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TRIBUNAL SUPREMO

ACÓRDÃO

PROC. nº 214/95

EM NOME DO POVO, ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA CÂMARA DO


CÍVEL E ADMINISTRATIVO DO TRIBUNAL SUPREMO:

ANGELINO RODRIGUES DOS SANTOS, identificado nos autos,


propôs a presente acção especial de restituição de posse contra
FERNANDO DOMBELE KIDIMA TADI, também identificado nos
autos, acção intentada no Tribunal de Luanda, Sala do Cível e
Administrativo, 1ª Secção, com os seguintes fundamentos:
O A. é legítimo proprietário de uma parcela de terreno com a área de
novecentos e quarenta e um, novecentos e sete metros quadrados,
em Luanda, talhamento do ex-musseque Braga, na ex- Rua Cabral
Moncada, talhão, nº duzentos e noventa e dois e tem as
confrontações contidas na certidão junta aos autos.
O A. verificou aos 26 de Fevereiro de 1993 que o R. realizava obras
no terreno acima identificado, sem o seu consentimento.
O A. requereu por via judicial o embargo da obra que se desenvolvia
no local.
O embargo judicial foi ordenado por despacho judicial de 13 de
Outubro.
O A. exige o procedimento dos artigos 1277.º do CC e 1033.º do
CPC.
Requereu que o respectivo talhão lhe seja restituído livre de
quaisquer encargos.
Juntou documento.

O R. ora Agravante, contestou nos seguintes termos:


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I- Por excepção o R. é possuidor não em nome próprio de uma


parcela de terreno pelo A. reclamada, mas em nome alheio - o
Governo da Província de Luanda que o autorizou a ocupá-la e a
construir, pagando por via disso uma taxa anual. O R. é pois parte
ilegítima na presente acção, pelo que suscitou em separado o
incidente de nomeação à acção do Governo Provincial, com o qual,
sim, deve o A. litigar.

II- Por impugnação, conforme descrito na contestação junta aos


autos e que aqui se não faz referência por desnecessário.

Juntou documentos.

O R. nomeou à acção por incidente prescrito nos termos dos artigos


320º e segs. do Código de Processo Cívil, o Governo Provincial de
Luanda, conforme documentos juntos aos autos, de fls 39 a 49.
Em réplica diz o A. por excepção.
É verdade que neste caso, comprovado que foi pelo R. a concessão
a título precário e provisório da parcela de terreno, realizada sem
qualquer legitimidade pelo Governo Provincial de Luanda deve este
também ser nomeado à acção.
Esta nomeação, porém, não torna ilegítima a posição do R. nesta
acção, porque é possuidor titulado da parcela de terreno que o A.
reclama, independentemente do direito transmitente ou da validade
da concessão, nos termos do artigo 1259.º do CC.
Em virtude da referida posse titulada, tem o R. legitimidade na
presente acção, por ter interesse directo em contradizer.

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Requerendo a final a citação do Governo Provincial de Luanda para


contestar.
Mais disse por impugnação, do que se não faz referência por
desnecessário.
Por despacho, o Juiz a quo decide nos seguintes termos:
Uma vez demandado, e usando da faculdade conferida pelo artigo
320.º do C.P.C, o R. nomeou à acção o Governo Provincial de
Luanda, por entender que ocupa o terreno em litígio em nome deste
tendo, porém, a contestação e o referido incidente dado entrada no
cartório no mesmo dia vide pags. 27 e 39. Em função e por causa
disso, não se divisionou nos autos qualquer despacho a rejeitar
liminarmente tal nomeação, nem a admiti-la, pelo que foram
proferidas várias injunções legais, tais como as constantes dos
artigos 321.º, n.º 2 a 323.º do C.P.C, tanto mais que o A. já respondeu
à excepção invocada.
Pelo exposto, considero sem efeito a referida nomeação à acção, por
acção própria do ilustre mandatário do Réu.
Inconformado, interpôs o R. recurso de agravo, competentemente
recebido pelo despacho de fls 62. Desejando ver triunfar o seu
pedido, expõe as razões nas suas alegações de fls 65-74,
sintetizadas nas conclusões, que em síntese, objectiva sustentar
que:

a) Incorrecta aplicação do artigo 322.º do C.P.C. O A. aceitou à


nomeação do Governo Provincial de Luanda, de forma expressa.
b) O chamamento à acção ainda não foi feita pelo Tribunal no termos
da lei.
c) Verificaram-se falhas processuais do Tribunal no que toca ao
chamamento à acção.
d) É de lei o chamamento à acção do Governo Provincial de Luanda,
pelo que deve ser feito.

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Em alegações de recurso, o Agravado diz que a posição de R. do


Agravante se deve manter, ao lado do Governo Provincial de Luanda.
No seu visto, o primeiro Juiz Adjunto oferece: "Nos termos do art.º
311º do C.P.C. o valor da causa deve ser o valor do direito sobre a
coisa em litígio, daí que seja inaceitável o valor fixado por acordo das
partes para esta acção art.º 315.º, n.º 1 do mesmo Código.
Sou de parecer que o Exmº Juiz Conselheiro Relator proponha o
novo valor a atribuir acção para ser acordado em conferência.
Ou quando diferentemente se entenda e se partilhe o parecer de ser
mantido o valor fixado, opino pelo não conhecimento do recurso por
valor oferecido estar dentro da alçada do Tribunal recorrido".

Corridos os vistos legais cumpre decidir.


O presente recurso é interposto do despacho de fls. 57 e 57/verso
que considera sem efeito a nomeação à acção feita pelo R.
Vejamos: O R. deduziu o incidente de nomeação à acção dentro do
prazo do artigo 321º nº 1 do C.P.C documento de fls 39-49,
oferecendo no mesmo dia a contestação defesa.
O Autor declarou aceitar à nomeação documentos de fls 55.
O Juiz "a quo" refere no seu despacho que por causa da contestação
e o requerimento a deduzir o incidente terem dado entrada no cartório
no mesmo dia, não houve lugar a rejeição ou admissão da nomeação
e a consequente preterição de injunções legais, considerando-o a
final sem efeito.
Os procedimentos: Tendo a nomeação à acção por finalidade
substituir o primitivo Réu pela pessoa nomeada, está esse Réu
quando o faça, dispensado de contestar enquanto não for resolvido
o incidente, artigo 321.º, n.º do C.P.C.
É dentro do prazo em que podia contestar que pode fazer a
nomeação. O início do prazo da contestação fica deferido.

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O requerimento de nomeação não carece de ser formulado por artigo


mas há-de ser oferecido em duplicado, como resulta da última parte
do n.º 2 do artigo 322.º.
A falta de duplicado tem a sanção cominada no n.º 3 do artigo 152.º.
No requerimento deve o nomeante alegar como fundamento do
incidente, algum dos mencionados nos artigos 320.º e 324.º. No caso
do artigo 320.º, como foi, alegará não ter a qualidade de possuidor
em nome próprio que o autor lhe atribui, e nomeará à acção a pessoa
em nome de que exerce a posse.
O requerimento concluirá pelo pedido de que, aceite a nomeação
pelo autor, se proceda à citação do nomeado.
Tal requerimento é incorporado nos próprios autos da causa
principal, onde todo o incidente se processa.
Feito o devido preparo (art.º 38.º do Código de Custas Judiciais),
segue-se o despacho a admitir o incidente ou a rejeitá-lo, consoante
tenha sido requerido ou não com fundamento e em termos legais.
Claro que o incidente termina, com condenação do Requerente nas
Custas, se o Juiz o rejeitar liminarmente. Todavia, não deixa de
produzir um efeito muito importante: reiniciar-se o prazo para o
primitivo Réu contestar a causa principal. Esse Réu notificado do
despacho de indeferimento e o prazo para a contestação recomeça
a correr a partir da notificação.
O facto de o mandatário judicial entregar o requerimento de
nomeação e a contestação no mesmo dia, não é fundamento para se
não processar o incidente, como aconteceu, como o Juiz "a quo" o
diz no seu despacho de fls 57.
A verdade é que não foram observados os artigos 321.º n.º 2 e 322.º
n.º 1, despacho de rejeição liminar e despacho de admissão da
nomeação, respectivamente. O processo correu como se nenhum
incidente tivesse sido deduzido.

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O incidente não comporta oposição, propriamente dita. O autor não


a pode deduzir, tem de limitar-se, quando não esteja de acordo com
a nomeação, a declarar que a não aceita.
O repúdio da nomeação, não constituindo oposição enquadrável no
artigo 303.º não está sujeito ao prazo de oito dias fixado nesse artigo.
A declaração do Autor há-de ser feita dentro de cinco dias contados
da notificação do despacho de admissão como expressamente diz o
artigo 322.º, n.º 1.
Se o autor a fizer dentro desse prazo, o Réu nomeante é notificado
de recusa e o incidente termina.
Diz o artigo 322.º, n.º 1, que nesse caso "a nomeação fica sem
efeito".
Para além disto, a nomeação recusada ainda produz dois efeitos de
grande interesse: Por um lado, difere o início do prazo para a
contestação do Réu; por outro, autoriza o Tribunal a apreciar se o
nomeante tem ou não a qualidade de possuidor em nome próprio,
quando se trate de caso previsto no artigo 320.º.
Como se vê dos autos, o autor não repudiou a nomeação, pelo
contrário declarou expressamente aceitar a nomeação, documento
de fls 55.
Para aceitar a nomeação, não tem o autor que dar resposta ao artigo
322.º n.º 2.
Decorrido , sem resposta, o prazo dentro do qual o autor a podia dar,
o processo é concluso ao Juiz, a fim de ordenar a citação do
nomeado, para os termos da causa e do incidente (artigos 229 n.º 1
e 322.º n.º 2).
A tal citação se procede com todas as formalidades inerentes à
citação inicial e portanto com as cominações dos artigos 484º, n.º 1,
783.º, ou 794.º, se a elas houver lugar. O funcionário encarregado de
a fazer há-de entregar ao citado, no respectivo acto, cópia da petição
inicial, extraída pela secretária, e o duplicado do requerimento inicial
do incidente, que há de ter sido oferecido pelo nomeante, como se
disse acima.

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Feita a citação, o nomeado pode aceitar a nomeação ou negar a


qualidade que lhe é atribuída no artigo 323.º n.º 1 e 2,
respectivamente.
A aceitação não depende da declaração expressa; a nomeação
considera-se aceite se o citado a não repudiar dentro do prazo legal,
contado da sua citação.
Se o nomeado repudiar tempestivamente a qualidade que lhe foi
atribuída, o repúdio é logo notificado ao nomeante, ficando encerrado
o incidente e seguindo a causa principal com o primitivo Réu. Todavia
há que considerar os efeitos decorrentes do incidente.
O Juiz "a quo" limitou-se a declarar o incidente sem efeito e em
flagrante arrepio da lei, pelo que urge corrigir.
Valor da acção, dispõe o artigo 311.º n.º1, que o valor da acção
destinada a fazer valer direito de propriedade sobre uma coisa é o
valor dessa coisa.
Nos termos do artigo 1305.º n.º 1 do Código Civil ,o proprietário pode
exigir judicialmente do seu direito de propriedade e a consequente
restituição do que lhe pertence.
Portanto, sempre que haja de discutir-se ou exercer-se, por via
judicial, algum destes direitos, o valor da coisa sobre a qual incidam
determinará o valor da acção.
O valor da causa, acordado nos termos do n.º 1 do artigo 315.º está
em desacordo com a lei, o que urge corrigir.

Pelo exposto, acorda-se nesta Câmara em dar provimento ao


recurso, devendo o incidente de nomeação à acção ter
seguimento legal até final e o prosseguimento dos autos
conforme o resolvido do incidente, e o valor da acção vai fixado
em NKzR: 380.000.000,00 (Trezentos e oitenta milhões de novos
Kwanzas reajustados).
Custas a cargo do Agravado.

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TRIBUNAL SUPREMO

Luanda, 2 de Fevereiro de 1996


António Carlos Pinto Caetano de Sousa (Relator)
Maria do Carmo Medina (votei a decisão, mas com
a declaração de que o R. deve ser notificado para juntar nos autos
prova do pagamento da taxa de ocupação dos últimos anos bem
assim do título outorgado com o Governo Provincial de Luanda,
comparativo de aquisição do direito real sobre o terreno em causa.)
Rui Cruz

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