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Curso de Graduação a Distância

Filosofia
Política I
(02 créditos – 40 horas)

Autor:
Clacir Bernardi

Universidade Católica Dom Bosco Virtual


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Missão Salesiana de Mato Grosso
Universidade Católica Dom Bosco
Instituição Salesiana de Educação Superior

Chanceler: Pe. Gildásio Mendes dos Santos


Reitor: Pe. Ricardo Carlos
Pró-Reitora de Graduação: Profª. Rúbia Renata Marques
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori
Coordenadora Pedagógica: Profª. Blanca Martín Salvago

Direitos desta edição reservados à Editora UCDB


Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335
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UCDB -Universidade Católica Dom Bosco
Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302
CEP 79117-900 Campo Grande – MS

BERNARDI, Clacir.
Disciplina: Filosofia Política I.

Clacir Bernardi. Campo Grande: UCDB, 2019. 99 p.

Palavras-chave:
1. Filosofia política. 2. Origens da Filosofia. 3. Idade
Média. 4. Modernidade.

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO

Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe
multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que
norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do
seu curso.

Elementos que integram o material


Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para
a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina.
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-
trapassar o prazo máximo indicado pelo professor.
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-
fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo.
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você
possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para
facilitar seu acesso aos materiais.
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo.
As datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Como tirar o máximo de proveito


Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros
conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de:
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas
de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA;
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas
audiovisuais, vídeo-aulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.;
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto
a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros;
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas
necessidades como estudante, organize o seu tempo;
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-
gem, contando com a ajuda e colaboração de todos.

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Objetivo Geral
Compreender os fundamentos da filosofia política e sua evolução histórica.

SUMÁRIO

UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FILOSOFIA POLÍTICA ................. 13


1.1 Indivíduo e grupo....................................................................................................14
1.2 Filosofia Política ......................................................................................................19

UNIDADE 2 – ORIGEM DA FILOSOFIA POLÍTICA .................................................. 24


2.1 Primórdios ..............................................................................................................24
2.2 Os Sofistas .............................................................................................................26
2.3 Platão (428/427 – 348/347 a.C) ...............................................................................28
2.4 Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) .................................................................................32
2.5 Cícero e o mundo romano ........................................................................................35

UNIDADE 3 – CONSTRUÇÃO DE UMA FILOSOFIA POLÍTICA DA IDADE MÉDIA .... 40


3.1 Introdução histórica ................................................................................................40
3.2 A Patrística .............................................................................................................42
3.3 Santo Agostinho – Uma cidade celeste ......................................................................43
3.4 Escolástica - Tomás de Aquino – o Bem comum ........................................................44
3.5 Guilherme de Ockham – vontade, razão e fé .............................................................47

UNIDADE 4 – FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA – O RENASCIMENTO ................... 50


4.1 Introdução histórica – passagem para a ciência moderna ...........................................50
4.2 Filosofia renascentista .............................................................................................53
4.3 Política do humanismo .............................................................................................53
4.4 Absolutismo ............................................................................................................65

UNIDADE 5 – FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA – A FILOSOFIA ILUMINISTA ...... 69


5.1 Noções básicas – A força da razão ............................................................................69
5.2 Jusnaturalismo e contratualismo ...............................................................................70

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 89
EXERCÍCIOS E ATIVIDADES ................................................................................. 92

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Avaliação
A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da
avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa
aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc.
A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final de
cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao longo
de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o processo
será avaliado, pois a aprendizagem é processual.
Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as
atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre
exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática.
As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de
cada disciplina.

Critérios para composição da Média Semestral:

Para compor a Média Semestral da disciplina, leva-se em conta o desempenho


atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas
diferentes atividades virtuais e na(s) prova(s), da seguinte forma: Somatória das notas
recebidas nas atividades virtuais, somada à nota da prova, dividido por 2. Caso a disciplina
possua mais de uma prova, será considerada a média entre as provas.
Média Semestral: Somatória (Atividades Virtuais) + Média (Provas) / 2
Assim, se um aluno tirar 7 nas atividades e 5 na prova: MS = 7 + 5 / 2 = 6
Antes do lançamento desta nota final, será divulgada a média de cada aluno, dando
a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 7,0
possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais e/ou a Segunda Chamada. Após a
Segunda Chamada, será feito o lançamento definitivo da Média Semestral.
Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda
poderá fazer o Exame Final. A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral
deverá ser igual ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina.
Assim, se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final: MF = 6 + 5
/ 2 = 5,5 (Aprovado)

FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES

O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu
cronograma e tenha um controle de suas atividades:

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AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO **

Atividade 1.1
Ferramenta: Tarefa

Atividade 2.1
Ferramenta: Tarefa

Atividade 3.1
Ferramenta: Tarefa

Atividade 4.1 - Livre _________


Ferramenta: Tarefa

Atividade 5.1 - Livre _________


Ferramenta: Tarefa

* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o
calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem).
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade.

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BOAS VINDAS

Olá, seja bem-vindo (a) às discussões sobre Filosofia Política.


Os grandes pensadores articularam sua Filosofia a partir de reflexões acerca das
mais diversas áreas que envolvem a vida do homem e, dentro destas, a Política
desempenha papel fundamental.
É importante termos argumentos que nos permitam ver, entender e propor saídas
para a sociedade em que vivemos. A participação na “Pólis”, como diziam os gregos, é o
empenho de cada um de nós para que essa seja cada vez mais construtora da justiça.

Bons estudos.

Prof. Clacir

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Pré-teste
A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos
prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta
disciplina. Não fique preocupado com a nota, pois não será pontuado.

1. “[...] os traços pelos quais a democracia é considerada forma boa de governo


são essencialmente os seguintes: é um governo não a favor dos poucos mas dos
muitos; a lei é igual para todos, tanto para os ricos quanto para os pobres e
portanto é um governo de leis, escritas ou não escritas, e não de homens; a
liberdade é respeitada seja na vida privada seja na vida pública, onde vale não o
fato de se pertencer a este ou àquele partido mas o mérito.” (BOBBIO, 1987, p.
141).
I. Todos os cidadãos submetem-se a uma elite, formada pelos ricos, que governa
privilegiando seus interesses particulares.
II. Todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma maneira,
perante as leis e os costumes da pólis.
III. Todos os cidadãos têm a liberdade de expor, na assembleia, seus interesses e suas
opiniões, discutindo-os com os outros.
IV. Todos os cidadãos devem pertencer a um partido para que suas opiniões sejam
respeitadas.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e IV estão corretos.
c) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
d) Apenas os enunciados II e IV estão corretos.

2. “Toda cidade [pólis], portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as


primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma
coisa é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma
criação natural, e que o homem é por natureza um animal social, e um homem que
por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria
desprezível ou estaria acima da humanidade.” (ARISTÓTELES, 1997, p. 15) De
acordo com o texto de Aristóteles, é correto afirmar que a pólis:
a) É instituída por uma convenção entre os homens.
b) Existe por natureza e é da natureza humana buscar a vida em sociedade.
c) Passa a existir por um ato de vontade dos deuses, alheia à vontade humana.
d) É estabelecida pela vontade arbitrária de um déspota.

3. (Puccamp) Preparando seu livro sobre o imperador Adriano, Marguerite


Yourcenar encontrou numa carta de Flaubert esta frase: "Quando os deuses
tinham deixado de existir e o Cristo ainda não viera, houve um momento único na
história, entre Cícero e Marco Aurélio, em que o homem ficou sozinho". Os deuses
pagãos nunca deixaram de existir, mesmo com o triunfo cristão, e Roma não era o
mundo, mas no breve momento de solidão flagrado por Flaubert o homem
ocidental se viu livre da metafísica - e não gostou, claro. Quem quer ficar sozinho
num mundo que não domina e mal compreende, sem o apoio e o consolo de uma
teologia, qualquer teologia? (VERÍSSIMO, 2010, p. 208). A compreensão do
mundo por meio da religião é uma disposição que traduz o pensamento medieval,
cujo pressuposto é:

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a) O antropocentrismo: a valorização do homem como centro do Universo e a crença no
caráter divino da natureza humana.
b) A escolástica: a busca da salvação através do conhecimento da filosofia clássica e da
assimilação do paganismo.
c) O panteísmo: a defesa da convivência harmônica de fé e razão, uma vez que o Universo,
infinito, é parte da substância divina.
d) O teocentrismo: concepção predominante na produção intelectual e artística medieval, que
considera Deus o centro do Universo.

4. “Sabemos que Hobbes é um contratualista, quer dizer, um daqueles filósofos


que, entre o século XVI e o XVIII (basicamente), afirmaram que a origem do
Estado e/ou da sociedade está num contrato: os homens viveriam, naturalmente,
sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto
firmado por eles, estabelecendo as regras de comércio social e de subordinação
política” (RIBEIRO, 2000, p. 53). Com base no texto, que se refere ao
contratualismo de Hobbes, analise os enunciados a seguir:
I. A soberania decorrente do contrato é absoluta.
II. A noção de estado de natureza é imprescindível para essa teoria.
III. O contrato ocorre por meio da passagem do estado social para o estado político.
IV. O cumprimento do contrato independe da subordinação política dos indivíduos.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
d) Apenas os enunciados II e IV estão corretos.

5. “A liberdade natural do homem deve estar livre de qualquer poder superior na


terra e não depender da vontade ou da autoridade legislativa do homem,
desconhecendo outra regra além da lei da natureza. A liberdade do homem na
sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele
estabelecido por consentimento na comunidade civil [...]” (LOCKE, 1994, p. 95)
I. No estado civil as pessoas são livres porque inexiste qualquer regra que limite sua ação.
II. No estado pré-civil a liberdade das pessoas está limitada pela lei da natureza.
III. No estado civil a liberdade das pessoas edifica-se nas leis estabelecidas pelo conjunto
dos membros dessa sociedade.
IV. No estado pré-civil a liberdade das pessoas submete-se às leis estabelecidas pelos
cidadãos.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados e IV estão corretos.
c) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
d) Apenas os enunciados II e IV estão corretos.

6. Leia o texto a seguir.


Estado Violência
Sinto no meu corpo
A dor que angustia
A lei ao meu redor
A lei que eu não queria
Estado violência
Estado hipocrisia
07A lei que não é minha
A lei que eu não queria (...)
(TITÃS, 1986, 1 CD, Faixa 5 (3’07”).)

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A letra da música “Estado Violência”, dos Titãs, revela a percepção dos autores
sobre a relação entre o indivíduo e o poder do Estado. Sobre a canção, é correto
afirmar que:
a) Mostra um indivíduo satisfeito com a sua situação e que apoia o regime político instituído.
b) Representa um regime democrático em que o indivíduo participa livremente da elaboração
das leis.
c) Descreve uma situação em que inexistem conflitos entre o Estado e o indivíduo.
d) Apresenta um indivíduo para quem o Estado, autoritário e violento, é indiferente à sua
vontade.

7. “O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe de Maquiavel, em


particular a interpretação segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada
para a conquista e conservação do Estado, é uma ação que não possui um fim
próprio de utilidade e não deve ser julgada por meio de critérios diferentes dos de
conveniência e oportunidade” (BOBBIO, 1984. p. 14.). Com base no texto e nos
conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder político é:
a) Independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao
âmbito político.
b) Independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem respeito à esfera privada
da vida em sociedade.
c) Dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela Igreja.
d) Dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais válidos universal e
necessariamente.

Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Questionário.

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INTRODUÇÃO

A vida do homem tem um componente biológico que o iguala aos animais, ou seja,
ele é como qualquer outro ser orgânico da natureza que tem seu espaço natural, tem seu
ciclo natural e está na relação com os outros seres também de forma natural.
Ocorre que, no processo de desenvolvimento, o homem construiu processos que o
diferenciaram dos outros seres da natureza. Ele buscou na razão a forma de superação em
função das dificuldades físicas que tinha em relação aos outros elementos da natureza. Esta
razão permitiu a ele as concepções da técnica e da ciência acumulando conhecimentos que,
como que um traço genético, passa a fazer parte de sua vida.
Ao mesmo tempo que vai se acercando desse saber ele passa a se relacionar de
forma mais elaborada com os seus semelhantes criando elementos de ligação. A cultura, as
leis, a religião, a moral são criações do homem para poder potencializar o saber que foi se
acumulando cada vez mais no seu arcabouço genético.
Tal relação fez surgir a família, as comunidades até se chegar a formas mais
elaboradas com sistemas mais intrincados com o fito de melhora de sua sobrevivência e a
perpetuação da espécie – é o Estado.
O Estado, para ser organizado, depende de uma série de fatores como o tempo, o
espaço, as necessidades, as forças envolvidas, os valores. Ele é um amálgama de situações
que tenta buscar, da melhor forma possível, a felicidade entre os homens (as pessoas) que
fazem parte dele através de um elemento fundamental, a justiça.
Como os homens são diferentes e livres não é possível se organizar algo que satisfaça
a todos, mas é possível discutir sobre isso e chegar a pontos comuns a esse debate
chamamos política.
Todos os filósofos, de uma forma ou de outra trataram de trabalhar esse elemento
importante que faz parte da vida do homem. Por isso temos a Filosofia Política com
discussão e aprofundamento onde se tenta entender o que os pensadores refletiram e as
soluções que deram aos problemas de sua época.
Nesta disciplina trabalhar-se-á em cinco unidades os principais pensadores que
marcaram a Filosofia Política até os contratualistas que propuseram um tipo de Estado que
é o que marca a política hoje.
Na unidade 1, trabalha-se conceitos fundamentais de Filosofia Política tecendo uma
reflexão da percepção da importância do ser social do homem.
Na unidade 2, serão tratados os primórdios da Filosofia Política desde os gregos até o
mundo Romano.

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Na unidade 3, os temas serão da Idade Média com destaque à Filosofia cristã
especialmente Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Na unidade 4, o destaque é a passagem da Idade Média para a Idade Moderna
especialmente o humanismo nas figuras centrais de Maquiavel e Thomas Morus.
Na unidade 5, leva-se em consideração o grande debate da Filosofia Política através
dos Contratualistas especialmente Hobbes, Locke e Rousseau, não esquecendo
Montesquieu.

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UNIDADE 1

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FILOSOFIA


POLÍTICA
OBJETIVO DA UNIDADE: Identificar os principais conceitos que envolvem a discussão
da filosofia política entendendo o homem, a vida social e o que envolve esse
relacionamento.

Os seres humanos (homem e mulher) são indivíduos dentro do universo, espalhados


em um planeta, fazem parte de uma ordem natural que recebem pronta e da qual
dependem para sobreviver. E, como indivíduos, iguais a todos os outros seres, enfrentam os
inúmeros problemas que se lhes são colocados.
No Estado de Natureza, como afirmam os filósofos contratualistas (Hobbes, Locke,
Rousseau), o mundo está à sua disposição para fazer o que quiser. Tem tudo à sua
disposição e nada lhe é proibido. A única restrição que tem são as leis naturais que são
restrições para todos os seres da natureza (BOBBIO, 1985).
Mas o homem, é diferente dos outros seres, pois sua capacidade racional faz com
que crie mecanismos que o leva a superar as dificuldades encontradas na natureza. Essa
superação se dá quando o homem se junta com outros homens para organizar sociedades e
é nelas que são superados os revezes que a natureza cria.
Aristóteles (1979), afirma que o homem é um animal social. Só não precisa dos
outros para sobreviver, a besta (o animal irracional) porque é irracional ou os deuses
porque se bastam por si.
O homem tem inúmeras atitudes que, mesmo vivendo em sociedade, o desabonam
para tal. Desde o começo da civilização ele tem sido violento, pois aparecem as guerras,
escravidão, tiranias que tiveram e têm as mais diversas origens como questões econômicas,
disputas de espaço, religião, etnia, etc. Mesmo assim há uma preocupação de superação
dos instintos de destruição por organizações que produzam a paz e a boa convivência.
Nessa relação de convivência é necessário construir parâmetros que garantam que
todos os que fazem parte de tal grupo tenham possibilidade de viver com igualdade e é isso
que garante que eles se protejam e superem os outros seres naturais.
A reflexão, ao longo do tempo, tem cuidado entender, investigar e propor saídas
para garantir a superação da barbárie por meio da afirmação da associação. Aliás, viver com
os outros é a saída mais coerente para o homem superar as dificuldades do mundo natural
e diria até que é o que vai aproximar os homens aos deuses. Os trabalhos de Hércules nada
mais são que imposições dos deuses e a superação que o herói faz nada mais é do que a
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superação que a humanidade faz das dificuldades encontradas na natureza trabalhando e
criando alternativas de convivência para alcançar objetivos comuns.
A arte de conviver se dá a partir da instituição de uma ciência que permite conhecer
o homem com os outros homens e sua busca constante de felicidade. Essa arte/ciência é a
Política que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa
com a felicidade individual do homem na Cidade-Estado, ou pólis) e na política
propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva).
Política é a ciência da governação de um ente coletivo seja ele família, associação,
Estado ou Nação. O certo é que ela tem que buscar entender os meandros dos
relacionamentos humanos e sua colocação em lugares bem como oferecer alicerces práticos
de proteção dos indivíduos que fazem parte dela garantindo o desenvolvimento. Por isso,
ela é a arte de negociação que deve compatibilizar interesses que muitas vezes são
divergentes. A reflexão política tem que levar ao entendimento do indivíduo, de sua atuação
como indivíduo e de seu espaço na relação com os outros.

1.1 Indivíduo e grupo

As comunidades humanas estão organizadas sobre elementos que são responsáveis


em garantir a coesão das pessoas. São o motivo que os indivíduos têm para permanecer ou
não naquele grupo. As comunidades humanas impulsionam cada um a “vestir a camisa” do
local e trabalhar para que ele cresça, o que garante o desenvolvimento de todos. É uma
troca de elementos: eu trabalho para o todo e o todo cresce e isso permite que eu tenha
também o desenvolvimento. Por isso a coesão local é o que permite aos grupos que se
entrelacem por meio dos indivíduos e dos vínculos que estes indivíduos têm.
As relações humanas são percebidas na cultura própria de cada local. E a cultura é
um termo que vem carregado de muitos elementos. Aliás, o professor Fidélis (2008),
trabalha largamente este termo e não o esgota. O que parece importante aqui é que há um
ponto na cultura que deve ser destacado, que são os sistemas simbólicos que fazem parte
do patrimônio local. Entender este sistema simbólico é entender as pessoas, seus valores e
as relações que os envolvem mesmo porque o sistema simbólico se forma na vivência
histórica do próprio grupo.
Esse sistema construído historicamente tem significados diferentes em tempos
diferentes. Também é formado em cada região, dependendo dos fatores de cada local. É
uma construção que dá significado fundamental ao agir das pessoas. Os símbolos não são
mitos, não são alegorias sem função, eles são reais, talvez mais reais do que aquilo que

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simbolizam. Eles formam um sistema que representam a própria vida da sociedade onde se
sedimentam.
Os sistemas simbólicos são plasmados por elementos fundamentais e fundantes de
um determinado grupo que pode ser desde uma comunidade local até uma sociedade mais
complexa. São fundamentais, pois são os fatores que representam a própria vida das
pessoas e são fundantes, pois são base para esta própria sociedade.
É claro que as relações sociais são complexas por formarem uma teia que vai se
abrindo a ponto de ganhar contornos universais. Cada indivíduo tem claro em sua
consciência os elementos que fazem parte do sistema simbólico dos grupos aos quais
pertence. Entendendo isso ele entende os valores e os vive de forma intensa ligando-o ao
grupo, fazendo o grupo crescer e crescendo com o grupo.
Tem-se que entender que os indivíduos fazem parte de grupos como as famílias, as
comunidades e as sociedades mais complexas, passando por Estados e a comunidade
mundial. O indivíduo que está dentro desse emaranhado tem que entender todos os valores
que envolvem as relações. E mais, entre os grupos há valores que fazem com que os
grupos consigam viver entre si. Nesta situação surgem relações em que se têm vínculos
entre os grupos primários e vínculos entre os grupos secundários e há relação entre os
primários e os secundários.
Os vínculos que geram os grupos primários são fruto de um espírito coletivo que tem
como características a aproximação, herança familiar, língua, afetividade, laços de
proximidade, hierarquia. Ligam as pessoas por um pertencimento que forma um grupo
restrito ao qual podemos dar o nome de comunidade. Esta comunidade tem dois níveis: o
nível retórico, que mostra como se justificam e como se apresentam os valores da
comunidade e o nível performático, que mostra como se faz, como se materializam os
valores desta comunidade. É no local onde as vinculações entre os indivíduos se dão de
forma espontânea.
Estes pequenos grupos estão ligados a grupos maiores. São os grupos secundários,
em que os vínculos que os formam são mais complexos, pois eles aparecem graças a pactos
feitos entre indivíduos, entre indivíduos e outros grupos e entre os grupos. São associações
maiores e se constituem pela racionalidade e intencionalidade, originando elementos de
coesão mais complexos e exigentes como os sistemas jurídicos.
Estas duas formas de organização não vivem separadas. Elas têm aspectos de
coesão entre si. Se não existissem os grupos primários não haveria os secundários e sem os
secundários os primários não sobreviveriam. Por exemplo, uma pequena associação que
produz artesanalmente determinado produto. Em princípio este produto é feito a partir de
uma necessidade local, com o tempo o grupo pode perceber que pode ter outras vantagens
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com o tal produto, por isso, precisa ter conhecimento da realidade mais ampla para que a
sua produção tenha mercado maior e não apenas o local. A necessidade de
desenvolvimento do mercado para o dito produto mostra a necessidade de conhecer o
macro. Esta relação só é possível se houver vínculo entre as comunidades mais restritas em
pessoas e espaço e as sociedades mais amplas.
Ora, se o indivíduo tem vantagens quando o grupo em que está se desenvolve e faz
tudo para que ele possa crescer cada vez mais, também as comunidades têm que ter
relação com os grupos maiores, até as sociedades globais. Para isso há uma grande
necessidade de ter claro e entender os valores que englobam este complexo todo que
envolve o homem como indivíduo, grupos primários e grupos secundários.
Nas modernas reflexões, quando se busca entender as relações que constroem a
sociedade com todos seus valores, elementos que aglutinam e que separam, controles, etc.
não se usa mais o termo indivíduo, mas trabalha-se com um termo mais apropriado para
dar significação melhor, este termo é o sujeito. O sujeito é parte integrante de todo o
processo de entendimento da sociedade. Ele é parte das estruturas que determinam o
mundo que o rodeia. Ele transforma e é transformado por estas estruturas.
É nessa relação que se formam os espaços e os territórios, é aí que se percebe a
ação do sujeito que só é social quando leva em conta a ação do outro. Segundo Weber
(1998), esta relação não é como se fosse com um objeto, por exemplo, a relação com a
chuva. Tem que ser uma ação significativa entre os sujeitos em que haja uma efetiva
reciprocidade, e aí sujeitos tornam-se atores, protagonistas de uma vida dentro de um
sistema social. Eles não têm um papel programado e nem atuam em uma lógica única, eles
têm um lugar de encontro onde aparece o que é lugar comum.
O sujeito-ator se encontra em um ponto e a partir deste ponto ele vai construindo o
espaço. Este ponto não é um privilégio em relação aos outros elementos, ele é a origem da
representação que fornece o suporte egocêntrico da representação e é a manifestação do
eu em relação aos outros. A partir deste ponto o ator vai se deslocando conforme
interesses, intenções e relações e vai se desenvolvendo criando o espaço. O espaço
construído pelo ator comunica suas intenções e organiza uma realidade material. Esta
realidade material é o território, mas território de um ator.
Raffestin (1993, p. 50), assim identifica território: “o território se forma a partir do
espaço, é resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um
programa) em qualquer nível”. E continua afirmando que o território se apropria do espaço
e que o ator territorializa o espaço.
O lugar comum é o espaço que é uma construção mental e se identificam as coisas
necessárias para viver. É algo que existe na cabeça, algo virtual no qual se identificam as
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relações de convivência, os valores, os elementos que mantêm os diferentes unidos. Ele é
anterior ao território, pois o território é construído a partir das noções, das potencialidades,
que se tem do espaço. O espaço aparece como “prisão original” e o território é a prisão que
as pessoas constroem a partir do espaço.
Este ator tem uma relação com os demais sujeitos com quem convive. Cada um dos
sujeitos são atores individuais, egocêntricos que têm seus espaços e por consequência seu
território próprio, individual. Mas estes sujeitos estão em relação com outros sujeitos e
nesta relação aparece algo comum que permite que possam conviver, que é uma
construção coletiva: primeiro
constroem um espaço coletivo e
daí um território que também é
coletivo que, como Raffestin
(1993) afirma, mostram objetivos
internacionais congruentes, porém
diferentes, o que resulta em uma
ideia de disputa multilateral dos
diferentes atores envolvidos.
Fonte: https://goo.gl/EHnW9a
A construção destes territórios sociais faz perceber limites, fronteiras que ao longo
da história configuraram regiões onde se organizava um poder. Os Estados Nacionais
Modernos criaram uma ideia de soberania, de poder, de um espaço desenvolvido em
território. Mas foi com a unificação alemã, quando apareceu a ideia de espaço vital, que se
determinou uma soberania em um território construído em um dado território. E aí surge o
espaço legal que traz a necessidade de legislação específica que representa tal território,
que envolve solo e povo e junto com isso surge a ideia de unidade política em um território
fixo e em um determinado tempo mantido, se necessário, com o uso da força. A fronteira
tornou-se um ato de vontade e de força, porém não estável, mas flutuante. Os elementos
que acabam se formando, dão coesão ao território. Estes elementos são a linguagem, as
forças armadas, a legislação, a moeda, etc.
Hoje se tem enormes discussões sobre a necessidade ou não das linhas de fronteira
tradicionais e de todos os elementos que as constituem. Raffestin (1993), defende a ideia
de abolição destas linhas, pois as relações humanas são muito mais complexas e amplas e
não podem ficar dentro de um sistema de leis, de um sistema econômico, de um sistema de
linguagem, enfim, é muito difícil determinar os territórios dentro dos limites dos Estados
tradicionais, mesmo porque os espaços sociais são cada vez mais amplos e imbricados.

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Estas mudanças são notadas nos deslocamentos populacionais, nas constantes
desterritorializações, percebendo-se inclusive o surgimento de novos valores culturais.
Tem-se, então, que território é construído conforme o espaço social de um
determinado grupo de pessoas, em um determinado local e no que está presente a
individualidade de cada um dos sujeitos-atores que são diferentes, mas que têm algo em
comum. Este algo comum é a parte do vivido que é sempre novo, pois se constrói
constantemente e se percebe o cotidiano como criador, inventivo. Os sujeitos constroem
redes em micro e macroescalas, horizontalmente e verticalmente por meio de práticas
inteligentes que se inovam tornando o local habitável e sustentável.
Por isso, pode-se dizer que territorialidade é a multidimensionalidade do vivido em
um dado território que são as relações interativas dos sujeitos em que transparecem:
emoções, elos, sentimento de pertença com o lugar (ligar-se a ele). Os homens vivem, ao
mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um sistema de
relações existenciais e/ou produtivistas.
A ideia de territorialidade passa pelas relações de poder, de cultura, de língua, etc.
que modificam e são modificadas pelos sujeitos. Territorialidade é uma ideia que é muito
mais importante de ser entendida do que território. Ela permite conhecer a identidade dos
grupos e suas imbricações onde existe uma governança que se desenvolve em rede, é
flexível, plural e permite a realização dos sujeitos que fazem parte dela.
A territorialidade é construção de tessitura em redes que fazem os indivíduos
convergir, se relacionarem, mas também se desintegram e se reorganizam. No dizer de
Raffestin (1993), a territorialidade é um conjunto de relações que se originam em um
sistema multidimensional entendido como
sociedade-espaço-tempo que busca atingir a
maior autonomia possível e compatível com
os recursos do sistema.
Percebemos que essa relação
indivíduo-grupo está interligada à reflexão de
que a negociação que garante a conivência é
importante. A política é que faz isso, ela é a
arte de compatibilizar interesses.
Fonte: https://goo.gl/uLGrAE
Para entender essa necessidade é preciso aprofundar as buscas e tentar entender os
meandros das relações, nos espaços territoriais, econômicos, religiosos e até geográficos.
Ver o homem como o construtor da arte de convivência da pólis ou seja, construtor do que
é público. O cidadão, aquele que discute na Ágora, em Atenas, na Grécia Antiga, era o que
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vivia do ócio, era considerado completo e tinha todos os direitos. Ou também o que
participava da Ápela, em Esparta, e decidia os desígnios da cidade.

Fonte: https://goo.gl/uvQAZX

As grandes discussões sobre a vida da pólis são a reflexão dos valores, leis,
organização social, direitos, liberdades e tudo o que forma o cidadão e dá suporte à
cidadania nos conduz à Filosofia Política.

1.2 Filosofia Política

A Filosofia Política como nós, ocidentais, estudamos, discutimos, tem origem na


Grécia e aparece como aprofundamento que os estudiosos faziam da vida da cidade. As
cidades gregas eram organizadas de formas diferentes. Tanto que não chamamos de
império grego, nem reino grego, mas de Civilização Grega. As Cidades-Estados eram
soberanas e o que as mantinha mais ou menos unidas era a língua e a religião. A vida
política, social e econômica era muito diferente, pois cada uma resolvia os seus problemas
de convivência como fosse mais prático para a situação em que se encontravam. Os
modelos que mais estudamos são Esparta e Atenas muito embora houvesse inúmeras
outras como Tebas, Corinto, Megara, etc. sendo que umas eram democráticas, outras eram
aristocráticas, umas eram monarquias, outras oligarquias, tendo inclusive tiranias.

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Fonte: https://goo.gl/EwXGTo

É nesse mundo que estudiosos passaram a investigar mais profundamente as


relações existentes, a origem destas relações, os conceitos que embasam essas relações e
passaram a indicar caminhos que tornassem mais adequada a vida nas cidades. Esses
filósofos desenvolveram formas teóricas de análise dos governos e das governanças o que
fez construir a Filosofia Política. A Filosofia Política se preocupa em aprofundar os mais
diversos problemas que estão ligados à arte de conviver.

Fonte: http://blogfilo2014.blogspot.com.br/

Ela investiga todas as relações humanas e expressa a resposta das pessoas para
tentar resolver os problemas que são comuns. Leva em consideração os desafios que
aparecem na vida em sociedade e busca soluções que sejam mais viáveis e que respondam
a todos os cidadãos.
Desde os gregos até nossos dias a Filosofia Política nunca exauriu seus motivos de
estudo. Nunca deixou de ser importante para a vida em sociedade. Ela buscou dar
respostas, as mais diversas possíveis, nos mais diferentes tempos possíveis e até hoje ela se
mostra necessária para mostrar luz à vida social como lugar em que o homem se realiza.
O papel do filósofo sempre foi necessário como timoneiro para que o barco da vida
comum não naufrague, como afirma Thomas Morus (2004). Nesta esteira é que podemos
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vislumbrar, além dos gregos, a grande contribuição de Cícero, que trabalha a ideia da
construção da República como o governo ideal.
Na Idade Média, a releitura da República de Platão aparece clara no texto de Santo
Agostino “A Cidade de Deus”. A mudança de percepção de mundo trazida com a passagem
para a Idade Contemporânea tem em Morus e Maquiavel a resposta utopista e realista para
aquela sociedade caracterizada por mudanças que vão chegar ao século XVIII, como o
contratualismo que começa com Hobbes e se desenvolve com Montesquieu, Rousseau e
Locke com consequências práticas como a Independência dos EUA, a Revolução Francesa e
a Independência da América Latina e também a construção de Estados Constitucionalistas.
Mesmo assim o pensamento não para com o nascimento das ideias do Liberalismo,
Socialismo, Anarquismo que ganham sua estreia no século XIX e que avançam pelo século
XX.
A Filosofia Política está intimamente ligada à nossa característica de ser animal
social. Por ela se discutem ideais e práticas de organização do Estado, os relacionamentos
entre pessoas e entidades estatais, as relações entre economia e política, o poder do
indivíduo, a liberdade, questões de justiça e Direito e questões sobre participação e
deliberação.
Desde a ideia da Sofocracia de Platão passando pela dialética do movimento do
mundo material de Marx, a busca de soluções para a sociedade continua.
O problema da discussão política evidencia e
faz aflorar muitos outros problemas como o problema
social que destaca a organização e os mecanismos de
entendimento da sociedade passando pela economia e
até por questões que muitas vezes são consideradas
menores na política como a estética.
São pensadores que se debruçaram sobre os
problemas que envolve a vida em sociedade e isto é
que a filosofia se projeta para o campo da política.
Fonte: https://goo.gl/RxcYt8

Para pôr a nu a presença do mecanismo ideológico como mascarador do


poder nas relações sociais, para apresentar a utopia que guia o raciocínio em
direção à ruptura com as mazelas do sistema estabelecido quando apresenta
traçado um Estado Ideal, para criar alternativas reflexivas e críticas para a
superação da crise política e se debruçar sobre as formas de Estado. Se a
filosofia pensa o poder, pensa os limites do poder, se pensa a justiça, discute
as injustiças. É neste sentido que seu papel e sua função social vêm
exatamente descritos por esta sua intromissão na dimensão das questões de
relevância política e de relevância social, na governança dos interesses
comuns (MEDEIROS, 2014, p.114)
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Norberto Bobbio (1997), definiu a Filosofia Política dessa forma:

- Filosofia política como determinação do Estado perfeito: quando a filosofia busca


construir modelos ideais de Estado ou convivência política fundamentada em valores;
- Filosofia política como determinação da categoria “política”: quando a filosofia
busca esclarecer os significados e o alcance do conceito e da atividade política;
- Filosofia política como procura do critério de legitimidade do poder: quando a
filosofia procura responder à questão dos fundamentos da necessidade da obediência ao
poder político;
- Filosofia política como metodologia da ciência política: quando a filosofia busca
esclarecer os pressupostos epistemológicos que tornam possível a Ciência Política.

Dica de Aprofundamento

Para saber mais sobre a filosofia política, convido você a ler o artigo:
MEDEIROS, A. M. A Filosofia: “Filha da cidade”. Disponível em:
<https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/>. Acesso em: 21 fev. 2018.

Os objetivos fundamentais da Filosofia Política são ver, entender, analisar os


conceitos e valores que permeiam a sociedade desde sua formação passando pelo seu
desenvolvimento histórico e tentando entender sua realidade atual bem como propor
soluções.
Este trabalho deve fazer com que se entenda o ser humano que vive na sociedade,
as instituições que compõem essa sociedade e as relações que a informam e daí retirar
novos conceitos, novos valores e novas formas de se perceber o homem e sua função
dentro de tais instituições.
Os problemas fundamentais da Filosofia Política a serem enfrentados são:
Em relação à história: a compreensão do contexto histórico fazendo a exegese de
textos e do dizer de filósofos em sua época trazendo as ideias para as situações atuais para
podermos efetivamente transformar nosso estudo em propostas reais de transformação
hoje.
Em relação à Ciência Política: a compreensão de como são os sistemas políticos,
suas características, suas origens, as leis, enfim, fazer análise crítica que entenda os
sistemas atuais e como propor respostas práticas a eles.
Em relação à economia: a percepção dos sistemas econômicos ao longo da história,
como a distribuição de bens foi tratada, como a proteção destes bens aparece e qual a
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consciência da necessidade ou não destes bens para o progresso da sociedade humana.
Junto com uma boa análise crítica acerca do tema da “propriedade privada”.
Em relação à Ética: como valor fundamental da manutenção de uma sociedade em
função da construção da justiça. Entender os elementos que compõem essa justiça.

Dicas de aprofundamento

BOBBIO, Norberto. Teoria das formas de governo. Brasília: UnB, 1997.


CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002-2010. (2 v.).
KINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
RAMOS, F. C; MELO. R; FRATESCHI, Y. Manual de Filosofia Política – Teoria
do Estado e Ciência Política, Filosofia e Ciências Sociais. 2.ed. São Paulo: Saraiva,
2015.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

Filmes:
- Der Untergang (Original) – A queda – 2004
Sinopse: Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) trabalhava como secretária de
Adolf Hitler (Bruno Ganz) durante a 2ª Guerra Mundial. Ela narra os últimos dias
do líder alemão, que estava confinado em um quarto de segurança máxima.
- Gandhi (Original) – 1982
Sinopse: África do Sul, início do século XX.
Após ser expulso da 1ª classe de um trem, o jovem e idealista advogado indiano
(Ben Kingsley) inicia um processo de autoavaliação da condição da Índia, que na
época era uma colônia britânica, e seus súditos ao redor do planeta.
Já na Índia, através de manifestações enérgicas, mas não violentas, atraiu para si
a atenção do mundo ao se colocar como líder espiritual de hindus e muçulmanos.
- Todos os homens do presidente – 1976
Sinopse: Em uma noite comum, no Edifício Watergate, luzes piscantes revelam
quatro criminosos pegos no ato. Por causa dos acontecimentos daquela noite,
naquele prédio, um presidente dos Estados Unidos acabou sendo levado para
fora da Casa Branca. Dois repórteres de Washington, Bob Woodward (Robert
Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman), agarraram a história e mantiveram-
se agarrados a ela, desafiando dúvidas, negações e desencorajamentos.

Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 1 e a


Atividade 1.1.

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UNIDADE 2

ORIGEM DA FILOSOFIA POLÍTICA


OBJETIVO DA UNIDADE: Analisar o pensamento dos maiores filósofos da antiguidade,
sua leitura da sociedade em que viviam, bem como as soluções que eles propunham para
aquelas sociedades destacando o que pode servir para a nossa leitura sobre a sociedade
atual.

2.1 Primórdios

Após as reflexões iniciais feitas acerca de política e Filosofia Política temos claro que
essa discussão é parte de todo o aparato teórico que forma qualquer profissional da área
das Ciências Humanas, especialmente do Filósofo.
As sociedades, desde as mais antigas, estavam organizadas, tinham seus problemas,
tinham a necessidade de encontrar saídas para avançar na história e o fizeram. Os homens
que se puseram frente aos problemas teóricos, que buscaram soluções, foram fundamentais
no mapa da Filosofia Política.
Por isso começamos a trabalhar a partir da Grécia antiga onde nasce a Filosofia
Política e experimenta os primeiros passos rumo ao futuro. Os debates políticos se
desenvolviam desde os costumes que sedimentavam aquelas sociedades e daí uma
discussão inicial aparece, ou seja, a ética. Os antigos costumes eram fundamentais para
entender o curso da vida da cidade.
Para Vernant (2008), a concepção de isonomia aparece tanto quando se olha as
classes que eram consideradas cidadãos, quanto os que eram considerados escravos. Na
dicotomia cidadão/escravo quem era livre era considerado igual aos outros livres e quem
era escravo era considerado igual aos outros escravos.
Mossé (2008), diz que é com Sólon (século VI a.C.) que se reagrupam as famílias
criando uma igualdade distrital visto que todos os homens livres são iguais e não pode
haver critérios para dividi-los. Desse reagrupamento é que se distribuíram os cargos, desde
os eletivos até os prestadores de serviços. Daí que os cargos políticos ganharam novas
significações.
O critério de igualdade está na concepção de liberdade – são iguais porque são livres
e são homens no sentido literal da palavra visto que mulheres e crianças não participavam
de qualquer deliberação política. Como as cidades gregas estavam divididas politicamente
por não terem uma administração centralizada, cada uma se organizava da forma que
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melhor respondesse aos problemas que aparecessem. Por isso temos desde monarquias
autoritárias até democracias (mais ou menos democráticas). Nessas várias formas políticas,
mandar sobre escravos, mulheres e crianças era mais tranquilo, pois esses eram
considerados inferiores – aos inferiores simplesmente se dá ordens. O problema era: como
exercer e exigir que fosse obedecido um poder entre iguais? Pois entre iguais, como se
pode ter alguém que exige de outrem um mando e este se submete a uma obediência?
Tem-se aqui a necessidade de ordenar e de se fazer obedecer e para isso deve-se
convencer que esse é o caminho para se ter uma garantia de convivência. Esse
convencimento, conforme Mossé (2008), passava desde a determinação de governantes
como quem simplesmente manda porque tem uma visão dada por uma divindade ou que se
coloca como o condutor de um determinado povo, até a democracia que descreve o poder
como algo possível a todos os cidadãos visto que todos são responsáveis pelo bom
andamento da pólis.
Atenas se torna exemplo desse sistema, pois experimentava com constância as
decisões coletivas que iam desde a prolação de sentenças judiciais, a organização dos
serviços da cidade até a convocação de aparelhamento e envio do exército para os campos
de batalha. As assembleias dos cidadãos eram os lugares de debate, entendimento e
deliberações para o bom andamento da cidade.
As autoridades exerciam a função do igual e deveriam constantemente argumentar
para justificar por que exercia aquela atividade e, essa argumentação deveria ser plausível,
pois caso contrário não denotaria a igualdade com os governados.
Estes governantes devem passar da moral tradicional para a construção de leis que
levem em conta essa nova forma de organizar a sociedade. Sócrates é condenado à morte
por ser acusado de “corromper” a juventude de Atenas. Aquela juventude formada na moral
antiga determinada pelas classes que detinham o poder econômico e que se arrogavam o
direito de representar as tradições mais antigas da cidade.
Sócrates busca trabalhar a igualdade que gera um novo tipo de poder e que o poder
antigo é problemático, excludente e injusto, pois ele mantém as diferenças e perpetua as
injustiças. Os seus inimigos (os sofistas) trabalham o argumento de que relativizavam as
verdades, afirmando que não há verdade absoluta e que a verdade depende de cada uma e
com isso se foge da igualdade e se passa a desenvolver os argumentos mais convincentes
como os mais verdadeiros e daí a desigualdade.

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2.2 Os Sofistas

O advento da democracia favorece a oratória e os sofistas se apresentavam como


sábios, mestres, especialistas do saber, introduzindo uma novidade na prática de ensino, ou
seja, o professor é assalariado pelo aluno. Ora, os alunos eram apenas os que tinham
condições de pagar para ter a dita aula e com isso os professores (sofistas) ensinavam o
que interessava aos que pagavam. Dentro do objetivo expresso de ensinar estava a arte de
persuadir por meio da manipulação verbal. Os sofistas afirmavam que toda percepção
sensível é relativa; o conhecimento e a verdade são relativos; a verdade absoluta não
existe; as Leis são produtos das vivências dos seres humanos, pois o homem é a medida de
todas as coisas. Com isso a construção da vida política da cidade dependia da
argumentação feita pelos que conseguiam pagar para estudar. Desta forma a classe
detentora do poder econômico conseguia ter o controle político, legal e ideológico da
cidade.
Sustentavam o relativismo prático, destruidor da moral. Como é verdadeiro o que os
sentidos indicam que é, assim é bem o que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de
cada um em cada momento. Ao sensualismo, ao empirismo gnosiológico correspondem o
hedonismo e o utilitarismo ético: o único bem é o prazer, a única regra de conduta é o
interesse particular.
Vivemos atualmente em uma sociedade paradoxal que ao mesmo tempo em que
relativiza a verdade, se apega gradativamente mais a crenças econômicas, sociais e
religiosas que dogmatizam nossas mentes. Os sistemas dominantes trouxeram consigo o
individualismo e uma busca implacável de bens de consumo, que levaram ao homem a não
valer mais o que ele é, e sim, o que ele possui. Quem tenta romper esse conceito de
relativismo é Sócrates que acredita incessantemente que o homem a partir de seu interior é
capaz de construir uma vida social mais justa.

Fonte: https://goo.gl/YQ9Dm2
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- Sócrates (469 a.C.-399 a.C.)

Fonte: https://goo.gl/VH9PyW

Sem ter escrito nada, Sócrates trabalha a ideia de homem com finalidade ética e não
se preocupa com a cosmologia/metafísica. Wolff (1988), afirma que Sócrates na sua
concepção de conhecimento desenvolve o método do diálogo (maiêutica) / ironia /
introspecção / ignorância - “conhece-te a ti mesmo” em que a consciência da ignorância é o
começo da Filosofia. Pois era daí que o ser humano ia buscar se desenvolver.
Um sábio, que estuda a vida inteira, por exemplo, numa certa época da sua vida
percebe que quase nada sabe, porque existem tantas controvérsias sobre quase todos os
assuntos, tantos autores contradizendo outros, com uma frequência inacreditável, e que o
que ele pensava que era verdade, amanhã talvez se torne mentira, que, chega à inevitável
conclusão de que sabe tanto quanto... quem nada sabe.
Diferente do método dos sofistas, entendia que o conhecimento está dentro do
homem e que o papel do professor era o papel da parteira que ajudava a tirar
conhecimento de dentro do seu aluno até chegar ao “nada sei”. Com isso deixa claro que é
possível ter conhecimento em qualquer pessoa e que não seria privilégio apenas os jovens
ensinados pelos sofistas.
Marilena Chauí (2002), coloca que
Sócrates foi acusado de corromper a juventude
e violar as leis e de não acreditar nos deuses da
cidade. Ele acreditava em um Deus superior que
para ele era a Inteligência Ordenadora. Foi
condenado pela assembleia a tomar veneno
“cicuta”.
Fonte: https://goo.gl/AvoMp8

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Para Sócrates o que diferencia o homem dos outros animais é a alma (razão ou, se
quisermos, a sede de nossa atividade pensante). Por isso, o homem virtuoso é aquele que
busca desenvolver a alma e, isto ele faz pela ciência e pelo conhecimento, “estudo”, o vício
seria a privação disso que nada mais poderia ser do que a “ignorância”. Daí que os
verdadeiros valores estão dentro do homem, não fora dele (riqueza, beleza, etc.).
Sócrates reflete sobre o poder da verdade e vê na verdade a justiça que é uma
construção dos indivíduos em sociedade. Aplica na política os conceitos da ética como
conceitos fundamentais para se construir uma sociedade que seja justa. Pois é buscada
pelos homens virtuosos.

2.3 Platão (428/427 – 348/347 a.C)

Fonte: https://goo.gl/bxRjYA

Nasceu em Atenas. De família aristocrática. Viveu o ardor da Guerra do Peloponeso.


Fundou a Academia. Desde jovem, mostrou vontade de se dedicar à política, por influência
do ambiente familiar. O pai Aríston, amigo de Péricles, descendia do último rei de Atenas,
Codro. A mãe, Perictione, orgulhava-se de pertencer à descendência de Sólon, o primeiro
grande legislador de Atenas.
Escreveu suas obras em forma de diálogos, pois entendia que era mais fácil para
serem entendidos. Dentre eles pode-se destacar Apologia de Sócrates, Fédon, Górgias,
Timeu, Critas, A República.
Afirma Chauí (2002) que a parte central da Filosofia de Platão é a Teoria das ideias e
do conhecimento das ideias. Passa a admitir um mundo suprassensível e vai se libertando
do sensível que para ele não passa de cópias do primeiro. A esse mundo suprassensível dá
o nome de Hiperurânio (Mundo das ideias). Este é um mundo onde as ideias vivem por si e
em si e não são carregadas pelo devir que carrega todas as coisas sensíveis. É um lugar
acima do céu, acima do cosmos físico. Esse mundo só pode ser captado pela inteligência.
Nele estão as ideias de todas as coisas: dos valores estéticos, morais, das realidades

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corpóreas, dos entes geométricos, matemáticos, etc. Essas ideias existem desde sempre e
nunca podem ser destruídas.
O mundo sensível tem como causa o mundo inteligível. Isto é, o mundo físico se
origina do mundo das ideias, é uma cópia deste. A matéria nada mais é do que receptáculo
sensível das ideias que estão no Hiperurânio. Para ele existe um Demiurgo, Deus-artífice
que a partir do Mundo das ideias plasma o mundo sensível, isto é, faz as cópias; gerando,
do caos, o mundo sensível.
Para explicar o mundo sensível, usa o seguinte esquema:
a) há um modelo (o mundo ideal);
b) existe uma cópia (o mundo sensível);
c) existe um artífice que elabora o trabalho de fazer essa cópia.
O artífice e o mundo inteligível são eternos e incorruptíveis, enquanto que o mundo
sensível foi gerado e pode ser corrompido.
O Demiurgo gerou o mundo sensível por bondade, pois tudo era desordenado, era
um caos. O artífice, que é bom, fez formas baseado no mundo das ideias. Ele não podia
deixar o caos informe continuar, ele tinha que dar uma forma, pois era melhor do que
deixar do jeito que estava. Por isso certamente ele não poderia ter dado formas diferentes
às que estão no mundo das ideias. A obra do Artífice é a mais bela possível e animada pelo
desejo do bem. O mal que continua no mundo é a margem de irredutibilidade da
espacialidade caótica.
Juntamente com o corpo foi criada uma alma e ambos foram unidos, e esta alma
será incorruptível, durará para sempre. O Demiurgo colocou dentro do homem, que ele
moldou, um pouco de si. O mundo sensível possui tempo que implica na geração e no
movimento. O conhecimento nada mais é do que a recordação do mundo das ideias, pois
isto sempre existiu no interior de nossa alma.
O homem é dualista: alma e corpo. O corpo é visto como uma tumba onde está a
alma, uma prisão pela que a alma tem que passar para o cumprimento de suas penas.
Quando o corpo físico morre, a alma vive, pois ela se liberta da prisão. O corpo é fonte de
todos os males e isso pode afetar a alma, por isso o quanto antes a alma se libertar do
corpo, melhor. Disso decorre a ideia de fuga do corpo e fuga do mundo.
A alma não morre como acontece com o corpo. Ela não pode morrer, pois é a única
que veio do Mundo das Ideias e sua tendência é voltar para lá. Por isso ela faz de tudo para
se livrar da prisão do corpo. Após a sua libertação, as almas transmigram para outros
corpos - Metempsicose. Elas renascem em diversas formas de seres vivos. As almas que
estavam em corpos que adoravam as paixões e prazeres passam a vagar junto aos túmulos
(com medo do Hades) até que são atraídas por outros corpos que não precisam ser
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necessariamente de homem, podem ser também de animais, pois depende o quanto elas se
degradaram na vida anterior. As que viveram na virtude passaram para corpos de animais
mais mansos e até em homens honestos. As almas só serão plenamente livres naqueles que
procurarem se libertar do corpo a partir do saber. As almas que cometerem crimes
gravíssimos passarão até mil anos em constante purificação.
O homem virtuoso é aquele que busca, em toda a sua vida, libertar a alma das
paixões corporais que querem destruí-la. Mas o homem não vive sozinho. Construir a
Cidade significa conhecer o homem e seu lugar no universo. O Estado é o engrandecimento
de nossa alma, ele nasce porque cada um não se basta a si mesmo e tem a necessidade do
serviço de muitos outros.
É na obra “A República” que temos os pontos fundamentais da Filosofia Política de
Platão. É um dos textos mais importantes da civilização ocidental, especialmente para quem
quer compreender a organização social e política atual. Escrita em forma de diálogo,
(gênero literário consagrado por Platão) a obra reflete a situação ético-política do século V
a.C. e os pontos centrais da metafísica platônica. A República investiga a verdadeira
definição de justiça, a partir da cidade (pólis) ou do Estado ideal. Elabora uma utopia onde
imagina o que seria um Estado perfeito para Atenas.
O pensamento filosófico de Platão trabalha com os princípios da unidade e da
multiplicidade: de um lado, com o mundo perfeito e inteligível das ideias ou formas e de
outro, com o mundo da realidade decadente e imperfeita dos Estados, dos governos, dos
indivíduos conduzidos por ambições pessoais e presos a paixões corporais, e por isso
degeneram a alma. Essa alma tem que buscar a luz encontrada no Mundo das ideias para
ser virtuosa. E quando se fala em política, ele coloca que o bom governante é aquele que
consegue ver a luz do Mundo das Ideias para ter claro o que é a verdade e dessa forma
fazer a justiça acontecer.
O grande acontecimento da vida de Platão foi, sem dúvida, o encontro com
Sócrates, com quem conviveu aproximadamente vinte anos. Para Platão, a condenação
política de Sócrates é uma condenação da filosofia. Talvez por isso considere que filosofia e
política são indissociáveis. Vai construir uma proposta política em que o poder deverá estar
com o verdadeiro filósofo.
As cidades-estados eram mal governadas. A legislação, injusta. Para ele, as
mudanças positivas seriam possíveis com a verdadeira filosofia, que permite realizar a
justiça política e individual. Na República, Platão critica a democracia de sua época,
especialmente a corrupção e a incompetência, o número excessivo de leis, a retórica vazia e
a falta de critérios nas assembleias.

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Nunca atuou na política e nem foi chamado para exercer cargos administrativos na
cidade e possivelmente foi daí que, sem intenção de agradar a ninguém, manteve-se
distante para analisar e entender melhor os problemas da cidade e poder, daquele lugar,
elaborar crítica que fosse contundente contra a decadência que percebia na cidade. Tendo
como objeto fundamental a justiça, Platão constrói uma idealidade para a cidade, como vai
fazer mais tarde Santo Agostinho (A cidade de Deus); Tomás Campanella (A cidade do Sol)
e Thomas Morus (Utopia). O texto começa tratando de uma pergunta fundamental: “O que
é a justiça?”.
Não trabalha a negatividade do tema, mas a positividade comparando o governante
ao médico que cura, o músico que alegra. Propõe a justiça como a vida feliz. Discute a
desagregação das primeiras formas de sociedade, essencialmente fundadas nas relações
econômicas. Para ele a relação de homem justo ou injusto está ligada à vida feliz ou infeliz
em sociedade e a partir da própria insuficiência do indivíduo. Platão procura a virtude da
justiça no Estado, não nos indivíduos.
Há uma relação forte entre o cidadão e a cidade. Um reflete o outro. Ele examina a
correspondência entre as funções da alma e os papéis sociais. A sociedade compreende três
classes com funções próprias: uma classe dirigente, de governantes ou políticos, outra, de
militares ou guardiães, e ainda uma produtiva, isto é, de agricultores, artesãos e
comerciantes.
Os governantes deverão ser aqueles que tenham amado a Cidade mais do que os
outros e de maneira especial tenham aprendido a conhecer e contemplar o Bem. Predomina
a alma racional e sua virtude é a sabedoria. Os guardiões - prevalece a força “irascível”
(volitiva) da alma, deve ser formada de homens que sejam como cães de raça, dotados de
mansidão e ferocidade. Sua virtude deve ser a fortaleza e coragem.
Os lavradores e artesãos - prevalece o aspecto “concupiscível” da alma, isto é a
parte mais elementar. Sua virtude deve ser a temperança. Essa forma de reflexão separa
riqueza de poder político que expõe a ideia de que os membros do governo não podem
possuir patrimônio privado, sendo sustentados pela terceira classe que, por sua vez, dispõe
dos serviços político-militares.
O governo da cidade deve ser confiado ao rei-filósofo (Sofocracia). É o Filósofo que
vive sua vida inteira voltada para o Mundo das ideias, por isso ele tem as condições
intelectuais e morais que levam ao exercício da dialética que conduz à intuição da essência
e do bem, como ideal supremo. É o filósofo que alcança o mundo ideal, que é virtuoso, que
consegue enxergar sem se preocupar com as paixões corporais e que consegue fazer sua
alma (razão) se voltar totalmente ao entendimento da verdade.

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Marilena Chauí (2002), coloca que para explicar isso ele usa o Mito da Caverna que,
no livro VII, explica como o homem virtuoso consegue sair das profundezas do mundo das
sombras para o sol da verdade além de ter a função de voltar para o fundo da caverna para
libertar os outros.

Fonte: https://goo.gl/ncjuyA

Nesse processo de reflexão, Platão afirma que o Estado se organiza a partir do


Estado Ideal. Porém no Estado Real muitas vezes o homem se coloca acima das próprias
leis, por isso são necessárias leis escritas. Para ele existem três tipos de estado: Monarquia,
Aristocracia e Democracia. Quando os governantes buscam apenas os próprios interesses e
não os do povo nascem: tirania, oligarquia, demagogia. Quando os estados forem bem
governados, a Monarquia se basta, nos Estados corruptos a melhor forma é a Democracia,
pelo menos a liberdade é garantida.

2.4 Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

Discípulo de Platão, trabalha a característica de sociabilidade do homem como algo


absolutamente necessário para que ele seja homem. Isto é o homem não pode viver sem os
outros homens. A mediação do outro homem me faz ser eu
mesmo. A busca da felicidade é uma constante. Para Wolff
(1999), a realização das potencialidades faz com que os
seres humanos se realizem e que cada vez busquem mais.
Por isso realizar as potencialidades é realizar a felicidade.
Mas isso se dá como indivíduo que vive em uma sociedade
que o faz homem. Por isso ele precisa da sociedade e daí
que a origem do Estado é natural.
Fonte: https://goo.gl/PjH9E2
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O homem é um animal essencialmente político. Ele só consegue viver com os outros,
faz parte de sua essência. Se um homem for incapaz de viver em sociedade só pode ser um
animal irracional ou não precisa dela, pois é autossuficiente e aí é um deus. O escopo
humano é a felicidade. Cabe ao Estado garantir, facilitar a realização desta felicidade. Se o
homem é essencialmente social só o Estado pode tornar possível a completa realização do
todas as capacidades humanas. Ele deve facilitar a realização do bem comum. Realizar o
bem comum é realizar a justiça que acontece na cidade organizada e é o lugar natural em
que o homem se realiza.
Para ele a finalidade primordial da cidade será a promoção do bem-viver juntos, isto
é, a promoção de um modo de vida determinado pelos princípios da justiça e da virtude
exceção feita àquelas cidades que o governante não respeita a igualdade (isonomia) e a
liberdade dos cidadãos nem visa ao bem comum. Ressalta-se que igualdade, liberdade e
cidadão para Aristóteles, no contexto histórico em que ele vivia, é para todo o homem
adulto, livre e grego e que pode exercer atividade política, excluindo-se mulheres, crianças,
escravos, estrangeiros e outros não enquadrados naqueles conceitos. Livres eram aqueles
que não estavam condicionados a ninguém; iguais não estão condicionados às relações de
inferioridade ou superioridade ou presos a uma relação de obediência (como os filhos).
A comunidade de cidadãos tem como finalidade viver juntos e daí o bem comum. Por
isso que a pólis não é uma comunidade familiar ou uma aldeia onde as relações estão feitas
a partir da superioridade e desigualdade. Na família um é superior aos outros (não há
igualdade); na aldeia o surgimento do grupo se dá por necessidade e aí há desigualdade
e/ou superioridade e não construção de cidadania. Para haver cidadania são necessárias a
igualdade e a liberdade e só assim é possível se pensar no bem comum. E esta é a grande
característica da sociedade política.
Ainda Wolff (1999), afirma que é nela que acontece a justiça onde todos os cidadãos
conseguem ser felizes pois todos têm a possibilidade de realizar as suas potencialidades.
Sendo a comunidade política o lugar natural, visto que a
racionalidade com a ajuda da linguagem (que faz com
que ele seja capaz de manifestar o que sente – seja
prazer, seja sentimentos) permite que ele manifeste o
bem e o mal, o útil e o prejudicial, o justo e o injusto o
que leva a entender por que a organização humana é
muito superior a organizações de qualquer outro ser da
natureza (inclusive dos deuses). Daí considerar o ser
humano um animal político.
Fonte: https://goo.gl/CB8akJ
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A cidade será, então, a comunidade organizada, que é a consequência natural e
necessária para a realização do agir humano, que leva ao desenvolvimento de todos os
membros dela, mostrando que é bom viver juntos porque só assim se consegue alcançar a
felicidade. Wolf (1999, p. 95), deixa claro que:

Para Aristóteles, a natureza especificamente humana comporta reflexão


(deliberação) e escolha (decisão reacional); a cidade nasce de uma
exigência digamos “biológica”, portanto, natural, mas ela não existe
plenamente senão por uma exigência ética. Pensar a cidade como existindo
por natureza equivale a vincular a natureza humana à da cidade: um ser
intermediário, nem deus, nem besta, que pode escolher viver em
conformidade com a virtude e a justiça e, então realizar sua essência
segundo o melhor fim, a eudaimonia.

Para organizar a vida dessa cidade há a necessidade de se ter uma forma de


autoridade que possa garantir que a justiça realmente aconteça e é a partir daí que
Aristóteles investiga de forma minuciosa as formas de governo. Para ele a forma de governo
é o que dá ordem à cidade e determina o bom funcionamento da mesma mostrando quais
são os serviços prestados porque desempenha papel de mando (trabalho) nela desde os
serviços mais simples até a função da autoridade máxima.
Nesta análise, ele conclui que quando o governo é exercido (seja por poucos ou por
muitos) levando em consideração o interesse comum (realização do bem comum) teremos
constituições justas. Quando quem exerce o poder levar em conta apenas o interesse de
alguns, de um grupo privilegiado, teremos constituições injustas. Para Aristóteles (1979),
existem:
a) Constituições justas que são as que servem para o bem comum e não só para
o bem dos governantes. Monarquia, um que cuida do bem de todos; Aristocracia, governo
dos virtuosos, dos melhores que cuidam do bem de todos; República, governo popular que
cuida do bem de todos.
b) Constituições injustas servem ao bem dos governantes. Tirania, governo de
um só que procura o interesse próprio; Oligarquia, dos ricos que procuram o bem
econômico pessoal; Democracia, comando da massa popular que quer suprimir toda a
diferença social em nome da igualdade.
De outra forma pode-se colocar que o governo de uma pessoa cujo objetivo é o
interesse comum é a monarquia; quando o governo é de poucas pessoas, chama-se de
aristocracia. O governo do maior número, Aristóteles chama simplesmente de República. O
desvio da monarquia é a tirania, pois o tirano não governa pelo interesse comum, mas por
seu próprio interesse. O desvio da aristocracia é a oligarquia, que é o governo no interesse
dos ricos. O desvio da República chama-se de “democracia”.

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A filosofia grega abre caminho para inúmeras reflexões sobre o homem, sua forma
de ver, entender e viver no mundo. A Política entra na reflexão filosófica como algo
fundamental para entender o homem em seu todo.

2.5 Cícero e o mundo romano

Fonte: https://goo.gl/vewfNs

Com o desenvolvimento do mundo romano, a política ganhou mais praticidade e as


reflexões fluíram para o direito, tanto que a grande contribuição dos romanos para o mundo
posterior foi o direito. Virgílio, na obra “Eneida”, se refere ao espírito prático dos romanos e
surge uma nova concepção de ética, diferente daquela da pólis grega. “Lembra-te romano
de submeter os povos a teu império. Tua missão é de impor as condições de paz, poupar os
vencidos e abater os soberbos [...]”1
Motivados pela necessidade objetiva de solucionar seus problemas, se tornaram
disciplinados, utilitaristas, guerreiros, metódicos, imediatistas e práticos. Mesmo assim,
aparecem pensadores importantes que trabalham a Filosofia Política com afinco, como é o
caso de Cícero. Para ele, o agir humano deve se basear em uma ética onde a honestidade é
o ponto fundamental e a sabedoria seria responsável para controlar os instintos a fim de
não prejudicar os direitos dos cidadãos. Foi grandemente influenciado pelo estoicismo.
A ética estoica de Cícero é a ética da ataraxia onde o homem ético é aquele que
respeita o universo e suas leis cósmicas e se respeita. A ataraxia é a busca da realização
onde a harmonia corporal, moral e espiritual se realiza e o que torna possível distinguir o
bem do mal é o clímax da limpeza pessoal da razão, é o estado de imperturbabilidade
(BITTAR, 2005, p. 140). Essa posição do homem só é possível na ação, por isso a ética
estoica é a ética da ação, que tem que ter um código direcionador, um parâmetro.

1
Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/eLibris/enei.da.html>. Acesso em: 23 out. 2018.
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Cícero a partir daí coloca o tal parâmetro para a sua ética em que existe algo que
ordena tudo, é a “recta racio”, onde se pautam todas as condutas humanas. Ela é uma lei
absoluta e preexistente, imutável, intocável, soberana e perfeita.

A razão reta, conforme a natureza, gravada em todos os corações,


imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que
proíbe e, ora com seus mandados, ora com suas proibições, jamais se
dirige inutilmente aos bons, nem fica impotente ante os maus. Essa lei não
pode ser contestada, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos
ser isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; não há que
procurar para ela outro comentador nem intérprete (BITTAR, 2005, p. 145)

Por isso não é a convenção humana, mas a natureza que determina o parâmetro da
conduta ética, e o elemento que faz o homem justo é a reta razão como a razão faz o
homem. Como o ser humano é social, há a necessidade de que ele marque seu agir ético na
relação com os outros e por isso ele constrói elementos que garantam essa convivência: as
leis. Ele afirma que o Estado de Direito baseado em uma lei correta garante o
desenvolvimento de uma sociedade correta e de paz. Isso é a crença dos homens de que
acima de seus atos está essa lei. Essa crença é fruto do livre-arbítrio dos indivíduos.
A Lei eterna que governa o homem existe, mesmo que a lei escrita não existisse. Se
um crime é cometido, mesmo que não tenha leis humanas que o prevejam, ele é repudiado,
pois está em desconformidade com o bem. A noção de bem já nasce com o homem e é
eterna e divina, e vem antes de qualquer ato legislador. Mesmo assim, as leis humanas
deveriam se constituir de tal forma que desestimulassem o mal e o critério para isso é dado
pela natureza, pois nela está a justiça.
Para que se tenham leis sociais que promovam a justiça, é necessário que a razão se
sobreponha à paixão e, dessa forma, a razão poderá ter clareza em perceber e criar leis que
sejam acordes com a lei natural. Daí que essas leis estarão de acordo com a reta razão.
Com essas leis acabarão, na sociedade, toda a violência e injustiça e haverá parcimônia na
punição dos atos não condizentes com o bem. Essa lei será uma ordem e prudência. Nessa
lei estariam os princípios de igualdade (que evitariam qualquer vantagem), justiça e retidão.
Só assim é possível ter uma boa ordem que será configurada da República. Cícero
afirma com todas as letras que a República é, de longe, a melhor forma de organizar uma
sociedade justa e voltada para o bem. Bittar assim coloca:

Por isso, as leis, se bem constituídas de acordo com a lei natural, são
perfeitas, se forem necessárias para os homens. Mais que isso, e antes
mesmo disso, as leis são necessárias para a República, assim como a
República é necessária para o homem, uma vez que o homem tem um
instinto de sociabilidade que é o que funda a utilidade comum do viver em
sociedade. Nesse sentido, o povo é a alma da criação e do sustento da

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República. É na república, e não fora dela, é com as leis, e não à sua
revelia, que se encontra a felicidade e a realização ética humana. Nisso há
ordem, nisso há justiça, nisso há lei natural, nisso há razão divina. É com o
direito que se realizam o Estado, a República, o cidadão e o homem
(BITTAR, 2005, p. 150).

A República leva ao Direito, que leva às leis, que por sua vez leva às leis naturais e
que levam a Deus. Assim, quando se fala de República se fala de Bem comum em que uma
pessoa ou um grupo domina e direciona a coisa pública para o bem de todos. Por isso, para
Cícero, justiça é não fazer o mal e nem se utilizar do que é comum para o benefício próprio
em detrimento dos outros. O homem que busca a felicidade não pode buscá-la na injustiça,
ela não traz nenhuma felicidade, pois o medo da punição é constante e causa desarmonia.
O próprio Cícero assim se manifesta em De officis: “A primeira obrigação da justiça é
não fazer o mal a ninguém, sem que seja provocado por qualquer injúria; e a segunda, usar
dos bens comuns como comuns, e como próprios, dos nossos em particular” (CÍCERO,
1996, p. 50).
Percebe-se claramente que a filosofia política de Cícero está intimamente ligada à
necessidade de buscar justiça, o que é encontrado na República como o lugar da realização
do bem comum. O Estado e as pessoas que fazem parte dele não podem se apropriar do
que faz parte do bem comum sob a pena de estarem violando os princípios fundamentais da
República, especialmente a Igualdade e a manutenção do bem comum. E, dessa forma, a
sociedade será indubitavelmente uma sociedade injusta.

Dicas de aprofundamento

Leituras:
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Mário da Gama Kury. Brasília: UnB, 1979. (Coleção
Pensamento Político)
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras,
2002-2010. (Os capítulos que trazem o assunto discutido aqui).
CÍCERO, Marco Túlio. Das Leis. Tradução de Otávio T. de Brito. São Paulo: Cultrix, 1976.
MOSSÉ, C. Atenas: a história de uma democracia. Tradução de J. B. da Costa. Brasília:
UnB, 1982.
PLATÃO. República. Tradução de Anna Lia de Almeida Prado. São Paulo: Martins Fontes,
2006.

Filmes:

- Spartacus. Direção: Stanley Kubrick. Produção: Kirk Douglas. Intérpretes: Kirk Douglas;
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Laurence Olivier e outros. [EUA: s.n.], 1960.
Sinopse: Spartacus, homem que nasceu escravo, labuta para o Império Romano enquanto
sonha com o fim da escravidão. Ele, por sua vez, não tem muito com o que sonhar, pois foi
condenado à morte por morder um guarda em uma mina na Líbia. Mas seu destino foi
mudado por um lanista (treinador de gladiadores), que o comprou para ser treinado nas
artes de combate e se tornar um gladiador. Até que um dia, dois poderosos patrícios
chegam de Roma, um com a esposa e o outro com a noiva. As mulheres pedem para
serem entretidas com dois combates até a morte e Spartacus é escolhido para enfrentar
um gladiador negro, que vence a luta mas se recusa a matar seu opositor. Este nobre
gesto custa a vida do gladiador negro e enfurece Spartacus, de tal maneira que ele acaba
liderando uma revolta de escravos, que atinge metade da Itália. Inicialmente as legiões
romanas subestimaram seus adversários e foram todos massacrados, por homens que não
queriam nada de Roma, além de sua própria liberdade. Até que, o Senado Romano, toma
consciência da gravidade da situação, decide reagir com todo o seu poderio militar.

- Helena de Troia, paixão e guerra. Direção: John Kent Harrison. [EUA/Grécia: s.n.],
1956.
Sinopse: O filme reconta, com algumas mudanças em relação à história de Homero, a
Guerra de Troia, travada pelos gregos contra o rei Páris, após este raptar a rainha de
Esparta, Helena. Páris de Troia viaja para Esparta para conseguir um tratado de paz entre
as duas cidades-potências. Seu navio é forçado a voltar para Troia em meio a uma
tempestade que o lança ao mar e nas costas de Esparta, onde é encontrado por Helena, a
rainha, por quem se apaixona. Ele vai para o palácio real onde encontra o marido de
Helena, o rei Menelau, Agamenon, Odisseu, Aquiles e muitos outros líderes gregos
discutindo como fazer a guerra com Troia. Menelau vê que Helena e Páris estão
apaixonados e, fingindo amizade ao rei troiano, planeja a sua morte. Avisado por Helena,
Páris foge de volta à Troia levando ela consigo. Os gregos se unem e cercam Troia com
seus exércitos, clamando por sua rainha e por Páris, até que fica claro que tudo que
desejam é apenas os tesouros troianos e não Helena. A vitória acaba sendo grega através
da famosa armadilha do Cavalo de Troia. Quando tentam fugir, Helena e Paris são
cercados por Menelau que é enfrentado em duelo por Páris, que vence o combate mas é
esfaqueado pelas costas à traição. Helena é forçada a voltar a Esparta com Menelau, mas
sabendo dentro de si que algum dia se reunirá a ele.

- Sócrates. Direção: Roberto Rossellini. [Itália, 1971].


Sinopse: Trata-se da cinebiografia de Sócrates (470-333 a.C.), um dos maiores filósofos
da Humanidade. Traz um revelador depoimento de Roberto Bolzani, especialista em
filosofia socrática (USP). Mostra o final da vida de Sócrates, seu julgamento e sua
condenação à morte, com destaque para os célebres diálogos socráticos: "Apologia",
discurso de defesa do filósofo; "Críton", em que um dos seus discípulos tenta convencê-lo a
fugir da prisão; e "Fédon", com seus últimos ensinamentos antes de tomar a cicuta. É mais
uma aula de cinema de Rossellini e um programa obrigatório para os interessados em
Filosofia.

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Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 2 e a
Atividade 2.1.

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UNIDADE 3

CONSTRUÇÃO DE UMA FILOSOFIA POLÍTICA DA


IDADE MÉDIA
OBJETIVO DA UNIDADE: Entender as principais características da filosofia cristã e sua
visão de política, enumerando os pontos fundamentais de análise de sociedade feito pelos
pensadores mais importantes da Idade Média, bem como suas propostas para se ter
sociedades mais justas.

3.1 Introdução histórica

A Filosofia Política se desenvolve a partir do desenvolvimento da sociedade humana


e se estrutura a partir do momento que se estrutura a Filosofia como um todo. Por isso é
com a Pólis grega que ela toma força de debate e de busca de conceitos mais profundos
que pudessem mudar o dia a dia do homem na sociedade. De dentro do mundo grego se
expande para o mundo romano e ganha uma forte reflexão com Cícero. Os gregos legam o
aprofundamento filosófico e os romanos a praticidade proporcionada pelo direito.
Com Constantino, segundo Libera (1998) no século IV d. C. o Cristianismo foi
reconhecido como religião dentro do Império Romano, onde antes era perseguido. Edito de
Milão em 313 d. C. O cristianismo já se alastrava de forma segura dentro do império.

Fonte: https://goo.gl/pwcH5g

Com a divisão do império em 395 d.C, pelo Edito de Tessalônica, feito por Teodósio,
o cristianismo se tornou a religião do Estado. Ele foi o elemento de unificação da Idade
Média, especialmente dentro da atomização política da Europa ocidental.

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A parte oriental do império se manteve intacta e passou a ser chamada de Império
Bizantino organizando um poder político teocrático que tem como representante máximo
Justiniano, no século VI.

Fonte: https://goo.gl/GC2zQx

A parte ocidental do império foi ocupada pelos bárbaros germânicos, e ficou dividida
em uma série de reinos que vagarosamente foram se cristianizando, a começar pelos
francos com Clóvis. Além disso, não se poderia deixar de falar do grande desenvolvimento
do Islamismo que a partir de Maomé e da Hégira (622) se expandiu pela Ásia, norte da
África e Península Ibérica. Só não tomaram a Europa porque foram detidos por Carlos
Martel, dos francos, na batalha de Poitiers em 732 (LIBERA, 1998). Também não se pode
deixar de falar da atomização de poder fruto do colonato romano e do comitatus germânico,
que foi o Feudalismo cristalizado dos séculos IX a XI.

Fonte: https://goo.gl/gBPLmQ

As reflexões da Filosofia Política tiveram que construir seu pensar apesar das pechas
dadas a ela como Filosofia do período das trevas. Seus exponentes trabalharam o poder, a

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organização do mesmo, a lei natural, a lei humana e os movimentos da sociedade de forma
tão profícua quanto em outros momentos da história.

3.2 A Patrística
O cristianismo se desenvolveu a partir da fé na ressureição e da esperança da vida
futura junto a Deus. Dentro do império romano os cristãos passaram por enormes
dificuldades, mas foram quebrando as resistências e foram se firmando até seu
reconhecimento. Junto com a prática do cristianismo, fazia-se necessária uma comprovação
racional, que desse fundamentação às verdades por ele preconizadas. Sua fundamentação
filosófica vem desde os tempos iniciais do cristianismo, mas é na Idade Média que
aparecem sínteses mais consistentes que vão determinar a forma de pensar do período. Os
padres foram os coordenadores espirituais e políticos do cristianismo após a ressureição e
quando começou a se espalhar a fé em Cristo de forma mais consistente. Eles buscaram
conciliar a forma de vida dos cristãos a textos da filosofia grega. Buscaram conciliar fé e
razão.

Fonte: https://pt.slideshare.net

Os padres da Igreja mostraram sua reflexão juntando religião e Filosofia. Defendiam


a ideia que o cristianismo tem em suas verdades, a integralidade das verdades filosóficas
pensada pelos gregos atingindo a perfeição. Além do mais, tiveram o papel de defender a
religião contra todos os inimigos que porventura aparecessem. Pode-se dividir a patrística
em três períodos:
a) do século I ao III: é dedicado à apologia do Cristianismo contra seus adversários,
sendo eles pagãos e grupos que não acreditavam em Deus.

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b) do século III ao IV: caracterizado pela estruturação das doutrinas que davam
sustentação às crenças cristãs. Aqui aparece o grande Santo Agostinho.
c) do século V ao fim do século VIII: período da revisão e sistematização das
doutrinas.
A preocupação aqui não é ver a Patrística como um todo, mas entender as reflexões
atinentes à Filosofia Política, dando uma especial atenção a Santo Agostinho como o maior
expoente do período.

3.3 Santo Agostinho – Uma cidade celeste

O pensamento político de Santo Agostinho, segundo


Ramos (2015), se sintetiza na obra “A Cidade de Deus”, onde a
Cidade de Deus e dos homens estão interligadas. A Cidade de
Deus é a perfeição e é fundada na perfeição do amor de Deus; a
dos homens é organizada a partir do egoísmo e do desprezo que
os homens têm por eles mesmos e nesse lugar está o amor
próprio do homem que vem junto com a desvalorização dos
valores espirituais.
Fonte: http://www.a12.com/
Deus governa a Cidade Celeste e cabe ao ser humano decidir que cidade quer:
permanecer na cidade terrestre onde reina o egoísmo, o pecado e a morte, ou a Cidade
Celeste onde reina o amor absoluto de Deus. Agostinho (2001, p. 62), afirma que as duas
cidades foram criadas por dois amores.

O amor de si, que avança até o desprezo de Deus, a terrena; o amor a


Deus, que avança até o desprezo de si, a celeste. Como resultado, uma se
gloria em si mesma; a outra no Senhor. Afinal, uma busca a glória entre os
homens, mas para a outra a máxima glória é Deus, testemunha da
consciência.

Agostinho coloca cidade como nomeação de uma sociedade de homens mais do que
simplesmente sugerir que seja um conjunto de homens. A diferença entre as duas cidades
quer mostrar a existência de dois gêneros de homens, ou seja, aqueles que estão vivendo
segundo o homem e os que estão vivendo segundo Deus. Daí a ideia de duas cidades onde
uma está predestinada a sofrer as agruras, as tristezas e a companhia do diabo e a outra
constrói um reino governado por Deus onde a alegria e a felicidade são perfeitas e eternas.
As duas estão misturadas, atreladas entre si e serão separadas no juízo final. Não se
trata, portanto, de dizer que são distinção entre Estado e Igreja (AGOSTINHO, 2001, p. 64).
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São uma forma de afirmar a vida do homem. O homem é formado para alcançar o supremo
bem e a suprema felicidade que se configura na paz, e isso ele busca junto com os outros,
e isso não pode ser alcançado no meio do egoísmo da cidade terrestre. A união de muitos
seria a realização da justiça e da felicidade cujo modelo é a Cidade Celeste. O Direito e a
justiça estão intimamente ligados, pois são eles que permitem a realização mútua de todos,
do povo.
Para Agostinho (2001), povo é o conjunto da multidão de seres racionais associados
pela concordância comum das coisas que ama, por isso pouco importa se é cristão ou
pagão, para romanos ou para gregos. Aqui ele substitui o direito pelo amor. Esse amor é o
responsável para realizar a justiça. Toda a cidade deve, acima de tudo aspirar ao bem, pois
esse bem é a realização de todos pelo amor. A conclusão é que a justiça pertence à Cidade
de Deus que não está identificada com nenhuma cidade no mundo.

[...] pois, em geral, a cidade dos ímpios, na qual Deus não impera como
aquele a quem ela deve obedecer dado que proíbe que se ofereça sacrifício
senão exclusivamente a ele, e, portanto, na qual não impera a alma reta e
fielmente sobre o corpo e a razão sobre os vícios, carece da verdadeira
justiça (AGOSTINO, 2001, p. 419).

Na sua obra fundamental, Agostinho mostra que o homem é capaz, pode alcançar o
bem supremo configurado em Deus e que ele, buscando esse bem, organiza a sociedade e
sua estrutura política. A Filosofia Política de Agostinho está intimamente ligada a um
processo apologético do cristianismo que estava se firmando. A proposta era mostrar uma
sociedade que só é justa e só alcança a realização se alcançar a justiça que está em Deus.
Para isso o modelo é a Cidade Celeste.

3.4 Escolástica - Tomás de Aquino – o Bem comum

O pensamento medieval se desenvolve de Agostinho a


Tomás de Aquino, no decorrer de praticamente oito séculos
passando-se pelo islamismo quando a filosofia ganhou impactos
orientais. Desenvolveram-se as primeiras universidades no
século XIII e o redescobrimento do pensamento aristotélico. O
pensador que mais trabalhou isso foi Tomás de Aquino, que é
visto como o pensador que cristianizou Aristóteles. Sigmund
(1993, p. 53), assim se manifesta:
Fonte: https://goo.gl/NUukSC

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Tomás de Aquino, contudo, é antes um cristão, e seu aristotelismo é um
aristotelismo cristão. Em contraste com o cristianismo, Aristóteles não
possuía uma concepção de pecado original [...] Para o cristianismo primitivo
e os Pais da Igreja, porém, simbolizados nos escritos de S. Agostinho, a
vida política havia sido corrompida pela inclinação hereditária do homem
para o mal, e o Estado era uma instituição coercitiva com o fim de manter
um mínimo de ordem num mundo de pecado.... Para o Aristóteles do livro I
da Política, por outro lado, o homem é zoon politikon – literalmente, um
animal cuja orientação é a pólis – e a vida política é uma parte necessária
de seu desenvolvimento pleno.

Na esteira de debate da Patrística, um dos debates fundamentais é a questão da


razão e fé no sentido de que a segunda justifique a primeira.
- A razão e a fé se realizam juntas. Não podem estar separadas.
a) São modos diferentes de conhecer: a razão aceita a verdade por causa de sua
evidência e a fé aceita por causa da autoridade de Deus que a revela. Umas verdades são
conhecidas à luz natural do intelecto (aritmética, geometria), outras vêm dos princípios
superiores (teologia).
b) Não podem contradizer-se: porque Deus é autor comum da verdade da razão que
não pode entrar em conflito com a verdade revelada.
c) Razão por si só é incapaz de penetrar nos mistérios de Deus. Mesmo as verdades
que a razão pode atingir sozinha, nem todos chegam a conhecê-las, o caminho que a elas
conduz não é livre de erros por isso Deus revela ao homem a verdade.
d) a razão presta um precioso serviço à fé. Ela é serva da fé.
- Usa-se o termo Filosofia no lugar de razão e Teologia no lugar de fé.
Tomás trabalha o aristotelismo, do ponto de vista da política, destacando o homem
como animal social da forma trabalhada por Aristóteles. O Estado nasce da natureza social
do homem e das limitações do indivíduo. O Estado é uma sociedade, mais ainda, uma
sociedade perfeita. É a união de muitos para fazerem alguma coisa em comum. É sociedade
perfeita porque tem como fim a própria realização, o bem comum e o bem supremo. O
Estado tem os meios suficientes para realizar um modo de vida tal que permita a todos os
cidadãos terem aquilo de que necessitam para viverem como homens.
Ele afirma que o homem recebeu de Deus a justiça original que depois do pecado de
Adão teve a restauração através da mediação de Cristo-homem. Para ele a cidade é a
comunidade humana e a associação humana acontece como algo natural que visa a
realização do bem. Essa cidade não estaria ordenada para satisfazer o bem apenas de um
indivíduo ou de qualquer grupo isolado dentro dela, mas estaria assim para proporcionar o

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alcance do bem de todos não fazendo distinção. É a realização do bem comum que é divino,
pois representa o que Deus tem de mais santo, a realização de todos.
Ramos (2015), coloca que Aquino afirma que faz parte da natureza humana estar
associado em comunidades, o que comprova isso é que o homem é o único animal que fala
e isso permite que ele possa ter relação com os outros de forma mais eficiente. Falar não é
só emitir sons, que podem ser emitidos por qualquer animal, mas a fala é formada por
palavras que são símbolos que significam intencionalidade de significação. A fala ajuda o
homem a entender e comunicar o útil, o nocivo, o justo, o injusto enfim dá a capacidade de
se comunicar com os outros homens que estão ao seu redor. Por isso o homem só
desenvolve sua capacidade de falar quando vive com os outros. A mediação dos outros é
necessária, pois molda a sua forma de falar. Falar, portanto, é um ajustamento de relações
entre membros de um grupo e em um local.
O grupo, a sociedade, é fundamental para o homem ser homem. Por isso Tomás de
Aquino afirma que a política nada mais é do que um ajuste que leva em consideração a
natureza, o intelecto e a vontade humana. A política é a ciência que deve se preocupar em
garantir o bem dessa comunidade que é própria do homem, ou seja, o bem comum e por
isso deve se preocupar também em entender as ações humanas, seja no que é puramente
mecânico (o que fazemos com facilidade por estarmos acostumados) seja no que envolve
valores mais profundos como a moral. Esse bem comum pensado por Tomás é identificado
pela fé que acaba sendo identificado com Deus.
A inteligência humana é identificada (de forma diminuída) com a inteligência divina e
é o que Deus teria pensado na criação a fim de garantir para o homem um lugar especial. O
homem descobre essa realidade pela razão e é com ela que Tomás trabalha a Teologia para
explicar todos os atos humanos. A Teologia subordina todas as outras ciências.
Para ele, a razão humana explica todos os atos humanos, pois ela leva
indubitavelmente a Deus, ela nos instrui através da lei, mas está ligada à graça. A lei é
fundamento da realização dos homens junto com os outros na busca da realização do bem
comum. Por isso a lei é a medida dos atos humanos que estimula ou desestimula a fazer ou
deixar de fazer algo. Toda a lei é baseada na razão e é princípio delineador de todos os atos
humanos. Por isso, o homem é diferente dos outros animais, pois ele torna-se senhor dos
seus atos enquanto se propõe onde ele mesmo quer chegar. E o lugar que ele quer chegar
é a felicidade.
Justo e legal se torna aquilo que garante a felicidade para os indivíduos e para a
comunidade. Essa vida é conforme a virtude e é desenvolvida pela razão no caminho da
felicidade. Essa forma de ver a vida deve ser garantida pelo governante. Ele deve levar o

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governado para a realização plena (a felicidade). Deve cuidar para que o bem comum seja
bem comum onde são ordenados todos os bens que fazem parte da vida dos cidadãos.
O governante deve levar o homem a se realizar a si mesmo, isto é, como dizia
Aristóteles, realizar suas potencialidades, enquanto se realiza como animal político ao
mesmo tempo garantir o bem comum que é fim da comunidade. Mas a realização individual
e a realização do bem comum são meios para a felicidade perfeita que é a fruição divina, o
alcance do sumo bem que está em Deus. Para isso o mandante precisa de auxílio divino
configurado no próprio Deus que se tornou homem em Jesus Cristo.
Precisa o homem, então do governo temporal e do governo espiritual. O temporal
rege o bem comum que é próprio da natureza humana; o espiritual é o que governa as
realizações do homem e as relações do mesmo atinente àquilo que faz buscar o bem
supremo, esse que precisa a intermediação da fé em Deus salvador por Jesus Cristo através
de seu representante visível: a Igreja.
O bom governante deve se preocupar em criar condições para o homem viver de tal
forma que garanta o bem comum, mas também deve estender estas condições para o
alcance do supremo bem.

3.5 Guilherme de Ockham – vontade, razão e fé

Guilherme de Ockham (1285-1347), frade franciscano


inglês, trabalha a Filosofia Política a partir da discussão acerca
da dicotomia poder temporal – poder espiritual. A Igreja
(século XII e XIV) chegava a reivindicar para si as próprias
investiduras do poder temporal. A questão chegou a tal ponto
que o papa reivindicava para si o poder de investir o próprio
imperador. Os franciscanos entram nessa discussão por causa
de outra discussão que tinham com a Santa Sé que era sobre
a pobreza evangélica. Esse conflito leva Ockham a trabalhar
sua filosofia política tentando desvincular o poder temporal do
poder espiritual.
Fonte: https://goo.gl/75UwcG
Para ele, segundo Ramos (2015), o poder do rei vem dos cidadãos que o escolhem
para essa função. Esses cidadãos o aceitam por hereditariedade, por eleição ou por outra
forma que achem viável para que o soberano seja soberano. Também cabe ao povo dizer
até onde vai o poder deste soberano como limitador natural. O poder do rei deve ser um

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poder real que represente efetivamente os fatores reais de poder e não um simples ato de
coroação.
A vontade do povo é o fundamento máximo da instituição do poder do rei, do
governo temporal. Para garantir o bem comum, as pessoas instituem alguém que possa ser
o responsável e tenha legitimidade. Essa legitimidade não é porque o poder veio do próprio
governante, mas veio dos seus representados. Para Ockaham (2002), a política é
fundamental para garantir a praticidade da vida dos governados e menos para garantir os
fins ditados pela natureza humana. “[...] se nalguma comunidade ninguém precisasse ser
punido por causa duma culpa ou delito, então, bastaria que houvesse um monitor ou um
doutor que instruísse acerca do bem que deve ser feito, e seria totalmente supérfluo haver
um governante [...]” (OCKAHAM, 2002, p. 95).
O poder passa a ser instituído voluntariamente pelos homens para satisfazer sua
necessidade prática de coexistir em função de sua razão de ser. Desta forma a política é
determinada pela vontade do homem que decide o que quer, o que é melhor para si, seja o
rei, seja a organização que ache melhor. Nem a Filosofia, nem o poder espiritual podem
determinar para o homem o bem comum que ele busca, mas ele tem que confiar na reta
razão que vai discernir o que é o bem, nos limites de sua capacidade. Isso será feito pela fé
revelada ou pelas próprias forças.
Ele tira do poder espiritual a capacidade que se arroga de nomear o poder temporal
e afirma que este tem que ser escolhido pelos cidadãos, não é algo meramente natural e
nem revelado pura e simplesmente. A vontade tem que buscar em si mesma a legitimidade
do bem quer seja para o homem, seja para a comunidade. É o começo do pensamento
moderno.

Dicas de aprofundamento
Leituras:
AGOSTINHO. A Cidade de Deus contra os pagãos. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
LIBERA, A. A filosofia medieval. São Paulo: Loyola, 1998. – Capítulo 2
OCKHAM. Oito questões sobre o poder do Papa. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2002.
RAMOS, F. C; MELO. R; FRATESCHI, Y. Manual de Filosofia Política – Teoria do Estado
e Ciência Política, Filosofia e Ciências Sociais. 2.ed. Saraiva. São Paulo, 2015.

Filme:
Assista ao filme O Nome da Rosa – 1983 – Sean Connery; Christian Slater; F. Murray
Abraham

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Sinopse: Em 1327 William de Baskerville, um monge franciscano, e Adso von Melk, um
noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de
Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de
suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no
mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante
intrincado, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do Demônio. William de
Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações Bernardo
Gui, o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de
heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. Considerando que ele não
gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente
influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e
dominicanos, é travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado.

Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 3 e a


Atividade 3.1.

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UNIDADE 4

FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA – O


RENASCIMENTO
OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar as principais características das transformações no
saber ocorridas na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Enumerar as linhas
fundamentais do pensamento político dos pensadores do Renascimento e sua importância
para o entendimento da organização da sociedade da época.

4.1 Introdução histórica – passagem para a ciência moderna

A passagem para a Idade Moderna vai trazer enormes modificações na vida da


humanidade. Na Europa o Feudalismo já dava lugar aos Estados Centralizados. A burguesia
se firmava como classe e começava a barganhar poder com os soberanos, desempenhando
papel importante na consolidação das monarquias absolutistas. Passou-se do teocentrismo
para o antropocentrismo desenvolvendo novos sistemas: econômico, político, artístico,
religioso e científico além de que, com as descobertas o mundo ficou muito maior. A nova
visão de mundo muda radicalmente.

A visão do mundo e o sistema de valores que estão na base de nossa cultura,


e que têm de ser cuidadosamente reexaminados, foram formulados em suas
linhas essenciais nos séculos XVI e XVII. Entre 1500 e 1700 houve uma
mudança drástica na maneira como as pessoas descreviam o mundo e em
todo o seu modo de pensar. A nova mentalidade e a nova percepção do
cosmo propiciaram à nossa civilização ocidental aqueles aspectos que são
característicos da era moderna. Eles tornaram-se a base do paradigma que
dominou a nossa cultura nos últimos trezentos anos e está agora prestes a
mudar (CAPRA, 1983, p. 210).

Antes de 1500 as pessoas vivenciavam a natureza em termos de relações orgânicas,


caracterizadas pela interdependência dos fenômenos espirituais e materiais e pela
subordinação das necessidades individuais às das comunidades. A estrutura científica da
visão desse mundo orgânico se apresentava em duas autoridades: Platão/Agostinho;
Aristóteles/Tomás de Aquino e a Igreja.
No século XIII, Tomás de Aquino combinou o abrangente sistema da natureza do
filósofo Aristóteles com a Teologia ética cristã, e assim fazendo, estabeleceu a estrutura
conceitual que permaneceu inconteste naquela parte final da Idade Média. A natureza da
ciência medieval era muito diferente daquela da ciência contemporânea. Baseava-se na fé e
na razão. Sua principal finalidade era compreender o significado das coisas e não exercer a

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predição ou o controle. Os cientistas medievais consideravam do mais alto significado as
questões referentes a Deus, à alma humana e à ética.
A perspectiva medieval mudou radicalmente nos séculos XVI e XVII. A noção de um
universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção do mundo como se ele fosse
uma máquina, e essa visão do mundo domina até a era moderna. Esse desenvolvimento foi
ocasionado por mudanças revolucionárias na física e na astronomia, culminando nas
realizações de Copérnico, Galileu e Newton.
A revolução científica começou com Nicolau
Copérnico, que se opôs à concepção Geocêntrica de
Ptolomeu e da Bíblia, que tinha sido aceita como
dogma por mais de mil anos. Depois de Copérnico
(1473-1543), a Terra deixou de ser o centro do
universo para tornar-se meramente um dos muitos
planetas que circundam um astro secundário nas
fronteiras da galáxia. O homem foi tirado da sua
cômoda e privilegiada posição de figura central da
criação de Deus.
Fonte: https://goo.gl/FMMJZJ
A Copérnico seguiu-se Kepler (1571-1630), cientista e místico que se empenhava em
descobrir a harmonia das esferas. Acabou formulando leis empíricas do movimento planetário
que vieram a corroborar o sistema de Copérnico.
Mas a verdadeira mudança na opinião científica foi provocada por Galileu (1564-
1642), que já era famoso por ter descoberto as leis da queda dos corpos quando voltou sua
atenção para a astronomia. O papel de Galileu na revolução científica supera largamente suas
realizações no campo da astronomia, embora estas sejam mais conhecidas por causa de seu
conflito com a Igreja.
Galileu foi o primeiro a combinar experiência científica com o uso da linguagem
matemática para formular as leis da natureza por ele descobertas2, considerado o pai da
ciência moderna. A filosofia, acreditava ele, “está escrita nesse grande livro que permanece
sempre aberto diante dos nossos olhos; mas não podemos entendê-la se não aprendermos

2
Quanto ao procedimento metódico particular para construir a ciência, Galileu distingue três
momentos principais: a) observação; b) hipótese; c) experimentação, que é a verificação da
hipótese. Como Aristóteles e Tomás de Aquino, Galileu está convencido que o conhecimento humano
deve firmar-se na experiência; mas, diversamente daqueles dois filósofos que partem da experiência
para transcendê-la e para construir uma metafísica geral e especial, Galileu fica no âmbito da própria
experiência.

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primeiro a linguagem e os caracteres em que ela foi escrita”. Para Galileu a ciência é indutiva,
deve fundamentar-se na experiência para conhecer e dominar a própria experiência, deve
buscar as leis dos fenômenos. Isso tudo deve ser feito pela observação, hipótese,
experimentação. Isso possibilitaria aos cientistas descreverem matematicamente a natureza,
as propriedades essenciais, que podem ser medidas, forma, quantidade e movimento; as
quais podiam ser medidas e qualificadas. Outras propriedades como som, cor, sabor, ou
cheiro, eram meramente projeções mentais e deveriam ser abolidas da ciência.
Enquanto Galileu realizava engenhosos experimentos na Itália, Francis Bacon (1561-
1626) descrevia explicitamente na Inglaterra o método empírico, realiza experimentos e
extrai deles conclusões gerais testadas para novas experiências. Atacou frontalmente as
escolas tradicionais de pensamento e desenvolveu uma verdadeira paixão pela
experimentação científica.
Nesta época, o expoente máximo da política era Maquiavel, que nasce na Florença
(1469-1527). A obra mais famosa é “O Príncipe”. Constrói o estado no limite da experiência.
O Estado torna-se o fim último, ao qual todos os indivíduos estão plenamente submetidos,
bem como os valores éticos e religiosos.
A partir de Bacon (que morreu em 1600 condenado pela inquisição), o objetivo da
ciência passou a ser aquele conhecimento que pode ser usado para dominar e controlar a
natureza e, hoje, ciência e tecnologia buscam sobretudo fins profundamente antiecológicos.
A ciência do sec. XVII baseou-se num novo método de investigação, defendido por
Francis Bacon, o qual envolvia uma descrição da natureza e o método analítico de raciocínio
concebido pelo gênio de Descartes. Reconhecendo o papel crucial da ciência na concretização
dessas importantes mudanças, os historiadores chamaram os séculos XVI e XVII de a Idade
do Renascimento Científico. Descartes é considerado o fundador do Racionalismo moderno.
Obra mais importante “O Discurso do Método”. Seu método é chamado de Cartesiano. Ele
parte da dúvida universal “dúvida metódica” até que consegue chegar à sua verdade.
O antigo conceito de terra, como mãe nutriente, foi radicalmente transformado nos
escritos de Bacon e desaparece por completo quando a revolução científica tratou de
substituir a concepção orgânica da natureza pela metáfora do mundo como máquina. Essa
mudança, que viria a ser de suprema importância para o desenvolvimento subsequente da
civilização ocidental, foi iniciada e completada por duas figuras gigantescas do século XVII:
Descartes e Newton.

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4.2 Filosofia renascentista

Ao final da Idade Média e início da Idade Moderna, passa-se do pensamento em que o


homem se preparava apenas para a vida futura, a Igreja era a depositária da verdade, para
um novo modo de pensar e de agir onde o centro não era mais Deus, mas o homem. Agora
prevalece a autonomia do mundo, da cultura em relação ao transcendente, a supremacia da
evidência racional na procura da verdade, a consciência do valor absoluto da pessoa humana.
A vida e a natureza são valorizadas por si mesmas. O homem conquista a liberdade. A
transformação é em todos os campos do pensar, em síntese:
- Política: enfraquecimento do poder político do papado, surgimento dos estados
nacionais, na Itália, surgimento das Repúblicas. A liberdade era maior, a procura era mais do
bem-estar material do que espiritual dos cidadãos, visto que era o advento da burguesia. A
atenção dos governantes não estava voltada para Deus, para a Igreja, mas para os próprios
súditos e muitas vezes para os interesses próprios. Aqui nos deteremos mais ainda nesta
unidade. É o foco central do nosso estudo.
- Ciências: As grandes descobertas foram o fato fundamental do período, pois alterou
toda a concepção do mundo. Houve a mudança de interesses e de perspectivas no homem.
- Arte: Liberdade e autonomia. Valorização do belo, da autonomia do mundo estético.
Escapa dos monumentos religiosos. Agora a arte é cultivada em si mesma, como valor
estético e não mais religioso e aparece como expressão da beleza. Influencia no dia a dia
enobrecendo costumes, casas, pessoas, etc. Surgem os Mecenas, os Literatos e os Artistas
em geral. A aristocracia deixa as armas e segue a arte, a cultura.
- Religião: Crise da autoridade papal: Cativeiro de Avinhão; Cisma do Ocidente; venda
das indulgências, simonia. A imoralidade do clero leva à crise da Igreja e à Reforma.
A Reforma causou profundas transformações políticas, sociais, econômicas e culturais.
Algumas ordens religiosas buscavam renovação ainda no século XII: franciscanos e
dominicanos. No séc. XV também Bernardino de Sena Savonarola, os capuchinhos, Jesuítas,
porém não surtiram muitos efeitos. A baixa formação do clero, a ignorância, a grosseria dos
sermões, o poder dos reis era cada vez mais fortes.

4.3 Política do humanismo


A passagem para o Mundo Moderno busca o homem com todas as suas características
de humanidade.

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Fonte: http://www.sabernarede.com.br/

Nascido dentro do Renascimento Cultural que começou no século XIV desde a Itália e
difundindo-se pela Europa, buscou novas formas de entender o homem, já que as ciências
mostravam uma nova forma de ver o mundo. Dentre os principais pensadores e obras,
podemos citar:
- Erasmo de Roterdã (1466-1536), conhecido
como o príncipe dos humanistas. Sua obra “O Elogio da
Loucura” celebra as glórias da loucura e do esquisito. É
uma crítica mordaz contra as pessoas de seu tempo.
Criticou muitos membros da Igreja, tanto que é
considerado precursor de Lutero. Porém foi também
crítico do reformador. Na sua crítica a Lutero diz que
atribuir tudo a Deus é suprimir a possibilidade dos valores
morais, tornar o homem escravo de Deus e transformar
Deus num tirano cruel.
Fonte: https://goo.gl/1hwkKi
- Giordano Bruno (1548-1600), dominicano
condenado por heresia e queimado. O mundo tem dois
princípios: ativo (alma do mundo) princípio inteligente e
ordenador com o qual se identifica Deus e passivo
(matéria). Duas religiões: a positiva serve par instituir os
povos rudes que devem ser governados; a interior: Deus
está acima de tudo portanto é incognoscível.
Fonte: https://goo.gl/mUUWir
O que o filósofo procura é a experiência religiosa da presença de Deus. O que exalta e
diviniza o homem é que depois que conheceu o bem, o belo, se desinteressa daquilo que
antes o mantinha preso e daí que a sua tendência seja sempre Deus, fonte de sua própria
substância e, em contato intelectual com aquela divindade, torna-se Deus (Panteísmo).

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Além disso, colocam-se outras obras fundamentais, como: Maquiavel e “O Príncipe”;
Shakespeare e “Hamlet” (dentre muitos outros); Thomas Morus e “Utopia”; Cervantes e
“Dom Quixote”; Camões e “Os Lusíadas”.
Como figura central, o homem é visto como alguém que busca se entender a si
mesmo, seu papel no mundo, sua liberdade e autonomia, escolhendo para si o que realmente
lhe interessa e tem sentido. E isso o homem faz na relação com os outros e o sentido para
sua vida é encontrado nessa relação. A centralização de poder que marcou o grande
movimento político da Baixa Idade Média foi superando gradativamente o feudalismo e foi
centralizando o poder nas mãos de soberanos que se firmaram a ponto de se tornarem
absolutistas.
O pensamento político se desenvolveu acompanhando as transformações da época e
os principais pensadores são o Inglês Thomas Morus e o florentino Nicolau Maquiavel.
Enquanto Morus imagina uma sociedade idealizada para, a partir dela criticar a sociedade
inglesa daquela época, Maquiavel parte da realidade italiana para imaginar um Príncipe capaz
de fazer surgir uma República justa. Eles imaginam, de forma diferente a possibilidade de se
organizar uma sociedade onde os governantes seriam competentes e sábios. Para eles o
homem é capaz de ter conhecimento do mundo, pois ele vive aí e é alguém capaz de
entendê-lo e pensá-lo.

4.3.1 Maquiavel – Maquiavélico ou não?


Maquiavel (1469-1527), nasceu em Florença, na Itália, o pai era advogado. A Itália
estava dividida em pequenos principados, enquanto outros países como Espanha, Inglaterra e
França eram nações unificadas. Estava com o poder fragmentado; instabilidade; milícias
particulares; mercenários; conflitos políticos entre as repúblicas – Florença, Milão, Veneza,
Nápoles. Imperava tirania em pequenos principados. Os principados eram governados
despoticamente por famílias sem tradição e altamente contestáveis. Em situações como estas
só alguém muito astucioso para se manter e promover as reformas necessárias. Usar de toda
a força possível internamente e fazer acordos com outros estados de tal forma que seu poder
seja garantido é muito difícil quando não se tem um Estado centralizado como era a Itália
naquele momento e a grande quantidade de poderes não dá segurança a ninguém
(SKINNER, 1996).
Politicamente e militarmente a Itália era fraca, apesar de seus grandes alcances
culturais que marcavam o Renascimento Cultural. A Igreja ainda tinha um poder muito
grande e determinava os valores religiosos e morais usados para manter o controle da
sociedade na época. A preocupação das pessoas é presa ao dinheiro: “o homem se esquece

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mais rápido de quem matou seus pais do que de quem lhe roubou a terra” (MAQUIAVEL,
2007, p. 53).
No restante da Europa a centralização já estava consolidada em muitos países e em
outros estava se consolidando e a burguesia evoluiu muito. A produção manufatureira,
instalada nos territórios dos antigos clientes dos italianos, as Navegações (que colocaram
Portugal e Espanha no centro econômico da Europa) causaram prejuízos aos Estados
italianos. Isso tudo gerou o enfraquecimento da Itália. Maquiavel mostra que a história se
repete dando exemplos do passado que se repete naquele momento.
O Príncipe (1513) é um manual de política para alguém que governa um Estado e o
aconselha sobre como manter seu governo da forma mais eficiente possível. Essa eficiência
é a ciência política de Maquiavel. É um guia de conselhos para governantes. De certa forma
defende o absolutismo e o imoralismo do príncipe para se manter no poder. Ele tem que ser
mau, e deve ser obedecido pelo temor e não pelo amor, suas virtudes fundamentais devem
ser a energia, a brutalidade e a força; os fins justificam os meios. O que vale é atingir seus
objetivos, pouco importa se há infâmia, hipocrisia, ignorância, mentira, o que importa é
organizar um Estado diferente do que já existe.
Permanecer no poder é fundamental, para isso o príncipe deve estar disposto a fazer
o que puder, mesmo que tenha que desrespeitar qualquer valor moral e deve usar da força,
da truculência e do poder de decepcionar a quem se intrometer no seu caminho. Para ele a
força militar e a existência de um exército nacional eram necessários para evitar as
incursões de inimigos externos e não pode depender de mercenários pois estes podem se
aliar a seus inimigos quando forem dispensados. Um líder deve buscar o apoio de seu povo.
O poder deve ser assumido e daí que o príncipe deve: “cometer todas as crueldades de uma
só vez, para não ter que voltar a elas todos os dias [...]. Os benefícios devem ser oferecidos
gradualmente, para que possam ser melhor apreciados” (MAQUIAVEL, 2007, p. 54).
O florentino mostra o que o príncipe deve fazer para manter o poder e afirma que,
se tiver que optar entre um amigo ou um inimigo, é melhor sempre optar por um inimigo,
pois dos amigos nem sempre se sabe o que vem. Ao afirmar isso ele chama a atenção para
que se o príncipe quer realmente mudar aquele estado de coisas, ele tem que matar
qualquer possibilidade de volta às ideias da sociedade que ele está destruindo.
Quando pergunta: “é preferível que um líder seja amado ou temido?” A resposta é
que seja os dois, mas, se isso não for possível, que seja pelo menos temido, pois o amor é
um sentimento volúvel e inconstante, as pessoas agem muitas vezes por interesses e
podem, com frequência, mudar sua lealdade. Porém, o medo de ser punido é um
sentimento que não pode ser modificado ou ignorado tão facilmente (MAQUIAVEL, 2007).

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A maldade que o príncipe faz também tem características interessantes: as bem
praticadas são as que se cometem ao mesmo tempo, no início do reinado para garantir a
segurança do novo Príncipe, parecem menos amargas, ofendem menos; e as mal praticadas
que se arrastam, se renovam, se multiplicam com o tempo, gerando insegurança aos
súditos.
Não se trata aqui de violência por violência, mas o príncipe é como o cirurgião que
está fazendo uma cirurgia em seu paciente. Ele está fazendo o mal, tudo de uma vez, mas é
óbvio que sua preocupação não é matar o paciente. Aquele mal é necessário para que o
paciente possa ser salvo.
O mal do príncipe é necessário, pois o príncipe sabe onde quer chegar, a uma
sociedade melhor, mais justa, sem os problemas daquela anterior que era cheia de
desigualdades e só gerava problemas para os cidadãos. Daí que o príncipe deva ser forte e
sábio. A fortuna e a virtu são características fundamentais dele: a fortuna é o espaço
privilegiado onde está a força do progresso da sociedade onde a razão aparece como
determinadora de metade de nossas ações - a outra metade fica ao encargo do livre-
arbítrio; a virtu é a virtude das virtudes (prudência de Aristóteles). É a capacidade de ação
do homem e ele mostra seu poder no espaço público. O homem será capaz de agir no
espaço público.
Preocupa-se com alguns elementos básicos que determinam o seu método:
Utilitarismo – "Escrever coisa útil para quem a entenda; Empirismo – "Procurar a
verdade efetiva das coisas"; Antiutopismo – "Muitos imaginaram repúblicas e principados
que jamais foram vistos"; Realismo – "Aquele que abandona aquilo que se faz por aquilo
que se deveria fazer, conhece antes a ruína do que a própria preservação".
Maquiavel não se adequa a trabalhar sistema utópico procurando a verdade efetiva,
especificando o papel de quem vai estar envolvido realmente nos fatos. “Muitos já
conceberam repúblicas e monarquias jamais vistas, e que nunca existiram na realidade (...)
Mas, como minha intenção é escrever o que tenha utilidade para quem estiver interessado,
pareceu-me mais apropriado abordar a verdade efetiva das coisas, e não a imaginação”
(MAQUIAVEL, 1972, p. 60).
Ele se dedica a observar fatos históricos do passado para com isso construir
argumentos para suas formulações, pois para ele ao observar a história dos fatos, constata
que os homens são de natureza capazes de fazer o mal, pois a violência sempre esteve
presente em seus atos.

Em outros termos, Maquiavel assume a perspectiva do realismo político, a


ótica do pragmatismo em prol da flexibilidade do líder para adaptar-se às
circunstâncias sempre cambiantes do jogo político. Preconiza a objetividade
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na avaliação dos cursos de ação, a independência contra dogmas e
preconceitos. Sua regra metodológica é o exame da realidade concreta, o
domínio do que é, em contraste com o que deve ser. Daí a ênfase na
verdade efetiva das coisas, isto é, na “busca da verdade extraída dos fatos”
(O príncipe, cap. XV, p. 89). Trata-se de privilegiar a ideia de relatividade
em contraposição à noção de moral absoluta e universal (DINIZ, 1999, p.
57).

É essencial perceber que Maquiavel está voltado para a ação política e não tem o
otimismo filosófico dos utopistas que acreditavam que apenas a vontade da razão era
possível para formar governos virtuosos, justos e perfeitos. Este realismo tem uma ética e
uma lógica diferente da vida privada. A política tem uma ética própria que não se mistura
como o piedosíssimo da ética privada. Por isso o príncipe deve saber dosar suas ações
conforme exigirem as necessidades e as circunstâncias. É aí que aparecem as qualidades
mais importantes do príncipe: saber governar nas circunstâncias que lhe aparecem. Às
vezes como leão que se mostra forte para amedrontar os lobos, e às vezes astuto como
raposa para conhecer os lobos. Essa forma de ver a política deu origem ao termo
“maquiavélico”.

[...] ainda hoje Maquiavel é um autor polêmico. Seu nome ficou


definitivamente associado à percepção da política como a arte da
dissimulação e do engodo. O termo maquiavélico está carregado de
conotações negativas, corroborando a imagem do político como uma
pessoa dotada de uma habilidade especial para esconder suas reais
intenções e manipular as situações a seu favor, enfim, um mestre no
emprego da astúcia e da força ao sabor de suas conveniências políticas, um
ser traiçoeiro, sendo mesmo capaz de eliminar do seu caminho os amigos
de ontem, os aliados de outrora, quer dizer, basicamente alguém em quem
não se pode confiar. Maquiavelismo, enfim, simboliza a face demoníaca do
poder (DINIZ, 1999, p. 58).

O contexto em que vivia fez com que ele precisasse construir a ideia de um príncipe
dessa forma. Um Estado forte é desejo seu para a Itália unificada. Ele contrastava essa
Itália com toda a grandeza de Roma: o real vivia às sombras do passado glorioso.
O Estado forte é necessário quando há um perigo que ameaça a desorientação total,
quando a corrupção se alastrou. É um remédio necessário para inibir as forças
desagregadoras e destruidoras. Era sobre essa realidade que o príncipe foi concebido. No
momento em que a sociedade estiver equilibrada, o poder político encontrou seu lugar de
gerenciamento e de regenerador da sociedade como um todo, quando as pessoas
conseguem ver harmonia entre suas relações há um terreno preparado para a República
onde o príncipe não é mais necessário.
Essa fase posterior a todo o trabalho do príncipe, a fase da República a preocupação
é com as leis, a liberdade, as instituições políticas e seu funcionamento numa república, ao

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governo constitucional e outros tantos temas que procurem o bom desenvolvimento do todo
da sociedade. Para isso, após ter lido O Príncipe, é necessário ler os “Discursos sobre a
primeira década de Tito Lívio” ou simplesmente “Discorsi”.

[...] não se pode pensar em uma cultura política, sem conhecer as duas
principais obras de Maquiavel. Calvino Filho [a editora] fez bem em traduzir
O Príncipe. Ele vem mostrar a muita gente como a humanidade pouco
mudou nestes quatro séculos. Maquiavel nasceu em 3 de Maio de 1469 e
escreveu o Príncipe pouco depois de 1500… Por essa época, descobria-se o
Brasil e começava o lento trabalho de sua colonização. Quatrocentos e
trinta e três anos se passaram e a obra de Maquiavel, lida em nossa língua,
na tradução, que Calvino Filho aqui lhe dá, parece um delicioso conjunto de
epigramas de uma atualidade palpitante […] Positivamente o Brasil está na
hora de ler Maquiavel (BAGNO, 2017, p. 17).

Maquiavel foi muito criticado pelas ideias que ele defendeu em “O Príncipe”.
Contudo, é importante ressaltar que ele preferia uma república à ditadura, basta ver o que
ele diz em “Discorsi”. Foi condenado por muitos, seu nome virou sinônimo, inclusive na
língua portuguesa, de duplicidade e manipulação: “maquiavélico”. Isso porque muitos
líderes usaram seus conselhos para governar e acabaram causando grandes problemas
históricos. Ex.: Benito Mussolini, o líder fascista italiano durante a Segunda Guerra Mundial,
um homem que trouxe muita destruição para seu país, elogiou publicamente o livro; o
próprio Napoleão Bonaparte usava O Príncipe como motivo para governar.
O que se pode dizer é que Maquiavel constrói uma ideia de política bem peculiar,
mas não dá para afirmar que “Maquiavel é maquiavélico”.

4.3.2 Thomas Morus – Uma Utopia para a sociedade

Utopista é o nome que se dá àqueles pensadores que trabalham a Filosofia Política a


partir de uma construção de um pensamento onde se imagina uma sociedade idealizada. A
razão é capaz de construir essa realidade a partir de críticas que tecem da sociedade na qual
vivem. Isto é, analisam a sociedade onde vivem e a partir dela constroem, racionalmente,
uma possibilidade que seja resposta aos problemas daquela sociedade. Tomando-se a
história da Filosofia Política, pode-se considerar nessa forma de refletir: Platão, com A
República; Santo Agostinho, com A Cidade de Deus; Tommaso Campanella, com A cidade do
Sol; e até Marx, com O Capital.

Um gênero literário que tem um caráter imagético, que opõe o real e o


imaginário, de uma realidade descrita satiricamente ou imageticamente,
como projeções em um tempo futuro ou um “sonho utópico” que se vinculam
à situação social da época em que são produzidas. O mundo descrito

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corresponde ao inverso do mundo real, narrado em minúcias como existente
no tempo, embora geograficamente afastado e deslocado no espaço em
relação ao universo real (VOSSKAMP, 2009, p. 22).

A preocupação aqui será trabalhar Morus e sua visão nova de Filosofia, que será
modelo de muitos pensadores contemporâneos como os
Socialistas Utópicos e o próprio Socialismo Científico.
Thomas Morus ocupou o cargo de Grande Chanceler da
Inglaterra no reinado de Henrique VIII. Morreu
decapitado em 1535. Sua função era fundamental no
reinado do criador do anglicanismo. Caiu na desgraça
com o soberano, pois se negou a abjurar o catolicismo
quando o rei aprovou os “Atos de Supremacia” e quando
se negou a assistir a coroação de Ana Bolena. Foi fiel ao
catolicismo até sua execução.
Fonte: https://goo.gl/Et7rdW
Utopia foi publicada muito antes desses fatos, foi editada na Suíça por Erasmo de
Rotterdam, a quem Morus estava ligado por fortes laços de amizade. A obra mostra uma
revisão da política feudal que estava no seu ocaso, critica o absolutismo que se impunha e o
regime burguês. Trabalha a defesa da ideia de um Estado guiado pelo Direito Natural
baseado na igualdade entre todos os cidadãos e uma vida comunitária como bem supremo.
Desde a carta, que manda a Pedro Giles, que aparece antes de começar o texto,
Morus já mostra suas críticas às grandes preocupações dos homens de sua época que eram o
dinheiro e a propriedade. O termo que escolheu UTOPIA deixa claro o significado que quer
dar ao texto. A palavra significa uma quimera, algo difícil de alcançar, algo perfeito. Morus
quer dar o significado literal que ela tem: U como um prefixo que demonstra negação e
TOPOS que significa lugar. Literalmente – o não lugar.

Utopia como lugar nenhum é, de fato, um lugar irreal. Mas como lugar feliz,
tem uma exigência ética e política que preside a elaboração deste sonho
utópico e, os dois sentidos são inseparáveis, e uma definição da utopia como
construção mental deve levar em conta ao mesmo tempo estes dois
aspectos, fictício e projetivo (MONTEIRO, 2013, p. 54).

Os personagens criados são colocados de forma estratégica para que ele pudesse
fazer a crítica sem correr o risco de ter problemas com as possíveis censuras. São eles: Rafael
Itlodeu (o contador de lorotas) que é aquele que visitou Utopia, que faz as críticas abertas à
sociedade inglesa, e que nada mais é do que o que o personagem que representava Morus,
pensador na sua perspicácia de filósofo e crítico; Thomas Morus (ele se coloca como
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personagem) desempenha o papel de alguém que escuta sobre a sociedade descrita pelo
primeiro e ao mesmo tempo faz a ponderação, de certa forma salvaguardando valores da
sociedade inglesa, na qual o Morus pensador tinha um lugar a defender; Pedro Giles era o
personagem de ligação entre os outros dois.
Para colocar os personagens em contato, Morus fala de uma viagem sua para
Flandres a serviço do seu rei e que lá foi apresentado por Pedro a alguém que tinha viajado
com Américo Vespúcio e tinha conhecido a sociedade utopiana da qual iriam conversar
longamente. Possivelmente o Morus pensador conhecia os diários das viagens de Américo
Vespúcio e teria usado os diários do mesmo para ter um modelo de sociedade. Da conversa
entre os dois é que se percebe que aflora a Filosofia Política de Morus. Apresenta os
problemas que afligiam a sociedade europeia, especialmente a inglesa, mostrando uma
situação de liberdade perante tais problemas. Os debates fundamentais começam com dois
temas fundamentais:
- O debate da importância do papel do filósofo para o governo. A conclusão a
que chegam é que, mesmo que seja um papel difícil, ele é necessário pois sem ele seria pior.
Ele é o moderador da consciência do governante.
- Sobre a pena de morte, que era a pena para a maior parte dos crimes cometidos
na Inglaterra, está claro que as pessoas que cometem vários crimes os cometem levados pela
política mercantilista desenvolvida pela burguesia, que estava
preocupada em lucros e acúmulo de metais preciosos. A
expansão da criação de carneiros para produção de lã era
necessária para produzir tecidos que seriam comercializados em
troca de ouro com a Espanha (MORUS, 2004).
A partir daí Rafael Itlodeu começa a colocar sua viagem
espetacular à Ilha de Utopia, que tinha como capital Amaurota
(cidade que não existia). A descrição que faz da ilha é a crítica
que pretendia fazer. Como veremos, a seguir.
Fonte: https://goo.gl/rh3dwn
- Em Utopia não havia propriedade privada, as pessoas trabalhavam 6 horas por dia
(todas as pessoas), o restante do tempo era usado para fazer coisas mais agradáveis ao
corpo e à alma, o dinheiro não existia, o ouro era desprezado. Aqui está uma grande crítica
àquela sociedade inglesa preocupada com acúmulo de riquezas, com a propriedade privada e
para isso o trabalho era explorado à extenuação; a preocupação última era aumentar a
propriedade privada. Além disso, ele diz que em Utopia o ouro era tão pouco valorizado que
era usado para fazer algemas (usadas para prender bandidos) e para fazer urinóis (usados
para fazer as necessidades mais básicas, isto é, desprezados); bronze e ferro eram mais
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importantes, pois serviam para fazer instrumentos para produzir o necessário para
sobreviver. Se não tem propriedade privada, a riqueza é pouco importante não há
necessidade de trabalhar tanto e então sobra tempo para outras coisas.
- Quase não havia leis em contraposição com a sociedade inglesa que tinha muitas
leis e, assim mesmo, aconteciam muitas injustiças. Morus afirma que o compromisso que as
pessoas têm entre si é tão importante que não precisa de leis e que, quanto menos relação
as pessoas têm, mais leis precisam para manter a ordem.
- O estudo na ilha era para algumas pessoas que estivessem interessadas e que essas
pessoas deveriam se disponibilizar para exercer os cargos administrativos. Aqui Morus faz
uma alusão à Sofocracia de Platão.
- Para todos os cargos havia eleições. Aqui Morus se antecipa na sua filosofia política,
pois quem vai falar de escolha de quem exerce cargos públicos são os contratualistas no
século XVI, além de fazer críticas ao absolutismo vigente na época.
- No que se refere à religião, percebe-se que Morus tem claro o movimento reformista
que começava a se mostrar. Ele afirmava que em Utopia as religiões conviviam e fazia uma
pequena crítica ao universalismo do catolicismo, dizendo que o culto era na língua local.
- Em Utopia não havia guerra. A guerra era o recurso que só seria usado em última
instância e até lá se negociaria e, se não fosse possível, os utopianos não fariam guerra para
se defender e para isso contratariam mercenários, não obrigando os cidadãos a irem para a
guerra e deixarem suas famílias para trás. A Inglaterra procurava, para qualquer motivo,
fazer guerra e obrigava seus cidadãos a defenderem interesses que muitas vezes não eram
seus.
- Ao descrever a escravidão há um alongamento no discurso. Ele procura ir longe e
mostrar a diferença que era a escravidão em Utopia. Que os escravos não sofriam muito e
que com o tempo deixavam de ser escravos. O interesse aqui era mostrar dois conceitos:
liberdade e justiça. Mesmo vivendo em uma sociedade perfeita, os utopianos tinham
liberdade de fazer o que quisessem, mesmo que estivesse errado (isso demonstra sociedade
livre e sadia) e quando isso acontecia havia punição e a punição que ele conhecia era a pena
de morte (que ele não aceitava como mostra no começo do texto) a outra era a escravidão
(MORUS, 2004).
Essas são as principais discussões que mostram aquela possibilidade de se ter uma
sociedade melhor, mais humana e mais justa e que os utopianos teriam encontrado uma
forma de organizar o estado que poderia servir para toda a humanidade.

[...] recordou muitos detalhes que lhe haviam parecido absurdos nas leis e
costumes daquele povo, não somente na sua maneira de guerrear e nas
demais instituições, mas também e especialmente no fundamento principal
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de todas elas: a vida e o sustento em comum, sem nenhuma circulação de
moeda, o que, conforme afirma, destrói toda a nobreza, magnificência,
esplendor e majestade que, segundo a opinião pública, constituiriam o
ornamento e a honra das Repúblicas (MORUS, 2004, p. 56).

Essa ironia e crítica está escondida para que apareça como ambiguidade em sua
narrativa para servir-lhe como defesa contra possíveis acusações. Esse ideal de sociedade
procura difundir o bem, defende as nações amigas, procura reformar os maus governos e
tenta mostrar um novo tipo de realidade social fazendo surgir ideais humanitários.

4.3.3 Tommaso Campanella – A Cidade do Sol

O calabriano e dominicano Tommaso Campanella nasceu em 1569. Ele trabalha a


ideia que a experiência humana era fundamental para que existisse a filosofia, fugindo do
pensamento aristotélico, tanto que isto custou-lhe
alguns processos junto à sua ordem (dominicanos) e
junto ao comando da igreja. Condenado à prisão
perpétua, escreveu A Cidade do Sol, que é a descrição
de uma República ideal administrada pela razão. Ele
faz um meio termo entre A República de Platão e a
Utopia de Morus. Campanella fala de um mestre
genovês que estava com Colombo em suas viagens e
que desembarcou em uma ilha, da qual relata os
valores, costumes, tradições, instituições, arquitetura,
etc.
Fonte: https://goo.gl/FHM8Gb

O relato de Genovês sobre Cidade do Sol inicia-se com a indicação de sua


localização e a descrição de suas construções. Inquirido por Hospitalário, o
marinheiro fornece poucas referências geográficas: a urbe está em uma
alta colina de uma vasta planície da Taprobana, abaixo da linha do
Equador. A zona em que a cidade se situa é de clima ameno, pois as
temperaturas da linha do Equador são medianas [...] Morus escolhe o
Oceano Atlântico Meridional para sediar Utopia. Campanella, menos de um
século depois, escolhe o Índico [...] a escolha de um local distante e
existente fornece verossimilhança à narrativa, impossibilita a verificação das
ideias e dos fatos narrados e busca o convencimento do leitor (MONTEIRO,
2013, p. 64).

Na cidade descrita pelo navegador o sol ocupa um lugar de preponderância como o


grande astro, há uma leitura religiosa que o representa. Ele é A divindade. As leis dessa
cidade estão ligadas a uma lei eterna que mostra toda a sabedoria divina e a religião está
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em lugar de destaque na cidade cujo poder está com o soberano Hoh (Metafísico) que é
dono do poder espiritual e temporal.

[...] os preceitos que disciplinam e organizam a vida dos habitantes derivam


de uma lei eterna, que exprime a arte e a sabedoria de Deus. O
ordenamento legal da urbe visa ao bem comum; este, por sua vez,
corresponde a um instrumento para a felicidade da coletividade e,
consequentemente, para a felicidade individual. Sendo assim, o legislador
dos solares é o mais sábio dentre eles e, ao mesmo tempo, cientista e
sacerdote (MONTEIRO, 2013, p. 65).

A situação social, política e econômica de Campanella estava repleta de problemas


por isso ele imagina uma cidade com uma ordem rigidamente organizada. Nesta cidade há
o primado da racionalidade, isto é, a razão determina tudo e isto leva a uma harmonia
natural. Isso é possível pois a desordem, a arrogância deriva de um mundo irracional, seja
por parte das pessoas que fazem parte da sociedade, seja por parte dos governantes. A
ordem é alcançada, a harmonia é instalada graças à razão (sabedoria), ao querer e ao
poder do amor.
Nas coisas naturais encontram-se as seguintes características que são: a capacidade
de se conseguir desenvolver qualidade que não se tem, é a potência; a habilidade de
conhecer, é a sapiência; e gostar de ser o que se é, o amor. Elas existem misturadas e são
debeladoras da incapacidade de fazer coisas (impotência), da falta de saber (ignorância) e
do não amor a si mesmo (ódio). Então o ser humano supera as negatividades e busca se
encontrar com Deus, pois nele não há negatividade, ele é a máxima potência, a máxima
sapiência e o máximo amor.
O governo da cidade é exercido pelo Hoh, que tem poder espiritual e temporal e que
tem como assessores mais importantes uma tríade representada: pela potência (Pon) que é
o ministério do poder; pela sabedoria (Sin), que é o ministério da Sapiência, e pelo amor
(Mor), que é o ministério da harmonia.
Pode-se abrir um parêntese aqui para tentar ver que as dimensões fundamentais do
ser humano são o conhecimento, o amor e a vontade, que são atributos que estão
presentes em Deus. Tem-se consciência, sabe-se que se é: sapientia; tem-se potência de se
tornar muitas coisas, é o que se quer ser: potestas; tem-se amor ao existir e ao ser: amor.
Essa cidade tem como fundamento a harmonia entre as pessoas onde as instituições
se desenvolvem em perfeita consonância entre si e com os cidadãos. É algo parecido com
uma comunidade onde os bens pessoais são de todos, aliás não só os bens, mas tudo é
comum (casas, dormitórios, alimentos, aprendizado, trabalho, inclusive mulheres e filhos) e
os magistrados são responsáveis para distribuir tudo. A pobreza e a riqueza são
desprezadas, pois são as causadoras da desigualdade econômica de toda a sociedade. A
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pobreza é o motivo principal que leva os homens a serem vis, velhacos, fraudulentos,
ladrões, intrigantes, vagabundos, mentirosos, etc., produzindo a riqueza os insolentes, os
soberbos, os ignorantes, os traidores, os presunçosos, os falsários, os vaidosos, os egoístas,
etc. (MONTEIRO, 2013).
Essas reflexões estão ligadas ao ideal de vida encontrado nos Atos dos Apóstolos.
Era a forma de vida dos primeiros cristãos. É um princípio ético e econômico coletivo que dá
garantia de igualdade e eleva o trabalho (todos têm trabalho) e ninguém é dono de nada e
ao mesmo tempo é dono de tudo. Naquela cidade havia uma distribuição de trabalhos muito
parecida com o que descreve Morus na Utopia, aqui eram quatro horas e o tempo que
sobrava era usado para fazer coisas que fizessem bem ao corpo e à alma como: estudar,
passear, lazer.
Essa cidade ideal não tem hierarquia, há uma repartição de atividades de forma
igualitária. Afirma que a propriedade, as habitações separadas, a família (como entidade
particular) são formas de fomentar o egoísmo. Aqui o bem individual é subordinado ao bem
da comunidade. Pode-se dizer que Campanella desenvolve uma teologia política, em que a
religião católica comandaria toda a política. Busca juntar todas as religiões na católica por
considerar que é a única verdadeira, natural e que segue a razão.

4.4 Absolutismo

O poder político próprio da Idade Moderna (séculos XVI a XVIII) ficava entre o
interesse dos nobres em poder estar no controle dos Estados centralizados, o rei que queria
se consolidar definitivamente e a burguesia que se junta aos interesses do rei para que
pudesse fazer seus negócios e tivesse seu lucro.
O rei se equilibrava entre: Nobres – burguesia – povo. Aos nobres distribuía cargos,
privilégios, pensões, isenções. À burguesia – atividades comerciais, centralização do sistema
de pesos e medidas e concessões comerciais nas recém-descobertas colônias. O povo era
controlado com a força. O sistema político absolutista se mantinha graças ao sistema
econômico mercantilista.

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Fonte: https://goo.gl/h8zFyf

Dos grandes teóricos que justificaram o absolutismo, podemos destacar Maquiavel,


embora apareçam inúmeras contraposições a isso. Mas não se pode deixar de falar aqui de
Hobbes, que será tratado na próxima unidade por ser um pensador que é Contratualista.
Trabalharemos aqui Jean Bodin (1530-1596), que é
considerado o primeiro grande teórico do absolutismo.
Bodin trabalha a organização do Estado a partir da
discussão fundamental acerca da soberania. Ela era vista como um
poder indivisível. O soberano só estava debaixo da lei natural e da
lei divina. A obra política fundamental é Os seis livros da República
(1576).
Fonte: https://goo.gl/KQrmMV
Bodin (2011), afirma que a República é organizada por um conjunto de famílias ou
colégios (colégios se entende como sendo os grupos humanos que se formam pelo fato de
o homem ser um animal social) submetidos a uma só e mesma autoridade (passagem por
Aristóteles e pelo tomismo). Não basta só famílias, mas devem estar submetidas a uma
mesma autoridade central que se forma pela convivência harmônica das leis: Moral (interior
ao indivíduo), doméstica (na família), civil (entre famílias e colégios).
A soberania é o verdadeiro fundamento, o eixo sobre o qual se move uma sociedade
política e dela dependem os magistrados, leis, ordens – ela reúne famílias, corpos e
colégios, formando um corpo perfeito. Aí reside o poder absoluto e perpétuo de uma
república. O poder supremo sobre os cidadãos e os súditos, não tem vínculo com as leis (ela
está acima das próprias leis). É o elemento caracterizador do Estado; sem ela nem o Estado
existiria. Por isso o poder absoluto pode agir com o máximo de liberdade possível para
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cumprir metas do Estado que não poderiam acontecer se as leis limitassem o poder do
soberano. Os príncipes soberanos (os reis) eram designados por Deus para governarem os
outros homens de forma:
Superior: não está em posição de igualdade em relação a qualquer outro poder.
Independente: liberdade de ação.
Incondicional: sem qualquer condição.
Ilimitada: do contrário, não seria absoluto.
O poder deve dar leis e revogar as inúteis e só ele pode fazer isso, pois não está
preso a nada nem às leis que ele mesmo cria. Na verdade, Bodin (2011), afirma que o
poder soberano vive na legalidade só porque é ele quem faz as leis. O soberano tem a
função de nomear magistrados e dar trabalho a estes; fazer e revogar leis; declarar guerra
e fazer paz; é a última instância nos julgamentos. É um e, se fosse mais do que um, não
seria soberano.
Bodin (2011), afirma que o único limite que o soberano tem são as leis naturais e
leis divinas. As naturais precedem o próprio soberano, ou seja, já existem antes dele; as
divinas vem de Deus e a ele o soberano está submisso (ele é súdito de Deus). O desrespeito
a estas leis caracteriza um governante tirano. O problema é que ninguém pode julgar o
soberano, pois seria uma afronta ao seu lugar. Não existe direito de revolução.
Sobre o problema da guerra civil conclui que a anarquia é a pior coisa que poderia
acontecer para a humanidade e que a ordem é uma necessidade do homem e só o Estado
soberano pode assegurar a ordem. Por isso a melhor forma de governo é a monarquia.
Além de Bodin pode-se citar outros teóricos importantes que justificavam o
absolutismo. Na próxima unidade tratar-se-á de um deles – Thomas Hobbes

Dicas de aprofundamento

BIGNOTTO, Newton. O Humanismo e a Linguagem Política do Renascimento: o


uso das Pratiche como fonte para o estudo da formação do pensamento político
moderno. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v25nspe2/a09v25nspe2.pdf>.
Acesso em: 23 nov. 2018.
CAMPANELLA, Tommaso. A Cidade do Sol. Disponível em: <http://ziggi.uol.com.br/>.
Acesso em: 23 nov. 2018.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2007.
MORE, Thomas. A utopia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
Todas as obras podem sem encontradas em: http://ziggi.uol.com.br/ (domínio público)

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Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 4 e a
Atividade 4.1.

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UNIDADE 5

FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA - A FILOSOFIA


ILUMINISTA
OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar as ideias políticas dos principais pensadores da
Idade Moderna destacando a sua importância na formação das repúblicas
contemporâneas bem como entender as ideias do contratualismo de cada pensador.

5.1 Noções básicas – A força da razão

As mudanças sociais, políticas, econômicas e religiosas que começaram no século XVI


perpassaram toda a Idade Moderna chegando à maturidade no século XVIII com o
Iluminismo. Este movimento intelectual tem sua maior força na França que era o grande
centro e efervescência da filosofia e influenciou a cultura, a sociedade, a política e a
religiosidade de muitos países. Conhecida como “era das luzes” é o auge do amadurecimento
da reflexão humana e a razão desempenha papel fundamental. Foi um processo em que se
tentou corrigir as igualdades sociais a partir da leitura dos direitos naturais dos indivíduos. A
razão permite perceber os direitos que estão disponíveis na natureza onde se encontra
também Deus.
Os principais pensadores substituíam as crenças religiosas, o misticismo que ainda
estava presente na sociedade e que tinha marcado a Idade Média. Para eles essas crenças
eram um problema para o desenvolvimento humano. Para eles o que deixava graves
problemas para os homens não era o fato de terem a partir do nascimento marcas do mal,
mas que a organização sociedade, a partir daqueles valores antigos cheios de espiritualismo,
determinismo e controles, corrompiam o homem e a sociedade. Era necessário entender a
situação natural do homem para ver os direitos naturais e a partir deles construir o estado
social em que a participação de todos garantiria a criação de um Estado justo onde os
direitos são iguais e que não há classes e castas que dividem os homens. Por isso era
possível alcançar a felicidade. Esse tipo de pensamento quebrava os conceitos da Idade
Média bem como os conceitos construídos na primeira parte da Idade Moderna como as
imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo
do rei, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero.
Quem se apropriou dessa filosofia foi a burguesia, que usou aquela forma de pensar
para construir ideias políticas que a satisfaziam, especialmente na superação dos estados

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absolutistas. Ela (a burguesia) põe abaixo o absolutismo e cria governos organizados por
contratos sociais; também destrói o mercantilismo (que era intervencionista) e o substitui
pelo liberalismo. A liberdade comercial torna os negócios desta classe mais amplos, passando
o governo a exercer um papel mínimo na vida das pessoas e permitindo liberdade de quase
tudo para os cidadãos.
Os principais pensadores são John Locke, empirista (1632-1704); Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), para quem o Estado é formado a partir da vontade geral;
Montesquieu (1689-1755), que afirma que as leis têm um “espírito” e que o poder tem que
ser controlado, por isso concebe a ideia de divisão de poderes.
Para se trabalhar o contratualismo tem que se trabalhar também o conceito de
jusnaturalismo, pois são conceitos que estão intimamente ligados.

5.2 Jusnaturalismo e contratualismo

A ideia de direito natural é tão antiga quanto a humanidade. É a primeira forma de se


entender a organização jurídica da sociedade. Ele aparece como ideia de que transcende a
vida do homem e representa a comunhão ideal com a civilização. Está além das normas
positivas, pois parte do senso de responsabilidade de convivência dos indivíduos e não
necessita de institucionalização expressa. Ele parte de princípios antidemocráticos em que há
um conceito de justiça a priori antes mesmo do direito positivo e para o qual esse se curva.
As regras invisíveis têm sua força própria e expressam uma justiça em si (VIEHWEG, 2006).
Ele pressupõe uma justiça absoluta determinada por valores estáveis e fixos,
presentes em todos os espaços onde haja vida social. É dessa vida social que ele emerge a
partir da vida prática que o homem vai tendo. Isto é, o homem na sua vida social vai
descobrindo que naturalmente tem parâmetros que permitem controlar sua vida junto aos
outros. As normas são alcançadas pela razão humana e só através da razão é que afloram
para a vida social e podem se tornar positivadas. Analisando na história, vemos que o direito
natural já está presente na ordem natural e que ele não é criado pelo homem. Pode-se dividir
a ideia de direito natural em duas:
a) como algo que é dado por um ser supremo: para gregos e romanos era um
ordenador supremo, não um deus, mas alguém que é inteligência suprema e organiza a
ordem que é absoluta, perfeita e justa; para o cristianismo, na Idade Média, esse ordenador
é Deus no sentido cristão da palavra como alguém que tem a ordem perfeita no céu e, para
haver justiça na sociedade humana, tem que usar como modelo a ordem celeste.

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b) como uma ordem natural perfeita: já presente na natureza, os homens já
vivem nela. Essa ordem natural é fundamento para o homem criar a ordem social.
É a partir desta segunda que se organiza toda a política do contratualismo.

Fonte: http://leblanclerougeleble.blogspot.com.br/

O Contratualismo está intimamente ligado à ideia de direito natural. Desenvolveu-se


durante os séculos XVI a XVIII, dando uma nova explicação para o surgimento da sociedade
civil. O contratualismo parte de um estado de coisas livre de qualquer ordem social
estruturada que é anterior ao surgimento da sociedade civil. Trata-se do estado de natureza.
Nesse estado não há normas sociais, não há governantes, a liberdade é absoluta, os limites
entre os homens e com toda a natureza não existem (as únicas leis que existem são as leis
da natureza, ex. a lei da gravidade). Em um dado momento, por uma determinada
necessidade, os homens sentem a necessidade de se garantir neste estado de natureza,
fazem desta forma, um contrato com leis, um governo, obrigações dos cidadãos e dos
governantes, e dão origem ao estado social. Bobbio (2005, p. 238), afirma:

O que une a doutrina dos direitos do homem e o contratualismo é a comum


concepção individualista da sociedade, a concepção segundo a qual primeiro
existe o indivíduo singular com seus interesses e com suas carências, que
tomam a forma de direitos em virtude da assunção de uma hipotética lei da
natureza, e depois a sociedade, e não vice-versa como sustenta o
organicismo em todas as suas formas, segundo o qual a sociedade é anterior
aos indivíduos.

O Estado social é artificial, serve para garantir todos os direitos individuais dos
cidadãos e sua função política é esta – resguardar os direitos dos membros pactuantes. Ele
tem o mínimo de possibilidade de agir com vontade própria visto que a vontade é de quem
fez o contrato. O contratualismo parte da necessidade de se superar aquele estado primitivo
que, na maioria das vezes, causava destruição.

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Estado natural Estado político-social

Interesse particular Cooperação mútua

Força / guerra Bem comum

Homem natural Cidadão

Estado de natureza Estado Civil

Direitos Naturais Direitos do Cidadão

Vontade particular Vontade Geral

Liberdade Contrato

O Contrato não é modo de formação do Estado, mas sim um modo de sua


explicação. Não se trata de buscar um momento histórico para explicar quando foi feito o
contrato, mas se trata de entender o contrato.
Para Bobbio (2005), o contratualismo compreende as teorias políticas que
preconizam a ideia de que o Estado tem origem na sociedade e que lá está o fundamento
de todo o poder político, elaborado por um contrato, ou seja, um acordo tácito ou expresso
onde está a vontade da maioria dos indivíduos superando, desta forma, as agruras trazidas
pelo estado de natureza. Aliás, o estado de natureza permanece no homem como uma
dimensão bem presente e sempre que o estado social exagera na forma de se impor, há
uma possibilidade de um retorno ao estado originário. Esse desfazer do contrato é pouco
provável nas teorias de Hobbes por causa da forma de como ele é feito, mas está presente
nas explicações dadas pelos outros contratualistas. É aquilo que eles chamam de “direito de
revolução”.

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Fonte: https://goo.gl/Zw8mKN

Em síntese, o contratualismo:
- Funda o poder do Soberano como poder político – substitui o Direito
Consuetudinário.
- Restringe os Direitos Naturais pelo bem comum.
- Supera o estado natural – sujeição ao governo de alguns.
- Limita os direitos dos indivíduos por leis que devem refletir as leis naturais.
- Ideologias liberais (Revolução Francesa/1789) – início da Idade Contemporânea.
- Justiça Contratual ou Voluntária – autonomia da vontade.
- Homem livre estabelece Contrato – justo com os outros homens porque é vontade
das partes.
- O contrato Social é ação racional acertada entre pessoas morais para realização de
um fim em grupo. O respeito aos acordos firmados garante a produção de resultados
favoráveis.

5.2.1 Thomas Hobbes – O monstro indestrutível

Thomas Hobbes (1588-1679), nascido na Inglaterra, é um dos mais importantes


pensadores da modernidade política moderna. Seu pai era um clérigo anglicano. Foi
formado para desempenhar o papel de preceptor de filhos de famílias ricas, o que garantia
a possibilidade de usufruir de confortos e viagens incontáveis, bem como acesso a boas
bibliotecas, o que lhe possibilitou dominar vários idiomas, como italiano e francês.
Viveu na época dos grandes conflitos entre Inglaterra e Espanha. Acompanhou o
final do governo de Elizabeth I e praticamente toda a dinastia Stuart. Ele sempre esteve
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voltado aos interesses políticos. Viveu em um período de inúmeros conflitos, o que o levou a
acreditar que a única saída para se ter um bom Estado era construir um estado forte.

Fonte: https://goo.gl/M9Grua Fonte: https://goo.gl/81FMYR

Está dentro do grupo dos pensadores chamados contratualistas, juntamente com


Locke e Rousseau, que tentam resolver os problemas de como a sociedade se organiza e de
como os governos têm poder para governar sobre as pessoas (qual é o fundamento do
poder?).
A Filosofia Política dos contratualistas vai no sentido de que há um estado de
natureza do qual todos os seres fazem parte, onde as leis da natureza são os únicos limites
e que o homem, com sua capacidade racional, por um motivo ou por outro (o que será
estudado em cada um destes filósofos), inventa um estado fictício, o estado social, que se
torna refúgio e proteção para ele.
Hobbes passa a pensar o contratualismo de tal forma que acaba criando a ideia de
um estado que é tão forte que se torna indestrutível. Tanto que quando publicou o livro em
1651 se intitulava "Matéria, Forma e Poder da Comunidade Eclesiástica e Civil" e depois,
quando foi sendo estudado, passou a ser chamado de "O Leviatã". É uma alusão ao
monstro bíblico do Capítulo 41 do livro de Jó. Isso faz com que Hobbes esteja entre os
principais filósofos que defendiam o absolutismo, como Bossuet e Jean Bodin, que foram
estudados na unidade anterior.
Hobbes cria, por assim dizer, uma arapuca absolutista que leva Locke e Rousseau a
trabalhar para desmontá-la. Desenvolveu um pensamento eclético que transitava entre o
empirismo e o racionalismo de onde construiu sua Filosofia Política que se baseava na
análise dos fatos sociais, construindo conceitos, descrevendo esses conceitos, e
sistematizando-os. A realidade da natureza humana era a base para a formulação dos seus
conceitos. Fazia com que os problemas sociais servissem como grande fonte de inspiração e
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foi defensor ferrenho do despotismo político. Essa forma de pensar aparece na maior parte
de suas obras, como: "Elementos de Lei Natural de Política" (publicado em 1640); "O
Cidadão" (publicado em 1642, onde fala do homem em seu estado de natureza.); "Leviatã"
(publicado em 1651). É meticuloso com suas análises tanto que chega a comparar o Estado
com um relógio:

Com efeito, conhecemos muito melhor uma coisa através dos elementos de
que ela se constitui. Assim como não se pode saber, num relógio mecânico
ou noutra máquina um pouco mais complexa, qual a função de cada parte
ou roda, se ele não for desmontado e separadamente examinados o
material, o desenho e o movimento: assim também, para estudar o direito
da Cidade e os deveres dos cidadãos, precisamos, sem desmontar a
Cidade, considerá-la como desmontada: isto é, para compreender
corretamente a condição da natureza humana, com o uso de quais meios
ela é capaz ou incapaz de dar corpo à Cidade; de que modo hão de ajustar-
se entre si os homens, se querem alcançar a união. (HOBBES, 1993, p.
587)

Hobbes analisa o Estado e para isso analisa


o homem como elemento formador do Estado.
Ele age, para entender o Estado, como um
relojoeiro que desmonta o relógio peça por peça
e com isso conhece o relógio. Ele analisa os
elementos deste Estado, os homens, para pode
ter uma visão mais clara do todo. A metodologia
que usa está bem colocada em O Leviatã:
Fonte: https://goo.gl/mjjTi2

[...] primeiro através de uma adequada imposição de nomes, e em segundo


lugar através de um método bom e ordenado de passar dos elementos, que
são nomes, a asserções feitas por conexão de um deles com o outro, e daí
para os silogismos, que são as conexões de uma asserção com outra, até
chegarmos a um conhecimento de todas as consequências de nomes
referentes ao assunto em questão, e é a isto que os homens chamam de
ciência. (...) a ciência é o conhecimento das consequências, e a
dependência de um fato em relação a outro, pelo que, a partir daquilo que
presentemente sabemos fazer, sabemos como fazer qualquer outra coisa
quando quisermos, ou também, em outra ocasião. (HOBBES, 1998, p. 590).

A partir disso, Hobbes passa a trabalhar o relógio desde as peças deste relógio e
uma das coisas fundamentais que trabalha é o entendimento do que é o estado de
natureza, é visto como um lugar onde as únicas leis que existem são as Leis da Natureza,
onde não há nenhuma autoridade (é imaginar o homem sem ordem social instituída).
Neste estado de natureza, Hobbes procura enxergar o homem não em sua essência,
mas em suas condições objetivas de sobrevivência. Aí há uma igualdade absoluta, onde os

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seres, inclusive os não humanos, possuem algo que os leva a querer ser sempre os
melhores. Trata-se da ideia de conatus que é uma força original ou "começo interno" do
movimento animal que impulsiona a vencer sempre. Pode-se ver isso junto aos animais. Nos
grupos que têm macho alfa, este tem que garantir constantemente seu lugar e está em
constante conflito com outros que querem tomar o seu lugar. O próprio homem mostra isso
– nas disputas esportivas vê-se que todos os atletas querem vencer (no pódio fica claro: o
segundo lugar é sempre o mais decepcionado, mais do que o terceiro).
No estado de natureza, a liberdade é absoluta, há a vontade de querer ser sempre o
melhor e mais um agravante quando se fala do homem, ele é lobo do homem (Hobbes fala
que o homem é mau, é lobo, é destruidor). Juntando tudo isso, ter-se-á "guerra de todos
contra todos". Inexiste um poder capaz de manter o respeito de um para com os outros.
Sem tal respeito, cada um procura a satisfação de seu próprio bem, sofrendo os riscos de
estas mesmas condutas se praticada pelo outro.
A igualdade é igualdade no medo, pois há uma ameaça constante: ao mesmo tempo
que pode destruir, também pode ser destruído pelos outros; nem os mais fortes estão
seguros e até os mais fracos podem destruí-lo, pois podem usar de todos os artifícios
possíveis..."Todos são iguais no ‘medo recíproco’, na ameaça, que paira sobre a cabeça de
cada um, da ‘morte violenta’. Os homens ‘igualam-se’ neste medo da morte" (HOBES 1983).

Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo
homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo
durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes
pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. Numa tal
situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto;
consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das
mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções
confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que
precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem
cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é
pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida
do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta (HOBES 1998, p.
592).

Hobbes coloca três pontos fundamentais que resumem o que colocou-se acima: A
Guerra “é o ato pelo qual a vontade de travar batalhas está presente no homem.” –
conatus. Não há noção de justo, injusto, mal e bem e de propriedade – é de cada homem
aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo; todos
têm o direito sobre TODAS as coisas. Diferente dos outros animais nos seguintes pontos:
1º o homem compete por honra e dignidade;
2º o homem tem a ideia de bem comum;
3º a razão humana permite os avanços e conflitos;

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4º o homem faz uso da palavra que permite que ele dissimule;
5º o homem nunca está contente com o que possui;
6º o acordo entre os homens é um pacto artificial.
A total insegurança levou o homem a organizar um pacto, pois não conseguiria
sobreviver na inconstância da vida proporcionada no estado de natureza onde o maior bem,
a vida, estaria sempre em perigo. No pacto o homem quer sair daquelas condições precárias
em que vive em consequência do estado de natureza, fugindo da guerra em busca da paz e
se salvar – o instinto de conservação é também fator importante que leva o homem a fazer
o pacto.
Há uma transferência mútua de direitos: os cidadãos renunciam a todos os direitos
individuais e passam desses direitos a um poder que é construído por todos. Abre mão de
todos os direitos em favor da busca da paz. Impõe, pelo medo, devido ao poder coercitivo
sobre todos. O poder uno e indivisível e pode ser exercido por um homem ou a uma
assembleia de homens que reduz todas as vontades a uma única vontade.
E continua dizendo que o pacto não é um fato histórico, mas é uma forma de
entender como se organizaria o Estado social.
Bobbio (1991) afirma que o Estado de natureza é intolerável, pois não assegura ao
homem a vida que é o bem maior e que pela reta razão são sugeridas leis naturais que
podem garantir a formação do Estado social onde ele pode se preservar, isto é, ele pode ter
coexistência pacífica.
Hobbes (1998), no Leviatã (caps. XIV e XV), fala das 19 leis naturais que servem de
fundamento à lei positiva, civil ou canônica. Chama a atenção porém que para essas leis
fazer efeito têm que ser cumpridas por todos que constituem o pacto:
1ª Lei: Que cada um procure a paz e, em caso de obstáculo, que cada um se
defenda por todos os meios que puder.
2ª Lei: Que cada um abandone seu direito sobre toda a coisa, na medida em que os
outros o façam - o contrato.
3ª Lei: Que se cumpram os pactos - a justiça.
4ª Lei (Chamada de lei de gratidão): Que o homem seja grato a outrem pelos
benefícios dele recebidos.
5ª Lei: Que cada um se esforce por ajustar-se aos outros: lei da sociabilidade.
6ª Lei: Perdoar aos que desejam a paz.
7ª Lei: Que se leve em conta, na punição, menos o mal cometido, que o bem futuro.
8ª Lei: Evitar a insolência e a manifestação de desprezo ao próximo.
9ª Lei (Contra o orgulho): que cada um reconheça no próximo seu igual por
natureza.
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10ª Lei: Que ninguém procure, na Paz, apoiar-se num direito que ele não concederia
aos outros.
11ª Lei: Que o árbitro escolhido seja equidoso e se comporte a respeito das partes
de forma igual.
12ª Lei: Uso igual das coisas comuns.
13ª Lei: Que o direito às coisas indivisíveis seja determinado pela sorte.
14ª Lei: Da primogenitura e primeira captura.
15ª Lei: Que os mediadores da paz gozem do benefício do salvo-conduto.
16ª Lei: Que aqueles que estão em conflito submetam seu direito ao julgamento de
um árbitro.
17ª Lei: Ninguém pode ser juiz em causa própria.
18ª Lei: Ninguém pode ser juiz em causa em que é interessado.
19ª Lei: O julgador deve acercar-se do maior número de testemunhas possíveis.
Por fim, Thomas Hobbes resume todas essas leis a uma única Lei: a Lei Evangélica:
Não fazer ao próximo aquilo que não queremos que nos seja feito.
Essas leis naturais são válidas por si, mas não têm eficácia garantida, pois elas
obrigam no foro interno de todos os homens, e para obrigar a cumpri-las elas têm que ser
positivadas e têm que ter uma autoridade que possa obrigar seu cumprimento. Por isso no
pacto os direitos são passados para um poder que será exercido por um homem ou uma
assembleia de homens que vão desenvolver esse papel que é garantido pelo contrato. O
próprio Hobbes (1998, p. 598), assim se manifesta:

A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das


invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes
assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e
graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é
conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de
homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de
votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem, ou
uma assembleia de homens, como representante de suas pessoas,
considerando-se e reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos
que aquela que representa sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo
o que disser respeito à paz e segurança comuns; todos submetendo assim
suas vontades à vontade do representante, e suas decisões à sua decisão.
Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma verdadeira unidade
de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada
homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem
dissesse a cada homem: ‘Cedo e transfiro meu direito de governar-me a
mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a
condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira
semelhante todas as suas ações’. Feito isto, a multidão assim unida numa
só pessoa se chama Estado, em latim, civitas.

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O cidadão se priva da possibilidade de autodefesa, de fazer justiça com as próprias
mãos em troca da paz civil garantida pelo Estado criado com o pacto. O Estado passa a
estar acima dos homens como usufrutuário direto dos direitos dos cidadãos que passam a
ser súditos. O soberano está acima das leis e acima da Constituição, sendo um poder
absoluto e indivisível e mesmo que os cidadãos queiram destituí-lo não podem mais, pois no
pacto renunciaram a todos os direitos inclusive ao direito de revolução. Aliás, é esse direito
que Rousseau e Locke tentam resgatar. Por isso que o poder é O Leviatã. A única exceção a
esse poder é o direito de defender a própria vida, ao qual nenhum indivíduo pode renunciar,
nem que queira.
Esse contratualismo pensado por Hobbes constitui o absolutismo onde a participação
dos cidadãos é efetiva. A vontade dos indivíduos é responsável por justificar o absolutismo.
A partir disso, o contratualismo passa por mudança e os pensadores constroem teorias que
desmontam a “arapuca” absolutista criada por Hobbes.

5.2.2 John Locke (1632-1704) – o liberalismo político

Empirista não radical, cuja preocupação fundamental é


com a origem, o valor e a natureza do conhecimento. É contra o
empirismo radical e também contra o racionalismo puro. Se
contrapõe a Hobbes quando afirma que não há ideias inatas, se
houvesse as crianças ou os “selvagens” saberiam muito mais.

Fonte: https://goo.gl/7vLVNs
Para ele, as palavras representam as ideias e as ideias representam as coisas que só
é possível conhecer quando se entra em contato com elas. A mente humana não pode
conhecer a essência das coisas, mas sim a existência. No ‘penso’ está o ‘existo’
necessariamente. O homem nasce sem conhecimento nenhum, como dizia Aristóteles como
uma “tábua rasa”, e a razão vai se preenchendo enquanto ele vai se relacionando com o
mundo em que vive. O ponto fundamental do seu conhecer são as ideias simples que
procedem da experiência sensível, do outro lado as ideias complexas são organizadas pelas
combinações de ideias anteriores. Para ele nada se pode saber com certeza.

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É visto como pai do liberalismo por defender que o governo surge de um acordo
feito por um contrato não rígido quanto o de Hobbes que visa proteger os direitos naturais
como a vida, a liberdade, a segurança, a propriedade. Sua Filosofia Política está baseada
nos dois Tratados Sobre o governo Civil publicados na década de 1680 dentro do processo
da Revolução Gloriosa na Inglaterra.
No Primeiro tratado, Locke (2010), critica a prática do poder natural dos reis
especificamente os argumentos da bem-sucedida obra de Sir Robert Filmer, Patriarca, ou o
poder natural dos reis. Contrapõe-se à ideia de que o poder do rei vem do poder que Adão
teria recebido de Deus, que era dono do mundo e por isso os reis seriam seus legítimos
sucessores. Era como se fossem os filhos que devessem obediência a seus pais, pois assim
seria a lei natural que seria a lei divina. A crítica de Locke (2006) se dá às ideias do
absolutismo que defendiam que todo o governo é absolutista e que, por isso, nenhum
homem nasce livre.
Outra crítica é a ideia de tradição familiar como justificativa de exercício de poder no
sentido que esse poder não é uma mera transmissão visto que na história aparecem casos
de pais que não passam o poder para os filhos, mas para protegidos que vão ser bons
governantes, mesmo sem sucessão por sangue. Aí vem a questão de quem é que pode
exercer o poder. Locke (2010), não considera o Estado como uma criação de Deus, mas é
uma união consensual que se realiza a partir dos homens livres e iguais.
No Segundo tratado, Locke (2010), vai tratar da origem do verdadeiro Estado, ou do
que ele acha de verdadeiro. Aqui percebem-se algumas semelhanças com Hobbes como: a
concepção individualista do homem, a lei natural como lei de autopreservação, a realização
de um pacto ou contrato para sair do estado de natureza e a organização da sociedade
política como remédio contra os males e problemas do estado de natureza.
Estado de Natureza – Onde estão os direitos de forma absoluta e sem limite, as
únicas leis que obrigam são as leis da natureza. A razão e o contato com a realidade é que
permite que o homem conheça o mundo e entenda os seus direitos naturais que são
absolutos e iguais para todos.
Tais direitos são limitados à própria pessoa. São eles: liberdade, vida, segurança,
propriedade (enquanto produto do trabalho)... (1ª geração dos Direitos Humanos – Direitos
individuais). Quando alguém ferir algum desses direitos, faz surgir no ofendido um outro
direito natural, qual seja, o direito de punir o ofensor. Segundo Locke (2010, p. 59):

Desse modo um homem obtém poder sobre o outro no estado de natureza


quando transgredir a lei da natureza, o infrator declara estar vivendo
segundo outra regra que não a da razão e da equidade comum, que é a
medida fixada por Deus às ações dos homens para mútua segurança

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destes; e, assim, torna-se perigoso para a humanidade [...] todo homem
pode, por essa razão e com base no direito que tem de preservar a
humanidade em geral, restringir, ou quando necessário, destruir o que seja
nociva a ela.

O uso da força não é absoluto e necessário, mas esta deve ser usada no limite do
dano causado. Como o homem não tem condições de saber onde está esse limite e corre o
risco de impor um castigo maior do que o dano que lhe foi causado e daí vir contra ele o
direito de punir do outro, é necessário que alguém o faça e esse alguém é o Estado Social.
Por isso o impulso primeiro que leva à criação do Estado Social é o direito de punir. Os
homens, de comum acordo, estabelecem leis que regulem a punição das ofensas e o uso da
força contra a transgressão das leis.
O Estado Social – A autoridade se torna detentora do direito de punir de todos os
indivíduos da sociedade e com isso deve velar pelos direitos de todos. Os direitos individuais
continuam com cada um dos indivíduos da sociedade o que se fez foi delegar ao Estado
Social o Direito de Punir. O contrato é a renúncia apenas do direito de autotutela. Acontece
a renúncia da vingança privada que é substituída pela vingança da lei, que passa a ser uma
prerrogativa do Estado Social em que cada membro renuncia ao poder natural, colocando-o
nas mãos do corpo político que passa a ser o árbitro e decide todas as diferenças que
porventura ocorram entre quaisquer membros dessa sociedade. A autoridade que se investe
do Estado Social tem que ter consciência disso. Quando ela usa seus poderes para o bem
dos cidadãos, ela é legítima, mas, quando ela usa seus poderes em benefício próprio, ela
pode ter a revolta dos indivíduos contra ela.

5.2.3 Rousseau e o Contrato Social

Tem como obras fundamentais: “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade entre os


Homens”; “Contrato Social” e “Hemílio”.

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Fonte: https://goo.gl/k5jJSq Fonte: https://goo.gl/u1CE3h

Para ele, a vida natural é maravilhosa. O homem nasce bom – mito do “bom
selvagem”. A sociedade é responsável por corromper o homem. A liberdade do estado de
natureza deve se sobrepor à avareza da vida social. No Estado de natureza o homem é puro
e a sociedade é que cria artificialismos e falsidades. Propõe um Novo Contrato Social onde
os indivíduos criem um Estado Social em que o antigo é destruído (ROUSSEAU, 2002).
Quando fala que a sociedade é responsável por corromper o homem, Rousseau está
tecendo uma crítica direta à sociedade organizada pelo Estado Absolutista que é impositivo,
dominador e retira todas as liberdades dos cidadãos. Há dois conceitos de liberdade: a
liberdade natural e a liberdade civil. O homem deve buscar uma liberdade que melhor
organize a liberdade natural que deve ser preservada. Nessa liberdade deve estar a
igualdade de direitos entre todos os que fazem parte deste Estado. Se a liberdade civil não
fizer isso estará ferindo os ditames da liberdade natural e por isso será ilegítima. A natural
tem seus limites na força dos indivíduos e a civil tem sua força na “vontade geral” que nada
mais é do que a obediência à lei.
Para o poder público não prender os cidadãos, é necessária a vontade geral em que
cada cidadão como membro de um povo é a única fonte legítima do poder. A vontade
particular de cada um (poder originário) gera a vontade geral. A ideia de vontade geral está
ligada a: bom senso; fim do conflito indivíduo-sociedade; interesse geral. Ela é diferente e
oposta à vontade particular e ela limita a liberdade civil. Seu objetivo é o bem comum e está
acima do Estado e como foi instituída pelo poder original que é soberano ela está acima
dele também.
Para Rousseau, o contrato social tem que ser feito da forma mais justa possível e
para isso a razão deve ser o fundamento. O princípio que deve garantir essa liberdade do

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contrato, portanto do Estado, da vida civil, é a vontade geral que é companheira inseparável
do bem comum.
O compromisso de cada cidadão é para com os outros cidadãos e só cada um dos
cidadãos é fonte legítima da soberania do Estado. Só pode obedecer às leis que exprimam a
vontade geral, cujo interesse é o bem comum. O indivíduo não é simples homem, mas
torna-se cidadão que renuncia aos direitos particulares em favor da comunidade. As normas
não são mais instintos, nem imposições de um Estado tirano, mas leis que ele mesmo
construiu. A obediência à lei não é mais estranha, mas a obediência da própria vontade do
indivíduo. O cidadão é o único e legítimo legislador e ao mesmo tempo está submisso à lei
(ROUSSEAU, 1999).
A vontade geral não é uma alienação dos direitos das pessoas a uma terceira que
tem poder ilimitado, mas é a própria constituição do Estado que existe por causa e em favor
dela. A vontade geral é fruto de um pacto de todas as pessoas, que são iguais entre si e
que continuam a ser iguais, isto é, cada uma continua responsável por si mantendo a sua
liberdade até depois do contrato que garante a segurança e a liberdade.
A ordem social tem que manter o equilíbrio entre a vontade geral (cuja força é
inalienável) e a individualidade; entre a ideia de propriedade e a tentativa de evitar o abuso
dos poderosos; entre a igualdade perante a lei e a igualdade real onde os mais
desprotegidos são desiguais. O grande problema é que a igualdade perante a lei não é a
mesma coisa da igualdade real que leva em consideração as especificidades de cada
indivíduo e pode denotar a injustiça dos privilégios, pois a igualdade absoluta acaba
nivelando a todos.
Para Rousseau, a sociedade política tem que garantir a paz social e a liberdade de
seus membros. O povo passa a ser seu soberano, seu legislador. É o que se chama de
“poder originário”, onde a soberania é do cidadão tomado coletivamente como povo. Quem
vai exercer papel de governar seja como administrador, como legislador ou qualquer outra
função será apenas agente representativo que transforma a vontade do povo para garantir
o bem comum. O poder é uma concessão feita pelo poder originário que é quem exerce
efetivamente a soberania. Rousseau (1999), afirma que o poder da autoridade é
determinado pelo poder soberano que pode destituí-la se assim achar necessário, é o direito
de revolução.
[...] que o Estado existe por si mesmo, ao passo que o governo só existe
devido ao soberano. Assim, a vontade dominante do príncipe só é ou só
deve ser a vontade geral da lei; sua força é a força de todos concentrada
em si; tão logo pretenda ele extrair de si mesmo algum ato absoluto e
independente, a ligação do todo começa a afrouxar. Se enfim acontecesse
ter o príncipe uma vontade particular mais ativa que a do soberano para
exigir obediência a essa vontade particular, fizesse uso da força pública que

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tem em mãos, de sorte a que houvesse, por assim dizer, dois soberanos,
um de direito e outro de fato, a união social se esvaeceria no próprio
instante, e o corpo político seria dissolvido (ROUSSEAU, 1999, p. 54).

Percebe-se que Rousseau deixa um mecanismo interessante para o risco de que haja
uma exacerbação do poder e querer usurpar o poder que lhe foi dado pela vontade
soberana. É o mecanismo da revolução. Isso é necessário quando a sociedade (poder
organizado) estiver novamente corrompendo o homem.
Locke e Rousseau trabalham o contratualismo no sentido de tornar os conceitos de
Hobbes mais democráticos, quebrando com o absolutismo que esse concebeu. Dentro dos
pensadores Iluministas tem que se colocar outro que é muito importante na concepção da
Filosofia Política própria do período. Está se falando de Montesquieu, que não é
contratualista, mas trabalha com a ideia de destruir as práticas absolutistas vigentes na
Europa no século XVIII.

5.2.4 Montesquieu – As leis têm um espírito

Dentre os pensadores iluministas, Montesquieu se destaca


como aquele que estuda a organização das Leis como algo vivo,
que tem um ser, que é fundamental para o ser humano, que tem
um Espírito. Ele receava mudanças, pois não se poderia prever as
consequências; modesto com sua conversa; negligente com seus
hábitos, vestia simples sem ouro; em política – horror ao
despotismo; em religião – horror ao fanatismo e afirmava que a
razão – não se coloca a serviço de interesses e ódios.
Fonte: https://goo.gl/7QPJeG

Suas obras fundamentais são “Cartas Persas“ (1721), “Considerações sobre as


Causas da Grandeza e Decadência dos Romanos” (1731) e “O Espírito das Leis” (1748). Nas
Cartas Persas relata dois viajantes persas em viagem pela Europa, fazendo críticas à
sociedade que estavam visitando. Nas Considerações sobre as Causas da Grandeza e
Decadência dos Romanos, narra a história política de Roma para, a partir daí, analisar o
momento da sociedade europeia. O Espírito das Leis é a síntese do pensamento político de
Montesquieu.
Na construção de suas ideias políticas, é necessário uma atenção especial ao Espírito
das Leis, pois além de trabalhar as leis, suas origens e seu desenvolvimento se preocupa
em trabalhar as formas de governo e a tripartição de poderes. Montesquieu se preocupa,

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essencialmente, em explicar a origem e o desenvolvimento das leis, a diversificação dos
sistemas legais e as formas de governo bem como concebe uma forma de controle desse
governo para evitar que seja absolutista.
Para ele as grandes perguntas, quando se fala em leis, são: Por que em um país as
leis mudam de tempos em tempos? e por que em igualdade de condições é eficaz
determinada lei e não outra? Para Montesquieu (2011), as leis são organizadas a partir de
uma série de elementos como: causas físicas (natureza do solo, clima) mas também causas
do meio moral (educação, religião), a isso se dá o nome de Identidade Nacional.

No seu significado mais amplo, as Leis são relações necessárias que


derivam da natureza das coisas. E nesse sentido, todos os seres têm as
suas leis; a Divindade tem as suas leis; o mundo material tem as suas leis;
as inteligências superiores têm as suas leis; os animais têm as suas leis; o
homem tem as suas leis. [...] Aqueles que dizem que uma fatalidade cega
produziu todos os efeitos que vemos no mundo, disseram um grande
absurdo, pois o que pode ser mais absurdo do que uma fatalidade cega que
tivesse produzido seres inteligentes? (MONTESQUIEU, 2011, p. 286)

As leis são organizadas a partir de um determinismo, pois são necessárias para


garantir a natureza das coisas e a partir de um relativismo, pois variam de povo para povo,
de local para local tendo até a situação climática como determinante das mesmas.
A diversidade de leis, seja referente ao tempo, ao lugar, à eficiência, à ineficiência,
não estão ligadas à vontade pura e simples do legislador, do governante ou do cidadão. Mas
há por trás de cada lei algo muito mais profundo que são as leis naturais que determinam
por que uma lei é assim e tem sua validade ou não. É por influência dos Contratualistas que
consideram a existência de leis que são anteriores à organização da sociedade.
Quando fala de Estado de Natureza coloca condições iguais a todos, mas não
fisicamente. A razão é que faz perceber que tem condições que têm que ser cuidadas –
fraqueza e medo o que levaria a concluir que ninguém seria igual e todos se sentiriam na
obrigação de não atacar ninguém. Destas condições é que se toma consciência das leis da
natureza. Tais leis são: a) a busca pela paz (temor + sentimento de inferioridade = paz);
b) fraqueza + necessidades = busca por alimentos; c) medo + aproximação = busca pelo
sexo oposto; e, consequentemente, d) busca do outro + conhecimentos = desejo de viver
em sociedade.
Para assegurar o respeito a essas leis, é necessário criar as leis positivas que
adaptaram as leis naturais a tempos e locais. Por isso que as leis positivas têm
especificidades que dependem de clima, cultura, religião,... Elas mantêm a coesão dos
grupos de acordo com a especificidade de cada grupo. Por isso é que a organização política

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de cada grupo é diferente, pois cada grupo tem diferenças de locais, de espaço, de tempo e
de tomada de consciência. Toda lei positiva:
- é uma forma de fazer cumprir as leis da natureza;
- é relativa a um elemento da realidade física, moral ou social;
- pressupõe uma relação.
O Espírito das Leis consiste nas diversas relações que podem ter as leis com diversos
objetos. Não é capricho do arbítrio do legislador. Decorre da realidade social e da história
concreta de cada povo. E não há lei justa ou injusta, mas mais ou menos adequada a um
povo e a uma época e lugar. Assim, afirma Montesquieu (2011, p. 287), que:

Algumas esmolas que se dão a um homem nú nas ruas não cumprem as


obrigações do Estado, que deve a todos os cidadãos uma subsistência
assegurada, a alimentação, um vestuário conveniente e um gênero de vida
que não seja contrário à saúde. O Estado precisa de prestar socorro
urgente, quer para impedir o sofrimento do povo, quer para evitar que ele
se revolte. É neste caso que os hospitais são necessários, ou alguma
instituição equivalente que possa prevenir essa miséria.

A partir daí, Montesquieu se preocupa em remodelar a classificação tradicional de


regime político. Ele distingue os governos em republicano, monárquico e despótico e cada
tipo provém de situações bem concretas de cada situação. As formas de governos seriam:
1º República: pode ser democrática (um conjunto de cidadãos exercendo o poder
soberano) e o princípio fundamental é o não privativismo, mas também pode ser
aristocrática (o poder está com certo número de cidadãos exercendo o poder soberano), o
princípio é a moderação na desigualdade, o qual limitaria os privilégios.
2º Monarquia: uma pessoa exerce o poder soberano, de acordo com as
disposições das leis fixas e estabelecidas, o princípio seria a honra – aqui se tem os méritos
e privilégios e cada um se dirige ao bem comum buscando seus interesses particulares.
3º Despotismo: uma pessoa exerce o poder acima de quaisquer leis e o poder é
mantido com o medo e o temor.
Para ele, a República Ideal mescla o conceito de república democrática e
aristocrática com a existência de uma monarquia. Montesquieu considera o governo da Grã-
Bretanha como ideal a todas as constituições de país (a monarquia parlamentarista).
Quando trabalha a organização dos governos, também trabalha a questão da
liberdade, o que não percebia no governo francês onde vivia, pois o Estado era totalmente
submisso ao rei, que era despótico. Afirmava que num Estado em que há leis, a liberdade é
a garantia de fazer o que se quer e não ser forçado a fazer o que não se quer. Ainda diz
que a liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem e, para que a liberdade

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exista, é necessário que se tenha um governo moderado o que não é possível no poder
absoluto.
O governo moderado cria limites de poder dentro dele mesmo, onde a liberdade é
garantida, pois haveria uma tripartição de poderes onde eles se controlariam mutuamente
(o poder deteria o poder). Seriam três poderes independentes e harmônicos:
a) Executivo: exercido por um rei, com direito de veto sobre as decisões do
parlamento;
b) Legislativo: convocado pelo executivo, deveria ser separado em duas casas: o
corpo dos comuns, composto pelos representantes do povo, e o corpo dos nobres, formado
por nobres, hereditário e com a faculdade de impedir (vetar) as decisões do corpo dos
comuns. Com deliberações separadas, com interesses e opiniões independentes. Refletindo
sobre o abuso do poder real. Necessidade de uma Câmara Alta no Legislativo, composta por
nobres. A nobreza, além de contrabalançar o poder da burguesia, era vista por ele como
capacitada, por sua superioridade natural, a ensinar ao povo que as grandezas são
respeitáveis e que monarquia moderada é o melhor regime político.
c) Judiciário: não era único, porque os nobres não poderiam se julgados por
tribunais populares, mas só por tribunais de nobres.
Pessanha e Lamounier (1979, p. 92), afirmam que Montesquieu:

[...] opta claramente pelos interesses da nobreza, quando põe a aristocracia


a salvo tanto do rei quanto da burguesia. Do rei, quando a teoria da
separação dos poderes impede o Executivo de penetrar nas funções
judiciárias; dos burgueses quando estabelece que os nobres não podem ser
julgados por magistrados populares. (...) Por outro lado, como autêntico
aristocrata, desagrada-lhe a ideia de o povo todo possuir poder. Por isso
estabeleceu a necessidade de uma Câmara Alta no Legislativo, composta
por nobres. A nobreza, além de contrabalançar o poder da burguesia
[estamento social em rápida ascensão social e econômica na França dos
séculos XVII e XVIII], era vista por ele como capacitada, por sua
superioridade natural, a ensinar ao povo que as grandezas são respeitáveis
e que monarquia moderada é o melhor regime político.

Montesquieu reconhece que a ordem social é heterogênea e sujeita a desigualdades


sociais e há um pluralismo muito grande ao se perceber a sociedade, mas mesmo assim
defende o espaço que a nobreza tem (ele era da nobreza) ao afirmar que o povo não tem
condições de discernir sobre os reais problemas da nação, por isso não pode ser dono da
soberania. Para ele, soberania popular não seria uma saída para uma sociedade.
Assegurando a moderação fruto da cooperação harmônica entre os poderes
mantendo a eficácia do governo, a administração seria legítima e racional e dessa forma
haveria um equilíbrio dos poderes sociais. Esse seria o objetivo último da política.

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Dicas de aprofundamento

HOBBES, Thomas. O Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado


Eclesiástico e Civil. 4. ed., São Paulo: Nova Cultura, 1998. (Os pensadores)

LOCKE, J. Dois Tratados do Governo Civil. Edições 70. Versão eletrônica.


2006.

MONTESQUIEU, C. O Espírito das Leis. Edição Digital. 2011. Disponível em:


<http://www.pdflivros.com.br/>. Acesso em: 23 nov. 2018.

ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social: princípios de direito político. 19. ed. Rio de
Janeiro: Ediouro, 1999. (Clássicos de bolso)

______ O discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre


os homens de Jean Jacques Rousseau. Versão para e-book. Edição
eletrônica: Ed. Ricardo Castigat Moraes. Fonte Digital www.hahr.org. 2002.

Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 5 e a


atividade 5.1.

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REFERÊNCIAS

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d’O príncipe. Revista Tempo, vol. 20, p. 1-21, 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/tem/v20/pt_1413-7704-tem-20-20143605.pdf>. Acesso em: 23
nov. 2018.

BIGNOTTO, Newton. O Humanismo e a linguagem política do Renascimento: o uso


das Pratiche como fonte para o estudo da formação do pensamento político moderno.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v25nspe2/a09v25nspe2.pdf>. Acesso em: 23
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_______. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil. 4.


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MOSSÉ, C. Atenas: a história de uma democracia. Brasília: UnB, 1982.

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OCKHAM. Oito questões sobre o poder do Papa. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2002.

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Obra. In: Montesquieu: Do Espírito das Leis. 2. ed. São Paulo: Ed. Abril, 1979. (Coleção
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PLATÃO. A República. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.

RAMOS, F. C; MELO. R; FRATESCHI, Y. Manual de Filosofia Política – Teoria do Estado e


Ciência Política, Filosofia e Ciências Sociais. 2.ed. Saraiva. São Paulo, 2015.

ROTERDÃ, Erasmo. Elogio da Loucura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

ROUSSEAU, J.J. O Contrato Social: princípios de direito político. 19. ed. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1999. (Clássicos de bolso)

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______. O discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os
Homens de Jean Jacques Rousseau. Versão para eBook. Edição eletrônica: Ed. Ricardo
Castigat Moraes. Fonte Digital www.hahr.org. 2002.

SIGMUND, P. E. Law and politics. In: KRETZMANN, N.; TUMP, E. (ed.). The Cambridge
Companion to Aquinas. Cambridge: Cambri dge University Press, 1993.

SOARES, Vinicius. 10 lições sobre Maquiavel. Petrópolis/RJ: Vozes, 2011.

VERNANT, J.P.; VIDAL-NAQUET, P. Mito e tragédia na Grécia Antiga. São Paulo:


Perspectiva, 2008.

VOSSKAMP, Wilhelm. A organização da narrativa da imagem e da contra-imagem. Da


poética das utopias literárias. Revista Morus - Utopia e Renascimento. Campinas: Gráfica
Central da Unicamp, n. 6, 2009. Disponível em:
<www.revistamorus.com.br/index.php/morus/article/download/102/87>. Acesso em: 23
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WEBER, Max. Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 2. ed. São Paulo: Pioneira
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WOLFF, Francis. Sócrates, o sorriso da razão. São Paulo: Brasiliense, 1988.

______. A política de Aristóteles. São Paulo: Discurso, 1999.

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EXERCÍCIOS E ATIVIDADES

EXERCÍCIO 1

1. “As Catilinárias” são um célebre discurso de Marco Túlio Cícero, filósofo e


cônsul romano do século I a.C., contra Lucius Catilina. O discurso denuncia a
trama do jovem patrício e de seus seguidores para obter riquezas com a
derrubada do governo republicano. O discurso é representativo da obra
ciceroniana que, em geral, apresenta a política como tema central, mesmo em
textos cujo propósito seja tratar de questões jurídicas e filosóficas. Essa
inclinação na obra de Cícero se explica pelo (a): (UEPA, 2014)
a) Ligação entre pensamento filosófico e vida política na Roma republicana, cuja ordem
democrática ensejava uma prerrogativa utilitária para o exercício filosófico.
b) Fato de Cícero ocupar cargos políticos no Império Romano, o que demarca a
peculiaridade da sua obra.
c) Força do pensamento jurídico na vida pública romana, o que limitava as possibilidades
temáticas de especulação filosófica.
d) Fragilidade reflexiva da filosofia romana se comparada às obras gregas dos séculos
anteriores.
e) Espaço ocupado pela oratória nas obras filosóficas romanas, empregada como valioso
instrumento para a ação política.

2. Revoltas e movimentos sociais, como os ocorridos recentemente no Brasil,


estão frequentemente envolvidos no aperfeiçoamento da vida social e podem ter
papel adaptativo. Na história da filosofia política moderna, alguns filósofos
conceberam seres humanos como átomos individuais movidos por apetites ou
desejos guiados pelo prazer e dor, sendo o apetite fundamental do homem a
autopreservação. Numa situação de escassez de bens, com pessoas guiadas
exclusivamente por desejos antecipadores de prazer e voltados à
autopreservação, haverá, inevitavelmente, conflito social. Que alternativa(s)
racional(is) soluciona(m) o conflito? (UFSM, 2015)
I. Uso da força e violência.
II. Uso da ideologia e controle da informação.
III. Acordo e deliberação coletiva.
IV. Apelo à tradição e costume.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados I, II e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados III estão corretos.
d) Apenas os enunciados III e IV estão corretos.
e) Apenas o enunciado IV está correto.

3. Assinale a alternativa INCORRETA. Quando se fala de Filosofia Política se


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discute:
a) A Filosofia Política está intimamente ligada à nossa característica de ser animal social.
b) Por ela se discute ideais e práticas de organização do Estado, os relacionamentos entre
pessoas e entidades Estatais.
c) Também as relações entre economia e política, o poder do indivíduo, a liberdade,
questões de justiça e Direto e questões sobre participação e deliberação.
d) Também se discute os princípios religiosos formadores do homem como um ser ligado a
Deus.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 1.1

Norberto Bobbio definiu a Filosofia Política desse modo:

- Filosofia política como determinação do Estado perfeito: quando a filosofia busca construir
modelos ideais de Estado ou convivência política fundamentada em valores;

- Filosofia política como determinação da categoria “política”: quando a filosofia busca


esclarecer os significados e o alcance do conceito e da atividade política;

- Filosofia política como procura do critério de legitimidade do poder: quando a filosofia


procura responder à questão dos fundamentos da necessidade da obediência ao poder
político;

- Filosofia política como metodologia da ciência política: quando a filosofia busca esclarecer
os pressupostos epistemológicos que tornam possível a Ciência Política.

Disponível em: <http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/>

A partir desses parâmetros postos por Bobbio e de seus estudos sobre os


conceitos fundamentais de Filosofia Política, elabore um texto de no máximo 15
linhas, destacando:

a) Como se constrói, em uma sociedade, os elementos conceituais de Filosofia Política e


qual sua importância para determinar as práticas daquela sociedade.

b) Como a Filosofia Política e seus debates são importantes para se construir uma ideia de
Estado ideal.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa.

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EXERCÍCIO 2

1. Aristóteles considerava que era melhor para a sociedade a soberania política


ser entregue ao povo, como ocorre na democracia, do que a alguns homens
notáveis, como na oligarquia ou aristocracia. Ele argumentava que, mesmo que
um indivíduo isoladamente não fosse muito competente no ato de julgar, quando
unido a outros cidadãos julga melhor, porque a união reúne as qualidades de
cada um. A vantagem da democracia, segundo o ponto de vista de Aristóteles,
seria a de:
a) Combinar as qualidades de muitos e neutralizar seus defeitos.
b) Garantir que os defeitos do povo sejam corrigidos pela elite.
c) Proporcionar à maioria as vantagens da corrupção.
d) Permitir que os grandes homens falem em nome de todos.
e) Promover o anonimato das opiniões e decisões.

2. Segundo Platão, as opiniões dos seres humanos sobre a realidade são quase
sempre equivocadas, ilusórias e, sobretudo, passageiras, já que eles mudam de
opinião de acordo com as circunstâncias. Como agem baseados em opiniões, sua
conduta resulta quase sempre em injustiça, desordem e insatisfação, ou seja, na
imperfeição da sociedade. Em seu livro A República, ele, então, idealizou uma
sociedade capaz de alcançar a perfeição, desde que seu governo coubesse
exclusivamente:
a) Aos guerreiros, porque somente eles teriam força para obrigar todos a agirem
corretamente.
b) Aos tiranos, porque somente eles unificariam a sociedade sob a mesma vontade.
c) Aos mais ricos, porque somente eles saberiam aplicar bem os recursos da sociedade.
d) Aos demagogos, porque somente eles convenceriam a maioria a agir de modo
organizado.
e) Aos filósofos, porque somente eles disporiam de conhecimento verdadeiro e imutável.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 2.1

Leia: o “Mito da Caverna” no livro 7 da República de Platão:

Leia: “A monarquia é, na nossa opinião, um dos melhores regimes. Contudo, é preciso


examinar se é preferível, para um país e para um povo que queiram ser bem governados,
ter ou não um rei, se não há um sistema mais interessante ou se a monarquia, sendo boa
para uns, não seria má para outros. O governo é o exercício do poder supremo do Estado.
Este poder só poderia estar ou nas mãos de um só, ou da minoria, ou da maioria das
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pessoas. Quando o monarca, a minoria ou a maioria não buscam, uns aos outros, senão a
felicidade geral, o governo é necessariamente justo. Mas, se ele visa ao interesse particular
do príncipe ou dos outros chefes, há um desvio. O interesse deve ser comum a todos ou, se
não o for, não são mais cidadãos. ” (ARISTÓTELES, 1998, p. 151).

Elabore um texto de no máximo 35 linhas, destacando:

a) A partir do “mito da Caverna” diga por que o governo do filósofo (SOFOCRACIA) é o


único para se ter um Estado justo?

b) Para Aristóteles como o governo tem que agir para garantir a felicidade de todos e dessa
forma ser um governo justo?

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa.

EXERCÍCIO 3

1. Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é preciso haver algum


dirigente, pelo qual se atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio, que
se move para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao
fim de destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora, tem o
homem um fim, para o qual se ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém,
agirem os homens de modos diversos em vista do fim, o que a própria diversidade
dos esforços e ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um
dirigente para o fim. (AQUINO, 1995) (Adaptado). No trecho citado, Tomás de
Aquino justifica a monarquia como o regime de governo capaz de
a) Refrear os movimentos religiosos contestatórios.
b) Promover a atuação da sociedade civil na vida política.
c) Unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum.
d) Reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística.
e) Dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual.

2. Na Idade Média, se considerava que o ser humano podia alcançar a verdade


por meio da fé e também por meio da razão. Ao mesmo tempo, o poder religioso
(Igreja) e o poder secular (Estado) mantinham relacionamento político tenso e
difícil. O filósofo Tomás de Aquino desenvolveu uma concepção destinada a
conciliar FÉ e RAZÃO, bem como IGREJA e ESTADO. De acordo com as ideias
desse filósofo:
a) O Estado deve subordinar-se à Igreja.
b) A Igreja e o Estado são mutuamente incompatíveis.
c) A Igreja e o Estado devem fundir-se numa só entidade.
d) A Igreja e o Estado são, em certa medida, conciliáveis.
e) A Igreja deve subordinar-se ao Estado.

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3. Dentre as obras do filósofo escolástico São Tomás de Aquino, aquela que se
tornou mais famosa, na qual são tratados todos os temas de ordem teológica e
filosófica, desde as provas para existência de Deus, a criação do mundo e do
homem até discussões sobre as virtudes, a ética e a política, é:
a) Suma Contra os Gentios.
b) Tractatus Lógico-Filosófico.
c) Crítica da Razão Pura.
d) Suma Teológica.
e) A Cidade de Deus.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 3.1

Assista ao filme “O Nome da Rosa” e a partir da reflexão do filme elabore um texto de no


máximo 25 linhas, destacando a organização política medieval bem como o poder da Igreja
sobre a sociedade destacando os conceitos de política de Santo Agostinho e de Tomás de
Aquino.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa.

EXERCÍCIO 4

1. Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que
amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil
juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma
das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são
ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes
bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos,
quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-
se. (MAQUIAVEL, 1991). A partir da análise histórica do comportamento humano
em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser:
a) Munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.
b) Possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política.
c) Guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes.
d) Naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos
naturais.
e) Sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.

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2. Leia o texto a seguir. (UEL)
A República de Veneza e o Ducado de Milão ao norte, o reino de Nápoles ao sul,
os Estados papais e a república de Florença no centro formavam ao final do
século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália sujeita a constantes
invasões estrangeiras e conflitos internos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel
desenvolveu reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem necessária
para a unificação e a regeneração da Itália. (Adaptado de SADEK, 2003). Com
base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia política de Maquiavel,
assinale a alternativa correta.
a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas com a existência de um Príncipe que
age segundo a moralidade convencional e cristã.
b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas concretas que pretendem evitar a
barbárie, mesmo que a realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita.
c) A história é compreendida como retilínea, portanto a ordem é resultado necessário do
desenvolvimento e aprimoramento humano, sendo impossível que o caos se repita.
d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o âmbito dos assuntos humanos é
resultante da materialização de uma vontade superior e divina.
e) Há uma ordem natural e eterna em todas as questões humanas e em todo o fazer
político, de modo que a estabilidade e a certeza são constantes nessa dimensão.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 4.1 - Livre

Leia o texto com atenção.

“[…] cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: apesar disso, deve
cuidar de empregar convenientemente essa piedade. César Bórgia era considerado cruel, e,
contudo, sua crueldade havia reerguido a Romanha e conseguido uni-la e conduzi-la à paz e
à fé. O que, bem considerado, mostrará que ele foi muito mais piedoso do que o povo
florentino, o qual, para evitar a pecha de cruel, deixou que Pistoia fosse destruída. Não deve,
portanto, importar ao príncipe a qualificação de cruel para manter os seus súditos unidos e
com fé, porque, com raras excessões, é ele mais piedoso do que aqueles que por muita
clemência deixam acontecer desordens, das quais podem nascer assassínios ou rapinagem. É
que estas consequências prejudicam todo um povo, e as execuções que provêm do príncipe,
ofendem apenas um indivíduo. E, entre os príncipes, os novos são os que menos podem
fugir à fama de cruéis, pois os Estados novos são cheios de perigo.”

“[…] como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me
conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se pode
imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e principados que nunca se viram nem jamais
foram reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo
por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que

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se faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar; e um homem que
quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus. Assim
é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou
deixe de valer-se disso segundo a necessidade.” (MAQUIAVEL, M. O Príncipe. Trad. Lívio
Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1973, Col. Os pensadores ).

Responda:

a) Como Maquiavel subverte a relação clássica entre ética e política?

b) No segundo fragmento identifique as características inovadoras do pensamento do


filósofo.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa.

EXERCÍCIO 5

1. “A liberdade natural do homem deve estar livre de qualquer poder superior na


terra e não depender da vontade ou da autoridade legislativa do homem,
desconhecendo outra regra além da lei da natureza. A liberdade do homem na
sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele
estabelecido por consentimento na comunidade civil [...]” (LOCKE, 1994). Com
base no texto e nos conhecimentos sobre o tema da liberdade em Locke,
considere as seguintes afirmativas:
I. No estado civil as pessoas são livres porque inexiste qualquer regra que limite sua ação.
II. No estado pré-civil a liberdade das pessoas está limitada pela lei da natureza.
III. No estado civil a liberdade das pessoas edifica-se nas leis estabelecidas pelo conjunto
dos membros dessa sociedade.
IV. No estado pré-civil a liberdade das pessoas submete-se às leis estabelecidas pelos
cidadãos.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e IV estão corretos.
c) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
d) Apenas os enunciados II e IV estão corretos.
e) Apenas os enunciados III e IV estão corretos.

2. Sobre John Locke, filósofo que se opôs à teoria do Direito Divino dos reis, é
correto afirmar que:
a) Os conflitos de interesses, naturais em todas as sociedades, devem ser mediados pelos
monarcas, responsáveis pela justiça social.
b) O pacto social exige que a vontade expressa da maioria, mesmo que seja representada
pelos operários, deve ser respeitada pela minoria.
c) O direito natural precede o direito positivo e todos os homens são iguais e possuem o

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mesmo direito à vida, à liberdade e à propriedade.
d) A paz social exige a eliminação do direito à revolução, pois as manifestações de revoltas e
as trocas de governo são prejudiciais à sociedade.
e) A liberdade religiosa põe em risco os sistemas políticos, mas a religião anglicana cristã,
fundada em princípios pacíficos, deve ser permitida.

Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de


Aprendizagem.

ATIVIDADE 5.1 - Livre

Leia com atenção o texto de Thomas Hobbes.

“[...] durante todo o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os
manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e
uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens.

No estado de natureza cada homem é governado pela sua própria razão (...) e é um
preceito desta razão que um homem concorde quando os outros também o façam, e na
medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa em renunciar a seu
direito a todas as coisas [...].

A única maneira de instituir um poder comum entre os homens, capaz de defendê-los das
invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros (1..) é conferir toda sua força ou
poder a um homem ou a uma assembleia de homens que possa reduzir suas diversas
vontades [...] a uma só vontade. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se
chama Estado”. (HOBBES, T. Leviatã. Col. Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978).

Responda:

a) Qual seria a condição dos homens no estado de natureza;

b) como se realiza o pacto social instituído, segundo Hobbes?

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa.

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