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Ora, se fosse uma entidade consciente presa dentro de nós, então continuaria
conosco após a nossa morte, mas isso não é verdade: a Bíblia caracteriza a morte
como a retirada do fôlego de vida (sopro). Isso prova que o “espírito” que
possuímos nada mais é do que o sopro da parte de Deus que concede animação ao
corpo, sendo freqüentemente caracterizado como sendo o “sopro de Deus” (cf. Jó
33:4).
Quando é retirado por Deus (expirando), o fôlego é reintegrado no ar, por Deus. O
próprio fato de nós possuirmos o “fôlego de vida” não significa possuir em si
mesmo a imortalidade, porque na morte este princípio volta para Deus. Isso nos
mostra que a vida deriva de Deus, é sustida por Deus e retorna para Deus por
ocasião da morte. “Espírito”, no conceito bíblico, em nada tem a ver com uma
entidade viva e consciente tal como no estilo kardecista ou platônico.
Por isso ele acentua que enquanto estiver com ele o sopro de Deus nas
suas narinas, os seus lábios não pronunciariam engano. O sopro (fôlego de vida) é
inteiramente dependente de estar nas nossas narinas (corpo físico) para continuar
ativo, dando continuidade a vida. Sem o corpo físico, este princípio deixa de
conceder vida em si mesmo. Ademais, se o espírito [ruach– sopro] fosse a própria
alma imortal implantada em nós, então a declaração de Jó nos levaria a crer que a
“alma imortal” está situada no nariz de cada indivíduo: “Enquanto em mim houver
alento, e o sopro de Deus no meu nariz” (cf. Jó 27:3).
Isso explica o fato bíblico deste princípio encontrar-se nas nossas narinas, e não na
“alma” ou em alguma outra parte do corpo. Evidentemente, o fôlego de vida
(espírito) que possuímos não tem parte nenhuma com uma noção dualista de corpo
e alma; antes, é o princípio animador do corpo, que garante a existência da vida
terrestre de toda a carne, e que volta para Deus quando expiramos na morte. Dizer
que o fôlego de vida (espírito) que foi soprado no homem em Gênesis 2:7 é uma
“alma imortal” é o mesmo que dizer que possuímos a alma em nosso nariz, o que
creio não ser nem um pouco razoável.
O corpo é formado de matéria, de pó. O espírito é o que dá animação ao corpo, e
assim tornamo-nos almas viventes. Sem o espírito em nós, o nosso corpo morto
não passa de matéria (pó) inanimado, sem vida. O que é o “espírito”, então? É
exatamente aquilo que dá animação ao corpo, é a “vida” por assim dizer.
Obviamente não tem parte nenhuma com algum outro “você” que volta para Deus,
mas representa tão somente a vida deixada nas mãos do Criador; é por isso que a
Bíblia apresenta os animais com o mesmo espírito-ruach possuído pelos humanos
(cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Ec.3:19,20; Gn.7:15; Sl.104:29). No livro de Apocalipse
é lido que até uma imagem de escultura é dotada de espírito [pneuma, no grego]
para tornar-se um ser animado:
“E foi-lhe concedido que desse espírito [pneuma] à imagem da besta, para que
também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não
adorassem a imagem da besta” (cf. Apocalipse 13:15)
Aqui vemos que a imagem de escultura (um ser inanimado) foi dotada de espírito
[pneuma] e assim foi dada animação [vida] à imagem. É mais do que óbvio que
Deus não colocou uma “alma imortal” dentro da imagem e muito menos alguma
entidade consciente que volta com personalidade e inteligência para Deus, mas
simplesmente concedeu-lhe o fôlego da vida para dar animação à imagem de
pedra. É exatamente a mesma coisa que sucedeu aos seres humanos.
“Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de
julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de
Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não
receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo
durante mil anos” (cf. Apocalipse 20:4)
Aqui é nos dito que as almas dos que foram degolados por causa do testemunho de
Jesus reviveram. Se elas “reviveram”, é porque estavam mortas. O que aconteceu,
então, nessa ressurreição? Aconteceu que Deus soprou em nós novamente
o espírito que vem da parte dEle, para que saíssemos do estado inanimado (i.e,
sem vida), tornando-nos novamente em almas viventes:
“Assim diz o Soberano, o Senhor, a estes ossos: Farei um espírito entrar em vocês,
e vocês terão vida. Porei tendões em vocês e farei aparecer carne sobre vocês e os
cobrirei com pele;porei um espírito em vocês, e vocês terão vida. Então vocês
saberão que eu sou o Senhor” (cf. Ezequiel 37:5,6)
“Por isso profetize e diga-lhes: Assim diz o Soberano, o Senhor: Ó meu povo, vou
abrir os seus túmulos e fazê-los sair; trarei vocês de volta à terra de Israel. E
quando eu abrir os seus túmulos e os fizer sair, vocês, meu povo, saberão que eu
sou o Senhor. Porei o meu espírito em vocês e vocês viverão, e eu os estabelecerei
em sua própria terra. Então vocês saberão que eu, o Senhor, falei, e fiz. Palavra do
Senhor” (cf. Ezequiel 37:12-14)
Notem que não é o nosso espírito que deixa o Céu para se religar ao corpo por
ocasião da ressurreição, mas sim o espírito de Deus que concede vida que nos é
soprado novamente; fazendo-nos sair dos túmulos, o local onde o povo que já
morreu se encontraria. Nós estaríamos sem vida na morte, mas Deus nos
concederia novamente o espírito que parte dEle a fim de nos conceder novamente
vida por ocasião da ressurreição.
Não existe nenhuma religação entre corpo e alma, mas tão somente o princípio
animador da vida sendo novamente concedido a nós por ocasião da ressurreição
dos mortos. Podemos assim traçar uma correta analogia com a imagem inanimada
de Apocalipse que recebeu o espírito para tornar-se animada:
Como vemos, o “espírito” que possuímos é nada a mais do que aquilo que dá
animação ao corpo (matéria), concedendo-lhe vida. A analogia com a imagem de
pedra relatada no Apocalipse é válida porque o mesmo que sucedeu aos seres
humanos sucedeu também à imagem, ambos tornaram-se um ser animado após
ser lhes soprado o espírito. É evidente que o “espírito” soprado não é uma “alma
imortal” (pois se assim o fosse então por lógica a imagem de pedra também a
deveria possuir, pois também foi dotada de espírito-pneuma), mas é tão somente o
princípio de vida concedido às criaturas viventes durante a permanência de sua
existência terrestre.
É claramente nos referido que o motivo dos ídolos mudos não serem vivos é
decorrente do fato de não possuírem “espírito-ruach”: “Eis que está coberto de
ouro e de prata, mas no seu interior não há fôlego [ruach] nenhum” (cf. Hc.2:9).
E também em Jeremias: “Todo ourives é envergonhado pela imagem que ele
esculpiu; pois as suas imagens são mentira, e nelas não há fôlego [ruach]” (cf.
Jr.10:4).
Aqui vemos que os que não têm vida são descritos como sem “espírito-ruach”. Os
ídolos são considerados como “sem vida” pelo fato de serem destituídos de espírito-
ruach, que é o princípio animador de toda a vida. Quando um ídolo ou uma imagem
ganha animação, é descrito como constituído de “espírito-pneuma” (cf. Ap.13:15),
porque passou a ter vida. Em outras palavras, o espírito é nada a mais do que o
poder capacitador de vida a qualquer ser vivente, mesmo quando se trata de
imagens de pedra ou de animais, como veremos mais adiante.
Ele não é uma alma imortal, e nem algo que traz consigo imortalidade, consciência
e personalidade após a morte, mas apenas a vida que possuímos em nossa jornada
em nossa terrestre. Se o espírito fosse uma alma imortal, então a imagem de
pedra de Ap.13:15 e os animais também teriam “almas imortais”, pois são
descritos possuindo “espírito-pneuma”. Quando o espírito é retirado do ser
humano, este volta para o pó da terra (cf. Sl.104:29; Sl.146:4; Gn.3:19). Da
mesma forma, quando o espírito concedido temporariamente àquela imagem lhe é
retirado, esta volta a ser uma pedra inanimada. O processo é o mesmo: seres ou
objetos inanimados que temporariamente ganham vida pelo sopro do espírito-
ruach em seu interior e que tornam-se novamente inanimados (sem vida) após
este sopro retornar ao Criador.