨O interesse de Leibniz em máquinas de calcular era mais do que meramente prático.


Quando ainda estava na universidade, elaborou um artigo que explicava a base teórica
de qualquer calculadora e o que ela podia fazer. (um trabalho que anunciava as idéias
seminais de Turing sobre esse assunto quase 300 anos mas tarde) Por volta da mesma
época Leibniz inventou também uma matemática binária, como aquela que
viria a se tornar a linguagem dos computadores digitais- embora não tenha
combinada as duas coisas.¨ [7], pág. 16

¨Considere, por exemplo, o projeto de nunca escrito como o qual G. W. Leibniz


(1646- 1716) sonhou no final dos século XVII: criar uma linguagem matemática
especial por meio da qual ele pudesse escrever uma espécie de enciclopédia
englobando todo o conhecimento humano. Essa linguagem seria desenvolvida
a partir de sı́mbolos matemáticos que pudessem ser manipulados de acordos
com as regras de dedução. ¨ [1], pág. 35

Portanto, é cabı́vel que se explique aqui, embora apenas de forma embrionária o que venha
ser Matemática Binária. E sem dúvida que processo de contagem e registro são bens culturais,
portanto, abordarei o que é mais comum dentro da dita cultural ocidental, sem deixar de ressaltar
haver nisso muito de enganoso, posto que, encantado com produtos disto, como é o computador
moderno, fica-se com na impressão, quiçá pretensiosamente, de que as demais seriam inúteis. E
vamos ao mais importante, que é mostrar matemática nascendo de certas brincadeiras, reproduzindo
um pouco de material que uso em capacitação docente das série iniciais.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 45

0.1 CAPÍTULO: NUMERAIS E OPERAÇÕES


F aremos uma resumida introdução de algumas concepções de numerais e a complementação deixamos
para pesquisa, o que não é uma atitude localizada, mas parte da nossa metodologia.
0.1.1 Representando quantidades
Uma das competências em matemática constitui-se em operar com quantidades (PCN), o que demanda
algumas habilidades, e a principal delas é entender o significado das representações destas. Lembramos que a
concepção de quantidade aparece em todas as civilizações e se diferencia entre alguns povos pela forma como
cada um a representa; este fato determina os meios de registro e comunicação das quantidades.
Vejamos formas de registros de algumas civilizações
da quantidade de bolinhas ao lado.

Egı́pcios (4.000 a.C) - Em um certo perı́odo, os Egı́pcios usaram


uma série de sı́mbolos para designar
e registrar quantidades, tais como: um osso ou traço vertical ( ) para uma unidade, um osso dobrado ( ∩ )
para representar dez unidades, um laço para cem, uma flor de lótus ( ♣ ) para mil e muitas outras figuras.
Faziam justaposição nas representações das quantidades, em princı́pio, sem uma ordem definida. Neste caso,
a quantidade de bolinhas podem ser representadas pelos numerais:
T T T
ou ou

Romanos- Registravam usando os algarismos romanos I, V, X, L, C, D, M e traços sobre-


postos, da seguinte forma:
a) Valores: I ( um ), V ( cinco ), X ( dez ), L ( cinqüenta ), C ( cem ), D ( quinhentos ) e M ( Mil );
b) Regras:
1 - Um sı́mbolo só se repete no máximo três vezes. E os que não se repetem são: V, L e D.
Assim, apenas com o sı́mbolo I representam-se: I (um ), II (dois) e III (três ); só com o X: X (dez),
XX (vinte) e XXX (trinta), etc. Mais ainda, como IIII não é possı́vel para a quantidade quatro e por ser
esta uma unidade a menos do que cinco, faz-se IV para quatro. Já a quantidade seis, será interpretada
como cinco mais um e escreve-se como VI. Tal a concepção é indutiva, i.e, nove é IX [ dez menos um ],
quarenta é XL [ cinqüenta menos dez ], noventa é XC [ cem menos dez ], cento e dez é CX [ cem mais
dez ], etc. Logo:
A quantidade de bolinhas em numeral romano representa-se por XII
Obs: Para lê-se um Numeral Romano necessita-se da habilidade de identificar inicialmente cada bloco:
milhar, centena, dezena e unidade, etc.
2 - Um traço sobre um numeral é outro numeral que representa uma quantidade mil vezes o valor original.
Além disso, pode ocorrer traço sobre traço. Assim, V = cinco mil, V = cinco milhões, etc.
Indo-Arábico
- Algarismos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.
- Regra.
a) Agrupa-se a quantidade de dez em dez. Portanto, após o agrupamento, restará uma quantidade menor
que dez, i.e, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 ou 9.
b) Ocorre agrupamento indutivo, isto é agrupamento de agrupamento, com os seguintes nomes: um agru-
pamento de dez unidades forma uma dezena, de dez dezenas uma centena, dez centenas uma unidade de
milhar, dez unidades de milhar uma dezena de milhar, etc.
c) O numeral correspondente ao total é formado escrevendo-se o resto de cada grupo da direita para a
esquerda e na ordem crescente dos agrupamento, isto é,
. . . Unidade de Milhar Centena Dezena Unidade

Isto é, agrupando temos: um grupo de dez (uma dezena) e restam duas unidades. Como neste caso
não há dezenas suficientes para formar um grupo de dez (uma centena), resta uma dezena. Logo:

A quantidade de bolinhas em numeral Arábico representa-se por 12


Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 46

Outros Povos e o Computador


Recomendamos uma leitura do sistema de numeração dos Maias e de alguns povos indı́genas.
O sistema que permite os computadores gerarem um numeral que represente uma quantidade é similar
ao Indo-Arábico, só que os grupos são de dois em dois.

Concepção Geral de Sistema de Numeração


Material - Fichas: branca (B), azul (A), verde (V ), preta (P ) e roxa (R).
Procedimento - Organizamos as crianças numa fila única (sempre de forma que fiquem de frente para
as demais), fixada a posição e cor de cada uma ( a ordem que adotamos é B − A − V − P − R), quando
uma quantidade de fichas brancas é entregue a primeira da fila.
Regra Dois - :::::
P ara :::::
cada :::::
duas::::::
fichas::::::::
brancas :::::::::
retiradas:::::
pelo ::::::::::::
professor(a) :::
da ::::::::
primeira::::::::
criança,::a:::::::::
segunda
recebe uma azul.
::::::::::::::::
O processo continua até que só reste uma ou nenhuma ficha branca. O mesmo processo
será aplicado trocando duas fichas azuis por uma verde e assim sucessivamente.

Exemplo 0.1. - Numeral na base 2: Iniciando-se com 5 fichas brancas.

Etapa 1 - troca: 4 brancas por 2 azuis,


restando uma branca.
Etapa 2 - troca: 2 azuis por 1 verde.
Etapa 3 - Ficaram: 1 verde, 0 azul e 1
branca.

Resumo - Neste caso, usamos a notação 5 = ( 101 )2 para significar que: começando com 5 fichas
brancas e fazendo a distribuição completa na regra dois, no final a primeira criança ficará com uma ficha
branca, a segunda com nenhuma azul e a terceira com uma verde.

Exemplo 0.2. - Numeral na base 3: Iniciando-se com 7 fichas brancas.

Etapa 1 - troca: 6 brancas por 2 azuis,


restando uma branca.
Etapa 2 - Ficaram: 2 azuis e 1 branca.

Resumo - Neste caso, usamos a notação 7 = ( 21 )3 para significar que: começando com 7 fichas
brancas e fazendo a distribuição completa na regra três, no final a primeira criança ficará com uma ficha
banca e a segunda com duas azuis.

Exemplo 0.3. - Revertendo numeral na base 2: Iniciando-se com 1 ficha verde, 1 azul e 1 branca,
na regra de duas em duas, quantas fichas brancas corresponde?

Etapa 1 - troca: 1 verde por 2 azuis,


ficando 3 azuis e 1 branca.

Etapa 2 - troca: 3 azuis por 6 brancas,


ficando 7 brancas.

Interpretação - O numeral ( 111 )2 é visto como ( fixamos a ordem e as cores do exemplo anterior):
uma quantidade de fichas brancas foram distribuı́das na regra de dois em dois e ao final ficamos com uma
branca, uma azul e uma verde. Neste caso, o cálculo mostra que (111 )2 = 7.
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Desenvolvimento pedagógico
a - Certifique-se ou desenvolva que :
- Reconhecem o que são dois ( n ) objetos e que uma ficha azul vale duas ( n ) brancas. Sendo este
fenômeno reversı́vel, isto é, quando quem ocupar a posição da ficha branca ::::
tiver uma azul poderá trocá-la
por duas ( n ) brancas [ PCN - cidadania: diferentes podem ter valores iguais ];
- Entendem que o total inicial de fichas brancas permanece inalterado;
- Não pensam que guardamos em outro canto algumas fichas e que foi entregue uma outra para o colega,
i.e, vendo os dois fatos de forma dissociada; a habilidade de conectar os fatos é fator básico da aprendizagem.
b - Esclareça que a criança que ficar sem ficha não poderá deixar a fila, posto que, a sua posição é
importante.
c - Exercite: dada uma distribuição calcular, primeiro mentalmente e depois concretamente, quantas
fichas brancas corresponde.
d - O mesmo de quatro em quatro, etc.
e - Pratique com sistemas em que as quantidades agrupadas em cada etapa não serão iguais, sendo mais
usual o de tempo: 60 min = 1 h, 24 h = 1dia . . .

0.1.2 MATEMÁTICA & BRINCADEIRA INFANTIL


Neste tema explanamos algumas brincadeiras que contextualizam e ajudam na construção dos conceitos.
Os materiais que usaremos são apenas para efeito de exposição. É essencial o uso de materiais do convı́vio
da criança.
Calculadora com Crianças
Objetivos
- Praticar os princı́pios básicos de um sistema de numeração;
- Desenvolver o raciocı́nio numérico;
- Compreender os fundamentos do agrupamento;
- Promover interações entre grupos.
Operações ( Disponha de material para acompanhar )
Fazemos filas ( parcelas e total ) e entregamos fichas brancas aos
primeiros de cada fila das parcelas, fixamos uma regra única para todas
as filas e operamos de duas formas:
a - A primeira criança da fila resultado recebe todas as fichas brancas e
distribui nesta fila conforme a regra fixada; e
b - Cada fila das parcelas primeiro distribui na regra fixada e depois todos passam as suas fichas para a
criança da sua mesma cor da fila total. Estes últimos fazem, se necessária for, a distribuição completa.

Desenvolvimento pedagógico
1- As crianças devem concluı́rem que no final dos dois processos cada uma da terceira fila ficou na mesma
situação.
2- Distribua fichas com a terceira fila, estimule-os a descobrirem quantas fichas brancas corresponde e
de que modo pode-se distribuir fichas com as outras duas filas para que as duas filas juntas fiquem com o
mesmo total da terceira.
3- Estimular repetições e melhora no tempo de execução.
4- Refazer com outros materiais para que a construção do conceito não sofra interferência de propriedades,
tais como: cores, formas e tamanhos.
5- Fazer todas as fases no caso da subtração.
Orientação metodológica - O contado com outras representações possibilitará ao educando estender
fatos como haver uma quantidade infinita de grafias para cada quantidade fracionária. Esta é uma das
dificuldades de transposição didática do conceito quando o aluno apenas trabalhou o sistema decimal e
romano.
FIM
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Portanto, Leibniz desenvolve uma aritmética usando apenas os algarismo 0 e 1 tão possı́vel
quanto as comuns, ainda a parte mais trivial do computador, e lança possibilidades de sonhos que
a humanidade haveria de esperar muito para que se realizasse. Nisso contribui muito o matemático
inglês Charles Babbage (1791-1871), embora ainda usando sistema decimal, suas máquinas de
Diferenças no . 1,e 2 formam o que se considera como o pré-protópio feito nos tempos modernos do
computador atual, pois além de memorizar e operar com valores armazenados, imprimia o resul-
tado. Babgge conta a brilhante ajuda da matemática Ada Lovelace (1815 -1852),pág. 31, cuja
linguagem de programação ADA é em sua homenagem, ao matematizar o que englobar o feito
pelo mecânico francês Joseph-Marie Charles (Jacquard) (1752-1834) [8]: introduziu cartões
perfurados que determinavam padrão para o tear bordar.

E dois passos complementares rumo ao computador atual foram dados pelos matemáticos
ingleses Augustus De Morgan (1806-1871) e George Boole (1815 - 1864). Pois, os seus tra-
balhos algebrizam proposições, porquanto, torna possı́vel operar com tais, cujo ponto máximo é a
hoje conhecida por Álgebra Booleana [9-11], na qual são teoremas centrais as Leis de Morgan
e o cerne maior é o binário, 0 e 1, fechado/aberto, ligado/desligado, verdadeiro/falso, etc.

O VERDADEIRO, O FALSO, O PROVÁVEL, O IMPROVÁVEL... E MATEMÁTICA

Talvez a verdade essencial é não haver qualquer definição objetiva do que venha ser matemática.
O consenso mais provável é que o mais comum chamado de desenvolvimento cientı́fico e tecnológico,
e no sentido de rendimento financeiro para nações, impregna-se de produtos que podem ser desen-
volvidos com habilidades e competência desenvolvidas por alguma forma de ensino da matemática.
Além disso, falo mais por universidade pública brasileira, especialmente na diplomação docente e
do histórico dos seus vestibulares, em função dos interesses de poder, o que se faz como se fosse
matemática é até nauseante.

E questionar validade de proposições matemática nunca foi novidade, posto que, são históricas
tentativas frustradas de se provar ser verdadeiro ou falso o Quinto Postulado de Euclides das
Paralelas, o qual afirma que por um ponto fora de uma reta passa uma única outra
reta paralela dessa, com base nos axiomas que o precede na Geometria Euclidiana. Citando
brevemente, o matemático grego Menelau de Alexandria (c. 100 d.C), [12], pág. 203, introduziu
triângulos esféricos, o árabe Omar Khayyan, (1100 d. C), [12], pág. 264, vislumbrou outras possi-
bilidade para esse postulado, o húngaro János Bolyai (1802-1860) fez uma fornulação de Geome-
tria Hiperbólica e, independentemente, também o russo Ivanovich Lobachevsky (1793-1856),
assim como se envolve nisso, além de muitos outros, o alemão Georg Friedrich Bernhard Rie-
mann (1826-1866), o italiano Eugenio Beltrami (1835-1900), o alemão Felix Klein (1849-1925)
e o francês Henri Poincaré (1854-1912).[13]

E disto o que ficou foi que ao assumir os postulados iniciais euclidianos juntamente
com versão do quinto de que não passa reta paralela, passa apenas uma ou passa várias,
pode-se construir uma geometria do mesmo nı́vel de consistência, respectivamente, os
modelos de Geometria Esférica, Plana Hiperbólica, em que um dos diferenciais aparece na
soma dos ângulos internos de um triângulo.

Esférico Euclidiano Hiperbólico

α + β + γ−π >0 α + β + γ−π =0 α + β + γ−π <0


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Um relato histórico no tema central aqui, decisão quanto ao valor lógico de uma
proposição matemática, no qual o Entsheidungsproblem (problema da decisão) exposto pelo
matemático alemão David Hilbert (1862-1943) é peça chave, quem faz é Leavit [1, pág. 58]:

¨Embora Hilbert tenha sido o primeiro a buscar uma solução para o Entshei-
dungsproblem, o próprio problema de decisão data do século XIII, quando o pensador
medieval Raimundus Lullus (1232-1316) imaginou um método geral de solução de prob-
lemas que ele chamou de ars magna. Leibniz ampliou o estudo de Lullus, tanto para
buscar o estabelecimento de uma linguagem simbólica (a characteristica universalis),
com a qual efetivar a solução do problema, quanto para criar uma distinção ¨entre
duas versões diferentes da ars magna. A primeira versão, ars inveniendi, encontra to-
das as verdadeiras afirmações cientı́fica. A outra, ars iudicandi, permite que se decida
se uma determinada afirmação cientı́fica é verdadeira ou não¨. O problema de decisão,
como Hilbert o expressou, cai na rubrica da ars iudicandi e ¨pode ser restrito a uma
questão de sim ou não; haverá um algoritmo que decida a validade de qualquer fórmula
de primeira ordem?¨¨

OS TRABALHOS MONUMENTAIS DE TURING


Quando Turing foi contemplando por mérito com uma bolsa e ingressou em 1931 na
graduação em matemática, King’s College, Cambridge, o mundo matemático que esse apreciava
estava literalmente em pavoroso. Posto que, o matemático austrı́aco Kurt Gödel (1906-1978)
[14], havia publicado trabalho pelo qual provara haver proposição de arcabouço matemático que
operando logicamente só com isso não era possı́vel provar ser verdadeira ou falsa. É o famoso Teo-
rema da Incompletude de Gödel.
Imagine o quanto é apavorante, por exemplo, investir tempo e milhões de recursos para
produzir uma máquina, o que era o interesse central de Turing, e depois descobrir que proposição
da qual essa depende é desse tipo. Porém, Turing não se abalou por isso, se aconteceu ficou no
mais absoluto segredo, pois o seu trabalho publicado em 1937 trazia, pelo menos visı́vel para alguns
poucos, a essência do computador atual ante que fosse feito qualquer um: A Máquina de Turing.
E uma descrição resumida do conteúdo do artigo é o seguinte [7, pág,46], (g.n):

¨A matemática não era apenas logicamente incompleta, como Gödel


havia mostrado, era também matematicamente incompleta Não havia
nenhum meio matemático pelo qual ela pudesse se distinguir se suas
próprias proposições arbitrárias.¨

O nome desse artigo é: On Computable Numbers, with an Application to the


Entsheidungsproblem [15]. E uma lei nunca escrita e que assombra pesquisador, diz que outra
mente é capaz de pensar o mesmo sem saber disto, quase pega Turing, direi assim, de calça frouxa
sem sua lendária gravata escolar que usava como sinto, posto que, segundo [1], esse entrega em
abril de 36 ao seu orientador de mestrado Maxwell Herman Alexander Newman, britânico,
1897-1884, versão do artigo e logo em maio Newman recebe pelo correio o artigo An Unsolvable
Problem of Elementary Number Theory de Alonzo Church ( americano, 1903 - 1995).[16]

E [1, pág. 117-8] reproduz missiva de Newman ao Professor Alonzo :

¨Uma separata que o senhor gentilmente me enviou recentemente como o artigo na


qual define ¨números calculáveis¨ e mostra que o Entsheidungsproblem é insolúvel pela
lógica de Hilbert foi motivo de um interesse muito penoso para um jovem daqui, A.M.
Turing, que estava preste a publicar um artigo no qual usou a definição de ¨números
computáveis¨ como o mesmo objetivo. Seu tratamento - que consiste em descreve uma
máquina que vai produzir mecanicamente qualquer sequência computável - é bastante
diferente do seu, mas parece ter grande mérito, e eu penso ser de grande importância
que ele pudesse viajar e trabalhar com o senhor no próximo ano, se isso for possı́vel.¨
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 50

Turing foi para Princenton, Estados Unidos, fazer o seu doutorado com Church, ampliando
bastante o seu campo matemático e interesses outros, como por criptografia computacional, cifra-
mento de mensagem, algo ainda bastante rudimentar, porém o clima de guerra já prenunciava sua
relevância, pois sendo em tais horas verdade a morrer primeiro, o segredo das comunicações é o
túmulo. O que Turing pouco fazia segredo por essa época era da sua homossexualidade. E se
desse não se poderia dizer ser um patriota fervoroso, dado que, na sua pátria homosexualidade era
crime, nunca houve dúvida do quanto detestava autoritarismo, pois se alguém tinha mentalidade
de desprezar valores humanos, nunca respeitaria uma máquina como esse pensava.

Assim, e até antes da guerra começar, os serviços secretos aliados já tinha uma noção se-
gura e aterradora do potencial nazista de cifrar comunicações, literalmente um Enigma, nome das
máquinas nazistas para isso. E o serviço secreto inglês estava também convencido de que, se hou-
vesse alguma forma de quebrar esse segredo somente uma Máquina de Turing seria capaz dessa
tão assombrosa façanha. Por isso, recrutaram Turing e em torno desse montaram uma equipe, ob-
viamente das mais secretas, para esse enfretamento. Foram longos anos de penosa luta e trabalho
do mais exaustivo, para montar e programar uma máquina capaz de fazer esse serviço. E obteve
o mais esplendoroso sucesso, fator dos mais decisivos para que se ganhasse a guerra. Portanto, da
mesma forma que personificar a derrota nazista em qualquer um é vilipêndio histórico, simbolizá-la
na figura de Turing honra a todos.

CONCLUSÃO

Terminada a guerra, Alan Turing retorna aos seus trabalhos acadêmicos e participa da
construção de um dos primeiros do que hoje é popularmente conhecido por computador, MADAM
( Manchester Automatic Digital Machine), 21/06/1948. Entretanto, agora ante a dita Guerra-Fria,
por causa dos seus trabalhos secretos e ainda sua homossexualidade, o que era, lembro, atitude
tipificada por crime, esse agora é obrigado a ser submetido tratamento, cuja ironia do destino é que
era coisa vinda das ditas pesquisas nazista, que incluı́a injetar medicações hormonais cuja semel-
hança com atual método de castração quı́mica de animais não é mera coincidência.

Para finaliza, Turing, até para mostrar o quanto ele era um ser comum, tinha uma inca-
pacidade famosa e que faz uma diferença imensa entre humano e máquina: reconhecer ironia. E
em 11 de setembro de 2009, e por outra ironia dois anos depois 11 de setembro iria entrar na
lembrança da humanidade mais uma vez do nı́vel que bestialidade humana é capaz, foi lançado um
manifesto pedindo a reabilitação de Alan Turing pela Nação Britânica e na BBC online [21]. Já
outra ironia é que médico inglês do inı́cio do século XX propunha estudar matemática como forma
de tratamento da homossexualidade.

(*) Foto ilustrativa captura em http://pt.wikipedia.org/wiki/Alan Turing, acesso ab/13


Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 51

REFERÊNCIAS
[1] O HOMEM QUE SABIA DEMAIS - ALAN TURING E A INVEÇÃO DO COMUTADOR, Leavitt, D.,
tradução de Samuel Dirceu, Ed. Novo Conceito, 2011
[2] CIVILIZAÇÃO MAIA: MATEMÁTICA E MITOLOGIA, Manoela Aleixo Zaninetti Silva, UFJF,
http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/Maia.pdf, acesso ab/13
[3] MATEMÁTICA MAIA PODE SE TORNAR PATRIMÔNIO CULTURAL INTANGÍVEL, Estadão On-
line/Ansa, 04/05/ 2012, www.estadao.com.br/noticias/vidae,matematica-maia-pode-se-tornar-patrimonio-cultural-
intangivel,868844,0.htm, acesso ab/13
[4] Computador Mais Antigo do Mundo (Anticı́tera), http://maquinaseaparelhos.blogspot.com.br/2013/ 03/computador-
mais-antigo-do-mundo.html, acesso ab/13
[5] O MECANISMO DE ANTICÍTERA, SÉRGIO SACANI , 20/01/2013, http://blog.cienctec.com.br/ imagens/o-
mecanismo-de-anticitera/, acesso ab/13
[6] SURPRESA TECNOLÓGICA NA GRÉCIA ANTIGA, Bernardo Esteves, 16/10/2009,
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/historia-da-ciencia-e-epistemologia/surpresa-tecnologica-na-grecia-antiga, acesso
ab/13
[7] TURING E O COMPUTADOR, Strathern, P,; tradução: Maria Luiza X. de A. Borges, revisão técnica: Carla
Fonseca-Barbatti, Zahar Editora, 2000
[8] GRANDES DESCONHECIDOS DA COMPUTAÇÃO - JOSEPH-MARIE JACQUARD,
http://blogpassword.wordpress.com/2012/03/29/grandes-desconhecidos-da-computacao-joseph-marie-jacquard/, acesso
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[11 ÁLGEBRA BOOLEANA E CIRCUITOS LÓGICOS, http://www.inf.ufsc.br/ guntzel/isd/isd2.pdf, acesso
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[12] INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, Eves, H., Ed. Unicamp. 3a edição, 2002
[13] GEOMETRIAS NAO EUCLIDIANAS, Sidinei Delai e Valdeni Soliani Franco,
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/236-4.pdf, acesso ab/13
[14] GÖDEL E EINSTEIN: E QUANDO O TEMPO NÃO RESISTE À AMIZADE?, Sı́lvio R. Dahmen,
IF/UFRGS/BR, Institut für Theoretische Physik III, Universität Würzburg, Alemanha, HIST ÓRIA DA FÍSICA E
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid=S1806-11172006000400016, acesso ab/13
[15] ON COMPUTABLE NUMBERS, WITH AN APPLICATION TO THE ENTSHEIDUNGSPROBLEM, Tur-
ing, A. M. Proc. London Math. Soc. ser. 2,42, 230-265 (1936-7);43 , 544-546,
http://classes.soe.ucsc.edu/cmps210/Winter11/Papers/turing-1936.pdf, acesso ab/13
[16] AN UNSOLVABLE PROBLEM OF ELEMENTARY NUMBER THEORY, Church, A., American Journal
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www.fdi.ucm.es/profesor/fraguas/CC/church-An%20Unsolvable%20Problem%20of%20
Elementary%20 Number%20Theory.pdf, acesso ab/13
[17] PROBLEMAS DECIDÍVEIS E PROBLEMAS INDECIDÍVEIS: O LEGADO DE ALAN TURING, Ruy
J.G.B. de Queiroz, http://www.ufrgs.br/alanturingbrasil2012/presentation-RuyQueiroz-ptBR.pdf, acesso ab/13
[18] INICIATIVAS BUSCAM ENVOLVER MENINAS EM PROGRAMAÇÃO
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-04-07/iniciativas-buscam-envolver-meninas-em-
programacao.html, acesso ab/13
[19] MATEMÁTICA COMPUTACIONAL, Adérito Luı́s Martins Araújo, Notas de apoio às aulas de Matemática
Computacional do Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, no ano lectivo de 2012/2013.
http://www.mat.uc.pt/ alma/publicat/coursenotes/MatematicaComputacional.pdf, acesso ab/13
[20] A Origem da Computação, Martin Campbell-Kelly,
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a origem da computacao.html, acesso ab/13
[21] GRÃ-BRETANHA PEDE DESCULPAS PÓSTUMAS A CIENTISTA GAY PUNIDO
COM CASTRAÇÃO, 11 de setembro, 2009,
www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/09/090911 turingbrowng.shtml, acesso ab/13
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 52

M A R Í L I A P E I X O T O
Santana do Livramento/RS, 24/02/1921 - RJ, 05/01/1961
A MATEMÁTICA BRASILEIRA DINAMICAMENTE À FRENTE DO SEU
TEMPO
¨Noites e noites, estudei devotamente nossos mitos, e sua geometria.¨
Cecı́lia Meireles (1091-1964), Poetisa Brasileira
Por Nascimento, J.B.
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br,Ab/12 2009

Talvez o choque tecnológico mais profundo do séc.XX tenha sido o culminado com a pre-
sença no espaço do russo Iuri Alekseievitch Gagarin (1934-1968), em 12 de abril de 1961. E
mesmo quando ainda aturdidos pelos fatos, duas constatações estavam postas:
- Capacidade tecnológica não prescinde de educação de alta qualidade. Lembrando que se monta
uma fábrica para produzir determinado produto com o que há formalmente capacitado, passivo de
ser apoderado por outros e até plagiado. Isso não deixa de gerar riqueza, mas o que faz uma nação
rica mesmo é a capacidade de agregar inovação ao produto e inovação precisa de educação alta-
mente qualificada, cujo ingrediente central é liberdade.
- Embora houvesse contribuições diversas indicando esse advento como um fracasso tecnológico
americano na corrida espacial, a certeza era haver ponto da matemática, porquanto, o seu ensino,
que não tinha se desenvolvido substancialmente, enquanto a ex- união das Repúblicas Soviéticas
tinha dominado com maior capacidade de aplicação.
E não tardou para que fosse apontada superioridade num tema matemático especı́fico: Sis-
temas Dinâmicos. E a denominação já deixa claro que envolve objetos em movimento para os quais
três fatos básicos são: evolução no tempo, controle e condições de estabilidade. Portanto, fica sur-
preendente que tal tema fosse estudado em paı́s periférico como o Brasil e gratificante mais ainda
por ter uma mulher envolvida nisso. Quem nos apresenta essa encantadora surpresa é a Professora
do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES, Dra. Circe Mary da Silva no artigo
POLITÉCNICOS OU MATEMÁTICOS?, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid
=S0104-59702006000400007, acesso abril/12 (g.n), do qual citaremos alguns trechos (g.n):
¨As mulheres não estiveram ausentes na construção do campo cientı́fico da matemática no Brasil,
mas apenas um número reduzido delas teve acesso a uma formação especı́fica. Como o acesso dos
brasileiros à matemática se deu pelas Escolas Politécnicas, e esse era um reduto tradicionalmente
masculino, foi apenas com o surgimento das faculdades de filosofia, na década de 1930, que as
mulheres começaram realmente a ocupar espaços.¨
¨A presença das mulheres nas escolas de engenharia
não era muito comum no inı́cio do século, mas em 1939
MARÍLIA DE MAGALHÃES CHAVES estava matric-
ulada na Escola Nacional de Engenharia, tendo como
colegas Maurı́cio Peixoto e Leopoldo Nachbin. Ela
formou-se em engenharia em 1943. No Rio de Janeiro, na
década de 1940, na Faculdade Nacional de Filosofia, aparecem
nomes femininos: Maria Laura Mouzinho, Moema Mar-
iani e Maria Yolanda de Mello e Nogueira, entre outros.¨

¨Segundo ¨Maria Laura Mouzinho, MARÍLIA CHAVES foi aluna ouvinte no curso de
Matemática da Faculdade Nacional de Filosofia, enquanto realizava o curso de engenharia e atu-
ava como monitora na Escola Nacional de Engenharia. Posteriormente, casou-se com o matemático
Maurı́cio Peixoto e passou a chamar-se MARÍLIA CHAVES PEIXOTO.¨
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 53

¨Segundo depoimento do matemático e pesquisador emérito do Impa, Maurı́cio Peixoto,


ele recebeu de MARÍLIA um forte estı́mulo para dedicar-se à matemática: ”Ambos [Marı́lia e
Nachbin] foram influências importantes no sentido de eu me tornar um matemático. Isso no sentido
de procurar viver para e de matemática¨.

MARÍLIA CHAVES PEIXOTO desenvolveu trabalhos importantes em equações diferenciais,


e em pareceria com Maurı́cio Peixoto publicou nos Anais da Academia Brasileira de Ciências dois
artigos: On the inequalities y”’ ≤(?) G(x,y,y’,y”) , em 1949, e Structural stability in the plane with
enlarged boundary conditions, em 1959. Foi eleita como membro associado da Academia Brasileira de
Ciências em 12 de junho de 1951.

¨A primeira mulher a entrar na ABC foi Marie Curie, em 1926, na categoria de associada
estrangeira, mas MARÍLIA foi a primeira mulher brasileira a ingressar nessa academia.
Atuou como professora de Cálculo e Mecânica na Escola Nacional de Engenharia e
em cursos especiais no Centro Brasileiro de Pesquisas Fı́sicas. Publicou pela Escola de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro um livro sobre Cálculo Vetorial.
Faleceu ainda jovem, mas sua dedicação à matemática e seu talento não passaram despercebidos da
comunidade que começava a se formar.¨

Notemos que a Dra. Circe fundamenta no alvorecer de um dos mais importantes centros
da matemática no Brasil o necessário para uma pesquisa mais aprofundada no tema na ação es-
colar, sendo esse o objetivo maior do nosso pequeno estudo. Complementa ainda no especı́fico as
referências [1-7] e [9].

Havendo ainda um detalhe nesse relato que não tira o mérito de nenhuma outra, ape-
nas evidência muito da capacidade de Marı́lia Peixoto. Pois, na sua época era socialmente quase
um acinte mulher querer cursar engenharia e mais ainda se envolver com matemática avançada.
Isso tanto é fato histórico que os primeiros cursos de matemática estavam embutidos nos de Hu-
manas/Filosofia, embora longe ainda de eliminar tal visão negativa da mulher estudar matemática,
apenas suavizada um pouco disto.

Em setembro de 1987, reunida na China, a Academia de Ciência do Terceiro mundo (TWAS -


Third Wold Academy of Science) concedeu honraria pelos seus trabalhos ao matemático Maurı́cio
Peixoto. Um relato completo disto consta na Revista Matemática Universitária, N.8, Dez/88, 1-25
e um trecho do seu discurso é seguinte (g.n):

¨Primeiramente gostaria de assinalar que este trabalho sobre


estabilidade estrutural foi realizado basicamente num certo número
de artigo mencionados abaixo e que um deles foi um trabalho
conjunto como minha primeira esposa Marı́lia, que não viveu
para ver o fim dessa aventura. Foi grande, contudo, sua influência
naqueles dias dourados, decisivos e já distante, de outubro de 1957
em Princeton.¨

Atualmente, finalizando, uma das áreas que faz do Brasil reconhecido internacionalmente
em matemática é Sistemas Dinâmicos. Portanto, é dever da escola brasileira referendar e apreciar,
pela magnitude e pioneirismo, o feito por MARÍLIA CHAVES PEIXOTO.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 54

Referências
[1] A EDUCADORA MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES: um fragmento de sua edificação Matemática
(CO), Pedro Carlos Pereira
http://cimm.ucr.ac.cr/ocs/index.php/xiii ciaem/xiii ciaem/paper/viewFile/1611/489, acesso jun/13
[2] AS FUNDADORAS DO INSTITUTO DE MATEMÁTICA E FÍSICA DA UNIVERSIDADE DA BAHIA,
André Luı́s Mattedi Dias, Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.7 no.3 Rio de Janeiro Nov. 2000/Feb. 2001
www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid=S0104-59702001000600005, acesso jun/13
[3] A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL,
Cristina Dalva Van Berghem Motta, Antonio Carlos Brolezzi, Universidade de São Paulo
www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/426CristinaDalva AntonioCarlos.pdf, acesso jun/13
[4] A MATEMÁTICA É FEMININA? UM ESTUDO HISTÓRICO DA PRESENÇA DA MULHER EM INSTI-
TUTOS DE PESQUISA EM MATEMÁTICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, Mariana Feiteiro Cavalari, tese de
mestrado/Unesp/2007, Orientador: Prof. Dr. Sergio Roberto Nobre
www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/brc/33004137031p7/2007/cavalari mf me rcla.pdf, acesso jun/12
[5] DESAFIO DA MULHER CIENTISTA NO BRASIL, Publicado em Claudia, 1/01/2007
www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/8257/desafio-mulher-cientista-brasil/, acesso jun/12
[6] INTERSEÇÕES TEÓRICO METODOLÓGICAS ENTRE A HISTÓRIA DO ENSINO E A HISTÓRIA DA
MATEMÁTICA: discutindo a pesquisa sobre o movimento da matemática moderna, André Luı́s Mattedi Dias, Rev.
Diálogo Educ., Curitiba, v. 9, n. 26, p. 61-79, jan./abr. 2009
www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd1=2584&dd99=view, acesso jun/13
[7] MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES, www.abc.org.br/ mlm, acesso jun/1
[8] MEMÓRIA E HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO BRASIL: A SAÍDA DE LEOPOLDO NACHBIN DO
IMPA, DIOGO FRANCO RIOS, www.ghoem.com/textos/p/dissertacao rios.pdf, acesso jun/13
[9] MULHERES CIENTISTAS NO BRASIL - ENTREVISTA PARA O JORNAL CORREIO BRAZILIENSE
- Blog Cientista que Virou Mãe, Lı́gia Sena, www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/02/mulheres-cientistas.html,
acesso jun/13
[10] MULHERES MATEMÁTICAS: PRESENÇA FEMININA NA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR DE
MATEMÁTICA DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS - BRASIL, Mariana Feiteiro Cavalari, Uni-
versidade Federal de Itajuba - Brasil, RBHM, Vol. 10, no 19, p. 89-102, 2010
http://rbhm.org.br/issues/RBHM%20-%20vol.10,%20no19,%20abril%20(2010)/5%20-%20Mariana%20-%20final.pdf,
acesso jun/13
[11] MULHERES NA CIÊNCIA:PROBLEMATIZANDO DISCURSOS E PRÁTICAS SOCIAIS NA CONSTITUI-
ÇÃO DE ’MULHERES-CIENTISTAS’, Fabiane Ferreira da Silva, Paula Regina Costa Ribeiro, VIII Congresso
Iberoamericano de Ciência, Tecnologia e Gênero, 05-09/abril/2010
http://200.134.25.85/eventos/cictg/conteudo cd/e5 mulheres na ci%c3%aancia.pdf, acesso jun/13
[12] PRIMEIRO COLÓQUIO BRASILEIRO DE MATEMÁTICA: IDENTIFICAÇÃO DE UM REGISTRO,
www.each.usp.br/ixsnhm/Anaisixsnhm/Comunicacoes/1 Raiz A Primeiro Col%C3%B3quio Brasileiro de Matem
%C3%A1tica.pdf, acesso jun/13
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 55

MARÍLIA CHAVES PEIXOTO (1921


- 1961) E JOAQUIM GOMES DE
SOUZA, ¨O SOUZINHA¨
(1829-1864)
OS PAIS DA MEDALHA FIELDS BRASILEIRA
¨Necessitamos uma faculdade que nos faça ver o fim de longe.¨ Henri Poincaré, matemático
francês, 1854-1912
Por NASCIMENTO, J. B.
UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, joaobatistanascimento@yahoo.com.br

O carioca Artur Ávila Cordeiro de Melo, [1 − 5], conquistou um dos maiores feitos que
o mundo da matemática possibilita ao receber, em 12/08/2014, uma Medalha Fields. Tida por
¨Nobel da Matemática¨, criada em 1936, o vı́nculo da idade máxima ser 40 anos faz do ganhador
um ser singuları́ssimo. A sua área de atuação, Sistemas Dinâmicos, embora de conceitos amplos
e abrangência vasta, portanto, muitos fora da abertura do meu compasso de saberes, tem nas suas
pretensões equacionar um fenômeno e determinar sua dinâmica, porquanto, inferindo informações
presentes se tenta determinar do seu passado e/ou futuro.

Assim, educação é sistema dinâmico do qual a componente ensino de matemática no Brasil


acho ser a mais possı́vel de equacionarmos. Do passado, pouco se pode dizer além de ter sido trágico.
Do presente, todos os dados brasileiros dizem que os nossos estudantes na presença de uma questão
dessa tendem não saber quase nada. Portanto, espera-se que essa medalha sirva de alerta do quanto
há de errado no ensino em geral, e mais ainda em matemática [6 − 10]. Porém, diversas outras gan-
has em olimpı́adas nacionais e internacionais, www.obm.org.br/opencms/, acesso ag/14, inclusive
pelo próprio Artur Ávila, pouco efeito surtiram nisso. Com mais ênfase: tudo isso em quase
nada tirou, por exemplo, o MEC da letargia histórica que sofre neste assunto.

E um aspecto dessa tragédia geral é a produção do esquecimento social que em tais ho-
ras não traz à tona personalidades que se envolveram com o tema. E um pioneiro foi o maran-
hense Joaquim Gomes de Souza, ¨O Souzinha (1829 − 1864), quando em 1848, defendeu a
primeira tese de doutorado em matemática do Brasil: ¨Dissertaç~ ao Sobre o Modo de Indagar
novos Astros sem o Auxı́lio das Observaç~ oes Diretas¨, na Escola Real Militar. Portanto, es-
tuda um dos sistemas dinâmicos mais importantes, cuja leitura da referência [11] complementa. A
próxima pioneira é a gaúcha Marı́lia de Magalhães Chaves, [12-13], mais conhecida por Marı́lia
Chaves Peixoto, por ter sido esposa do também laureado em Sistemas Dinâmicos, o cearense
Maurı́cio Matos Peixoto (1921 - ), http://lattes.cnpq.br/6812447898200232, última atualização
em 15/08/2006, acesso ag/14. E um trecho de artigo da Dr. Circe Mary da Silva, UFES, [14],
revela mais um pouco dessa:
¨Marı́lia Chaves Peixoto desenvolveu trabalhos importantes em equações diferen-
ciais, e em pareceria com Maurı́cio Peixoto publicou nos Anais da Academia Brasileira
de Ciências dois artigos: ”On the inequalities y’”? G(x,y,y’,y”)”, em 1949, e ”Struc-
tural stability in the plane with enlarged boundary conditions”, em 1959. Foi eleita
como membro associado da Academia Brasileira de Ciências em 12 de junho de 1951.¨

De fato, Marı́lia Chaves Peixoto é a primeira brasileira eleita para Academia


Brasileira de Ciência, em parte pouco conhecida por ser de uma época em que os cursos de
matemática e engenharia pouco se diferenciavam, os chamados politécnicos. Por estudar mais es-
pecificamente matemática os de engenharia pouco lhe reconhece como tal e no contrário também
ocorre. E como a questão subjacente, gênero em Ciência, não é apenas um problema nosso, pela
primeira vez uma mulher, a iraniana Maryam Mirzakhani [15], ganhou uma Medalhas Fields.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 56

Nisso chegamos na caracterı́stica essencial da má formação no Brasil, pois quando se tenta
nas páginas eletrônicas, como da Poli/UFRJ, saber um pouco dessas referências quase nada se
consegue. E só recentemente tive conhecimento haver um ı́cone em matemática no Brasil, Con-
stantino Menezes de Barros (Óbidos-Pa,19/08/1931, RJ, 06/03/1983), [16], cuja pesquisa via net
com docentes de matemática de universidade pública nos revelou que, fora umas cinco exceções,
nunca tinham sequer ouvido falar nesse. Entretanto, sem essas referências o processo de diplomação,
especialmente no setor que atuo, ensino, fica mais do que desastroso.

Ocorre ainda que geniais do nı́vel de Arthur Ávila pouco prescindem do sistema, esse os
atrapalham, como no caso de ser obrigado fazer graduação quando já se faz doutorado, cabendo
agora informar à sociedade de que na formação não é saudável fazer distinção entre pesquisa e en-
sino, mas nas estruturas governamentais, portanto, inclui universidade pública, pesquisa (processo
de pós graduação) e ensino (formação docente para escola básica) exibe um horripilante descom-
passo, mesmo que o sistema de pós ainda esteja longe de uma adequação mais consistente. Um
desses é que para pesquisa, conseguir lapidar 1% dos jovens é sucesso garantido, enquanto ensino
não pode dispensar nenhum. Sendo mais objetivo: se de 40 ingressantes numa turma nova aqui
na UFPA for possı́vel aparecer um em condições de galgar todos os nı́veis de diplomação e alçar
qualquer nı́vel de pesquisa, o sistema de pós fica absolutamente sustentável. Sendo que Para o
processo de pós/pesquisa, fora exceções, Capes/CNPq garante (embora nem sempre de imediato)
bolsa complementar ao docente/pesquisador, para alguns dos seus estudantes, que de pós ou ainda
em graduação (iniciação cientı́fica), recursos para livros e outros fatores e, mesmo que ainda não
seja o ideal, o estudante tem perspectiva de conseguir emprego com os melhores salários que há no
setor. E mais um detalhe: uma vez ou outra aparece uma turma para avaliar pós, podendo puxar
orelhas de alguns e, no extremo, fechar o programa.

Enquanto para ensino, em termos de formação docente para escola básica (no exemplo que
citei, os outros 39 ingressantes), fora exceções e mais coisa esporádica, quase nada temos para
oferecer, sendo tenedência tratarem esses por lixo acadêmico, apenas usam suas matrı́culas para
engrossar orçamento. E a perspectiva profissional desses são os piores salários de todos com nı́vel
superior e mais ainda: o visı́vel no horizonte é encontrar uma escola pública dominada
pelo pior das politicagens e absurdamente refratária ao que possa prestar como ed-
ucação para o povo. Isso quando a má formação já não o ¨preparou¨ para esse advento.

Finalizando, nada dito visa alertar os que dispõe ou pretenda poder no Brasil, dado que, não
é crı́vel que nada disto seja do desconhecimento de nenhum, faz até parte das suas construções de
poder. Atacar isso é ferir de morte suas pretensões, repito, dos velhos e dos que vejo mais nascendo.

*Fotos ilustrativas copiadas dos seguintes endereços:


www.aicla.com.br/joaquim-gomes-de-sousa/
http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com.br/2007/07/rio-de-janeiro-1948-maria-laura.html

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pesquisadores artur avila, acesso ag/14
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http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/artur-avila-o-genio-brasileiro-cool-das-equacoes, acesso ag/14
[3] O DIA, BRASILEIRO GANHA MEDALHA FIELDS, CONSIDERADO O ’NOBEL DA MATEM ÁTICA’,
12/08/20124, http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2014-08-12/brasileiro-ganha-medalha-fields- considerado-
o-nobel-da-matematica.html, acesso ag/14
[4] BARAVIERA, A. T., POR QUE O MATEMÁTICO BRASILEIRO ARTUR ÁVILA GANHOU A MEDALHA
FIELDS, jornal Zero Hora 16/08/2014,
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2014/08/por-que-o-matematico-brasileiro-artur-avila-ganhou-a-medalha-
fields-4576455.html, acesso ag/14
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 57

[5] O GLOBO, IMPRENSA NA FRANÇA COMEMORA MEDALHA FIELDS DE BRASILEIRO QUE TRA-
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http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/imprensa-na-franca-comemora-medalha-fields-de-brasileiro-que-trabalha-em-
paris-13583544, acesso ag/14
[6] CHAVES, A., A MEDALHA FIELDS E A EDUCAÇÃO QUE LEVOU A ELA, 21/08/2014,
www.sbfisica.org.br/v1/index.php?option=com content&view=article&id=588:a-medalha-fields-e-a-educacao-que-levou-
a-ela&catid=150:opiniao&Itemid=316, acesso ag/14
[7] MUNIZ, C. A., O BRASIL MATA SEUS MATEMÁTICOS: A CADA DIA, EM SALA DE AULA, UnB,
Boletim sbem, na 24, maio 2013, Pgs. 4-6,
www.sbembrasil.org.br/files/Boletim24.pdf, acesso jul/14
[8] CAROLINA, J., BOOM DE ENGENHARIA FAZ PARTICULARES DAREM CURSOS B ÁSICOS DE
MATEMÁTICA E FÍSICA, iG São Paulo, 11/01/2014, http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-01-11/boom-
de-engenharia-
faz-particulares-darem-cursos-basicos-de-matematica-e-fisica.html, acesso ag/14
[9] BORGES, P., MATEMÁTICA, O BICHO-PAPÃO TAMBÉM DA UNIVERSIDADE, iG Brası́lia, 29/12/2010,
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/matematica+o+bichopapao+tambem+da+universidade/n1237899558135.html,
acesso ag/14
[10] GADELHA, P. H., NOVO OLHAR SOBRE A MATEMÁTICA, Jornal Beira do Rio, UFPA, Abril 2011,
www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2011/124-edicao-93–abril/1189-novo-olhar-sobre-a-matematica, acesso
ag/14
[11] ARAUJO, I. C., JOAQUIM GOMES DE SOUZA (1829 - 1864): A CONSTRUÇ ÃO DE UMA IMAGEM
DE SOUZINHA, tese de doutorado, orientadora: Sonia Barbosa Camargo Igori, PUC/SP, 2012,
www.sapientia.pucsp.br//tde busca/arquivo.php?codArquivo=14732, acesso jul/14
[12] MELO, H. P. e RODRIGUES, l. M.C.S., PIONEIRAS DA CIÊNCIA DO BRASIL, pág. 29,
www.cnpq.br/documents/10157/6c9d74dc-0ac8-4937-818d-e10d8828f261, acesso ag/14

[13] NASCIMENTO, J.B., ALGUMAS MULHERES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E QUESTÃO DE


GÊNERO EM C & T. (Versão maio/13), pág. 40-42,
http://sitiodascorujas.blogspot.com.br/2013/06/mulheres-na-matematica.html, acesso ag/14

[14] SILVA, Circe Mary da, POLITÉCNICOS OU MATEMÁTICOS? Hist. cienc. saude-Manguinhos, 2006,
vol.13, n.4, pp. 891-908,
www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid=S0104-59702006000400007&lng=es&nrm=iso&tlng=es, acesso jul/14

[15] O GLOBO, IRANIANA É A PRIMEIRA MULHER A GANHAR MEDALHA FIELDS, O ’NOBEL’ DA


MATEMÁTICA, 13/08/2014
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/iraniana-a-primeira-mulher-ganhar-medalha-fields-nobel-da-matematica-13579751,
acesso ag/14
[16] NASCIMENTO, J.B., CONSTANTINO MENEZES DE BARROS I, (II a V pode se pedido por e-mail),
Blog Chupa Osso, 05/05/2013,
www.chupaosso.com.br/index.php/obidos/educacao/2149-vida-e-obra-de-constantino-menezes-de-barros, acesso ag/14
[17] Cruz, Carlos Henrique de Brito IDEIAS FUNDADORAS; VANNEVAR BUSH - SCIENCE THE ENDLESS
FRONTIER, Ver. Bras. Inovação, v. 13, n. 2 jul/dez (2014), pág. 239-240,
www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/rbi/issue/view/50, acesso set/14
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 58

MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES


(Timbaúba-PE, 18/01/1919 - Rio de Janeiro-RJ, 20/06/2013)
UMA DAS PRIMEIRAS DOUTORAS EM MATEMÁTICA DO
BRASIL E EDUCADORA QUE SE PROJETA POR DENTRO
DA NOSSA REALIDADE MAIS DURA

¨Quase sempre, liberdade é apenas a liberdade de quem discorda


de nós.¨ (Rosa de Luxemburgo)

Por NASCIMENTO, J. B.
UFPA/ICEN/Matemática, Agos/14
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2011/124
-edicao-93–abril/1189-novo-olhar-sobre-a-matematica Email: jbn@ufpa.br/
joaobatistanascimento@yahoo.com.br

Como cearense que sou, ouvi alguém numa cantoria lançar mote perguntando ao repentista
do que procurava andando por sertão tão sofrido pela seca. Esse responde que procurava uma rosa,
que mesmo só no cascalho e pouco orvalho floria, bem bonita e formosa, que ele do nordeste faria,
uma terra gloriosa. E uma vez que ensino da matemática no Brasil, assim como todo o educacional,
sofre até de securas maiores, MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES preenche inte-
gralmente tal paralelo. O que falta é semeá-la por todo o Brasil.

Lembro que não sou biógrafo, dessa e diversas outras há em [1-10], apenas rascunho visando
motivar trabalhos mais aprimorados no tema. Na primeira parte o objetivo é abrir pequenas janelas,
porquanto fatos incompletos, da vida escolar, docente e acadêmica de tão magistral professora, e
deste como foco projetá-los por dentro do educacional num caminho que chegar-se-á à atualidade.
Para tanto, delinearei algumas reflexões em educação e ensino da matemática, centradas em univer-
sidade pública, todas de profundidade rasa e, não obstante, precisando de (con)vivências no meio
escolar traduzidas pela ação docente e, portanto semeadas pelo chão duro, mormacento, sufocante
e espinhoso das nossas salas de aulas.

Na parte seguinte pontuarei alguns fatos da matemática, deixando ao leitor fazer estudo
mais aprofundado, e mais relacionados com ensino básico e no que foi preocupação maior dessa:
formação docente. Mais precisamente, abordo conteúdos de correlação, inferência apenas, com a
tese de doutorado de tão rica personagem. São aspectos que tomo por essenciais na qualificação do
ensino básico, portanto, dever da formação na área contemplar, sem que se descarte haver muito
de pretensão da minha parte.

Dedico esta versão:


ANA KALEFF, http://uff.academia.edu/AnaKaleff
DUCIVAL CARVALHO PEREIRA, http://lattes.cnpq.br/4165444781673475
LUIZ ADAUTO DA JUSTA MEDEIROS, www.im.ufrj.br/ medeiros/
RENATE GOMPERTZ WATANABE, [1], http://meusite.mackenzie.com.br/renate/
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 59

ALGUMAS FOLHAS ESTORICADAS E RE(DES)TORCIDAS DA EDUCAÇÃO


BRASILEIRA
¨Talvez sustentem muitos de nossos pretensos filósofos
que o homem justo jamais se torna injusto nem o
sábio, insolente. Que uma vez de posse de uma ciência,
nunca mais se esquece o que aprendeu. De minha
parte, estou longe de pensar como eles.¨ (Sócrates)

Aberta uma janela do vivencial de tão ilustre personalidade projetarei um caminho fino desse
ponto aos dias atuais, passando pelo incontornável, a ditadura de 64 e, praticamente o mesmo, me-
andros da universidade pública. Mais detalhes disto constam no meu rascunho [11]. Esses meandros
visam provar por esse caminho que alguns preceitos ditatoriais, bem como outros que já estavam
na base mais ad(per)versa da educação brasileira e que essa alargou, continuam encrustados após
o dito processo de redemocratização. Sendo mais objetivo: se nem essa, dita por celeiro da intelec-
tualidade pensante do paı́s, anulou métodos e parâmetros desenvolvidos pelos áulicos da ditadura,
havendo caso em que aplica tudo até com muito gosto, os demais entes sociais ficam isento por não
ter conseguido.

O aparente contraditório nessa realidade é pelo seguinte: embora inegável que a parte mais
abjeta da ditadura deixou o poder, nisso há muito de engodo. Não se fez isso sem antes determinar
o funcional das instituições, permeando os métodos e parâmetros com os seus desejos mais obscenos
e inconfessáveis, colocando nas posições chaves o máximo de asseclas e quase sem chance de fu-
turamente se chegar nisso sem não ser tal qual. E nada disto se manteria, como já é visı́vel após
mais de trinta anos desse evento, pela força das armas. Essa manutenção é fruto de mentalidade
social no exercı́cio do poder e ninguém mais é responsável por isso no Brasil do que universidade
pública. Havendo o mais grave: no geral, universidade pública não tem do que se queixar da parte
mais cruenta da ditadura. Recebeu aporte financeiro considerável enquanto ao povo, escolaridade
básica, o ofertado foi apenas dentro dos mesmos princı́pios do asqueroso Movimento Brasileiro de
Alfabetização - MOBRAL. Lembro que, fora caso excepcional, rede privada nesse caso é apenas
apêndice de pública, nem currı́culo diferenciado curso dessa pode ter.

Já o caminho traçado será pontuado mais pelo o avaliativo, pois esse em todos os nı́veis e
formas revela marcas, amarras e (de)formações de todo o processo educacional. Esse, além de ponto
de convergência dos demais fatores da educação, é denso, define e referencia, portanto, alimenta
métodos e parâmetros, quando ainda há impressões e imposições de poder. E poder tem como in-
terferir interditando o que qualificam o avaliativo e impondo decisões ilegı́timas. Um caso é quando
idade menor da pertinente e recomendável para cursar determinado nı́vel vira impeditivo sem que
o fator determinante, o conhecimento, seja presente.

Maria Laura Moura Mouzinho, nasceu em Timbaúba, agreste pernambucano, indo


estudar em Recife e depois no Rio de Janeiro. Se parado educando sofre revés, andando pode
encontrar-se até com o desastroso. E o ocorrido ela nos conta em trecho dessa entrevista [12] (g.n):

¨viemos para o Rio, em 1935. Eu tinha então 16 anos e o curso nor-


mal não era aceito, porque era restrito ao estado. Teria que recomeçar o
curso ginasial. Então fiz o exame de madureza, que avaliava os primeiros
anos do curso ginasial. Meu pai teve que alterar minha certidão de nasci-
mento para 18 anos, quando na verdade tinha 16. Só fiquei sabendo disso
muito depois. Felizmente consegui passar.¨

Lembro que Exame de Madureza era processo supletivo da época, função que hoje o Exame
Nacional do Ensino Médio - ENEM também serve, porquanto, sua aprovação certificava num bloco
equivalente ao primeiro e/ou segundo grau. O dito também explica da mesma aparecer em alguns
documentos como se tivesse nascido em 1917.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 60

E atualmente grande parte desse descompasso entre redes de ensino básico no paı́s é mino-
rado não pelo que deve haver, currı́culo nacional, mas por alguns referenciais teóricos e livros ditos
didáticos aprovados pelo MEC seguir um padrão e, portanto, ocupando o lugar desse. De fato, uma
das justificas para gastos bilionários com tais livros didáticos é a falta de um livreto especificando
conteúdo mı́nimo para cada série, conjuntamente da absurda falta de garantias de que só citando
o diplomado, não vale acusar leigo se não souber, já saiba do que se trata e do como ensiná-lo com
um mı́nimo de qualidade.

E haver uma base curricular nacional, luta do começo do séc. XX, foi preconizada na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, mas ainda não implantada. O que faz ficar até
engraçado se achar artigos na internet como se houvesse, portanto, foram em parte enganados, pois
é pior: cada canto tem o seu. E temos o trágico: haver avaliações de cunho nacional sem isso. Mais
ainda: depois de vários anos tramitando sofreu sanção presidencial em 25/06/2014 o novo Plano
Nacional da Educação (PNE), cujas propostas nem vejo como ter sentido sem isso, e pouco dias
depois o MEC descobriu esse ¨esquecimento¨, como mostra a seguinte manchete, quando sempre
quero com isso indicar leitura complementar:

MEC INICIA CONSTRUÇÃO DE CURRÍCULO


NACIONAL
Paulo Saldaña e Victor Vieira, O Estado de São Paulo, 03/jul/2014,
Fonte: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,mec-inicia-
construcao-de-curriculo-nacional,1522577, acesso jul/14

Uma das razões para tanto ¨esquecimento¨ é que havendo um currı́culo do ensino básico,
sendo esse o mais fundamental no sistema educacional, isso determina responsabilidades, por-
tanto, essa discussão que MEC inicia tem tudo para durar décadas. Começando que o processo
de diplomação não pode fazer isto sem garantir domı́nio de todos os tópicos desse e com boa
maestria. É por isso, novamente só a manchete, que tal afirmativa é verdadeira pela falta do que
determine quais saberes docente prescinda dominar:

PARA PESQUISADORA, FALTA PADRÃO MÍNIMO DO


QUE É UM BOM PROFESSOR
Karina Yamamoto, Do UOL, em São Paulo, 26/08/2013 Fonte:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/08/26/para-pesquisadora-
falta-padrao-minimo-do-que-e-um-bom-professor.htm, acesso jul/14

O que deveria já ser evidente por esse testemunho de Laura Mouzinho, portanto praxe
qualificadora, seria que o conhecimento necessário para o exame essa detinha sem que os dois anos
ganhos contribuı́ssem numa vı́rgula. O seguinte informe mostra tão longe estamos de qualquer
semeadura de bom senso nisso (g.n):

PAIS QUESTIONAM RIGIDEZ DE NORMA DO CNE


QUE BARRA MATRÍCULA DE ALUNOS COM MENOS
DE 6 ANOS
Somente crianças que alcançam a idade escolar até 31 de marços
podem ser matriculadas no primeiro ano do ensino fundamental
por Raphael Kapa, O Globo, 15/06/2014
Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/pais-questionam-
rigidez-de-norma-do-cne-que-barra-matricula-de-alunos-com-menos-de-
6-anos-12865320#ixzz34ntG1eI, acesso jun/14
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 61

Reconheço, por questão estratégica, planejamento governamental, correlação psicológica e


construções conceituais, da necessidade de idade mı́nima para ingressar no processo de escolar-
ização estatal, certificadora para o mundo do trabalho, sendo isso função do currı́culo. O trágico
é não se conceber ser isto diferente de aprendizagem, pois nisso não vejo limite de idade e nem
de conteúdo, falo por matemática, apenas como fazer é o diferencial. Porém, como idade no caso
citado, o secundário redundando no único critério avaliativo, até por força de lei, torna o processo
corrompido por diversos fatores.

Nisto, se universidade pública não fosse delineadora privilegiada do eticamente aceitável na


estrutura pública, portanto, isso se refere ao que envolve recurso público, talvez a evolução histórica
mais escandalosa é o caso do treineiro: o que faz prova de ingresso ao ensino superior sem que tenha
concluı́do Ensino Médio. Desconheço historicidade de quando começou, mas é possı́vel de conseguir
em alguns sistemas de vestibulares listões disto em que treineiro teve nota superior ao último que
ingressou e ficou de fora, na melhor das hipóteses, por ter menos tempo em sala de aula. Pois, se
fosse o processo de avaliação confiável teria saber necessário para fazer o curso.

Essa é uma discussão longa, cujos preceitos se apoiam no que universidade pública desen-
volveu socialmente para ganhar taxas desses e jamais por interesse educativo. Um desses é no
sentido de que tais teriam que ficar mais tempo no ensino básico para ganhar maturidade, quando
idade não garante necessariamente isto e nem há em qualquer ponto do processo nada medindo
isso dos que concluı́ram. E o mais grave: uma vez bloqueado pelo tempo que deve passar no ensino
básico, a prova de ingresso pode ser em nı́vel essencialmente dos conteúdos do Ensino Fundamental,
como é o caso de matemática no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, sendo que neste a nota
só serve como supletivo ao que tiver idade mı́nima de 18 anos, e assim acobertam o desastroso que
há no Ensino Médio. E quando até os responsáveis maiores, como o MEC, se desviam dos valores
primários da educação, tribunal sobra como corretor possı́vel. E só a manchete de um caso.
JUSTIÇA AUTORIZA TREINEIRA MENOR DE IDADE A
ENTRAR NA UNIVERSIDADE USANDO ENEM
Davi Lira - iG Educação, 12/08/2014
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-08-12/justica-autoriza-
treineira-menor-de-idade-a-entrar-na-universidade-usando-enem.html,
acesso ag/14

Feito esse panorama do ensino básico à porta do ensino superior, vamos adentrar e mais
especificamente na formação em matemática. Uma folha disto descreve o seguinte relato:

¨De inı́cio o Curso Matemático foi procurado apenas por alunos do sexo
masculino, num total de vinte e nove matriculados, segundo o anuário da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP 1934. Porém, a desistência
foi grande, já que no segundo ano, apenas sete mantiveram suas matrı́culas.
No ano de 1935, dezesseis alunos matriculam-se na Subseção de Ciências
Matemáticas, da Faculdade de Filosofia; três deles, do sexo feminino: Yolanda
Monteux, Maria Izabel Arruda de Camargo e Hilda Mello Teixeira; sabe-se
duas primeiras se formaram no ano de 1937. Um dos autores desse trabalho,
professor Ubiratan D’Ambrosio, foi aluno de Maria Izabel Arruda de Camargo,
no Instituto Caetano de Campos, onde ela era professora concursada. Nada
foi pesquisado sobre sua trajetória, que acreditamos ser essa a primeira Li-
cenciada em Matemática a assumir uma cadeira num ginásio oficial¨ [1, pág. 35]

Nisso a qualidade do ensino básico em matemática é preponderante e como não há nada
historicamente palpável que tenha alterado esse para melhor, o mesmo é atualı́ssimo, salvo exceções.
E em alguns casos, como licenciatura em matemática via o programa PARFOR/CAPES, os dados
são diametralmente opostos, mas por razões que não incluiu ser por melhor qualidade, mas folha
queimada pela absurda falta disto.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 62

Laura Mouzinho, simplificação carinhosa, tendo sido reprovada em desenho para o ingresso
em engenharia, por idas e vindas, começa em 1939 o curso de matemática da Faculdade Na-
cional de Filosofia (FNFi), da Universidade do Brasil, atual UFRJ, concluindo o bacharelado em
1941, licenciatura no ano seguinte e, em seguida, 1943, tornar-se docente dessa faculdade. Seguindo
seu aperfeiçoamento em matemática, agora como é mais citada, a Professora Maria Laura se
prepara para sua tese de livre docente com orientação do matemático português, então docente
visitante, António Aniceto Ribeiro monteiro (Angola, 31/05/1907- Argentina, 29/10/1980),
vindo defender essa, intitulada: Espaços Projetivos - Reticulado de seus subespaços, em
25/09/1949, sendo que a aprovação nisto, regimentalmente, atribui-lhe do tı́tulo de doutora em
matemática.

Ocorre que, paralelamente, na USP havia sido iniciado doutorado em matemática de outra
forma, com um determinado padrão curricular, implicando haver disciplinas obrigatórias, através
do qual a Professora Elza Furtado Gomide (20/08/1925 - 26/10/2013) [13-5] defende tese em
27/11/1950, orientada pelo matemático francês Jean Delsart, então docente visitante, intitulada
Sobre o teorema de Artin-Weil.

Em função dessa diferença, alguns consideram ser Elza Furtado Gomide a primeira doutora em
matemática do Brasil e, talvez ainda, influenciados por esse episódio que a Professora Maria
Laura narra na entrevista [12]:

¨Como não havia doutorado aqui, tı́nhamos que fazer a livre-docência.


Houve então uma cisão no Departamento de Matemática entre um grupo,
capitaneado pelo Monteiro, e outro, pelo Rocha Lagoa. Em 1949, fui fazer a
livre-docência, orientada pelo Monteiro, e o Rocha Lagoa fez questão de ser da
banca examinadora, que era composta pelo Elysiário Távora Filho [1910-2001],
da mineralogia, e o Oliveira Júnior. De fora, vieram o Christóvam Colombo
dos Santos [1890-1980] e o [Luı́s] Caetano de Oliveira. O Rocha Lagoa quis
ser o primeiro a falar na defesa da tese. E disse: ¨Professora Maria Laura,
é muito bom o seu percurso aqui na faculdade, mas a sua tese é um plágio
com intenção dolosa. A senhora não é culpada; o culpado é seu orientador,
Antonio Monteiro.¨ Ele me acusou de plagiar um artigo do [matemático
norte-americano Orrin] Frink Jr. [1901-1988] sobre o qual eu tinha baseado
minha tese. Eu subi nas tamancas. Fiz os maiores elogios ao Monteiro, porque
inclusive o contrato dele na universidade não tinha sido renovado por ele ser
antissalazarista. Fiquei completamente descontrolada. Em seguida, o Távora
tomou a palavra e ficou tão desnorteado que disse: ”Maria Laura, a sua tese
é perfeita. Não tenho o que dizer”. Em seguida veio o Caetano, que também
me defendeu. Então houve um intervalo e, depois, foi a vez do Christóvam
me arguir. Ele foi formidável, porque me fez a pergunta certa para eu poder
responder com propriedade. Era sobre o resultado que eu tinha obtido. Aı́
pude mostrar que não era plágio. O Oliveira Júnior também interveio a meu
favor. Então fizeram a ata. O Rocha Lagoa não teve coragem de me dar
uma nota de reprovação e me deu 7. Os outros todos me deram 10. Mas aı́
o Rocha Lagoa disse: ¨O concurso está nulo, porque a lei diz que todos os
examinadores devem arguir o candidato e o professor Távora não arguiu.¨
Quem me defendeu foi novamente o Christóvam. Ele disse que a lei não dizia
”arguir de erros”, e como o Távora declarou que a tese era perfeita, ele havia
feito uma arguição. Mas o Rocha Lagoa não se contentou. Naquela época a
gente recebia os vencimentos em espécie. Um funcionário do Ministério da
Fazenda vinha com uma maleta e entregava o salário um a um.¨
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 63

¨Então, quando eu estava na fila para receber o ordenado daquele mês, o


Rocha Lagoa mandou o servente distribuir a arguição que ele tinha feito da
minha tese. Certamente, o mais atacado foi o Monteiro. Decidi fazer uma
resposta. Na fila do mês seguinte, mandei distribuı́-la. No outro mês, veio sua
tréplica.¨

Assim fica claramente determinado que o alegado plágio não tem fundamento. A questão
foi de cunho polı́tico e não envolveu matemática. Nesse processo, embora tivesse, formalmente não
existe orientador, esse nem fazia parte da banca, sendo a candidata a única responsável. No doc-
umento citado consta carta do pesquisador americano reconhecendo que não se trata de plágio. E
os principais resultados da sua tese constam em artigo, [16].

Vale lembrar que o primeiro brasileiro doutor em matemática, Joaquim Gomes de Souza,
¨O Souzinha¨ (1829-1864), pág. 55, [18], em 1848, defendeu a sua tese: ¨Dissertaç~
ao Sobre o
Modo de Indagar novos Astros sem o Auxı́lio das Observaç~ oes Diretas¨, na Escola Real
Militar, dentro de processo similar desse da Professora Maria Laura. Acresce ainda que dos
demais que tiraram tı́tulo de doutor pelo mesmo processo jamais li nada que os desabonasse por
isso.

Entretanto, nada disto serve em diferenciação alguma das Professoras Maria Laura
Mouzinho e Elza Furtado Gomide, dado que, dentro dos seus espectros de ação, ambas repre-
sentam e honram igualmente a matemática brasileira. Apenas, serve como registro histórico dessa
precedência de Maria Laura Moura Mouzinho.

E como aqui é tal qual andar descalço pelas caatingas quentes e espinhentas, acrescentarei
mais disto. Só é matemático o que tenha sido ungido por um processo inserido formalmente na área?
Defendo que para docência saber matemática é apenas o principal, longe ainda do suficiente e um
objetivo de qualificar o ensino básico é atender engenharia, posto que, o que for cursar matemática
terá oportunidade e obrigação de refazer tudo e ainda buscando formas diferentes. Entretanto, de-
pendendo da especialidade, o de engenharia também faz matemática.

Além disso, curso de matemática no Brasil, tardiamente e com evolução bastante lenta,
começa pela década de trinta do séc. XX, [19], cabendo formação em engenharia atender necessi-
dades do ensino da matemática ao especializar-se autodidaticamente. E por volta dos fins dos anos
quarenta do séc. XX, já se pontuam fatos que colocava diferença entre os que atuavam em centro
de matemática e em cursos de engenharia lecionando e pesquisando matemática, conhecidos por
Politécnicos. Um caso desse da UFPA consta em [20] e uma personagem que estava nesse limbo
aparece nesse relato [21]

¨Marı́lia Chaves Peixoto desenvolveu trabalhos importantes em equações difer-


enciais, e em pareceria com Maurı́cio Peixoto publicou nos Anais da Academia
Brasileira de Ciências dois artigos: ”On the inequalities y’”G(x,y,y’,y”)”, em
1949, e ¨Structural stability in the plane with enlarged boundary conditions¨,
em 1959. Foi eleita como membro associado da Academia Brasileira de
Ciências em 12 de junho de 1951.¨

MARÍLIA DE MAGALHAES CHAVES, 1921-1961,52 teve vida curtı́ssima e densi-


dade matemática inigualável no Brasil. Dado que, esses seus trabalhos são embrionários em Sis-
temas dinâmicos, áreas que projeta o Brasil internacionalmente ao ponto do carioca Artur Ávila
Cordeiro de Melo conquistar um dos maiores feitos em matemática por receber em 12/08/2014
uma Medalha Fields. Portanto, podemos assim dizer, essa é a mãe desta nossa medalha. Porém,
e não há outra palavra, é alijada de forma miserável da historiografia em matemática e engenharia.
Pois, até essa dada, 22/08/2014, não encontro na página da Poli/UFRJ, tal qual como ocorre nos
demais centros pelo Brasil, nada em referência dessa e dos docentes que constituem o seu passado.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 64

Sendo aqui apenas para ressaltar desse desprezo que corrói formação, reproduzo dois e-mails
que enviei e icujos resultados podem ser verificados.

Excelentı́ssimo Presidente da ABC, Jacob Palis

Tenho tentado de muito tempo obter na página da Academia Brasileira de Ciência


- ABC informações básicas da acadêmica Marı́lia Peixoto e sem resultado algum.
Talvez por haver algum problema como quebra de link. Solicito do seu empenho
junto ao setor responsável para disponibilizar tais informações.

Belém-Pa, 02/08/20014
Att. Prof. João Batista do Nascimento - ICEN/UFPa

Prezado Prof. Maurı́cio Matos Peixoto

Faço um pequeno trabalho de divulgação que envolve matemáticas brasileiras


e estou com duas dúvidas envolvendo Marı́lia Peixoto, nas quais gostaria da
sua ajuda, se possı́vel.

1 - Não encontro, data, banca e tı́tulo da tese de livre docente dela, sendo
muito provável que essa tenha feito por ter sido eleita acadêmica

2 - Em trabalho da professora Circe/UFES, acho o seguinte: ¨Marı́lia Chaves


Peixoto desenvolveu trabalhos importantes em equações diferenciais, e em
pareceria com Maurı́cio Peixoto publicou nos Anais da Academia Brasileira
de Ciências dois artigos: ¨On the inequalities y’”¿ G(x, y,y’,y”)¨, em 1949, e
¨Structural stability in the plane with enlarged boundary conditions¨, em 1959.
Foi eleita como membro associado da Academia Brasileira de Ciências em 12
de junho de 1951. ¨ (www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid=S0104-
59702006000400007&lng=es&nrm=iso&tlng=es). E nessa versão do seu
lattes, http://lattes.cnpq.br/6812447898200232, Última atualização em
15/08/2006, acesso ag/14, não encontro esses e consta um desses em
http://www.abc.org.br/p̃eixoto.
Dado o inegável valor histórico do seu currı́culo lattes como fonte de pesquisa
em história da matemática recente, peço-lhe, se possı́vel, da possibilidade de
atualizá-lo inserindo essas informações.
Belém-Pa, 0208/20014

Att. Prof. João Batista do Nascimento - ICEN/UFPa

E o retorcido em educação no caso, titulação em doutorado, salvo excepcionalidade das mais


rarı́ssima, é que os programas atuais de doutorado no Brasil, ao contrário da inexistência no ensino
básico, são baseados em grandes curriculares, com situações até de extrema rigidez por subárea. E
extrema rigidez sempre tende ao adestramento puro e pode, tal como jegue que trabalha forçado
pelo dia dormir noite inteira, o doutor assim produzido entrar numa profunda letargia pelo resto
da vida acadêmica, portanto, deixo o meu alerta. Já do nı́vel escatológico que o Brasil se acha
envolvido por isso quem prova é esse trecho de artigo do professor emérito da Universidade de
Brası́lia Nagib Nassar [22]
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 65

¨Em sua última edição (Outubro de 2012), na página 37, a renomada


revista Scientific American publicou um artigo com dados sobre os ’Melhores
Paı́ses na Ciência’. Nele, me chamou atenção que o Brasil está situado
na sétima posição em número de doutores formados, na frente de paı́ses
tradicionalmente reconhecidos nesta área como Canadá, Espanha, Austrália,
Suécia, Suı́ça (12o lugar), Polônia, Holanda (14o lugar), Áustria, Bélgica,
Finlândia e Dinamarca (24o lugar).
Na primeira instância, nos desperta muito orgulho e admiração. Mas (há
um ’mas’ no caminho), a alegria não dura muito. Na coluna de categoria de
trabalhos publicados em periódicos indexados e de razoável impacto, o Brasil
não aparece em nenhuma posição relacionada, nem na última, que é o 25 o
lugar! ¨

Fecho essa e abro outra janela. Como já se constata, estamos ante uma personalidade singu-
lar, coisa que asseclas de ditadura não suporta. Em depoimento via e-mail o matemático Ubiratan
D’Ambrosio (São Paulo, 08/12/1932 -) reconhece essa, conjuntamente com o paraense então lı́der
estudantil que se tornaria um dos maiores matemáticos do Brasil, Constantino Menezes de Bar-
ros (Óbidos-Pa,19/08/1931, Rio de Janeiro-RJ, 06/03/1983), [23-24] por volta de 1953, apoiando
movimento de greve na universidade.
Com o golpe de 64, então Maria Laura Mouzinho Leite Lopes por haver se casado
em 1956 com o já famoso fı́sico brasileiro José Leite Lopes (1918-2006), por preocupações dos
amigos do exterior, até pelas posições polı́ticas deles e ligações com Darcy Ribeiro (26/11/1922,
17/02/1997) na formulação inicial da Universidade de Brası́lia, conseguiram uma posição de do-
cente para Leite Lopes em Nancy, França. Retornaram ao paı́s em 1967 e em 1968, com o Ato
Institucional no 5 (AI-5), foram ambos cassados.
Com a anistia, a professora Maria Laura Mouzinho Leite Lopes voltou em 1980 para
o agora denominado Instituto de Matemática da UFRJ. Um trecho da entrevista em [12] torna-se
relevante:

¨O regime militar ainda não permitia que voltassem para a UFRJ, não é?

A anistia foi em 1979, mas só voltei para a universidade em maio de 1980. O
diretor do Instituto de Matemática, Annibal Parracho Sant’Anna, tinha sido
meu aluno. Ele me perguntou para qual dos quatro departamentos eu gostaria
de ir. E eu disse que queria ir para um quinto departamento, de educação
matemática. Mas como era muito difı́cil criar um novo departamento,
acabei me enquadrando no de Estatı́stica, o que foi muito proveitoso. A
reforma universitária foi boa por introduzir a pesquisa e a pós-graduação na
universidade, mas a graduação foi desprezada e a licenciatura, desvalorizada. ¨

Fica visı́vel que a ditadura mudou universidade pública não apenas por renomeações de al-
gumas estruturas, no caso já tinha ocorrido antes da cassação dela, mas no que era mais importante:
mentalidade [25]. Posto que, sem isso não seria concebı́vel que alguém não soubesse qual sempre
foi o lugar dela e, se fosse o caso, depois quisesse ir para algum outro seria decisão pessoal.
A constatação que essa faz mostra o nı́vel da mentalidade educacionalmente corrompida
que fora implantada quando querem desenvolver pós graduação menosprezando graduação e mais
ainda licenciatura. É a prevalência e até recrudescimento desta pelos atuais centros de formação em
matemática, como sempre só interessa universidade pública, o que exemplifico haver [11]. E quanto
ao dito por essa em preferir um departamento em educação matemática, expressa tanto da nova
qualificação que adquiriu enquanto estava exilada quanto da sua atuação na escola básica depois
que regressou ao Brasil. Bem como, sua disposição no enfrentamento dessa mentalidade, porquanto,
haveria por dentro dessa folha seca, retorcida e estorricada do ensino da matemática, semear um
pouco da sua marcante esperança.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 66

Pois, enquanto esteve no exı́lio trabalhou no Institut de Recherches sur l’Enseignement des
Mathématiques (IREM), estrasburgo (França), importante centro de desenvolvimento de metodolo-
gias e, portanto, de formação docente. E ao retornar em 1974, passou a atuar também no en-
sino básico e foi uma das fundadoras do GEPEM - GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, www.gepem.ufrrj.br/index.php, acesso jul/14, congregando estu-
diosos no tema.

Após sua volta à UFRJ, funda em 1983 o PROJETO FUNDÃO, www.projetofundao.ufrj.br/,


acesso jul/14, visando formação docente continuada, não apenas em matemática, sendo que o es-
pecı́fico nisso consta em www.projetofundao.ufrj.br/matematica/, acesso jul/14. E não há dúvida
do seu trabalho irradiar esperança da porta da UFRJ para fora, sensı́vel em muitas escolas básicas
e em outros grupos no tema tanto no Rio de Janeiro como pelo o Brasil.

Porém, no núcleo fundamental interno, licenciatura em matemática da UFRJ, portanto,


estou refletindo por dentro da grande curricular dessa, a parte mais profundamente aversiva dessa
mentalidade da ditadura permanece, tal qual por todos os demais centros congêneres. Essa é o
desprezo por matemática das séries iniciais, posto que, na grande curricular, tanto em matemática
quanto em pedagogia, nas práticas os sinais descaminham para preconceito puro, não se abor-
dam esses conteúdos em si por considerá-los de nı́vel irrelevante ou repetição tal foi ¨ensinado¨ na
própria escolarização básica, supondo-se que aprendeu por fazer curso superior, isso ainda seguido
de outros fatos derivativos.

Mais objetivamente: o diplomado em matemática por tal processo não tem condições mı́nimas,
se depender só disto, de fazer qualquer diálogo produtivo em matemática quanto estiver na es-
cola básica com os seus pares das séries iniciais e ainda há ampla possibilidade de profundamente
menosprezar isso, o que putrefaz a base fundamental do ensino da matemática. E o decorrente
mais cruel disto é pedagogia ficar sem profissionais que atendam, se tivesse, suas necessidades de
formação nesse campo [26-7]. Logo, esse é um ciclo a ser quebrado urgentemente no Brasil

Portanto, concluindo esta parte, pelos menos ainda, pontos interiores da UFRJ não exalam
sinal ponderável de que às concepções determinantes, em termos de ensino e formação docente
em matemática, projetadas pela PROFESSORA MARIA LAURA MOUZINHO LEITE
LOPES tenham qualquer luminosidade consistência e condicente com toda sua luta e grandeza.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 67

CONTAGEM, VISÕES, RELAÇÃO DE EQUIVALÊNCIA,


FRAÇÃO E GEOMETRIA PROJETIVA
¨E nossas sombras pelas paredes moviam-se,
aconchegadas como nós, e gesticulavam, sem voz. ¨
(Cecı́lia Meireles)

Advirto que a normalidade que faz o ensino da matemática no Brasil ser um dos mais trágicos
impõe que o possı́vel que qualifique tenda parecer sem nexo, sem sabor e ter sido diplomado achando
isso amargo é até construção ideológica e, porquanto, exige muita paciência e reflexão. Além disso,
nada aqui já é sistematizado para aplicação imediata na sala de aula, visa ser parte da formação,
exigindo fazer exercı́cios propostos, estudos outros e práticas mais aprofundadas.

Um dos cernes aqui é haver uma boa quantidade de observações empı́ricas indicando nós
humanos nascermos com mais prospecção enxergarmos em duas dimensões, bidimensional, sendo o
tridimensional mais fruto de aprendizagem, [28], portanto papel da escola desenvolver e aperfeiçoar.
Além disso, enxergar não redunda apenas no que é produzido pelo visual, porquanto, faz sentido
haver metodologia visando ensinar geometria, e matemática em geral, ao educando cego [29 - 31].

Sendo contagem um dos primeiros temas, registro antigo atribui ter sido o filósofo grego
Sócrates que, pode-se dizer, literalmente insultou os pitagóricos quando disse não entender como
um objeto mais outro objeto torna-se um único objeto chamado dois. E a resposta que pitagóricos
deram virou padrão, especialmente no ensino da matemática ibero-americano, de que seria muita
imbecilidade discutir matemática com o que nem sabe ser 1 + 1 = 2. E essa continua assim, mesmo
quando já temos álgebras, como a booleana (George Boole, 02/11/1815 - 08/12/1864), em que
há simbolização do tipo 1 + 1 = 0. E como quase ninguém acredita haver ciência no que criança
possa pensar, isso rende boas piadas.

Fonte: www.alinevalek.com.br/blog/2012/01/calvin-haroldo-por-criancas-mais-criticas/, acesso ag/14


Assim, pode-se se dizer que o tema por dentro da formação em matemática no Brasil não é
sequer objeto de discussão, portanto, inferência ainda que no nı́vel teórico é pior do que represada,
padece dentro da mais completa ojeriza. Logo, pode-se considerar os experimentais que seguem
como concepções hipotéticas, dado que, a personagem que deveria ser mais presente, criança, con-
traditoriamente é tida por desprovida de cientificidade [32-3]. E no que segue faço apenas leves in-
dicativos, alguns até alegóricos, dado que, não se defende que formação desse nı́vel é coisa simplória
e sempre que possı́vel o avaliativo pontuará nas concepções.
Considere que se coloque em cima de uma mesa com ajuda de conta gota, tudo em posição
fixa, duas gotas d’águas. Sendo este o conhecimento produzido vale ser perguntado quantas gotas
há em cima da mesa. Para os que estavam presentes ou foram ensinado por algum outro processo de
quantas são, a resposta são duas. Entretanto, ao que não se enquadra no caso anterior, a resposta
racionalmente possı́vel é uma gota, se ainda tiver como visualizar algo nesse sentido, ou nenhuma.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 68

Note que saber do que venha ser ¨duas gotas¨ é hipótese, axioma da experiência, car-
acterı́stica de toda aula e sem garantir isso a mesma perde sentido. Este saber é disponı́vel ao
presente (visual) e ao ausente que tenha sido ensinado. O que estiver no complementar desses pode
ainda, dependendo do tempo, detectar uma ou nenhuma. Assim ficam como interferindo nisso o
visual e o tempo. E, por óbvio, esse exemplo pode ser alargado para outras possibilidades e estudos.

Agora vamos considerar haver duas laranjas sobre uma mesa. Ocorre que, se ficar depen-
dendo exclusivamente do visual para ser dito quantas há em cima da mesa, pode ser que se esteja
numa posição em que uma impeça ver a outra e, portanto, novamente, dependendo apenas do vi-
sual, a resposta racional é haver uma. Permanecido esse em tal posição, fica pertinente determinar
quais operações se fazer na mesa para que o mesmo tenha esse conhecimento, como matematizar
tais operações e mı́nimo necessária. Suponha mais laranjas e determine modelos. Essa experiência
nos dar conta do visual, falta da interferência do tempo, o qual poderia até extinguir as mesmas.
E assim, há nessa concepção matemática de que ¨1+1=2¨, pelos menos as seguintes hipóteses:

I - Os objetos não se fundem e nem se extinguem, portanto, atemporais; e


II - A quantidade que se tomará por correta é a visualizado na maioria das posições possı́veis.

Apenas essas hipóteses já dariam discussão com os socráticos que faria pitagórico perder
muito do sono de poder que sempre quiseram e que faz seguidores desses desfrutarem como donos
da matemática. E a aparência de haver ingenuidade nessa conexão entre visual e contagem, como
tenho de quesito de avaliação assim, pode ser exemplificado quando se pede completar quantos la-
dos há na figura, sendo um triângulo, um quadrilátero e uma circunferência, em que no último caso,
até correção há, cuja indicação do que deve ser certo é o que o visual lembra: 0 lado. Ocorre que,
se fosse o respondente cego, nos dois casos há fundamentos para que sejam as mesmas respostas,
mas não vejo como o que de mais comum se faz por ensino de matemática no Brasil possa garantir
que acharia ser o mesmo no caso da circunferência.

E matemática visa mesmo produzir saberes independente de figuras ou instrumentos outros,


apenas pelos seus fundamentos. Sendo um desses romper dimensões e, portanto, sistematizar o que
fique menos dependente do visual quanto ato em si. Veremos um caso que se aplica na concepção
mais intrı́nseca de Fração e no conceito de Espaço Projetivo.

Definição - Suponha a, b, c, ... elementos de um dado conjunto A e R uma Relação qualquer que
associa elementos de A (usamos aRb para indicar que o elemento a se relaciona com b). Uma dessa
é dita Relação de Equivalência (RE) em A quando satisfazer as seguintes propriedades:

i (Reflexiva) - aRa, para todo elemento;


ii (Simétrica) - Se aRb, então bRa e
iii (Transitiva) - Se aRb e bRc, então aRc
(*)A notação aRb apenas indica que a relaciona-se com b e o contexto é que dever esclarecer
qual relação se trata.

Define-se a Classe de Equivalência de a, CE(a) = [a] = {x, tal que xRa}. Mostra-se que
estas fazem uma partição disjunta de A de tal forma que fica possı́vel cada classe atuar como valor
único, sendo que A/ ∼= {[a], para todo a em A} é chamado de Conjunto Quociente de A pela
Relação de Equivalência.

Ao que não tiver experiência no assunto sugiro ter papel quadriculado e lápis de cores
diversas; desenhe um sistema cartesiano numerando ambos os eixos apenas com números naturais:
0(origem), 1, 2, 3, 4... e vamos definir entre pares ordenados de naturais, exceto com ambas entradas
nulas, que (a, b) = (c, d) se, e somente se, a.d = b.c. Neste caso temos:
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 69

i (Reflexiva) (a, b) = (a, b), pois a.b = b.a;


ii (Simétrica) sendo (a, b) = (c, d), portanto a.d = b.c, temos: c.b = d.a, logo (c, d) = (a, b); e
iii (Transitiva) (a, b) = (c, d) e (c, d) = (e, f ), queremos verificar que a.f = b.e. Temos que:
a.d = b.c(∗) e c.f = d.e(∗∗). Se c não for nulo, multiplicando (∗∗) por a, fica: a.c.f = (a.d).e = b.c.e,
que após cancelar o c, fica verdadeiro. Se o que não for nulo for d, multiplicando (∗) por f , fica:
f.a.d = f.b.c = d.e.b, que após cancelar d, fica verdadeiro.

Marque com a mesma cor (preta) todos os pontos da forma (k, 0), lembrando que k =
1, 2, 3, ... e note que (1, 0) = (k, 0) para todo k. Ou seja, todos esses são iguais e, portanto, visto
qualquer um deve-se ¨enxergar¨ todos os demais desses. O mesmo (azul) todos do tipo (0, k), os
da forma (vermelho) (1, 1) = (2, 2) = (3, 3) = ... (amarelo) (1, 2) = (2, 4) = (3, 6) = (4, 8) = ....
(verde) (2, 3) = (4, 6) = (6, 9) = (8, 12) = ....

Feito esse treino, vamos considerar desses somente os pares (a, b) com b não nulo. E faremos
a n
nesse caso a notação (a, b) = e para todo natural n identificamos esse com . Vamos definir
b 1
a c a+c
adição, inicialmente no caso + = e verificaremos apenas isso ser essencial. Nesse caso,
b b b
m n m+n
temos que para quaisquer naturais m e n, m + n = + = = m + n, significando que essa
1 1 1
adição de frações preserva a adição de naturais.

Depois, como para todo k não nulo, os pares (a, b) = (a.k, b.k), portanto vistos como iguais
a k.a a c a.d c.b a.d + b.c
por essa concepção, = , assim + == + = , portanto, a adição anterior
b k.b b d b.d d.b b.d
6 8 1 2 3 4
generaliza-se. Por exemplo, como 23 = 46 = = = ... e = = = = ..., série como esta
9 12 4 8 12 16
2 1 2 2 4 2 3 8 11
fica veradeira: + = + = + = ... = + = e o a ser aprendido com soma de
3 4 3 8 6 8 12 12 12
frações é enxerga da forma mais rápida possı́vel a última igualdade. E agora tudo o mais de fração
fica como estudo e fique claro que esse assunto, seja por qualquer caminho que se tome, já que
chegada final é a mesma, não é assunto trivial para que a formação em licenciatura em matemática
deixe de lado.
Havendo ainda o impertinente: todos os pares da forma (a, 0) foram excluı́dos das frações e
havendo, se possı́vel fosse manter esses nesta álgebra, o que funcionaria aditivamente bem próximo
a 0 a a.0 + 0.b
do que faz o zero multiplicativamente, dado que, para todo , ficaria: + = .
b 0 b b.0
Já Piaget & Garcia em [35] faz um estudo psicogenético e histórico, não apenas da ge-
ometria, quando defendem que a evolução, em termos de complexidade e abstração, foi: Geometria
Euclidiana (Grécia Antiga), Geometria Analı́tica Cartesiana (Séc. XVII) e Geometria Projetiva
(Séc. XIX). Assim, aqui apenas farei um caso dos mais simplórios de Geometria Projetiva, e ainda
com poucos detalhes técnicos.

Vamos considerar em R2 − {(0, 0)} a seguinte Relação de Equivalência: →−v ∼→−


w ⇐⇒ →−v =


k. w , para algum k ∈ R − {0}, a qual é isso por impor que vetores de mesma direção sejam visto
por estruturalmente iguais [34 - 40]. Ou sejam, são iguais se, e somente se, possuem a mesma reta
suporte passando pela origem.

−v
E como para todo vetor não nulo → −
v = ||→−
v ||. →− , sendo ||→

v || o tamanho euclidiano do
|| v ||

−v
vetor e, protanto, → − é unitário. Isso diz que todo vetor é equivalente ao seu unitário. E mais:
|| v ||
como → −v = (−1)(−→ −v ), portanto, iguais no conjunto das classes de equivalência, a qual nesse caso
é chamada de Espaço Projetivo de Espaço Projetivo de dimensão 1, RP 1 , estão apenas os vetores
unitários do semiarco (fig.1), como há ainda os seguintes fatos:
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 70

A - Um pequeno arco corresponde a toda região do plano, menos (0, 0), entre
as duas retas que passam pela origem e seus extremos. Portanto, estudar
pequenos detalhes desse arco, reticulados, especialmente em dimensões
maiores, e via a relação de equivalência enxergar do que estiver descrevendo,
é algo trabalhoso.

B - Nesse caso especı́fico, os extremos do semiarco são iguais e, portanto,


trata-se de um laço fechado, topologicamente uma circunferência.

Concluindo este, o exposto são apenas alguns dos fatores que a formação docente em
matemática no Brasil trata pior do que fosse paradigmático, dado que, assim demandaria esforço
na superação, descamba ao enigmático, de aprendizagem impossı́vel e ao irrelevante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS - Pensar em educação no Brasil é enfrentar um imenso conjunto de


incongruências que, irritantemente, harmonizam-se com preceitos da ditadura e elogiam descarada-
mente valores da má educação. Basta dizer que educação não deixa de constar em programa de
nenhum partido polı́tico, é pecado mortal deixar de citá-la em qualquer palanque, mas fechada as
urnas essa no máximo murmura e falam no seu lugar a má educação e o politiqueiro até imoral.
Sendo fato que quase toda corrente polı́tica do Brasil tem poder em pelos menos uma secretaria
municipal de educação, mas não há nenhuma com proposta de relevância, dado que, se houvesse
tinha que começar pelo nı́vel salarial e se em qualquer lugar houvesse que prestasse já teria chamado
atenção pela enxurrada que provocaria de docente querendo emprego.

E o que não deixa de ser visı́vel é a grandiosidade fı́sica do sistema público universitário,
dado que nenhum Estado deixa de ter pelos menos uma dessa e vários campi, em contraste com
a pequenez do que resulta na área de educação. Só no Pará temos UFPA, UFRA, IFPA, UFOPA,
UNIFESSPA, UEPA, evoluindo em menos de vinte anos para mais de cinquenta campi e, entre-
tanto, o ı́ndice educacional não se elevou em quase nada. E não é verdade que diplomam docente
com qualidade e demais componentes do processo forcem docente sonegar isso.

O mistério é do que leva tão grandioso sistema público deter apenas cerca de 20% das
matrı́culas em graduação, portanto, o que seria privado, diminuto estruturalmente ante esse, ter
tanta robusteza em matrı́cula e sem haver indı́cio, fora situação extremamente pontual, de quali-
dade superior. E como já citei, nem meios, começando por poder, tem de conseguir isto, assim como
não há do que faria querer ser. Além disto, fora caso de haver desperdı́cio criminoso, ainda não se
inventou como se consegue mais qualidade na educação gastando menos. E para lembrar não existir
o que possamos dizer ser setor privado, a seguinte manchete nos diz que basta o governo atrasar
uma pequena parte do montante repassado mensalmente que seus ¨investidores¨ sentem calafrios:

EMPRESAS DE EDUCAÇÃO CAEM NA BOLSA COM ATRASO


DO FIES
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/mercados/educacao/empresas-de-educacao-caem-na-
bolsa-com-atraso-do-fies/#comment-1676, acesso ag/14

E na andança aqui proposta, adentrar nesses mistérios é como cair em cima de touceira de
xique-xique (tipo de cacto muito comum no sertão nordestino): quando mais se mexe mais espin-
hado se é. Pois, os indicadores da qualidade da educação básica indicam quase não haver como se
fazer ensino de graduação.
E uma reflexão bem espinhosa é no sentido de determinar do que há dentro de universidade
pública com interesse de que graduação em rede privada, assim como no geral, fosse da pior qual-
idade possı́vel, pois pública tem isso por axioma: é um dos anéis dourados ganho pelo seu casório
com a ditadura. Ante isso, e não digo ser apenas por isso, a melhor forma de se lavar um diploma
de graduação de péssima qualidade é colocando por cima desse outro de especialização que inspire
qualidade.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 71

Em tal situação, ninguém quer fazer tal lavagem de graça e mesmo que não seja impeditivo
muito forte se gastar recursos do orçamento da pública, mas porque isso prescinde assinar alguns
ofı́cios, portanto, deixar rasto. Logo, toda grana dessa venda tem que ser via algo que pareça público,
mas que funcione até como cofre da casa de cada um da turma. Por isso, agora a grandiosidade
dentro de pública são de fundações públicas, mas de uso privado, cuja legislação dessas é bem
próxima da que ampara entidade de caridade social [43-4].

O fato é que não se tem estudo mais concreto de quando tais vendas de especializações
arrecadam, mas é facilmente coisa de centenas de milhões por ano e se não fosse assim a questão
não estaria tão bem articulada, como mostram essas manchetes:

APÓS 5 ANOS, STF VAI JULGAR AÇÃO SOBRE COBRANÇA DE


PÓS POR UNIVERSIDADE PÚBLICA, Por Davi Lira - iG São Paulo,
25/07/2014
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-07-25/apos-5-anos-stf-vai-julgar-
acao-sobre-cobranca-de-pos-por-universidade-publica.html, acesso ag/14

JUSTIÇA PROÍBE COBRANÇA DE MENSALIDADE EM CURSOS


DE PÓS DE UNIVERSIDADE PÚBLICA, Davi Lira - iG São Paulo,
24/07/2014, http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-07-24/justica-proibe-
cobranca-de-mensalidade-em-cursos-de-pos-de-universidade-publica.html, acesso
ag/14

PEC ACABA COM GRATUIDADE DE TREINAMENTO,


APERFEIÇOAMENTO E ESPECIALIZAÇÃO, JC e-mail 4984, 08/07/2014,
www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=94140, acesso ag/14

E note o nı́vel de articulado. Se o STF decidir pela não cobrança, continua como sempre foi
e se investe no projeto de lei, obviamente já chegou lá por força da turma, e não falta muito para
aprovar de fez. Ou seja: não tem quase como permitir cobrança perder.

Temos ainda que a grandiosidade do Brasil faz transparecer inócua muitas iniciativas que
podem qualificar educação, quando consegue escapar das amarras que universidade pública impõe.
E como a grandiosidade do Brasil não pode ser menor em um milı́metro, só resta exigir que os entes
governamentais, MEC e similares, não sejam tão diminutos em referenciar educação. Havendo o
fator gravoso: o erro que emana disto potencializa desgraça na educação por várias gerações. E fica
ao que quiser fazer um debate, independentemente de governo, mostrar uma só ação desses que
redunde em educação de fato.

Especificamente no ensino da matemática, porquanto, falo de formação docente desta área,


é mais do que um desastre absoluto, padece da mais profunda leniência da parte do MEC. Isso faz
mesmo transparecer loucura objetar que teorias essencialmente desenvolvidas no final do séc. XIX
e tema de tese de doutorado há pouco mais de seis décadas, como é o caso desta da PROFES-
SORA MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES, estejam incorporadas na formação,
dado que, nem conteúdos que Tales de Mileto na Grécia Antiga ensinava com esplendida maes-
tria faz parte disto. E o que a realidade brasileira nos diz não é apenas haver destruição do já
firmemente sabido, mata-se muito do que se produz com bastante esforço. E a forma mais venal de
se fazer isso é relegar institucionalmente ao esquecimento personalidades como as que aqui foram
abordadas. Isso ainda não é só da memória quanto pessoa, tende atingir até de forma virulenta
os trabalhos dos que lutaram pela qualidade do ensino da matemática. E sem que se inverta tais
fatores por semeaduras desses valores ficaremos sem perspectivas concretas de uma realidade mais
amena para o ensino da matemática no Brasil.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 72

Finalizando, uma mensagem da educadora que poeticamente ensinava Cecı́lia Meireles


(RJ, 07/11/1901-09/11/1964):

HERANÇA

Eu vim de infinitos caminhos,


e os meus sonhos choveram lúcidos pranto pelo chão.
Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão de fecunda,
porque vinha de um coração?
E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?
(*) Foto ilustrativa copiada de
http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com.br/2007/07/rio-de-janeiro-1948-maria-laura.html, acesso jul/14

REFERÊNCIAS
[1] VALENTE, W. V. (0rg), EDUCADORAS MATEMÁTICAS: MEMÓRIAS, DOCÊNCIA E PROFISSÃO,
Ed. Livraria da Fı́sica, 2013
[2] MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES, http://www.abc.org.br/ mlmll, acesso jul/14
[3] MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES (1917-2013),
www.cnpq.br/web/guest/pioneiras-view/-/journal content/56 INSTANCE a6MO/10157/1143932, acesso jul/14
[4] PEREIRA, P. C., CONTRIBUIÇÕES DA PROFESSORA MARIA LAURA LEITE LOPES PARA A EDUCAÇ ÃO
MATEMÁTICA NO RIO DE JANEIRO, X ENEM, Salvador-BA, 7 a 9/07/2010,
www.lematec.net/CDS/ENEM10/artigos/CC/T6 CC1794.pdf, acesso jul/14
[5] PROJETO FUNDÃO, A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM LUTO
www.projetofundao.ufrj.br/matematica/index.php?option=com content&task=view&id=110&Itemid=47, acesso jul/14
[6] FENANDES, M. C.V. e VASCONCELO, M.B.F., A HISTÓRIA DE MULHERES NO CAMPO DA MATEMÁTICA,
VI EPBEM - Monteiro, PB - 09, 10 e 11/q11/2010
http://mulheresmatematicaufrgs2013.weebly.com/uploads/1/9/6/8/19681493/cc-12058626.pdf, acesso jul/14
[7] CAPOBIANGO, M., O AMOR PELO ENSINO DA MATEMÁTICA, O Globo, 04/10/2012,
http://oglobo.globo.com/zona-sul/o-amor-pelo-ensino-da-matematica-6272773, acesso jul/14
[8] CAVALARI, M. F., MULHERES PIONEIRAS NA MATEMÁTICA NO BRASIL, RPM, No . 80, história &
histórias, www.ime.usp.br/ rpm/conteudo/80/historias.pdf, acesso jul/14
[9] CAVALARI, M. F, UM HISTÓRICO DO CURSO DE MAEMÁTICA DA FACULDADE DE FILOSOFIA
CIÊNCIAS E LETRAS (FFCL) DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), RBHM, Vol. 12, No 25, p. 15 -30,
2012,
www.rbhm.org.br/issues/RBHM%20-%20vol.12,no25/02%20-%20Mariana.pdf, acesso jul/14
10] KALEFF, A. M. M.R., A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE:
UM RELATO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
MATEMÁTICA, Boletim do GEPEM, no 38, 2001, p. 09-34,
www.uff.br/leg/publicacoes/01 06 gepem01-site.pdf, acesso nov/13
[11] NASCIMENTO, J.B., GOLPE DE 64 & UNIVERSIDADE PÚBLICA & MATEMÁTICA,
http://livrandante.blogspot.com.br/2014/04/joao-batista-do-nascimento-educacao.html, acesso jul/14
[12] IVANISSEVICH, A., (Ciência Hoje/RJ), UMA REALISTA ESPERANÇOSA: ENTREVISTA COM MARIA
LAURA MOUZINHO LEITE LOPES, Ciência Hoje, 44, no 264, out/2009,
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2009/264/pdf aberto/perfil264.pdf, acesso jul/14
[13] PRIMEIRA DOUTORA EM MATEMÁTICA FORMADA PELA USP - ELZA FURTADO GOMIDE (1925-
2013), JC e-mail 4851, de 07/11/2013,
www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=90485, acesso jul/14
[14] DEPOIMENTOS - MESA - REDONDA: O PRIMEIRO COLÓQUIO BRASILEIRO DE MATEMÁTICA
-1957, RBHMat - Vol.8 no 15 (abril/2008 -setembro/2008) - pág. 87-104, www.rbhm.org.br/issues/RBHM%20-
%20vol.8,%20no15,%20abril%20%282008%29/7%20-%20Depoimentos%20-%20final.pdf, acesso jul/14
[15] SILVA, C. P., Blog, ELZA F. GOMIDE,
http://clovisps.blog.uol.com.br/arch2013-10-27 2013-11-02.html, acesso jul/14
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 73

[16] MOUZINHO, M. L., modular and projective lattice, Summa Brasiliensis Mathematicae, vol. 2, p. - 18, 1950
www.abc.org.br/ mlmll
[17] ARAÚJO, F. F., e MINEIRO, P., SUMMA BRASILIENSIS MATHEMATICAE: A INFLU ÊNCIA DE
MONTEIRO NO BRASIL,
www.sbemrj.com.br/sbemrjvi/artigos/d3.pdf, acesso jul/14
[18] ARAUJO, I. C., JOAQUIM GOMES DE SOUZA (1829 - 1864): A CONSTRUÇ ÃO DE UMA IMAGEM
DE SOUZINHA, tese de doutorado, orientadora: Sonia Barbosa Camargo Igori, PUC/SP, 2012,
www.sapientia.pucsp.br//tde busca/arquivo.php?codArquivo=14732, acesso jul/14
[19] SIQUEIRA, R. M., REAVALIANDO OS DEBATES SOBRE O POSITIVISMO NAS CI ÊNCIAS MATEMÁTICAS
BRASILEIRAS DO COMEÇO DO SÉCULO XX, Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, ANPUH, São
Paulo, julho 2011 1, www.academia.edu/1343803/Reavaliando os debates sobre o positivismo nas ciencias matematicas
brasileiras do comeco do Seculo XX, acesso jul/14
[20] NASCIMENTO, J. B., MÁRIO SERRA - ENGENHEIRO, MATEMÁTICO E AMAZÔNIDA, Jornal Beira
do Rio, UFPA, Ano XXVIII No 120. Agosto e Setembro de 2014,
www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2014/152-2014-08-01-17-25-17/1618-2014-08-04-14-34-28, acesso ag/14
[21] DA SILVA, C. M, POLITÉCNICOS OU MATEMÁTICOS? Hist. cienc. saude-Manguinhos, 2006, vol.13,
n.4, pp. 891-908, www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid=S0104-59702006000400007&lng=es&nrm=iso&tlng=es,
acesso jul/14
[22] NASSAR, N., ESTATÍSTICAS CIENTÍFICAS ALARMANTES, JC e-mail, 4614, 30frm[o]–1 2012,
www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=84791, acesso ag/14
[23] LOPES, A.C.P., e Outros, A HISTÓRIA DE VIDA DE CONSTANTINO MENEZES DE BARROS E SUA
TRAJETÓRIA NO CAMPO DA MATEMÁTICA, Trabalho de Conclusão de Curso, Orient: Dr. José Miguel M.
Veloso, UFPA, Santarém-Pa, 2006
[24] NASCIMENTO, J.B., CONSTANTINO MENEZES DE BARROS I, (II a V pode se pedido por e-mail),
Blog Chupa Osso, 05/05/2013, www.chupaosso.com.br/index.php/obidos/educacao/2149-vida-e-obra-de-constantino-
menezes-de-barros, acesso ag/14
[25] PASSOS, N., REFLEXOS DA DITADURA NA EDUCAÇÃO IMPEDEM PAÍS DE AVANÇAR, Carta
Maior, 25/04/2014,
www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/Reflexos-da-ditadura-na-educacao-impedem-pais-de-avancar/13/30792,
acesso jul/14
[26] MUNIZ, C. A., O BRASIL MATA SEUS MATEMÁTICOS: A CADA DIA, EM SALA DE AULA, UnB,
Boletim sbem, na 24, maio 2013, Pgs. 4-6,
www.sbembrasil.org.br/files/Boletim24.pdf, acesso jul/14
[27] VIEIRA, L., ’ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL NÃO ALFABETIZA’, O Globo, 21/07/2014,
http://oglobo.globo.com/sociedade/alfabetizacao-no-brasil-nao-alfabetiza-13321682#ixzz3871VMJgi, acesso jul/14
[28] DEBASTIANI NETO, J.; NOGUEIRA, C. M. I.; FRANCO, V. S., A CONSTRUÇ ÃO DO ESPAÇO
GEOMÉTRICO POR CRIANÇAS ENTRE 03 E 10 ANOS, UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 9, n. 1,
p. 71-78, Nov. 201
http://revistas.unopar.br/index.php/exatas/article/viewFile/1150/1058
[29] KALEFF, A. M., DOIS DESAFIOS PARA O ENSINO DE GEOMETRIA E PARA A INCLUS ÃO DO
DEFICIENTE VISUAL NA ESCOLA: VISUALIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE FIGURAS GEOMÉTRICAS,
Revista Educação Matemática Em foco, V1 - No 2, pág. 33- 55, AGO/DEZ 2012, Eduepb,
http://pos-graduacao.uepb.edu.br/ppgecm/?page id=53, acesso jul/14
[30] PROJETO FUNDÃO, GRUPO DE ENSINO DE MATEMÁTICA PARA DEFICIENTES VISUAIS,
www.projetofundao.ufrj.br/matematica/index.php?option=com content&task=view&id=14&Itemid=16, acesso jul/14
[31] CAMPOS, B., BLOG SOMAR SEM DIVIDIR, Ensino de matemática para alunos com deficiência visual,
2/07/2012,
http://somarsemdividir.blogspot.com.br/2012/07/identificando-limitacoes-visuais-em.html, acesso jul/14
[32] QUANDO COMEÇA A APRENDIZAGEM? Vera Rita da Costa, 20/03/201
http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2014/03/quando-comeca-a-aprendizagem, acesso ag/14
[33] A GENIALIDADE DAS CRIANÇAS, Vera Rita da Costa, 23/07/2014,
http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2014/07/a-genialidade-das-criancas, acesso ag/14
[34] TORRES, J. C. B., MATERIAL DIDÁTICO, Poli/UFRJ, https://sites.google.com/a/poli.ufrj.br/sistproj/material,
acesso ag/14
[35] GARCIA, R. e PIAGET, J., PSICOGÊNESE E HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS, trad. Giselle Unti, Ed. Vozes,
2011
[36] REAL PROJECTIVE PLANE,
http://en.wikipedia.org/wiki/Real projective plane, acesso ag/14
[37] TOPOLOGOS.LUTECIUM.ORG/WPMU/PT/,
[38] CRAIZER, M., e FRANCO, A. P., PRINCÍPIOS DE GEOMETRIA PROJETIVA COM APLICAÇÕES
EM VISÃO COMPUTACIONAL
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 74

www.matmidia.mat.puc-rio.br/sibgrapi2009/media/undergraduate work/60044.pdf, acesso ag/14


[39] PELLIZZARI, D., GEOMETRIA PROJETIVA, Folha de São Paulo, 05/08/13,
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danielpellizzari/2013/08/1321557-geometria-projetiva.shtml, acesso ag/14
[40] RIBEIRO, F.T., MODELOS MATEMÁTICOS DO CÉREBRO, junho de 2014,
www2.uol.com.br/vivermente/noticias/neuromatematica usp teoria descrever predizer cerebro.html, acesso ag/14
[41] EQUIPE OÁSIS, MATEMÁTICA É ARTE: A BELEZA DAS FÓRMULAS E EQUAÇÕES,
www.brasil247.com/pt/247/revista oasis/148192/Matem%C3%A1tica-%C3%A9-arte-A-beleza-das-f%C3%B3rmulas-e-
equa%C3%A7%C3%B5es.htm, acesso ag/14
[42] G1, GEOMETRIA É INTUITIVA PARA TODOS OS SERES HUMANOS, REVELA ESTUDO FRANC ÊS
EM SÃO PAULO, 24/05/2011,
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/05/geometria-e-intuitiva-para-todos-os-seres-humanos-revela-estudo-
frances.html, acesso ag/14
[43] MORAIS, F. A.A., A POLÊMICA HISTÓRIA DO SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA FUNDAÇÃO
ESTATAL DE DIREITO PRIVADO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA
http://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/fundacaoestataleste.pdf, acesso ag/14
[44] NUNES, F. R., FUNDAÇÕES DE APOIO SÃO UMA ABERRAÇÃO, CRITICA RIZZO, Assessoria de
imprensa da Sedufsm, 28/05/2014,
www.sedufsm.org.br/index.php?secao=noticias&id=2937, acesso ag/14
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 75

PRIMEIRAS DOUTORAS EM MATEMÁTICA DO BRASIL


FLORES DE CORES CONCENTRADAS DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
BRASILEIRA

¨Há flores de cores concentradas


Ondas queimam rochas com seu sal
Vibrações do sol no pó da estrada
Muita coisa, quase nada
Cataclismas, carnaval...¨
Caetano Veloso, música Ela e Eu

Por NASCIMENTO, J. B.
UFPA/ICEN/Matemática http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2011/124-edicao-93–abril/1189-novo-olhar-sobre-a-matematica
www.facebook.com/profile.php?id=100009348279475&sk=about&section=work
jbn@ufpa.br/joaobatistanascimento@yahoo.com.br

DEDICO ESTA VERSÃO:


NEWTON CARNEIRO AFFONSO DA COSTA (16/09/1929 - ), matemático brasileiro,
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4787165A0
www.cle.unicamp.br/arquivoshistoricos/?destino=Newton Costa/newtondacosta biografia.html
LÓGICA, TEORIA DA COMPUTAÇÃO E DIREITO. PROF. NEWTON CARNEIRO
AFFONSO DA COSTA - USP E UFSC, www.youtube.com/watch?v=CY EFSZa4V4
ALEXANDER GROTHENDIECK (1928-2014), matemático nascido na Alemanha e naturalizado
Francês, docente visitante da USP, 1953-4
Morre Alexander Grothendieck, o eremita gênio da matemática,
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/morre-alexander-grothendieck-o-eremita-genio-da-matematica,
www.grothendieckcircle.org/

INTRODUÇÃO - A construção de memorial com personalidades que referenciam determi-


nada profissão, simbolizo aqui por jardim a ser cultivado, é fator qualificante da educação e, assim
como tudo desta caracterı́stica, imprescindı́vel formação docente contemplar. No geral, isto tem
sido uma ausência em Ciência e no pouco que há não se mostra equilı́brio no quesito gênero. Por
isso, tem sido preocupação de setores da Unesco desenvolver programas que incentivam participação
feminina e o reconhecimento dessas no meio cientı́fico. No decorrer da história da matemática, dis-
criminação da mulher tem sido profundamente arraigada, havendo um fator preponderante: qual-
quer obstrução no desenvolvimento matemático afasta das profissões de Exata e Tecnologia, seja
qual for a versão social disto de cada época, quando tais ocupações proporcionam as melhores rendas
e, portanto, essas obstruções ocorrem por múltiplas ações. Logo, trata-se de problemática profunda
que faz este ser diminuto buquê de rosas, almejando que sirva literalmente de motivo na construção
de outros florais.

PRIMEIRAS DOUTORAS EM MATEMÁTICA DO BRASIL - A desqualificação do


educacional brasileiro, especialmente em matemática, não é apenas pela abundância de inadequadas
formas de construção de saberes, como também pela destruição de valores que exigiram esforços de
alta qualificação. No caso de um desses saberes, memória social, isso atinge a todos, aprofundando
em termos de gêneros, impondo pesadas perdas em valores humanos, de criticidade e referência em
todos os sentidos, pois, e tanto em acertos e erros, são fundamentais tê-los em memória. Acresce
que o contextual brasileiro da época aqui referido tinha o fazer matemática mais ocupado pelos
Politécnicos, engenheiros que lecionavam disciplinas especı́ficas de matemática nesses cursos e/ou
faziam pesquisas, enquanto embrionariamente se desenvolvia curso dessa área.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 76

Além disto, ao contrário da essencialmente única forma hoje vigente no Brasil, devo lembrar ser
coisa que educação abomina, conviviam rituais diferentes para o equivalente ao grau de doutorado,
sendo o mais conhecido o concurso de livre-docente.

Em função de alguns limbos - graduação em matemática ou engenharia, doutoramentos por


processos diferentes, além da quase absoluta falta de registros -, não há espaço para termos certeza
que citaremos as primeiras doutoras em matemática do Brasil. No que nunca houve dúvida é do
quanto a trajetória de cada uma foi marcante e sempre será.

MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES


(Timbaúba-PE, 18/01/1919 - RJ, 20/06/2013)

A grafia ¨Mousinho¨ também aparece, por vezes, como sendo do nome


dela e ainda essa aparece como se tivesse nascido em 1917 por um problema
que essa nos conta em primorosa narrativa da sua vida, sendo essa produção
da jornalista Alicia Ivanissevich [LM1]:
¨viemos para o Rio, em 1935. Eu tinha então 16 anos e o curso nor-
mal não era aceito, porque era restrito ao estado. Teria que recomeçar o
curso ginasial. Então fiz o exame de madureza, que avaliava os primeiros
anos do curso ginasial. Meu pai teve que alterar minha certidão de nasci-
mento para 18 anos, quando na verdade tinha 16. Só fiquei sabendo disso
muito depois. Felizmente consegui passar.¨
Portanto, isto é parte da singuları́ssima trajetória no ensino básico de Maria Laura Moura
Mouzinho, das primeiras letras em Pernambuco (nasceu em Timbaúba dos Mocós) ao Rio de
Janeiro, onde em 1939 ingressa na primeira turma do curso de matemática (seis homens e cinco
mulheres) da então criada Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), da Universidade do Brasil -
UB, parte da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ. De carreira acadêmica brilhante,
fez bacharelado e licenciatura e, em 1943, torna-se docente desta universidade, portanto, virando
Profa . Maria Laura.

Nesse meio tempo, por ações das universidades e a caótica situação da Europa, renomados
matemáticos vieram ser docente visitante. Foi o caso do matemático português António Aniceto
Ribeiro Monteiro (Angola, 31/05/1907 - Argentina, 29/10/1980), http://antonioanicetomonteiro.
blogspot.com.br/, www.infopedia.pt/$antonio-aniceto-monteiro, acessos jan/14, vindo em 1945 para
essa posição acadêmica na FNFi.

Ocorre ainda que a Universidade do Brasil adotou concurso de livre-docência como processo
de doutoramento para seus docentes, consistindo na defesa de tese desenvolvida pelo candidato
sem necessariamente haver orientação formal nos estudos. Entretanto, como sempre reconheceu e
fazia questão de referenciar, a Professora Maria Laura teve António Aniceto Ribeiro Mon-
teiro como orientador informal da tese intitulada Espaços Projetivos - Reticulado de seus
subespaços, defendida em 25/09/1949 e, portanto, atribui-lhe do tı́tulo de doutora em matemática.

A Profa Maria Laura ainda é pioneira em outras situações, tais como:

- Uma das personalidades fundamentais para criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Fı́sicas-
CBPF, fundado em 15/01/1949, http://portal.cbpf.br/.

- Uma das primeiras docentes do Instituto Tecnológico da Aeronáutica - ITA, www.ita.br/.


Lecionou a disciplina Geometria no curso de engenharia na turma que colou grau em 1950, mesmo
ano de criação oficial do ITA, posto que, o curso começou enquanto os processos burocráticos eram
agilizados.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 77

- Uma das nossas pioneiras que foi ao exterior fazer aperfeiçoamento/estudos. Nesse caso, no
Departamento de matemática da Universidade de Chicago, Estados Unidos, 1950.

- Uma das personalidades fundamentais para criação do Instituto Nacional de Matemática Pura
e Aplicada - IMPA,www.impa.br/opencms/pt/, criado em 1952.

- A segunda matemática brasileira diplomada pela Academia Brasileira de Ciências, www.abc.org.br,


em 1952.
Casa-se em 1956 com o já famoso fı́sico brasileiro José Leite Lopes e torna-se doravante
Professora Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, constando com esse nome nas primeiras
listas de docentes demitidos pelo famigerado AI-5, ato discricionário editado em 1969, levando-a
ser exilada. Nesta condição, tempos depois integra grupo de pesquisa em metodologia do ensino da
matemática, geometria, do Institute de Recherche en Enseignement de Mathematiquesn (IREM),
em Estrasburgo, França. É com essa nova formação, a qual podemos incluir ainda como pioneira,
que Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, 1974, retorna ao Brasil e assume posição pioneira
nos processos que levariam com que Educação Matemática se tornasse área de conhecimento no
Brasil.

É nisso que se inclui sua contribuição na criação do grupo de Estudo e Pesquisa em Educação
matemática - GEPEM, www.gepem.ufrrj.br, 1976, do Projeto Fundão, www.projetofundao.ufrj.br,
em 1983, e da fundação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM, www.sbembrasil.org.br/,
em 27/01/1988. E finalizo este informando que em 01/07/1996, a Professora Maria Laura
Mouzinho Leite Lopes recebeu o tı́tulo de Professora Emérita da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.

Leituras complementares:
[LM1] Ivanissevich, A., UMA REALISTA ESPERANÇOSA: ENTREVISTA COM MARIA LAURA MOUZ-
INHO LEITE LOPES, Ciência Hoje, 44, no 264, out/2009,
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2009/264/pdf aberto/perfil264.pdf, acesso dez/14
[LM2] MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES (1917-2013), www.cnpq.br/web/guest/pioneiras-view/-
/journal content/56 INSTANCE a6MO/10157/1143932
[LM3] MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES, www.abc.org.br/ mlmll, acesso març/15
[LM4] Pereira, P. C, A EDUCADORA MARIA LAURA: CONTRIBUIÇ ÕES PARA A CONSTITUIÇÃO
DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL, http://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view/3526, acesso
març/15
[LM5] Pereira, P.C., Maria Laura, Educadoras Matemáticas: Memórias, Docência e Profissão, Valente, W.,R
(Org.), pág,197-208, Ed. Livraria da Fı́sica, 2013
[LM6] CARTA DE MARIA LAURA MOUZINHO A COMUNIDADE DE EDUCADORES MATEM ÁTICOS:
SUA ÚLTIMA PRODUÇÃO EM VIDA, https://pt-br.facebook.com/educacao.matematica/posts/581724318545190,
acesso març/15
[LM7] CONHEÇA MARIA LAURA MOUZINHO LEITE LOPES, UMA DAS PRIMEIRAS DOUTORAS EM
MATEMÁTICA DO BRASIL!, http://encontrodejovenscientistas.com/2015/02/02/conheca-maria-laura-mouzinho-
leite-lopes-uma-das-primeiras-doutoras-em-matematica-do-brasil/, acesso març/15
[LM8] Blog António Aniceto Monteiro, A influência de Antonio Aniceto Ribeiro Monteiro no desenvolvimento
da Matemática no Brasil (Leopoldo Nachbin), postado em 21/02/2014
http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com.br/2014/02/a-influencia-de-antonio-aniceto-ribeiro.html, acesso març/15
[LM9] Blog António Aniceto Monteiro, O testemunho de ¨Sophie¨, excerto de Carlos Roberto Vianna, da sua tese
de doutorado, Vidas e Circunstâncias na Educação Matemática, orientação de prof. Dr. Antonio Miguel, FEUSP,
03/2000, postado em 04/02/2007¨,
http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com.br/2007/02/blog-post.html
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 78

ELZA FURTADO GOMIDE


(SP, 20/08/1925 - SP, 26/10/2013)

Nascida na capital paulista, filha e neta de professores de matemática,


ELZA FURTADO GOMIDE , ingressou na USP e bacharelou-se em
Fı́sica em 1944. Porém, ante disto já estava envolvida com o curso de
matemática como monitora do professor Omar Catunda (23/09/1906-
12/08/1986), levando-a fazer mais um ano no curso de matemática e
depois ingressando como docente.

Ocorre que por volta de 1940 a USP havia iniciado doutorado em matemática consistindo
num determinado padrão curricular, implicando haver disciplinas obrigatórias, e defesa de tese
produzida com a orientação de algum docente credenciado pelo programa. Através desse processo
a Professora Elza Furtado Gomide defende tese em 27/11/1950, orientada pelo matemático
francês Jean Delsart, então docente visitante, intitulada Sobre o teorema de Artin-Weil.

Além de carreira cientı́fica recheada de honrados contornos, emprestou de forma soberba toda
força da sua singular personalidade, especialmente nos tempos mais difı́ceis da ditadura, para que
o IME-USP chegasse ao que é atualmente, um dos maiores centros de matemática do Brasil. Como
no meu caso, todo que teve alguma passagem por este instituto guarda uma saudade bem especial
da Profa . Elza. Entretanto, essa saudade continua sendo produzida, dado que, cada cantinho do
IME-USP tem alguma marca de tão personalı́ssima matemática.

E, finalizando este, a Professora ELZA FURTADO GOMIDE deixou antes de tudo


um exemplo de dedicação e luta pelo desenvolvimento matemático e, portanto, merecedora de lem-
brança eterna, quando escola é o forno mais apropriado para forjar esse tipo de eternidade.

Leituras complementares:

[EG1] ELZA FURTADO GOMIDE (1925 -),


www.cnpq.br/web/guest/pioneiras-view/-/journal content/56 INSTANCE a6MO/10157/903133, acesso març/15

[EG2] ELZA FURTADO GOMIDE, 1925-2013, PRIMEIRA DOUTORA EM MATEMATICA FORMADA PELA
USP, www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/11/1367956-elza-furtado-gomide-1925-2013—primeira-doutora-em-matematica-
formada-pela-usp.shtml, acesso març/15

[EG3] Santos, A. A., ELZA FURTADO GOMIDE E A PARTICIPAÇÃO FEMININA NO DESENVOLVI-


MENTO DA MATEMÁTICA BRASILEIRA NO SÉCULO XX, PUC/SP/HISTÓRIA DA CIÊNCIA, 2010,
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select action=&co obra=201589, acesso març/15
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 79

MARÍLIA CHAVES PEIXOTO


Santana do Livramento/RS, 24/02/1921 - RJ,05/01/1961

MARÍLIA DE MAGALHÃES CHAVES, nasceu em Santana do Livra-


¯
mento, RS, sendo bastante desconhecida até na comunidade matemática,
posto que, além dos impeditivos que já mostrei haver, o pouco tempo que
viveu engana profundamente àqueles que fiam mais no tempo do que na
profundidade da obra. Havendo ainda absurdas omissões do seu legado,
sendo por mim a mais expressiva por parte da Academia Brasileira de
Ci^encia

Das parcas notı́cias da sua vinda do RS para fazer engenharia no Rio de Janeiro, sabe-se
ter sido o seu brilhantismo no ensino básico. Assim como, destaca-se no curso de engenharia,
formando-se em 1943, então com 22 anos, pela então Escola Nacional de Engenharia da Univer-
sidade do Brasil, e ainda em matemática, dado que, passou a frequentar seminários e disciplinas
avançadas desse curso. E por todo esse seu brilhantismo resulta o seu ingresso como docente desta
Escola nas disciplinas de Geometria e Cálculo Vetorial, sendo um dos seus legados material apos-
tilado que fez desta última. Pelo seu casamento com o matemático cearense Maurı́cio Matos
Peixoto (CE,1921-), http://lattes.cnpq.br/6812447898200232, última atualização em 15/08/2006,
acesso ag/14, em 1946, passa ser conhecida por MARÍLIA CHAVES PEIXOTO. E o seu feito
principal consta no seguinte (g.n):
small ¨Devemos registrar que em 1948 Marı́lia Chaves Peixoto obteve
o grau de doutor em Ciências (Matemática) pela Escola Nacional de En-
genharia, ao ser aprovada em concurso para livre-docente em Cálculo
Diferencial e Integral. Ela defendeu a tese intitulada On Inequalities
y’"? G(x, y, y’, y"). (cf. Anais da Acad, Bras. Ciênc., v. XXI, p. 205 -
218, 1949). Marı́lia Chaves Peixoto foi a primeira brasileira a obter o
grau de doutor em Ciências (Matemática) por uma IES brasileira¨.
Clóvis Pereira da Silva, SOBRE O INÍCIO E CONSOLIDAÇÃO DA
PESQUISA MATEMÁTICA NO BRASIL - PARTE I, RBHM, Vol. 6, no
11, p. 67-96, 2006,

Assim, reafirmo, MARÍLIA CHAVES PEIXOTO é uma das primeiras doutoras


em matemática do Brasil, além de ser a primeira matemática brasileira eleita para Academia
Brasileira de Ciências, em 12/06/1951, quando a primeira mulher foi Marie Curie, em 1926, na
categoria de associada estrangeira. Quando o seguinte texto nos revela do tema mais especı́fico dos
estudos que a faz pioneira no Brasil:

¨Os estudos e pesquisas na subárea Sistema Dinâmicos foram iniciados no Brasil


por Maurı́cio Matos Peixoto e Marı́lia Chaves Peixoto, com o nome de Teoria
qualitativa das equações diferencias ordinárias-TQEDO, a partir da Escola Nacional
de Engenharia, da Universidade do Brasil. Ambos docentes da ENE tinham interesse
em Mecânica, daı́ o interesse natural por equações diferencias.

Em verdade o interesse inicial de Maurı́cio Peixoto era em Estabilidade de


Equações Diferenciais. Com esse objetivo ele foi fazer estágio de pós-graduação na
década de 1950, na Princeton University. U.S.A. Nessa instituição ele contato com
Salomon Lefschetz, matemático russo radicado nos Estados Unidos que o estimulou
a se aprofundar no problema da Estabilidade de Equações Diferenciais. A conjunção
de seus papers em 1959 e em 1962, um deles em colaboração com Marı́lia Peixoto,
resultou no que foi incluı́do na literatura matemática com o nome de Teorema de
Peixoto & Peixoto¨ Silva, C.P., - Aspectos históricos do desenvolvimento da Pesquisa
Matemática no Brasil, E. Livraria da Fı́sica, SP, 2009
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 80

Portanto, finalizo este, a Matemática MARÍLIA CHAVES PEIXOTO é pioneira no


Brasil no estudo de Sistemas Dinâmicos, área essa do também matemático carioca Artur Ávila
Cordeiro de Melo, o qual conquistou em 12/08/2014 uma Medalha Fields, tida pelo ¨Nobel
em Matemática¨ .

Leituras complementares:
[MP1] MARÍLIA CHAVES PEIXOTO (1921 - 1961), www.cnpq.br/web/guest/pioneiras-view/-/journal content/
56 INSTANCE a6MO/10157/902875
[MP2] LOPES, M. L. M. L., A Matemática na Universidade na Memória da Aluna da Faculdade Nacional de
Filosofia à Professora Emérita da UFRJ, ww.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=14&
cad=rja&uact=8&ved=0CCkQFjADOAo&url=http%3A%2F%2Fwww.hcte.ufrj.br%2Fdownloads%2Fsh%2Fsh4%2F
palestrantes%2Fpalestrante%2520maria%2520laura.pdf&ei=yBD5VOPzOImrggSn04HQBg&usg=AFQjCNHuDC0
p2zAH6JAqA0Aw469H81q PA&sig2=BMUWJV0Vomehj6VWA9aqPQ
[MP3] SILVA, C.P. e Azevedo, A. P., História dos estudos de pós-graduação em matemática no Brasil desde a
segunda metade do século XX,
www.canalciencia.ibict.br/pesquisa/0133-Historia-pos-graduacao-matematica-no-Brasil-seculo-XX, acesso març/15
[MP4] MICENA, F.P., Estabilidade Estrutural e o Teorema de Peixoto, ICMC-USP,
www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB0QFjAA
&url=http%3A%2F%2Fwww.impa.br%2Fopencms%2Fpt%2Fdownloads%2Fposter fernando micena.pdf&ei=zA 5VLP
qLsq0ggSrhoCgDQ&usg=AFQjCNHxSxzVRGBUd2hxOw897RHNcJxNng&sig2=gQ0UDphPZBpdmwa-AXQxFQ
&bvm=bv.87611401,d.eXY
[MP5] ALGUMAS MULHERES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E QUESTÃO DE GÊNERO EM C & T.,
http://sitiodascorujas.blogspot.com.br/2013/06/mulheres-na-matematica.html

(*) Fotos ilustrativas de Laura e Marı́lia recortadas de outra que consta na referência [LM7] e de ELZA da do I
Colóquio Brasileiro de Matemática que consta na página do IMPA
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 81

P R OF E S O R A S A N T A N A ( Óbido-Pa, 26 de julho de 1923 - )


CANDIDATA A MELHOR DOCENTE DO ENSINO BÁSICO PARAENSE
¨A perspectiva psicológica é muitas vezes suficiente para
psicólogos que usam parte da teoria de Piaget para estudar
crianças. Para educadores, entretanto, este ponto de vista é
tão limitado e pode resultar numa má aplicação da teoria.
Educadores precisam ir além da perspectiva psicológica da
teoria de Piaget para compreender as idéias sobre a natureza
do conhecimento e o mecanismo do desenvolvimento¨.
Kamii, C. e Devries, R. - Piaget para a Educação
ANA AYRES DO AMARAL Pré-Escolar, 2a Ed. Artes Médica, P. Alegre/RS, 1992
PROFESSORA SANTANA

Nascimento, J.B, UFPA/ICEN/Matemática


http://lattes.cnpq.br/5423496151598527 E-mail: jbn@ufpa.br,
joaobatistanascimento@yahoo.com.br
http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/124-edicao-93–abril/1189-novo-
olhar-sobre-a-matematica

INTRODUÇÃO - Qualquer reflexão em educação no Brasil nos traz sabores dos mais amar-
gos. O principal é que ao longo do tempo, o qual inexoravelmente teima em avançar, não há nada
que caracterize evolução disto em condições sequer de acompanhar esse tempo, quando educação
tem por função colocar o paı́s até à frente deste. Ou seja, educação só se qualifica quando coloca
contingente populacional significativo em condições de acompanhar o seu tempo e com boas aber-
turas para que muitos rompam indo além desse tempo. Isso diz que o caso brasileiro é de profundo
atraso por ficar penoso mesmo que apenas acompanhar e tende, ao invés de valorizar mais, alijar
até da história os que conseguiram ir além. E quase nada disto precisa de comprovação mais do
que há em aspectos da formação docente e em área básica como matemática.

Essencialmente após Primeira Guerra, iniciou-se no Brasil formação docente com Curso
Normal que, embora mergulhando no discriminatório direcionando-o para mulher, consistia numa
formação centrada no alfabetizar, composto com alguns valores imprescindı́veis, com exceção do
salário, e possı́vel de evoluir. O valor principal nisto sempre foi aprender a aprender, portanto,
proporcionava o fundamental para atuar na sala de aula e crescer nos estudos à medida que fosse
atuando.

A ditadura de 64, e mais recrudescimento de mentalidade já reinante, como parte da falsa
construção de paı́s grandioso apregoou que docência seria inapropriada sem diploma dito superior e
promoveu um profundo preconceito contra curso normal, quando o real motivo era não valorização
docente por querer contratar com esse tipo de diploma pagando, o que sempre foi pouco, pratica-
mente o mesmo salário. E tudo era tão falso que a ação de maior gasto que implementaram como
educação para o povo, MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização -, resumia-se numa cart-
inha e qualquer um tido por alfabetizado, seja como isso fosse, poderia ser docente. Porquanto,
nem obrigatoriamente ter feito curso normal era exigido [1-5]. E um pequeno informe atual desse
desastre é o seguinte (g.n):

’Na educação infantil, 43,1% dos docentes não têm curso superior.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, o percentual é 31,8% e, nos anos
finais, 15,8%. No ensino médio, o ı́ndice cai para 5,9%. ”A qualificação
dos professores é uma grande barreira para garantir a oferta de uma
educação de qualidade aos estudantes brasileiros”, diz a publicação.’ [6]
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 82

Por mais bem qualificado, mesmo se fosse, mas não é o caso [7-8], pouco pode fazer docente
do Ensino Médio quando na base o desastroso se fez presente. Ou seja, frutificou essa ideologia
macabra de que é possı́vel fazer o mais sem ter o menos e, portanto virou método para todas as
construções polı́ticas. Logo, não é por acaso que universidade pública como a UFPA ter auditórios
dos mais luxuosos do mundo [9], inaugurados na gestão do ministro Fernando Haddad (PT), quando
nunca teve alojamento estudantil e biblioteca com acervo de algum valor.

Tudo isso vai muito além do escárnio educacional, construı́ram mentalidade mais profunda
que potencializa destruir qualquer um e as suas maiores vı́timas sempre serão os estudantes geniais.
Portanto, haver exemplar que destoa de tudo isso merece ser comentado, referenciado e incentivar
mais pesquisa.

UM POUCO DA TRAJETÓRIA DA PROFESSORA


ANA AYRES DO AMARAL - PROFESSORA SANTANA
(Óbido-Pa, 26 de julho de 1923 - )

¨Naquele reino cinzento


Veio a pomba bater asas
Contra muros de cimento.¨
Cecı́lia Meireles (1901-1964)

Reproduzo texto que recebi por e-mail de Ademar do Amaral, engenheiro e um dos filhos
da Professora Santana.

Filha do português José Cardoso Ayres, farmacêutico de profissão e de Ana


Michilles Ayres, natural da cidade de Maués, Ana Ayres do Amaral, a professora
Santana, nasceu em Óbidos em 26 de julho de 1923, no dia que se comemora a festa
de Nossa Senhora Santana, a padroeira do lugar. Por causa desse fato, ela passou a
ser conhecida como Santana em toda a cidade.

Fez o curso fundamental em Óbidos, no Colégio São José, das irmãs Clarissas,
tendo sido também aluna do celebrado professor José Barroso Tostes. Em 1936,
com a irmã Maria e o irmão Manuel Ayres foi continuar os estudos na cidade de
Manaus, onde prestou exame de admissão ao ginásio no Ginásio Amazonense Pedro
II. Após cursar a primeira série ginasial, no Pedro II, falou mais alto sua vocação
para o magistério e ela pediu transferência para a Escola Normal São Francisco
de Assis, na qual recebeu o grau de Professora Normalista, em dezembro de 1942,
sendo escolhida pelos colegas como oradora da turma no dia da formatura.

Professora Normalista, Ana Ayres do Amaral, agora professora Santana, voltou


a Óbidos para começar sua carreira no magistério e, em 1943, foi nomeada pelo
então governador do Estado do Pará, Magalhães Barata, para lecionar no Grupo
Escolar Dr. Corrêa Pinto. Foi assim que, aos 19 anos ela começou uma dedicada
carreira no magistério, começando com uma turma da segunda série primária.

Em 1947 a professora casou com o fazendeiro Areolino Araújo do Amaral e foi


morar no lugar chamado Paraná da Dona Rosa, mas não deixou de lado sua vocação,
tendo fundado e dirigido por muitos anos a Escola Estadual Isolada Mista São Braz,
através da qual alfabetizou várias gerações de ribeirinhos. Do casamento nasceram
os filhos Ademar Amaral, graduado engenheiro, e José Amaral, cirurgião dentista.
A educação dos filhos obrigou a professora largar sua escola do interior por uns
tempos, transferindo-se para a capital, onde continuou sua carreira no magistério,
nos grupos escolares Dr. Freitas e Vilhena Alves
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 83

Ainda na época de professora em Óbidos, como o salário era pouco, a professora


Santana resolveu abrir na própria residência uma turma de reforço na parte da
tarde. Nessa turma, ainda criança, foi aceito o aluno Constantino Menezes de
Barros que a frequentou pelo perı́odo de um ano e deixou a professora Santana
muito impressionada pela sua fulgurante inteligência e forte tendência para as
ciências matemáticas. Eis o depoimento da professora Santana sobre esse aluno
diferenciado: Constantino era uma criança muito inteligente e logo percebi que
ele merecia uma escola especial para esse tipo de criança com QI muito acima
dos demais. Era vivo, esperto e várias vezes ele corrigia os alunos maiores da 4 a .
Série, principalmente nas lições de tabuada e nas quatro operações fundamentais
da matemática. Quando havia dúvida entre os alunos, logo eu ouvia aquela voz
com um ”eu xei, eu xei professora”. Ia para a lousa e resolvia a conta com
muita facilidade. Portanto, pelo menos pra mim não houve surpresa sobre o que
aconteceu depois na carreira de inteligente menino que, desde tenra idade já rev-
elava suas qualidades de gênio e é motivo de orgulho para todos os seus conterrâneos.

Fica claro que a decisão de fazer Curso Normal foi desta em função da sua vocação. Esse é o
dado mais relevante, posto que, pesquisas atuais detectam uma quantidade robusta cursando, o que
também nunca houve no Brasil, licenciatura sem que isso seja fruto de qualquer da vocação [10, 11].

A então agora Professora Santana cresce logo exponencialmente em docência por retratar
soberbamente a situação econômica desses por precisar complementar renda e faz isso arranjando
mais alunos, sendo o mais comum em tais casos aparecer opção que implique largar sala de aula.
Isso é incentivado em universidade pública até pelo MEC e alguns acabam achando verdadeiros
rios de bonanças. De fato, o mais comum é depois de vários anos de estudos e conseguir cargo de
docente, repentinamente se descobrir assaz especialista em algo bem longe de sala de aula, desde
que não perca o cargo e nem os benefı́cios da carreira.

Essa segue continuamente crescendo quando necessitando ir para onde não há escola, mo-
tiva essa vir até ela e, consequentemente, para toda comunidade. E não preciso de nenhuma foto
para perceber a alegria das primeiras crianças ribeirinhas chegando nessa escola e nem do palpitar
do coração da Professora Santana nesse momento, pois são os sinais mais eternos do rebento ed-
ucação. E tudo guarda valor fundamental por transparecer algo perdido no tempo, pois quem tiver
acesso à internet pode verificar em [12] que isso vale como se fosse hoje. E para quem não, trata-se
de foto de um barraco de palha na Cidade de Alenquer-PA com crianças pensando que estão numa
escola quando tudo que há na sua frente é um vazio educacional e nada que se possa dizer por falta
de recursos, pois nada neste paı́s podemos (a)creditar ser por isso.

E duas contas que não sei fazer do quanto essa acresce, pois não há dúvida de quem os
alfabetizou, são as seguintes:

- Ademar Ayres do Amaral (Óbido-Pa, 21/05/1948 - ) Engenheiro Civil (UFPA, 1967-


72), Pós-Graduado em Engenharia Rodoviária (Convênio/DNER/UFPR/UFPA, 1977), consultor
sênior/ Sotreq S.A/ Caterpillar e Autor da obra Catalinas e Casarões, ISBN 978-85-63312-27-3.

- José Ayres do Amaral - Cirurgião Dentista (UFPA, 1977), chefe do serviço odontológico
do Tribunal de Justiça do Estado.

A Professora Santana atinge um ponto brilhante por ter sido uma das primeiras que
ensinou o genial Matemático Constantino de Menezes Barros. Lembro que todo nasce assim,
isso é porque essa o reconhece e abre espaço para que ele se desenvolva. E maia ainda, como é
citado no Trabalho de Conclusão de Curso referido e base de [13], isso foi fundamental para que
outros, como Manoel Valente do Couto, popularmente conhecido por Professor Manduca,
fossem fazendo o mesmo.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 84

Eis o dado fundamental: docência tem que ser um ato de cumplicidade coletiva, obviamente
só admissı́vel no sentido que engradeça educação, pois cada docente é ponto de curva pela qual
passará a vida escolar do educando. Isso é da mais alta revelância, pois nem se fala mais que o
ensino da matemática no Brasil é de nı́vel vergonhoso, pois isto tudo quando é dado prova [14,15],
mas que mata [16] e já envolve o pavoroso, como mostra esse relato que consta em [17]:

’Recentemente, uma colega, aluna do doutorado em Matemática ¨pura¨, em


tom de lamento, contou-me que seu professor disse a ela e às suas colegas, todas
professoras universitárias: ¨se vocês não entendem nem isto, então vão
vender Avon¨ ’

Porquanto, o relato acima é prova cabal de que pior do que haver falta dessa cumplicidade, o
ensino da matemática no Brasil já exibe uma quantidade imensa de pontos nessa curva empurrando
o educando para onde nem se sabe como ficará a vida deste.

CONCLUSÃO - O esperado é este servir de referência e homenagem para todo, especialmente


docentes das séries iniciais, por ser o começo de tudo. Assim como, visa oferecer subsı́dio para tra-
balhos, como de Conclusão de Curso - TCC, de pesquisas, etc. O sonho é ter como uma espécie
de álbum dos principais docentes paraenses, pelo menos, das séries iniciais. Pois, cada história de
vida desta enriquece profundamente formação docente, portanto capaz de apontar belos caminhos
trilhados e dos que precisamos andar mais.

E em homenagens a todos que estudaram com a PROFESSORA ANA AYRES DO


AMARAL, conhecida por PROFESSORA SANTANA, e a todo que faz das primeiras lições
dos números uma lembrança eterna, reproduzo poema de Cecı́lia Meireles que nos mostra, via
conceitos de matemática, educação como tentativas de traçar algumas curvas que marquem a ex-
istência de um ser e nas quais este tenda sempre crescer.

COMENTÁRIO DO ESTUDANTE DE DESENHO

Entre o eixo e as pontas do compasso,


meu Deus, que distância penosa,
que giro difı́cil, que pesado manejo!

É certo que a circunferência está pronta,


por toda a eternidade
aqui no imóvel parafuso do alto,
sonhada, prevista na perfeição total da auréola?

Meu Deus, meu Deus, é certo que só no caminho do traço


é que se vai assim de ponto em ponto,
de dor em dor, com medos de começo e fim,
rodando cautelosamente?

NOTA: Versão deste artigo publicado em 31/05/2013, Blog Chupa Osso,


www.chupaosso.com.br/index.php/obidos/educacao/2209-professora-santana-candidata-a- melhor-docente-
do-ensino-basico-paraense, acesso jun/13
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 85

REFERÊNCIAS
[1] BELLO, José Luiz de Paiva. MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇ ÃO - MOBRAL. História
da Educação no Brasil. Perı́odo do Regime Militar. Pedagogia em Foco, Vitória, 1993, Disponı́vel em:
¡http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb10a.htm¿. Acesso em: 18/05/2013.
[2] MOBRAL, FRACASSO DO BRASIL GRANDE, Rose Saconi, O Estado de S. Paulo, 08 de setembro de
2010, www.estadao.com.br/noticias/impresso,mobral-fracasso-do-brasil-grande,606613,0.htm, acesso maio/13
[3] HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS: DE 1960 ATÉ OS DIAS DE HOJE, Cristiane Costa
Brasil, Licencianda do Curso de Matemática, UCB, www.ucb.br/sites/100/103/TCC/12005/CristianeCostaBrasil.pdf,
acesso 18/05/2013
[4] DESTINO: EDUCAÇÃO - EPISÓDIO 6 - BRASIL http://www.youtube.com/watch?v=qhD1V1gqwP8, acesso
maio/13
[5] EDUCAÇÃO BÁSICA http://www.youtube.com/watch?v=-k6t1qhvEK8 , acesso maio/13
[6] UNICEF APONTA DESCOMPASSO ENTRE ENSINO E REALIDADE DE ADOLESCENTES NO BRASIL,
Mariana Tokarnia, Agência Brasil/EBC, 15/05/2013, http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-05-15/unicef-aponta-
descompasso-entre-ensino-e-realidade-de-adolescentes-no-brasil, acesso maio/13
[7] ”SE TIVESSEM ME ENSINADO ISSO ANTES...”: UM ESTUDO SOBRE AS APRENDIZAGENS DO-
CENTES, Vanda L. B. Gautério, Sheyla C. Rodrigues, Zetetiké - FE/Unicamp - v. 20, n. 38 - jul/dez 2012,
www.fae.unicamp.br/revista/index.php/zetetike/article/view/4319/3877,acesso maio/13
[8] SP CONVOCA, PELA QUARTA VEZ, DOCENTES REPROVADOS EM PROCESSO SELETIVO , NAT ÁLIA
CANCIAN, 02/03/2013, DE SÃO PAULO www1.folha.uol.com.br/educacao/1239547-sp-convoca-pela-quarta-vez-docentes-
reprovados-em-processo-seletivo.shtml, acesso maio/13
[9] CENTRO DE CONVENÇÕES BENEDITO NUNES,
www.ufpa.br/sbmnorte/coloquio/index.php?option=com content&view=article&id=18&Itemid=5, acesso març/13
[10] LEME, Luciana França. ATRATIVIDADE DO MAGISTÉRIO PARA O ENSINO BÁSICO: estudo com
ingressantes de cursos superiores da Universidade de São Paulo. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação) - Fac-
uldade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponı́vel em:
¡http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-03092012-151346/¿. Acesso em: 2013-05-19.
[11] A CARREIRA DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO DO SISTEMA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DE BELÉM (PA), Gutierres; Gemaque; da Luz, Jornal de Polı́ticas Educaionais, N ◦ 10, Agosto-Dezembro de 2011,
PP. 46-56, www.jpe.ufpr.br/n10 5.pdf, acesso maio/13
[12] BARRACO DE PALHA É ESCOLA EM ALENQUER, Blog do Jeso Carneiro, 5/9/2012,
www.jesocarneiro.com.br/educacao-e-cultura/escola-santa-rita-ate-quando-esse-amem.html, acesso maio/13
[13] VIDA E OBRA DE CONSTANTINO MENEZES DE BARROS - I, blog Chupa Osso, 05 Maio 2013,
www.chupaosso.com.br/index.php/obidos/educacao/2149-vida-e-obra-de-constantino-menezes-de-barros, acesso maio/13
[14] MATEMÁTICA E CIÊNCIAS NO PAÍS SÃO PIORES DO QUE NA ETIÓPIA, Veja Online, Educação,
11/04/2013,http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/matematica-e-ciencias-no-pais-sao-piores-do-que-na-etiopia, acesso
ab/13
[15] O CONCEITO EM MATEMÁTICA E SEUS CONTEXTOS, Marisa Rosâni Abreu da Silveira,
www.ufpa.br/npadc/gelim/trabalhos/SBEM%20o%20conceito%20em%20mat%20e%20seus%20contextos.pdf, acesso maio/13
[16] OPINIÃO: BRASIL MATA SEUS MATEMÁTICOS, www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-
na-midia/26830/brasil-mata-seus-matematicos/, acesso maio/13
[17] A CRÍTICA AO ENSINO DA MATEMÁTICA, Marisa Rosâni Abreu da Silveira, AMZÔNIA - Revista de
Educação em Ciências e Matemática, V.2-n3-jul.2005/ dez.2005,V.2-n.4 2006/jun.2006,
www.ppgecm.ufpa.br/revistaamazonia/vol 02/v02 p01.pdf, acesso maio/13
[18] ALGUMAS MULHERES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA (versão sem correção técnica), Nascimento,
J.B., http://ciencianofeminino.blogspot.com.br/2012/04/algumas-mulheres-da-historia-da.html#links, acesso maio/13
[19] EPISTEMOLOGIA E EDUCAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE TEMAS EDUCACIONAIS, Ivanilde Apolu-
ceno de Oliveira, Monica Dias Araújo e Vivianne Nunes da Silva Caetano,(Organizadoras), Belém-Pará , 2012,
http://paginas.uepa.br/mestradoeducacao/Downloads/Ebook/LIVRO%20EPISTEMOLOGIA%20E%20EDUCAO
%20PDF%202.pdf, acesso maio/13
[20] A INCLUSÃO ESCOLAR DO PONTO DE VISTA DOS PROFESSORES: O PROCESSO DE CONSTITUIÇ ÃO
DE UM DISCURSO, Hildete Pereira dos Anjos Emmanuele Pereira de Andrade, Mirian Rosa Pereira, UFPA/
Marabá, www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a10.pdf, acesso maio/13
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 86

E D U C A Ç Ã O & D U N A Q U E N T E
OU
A PROFESSORA QUE RACHAVA OS PÉS PELO SABER
¨A educação deve e precisa se colocar essa meta:
é necessário apontar a barbárie, aprender a conhecê-la,
mantê-la consciente, e promover uma reflexão
crı́tica sobre esta realidade.¨
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903 - 1969)
Por Nascimento, J.B
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, Ab/12

Quando fazia licenciatura em matemática na Universidade Federal do Ceará-UFC, anos 80,


participei de programa de extensão para capacitação docentes leigos das séries iniciais, cujo coor-
denador da área de matemática era o Saudoso Prof. Luiz Alberto dos Santos Brasil. Este é
autor, em colaboração com Lauro de Oliveira Lima e Ana Elisabeth de Oliveira Lima, do
livro Aplicações da Teoria de Piaget ao Ensino da Matemática, 1977, Edições Forense-
Universitária, além de outros. Basta dizer que nem ainda no prefácio, mas no ¨ À guisa¨ deste, as
primeiras palavras são: ¨É estranhável que os mestre não tenham, até hoje, suspeitado de que
haja algo de errado com o ensino da matemática.¨

O curso no qual eu atuava era na cidade de Caucaia-Ce, municı́pio litorâneo e que faz di-
visa com Fortaleza. As aulas presenciais aconteciam nas manhãs dos sábados. Cada encontro que
ocorria era uma lição de educação que cada um de nós, jovens licenciandos, aprendı́amos. O que
havia de fabuloso, a maioria eram senhoras, era a avidez pelo saber. Cada pedaço aprendido era
degustado de uma forma que comovia a todos nós e em toda reunião de discussão diversos relatos
disso enchia toda sala e transbordava por diversos cantos da UFC.

Um fato que ocorreu e por muitos anos ficou até adormecido em mim, porquanto, não vi
nenhuma relevância, foi o seguinte: Como sempre tive familiar morando em Caucaia e essa tem
praias belı́ssimas, algumas vezes não regressava no micro-ônibus do projeto para ir à praia ou filar
um almoço e pegar uma soneca numa rede tijubana armada em local pelo qual todo pedaço de vento
praiano tinha que passar. Eis um cálculo matemático que muitos matutos sabem fazê-lo com uma
precisão invejável.

Certo dia, e após generoso almoço regado com rapadura serrana e sono melhor ainda, estava
regressando para Fortaleza e no centro da cidade passei por uma das alunas que estava sentada num
banco de praça. Como o ônibus ainda demoraria passar me sente ao seu lado e indaguei, já que
essa havia dito uma vez na aula que morava em distrito que eu sabia ser distante do centro da
cidade, o porquê dela ainda se encontrar ali, ante o avanço das horas. Tudo isso dentro da mais
completa ingenuidade, um papo entre amigos, sem essa separação aluno-professor, antes de tudo
um encontro entre pessoas, como sempre dizia que tinha que ser o coordenador.

Essa diz que só havia meio de ligação entre a cidade de Caucaia e o seu distrito para ser
feito a pé e ainda essa tinha que atravessar quilômetros de uma duna. Por isso, tinha que esperar
até mais tarde para que a quentura da areia ficasse mais amena nos seus pés.

Não ficarei chateado se alguém achar tudo uma grande bobagem, pois nem eu nada percebi de
relevante por muitos anos. E, só serve para mim algumas vezes em que vejo alguém tratando fatos
do educacional, como formação/capacitação docente, como se fosse coisa que não mereça nenhum
cuidado. Além de nada disso se equiparar com muitas coisas boas que já vi em anos de universidade
pública virar a mais completa inutilidade.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 87

J A P I I M F Ê M E A (Cacicus cela)
A ENGENHEIRA DONA DO NINHO QUE BALANÇA
’LOS MATEMÁTICOS PODEMOS SER MUY ÚTILES, PERO DEBEMOS CONOCER
NUESTRAS LIMITACIONES’.
Sir Michael Atiyah, (Londres, 1926- ), matemático,
medalha Fields 1966, medalha copley 1988 e Prêmio Abel 2004
www.matematicalia.net/articulos/v7n4dic2011/matiyah.pdf
Por Nascimento, J.B
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
Email: jbn@ufpa.br, Ab/12 2009

Chama-nos atenção essa inferência de uma antropóloga luso-brasileira (g.n):

¨O macho e a fêmea guardam os ovos juntos, mas só a fêmea


:::::::::::::::::::
trabalha, ao passo que o macho canta¨
::::::::::
In Pontos de vista sobre a floresta amazônica: xamanismo e tradução,
MANUELA CARNEIRO DA CUNHA, MANA 4(1):7-22, 1998,
www.scielo.br/pdf/mana/v4n1/2424.pdf, acesso abr/12
(*)Foto: Octavio Campos Salles, http://olhares.uol.com.br/japiim-foto669449.html

Pois, esse trabalho se centraliza no fazer o ninho o que, juntamente com outras informações
biológicas e ¨sociais¨, deixa na responsabilidade maior da fêmea fazê-lo. E a tendência geral é que
seja pendurado um pouco abaixo da folhagem. Porquanto, aproveita o máximo da brisa em dias
quentes, tal como o sertanejo da caatinga cearense usa rede, e enfrenta as piores intempéries nas
horas de temporais. E a Amazônia oferecer-lhe-á quase diariamente as duas oportunidades

Espero que a foto convença a todo que não é engenheira com aspas
ou de meio sentido. Que é de nı́vel superior a toda formação possı́vel
nessa área, é o que pretendo provar através de uma série de exercı́cios
propostos para todo que se disponha fazê-los, mesmo que seja apenas
para sentir um pouco do gosto dos problemas que engenharia envolve.
Para tanto, e não vejo como ser diferente, é exigido já ter aprendido, ou
providenciá-los, os conceitos essenciais de Álgebra Linear, [1], Cálculo
Diferencial em uma e várias variáveis, [9], e Equações Diferenciais
Ordinárias, [3],[6] e [7].

O modelo matemático inicial é de uma haste/galho que segura um


esferóide suspenso por um fio. Portanto, uma grande simplificação que,
como veremos, exige um cabedal matemático razoável alguns problemas
derivados disto.

Exercı́cio 1 - Começando pelo que faz uma revisão de cálculo, calcular


área e volume de esferóide usando integração cartesiana em uma, duas
e três variáveis. Fazer o mesmo, especialmente dos que não conseguiu
pelo método anterior, fazendo mudanças de coordenadas.

Exercı́cio 2 - Considerar esferóide sujeito a fluxo dado por um campo com rotacional não nulo,
calcular os elementos do Cálculo Vetorial e usar isso numa verificação dos resultados dos Teoremas
da Divergência e Gauss-Stokes.

Exercı́cio 3 - Note que o submodelo dinâmico mais básico dessa engen-


heira é do pêndulo simples (haste fixa), a esfera se movendo num plano
fixo ou girando com um ângulo fixo em torno da reta vertical que passa
pelo ponto fico na haste. Determine as Equações Diferenciais Ordinárias
(E.D.O’s.) nesses dois casos e resolva-as.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 88

Exercı́cio 4 - O ninho terá rotação, porquanto, ainda no caso simples anterior, considere a es-
fera sujeita a um movimento de rotação, portanto, criando torção no fio, e determine a E.D.O e
resolva-a.

Exercı́cio 5 - O bem mais precioso, razão essencial da dedicação dela na


busca do máximo de perfeição, o ovo, estará sujeito a um movimento
mais próximo de um Pêndulo Duplo Simples. Determine o Sistema de
E. D.O’s no caso mais simples e resolva-o.

Exercı́cio 6* - A tempestade se transformará no momento mais perigoso


em função do movimento do galho levar toda estrutura a vibrar. Refazer
os casos anteriores supondo haver vibração na haste.

Exercı́cio 7* - A engenheira sabe que a dureza dos materiais que dispõe para fazer o fio, são de na-
tureza orgânica, na prática funciona mais como mola. Refazer os exercı́cios anteriores supondo isso.

Exercı́cio 8* - De fato, antes de começar a obra a engenheira faz algumas simulações, tal qual
engenheiro comum faz usando os préstimos de um bom arquiteto ou programas como o Adobe pho-
toshop, porquanto, faz algumas deformações na estrutura para ter uma visão do que pode ocorrer.


Matematicamente isso pode ser feito assim: considere uma superfı́cie de equação S(x), V (x) vetor
unitário em cada ponto dessa e f (t), onde t é parâmetro real variando num intervalo [a, b], uma
e t) = S(x) + f (t) × →
função diferenciável. Defina S(x,

V (x) que para cada t0 ∈ [a, b] fixado produz
uma ¨superfı́cie¨ deformada da inicial. Refaça os exercı́cios de Cálculo num desses casos.

Finalizando, essas engenheiras, em função da minha ignorância, pregou-me uma peça nada
simples. Posto que, após um temporal de boas proporções fui onde sabia haver árvore com seus
ninhos querendo achar algum pelo chão que pudesse guardá-lo de lembrança. E a lembrança in-
esquecı́vel que ganhei foi por não haver um só, como se diz no meu Ceará, ¨nem pra remédio!¨.
Enquanto isso, o canto de todos dizia a máxima do profissionalismo: ¨respeito é bom... e eu
gosto!!!¨

(*) Dados da foto que ilustra:


Tı́tulo: Ninho de Japiim, Nome do Arquivo: DSC06813.JPG, Tirada: 2007-May-27 15:31:08, Proprietário: Maiko de
Andrade, http://g3.maikovisky.com/index.php/viagens/belem-052007/primeirodia/DSC06813, acesso ab/12

Referências
[1] ÁLGEBRA LINEAR, Lang, S., Ed. Edgard Bücher, 1977
[2] A MATEMÁTICA NO BRASIL - História de seu Desenvolvimento, Silva, C. P., 3 a Edição, Ed. Edgard
Bücher, 2003
[3] EQUAÇÕES DIFERENCIAIS, Junior, F. A., Coleção Schaum, McGrw-Hill, 2 a Ed.1994
[4] O CANTO DO JAPIIM, Marcelo Leite, Blog Ciência em Dia, Folha Online,
http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2010-04-11 2010-04-17.html#2010 04-12 13 28 44-129493890-25, acesso
ab/12
[5] JAPIIM, Blog Fauna Brasileira, Nassar, P. M., http://brasilesuafauna.blogspot.com.br/2011/10/japiim.html,
acesso ab/12
[6] MÉTODOS MATEMÁTICOS DA MECÂNICA CLÁSSICA, Arnold, V.I, Ed. Mir, 1979
[7] MÉTODOS MATEMÁTICOS PARA ENGENHARIA, Oliveira, E. C. e Tygel, M., Coleção Textos Univer-
sitários, SBM/IMPA, 2005
[8] TEXTO PEDAGÓGICO: JOÃO-DE-BARRO ENGENHEIRO, Blog Rosabio - Biologia e Educação. Almeida,
D. R., http://rosabioprofessora.blogspot.com.br/2012/02/texto-pedagogico-joao-de-barro.html, acesso ab/12
[9] UM CURSO DE CÁLCULO, GUIDORIZZI, H. L., Vol.1,2,3 e 4, Ed. LTC, 5a Ed., 2009
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 89

A N N E F R A N K (12/06/1929 - 31/03/1945)
A ALUNA TAGARELA QUE MOSTRA O QUE É SER
DOCENTE DE MATEMÁTICA DE QUALIDADE
¨É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!¨
Florbela Espanca, 1984-1930, Poetiza Portuguesa
Por Nascimento, J.B - UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, 05/06/2012

Má educação se caracteriza pela proibição a priori, o que é desprezo por educação, pois
essa exige pesquisa, portanto, submeter a métodos e parâmetros para determinar com o máximo
de precisão se o ato praticado pelo estudante é parte da sua natureza ou apenas visa atrapalhar o
andamento da aula, quiçá aborrecer o docente. Sendo parte da sua natureza carece estudar visando
transformar isso, se possı́vel for, num fator que favoreça na sua aprendizagem.

Uma questão dos tempos atuais é o uso de aparelhos, como celular, na sala de aula. Em
alguns Estados, como o Pará, há lei proibindo isso em sala, quanto nunca pesquisaram métodos de
ensino e aprendizagem que integra isso e nem a lei atende o que usa para melhorar a sua apren-
dizagem. Por isso, consideram que todo só usaria por vadiagem. Entretanto, tal qual mantra de
torcida barulhenta em estádio, por todo canto se escuta que é preciso inserir novas tecnologias na
sala de aula.

E por que educação exige tais cuidados? Porque essa será útil sempre, mas imprescindı́vel
quanto as piores desgraças, como nazismo, assumem condições se impor ameaçando vidas. Pois,
sendo fácil e útil aderir, resistir em condições de revelar à humanidade suas atrocidades só é possı́vel
valendo-se de algo da própria natureza da pessoa, como vez uma das nossas personagens.

ANNE FRANK sofreu, como milhões de outras crianças, dos horrores nazistas, tendo
morrido em campo de concentração. E por ser uma tagarela isso foi fundamental para que regis-
trasse toda atrocidade disso quando confinada em quarto, o que hoje é a obra magistral O Diário
de Anne Frank, cujo ledo engano é supor que essa descreve apenas os dias que passam, quando
factualmente discute de forma tocante os valores humanos aprisionados. Ou seja, produziu para a
humanidade uma obra de resistência a tais fatores, quando o papel maior da escola é lembrar a
todos disto.

Já do professor tudo que sei é o que Anne diz: ¨O Sr. Keesing, o velho turrão que dá
aula de matemática¨. Esse mostrou da sua qualidade quando aplicou o método mais capaz de
parametrizar tudo visando responder o seguinte: o estudante se dispõe trabalhar em defesa
da sua atitude? Sendo a resposta positiva, vamos para outro ponto que isso não é problema, quiçá
coisa para boas gargalhadas.

E Como já usei esse texto em outro informe para que alunos meus refletissem ante uma
determinada situação, finalizo reproduzindo o trecho no qual Anne Frank relata o episódio [1]:
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 90

¨Eu me dou bastante bem com os professores. Eles são nove, sete
homens e duas mulheres. O Sr. Keesing, o velho turrão que dá aula de
matemática, ficou furioso comigo durante um tempo enorme porque
eu falava demais. Depois de várias avisos, ele me passou dever extra
para casa. Uma redação sobre o tema ¨Uma tagarela¨. Uma tagarela,
o que é que a gente pode escrever sobre isso? Decidi deixar para me
preocupar mais tarde. Anotei o dever no caderno, coloquei-o na pasta
e tentei ficar quieta.

Naquela tarde, depois de terminar o resto do dever de casa, a anotação sobre a redação
me atraiu o olhar. Comecei a pensar no assunto enquanto mordia a ponta de minha caneta-
tinteiro. Qualquer pessoa poderia embromar e deixar espaços grandes entre as palavras,
mas o truque era arranjar argumentos convincentes que provassem a necessidade de falar.
Pensei e pensei, e de repente tive uma idéia. Escrevi as três paginas que o Sr. Keesing
tinha mandado e fiquei satisfeita. Argumentei que falar era uma caracterı́stica feminina,
e que eu faria o máximo para me controlar, mas que nunca poderia acabar com o hábito,
já que minha mãe falava tanto quanto eu, se é que não falava mais, e que não há muito
que se possa fazer com caracterı́sticas herdadas.
O Sr. Keesing deu um boa risada de meus argumentos, mas quando comecei a falar na
aula seguinte ele me mandou fazer outra redação. Dessa vez o tema seria ¨Uma tagarela
incorrigı́vel¨. Eu fiz, e o Sr. Keesing não teve nada a reclamar durante cerca de duas aulas
inteiras. Mas durante a terceira ele se encheu:
- Anne Frank, como castigo por falar na aula, escreva uma redação chamada ¨Quac, quac,
quac, tagarelou a dona pata¨.
A turma morreu de rir. Eu tive de rir também, mas tinha quase esgotado minha
engenhosidade sobre o tema das tagarelas. Minha amiga Sanne, que é boa em poesia,
se ofereceu para ajudar a escrever a redação em versos do inicio ao fim. Pulei de alegria.
Keesing estava tentando fazer piada comigo, com aquele tema ridı́culo, mas eu iria garantir
que a piada se voltasse contra ele.
Terminei o meu poema, e ficou lindo! Era sobre uma mãe pata e um pai cisne com
três patinhos que foram bicados até a morte pelo pai, porque grasnavam muito. Feliz-
mente Keesing entendeu a piada. Ele leu o poema na sala, acrescentando seus próprios
comentários, e leu também em várias outras salas. Desde de então ele me deixa falar e não
passou deveres extras. Pelo contrário, hoje em dia, Keesing vive fazendo piadas.¨
Figura em: http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Anne Frank stamp.jpg,
acesso 06/09/2008

Referências

[1] Frank, O.H e Pressle, M., O Diário de Anne Frank, Trad. Alves Calado, 25 a Edição,
Ed. Record, 2008
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 91

DIGRESSÕES

BURRICE COMO PRODUÇÃO DE GÊNERO E FUNDAMENTADORA


DE DESGRAÇAS DO EDUCACIONAL
CASOS: PARAENSE, BRASILEIRO E IBERO-AMERICANO
¨E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas com que me finjo mais alto
e ao pé de qualquer paraı́so.¨
Fernando Pessoa, 1888-1935
Por Nascimento, J.B - UFPA/ICEN/Matemática
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
E-mail: jbn@ufpa.br, Jan/2011

Como cearense, com estudos e formação em outros centros - ingressei na UFPA no inı́cio
dos anos 90 via concurso público -, a realidade do ensino da matemática pelo Brasil não deixava
transparecer de imediato qualquer anormalidade pelo fato dos indicadores paraenses de aprendizagem
desta, nos vestibulares da UFPA e em outros processos, sempre ficar entre os menores, sem que haja
algum prestável no Brasil.

Entretanto, e no caso mais determinado nas áreas de Exatas e Tecnológico/Engenharia, Cálculo


Diferencial e Integral, quando conversa de corredor tocava no alto nı́vel de reprovação e/ou não
rendimento factual - no geral estamos falando de quatro Cálculos/disciplinas que formam uma cadeia,
portanto, aprovação não significa necessariamente rendimento e fica sensı́vel isso nas seguintes -,
isso levava para um papo nebuloso eivado de muito menos do que meias palavras, pois nem sempre
sou um péssimo entendedor.

Pior ainda é que havia caso em que isso era método para encerrar qualquer conversa antes mesmo
de qualquer discussão, ficando claro em tal mentalidade que sabia seguramente que tudo estava fora
do alcance de qualquer debate. Quais fatores acreditavam produzir isto e que estariam fora
de qualquer providência do campo educacional? E obviamente, uma vez que era mentalidade,
isso impregna suas ações transferindo tudo isso para o institucional que, por sua vez, legitima e
fundamenta ações públicas e ¨cientı́ficas¨ . Tais nebulosidades no meio acadêmico por si só é
educacionalmente criminosa e em consorte com outros fatores de desgraça social, como pobreza e
racismo, explode e criam vazios preenchı́veis com tudo que não presta.

O caso nacional é visı́vel, posto que, é possı́vel qualquer jovem ao qual se garanta alojamento,
comida e livro ser capacitado para qualquer profissão. A menos que, e a priori, não se acredite que
seja capaz de aprender, porquanto, tornar-se-ia investir nesse mais do que prejuı́zo, perigosamente
ameaçador para outras ¨prioridades¨. Por isso, por exemplo, as gráficas das públicas, obviamente
mantidas com recursos públicos até mesmo para o cafezinho, nada produzem de fato para atender
às necessidades mais prementes desses, mas usam-na até para atender incompetência acadêmica
que editora comercial nunca se interessaria. Havendo exceção, mas não se registra nenhum caso em
que cumpram sua função mais primordial: atender aluno carente de graduação. E em educação,
exceção apenas tem poder de segurar um pouco a barbárie.

Um episódio da UFPA, sem haver registro diferente pelas demais, ilustra o quanto isso é terrı́vel.
A reitoria tinha milhões para gastar como quisesse, sendo que nada disto proposto existe de fato para
qualquer estudante, e ninguém - e isso significa pessoa da cúpula ou com acesso ao mesmos, pois
sem ser disto nada vale -, lembrou-se disto, mas apenas em fazer auditórios de luxo. Auditório um
nem é, mas centro de convenção. E nisso ainda há dois fatores que acho até horripilantes: nomearam
esse como se estivesse homenageando um dos maiores educadores paraense e o ministro Haddad veio
inaugurá-lo. (Cont)
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 92

No caso do Ministro Haddad nem tanto, pois é o criador do Enem como vestibular nacional e
esse é complementar de toda desgraça em tudo já delineado, pois o MEC não deixa de ser responsável
direto em tudo que acontece nas universidades públicas, acrescido do seguinte fato: vestibular nacional
é proposta que todo ministro teve na sua mesa, houve ensaios disto no Rio e SP, empresas como a
Cesgranrio nasceu disto, mas havia um risco de se cometer um dos crimes mais vergonhosos de todos
os possı́veis em educação. Qual seja, aluno com boas notas e carente dessas condições para
fazer o curso ter que desistir e outro com menos nota e mais condições financeiras acabe
fazendo o curso no seu lugar.

Haddad não só não teve vergonha para tanto, como contou com sustentáculos outros nisso, como
o fato do INEP ser impenetrável à transparência pública para que socialmente não se fique sabendo
disto. E já gastou bilhões fazendo provas quando deveria ter negociado para que as participantes
aplicassem simultaneamente provas que seriam equalizadas por uma comissão do MEC - não
precisariam ser todas iguais, mas com nı́veis próximos - e investir esses bilhões em condições de
minimizar tal crime. Pior ainda: os bilhões gastos com provas já se consumiram e se fossem em
estruturas nas públicas serviriam para todas as gerações. Mas, entretanto, para reverter isso tinha
que antes ter trocado de mentalidade. Qual é a diferença entre mentalidade deste nı́vel hoje
e de escravocrata?

Voltando ao caso Paraense, para quem não sabe, pupunha é um fruto regional composto de
uma massa protegida por uma pelı́cula e envolvendo um caroço de alta dureza, e aviso que não se
deve apenas ao que vou relatar, foi acúmulos diversos, como uma ¨pupunhada¨ (bem cozidinha,
rechonchudas e acompanhada com café) servida por um amigo mocorongo (designação popular dos
nativos de Santarém-Pa) no campos de Santarém.

O episódio que fez tudo explodir numa clareza abismal ocorreu num lugarejo, tipicamente
interiorano: havia várias crianças de ambos os sexos comendo pupunha quando uma senhora bastante
idosa e de forma bem impulsiva, porquanto, só tinha visto tudo de relance, aplica tapa na boca de
uma menina, que deveria ser discreto, mas que por fatores outros acabou sendo bastante estridente.
E complementava o ato repreendendo-a porque iria roer o caroço e se fizesse isso os seus filhos
nasceriam como que possuidores de uma burrice congênita. De fato, não apenas esses, mas todos os
descendentes. E o mais inacreditável: os meninos eram até estimulados roer.

Esse episódio foi um turbilhão na minha cabeça, dado que, quando buscava puxar conversa na
questão de aprendizagem/reprovação em cálculo, ao invés de algo que levasse para os métodos e
parâmetros do ensino que estávamos praticando, e da educação em geral, apareciam falas soltas, tais
como: ¨- as m~ aes desses caras andaram roendo caroço de pupunha!!!¨, mas não de forma
assim tão objetiva, frase completa, mas sutil ao ponto daquele que não fosse da mesma formação
cultural, como no meu caso, nada entendia.

Surpreendente isso não é! Já mostrei que o cenário educacional nacional é impregnado desta
mentalidade. Apenas quando essas locais se agregam com outras históricas o quadro é dantescamente
trágico ao ponto de mesmo quando numa turma de quarenta (40) ingressantes de curso de Exatas
apenas um é aprovado na primeira versão de Cálculo, isso se fala pelos corredores com uma
naturalidade assombrosa, portanto, gera uma indiferença institucional que leva até para o pior:
alimentar mentalidades que induzem aprovar de qualquer jeito; todo gestor precisa de bons resultados
para apresentá-los em certas reuniões e amigos que queriam ajudá-los é o que não faltam.

Na história da matemática - do lado péssima, mas ciência não é só de coisas boas -, desde o
tempo de Pitágoras que existe corrente que apregoa essa mentalidade de que só aprende essa o que já
tenha nascido com região cerebral especificamente para isso, verdadeiro presente dos deuses, porquanto,
coisa rara em qualquer pessoa e, mais uma vez por questão de gênero, quase impossı́vel
em mulher. (Cont)
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 93

As minhas pesquisas provam que essa corrente impregnou a prática do ensino da matemática
da matemática da Ibero-América e uma demonstração pode ser refeita, quase independentemente da
qualidade das suas provas que aplicam, usando os dados do PISA/OCDE (Programa Internacional
de Avaliação de Alunos ), [11], e um mapa mundi, fazendo o seguinte: cubra o mapa com uma cor
para os paı́ses com nota de regular para cima em matemática (igual ou maior do que 500 pontos) e de
outra os abaixo disto. Com isso verão que todos os paı́ses ibéricos com a mesma segunda cor. E outra
mais simples é ouvir papo de corredor em qualquer escola, especialmente pública, pois surgirá história
relacionada em ¨ter ou n~ ao massa cinzenta¨ como indicadora de que o possuidor aprende ou não
matemática.

De fato, essa mentalidade de que não aprender ou ter nota baixa nessa deriva de
doença genética na constituição neural já fundamenta pesquisa da UFMG, [1], [2],
[4],...,[10] que até tira sangue de estudante e faz com que a maioria dos docentes de
matemática e pedagogia acredite mesmo ser doença o que faz aluno ter baixo apren-
dizado, mesmo quando se demonstra que a qualidade do ensino da matemática, assim
como as nossas condições escolares, especialmente públicas, não apresentam qualidade
para sequer suspeitar disto. E os agravos são: nem o MEC acha coisa diferente e até
mineira diplomada em matemática deixa transparecer ser fato que conterrânea estaria
mesmo parindo criança com tal defeito genético.

Repito, finalizando, que o caso paraense não é só produto local e posso afirmar que na UFPA
tem grupo de pesquisa em genética em contato com esse de Minas, não sei o que fazem juntos, se
fazem, que informações trocam, etc., apenas digo que a situação paraense serve de um invejável
espaço amostral no caso de tais queiram expandir tal pesquisa além das fronteiras mineiras. Ou seja,
estou mostrando que o Pará é ponto de acumulação, havendo nisso a questão de gênero,
alimentada e alimentando discriminação contra mulher, em condições de convergi-lhe
mais tragédias.

REFERÊNCIA
[1] Decifrando uma incógnita
www.ufmg.br/boletim/bol1698/4.shtml, acesso, ag/10
[2] Doença que dificulta aprendizado de matemática é alvo de especialistas
http://saude.ig.com.br/minhasaude/doenca+que+dificulta+aprendizado+de+matematica+e+alvo
+de+especialistas/n1597074737032.html
[3] Discriminação Tira Mulheres de Áreas Exatas e Preocupa Governo,
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/discriminacao+tira+mulheres+de+areas+exatas+e+ pre-
ocupa+governo/n1238144853610.html, acesso maio/2011
[4] SEM HABILIDADE COM NÚMEROS, Junia Oliveira, O Estado de Minas, 08/06/2010
http://wwo.uai.com.br/EM/html/sessao 18/2010/06/08/interna noticia,id sessao=18&id noticia=
141062/interna noticia.shtml, acesso jun/210
[5] http://www.exkola.com.br/scripts/noticia.php?id=34579041
[6] http://blog.opovo.com.br/educacao/sem-habilidade-com-numeros/
[7] http://vghaase.blogspot.com/, acesso, ag/10
[8] http://discalculialnd.blogspot.com/, acesso, ag/10
[9] Neuropsicologia e genética decifram causas e consequências da discalculia, ISaúde.Net, Saúde
Pública,
http://isaude.net/z9h8, acesso ag/10
[10] Pesquisa dos Laboratórios de Neuropsicologia e de Genética da UFMG pode ajudar a desvendar
causas e consequências da discalculia, 7 de junho de 2010
http://www.ufmg.br/online/arquivos/015678.shtml
[11] PISA - http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-avaliacao-de-alunos
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 94

ANÁLISE DE UM ARTIGO
CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E ENSINO QUALIFICADO DA MATEMÁTICA
DIZEM SER PRECONCEITO

¨O educador vai ao encontro da potencialidade nativa do educando


e ajuda-o a explicitar a riqueza interior, fazendo com que emirja
todo cabedal com que a natureza dotou-o.¨
Erasmo de Rotterdam (1466-1536)
Por Nascimento J.B
http://lattes.cnpq.br/5423496151598527
www.cultura.ufpa.br/matematica/?pagina=jbn
Email: jbn@ufpa.br, Abr/2012

Reprodução integral do artigo (g.n)

MATEMÁTICA E A MULHER TRANSCENDENTAL, CRÔNICA DE SÉRGIO


MASCARENHAS

Sérgio Mascarenhas é professor e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA)


de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), presidente Honorário da SBPC e
Membro Titular da ABC.
Comemorou-se no dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher. Escrevo esta crônica inspirado
na imagem feminina, sı́mbolo máximo da evolução biológica. Não sei por que ainda o machismo
de homo-sapiens-sapiens e não femina-sapiens-sapiens! Todos sabemos que o feto nasce feminino e
somente numa certa fase ulterior há a transição para o sexo masculino. Isso nos deixa, nós machos,
resquı́cios e vestı́gios evolutivos como os bicos dos seios inúteis! Pensar que a força muscular e o
tamanho do corpo, necessários para a função de provedor do caçador, acabou por ser o elemento
dominante sócio-econômico na relação dos sexos é para mim um dos paradoxos evolutivos. Mas parece
que está sendo corrigido gradualmente na era do conhecimento.
Também não tenho dúvidas pessoalmente da superioridade cognitiva da mulher. Tamanho de
cérebro não basta, a funcionalidade holı́stica do complexo cerebral pode ser mais eficiente em funções
superiores como decisões comportamentais envolvendo incertezas entre razão e emoção, por exemplo.
Estamos na era das incertezas, dos sistemas complexos, das interações entre sistemas de sistemas,
muitas vezes incoerentes e conflitantes. O grande Prêmio Nobel Ilya Prigogine mostrou que o tempo é
irreversı́vel e que os sistemas complexos levam a fenômenos emergentes espetaculares como transições
de fase do caos para a organização em fenômenos que vão da fı́sica quântica à biologia e a própria
teoria da evolução!
Não foi coincidência que algumas mulheres venceram essa odiosa barreira do machismo até hoje
existente como a grande matemática grega Hipathia de Alexandria, infelizmente trucidada por um bispo
cristão machista. Lembrando da matemática, me vem à minha memória a evolução dessa ciência que
desejo usar para culminar com minha homenagem ao sexo feminino: a Matemática sofreu nos últimos
dois séculos enormes transformações.
Sempre considerada como o reino da razão absoluta, isenta de incertezas, pura e sem mácula,
começou a sofrer abalos quando Bertrand Russell, ao escrever com Alfred Whitehead a sua grande obra
Principia Matemática, na qual procurava estruturar toda essa ciência através da teoria dos números e
da lógica, deparou-se com terrı́veis paradoxos que chegaram a paralisar o seu intento por nove anos! Já
se desconfiava desde Pitágoras e Euclides de algumas dificuldades e mesmo paradoxos com a própria
geometria e teoria dos números e seus axiomas. Mas foi com Georg Cantor (russo-alemão) e G.
Peano (italiano) que a situação conceitual realmente explodiu: a matemática dita pura era eivada de
impurezas e paradoxos?
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 95

Uma das situações repousava no conceito de conjunto infinito: poderia um conjunto de quaisquer
objetos ser infinito e ainda mais um seu sub-conjunto ser maior que ele? Criou-se o conceito de
números transfionitos ou transcendentais: um dos números desta categoria é o famoso número pi.
Este número estava ligado ao problema da quadratura do cı́rculo, e Arquimedes talvez um dos maiores
cientistas da era grega, foi o primeiro a calculá-lo aproximadamente com o seguinte raciocı́nio: a
área de um triângulo era conhecida, subdividindo um polı́gono (figura de muitos lados) em triângulos
componentes, poder-se-ia calcular sua área. Aproximando a área do cı́rculo por poligonos inscritos
(dentro) e circunscritos (fora do cı́rculo), Arquimedes foi calculando as duas áreas que deveriam
convergir para a área do cı́rculo! Bastava ir aumentando os lados gradualmente. Com muito trabalho
numérico Arquimedes chegou a um valor de pi aproximado entre 3,1408 e 3,1429 usando polı́gonos
de 96 lados! Desde então, com os computadores houve uma verdadeira obsessão para o cálculo de pi,
que sendo transcendental nunca vai ser exato! Em 2011, Kondo e Yee calcularam pi com trilhões de
algarismos!
E agora o meu fecho a esta crônica: nunca vai se chegar à integral compreensão da mulher, como
o PI, ela é transcendental!
JC e-mail 4452, de 09 de Março de 2012.
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=81490, acesso Ab/12

Ao publicá-lo no JC-Email da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, cuja


gestão é de uma mulher, esse estava dedicando-o às mulheres de Ciência e mais ainda da área de
Matemática. Vejamos alguns tópicos.
¨Comemorou-se no dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher. Escrevo esta crônica inspirado
na imagem feminina, sı́mbolo máximo da evolução biológica. Não sei por que ainda o machismo
de homo-sapiens-sapiens e não femina-sapiens-sapiens! Todos sabemos que o feto nasce feminino
e somente numa certa fase ulterior há a transição para o sexo masculino. Isso nos deixa, nós
machos, resquı́cios e vestı́gios evolutivos como os bicos dos seios inúteis! Pensar que a força
muscular e o tamanho do corpo, necessários para a função de provedor do caçador, acabou por ser
o elemento dominante sócio-econômico na relação dos sexos é para mim um dos paradoxos evolutivos.¨

Educação, aqui no sentido de escolarização, tem por primazia formação e capacitação técnica
da pessoa. Portanto, não deve se prender em diferenças buscando evitar que os seus métodos e
parâmetros sejam impregnados disto. Por isso, rejeita até com veemência o que se baseia nas
diferenciações fundamentais da humanidade. Pelo contrário! Tenta ao máximo preservar essas
diferenças, sem, no entanto, privilegiar alguma, por entender que nesse meio reside a fonte essen-
cial de um dos seus objetivos centrais: inovação.

Lembro que turba se forma ao largo de unanimidades obtidas por processos que elimina
diferenças até pela força e, portanto, gerado dentro de um pacto que o compromete defender até
das piores desgraças, sendo fator premente disto silenciar-se até mesmo ante o escabroso. E um
desse é usar diferença de gênero, e historicamente se faz, para promover ações baseadas numa
possı́vel inferioridade ou superioridade da capacidade de aprender matemática, porquanto, ser isso
um crime educacional; o equilı́brio é fator determinante da qualidade da educação.

E o fato do ensino da matemática no Brasil ser calamitoso por diversos


interesses faz transparecer que todos são igualmente atingidos por isso.
Assim por exemplo, a prova de acesso ao ensino superior público ser a
mesma para todo faz acreditar em igualdade de oportunidade para todos os
gêneros e até nı́vel social. Entretanto, tal igualdade é viabilizada exatamente
para esconder o que implementaram para garantir resultados diferentes.

Um desses - abordo com mais profundidade no Dossiê Livro Didático


e outros -, é o uso do assombroso como método de ensino. Que todos se
assombram com livro que ilustra o número sete com um gatinho sendo
jogado do sétimo andar, é fato. Porém, que a criação mais comum leva isso
assombrar mais quem é do sexo feminino é outro inconteste.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 96

Por que o MEC defende em processo do MPF-DF (RECURSO, Representação


n.o 1.16.000.001323/2007-80, Contra Promoção de Arquivamento 27/2007-PRDF/MPF/
PP, Belém- Pa, 31 de agosto de 2007) fatores desses como se fossem propostas decente
para rede pública e a educação em geral? Um dos objetivos quando dissemino esse é buscar
alguma resposta razoável para tais coisas. Posto que, não consigo produzir uma só que não revele
haver escatologias nas entranhas do MEC.

Pois, enquanto restrito ao gosto pessoal é aceitável, o educacional não permite validar coisas
como essa:
¨Também não tenho dúvidas pessoalmente da superioridade cognitiva da mulher¨

Menos ainda por ser falso. Posto que, o sobressaı́do da leitura é rasgado elogio ao Ar-
quimedes, o que tem sido sempre merecido, mas ficaria justo se o proposto fosse fazer artigo nesse
tema. E isso nada tem haver como isso:
¨Estamos na era das incertezas, dos sistemas complexos, das interações entre sistemas de
sistemas, muitas vezes incoerentes e conflitantes.¨

Pois, a validade da Ciência reside na incerteza, coisa bem diferente de teoria inconsistente,
tem complexidade como trilha inerente ao desenvolvimento cientı́fico e o que mais faz isso incoerente
e conflitante além do normal é pouca leitura ou o contrário: muita, mas eivada de incongruências
por falta de cuidado e não de dados. Vejamos um rasto disto:
¨Não foi coincidência que algumas mulheres venceram essa odiosa barreira do machismo até hoje
existente como a grande matemática grega Hipathia de Alexandria, infelizmente trucidada por um
bispo cristão machista.¨

Há mesmo diversos casos em que essas venceram, porém educação abomina transformar esse
tipo de heroı́smo em possibilidade permanente. Pois, visa acabar com isso para que seja fruto de
uma ação qualificada e bem organizada. Ou seja, educação visa sistematizar para que o dentro da
capacidade humana possa ser alcançado por todos sem precisar de dores e sofrimento, mas apenas
trabalhando e por prazer.

Hipátia (380 d.C) - outra grafia é Hipácia -, foi mesmo uma adorável matemática, exı́mia
professora, gostava de estudar e, acrescido pela distância histórica, sua vida guarda um alto nı́vel de
complexidade. Entretanto, e ao contrário da minha pessoa, o autor apresenta um Currı́culo Lattes
bem recheado ao ponto de possibilitar leituras em várias lı́nguas, porquanto, poderia ter acesso às
leituras mais diversas nesse tema, quando ficaria possı́vel só com a vida dela fazer o artigo por
completo e atender os seus desejos.

Em parte isso era essencial para ampliar essa visão pobre da história que o faz defender ter
um simples bispo provocado tudo. Pois, o ato não foi só assassinar uma pessoa, mas a construção
de uma mentalidade que marca cientificamente o inı́cio da Idade Média. Ou seja, obra de turba,
porquanto, junção de quase tudo de imprestável em condições de atuar socialmente se achando no
direito de retalhar o corpo de quem discordava. E nisso não exclui quem até se dizia docente de
matemática. Afinal, de onde viriam os fundamentos que diplomam nos dias atuais quem
considera aberrações como o caso da ilustração já citada ser método de ensino da
matemática?

Há diferença entre tais assassinos de Hipátia e quem ocupa cargo de docente em univer-
sidade pública que, em junção com turba de imorais, obviamente em conchavo com gente da
cúpula, se acha com direito de exigir exame de sanidade mental de quem discorda que amigos,
como o cara do gatinho, pode fazer como se fosse matemática até as piores imundices? Ajuda
um pouco saber que, fora raras exceções, generais da ditadura de 64 nomearam mais escórias
sociais para ocuparem o cargo de docente em pública, mas não explica tudo.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 97

Em outro ponto que história ajuda é desconfiar haver erros terrı́veis quando certas unan-
imidades, como é o caso dos ı́ndices que revelariam absoluta incapacidade humana no Brasil para
aprender matemática, parecem verdades imutáveis. Isso pede ao diplomado cuidado com o que colo-
caram na sua mente e usar essa como espelho para enxergar do que colaram nas suas costas.

E a todo aconselho não se aproximar descuidadamente de tema espinhoso até para os espe-
cialistas e mais ainda nos temas que, se colocarmos três desses para discuti-los, o risco de haver
briga literalmente homérica é grandioso. O articulista expõe um ponto disto:
¨Lembrando da matemática, me vem à minha memória a evolução dessa ciência que desejo
usar para culminar com minha homenagem ao sexo feminino: a Matemática sofreu nos últimos dois
séculos enormes transformações.
Sempre considerada como o reino da razão absoluta, isenta de incertezas, pura e sem mácula,
começou a sofrer abalos quando Bertrand Russell, ao escrever com Alfred Whitehead a sua grande
obra Principia Matemática, na qual procurava estruturar toda essa ciência através da teoria dos
números e da lógica, deparou-se com terrı́veis paradoxos que chegaram a paralisar o seu intento
por nove anos! Já se desconfiava desde Pitágoras e Euclides de algumas dificuldades e mesmo
paradoxos com a própria geometria e teoria dos números e seus axiomas. Mas foi com Georg Cantor
(russo-alemão) e G. Peano (italiano) que a situação conceitual realmente explodiu: a matemática dita
pura era eivada de impurezas e paradoxos?¨

E esse adentra no tema tal qual bêbado cambaleante na hora de sermão em igreja matriz,
sem ter sequer um rosário nas mãos, pelo seguinte:
¨Uma das situações repousava no conceito de conjunto infinito: poderia um conjunto de quaisquer
objetos ser infinito e ainda mais um seu sub-conjunto ser maior que ele? Criou-se o conceito de
números transfionitos ( deve ser transfinitos, grifo meu) ou transcendentais: um dos números desta
categoria é o famoso número pi.¨

Pois, não há qualquer registro dessa dúvida na história da matemática, já que o esperado
sempre tinha sido que subconjunto, fora o trivial totalizante, tivesse menos elementos do que o seu
total, porquanto, já ter a mesma quantidade seria um espanto; a matemática tende mesmo levar a
mente ao limite, mas não quer extrapolar sua racionalidade porque essa é a sua galinha dos ovos
de ouro.

O pensamento grego dos tempos homéricos reconhecia que os naturais eram infinitos e que
o mesmo ocorria, como é o caso dos números racionais, todo conjunto que o tivesse como subcon-
junto. E com dois adendos: tudo que interferia na realidade só envolvia quantidade finita, embora
pudesse ser uma enormidade, e que os racionais eram o necessário e suficiente para tudo.

Entretanto, historicamente e não coisa de momento determinado, pelo menos dois proble-
mas coçavam o pensamento dos matemáticos gregos por essas limitações, tudo indica levando-os
até cometer assassinado - de reputação como certeza, se no literal a documentação não é de todo
definitiva, até porque isso dependia desses -, que são os seguintes:

A - Definida a área de quadrado com medidas de lados unitários como sendo uma unidade desta
ao quadrado, a teoria de cálculo de área se aplica para tudo que possa ser subdivida em quadrados
justapostos, reduzindo o cálculo para uma contagem finita de quantos desses cabem na figura. E já
que a diagonal de quadrado subdivide-o ao meio em dois triângulos, a área do triângulo era metade
da área do quadrado. Assim, o mesmo valia quando a figura fosse junção de triângulos justapostos.
E a figura geométrica das mais belas de quase todas as culturas, o cı́rculo/disco, simplesmente
não se sabia como quebrá-la em quadrados ou triângulos justapostos para calcular a sua área com
exatidão. E o mais terrı́vel: não se encontrava outra teoria de cálculo de área que superasse isso
sem criar problemas do mesmo nı́vel, quando não ainda piores.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 98

B - Existência de irracionais - a hipótese de que o comprimento da diagonal de quadrado


unitário, ou casos outros equivalentes, fosse expressa por um valor racional leva a uma contradição,
[1], [2]. Isto é, afirmativamente, raiz quadrada de dois não pode ser uma fração. E essa contradição
sempre foi impressionante por ser capaz de ainda hoje levar diplomado em matemática à agressão
fı́sica. Qual seja: essa colocava em dúvida à validade do Teorema de Pitágoras. Por isso é mais do
que plausı́vel supor que os pitagóricos de então mataram Hippasus de Metapontum, por volta de
470 a.C., [3], por haver revelado tal fato. Esse é um marco histórico de uma cisão da comunidade
pitagórica grega pela qual fica possı́vel explicitar toda tragédia do ensino da matemática não só do
Brasil, mas Iberoamericana,

Ou seja, por fatores como esses o pensamento matemático grego dessa época passou a nave-
gar entre turbilhões à falsa calmaria, do furor das paixões às falsas declarações de amor; da ojeriza
ao novo ao apego ao velho, mesmo que inconsistente; e... tudo isso correndo ao longo da história,
transpondo tempos de barbárie, atravessando desertos, dobrando geleiras, inquietando uns e outros
pelo caminho. Arquimedes engendra um caminho, o árabe Omar Khayyan, (1100 d. C) vislum-
bra algo e Galileu Galilei (1564-1642) começa genialmente colocar alguma moldura.

Galileu começa propondo uma ¨régua¨ para compararmos quantidades de elementos entre
conjunto. A igualdade seria haver uma bijeção entre esses. Assim, sendo f (n) = 2n uma bijeção
entre os conjuntos {1, 2, 3, 4, · · · } e {2, 4, 6, 8, · · · }, ambos teriam a mesma ¨quantidade¨ de ele-
mentos. Ou seja, ficava possı́vel conjunto infinito, assim como isso seria da ¨normalidade¨ desse
tipo de conjunto, ter subconjunto com a mesma ¨quantidade¨ de elementos, mesmo quando a per-
cepção visual tentasse nos indicar o contrário. De fato, o ¨engano¨ era exatamente tentar com a
capacidade finita do nosso olhar visualizar o que ocorria entre conjuntos infinitos.

Diversos outros matemáticos se envolveram no tema e George Ferdinand Ludwig Philipp


Cantor (1845 -1918), [2], simplesmente devotou-lhe sua vida, criando o que hoje se chama de Teo-
ria dos Transfinitos. Ele prova que os conjuntos dos naturais, dos inteiros e dos racionais são
do mesmo tipo de infinitude, a qual chamou de Alef Zero. E irracionais, como raiz quadrada de
dois, pi, etc, formam um conjunto com infinitude acima do alef Zero, é do tipo Alef Um. Ou seja,
nesta teoria existe entre conjuntos infinitos uns que são ¨maiores¨ do que outros. E
tudo isso confirmado por outros fatores que estão dentro da atual realidade da Ciência e Tecnologia.

Ressalto a seguinte diferença entre racionais e irracionais. Racionais quando escrito da


forma decimal, após a vı́rgula aparece uma quantidade finita de algarismo ou, se for
infinita, é periódica, portanto, tem o mesmo comportamento após um determinado
nı́vel. Enquanto para irracionais essa quantidade é sempre infinita, porém sem qual-
quer comportamento previsı́vel.

E os irracionais, [2], também se dividem entre os que são algébricos, i.e, são raiz de certos
polinômios, porquanto, sabendo-se disto determinados cálculos ficam acessı́veis, como é o caso da
raiz quadrada de dois, e transcendentes, os que não permite o caso anterior, como é do número pi.

E o epilogo que o autor construiu com esse conceito foi:


¨E agora o meu fecho a esta crônica: nunca vai se chegar à integral compreensão da mulher,
como o PI, ela é transcendental!¨

Entretanto, esse não passa de preconceito cientificamente construı́do, pelo seguinte: o re-
sponsável de fato para que os irracionais fique ¨maior¨ são os transcendentes. Isto é, os irracionais
sem os transcendentes fica do tipo Alef Zero. Portanto, os transcendentes formam a parte de maior
complexidade e paradoxal e o que esse faz é isolar mulher dos demais para jogá-la nesse núcleo. De
fato, finalizando, a educação já abominava esse isolamento proposto até como se edificasse mulher,
dado que, o nı́vel da incompreensão é um dos pontos em que estamos no mesmo nı́vel, independen-
temente de gênero, sendo um dos fatores que exige educação qualidade para todos.
Algumas Mulheres da História da Matemática, por Nascimento, J. B.- ICEN/ UFPa 99

Referências

[1] Euclides - Os elementos

[2] Bruschi,S. M., - Irracionais, Algébricos ou Transcendentes Anais da XVII Semana da


Matemática, 2005, http://www.dma.uem.br/semat/figuras/xvii 2005 anais.pdf. acesso ab/12

[3] Fritz, K.V - The Discovery of Incommensurability by Hippasus of Metapontum, Annal of


Mathematics, vol 46, no 2, April, 1945, 242-264, www.jstor.org/stable/1969021, acesso out/2010

[4] Herstein, I. N., - Tópicos de Álgebra, Trad. Adalberto P. Bergamasco e L.H. Jacy Monteiro,
Ed. Polı́gono, 1970

[5] Lages, E. L, - Introdução à Analise Real, sbm/Impa

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