Vous êtes sur la page 1sur 39
encontra no interior da alma e do palavras, John K. Wright concluiu o perante a Associac&o de Gedgrafos natureza dessa terrae incognitae e a imagens em nossas cabegas,? Q GEOGRAFIA, EXPERIENCIA E IMAG ; EM DIRECAO A UMA INACAO: EPISTEMOLOGIA GEOGRAFICa' David Lowenthal “A mais fascinante terrae incognitae, entre todas, é aquela que se coragao dos homens.” Com estas seu discurso Presidencial, de 1946, Americanos. Este artigo considera a telagdo entre o mundo exterior e as Nota do coordenador — Transcrito do Annals of the Association of American Geographers, 51 (3): 241-260, 1961. Titulo do original: “Geography, experience and imagination: towards a geographical epistemology”. Tradu¢%o de Maria Ho- sana de Souza e Antonio Christofoletti. Este artigo 6 verso ampliada de um documento lido no 19° Congresso Inter- nacional de Geografia, em Estocolmo, agosto, 1960. Pelo estimulo, conselhos e critica, agradego a George Cooper, Richard Hartshorne, William C. Lewis, William D. Pattison, Michael G. Smith, Philip L. Wagner, William Warntz, J. W. N. Watson e John K. Wright. A Richard F. Kuhnz Jr., que amavelmente leu @ comentou varios esbocos do manuscrito, eu the agradeco pelas numerosas Sugestées e referéncias. " John K. Wright, “Terrae Incognitae: the place of imagination in Geography”, Annals of the Association of American Geographers, 37: 1-15, 15, 1947. o titulo “O Mundo Exterior e as Imagens em Nossas Cabecas” 6 0 nome do lees Capitulo escrito por Walter Lippmann, em Public Opinion (New eee 1922). Conforme sugere meu subtitulo, este néo é um estudo do signi pee Métodos de Geografia, mas um ensaio na teoria do paler Mini Os tratados Metodolégicos de Hartshorne analisam @ a nae fanaa '6gicos de procedimento para a Geografia como aaa nos quis nos “'sa- te saber”, como ele escreve, que 6 diferente faa riori (Richard Hartshorne, bemos” por instinto, intui¢do, dedug&o ou revelacBo ap! 104 Perspe ti iVa8 dy 1. Avisito geral e a geogrdfica do mundo a Nem 0 mundo nem as nossas imagens sobre 9) a Geografia. Alguns aspectos da Geografia sig inne Sto iderticag curos, ocultos ou esotéricos; reciprocamente, ha mui Outrog liares de coisas que a Geografia raramente considers spec; : qualquer outra disciplina, entretanto, a matéria objeto Mais Ir. aproxima 0 mundo do discurso geral; 0 presente tangiy, da Cogn dia-a-dia do homem na terra raras vezes estado distantes el, a vig, 1 resse. ‘Em tudo que se faga, nao ha ciéncia que se incor, SO qiientemente no uso da vida comum”, escreveu um futuro ee 80 fre. Harvard, hé um século e meio atras.* Esta vis3o da Geogratia wen sendo lugar-comum do pensamento contemporaneo, Mais erateee Fisica ou a Fisiologia, que a Psicologia ou a Politica, a Geografig oe a e analisa aspectos do meio ambiente na escala e nas Categorias i comumente séo apreendidos na vida diaria. Por mais que os net logistas pensem em como a Geografia deve ser, o temperamento de seus praticantes a faz universal e multifacetada. Em sua amplitude de inte. resses e capacidades — concreta e abstrata, académica e pratica, ana. litica e sintética, interna e externa, histérica e contemporanea, fi. sica e social —, os gedgrafos geralmente refletem o homem. “Esse tratamento de repolhos e reis, de catedrais e lingiiistica, da circulaco de petréleo ou do comércio de idéias’’, como Peattie escreveu, “faz um do nog, Perspective on the Nature of Geography, Chicago, Rand McNally para a Asso- ciagdo de Geégrafos Americanos, 1959, p. 170). Minha pesquisa epistemolégica, Por outro lado, esté relacionada com todo pensamento geogratico, cientifico ¢ outros: como 6 adquirido, transmitido, alterado e integrado em sistemas concei- tuais; @ como o horizonte da geografia varia entre individuos e grupos. Especi ficadamente 6 um estudo sobre o que Wright chama de Geosophy: “a naturez © expressdo de idéias geogréficas, tanto as passadas como as presentes... a ideias geograticas, tanto as verdadeiras como as falsas, de todas as mane fas das pessoas — n&o somente gedgrafos, mas fazendeiros e pescadores, Co” merciantes, executivos @ poetas, novelistas e pintores, Beduinos @ Hotentotes (Terrae incognitae, p. 12). Como os gedgrafos em “nenhum outro lugar... oa mais facilmente influenciados pela subjetividade do que nas suas discussees ere © que a geografia cientifica deva ser” (ibid.), a epistemologia ajuda 8 &P Por que 8 como as metodologias se modificam. 3: gated Sparks, MS. em Sparks Collection (182, Misc. Papers, v: 1. eee Hee loteca da Universidade de Harvard; citado por Ralf H. Brown, oe os 41 238 Negi Ste", Annals of the Association of American Geogreprr™, Peking mee a ra Perspectivas similares do Século XIX, veie © os pies nel, 126: 413-17, 1969, 1"? 2° Purpose of Geography”, no Geog Experiéncia e Imaginagao Geogratia, congresso de gedgrafos ser mais ou menos co, 105, iverso - MO u . univ ™ Comité sobre o ‘A curiosidade geografica esta, com focalizada do que a do género humano; tarteza, mais ordenada, objetiva, consistente, universal oem & Mais consci gacdes comuns sobre a natureza das coisas, Gent? 2° We as ‘nde fanto, o universo mais amplo do discurso se ¢ ‘OMo Geogratia, entre. cimento @ idéias a propésito do homem @ mann? Sobre © conhe- pessoa que examine 0 mundo ao redor de si re ambiente; qualquer geografo. + de algum modo, um Conforme os conceitos especificamente geografi preensivo mundo de idéias que abordamos se rene 2 ene mais com contetdos variaveis da superficie da terra, passado, presers 9s formas e a fe € potencial estreitamente 4. Roderick Peattie, Geography in Human Destir 900), p. 26-27. "No sontigo mais amplo", Richord nner See todos 08 fatos da superficie da terra sBo fatos geograticos” (The Norns Ce graphy: a Critical Survey of Current Thought in Light of the Past ‘ere ao Pa.: Associago dos Gedgrafos Americanos, 1839], p. 372). Sobre os interessus e capacidades dos geégrafos, veja J. Russel Whitaher, “The Way Lies Open” Annals of the Association of American Geographers, 44: 242, 1954 @ André Meynier, ““Réflexions sur la spécialisation chez les Geographes”, Norois, 7: 5-12, 1960. Muitas das Ciéncias Fisicas e Sociais so, tanto na teoria como na pratica, mais generalizadas e formalisticas do que a Geografia. As excegdes sao discipli- nas que, como a Geografia, so, em alguma medida, humanisticas: notavelmente éria objeto da Antropologia 6 to diversificada como a da Geografia, e mais estreitamente espelha os interesses diarios do a concentra-se, predominante- homem; no entanto, a pesquisa antropolégici ninante” mente, naquela pequena e remota fraco da espécie humana — “primitiva’ ou n&o literata, tradicional em cultura, homognea na organizac&o social — cujos modos de vida e visdes do mundo séo pelo menos como os anes (Ronald M. Berndt, “The study of Man: an Appraisal of the Relation oy a Social and Cultural Antropology and Sociology”, Oceana, 31: ee ‘a Geografia, particularista, mais interessada na singularidade do ones pean (especial istorii is assuntos de interesse a a Histéria também compreende mai asntretarto, eM virtude de o dominio mente atos e sentimentos de individuo: en ig S@CUl total da Histéria estar no passado, OS dados histericos ee : derivados. Embora “a Geografia nfo poss2 So ony" in Ame (Preston E. James, “Introduction: the Field of GeograP para ‘a Associag8o dos University Press focalizada sobre hy: Ir ct [Syracuse : iy phy: Inventory and Prospect |S¥rie oe aarafia 6 usual enn Pe Geoarafia, a Antropologia e Histéria. A mat — 106 Persp ivan 8G tc, ‘as, fa — “uma torrente de palavras sobre tabelas, pess, ole Cul, lasses infin, luz, retinas, ondas de ar, numeros primos, ci finite in tristeza, bom e mau". Tudo isso inclui a Verdade ¢ a me Alegn concretos e relagdes obscuras, leis auto-evidentes e hinge”? tar 7 dados tirados da Ciencia Natural e Social, da Historia, do se, roses Vagae da intuig&io e da experiéncia mistica. Certas coisas Parecem .. ly, cialmente agrupadas, temporalmente seriadas, oy Causalmeny I ec9, nadas, como a hierarquia de lugares urbanos, a Marcha anual ny Felacig, ratura, a localizacdo de industrias. Outros aspectos do nosso on tempe. anélise parecem Unicos, amorfos ou cadticos, ¢ VETS dy : ‘MO a populacs, e pais, 0 carSter preciso de uma regido, forma de uma se on 2. Aspectos universalmente aceitos da visio do mundo Por mais multiforme que seja, hé concordancia geral sobre 9 cara. ter do mundo e o modo como & ordenado. As explicagdes de fendmenos particulares diferem de uma pessoa a outra, mas sem Concorréncia ba. sica como sobre a natureza das coisas, ndo haveria nem ciéncia nem senso comum, concordancia nem discuss&o. O herege mais extremado n&o pode rejeitar a ess€ncia da opinigo predominante. Polanyi observa que “mesmo o dissidente mais acerbo ainda Opera pela submissdo parcial @ um consenso existente”, e que “os revolucionarios devem falar em termos que as pessoas possam entender.” Muitos conhecimentos publicos podem, teoricamente, ser verifi- cados. Conheco pouco sobre a Geografia da Suécia, mas outros sio mais bem informados; se eu estudasse muito e arduamente poderia aprender aproximadamente © que eles sabem. Nao posso ler os carac- teres nos jornais chineses, mas dificilmente duvidaria de que transmitem 5 W. V. Quine, “The Scope and Language of Science”, British Journal forthe Philosophy of Science, 8: 1-17, 1, 1957, 8. Para as varias combinagbes de fatos relages, veja John K. Wright, * Cross. Proeding Geographical Quantities”, Geographical Review, 45: 52-65, tle . ee varedades de dados que compreende o conhecimento em geral, veja Ru G8 Reading Formal and Factual Science”, em Herbert Feigl e May Brodbeck, 0 ot 055), 25 1 the Philosophy of Science (Non York, Appleton-Century-Cort Basic Beka nae, Katt Popper, The Logic of Scientific Discovery (New aon. thetic”, ane 9), Bbendices, p. 420-441: Friedrich Waisman, “Analyt ‘and cialysis, 11: 82.56, 1950-51; J. W.N Watkins, “Between Analyt 7. Mens Poe osephy, 32: 112-131, 1957, nyi, Personal Knowledge: 7: Critical Philosophy (Chr 80. University of Chicano Pree soron OWadS 8 Post Critic acgrati, Experiness @ Imani to 07 jacdes aos chineses; pressupondo deceit co oon tae eagnificativos ¢ aprendiveis, cimer 6 universo da exposigto googrhtica, em particul ado aos geoaratos; & compartihado por bihBes de arnarHO cath conf apo. Alguns primitivos isolados ainda s80 ignorantes wae oO sMerior; Muito Mais Pessoas saber uM Pouco ald J oarcoee ices e Modos de vida; porém, muitos dos habitantes, an 80u8 préprios eg menos, rudimentos do quadro mundial comumente er pmo as pessoas leigas da cidncia estilo a par de Sees otras Geografia, seja de maneira inata ou pela aprendizagem: a eieiet aay entre figura e fundo, © posicionamento distinto de objetoe na face da terra; a usual textura, peso, aparéncia e estado fisico da terra, ar a 80 °. verrancicBo regular do dia e da noite; a divisdo de &reas por indi Kae, familia ou grupo. oars Subjacente a esses universais, 0 consenso geografico tende a ser aditivo, cientifico e cumulativo. As escolas ensinam a um numero cres- cente de pessoas que O mundo @ uma esfera com alguns continentes, oceanos, paises, Ppovos, modos diversos de viver e organizar a vida; © tamanho, a forma e os aspectos gerais da terra so conhecidos por mais e mais pessoas. O horizonte geral da Geografia expandiu-se rapl- damente: “Até cinco séculos atras um sentido primitivo ou regional de espaco dominou as povoagdes humanas em todo lugar’; hoje muitos de nés compartilham o conceito de um mundo comum a todos os expe- rientes.® 40 em comum, nto Poder sor 3. O consenso geral nunca aceito completamente A Humanidade como um todo pode por vezes FOOT sugere Whittlesey, parao “sentido de espago comum ‘ou até proxim ” Mas ninguém, entretanto, fronteira mais avangada .M : aes inclinado oa pioneirismo, So dela. De acordo com Boulding, quisou mais ave! hae i que tem uma incOgnita espacial, “9 homem primitivo viv! frontei temivel povoa’ ginagdo excitada. Para 0 homem uma fronteira ela ima do 6 uma a jae completamente explo- moderno, 0 mundo u dficie fechad 7 tion tesey, “The Horizon of Geography" , Annals of the Associa pitt oi 8. Dervent Whi repher’. 96: 1-36, 14, 194! faba “808 dg ree fa, Isto 6 uma mudanca radical do ponto de vig 7 echo & superficial; ainda somos provinci moe az parte do curriculo es 12 &Spaciai 5 *"Mesmo en, Ma 4 onde a Geografia fi 4 colar COMPUISérig, _UDAtey pessoas que possuem informagado consideravel sobre a terra, oh Pty 1 @ aceito na teoria e rejeitado na bratica’, Contorme Mong mundi Whittlesey.”” oa O “desconhecido temivel” ainda esté conosco, Na Verdade ». to mais a ilha do conhecimento se expande no mar da ignorancia ampla é a sua fronteira com o desconhecido”’."' Ag Crencas rimitivay 2 mundo eram simples e suficientemente consistentes Para que todo * cipante compartilhasse muito da sua substancia. Na Sociedade eae do mundo ocidental ninguém realmente capta mais do que uma peque, frac3o da visdo geral do mundo, teoricamente comunicéavel, 4 inet dade de informa¢do que um individuo pode adquirir, num instante oy ra durac3o da sua vida, é finita e minuscula quando comparada COM 0 que © meio ambiente apresenta; muitas questdes sao tdo complexas parg descrever que deixamos resolverem-se sozinhas, numa durag3o de tempo. Os horizontes do conhecimento est&o-se expandindo tao rapi. damente que ninguém mais pode acompanha-los. A Proliferac3o de Novas ciéncias amplia nossos poderes de sentido e pensamento, mas suas técnicas rigorosas e as linguagens técnicas dificultam a comunica- ¢40; 0 campo comum do conhecimento torna-se uma fra¢do diminuta do cabedal total.’? Por outro lado, tendemos a Pressupor coisas como sendo do conhecimento comum e que bem podem nao ser; o que me parece ser uma perspectiva geral poderd ser apenas minha. Os mais devotades adeptos ao consenso comumente esquecem suas préprias crengas acs 8 Kenneth E. Boulding, The Image (Ann Arbor: University of Michigan Press. 1956), p. 66. a ; a , Whittiesey, op. cit., p. 2-14, Jy LS: Rodverg eV. F, Weisskopf, “Fall of Parity”, Science, 125:627-633, 632, 1967. 12. Polanyi, Personal Kno ” ible . wedge, p. 216: i do, “A Poss" Model for dene" pro 98 p. 216; Rafael Rodriguez Delgado, ome ae A acer, Experian @ mayne Ro se is, Para uma grande parte da nossa visto do mundo, umamos mais 8 16 do quo AAQuilO que NOS Ansina a cidncia, No pe Sasemos permanecer errados; COMO assinala Chisholm, “todos aa gomos muito capazes de acreditar falsamente, a qualquer hor determinada proposicio 6 aceita pelos cientistas de nosso elrcuto ¢ iter ay. Em nossas impressdes do mundo compartihado, culo cu tue como a mae afetuosa que assistiu a0 dosfile militar, no qual pavticipava cou filho, € concluiu feliz: “todo mundo estava de passo errado, a omeu Johnnie”. ynivers? 4, Avisio do mundo néo compartilhada por alguns Os atributos mais fundamentais de nossa compartilhada visto do mundo esto confinados aos adultos sadios, robustos e sensiveis. Os idiotas nao podem, apropriadamente, conceber espaco, tempo ou cau- salidade. Os psicéticos apenas distinguem entre si e 0 mundo exterior. Os misticos, claustr6fobos e os perseguidos pelo medo do espaco aberto (agorafobia) tentam projetar seus préprios espacos corporais como sendo projegdes do mundo exterior; sao incapazes de delimitar-se frente ao resto da natureza. Os esquizofrénicos sempre subestimam 0 tamanho e sobreestimam a distancia. Depois de uma les&o cerebral, os invélidos falham ao organizar seus meios ambientes ou podem esquecer lugares e simbolos familiares. Enfraquecimentos como afasia, apraxia e agnosia cegam suas vitimas para as telagdes espaciais e conexdes ldgi- 5 auto-evidentes a maioria. Outras pessoas, com problemas alucina- torios, podem identificar formas, mas normalmente alteram o numero tamanho e formas dos objetos (poliopia, dismegalopsia, dismorfopsia’ em movimento (oscilopsia) ou localizam todas as ida (porrhopsia)."* Outros sempre os véem coisas na mesma distancia indefini 13. Roderick M. Chisholm, Perceiving: a Philosophical Study (Ithaca, Cornell Univer- 36. Surpresa @ desapontamento pessoals sho eviddncias dos particulares no sdo, de fato, iddnticos rte, “The World of the Uncons- sity Press, 1957), p. a muitos de nés de que nossos mun com a vis3o comum do mundo. (R. E. Money-Ky! Ime Porspactivas da Geogratiy equada da fungdo sansivel também 6 pré-requisite pral do mundo comum. © ynhum objeto se parece real pera 2 a srimeira vista, OS nascidos cegos No somente falharn mente come a van visuais, como também no véem formas nitidas, g orapecoaaeery ma massa de reflexo de luz colorida. Eles podem taco. : jo possuem nada como 4 concepcig que ha nele. Um mundo pura. ser como U ya tos pelo tato, mas os objetos real; um sentido concreto e esia, visio combinada com 110 nhecer os obje! um espacgo com . ma abstracao ir | também seria U . de da sinest comum de mbiente depen mente visual estavel do meio a some tato."® Para ver o mundo m: le tudo, crescer, discernir adequ ais ou menos COMO OS outros 0 véem alguém os muito jovens, como os muito doentes, s3o incapazes de adamente entre 0 que é para eleseo que nao é. Um menino nao apenas € 0 centro do seu universo, ele é 0 universo. Para as criancas, tudo no mundo é vivo, criado por e para c homem, e dotado com vontade propria: 0 sol o segue, seus pais cons- truiram as montanhas; as Arvores existem porque foram plantadas. Como Piaget assinala, tudo parece ser intencional: ‘‘a crianga se com a estivesse carregada por designio” e, portanto bem o que estao fazendo, porque elas tem um: dita nas coisas por estarem vivas deve, acima d porta como se a naturez consciente. As nuvens sa meta. “N3o @ porque a crianga acre and Space Orientation in Schizophrenies”, Journal of Abnormal and Social Ps chology, 52: 191-194, 1956; T. E. Weckowiez e D. B. Blewett, ‘Size Constan: and Abstract Thinking in Schizophrenia”, Journal of Mental Science, 10 peu es Eysenck, G. W. Granger, e J. C. Brengelmann, Percept Sarre Mental Mness, \nstitute of Psychiatry, Maudsley Monograpt Be ae a japman @ Hall, 1957); G. W. Granger, ““Psychophysiolc Foe Tea roe Review of Neurobiology, v. 1 (New York, Acaden graphic Fe , P. 245-298; Andrew Paterson e O. L. Zangwill, “'B Case of Tor c Disorientation Associated with a Unilateral Cerebral Lesion’, 68: 188-2 gratia, Experiéncia e Imaginagaio Geot a . . Wy ue ela as considera como obedientes, mas 6 Porque as ag sendo obedientes que ela as considera como Vivas,"" nt Tedita como, o que alguma coisa é, a crianca normalmente dira gy errogada Sobre coisa: — “uma montanha é para ser escalada” _ 9 ie a Para alguma feita com aquela finalidade, 7° due implica que fora Incapazes de Organizarem uma mente inclinada ao animismo, conceitual na crianca, da qual depende mesmo as mai: eit pees Mais primitivas e Provincianas geografias." Novamente, na velhice, a perda Progressiva 16. Jean Piaget, The Child’s Conception of the World (Paterson: Littlefield e Adams, 1960), p. 248-357, 17. Child’s Conception of the World, p. 384-385; Construction of Reality in the Child (New York, Basic Books, 1954), p. 367-369. Piaget e seus seguidores trabalha- ram principalmente com escolares, em Genebra. Ainda deve ser determinado o quanto suas categorias e explicagdes podem ser aplicadas universalmente, ou se variam com a cultura e meios ambientes. Margaret Mead, “An Investigation of the Thought of Primitive Children, with Special Reference to Animism”, peur of the Anthropological Institute, 62: 173-190, 1932, observou que as criangas Manus rejeitaram explicagdes animisticas dos fendmenos naturais. fles ran mais ligadas aos fatos reais do que as criangas suigas (e adultos Manus porqu Sua lingua era destituida de figuras de linguagem, por serem punidas quan toes ay Perspectis tivas da Geog, 7 12 ‘arafia joncia da io e outras enfermidades tendem a isolar c fici y da audicao, a defic dade e criar, literalmente, uma segunda infancig uma pessoa da reali pografica. . . ses Por mais diferentes que eles sejam dos nossos, os meios ambiente, percebidos, por assim dizer, da maioria das criangas de mesma idade (ou de muitos esquizofrénicos, ou de viciados em pares podem semelhantemente parecer um com O outro. No entanto, a Pouca comu- nicac’io ou compreensdo mutua de carater conceitual entre as criancas, Nao importa quantos sejam os tragos que as suas imagens do mundo possam ter em comum, a elas falta qualquer visio compartilhada da natureza das coisas. 5. Mutabilidade do consenso geral A vis3o compartilhada do mundo é algo transitério: nao é o mundo que nossos pais conheciam nem aquele que os nossos filhos conhe- cerdo. Nao sé a prépria terra esta em constante fluxo, mas também toda gerac&o encontra novos fatos e inventa novos conceitos para trata-los. “Vocé nao pode entrar duas vezes no mesmo rio”, observou Heraclito, “pois as &guas novas est3o sempre escoando sobre vocé’’. Ninguém otha o rio outra vez e do mesmo modo: “a vis’o do mundo que os 18. O declinio da © meio ambiente ©, Node eva 2ncidos a fazer faisos julgamentos sobre tia. Veja Alfred D. Weiss, “Seneon co 2P2t8 Sentimentos de isolamento e apa- Processes”, em J. E. Birren, ony Functions”, © Harry W. Braun, “Perceptual Tae Bical and Biological Aspects (Cheech °F Aging and the Individual: 1989), p. 503-561, respectivamente, "890, University of Chicago Press, 19. Marcel Bélanger, “J'ai choisi de devenir graphie, 13: 70-72, 70, 1969. Feta na 8°9taphe” Ravin A ge5oarsti®s Experidncia & Imaginagao nioncia do que a evidéncia. Na 3 indo nao se dilui durante a fies fae de Eiseley, “uma visi montannosa, ela se desgasta através de ae disso, como... a ae nao precisa sera verdade. Por exemplo no. < séculos’’.” O pie diosos acreditavam que a terra — Mundane E éculo XVII, muitos cstu. plana, regular e uniforme, sem “montanhas Tear era originariamente homem por seus pecados, antes do Dilivio, Di mar’. Para castigar o paisagem em continentes @ profundos ecoaneetes amarrotou esta bela mos disformes; o homem moderno, desta ae Penhascos e abis- gg ruinas de um mundo quebrado’”. Esta versdo aan como derrotada, ndo por prova geoldgica, mas principal storia da terra foi mais ardente de Deus e do homem, e por Nowe mente por uma visdo observadores do Século XVIII, as aa 1O padrao estético. Aos ' as pareciam mais majestosas esublimes, do que horriveis e corruptas.”* convel 6. Ocarater antropocéntrico da visdo do mundo ; A melhor viséo do mundo concebida pela mente humana é, no maximo, um quadro parcial do mundo — um quadro centralizado no homem. Nos, inevitavelmente, vemos 0 Universo de um ponto de vista humano e comunicamos em termos elaborados pelas exigéncias da vida humana. “A significancia em Geografia é medida, consciente ou incons: cientemente”’, afirma Hartshorne, “em termos de significancia para ‘ homem’’; mas nao és6na Geogratia que © homem é a medida. “Noss escolha da escala de tempo para a climatologia & condicionada mais pe: duracdo do nosso periodo de vida que pela légica””, diz Hare, a fisi dos gafanhotos seria diferente da nossa”, assinala Kohler.” Can (New York, Atheneum, 1960), P- 20. Loren Eiseley, / ), P. Cientistas da Academia Francesa, NO Século XVII, negaram a ee i bvio a muitos observadores, porque opuseral queda de meteoritos, obvi v0 peed Fe avadaminante de que os meteoritos provinham por Oe en nean Hog mais estrannos fatos serao { + tae an oid The Firmament of Time Porspectivas da Geogray atia 114 ; 5 “todos os aspectos do meio ambiente s6 existe, ym que esto relacionados aos nossos Proposit tambom assinala Que ficado humano, vocé omite toda constancia, te, para nos na modida ¢ Se vocd omit O siya forma”. pee spetibiidade, toda ; s circunstancias fisica iOlbg; te a aeartiG do lado a finalidade, as circunstanc se bioldgicas restringem a percepgdo humana. Nossa amplitude congénita de sensa. a @ timitada: outras criaturas experienciam outros mundos além do goes A visto humana do mundo é ricamente diferenciada, Comparada vom ¢ da maioria das espécies; mas outros seres veem melhor na escy. ca percebem raios ultravioletas como cores, distinguem detalhes minuciosos ou véem cenas proximas ou distantes sob foco melhor. Parg muitas criaturas, 0 meio ambiente & mais audivel e mais flagrante do que para nds. Além disso, para toda sensag¢do o mundo humano perceptivel varia dentro de limites restritos; 0 quado brilhante parecga o relampago, 0 qudo ruidoso soa 0 trovdo, 0 quao intensa pareca a chuva, em deter- minado momento de uma tempestade, tudo isso depende de férmulas fixas cujas constantes, pelo menos, s3o unicas ao homem.”* ——__ fonte ultima para os conceitos dos fisicos’, acrescenta Kohler, “sen&o a do mundo fenomenal” (p, 374). 23. Hadley Cantril, “Concerning the Nature of Perception”, reacheeegeciet, a 467-473, 470, 1960. “O meio ambiente com 0 qual estamos Ima easier mensuravel em microns, nem aquele medido em anos-luz mie eon lo em millmetros... Ele N&o 6 o de particulas, dtomos, molé xibs ou nebula, ae menor que cristais, Nem 6 0 de planetas, estrelas, gala ldo, auido ns Woson undo do homem... Consiste em matéria em estados sd entre @ matéria » Organizados como uma rede de superficies ou interfacie: nesses diferentes estados”, James J. Gibson, “Perception a: 4 Function of Sti ion” es Science, Study te ‘ em Siimund Koch, org., Psychology: a Study 0 Physiological Foundatin, nar 7 Systematic; v. 1. Sensory, Perceptual, an 24. S. S. Stevens, « oer fork, McGraw-Hill, 1959), p. 46-501, na p. 469 z aleaainea Peal His Law”, Science, 133: 80-86 he Seeing Eye’ © capacidades perceptuais veja Ado les insectes” 710 1 Landscape, 9: tain soon eh uals, vel : » Proceedings of the Philo- “La vision d Geogratia, Experiéncia e Imaginagao 15 Os instrumentos da ciéncia permitem conhecimento parcial de outros meios ambientes, reais ou hipotéticos. O sangue, normalmente aparece uniforme, vermelho e homogéneo a olho nu; através do micros- copio, torna-se visto como particulas amareladas num fluido neutro, enquanto sua subestrutura atémica é, principalmente, um espaco vazio. Mas tais discernimentos nao mostram o que verdadeiramente est para se ver, normalmente, na escala microscépica. “O meio ambiente, apa- rentemente padronizado, de farinha num recipiente n&o pareceria indife- renciado a nenhum investigador que tivesse um malho de pildo, e que soubesse, de antem&o, as complexidades da existéncia desse meio fari- nhoso", observou Anderson.” Os poderes perceptivos e o sistema ner- voso central de muitas espécies sao qualitativa, assim como quanti- tativamente, diferentes dos homens. Podemos observar, mas nunca experimentar, 0 papel das tensdes superficiais e as forgas moleculares nas vidas dos pequenos invertebrados, a habilidade do polvo em discri- minar impress6es tateis através do paladar; da borboleta sentir as formas através do olfato, ou da actinea (urtiga do mar) em mudar seu tamanho e forma. O tempo relacionado as variedades de experiéncias também é especifico. No tempo de um segundo, os seres humanos percebem, em média, 18 impressdes separadas ou instantes; as imagens apresentadas mais rapidamente parecem fundir-se em movimentos continuos. Mas ha Peixes de movimentos lentos que percebem até trinta impressdes sepa- radas em cada segundo, e caracéis aos quais uma vara que vibra mais Que quatro vezes por segundo parece estar Parada. O que acontece com o tempo, 0 mesmo acontece com o espaco; Percebemos uma entre as muitas estruturas possiveis, mais hiperbdlicas que a euclidiana.”” As seis direcdes cardeais nao nos sao equivalentes: —_______ respectivamente; Conrad G. Mueller, ing”, e Lioyd M. Beidler, “Visual Sensitivity”, Irwin Pollack, ‘’Hear- “Chemical Senses”. in Annual Review nf Pevahalan: wore wi 16 Perspectivas da Genyat, frente e atras, a esquerda e a direita Possuem vai, especiais, porque ocorre sermos uma espécie particular de animal ter. restre, simétrica bilateralmente. Eum fato contingente no mundo o de atribuirmos grande importancia as coisas que possuem seus altos baixos nos lugares certos; outro fato contingente (sobre nés mesmos) 6 o de que atribuimos maior importancia aos que tém suas frentes ¢ costas nos lugares certos, do que aos seus lados esquerdo e direito.» Acima e abaixo em todo lugar significam bom e mau, Céu é inferno, og mais altos e os mais baixos instintos, as alturas do sublime e as profun. dezas da degradacao. Até mesmo as mais altas e as mais baixas latitudes tém conotagées espaciais éticas. Mas a esquerda e a direita raramente sao diferenciadas. Qutras espécies percebem muito diferentemente. O fato de queo espaco fisico nos parece tridimensional é parcialmente contingente ao nosso tamanho, a forma do nosso corpo (um tronco assimétrico) e, talvez, aos nossos canais semicirculares. O mundo de certos passaros é, efetivamente, bidimensional, e algumas criaturas apreendem somente uma dimensdo.” O mundo da experiéncia humana é, entéo, apenas uma Arvore da floresta. A diferenca 6 que o homem sabe que a sua arvore nao éa nica, e ainda pode imaginar que a floresta, como um todo, possa ser seme- lhante. A tecnologia e a memoria estendem nossas imagens para além acima e abaixo, ores metry in Relation to Space Perception”, Journal of Optical Society of America, 48: 328-334, 1958. Mas sob condi¢des étimas, Gibson confirma que 0 espa¢0 per ceptivo 6 euclidiano, “Perception as a Function of Stimulation”, p. 479-480 WwW jaraha, Expenoncia @ Imaginagao Geo @ conscidn si o nidnci a do si mesmo, do tem, 7 Po, s da sensagio direta, e da causalidade | s id le ultrapassam as separacée 8 Saparagées que bh ho entre » Agradecemos $2 quem a comparou ci ‘omo expenéncias individualizadas “yma consumada peg 4a pega de matematica comb ca Combinatéria”; " ; comparti- amos a concepgd m m Inamos @ concepgdo de um mundo comum, Por m - Por mais que hi: aja defer 1 sendo* os NO consenso gera isi te geral, a vis’o compartilhada do mundo é, do 6, essanc ee eee eer “Estamos quase admitind: erros de detalhes neste conhecimento, mas acreditai eaaeiciestesee Ly , mos 2 eis e corrigiveis através de métodos, que tém ee aiho- a cido meiho- descobriv' rias constantes as nossas crengas. Nao concebemos, mone s B , como homens nto que seja, a hipétese de que 0 edificio todo 12 praticos, por U truido sobre bases inseguras”, ponderou Russell possa estar cons ncia, aprendizagem e imagi- nacado necessariamente fundamenta qualquer universo de discurso. A estrutura toda da imagem compartilhada do mundo é relevante a vida de cada participante, & todo aquele que adere a um consenso deve ter, pessoalmente, adquirido alguns de seus elementos constituintes. Essa colocagdo é claramente feita por Russell: ‘se eu acredito que haja um lugar como Semipalatinsk, eu acredito nisso por causa das coisas que 7. Geografias pessoais Separar mundos pessoais de experié! a “maneira di 0 mundo”, entre o homer ar como que engolfado no objeto, de na de que faz com © mundo... 0 animal n&: “La nature dé Vuniverse che , 1957. Pontos andlogo “The Problem of Spac Journal ¢ je ser n mental n fato de est erenca funda! . a unida' eo animal superior: este poder ultrapassé-lo, devido.. e pode transcender © real imediato, Jean-C. Filloux, aa animal”, La Nature, 85: 403-407, 438-0" oT itas so mostrados por Boulding, /mage, P- 29; Géza : oe an with Particular Emphasis on ct an lal io Weg imroduction } : 1937. Ernst Cassirer yon! a a eoehy of n Culture (New Haver, Yale University Press, . d.), p: 87. Pre Oxford, Clarendon Pres nd Chance (On cam do mun’ n-uhlodav 30. Ha uma dif Huma Anchor Books, § 2 anne Al Perspectivas da Geogratig 118 “8 Ninguém precisa ter estado em Semipalatinsk; 6 suficiente ter ouvido sobre ele em alguma conexdo significativa, ou mesmo ter imaginado (certo ou erradamente) que ele existe, em bases lingiiisticas ou de outras evidéncias. Mas se 0 lugar nao existe em algumas — e potencialmente em todas — geografias pessoals, dificil- mente formaria parte de uma visto compartilhada do mundo. me tém acontecido 8. Mundos individuais e consensos comparados A terra cognita pessoal 6, em muitos modos, distinta do dominio is localizada e restrita no compartilhado do conhecimento. E muito mai i espaco e no tempo: “nada sei sobre a microgeografia da maior parte da crosta terrestre, um pouco sei da soma de conhecimento comum sobre 0 mundo como um todo e suas partes mais amplas, mas sei bastante sobre aquela delgada fragao do globo na qual vivo, nao simplesmente dos fatos que poderiam ser inferidos do conhecimento geral e verificados por visi- tantes, mas dos aspectos de coisas que ninguém, caso falhe minha expe- riéncia, poderia entender como eu”. Wright pondera que a terra inteira é, assim, uma imensa miscelénea de miniaturas de terrae incognitae, partes § no incorporadas na imagem geral.* Territo- dos mundos particulare: | € mais ou menos inclusivo do que tialmente, cada meio ambiente pessoal o dominio comum. 9, Natureza complexa dos meios ambientes pessoais O ambiente privado é mais complexo e muitos de seus aspectos s3o menos acessiveis & investigagao e exploragdo, do que 0 mundo que Its Scope and Limits (New York, Simon 33. Bertrand Russell, Human Knowledge: ‘ 7 e Mas veja J. K. Feibleman, “Knowing about Semi- aad Cahuetar 1948). p. xii. gratia, Experidncia @ Imaginacho Geoarati. v9 todos nos compartithamos. Aldous Huxley escreveu que ainda tom a sua Africa desconhecida, a8 ragibos nie m,n! Monte nous e bacias amazdnicas... Um homem consiste ony ets de Bor. ge consciéncia pessoal e, alom do um mar saparador a vatho rhundo : a Sbrie de 3 Mundos —, a niio to dist i vesncia pessoal..., © Ocidente da inconsciBeene re ceratna ta subcons. simbolos, suas tribos de arquétipos arborigenes e, ana eon sua flora de mais vasto, na antipoda da consciéncia diaria, o mineisyasees Oceano visionaria... Algumas pessoas conscientemente nunca dese a Sareea hee fazer uma parada provis6ria’’ emne visi mundo transi i oti rancas e 0 medo da mente humana freqontemcn soni. oes ces de sentido comum. A localizagao Suposta e Os aspectos rae estimularam muitos cartégrafos medievais, muitas expedicdes de pe racéo procuraram elusivos Eldorados. Desilusdo e erros nao so ane firmemente mantidos por grupos que por individuos. Suposigdes metati- sicas, do pecado original a perfectibilidade do homem, nao somente colorem como também dio forma a imagem compartilhada do mundo. Mas a fantasia possui um papel mais proeminente em qualquer meio ambiente privado do que na geografia geral. Todo aspecto da imagem coletiva 6 consciente e comunicavel, enquanto muitas das nossas im- pressOes particulares sao incipientes, difusas, irracionais e dificilmente podem ser formuladas até para nds mesmos. O meio ambiente privado inclui muito mais paisagens e conceitos variados do que 0 mundo compartilhado, forcas e lugares imaginarios como também aspectos da realidade, com os quais s6 0 individuo esta familiarizado. O Inferno e o Paraiso podem ter desaparecido de muitos dos nossos mapas mentais, mas a imaginago, a distorgdo e a ignoranci: ainda adornam nossas paisagens particulares. Os artefatos mais impera tivos sio apenas palidos reflexos da arquitetura lapidar da mente, ten tando recriar na terra as imagens visionérias atribuldas pelo homem Deus; e toda maravilha inatingivel 6 um Paraiso Perdido. Helf (New York, Harper, 1955), p. 1-3. Heaven and ; Spence de seu mundo... nunca parece estar exclusivame 36. “A especializacéo humana ~~ 99r0fg 120 Em cada um dos nossos mundos pessoais, bem mais ‘ompartilhado, OS caracteres das fabulas e das fic, Ae Qe em seus proprios territérios, ati reside Cor consenso ct ese movimentam, alguns tilhando paises familiares com pessoas © lugares reais. Todos ng, bn Maravilhas, Guliver em Liliput e Brobdin 105 ‘Nag ‘o Pais das marcianos e OS sorrisos dos gatos de ¢| : acompanha m casa e na ampliddo. Os utdpicos nao Cheshir criam homens misticos, eles rearranjam as forcas da natureza: pa mundos, aS Aguas escoam morro acima, as estacdes desapac"s reverte-se 0 tempo, e as criaturas un! & bidimensionais conversam <™ movimentam. OS mundos inventados podem até mesmo abrigar fi bs dos légicos: OS cientistas sd0 engolfados na quarta dimensao, os con rados sd0 aprisionados nas garrafas de Klein, cinco paises cada um bo dejando com todos os outros. ” As geometrias extraterrestres, os pa tros topograficos e OS modelos abstratos de toda espécie, por sua vez, acrescentam elucidacao as perspectivas da realidade. Se nés nao puder- mos imaginar © impossivel, 0s Nossos mundos, tanto os particulares como os coletivos, seriam muito pobres. Alices em noss Fantasmas, sereias, m-nos @ 10. Acongruéncia dos mundos particulares com a “realidade” entes pessoais em alguns aspectos esteja lidade consensual mais objetiv O que as pessoas p rtilhado; até as Pa! Embora os meios ambi aquém e em outros transcendam a rea pelo menos parcialmente se assemelham a ela. cebem sempre pertence 20 mundo “real” compa gens dos sonhos advém de cenas verdadeiras recentemente vistas relembradas da meméoria, conscientemente ou nao, mas entretanto 7 tas delas podem ser distorcidas ou transformadas. O sentir pode a¢ tecer sem percep¢do externa (luzes zumbidos 5 perante os olhos, ouvidos), mas € comum uma frase tdo expressiva como “os olhos Geografia, Experiéncia e Imaginagao 121 mente” porque, como lembrou Smythies, ““h4 al sobre ter imagens sensoriais mentais”’.* ‘Guma coisa a considerar Asilusdes nao enganam muitos de NOs; “vem ee er Taah come ele nos satisfaz e estamos Sete mundo da manei- sa maneira’’. Para encontrar 0 nosso modo eobre « ‘eitos em vé-lo des- como ganhar a vida e como adquirir contatos humanoe to evitar perigos, temos que perceber o que ha. Como Soe 9s basicos, em geral espécies humanas hajam sobrevivido (até aqui) sq “0 fato de que as correspondéncia consideravel entre o meio ambiente ¢ teens concebe que seja e o que ele realmenteé”.” Se as ima: Seana oe nossas cabegas no forem suficientemente consistentas oo ae terior, seriamos incapazes de sobreviver er Sees i mM qualquer mei i n&o ser 0 do hospital para doentes mentais. q io ambiente, a E se os nossos mei i 0 meios ambien- tes particulares nao pudessem ser reconhecidamente similares um ao outro, nunca poderiamos ter construido uma visio comum do mundo, 11. Variag&o e limites do conhecimento pessoal do mundo Nao é possivel uma perfeita ajustagem entre o mundo exterior e as nossas idéias sobre ele; entretanto, a fidelidade completa comprometeria 38. J. R. Smythies, “The Problems of Perception”, British Journal for the Philo- sophy of Science, 11: 224-238, 229, 1960, veja também sua Analysis of Per- ception (New York, Humanities Press, 1956), p. 81-105. “A difundida crenca que a mmiragem é algo irreal, uma espécie de estratagema jogado aos olhos, est errada. ‘A figura que uma miragem apresenta € real, mas nunca muito acurada”, James H. Gorden, “Mirages”, em Smithsonian Institution, Annual Report for 1958 (Washington, D. C., 1960), p. 327-246, na p. 328. Sobre clones conto i noe sonhos, miragens e alucinagBes, o suas relac! I peeve Pee ee Fisher, “Dreams, Images and Perception: A, Study of dade" vole ‘preconscious Relationship”, Journal of the American Psyc iytic Association, 4: 5-48, 1956. Charles Fister © 1. H, Paul, “The Effect Mei aesal Visual Stimulation on Images and Dreams: 8 Validation Study" bi Sar Hobart Knapp, “’Sensory Impressions in Dreams’, Psy 7; 35-83, 1959. Power oe. 325-347, 1966; C. T. K. Chari, “On the ‘Space’ end jc Quarterly, 227 eritich Journal for the Philosophy of Science, 8: Perspectivas 18 Geo, afig 122 ‘a, So estamos parados ou nos Movimentando, on, a sobrevivencia- 514 sujeito a subitas e geralmente drasticas mu anes? meio ambiente @s devemos ser aptos a ver as Coisas niio somente Gas, Em conseqiiéncia, ‘am como poderdo vir a ser. Nossos meios amity “Omg elas sio, mas ae plasticos e de certa maneira amortos ns partculares SH0 pmeres equipados para uma grande Vatiedade es estamos hse incluindo alguns daqueles que criamos, Mas a ae meios ambien qualquer momento do tempo, alguns dos Nossog one cdo 6 lente oe e conceituais estdo sujeitos a serem vestigios + Mais bem ler meios ambientes passados do que aos atuais, ajus' Como individuos, aprendemos mais rapidamente a Propésito do mundo nao prestando aten¢io a uma variavel Unica, ™MaSs pelo exame superficial de uma grande variedade de coisas. " Cada Percepco tende a ser seletiva, criativa, fugaz, inexata, generalizada, estereotipada” e, justamente porque imprecisa, as impressées Parcialmente errdneas sobre © mundo em geral sempre sdo mais convenientes do que Os detalhes exatos a propdsito de um pequeno segmento do mundo.‘! O observador n&o é necessariamente mais acurado: a observacao efetiva nunca é Teso- lutamente atenta. Vernon salienta que as “‘percepcdes Mmutantes s3o necessérias para preservar o alerta mental e os poderes normais de pen- samento”. A mera consciéncia nem sempre conduz a sobrevivéncia. Aquele que falhou em ver um tigre e, por isso, deixou de atrair sua atencdo “pode escapar da destruigao, que atinge muitos dos melhores Perseguidores que conhecem muitas das artimanhas de escape”. Desta maneira, Boulding conclui que “sob algumas circunstancias, a ignoran- Cia é felicidade e 0 conhecimento leva ao desastre”’. 41, ne s va 38.69 ve também Miller, “The Magical Number Seven” (veja chuva que vemoe ¢ owes contar somente algumas das estrelas ou gotas de MOS e além disso tudo se torna Nublado; mas nossa vagueza ndo i, olhar mais Penetrante ou mais Ccuidadoso: “‘o obscuro @ um a oe tdo essencial como s&o outros tracos...A percep¢ao ismann, ““A\ oe uito diferente daquele em que... um mapa é ine- Tipos ¢ ambitog depen Ytic-Synthetic” (veja nota 6), Analysis, 13: 76-77, 1953: A Further Cnn PETCERGKO @ anranai-- Googtatia, Expandncia @ Imaginagto 123 sencial do mundo A percepeno es a ne ; nto, nublade nse toda ma- objetivo @ subjetivo, inadvertido e deliberado, literal e ees A propria percep¢do nunca @ pura: sensoriar, Pee eee acreditar X10 processos simultaneos, interdependentes. Uma vi ae mente perceptiva do mundo seria defeituosa e falsa tanto a seada somente na légica, compreensdo e ideologia. Goethe afore a ba. “todo fato @ em si mesmo a teoria’. A experiancia do mano ae simples e direta @ composta de percepcio, meméria, 16 ica rt “Olhando para baixo, de uma janela, como fez Descartes disemos ue vemos homens e mulheres, quando de fato percebemos nada mais gue partes de chapéus e capas. Chisholm demonstrou que 0 reconhecimento do monte Monadnock é um ato conceitual tanto como mental: “ jonte e@ ing Suponha que vocé me diz, quando estivermos viajando através de New Hampshire, ‘Eu vejo que aquele, atras das &rvores, 6 0 monte Monadnock’’. Se eu lhe perguntasse, “como vocé sabe que 6 0 monte Monadnock?", poderia responder dizendo “eu estive aqui muitas vezes antes e posso ver que é ele”... Se eu ainda tivesse duvidas sobre o que vocé estava afirmando ver... poderia perguntar, ""O que faz vocé pensar que 6 0 monte Monadnock que vocé vé?’’... Uma resposta apro- priada seria esta: ‘eu posso ver que a montanha tem o formato de uma onda e que ha uma pequena cabana perto do topo. Nao h& nenhuma outra montanha correspon- dendo aquela descri¢&o dentro de milhas daqui’’. O que vocé agora expressa ver é nao que a montanha seja o Monadnock, mas simplesmente que ela tem um formato como uma onda e que ha uma cabana perto do topo. E este novo “enunciado perceptivo” esta unido com um enunciado de informagao independente ("o Monad- nock tem um formato como uma onda e ha uma cabana perto do topo; nao hé nenhuma outra montanha como aquela dentro de milhas ao redor”) — informacac adquirida anteriormente a percepcao atual. — cada enunciado perceptivo sucessivo pode similarmente ser que brado em novas expressOes perceptivas e em outras informacées adicio nais, até que “‘atingimos um ponto onde encontramos... nenhuma ex pressado perceptiva’’. 124 ~ Perspectives qs R oGratiy 12. Singularidade dos meios ambientes privados A despeito de suas congruéncias com Cada outro ec como ele é, os meios ambientes particulares acentuadamenr © Mundg entre pessoas em culturas diferentes, entre individuos dent divergem grupo social, e para a mesma pessoa, como criancga e como a um diversos tempos e lugares, e em costumes variados, Delgado ae em ue “a vida de cada individuo constitui uma experiéncia Perceptiva origi irreversivel”’.“ Binal @ Cada visdo particular do mundo 6 unica, para comegar, porque cada pessoa habita um meio ambiente diferente. Conforme Kluckhohn e Mowrer assinalam, “‘o fato de que dois seres humanos nio Podem ocupar 0 mesmo ponto, ao mesmo tempo, e que 0 mundo Nunca & precisamente 0 mesmo em ocasides sucessivas, significa que 0 mundo fisico € idiossincratico para cada individuo’’. A experiéncia no é so- mente unica; mais significantemente, ela 6 também autocentralizada: sou parte do seu meio ambiente, mas nao do meu préprio, e nunca me vejo como o mundo me vé. Isso 6 0 comum para aqueles que o mundo observa: “presumimos que um olho nos olha, ou uma espingarda nos aponta, a menos que tenhamos boa evidéncia em contrério”, observa Gombrich. * Cada visio particular do mundo também 6 Unica porque cada um escolhe e reage ao meio de maneira diferente. Selecionamos ver alguns aspectos do mundo e evitamos outros. Todavia, porque “tudo 0 que * bemos a propésito de um objeto afeta a maneira pela qual ele anne nossos olhos”, nenhum objeto esté apto a parecer 0 mesmo a aD que sejam dois seres perceptivos.* Ent3o, como Clark assinal ia alguns aspectos, cada avaliag3o do homem de uma situagdo IH € peculiarmente a sua prépria’’.4” Vv. __ experiencia e Imagina¢30 geoarati®y 30 do mundo 13. piferengas culturais em aspectos da vis radas profundamente pela sociedade e pela a sistema social organiza 0 mundo de acordo com a sua e exigencias particulares, cada cultura filtra a percepcao do meio ambiente em harmonia com seu estilo e técnicas particulares.” Consideremos as diferengas sociais e culturais nos habitos de loca- lizagdo e nas tecnicas de orientagao. Stefansson observou que 0s mapas mostram acura numero e as formas dos esquimés geralmente das voltas nas estradas @ Nos rios, mas negligenciam as distancias notando somente 4 distancia que uma pessoa pode viajar em do Hallowell, os indios Saulteaux ngo pensam em movi- ira favor do movimento do reldgio é movimentar-se, eles ra o Sul, para 0 Oeste, para 0 Norte, a ordem de tro ventos em sua mitologia. Para encontrar 0 seu ¢ concretos e outras caminho, algumas pessoas utilizam pontos basico: abstratos; ainda outras utilizam marcas nas paisagens, e outras as suas proprias localizagdes. OS Chukchee da Siberia distinguem vinte e duas | e variando com as diregdes, muitas delas baseadas na posi¢ao do Sol estagoes. As redes precisas & assimétricas de navegagao dos viajantes micronesianos utilizaram de constela¢des & ilhas. Os Tikopianos nunce se afastam muito no oceano & incapazes de conceber uma grande massé de terra, usam as diregdes para 0 interior e para o mara fim de auxiliar é ral alguma coisa: “ha uma mancha de terra em sua face para € ’’. Entre os Tuamotos, aS direcdes da bussola referem-se 80S Ss avaliagdes sdo afet \damente lineares, um dia. Segun' mento circular; dizem, de Leste pal nascimento dos qua’ 48. A $6 ee reno em sentido literal, ao estimulo..- Antes reagimos consideravel pun Be es do estimulo. Estas interpretagdes so derivadas, em soa naquela cult oe nossa cultura e das experiancias especificas de cada pes ultura”, Clyde Kluckhohn, “The Scientific Study of Values anc Philosophical Society Contemporary ci lization”, Proceedings of the American vienten antuda da caso esta em T. T. Waterman 126 Pornpoctivas da Googratig entos, mas os lugares NOS atdis so localizados por referancia 4 sue diregho do povoado principal, Os ocidentais s%0 mais espacialmenta egocéntricos do que os chineses @ balineses. O significado religioso dos pontos cardeais controla a orientagdo interna @ externa na planicie do Norte da China, e os balineses dio todas as diregdes em termos dos pontos cardeais. Onde dirlamos “va 4 esquerda”, “em direg4o a mim” ou ‘“distante da parede”, eles dizem “tome a direcdo para o Oeste”, “puxe a mesa para o sul”, ou, em caso de tocar a nota errada no piano, “toque a tecla a leste daquela que esta tocando”.” A desorientac3o é universalmente desagradavel, mas a inabilidade para localizar o Norte incapacita em muito os balineses. O escritor inglés Stephen Potter ficou atdnito ao encontrar que muitos americanos n3o sabiam nem se inte- ressavam em saber em qual bacia hidrografica estavam, ou quais 0s rios préximos, fatos que considerava como a segunda natureza para o inglés.*! A percepcao de formas também é culturalmente condicionada. De acordo com Herskovits, um engenheiro elétrico trabalhando em Gana lamentava-se que “quando uma trincheira para um conduto tinha que ser escavada, tragava uma linha entre os dois pontos e mandava os Brill; New York, Stechert, 1907), p. 303-304. Os contextos culturais @ ambientais de orientacSo sBo considerados, longamente, em Hallowell, op. cit., p- 184-202, e Kevin Lynch, The Image of the City (Cambridge, Technology Press @ Harvard University Press, 1960), p. 123-133. 50. Benght Danielsen, Work and Life in Rareia: an Acculturation Study from the Tusmotu Group, French Oceania (London, Allen & Unwin, 1959), p. 30-31: Geogratia, Experiéncia ¢ imaginacao VW trabalhadores Segui-la, M. que 4 trincheira Possuia formas circul 48 No fim da t curvas”’, ‘ares. Eles nao vivi que seguir uma linha reta eles", da mesma f feito a mao livre? larefa invariavelmente verificava Em suas terras, “predominavam as am em,. + UM mundo trabalhado, de modo Marcada por uma corda solucionar as reivindicagdes de te; Tras. 4 O que acontece com as fo rmas também acontece com as cores. ‘Some Further Comments on Cultural Relativism", Amer- : 266-273, 267 268, 1958, 53. Gordon W. Allport e Thomas F. Pettigrew, “Cultural Influence on the Per the Tranarnidat a: . Perspectivas da Geograr ia 128 comuns, tais Como O azul € © verde, nio sq familiares a as; por outro lado, earns dificil, mente perceptiveis a nds podem ser parte de suas eae comuns, Ray concluiu “que nado ha tal coisa como uma we 6 aoe do espectro. Cada cultura tomou 0 continuum espectral e ividiu-o em unidades sob uma base muito arbitraria... Os efeitos de claridade, de luminosidade e de saturacdo geralmente so confundidos com 0 matiz; € os sistemas resultantes séo emotivos & subjetivos, n&o cientificos” Entre os Hanunoo de Mindoro, Conklin mostra que os termos das cores mais basicas referem-se a graus de umidade (saturagao) e de claridade; © matiz é de interesse secundario.” visdes das cores, nao & simples- Conforme sugerem as diversas mente 0 fenémeno observado que varia com a cultura, mas as categorias globais da experiéncia. Uma percep¢do simples aqui pode ser lé uma abstrac3o complexa. Os grupamentos de importancia suprema em uma cultura podem n&o ter nenhuma relevancia em outra. Os Aleutas ndo possuem nome genérico para a cadeia de suas ilhas, desde que néo reconhecem a sua unidade. Os Aruntas organizam o céu noturno em constelac3es separadas, ou com recobrimentos, algumas delas fora das estrelas brilhantes, outras fora das estrelas mais fracas. Para os Trukese, as Aguas doces e salgadas so substancias nao relacionadas. Os gatichos da Argentina sdo considerados como tendo classificado o mundo vegeta! em quatro grupos, denominados de forragem de gado, palhas em cama- das, material lenhoso e todas as demais plantas, incluindo rosas, ervas € couves.” N&o ha maneira natural ou melhor para classificar qualque coisa; todas as categorias séo mais uteis do que verdadeiras, e o arqui teto de paisagens justamente prefere uma taxonomia morfolégica en vez da genética. Os padrdes que as pessoas véem na natureza tambén variam com os valores econémicos, éticos e estéticos. Esteticamenti neutras para os americanos, as cores possuem ConotagSes morais par: os Navajos; um administrador Indio tentou usar Cores Como simbolos d: Os nossos matizes Mais algumas outras cultur jancia @ Imaginagao paper a oe @ obteve malogro, pois os Navajos encaravam o azul arcial io yermelho como Mau. awn A INGUISTICAS NA PER- gIGNIFICANCIA DAS DIFERENG su Aero 00 MEIO AMBIEN ct a avras que usamos levam-nos a visdes particulares do so. Na conhecida frase classica de Whorf, “‘dissecamos a natureza ogo dS linhas tragadas por nossas linguagens nativas... Nos reta- road a natureza, organizamo-la em conceitos e atribuimos signifi- "3 ‘0 fazemos, principalmente porque participamos cancias da maneira que ge um acordo para organiza-la dessa maneira — um acordo que se paseia através de nossa comunidade falada’’.°° Certamente, a linguagem também se ajusta 4 visio do mundo, justamente como o meio ambiente modela o vocabulario: dentro de uma simples gera¢ao, a loucura pela patinagdo deu-nos muitas palavras diferentes para a neve, assim como osesquimés também as possuem. Os padrées linguisticos ndo aprisionam irrevogavelmente os sen- tidos, mas preferencialmente, como julga Hoijer, ‘‘dirigem a percep¢do e 0 pensamento para certos canais habituais”.” As coisas com nomes séo mais faceis para distinguir do que aquelas que n&o os possuem; os gau- chos que usaram somente quatro termos floristicos, sem nenhuma divi- el mais do que quatro tipos de plantas, mas “seus mundos percep- $ sdo empobrecidos pelo seu mundo lingilistico’’.*' As classifica¢des As muitas pal 58. Hall , Silent Language, p. 132-133. Muitos aspectos da paisagem existam como entid, Eo fades separadas s6 em nossas mentes. Como diz Gombrich (Art and lilu- Perspectivas da Geografig em seres animados e inanimados, masculinos, femininos Ou Neutros, 9 nomes de massa (areia, farinha, grama, neve) ou particulares (homem, cachorro, dedal, folha) afetam variadamente os diferentes modos pelog quais as comunidades faladas encaram as coisas. Tendemos a pensar em ondas, montanhas, horizontes e martinis como se fossem compostas de entidades discretas, mas concebemos surfe, solo, cenério e leite como agregados, principalmente porque OS primeiros termos so plurais en. quanto os Ultimos s3o nomes indefinidos.” , Os aspectos estruturais da linguagem influenciam os modos de encarar o mundo, mais do que os vocabularios. Raras vezes empregada azul e verde) do que aquelas que n&o tém, Roger W. Brown e Eric H. Lenne- berg, “Study in Language and Cognition”, Journal of Abnormal and Social Psy- chology, 49: 454-462, 1954. €2. “Termos ingleses como ‘céu, colina, pantano’, persuadem-nos a considerar alguns aspectos elusivos da variedade infinita da natureza como CO/SA distinta, quase como uma mesa ou cadeira”’, Whorf, Language, Thought and Reality, p. 240; veja também p. 140-141. Mas Roger W. Brown, Words and Things (Glencoe, Free Press, 1958), p. 248-252, defende que a distingdo entre massas @ nomes especificos faz o sentido perceptivo e corresponde bem com a realidade observada. Alguém pode facilmente, conforme as criticas de Whorf tam mostrado, fazer tais Gistingbes. O fato de que a palavra para designar So/ 6 masculina em francés e feminina em alem&o, e considerando que para Lua 6 feminina em francés @ masculina em alem3o, n&o pode ser correlacionado facilmente com os habitos dé pensamento ou Weltanschauung de cada pov Jas Alannauianas a clacca dao. Z eee 2 fato de eens ling = Geografia, Experiéncia e Imaginag’io ont , 131 conscientemente, geralmente lent: modos basicos de pensamento. Em Shaman’ sintaxe invade os “deixé-la tomar algo na canequinha” é arate pare sugere ave maldita coisa escapuliu de minha mao”. Possuinde analogo a “a verbos transitivos, os groenlandeses tendem a ver as coi een gem causas especificas; “eu mato-o", em sua lingua sas acontecendo morre para mim’’. Nos idiomas europeus, entretanto, a ae a percepcdo, e 0 verbo transitivo anima todo evento com ene causa. Os Hopis possuem verbos subjetivos, mas muitos ere ® possuem objetos que dao a expresséo uma imagem dlualistica, animis, tica. Na exemplificag3o de Piaget, dizer “‘o vento sopra” a nese, © triplo absurdo de sugerir que 0 vento pode ser independente da a de soprar, que pode haver um vento que n&o sopra, e que o vento aise separado de suas manifestagdes exteriores’”.* Diferencas importantes também ocorrem dentro das familias lingiiisticas. A disting&o francesa entre o tempo imperfeito (usado para as coisas e processos) e 0 perfeito (usado para os homens e suas agdes) contrasta a uniformidade da natureza com a singularidade do homem, de maneira que o inglés nor- malmente no expressa. 63. Weston La Barre, The Human Animal (Chicago, University of Chicago Press, 1954), p. 204. Veja Whorf, op. cit., p. 235. 64. Piaget, Child's Conception of the World, p. 249. 0 livro foi escrito para alertar aos pais como responder a uma crianga que faz indagagdes como: “o que 0 vento faz quando nao esta soprando?”, Ruth Purcell, “Causality and Language Rigidity”, ETC., 18: 175-180, 179, 1958. Whorf, Language, Thought, and Reality, compara a linguagem @ 0 pensamento Hopi com o do “padr&o europeu médio” em varios documentos, p. 57-64, 134-159, 207-219. ; Diferente de muitos psicélogos & antropélogos, os geégrafos tenderam a admi- tir, com filésofos positivistas, que poderfamos livrar-nos dos tipos panes e teleolégicos de explicagao e modos de olhar 0 mundo, pela substitui¢ao de outras palavras e frases em nossa lingua. “AS perspectivas de Ritter... embora coloriram todo enunciado que fez, no afetam a esséncia”, de acordo com H. J. MRA “E facil reestabelecer cada proposigao em termos oe nérios mais modernos.”” President's adress, Section E, British Rae a Advancement of Science, aa tof the 65" Dre ceeds pase pes (London, Murrey, 1958), P. 73% , na p. , ou ej, Hse ser facil aoe © estigma de Ritter do determinism 20 a ad outros aspectos sobre @ relagao entre linguagem telen! gic aa mento veja Sprout, Man-Milieu Relationship Hypotheses, p. 7 ii i ing”, Science, 128: 1402-1405, 195 westaniay in Science Teaching’, Sclene®s fo on Fei Parynctivas 94 Gergraty 132 0 ato de que todas essas distingbos podam war convertidas em inglds mostra que 9 finguagem nfo aprisiona © permamento; com auf ciente cuidado e esforco praticamante tudo am qualquer sistema de izido. Entretanto, um conceito que surge ng linquagem pode ser tradt poo faciimente om um idioma pode requarer um denajsitado @ tedioag o que 6 habitual para alguns, circunléquio em outro. A diferenga entre J mas dificil para outros esté apta a ser crucial nos hébitos de pensamento e, talvez, nas ordens de eventos. Os cientistas europeus, cujas lingua- como 08 substantivos, gens englobam processos com substanci demoraram muito mais para avaliar as deficiéncias em vitarninas do que as moléstias causadas por germes, parcialmente porque “eu tenho um germe” foi uma locu¢ao mais natural do que “tenho falta de vitaminas”. Em resumo, como afirma Waismann, “pelo desenvolvimento sob certa linguagem, pelo pensamento em suas linhas semanticas e sint&ticas, adquirimos certa perspectiva mais ou menos uniforme sobre 0 mundo. ... As figuras e estilos de linguagem elaboram a moldura na qual se colocam as experiéncias, e os diferentes idiomas realizam essa tarefa de modos diversos”. ® AS VARIACOES PESSOAIS NOS ASPECTOS DA VISAO DO MUNDO As visdes particulares do mundo divergem umas das outras, até mesmo no interior dos limites colocados pelas necessidades légicas, fisiologia humana e padrdes de grupo. Em qualquer sociedade, os indi- viduos com embasamento cultural semelhante, que falam a mesma lin- gua, ainda assim percebem e compreendem diferentemente o mundo. more néo pode ver as coisas até que conheca grosseiramente o que elas 840", comenta C. S. Lewis, cujo herdi no planeta Malacandra primeira- mente percebe “nada mais além de cores — cores que se recusam a ratig na. Jua- vOs, que um is’”, erta Das, ido, | se de até as, ndi- lin- do. elas gira ma o de milia nbre fia, Experiéncia e Imaginag3o Geogr! 12 rem-se em coisas”. Mas aquilo que vocé . tonde tanto do que the é familiar como de suas prcdaneateateemenes Prtoriamente conrecido é observado sob perspectivas novas, ds races noteraves de lontes deformantes, a forma e a cor sdo acentuadas, come Sesinalou Helmholtz; 0 inesperado tom uma qualidade vivida pictbrca, Por outro lado, uma observaco prolongada pode mudar o vermelho a um verde aparente, ou transformar uma figura as Proporgées das suas vizinhas.”” A finalidade e as circunstancias da observaco materialmente al- teram o que é visto. O eletricista cuida de como a luz aparece, e nao sobre as cores reais do conjunto; 0 oculista que testa meus olhos nao esta interessado no que as letras sejam, mas em como elas aparecem a mim. As intengdes modificam o carater do mundo. * Fora do laboratério duas pessoas provavelmente nao véem uma cor como sendo a mesma, embora similarmente identifiquem a coisa que esta colorida. Os preconceitos condicionam as aparéncias e como afirma Cornish as cores esquisitas que a luz e a atmosfera dio a uma paisagem de neve s&o sé parcialmente vistas por muitas pessoas, pos- suindo a opinido de que “a neve é realmente branca’”’.® Tais estere6- tipos podem pesar sobre outros fatos fisioldgicos. A Marinha dos Esta- dos Unidos foi aconselhada a modificar as cores das suas roupas e blusdes de sobrevivéncia, do amarelo para 0 vermelho fluorescente, nao 66. C. S. Lewis, Qut of the Silent Planet (New York, Macmillan, 1952), p. 40. 67. Para Helmholtz, veja Philosophy of Symbolic Forms, v. 3, p. 131-132. Sobre mu- danga na cor e tamanho aparentes, veja T. N. Cornsweet et al., “Changes in Perceived Color of Very Bright Stimuli”, Science, 128: 898-899, 1958; Dorothea Jameson e Leo M. Hurvich, “Perceived Color and Its Dependence on Focal, Surrounding, and Preceding Stimulus Variables”, Journal of the Optical Society of America, 49: 890-898, 1969; Wolfgang Kahler, Dynamics in Psychology (New York, Grove Press, 1960, 1940), p. 84-86. ; 68. “Sem a concepgdo do individuo e de suas necessidades, no pode ser feita uma disting&o entre ilusdo e cognic&o “verdadeira’”, Horace B. English, nese a Problem in Systematic Psychology”, Psychological Review. 58: 52:53, 1951. O tamanho e a forma dos objetos parecem apropriada @ necessariamente cones tantes, mas muitos de nés podemos ser “enganados” pela aparente curva da vara semi-submersa na agua. 1 nuts m 29 Sobre as impressdes dissimi- io Petspectivag da Gee visibilidade, mas para dar .- hy tanto Pere a ee ar vestido de vermelho o Nutro ings oe Poderdo deixar de ver-me”. Maging aw “eles aaa pelo qual uma paisagem aparece depende ee a ;cunstincias acompanhantes, porque cada sentido ® afer, a ag circu O veludo parece suave, 0 gelo soa sélido, Sente-se ov Peleg ete porque as experiéncias Confirmaram essas, imprest A reluzéncia das faias rendadas e douradas iluminadas Pela wee fizeram Cornish esquecer que estava friorento; mas ele nao Oderia Bel ciar uma paisagem azul e “‘gelada”’ vista de um comboio ferrovisrig, re. Tomlinson observa que, “‘geralmente, a nossa Primeira impressag de un lugar 6 também a nossa ultima, e ela depende Principalmente dg tempo g da alimentagao”.”' . . Independente das circunstancias, cada pessoa é distintamente ela propria. “O individuo carrega consigo em toda situacao Perceptual, as suas caracteristicas e habilidades sensoriais, a inteligéncia, o interesse e as qualidades temperamentais”, conforme Vernon, e suas “Tespostas serdo coloridas e, em alguma extensdo, determinadas Por essas quali. dades individuais inerentes’”’.”2 A habilidade para Corretamente avaliar a vertical e a horizontal, por exemplo, varia com o sexo e Personalidade, assim como com a maturidade: os homens decididos s3o melhor conta- dores sobre o que fizeram do que as mulheres, neuréticos € criancas, Cujo sentido cinestésico reforca as Percepcées visuais menos adequa- damente.” A estéria do astr6nomo real, Maskeleyne, que despediu um estrelas com diferenca maior que a metade do segundo, depois avers Passagem se tealizava, é geralmente contada para ilustrar a inevitaby lidade das divergéncias Perceptuais sob as melhores circunstancias. : Tomlinson, “Navy Ri ey earch Reviews (outubro, 1959), p. 19, 'Y Research on Color Vision”, Naval Res ee £206 Of the Earth; with Some Hints for Those About to Travel (Indiana po 'S, Bobbs-Merrill, 1951 )p. 52, PRON. A Further turks nein « Geogratia, Experiéncia @ Imaginac3o vas nés desvia 0 mundo a seu i Cada Ba gen suas imagens particuleres, Préprio modo ® contempla as eee pessoas residentes nos mesmos habitualmente selecionam diferentes modos de Orientagao. Ha soment um mapa publicado, “o mapa dos Estados Unidos dog habitantes de Nova lorque”, mas Trowbridge encontrou uma grande variedade de mapas imaginarios pessoais. Os desvios individuais sobre a direcao cen laram de zero a 180 graus; alguns mapas foram Mais consistentes outros mais distorcidos no Times Square do que em Battery, ou mais precisos sobre Albany, mas n&o sobre Chicago. Outros ainda Pressupunham que as avenidas sempre tinham as direc3es para os Pontos cardeais, ou imaginaram todos os lugares distantes como situados a Leste ou a Oeste. Alguns conheciam a direco para a qual se voltavam no momento de sair do metré e teatros, outros ficavam incertos, e outros invaria- velmente erravam. Lynch caracteriza as imagens estruturais do ambiente como posicionais, disjuntas, flexiveis e tigidas, dependendo de como as pessoas se orientam, principalmente pelos marcos distantes, pela memo- rizacdo de detalhes na Paisagem, pelos cruzamentos, retornos de Tuas, ou direcSes, ou pelos mapas. * Meios ambientes, Por exemplo,” ELEMENTOS SUBJETIVOS NAS GEOGRAFIAS PARTICULARES Outra raz3o pela qual as visdes particulares do mundo s&o incon- testavelmente unicas é que toda informacao é inspirada, editada e dis- torcida pelo sentimento. As moedas parecem maiores as criancas do que 20s pobres, * o banquete possui mais fragrancia ao faminto, a montanha Parece mais alta ao perdido. Santayana escreveu que se “nossas per- 78. C. C. Trowbridge, “On Fundamental Methods of Orientation ey Maps", Science, 38: 891-892, 1913; Lynch, Image of the City, p. 88-89, Ven 136 Perspectivas a Gy 0 cepgdes nao tivessem nenhuma conexdo com os Nossos Presa ‘Mafia deveriamos fechar oS nossos olhos sobre este Mundo" ,77 Rs » Pty diferenciamos entre pessoas, lugares ou coisas, até que tenhart™entg interesse pessoal sobre elas. Uma cidade americana é como um outra para mim, a menos que tenha bom motivo para conté-ta atau rado. Os estudos mais exaustivos de fotografias e evidéncias etnoy Sepa, nado nos permitem distinguir entre individuos de outra raga ea Sdicag lidade, velocidade e certeza geradas pelo sentimento forte, Toa, faci. chineses podem parecer iguais para mim, mas n&o ao homem — ah 0s estrangeiro — que tenha uma esposa chinesa. Somente o Proprietirign’ circo de pulgas pode lhe dizer quem & quem entre as pulgas a tantes. 7 Os esteredtipos influenciam 0 como aprendemos e o que sabemog sobre cada lugar do mundo. As minhas nogées da Australia e Alasca sho compostas de dados mais ou menos objetivos, veridicos, e do modo pelo qual sinto sobre desertos, geleiras, povos primitivos, pioneiros, ama. dores de ténis e politica estrangeira americana. Imagens evanescentes similares vem rapidamente a mente; ao inglés da década de 30, segundo um escritor, Quénia sugeria ‘‘fazendeiros cavalheirescos, aristocracia rural, colunas de bisbilhotices e Lord Castlerosse’’; a Africa do Sul, “Rodésia e o Império Britanico e um edificio horrendo em South Parks Road e na Praca Trafalgar’’.”” A educac¢3o e a passagem do tempo 77. George Santayana, The Sense of Beauty; Being the Outline of Aesthetic Theory, 1896 (New York, Dover Publications, 1955), p. 3. “Eu ndo posso”, escreve Gard ner Murphy, “achar uma érea onde a teoria perceptiva hedonistica no pode ser aplicada”, “Affect and Perceptual Learning”, Psychological Review, 63: 7, ' In 78. Anton Ehrenzweig, The Psycho-Analysis of Artistic Hearing and Visio a SS, troduction to @ Theory of Unconscious Perception (New York, Julian ee 1953), p. 170. Veja também James J. Gibson e Eleanor J. Gibson, pa Al, geoarat Experiéncia e Imaginagao _ jem, mas nunca deslocam inteiramente taj 7 come tras e povos estrangeiros. O consenso atual Pes @ propo- va jovens estudantes em uma escola inglesa 6 o de onal Geografia vafricanos puseram fim a Guerra dos Boers para comer oe ‘Os sul- fortunas do ouro e diamantes, e oprimir os nativos sob um a cruel como um sol sempre presente.” Aqueles que pene, y China como uma moradia de lavadeiros, sobre a Franca aa onde as pessoas comem lesmas e a Espanha como ardente do come um pouco mais miopes do que qualquer outro; @ mais facil deplorar tag generalizagdes do que substitui-las com imagens mais adequadas e con. vincentes. Porque todo conhecimento é necessariamente subjetivo tanto como objetivo, os delineamentos do mundo que s&o puramente mate- riais e fatuais ordinariamente parecem muito aridos e inanimados para assimilar; somente a cor e o sentimento conduzem & verossimilhanca. Atras dos simples fatos, exigimods experiéncias novas, de primeira mio, opinides e preconceitos individuais. ‘A coisa importante sobre a verdade ndo é aquilo que deveria ser exposta, mas quais roupas a vestiria me thor."”*! As geografias memoraveis n&o s&o textos de compéndios, ma: estudos interpretativos incorporando um acentuado ponto de vista pes soal. Um mestre em capturar a esséncia de um lugar, Henry Jame realizou tio bem conduzindo ““menos de sua aparéncia do que de sua implicacdes”’.* Nos versos de Blake,* S, fazer Erno tao sobre a Preye , " hy, 65: 286-289, 286, 196 80. John Haddon, “A View of Foreign Lands”, Geography. Ses dos estudant Se sua visio da Africa do Sul é reconhecivel, as impressoes de desenvol sobre a América deixam mais a desejar: “A América é um pals CO vestida a, as obscuras janelas da alma distorcem os cus de id i lo Nesta vi em mentira quando vocé vé com, e nag através dont 8 levam a acreditar 0 viajante ideal, conforme um critico, deveria Ser “Cuida nte do aspecto visual imediato do pais que ele visita, de sua hist ‘0 Soe tumes de sua arte e pessoas, mas também de sua oa ia rolagdes a todos esses aspectos, a seu lugar simbdlco & mitico ems proprio mapa universal’. Desconfiamos da ciéncia COMO 0 tinicg vei. culo da verdade porque concebemos ° remoto, o desconhecido, eo diferente em termos do que esta préximo, bem conhecido & auto-ay. dente para nés, e acima de tudo em termos de nés mesmos, O que nos parece real e verdadeiro depende “‘do que sabemos sobre nég Mesmos ¢ n&o somente sobre o que conhecemos sobre 0 mundo exterior. Na ver. dade, escreve Hutten, “os dois tipos de conhecimento estao inextrin- cavelmente conectados’’.®° O PAPEL DO PASSADO INDIVIDUAL NA PERCEPCAO DO Meio AMBIENTE O conhecimento Pessoal, como também o geografico, € uma forma de Ocupacao seqiiencial. Como uma Paisagem ou um ser vivo, cada mundo particular teve uma Carreira no tempo, uma historia propria. Desde que a personalidade é formada principalmente nos primeiros anos, “somos determinados, simultaneamente, tanto pelo que éramos quando criangas como pelo que estamos experienciando agora”. Nas Palavras de Quine, “absorvemos uma filosofia natural arcaica com 0 49, 1965. 84. Pet ” 7 nee! Green, “Novelists and Travelers”, Cornhill Magazine, 168: 39-54, ele home: F Por preeaas descobrir e determinar © universo dentro dele s6 em pensa! ‘ 7 Fe os Misticos @ V8-lo em imagens misticas”, Cassirer, Philosophy Symbolic F 7 85. Emest H. Mutros' 199. 83-101. lutten, . yr Er Nest Jones”, Bray e5eMh@ de Sigmund Freud: Life and Work, v. 3: PO : tish ‘ erin cia sempre influencisc Maca! of Philosophy of Science, 10: 81, 1959. A exper gratia Experiéncia e Imaginagao Corre 139 nosso lite materno. Na plenitude do tempo, co literatura corrente @ fazendo algumas observag proprio, tornamos as a mais Claras, Mas... nao rompem assado, nem atingimos padrdes, de evidancia e realidade dif OS Com o cie dos padrdes vagos das criancas e dog leigos” Merentes em 0 modo inicial de pensamento continua acordo com Portmann, de alguma maneira perm: canos: “O periodo inicial decisivo em nosso coi fortemente influenciado Pelo Ponto de vista Ptolomaico, no qual nossos tracos e respostas hereditarias encontram uma saida congénita... O mundo ptolomaico no € apenas uma fase a ser superada no cresci- mento, uma espécie de experiéncia animal; € uma Parte integral de nossa qualidade humana total.’’ ®” Como toda histéria pessoal resulta de um meio ambiente particular privado, ninguém pode duplicar a terra cognita de qualquer outro. Um adulto que aprende uma palavra ou costume estrangeiro nao parte da tabula rasa, mas tenta arranjar conceitos de sua prdpria lingua e cultura — nunca com sucesso completo. Mead observou que “entre criancas, expostas seriadamente a duas culturas, as premissas da inicial podem persistir como distor¢des de percep¢do em experiéncias posteriores, de modo que anos depois os erros na sintaxe ou no raciocinio podem ser relacionados as experiéncias culturais antigas ou ‘esquecidas’""." Somos prisioneiros até mesmo de nossas historias adultas. A ima gem do meio ambiente, como afirma Boulding, “é construida - fesultado de toda a experiéncia passada do possuidor da es da imagem é a historia da propria imagem”. Ja mencione! esse ma €m conex&o com a percepcao da cor: “A cor na qual er em nossa Coisa mais freqiientemente imprime-se de modo eee aren valiant meméria € torna-se um atributo fixo da imagem oe Rae @, por Hering, “Nés vemos através das lentes de cores relem ab aquilo que Pegamos ng OS Suplementares de nos, espe ao longo da vida. De anecemos Pré-coperni- Ntato com a Natureza & Brath Perspectivas da Geografis 140 temente do que deveriamos vé-las."" A familia te se queixa que 0 pintor a fez parecer muito mais omo uma memoria composta a face que o pintor “Qualquer um vé o mundo como ele era no pas- 190 tanto, em geral diferen retratada invariavelmen velha, porque ela olha c! contempla apenas hoje. i i sado, refletido no espelho retardatario de sua memoria. A memoria nao necessita ser consciente para influenciar as ima- gens; como assinalou Hume, os aspectos de nosso passado que falha- mos em relembrar também deixam sua marca nos mapas mentais. “O mundo interior inconsciente esté povoado por figuras e objetos do pas- sado, imaginados em geral erroneamente como terem sidos”, observou Money-Kyrle. Correto ou ndo, recordagdes podem virtualmente nublar aspectos de uma real paisagem contemporanea. // Quartier, de Pratolini, retrata os habitantes de uma arrasada e vazia parte de Florenga, que instintivamente continuaram a seguir as linhas das antigas ruas, em vez de diagonalmente cortar as quadras onde os edificios se levantavam.”' Do mesmo modo, a meméria modela idéias abstratas e hipdteses. Tudo 0 que atualmente sei sobre a América é em parte memoria daquilo que costumava pensar sobre ela. Tendo uma vez sido convencido de que a fronteira era o bergo da democracia, € uma coisa muito diferente para mim aprender que ela no foi do que para alguém aprender o fato ow reat oem were antigo. Aquilo que aceitamos como verdadeiro mundo ae ‘nes ta en do ae Caramel conhecer Somes As perspectivas a en que anteriormente acreditavamos. corporam passado os a - das culturas globais similarmente in- contemporanen vas uma significados podem refletir nao a cultura como um vasto sistema — mais velha. A paisagem em geral serve de um grupo”, exincieat ae Para a retenc&o da histéria e ideais : ynch. Geogratia, Expendincia @ Imaginacio tan Conclus3o Cada imagem e idéia sobre o mundo é composta, ent4o, de expe- néncia pessoal, aprendizado, imaginacao e memoria. Os lugares em que vivemos, aqueles que visitamos e percorremos, os mundos sobre os quais lemos € vemos em trabalhos de arte, e os dominios da imaginac3o e de cada fantasia contribuem para as nossas imagens da natureza e do homem. Todos os tipos de experiéncias, desde os mais estreitamente ligados Com 0 nosso mundo didrio até aqueles que parecem remota- mente distanciados, vém juntos compor 0 nosso quadro individual da realidade.*' A superficie da terra é elaborada para cada pessoa pela re- frac3o através de lentes culturais e pessoais, de costumes e fantasias. Todos nés somos artistas e arquitetos de paisagens, criando ordem e organizando espacos, tempo e causalidade, de acordo com nossas per- cepcdes e predilecdes. A Geografia do mundo é unificada somente pela légica e ética humanas, pela luz e cor do artifice, pelo arranjo decorativo pelas idéias do bom, da verdade e da beleza. Como as anuéncias em tais assuntos nunca s3o perfeitas, nem permanentes, os gedgrafos tam- bém podem esperar somente concordancia parcial e evanescente. Como escreveu Raleigh, “nado éa verdade, mas a opinido que podera percorrer oO mundo sem passaporte””.™

Vous aimerez peut-être aussi