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NOTÍCIAS / CULTURA

C U LTU R A

Escritor Uwe Johnson é lembrado nos 30 anos de sua morte
Um dos maiores autores do país, Johnson conta em suas obras parte da história da Alemanha dividida no pós­guerra.
Morto em 1984, ele completaria 80 anos em 2014 e é lembrado com a esperança de que seja mais lido.

Quem ainda lê hoje em dia Uwe Johnson? Alunos de estudos germânicos ou aficionados da literatura alemã do pós­guerra, quem mais?
Bem, O tambor, de Günter Grass, ou Bilhar às nove e meia, de Heinrich Böll, também são livros de décadas passadas, que são percebidos
por muitos, hoje, somente como leitura obrigatória. Também por esse motivo eles são lidos. Mas Johnson?

Críticos e estudiosos de literatura logo chegaram a outros veredictos: após a publicação de dois dos quatro volumes de Jahrestage
(Aniversários, em tradução livre), a principal obra do autor, Günter Blöcker escreveu: "Com esse volume, Johnson deixa para trás todos os
autores de sua geração, tanto um Grass quanto um [Martin] Walser." Blöcker não era o único a pensar assim.

No ano comemorativo de 2014, Uwe Johnson talvez possa ter a esperança de ganhar mais leitores, talvez também aqueles de uma geração
mais jovem. Por dois motivos: Johnson morreu há 30 anos, na madrugada de 24 de fevereiro de 1984, numa ilha do rio Tâmisa, para onde
ele havia se retirado dez anos antes. E, há 80 anos, ele nasceu, precisamente no 20 de julho do quente verão de 1934, em Cammin, uma
pacata cidade da Pomerânia.

Raízes no norte da Alemanha

Os jubileus de morte e nascimento do escritor são agora lembrados em 2014. Em jornadas científicas, jornais e publicações literárias.
Principalmente no norte da Alemanha, a terra natal do autor, em Neubrandenburg, onde a cada dois anos é outorgado um alto prêmio
literário que leva o nome do autor.

Neste ano, o prêmio vai para o escritor Lutz Seiler, que aborda em seu novo romance Kruso, lançado no final do ano passado, o destino
dos habitantes da antiga Alemanha Oriental que queriam deixar o país através do Mar Báltico. No vilarejo de Klütz, no distrito de
Nordwestmecklenburg, encontra­se a Casa Literária Uwe Johnson. Ali, o prêmio será entregue a Seiler em 19 de setembro.

Da província para o mundo, a vida de Johnson foi marcada por todo tipo de ruptura. A história mundial – com a Segunda Guerra e a
divisão da Europa, com duas potências e uma pátria dilacerada – influenciou a obra literária de Johnson tanto quanto a sua vida privada.
E não é nenhuma exasperação dizer que esse dilaceramento também custou sua vida.

Mudança de sistemas

"Grandes e pequenas historiografias, uma representação da realidade tão precisa quanto poética, isso impulsionou o escritor." Foi assim
que o crítico literário Volker Weidermann descreveu uma vez a obra de Johnson.
É uma obra que surgiu a partir da história de vida. Após a Segunda Guerra, os pais fugiram para o norte da Alemanha. Seu pai foi levado
então para um campo soviético de prisioneiros, onde morreu em 1946. Johnson frequentou a escola em Güstrow, foi à universidade em
Rostock e Leipzig, protestou na época contra a arbitrariedade na Alemanha Oriental.

A mãe fugiu para Berlim Ocidental em 1956, o filho seguiu três anos depois. Naquele
mesmo ano, foi lançado o seu primeiro romance, Mutmassungen über Jakob
(Especulações sobre Jakob, em tradução livre).

Foi um grande ano para a literatura alemã. Em 1959 foi publicado também O
tambor. Uwe Johnson fazia parte do Grupo 47, a lendária união de autores alemães
de 1947 a 1967, que tanto viria a moldar a literatura do país no pós­guerra.

Mutmassungen über Jakob começa com a frase "Mas Jakob sempre cruzou os

Busto de Johnson na praça da catedral de Güstrow, no trilhos." O autor também nunca respeitou as correntes de época, a autoridade e as
norte alemão convenções literárias. No livro, o leitor se depara pela primeira vez com figuras
literárias, que reapareceriam em trabalhos posteriores como Jahrestage.

Político e privado

As personagens de Johnson estão sempre presas no curso dos eventos. Político e privado se misturam. República Federal da Alemanha,
Otan, República Democrática Alemã e Stasi se tornam os principais atores, assim como os levantes na Europa Oriental.

E no meio de tudo isso, Jakob, o indivíduo. Johnson construiu literatura a partir da
vida: polifônica e fragmentária. "Com um estilo narrativo sugestivo e tateante, ele
tentou abordar as tramas entre relações privadas e políticas, os deslocamentos de visões
pessoais em diferentes realidades sociais", explica um volume sobre a literatura
mundial de 1982. "Possíveis desenvolvimentos são repassados à apreciação do leitor, o
autor divide a sua impotência com as personagens."

Também os romances seguintes de Johnson não foram uma leitura fácil. Dois anos
mais tarde, O terceiro livro sobre Achim, e então a obra­prima de Johnson
Jornalista Walter Schmieding e Uwe Johnson em 1973
Aniversários (1979­1983). Eram quatro volumes, quase 2 mil páginas, um dos projetos
mais ousados da literatura alemã do pós­guerra. Também aqui aparece a ligação entre
o político e o privado, entre documentário e ficção – suas narrativas foram sobre e justapostas. Do ponto de vista do escritor, não se pode
falar de um estilo narrativo autoral – ele compilou a simultaneidade da vida em forma literária.

Panorama da história alemã

Jahrestage. Aus dem Leben von Gesine Cresspahl ("Aniversários. Da vida de Gesine Cresspahl", em tradução livre) resume aquilo com que
Johnson se ocupava e onde ele morava: Mecklenburg e Nova York, província e metrópole. A "história" narrada no livro vai do fim da
República de Weimar, passa pela antiga Alemanha Oriental e chega até a repressão da Primavera de Praga. Mais tarde, a cineasta
Margarethe von Trotta viria a levar o livro às telas.

Posteriormente, no entanto, as exigências da vida viriam a se tornar difíceis demais para a pessoa de Uwe Johnson. Depois que ele se
mudou para uma ilha do Tâmisa, em Kent, ele enterrou­se em seus medos. Começou a beber e, com 49 anos, morreu de ataque cardíaco.

À literatura alemã, ele deixou uma obra única, incomparável, nada fácil de conquistar e superar. "Por meio de sua linguagem, Johnson
tentou transmitir ao leitor os seus questionamentos intelectuais diante da realidade captada por ele", afirmou o cronista literário Heinz
Ludwig Arnold. E Johnson é um verdadeiro autor moderno da língua alemã. Por esse motivo, é bom que ele seja tão lembrado neste ano. E
talvez mais lido.

L EIA M AIS

"O Tambor" de Grass deu projeção internacional à literatura alemã no pós­Guerra
Há 50 anos, Günter Grass publicava um romance cujo impacto ultrapassaria as fronteiras do espaço de língua alemã. "O Tambor" representa até hoje um
marco significativo da literatura mundial. (14.09.2009)  

A Literatura Alemã após 1945
Após a guerra, imperou o realismo socialista na República Democrática Alemã. Na RFA, a Alemanha Ocidental, os escritores trataram de recuperar o
isolamento cultural das tendências modernas. (01.01.1970)  

Data 22.07.2014
Data 22.07.2014

Autoria Jochen Kürten (ca)

Assuntos relacionados Nina Hagen, Stasi, Trabant

Palavras­chave Uwe Johnson, Stasi, pós­guerra, Alemanha Oriental

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