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VI

 ENCONTRO  JOÂO  dos  SANTOS  


“Quando  o  Movimento,  a  Arte  e  a  Educação  se  cruzam…  
a  Saúde  Mental  acontece”  
 
PAINEL:  ARTE  NA  ESCOLA?  PARA  QUÊ?  
26  de  outubro  de  2018  –  14  h  
Maria  Emília  Brederode  dos  Santos  •  Conselho  Nacional  de  Educação  
Margarida  Moura  •  Faculdade  de  Motricidade  Humana  da  UL  
Pilar  Barrios  Manzano  •  Universidad  de  Extremadura  da  UNEX  
Teresa  de  Eça  •  Sociedade  Internacional  de  Educação  Através  da  Arte-­‐  InSEA    
Moderador:  Domingos  Morais  -­‐  IELT  -­‐  Universidade  Nova  de  Lisboa
Maria Emília Brederode dos Santos, confronta-nos com uma pergunta incómoda: "Para quê, a Arte na
Escola?"
Em três curtas intervenções gravadas e previamente conhecidas dos intervenientes neste Painel, recorda, na
1ª, o reconhecimento da educação artística e o seu contributo para o desenvolvimento harmonioso de
crianças e jovens; na 2ª, os benefícios para a saúde mental de todos os envolvidos na sua prática, alunos,
educadores e instituições; na 3ª, os resultados obtidos noutras disciplinas e áreas do curriculo pelo recurso
às artes de múltiplas e variadas formas.
(gravação realizada no dia 14 de Setembro de 2018)

1º (4’ 25´´) seu principal protagonista, o Prof. Arquimedes (da Silva Santos) que
Lembrei-me de Cocteau (Jean Cocteau, 1889 -1963) que perguntava: pensou, reflectiu e escreveu muito sobre o que era a Educação pela
- "A poesia é absolutamente indispensável. Só gostava de saber Arte e em que consistia e dizia, num livro com o título "Mediações
porquê."1 arte-educacionais"2 que o que se pretende no fundo na Educação pela
E em vez de poesia podia-se dizer a arte em geral… Ou expandir um Arte é "… uma educação da sensorialidade e da psicomotricidade, da
bocadinho o que um professor respondia aos alunos quando eles sociabilidade e da sensibilidade numa intenção integradora e
perguntam - "mas isto para que é que serve?" E ele respondia: "E tu, globalizante", que é uma perspectiva que tem estado um bocadinho
para que é que tu serves?" ausente (…). A atenção está de tal maneira centrada nas disciplinas
Era assim à volta dessas provocações que tinha pensado (a minha consideradas estruturantes que seriam a Matemática e a Língua
participação). materna (…) e há uma pressão tão grande através dos testes
Já muita gente reflectiu sobre isso, para que serve a arte, e eu não vou internacionais (do PISA e outros) e dessas comparações internacionais
meter-me nisso. que acabam por (levar) as escolas a estarem, em meu entender,
Mas pensar um bocadinho para que serve a arte na Escola, isso acho que demasiado centradas nessas aprendizagens e esquecer ou esconder
sim. O papel que a Arte pode ter na Escola que tem sido estudado com outras aprendizagens tão essenciais à vida como serão as
várias respostas possíveis, desde o Herbert Read na linha da Educação aprendizagens artísticas.
pela Arte que dizia "… a Arte permite às crianças desenvolver-se e que Mas tentando pensar porquê, para quê? continuando a pensar nisso,
a educação pela arte não prepararia seres humanos adaptados para os há, claro, a perspectiva de Howard Gardner das várias inteligências3
actos mecânicos e sem sentido que a revolução industrial impôs nem (…) quando ele diz que a Escola está demasiado centrada na
para lazeres desprovidos de finalidades construtivas e diversões inteligência verbal e na inteligência lógico-matemática, mas que
passivas" (eu estou a ler, porque isto é uma citação) "... e para isso também existem outras inteligências - musical, interpessoal, plástica,
conviria uma educação colectiva, uniformizadora e unidimensional útil cinésica, … e que era importante a Escola desenvolver, por um lado,
ao rendimento máximo". para que cada pessoa seja mais rica, globalmente mais rica, por outro
E ele a isto contrapunha a Arte, que pelo contrário "… ao longo da lado também, para identificar e reconhecer os talentos específicos,
história da Humanidade ajudou o pensamento a estruturar-se e a eventuais, de crianças que não sejam particularmente verbais nem
consciência a desenvolver-se". Por isso defende, Herbert Read, que a particularmente lógico-matemáticas.
educação das crianças deve assentar fundamentalmente numa
experiência artística. 2º (4’ 24´´)
E depois, claro, tivemos a nossa Educação pela Arte em Portugal e o Outras perspectivas que têm sido muito defendidas, a função de saúde

                                                                                                                                                                                                                               
1  Discours
de reception de M. Jean Cocteau a l’ Academie
2
Mediacões arteducacionais: ensaios coligidos / Arquimedes da
Française et reponse de M. André MAurois - Le jeudi 20 octobre Silva Santos Lisboa: Fundacão Calouste Gulbenkian, 2008, 404
1955 p.
Edité par GALLIMARD, 1955 3  https://www.tecweb.org/styles/gardner.html  
mental, de equilíbrio entre o sensorial, o sensível, o emocional, o porque … de facto não há melhor maneira de aprender a língua
cognitivo, o entender, evitar a normativização, esse lado preventivo da materna, por exemplo, que através do teatro. Portanto, se entrar
saúde mental também me parece importante num momento em que se por aí, que entre.
sabe como tantas crianças são sinalizadas para tomarem ritalina por Claro que a Arte tem um valor intrínseco e as aprendizagens
serem consideradas hiper-activas. Acho que é o Ken Robinson que artísticas têm um valor intrínseco que é preciso promover, mas
conta que uma criança, um miúdo, passava a vida a mexer-se de um também não creio que seja diminuí-las, reconhecer-lhes esse
lado para o outro e que tinha sido sinalizado como hiper-activo e que papel instrumental, é uma maneira também de diversificar, num
houve alguém que foi lá à escola, olhou para ele e disse "mas momento em que se quer tanto combater o insucesso escolar
experimentem pô-lo num curso de dança". E de facto correu muito mostrar que em vez de estar a fazer os meninos repetir tudo
bem e não foi preciso tomar "ritalina". aquilo que já sabem arranjar outras maneiras de aprender é uma
Também me lembro, na (Escola) Francisco Arruda aqui há uns anos coisa positiva, parece-me.
que os professores lamentavam que todo aquele lado da educação (...)
plástica que existia (…)tivesse sido reduzido e eles diziam que até em Depois há considerações mais de ordem sociológica.
termos de disciplina sentiam que a Escola estava mais tensa, que os Reconhecer que hoje em dia a Escola de massas que ainda existe
miúdos andavam mais tensos e não havia a arte quase como um correspondeu a uma sociedade industrial em que a produção
escape, uma função que não agradará muito aos artistas mas que é estava organizada duma maneira muito hierarquizada com uma
reconhecida nalgumas escolas e por alguns professores. separação clara entre quem concebia, quem planeava e depois
(…) Mas principalmente como um enriquecimento da vida. Para mim quem executava, e com regras e com definições claras de
a grande imagem é a daqueles prisioneiros no filme "Os Condenados funções e regulamentos que era preciso seguir e tudo isso
de Shaushank"4 que estão cá fora (num pátio) e o protagonista põe um encontrava um paralelo e era servido por uma Escola de massas,
disco com a ária da "Rainha da Noite"5 e ouve-se a voz do Morgan como disse, em que também tudo está, ou estava, muito
Freeman, aquela voz fantástica, a dizer; compartimentado. A Escola é organizada em anos, em turmas, o
- "Eu não faço ideia do que é que aquela senhora estava a dizer, que é saber está organizado por disciplinas, também do mais simples
que ela estava a cantar, mas a voz dela elevou-nos e sentimo-nos como ao mais complexo, (…), espera-se que os alunos aprendam a
aves, livres, longe dali”. Uma coisa esplendorosa, e acho que certamente seguir ordens, a seguir regulamentos, a cumprir horários e tudo
a Escola tem quase que essa obrigação de mostrar a meninos, e muitas isso é um bocado posto em causa pelas mudanças actuais, pela
vezes a meninos que não têm acesso a esse tipo de experiência, tem que mudança de Era que estamos a viver, pela revolução tecnológica
os levar também a essa fruição, tem de lhes dar essa fruição cultural. em que as novas empresas já não estão nada organizadas da
(…) mesma maneira e não se pedem as mesmas competências às
Portanto há também um lado de compensação sócio-cultural que creio pessoas. As novas empresas, estas pequenas empresas ou às
que a Escola deveria ter, e que será também o papel das Artes na Escola vezes as grandes mas que estão divididas em unidades pequenas,
e é de sublinhar que muitos estudos sobre como se traduzem são constituídas por pessoas que são as mesmas que concebem,
concretamente as diferenças sócio-económicas e sócio-culturais que planeiam e que executam, quer dizer, não há aquela divisão
mostram que é sobretudo no uso dos tempos livres (…), não é tanto na nas empresas mais antigas, e portanto não há essas fronteiras,
alimentação ou nas férias mas mais como é que depois são utilizados os não há essa separação, são a essas pessoas que se pede que
tempos livres, como é que são passadas as férias, onde é que se vai sejam criativas, que tenham pensamento crítico, que sejam
quando se vai de viajem. Enquanto que os meninos de classes menos capazes de identificar problemas, que sejam capazes de planear
favorecidas terão os tempos livres mais limitados, com actividades mais a solução para esses problemas, que assumam a
limitadas ao Centro Comercial, à Televisão, os outros meninos, ou responsabilidade pelos resultados, que sejam capazes de
meninos mais favorecidos, terão experiências muito mais diversificadas colaborar entre si. São competências muito diferentes e que se
e portanto a Escola é no fundo quase que a única possibilidade de dar a diria (…) que a Escola tem de passar a promover e que as Artes
conhecer essas outras facetas da vida. têm aí um papel muito importante porque as Artes envolvem de
E portanto esse é um lado mais da Arte na Escola como fruição, como facto pensamento crítico, pensamento criativo, muitas das artes
conhecimento, mas há também um lado que me parece muito, muito envolvem também esse lado mais colaborativo e portanto, quase
importante da produção, da autoria, da expressão a que a Educação pela que por inerência, por essência, as aprendizagens artísticas
Arte dará mais atenção e que me parece que é tão importante porque seriam mais adequadas a esse tipo de competências que já estão
justamente a nossa Escola peca tanto por um ensino muito teórico e plasmadas naquele perfil do aluno à saída da escolaridade
muito centrado no conhecimento e portanto permitir que o fazer entre obrigatória do que antes.
nas aprendizagens e que as pessoas possam aprender através do fazer Uma outra dimensão de que acho que ainda é importante falar é
parece-me muito importante e possível mais nas artes do que em outras na dimensão da diversificação. Quando se pergunta aos miúdos
disciplinas. o que acham da Escola há uma frase que vem sempre que é; "A
Escola é uma seca!!" e eu acho que temos tido grandes
3º (5´39´´) progressos por exemplo nos testes internacionais, o desempenho
Depois há outra coisa que irrita muito os artistas e os professores dos alunos tem melhorado muito, mas o gostar da Escola não
das artes que é quando se fala na utilidade das expressões tem melhorado, pelo contrário parece que eles se sentem, diria,
artísticas para outras aprendizagens, ou seja, seriam mais pressionados, há uma pressão grande, a pressão dos
instrumentais para as outras aprendizagens mais importantes, exames, a pressão das notas, das matérias, o próprio uso da
que é sempre o eterno exemplo da música para a ritalina, parece-me excessivo e que é um sinal dessa pressão que
matemática…que (…) A mim confesso que não me choca os miúdos estão a sentir e portanto acho que há também essa
                                                                                                                dimensão da Arte na Escola que permite diversificar o tipo de
aprendizagens e o modo das aprendizagens que me parece muito
4  The Shawshank Redemption, 1994 (Os Condenados de importante para que a Escola não seja como me dizia uma aluna
Shawshank ). Directed by Frank Darabont. With Tim Robbins, há muitos anos, "… o lobo mau que nos persegue e aborrece”
Morgan Freeman, Bob Gunton, William Sadler.
5  Mozart, “A Flauta Mágica”  

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