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NOTÍCIAS / TURISMO

TU R ISM O

Em Berlim, uma noite do outro lado do muro
Quase 20 anos após a reunificação alemã, é difícil para um turista vislumbrar a vida na antiga Alemanha Oriental. Era. Em
Berlim, eles agora podem se hospedar no Ostel, "o hostel da DDR", em que tudo remete à RDA.

Quem entra no Ostel dá de cara com uma recepção onde o papel de parede, com desenhos
geométricos em diversos tons de ocre, é pontuado por quatro relógios. Eles informam as horas em
Berlim, Moscou, Pequim e Havana. O fuso horário socialista avisa aos desavisados (que podem ter
entrado atraídos apenas pelos cartazes que anunciam camas a 9 euros do lado de fora): não se trata
de um hostel qualquer.

O Ostel é um hostel temático. Se fosse filme, decerto seria a seqüência de Adeus, Lênin!. A decoração
não é muito diferente de alguns cenários do longa­metragem que virou símbolo da onda de Ostalgie
Um quadro de Willy Stoph, ex­chefão
da RDA, num dos quartos do Ostel
na Alemanha. Ost significa leste – sim, o Ostel é temático até no nome.

“Não somos nostálgicos”, afirma Daniel Helbig, de 35 anos, que abriu
o albergue junto com o amigo Guido Sand, 33 anos. Ambos nasceram e cresceram na República
Democrática Alemã (RDA, ou, na sigla alemã, DDR). “Mas queríamos nos diferenciar de outros hostels e
pensamos: por que não um hostel da DDR?”
Na recepção, relógios mostram a hora
Nos moldes de um lar, doce lar, da RDA
em Berlim, Moscou, Pequim e Havana

O albergue foi inaugurado em maio (precisamente no dia 1º de maio, Dia do Trabalho). Seus 39 quartos
têm traços em comum, como papéis­de­parede retrô parecidos com o da recepção, em incontáveis tons de verde, amarelo e marrom;
rádios dos tempos em que digital era ficção científica; e quadros de figurões da RDA pendurados na parede – como Erich Honecker, que
chefiou o governo da Alemanha Oriental de 1971 a 1989.

A dupla de sócios passou um bom tempo garimpando objetos antigos para
proporcionar a sensação de viagem no tempo. “Ficamos um ano buscando móveis e
objetos para a decoração”, conta Helbig. “Fomos a muitos mercados de pulgas,
contratamos garimpeiros de móveis profissionais e achamos muita coisa na
internet.”

Entre os achados preferidos estão um abajur oriundo do Palácio da República e
móveis que foram usados em escritórios do governo. Mas o maior valor afetivo está
no mostruário logo na entrada do albergue, que traz uma pequena exposição de
Daniel Helbig, um dos sócios
relíquias do passado: brinquedos, vinis, fotos, camisetas, embalagens, símbolos de
times de futebol da antiga RDA e outras pequenezas devem despertar nos alemães
do Leste a mesma nostalgia que a onda de almanaques e festas dos anos 70 e 80 despertou nos brasileiros.

“Acho essa onda de Ostalgie interessante, mas acho que é só mais uma parte dessa
onda de nostalgia em relação aos anos 70 e 80. Claro que eu não desejaria a DDR de
volta; é apenas uma nostalgia em relação àquele look retrô, àquele design específico”,
diz Helbig.

Socialismo é um bom negócio

O modelo socialista parece estar dando certo no mundo capitalista. A dupla está
abrindo mais oito Ferienwohnungen (apartamentos para aluguel por curtas
temporadas) na mesma rua, os Ostel DDR Ferienwohnungen. Para 2008, planejam Relíquias da RDA em exposição
abrir mais um Ostel, desta vez em Dresden.

Mas Helbig garante que eles páram por aí. “Não daria para ir para outras cidades do Leste, como Leipzig, porque não têm turistas
suficientes. E não teria o menor sentido abrir um hostel neste modelo no lado ocidental.”
Em compensação, alemães do oeste também chegam curiosos para conhecer o Ostel – que, se para os
Ossies desperta lembranças do passado, para o Wessies funciona um pouco como um portal para um
mundo que nunca puderam conhecer direito. Eles são, segundo Helbig, a maioria entre os hóspedes.

Nem só mochileiros compõem o público

O público atraído pelo Ostel tem em média 30 a 50 anos, o que já não é a faixa etária mais esperada
para um albergue. E inclui hóspedes que jamais se imaginaria encontrar num hostel. Como o
simpático senhor Hans­Peter Scheel, de 71 anos. Nascido em Berlim, mas morador de Colônia desde
jovem, Scheel voltou à sua cidade­natal em agosto pela primeira vez desde a reunificação alemã.

Ele viu o anúncio do Ostel numa revista, recortou o
endereço e foi direto para lá ao chegar na cidade –
desta vez sem precisar atravessar o Checkpoint
Uma faixa indica a direção para o Charlie, antigo posto de controle pelo qual se
Ostel
chegava a Berlim Oriental, como fizera algumas
vezes nos anos 70 e 80 para visitar parentes do
outro lado do muro. Sua emoção ao voltar para a cidade parecia potencializada por
estar entre paredes que despertavam tantas lembranças.

Hans­Peter Scheel no Ostel, em sua primeira visita a
“É nostalgia pura”, disse ele depois de fazer um check­in para um quarto individual.
Berlim após a reunificação
“Eu podia ter feito uma reserva num hotel comum, mas resolvi passar aqui meio no
escuro para ver se tinha algum quarto. Por motivos nostálgicos mesmo. Eu cresci aqui,
meus pais moravam por essas redondezas. Agora vou passear pelas ruas. Quero visitar a minha escola e ver o lugar onde eu nasci.”

Preços de 9 a 59 euros

O Ostel fica ao lado da Ostbahnhof, uma das principais estações de trem do lado oriental da cidade, num antigo prédio pré­fabricado dos
dias socialistas. Tem quartos individuais, duplos e para seis pessoas – são estes últimos que têm feito mais sucesso, graças ao imbatível
preço de 9 euros pelo pernoite.

Nos demais, a diária custa 38 euros (quarto individual) e 59 euros, no duplo. Os
quartos são claros, arejados e confortáveis – o tema “DDR” não significa que o
conforto tenha que ficar do lado de fora.

“Estamos gostando muito de ficar aqui. Os preços são bem razoáveis e o quarto é
limpo e agradável”, disse a dinamarquesa Birgit Chang, que se hospedou no Ostel
com o marido, Jesse Chang, e a cachorra da raça dobermann pinscher, Foxy Roxy.

"Você vai a tanto hotel no mundo de três, quatro estrelas, sempre com bom serviço,

O casal Birgit e Jesse Chang: férias de hotéis de rede boas instalações, mas sempre iguais, absolutamente previsíveis”, diz ela, experiente
no assunto graças ao trabalho para o Ministério dinamarquês das Relações
Exteriores.

Quadros de Erich Honecker e seus amigos na parede, uma Suíte­Stasi (o serviço secreto
da RDA), um pequeno museu da RDA... Há alguma declaração política por trás do
Ostel? “De forma alguma! Não temos nada a ver com política”, garante Helbig. “E se
hoje é politicamente incorreto pendurar as fotos de Honecker e cia. na parede dos
quartos, não estamos seguindo bem o modelo da época.”

Foto de Horst Sindermann, que foi presidente da Câmara
do Povo (Parlamento alemão oriental) de 1976 a 1989

L EIA M AIS

Museu oferece olhar controverso sobre cotidiano do lado oriental
Enquanto alguns consideram a exibição de objetos relacionados ao dia­a­dia da Alemanha Oriental importante para se compreender o extinto país,
outros acham que ela atenua a brutalidade de uma ditadura.  

"Ostalgie" enche bolsos de camelôs e lojas de internet
Após 15 anos de reunificação, Alemanha vive febre retrô­socialista. Para entrar no estilo do Leste alemão, vale comprar quepe de polícia, uniforme
esportivo, placa de carro e até refrigerante "comunista".  

O fim da República Democrática Alemã
Há 15 anos, o Parlamento da Alemanha Oriental – então comunista – decidiu­se pela fusão com a parte ocidental e, portanto, pela unificação do país. Um
momento histórico que pôs fim a 45 anos de Guerra Fria.  

Data 08.09.2007

Autoria Júlia Dias Carneiro

Palavras­chave Ostel, Hostel DDR, hostel RDA, hostel Berlim, Berlim Oriental, Ostalgie

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M AIS D A M ESM A ED ITOR IA

Angkor Wat 06.02.2017 Grand Canyon 06.02.2017 Taj Mahal 06.02.2017


Esse símbolo da arquitetura Quem para às margens desse Cerca de 17 anos foram necessários
Khmer, com seus sofisticados despenhadeiro pode contemplar no para a conclusão da construção,
sistemas de irrigação e ruínas de Grand Canyon, nos Estados cuja arquitetura mescla os estilos
arenito, impressiona viajantes e Unidos, milhões de anos de persa e indiano. O Taj Mahal foi
historiadores em Angkor Wat, no evolução geológica. considerado Patrimônio da
Camboja. Humanidade pela Unesco.

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