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Tradução
Wanessa de Souza
“Não desanimem-se mulheres negras do mundo,mas
avancem independentemente da falta de apreciação
que lhe foi mostrada. [...]As rainhas da Etiópia vol-
tarão a celebrar, e as suas amazonas protegerão suas
costas e seu povo. Fortaleçam seus joelhos e movam-se
para frente.”
1.Wanessa de Souza Camaronesa, de etnia Tikar, nascida do Brasil, Mulherista Afrikana, Empreendedora, e
há mais de oito anos é pesquisadora Afrocêntrica de arte Afrikanas.
2. Este texto utiliza o “k” em vez do “C” em África porque a palavra kemetic (antiga egípcia) “af rui ka”, como
clinton crawford (1996) observa, é a raiz etimológica da palavra África, que significa “local de nascimento”
Reacasting Ancient Egypt in te african context (Trenton,NJ: Africa World Press),p 120 - Nota retirada de
Afrikan Mothers: Bearess of Culture, Makers of Social Change, Nah Dove : State University of New York
Press)p 239.
3. Nah Dove, Nota de “ Mulherismo Afrikana:Uma Teoria Afrocêntrica.JORNAL DE ESTUDOS NEGROS,
Vol. 28, № 5, Sage Publications, Inc ( Maio de 1998 ).
4.Ver nota 3
4
Nah Dove conclui de forma nítida que a contextualização do Mulherismo Afrikana-
como uma teoria é uma perspectiva pessoal.
Por mais, que o Mulherismo Afrikana seja um paradigma, isto não significa que ele não
possa ser moldado. A premissa de Weems é de que este paradigma é limitado a mulheres
afrikanas e de ascendência Afrikana no mundo. Possuindo o principal objetivo de ser ma-
leável e adaptável para estas mulheres, por meio de suas próprias experiências. Definindo
então seus critérios para avaliar a realidades por meio de seus próprios pensamentos e
ações. No em tanto, por mais que o Mulherismo Afrikana, seja adaptável ele possui uma
estrutura teórica e metodológica formado por 18 normas orientadoras que precisam estar
em comunhão para que de fato mulheres Afrikanas possam se auto-nomear, e definir-se
como Mulheristas Afrikanas. Sendo eles: a autonomeação, autodefinição, centralidade
familiar, união com os homens na luta, flexibilidade de papéis, irmandade genuína,
força, compatibilidade masculina, respeito, reconhecimento, totalidade, autentici-
dade, espiritualidade, respeito pelo mais velho, adaptável , ambiciosa, maternal e
nutridora/cuidadora.
5.ver nota 3
5
Mas também na distorção da oratória histórica que podemos observar na história
de defensoras da raça como: Aqualtune, Nzinga, Zacimba Gaba, Tereza de Benguela,
Maria Felipa de Oliveira, Luiza Mahin, Dandara, Tia Simoa que se transformaram ao
longo do tempo de defensoras da raça a defensoras e pecursoras do Feminismo Negro
no Brasil.
Analisando a história destas mulheres no Brasil por meio desta perpectiva se muito
mais inteligível o abarcamento no parâmetro Mulherista Afrikana.
Wanessa de Souza
São Paulo, 2019.
6. Cozinhar Escravos - Medida de crueldade extrema,que chegou a ser praticada por senhores contra escra-
vos insubordinados,matando-os em imersão em água fervente. MOURA,CLÓVIS, Dicionário Da Escravidão
Negra No Brasil.São Paulo: Ed Edusp,2009. p.118
7. Beijar o velho forma extrema de humilhação do escravo que consistia em colocar o escravo para escolher
entre 25 açoites ou “beijar o velho” nome dado a um bastão arrematado para tortura.Os que preferiam bei-
jar o velho humildemente de curvavam para o Rei,e levavam um terrível bordoada na cara que lhes faziam o
nariz sangrar. MOURA, CLÓVIS, Dicionário Da Escravidão Negra No Brasil.São Paulo: Ed Edusp,2009. p.68
6
Clenora Hudson Weems
Teórica, intelectual e Professora de Inglês na Universidade de Missouri-Columbia. Criadora
do paradigma Mulherismo Afrikana (Afrikana Womanism). A primeira a estabelecer a lincha-
mento de Emmett como o princípio catalisador do movimento dos direitos civis dos anos 50
e 60. Autora do Afrikana Womanism: Reclaiming Ourselves (1993), Emmett Till: O Cordeiro
Sacrificante do Movimento dos Direitos Civis(1994) e Afrikana Womanist Teoria Literária (2004)
7
Conflitos Culturais e de Agenda na Academia: Questões
Críticas para os Estudos das Mulheres Afrikanas8.(1989)9
Clenora Hudson Weems
Durante sua vida como defensora ferrenha da verdade e da justiça, Sojourner Truth,
nascida escrava em 1797 e libertada sob o Ato de Emancipação do Estado de Nova York
em 1827, apareceu muitas vezes de forma inesperada em manifestações contra escravi-
dão e os direitos das mulheres. Suas observações repentinas frequentemente refutavam
argumentos antagônicos contra sua raça e seu gênero. Seu discurso frequentemente
citado acima, que não foi solicitado e inicialmente indesejado pela audiência Branca,
por causa de sua cor, em uma Convenção de Direitos das Mulheres de 1852 em Akron,
Ohio, é utilizado aqui para demonstrar a critica posição da Mulher Afrikana dentro do
contexto do moderno movimento feminista.
9
consideravam como ser humano, muito menos a consideravam como uma mulher, e
precisamente por isso ela foi ridicularizada antes mesmo que finalmente pudesse falar.
Pode-se questionar o que isso tem haver com o movimento feminista moderno. O fato
é que essas percepções racistas não mudaram significamente a ponto de sugerir que as
Mulheres Afrikanas não tenham que lidar com o problema insidioso de racismo, com a
intensidade semelhante embora hoje seja mascarado.
10
maior, é uma abominação e um insulto direto ao seu nível de luta.
Muitos negros adotaram a estrutura teórica do “feminismo” e tentam com que ele se
encaixe em suas circunstâncias particulares. Ao invés de criar seus próprios paradig-
mas, se re-nomearem, e definirem a si mesmas, algumas Mulheres Afrikanas e espe-
cialmente estudiosas, foram persuadidas pelas feministas brancas e adotaram ou se adap-
taram ao conceito e à terminologia do feminismo. O real benefício entre a fusão entre
o Feminismo Negro e o Feminismo branco vai para as feministas brancas que podem
aumentar a sua base de poder por expandir o seu alcance com o conveniente consenso
de comunhão que o sexismo é a sua preocupação primária. Elas fazem uma análise de
gênero com o objetivo de igualar o racismo ao sexismo. Politicamente e ideologica-
mente para mulher Afrikana, é uma adaptação equivocada e simplista. A maioria das
Afrikanas não compartilha da mesma ideologia tradicional feminista branca. Verdade,
os dois grupos podem partilhar de estratégias para acabar com a discriminação sexu-
al, mas elas estão divididas entre como mudar o sistema político, para acabar com o
racismo, e a exploração sexual. Embora a feminista branca não tenha sacrificado a sua
maior preocupação o sexismo, a feminista negra, na medida em que levou o racismo
como sua preocupação primária, é forçada a ver o classismo como questões secundá-
rias e terciárias. A modificação da terminologia “Feminismo Negro,” é uma tentativa
fútil de algumas Mulheres Afrikanas de tentar se encaixar nas construções de um para-
digma feminino branco estabelecido. Na melhor das hipóteses o feminismo negro pode
estar relacionado com a discriminação sexual fora da comunidade Afrikana, mas não
pode reivindicar a solução dos problemas críticos dentro dele, que são influenciados
pelo racismo e pelo classismo. A feminista branca Bettina Aptheker analisa com exati-
dão o problema:
Para muitas mulheres brancas, Mulheres Afrikanas existem para o seu propósito - a
dramatização da opressão. Quanto a sua identidade, elas se consideram definitivamen-
te como mulheres, e portanto não há a necessidade, de nomear o seus estudos, como
11
por exemplo estudos “Branco” sobre mulheres.
15. A autora introduziu o conceito do “Mulherismo Afrikana” no Conselho Nacional para a Conferência de
Estudos Negros, março de 1988.
16.Vide nota 11.
12
…Os programas de estudos das mulheres operam dentro de uma estru-
tura racista. Cada departamento em todas as instituições predominante-
mente brancas é centrado na experiência, história, política e cultural dos
homens brancos, geralmente da elite. O que é significativo, contudo… Na
medida em que os estudos das mulheres reproduzem um padrão racial no
qual o domínio branco predomina, no entanto, viola seus próprios princí-
pios de origem e propósito. Mais ao ponto: impossibilita a criação de uma
visão feminista e política. (13)
13
indispor com o homem Afrikana, na luta de hoje, os Afrikanas devem renegociar os
papéis entre homens e mulheres Afrikanas na sociedade. Desta forma haverá um apelo
para deter de uma vez por todas a subjugação feminina, ao mesmo tempo que continu-
am na critica luta para a libertação do povo Afrikana em todo o mundo.
Considere a experiência de uma mulher que disse que, a muitos metros de distância,
sua raça foi notada; quando ela se aproximou a sua classe foi notada, mas foi quando ela
entrou pela porta, que o seu gênero foi reconhecido. Isso não sugere a necessidade de
priorizar? A priorização dos tipos de rebaixamento aos quais a mulher Afrikana é subme-
tida deve ser explorada em um esforço sério para reconhecer e compreender a existência
de seu senso total de opressão. O que realmente quer se apreciar na tripla condições da
mulher Afrikana. A sociedade precisa lidar com todos os aspectos da opressão da mulher
Afrikana para melhor combatê-los. Os preconceitos de raça e classe são as questões-chave
para os não-brancos e devem ser resolvidos antes mesmo das questões de gênero, se hou-
ver alguma esperança para a sobrevivência humana. É impossível conceber qualquer ser
humano sucumbindo a absoluta regressão sem uma luta total contra isso.
17.Veja bell hooks Feminist Theory: From Margin to Center. (Teoria Feminista: da Margem para o Centro)
14
Há uma contradição inerente à ideologia do “feminismo negro” que deve ser reavaliada. O
conceito mais compatível é o Mulherismo Afrikana. De fato essas questões precisam ser devi-
damente abordadas, para que os estudos da mulher sejam verdadeiramente respeitados e para
que uma agenda positiva para os Estudos da mulher Afrikana seja verdadeiramente realizada.
15
Mulherismo Afrikana: Uma Visão Geral
Clenora Hudson-Weems
“Na experiência americana, o movimento feminista havia efetivamente
deslocado a unidade dos negros, seja no contexto do movimento aboli-
cionista, do movimento de direito de voto ou do movimento pelos direitos
civis. E assim ficamos à toa e deixamos que os brancos transformassem
Harriet Tubman e Rosa Parks em defensoras do feminismo branco, ao in-
vés de defensoras da raça.” Iva E. Carruthers
16
Julia Hare18, notada psicóloga, expressou sua rejeição do feminismo cerca de treze anos
depois em Black Issues in Higher Education (1993):
Obviamente, Hare não estava ciente do fato de que outra palavra já havia sido apre-
sentada na arena pública em vários artigos sobre o paradigma do Mulherismo Negro19
/ Mulherismo Afrikana que apresentei em conferências nacionais, como o Conselho
Nacional de Estudos Negros em março de 1986 e 1988, a African Heritage Studies
Association em 1988, assim como em 1987 e 1988 Women Studies Association. Essas
apresentações públicas culminaram no meu artigo de 1989, “Critical Issues in Afrikana
Women’s Studies” que mais tarde foi reimpresso como o segundo capítulo de Afrikana
Womanism: Reclaiming Ourselves (1993).20
Bettina Aptheker, uma feminista branca; até vê a prioridade feminista como impraticá-
vel para a mulher negra: “Quando colocamos as mulheres no centro do nosso pensamento,
estamos tratando de criar uma matriz histórica e cultural da qual as mulheres possam rei-
vindicar autonomia e independência sobre suas próprias vidas. Para as mulheres de cor, tal
autonomia não pode ser alcançada em condições de opressão racial e genocídio cultural.
Resumidamente “feminista”, no sentido moderno, significa o empoderamento das mulhe-
18.Julia Hare, quoted in “Feminism in Academe: The Race Factor,” Ellen Crawford in Black Issues in Higher
Education vol. 10, no.1 (11 March 1993).
19;Mulherismo Negro - Black Womanism foi o primeiro nome escolhido por Clenora para denominar o seu
paradigma,atualmente consolidado como Mulherismo Afrikana. “Por que o termo ‘Mulherismo Afrikana’?
Após concluir que o termo “Mulherismo Negro” não era a terminologia adequada para incluir o sentido
total desejado por este conceito, decidi que ‘Mulherismo Afrikana’, uma evolução natural da nomeação…”
- trecho retirado do livro Afrikana Womanism: Reclaiming Ourselves - página 22
20.Afrikana Womanism: Reclaiming Ourselves
17
res. Para as mulheres de cor, tal igualdade, tal empoderamento, não pode ocorrer a
menos que as comunidades em que vivem possam estabelecer com sucesso sua pró-
pria integridade racial e cultural.”21
A abordagem de Gordon para lidar com as questões das mulheres é trazer a realidade
histórica do povo Afrikana e a centralidade da família para a segurança das futuras gerações.
Delores Aldridge, outra socióloga negra, dá um passo à frente em Focusing: Black Male-
-Female Relationships, argumentando que sabotar nossa luta baseada em raça por uma luta
baseada em gênero representa sérias consequências.
Alguém poderia argumentar... que a libertação das mulheres - como está presente-
mente definida e implementada - tem um impacto negativo no movimento de liber-
tação negra... [para] A libertação das mulheres opera dentro da tradição capitalista e
aceita os objetivos finais dos machos brancos sexistas.23
Para ter certeza, Aldridge, compreende bem a perspectiva a partir da qual o feminismo chega.
Em “Cultural and Agenda Conflicts in Academia,” Hudson-Weems descreve sucintamente como
“o feminismo dominante é a cooptação das mulheres nos valores patriarcais tradicionais”.24 A ques-
tão-chave com todos esses quatro teóricos, três negros e um branco, não é a exclusão de questões
de gênero, mas sim uma maneira Afrikana de abordá-los. Outras características-chave do Mulhe-
21.Betinna Aptheker, “Strong I What We Make Each Other: Unlearning Racism Within Women’s Studies,”
Women’s Studies Quarterly, 1:4 (Winter 1981), 13.
22.Vivian V. Gordon, Black Women, Feminism, and Black Liberation: Which Way? (Chicago: Third World
Press, 1987), viii.
23.Delores P. Aldridge, Focusing: Black Male-Female Relationships. (Chicago: Third World Press, 1991), 35.
24.Clenora Hudson-Weems, “Cultural and Agenda Conflicts in Academia: Critical Issues for Afrikana Wo-
men’s Studies.” The Western Journal of Black Studies (Winter 1989), 187
18
rismo Afrikana junto com o foco na família, como definido no capítulo 4 do Mulherismo
Afrikana25, a autonomeação, autodefinição, união com os homens na luta, flexibilidade de
papéis, irmandade genuína, força, compatibilidade masculina, respeito, reconhecimento,
totalidade, autenticidade, espiritualidade, respeito pelo mais velho, adaptável , ambiciosa,
maternal e nutridora/cuidadora.
Outra forma de feminismo, o feminismo Afrikano, também é questionável, unicamente
por causa de sua nomeação imprópria. Um olhar mais atento ao conceito revelará que sua
agenda é mais parecida com o Mulherismo Afrikana do que com o feminismo. Assim, a
precisão de Filomina Chioma Steady em sua astuta avaliação da luta e da realidade das
Mulheres Afrikanas em The Black Woman Cross-Culturally é problemática, pois se assume
antes mesmo que ela explique o conceito de feminismo Afrikano de que é uma extensão
do feminismo. Inquestionavelmente, quando alguém “adquiri a terminologia branca, ela
também compra sua agenda26”. Embora Steady não consiga se nomear adequadamente; ela
demonstra um senso de prioridades no texto acima citado, que está claramente em alinha-
mento com o sentido de priorizar as questões raciais inerentes ao Mulherismo Afrikana.
Em “African Feminism: A Worldwide Perspective,” from Women in Africa and the African Dias-
pora”, ela ainda afirma que: “ para a maioria das mulheres negras, a pobreza é um modo de vida. Para
a maioria das mulheres negras, o racismo também tem sido o obstáculo mais importante na aquisição
das necessidades básicas de sobrevivência. Através da manipulação do racismo, as instituições eco-
nômicas mundiais produziram uma situação que afeta negativamente as pessoas negras, particular-
mente as mulheres negras. O que temos, então, não é uma simples questão de sexo ou diferenças
de classe, mas uma situação que, por causa do fator racial, é moldada em caráter tanto em escala
nacional quanto global.”28
25.Clenora Hudson-Weems, Afrikana Womanism
26.Hudson-Weems, “Cultural and Agenda Conflicts in Academia,” 188.
27 Filomina Chioma Steady, ed. The Black Woman Cross-Culturally (Cambridge, Mass.: Schenkman, 1981),
23-24.
28.Filomina Chioma Steady, “African Feminism: A Worldwide Perspective,” in Women in Africa and the
19
Aparentemente, nem os termos feminismo negro nem feminismo Afrikano são
suficientes para rotular essas mulheres de realidades complexas, particularmente por-
que ambos os termos, através de seus próprios nomes, se alinham com o feminismo.
Além disso, na cosmologia Afrikana, a nomeação adequada, nommo, diz tudo, como
é essencial à existência, o que torna ainda mais difícil aceitar um nome impróprio para
si mesmo. A verdadeira história do feminismo, suas origens e seus participantes, revela
um pano de fundo racista bastante descarado. O feminismo e o movimento sufragista
feminino tiveram o seu início com um grupo de mulheres brancas liberais, que estavam
preocupadas em abolir a escravidão e conceder direitos iguais para todas as pessoas, in-
dependentemente de raça, classe e sexo. No entanto, a Décima Quinta Emenda à Cons-
tituição dos Estados Unidos foi ratificada em 1870, concedendo direitos de voto aos
homens Afrikana, enquanto esse privilégio para as mulheres, em particular as Brancas,
não foi abordado. As mulheres brancas de classe média ficaram desapontadas, tendo
assumido que a sua benevolência para assegurar uma cidadania plena aos Afrikanas
acabaria por beneficiá-las também. Sua resposta foi uma reação racista à emenda e aos
Afrikanas. Assim, um movimento organizado entre mulheres brancas da década de
1880 mudou o pêndulo de uma postura liberal para uma radicalmente conservadora da
parte deles.
Cooper é uma das mulheres negras mais aclamadas pelas críticas às feministas negras
hoje, bem como por críticos negros do sexo masculino, como Henry Louis Gates, que a
chama de “uma feminista negra prototípica cujo livro de ensaios de 1892, Uma voz do sul
é considerada um dos textos fundadores do movimento feminista negro”.31 E Maulana
Karenga, que coloca A Voz do Sul na “arena feminista / mulherista”. Os critérios utilizados
para tal prática permanecem inválidos.
21
Ao considerar as atividades raciais dessas primeiras Mulheres Afrikanas e inúmeras
outras heroínas, o que as feministas brancas fizeram na realidade foi pegar o estilo de
vida e as técnicas das ativistas Afrikanas e usá-las como modelos para enquadrar sua
teoria. Elas então passam a nomeá-lo, defini-lo e legitimá-lo como único movimento
substantivo real para as mulheres. Assim,quando elas definem uma feminista, e ativi-
dade feminista elas estão, de fato, se identificando com Mulheres Afrikanas indepen-
dentes, mulheres que elas imitaram e invejaram. Essas mulheres com quem entraram
em contato desde o início da escravidão americana, até o moderno Movimento dos Di-
reitos Civis com ativistas Afrikanas como Mamie Till Mobley34, mãe de Emmett Louis
Till, e Rosa Parks, a mãe do Movimento dos Direitos Civis Modernos - e do pós-guerra.
Portanto, quando Mulheres Afrikanas aparecem e abraçam o feminismo, anexando-o à
sua identidade como feministas negras ou feministas Afrikanas, elas estão na realidade
duplicando a duplicata.
Mulherismo Afrikana é um termo que cunhei e defini em 1987, após quase dois
anos debatendo publicamente a importância da auto-nomeação para todas as mulheres
de ascendência Afrikana. Seu objetivo principal... é criar seus [Mulheres Afrikanas]
próprios critérios para avaliar as suas realidades, tanto no pensamento como na ação.35
A primeira parte da cunhagem, Afrikana, identifica o contexto étnico da mulher que
está sendo considerada, e essa referência à sua etnia, estabelecendo sua identidade cul-
tural, relacionando-se diretamente com a sua ancestralidade e base terrestre - África.
A segunda parte do termo, o Mulherismo, além de nos levar de volta ao rico legado da
feminilidade Afrikana, recorda o poderoso discurso improvisado de Sojourner Truth
“E não sou eu uma mulher?”, no qual ela luta com as forças alienantes dominantes em
sua vida, lutando como Mulher Afrikana, questionando a idéia aceita de feminilidade.
Mesmo que ela tenha ido a uma convenção de mulheres brancas em Akron, Ohio, em
1852, para expressar sua opinião sobre o absurdo da subjugação feminina, ela foi força-
da a falar primeiro sobre a questão racial, ela foi vaiada e zombada porque ela era negra,
não porque ela era uma mulher, já que ela estava entre a comunidade de mulheres.
22
crucial que explica o uso do termo mulher (ismo). O termo “mulher”, por extensão,
“mulherismo”, é muito mais apropriado do que o termo “feminino 36” (feminismo),
já que apenas uma fêmea 37 da raça humana pode ser uma mulher. “Feminino”
(Feminismo), por outro lado, pode se referir a um membro do reino animal ou
vegetal, bem como a um membro da raça humana. Finalmente, na terminologia
eletrônica e mecânica, há um contrapeso feminino ao correlativo masculino.
Assim, a terminologia derivada da palavra “mulher” é mais adequada e mais
específica ao nomear um grupo da raça humana.
Mulherismo Afrikana não deve ser confundido com o “mulherismo” de Alice Wa-
lker, como apresentada em sua coleção de ensaios intitulada “Em Busca do Jardim de
Nossas Mães”. Segundo Walker, uma mulher é:
Há algumas mulheres brancas que reconhecem que o movimento feminista não foi
em mente projetado para a mulher Afrikana. A feminista branca Catherine Clinton,
por exemplo, afirma que “o feminismo atraiu principalmente as mulheres brancas edu-
cadas e de classe média, em vez das mulheres trabalhadoras negras e brancas”39 Além
disso, Steady, em seu artigo intitulado “African Feminism: A Worldwide Perspective,”.
Que aparece em Mulheres na África e na Diáspora Afrikana, admite que: “Várias esco-
las de pensamento, perspectivas e propensões ideológicas influenciaram o estudo do
feminismo. Poucos estudos trataram da questão do racismo, já que a voz dominante
do movimento feminista tem sido a da mulher branca. A questão do racismo pode se
tornar ameaçadora, pois identifica as feministas brancas como possíveis participantes
na opressão dos negros40
36;Feminino é um adjetivo se manifesta definindo a qualidade do substantivo este Fêmea, que está condi-
cionado em referência a mulher.
37.Aqui Clenora apresenta o termo Fêmea em referência ao seu contexto zoologico, que leva a constitui-
ção etimologica do termo feminino. O termo fêmea partindo da perspectiva da zoologia contextualiza que
fêmea poder ser definido pela presença dos ovários em animais.
38.Alice Walker, In Search ofour Mothers’ Gardens (San Diego: Harcourt, 1983), xii.
39.Catherine Clinton, “Women Break New Ground,” in The Underside of American History, vol.2, Thomas R.
Fraizer, ed. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1987), 63
40.Steady, “African Feminism: A Worldwide Perspective,” 3
23
Com essas questões pairando sobre o domínio do feminismo, a comunidade Afrika-
na, em geral, concordou que o movimento feminista é o movimento da mulher branca
por duas razões. Primeiro, a mulher Afrikana não vê sua contraparte masculina como
seu principal inimigo como a feminista branca, que está realizando uma antiga batalha
com sua contraparte por subjugá-la como sua propriedade. De acordo com a primeira
dramaturga da Nigéria, Dra. Zulu SofoIa: “Isto [o sistema de gêneros entre homens e
mulheres Afrikanas] não é uma batalha em que a mulher luta para conquistar o po-
der de alguns homens, o que [ [Que] consequentemente colocou em movimento um
conflito perpétuo de gênero que agora envenenou a antiga ordem social saudável da
África tradicional.”41
Além disso, durante a escravidão americana, as Mulheres Afrikanas eram tão se-
veramente tratadas, física e mentalmente, como eram suas contrapartes masculinos,
invalidando assim o alinhamento das Mulheres Afrikanas e das mulheres brancas
como iguais na luta. De fato, as intermináveis tarefas da mulher Afrikana a aguar-
davam dentro e fora de casa. Homens e mulheres Afrikana têm sido parceiros iguais na luta
contra opressão desde o início. Portanto não poderiam permitir a divisão com base
no sexo. Concedido, em algumas sociedades tradicionais, a dominação masculina
era uma característica; mas na experiência de escravos afro-americanos, os homens e
41. Zula Sofola at the International Conference on Women of Africa and the African Diaspora: Bridges Across Activism
and the Academy which was held in July 1992 at the University of Nigeria-Nsukka.
42.Angela Davis, Women, Race and Class .New York: Vintage, 1983), 19.
24
mulheres Afrikana eram vistos da mesma forma pelos proprietários de escravos, negando
assim as noções tradicionais (Afrikanas e europeias) de papéis masculinos ou femininos.
Hoje, as Mulheres Afrikanas devem insistir que são parceiros iguais em um relaciona-
mento em que a submissão feminina passiva não era, e nem é a norma em sua comuni-
dade. De acordo com Toni Morrison em “What the Black Woman Thinks about Women’s
Lib” (O que a mulher negra pensa sobre a libertação das mulheres)”:
Desde o início ficou aparente que as Mulheres Afrikanas em particular, tem estado
e se mantendo em se preocupar com a priorização dos obstáculos desta sociedade: a
falta de igualdade de acesso a oportunidades de carreira, tratamento justo de seus filhos
e igualdade de emprego para seus pares do sexo masculino. Muito antes de a questão de
gênero e classe vir à tona na crítica literária contemporânea e nas construções teóricas,
posições foram tomadas e decisões foram tomadas sobre as opções disponíveis para a
mulher Afrikana com base em sua raça. Assim, foi e permanece evidente que a mulher
Afrikana deve primeiro combater a batalha do racismo.
26
Em segundo lugar, as Mulheres Afrikanas rejeitam o movimento feminista por causa
de sua apreensão e desconfiança das organizações brancas. De fato, os grupos brancos
organizados em geral, como o Communist Party and the National Organization for
Women (N.O.W.), (O Partido Comunista e a Organização Nacional para a Mulher),
nunca foram capazes de estimular a maioria dos Afrikanas. No geral, os Afrikanas são
pessoas de base que dependem do apoio e confiança de suas comunidades e que, com
base em casos históricos de traição, são necessariamente suspeitos de organizações fun-
dadas, operadas e controladas por brancos. Em geral, ao contrário dos membros da
cultura dominante, os Afrikanas não são orientados para as questões. Em vez disso, eles
se concentram em coisas tangíveis que podem oferecer uma melhoria ou uma saída da
opressão, que são de extrema importância para a sobrevivência na comunidade Afrika-
na.
27
A mulher sul-Afrikana, diante da situação acima, encontra a or-
dem de suas prioridades em sua luta pela dignidade humana e seus
direitos como mulher ditada pela luta política geral de seu povo
como um todo. A libertação nacional do sul-Afrikana negro é um
pré-requisito para sua própria libertação e emancipação como mu-
lher e trabalhadora. O processo de luta pela libertação nacional
foi acompanhado pela politização de homens e mulheres. Isso im-
pediu que a luta das mulheres se degenerasse em uma luta sexis-
ta que divorciaria a posição das mulheres na sociedade do desenvol-
vimento político, social e econômico da sociedade como um todo.49
Das mulheres sul-Afrikanas que junto com seus homens buscam libertar seu
país, vem um apelo aos amigos e apoiadores para que levantem suas vozes em seu
nome.50
Talvez por causa de todos os problemas indiscutíveis e as turbulências amontoadas sobre a co-
munidade Afrikana, muitos dos quais são racionalmente fundamentados, os Afrikanas freqüente-
mente deixam de olhar de perto as opções disponíveis para determinar se essas opções são, de fato,
suficientemente viáveis.
Em vez de criar outras opções para si próprios, os Afrikanas tornam-se confluentes com o
fenómeno da classe privilegiada branca. Seria útil se alguém fosse criado para si mesmo; in-
dependente de paradigmas alienígenas. Talvez refletir sobre a particularidade do Mulherismo
Afrikana possa ser o começo de uma nova chance para um novo milênio para a sobrevivência
dos negros:
Capítulo 14 em Out of the Revolution: The Development of Afrikana Studies. Delores P. Aldri-
dge e Carlene Young, Editors. Lexington Books, 2000, pp. 205-217.
29
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