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CPC em Foco - 2019
10. DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Assim, de acordo com a sistemática vigente, o direito de regresso poderá ser exercido por ação
autônoma, seja a denunciação da lide indeferida, não promovida ou não permitida (art. 125, § 1º).
A redação dada pelo CPC/2015 à primeira hipótese de denunciação da lide (art. 125, I),
conjugada com a revogação expressa do art. 456 do Código Civil pelo CPC/2015 (v. art. 1.072, II),
leva à conclusão de que somente o alienante imediato poderá ser denunciado, culminando com a
proibição da denunciação da lide per saltum ou coletiva no processo civil.5
O art. 456 do Código Civil permitia ao adquirente, para exercitar os direitos que da evicção
resultavam, notificar do litígio tanto o alienante imediato quanto qualquer dos anteriores. Essa
regra, somada à ausência de proibição pelas regras processuais do CPC/1973, consolidou o
entendimento majoritário na doutrina e na jurisprudência de que o adquirente poderia denunciar
à lide qualquer dos alienantes anteriores, estando autorizado, inclusive, a “pular” o alienante
imediato (denunciação per saltum).6 Também com base nessa interpretação, havia quem
defendesse, com ressonância na jurisprudência, que o adquirente poderia denunciar todos os
adquirentes anteriores de uma só vez (denunciação coletiva).7
O art. 73 do CPC/1973 permitia a denunciação sucessiva feita pelo denunciado, sem qualquer
limitação. O CPC/2015, por sua vez, mantém a possibilidade de denunciação sucessiva, mas a limita
a uma única vez (art. 125, § 2º).
O denunciado sucessivo não poderá promover nova denunciação da lide, devendo, nesse caso,
valer-se de ação autônoma para exercício de seu eventual direito de regresso.
4. Simplificação procedimental
A remissão feita pelo aludido dispositivo ao art. 131 traz ao denunciante o dever de fornecer ao
juízo competente os elementos necessários para que a citação do denunciado se efetive no prazo
de 30 dias ou, estando ele em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou, ainda, em lugar
incerto, no prazo de dois meses.
É preciso frisar, nesse ponto, que o denunciante não pode ser prejudicado com a
inadmissibilidade do pedido de denunciação da lide, se a demora para a efetivação da citação do
denunciado decorrer de falha do próprio serviço judiciário, tendo ele se desincumbido do seu ônus
de fornecer todas as informações necessárias.9
Essa releitura da regra contida no art. 74 do CPC/1973 acaba com as discussões doutrinárias e
jurisprudenciais acerca dos limites para o aditamento da inicial feito pelo denunciado. De acordo
com a sistemática processual civil em vigor, o denunciado que assumir a posição de litisconsorte
do denunciante poderá acrescentar novos argumentos à petição inicial, mas não a aditar
formulando novos pedidos, por exemplo. A sua manifestação ficará adstrita ao objeto já
delimitado pelo autor-denunciante na inicial.10
Acolhendo o entendimento que tem ganhado cada vez mais espaço na jurisprudência, o
CPC/2015 permite expressamente que, nos casos de dupla procedência (da ação principal e da ação
secundária), o autor possa requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos
limites da condenação dele na ação regressiva (art. 128, parágrafo único).
Esse entendimento pela condenação direta do denunciado encontra pelo menos dois óbices
teóricos apontados pela doutrina,11 quais sejam: (i) não existe relação de direito material entre
denunciado e parte contrária vencedora na ação principal; e (ii) não há título executivo formado
entre eles que justifique dar esse alcance à fase executiva. Entretanto, a jurisprudência passou a
consagrar esse entendimento nos casos envolvendo contrato de seguro, já que a condenação
solidária pode ser considerada uma consequência do litisconsórcio formado entre denunciante e
denunciado. Dessa forma, em julgamento sob o regime do art. 543-C do CPC/1973, o STJ fixou o
entendimento de que:
Em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora denunciada pode
ser condenada direta e solidariamente junto com este a pagar a indenização devida à vítima, nos
limites contratados na apólice (STJ, REsp 925.130/SP, 2ª S., j. 08.02.2012, rel. Min. Luis Felipe
Salomão, DJe 20.04.2012).
Mais recentemente, o STJ editou o Enunciado 537 de sua Súmula, que assim disciplina:
Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o
pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da
indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.
O art. 129 do Código, por sua vez, disciplina com maior detalhamento técnico a relação de
prejudicialidade que existe entre a ação principal e a ação secundária decorrente da denunciação
da lide. Vencido o denunciante na ação principal, seja ele autor ou réu, o juiz, então, passará ao
julgamento da denunciação da lide, a fim de decidir se o prejuízo ao qual fora condenado o
denunciante será ou não objeto de direito de regresso dele em face do denunciado.
Por outro lado, sagrando-se vencedor o denunciante, seja ele autor ou réu, não haverá razão
para se julgar a lide secundária, tendo em vista que não haverá prejuízo a ser ressarcido pelo
denunciado. Nesse caso, em função do princípio da causalidade, o denunciante, que gerou a
demanda secundária sem necessidade concreta (ainda que descoberta após o julgamento da ação
principal), deverá ser condenado nas verbas sucumbenciais em favor do denunciado e de seu
patrono (art. 129, parágrafo único).
NOTAS DE RODAPÉ
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ARRUDA ALVIM, Novo contencioso cível no CPC/2015, São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 101.
“Agravo regimental no agravo de instrumento. Decisão monocrática que inadmitiu recurso especial com
aplicação da Súmula 83/STJ. Ação de reparação de danos. Evicção. Denunciação da lide do alienante de
imóvel. Desnecessidade. 1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que o direito do evicto de indenizar-se
do pagamento indevido diante do anterior alienante não se condiciona à denunciação da lide em ação de
terceiro reivindicante. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido” (STJ, AgRg no Ag 1.323.028/GO, 4ª T.,
j. 16.10.2012, rel. Min. Marco Buzzi, DJe 25.10.2012).
Nesse sentido, v. STJ, REsp 1.332.112/GO, 4ª T., j. 21.03.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 17.04.2013.
5
Sobre o tema, cf. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT, p. 258-259.
Nesse sentido, cf., com proveito, a decisão monocrática: STJ, REsp 647.648/PR, j. 18.06.2013, rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, DJe 26.06.2013.
“Denunciação da lide, mandato in rem propriam. Responsabilidade dos mandatários e seus cessionários
pelos riscos da evicção. E questão federal, para efeito de cabimento do recurso especial, o concernente a
qualificação jurídica do contrato, a ‘natureza jurídica’ de documento. E mandato em causa própria, e não
simplesmente ad negotia, aquele em que o mandante confere poderes para alienar imóvel, declara o
recebimento do preço, isenta de prestações de contas, passando assim o procurador a agir realmente em
seu próprio interesse e por conta própria. Configuração do mandato em causa própria como negócio
oneroso, com transmissão da posse e consequente responsabilidade do transmitente pelos riscos da
evicção. Artigos 70, I, do Código de Processo Civil e 1.107 e 1.073 do Código Civil. Admissibilidade da
denunciação ‘coletiva’, com chamamento conjunto, e não ‘sucessivo’, dos vários antecessores na cadeia de
proprietários ou possuidores. Recurso especial conhecido pela alínea a e parcialmente provido” (STJ, REsp
4.589/PR, 4ª T., j. 19.06.1991, rel. Min. Athos Carneiro, DJ 18.11.1991).
“[...]. No entanto, caberá ao denunciante a cautela de fazê-lo sempre de forma destacada e clara,
apresentando os fundamentos de seu pleito regressivo, inclusive apontando em qual das hipóteses legais
do art. 125 se baseia e deduzindo pedido de condenação e citação, enfim conferindo ao denunciado todos
os elementos fáticos e jurídicos para que possa exercer com eficácia o seu direito de ampla defesa. Em se
tratando de denunciação da lide oferecida com a petição inicial, o valor da causa da ação deverá englobar
a pretensão econômica das duas causas, uma vez que pode o valor da pretensão indenizatória da
denunciação extrapolar o limite do valor da demanda principal. No caso de o réu ser o denunciante, ele
não precisará necessariamente contestar a ação principal para poder promover a denunciação, isto é,
poderá optar em ser revel da demanda principal e, ainda assim, apresentar peça processual com o
objetivo exclusivo de denunciar à lide o denunciado” (MARTINS, Sandro Gilbert. Breves comentários ao
novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 416.).
Nesse caso, deve incidir por analogia o Enunciado 106 da Súmula do STJ, segundo o qual: “Proposta a ação
no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça,
não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência”.
10
“Se comparecer e aditar a petição inicial, a argumentação relativa à lide do denunciante não mais terá o
perfil inicial que lhe havia dado o autor, porém, aquele que lhe tenha agora emprestado o litisdenunciado.
O aditamento à petição inicial é significativo de que há de serem levados em consideração os argumentos
do litisdenunciado, sem que seja alterada a estrutura que o litisdenunciante conferiu à lide, não podendo,
portanto, ser modificados o pedido e a causa de pedir, o que alteraria a lide” (ARRUDA ALVIM, Manual de
direito processual civil, São Paulo: Ed. RT, 2017, p. 510).
11
Cf. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil, São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 266.
12
Assim também ficou assentado o entendimento do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), por
meio do Enunciado 121, qual seja: “O cumprimento da sentença diretamente contra o denunciado é
admissível em qualquer hipótese de denunciação da lide fundada no inc. II do art. 125” (Carta de
Florianópolis/SC, 2017).