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2019 - 02 - 07 PÁGINA RB-10.

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CPC em Foco - 2019
10. DENUNCIAÇÃO DA LIDE

10. Denunciação da lide


Felipe Augusto de Toledo Moreira

1. Facultatividade da denunciação da lide


1
A denunciação da lide, que tem natureza jurídica de ação, representa uma maneira de
eliminar futuras ações de regresso a partir do ingresso na demanda de um terceiro
(litisdenunciado) que se qualifica como “eventual responsável por uma determinada situação
jurídica, e o litisdenunciante é a pessoa que ulteriormente poderia vir a ser autora da ação de
regresso em face do terceiro”.2

Em boa hora, houve a adequação legislativa acerca da facultatividade da denunciação da lide


em todas as suas hipóteses de cabimento (art. 125, caput), tendo em vista que doutrina e
jurisprudência não a consideravam mais obrigatória, nem mesmo na hipótese do art. 70, I, do
CPC/1973, que tratava da evicção.3

Com o mesmo entendimento, o Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) deixou


assentado no Enunciado 120 que: “A ausência de denunciação da lide gera apenas a preclusão do
direito de a parte promovê-la, sendo possível ação autônoma de regresso” (Carta de
Florianópolis/SC, 2017).4

Assim, de acordo com a sistemática vigente, o direito de regresso poderá ser exercido por ação
autônoma, seja a denunciação da lide indeferida, não promovida ou não permitida (art. 125, § 1º).

2. Proibição da denunciação per saltum e da denunciação coletiva

A redação dada pelo CPC/2015 à primeira hipótese de denunciação da lide (art. 125, I),
conjugada com a revogação expressa do art. 456 do Código Civil pelo CPC/2015 (v. art. 1.072, II),
leva à conclusão de que somente o alienante imediato poderá ser denunciado, culminando com a
proibição da denunciação da lide per saltum ou coletiva no processo civil.5

O art. 456 do Código Civil permitia ao adquirente, para exercitar os direitos que da evicção
resultavam, notificar do litígio tanto o alienante imediato quanto qualquer dos anteriores. Essa
regra, somada à ausência de proibição pelas regras processuais do CPC/1973, consolidou o
entendimento majoritário na doutrina e na jurisprudência de que o adquirente poderia denunciar
à lide qualquer dos alienantes anteriores, estando autorizado, inclusive, a “pular” o alienante
imediato (denunciação per saltum).6 Também com base nessa interpretação, havia quem
defendesse, com ressonância na jurisprudência, que o adquirente poderia denunciar todos os
adquirentes anteriores de uma só vez (denunciação coletiva).7

A partir do CPC/2015, esses entendimentos estão claramente superados.

3. Denunciação sucessiva limitada a uma única vez

O art. 73 do CPC/1973 permitia a denunciação sucessiva feita pelo denunciado, sem qualquer
limitação. O CPC/2015, por sua vez, mantém a possibilidade de denunciação sucessiva, mas a limita
a uma única vez (art. 125, § 2º).

O denunciado sucessivo não poderá promover nova denunciação da lide, devendo, nesse caso,
valer-se de ação autônoma para exercício de seu eventual direito de regresso.

4. Simplificação procedimental

Abandonando de vez a necessidade de formulação do pedido de denunciação da lide por meio


de peça autônoma, o CPC/2015, prestigiando a celeridade e a simplificação dos atos processuais,
admite que a citação do denunciado seja requerida na própria petição inicial ou, caso o
denunciante seja o réu, na própria contestação (art. 126).8

A remissão feita pelo aludido dispositivo ao art. 131 traz ao denunciante o dever de fornecer ao
juízo competente os elementos necessários para que a citação do denunciado se efetive no prazo
de 30 dias ou, estando ele em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou, ainda, em lugar
incerto, no prazo de dois meses.

É preciso frisar, nesse ponto, que o denunciante não pode ser prejudicado com a
inadmissibilidade do pedido de denunciação da lide, se a demora para a efetivação da citação do
denunciado decorrer de falha do próprio serviço judiciário, tendo ele se desincumbido do seu ônus
de fornecer todas as informações necessárias.9

Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do


denunciante, ocasião na qual poderá acrescentar novos argumentos à petição inicial (art. 127).

Essa releitura da regra contida no art. 74 do CPC/1973 acaba com as discussões doutrinárias e
jurisprudenciais acerca dos limites para o aditamento da inicial feito pelo denunciado. De acordo
com a sistemática processual civil em vigor, o denunciado que assumir a posição de litisconsorte
do denunciante poderá acrescentar novos argumentos à petição inicial, mas não a aditar
formulando novos pedidos, por exemplo. A sua manifestação ficará adstrita ao objeto já
delimitado pelo autor-denunciante na inicial.10

De outra parte, na denunciação da lide promovida pelo réu na contestação, o denunciado


continuará com três opções (art. 128, I a III), quais sejam: (i) contestar o pedido formulado pelo
autor e assumir sua posição de litisconsorte passivo do denunciante na ação principal; (ii) não
comparecer e ser revel, hipótese na qual o réu-denunciante poderá optar por restringir a sua
atuação à ação regressiva (não mais estará obrigado a prosseguir em sua defesa até o final, como
exigia o art. 75, II, do CPC/1973); ou (iii) confessar os fatos alegados pelo autor na inicial, ocasião na
qual o denunciante poderá optar em prosseguir com a sua defesa ou simplesmente requerer a
procedência da ação de regresso.

5. Cumprimento da sentença contra o denunciado

Acolhendo o entendimento que tem ganhado cada vez mais espaço na jurisprudência, o
CPC/2015 permite expressamente que, nos casos de dupla procedência (da ação principal e da ação
secundária), o autor possa requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos
limites da condenação dele na ação regressiva (art. 128, parágrafo único).

Esse entendimento pela condenação direta do denunciado encontra pelo menos dois óbices
teóricos apontados pela doutrina,11 quais sejam: (i) não existe relação de direito material entre
denunciado e parte contrária vencedora na ação principal; e (ii) não há título executivo formado
entre eles que justifique dar esse alcance à fase executiva. Entretanto, a jurisprudência passou a
consagrar esse entendimento nos casos envolvendo contrato de seguro, já que a condenação
solidária pode ser considerada uma consequência do litisconsórcio formado entre denunciante e
denunciado. Dessa forma, em julgamento sob o regime do art. 543-C do CPC/1973, o STJ fixou o
entendimento de que:
Em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora denunciada pode
ser condenada direta e solidariamente junto com este a pagar a indenização devida à vítima, nos
limites contratados na apólice (STJ, REsp 925.130/SP, 2ª S., j. 08.02.2012, rel. Min. Luis Felipe
Salomão, DJe 20.04.2012).

Mais recentemente, o STJ editou o Enunciado 537 de sua Súmula, que assim disciplina:
Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o
pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da
indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.

O CPC/2015 não utiliza as expressões “condenação direta” ou “condenação solidária”, mas


resolve a questão de forma pragmática com o art. 128, parágrafo único.12

O art. 129 do Código, por sua vez, disciplina com maior detalhamento técnico a relação de
prejudicialidade que existe entre a ação principal e a ação secundária decorrente da denunciação
da lide. Vencido o denunciante na ação principal, seja ele autor ou réu, o juiz, então, passará ao
julgamento da denunciação da lide, a fim de decidir se o prejuízo ao qual fora condenado o
denunciante será ou não objeto de direito de regresso dele em face do denunciado.

Por outro lado, sagrando-se vencedor o denunciante, seja ele autor ou réu, não haverá razão
para se julgar a lide secundária, tendo em vista que não haverá prejuízo a ser ressarcido pelo
denunciado. Nesse caso, em função do princípio da causalidade, o denunciante, que gerou a
demanda secundária sem necessidade concreta (ainda que descoberta após o julgamento da ação
principal), deverá ser condenado nas verbas sucumbenciais em favor do denunciado e de seu
patrono (art. 129, parágrafo único).

NOTAS DE RODAPÉ
1

Todos os artigos citados no texto sem referência são do CPC/2015.

ARRUDA ALVIM, Novo contencioso cível no CPC/2015, São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 101.

“Agravo regimental no agravo de instrumento. Decisão monocrática que inadmitiu recurso especial com
aplicação da Súmula 83/STJ. Ação de reparação de danos. Evicção. Denunciação da lide do alienante de
imóvel. Desnecessidade. 1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que o direito do evicto de indenizar-se
do pagamento indevido diante do anterior alienante não se condiciona à denunciação da lide em ação de
terceiro reivindicante. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido” (STJ, AgRg no Ag 1.323.028/GO, 4ª T.,
j. 16.10.2012, rel. Min. Marco Buzzi, DJe 25.10.2012).

Nesse sentido, v. STJ, REsp 1.332.112/GO, 4ª T., j. 21.03.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 17.04.2013.
5

Sobre o tema, cf. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT, p. 258-259.

Nesse sentido, cf., com proveito, a decisão monocrática: STJ, REsp 647.648/PR, j. 18.06.2013, rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, DJe 26.06.2013.

“Denunciação da lide, mandato in rem propriam. Responsabilidade dos mandatários e seus cessionários
pelos riscos da evicção. E questão federal, para efeito de cabimento do recurso especial, o concernente a
qualificação jurídica do contrato, a ‘natureza jurídica’ de documento. E mandato em causa própria, e não
simplesmente ad negotia, aquele em que o mandante confere poderes para alienar imóvel, declara o
recebimento do preço, isenta de prestações de contas, passando assim o procurador a agir realmente em
seu próprio interesse e por conta própria. Configuração do mandato em causa própria como negócio
oneroso, com transmissão da posse e consequente responsabilidade do transmitente pelos riscos da
evicção. Artigos 70, I, do Código de Processo Civil e 1.107 e 1.073 do Código Civil. Admissibilidade da
denunciação ‘coletiva’, com chamamento conjunto, e não ‘sucessivo’, dos vários antecessores na cadeia de
proprietários ou possuidores. Recurso especial conhecido pela alínea a e parcialmente provido” (STJ, REsp
4.589/PR, 4ª T., j. 19.06.1991, rel. Min. Athos Carneiro, DJ 18.11.1991).

“[...]. No entanto, caberá ao denunciante a cautela de fazê-lo sempre de forma destacada e clara,
apresentando os fundamentos de seu pleito regressivo, inclusive apontando em qual das hipóteses legais
do art. 125 se baseia e deduzindo pedido de condenação e citação, enfim conferindo ao denunciado todos
os elementos fáticos e jurídicos para que possa exercer com eficácia o seu direito de ampla defesa. Em se
tratando de denunciação da lide oferecida com a petição inicial, o valor da causa da ação deverá englobar
a pretensão econômica das duas causas, uma vez que pode o valor da pretensão indenizatória da
denunciação extrapolar o limite do valor da demanda principal. No caso de o réu ser o denunciante, ele
não precisará necessariamente contestar a ação principal para poder promover a denunciação, isto é,
poderá optar em ser revel da demanda principal e, ainda assim, apresentar peça processual com o
objetivo exclusivo de denunciar à lide o denunciado” (MARTINS, Sandro Gilbert. Breves comentários ao
novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 416.).

Nesse caso, deve incidir por analogia o Enunciado 106 da Súmula do STJ, segundo o qual: “Proposta a ação
no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça,
não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência”.

10

“Se comparecer e aditar a petição inicial, a argumentação relativa à lide do denunciante não mais terá o
perfil inicial que lhe havia dado o autor, porém, aquele que lhe tenha agora emprestado o litisdenunciado.
O aditamento à petição inicial é significativo de que há de serem levados em consideração os argumentos
do litisdenunciado, sem que seja alterada a estrutura que o litisdenunciante conferiu à lide, não podendo,
portanto, ser modificados o pedido e a causa de pedir, o que alteraria a lide” (ARRUDA ALVIM, Manual de
direito processual civil, São Paulo: Ed. RT, 2017, p. 510).

11

Cf. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 266.

12

Assim também ficou assentado o entendimento do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), por
meio do Enunciado 121, qual seja: “O cumprimento da sentença diretamente contra o denunciado é
admissível em qualquer hipótese de denunciação da lide fundada no inc. II do art. 125” (Carta de
Florianópolis/SC, 2017).

© desta edição [2019]

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