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Resumo: a política externa de um país é o conjunto de decisões, políticas e ações do governo que
instituem um princípio específico, coerente e até permanente que se projeta no meio internacional,
para atender às necessidades do Estado, das grandes empresas e da sociedade como um todo. No
presente estudo, analisam-se as políticas externas brasileiras, dando um destaque àquela dos governos
Lula. Poucos entendem a importância que a política exterior de um país tem para os cidadãos que nele
vivem. E é este o principal objetivo desta pesquisa: apresentar os princípios de política externa e de
forma clara e objetiva, as políticas implantadas no Brasil, e seus reflexos para a economia e para a vida
dos residentes. No caso da política mais recentemente implantada, onde se despendeu maior atenção,
fica evidente o alinhamento à dinâmica do mercado e aos interesses dos grandes conglomerados e do
Estado. Utilizou-se de metodologia qualitativa, tratando-se de pesquisa descritivo-analítica.
Palavras-chave: política externa, Brasil, Estado, conglomerados.
1. INTRODUÇÃO
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Pós-graduada em Administração Financeira pela URCA e Docente do Departamento de Economia da URCA.
E-mail: romenia@bol.com.br
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país e suas implicações internas. É perceptível a alternância, ao longo dos anos, de iniciativas
promissoras e de retrocessos em relação à inserção, às parcerias firmadas e aos resultados
obtidos. Essa descontinuidade de ações é um empecilho considerável para um país em
processo de desenvolvimento.
Na terceira seção analisa-se a política externa do Brasil durante os governos Lula e
seus reflexos, principalmente, sobre a economia. Fica evidente a compatibilização dos
interesses do governo e dos grandes conglomerados empresariais na implantação dessa
política. Alguns resultados são apresentados em termos da balança comercial, principalmente
das exportações, e dos investimentos diretos brasileiros no exterior. E logo após essa seção,
apresentam-se as principais conclusões do estudo.
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Princípios da PEI: 1º- exportações brasileiras para todos os países, inclusive socialistas; 2º- defesa do direito internacional,
da autodeterminação e da não intervenção nos assuntos internos de outros países; 3º- política de paz, desarmamento e
coexistência pacífica nas relações internacionais; 4º- apoio à descolonização completa de todos os territórios; 5º- formulação
autônoma de planos nacionais de desenvolvimento e de encaminhamento da ajuda externa (VIZENTINI, 2008).
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Apesar da manutenção do eixo vertical Norte-Sul, a diplomacia brasileira passou a
atuar em um eixo horizontal Sul-Sul e em um diagonal Sul-Leste (Terceiro Mundo e países
socialistas, respectivamente). Isso se tornou possível pelas necessidades de desenvolvimento
do país e pelo advento de um sistema mundial de hegemonias em crescente desgaste
(VIZENTINI, 2008). Com o golpe militar, precisamente de 1964-1974, retomou-se o
alinhamento preferencial com os EUA e com outros países ocidentais capitalistas,
abandonando as premissas fundamentais de inserção internacional do país e rompendo
relações diplomáticas com países comunistas.
De 1974-1979, o governo Geisel adotou algumas diretrizes e um projeto de inserção
internacional associado à PEI, e que ficou conhecido como Pragmatismo Ecumênico e
Responsável: sem teor ideológico; com mudanças realizadas de forma lenta e gradual, assim
como o processo de transição do regime ditatorial para o democrático. Buscou-se diversificar
parcerias internacionais (China, Estados africanos, árabes e a União Soviética) e reduzir a
dependência aos EUA. Figueiredo (de 1979-1985) continuou as ações de Geisel, visitou vinte
e cinco países e estreitou relações com os latino-americanos. Tancredo Neves e Sarney
também buscaram a inserção internacional do país, defendendo os direitos humanos, o meio
ambiente, se comprometendo com o desenvolvimento de tecnologia e energia nuclear para
fins pacíficos e a noção de integração regional (FIGUEIRA, 2011).
As vigorosas alterações do cenário mundial, na passagem dos anos 80 aos 90, e a
implantação de um modelo inspirado no neoliberalismo com o governo Collor,
entretanto, configuraram uma crise no processo de multilateralização, ainda não
superada. Depois de um interregno, durante o governo Itamar Franco, que resgatou
certas dimensões de soberania e interesse nacional, os dois governos Fernando
Henrique Cardoso aprofundaram ainda mais uma vinculação subordinada à
globalização (VIZENTINI, 2008, p. 12).
Lula, ainda como candidato, defendia a intenção de garantir por meio da política
externa, a presença soberana do Brasil no mundo. A forte diplomacia presidencial beneficiou-
se da imagem positiva que o presidente adquiriu internacionalmente. Sua presença afirmou o
compromisso brasileiro com o desenvolvimento, a justiça e equidade social a nível global
(SOUZA NETO, 2011). Ainda sob os efeitos da globalização, no final do século XX, o país
passou a valorizar principalmente, o espaço regional latino-americano via MERCOSUL. As
relações internacionais dos governos Lula foram dotadas de três dimensões diplomáticas:
econômica, política e social.
A primeira dimensão se referiu a necessidade de manter abertos os canais de
negociação com os países mais desenvolvidos, obtendo investimentos e tecnologias,
negociando a dívida externa e sinalizando o desejo do governo em cumprir os compromissos
internacionais, sem nenhuma ruptura brusca ou quebra do modelo macroeconômico
(VIZENTINI, 2008). Significou que, para conquistar a credibilidade e garantir a
governabilidade do país, Lula: honrou o acordo com o FMI e sua renovação; preservou a
diretoria do Banco Central, intimamente relacionada ao sistema financeiro globalizado;
escolheu uma equipe econômica comprometida com a estabilidade econômica e com o ajuste
fiscal (GREMAUD et al, 2011).
A promoção dos negócios e o aprofundamento das relações comerciais entre as
distintas economias, com a manutenção do grau de abertura comercial e da reestruturação
produtiva ulterior promoveu ao longo dos governos Lula a elevação da dependência do
mercado externo como centro dinâmico da economia brasileira. Isso acentuou o processo de
reprimarização das exportações e elevou a vulnerabilidade externa estrutural3 da economia
brasileira (CARCANHOLO, 2010).
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A vulnerabilidade externa é a probabilidade de resistência a pressões, fatores desestabilizadores e choques externos. Pode
ser conjuntural e estrutural. É conjuntural quando determinada pelas opções e custos do processo de ajuste externo. Depende
diretamente das opções disponíveis e inversamente dos custos do ajuste. Essencialmente, é um fenômeno de curto prazo. A
vulnerabilidade externa é estrutural quando decorre de mudanças relativas ao padrão comercial, da eficiência do aparelho
produtivo, da dinâmica tecnológica e do vigor do sistema financeiro nacional. Determinada pelos processos de desregulação e
liberalização econômica nas relações internacionais do país, sendo um fenômeno de longo prazo (FILGUEIRAS et al., 2007).
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A segunda dimensão diplomática – a política – representou a reafirmação dos
interesses nacionais e um verdadeiro protagonismo nas relações internacionais, com a
intenção real de desenvolver uma diplomacia ativa e afirmativa. Foi promovida a adoção de
políticas afirmativas sem quotas, acréscimo do número de diplomatas, abertura de embaixadas
na África e na Ásia e maior abertura da diplomacia à sociedade civil e acadêmica.
A terceira dimensão diplomática envolve o projeto social interno do governo Lula
(com impactos internacionais), que foi ao encontro da agenda que busca corrigir as distorções
criadas pela globalização centrada apenas em comércio e investimentos livres. A campanha de
combate à fome foi o elemento simbólico da construção de um suposto modelo
socioeconômico alternativo, respondendo a crise da globalização neoliberal4.
O governo brasileiro superou a passividade do anterior e buscou alianças fora do
hemisfério para ampliar seu poder de influência no âmbito internacional a partir da
mencionada postura ativa e pragmática. Analisando a integração sul-americana e do
MERCOSUL, esta é uma parceria necessária para o crescimento da economia, e
consequentemente para que a integração deixe de ser virtual. Como também a possibilidade
de reversão da marginalização crescente da região (VIZENTINI, 2008).
A integração sul-americana se realiza em três níveis: 1º- o comercial e de
investimentos, relativamente consolidado com o MERCOSUL; 2º- o operacional de
construção de infraestrutura de transportes, comunicações e energia, através da Iniciativa de
Integração Regional Sul-Americana (IIRSA); e 3º- o nível político, através da União das
Nações Sul-Americanas (Casa/UNASUL), um fórum para desenvolver a consciência política
da integração que inclui também a Guiana e o Suriname (VIZENTINI, 2008). O Brasil
também liderou o MERCOSUL contra a tentativa de o governo estadunidense impor uma
agenda unilateral para a Área de Livre Comércio das Américas (SOUZA, 2008);
As relações Norte-Sul ganharam um novo enfoque: ao contrariar alguns desígnios da
potência hegemônica – recusando-se em respaldar ações contra o Iraque sem que os
inspetores da ONU concluíssem seu trabalho e aprovassem uma invasão – e ao ressaltar sua
4
Esse projeto social interno do governo é uma das evidências de manutenção do modelo liberal periférico iniciado durante o
segundo mandato de FHC, e sustentado em três pilares: 1º- liberalização, privatização e desregulação; 2º- subordinação e
vulnerabilidade externa estrutural; 3º- dominância do capital financeiro. E evidencia a atualização da dependência
tecnológica e financeira do país, agravando a vulnerabilidade externa da economia brasileira e sua fragilidade financeira
(FILGUEIRAS et al, 2007).
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autonomia, a diplomacia brasileira criou uma razoável margem de manobra. Chamou atenção
para suas reinvindicações socioeconômicas e para obras de infraestrutura com os vizinhos
(VIZENTINI, 2008). O presidente Lula também reivindicou a queda das barreiras
alfandegárias5 e dos subsídios agrícolas6 (RODRIGUES et al., 2009).
As estratégias de cooperação Sul-Sul tiveram ações focadas em pontos comuns sem a
criação de uma frente anti-hegemônica ou anti OCDE. O primeiro passo foi a constituição do
IBAS ou G-3 (Fórum de cooperação entre Índia, Brasil e África do Sul), procurando gerar a
cooperação trilateral, a liberalização comercial recíproca e a unificação e fortalecimento de
posições nos foros multilaterais. Uma contribuição à construção de um sistema mundial
multipolar, sem hegemonias e regido por organizações multilaterais. Outras iniciativas
importantes foram as visitas de Lula aos países árabes do Oriente Médio e a aproximação com
a África para aproveitar lacunas existentes no sistema internacional, ocupando espaços
extremamente importantes para ampliar exportações de bens e serviços e expandir a ação de
empresas brasileiras e a influência internacional do país (VIZENTINI, 2008).
Uma das iniciativas da diplomacia brasileira que mais suscitou repercussão,
tanto a nível doméstico quanto internacional, foi a aproximação com o Irã, refletida
na troca de visitas presidenciais ao longo de 2009 e 2010, e na postura brasileira
favorável ao desenvolvimento de tecnologia nuclear por parte daquele país. A
diplomacia brasileira procurou explicitar que defendia o direito do governo iraniano
de possuir um programa nuclear para fins pacíficos e condenava o discurso
antissemita e de negação do Holocausto por parte do presidente iraniano. No
entanto, a proximidade entre Brasília e Teerã atraiu críticas de alguns membros da
comunidade internacional, como Estados Unidos e Israel, e também de alguns
setores domésticos. A aprovação da resolução 1929 pelo Conselho de Segurança da
ONU em junho de 2010, estabelecendo sanções comerciais ao Irã nas áreas de
material militar e tecnologia nuclear, comprometeu o esforço brasileiro de buscar
uma aproximação comercial com o país e também os esforços de mediação de Brasil
e Turquia. Apesar do fracasso nas negociações, o envolvimento brasileiro revelou
uma disposição do país em estabelecer canais de diálogo sul-sul, demonstrando
também que defende o direito dos países em desenvolvimento de estabelecer
programas nucleares para fins pacíficos, como previsto no Tratado de Não-
Proliferação Nuclear (SOUZA NETO, 2011, p. 103).
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Alguns produtos brasileiros estão sujeitos a quotas de exportações. Aqueles que ultrapassarem tais limites pagam tarifas
exorbitantes. Nos EUA: suco de laranja, etanol, açúcar, carne de frango, suína e bovina, fumo, frutas tropicais, vegetais e
produtos siderúrgicos. Na União Europeia: carne suína e bovina, frango, milho, açúcar e suco de laranja. No Japão:
amendoim descascado e frutas tropicais. E no Canadá: aves, particularmente o frango (MAIA, 2011).
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Em 2003, a União Europeia estabeleceu subsídios para a produção do setor bovino (100%) e de aves e caprinos (50%). Em
2007, os EUA aprovaram uma lei que proporcionará até 2012 subsídios agrícolas no valor de US$ 284 bilhões (MAIA,
2011).
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A solidariedade ativa também foi importante, com os projetos na área social e de
saúde, além da atuação conjunta nos organismos internacionais, como o G-207. Portanto, o
protagonismo brasileiro junto ao Terceiro Mundo e a diversificação dos vínculos com o
Primeiro, intensifica sua campanha para obtenção de um assento permanente no Conselho de
Segurança da ONU8 (VIZENTINI, 2008), onde o Brasil assumiu a posição de líder na missão
de paz no Haiti.
Sobre a reforma do Conselho de Segurança, uma ampliação do órgão, isto é, do
número de membros pode tornar a sua composição mais democrática, ao mesmo tempo em
que não irá diretamente torná-lo mais rápido e eficiente para tratar dos desafios relacionados à
manutenção da paz e da segurança internacional. Para o Brasil, a obtenção de um assento
permanente poderá torna-lo alvo de pressão por parte dos demais atores, e não
necessariamente um ator mais poderoso e influente em relação aos temas internacionais.
Poderá ainda comprometer os objetivos de longo prazo de fortalecimento e consolidação da
unidade política da própria América do Sul, haja vista não existir um consenso regional em
prol da candidatura brasileira, principalmente na Argentina.
Quanto ao Haiti, apesar da liderança na missão não qualificar automaticamente o país
para assumir um assento permanente, o seu envolvimento permite maior participação nas
discussões sobre planejamento e formulação das missões de paz, desempenhando funções
como proteção de civis, ajuda humanitária e reforma das instituições estatais. Por meio dessa
missão, o Brasil promove internacionalmente uma atuação em prol da resolução de conflitos e
de situações de fragilidade internacional a partir das raízes da subversão e na afirmação de
que a via militar e de segurança devem ser combinadas com a promoção da justiça social e do
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Criado no final dos anos 1990 como uma reação às crises financeiras na Ásia, Brasil e Rússia, objetivando proteger
interesses agrícolas dos países em desenvolvimento diante da liberalização comercial da Rodada Doha (FIGUEIRA, 2011).
Seus membros são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul,
EUA, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. Além disso, participa a União Europeia
(através de sua presidência rotativa), e o Banco Central Europeu, bem como o Banco Mundial e o FMI. Teve um papel de
destaque no enfrentamento da crise financeira de 2008, colocando em evidência as possibilidades de formação de um novo
sistema de distribuição de poder, baseado no multilateralismo (DIAS, 2010).
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Constituído por quinze países, cinco são membros permanentes (China, Rússia, França, Reino Unido e EUA) e os outros
dez são nomeados pela Assembleia-Geral e permanecem no conselho por dois anos. A polarização atualmente existente no
mundo está diferente daquela expressa pelos membros permanentes do conselho (representantes da polarização emergente no
pós Segunda Guerra). Hoje, países que àquela época foram derrotados (Alemanha e Japão), polos dinâmicos globais (como o
Brasil) e Estados representativos de importantes culturas globais (por exemplo, os países árabes), encontram-se excluídos
desse importante organismo. Uma das principais responsabilidades do Conselho é a manutenção da paz e da segurança
internacionais (DIAS, 2010).
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desenvolvimento econômico, na qual os atores locais opinem e definam estratégias de
reconstrução de suas próprias sociedades (SOUZA NETO, 2011).
Ações de diversificação de parcerias fizeram também parte da aposta central na
potencialização do comércio exterior brasileiro com vistas à produção de saldos comerciais
superavitários que evitassem o aprofundamento da dependência do país a capitais estrangeiros
de curto prazo. Ou seja, objetivou-se acabar com a dívida externa e com a vulnerabilidade
externa do país herdada9 do governo FHC (FIGUEIRA, 2011).
Entretanto, as reformas estruturais pró-mercado (incluindo liberalização comercial,
financeira e produtiva), do governo anterior, não apenas são mantidas como aprofundadas em
seu governo. No que se refere à liberalização financeira, foram aprovadas a unificação do
mercado cambial permitindo a não discriminação entre exportadores e importadores; e a
extinção da conta de não residentes visando não limitar pessoas físicas e jurídicas na
conversão de Reais em dólares, facilitando a saída de recursos.
A expansão dos prazos para a cobertura cambial das exportações significava a
manutenção de 30% de receitas em dólares no exterior, apontando para o fim da obrigação de
convertê-las para moeda nacional, ao mesmo tempo em que lhes permite atuar no mercado
especulativo de câmbio no interim entre o recebimento dos dólares e sua eventual
transformação em Reais. O governo também criou uma medida provisória concedendo
incentivos fiscais aos investidores estrangeiros para aquisição de títulos da dívida pública
interna (CARCANHOLO, 2010).
Portanto, a questão central do governo Lula foi ampliar os superávits no comércio
exterior e acumular saldos e reservas internacionais que protegeriam o país dos movimentos
de capitais em direção ao exterior. Implicava uma espécie de dualidade da estrutura
exportadora brasileira: manufaturas para o continente americano e produtos intensivos em
recursos ambientais (agrícolas e minerais) para a Europa e a Ásia. Como no interior do
complexo industrial brasileiro também se importa muito, a possibilidade de ampliar
rapidamente os saldos comerciais se apoiava na perspectiva do incremento das exportações
agrícolas e minerais no curto prazo. Deve-se considerar ainda a transnacionalização de
9
A chamada herança maldita se refere de modo mais amplo, à exposição da economia brasileira a ataques externos
(fragilidade externa) e internos (condições de prazo, rentabilidade e liquidez da dívida pública) legada do governo anterior
(MINEIRO, 2010).
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algumas empresas brasileiras, e sua expansão para espaços regionais e para a África
(MINEIRO, 2010).
O gráfico 1 mostra que a balança comercial brasileira no período 2002-2010 se
manteve superavitária, apresentando os maiores saldos em 2006 e 2005, respectivamente US$
46.456.628.726,00 e US$ 44.928.809.227,00. Embora o intercâmbio comercial tenha crescido
continuamente desde o início do período, o diferencial entre exportações e importações foi
diminuindo e pode ser explicado, entre outros fatores, pelas apreciações do câmbio R$/US$.
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