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CRISE
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Créditos
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,
desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A
responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da Secretaria
de Estado de Saúde de Minas Gerais. O conteúdo desta publicação foi desenvolvido e
aperfeiçoado pela equipe do Canal Minas Saúde e especialistas do assunto indicados
pela área demandante do curso.
Ficha Catalográfica
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MINAS GERAIS. Canal Minas Saúde. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Curso
de Extensão Novo Olhar para a Saúde Mental - Módulo II: Atenção a Pessoas com
Transtorno Mental e Usuários de Álcool e Outras Drogas - Unidade 4: Abordagem da
Crise. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2013.
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Objetivo de Aprendizagem
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Introdução
1. O Sujeito em “Crise”
A psicopatologia fará uma “distinção” entre a palavra “crise” que será dividida em
crise, surto e fase.
A crise tem curta duração, começa e termina de forma abrupta. Temos como
exemplo, as crises histéricas, as crises epilépticas, de pânico e de agitação psicomotora.
Quanto à duração pode ser de segundos, minutos e, mais raramente, horas.
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O surto aparece de forma súbita, mas vem de uma doença de base e provoca
danos à vida psíquica do sujeito. A duração do surto é maior, pode durar meses como no
exemplo da esquizofrenia e sempre levará a sequelas.
Mas quer seja uma crise, um surto ou uma fase, o paciente encontra-se
fragilizado tanto do ponto de vista psíquico como social.
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Portanto, o acolhimento criativo deverá ser o ponto de partida desta nova ética do
cuidado em saúde.
Pedro ao ser escutado mostra-se muito aflito, dizia que os vizinhos estavam
querendo matá-lo. Ele pede para ficar só com o médico e aceita ir até à recepção. Após
um levantamento verificou-se que paciente já esteve em tratamento no CAPS e há dois
anos não mais comparecia ao serviço. O médico foi chamado para avaliar e foi sugerido o
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uso de medicação antipsicótica injetável, uma vez que Pedro recusava a ingestão de
medicamentos.
1. Acolhimento criativo
2. Avaliação médica
3. Medicação
a. Haloperidol injetável
b. Zuclopentixol acuphase
c. Haloperidol de depósito
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O suicídio é definido como o ato de terminar com a própria vida, enquanto que a
tentativa de suicidio seria um ato de autoagressão deliberada, podendo ou não ter a
intenção de morrer. Tendo em vista as diferenças epidemiológicas entre a população de
pacientes que comete suicídio e a que tenta, e tendo ainda em vista que a expressão
tentativa de suicidio apenas nomeia um comportamento, torna-se necessário uma
escuta que nos permita entender a situação em que o indivíduo se encontra. Talvez
nestas situações seria melhor falarmos de comportamento suicida.
Os familiares são solicitados a deixar Joana sozinha para que pudesse falar sobre
suas questões. Joana relata à enfermeira sua angústia, diz que as brigas em casa são
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uma constante e que após o namorado dizer que a relação estava acabada, decidiu por
fim na sua vida.
Tinha alguns comprimidos em casa que a mãe usava, disse que eram calmantes.
Tomou dois comprimidos e bebeu vinagre.
No dia seguinte Joana volta dizendo estar melhor. Tereza havia feito contato com o
NASF de referência e identificou um psicólogo que pudesse acolhê-la neste momento.
Informou a ela a possibilidade de ser acolhida pelo profissional para que neste encontro
Joana pudesse colher efeitos terapêuticos.
Casos como estes são frequentes nas unidades de saúde da atenção primária.
Independente da gravidade, o usuário deverá ser acolhido em sua subjetividade.
Nenhuma tentativa de autoextermínio deverá ser desvalorizada.
Neste caso, não foi necessário medicar, ou encaminhar para uma unidade de
urgência, mas é fundamental fazer com que o sujeito circule na rede.
1. Acolhimento criativo
2. Avaliação da urgência com exame médico e da enfermagem
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3. Escuta
4. Orientação aos familiares
5. Contato com o NASF
6. Retorno da usuária para nova escuta e encaminhamentos
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intensiva. Ele nunca quis falar sobre o que havia acontecido, mas dizia que as vozes
tinham ido embora.
Cristina tem 23 anos. Procura a Unidade de Saúde do ESF dizendo que precisa dar
informações muito importantes. Chama atenção seu modo de vestir e o modo de falar.
Está usando uma roupa muito colorida, uma maquiagem não apropriada para o horário,
três horas da tarde. Chega para a recepcionista e tira uma bíblia de capa cor de rosa e de
plumas, dizendo que tem uma mensagem para ela. Fala sem parar. A atendente pede um
pouco de paciência e chama o enfermeiro, pois neste momento o médico havia saído
para uma visita domiciliar. Cristina é solicitada a estar no consultório e diz que vem da
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parte do prefeito e precisa ser atendida o quanto antes, pois tem uma reunião política. O
enfermeiro Pedro pede para aguardar um pouco mais e tenta localizar o envelope de sua
família. A família vinha sendo acompanhada e a mãe tinha história de internações em
instituição psiquiátrica há longa data por motivo não especificado.
Na cidade, não havia CAPS e o hospital de referência está a mais de 400 km.
Dr. João logo chega do atendimento domiciliar e discute o caso com o Pedro. Dr.
João conversa com Cristina e sugere o uso de uma medicação. Ela disse que vai pensar.
Pedro já havia entrado em contato com a família, que estava a caminho.
Logo que a mãe chega diz que o problema já vinha de alguns dias, mas como na
família tem destas coisas, não se preocupou.
Pedidos de exame:
1. Hemograma
2. Ureia e creatinina
3. TSH e T4 livre
4. Solicitação da avaliação cardiológica.
A equipe se organizou para nos próximos dias fazer visitas 2 vezes diárias.
Um plano de cuidado foi estabelecido pela equipe:
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acentuado à noite, mas durante o dia há a presença de algumas pessoas, as quais não se
inibem mesmo quando outras passam por ali, entre elas, Dolores, Agente Comunitária de
Saúde (ACS).
A ACS é chamada por alguns adolescentes, que ficam na praça, para conversar.
Perguntam se tem consulta com o médico, queixam-se de dores e começam a falar da
vida. Dolores passa a se interessar por eles. Entre os adolescentes, está Fernanda, 18
anos, usuária de crack há 3 anos que se põe a falar da sua história a partir da curiosidade
de Dolores em saber dela.
Seu encontro com as drogas aconteceu aos 14 anos quando conheceu seu atual
namorado, de 28 anos. Ela via nele sua felicidade, pois se sentia, enfim, amada. Ele havia
começado a usar drogas há pouco tempo e para tê-lo e mantê-lo, ela começou a usar
também, sempre um na companhia do outro.
Prostitui-se para comprar a droga e, nas conversas com sua ACS diz que a
prostituição veio depois das drogas, pois precisava de dinheiro para manter o seu
consumo.
Quanto ao seu trabalho, ela diz que a relação sexual sem preservativo é mais cara
do que com preservativo, por isso Fernanda se submete mais a esse tipo de relação. O
seu namorado consegue fregueses para ela, geralmente homens com condições
financeiras que querem sexo sem preservativo. Queixa-se para a ACS que está cansada,
muito emagrecida e que seu namorado começou a dizer que desse jeito, não vai
conseguir fregueses. Tem medo de engravidar, porque nem sempre usa pílula
anticoncepcional, pois chega a vendê-la para conseguir dinheiro.
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Dolores, a ACS, pensa como pode ajudar, o que fazer por Fernanda e os demais
adolescentes que frequentam a praça da sua microárea.
Situações de vulnerabilidade como esta tem sido cada vez mais frequentes nos
espaço da cidade. Aqui temos um bom exemplo do Acolhimento Criativo. O acolhimento
que se faz no espaço público. A ACS identifica uma adolescente que pede ajuda e a
acolhe.
Josefa, 55 anos, viúva há 20 anos, possui três filhos adultos e reside com a mãe,
sendo que há dois meses a filha caçula e dois netos, de 4 e 6 anos, estão morando na
mesma casa, porque esta se separou do marido.
Josefa sempre fazia uso de bebida alcoólica de forma esporádica, mas depois do
falecimento do marido, devido acidente de carro, ela passou a ingerir uma garrafa de
cachaça por dia. Diz que toda vez que “passa raiva” acaba bebendo. Já tentou parar de
beber algumas vezes, mas nunca conseguiu. Inclusive tendo enfrentado crises de
abstinência por esse motivo, mas no fim, sempre busca a bebida.
Teve outro relacionamento, no qual seu parceiro compartilhava com ela deste
abuso, pois ele trazia para casa, constantemente, bebidas variadas, as quais eram
ingeridas por ambos. Este parceiro faleceu por complicações cardíacas há um ano.
No momento, deseja parar de beber, pois quer cuidar dos seus netos. Emociona-se
ao falar da sua relação com a filha, pois queria que se dessem bem, como “mãe e filha”.
Está há uma semana sem beber, apresentando pensamento confuso, ansiedade,
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agitação, insônia e muita vontade de ingerir cachaça. Diz que, às vezes, vê uns cachorros
dentro de casa, mas acha isso estranho, porque não há esses animais em casa.
Alguém sugere que ela procure o CAPS ad da sua cidade Ela não sabia
exatamente o que seria isto, mas diz que não foi difícil encontrar o endereço.
Chega para uma consulta, onde é acolhida por um profissional psicólogo que avalia
e sugere um atendimento médico por conta dos sintomas de abstinência e da sua
manifestação do desejo de parar de beber. Dr. João atende discute o caso com a equipe.
São solicitados exames para “ver como as coisas estão” e sugere que use uma
medicação pelos próximos dias: 01 comprimido de Diazepam duas vezes ao dia.
Josefa aceita bem a proposta, tem esperança que isto possa melhorar a sua
relação com a filha. Josefa começa a ir ao CAPS ad regularmente e demanda ser
frequentemente escutada, relatando sua alternância em dias de “sobriedade” e dias “de
embriaguez”.
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Mário tem 20 anos, é usuário de crack, maconha, álcool e cigarro, vive errante nas
ruas, apesar de ter família. Seus pais são usuários de bebidas alcoólicas e têm
resistência em fazer tratamento. Os pais chegaram inclusive a iniciar um tratamento no
CAPS ad, mas logo abandonaram. O uso de drogas por Mário iniciou na adolescência,
por volta dos 11 anos, segundo ele, devido às condições familiares, pois quando os pais
se embriagavam, ele saía para a rua, muitas vezes motivado por acontecimentos
violentos entre ele e os pais.
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Dona Maria é católica, mas não vai à Igreja há muito tempo. Quando moça gostava
de participar de atividades de quermesse e visita aos idosos. Dona Maria tem 3 filhos, a
última, casou-se há pouco mais de 1 ano, e o marido “não dá mais atenção” para ela.
Dona Maria vem à unidade quase todos os dias, pede por uma consulta. Diante da
impossibilidade de conseguir, solicita que “pelo menos peçam uns exames”.
Soraia é a enfermeira da equipe. A equipe de recepção vem reclamar com ela que
não aguentam mais “todo dia a mesma coisa”, é uma “daquelas donas tristes”: sempre
reclamando dor no peito, dor na barriga, fala que tem pressão alta e que quer participar
de um tal de “hiperdia”.
Soraia chama Dona Maria para uma consulta. Na sua ficha familiar está “tudo em
dia”: prevenção, mamografia e exames de rotina”, mas Dona Maria continua insatisfeita.
Neste dia, pede por calmantes e antidepressivos, pois sua vida acabou.
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Casos como este são muito frequentes na ESF, nos ambulatórios especializados
ou mesmo procurando atendimento nos CAPS.
Neste caso, a enfermeira foi mais atenta e ofereceu encontros onde dona Maria
poderia falar sobre estas questões. Grupos com este são espaços para que os sujeitos
possam construir projetos que possam dar novas significações à vida.
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Conclusão
A clínica em saúde mental, álcool e outras drogas é complexa e acontece em
diferentes espaços.
Concluir os casos com “queixas repetitivas” não foi sem intenção. Trata-se de dizer
que na clínica no campo da atenção psicossocial, há construções simples que utilizam
poucos recursos para além da disponibilidade da oferta da escuta.
Conteudistas
Referências
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MORENO, R. A.; MORENO, D. H. (orgs). Transtorno bipolar do humor. São Paulo: Lemos
Editorial, 2002.
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