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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE DIREITO

Resenha Crítica sobre o Artigo “OS LIMITES DA DEMOCRACIA: A legitimidade


do protesto no Brasil participativo”

Aluna:
Regiane Gemaque G. da Silva
Matrícula: 201808027401
Turma 2002

Trabalho da Disciplina Sociologia Jurídica


Professor (a): Karen Santos

Belém – Pa
2019
RESENHA CRÍTICA
“OS LIMITES DA DEMOCRACIA: A legitimidade do protesto no Brasil
participativo”
Autor: Thiago Aparecido Trindade

O artigo intitulado “Os limites da democracia: a legitimidade do protesto no Brasil


participativo” de autoria de Thiago Aparecido Trindade da Universidade de Brasília
(UnB), apresenta como objetivo analisar o contexto brasileiro atual à luz do quadro
analítico sob a seguinte tese “democracia e conflito não podem caminhar juntos”.
O artigo é iniciado com o texto introdutório com a afirmação de que é notório que o
contexto democrático vivenciado pela sociedade moderna foi e é resultado das
intensas lutas e movimentos populares ocorridas no contexto histórico de nosso
país. Assim, o autor ratifica que “é inegável a forte conexão entre o conflito e a
ampliação das garantias democráticas”, ou seja, para se chegar à uma realidade de
igualdade e democracia dos direitos, muitas das vezes se faz necessário passar
pela gestão dos conflitos sociais, o que remete refletir que tal processo de
democratização de direitos sociais não ocorre de maneira natural, e sim, decorre de
reinvindicações realizadas por organizações coletivas de pessoas.
Entretanto, por mais que o autor inicie sua produção tratando da importância dos
protestos e conflitos para a história das conquistas populares, é reforçado que existe
um antagonismo irredutível entre democracia e conflito, situação esta, que baseia a
tese do artigo de que “democracia e conflito não podem caminhar juntos”, já que,
uma reinvindicação de postura indisciplinada e desordenada, corresponde à uma
ameaça à democracia, o que constitui um quadro paradoxal.
Neste sentido, o objetivo do artigo consistiu em “analisar o contexto brasileiro atual à
luz desse quadro analítico”. Sabe-se que, o regime democrático do Brasil foi e ainda
é caracterizado pela institucionalização da mobilização social que finda por conduzir
as orientações político-ideológicas em detrimento ao regime autoritário, situação
esta, que fundamentou o marco histórico da criação e promulgação da Constituição
Federal de 1988. Entretanto, o ponto crítico e de reflexão do artigo, de acordo
Feltran (2005) apud Trindade (2018) é de que, este quadro de transformações
democráticas tem como essência, a necessidade de que a política não emane
apenas ou através de lutas contrárias junto ao Estado, mas sim, de uma construção
em conjunto com o Estado.
Neste contexto, no que diz respeito ao ato de protesto e de democracia, Trindade
(2018, p.4) define o protesto como uma “ação dotada de caráter de político”, e
aborda também que o ato de protestar é um importante instrumento para que as
classes e grupos de “menos favorecidos” se posicionem e interfiram no quadro
político, porém, independentemente do nível de organização de tais grupos, nem
sempre é possível afirmar que interesses específicos dos movimentos sociais
distintos e até mesmo bem estruturados, serão atendidos.
O autor aprofunda sua pesquisa e realiza uma abordagem sobre o início do sufrágio
universal (pleno direito de voto de todos, sem distinção) na França em 1848, que
arruinou gradativamente a ideia da legitimidade da mobilização popular, com o
surgimento da seguinte ideologia: “ora, se é possível provocar mudanças no sistema
político-institucional por meio do voto, como justificar ações coletivas de caráter
“radical” e disruptivo?” (Trindade, 2018, pg. 6), assim, o direito ao voto para todos,
acabou sendo uma estratégia ilusionista que findou por deslegitimar as mobilizações
populares, sob o lema de que, se o povo exercia o poder pelo voto democrático,
para que então, realizar ainda manifestos ou reinvindicações.
Deste modo, o autor acrescenta a obra de Joseph A. Schumpeter (livro Capitalismo,
socialismo e democracia [1942]-1961), pelo qual define democracia como um acordo
institucional para se chegar às decisões políticas, à escolha dos governantes. Na
visão de Schumpeter, a partir desse entendimento e prática competitiva da
democracia, consequentemente surge, o que ele define como teoria elitista da
democracia, a interpretação de que o papel da população é de apenas contribuir
para a competição das elites pelo poder público, ou seja, os indivíduos possuem um
certo “poder de decisão”, em que seus votos passam por uma luta competitiva pelos
grupos da elite, reduzindo assim, a democracia ao processo eleitoral. (TRINDADE,
2018, pg. 7)
O autor acrescenta que existe uma luta constante entre os movimentos sociais e as
elites políticas no que diz respeito à legitimidade do protesto. No que diz respeito à
participação e legitimidade do protesto no Brasil, é inegável, que no período
democrático com a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve um
aumento da interlocução entre Estado e sociedade civil, entretanto, a
problematização do artigo se dá sobre o paradoxo entre o entendimento dos limites
da ação política e da noção de democracia. (TRINDADE, 2018, pg. 10)
Tal quadro de limitação do povo é reforçado pelo autor no momento em que se
utiliza da análise reflexiva de dois anúncios publicitários, um do Governo Federal de
Fernando Henrique Cardoso, e outro da Prefeitura de São Paulo do então prefeito
Gilberto Kassab.
O primeiro consistia numa campanha que […] tratava dos números de assentados
rurais no governo FHC e concluía com a seguinte frase: “a porteira está aberta, pra
que pular a cerca?” (Feltran, 2005 apud Trindade, 2018). Ou seja, as portas do
sistema político estavam abertas às negociações com grupos legítimos, e esta
legitimidade limita-se apenas aos grupos sociais que aceitam e atendem às regras
ditadas pelo poder público.
No segundo caso analisado, que tratava do posicionamento do prefeito de São
Paulo em 2011, sobre a onda de ocupações promovidas por diversas organizações
ligadas ao movimento de moradia, o então prefeito Kassab posiciona e afirma que
“as invasões são incompreensíveis, forçam a quebra de um diálogo que não
interromperemos. Como não abriremos mão de medidas judiciais de reintegração de
posse dos prédios, para retomar os projetos acordados com os próprios invasores”
(Kassab, 2011 apud Trindade, 2018).
Para os dois casos é visível o quadro afirmativo e ao mesmo contraditório de que, as
chances de diálogo, conversa e negociações ofertadas pelo poder público
impossibilitam reinvindicações por parte dos grupos sociais diversos, que não esteja
no patamar aceito e nem tampouco que contradigam ao que é ditado pelos
representantes do poder, assim há poucas oportunidades para que ações
reivindicatórias ocorram sem o uso das vias oficiais, ou seja, há um “crivo”
selecionador e punitivo, assim como, uma limitação da atuação dos órgão
representativos da sociedade civil, situação esta, não aceita para um modelo de
Estado democrático tão pregado em nossa modernidade.
E infelizmente, de acordo com análise do autor, tal procedimento do poder público,
além de limitador da participação das diversas instituições sociais civis, finda por
“criminalizar a luta popular quando ela transborda os limites da institucionalidade”
(Trindade, 2018), assim, movimentos sociais que se utilizam de ações desruptivas,
ações que rompam com um sistema já pré-estabelecido, passam a ser citados num
discurso de criminalização, passam a serem vistos ou comparados como algo
negativo, como ações criminosas ou de vandalismo. O autor acrescenta:
O principal paradoxo é o seguinte: ao mesmo tempo em que governos
locais e instituições internacionais clamam crescentemente pela
“participação da sociedade civil”, respondem com repressão e
criminalização aos movimentos sociais mais conflituosos e aquelas
expressões mais radicais de protesto. Deste modo, um determinado tipo de
participação política é bem-vindo (aquela que se encaixa dentro de um
marco sistêmico e mais reformista, e que inclusive pode contribuir a
legitimar certas ações governamentais), enquanto todas aquelas que
supõem algum tipo de ameaça ou simplesmente uma crítica lúcida são
criminalizadas. Neste contexto, multiplicam-se as dificuldades enfrentadas
pelos protestos e movimentos sociais mais reivindicativos face às novas
políticas de controle social (BRINGEL 2011, pp. 68-69 apud TRINDADE,
2018, p. 11).

Assim, ao mesmo tempo em que se “convida” os atores sociais a participarem dos


mecanismos institucionais da gestão de políticas públicas, criminalizam-se aqueles
que operam “por fora” do campo desejado do poder público. Consequentemente, os
movimentos sociais se viram e se veem pressionados a engajar suas ações pela via
institucional, da maneira mais colaborativa possível para com o sistema político,
ocasionando assim, a força dos grupos aliados. Esta situação é retratada na
seguinte declaração do coordenador do movimento de moradia no âmbito do
Conselho Municipal de Habitação (CMH) do município de São Paulo:

Você participa do conselho, mas no caso do CMH, por exemplo, os


movimentos sabiam que sempre iam perder na votação porque não tinham
maioria. Ou seja, o fato de participar do conselho não é suficiente, então
tem que fazer pressão social (Entrevista, Coordenador do Centro Gaspar
Garcia de Direitos Humanos, em Trindade, 2017, pp. 230-231).

Nesse sentido, a luta da população contribui para a construção de um ambiente


político-institucional, porém, de certa forma, limita e restringe a ação dos
movimentos sociais e suas reinvindicações, que na maioria das vezes serviram e
servem para colaborar com o desenvolvimento dos direitos dos grupos considerados
marginalizados das ações gerais do poder público.
O artigo remete a uma reflexão analítica do atual contexto de construção de políticas
públicas denominado teoricamente como democrático, que paradoxalmente funciona
de maneira limitadora e excludente, e é fundamental para estudos futuros, uma vez
que, remete ao debate da participação política da população, de maneira mais
ampla e aberta, de forma a receber ações de protesto (de movimentos organizados
ou não) como uma maneira legitimada de participação ativa do povo no sistema
denominado democrático.

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