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2019 - 07 - 29 PÁGINA RB-3.

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Governança, Compliance e Cidadania - Ed. 2019
3. PROGRAMAS DE COMPLIANCE E INCENTIVOS NO COMBATE À CORRUPÇÃO NO BRASIL

3. Programas de compliance e incentivos no combate à corrupção no Brasil


Patricie Barricelli Zanon1

Susana Gercwolf2

1. Introdução

A corrupção, enquanto um comportamento que se desvia dos deveres formais de um cargo público em razão de
vantagens pecuniárias ou de status oferecidas a seu titular, familiares ou amigos íntimos; ou que viola normas que
impedem o exercício de certas modalidades de influência do interesse de particulares, tais como suborno (uso de
recompensa para perverter o julgamento do ocupante de um cargo público), nepotismo (concessão de cargo público
sem prévia avaliação do mérito do candidato) e peculato (apropriação ilegal de recursos públicos para uso
particular)3, tem imposto sérias consequências para a democracia e para a concretização dos direitos fundamentais
no Brasil.

De acordo com os dados do índice da percepção da corrupção aferidos pela Transparency International4, o Brasil
ocupa o 96º lugar no ranking, apresentando 37 pontos, o pior resultado dos últimos cinco anos, que implica situação
grave de corrupção no país. Tais dados refletem a realidade dos recentes esquemas de corrupção sistêmica
deflagrados nas últimas décadas e que denotam a perpetuação de uma cultura arraigada no bojo da sociedade
brasileira que encontra suas origens no patrimonialismo.

Segundo Meneguello5, a corrupção rompe com pressupostos fundamentais do regime, com a igualdade política e
a participação, além de reduzir a influência da população no processo de tomada de decisões – seja por fraudes nos
processos decisórios, como nas eleições, seja pela desconfiança e pela suspeita que ela gera entre os próprios
cidadãos com relação ao governo e às instituições democráticas – e minimizar a transparência das ações dos
governantes.

No mais, a corrupção contribui para acentuação da desigualdade social, na medida em que permite o desvio de
verbas públicas para minorias privilegiadas e, por conseguinte, prejudica o investimento em políticas públicas
voltadas para a concretização de direitos fundamentais.

Entretanto, não obstante o Brasil venha sofrendo com as danosas consequências da corrupção, há que se
considerar como ponto positivo a tendência de construção e fortalecimento de um sistema robusto de controle da
corrupção que se revela mediante a adoção de diversas medidas nesse sentido, tais quais a criação da Estratégia
Nacional de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro (ENCCLA), em 2003, consistente em um arranjo
institucional entre diversos atores com o intuito de fomentar a criação e execução de políticas públicas de combate
e prevenção à lavagem de dinheiro e corrupção; a criação e atuação da Controladoria Geral da União (CGU),
também nesse âmbito; e o advento de diplomas legislativos abordando o tema, dentre os quais se destacam a Lei
12.846/2013 (Lei Anticorrupção).

Referida lei, além de dispor sobre a responsabilização administrativa e civil das pessoas jurídicas por atos
praticados contra a Administração Pública, seguindo a tendência internacional de valorização do compliance como
uma ferramenta de controle da corrupção na medida em que propaga a ética e a transparência no ambiente
empresarial, também institui a facultatividade de adoção dos programas de integridade por empresas, atrelando-a
à concessão de determinados benefícios legais, passando a constituir verdadeiro marco teórico sobre o tema.

Não obstante referido avanço, restam algumas indagações, sobretudo no tocante ao grau de efetividade da Lei
Anticorrupção. Afinal, o fato da previsão legal concernente à instituição de programas de compliance por pessoas
jurídicas não ser compulsória consistiria num óbice a sua efetividade na prática? Seriam os benefícios previstos na
lei suficientes para despertar o real interesse das empresas para que implementem os programas de integridade?

Passados cinco anos da promulgação da referida lei, era de se esperar que a cultura do compliance estivesse
disseminada de forma que a maioria das empresas possuísse estruturas sólidas de programas de integridade já
implementados. No entanto, pesquisas de maturidade do compliance no Brasil tendem a apontar para um cenário
diverso, razão pela qual este artigo se propõe a analisar a estrutura legal de incentivos à implementação de
programas de integridade efetivos, a fim de verificar sua efetividade como estímulo para empresas na
implementação do compliance.

2. Compliance como instrumento de controle da corrupção

Com o advento da promulgação da Lei 12.846, em 01.08.2013, em vigor desde 29.01.2014, foram instituídos
legalmente, de forma facultativa, os programas de integridade (compliance), que visam preservar a ordem
econômica do mercado, assegurando a livre concorrência e promovendo, por conseguinte, o desenvolvimento
nacional, na medida em que passa a haver previsão legal acerca da punição de pessoas jurídicas que pratiquem
atos contra a Administração Pública.

De acordo com Parker e Nielsen6, compliance pode ser compreendido a partir de duas perspectivas. A primeira,
objetiva, se preocupa em identificar e explicar como, por que e em quais circunstâncias indivíduos e pessoas
jurídicas cumprem a regulação, sendo que, o principal significado de compliance, nesse contexto, diz respeito ao
comportamento de obediência à regulação. Por outro lado, há a perspectiva interpretativista do compliance, que o
entende como um processo ambíguo e complexo, na qual o significado de regulação é transformado conforme se
usa a interpretação, implementado e negociado na vida cotidiana por aqueles para quem é direcionado. Nesse
último caso, o compliance refere-se a significados e interpretações, hábitos sociais, práticas, interações e
comunicações entre diferentes atores no processo de implementação.

Assim, embora seja muito frequente a remissão ao compliance enquanto aderência à legislação, para fins deste
artigo será adotada a compreensão interpretativista do compliance, que vai além da mera adequação às normas e
códigos de conduta e da instituição do programa de integridade, levando em consideração o desenvolvimento de
uma verdadeira cultura de ética e transparência nas práticas das empresas e de seus colaboradores.

Nesse sentido, ainda que os programas de integridade sejam entendidos, no âmbito da Lei Anticorrupção,
enquanto o conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de
irregularidades7, e embora traduzam-se, também, na necessidade de aplicação efetiva de códigos de ética e de
conduta, políticas e diretrizes com o fito de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos
praticados por uma pessoa jurídica contra a administração pública, seja ela nacional ou estrangeira8, estes não se
sustentam sem que haja, concomitantemente, a efetiva implementação de uma cultura de compliance que permeie
a empresa em todos os seus níveis hierárquicos e pilares.

Nesse diapasão, compreendida a abrangência do compliance, há que se observar que este se desenvolveu no
século XX, no âmbito do setor financeiro, pioneiro no reconhecimento da necessidade de controles internos,
padrões e comportamentos éticos no exercício de suas atividades, a fim de assegurar o cumprimento das normas e
determinações nacionais e internacionais.

Seu surgimento e evolução, no entanto, não se deu de forma homogênea em todos os países. Conforme aponta
Manzi9, a evolução histórica do compliance decorreu da necessidade detectada a partir de uma série de eventos,
entre os quais merecem destaque, no plano internacional: i) a criação do Banco Central Americano, em 1912; ii) 16
anos mais tarde, a quebra da bolsa de Nova York; iii) a instituição, em 1932, da política intervencionista New Deal
durante o governo Roosevelt, com suas bases keynesianas segundo as quais o Estado deveria intervir na economia
para corrigir eventuais distorções do mercado; iv) no ano seguinte houve a criação da Securities and Exchange
Comission (SEC), que passou a insistir na contratação de compliance officers, em 1960, com o fito de instituir
procedimentos de controle interno, treinar pessoas e monitorar áreas de negócios para uma supervisão efetiva; v)
antes disso, em 1944, ocorreram as Conferências de Bretton Woods e foram criados o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), no intuito de zelar pela
estabilidade do Sistema Monetário Internacional; vi) em 1974, foi criado o Comitê da Basileia para supervisão
bancária; vii) em 1980, a atividade de compliance expandiu-se para as demais atividades financeiras do mercado
americano; viii) em 1997, foram divulgados 25 princípios pelo Comitê da Basileia visando uma supervisão bancária
eficaz, dentre os quais se destaca o princípio 14, que prevê a existência de controles internos adequados, o que
inclui, entre outras funções, as de auditoria interna e externa e, ainda, de compliance para aferir a adesão a estes
controles.

A seguir, Manzi10 elenca enquanto eventos importantes no cenário nacional: i) a promulgação da Lei 9.613/1998
(Lei de Lavagem de Capitais) – que dispõe sobre os crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, além de
dispor acerca da prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos na referida lei e da criação
do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) –, no intuito de preservar a ordem econômica e mitigar a
criminalidade; ii) a publicação da Resolução 2.554/1998 pelo Conselho Monetário Nacional, que dispõe acerca da
implementação do sistema de controles internos; iii) 2 anos mais tarde, referida Resolução foi alterada pela
Resolução 3.056, que dispõe acerca da atividade de auditoria referente aos controles internos.

Em 2003, o Ministério da Justiça criou a Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (ENCLA), sendo
o termo “corrupção” acrescentado a esta sigla em 2006, tornando-se ENCCLA, cuja principal função é a de formular
políticas públicas voltadas ao enfrentamento desses crimes. Por fim, em 2013, a Lei 12.846 (Lei Anticorrupção) é
promulgada, sendo regulamentada posteriormente pelo Decreto 8.420/2015.
Vislumbra-se, assim, que no tocante ao aspecto legislativo, no Brasil é relativamente recente a promulgação de
leis relacionadas especificamente ao compliance enquanto instrumentos legais introdutores de uma cultura de ética
e transparência, sendo possível afirmar que apenas com o advento da Lei 12.846/2013, a qual foi promulgada a fim
de cumprir com compromissos assumidos internacionalmente, bem como atender demandas internas de
fortalecimento do combate à corrupção, é que a temática adquiriu um verdadeiro marco regulatório que facultou
sua existência, atrelando-a à concessão de determinados benefícios no momento de aplicação da sanção, a exemplo
da redução da pena de multa e atenuação das sanções na hipótese de celebração de acordo de leniência.

Dessa forma, observa-se que o surgimento do compliance no país foi tardio e seu estudo é ainda incipiente, não
obstante haja uma crescente preocupação com o tema, mormente após os recentes escândalos envolvendo
corrupção que assolaram o país e que adquiriram, inclusive, notória repercussão em nível global.

Note-se que a lei em comento dispõe, ao tratar da aplicação de sanções, que será considerada a existência de
mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, isto é, será levado em conta a
existência do compliance na forma de programas de integridade.

Além disso, conforme determina o Decreto 8.420/2015, os programas devem ser estruturados, aplicados e
atualizados de acordo com as características e riscos atuais das atividades específicas de cada pessoa jurídica, que
por sua vez deverá garantir o constante aprimoramento e adaptação do referido programa, visando garantir sua
efetividade. Desse modo, tem-se que a efetividade dos programas de integridade está atrelada aos riscos das
atividades específicas que determinada organização exerce, não sendo possível replicar um mesmo modelo para
todas as organizações. Ainda, o decreto regulamentador em comento estabelece os parâmetros segundo os quais o
programa de integridade será avaliado para fins da dosimetria das sanções a serem aplicadas.

Surge, então, com a Lei Anticorrupção, a preocupação por parte das organizações empresariais com relação à
implementação de programas de integridade com o escopo de prevenir ou mitigar riscos legais (perdas financeiras,
danos à imagem11 etc.), a fim de evitar a persecução penal, pois, em último caso, não sendo tal prevenção/mitigação
possível, e incorrendo, portanto, a pessoa jurídica em algum ilícito, esta estará sujeita a responsabilização em razão
dos atos ilícitos praticados por seus agentes que sejam lesivos à Administração Pública.

No intuito de evitar ou minimizar referida responsabilização, faz-se mister, portanto, a existência de


mecanismos que permitam a disseminação de uma cultura de compliance no âmbito da instituição, mormente
através da transparência, da ética, de práticas de boa governança, da gestão de riscos e da responsabilidade social,
tudo isso aliado ao cumprimento das regras impostas pelo ordenamento jurídico e ainda em consonância com os
regimentos internos da instituição.

Salientar que todos os integrantes da empresa – desde o corpo diretivo até os demais colaboradores,
empregados, prestadores de serviços, incluindo terceiros que com ela mantenham negócios – poderão responder
por danos causados à Administração Pública.

Depreende-se, dessa forma, que para uma empresa “estar em compliance" ela necessita desenvolver e engendrar
toda uma cultura organizacional, de modo que todos os integrantes de seu corpo empresarial estejam
genuinamente comprometidos com a ética e a legalidade. Isso exige ir além do cumprimento de meros formalismos
e protocolos: implica, em última análise, a adoção de uma postura pela instituição que associe a ética, enquanto um
valor inerente e indissociável, com a atuação da empresa.

3.Estímulos ao compliance no âmbito do controle da corrupção

Uma vez compreendido o compliance enquanto um instrumento importante no controle da corrupção, o


presente artigo tratará de averiguar se a legislação vigente possui elementos suficientes capazes de estimular sua
utilização no âmbito das organizações empresariais.

A princípio, pode-se dizer que a partir da promulgação da Lei Anticorrupção e do respectivo Decreto que a
regulamenta, pretendeu-se criar uma estrutura que visava incentivar a adoção dos programas de integridade pelas
organizações empresariais dos mais diversos setores.

Todavia, não se pode olvidar que a implementação do compliance pelas organizações empresariais perpassa,
obrigatoriamente, por uma análise de custo-benefício.

Nesse sentido, Coimbra e Manzi12 destacam os custos de transação envolvidos na implementação ou não das
políticas de compliance. Primeiramente, têm-se os custos de manutenção, uma vez que é inegável a necessidade da
empresa se preparar financeiramente para arcar com os custos da implantação e manutenção do programa de
integridade, o que demanda a contratação de especialistas, organização de área específica, investimento em
treinamentos permanentes, investimentos em tecnologia, entre outros. Em segundo lugar, têm-se os custos de
conformidade, os quais envolvem penalidades, multas, tributos, custos de remediação, perda de receita,
interrupção dos negócios, perda da produtividade, impacto no capital, dano à reputação, despesas com advogados,
custas judiciais e valor/hora da alta administração. Por fim, pode-se falar nos custos de governança, os quais
envolvem a manutenção e despesas da diretoria e dos comitês, custos legais e jurídicos, contratação de auditoria e
relacionamento com investidores.

Diante de tal cenário, Candelloro, Rizzo e Pinho13 ponderam que apesar dos custos envolvidos na implementação
da política de compliance indubitavelmente serem elevados, o prejuízo que advém dos custos com a corrupção pode
ser muito maior.

Na mesma linha, Di Carli14 afirma que estimular o uso de programas de compliance por parte das empresas
poderia reduzir os custos do Estado, com a prevenção e investigação da corrupção em um sentido amplo, porque os
programas implicam que as empresas devam ser capazes de detectar as condutas ilícitas, realizar investigações
internas e, eventualmente, entregar os resultados às autoridades. Assim, a implementação de tais programas seria
benéfica em uma amplitude macro, na medida em que economizaria verba pública e permitiria seu investimento
em áreas de carência.

De fato, o conhecimento aliado à comunicação, ao contínuo monitoramento dos colaboradores, à existência de


normas balizadoras de conduta, ao constante aprimoramento e adaptação dos programas de compliance, com vistas
a garantir a efetividade, imprescindíveis para a viabilização e concretização dessa mudança de mindset estrutural
das empresas gera, por conseguinte, enormes ganhos não apenas para os colaboradores, dirigentes e acionistas,
mas, em um âmbito macro, traz ganhos para o mercado e para a sociedade e, em um grau ainda mais elevado, para
o país.

Se, por um lado, a inefetividade ou inexistência de programas de integridade pode acarretar danos
estratosféricos, sendo tal repercussão negativa inclusive capaz de denegrir a reputação de uma empresa podendo
inclusive ser capaz de levá-la à falência, o oposto também é verdadeiro, de tal sorte que a adoção de programas de
integridade, ao afetar positivamente a imagem de uma empresa, pode muitas vezes repercutir fora dela, em nível
local, regional, nacional e até internacional, aumentando sua vantagem competitiva.

Nesse sentido, no que tange aos benefícios do compliance, Ribeiro e Diniz15 afirmam que o compliance tende a
gerar vantagem competitiva uma vez que atualmente os consumidores tendem a ser muito críticos e a adquirir não
apenas produtos e serviços, mas valores e comportamentos sustentáveis, além de seus efeitos em termos de
confiança pública nacional e internacional. Outrossim, as autoras apontam que um dos maiores riscos externos que
a implementação da política de compliance pode mitigar é o dano reputacional não apenas à empresa, mas também
ao próprio país.16

Assim, ao sopesar os supracitados custos e benefícios, é possível supor que a adoção de programas de
integridade pelas empresas representaria uma boa vantagem e na prática conduziria a uma tendência de
implementação crescente. Ainda, considerando o contexto histórico brasileiro nas últimas décadas, de
intensificação das medidas de controle da corrupção e a mobilização social acerca do tema, decorrentes da
deflagração de complexos esquemas de corrupção, verifica-se a existência de mais um fator a impulsionar a
implementação de políticas de compliance. Segundo Gonsalez17, as consequências das operações policiais e
julgamentos referentes a estes casos têm se mostrado como verdadeiras alavancas do compliance.

Nesse sentido, pesquisa realizada pela AMCHAM Brasil com 180 executivos de grandes empresas no ano de 2016,
revela que para 60% dos empresários as ações anticorrupção em curso no país decorrentes de tais escândalos
trouxeram impacto direto no investimento em programas de integridade da organização e, para 61%, a entrada em
vigor da Lei Anticorrupção mudou a conscientização sobre as questões referentes ao tema.18

Não obstante, Ragazzo19 questiona se esse aumento no número de interessados em implantar programas de
integridade consistiria em um movimento duradouro e não apenas em um reflexo momentâneo de uma operação
policial e regulatória e questiona, ainda, se existem, de fato, incentivos para a adoção de programas efetivos em
detrimento de programas meramente aparentes.

De acordo com dados de pesquisa realizada em âmbito nacional pela KPMG20 em 2016 com o objetivo de
verificar a maturidade do compliance, houve uma queda de 4% no número que representa empresas sem
infraestrutura de compliance, o que confirmaria a tendência de crescimento na implantação dessas políticas.

Contudo, há que se ressaltar o fato de que no mesmo período, o número de empresas cuja infraestrutura de
compliance é mínima se manteve inalterado, e que esse número representa ainda a grande maioria. Insta frisar
também que o percentual de empresas cuja infraestrutura de compliance é de alta performance teve uma queda de
1%.

Dessa forma, percebe-se que apesar de realmente se verificar uma tendência crescente de implantação de
políticas de compliance no âmbito empresarial, esse número não tem refletido um avanço no que tange à qualidade
e efetividade dos programas.

A corroborar com essa conclusão, destacam-se outros dados relevantes da pesquisa em tela, relacionados ao
orçamento anual destinado para investimento na área de compliance. Embora, a princípio, possa se identificar um
aumento nos gastos com compliance na maioria das faixas de investimento (exceto a faixa de 1 a 1,9 milhões de
reais), constata-se que a maioria das empresas ainda se limita a investir na faixa mínima de recursos (até 500 mil
reais), o que se mostraria compatível com a implementação de uma infraestrutura mínima.

No mesmo sentido, a pesquisa realizada pela consultoria Protiviti21 no ano de 2017, revela que das 1.147
empresas entrevistadas, apenas 4% possuem programas de compliance com alto nível de maturidade, enquanto o
percentual de empresas que possuem nível médio-baixo e médio-alto está empatado em 24% e 21% são
consideradas de nível baixo. Assim, considerando as empresas de níveis médio-baixo e baixo, a pesquisa constata
que 45% das empresas estão em situação de extrema exposição a riscos de corrupção.

Nessa linha, diante de dados alarmantes e da importância do compliance no controle da corrupção, faz-se mister
refletir sobre a adequação da estrutura de incentivos ao cumprimento legal e à implementação de programas de
integridade que a Lei Anticorrupção e seu Decreto regulamentador trazem em seu bojo.

Conforme já mencionado, Lei Anticorrupção tem como objetivo principal suprir a lacuna no sistema jurídico
nacional no que tange à responsabilização de pessoas jurídicas por atos lesivos à Administração Pública.22 Não se
pode ignorar, portanto, que a mera previsão de responsabilidade objetiva para a aplicação de severas sanções e os
sérios danos reputacionais que podem decorrer do envolvimento em escândalos relacionados à corrupção atuam
como um fator de incentivo ao cumprimento da lei, bem como à promoção do compliance no ambiente empresarial.

Em adendo, mais especificamente no tocante à adoção de programas de integridade, verifica-se que a lei
apresenta como fator principal de incentivo a atenuação concedida no cálculo da pena de multa às empresas que
demonstrem a existência de um programa de integridade eficiente e robusto, em conformidade com as melhores
práticas do mercado, à época da ocorrência.

Ainda em relação à eficiência da Lei, Di Carli23 inicialmente argumenta que a adoção do sistema de
responsabilização administrativa pela Lei Anticorrupção apresenta três inconvenientes que podem comprometer
sua eficácia. O primeiro deles relaciona-se com o objetivo da lei, qual seja, o controle da corrupção e outros atos
lesivos. De acordo com o artigo 8º da lei, terá legitimidade para instaurar processos administrativos a autoridade
máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Tal disposição, na visão da
autora, cria um enorme risco jurídico na medida em que há um empoderamento do gestor público, sendo que não é
possível nesses casos descartar hipóteses em que a própria autoridade legitimada para instauração e julgamento
esteja envolvida nos fatos delituosos. Outrossim, a abstração normativa na definição dos atos concretos
correspondentes às condutas ofensivas descritas, bem como a falta de critérios precisos para incidência das rígidas
sanções contribuiria para reforçar esse ambiente de discricionariedade punitiva dos gestores públicos, favorecendo
a ocorrência de crimes como concussão, corrupção passiva e improbidade administrativa. Em segundo lugar, tal
regime gera um inconveniente para o administrado que eventualmente possua contratos com mais de uma unidade
da federação, na medida em que cada esfera poderá regulamentar de maneira diferente a lei e os processos
poderão ser instaurados perante todas essas esferas. Por fim, em terceiro lugar, tem-se que, na prática, a resolução
final da questão se dará apenas após o esgotamento da discussão no judiciário, pois, no Brasil, as decisões
administrativas submetem-se ao controle jurisdicional.

Diante de tais inconvenientes, percebe-se que o próprio sistema de responsabilização legal pode vir a impor
alguns óbices ao controle da corrupção e comprometer a criação de ambientes mais éticos e transparentes, voltados
à promoção da cultura de compliance ao passo que permitem decisões administrativas desproporcionais,
sobrepostas ou ainda baseadas em opiniões de cunho político.

Note-se que, visando, em parte, tentar mitigar os efeitos colaterais de tais dispositivos legais, os decretos
regulamentadores em âmbito estadual têm buscado atribuir a competência para instaurar e julgar processos
administrativos a um único órgão, em geral, a Corregedoria Estadual.

Ademais, mostra-se de suma relevância a elaboração de um arranjo institucional visando coordenar a atuação
das múltiplas autoridades envolvidas na atividade de instauração e julgamento dos processos administrativos a fim
de resguardar a segurança jurídica em relação às suas decisões, evitando sobreposições.

Por sua vez, Ribeiro e Diniz24, ao analisarem o conteúdo da lei em comento, entenderam que alguns de seus
dispositivos apresentam falhas que podem prejudicar, em parte, a sua eficiência. Como exemplo, citam o artigo 2º
da referida lei que dispõe sobre a responsabilização objetiva das pessoas jurídicas nos âmbitos administrativo e
civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei, praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não. Para as
autoras, o dispositivo gera incerteza quanto à aplicabilidade quando o benefício for direcionado exclusivamente a
terceiros, uma vez que figura como condição para responsabilização que a prática do ato coibido produza benefício
em favor da empresa ou em seu favor e de terceiro, gerando incerteza quanto à sua aplicabilidade quando o
benefício for direcionado exclusivamente a terceiros.

Outro ponto que merece atenção, segundo Ribeiro e Diniz25, é que alguns dispositivos da Lei Anticorrupção
possuem a potencialidade de aumentar o custo de transação e, assim, desestimular condutas benéficas para o
desenvolvimento do compliance. Nesse sentido, citam o artigo 4º, § 2º, o qual estende o âmbito da responsabilização
para situações de coligação, controle, consórcio e grupo. De acordo com tal dispositivo é possível que o ato do
administrador de uma empresa menor pertencente a um grande grupo econômico venha a responsabilizar outras
empresas do mesmo grupo que sequer tiveram conhecimento ou compartilharam os benefícios indevidos. Dessa
forma, ampliam-se os riscos em operações de formação de grupos empresariais locais, criando-se um óbice à
tendência de fortalecimento empresarial por meio da associação formal de empresas.

Especificamente em relação à implementação dos programas de compliance, Di Carli26 questiona se o conjunto


de circunstâncias previstas na lei (severidade das penas e responsabilização objetiva) seria suficiente para motivar
as empresas a adotarem programas de integridade que poderiam atenuar a pena de multa e, a fim de sanar tal
dúvida, realiza uma análise de cunho econômico visando compreender como um agente econômico agiria, dentro
de uma escolha racional, ao priorizar os recursos da empresa.

Todavia, antes de realizar tal análise Di Carli já aponta a necessidade de se observar que a lei conferiu aos
programas e mecanismos de compliance o efeito de influir apenas no cálculo da multa administrativa de modo que
nenhum efeito terão sobre a imposição de sanções civis, impostas por meio de um processo judicial, o que se
mostra, no mínimo, contraditório e contraproducente, se a ideia inicial era estimular a adoção do compliance como
uma forma de promover o cumprimento da lei e fomentar uma cultura ética nas empresas brasileiras.27

A seguir, com base os modelos teóricos de Becker28 e Polinsky e Shavell29, bem como no estudo de Alencar e Gico
30
Jr. sobre o desempenho judicial no combate à corrupção, cuja conclusão foi no sentido de que o sistema judicial
brasileiro, entendido de forma ampla, isto é, abarcando não apenas magistrados, mas também advogados,
promotores públicos, policiais e etc., é altamente ineficaz, a análise econômica de Di Carli31 procura arbitrar a
probabilidade de uma empresa ser punida, pela aplicação da Lei Anticorrupção, considerando a influência do
compliance, conforme explica:

Para tentar dimensionar a influência do compliance na dosimetria da multa, formulamos um exemplo hipotético, com a
análise da situação de cinco empresas fictícias. Consideramos todas as empresas como tendo porte médio/grande, com valor
de faturamento anual, excluídos os tributos, de 280 milhões de reais O faturamento é um valor determinante no cálculo da
multa; para possibilitar a comparação do impacto do compliance, mantivemos esse valor para as cinco empresas. Em nosso
exemplo, as cinco empresas têm graus diferentes de relacionamento com a Administração Pública (volume de contratos ou
pretendidos com o órgão ou entidade lesado, de acordo com o inciso IV do art. 17) Finalmente colocamos diferentes situações
de compliance para cada empresa, desde não possuir nenhum programa ou medida de compliance, até possuir um programa
altamente efetivo.

Ao realizar a análise comparativa entre as duas primeiras empresas, uma com programa altamente efetivo, e
outra que não possuía qualquer mecanismo de compliance, constatou-se que a empresa a primeira teve uma multa
5% menor que a segunda. Por sua vez, ao comparar duas empresas que possuíam programas de integridade, porém
apresentavam diferentes graus de relacionamento com a Administração Pública, verificou-se que o compliance mais
efetivo da empresa que tem um valor maior de contratos com a Administração aproxima muito a multa daquela
calculada para a outra empresa, que tem o compliance menos efetivo, porém, um envolvimento menor com a
Administração, de modo que, quanto maior o relacionamento com a Administração Pública, mais importante será a
busca da efetividade do compliance, até para reduzir a chance de que os atos lesivos venham a ocorrer, trazendo
com eles, o risco da responsabilização. Por fim, a última contraposição foi feita entre uma empresa altamente
corruptora, com alto envolvimento com a Administração Pública e sem qualquer mecanismo de compliance
desenvolvido, e uma empresa que também não possui mecanismos de compliance, mas não é corruptora, apenas
não acredita na Lei Anticorrupção. Nesse caso, é possível afirmar que a intensidade da responsabilização está
diretamente relacionada ao grau de envolvimento com o Poder Público e ao valor da vantagem auferida, sendo que
o impacto do compliance não é tão grande como se poderia desejar.32

Ante a simulação dos cálculos de multa segundo os parâmetros da Lei Anticorrupção e seu decreto
regulamentador, conclui-se que o efeito mitigador dos programas de compliance não configura um incentivo
adequado para que as empresas desenvolvam tais programas. Na opinião de Di Carli33:

Mais valeria, como estímulo à promoção de um ambiente corporativo ético, que o compliance pudesse ser considerado na
aplicação das sanções cíveis, no âmbito do processo judicial. Além disso, a pequena importância Dada aos programas e
mecanismos de compliance (uma entre nove circunstâncias a serem levadas em consideração no cálculo da multa
administrativa, somente) não autoriza que a empresa deixe de ser processada ou responsabilizada, caso o ato de corrupção
tenha sido isolado e ela tenha realmente adotado medidas razoáveis para prevenir o ato ilícito, assim como as ações
corretivas após sua ocorrência.

Não obstante os diversos questionamentos no que se refere à eficiência do conjunto normativo como estímulo
para promoção do compliance e dos programas de integridade, não se pode ignorar o fato de que, paralelamente,
diversas medidas nesse sentido vêm sendo desenvolvidas.

Uma importante iniciativa que visa contribuir para a adoção da cultura de compliance pelas organizações
empresariais é representada pela certificação de conformidade com a ISO 37001. Embora seja uma iniciativa que
parte de uma motivação internacional, não se pode negar a sua importância para o ordenamento. Note-se que a
referida norma global certificável encontra-se em vigor desde outubro de 2016 e trata, especificamente, da adoção
de programas de compliance antissuborno. Tal norma tem como objetivo principalapoiar as organizações a
combaterem o suborno por meio de uma cultura de integridade, transparência e conformidade com as leis e
regulamentações aplicáveis, com os requisitos definidos pela ISO 37001 e pela própria organização, por meio de
políticas, procedimentos e controles adequados para gerenciar os riscos relativos ao suborno. Cabe ressaltar que os
requisitos da norma são aplicáveis a qualquer organização, independentemente do tipo, tamanho e natureza da
atividade, seja do setor público, privado ou sem fins lucrativos. Outrossim, a certificação é condicionada ao
cumprimento em sua totalidade, sem exceção, diferentemente do que ocorre no caso do selo Pró-Ética, o qual toma
por base uma pontuação mínima. Em adendo, vale lembrar que os efeitos e o reconhecimento da certificação
possuem alcance internacional34.

Outra iniciativa, agora em âmbito nacional, que representa a articulação entre os setores privado e público por
meio do estabelecimento de uma parceria entre o Instituto Ethos e a Controladoria geral da União, consiste  em
fomentar a adoção voluntária de medidas de integridade pelas empresas, por meio do reconhecimento público
daquelas que, independentemente do porte e do ramo de atuação, mostram-se comprometidas em implementar
medidas voltadas para a prevenção, detecção e remediação de atos de corrupção e fraude. Nesse sentido,
anualmente as empresas interessadas podem se inscrever para serem avaliadas. Se cumpridos os requisitos de
admissibilidade previstos no  Regulamento serão avaliadas pela Secretaria-Executiva do Pró-Ética, papel
desempenhado pelo Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), a partir das respostas
apresentadas na Análise de Perfil e no Questionário de Avaliação. Cada área do questionário respondido
corresponde a um total de pontos, de modo que aquelas empresas que alcançarem pontuação igual ou superior a 70
pontos e, cumulativamente, atingirem o mínimo de 40% em todas as áreas do questionário estarão habilitadas a
compor a lista Pró-Ética daquele ano. Como benefícios decorrentes desse reconhecimento público destacam-se a
participação em evento para anúncio da lista anual e entrega da marca Pró-Ética para as empresas, bem como a
valorização e divulgação das melhores práticas de integridade apresentadas no ano, a fim de ampliar a publicidade
em torno das empresas habilitadas. Frise-se que em relação à edição de 2017, observou-se um total de 375 empresas
participantes de todos os portes e de diversos ramos de atuação, sendo que, destas, 198 enviaram o questionário de
avaliação devidamente preenchido e no prazo estipulado e após o processo de avaliação, apenas 23 empresas foram
aprovadas e reconhecidas como Empresa Pró-Ética 2017.35

Assim, há que se observar que apesar do incentivo legal ser de suma relevância, considerando possíveis falhas
que possa haver em tais disposições, é possível e até recomendável o desenvolvimento de outras medidas que
venham contribuir para estimular as organizações empresariais a implementarem, voluntariamente, a cultura do
compliance em seu interior, ainda que esse possa ser um processo lento de organização e aprendizado conforme
demonstram os dados anteriores.

4.Conclusão

O presente artigo tem como premissa as consequências nefastas que a corrupção apresenta para a democracia,
em especial no cenário brasileiro, o qual é agravado por uma cultura patrimonialista que forjou um ambiente
propício para o desenvolvimento e evolução da corrupção sistêmica.

Entretanto, verificou-se que, se, por um lado, os recentes escândalos envolvendo grandes esquemas de
corrupção contribuíram para acentuar a desigualdade social, privando os cidadãos da realização de seus direitos
em razão do desvio de verbas públicas e agravaram a situação de desconfiança em relação aos representantes
políticos, gerando uma verdadeira crise de legitimidade representativa, por outro lado, favoreceram o
aprimoramento dos esforços no que tange ao controle da corrupção.

Nessa linha, em consonância com os compromissos assumidos internacionalmente, uma das medidas adotadas
pelo Brasil foi a promulgação da Lei 12.846/2013, a chamada Lei Anticorrupção, cujo objetivo principal é impor a
responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública,
nacional ou estrangeira.

Inobstante o objetivo principal da lei esteja diretamente relacionado com a questão sancionadora administrativa
e civil, considerados atos corruptos e praticados por pessoas jurídicas, a lei em comento também introduz, na
legislação brasileira, pela primeira vez, um elemento altamente relevante para prevenção da corrupção: o
compliance. Ainda que de forma facultativa, a lei dispõe que a existência de mecanismos e procedimentos internos
de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de
conduta no âmbito da pessoa jurídica serão considerados quando da aplicação da sanção.

Assim, a partir de tal disposição, a lei pretende incentivar a disseminação do compliance entendido em seu
sentido interpretativista, como uma cultura de ética e transparência no ambiente empresarial, e não apenas como
mero cumprimento de lei. Note-se que a estrutura de tal incentivo perpassa pelo temor da responsabilização
objetiva, pelas vantagens negociais e relacionadas à imagem e principalmente pela possibilidade de atenuação da
sanção em eventual caso de responsabilização.

Diante desse cenário, havia uma expectativa de disseminação em massa da cultura de compliance, bem como da
adoção de programas de integridade pelas organizações empresariais. Entretanto, ao analisar recentes pesquisas
sobre maturidade do tema, o que se verificou no âmbito nacional foi que, embora tenha havido um crescimento no
número de empresas que adotaram programas de compliance no ano de 2016 e o tema realmente tenha passado a
integrar a agenda nacional, muitas ainda possuem uma infraestrutura mínima e apenas uma minoria teria
programas considerados alto nível. Esse cenário parece indicar uma tendência de implementação de programas
fictícios de compliance que não apresentam efetividade, razão pela qual buscou-se estudar a estrutura de incentivos
legais nesse sentido.

A partir da análise realizada, constatou-se haver vários questionamentos em relação a determinados pontos da
lei, tais como: responsabilização objetiva, atribuição de competência a diversas autoridades para processar e julgar
as infrações, abstração normativa e, principalmente, a utilização do programa de compliance como atenuante na
aplicação das sanções. Mediante a realização de cálculos hipotéticos, constatou-se que implementação de
programas de compliance efetivo muitas vezes não é viável diante de uma análise econômica de custos e benefícios.

Ademais, verificou-se que, apesar da estrutura legal de incentivos parecer não ser adequada para estimular a
implementação do compliance efetivo como instrumento de combate à corrupção, em paralelo, existem outras
iniciativas buscando atingir tal objetivo, a exemplo da certificação internacional ISO 37001 e do Selo Pró-Ética.

Por todo o exposto, conclui-se que embora a estrutura de incentivos para adoção da cultura de compliance no
âmbito das organizações empresariais enquanto uma ferramenta essencial para o controle da corrupção apresente
falhas significativas, esta já vem sendo revisitada com o intuito de buscar seu aprimoramento.

A participação do setor privado em parceria com o setor público na criação de iniciativas complementares
mostra-se imprescindível, conforme já vem ocorrendo, porém, não se pode olvidar a necessidade de se repensar a
legislação, uma vez que esta é a principal fonte de dissuasão em relação à prática de atos corruptos. Nas palavras de
Di Carli36:
[...] para ser capaz de realmente motivar as empresas a adotarem o compliance, o Brasil deverá aumentar a probabilidade
de que os atos lesivos sejam descobertos, apurados e efetivamente punidos. Atualmente, do ponto de vista das empresas, em
termos de análise de custos e benefícios, parece valer a pena apostar na ineficiência do sistema e não implementar o
compliance. Para alterar essa equação será necessário desequilibrar o mercado da corrupção e a lei não conseguirá fazer isso.

5.Referências

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NOTAS DE RODAPÉ
1

Mestranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Direito das Relações
de Consumo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Participou da terceira edição do Legal Education Exchange Program – Thomas Jefferson School of Law, San Diego
– CA, EUA. Advogada com experiência em compliance.

Mestranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Direito Público pela
Universidade do Estado do Amazonas. Membro da Comissão de Estudos de Direito Administrativo da OAB/AM. Graduada em
Direito pela Universidade do Estado do Amazonas. Advogada.

NYE, Joseph. Corruption and political development: a cost-benefit analysis. American Political Science Review, v. 61, n. 2,
1967. p. 164.

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Civilização Brasileira, 2011. p. 64.

6
PARKER, Christine; NIELSEN, Vibeke Lehmann. Compliance: 14 questions. In: PETER, Drahos (editor). Foundations and
applications. Camberra: ANU Press, 2017. p. 218.

Lei 12.846/2013. Art. 7º: Serão levados em consideração na aplicação das sanções: [...] VIII - a existência de mecanismos e
procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos
de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica.

Decreto 8.420/2015. Art. 41: Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa
jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de
irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar
desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira.

MANZI, Vanessa Alessi. Compliance no Brasil: consolidação e perspectivas. São Paulo: Saint Paul Editora, 2008. p. 27-30.

10

Ibidem, p. 30-33.

11

Neste ponto, consoante a explicação de Dornelles (2011, p. 36), a imagem constitui reflexo da identidade organizacional, e o
desafio de buscar aproximar aquilo que a empresa é daquilo que os outros a enxergam requer a
criação/manutenção/preservação dessa imagem. Em outras palavras, a imagem é consequência da identidade da empresa.

12

COIMBRA, Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa Alessi (Coord.). Manual de Compliance: preservando a boa governança e a
integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010. p. 106.

13

CANDELORO, Ana Paula P.; RIZZO, Maria Balbina Martins de; PINHO, Vinícius. Compliance 360º: riscos, estratégias, conflitos e
vaidades no mundo corporativo. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2012. p. 239.

14

DI CARLI, Carla Veríssimo. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. Porto Alegre: Saraiva, 2017. p. 268.

15

RIBEIRO, Márcia Carla Pereira; DINIZ, Patrícia Dittrich Ferreira. Compliance e lei anticorrupção nas empresas.Revista de
Informação Legislativa do Senado Federal, Brasília, ano 52, n. 205, jan.-mar. 2015. p. 94.

16

Ibidem, p. 94.
17

GONSALEZ, Alessandra. Do Mensalão à Lava Jato. In: GONSALEZ, Alessandra et al. Compliance: a nova regra do jogo. São
Paulo: LEC, 2016. p.52.

18

AMCHAM. Lava Jato e Lei Anticorrupção impulsionaram compliance em 60% das empresas, aponta pesquisa ANCHAM. São
Paulo, 28.06.2016. Disponível em: [www.amcham.com.br/noticias/competitividade/lava-jato-e-lei-anticorrupcao-acelerou-
compliance-em-60-das-empresas-aponta-pesquisa-amcham-3525.html]. Acesso em: 15.07.2018.

19

RAGAZZO, Carlos Emmanuel Joppert. Compliance concorrencial: relação de custos e benefícios pós Lava-Jato.Revista
Quaestio Iuris, Rio de Janeiro, v. 11, 2018. p. 1143.

20

KPMG. Pesquisa maturidade do compliance no Brasil. 2. ed. 2017. Disponível em:


[https://home.kpmg.com/br/pt/home/insights/2017/01/pesquisa-maturidade-do-compliance-no-brasil-2a-edicao.html]. Acesso
em: 03.07.2018. p. 11.

21

PROTIVITI. Nível de maturidade em compliance nas empresas brasileiras. 2017. Disponível em:
[www.protiviti.com/sites/default/files/infografico_nivel_de_maturidade_em_compliance_nas_empresas_brasileiras.pdf].
Acesso em: 03.07.2018.

22

DI CARLI, Carla Veríssimo. Op. cit., p. 173.

23

Ibidem, p. 193-196.

24

RIBEIRO, Márcia Carla Pereira; DINIZ, Patrícia Dittrich Ferreira. Op. cit., p. 101.

25

Ibidem, p. 101.

26

DI CARLI, Carla Veríssimo. Op. cit., p. 214.

27

Ibidem, p. 243.

28

BECKER, Gary. Crime and Punishment: an economic approach. Chicago: National Bureau of Economic Research, 1974. p. 41-
42.

29

POLINSKY, Mitchell. SHAVELL, Steven. The economic theory of public enforcement of Law. Journal of Economic Literature,
Nashville, v. 38, v.1, mar. 2000. p. 47-48.

30

ALENCAR, Carlos Higino Ribeiro; GICO JUNIOR, Ivo. Corrupção e judiciário: a (in)eficácia do sistema judicial no combate à
corrupção.Revista de Direito, São Paulo, v. 7, n. 1, jan.-jun. 2011. p. 78.

31

DI CARLI, Carla Veríssimo. Op. cit., p. 248-249.

32

Ibidem, p. 256-265.

33

Ibidem, p. 266-267.

34

IBDEE. Os programas de compliance a certificação ISO 37001. São Paulo, 2016. Disponível em: [www.ibdee.org.br/os-
programas-de-compliance-e-a-certificacao-iso-37001/]. Acesso em: 10.07.2018.

35

CGU. Empresa Pró-ética 2018-2019. Brasília, 2018. Disponível em: [www.cgu.gov.br/assuntos/etica-e-integridade/empresa-pro-


etica]. Acesso em: 10.07.2018.

36

DI CARLI, Carla Veríssimo. Op. cit., p. 270.

© desta edição [2019]

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