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Análise Financeira

de Balanços
EDITORA ATLAS S.A.
Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos Elisios)
01203-904 São Paulo (SP)
Tel.: (0 11) 221-9144 (PABX)
www.atlasnet.com.br
Dante Carmine Matarazzo

Análise Financeira
de Balanços
Abordagem Básica e Gerencial
• Como Avaliar Empresas
• Análise da Gestão de Caixa
• Análise da Gestão de Lucro
• Desempenho da Diretoria

5ª Edição

SÃO PAULO
EDITORA ATLAS S.A. — 1998
© 1992 by EDITORA ATLAS S.A.

1. ed. 1985; 2. ed. 1987; 3. ed. 1994; 4. ed. 1997; 5. ed. 1998; 8ª tiragem

Capa: Aldo Catelli


Composição: Clab's Assessoria Gráfica Editorial

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Matarazzo, Dante Carmine, 1947-


Análise financeira de balanços : abordagem básica e gerencial / Dante
Carmine Matarazzo. - 5. ed. - São Paulo : Atlas, 1998.

ISBN 85-224-1973-6

1. Balanço financeiro 2. Balanço financeiro - Problemas e exercícios


etc. I. Título. II. Título : Abordagem básica e gerencial.

93-2466 CDD-658.15076

Índices para catálogo sistemático:

1. Análise de balanços : Empresas : Exercícios : Administração financeira


658.15076
2. Balanços : Empresas : Exercícios : Administração financeira
658.15076
3. Exercícios : Análise de balanços : Empresas : Administração financeira
658.15076

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial,


de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor
(Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto nº 1.825,


de 20 de dezembro de 1907.

Cód.: 0302 55 209


Impresso no Brasil/Printed in Brazil
Aos meus pais:

Do amor, trabalho e retidão de caráter que vocês me ensinaram


frutificou esta obra.
Sem vocês e a vontade de DEUS nada eu poderia ter feito.
Sumário

Prefácio, 13
Parte I - ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES
FINANCEIRAS, 15
1 INTRODUÇÃO, 17
1 Objetivos da análise de balanços, 17
1.1 A análise de balanços começa onde termina a contabilidade, 19
1.2 Linguagem descomplicada, 19
1.3 O que incluir no relatório, 20
1.4 Metodologia de análise, 21
2 Panorama das técnicas de analise de balanços, 22
Técnicas de análise, 25
2.1 Análise através de índices, 25
2.2 Análise vertical e horizontal, 26
2.3 Análise do capital de giro, 26
2.4 Modelos de análise de rentabilidade, 27
2.4.1 Análise do ROI (Retorno Operacional dos Investimentos), 27
2.4.2 Análise da "Alavancagem Financeira", 27
2.5 Análise da demonstração das origens e aplicações de recursos e do fluxo
de caixa, 27
2.6 Análise prospectiva, 28
Apêndice - Usos e usuários da análise de balanços, 29
1 Fornecedores, 31
2 Clientes (compradores), 33
3 Bancos comerciais (ou carteira comercial do banco múltiplo), 34
4 Bancos de investimentos (ou carteira de Investimentos no banco múltiplo), 35
5 Sociedades de crédito imobiliário (ou carteira de crédito imobiliário do banco
múltiplo), 35
6 Sociedades financeiras (ou carteira de financiamento ao consumidor do banco
múltiplo), 36
7 Corretoras de valores e público investidor, 36
8 Concorrentes, 36
9 Dirigentes, 37
10 Governo, 38
11 Acompanhamento de clientes e fornecedores, 39
2 ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS, 41
1 Estrutura das demonstrações financeiras, 41
1.1 O que mostram as demonstrações financeiras, 43
8 SUMÁRIO

1.2 Balanço patrimonial, 43


Balanço patrimonial, 45
1.3 Demonstração do resultado do exercício, 47
1.4 Demonstração das mutações do patrimônio líquido, 48
1.5 Demonstração das origens e aplicações de recursos - DOAR, 50
Apêndice - Principais contas do balanço e demonstração de resultados, 53
1 Ativo circulante, 53
2 Disponibilidades, 53
3 Clientes, 54
4 Bancos conta vinculada, 55
5 Estoques, 55
6 Aplicações financeiras, 56
7 Outras contas do ativo circulante, 56
8 Realizável a longo prazo, 58
9 Ativo permanente, 59
10 Investimentos, 60
11 Imobilizado, 60
12 Diferido, 62
13 Passivo circulante, 63
14 Exigível a longo prazo, 65
15 Resultado de exercícios futuros, 65
16 Patrimônio líquido, 66
Principais contas da demonstração do resultado, 69
1 Receita operacional bruta, 69
2 Custos de produtos e serviços vendidos (CPV), 71
3 Despesas operacionais, 73
4 Outras receitas e despesas, 74
5 Demais contas da demonstração do resultado, 75
3 CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A., 77
1 Inflação e técnicas de correção monetária, 78
2 Fundamentos da correção monetária na lei das S.A., 79
2.1 Estoques tratados como itens monetários, 81
2.2 Fórmulas de correção monetária, 82
3 Procedimentos de correção monetária na lei das S.A., 84
3.1 Esquema da correção monetária, 87
Conclusão, 88
Apêndice - Exemplos numéricos da correção monetária na Lei das S.A., 90
1 Saldo da correção monetária como despesa quando não há ativo permanente e
passivo exigível, 90
2 Saldo de correção monetária como despesa quando há ativo permanente e
passivo exigível, 93
3 Saldo de correção monetária como receita: ativo permanente maior que patrimônio
líquido, 96
4 Correção monetária no caso do patrimônio líquido negativo: um caso especial, 105
4 CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL, 111
1 A correção monetária integral versus correção monetária pela legislação, 112
2 Principais procedimentos da correção integral, 114
2.1 No balanço, 115
2.2 Na demonstração do resultado, 116
2.3 Na demonstração das mutações do patrimônio líquido e na demonstração
das origens e aplicações de recursos, 118
3 Quadro comparativo entre os números dos principais itens das demonstrações
financeiras pela legislação societária versus correção integral, 119
4 A realidade sobre as perdas e ganhos com a inflação, 120
5 O problema dos índices de inflação e a dolarização das demonstrações
financeiras, 122
5.1 Inadequação dos índices de inflação, 122
5.2 Dolarização das demonstrações financeiras, 124
SUMÁRIO 9

6 Síntese das normas oficiais de correção integral, 125


7 Vantagens da análise das demonstrações financeiras com correção integral, 126
Apêndice - Como elaborar a dolarização de balanços de fora da empresa, 127
1 Dados, 128
2 Método de elaboração da correção integral externa, 131
5 PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E EMPRESA EXEMPLO, 141
1 Padronização das demonstrações financeiras, 141
2 Modelo de padronização, 144
3 A empresa exemplo: Cia. Big, 145
Parte II - AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL, 151
6 ANÁUSE ATRAVÉS DE ÍNDICES, 153
1 O papel dos índices de balanço, 153
1.1 Quantos índices são necessários para uma boa análise?, 154
1.2 Aspectos da empresa revelados pelos índices, 155
1.3 Principais índices, 156
1.4 Quadro-resumo dos índices, 157
2 Descrição detalhada dos índices, 157
2.1 Participação de capitais de terceiros, 159
2.2 Composição do endividamento, 161
2.3 Imobilização do patrimônio líquido, 162
2.4 Imobilização dos recursos não correntes, 165
2.5 Liquidez geral: LG, 170
2.6 Liquidez corrente: LC, 173
2.7 Liquidez seca: LS, 179
2.8 Giro do ativo, 182
2.9 Margem líquida, 183
2.10 Rentabilidade do ativo, 184
2.11 Rentabilidade do patrimônio líquido, 186
3 Como avaliar os índices, 189
3.1 Processo de avaliação de índices financeiros, 190
3.2 A importância relativa de cada índice (peso), 191
3.3 Relatório parcial de análise através de índices, 192
7 ÍNDICES-PADRÃO, 193
1 A estatística ajudando a analisar balanços, 193
1.1 Exemplificação da construção de padrões, 198
1.2 Ramos de atividade, 200
1.3 A utilidade dos índices-padrão, 201
2 Avaliação de índices através de padrões, 204
2.1 Exemplo, 204
2.2 Outros exemplos, 207
3 Desmistificação de padrões, 209
8 MODELO DE AVAUAÇÃO DE EMPRESAS, 211
1 Passos do método de avaliação, 212
2 Uso de planilhas de avaliação, 217
3 Conclusões sobre a empresa, 222
3.1 Sumário das avaliações, 222
3.2 Perfil da empresa, 223
3.3 Pontos fortes e fracos, 224
3.4 Evolução, 224
3.5 Tendência geral, 224
3.6 Comentários, 225
Outras planilhas de avaliação, 225
Apêndice -1 Como atribuir peso aos índices, 230
1 O porquê dos pesos, 231
1.1 Processos de atribuição de pesos, 232
1.2 Atribuição de pesos cientificamente, 233
10 SUMÁRIO

2 Abordagem estatística das diferenças entre índices de empresas "sucesso" e


empresas "insucesso", 236
Testes estatísticos, 237
2.1 Teste de student, 237
2.2 Teste do x2 ou correlação de atributos qualitativos, 238
Apêndice - 2 Fórmulas de previsão de falências, 244
1 Análise discriminante, 244
2 Fórmulas mais conhecidas de previsão de falências, 245
3 Como usar os modelos de previsão de insolvência, 248
9 ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL, 249
1 Análise vertical, 249
2 Análise horizontal, 251
2.1 Análise horizontal encadeada x anual, 253
3 Relação entre análise vertical e análise horizontal, 254
3.1 Relação entre análise vertical/horizontal e análise através de índices
financeiros, 255
3.2 Objetivos da análise vertical/horizontal, 255
4 Exemplo das conclusões da análise vertical e horizontal da Cia. Big, 259
Apêndice - Análise vertical/horizontal na previsão de falências, 261
1 Exemplo de análise vertical/horizontal na previsão de insolvência, 263
10 TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS, 267
1 Econômico x financeiro, 267
2 Investimento x financiamento, 269
3 Como surgem o ativo e o passivo, 270
3.1 Exemplos de como surgem o ativo e o passivo, 273
4 Conceito e formação do capital circulante líquido, 276
5 Liquidez x fluxo de caixa, 282
5.1 Analogia com um sistema de reservatórios, 283
5.2 A liquidez e os prazos de movimentação dos itens circulantes, 284
5.3 A origem das entradas de caixa, 285
5.4 Mudanças de prazos, 285
5.5 Financiamento do ativo circulante, 286
5.6 A pá de cal nos velhos conceitos, 288
5.7 Interpretação do índice de liquidez, 289
5.8 Análise pelo avesso, 290
6. Falácias de liquidez, 293
6.1 Liquidez igual a 2,00, 294
6.2 Cálculo do estoque pelo valor de realização, 294
6.3 Liquidez e prazos médios, 294
7. Limite de endividamento, 295
7.1 Subdivisão das dívidas, 295
7.2 Créditos de funcionamento, 295
7.3 Financiamentos, 296
7.4 Empréstimos bancários, 300
8 Os diferentes índices de endividamento, 301
9 O risco dos empréstimos bancários, 303
9.1 Dependência e risco, 303
9.2 Quatro índices de dependência bancária, 304
10 Índices de avaliação de ações, 307
10.1 Visão geral dos índices de bolsa, 307
10.2 Principais índices de bolsa, 310
10.2.1 Valor patrimonial da ação, 311
10.2.2 Lucro por ação, 311
10.2.3 Preço sobre lucro por ação, 312
10.2.4 Rentabilidade de ação, 312
10.2.5 Dividendo por ação, 313
10.2.6 Retorno de caixa, 313
10.2.7 Relação Caixa/Rentabilidade da ação, 314
SUMÁRIO 11

Parte III - ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA, 315


11 INDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA, 317
1 Índices de prazos médios, 317
1.1 Prazo médio de recebimento de vendas - PMRV, 318
1.2 Prazo médio de pagamento de compras, 323
1.3 Prazo médio de renovação de estoques, 323
2 A inter-relação dos índices do prazo médio, 324
2.1 Exemplo numérico, 326
3 Como calcular corretamente os prazos médios, 329
3.1 Índices de prazos e saldos médios de balanço, 330
3.2 Prazos médios x rotações, 331
Apêndice 1 - Cálculo dos prazos médios dentro da empresa, 332
1 Cálculo dos prazos médios pelo método de exaustão, 333
2 Controle dos prazos médios através de gráficos, 335
Apêndice 2 - Formulação de estratégias através dos prazos médios, 339
1 Financiamento, 340
12 ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO, 343
1 Conceito de necessidade de capital de giro, 343
1.1 Determinação da NCG, 344
1.2 Fontes de financiamento da NCG, 345
2 Causas das modificações da NCG, 348
2.1 Ciclo de caixa x financiamentos, 349
2.1.1 Gráfico tradicional, 349
2.1.2 Novo gráfico, 350
2.2 Ciclo de caixa equivalente, 352
2.3 Ciclo de caixa equivalente e reflexo monetário, 353
3 Análise da necessidade de capital de giro, 354
3.1 Desdobro da NCG, 355
Comentários sobre as causas das variações da NCG, 357
3.2 Financiamento da NCG, 357
Comentários sobre o financiamento da NCG, 359
Apêndice - Administração do capital de giro, 360
1 Ingredientes básicos, 360
2 Inter-relacionamento das variáveis, 360
3 Quanto a empresa pode crescer?, 365
13 ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA, 369
1 Elaboração da demonstração do fluxo de caixa, 369
2 Demonstração do fluxo líquido de caixa - DFLC, 371
2.1 Exemplo simplificado da DFLC, 372
2.2. Construção da demonstração do fluxo líquido de caixa, 376
3 Análise da gestão de caixa, 379
3.1 Dificuldades na avaliação da DFLC, 379
3.2 Roteiro para análise da DFLC, 380
3.3 O que revelam os principais itens da DFLC, 381
3.4. As novas demonstrações, 383
3.4.1 Cia. Líquida - Demonstração do Capital de Giro, 383
3.4.2 Cia. Líquida - Demonstração da Movimentação do Capital de Giro DMCG, 384
3.5 Indices, 384
3.6 Comentários sobre a gestão de caixa da Cia. Líquida, 385
4 Comparação entre a DFLC (Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa) e a DOAR
(Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos), 386
4.1 Reformatação da DOAR,386
4.2 Confronto DOAR x DFLC, 386
4.3 Utilidade da DOAR, 387
12 SUMÁRIO

5 A demonstração do fluxo líquido de caixa da Cia. Big e sua análise, 388


5.1 Demonstração do fluxo líquido de caixa, 388
5.2 Demonstração do capital de giro, 389
5.3 Demonstração da movimentação do capital de giro, 390
5.4 Principais índices do fluxo de caixa da Cia. Big, 391
5.5 Comentários sobre a gestão de caixa da Cia. Big nos exercícios de
19x2 e 19x3, 391

Apêndice - Onde está o lucro, 393

Parte IV -ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO, 395

14 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO, 397


1 Significado do retorno sobre investimentos, 397
1.1 Diversos lucros e investimentos, 398
1.2 Falha da fórmula lucro líquido dividido por ativo total médio, 399
1.3 Estabelecimento de relações autênticas, 400
2 Alavancagem financeira, 403
2.1 Quando a empresa deve recorrer a capitais de terceiros?, 408
3 Alguns aprimoramentos na análise da alavancagem financeira, 409
3.1 Capitais de terceiros x passivo com encargos, 409
3.2 Obrigações com fornecedores, 410
3.3 Como tratar o imposto sobre renda na alavancagem financeira, 411
3.4 Lucro dos ativos, 411
3.5 Nova forma da demonstração do resultado, 412
4 Aprimoramento dos conceitos de taxa de retorno, 413
4.1 Retorno sobre o ativo x retorno sobre o passivo remunerado, 413
4.2 Como utilizar o RsA, 415
4.3 Taxa de retorno sobre ativo líquido - RsAL, 416
5 Valores do denominador dos índices de taxa de retorno, 417
6 Exemplo com incorporação dos aprimoramentos na análise da alavancagem
financeira, 418
7 A alavancagem financeira da Cia. Big, 421

15 DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO, 425


1 Análise de giro x margem, 426
2 Desdobro da taxa de retorno, 428
3 O modelo completo de análise da rentabilidade, 432
3.1 O que faltou no modelo "DUPONT", 432
3.2 O desenvolvimento para atingir o modelo completo de análise da rentabilidade, 432
3.3 O modelo final, 435
4 Análise da rentabilidade da Cia. Big, 435

Apêndice - Os caminhos para o aumento dos lucros, 438


1 Exemplo (I), 441
2 Exemplo (II), 442
Conclusões, 444

Parte V - INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE, 447

16 DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS, 449


1 Modelo da avaliação, 449
2 Análise vertical x horizontal, 452
3 Análise da necessidade de capital de giro - NCG, 455
4 Fluxo líquido de caixa, 458
5 Análise da rentabilidade, 459
6 Soluções e perspectivas para a Cia. Big, 462

Apêndice - Orientações para utilização do disquete, 464


Prefácio

O objetivo da Administração Financeira é maximizar o patrimônio dos


acionistas. A função do administrador financeiro é orientar as decisões de
investimentos e financiamentos a serem tomadas pelos dirigentes da empresa.
O papel do contador é fornecer as demonstrações financeiras para os
acionistas, administradores financeiros e dirigentes.
A análise financeira de balanços, como concebida neste livro, propicia as
avaliações do patrimônio da empresa e das decisões tomadas, tanto em relação
ao passado - retratado nas demonstrações financeiras - como em relação ao
futuro - espelhado no orçamento financeiro.
A análise financeira de balanços é uma ferramenta poderosa à disposição
das pessoas físicas e jurídicas relacionadas à empresa, como acionistas, dirigen-
tes, bancos, fornecedores, clientes e outros.
Começa onde termina o trabalho do contador.
Como disciplina educacional, pode se enquadrar tanto na área da Contabi-
lidade como na de Finanças.
Este livro diferencia-se dos tradicionais textos de Análise de Balanços em
vários aspectos.
Embora requeira do leitor conhecimento prévio sobre demonstrações finan-
ceiras, não se prende a discussões contábeis como auditoria de contas, princí-
pios de contabilidade etc., apresentando abordagem semelhante à dos textos de
Finanças e extrapolando a simples análise das demonstrações financeiras, em
diversos tópicos como "Limite de Endividamento" (Capítulo 10), "Formulação de
Estratégias através dos Prazos Médios" (Capítulo 11), "Administração de Capital
de Giro" (Capítulo 12) e "Os Caminhos para Aumento dos Lucros" (Capítulo 15).
14 PREFÁCIO

Nas três partes fundamentais, Avaliação do Desempenho Empresarial,


Análise da Gestão de Caixa e Análise da Gestão de Lucro, são apresentadas
técnicas de análise e avaliação criadas pelo Autor, seja em sua concepção, na
forma, no conteúdo ou na abordagem e, portanto, inexistentes em outros livros.
A meta, ora implícita, ora explícita, mas sempre presente, é chegar-se a
avaliações em cada uma das técnicas expostas, visando à tomada de decisões.
Como característica didática da obra destaca-se a inclusão de uma empre-
sa-exemplo, baseada num caso real, a qual ilustra todas as técnicas apresen-
tadas no livro, do começo ao fim, técnicas essas reunidas ao final, justamente
com base na empresa-exemplo.
A primeira e segunda partes acham-se voltadas para estudantes de Admi-
nistração e Contabilidade, bem como para profissionais analistas, de balanços
juniores.
A terceira e quarta partes são dirigidas a alunos de pós-graduação em
Finanças, Controladoria e Contabilidade, bem como aos profissionais da alta
Administração Financeira e analista de empresas seniores.

O Autor
Elementos Fundamentais
para Análise das
PARTE Demonstrações
I Financeiras
Esta parte do livro é preparatória para as partes que seguem, nas
quais serão ministradas as técnicas de análise.
Eventualmente, o leitor que tiver bom domínio sobre o conteúdo e
sobre correção integral de demonstrações financeiras poderá deter-se
apenas no Capítulo 5, onde são apresentadas em dólares as demonstra-
ções financeiras de uma empresa cujos números servirão de exemplo até
o fim do livro.
Entretanto, mesmo para alguns profissionais, a descrição das princi-
pais contas de balanço e demonstração de resultados, apresentada como
apêndice ao Capítulo 2, será de grande utilidade para a adequada
classificação e interpretação dos inumeráveis tipos de contas encontradas
nas demonstrações financeiras publicadas.
A grande maioria das pessoas a quem o livro se destina tem dificul-
dades em interpretar a correção monetária oficial de balanços e sua
relação com os números obtidos nas demonstrações financeiras com
correção integral.
A eles destinam-se os Capítulos 3 e 4.
Como apêndice ao Capítulo 4 é apresentado método de dolarização
de demonstrações financeiras a partir de dados publicados em moeda
nacional.
1 Introdução

Este capítulo visa introduzir o leitor no estudo das principais características


da Análise de Balanços. O que pretende a análise de balanços? Quais são os
seus métodos? Quem a usa? Para que a usa? Qual a sua validade? Qual a sua
confiabilidade, extensão e profundidade?
Como resposta a estas interrogações, espera-se criar um clima adequado
para a compreensão do porquê de cada uma das técnicas que serão ministradas
no decorrer da obra.

1 OBJETIVOS DA ANÁLISE DE BALANÇOS

A Análise de Balanços objetiva extrair infor-


mações das Demonstrações Financeiras
para a tomada de decisões.

As demonstrações financeiras fornecem uma série de dados sobre a


empresa, de acordo com regras contábeis. A Análise de Balanços transforma
esses dados em informações e será tanto mais eficiente quanto melhores
informações produzir.
É importante a distinção entre dados e informações.
18 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Dados são números ou descrição de objetos ou eventos que, isoladamente, não


provocam nenhuma reação no leitor.
Informações representam, para quem as recebe, uma comunicação que pode
produzir reação ou decisão, freqüentemente acompanhada de um efeito-sur-
presa.

Por exemplo, quando se diz que o Brasil tem X milhões de habitantes,


tem-se um dado. Quando se divide, porém, o Produto Nacional por esse dado,
encontra-se a renda per capita; quando se compara essa renda com a de outros
países e quando se constrói uma série histórica dessa renda, pode-se chegar à
conclusão de que o Brasil é um país pobre e que vem perdendo posição em
relação a outros países. Aí se tem informação.
As demonstrações financeiras mostram, por exemplo, que a empresa tem
$ Y milhares de dívida. Isto é um dado. A conclusão de que a dívida é excessiva
ou é normal, de que a empresa pode ou não pagá-la é informação. O objetivo da
Análise de Balanços é produzir informação.
As demonstrações financeiras publicadas de uma empresa podem apresen-
tar centenas de números, isto é, de dados. Vejamos: em média são 40 cifras no
Balanço, 20 na Demonstração de Resultado, 20 na Demonstração das Origens
e Aplicação de Recursos e 40 na Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido, perfazendo 120 importâncias. Nas companhias fechadas, passa-se para
240 algarismos publicados em vista da comparação com o exercício anterior e
das demonstrações com correção integral chega-se a 480 números. Convenha-
mos que é excesso de valores para quem muitas vezes deseja apenas saber se
a empresa pode ou não receber créditos.

Daí a importância de transformar-se, por exemplo, 400 dados em uma


informação.
A Figura 1.1 ilustra essa idéia.

Informações
Fatos ou eventos Demonstrações
Processo Técnicas de financeiras para
econômico- financeiras -
Análise de a tomada de
financeiros dados
Contábil Balanços decisões

FIGURA1.1. Seqüência do processo contábil.


INTRODUÇÃO 19

1.1 A ANALISE DE BALANÇOS COMEÇA ONDE TERMINA A


CONTABILIDADE

Para o contador a preocupação básica são os registros das operações. Na


aquisição de uma máquina, por exemplo, quais os custos que comporão o custo
de aquisição, a taxa de depreciação, qual será sua classificação no balanço e
sua atualização monetária? O contador procura captar, organizar e compilar
dados. Sua matéria-prima são fatos de significado econômico-financeiro expres-
sos em moeda. Seu produto final são as demonstrações financeiras.
O analista de balanços preocupa-se com as demonstrações financeiras que,
por sua vez, precisam ser transformadas em informações que permitam concluir
se a empresa merece ou não crédito, se vem sendo bem ou mal administrada,
se tem ou não condições de pagar suas dívidas, se é ou não lucrativa, se vem
evoluindo ou regredindo, se é eficiente ou ineficiente, se irá falir ou se continuará
operando.
O grau de excelência da Análise de Balanços é dado exatamente pela
qualidade e extensão das informações que conseguir gerar.

1.2 LINGUAGEM DESCOMPLICADA

O produto da Análise de Balanços são relatórios escritos em linguagem


corrente. Na medida do possível, recomenda-se o uso de gráficos como auxiliares
para simplificar as conclusões mais complexas. Ao contrário das demonstrações
financeiras, os relatórios de análise devem ser elaborados como se fossem
dirigidos a leigos, ainda que não o sejam, isto é, sua linguagem deve ser inteligível
por qualquer mediano dirigente de empresa, gerente de banco ou gerente de
crédito. É claro que isto não acontece com as demonstrações financeiras, que,
aliás, não têm nenhuma preocupação nesse sentido. As demonstrações finan-
ceiras apresentam-se carregadas de termos técnicos e suas notas explicativas
são feitas exclusivamente para técnicos, a tal ponto que permitem freqüentemen-
te manipulações e acobertamentos. Assim, a Análise de Balanços deve assumir
também o papel de tradução dos elementos contidos nas demonstrações finan-
ceiras.
Um relatório de análise de balanços que apresentasse dados em vez de
informações não poderia ser considerado um bom relatório.
São freqüentes os relatórios que se estendem em frases como:

"O índice de endividamento é de 220%; isto significa que para cada $100 de capital
próprio existem $ 220 de terceiros. Esse índice mostra um crescimento de 10% em
20 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

relação ao ano anterior que, por sua vez, já crescera 18%. Os recursos de terceiros são
predominantemente de curto prazo (85%). Já os índices de liquidez encontrados foram
respectivamente: liquidez geral - 1,25; liquidez corrente - 1,40; e liquidez seca - 1,01,
o que mostra que a empresa tem mais cruzeiros realizáveis do que dívidas de curto
prazo."

Esse tipo de relatório transforma um tipo de dado encontrado nas demons-


trações financeiras em outros dados, o que para o leitor pouco ou nada vale.

1.3 O QUE INCLUIR NO RELATÓRIO

Um relatório adequado de Análise de Balanços deve, em lugar dos dados


apresentados, expor:

O grau de endividamento da empresa encontra-se em nível razoável em relação ao


ramo de atividade; entretanto, vem crescendo de maneira indesejável, pois há dois anos
podia ser considerado bom. A composição do endividamento mostra um perfil de dívida
insatisfatório devido à excessiva participação das obrigações de curto prazo. Já a liquidez
da empresa pode ser considerada boa.

Em linhas gerais, podem-se listar as seguintes informações produzidas pela


Análise de Balanços:

• Situação financeira.
• Situação econômica.
• Desempenho.
• Eficiência na utilização dos recursos.
• Pontos fortes e fracos.
• Tendências e perspectivas.
• Quadro evolutivo.
• Adequação das fontes às aplicações de recursos.
• Causas das alterações na situação financeira.
• Causas das alterações na rentabilidade.
• Evidência de erros da administração.
• Providências que deveriam ser tomadas e não foram.
• Avaliação de alternativas econômico-financeiras futuras.
INTRODUÇÃO 21

1.4 METODOLOGIA DE ANALISE

A Análise de Balanços baseia-se no racio-


cínio científico.

Na maioria das ciências, o processo de tomada de decisões obedece mais


ou menos a seqüência da Figura 1.2.

Etapas: 1 2 3 4

Escolha de Comparação com Diagnóstico ou


Decisões
indicadores padrões conclusões

ANÁLISE

FIGURA1.2. Processo de tomada de decisão.

Na Medicina, por exemplo, em qualquer exame preliminar, o médico tira a


temperatura, pressão, pulsação etc. Esses são os indicadores (1). O médico
compara então cada indicador com um padrão próprio (2) desenvolvido e
aprimorado e, em seguida, ponderando conjuntamente seus indicadores, elabora
suas conclusões (3), mental ou formalmente, transmitindo-as ou não ao paciente
de alguma forma que faz parte de sua técnica de trabalho. Em seguida, toma
uma decisão (4), como internar o paciente, encaminhá-lo a outro especialista,
receitar medicamentos ou simplesmente dizer que está tudo "OK".
Se se tratar de um exame especializado, como exame radiológico, a
seqüência será a mesma. A etapa de decisão nem sempre estará imediatamente
presente, pois poderá ser tomada por outra pessoa.
As etapas 1, 2 e 3 devem ser feitas sempre em seqüência e estar perfeita-
mente coordenadas. Entretanto, cada uma se vale de técnicas próprias. Por
exemplo, a escolha de indicadores pode recorrer a técnicas modernas de
engenharia, como raio laser e ultra-som. Já a comparação com padrões se apóia
na estatística, em experimentos com cobaias etc. A elaboração de diagnósticos
ou conclusões distingue-se perfeitamente da etapa comparação com padrões,
22 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

pois é agora que serão devidamente ponderadas, pesadas e medidas as infor-


mações parciais obtidas nas duas etapas anteriores.
Em Direito, os elementos considerados representam os indicadores; a lei,
a jurisprudência ou os comentários de juristas representam os padrões; a
ponderação pela vivência e pelo conhecimento representa a etapa de elaboração
de conclusões. A partir desta é que virão as decisões de condenar, absolver,
entrar em acordo etc.
Em Análise de Balanços aplica-se o mesmo raciocínio científico:

1. extraem-se índices das demonstrações financeiras;


2. comparam-se os índices com os padrões;
3. ponderam-se as diferentes informações e chega-se a um diagnóstico ou conclusões;
4. tomam-se decisões.

Quando esta seqüência não é levada em conta, fatalmente a Análise de


Balanços fica prejudicada. Às vezes, por falta de padrões ou por não se saber
construí-los, deixam-se de fazer comparações. A qualidade da análise então fica
comprometida, pois como se poderá fazer afirmativas sem os elementos de
referência?
Em qualquer Análise de Balanços, observe atentamente essas etapas.
Cada uma delas será objeto de um capítulo deste livro.

2 PANORAMA DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE


DE BALANÇOS

Os primeiros passos da Análise de Balan-


ços ocorreram no final do século passado.
No Brasil, ela só se difundiu nos anos 70.

A Análise de Balanços surgiu e desenvolveu-se dentro do sistema bancário


que foi até hoje o seu principal usuário.
Seu início remonta ao final do século passado, quando os banqueiros
americanos passaram a solicitar balanços às empresas tomadoras de emprés-
timos.
A medida ganhou aceitação ampla quando, em 9 de fevereiro de 1895, o
Conselho Executivo da Associação dos Bancos no Estado de New York resolveu
INTRODUÇÃO 23

recomendar aos seus membros que solicitassem aos tomadores de empréstimos


declarações escritas e assinadas de seus ativos e passivos.
Em 1900, essa mesma associação divulgou um formulário de proposta de
crédito que incluía espaço para o balanço.
É provável que, nessa época, os balanços apresentassem dados que eram
examinados apenas superficialmente, sem nenhuma técnica analítica ou tenta-
tiva de medição quantitativa.
A literatura contábil do começo do século atual menciona a importância de
comparações de dados das demonstrações financeiras, porém as idéias eram,
via de regra, vagas em relação ao que comparar.
Um autor da época, William Post, escreveu, em 1906: "Há dez anos poucos
bancos exigiam que seus devedores assinassem declarações de seus negócios.
Hoje, o costume é bastante generalizado entre os banqueiros, embora ainda haja
bancos que não tenham adotado essa prática... É de se notar, além disso, que
os interessados relutam cada vez menos em fornecer tais declarações."
Com o transcorrer dos anos e o sucessivo recebimento de balanços foi-se
desenvolvendo a noção de comparação de diversos itens, sendo a mais comum
a do Ativo Circulante com o Passivo Circulante.
Por volta de 1913, chamava-se a atenção para outros índices como:
depósitos bancários em relação ao exigível, percentual de contas a receber em
relação aos demais itens do ativo, percentual de estoques em relação a vendas
anuais.

A Análise de Balanços tornou-se pratica-


mente obrigatória em 1915 nos Estados
Unidos.

Em 1915, determinava o Federal Reserve Board (o Banco Central dos


Estados Unidos) que só poderiam ser redescontados os títulos negociados por
empresas que tivessem apresentado seu balanço ao banco, medida que consa-
grou definitivamente o uso de demonstrações financeiras como base para a
concessão de crédito.
Entretanto, as demonstrações financeiras na época não eram preparadas
adequadamente para os fins a que se destinavam. Não havia uniformidade nas
disposições e na terminologia, nem na classificação de rubricas.
Importante contribuição para a melhoria da forma de apresentação das
demonstrações financeiras foi feita pelo Federal Reserve Board, em 1918,
através de um livreto que incluía formulários padronizados para Balanço e
24 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Demonstração de Lucros e Perdas, bem como um esboço de procedimentos de


auditoria e princípios de preparação de demonstrações financeiras.
Alexander Wall, considerado o pai da Análise de Balanços, apresentou, em
1919, um modelo de análise de balanços, através de índices, e demonstrou a
necessidade de considerar outras relações, além de Ativo Circulante contra
Passivo Circulante.
Alexander Wall desenvolveu, posteriormente, em parceria com outros au-
tores, fórmulas matemáticas de avaliação de empresas, ponderando diversos
índices de balanço.
Tendo adotado o método de computar vários coeficientes, sentiam os
analistas a necessidade de padrões de referência que os auxiliassem em suas
avaliações.
Em 1923, afirmava-se no prefácio da obra Financial and operating ratios in
management, de James H. Biss, que em todos os ramos de atividades há certos
coeficientes característicos que podem ser obtidos através de médias.

Índices-padrão vêm sendo divulgados des-


de 1931.

A partir de 1931, a Dun & Bradstreet passou a elaborar e divulgar índices-


padrão para diversos ramos de atividades, nos Estados Unidos.
Em 1925, Stephen Gilman, realizando algumas críticas à análise de coefi-
cientes, propôs que fosse substituída pela construção de índices encadeados
que indicassem as variações havidas nos principais itens em relação a um
ano-base (iniciando o que se chama análise horizontal).
Na década de 30, surgiu dentro da empresa Du Pont, de Nemours, um
modelo de análise da rentabilidade de empresa que decompunha a taxa de
retorno em taxas de margem de lucro e giro dos negócios, chamado análise do
ROI (Return on Investment).
Assim, em cerca de 40 anos, assentaram-se as bases das técnicas de
Análise de Balanços.
No Brasil, até 1968, a Análise de Balanços era ainda um instrumento pouco
utilizado na prática.
Foi criada, nesse ano, a SERASA, empresa que passou a operar como
central de Análise de Balanços de bancos comerciais, cuja parte técnica foi
organizada por este autor.
INTRODUÇÃO 25

Atualmente, novas pesquisas são efetuadas pela DIAGNOSE -ANÁLISES


EMPRESARIAIS LTDA. - cujo know-how nada deve aos centros mais avançados
do mundo.

TÉCNICAS DE ANÁLISE

2.1 ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES

A Análise de Balanços surgiu por motivos eminentemente práticos e mos-


trou-se desde logo instrumento de grande utilidade.
Alguns dos índices que surgiram inicialmente permanecem em uso até hoje.
Com o passar do tempo, porém, seguindo a tendência natural da sociedade
moderna, as técnicas de análise foram aprimoradas, refinadas e tornaram-se
objeto de estudo das universidades; fazem parte delas, hoje, avançados conhe-
cimentos de estatística e matemática.

As atuais técnicas de Análise de Balanços


possibilitam grande número de infor-
mações sobre a empresa.

Merecem especial atenção os estudos sobre o uso de Análise de Balanços


na previsão de insolvência.
Em função dessas experiências, tem-se podido chegar a alguns resultados
objetivos sobre o grau de eficiência de certos índices de balanço na previsão de
insolvência; com isso têm-se atribuído diferentes pesos aos índices que repre-
sentam a importância relativa de cada índice.
Assim, a técnica empírica de extração de índices de balanços ganhou
embasamento científico e teve a sua utilidade comprovada. Hoje, no entanto,
sabe-se muito mais sobre o que informa cada índice e quais são os índices mais
importantes.
Além disso, conta-se hoje com apreciável know-how na elaboração de
índices-padrão. Os índices-padrão permitem adequada avaliação de qualquer
índice de determinada empresa e proporcionam ao usuário da análise informação
objetiva do seu desempenho.
26 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A conjugação do uso de índices-padrão e de pesos possibilita chegar-se a


uma avaliação global da empresa analisada, o que é de extrema utilidade nas
decisões de crédito, principalmente se se leva em conta que os responsáveis por
essas decisões em geral não são técnicos em análise de balanços.
A principal preocupação dos índices de balanço é fornecer avaliações
genéricas sobre diferentes aspectos da empresa em análise, sem descer a um
nível maior de profundidade. Essa profundidade, porém, é alcançável através de
outras técnicas expostas adiante.

2.2 ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL

A Análise Vertical e Horizontal presta-se fundamentalmente ao estudo de


tendências.
A elevada inflação que se tem vivido no Brasil, as alterações de procedi-
mentos contábeis em função de legislação comercial, fiscal ou mercado de
capitais e a própria dinâmica da economia brasileira não têm estimulado os
analistas a usarem mais intensamente as possibilidades da Análise Vertical e
Horizontal.
Poucos estudos têm sido feitos com base nesse tipo de análise, seja em
função de sua utilização relativamente pequena, seja em função do trabalho de
cálculo que essa técnica exige. (Na análise de três demonstrações financeiras
calcula-se, em média, 180 quocientes percentuais ou evolutivos.)
Entretanto, pesquisas efetuadas recentemente com insolvência de peque-
nas e médias empresas têm ressaltado a utilidade da Análise Vertical e Horizontal
como instrumento de análise.

2.3 ANALISE DO CAPITAL DE GIRO

Através do cálculo dos índices de rotação ou prazos médios (recebimento,


pagamento e estocagem), é possível construir um modelo de análise dos inves-
timentos e financiamento do capital de giro, de grande utilidade gerencial, bem
como para a avaliação da capacidade de administração do capital de giro por
parte da empresa.
INTRODUÇÃO 27

2.4 MODELOS DE ANALISE DE RENTABILIDADE


2.4.1 Análise do ROI (Retorno Operacional dos Investimentos)
Esse tipo de análise, desenvolvido há cerca de cinqüenta anos, é ainda
instrumento de grande utilidade na análise interna ou externa à empresa. Permite
ampla decomposição dos elementos que influem na determinação da taxa de
rentabilidade de uma empresa e explica quais os principais fatores que levaram
ao aumento ou à queda de rentabilidade. Possibilita ainda identificar as alterna-
tivas para modificações da rentabilidade quando esta estiver em estudo.
Modernamente, faz-se pesquisa a respeito da utilidade desse modelo de
análise acoplado à análise de Custo/Volume/Lucro e à análise da Curva de
Demanda dos produtos de uma empresa.
Em análises externas à empresa, pouco uso tem sido feito da análise do
ROI, no Brasil, sem um motivo, aparentemente, mais forte.
Talvez a pouca importância que lhe tem sido dada pelas obras de Análise
de Balanços ou o suposto academicismo desse modelo ou, ainda, algumas
pequenas dificuldades de montagem expliquem a falta de entusiasmo dos
analistas por esse modelo.

2.4.2 Análise da "Alavancagem Financeira"


Analisar a "alavancagem financeira" sob condições de inflação era até
pouco tempo tarefa a que os estudiosos não se haviam arriscado, tal a comple-
xidade de conhecimentos de contabilidade, de efeitos inflacionários sobre as
demonstrações financeiras e de finanças que envolve.
Há pouco tempo, esse tema foi objeto de tese de livre-docência na Facul-
dade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Essa tese foi
editada com o título Análise da correção monetária das demonstrações financei-
ras; implicações no lucro e na alavancagem financeira, de autoria do Prof. Eliseu
Martins.
Por comparar o custo das diferentes alternativas de capitais de terceiros
com o custo do capital próprio, a análise da "alavancagem financeira" é impres-
cindível para as decisões de subscrição de ações e muito recomendável nas
decisões de financiamentos de longo prazo.

2.5 ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E


APLICAÇÕES DE RECURSOS E DO FLUXO DE CAIXA
A partir das demonstrações financeiras levantadas em 31-12-78, a Demons-
tração das Origens e Aplicações de Recursos começou a ser divulgada, no Brasil,
por determinação da Lei n2 6.404.
28 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Mesmo nos Estados Unidos, a sua obrigatoriedade deu-se a partir de 1972.


Os analistas de balanço pouco conhecem das potencialidades informativas
dessa demonstração e não as vêm utilizando para emissão de seus pareceres.
A análise dessa demonstração foi objeto de dissertação de mestrado
apresentada por este autor à Faculdade de Economia e Administração da
Universidade de São Paulo; nessa dissertação foram apresentados diversos
índices financeiros extraídos da Demonstração de Origens e Aplicação de
Recursos.
Utilizando os dados da Demonstração das Origens e Aplicações de Recur-
sos, pode-se construir a Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa, cuja análise
é a última palavra sobre a situação financeira da empresa e sobre sua gestão de
caixa.

2.6 ANALISE PROSPECTIVA

A Análise de Balanços tradicional detém-se exclusivamente no passado da


empresa, por serem os dados do passado os únicos contidos nas demonstrações
financeiras.
O pensamento dominante é de que, analisando-se o passado, se poderá
inferir como será o futuro, supondo-se que o comportamento da empresa no
futuro seja igual àquele do passado. Esse é, aliás, um raciocínio que a própria
sociedade no mundo ocidental tem usado largamente.

Apenas modernamente é que se desenvolveram técnicas previsionais na


Análise de Balanços.
Em virtude de as técnicas previsionais incorporarem novas variáveis, acre-
dita-se que o uso de tais técnicas supera em muito os resultados que se obtém
pela simples análise do passado. E claro que o grau de erro numa análise
previsional é maior do que na análise do passado, mas isso não lhe tira a
qualidade de mais eficiente, visto que a análise do passado, mesmo que
absolutamente correta, pode, em certas circunstâncias, não ter nenhuma utilida-
de para a tomada de decisões; isso jamais acontecerá com a análise previsional.

Talvez em virtude das dificuldades apresentadas, a análise previsional ainda


é muito pouco usada no Brasil, diferentemente do que ocorre com alguns bancos
americanos que a empregam em larga escala e até como carro-chefe dos seus
modelos de análise.
INTRODUÇÃO 29

Apêndice Usos e Usuários da Análise de Balanços

Saber analisar balanços está-se tornando


uma necessidade para grande número de
pessoas.

Um dos elementos mais importantes na tomada de decisões relacionadas


a uma empresa é a análise das suas demonstrações financeiras.
A Análise de Balanços é um trabalho fascinante para as áreas de Finanças
e Contabilidade. É através dela que se podem avaliar os efeitos de certos eventos
sobre a situação financeira de uma empresa. Suponha-se a questão: Como o
aumento de vendas afetou a situação financeira da empresa? Estará ela em
posição mais sólida após a obtenção de financiamento para a automação da
produção?
Os eventos econômicos podem manifestar-se das mais variadas formas,
desde a paralisação de uma fábrica até o aparecimento de um novo concorrente.
Através da Análise de Balanços pode-se avaliar o significado desses eventos.
O diagnóstico de uma empresa quase sempre começa com uma rigorosa
Análise de Balanços, cuja finalidade é determinar quais são os pontos críticos e
permitir, de imediato, apresentar um esboço das prioridades para a solução de
seus problemas.
A política financeira de uma empresa tem reflexo nas demonstrações
financeiras e é através da sua análise que se podem conhecer os seus objetivos.
O conhecimento de tal informação é de especial relevância quando se trata de
demonstrações financeiras de concorrentes. Através da sua análise pode-se
descobrir que a política do concorrente é crescer o mais rápido possível para
30 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

ganhar mercado, ainda que dependendo de capitais de terceiros e com o


sacrifício da rentabilidade.

A Análise de Balanços é fundamental para


quem pretende relacionar-se com a empre-
sa.

A análise não se restringe à política de crescimento. A análise de Duplicatas


a Receber, por exemplo, poderia apontar uma nova política de marketing (de
crédito irrestrito a clientes ou de financiamentos a consumidores).
A Análise de Balanços permite uma visão da estratégia e dos planos da
empresa analisada; permite estimar o seu futuro, suas limitações e suas poten-
cialidades. É de primordial importância, portanto, para todos que pretendam
relacionar-se com uma empresa, quer como fornecedores, financiadores, acio-
nistas e até como empregados. A procura de um bom emprego deveria sempre
começar com a análise financeira da empresa. O que adianta um alto salário
inicial se as perspectivas da empresa não são boas?1
Através da Análise de Balanços dos últimos anos pode-se prever alguma
coisa para os anos seguintes? A empresa manterá a sua rentabilidade? Poderá
suportar crescer à mesma taxa anual, sem ter de recorrer a uma nova emissão
de capital?

Cada usuário está interessado em algum


aspecto particular da empresa.

Como os diversos usuários da Análise de Balanços observam um balanço


e uma demonstração do resultado? Quais os pontos principais em que cada
usuário se fixa? Quais as comparações que faz?
Nas páginas seguintes encontram-se os balanços de duas empresas hipo-
téticas: a empresa 1 e a empresa 2, bem como as respectivas demonstrações
de resultados e três índices.

1. Seria extremamente desastroso para um gerente financeiro assumir as finanças de uma


empresa que caminha irremediavelmente para a insolvência e ter "a bomba estourada em
suas mãos".
INTRODUÇÃO 31

Veja-se como cada um dos principais usuários encararia essas empresas,


bem como as características de crédito ou de investimento feito por cada um
desses usuários.

1 FORNECEDORES

O fornecedor de mercadoria precisa conhecer a capacidade de pagamento


de seus clientes, ou seja, a sua liquidez.
Geralmente os fornecedores observam alguma coisa além da liquidez, visto
que os balanços são divulgados uma vez por ano e a análise precisa proporcio-
nar-lhe segurança pelo prazo de sua validade, ou seja, até a Análise do Balanço
seguinte. Por isso, não observam pura e simplesmente índices de liquidez, mas
alguma coisa além, como a rentabilidade e o endividamento.
A profundidade da análise depende de quanto cada cliente receberá de
crédito: uma empresa que possui 10.000 a 20.000 clientes pessoas jurídicas
normalmente faz uma análise superficial para a maioria deles, detendo-se
apenas nos mais importantes, ou seja, faz uma curva ABC de seus clientes. Para
os clientes de nível A a análise seria profunda, para os de nível B, superficial e
para os de nível C, talvez nem fizesse análise.

A profundidade da análise do fornecedor


depende da importância do cliente.

Em certas situações, o fornecedor analisa profundamente seus clientes. É


o que acontece, por exemplo, com as fábricas de automóveis em relação à rede
de revendedores autorizados.
A rede de revendedores autorizados representa faturamento muito superior
ao da empresa montadora de automóveis, porque, além da venda de automóvel,
presta serviços, vende peças e carros usados. Entretanto, nenhum revendedor,
de forma isolada, possui poder de barganha junto à montadora de automóveis;
depende muito dos desejos e das decisões dos fabricantes.
Daí por que para a montadora de automóveis não só é relativamente fácil
exigir dados, como também lhe é interessante conhecer detalhadamente a
situação de cada um de seus clientes; poderá, em épocas de crise, apoiar a sua
situação financeira na de seus clientes, ou seja, dos revendedores. As montado-
ras de automóveis fazem uso disso largamente, não só exigindo dados financei-
ros bastante detalhados como também impondo padrões e métodos contábeis a
serem seguidos.
32 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

BALANÇOS

Empresa 1 Empresa 2

ATIVO
Disponível 500.000 500.000
Duplicatas a Receber 2.500.000 3.500.000
Estoques 2.000.000 1.500.000

ATIVO CIRCULANTE 5.000.000 5.500.000


ATIVO PERMANENTE 4.000.000 6.300.000

TOTAL 9.000.000 11.800.000

PASSIVO
Circulante 2.000.000 5.000.000
Exigível a Longo Prazo 1.000.000 3.800.000
Patrimônio Líquido 6.000.000 3.000.000

TOTAL 9.000.000 11.800.000

DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS

Empresa 1 Empresa 2
Vendas 7.000.000 20.000.000
(-) CVM 4.400.000 15.400.000
Lucro Bruto 2.600.000 4.600.000
(-) Despesas Operacionais 2.000.000 3.000.000
Lucro Operacional 600.000 1.600.000

Para o fornecedor das empresas 1 e 2, a conclusão é de que a empresa 1


é muito mais interessante, pois tem boa liquidez, ou seja, para cada $ 1,00 de
passivo circulante possui $ 2,50 de ativo circulante. Por essa razão é provável
que a empresa 1 consiga pagar suas dívidas. Além disso, como o endividamento
representa somente 50% em relação ao patrimônio líquido, ou seja, para
cada $ 1,00 de patrimônio líquido existe apenas $ 0,50 de capital de terceiros, é
provável que a situação de boa liquidez se mantenha por algum tempo ou, pelo
menos, até o próximo balanço.
INTRODUÇÃO 33

Não se pode dizer o mesmo em relação à empresa 2, pois apresenta índice


de Liquidez Corrente (que relaciona ativo circulante com passivo circulante) de
1,10, ou seja, para cada $ 1,00 de dívida a curto prazo possui $ 1,10 de ativo
circulante.

Pode ser que com esse índice a empresa consiga pagar suas dívidas em
dia, mas é uma situação muito menos cômoda do que a da empresa 1.

Além disso, a empresa 2 mostra-se muito mais endividada. Entre a opção


de dar crédito à empresa 1 ou à 2, o fornecedor escolheria a empresa 1.

2 CLIENTES (COMPRADORES)

Raramente o comprador analisa a situação do fornecedor.

Em geral ocorre análise por parte do comprador quando depende de


fornecedores que não possuam o mesmo porte dele ou que possam de alguma
forma oferecer riscos.

Outra possibilidade de ocorrer análise se dá quando existem poucos forne-


cedores no mercado e a relação entre comprador e fornecedor é bastante forte.
Antes de se apoiar em um ou dois fornecedores, ou seja, num número pequeno
de fornecedores, o comprador deveria analisar quais fornecedores proporcio-
nam-lhe maior segurança.

Outra situação ocorre quando uma empresa planeja expandir-se e precisa


demais de seus fornecedores. É o caso de uma fábrica de automóveis que lança
um novo modelo com boas probabilidades de sucesso e cuja produção prevista
seja bastante alta.

É importante também considerar a capacidade de expansão, produção e


realização de pesquisas e de desenvolvimento da parte do fornecedor.

Para o comprador é muito mais temerário escolher um fornecedor como a


empresa 2 do que como a empresa 1, porque a empresa 2 já possui um
investimento bastante elevado em relação à sua capacidade de investir e aos
recursos de longo prazo que possui. A empresa 2, além disso, está considera-
velmente endividada e sua liquidez não lhe dá muita folga; por isso, é perigoso
confiar em novos investimentos por parte da empresa 2.
34 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

3 BANCOS COMERCIAIS (OU CARTEIRA COMERCIAL DO


BANCO MÚLTIPLO)

Como os bancos comerciais concedem crédito a curto prazo, devem, além


de observar a situação atual do cliente, procurar conhecer ou obter alguma
informação sobre a situação futura de seu cliente. Dessa forma, poderá o banco
escolher os melhores clientes de hoje e os melhores de amanhã. Estaria, assim,
o banco comercial atento aos objetivos de curto e de longo prazo.
Um banco que cultiva os melhores clientes de amanhã provavelmente terá
alguma vantagem sobre seus concorrentes no futuro.
Os bancos concedem crédito a curto prazo, ou seja, o empréstimo deve ser
pago dentro de dois ou três meses. Em virtude, porém, da renovação dos créditos
que concede e da permanência ou manutenção dos contatos ou do relaciona-
mento com os clientes, há algo de longo prazo no relacionamento banco-cliente.
Por isso, a análise do banco comercial, embora dê maior ênfase a aspectos
de curto prazo, não relega os pontos de longo prazo, como a rentabilidade e a
capitalização do cliente.
Além disso, o banco comercial preocupa-se bastante com o endividamento
do cliente, o que já não ocorre, por exemplo, com a análise do fornecedor.
Um fornecedor participa com uma cota pequena do total do endividamento
do cliente que, em geral, dispõe de muitos fornecedores e trabalha, em média,
com três a seis bancos. Com os bancos isso não acontece, e sua participação
no endividamento total da empresa é, com freqüência, considerável. Essa a razão
por que é muito importante para o banco comercial saber como está o endivida-
mento de seu cliente.

Os bancos sabem que o grau de endivida-


mento é forte indicador de insolvência.

Através de análise meticulosa do balanço pode o banco perceber que seu


cliente atual ou potencial tem condições de receber determinados créditos e,
antes mesmo que a empresa manifeste o desejo de fazer um empréstimo, o
banco pode oferecê-lo.
Apesar de apresentar melhor liquidez e menor endividamento, a empresa
1 não está sozinha na preferência do banco. É de se notar que a empresa 2
consegue maior rentabilidade que a empresa 1, e esta maior rentabilidade pode,
dentro de alguns anos, não só torná-la melhor (ou melhorar sensivelmente a sua
INTRODUÇÃO 35

situação econômico-financeira), como também fazer com que sobrepuje em


muito a empresa 1.
No cômputo geral, a empresa 1 é um cliente melhor para o banco, mas a 2
também não deixa de ser interessante. Essa visão é diferente da que tinham o
fornecedor e o comprador.

4 BANCOS DE INVESTIMENTOS (OU CARTEIRA DE


INVESTIMENTOS NO BANCO MÚLTIPLO)

Diferentemente dos bancos comerciais, os de investimentos concedem


financiamentos a um número menor de empresas, porém a um prazo mais longo.
Nesse caso, o financiamento concedido depende da situação futura do cliente.
Por isso, o risco assumido pelo banco de investimento precisa ser rigorosa-
mente calculado. Ele só receberá de seus clientes se a situação futura deles for
boa. Exige-se, por essa razão, análise cuidadosa da futura capacidade do cliente.
Sem dúvida nenhuma, analisar a tendência e fazer previsões é muito mais
importante para o banco de investimento do que fazer análise da atual situação
do cliente.
Nos casos de financiamentos de vulto concedidos a prazo de cinco, oito ou
dez anos, faz-se necessária a elaboração de projetos em que a Análise de
Balanços é apenas uma parte. Isso, porém, não significa que a Análise de
Balanços ocupe lugar secundário no projeto.
Se confirmado que a empresa 2 é mais lucrativa, ou seja, vem obtendo maior
rentabilidade em relação ao capital próprio já há alguns exercícios e que a
tendência é manter-se a maior rentabilidade, a empresa 2 estará em melhor
situação para o banco de investimento. É um investimento mais atrativo num
financiamento a longo prazo.

5 SOCIEDADES DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (OU CARTEIRA


DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO DO BANCO MÚLTIPLO)

Essas sociedades concedem financiamentos a construtoras por prazos


superiores a um ano. A análise delas, feita pela sociedade de crédito imobiliário,
geralmente fica no meio termo entre a análise de um banco de investimento e a
de um comercial.
36 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

6 SOCIEDADES FINANCEIRAS (OU CARTEIRA DE


FINANCIAMENTO AO CONSUMIDOR DO BANCO
MÚLTIPLO)

Essas sociedades concedem crédito diretamente aos consumidores. As


lojas vendem para seus clientes e estes recebem o crédito da Sociedade
Financeira, sendo que a loja intervém como avalista dos empréstimos. É por essa
razão que tais sociedades necessitam conhecer a competência ou a capacidade
da loja em conceder avais a seus clientes.

7 CORRETORAS DE VALORES E PUBLICO INVESTIDOR

As corretoras de valores e o público investidor fazem análise para investi-


mento em ações. Além da análise financeira, levam em conta outros fatores
relacionados especificamente ao preço e à valorização de ações.
As corretoras, como agentes dos investidores, preocupam-se basicamente
com a rentabilidade da empresa. A liquidez interessa apenas como questão de
sobrevivência, ou seja, se a empresa possui liquidez que lhe permita continuar
suas operações.
Além disso, o que interessa é a rentabilidade. Entre as empresas analisadas,
é muito mais interessante para o investidor a empresa 2.

8 CONCORRENTES

A análise dos concorrentes de uma empresa é de vital importância: o


conhecimento profundo da situação de seus concorrentes pode ser fator de
sucesso ou de fracasso da empresa no mercado.
A grosso modo, decisões como lançar novos produtos, construir uma fábrica
ou conceder prazos de financiamentos são decisões muitas vezes tomadas em
função da situação do balanço mostrado pelos concorrentes. Além disso, a
empresa deve saber qual sua posição em relação a seus concorrentes e como
se situa quanto à liquidez e à rentabilidade.
INTRODUÇÃO 37

Os concorrentes fornecem os padrões para a empresa auto-avaliar-se.

É fundamental analisar empresas concor-


rentes.

Suponha-se que a empresa 1 seja concorrente da empresa 2 e esteja


planejando ampliar o mercado, ou seja, a empresa 1 vislumbra diversos pontos
de venda ainda não cobertos.
Em função da situação da empresa 2, a 1 se lançaria o mais rápido possível
a um plano de expansão, porque a 2 está atualmente com grande volume de
investimentos e praticamente já não suportaria outros.
Se a empresa 1 não aproveitar o momento atual, dentro de, digamos, três
anos, a empresa 2 poderá gerar lucros suficientes e partir para novos investi-
mentos.
Ainda na análise concorrencial, se a empresa 1 pudesse hoje conceder
maior prazo a seus clientes, não deveria esperar muito para fazer uso dessa
política, pois a empresa 2 hoje não possui muito boa liquidez. Para cada $ 1,00
de dívida a curto prazo, a empresa 2 possui apenas $1,10; portanto, os prazos
de recebimento de suas vendas não podem ser muito esticados, sob pena de se
tornar insolvente.
Isso não acontece com a empresa 1 que possui índice de liquidez que lhe
proporciona bastante folga: para cada $ 1,00 de dívida a curto prazo a empresa
possui $ 2,50 de ativo circulante. Por essa razão, a empresa 1 pode oferecer
prazos maiores para seus clientes.

9 DIRIGENTES

A Análise de Balanços, para os administradores da empresa 1, é instrumen-


to complementar para a tomada de decisões. Ela será utilizada como auxiliar na
formulação de estratégia da empresa, e tanto pode fornecer subsídios úteis como
informações fundamentais sobre a rentabilidade e a liquidez da empresa hoje
em comparação com as dos balanços orçados. Qual será a liquidez da empresa,
no próximo ano, obtida a partir do balanço orçado? Essa liquidez permitirá folga
suficiente? Dará flexibilidade aos administradores financeiros? Qual será o índice
de rotação de estoques que a empresa deverá ter nos próximos exercícios,
comparando-se o índice de rotação que tem hoje? Como pode ser alterado?
Como, a partir de modificações nos índices de rotação, pode a empresa alterar
38 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

sua estrutura de capitais? Além disso, através da Análise de Balanços, os bancos


comerciais, os fornecedores ficam conhecendo a liquidez da empresa. Nada mais
justo do que a administração preocupar-se, portanto, em saber como está sua
liquidez para saber o que os bancos comerciais vão pensar dela.
Dizendo isso de outra forma, a liquidez é uma preocupação para os
administradores da empresa, pois, se for muito baixa, ainda que dê condições
de a empresa operar, pode representar sério entrave para a obtenção do crédito
bancário.

A Análise de Balanços pode servir de guia


para os dirigentes.

Considere-se que existem certas relações entre as contas do balanço que


servem de guia para os próprios administradores financeiros.
Exemplifica-se isso com os balanços da empresa 1 e 2, da seguinte forma:
para os administradores da empresa 2 o índice de ¡mobilização hoje atingido pode
representar uma preocupação: a empresa imobilizou recursos superiores ao seu
patrimônio líquido; portanto, depende hoje de capital de terceiros de longo prazo,
não só para financiar esse excesso de imobilizado em relação ao patrimônio
líquido, como também para assegurar liquidez, pelo menos, razoável.
O relacionamento da empresa com instituições financeiras é importantíssi-
mo. Ela precisa o mais rápido possível liberar-se dessa situação de dependência
a capital de terceiros e de longo prazo. Isso, porém, só será possível com lucros:
entre as opções de hoje investir mais para obter lucros no futuro ou ter mais lucro
hoje, provavelmente a empresa 2 optará por ter mais lucro hoje para alcançar
rapidamente melhor situação financeira.
Provavelmente na empresa 1 as decisões seriam exatamente inversas a
essas.

10 GOVERNO

O governo utiliza intensamente a Análise de Balanços em diversas


situações. Por exemplo, numa concorrência aberta, provavelmente escolherá,
entre duas propostas semelhantes, apresentadas por empresas em determinada
concorrência, aquela que estiver em melhor situação financeira.
Além disso, o governo acompanhará a situação financeira da empresa
vencedora da concorrência ao longo do desenvolvimento dos trabalhos para
INTRODUÇÃO 39

obter informações sobre a possibilidade de a empresa continuar os trabalhos


para os quais se candidatou.
Em virtude de os serviços públicos serem sempre de interesse nacional, o
governo acompanha o desempenho de empresas concessionárias de serviços
públicos para saber como andam sua rentabilidade e suas políticas de desenvol-
vimento. Igualmente controla empresas públicas e autarquias e estabelece níveis
de investimentos e índices de desempenho. Além disso, através da análise de
balanços, acompanha os setores da economia, como o financeiro, de seguros
etc.
O governo recebe balanços de todas as instituições de determinado ramo
de atividade e pode, pela análise conjunta de todos eles ou pela análise individual
comparativa, saber qual setor está evoluindo, quais problemas existem etc.
Embora possam ser citados diversos outros usuários da Análise de Balan-
ços em situações especiais, apenas mais um se faz necessário - o dos sindicatos
e associações de ciasse que coletam balanços de empresas de determinado
setor para estudos específicos e estabelecimento de padrões e guias para as
próprias empresas.

11 ACOMPANHAMENTO DE CLIENTES E FORNECEDORES

A Análise de Balanços proporciona bons resultados na previsão de insol-


vência. Muitos fornecedores e bancos tiveram enormes prejuízos com empresas
que vão à falência ou concordata simplesmente porque deixaram de acompa-
nhar, ainda que de forma simples, a situação financeira dessas empresas.
A seguir citam-se alguns casos de insolvência que poderiam ter sido
evitados mediante a Análise de Balanços.
O primeiro caso é o de uma empresa que se lançou num grande plano de
investimentos, fazendo vultosos contratos com fornecedores. Quase ao término
dos investimentos, os fornecedores se mostraram totalmente incapazes de
cumprir os contratos por falta de condições financeiras, por não terem feito
investimentos e acompanhado a empresa contratante em seus projetos. Não
recebendo dos fornecedores aquilo que esperava, a empresa não pode usufruir
desses investimentos. Ela foi obrigada a fazer novos contratos. Devido ao prazo
de espera para que os novos fornecedores conseguissem atendê-la, os prejuízos
foram muito grandes, os custos fixos sensivelmente elevados e a empresa
acabou indo à concordata.
Análises de Balanços detalhadas revelariam que os fornecedores inicial-
mente contratados não tinham condições de cumprir os acordos assinados. Se
40 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

a empresa tivesse atentado para isso, teria provavelmente evitado sua insolvên-
cia.
O segundo caso é o de uma empresa que se lançou em espetaculares
aventuras empresariais, com vultosíssimos investimentos, e recebeu todo apoio
dos bancos com que trabalhava, inclusive para cobrir prejuízos. Decorrido certo
prazo, a empresa pediu concordata.
Também nesse caso, não houve por parte dos bancos a preocupação de
saber se a empresa suportaria ou não o crédito que lhe estavam concedendo.
O terceiro caso é o de uma financiadora que resolveu tornar-se o apoio
financeiro de um grande magazine. Este, por seu lado, forneceu crédito para
qualquer cliente que se apresentava e concedeu avais dos créditos dados pela
financeira. Os clientes não pagaram, a financeira sofreu pesadas baixas e a loja
não teve condições de cobrir os avais que concedeu.
Isso teria sido evitado se a financeira tivesse feito uma análise detalhada do
magazine, que foi à concordata, depois se extinguiu e quase arrastou consigo a
financiadora.
Estrutura das Demonstrações
2 Financeiras

A análise das demonstrações financeiras exige conhecimento do que


representa cada conta que nelas figura. Há uma infinidade de contas decorrentes
de inumeráveis operações realizadas por empresas das mais diferentes ativida-
des.
Mesmo o exame das operações de uma simples empresa comercial revela
enorme profusão de contas, e sem uma noção do que estas representam, a
interpretação das demonstrações financeiras fica prejudicada.
A Análise de Balanços visa extrair informações para a tomada de decisão.
O perfeito conhecimento do significado de cada conta facilita a busca de infor-
mações precisas.

1 ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A Análise das demonstrações financeiras


exige noções do seu conteúdo, significado,
origens e limitações.

Através de uma abordagem resumida, apresenta-se o que revelam as


demonstrações financeiras e cada uma das principais contas que nela aparecem
quando publicadas.
42 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

As principais partes dessas publicações são:

• Relatório da Diretoria:

Através desse relatório, a Diretoria presta informação aos acionistas sobre diversos aspectos
do desempenho e de perspectivas da sociedade relativas a estratégias de vendas, compras,
produtos, expansão, efeitos conjunturais, legislação, política financeira, de recursos humanos,
resultados alcançados, planos, previsões etc.

É uma forma de manter os acionistas e terceiros a par do que se realiza na empresa. 0 Relatório
da Diretoria é uma peça em que se relata livremente aquilo que julga importante e, invariavelmente,
"doura a pílula".

• Demonstrações Financeiras:

Elas são compostas de quatro peças:

• Balanço Patrimonial.

• Demonstração do Resultado do Exercício.

• Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados, que poderá ser substituída pela


Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (visto que esta contém aquela).

• Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos.

• Notas Explicativas:

São dados e informações que ora complementam as demonstrações financeiras - como, por
exemplo, taxas de juros, vencimentos e garantias de obrigações de longo prazo -, ora fornecem
critérios contábeis, como os de avaliação de estoques, depreciação e demais provisões, ou ainda
acrescentam informações, como garantias prestadas a terceiros, espécies de ações do capital social,
eventos subseqüentes à data do balanço que tenham efeitos relevantes sobre a situação financeira
da companhia etc.

Enfim, as Notas Explicativas contêm um conjunto de elementos que auxiliam a fazer avaliação
mais ampla da empresa.

• Parecer dos Auditores:

É obrigatório apenas para as companhias abertas, ou seja, aquelas que têm papéis negociáveis
- ações ou debêntures - colocados junto ao público.

Os auditores independentes são contadores que, sem manter vínculo empregatício, são contra-
tados para emitir opiniões sobre a correção e veracidade das demonstrações financeiras. Verificam
os controles internos da empresa, conferem lançamentos e conciliações contábeis e checam os
saldos com os bancos, clientes e fornecedores, tudo por amostragem. Em função disso, a opinião
dos auditores tem satisfatória probabilidade de estar correta e pequena probabilidade de falhar.

As verificações por amostragem não necessariamente detectam todos os erros e fraudes. Por
isso, fala-se em Parecer dos Auditores e não em Certificado dos Auditores.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 43

1.1 O QUE MOSTRAM AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404) determina a estrutura básica
das quatro demonstrações financeiras referidas anteriormente.
A legislação fiscal tornou essas determinações obrigatórias também para
os demais tipos de sociedades. Por essa razão, todas as empresas, no Brasil,
divulgam suas demonstrações financeiras sob a forma prevista na Lei das S.A.
Essa lei trouxe consideráveis aperfeiçoamentos contábeis em relação às
práticas anteriormente vigentes e tornou-se um marco na história da Contabili-
dade no Brasil, apesar de ainda não incorporar todos os aperfeiçoamentos que
seriam possíveis.
Basicamente, suas disposições referem-se a:

• Demonstrações Financeiras obrigatórias:


Balanço, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração de Lucros/Pre-
juízos Acumulados ou Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido e
Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos.
• Conteúdo das Demonstrações Financeiras.
• Critérios de avaliação de Ativo e Passivo.
• Correção Monetária do Balanço.
• Determinação do Lucro Líquido.
• Consolidação de Demonstrações Financeiras.

Para efeito de Análise de Balanços, a Lei das S.A. representou notável


avanço. O conteúdo e a forma de apresentação das demonstrações financeiras
atendem às necessidades da Análise de Balanços (ainda que no caso de análises
mais profundas, como na alavancagem financeira, se tenha que reestruturar
parte da Demonstração do Resultado), exceto no que se refere a correção
monetária, conforme acha-se explicado no Capítulo 4.
Veja-se agora como se compõem essas demonstrações.

1.2 BALANÇO PATRIMONIAL

É a demonstração que apresenta todos os bens e direitos da empresa -


Ativo -, assim como as obrigações - Passivo Exigível - em determinada data. A
diferença entre Ativo e Passivo é chamada Patrimônio Líquido ê representa o
capital investido pelos proprietários da empresa, quer através de recursos
trazidos de fora da empresa, quer gerados por esta em suas operações e retidos
internamente.
44 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Robert N. Anthony,1 conceituado autor americano, afirma que o balanço


mostra:

1. as fontes de onde provieram os recursos utilizados para a empresa operar - Passivo


e Patrimônio Líquido; e
2. os bens e direitos em que esses recursos se acham investidos.

Essa definição põe em evidência os termos fontes e investimentos de


recursos, o que é altamente desejável do ângulo da Análise de Balanços, visto
que analisar balanços é, em grande parte, avaliar a adequação entre as diversas
fontes e os investimentos efetuados.
É interessante notar que o Ativo mostra o que existe concretamente na
empresa. Todos os bens e direitos podem ser comprovados por documentos,
tocados ou vistos. As únicas exceções são as despesas antecipadas e as
diferidas, as quais representam investimentos que beneficiarão exercícios se-
guintes e, por isso, se acham no balanço (é algo que aumenta o valor da empresa
sem ter um valor objetivo ou de mercado). O Passivo Exigível e o Patrimônio
Líquido mostram a origem dos recursos que se acham investidos no Ativo.
Especificamente, o Patrimônio Líquido não representa nada de concreto. Quando
a empresa é constituída, os sócios entregam-lhe determinado Capital repre-
sentado por dinheiro ou bens. Nesse momento, a empresa possui apenas esses
bens e o numerário que recebeu dos sócios. O Capital mostra apenas a origem
desses bens e dinheiro. É apenas um elemento informativo e não algo de
concreto.
Suponha-se que, iniciadas suas operações, uma empresa venda por $ "X
+ L" mercadorias que custaram $ "X". Conseqüentemente, aumenta-se seu Ativo
através de dinheiro, títulos ou bens em que a empresa tenha investido esse lucro.
O Patrimônio Líquido também aumentará através de uma conta de Lucros
Acumulados que registrará os lucros obtidos. Mais uma vez o Patrimônio Líquido
nada estará representando de concreto, mas apenas informando a origem do
acréscimo havido no Ativo.
O Ativo engloba, basicamente, dois tipos de itens:

aqueles cujo valor é absolutamente indiscutível porque se acha estampado, ou seja,


possuem o chamado valor de face. Um título, seja ele uma duplicata ou uma Letra
de Câmbio, possui estampado o seu valor;
as mercadorias e os bens do ativo imobilizado cujo valor depende de avaliação.

1. ANTHONY, Robert Newton. Contabilidade gerencial: introdução à contabilidade. São Paulo:


Atlas, 1981.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 45

As mercadorias são avaliadas segundo critérios conhecidos e permitidos


pelos princípios contábeis e pela legislação tributária, como o PEPS (o primeiro
que entra é o primeiro que sai) ou a Média Ponderada. Os produtos em
elaboração e os produtos acabados de uma empresa industrial são avaliados
segundo complexos sistemas de custo (para as empresas que adotam o sistema
de custos integrados à Contabilidade) ou segundo arbitrárias e simplificadas
fórmulas previstas pela legislação do Imposto de Renda. Os bens e direitos do
Ativo Permanente são avaliados pelo custo de aquisição corrigido monetariamen-
te. Nesse tipo de correção reside uma imensa margem de erro, pois se baseia
em índices de correção monetária que, como é sabido, não refletem a variação
média dos preços de toda a economia nacional. Por isso, a chance de o Ativo
Permanente refletir um valor adequado é remota.

Por outro lado, o Passivo Exigível tem valor líquido e certo no que se refere
àquelas dívidas assumidas junto a terceiros, como bancos, fornecedores, em-
pregados. No que se refere, porém, a débitos fiscais e previdenciários em atraso,
praticamente nenhuma empresa os atualiza corretamente.

Todas as variações do Ativo e do Passivo Exigível em relação ao que


deveriam registrar os seus valores corretos são refletidas no Patrimônio Líquido,
que assim estará mais próximo ou menos próximo da realidade segundo as
eventuais distorções desses Ativos e Passivos.

Além disso, é preciso lembrar que o balanço mostra apenas os fatos


registráveis, segundo os princípios contábeis, ou seja, os fatos objetivamente
mensuráveis em dinheiro, como compras, vendas, pagamentos, recebimentos,
depósitos, débitos em conta, despesas incorridas, receitas faturadas etc., dei-
xando de lado uma série inumerável de fatos, como marcas, participação de
mercado, imagem, tecnologia etc.

BALANÇO PATRIMONIAL

Em conformidade com a Lei nº 6.404/76, o Balanço Patrimonial deve conter


os seguintes grupos de contas:
46 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
• Disponibilidades.
• Direitos realizáveis no curso do exercício social seguinte.
• Aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte.
ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
• Direitos realizáveis após o término do exercício seguinte.
• Direitos derivados de adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas,
diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios
usuais na exploração do objeto da companhia.
ATIVO PERMANENTE
Investimentos
• Participações permanentes em outras sociedades e direitos de qualquer natureza, não classi-
ficáveis no Ativo Circulante, ou Realizável a Longo Prazo que não se destinem à manutenção
da atividade da companhia ou empresa.
Imobilizado
• Direitos que tenham por objeto bens destinados à manutenção das atividades da companhia
ou empresa, ou exercidos com essa finalidade, inclusive os de propriedade comercial ou
industrial.
Diferido
• Aplicações de recursos em despesas que contribuirão para a formação do resultado de mais
um exercício social, inclusive juros pagos ou creditados aos acionistas durante o período que
anteceder o início das operações sociais.

PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
• Obrigações da companhia, inclusive financiamentos para a aquisição de direitos do Ativo
Permanente quando vencerem no exercício seguinte.
PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
• Obrigações vencíveis em prazo maior do que o exercício seguinte.
RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS
• Receitas de exercícios futuros diminuídas dos custos e despesas correspondentes.
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital Social
• Montante do capital subscrito e, por dedução, parcela não realizada.
Reservas de Capital
• Ágio na emissão de ações ou conversão de debêntures e partes beneficiárias.
• Produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição.
• Prêmios recebidos na emissão de debêntures, doações e subvenções para investimentos.
• Correção monetária do capital realizado, enquanto não capitalizada.
Reservas de Reavaliações
• Contrapartida do aumento de elementos do Ativo em virtude de novas avaliações, documenta-
das por laudo técnico.
Reservas de Lucros
• Contas constituídas a partir de lucros gerados pela companhia.
Lucros ou Prejuízos Acumulados
• Lucros gerados pela companhia, que ainda não receberam destinação específica.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 47

1.3 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

A Demonstração do Resultado do Exercício é uma demonstração dos


aumentos e reduções causados no Patrimônio Líquido pelas operações da
empresa. As receitas representam normalmente aumento do Ativo, através de
ingresso de novos elementos, como duplicatas a receber ou dinheiro proveniente
das transações. Aumentando o Ativo, aumenta o Patrimônio Líquido. As despe-
sas representam redução do Patrimônio Líquido, através de um entre dois
caminhos possíveis: redução do Ativo ou aumento do Passivo Exigível.

Enfim, todas as receitas e despesas se acham compreendidas na Demons-


tração do Resultado, segundo uma forma de apresentação que as ordena de
acordo com a sua natureza; fornecendo informações significativas sobre a
empresa.

A Demonstração do Resultado é, pois, o resumo do movimento de certas


entradas e saídas no balanço, entre duas datas. Por isso, há autores clássicos
americanos que chamam a Demonstração do Resultado de Fluxo (movimento)
de Renda.

A Demonstração do Resultado retrata apenas o fluxo econômico e não o


fluxo monetário (fluxo de dinheiro). Para a Demonstração do Resultado não
importa se uma receita ou despesa tem reflexos em dinheiro, basta apenas que
afete o Patrimônio Líquido. Por exemplo, a depreciação é uma despesa não
desembolsada; a receita de equivalência patrimonial (em controladas e coliga-
das) é uma receita devida ao aumento dos investimentos (e do Patrimônio
Líquido), sem entrada de recursos monetários. Como as modificações no Patri-
mônio Líquido produzidas por receitas e despesas afetam a riqueza dos proprie-
tários, elas são retratadas na Demonstração do Resultado que é uma peça de
caráter eminentemente econômico (relacionado à riqueza) e não financeiro
(relacionado a dinheiro). Ver matéria no Capítulo 9 a esse respeito.

Segundo a Lei n2 6.404/74, a Demonstração do Resultado do Exercício


discriminará os seguintes elementos:
48 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

RECEITA BRUTA DAS VENDAS E SERVIÇOS


(-) Devoluções
(-) Abatimentos
(-) Impostos
(=) Receita Líquida das Vendas e Serviços
(-) Custo das Mercadorias e Serviços Vendidos
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas com Vendas
(-) Despesas Financeiras (deduzidas das Receitas Financeiras)
(-) Despesas Gerais e Administrativas
(-) Outras Despesas Operacionais
(+) Outras Receitas Operacionais
(=) Lucro ou Prejuízo Operacional
(+) Receitas não Operacionais
(-) Despesas não Operacionais
(+) Saldo da Correção Monetária
(=) Resultado do Exercício antes do Imposto de Renda
(-) Imposto de Renda e Contribuição Social
(-) Participações de Debêntures
(-) Participação dos Empregados
(-) Participação de Administradores e Partes Beneficiárias
(-) Contribuições para Instituições ou Fundo de Assistência ou Previdência
de Empregados
(=) Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício
(=) Lucro ou Prejuízo por Ação

1.4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO


LÍQUIDO

A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido apresenta as varia-


ções de todas as contas do Patrimônio Líquido ocorridas entre dois balanços,
independentemente da origem da variação, seja ela proveniente da correção
monetária, de aumento de capital, de reavaliação de elementos do ativo, de lucro
ou de simples transferência entre contas, dentro do próprio Patrimônio Líquido.
DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Reservas de Capital Reservas de Lucro


Lucros
Capital Correção Ágio na Reserva
Reserva Acumu- Total
Realizado Monetária Emissão Incentivos Esta-
Fiscais Legal lados
do Capital de Ações tutária
Saldos em 31-12-X0
• Correção Monetária
• Aumentos de Capital
com Lucros e Reservas
por Subscrições Realizadas
• Lucro Líquido do Exercício
• Destinação do Lucro Líquido
Reserva Legal
Reserva Estatutária
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Dividendos
Saldos em 31-12-X1
49
50 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Enquanto a Demonstração do Resultado evidencia como se chegou ao total


do aumento ou diminuição do Patrimônio Líquido em decorrência de transações
efetuadas pela empresa, expurgando o inchaço causado pela inflação, a De-
monstração das Mutações do Patrimônio Líquido mostra toda e qualquer variação
em qualquer conta. Em vista disso, esta última serve muito mais como elemento
complementar do que como peça através da qual se pode obter informação, no
sentido em que foi definida informação no Capítulo 1, ou seja, comunicação capaz
de gerar reação em quem a recebe e possibilitar a tomada de decisões.
Dessa forma, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido não
costuma ser analisada no sentido tradicional em que o são o Balanço e a
Demonstração do Resultado do Exercício.
O conteúdo básico da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
é representado na página anterior.

1.5 DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE


RECURSOS-DOAR

Há muitos anos as empresas vêm divulgando duas demonstrações finan-


ceiras básicas, através de publicações em órgãos de imprensa ou fornecendo-as
aos interessados. São elas:

• Balanço Patrimonial.
• Demonstração do Resultado do Exercício.

Enquanto o balanço apresenta, em determinado momento, de um lado


(passivo), a origem dos recursos utilizados pela empresa e, de outro, as aplica-
ções (ativo), a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos mostra as
novas origens e aplicações verificadas durante o exercício. Outra diferença é que
a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos - DOAR - não mostra
a totalidade das novas origens e aplicações, mas apenas aquelas ocorridas nos
itens não Circulantes do Balanço, ou seja, no Exigível a Longo Prazo, Patrimônio
Líquido, Ativo Permanente e Realizável a Longo Prazo.
A diferença entre as novas origens não circulantes e as novas aplicações
não circulantes será igual ao Capital Circulante Líquido.
Dessa maneira, a DOAR é uma demonstração que evidencia a variação do
Capital Circulante Líquido. Talvez por isso essa demonstração seja ainda pouco
conhecida pelo grande público e mesmo por parte de muitos analistas de
balanços: é que o Capital Circulante Líquido é um elemento de difícil interpreta-
ção.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 51

(A fim de possibilitar a compreensão do que é o Capital Circulante Líquido,


desenvolve-se uma matéria especial no Capítulo 10 que aborda as suas várias
configurações.)
A ilustração seguinte ajuda a entender um pouco do que é a DOAR.

ATIVO PASSIVO
AC + RLP + AP PC + ELP + PL
Ativo Circulante Patrimônio Líquido
Realizável a Longo Prazo Exigível a Longo Prazo
Ativo Permanente Passivo Circulante

AC - PC = PL+ELP-AP-RLP

CCL - PL+ELP-AP-RLP

Capital Circulante Líquido


Aumento do CCL = Origens
Reduções do CCL = Aplicações
Origens - Aumentos PL + Aumentos ELP + Reduções AP + Reduções RLP
Aplicações - Reduções PL + Reduções ELP + Aumentos AP + Aumentos RLP

Observe-se, porém, que os aumentos ou reduções vistos acima são apenas


aqueles que representam ingresso de recursos externos ou a saída de recursos
para fora da empresa.
Traçando-se um paralelo entre o Balanço e a DOAR, pode-se dizer que o
Balanço mostra a posição dos investimentos e financiamentos da empresa em
determinado momento. Entre dois balanços, inúmeras alterações podem ocorrer.
A empresa pode, por exemplo, ter vendido parte dos seus bens imobilizados e
adquirido outros. Pode ter vendido a vista e feito aquisições com financiamentos
ou mediante aumentos de capital. Essas transações, que afetam consideravel-
mente a situação financeira da empresa, não são evidenciadas no Balanço, o
qual mostrará apenas globalmente o efeito delas.
O Balanço não torna claro, portanto, como a empresa passou de determi-
nada posição de investimentos e financiamentos para outra posição, ou seja,
quais os recursos adicionais de que a empresa se utilizou e onde os aplicou.
É aí que entra a DOAR, apresentando exatamente estes últimos dados.
Através da DOAR é possível conhecer como fluíram os recursos ao longo de um
exercício: quais foram os recursos obtidos, qual a participação das transações
52 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

comerciais no total de recursos gerados, como foram aplicados os novos recur-


sos etc. Enfim, a DOAR visa permitir a análise do aspecto financeiro da empresa,
tanto no que diz respeito ao movimento de investimentos e financiamentos
quanto relativamente à administração da empresa sob o ângulo de obter e aplicar
compativelmente os recursos.
Apresenta-se a seguir o modelo básico da DOAR.

DEMONSTRAÇÃO COMPARATIVA DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS

ORIGENS DE RECURSOS:

• DAS OPERAÇÕES:

- Lucro Líquido do Ano

- Mais: • Depreciação e Amortizações


• Resultado da Correção Monetária do Exercício (saldo devedor)
• Variações Monetárias de Empréstimos e Financiamentos a Longo Prazo

- Menos: • Participação nos Resultados de Controladas e Coligadas (deduzida dos


dividendos recebidos)
• Resultado da Correção Monetária (saldo credor)
• Resultado na Alienação de Bens do Imobilizado

Total das Operações

• DOS ACIONISTAS:

- Integralização de Capital

• DE TERCEIROS:

- Ingresso de Empréstimos a Longo Prazo


- Alienação de Itens do Imobilizado (valor de venda)
- Resgate de Investimentos Temporários a Longo Prazo

Total das Origens

APLICAÇÕES DE RECURSOS:

• Aquisições de Direitos do Imobilizado (ao custo)

• Adições ao Custo no Ativo Diferido

• Aplicações em Investimentos Permanentes em outras Sociedades

• Aplicações em Investimentos Temporários a Longo Prazo

• Transferências para Curto Prazo de Empréstimos e Financiamentos a Longo Prazo

• Dividendos Propostos

Total das Aplicações


ACRÉSCIMO (DECRÉSCIMO) NO CAPITAL
CIRCULANTE LÍQUIDO
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 53

Principais Contas do Balanço e


Apêndice Demonstração de Resultados

PRINCIPAIS CONTAS DO BALANÇO

1 ATIVO CIRCULANTE

De forma geral, a Lei nº 6.404/76 define as características dos elementos


que devem compor o Ativo Circulante. São elas:

• Valores disponíveis para utilização imediata ou conversíveis em moeda corrente a


qualquer tempo; normalmente são reunidos sob o título de "Disponibilidades".
• Direitos conversíveis em valores disponíveis durante o curso do exercício seguinte
àquele do balanço ou realizáveis durante o ciclo operacional da empresa se este
exceder a um ano; correspondem a "Direitos Realizáveis a Curto Prazo".
• Valores relativos a despesas já pagas que beneficiarão o exercício seguinte àquele
da data do balanço; são denominados "Aplicações de Recursos em Despesas".

Comentam-se a seguir as principais contas que aparecem no Ativo Circu-


lante.

2 DISPONIBILIDADES

Representa o dinheiro em mãos da empresa, os depósitos bancários a vista


e as aplicações de imediata conversibilidade em dinheiro. Diversas contas
integram as disponibilidades. Às vezes aparecem englobadas sob o título "Dis-
54 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

ponível" ou "Disponibilidades", enquanto outras vezes aparecem subdivididas em


várias contas.
Enquandram-se também como disponibilidades as chamadas Aplicações
de Liquidez Imediata que são investimentos feitos pela empresa a curtíssimo
prazo - uma quinzena, uma semana ou um dia -; em virtude da existência de
um mercado altamente dinâmico, podem ser consideradas como dinheiro em
mãos.

3 CLIENTES
Compreende os valores a receber decorrentes das vendas efetuadas pela
empresa. Eventualmente, no caso das empresas prestadoras de serviços, po-
dem ser inclusos os serviços já prestados e ainda não faturados.

Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa (conta redutora de Duplicatas


a Receber).
É constituída para cobrir as prováveis perdas decorrentes do não recebi-
mento de Duplicatas a Receber.

Duplicatas Descontadas (conta credora).


Indica desconto antecipado das Duplicatas a Receber em estabelecimentos
bancários. O banco compra a vista as duplicatas, "descontando" no ato as
despesas bancárias e os juros a que tem direito pelo período que transcorrerá
entre a data do desconto e a data do vencimento das duplicatas. Do ponto de
vista de direitos sobre o título, é indubitável que, após a negociação, passa a
pertencer ao banco e, assim, não mais ao ativo da empresa. Por essa razão, nos
balanços publicados, Duplicatas Descontadas aparecem como conta subtrativa
de Duplicata a Receber (só não aparece o saldo líquido de Duplicatas a Receber
porque, sendo a empresa descontante do título e avalista do mesmo, poderá ter
de arcar com a sua liquidação se o cliente não pagar). Entretanto, do ponto de
vista de investimentos e financiamentos, a interpretação é outra. A empresa,
através de suas vendas com prazo de pagamento concedido ao cliente, gera um
investimento para o qual não dispõe de recursos.
Recorre, então, ao banco que lhe fornece esses recursos sob a modalidade
de negociação de duplicatas, ou seja, o banco entrega certa quantia à empresa
calculada sobre o valor bruto da duplicata menos juros, comissões etc. e torna-se
dono da duplicata. Acontece que o investimento da empresa decorrente das
vendas a prazo é de caráter contínuo, pois, quando recebe de uma empresa, já
está financiando outro cliente. Assim, requer financiamento constante para cobrir
esse investimento. Não tendo capital próprio, recorre a capitais de terceiros; no
caso, desconto de duplicatas. Portanto, para efeito de Análise de Balanços, as
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 55

duplicatas descontadas devem figurar no Passivo Circulante, pois o Passivo


representa financiamentos de terceiros obtidos pela empresa. A empresa passa
a depender dos bancos para poder efetuar o investimento em duplicatas a
receber. Se amanhã os bancos não quiserem mais descontar duplicatas da
empresa, seja qual for o motivo, ela será obrigada a deixar de investir em
duplicatas a receber (vendendo somente a vista se for possível) ou obter outra
fonte de financiamento.

4 BANCOS CONTA VINCULADA

Em operações de empréstimos, normalmente, os bancos exigem que a


empresa entregue duplicatas em garantia para que eles efetuem a cobrança. À
medida que o banco faz a cobrança, credita o valor numa conta vinculada e o
transfere desta para conta movimento. A conta Bancos Conta Vinculada pode
ser somada a Duplicatas a Receber para efeito do cálculo do Índice de Liquidez
Seca.

5 ESTOQUES

Os estoques compreendem produtos e materiais de propriedade da empre-


sa. Compõem os estoques as seguintes contas:

• Produtos Acabados: representa os produtos cujo processo de fabricação foi


concluído e já se encontram em condições de venda.
• Mercadorias para Revenda: compreende as mercadorias adquiridas para comer-
cialização.
• Produtos em Elaboração: representa o valor do inventário de produtos que se
acham em processo de fabricação na data de levantamento do balanço; compreende
todos os custos aplicados nesses produtos.
• Materiais: compreende todo tipo de material existente na empresa, tanto aquele que
se incorpora ao produto como aquele auxiliar da produção, administração e entregas;
• Mercadorias em Trânsito: compreende os bens comprados pela empresa que na
data do balanço se acham em transporte, a caminho da empresa.
• Provisão para Redução ao Valor de Mercado (conta redutora de estoques): tem
por finalidade eliminar dos estoques a parcela dos custos que provavelmente não é
recuperável. Tal conta prevê prováveis perdas resultantes de estragos, deterioração,
obsoletismo, redução nos preços de venda ou de reposição do estoque. A constitui-
ção da Provisão para Redução ao Valor de Mercado é baseada no princípio de
avaliação de estoque: "custo ou mercado, dos dois o menor"; segundo tal princípio
56 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

as perdas devem ser reconhecidas no resultado do exercício em que ocorreram e


não no exercício em que a mercadoria/produto ó vendida, reposta ou transformada
em sucata. Ao constituir a provisão para redução ao valor de mercado, a empresa
credita essa conta e a contrapartida é lançada na demonstração do resultado, no
grupo despesas operacionais.
Nota: Os balanços das empresas podem apresentar a conta Estoques sintética, com as
seguintes denominações:
- Estoques.
- Inventários.
- Existências.

6 APLICAÇÕES FINANCEIRAS

Freqüentemente, por excesso de recursos monetários, por obter boas taxas


remuneratórias, por obrigações contratuais ou por falta de opção de negócios,
as empresas efetuam aplicações financeiras por prazos que variam desde um
dia até alguns anos, embora raramente ultrapasse um ano. As aplicações de
curtíssimo prazo devem ser englobadas às disponibilidades; entretanto, as de
maior prazo devem constituir um item à parte do Ativo Circulante (ou Realizável
a Longo Prazo, se for o caso).

7 OUTRAS CONTAS DO ATIVO CIRCULANTE

Existe uma infinidade de direitos, normal e individualmente de pequena


monta, que podem surgir no Ativo Circulante de uma empresa, como decorrência
de inumeráveis operações possíveis, como adiantamentos a fornecedores, ver-
bas de propaganda a recuperar, valores a receber por vendas não operacionais,
venda de imóveis, maquinismo, despesas antecipadas de seguros, assinaturas,
aluguéis etc.
O analista deve observar a relevância de cada uma dessas contas indivi-
dualmente e decidir se vale a pena considerá-las como um item isolado ou, então,
agrupá-las com outras contas.
Na prática, geralmente, as demais contas do Ativo Circulante, além das
Disponibilidades, Duplicatas a Receber e Estoques, costumam ser agrupadas
para efeito de análise. A não ser em casos especiais, nenhum item com menos
de 5% do Ativo Circulante precisa ser destacado. Acima de 10% convém refletir
sobre a necessidade ou não de destacá-lo. Com mais de 20% certamente deverá
ser destacado. Essa não é, contudo, uma regra fixa; é apenas uma sugestão
geral que precisa ser analisada em cada caso.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 57

As chamadas Outras Contas do Ativo Circulante podem ser assim apresen-


tadas:

• Diversas Contas a Receber: representativas de direitos a receber da sociedade


provenientes de empréstimos a outras empresas, incentivos fiscais, vendas não
relacionadas às operações da empresa, tais como venda de imóveis, maquinismos,
investimentos ou outros bens.
• Adiantamentos: englobam o numerário entregue pela sociedade a funcionários ou
terceiros; neste caso, visa à aquisição de matérias-primas, produtos, serviços.
• Contas Correntes: são direitos a receber da sociedade, provenientes de emprésti-
mo de numerário a acionistas, sócios, diretores, coligadas e controladas ou a
terceiros, cuja recuperação ocorre com a devolução do dinheiro emprestado.
• Cauções: esta conta representa os diversos tipos de depósitos feitos pela empresa
por contratos firmados com terceiros. A recuperação dos depósitos ocorre quando
do término do contrato.
• Importação em Andamento: compreende os desembolsos por conta de produtos
ou matérias em processo de importação.
• Impostos a Recuperar: referem-se aos valores a recuperar do ICMS e IPI, decor-
rentes de isenções fiscais ou da atividade de compra e venda da empresa. Pela
própria sistemática fiscal desses impostos, mensalmente os débitos pelas vendas
são compensados pelos créditos das compras, remanescendo um saldo a recolher
ou a recuperar, de acordo com o volume de compras e vendas.
• Reflorestamento: refere-se às florestas pertencentes às empresas que atuam nas
atividades de celulose e papel, siderúrgica, reflorestamento, destinando-se as árvo-
res a corte para fins de comercialização, consumo ou industrialização. Essas contas
podem figurar no Ativo Circulante quando se tratar de reflorestadora, pois as florestas
podem ser negociadas mesmo que se encontrem em fase de formação.
• Serviços em Andamento: referem-se aos serviços não faturados cuja execução se
acha em andamento na data do balanço.
• Cheques em Cobrança: compreende os cheques devolvidos por insuficiência de
fundos, bem como aqueles não disponíveis imediatamente por se referirem a praças
distantes.
• Despesas Antecipadas: representam aplicações de recursos da sociedade em
despesas que serão futuramente apropriadas, como aluguéis, seguros, comissões,
assinaturas etc. Caso apareçam Despesas Financeiras a Vencer sobre emprésti-
mos com instituições financeiras, devem-se adotar os seguintes procedimentos:
- A parcela de despesas financeiras a vencer classificada no Ativo Circulante deve
ser dedudiza dos débitos com instituições financeiras classificadas no Passivo
Circulante e a parcela de despesas financeiras classificadas no Realizável a
Longo Prazo deve ser deduzida dos débitos com instituições financeiras classi-
ficados no Exigível a Longo Prazo.
58 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

- Se as despesas financeiras a vencer estiverem totalmente no Ativo Circulante


deverão ser deduzidas das dívidas com instituições financeiras, proporcional-
mente, a curto e longo prazo.
As despesas financeiras a vencer podem figurar nos balanços das empresas
com as seguintes denominações:
- Juros a Vencer.
- Encargos Financeiros a Vencer.
- Correção Monetária Prefixada a Vencer.
• Outros Créditos: este item destina-se a agrupar as contas do Ativo Circulante,
cujos valores são irrelevantes, comparativamente às contas evidenciadas.

8 REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

O Realizável a Longo Prazo compreende teoricamente as mesmas contas


do Ativo Circulante (com exceção das Disponibilidades) cujo prazo de realização
seja superior a um ano ou ao ciclo operacional se este for superior a um ano.
Uma empresa tem, normalmente, em conseqüência de suas operações,
dois tipos de investimentos. Um necessário para atingir a produção, vendas e
administração, representado pelo Imobilizado; outro decorrente exatamente de
suas atividades comerciais, representado pe\o Ativo Circulante.
Em vista disso, contas do Realizável a Longo Prazo surgem em caráter
excepcional.
Em algumas empresas, o ciclo operacional - prazo decorrido entre a compra
e o recebimento da quantia faturada na venda - pode ser superior a um ano.
Nesses casos, contas cujo prazo de realização ultrapasse a um ano deveriam
ser abrangidas pelo Ativo Circulante, pois, conforme prevê a Lei das S.A.
(adequadamente, diga-se de passagem), Ativo Circulante compreende os valo-
res realizáveis no curso do exercício seguinte ou no prazo do ciclo operacional
quando este for superior a um ano.
Pode ocorrer que o ciclo operacional normal da empresa seja inferior a um
ano, mas que existam certos itens de estoque ou de recebimentos que ultrapas-
sem a um ano. Estes irão, pois, para o Realizável a Longo Prazo, na hora da
padronização, conforme foi explicado na pág. 43.
A não ser nesses casos, o Realizável a Longo Prazo fica realmente apenas
com as exceções. Vejam-se os componentes do Realizável a Longo Prazo:

• Duplicatas a Receber (Títulos a Receber).


• Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa (conta redutora).
• Estoques.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 59

• Aplicações Financeiras.
• Títulos da Dívida Pública.
• Debêntures.
• Cauções.
• Depósitos Compulsórios.
• Importação em Andamento (para comercialização).
• Impostos a Recuperar.
• Construções em Andamento.
• Obras em Andamento.
• Outros Créditos.

As contas correntes com empresas ligadas a acionistas e diretores, prove-


nientes de créditos não decorrentes de transações comerciais, devem figurar no
Realizável a Longo Prazo, mesmo que se preveja recebimento com prazo inferior
a 360 dias, porque, sendo créditos junto a pessoas ligadas, nada garante que a
empresa credora faça esforço para recebê-los como faria se fosse contra
terceiros.
Por isso a Lei da S.A., numa autêntica posição de quem analisa balanços,
determinou que fossem os referidos créditos lançados no Realizável a Longo
Prazo.
Se alguma crítica pode ser feita a essa determinação pelos auditores, para
os analistas de balanços é perfeita.

9 ATIVO PERMANENTE

Compreende as aplicações de recursos que não se deseja ou não se pode


realizar, isto é, vender e transformar em dinheiro.
Essas aplicações podem ser feitas com o objetivo de dar operacionalidade
à empresa. Neste caso, compõem o grupo Imobilizado.
Se não se destinarem à manutenção da atividade da empresa, comporão
o grupo Investimentos.
Existem ainda aplicações em despesas que contribuem para a formação
do resultado de exercícios subseqüentes e não devem, portanto, ser apropriadas
ao exercício em que foram gastas; constituem o grupo Diferido.
60 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

10 INVESTIMENTOS

A Lei das S.A. estabelece que devem ser classificadas em Investimentos


as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer
natureza que não se destinem à manutenção da atividade da empresa e não se
classifiquem no Ativo Circulante ou Realizável a Longo Prazo.

• Participações Permanentes em outras Sociedades: este item engloba as partici-


pações de capital em outras empresas na forma de ações ou de quotas com
características de investimentos permanentes.
As aplicações de capital em outras empresas, normalmente, são de natureza
voluntária e representam uma extensão ou diversificação da atividade econômica
da própria empresa. Acima de 10% de participação (sem deter o controle do capital),
a outra empresa já será uma coligada da investidora. Se houver o controle - definido
como preponderância nas deliberações sociais e poder de eleger a maioria dos
administradores -, a outra empresa será controlada.
• Outros Investimentos Permanentes: são representados por diversos tipos de
investimentos, sempre desvinculados da atividade principal da empresa. Exemplos:
- Obras de arte.
- Imóveis não destinados ao uso.
- Bens locados a terceiros.
- Quotas de clubes.
Nota: nos casos de empresas de administração de bens próprios, tais contas devem ser
classificadas no Permanente - Imobilizado.
• Provisão para Perdas (conta redutora de investimentos): tem por finalidade
eliminar das contas do grupo de investimentos a parcela que provavelmente não
será recuperada pela empresa, ou as possíveis perdas de caráter permanente. Essa
provisão se refere aos investimentos não avaliados por equivalência patrimonial, já
que estes últimos são anualmente atualizados com base no Patrimônio Líquido da
outra empresa.

11 IMOBILIZADO

O Imobilizado compreende os bens e direitos destinados à manutenção da


atividade da empresa.
As principais contas componentes do Imobilizado são:

• Terrenos.
• Construções.
• Instalações.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 61

• Máquinas e Equipamentos.
• Móveis e Utensílios.
• Veículos.
• Marcas e Patentes.
• Benfeitorias em Imóveis de Terceiros.
• Obras em Andamento.
• Adiantamentos para Imobilização.

O custo dos bens levados para o Imobilizado compreende todos os gastos


necessários para ter os bens em funcionamento na empresa. Por exemplo, o
custo de uma prensa será, além daquele constante da nota fiscal, o custo de
transporte e instalação no local, até o seu funcionamento. Não se integram
nesses custos, porém, os custos financeiros.
Veja-se a seguir o que compreende cada um dos mencionados itens do
Imobilizado.

• Terrenos: esta rubrica compreende os investimentos efetuados pela empresa na


aquisição de terrenos, incluindo os gastos legais com escritura, registros e cisa.
Apenas os terrenos utilizados nas operações da empresa devem estar aqui com-
preendidos. Os terrenos relativos a construções em andamento devem estar classi-
ficados em "Obras em Andamento", enquanto eventuais terrenos adquiridos para
especulação, para aluguel ou expansão remota devem ser classificados em inves-
timentos.
• Construções: incluem-se aqui todos os custos incorridos pela empresa na constru-
ção de edifícios utilizados nas operações da empresa, tanto industriais como de
administração e vendas. No caso de imóveis adquiridos, esta rubrica poderá ser
substituída pela intitulada "Imóveis" ou "Edificações".
• Instalações: devem ser registrados como instalações todos os gastos necessários
ao funcionamento da empresa despendidos na instalação de divisórias, estantes,
prateleiras, bem como as instalações especiais elétricas e hidráulicas requeridas
para melhor funcionamento ou por condições especiais das operações da empresa.
Quando os gastos de instalações se confundirem com o próprio equipamento
instalado, deverão fazer parte do custo de equipamento; porém, quando for possível
identificar a própria instalação em si, com vida útil autônoma, os custos integrarão a
rubrica instalações.
• Máquinas e Equipamentos: são aqui incluídos os custos havidos na aquisição e
instalação de máquinas e equipamentos, ou seja, todos os custos além do preço
pagos a fornecedores, como impostos, transportes, preparação para instalação etc.
No caso, por exemplo, da instalação de um equipamento de pintura, poderá ser
necessária uma instalação elétrica especial devido à voltagem requerida pelo
equipamento de pintura. O custo dessa instalação será incorporado ao do equipa-
mento. A empresa poderá ter ainda efetuado instalações antipoluente e contra
incêndio, as quais constituirão um item à parte dentro da rubrica Instalações.
62 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

• Móveis e Utensílios: esta conta registra todos os bens representados por mesas e
cadeiras, máquinas de escrever e calcular, arquivos, armários etc.
• Veículos: registra-se aqui o custo de aquisição de veículos de transporte externos
à empresa, tanto utilizados pela administração, como por vendas e pela produção.
Empilhadeiras, vagões, carrinhos etc. utilizados internamente fazem parte de "Equi-
pamentos".
• Marcas e Patentes: são os custos da empresa na aquisição de marcas e/ou de
patentes de terceiros, bem como aqueles decorrentes de desenvolvimento interno
através de pesquisas e que tenham sido efetivamente registrados nos órgãos
competentes, a fim de que fiquem devidamente incorporados ao ativo da empresa.
• Benfeitorias em Imóveis de Terceiros: as melhorias, reformas, pinturas, constru-
ções e adaptações efetuadas em imóveis de terceiros constituirão os custos que
farão parte deste item.
• Obras em Andamento: são compreendidos por este item os custos incorridos pela
empresa na construção de unidades fabris, comerciais e administrativas, incluindo
custo de construção, importação em andamento, adiantamentos a fornecedores e
prestadores de serviços, bem como almoxarifado de materiais a serem utilizados.

Dadas as particularidades de cada empresa, há diferenças entre as contas


que podem surgir em seus ativos imobilizados, de maneira que em cada caso o
contador deve eleger o conjunto de contas que melhor reflita a realidade daquela
empresa.
Todos os custos do Imobilizado são amortizáveis ao longo de vários
exercícios, através da Depreciação, Amortização ou Exaustão.
As contas de Depreciação Acumulada registram a perda de valor econômico
dos bens por desgaste ou obsolescência.
As contas de Exaustão Acumulada registram o consumo do potencial de
minas, reservas florestais etc.
As contas de Amortização Acumulada registram as parcelas apropriadas a
Resultados de Custo de ativo intangível, como Marcas, Patentes, Luvas etc.

12 DIFERIDO

Este grupo compreende gastos que não foram apropriados a Resultados e


que irão beneficiar exercícios futuros. São gastos de uma atividade que se espera
venha gerar receitas nos próximos exercícios. Existe um princípio contábil
segundo o qual as receitas devem ser confrontadas com custos ou despesas
necessários para produzi-las. As despesas que não geraram receita ou são
perdas irrecuperáveis - e nesse caso devem ser apropriadas a resultado como
despesa não operacional - ou produzirão receita futuramente, quando então
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 63

deverão ser lançadas no Ativo Diferido. Normalmente, esse tipo de despesa (que
a rigor não é despesa, mas gasto, pois será despesa somente quando apropriada
a Resultado) ocorre na fase pré-operacional ou da empresa como um todo ou de
determinadas filiais ou ainda de projetos. Caracterizam-se ainda como Ativo
Diferido os gastos em pesquisas e desenvolvimento de produtos ou de proces-
sos.
A definição do que e quanto deve ser ativado como Diferido, bem como sua
amortização, é inteiramente arbitrária. Os principais componentes do Ativo
Diferido são:

• Gastos de Implantação e Pré-operacionais: este item agrupa todos os gastos


incorridos pela empresa, antes do início de suas operações, que serão apropriados
a Resultados quando do início de suas operações.
• Gastos com Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos: referem-se aos gastos
incorridos na pesquisa e no desenvolvimento de novos produtos, que serão amorti-
zados durante o período em que tais produtos desenvolvidos produzirem resultados
para a empresa.
• Amortização Acumulada (conta redutora do Permanente Diferido): tem por
finalidade registrar quanto das Despesas Diferidas já foi apropriado a Resultados.

13 PASSIVO CIRCULANTE

Compreende todas as obrigações da empresa vencíveis no prazo de um


ano ou, se o ciclo operacional for maior que um ano, as obrigações vencíveis no
prazo do ciclo operacional. Essas obrigações devem ser tanto as conhecidas (por
exemplo, duplicatas a pagar, promissórias a pagar, salários a pagar) como as
calculáveis com precisão, tais como variações cambiais e juros, quanto as
calculáveis apenas aproximadamente, como provisões para férias e 13º salário
dos empregados. Conforme já explicado, as Duplicatas Descontadas também
devem figurar no Passivo Circulante.
Dentro do Passivo Circulante encontram-se as contas a seguir descritas:

• Fornecedores: esta conta se origina das operações de compra a prazo, no mercado


nacional ou no exterior, de matérias-primas a serem usadas no processo produtivo,
mercadorias destinadas a revenda ou de insumos, outros materiais e serviços. Tais
compras são adquiridas pela empresa no mercado nacional ou no exterior, sendo
representadas por duplicatas a pagar na data do balanço.
• Duplicatas a Pagar Coligada ou Controlada: tal conta se refere a obrigações da
sociedade oriunda de transações normais, ou seja, das compras de matérias-primas
ou mercadorias a prazo de coligadas e controladas, como se fossem qualquer outro
fornecedor.
64 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

• Duplicatas Descontadas: já comentada.


• Tributos a Pagar/Recolher: compreende as obrigações relativas a impostos, taxas
e contribuições. Pode aparecer destacada ou englobadamente nos balanços.
Nota: recomenda-se usar a expressão "a pagar" para aqueles tributos em que a empresa é o
contribuinte, e a expressão "a recolher" quando atua como agente arrecadador, como,
por exemplo, IRRF.
• Salários e Encargos Sociais: referem-se às obrigações da empresa junto a seus
empregados, bem como aos agentes arrecadadores de contribuições sociais, como
INSS e CEF (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Devem figurar aqui tanto
as obrigações conhecidas como aquelas previsíveis e calculáveis na data do
balanço.
• Empréstimo e Financiamentos de Instituições Financeiras: compreendem os
recursos obtidos pela empresa junto a instituições financeiras do país para financia-
mento das ¡mobilizações ou do giro dos negócios. Essas obrigações são contraídas
mediante contratos que fixam o valor total, forma e época de liberação das parcelas,
finalidade dos recursos, cláusulas de pagamento e que especificam também os juros,
a forma de correção etc. Recomenda-se utilizar a expressão empréstimos para
aqueles recursos tomados para livre aplicação pela empresa, onde normalmente as
garantias são representadas por duplicatas entregues em caução e cobrança. A
expressão financiamentos seria usada para os recursos destinados especificamen-
te a financiar determinados bens, como máquinas, equipamentos, construções, que
servirão de garantia para a instituição financeira. É comum neste caso os recursos
serem creditados diretamente ao fornecedor dos bens.
• Outras Contas de Passivo Circulante: a regra com relação ao Passivo Circulante
é semelhante à do Ativo Circulante, no que se refere a outras contas: pequenos
valores podem ser agrupados, enquanto as contas mais significativas devem ser
individualizadas. Valem para o Passivo Circulante os mesmos percentuais e obser-
vações feitas para as "Outras Contas do Ativo Circulante". As contas mais encon-
tradas, sob esse grupo, no Passivo Circulante são:
- Adiantamentos: representam os valores recebidos pela empresa por conta de
futura entrega de bens ou serviços.
- Contas a Pagar: representativas das obrigações da empresa surgidas em
função de aquisição de utilidades e serviços, como energia elétrica, água,
telefone, propaganda, honorários profissionais de terceiros, aluguéis etc.
- Contas Correntes: são as obrigações da sociedade, provenientes de transa-
ções habituais com terceiros em geral, prestadores de serviços ou provenientes
de empréstimos tomados junto a diretores e sócios.
- Dividendos, Gratificações e Participações: referem-se às participações nos
lucros destinados a empregados, administradores e partes beneficiárias previs-
tas no estatuto social.
- Empréstimo em Moeda Estrangeira: referem-se às obrigações da empresa
junto a instituições financeiras do exterior, cujos recursos obtidos foram destina-
dos ao financiamento das ¡mobilizações ou do capital de giro.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 65

- Empréstimos do Exterior Coligados/Matriz: conta representativa das obriga-


ções da sociedade junto à coligada situada no exterior, proveniente de emprés-
timos de numerário.
- Imóveis a Pagar: referem-se às obrigações da empresa, provenientes de
aquisição de bens imóveis, financiados pelos próprios vendedores de tais bens.
- Títulos a Pagar: são obrigações resultantes de financiamentos obtidos junto a
pessoas físicas ou outras empresas que não sejam instituições financeiras.
- Empresas Coligadas/Controladas: representativas das obrigações da socie-
dade junto a empresas coligadas, sediadas no país, provenientes de emprésti-
mos de numerário, cujo resgate da dívida ocorre com a devolução do dinheiro
emprestado.
- Outros Débitos: esse item destina-se a agrupar as contas do Passivo Circulante
cujos valores são irrelevantes, comparativamente com as demais evidenciadas,
bem como as contas que não precisam ser evidenciadas com títulos específicos.

14 EXIGIVEL A LONGO PRAZO

O Exigível a Longo Prazo compreende as obrigações da empresa vencíveis


a prazo superior a um ano ou superior ao ciclo operacional da empresa.
Normalmente, os créditos superiores a um ano ocorrem por contratos firmados
pela empresa com instituições financeiras, como Bancos de Investimentos ou
de Desenvolvimento. Excepcionalmente, podem surgir créditos de longo prazo
decorrentes de negociações com fornecedores ou de parcelamento de dívidas
junto ao Governo.
Integram o Exigível a Longo Prazo as seguintes contas:

• Financiamentos de Instituições de Crédito (sob diversas modalidades).


• Adiantamentos (idem Passivo Circulante).
• Contas a Pagar.
• Contas Correntes.
• Empresas Coligadas/Controladas.
• Imóveis a Pagar.
• Títulos a Pagar.

15 RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS

Compreende as receitas de exercícios futuros deduzidas as despesas


incorridas ou a incorrer. Essas receitas são aquelas faturadas antecipadamente,
66 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

em relação ao momento de sua efetiva realização. Entretanto, é preciso cuidado:


a essas receitas não deve corresponder eventual devolução ou execução de
obras ou produtos, pois, nesse caso, não se configuraria como receita, mas como
adiantamento de cliente e se enquadraria no Passivo Exigível (Circulante ou
Longo Prazo).
As principais contas desse grupo são:

• Resultado Diferido de Incorporação de Imóveis: compreende a receita diferida,


deduzida dos custos efetivamente incorridos, e os custos previstos a incorrer,
relativos às unidades imobiliárias vendidas, pertencentes a exercícios futuros.
• Resultado Diferido de Venda de Terrenos: refere-se a receita não recebida
deduzida dos custos efetivamente incorridos e dos custos a incorrer relativos a
terrenos vendidos, urbanizados ou não, pertencentes a exercícios futuros.
• Resultado na Venda de Imobilizado: compreende a receita a receber proveniente
da venda de imobilizado que será baixada à demonstração do resultado quando do
seu recebimento, independente do seu ramo de atividade.
• Aluguel Recebido Antecipadamente: refere-se a receita recebida antecipadamen-
te e ainda não realizada. Tal conta é considerada resultado de exercícios futuros
somente quando houver contrato que estabeleça o não-reembolso, mesmo que o
locatário devolva antes o imóvel ou bem.

16 PATRIMÔNIO LÍQUIDO

O Patrimônio Líquido representa os recursos dos acionistas formados por


Capital - dinheiro ou bens - entregues pelos acionistas à empresa ou por lucros
gerados pela empresa e retidos em diversas contas de reservas ou de lucros
acumulados. Eventualmente, podem existir entradas do tipo doações ou subven-
ção recebidas de terceiros.
É interessante observar que certos procedimentos contábeis previstos na
Lei das S.A., que são uma herança negativa da lei anterior, criam confusões e
desinformações, principalmente entre leigos e, não raro, mesmo entre técnicos.
As reservas de lucros, por exemplo, nada mais são do que lucros acumu-
lados. Reserva Legal, por exemplo, é o lucro acumulado por determinação da
Lei das S.A. Reserva Estatutária é o lucro acumulado por determinação dos
estatutos.
A criação dessas reservas acarreta vários tipos de problemas. O primeiro
decorre do uso do termo Reserva que sugere existir um fundo, uma aplicação
específica, e dá a impressão para o leigo da existência de um Ativo vinculado a
cada reserva. O segundo é a disseminação do lucro acumulado em várias contas
dentro do Patrimônio Líquido; tal fato provoca o uso de vários títulos para uma
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 67

única origem de Patrimônio Líquido e sugere falsamente que alguma providência


está sendo tomada no Ativo. Por exemplo, quando se transfere um valor de
Lucros Acumulados para Reserva Estatutária dá-se a impressão para o leitor de
que a empresa está destinando recursos para uma aplicação específica, quando,
na realidade, nada disso acontece.
Outro problema sério de desinformação é a prática de se aumentar o Capital
Social com Reservas de Lucros e/ou Lucros Acumulados; perdem-se com isso
duas informações:

1. Qual o Capital que os acionistas entregaram à empresa?


2. Qual o lucro que a empresa vem acumulando? O ideal seria que o Capital refletisse
exclusivamente os aportes de recursos conferidos pelos acionistas e que os lucros
não distribuídos como dividendos ficassem sempre numa única conta de Lucros
Acumulados.

De acordo com a Lei nº 6.404/76, são integrantes do grupo Patrimônio


Líquido os seguintes elementos:

• Capital Social: compreende (1) os recursos iniciais conferidos pelos acionistas/só-


cios à empresa; (2) os aportes posteriores de capital efetuados, ambos sob a forma
de dinheiro ou bens; (3) os aumentos por transferências das contas de Reservas e
Lucros Acumulados. O valor do Capital que deve constar no Patrimônio Líquido é o
Realizado, ou seja, o total efetivamente integralizado pelos proprietários. Dessa
forma, se existir parcela do capital não integralizada pelos proprietários, a empresa
apresentará a conta de Capital Social Subscrito e a conta devedora de Capital a
integralizar, sendo que o líquido entre ambas representa o capital realizado.
• Reservas de Capital: referem-se a acréscimos patrimoniais que não transitaram
pelo resultado como receitas. São classificadas como reservas de capital as seguin-
tes contas:
- Correção Monetária do Capital: item que registra o resultado da correção
monetária do capital realizado enquanto não capitalizado.
- Ágio na Emissão de Ações: refere-se ao valor excedente do preço pago pelos
acionistas à sociedade, quando da subscrição de ações, em relação ao valor
nominal. Caso a companhia adote o critério de ação sem valor nominal, a
contribuição do subscritor que ultrapassar o preço de emissão será considerada,
também, reserva de capital.
- Alienação de Partes Beneficiárias: refere-se ao valor ganho pela sociedade
na venda de partes beneficiárias no mercado de valores mobiliários. As partes
beneficiárias são títulos estranhos ao capital social que conferem a seus titulares
apenas o direito de participação no lucro da sociedade; são emitidas para
distribuição gratuita a fundadores, empregados, acionistas e terceiros como
remuneração a serviços prestados (situação em que não são contabilizadas) ou
para distribuição remunerada a terceiros através de sua colocação no mercado
de capitais. As partes beneficiárias não têm valor nominal e não podem ultra-
passar a 10% do Patrimônio Líquido.
68 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

- Alienação de Bônus de Subscrição: compreende o valor ganho pela socieda-


de; provém da venda de direito de subscrição. Esses títulos conferem aos
adquirentes o direito de subscrever ações no próximo aumento do capital, sendo
uma espécie de ágio pago antecipadamente.
- Prêmio na Emissão de Debêntures: compreende o valor ganho pela socieda-
de; provém da venda de debêntures no mercado mobiliário, acima de seu valor
nominal.
- Doação de Bens: refere-se aos valores dos bens imóveis ou direitos recebidos
pela companhia. Esses ativos doados devem ser contabilizados pelo valor de
mercado. Assim, se a empresa receber um terreno, deverá avaliá-lo para saber
quanto lhe custaria caso tivesse comprado. Esse deverá ser então o valor da
contabilização do ¡móvel e o da reserva de capital.
- Subvenção para Investimentos: refere-se aos valores concedidos às empre-
sas pelo Governo Federal, Estadual ou Municipal como incentivo ou ajuda a
setores econômicos, em cujo incremento tenha interesse. As subvenções con-
sideradas reservas de capital são somente aquelas concedidas tendo em vista
a aplicação em ¡mobilizações para expansão.
• Reservas de Incentivos Fiscais: oriundas da opção da própria empresa em aplicar
parte do imposto de renda devido em incentivos fiscais feita a cada exercício,
mediante indicação na declaração de rendimentos.
• Reserva de Reavaliação: refere-se à contrapartida de aumento de valor atribuído
a componente do ativo, em virtude de nova avaliação, baseada em laudo de
avaliação, firmado por peritos ou empresa especializada. À medida que a empresa
realizar o valor reavaliado, deverá ser transferido para RESULTADO. Considera-se
realizado o bem reavaliado vendido ou a parte depreciada do mesmo.
• Reserva de Lucros: são as contas de reservas constituídas por transferências de
lucros da empresa. As principais contas aqui compreendidas são:
- Reserva Legal: constituída na base de 5% do lucro líquido do exercício, por
disposição de Lei das S.A. Aplica-se somente às Sociedades Anônimas.
- Reservas Estatutárias: são constituídas por determinação estatutária e absor-
vem, normalmente, uma parcela dos lucros do exercício. Há várias modalidades
de reservas estatutárias, entre as quais:
- Reserva para Resgate ou Amortização de Ações.
- Reserva para Resgate de Partes Beneficiárias.
- Reserva para Expansão.
- Reservas para Contingências: constituídas com a finalidade de compensar,
em exercícios futuros, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada
provável.
Com a sua constituição está-se fortalecendo a posição da sociedade e evita a
distribuição de dividendos quando se prevêem significativas quedas no lucro
líquido.
- Reservas de Lucros a Realizar: constituídas com o objetivo de reter na
empresa a parcela de lucros ainda não realizada financeiramente e, assim, evitar
a distribuição de dividendos relativos a lucros existentes economicamente mas
financeiramente não realizados. Os lucros a realizar são provenientes de:
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 69

- Saldo credor da conta de correção monetária.


- Aumento do valor do investimento em coligadas e controladas.
- Lucro em vendas a prazo realizável após o término do exercício seguinte.
• Lucros ou Prejuízos Acumulados: conta representativa do saldo restante dos
lucros ou prejuízos após as destinações para reservas de lucros e dividendos
distribuídos. Essa conta interliga o balanço à demonstração do resultado do exercí-
cio.

Contas Retificadoras do Patrimônio Líquido: podem figurar no Patrimô-


nio Líquido contas retificadoras. As principais são:

• Capital a Realizar: refere-se à parcela de capital social subscrita pelos sócios, mas
não paga à empresa. Por isso, deve ser deduzido do Capital Social.
• Ações em Tesouraria/Quotas Liberadas: são aquelas adquiridas pela própria
empresa, tendo em vista:
- operações de resgate, reembolso ou amortização de ações/quotas.
- diminuição do capital.

A operação de compra de ações/quotas pela própria companhia equivale a


uma devolução de patrimônio líquido, motivo pelo qual a conta que a registra
(ações em tesouraria/quotas liberadas) deve ser deduzida da conta do patrimônio
que registra a origem dos recursos aplicados na sua aquisição.

PRINCIPAIS CONTAS DA DEMONSTRAÇÃO DO


RESULTADO

1 RECEITA OPERACIONAL BRUTA

A Receita Operacional Bruta da empresa é constituída pelo valor bruto


faturado. O faturamento representa o ingresso bruto de recursos externos
provenientes das operações normais de venda a prazo ou a vista, no mercado
nacional e exterior, de produtos, mercadorias ou serviços. Outras receitas de
caráter operacional secundário devem figurar após o Lucro Bruto, reservando-se
para este, portanto, o papel de mostrar o resultado bruto da atividade operacional
da empresa.
Da Receita Operacional Bruta devem ser deduzidos os impostos incidentes
sobre vendas, as vendas canceladas e os abatimentos concedidos para se
chegar à Receita Operacional Líquida; a esta adicionam-se os incentivos fiscais
sobre exportações.
70 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

É interessante notar que a legislação tributária define a Receita Bruta como


vendas faturadas menos impostos diretos não cumulativos, como o IPI (Imposto
sobre Produtos Industrializados), que portanto, não se inclui entre os impostos
incidentes sobre vendas. Assim, a Receita Bruta é dada pelas vendas faturadas
menos esses impostos, enquanto a Receita Líquida é dada pela Receita Bruta
menos as deduções de abatimentos e devolução, menos os impostos incidentes
sobre vendas, como ICMS, ISS, e menos os encargos diretamente proporcionais
às vendas, como PIS e CONFINS.

Isso não é exatamente o que prevê a Lei das S.A. que não faz nenhuma
distinção entre as citadas categorias de impostos, bem como não se refere a
encargos proporcionais às vendas.

Na prática, a maioria das empresas segue as determinações tributárias;


entretanto, algumas incluem o IPI entre os impostos incidentes sobre vendas e
apresentam as Vendas Brutas sem a exclusão do IPI.

DEDUÇÕES DAS VENDAS.


• Vendas Canceladas: é a conta devedora que registra o montante das vendas
devolvidas pelos clientes, tendo em vista defeitos apresentados ou não-atendimento
das especificações do pedido.
• Abatimentos sobre Vendas: compreendem os descontos concedidos a clientes,
após a entrega de produtos/mercadorias, por defeitos de qualidade, danos de
entrega, não-atendimento completo de especificações etc.
IMPOSTOS INCIDENTES SOBRE VENDAS
• Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI): é um imposto cobrado pela União
sobre os produtos que sofrem industrialização definida como operação que lhe
modifique a natureza, o funcionamento ou o seu acabamento. A empresa atua como
agente arrecadador do IPI; nas suas vendas cobra dos clientes o IPI correspondente;
desse valor deduz a parcela já paga nas compras; a diferença entre o imposto
cobrado nas vendas e o pago nas compras é recolhida ao governo federal. Para fins
de apresentação a empresa mostra o valor das vendas brutas já deduzido do IPI
incidente sobre as vendas. Entretanto, algumas empresas incluem o IPI entre os
impostos incidentes sobre vendas.
• Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS): é um imposto
incidente sobre o valor agregado em cada circulação de mercadoria. O valor pago
pela empresa refere-se à diferença entre o imposto contido nas vendas e aquele
pago nas compras, apurado através de escrituração fiscal específica.
• Imposto sobre Serviços (ISS): é um imposto cobrado pelos municípios, incidente
sobre serviços prestados.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 71

2 CUSTOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS VENDIDOS (CPV)

• Custo dos Produtos Vendidos (empresas industriais): as empresas industriais,


caracterizadas pela transformação de bens e sua comercialização apresentam os
seguintes componentes do custo dos produtos vendidos:

CPV= EI + C P P - E F
CPP= MC + MOD + CIF
onde:
El - Estoques Iniciais
CPP - Custo de Produção do Período
EF - Estoques Finais
MC = Materiais Consumidos
MOD- Mão-de-obra Direta
CIF = Custos Indiretos de Fabricação

O custo de produção do período-CPP é dado pela soma de materiais consumidos,


mão-de-obra direta e custos indiretos de fabricação.
MATERIAIS CONSUMIDOS: corresponde ao custo dos materiais utilizados na
produção durante o período compreendido pela demonstração do resultado. Seu valor
é obtido da seguinte forma:

MC=EIM + C L - E F M
onde:
EIM = Estoque Inicial do Material existente na empresa no início do período.
CL = Compras Líquidas: compras brutas de matérias-primas realizadas no perío-
do deduzidas das devoluções de compras, abatimentos, impostos faturados
(IPI, ICMS), e adicionadas das despesas com transportes de compras,
seguros de compras etc.
EFM - Estoque Final de Material existente na empresa no final do período, ou seja,
o material adquirido e não consumido.

MÃO-DE-OBRA DIRETA: compreende a remuneração paga aos empregados da


fábrica cujo trabalho é diretamente proporcional à produção física. Incluem-se, também,
os adicionais de salários como horas-extras e prêmios de produção, bem como os
encargos sociais.
CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO: representam todos os custos necessários
à produção, mas que não são diretamente vinculados ao produto nem variam proporcio-
nalmente à produção.
72 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

• Custos dos Serviços Prestados: o Custo dos Serviços Prestados, no caso das
empresas prestadoras de serviços, corresponde aos custos incorridos para a pres-
tação dos serviços. Os itens componentes do Custo dos Serviços Prestados variam
de empresa para empresa, em função do seu próprio ramo de atividade. Há, porém,
casos de empresas prestadoras de serviços que não evidenciam na demonstração
do resultado o custo dos serviços prestados, contabilizando-o com as despesas
operacionais, o que é um erro bastante prejudicial para a Análise de Balanços.
• Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) (empresas comerciais): as empresas
comerciais caracterizadas pela atividade de compra de mercadorias para serem
revendidas no mercado apresentam os seguintes componentes do custo das mer-
cadorias vendidas:

CMV=EI + C L - E F

onde:
E= Estoque das mercadorias destinadas à venda no início do período.
CL= Compras Líquidas: as compras brutas de mercadorias realizadas no período,
deduzidas das devoluções de compras, abatimentos, impostos (IPI, ICMS)
e adicionadas das despesas com transportes de compras, seguros de
compras etc.
EF= Estoque das mercadorias destinadas à venda existentes no final do exercí-
cio.
A Lei das S.A. determinou a apresentação somente do montante de "custo das
mercadorias e serviços vendidos", razão por que apenas esse total é publicado pelas
Sociedades Anônimas (ver p. 55).
Para a Análise de Balanços, porém, isso é insuficiente, pois há um valor essencial
que deixa de ser fornecido: trata-se do montante de compras.
Através desse valor será possível ao analista calcular o prazo médio de pagamento
de compras cuja fórmula é:
360 x Fornecedores + Compras.
No caso de empresas comerciais, é possível encontrar o valor das compras da
seguinte forma:

CL = EF + CMV - El

Compras Líquidas: Estoque Final: Custos das Estoque Inicial:


é a incógnita conhecido pelo Mercadorias conhecido pelo
balanço final Vendidas: balanço inicial
fornecido pela
demonstração do
resultado
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 73

No caso das empresas industriais, porém, não há forma de se encontrar o valor das
compras. A solução é solicitar esclarecimentos à empresa ou tentar estimar o valor
das compras partindo do pressuposto de que o custo de produção do período
costuma situar-se na maioria dos ramos industriais entre 20% e 30% do Custo de
Produtos Vendidos. Assim:

CL = EF + CPV - CPP - El

Compras Estoque Final: Custo de Custo de Estoque


Líquidas: conhecido Produtos Produção do Inicial:
incógnita pelo balanço Vendidos: Período = conhecido
final fornecido pela 20% ou 30% pelo balanço
demonstração do CPV inicial
do resultado
do exercício

Logo:
CL = EF + (CPV + 20% ou 30% CPV) - EF
É preciso, porém, cuidado nesta estimativa, pois pode acontecer que, pela estrutura
de produção, a empresa tenha diferentes percentuais de custo de produção em
relação ao custo de produtos vendidos.

3 DESPESAS OPERACIONAIS

As Despesas Operacionais, segundo a Lei das S.A., compreendem as


despesas necessárias para a empresa funcionar, isto é, vender, administrar e
financiar suas atividades. Não se confundem com as despesas de produção, ou
seja, aquelas necessárias para transformar a matéria-prima em produto acabado.
Do ponto de vista da Análise de Balanços, seria interessante que as despesas
financeiras não estivessem entre as despesas operacionais. Assim, poder-se-ia
apurar o lucro das empresas independentemente de sua estrutura de capital,
porque as despesas financeiras dependem do volume de empréstimos tomados.
Caso a empresa não tome empréstimos, não terá despesas financeiras. Assim,
essas despesas não dependem da capacidade operacional, mas de sua estrutura
de capital.
Não basta, porém, retirar as Despesas Financeiras das Operacionais para
esse tipo de análise. É preciso também dar interpretação mais adequada à
correção monetária. Por isso, no Modelo de Padronização mantivemos as
Despesas Financeiras entre as Operacionais.
74 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

• Despesas de Vendas: representam as despesas necessárias para as vendas, bem


como as de promoção e distribuição dos produtos da empresa no mercado, e ainda
os riscos assumidos pela venda, como garantias e provisão para devedores duvido-
sos.
• Despesas Administrativas: compreendem as despesas incorridas para a direção
e execução das tarefas administrativas, bem como as despesas gerais que benefi-
ciam os negócios da empresa.
• Despesas Financeiras: representa a remuneração paga a terceiros que financiaram
a empresa. As despesas financeiras englobam:
- Comissões e despesas bancárias: são despesas cobradas pelas instituições
financeiras nas operações de desconto, repasses, empréstimos etc.
- Descontos concedidos: são descontos dados a clientes por pagamentos
antecipados de duplicatas.
- Juros: são os juros pagos em empréstimos, financiamentos, desconto de títulos
etc.
- Correção monetária prefixada: relativa à obrigação que tem preestabelecida
a taxa de correção monetária.
- Variação cambial: registra os acréscimos de dívidas devidos à atualização
periódica dos empréstimos e financiamentos pagáveis em moeda estrangeira.
- Correção monetária: registra os encargos de correção monetária sobre em-
préstimos e financiamentos sujeitos à cláusula de correção monetária, normal-
mente fixada com base na variação do valor nominal da OTN (ou UPC).
• Receitas Financeiras: representam os ganhos de capitais aplicados em investimen-
tos temporários, bem como outros ganhos de natureza financeira como:
- Descontos obtidos: decorrem de pagamentos antecipados de duplicatas a
fornecedores.
- Juros ativos: referem-se aos juros cobrados de clientes por atraso de paga-
mento, postergação de vencimento de títulos etc.
- Receita de investimentos temporários: aqui são registradas as receitas totais
provenientes de aplicações temporárias de caixa.
• Outras Receitas e Despesas Operacionais: compreendem as receitas e despesas
oriundas das atividades acessórias do objeto social da empresa, tais como:

4 OUTRAS RECEITAS E DESPESAS

• Participação nos resultados de coligadas e controladas pelo método de equi-


valência patrimonial: compreende os acréscimos ou diminuições de investimentos
avaliados pela equivalência patrimonial, em função de lucros ou prejuízos nas
coligadas ou controladas.
ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 75

• Dividendos e rendimentos de outros investimentos: referem-se às receitas


auferidas pela empresa provenientes de outros investimentos que não os avaliados
pelo método patrimonial.
• Amortização de Ágio ou Deságio de Investimentos: compreende os ganhos ou
perdas decorrentes de amortização de ágio ou deságio havido na aquisição de ações
e quotas avaliadas pela equivalência patrimonial.
• Receitas diversas: compreendem receitas provenientes de transações eventuais
ou secundárias.

5 DEMAIS CONTAS DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

Após a apuração do Lucro Operacional, surgem diversos itens na Demons-


tração do Resultado. Primeiramente, são os resultados não operacionais que
representam receitas e despesas, ganhos e perdas não previsíveis, cuja ocor-
rência constitui um fato esporádico ou de eventual, não ligado às atividades
normais de obtenção de lucro ou de despesas. Após o resultado não operacional,
temos o saldo da correção monetária, a provisão para imposto de renda, as
participações no lucro (representadas por gratificações aos empregados, parti-
cipações de administradores, debenturistas etc.).
Chega-se então ao lucro líquido que representa o resultado final alcançado
pela empresa após remunerar todos os fatores de produção, exceto o capital
próprio, cuja remuneração é o próprio lucro líquido.
Veja-se, agora, em detalhe, sob que títulos aparecem as demais contas de
resultados nas demonstrações divulgadas pelas empresas.

• Resultado não Operacional: compreende o resultado de operações não vinculadas


ao objeto social da empresa como lucros ou prejuízos na venda de Ativo Permanente,
baixa de Ativo Permanente, sinistros e suas indenizações etc.
• Saldo da Correção Monetária: expressa o resultado do efeito da inflação sobre o
balanço da empresa. Quando o saldo for devedor e, portanto, subtrativo do lucro,
significa que a empresa perdeu dinheiro com a inflação. O saldo credor significa que
a empresa ganhou dinheiro. Interessa, por enquanto, apenas que ele expressa o
resultado da inflação, que é apresentado após os resultados não operacionais e que
praticamente não surge nas Demonstrações de Resultados sob títulos diferenciados,
aparecendo normalmente com os nomes "Saldo da Correção Monetária" ou "Resul-
tado da Correção Monetária".
• Provisão para Imposto de Renda: apurado o lucro, uma parte será destacada para
pagamento do imposto de renda. A Provisão para Imposto de Renda que figura na
Demonstração do Resultado nem sempre é calculada com rigor, apresentando
diferenças em relação ao imposto de renda a ser efetivamente declarado. Essa
diferença, se não é significativa e não resulta de erro de cálculo, é normalmente
76 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

jogada como despesa do exercício seguinte. Caso contrário, deve ser lançada como
"Ajustes de Exercícios Anteriores", na Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acu-
mulados.
Após o recolhimento das parcelas do imposto de renda, uma parte, já especifi-
cada na declaração de renda da empresa, será destinada a incentivos fiscais,
retornando, portanto, à empresa esse título. A empresa pode então contabilizar os
incentivos fiscais no Ativo Circulante e dar entrada do montante diretamente no
Patrimônio Líquido, como se tivesse recebido uma subvenção governamental.
Posteriormente, ao receber um documento chamado C l . - Certificado de Investi-
mentos -, a empresa transferirá os mencionados incentivos fiscais para o grupo
"Investimentos", no Ativo Permanente. Pela mecânica do sistema de incentivos
fiscais em que a empresa só faz jus aos mesmos após o pagamento do imposto, a
provisão para imposto de renda deve ser feita pelo montante global, como se não
existissem incentivos fiscais.
A legislação do Imposto de Renda define "lucro inflacionário" como sendo o saldo
credor da conta correção monetária menos as variações monetárias passivas mais
as variações monetárias ativas. Uma parte do lucro inflacionário é considerada
realizada de acordo com o percentual de baixas ou depreciação do Ativo Permanente
no exercício. O restante do lucro inflacionário só terá imposto de renda a pagar à
medida que a empresa for realizando-o. O imposto de renda calculado sobre o lucro
inflacionário é chamado Imposto de Renda Diferido, pois só será pago em exercícios
futuros. Entretanto, a provisão para o imposto de renda deve ser constituída pelo
total, ou seja, pelo imposto de renda a ser pago no exercício seguinte mais o imposto
de renda diferido. Este último figurará no Exigível a Longo Prazo e estará sujeito à
correção monetária. À medida que a empresa realiza o lucro inflacionário transfere
o Imposto de Renda Diferido do Longo Prazo para o Imposto de Renda a Pagar a
Curto Prazo. Dessa forma, o montante a pagar do imposto de renda não coincidirá
necessariamente com a provisão para imposto de renda constituída no exercício e
apresentada na Demonstração do Resultado.
• Gratificações e Participações Estatutárias: representam para a empresa despe-
sas proporcionais ao lucro, em virtude de participações de empregados, diretores,
debenturistas, portadores de partes beneficiárias, bem como contribuições para
instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados. Essas partici-
pações e contribuições, sempre que previstas estatutariamente, são contabilizadas
na própria data do balanço mediante débito na Demonstração de Resultado e crédito
de provisões no Passivo Circulante. Os principais componentes deste item são:
- As participações no lucro de empregados ou administradores: que representam
uma espécie de parcela complementar de salários cujo valor, contudo, é apurado
com base no lucro, mas não deixa de ser uma despesa adicional da prestação
de serviço recebida.
- As participações dos debenturistas: que representam uma espécie de despesa
financeira adicional, pois é a parte variável da remuneração devida aos adqui-
rentes das debêntures emitidas.
- As contribuições para instituições ou fundos de assistência ou previdência de
empregados: que representam as contribuições apuradas em função do lucro
do exercício.
Correção Monetária na
3 Lei das S.A.

A correção monetária de elementos do balanço e seu reflexo sobre os


resultados do exercício, segundo a Lei das S.A. têm-se mostrado de difícil
entendimento por parte dos usuários das demonstrações financeiras e provocado
não poucas dúvidas e equívocos.
Tivemos ocasião de registrar, por várias vezes, e em distintas fontes,
interpretação incorreta do significado da correção monetária e até decisões
errôneas da parte de algumas empresas.
Entre as dúvidas e críticas, sobressaem as seguintes:

a) Sobre o saldo da correção monetária como despesas:


• É o saldo da correção monetária efetivamente uma despesa? Onde foi "gasta"
essa despesa?
• Seria mais adequado mostrar o lucro sem computar o saldo da correção
monetária, figurando esta somente na destinação do lucro?
b) Sobre o saldo da correção monetária como receita:
• Por que o saldo positivo da correção monetária é computado como receita se
não corresponde à entrada de recursos? Onde se acha aplicada essa receita?
• O saldo positivo da correção monetária distorce os resultados, levando à
apresentação de lucros fictícios.
c) Sobre a correção monetária em geral:
• O processo de correção monetária da Lei das S.A. é correto? É adequado?
• A correção monetária pode transformar uma empresa altamente rentável numa
organização contabilmente deficitária ou então chegar a indicar lucro numa
empresa parada apenas pela correção de seus bens, somente por um jogo de
contas.
78 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

O objetivo deste capítulo é esclarecer dúvidas e aspectos nebulosos relati-


vos à correção monetária através de exposição simplificada e com ampla
exemplificação numérica.

1 INFLAÇÃO E TÉCNICAS DE CORREÇÃO MONETÁRIA

As modificações de preços de bens e serviços representam o fato mais


perturbador para a contabilidade tradicional, e a solução desse problema, o maior
desafio à contabilidade moderna.
Atualmente, já são de domínio dos contadores técnicas de correção mone-
tária, bastante desenvolvidas, que, embora exijam conhecimentos e procedimen-
tos avançados em relação às práticas contábeis massificadas, são perfeitamente
factíveis e altamente recomendáveis para as empresas.
Para quem vinha estudando as referidas técnicas, as disposições das Lei
das S.A. sobre correção monetária, bem como os detalhes trazidos pela legisla-
ção fiscal, são relativamente simples e não encerram nenhum mistério.
O processo de correção monetária da Lei das S.A. está correto, embora
incompleto.
A simplicidade do método é, sem dúvida, característica intencional do
legislador, a fim de que possa ser obedecido por qualquer empresa, por mais
elementar que seja o seu sistema contábil.
O processo de correção monetária da Lei das S.A. foi útil como inovação
até quando a inflação não ultrapassou no Brasil os 50% anuais. Após isso
tornou-se insuficiente como mostraremos.
Entretanto, do ponto de vista legal, para efeitos fiscais e societários, as
demonstrações devem ser preparadas e copiadas nos livros segundo a forma de
correção monetária da Lei das S.A. Por isso é importante compreendê-la,
conforme a exposição feita adiante.
Para expurgar os efeitos inflacionários adota-se a chamada CORREÇÃO
INTEGRAL DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS cuja essência aborda-se no
Capítulo 4, fazendo as devidas comparações com os resultados obtidos pela Lei
das S.A.
Adicionalmente são apresentadas técnicas de correção monetária integral
em dólares elaboradas de fora da empresa, no Apêndice do Capítulo 4.
Para entender as disposições da Lei das S.A. é preciso visualizar os efeitos
provocados pela inflação sobre as demonstrações financeiras e como corrigi-los.
Só assim se poderá compreender a essência da correção monetária. Após isto,
parecerá claro o processo da Lei das S.A.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 79

2 FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NA


LEI DAS S.A.

O ativo das empresas compreende simplificadamente dois tipos de direitos:

• ativo monetário: moeda e títulos a receber;


• ativo não monetário: bens.

Quando existe inflação, os primeiros perdem valor, uma vez que, tanto a
moeda quanto os títulos têm um valor estipulado, chamado valor de face (a
inflação faz com que esses direitos percam poder aquisitivo).
Na Figura 3.1 é representado da seguinte forma o que ocorre com o ativo
monetário:

VALOR
NOMINAL
PERDA
ATIVO VALOR
MONETÁRIO REAL

Tempo

FIGURA 3.1 Efeito da inflação no ativo monetário.

Já os bens, ativo não monetário, não sofrem perda de seu valor em relação
aos demais bens e serviços oferecidos na economia, mantendo, portanto, seu
valor real. Como todos os preços sobem, o valor nominal dos ativos não
monetários também subirá. Esse fato é representado na Figura 3.2.

VALOR
NOMINAL
Correção a ser
ATIVO NÃO efetuada
MONETÁRIO
VALOR
REAL
Tempo

FIGURA 3.2 Efeito da inflação no ativo não monetário.


80 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Em resumo, como decorrência da inflação, há dois tipos distintos de efeitos


sobre o ativo:

• Ativo monetário: sofre perda que deve ser reconhecida pela empresa;
• Ativo não monetário: não sofre perda nem oferece ganho; entretanto, seu valor
nominal deve ser alterado, ou seja, corrigido.

No que tange ao passivo, pode-se, igualmente, dividi-lo em duas categorias:

• Passivo monetário: representado por direitos de terceiros, sofre idêntico efeito da


inflação que o ativo monetário, ou seja, com a inflação perde valor real e mantém o
valor nominal; observe-se, porém, que a perda de valor real dos direitos de terceiros
representa para a empresa tomadora um ganho. Graficamente, na Figura 3.3
apresenta-se o passivo monetário.

VALOR
NOMINAL
GANHO

PASSIVO
MONETÁRIO VALOR
REAL
Tempo

FIGURA 3.3. Efeito da inflação no passivo monetário.

• Patrimônio líquido: é a diferença entre o ativo total e passivo monetário; sofre, por
isso, as perdas e ganhos decorrentes da inflação sobre os itens monetários e reflete
a correção do valor nominal do ativo monetário.
Pode-se agora chegar a alguma definição de como proceder contabilmente,
no que se refere à correção monetária do balanço:
• as perdas dos ativos monetários representam uma despesa1 e devem ser retiradas
da receita;

1. Uma boa compreensão de despesa é obtida considerando-a como aquilo que deve ser retirado
da receita para repor (ou ressarcir o ativo de) consumo de valores. Dentro dessa idéia, a
desvalorização dos itens monetários representa o consumo de parte do seu valor real
decorrente da elevação geral de preços de bens e serviços na economia (inflação) que será
retirada da receita para recompor-se o seu valor real. É fácil entender isso no caso de uma
aplicação em Caderneta de Poupança. Suponhamos que uma pessoa tenha aplicado $ 1.000
por um ano, ao cabo do qual recebe $ 460 de juros + correção monetária, considerados como
receita, sendo $ 400 de correção monetária. É óbvio que dos $ 460 tiram-se estes $ 400 de
correção monetária para se chegar ao lucro. Isto é, os $ 400 representam uma despesa
decorrente do consumo de poder de compra do investimento inicial, retirada da receita para
repor o valor do referido investimento.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 81

• os ganhos com a redução do valor real do passivo monetário representam receita a


ser adicionada às demais receitas;2
• a variação de valor do ativo não monetário não representa ganho (nem perda), mas
exige correção do valor nominal de seus itens. Essa correção não expressa ganhos,
mas simples atualização de valor;3
• a contrapartida das despesas, receitas e correções acima será lançada no Patrimô-
nio Líquido que, assim, não requer correção específica.

As perdas com ativo monetário e os ganhos com passivo monetário podem


ser confrontados entre si, levando-se à Conta de Resultados apenas o saldo que
representará despesa quando negativo, e receita quando positivo.
No que se refere ao ativo não monetário, é possível ainda distinguir duas
classes:

• aqueles que permanecem na empresa por longo período, geralmente equivalente ao


de sua vida útil: compõem o ativo permanente;
• aqueles alienáveis e terceiros, dentro do ciclo operacional, por ser essa sua finali-
dade: são os estoques.

2.1 ESTOQUES TRATADOS COMO ITENS MONETARIOS

A correção monetária dos estoques - dentro da idéia de correção do valor


dos bens retro-referida - implica custos de produtos vendidos corrigidos, ou seja,
retira-se da receita, além do custo original dos estoques vendidos, também a sua
correção monetária, equiparando-se, nesse ponto, aos ativos monetários, cuja
correção também é retirada da receita.
Em vista disso, dois procedimentos mostram-se possíveis, no que tange ao
tratamento de correção dos efeitos inflacionarios aplicável aos estoques:

• corrigi-los periodicamente (de preferência, mensalmente);


• considerá-los como se fossem ativo monetário.

2. Receita é o aumento do Patrimônio Líquido gerado, ou por aumento do Ativo, ou por redução
do Passivo. Ora, a inflação reduz o Passivo Exigível, em termos reais, aumentando, pois, o
Patrimônio Líquido (que é a diferença entre Ativo e Passivo Exigível).
3. Isto esclarece de uma vez por todas a interpretação errônea de que a empresa aufere ganhos
com a valorização do ativo imobilizado em virtude da correção monetária. Ora, esta correção
visa apenas expressar, em moeda da data de fechamento do balanço, o valor equivalente ao
custo de aquisição e não ganhos havidos. A escrituração das contas sujeitas à correção
monetária em ORTN exigidas pela legislação fiscal é mais um fato que reforça esse entendi-
mento.
82 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A diferença de resultados entre esses dois procedimentos dá-se apenas nos


estoques que permanecem na empresa, no encerramento do balanço. No
primeiro, aparecem pelo custo histórico corrigido e, no segundo, aparecem pelo
custo histórico, ajustando-se o resultado contábil no exercício em que forem
vendidos.
Considerando os estoques como se fossem itens monetários, computa-se
como perda a variação de valor devida à inflação, a qual será somada às perdas
dos demais itens de ativo monetário e subtraída dos ganhos com passivo
monetário, sendo o saldo, como já se disse, levado à Conta de Resultados.
Esse procedimento conduz a resultados menos exatos em relação a consi-
derar os estoques como itens não monetários, porém é extraordinariamente mais
simples na prática.
A partir de agora, a referência a ativo monetário significa estoques + ativo
monetário ou seja, ativo circulante.
Quando há referência ao ativo não monetário, está-se referindo ao ativo
permanente.

2.2 FÓRMULAS DE CORREÇÃO MONETARIA


O confronto dessas perdas e ganhos referidos acima pode também ser feito
de outra forma: subtrai-se o passivo monetário do ativo monetário e à diferença
aplica-se a taxa de inflação, encontrando-se o saldo a ser levado a resultados.
A diferença entre ativo monetário e passivo monetário (em virtude da
equação do balanço) é idêntica à outra que se obtém subtraindo-se o ativo não
monetário do patrimônio líquido, conforme ilustra a Figura 3.4.

Ativo
Monetário
Passivo
(inclusive Monetário
Estoques)

Valor a ser
corrigido Patrimônio
Ativo não Líquido
Monetário (Bens)

FIGURA 3.4 Representação gráfica do balanço para efeito de correção monetária.

Assim, o saldo de perdas ou ganhos devidos à inflação que aparece na


Conta de Resultados - chamado "saldo de perdas/ganhos" - pode ser obtido de
duas formas:
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 83

Saldo de perdas/ganhos = (AM - PM) x Tlp


OU
Saldo de perdas/ganhos= (PL - AP) x Tlp
onde:
AM = Ativo Monetário
PM = Passivo Monetário
Tlp = Taxa de Inflação do Período
PL = Patrimônio Líquido
AP = Ativo Permanente

Acontece, entretanto, que a correção da diferença, segundo qualquer das


fórmulas acima, não é conveniente, na prática, visto que ocorrem continuamente
alterações da mesma.
Assim, é mais adequado corrigir, como foi dito inicialmente, cada lado
isoladamente e, depois, confrontar o produto da correção, conforme as fórmulas
a seguir:

(a) Saldo de perdas/ganhos= AM x Tlp - PM X Tlp


ou
(b) Saldo de perdas/ganhos - PL x Tlp - AP x Tlp

NOTA SOBRE DA TAXA DE INFLAÇÃO UTILIZADA


Se os valores sobre os quais se está aplicando a taxa de inflação não se
alterassem ao longo do ano, aplicar-se-ia, pura e simplesmente, a taxa anual de
inflação. Como, todavia, os valores do ativo monetário, passivo monetário, ativo
não monetário e patrimônio líquido sofrem alterações ao longo do ano, são
aplicadas diferentes taxas de inflação a diferentes valores básicos, como ilustra
a Figura 3.5.

Ativo
Circulante

140.000

120.000

100.00

jan. abr. jul. set. dez.

8% 10% 22% Taxa de Inflação

40%

FIGURA 3.5. Comportamento da inflação e Ativo Circulante.

Perda no Ativo Circulante = 8% X 100.000 +10% X 120.000 + 22% X 140.000


84 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

3 PROCEDIMENTOS DE CORREÇÃO MONETÁRIA NA


LEI DAS S.A.

A Lei nº 6.404 traz um único artigo sobre a correção monetária cujo texto é
o seguinte:

"Art. 185. Nas demonstrações financeiras deverão ser considerados os efeitos da


modificação no poder de compra da moeda nacional sobre o valor dos elementos do
patrimônio e os resultados do exercício.
§ 1º Serão corrigidos, com base nos índices de desvalorização da moeda nacional
reconhecidos pelas autoridades federais:
a) o custo de aquisição dos elementos do ativo permanente, inclusive os recursos
aplicados no ativo diferido, os saldos das contas de depreciação, amortização e
exaustão, e as provisões para perdas;
b) os saldos das contas do patrimônio líquido.
§ 2° A variação nas contas do patrimônio líquido, decorrente da correção monetária,
será acrescida aos respectivos saldos, com exceção da correção do capital realizado,
que constituirá a reserva de capital de que trata o § 2º do art. 182.
§ 39 As contrapartidas dos ajustes de correção monetária serão registradas em conta
cujo saldo será computado no resultado do exercício."

Veja-se como o conteúdo dessas disposições adere à exposição feita.


Para efeito de simplificação das explicações, distinguem-se apenas dois
grupos de ativo, a saber:

• ativo monetário;4
• ativo não monetário.

A Lei das S.A., no que se refere à correção monetária, distingue dois tipos
de ativo:

• Circulante + Realizável a Longo Prazo.


• Permanente.

Todo o Ativo Permanente, segundo a lei, deve ser corrigido. Considera-se,


pois, que investimentos em outras empresas ("Investimentos"), em bens ("Inves-
timentos" ou "Imobilizado"), e em despesas que beneficiarão exercícios seguintes
("Diferido") sofrem igual efeito da inflação.

4. Compreende os estoques (que havíamos transferido para o grupo de ativo monetário).


CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 85

O comportamento desses itens, portanto, é considerado pela Lei das S.A.


como idêntico ao do ativo não monetário, os quais, sob inflação, mantêm o valor
real e crescem de valor nominal, devendo, pois, ser corrigidos. Esta é uma
simplificação sujeita a críticas; entretanto, dentro do espírito da lei, consideramo-
la válida em vista da necessidade de concisão na norma geral aplicável a todas
as S.A.
Os itens de Ativo Circulante e Realizável a Longo Prazo não são corrigidos
(e considera-se estarem ambos sob o mesmo efeito da inflação). Dessa forma,
o Ativo Circulante e Realizável a Longo Prazo são tratados como ativos mone-
tários: com a inflação, perdem valor real e mantêm o valor nominal.
O Passivo Circulante e o Exigível a Longo Prazo são considerados passivo
monetário, na Lei das S.A.5
A Figura 3.6 evidencia o valor cuja correção será levada a resultados,
segundo a terminologia da Lei das S.A.

Ativo Passivo
Circulante Circulante
+ +
Realizável a Exigível a
Longo Prazo Longo Prazo

Valor a ser
corrigido Patrimônio
Ativo Líquido
Permanente

F I G U R A 3.6. Representação gráfica do balanço para efeito de correção monetária


na Lei das S.A.

As fórmulas de apuração do "saldo de perdas/ganhos" seguindo a termino-


logia da Lei das S.A., ficam assim:

5. A Lei das S.A. não usou a terminologia de Ativo Monetário, Ativo não Monetário e Passivo
Monetário, e tampouco faz referência a isso. O artigo 185, que trata da correção, é conciso e
seco. Nós é que estamos dando essa classificação, usando as idéias expostas no item 2
(Fundamentos da Correção Monetária), a fim de explicar em que se baseia o método de
correção da lei.
86 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

(1) Saldo da Correção Monetária - (AC + RLP) X TIp - (PC + ELP) X TIp
OU

(2) Saldo da Correção Monetária - PL X TIp - AP X TIp

onde:
AC = Ativo Circulante
RLP = Realizável a Longo Prazo
TIp = Taxa de Inflação do Período
PC = Passivo Circulante
ELP = Exigível a Longo Prazo
PL = Patrimônio Líquido
AP = Ativo Permanente

Observe-se que as fórmulas (1) e (2) são, respectivamente, equivalentes às


fórmulas (a) e (b) do item 2.2.
A Lei das S.A. optou pela fórmula (2), e isto nos parece conveniente pelos
seguintes motivos:

• Redução de trabalho: o Ativo Permanente teria de qualquer forma de ser corrigido


para registrar contabilmente o novo valor nominal. Se fosse usada a fórmula (1), a
correção do (Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo) - (Passivo Circulante +
Exigível a Longo Prazo) se faria apenas para cálculo do Saldo da Correção Mone-
tária, sem alteração dos registros contábeis, uma vez que o valor nominal dos ativos
monetários não se altera, e esse trabalho não pouparia o da correção do Ativo
Permanente.
• A correção do Patrimônio Líquido permite salutar atualização de suas contas ao valor
nominal da data de fechamento do balanço e reflete poder aquisitivo equivalente ao
da época de sua formação (em vez da contrapartida dos débitos da correção do ativo
permanente figurarem como reservas).

O texto do artigo 185 da Lei das S.A. dispõe:

"As contrapartidas dos ajustes de correção monetária serão registradas numa conta
cujo saldo será computado no resultado do exercício."

Mais adiante, no artigo 187, esse saldo aparece com a denominação "saldo
da conta de correção monetária".
Esse "saldo da Conta de Correção Monetária" corresponde ao que vínha-
mos denominando "saldo de perdas/ganhos". A única diferença é que ele é
apurado através de conta, dentro do sistema contábil (em vez de ser através de
uma fórmula), que nada mais é do que um método de adição e subtração.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 87

3.1 ESQUEMA DA CORREÇÃO MONETARIA

Escrevendo a fórmula (2) na linguagem contábil, obtém-se o esquema da


Figura 3.7.

ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Realizável a Longo Prazo Exigível a Longo Prazo
Permanente Patrimônio Liquido
Investimentos Capital
Imobilizado Reservas de Capital
Diferido Reservas de Reavaliação
Reservas de Lucro
Lucros Acumulados

CONTA CORREÇÃO MONETÁRIA

X Y
Computado Computado
como Receita como Despesa
na Demonstração Se saldo credor (Y>X) Se saldo devedor (X>Y) na Demonstração
do Resultado do Resultado

FIGURA 3.7. Esquema da correção monetária.

Como já percebeu o leitor, a correção monetária prevista na Lei das S.A.


encontra amplo apoio na teoria estabelecida para explicar os efeitos da inflação
sobre as demonstrações financeiras se sua correção (lembre-se da equivalência
entre a fórmula (2) e a fórmula (b)).
Entre algumas formas possíveis para o cálculo das perdas ou ganhos
devidos à inflação, a lei determinou aquela que fosse, simultaneamente, de mais
simples execução e mais precisa.6
Sob esse processo, porém, é difícil visualizar em que consistem as perdas
ou ganhos devidos à inflação.

6. O cálculo de perdas ou ganhos devidos à inflação calculado sobre a diferença entre os valores
iniciais do Patrimônio Líquido e do Ativo Permanente seria mais simples ainda, mas conduziria
a imprecisões por deixar de levar em conta as variações de Patrimônio Líquido e Ativo
Permanente durante o exercício.
88 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Se o método de correção da Lei das S.A. fosse o de se apurar o saldo de


perdas ou ganhos através da correção do ativo monetário (compreendendo Ativo
Circulante e Realizável a Longo Prazo) menos a correção do passivo monetário
(Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo), tornar-se-ia mais simples, pelo
menos para determinada faixa do público, entender o "fenômeno" correção
monetária de Demonstrações Financeiras.
Entender que há perda devido à inflação no ativo não representado por bens
todos entendem, quer pela simplicidade da idéia, quer porque o público brasileiro
está bem familiarizado com a perda que causa a inflação. Estender isso para o
passivo monetário não é difícil, já que é intuitiva a idéia de que "se, quando tenho
a receber, eu perco com a inflação, quando devo, ganho". O confronto entre
ganhos e perdas também é intuitivo, e assim poderia ser mais bem assimilado o
que é a correção monetária.
No caso de ganhos devidos à inflação (a que corresponde o saldo credor
da Conta Correção Monetária) é ainda mais flagrante a vantagem de entendi-
mento representada pelo método de correção de ativo e passivo monetário sobre
o de correção de Ativo Permanente e Patrimônio Líquido: os ganhos devidos à
desvalorização das dívidas são maiores que as perdas do ativo monetário. É
claro, não cabe à lei assumir o papel didático em matéria técnica, e é incontestável
seu acerto e concisão na disposição sobre a correção monetária.
O resultado da correção monetária pode ser visualizado através dos exem-
plos que seguem.

CONCLUSÃO

A inflação provoca perdas nos ativos monetários e ganhos nos passivos


monetários, os quais podem ser confrontados entre si e lançados a resultados.
Os ativos não monetários não sofrem teoricamente os efeitos da inflação
não produzindo perdas nem ganhos, entretanto devem ter os seus valores
atualizados, isto é, corrigidos monetariamente.
O método de correção da Lei das S.A. conduz ao mesmo resultado que
aquele obtido pelo cálculo de perdas e ganhos com a inflação sobre os itens
monetários e se acha, portanto, correto, desde que aceitas as simplificações
existentes, como, por exemplo, a não correção de estoques finais.
O saldo da correção monetária apurado segundo o método da Lei das S.A.
tem reflexos econômicos e financeiros, podendo tanto quanto qualquer receita
operacional ser computado para todos os fins, inclusive o de distribuição de
dividendos, mesmo no caso de Patrimônio Líquido negativo.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 89

Como o método da Lei das S.A. não permite visualizar a origem do saldo
da correção monetária, recomenda-se calcular os ganhos e perdas sobre os
ativos e passivos monetários.
A falta de correção do saldo de lucros ou de ativo monetário líquido gerado
durante o ano não afeta o lucro líquido, entretanto, para fins gerenciais, recomen-
da-se a correção de todos os itens da Demonstração do Resultado para moeda
do final do exercício.
Outras conclusões relativas aos efeitos inflacionários e sua análise acham-
se no capítulo seguinte, principalmente no que diz respeito aos aspectos opera-
cionais e não operacionais da inflação.
90 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Exemplos Numéricos da Correção Monetária


Apêndice na Lei das S.A.

Vejam-se, a seguir, alguns exemplos numéricos do que expusemos até


agora. Nesses exemplos são apresentadas as situações mais simples possíveis:
em cada caso, é feita a correção monetária, inicialmente, pelo método teórico e,
em seguida, pela Lei das S.A., para que o leitor possa visualizar o que representa
essa correção.

EXEMPLO 1

1 SALDO DA CORREÇÃO MONETARIA COMO DESPESA


QUANDO NÁO HÁ ATIVO PERMANENTE E PASSIVO
EXIGÍVEL

Suponha-se uma empresa que possua $ 100 e que com esse investimento
obtenha uma receita de $ 36, num ano em que a inflação foi de 30%.
Nenhuma outra transação se verificou. Vejamos a correção monetária e o
resultado do exercício contabilmente.

BALANÇO INICIAL DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO


Ativo Circulante 100 Patr. Líquido Receitas
Capital 100 Despesas
Lucro antes da Cor. Mon.
Perdas devido à inflação (1)
Lucro Líquido

(1) Calculada da seguinte forma: Ativo Circulante X taxa de inflação = 100 X 30% = 30.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 91

O balanço final é o seguinte:

BALANÇO FINAL
Ativo Circulante 136 Patrimônio Líquido
Capital 100
Correção Monetária 30
Lucros Acumulados 6
136

O lucro líquido do exercício pode ser "checado" pela diferença de Patrimônio


Líquido final e inicial, convertidos em moeda da mesma data.

LL = PLf - PLi (em moeda do fim do ano)


onde: LL = Lucro Líquido
PLt = Patrimônio Líquido final
PLi = Patrimônio Líquido inicial
LL - 1 3 6 - 1 0 0 ( 1 +0,30)=6

Outra forma de "enxergar" o lucro, neste exemplo, é pela diferença do Ativo


Monetário, em termos reais: Ativo Monetário Final -Ativo Monetário Inicial (em
moeda do fim do ano) = 136 - 1 3 0 = 6.
Com isso, acredita-se não existir nenhuma dúvida, neste caso, sobre qual
é o lucro líquido.
Veja-se como a Lei das S.A. trataria um caso destes:

BALANÇO INICIAL DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO


Ativo Circulante 100 Patr. Líquido Receitas 36
Capital 10C Despesas 0
Lucro Operacional
CONTA CORREÇÃO
Saldo da Conta de Correção
MONETÁRIA
Monetária
Capital 30 0 Lucro Líquido
30
92 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

BALANÇO FINAL
Ativo Circulante 136 Patrimônio Líquido
Capital
Res. Capital
Correção Monetária
Lucros Acumulados

CONCLUSÕES:
a) A perda devida à inflação ocorre em virtude de os itens monetários desvalorizarem-
se com a inflação. É uma despesa, pois, como qualquer outra despesa, representa
uma redução (em termos reais) do Ativo Circulante.
b) O método de correção da Lei das S.A. conduz a resultados corretos.

É importante distinguir o resultado econômico do financeiro contido na


correção monetária. Por isso, volta-se a definir o que se entende por econômico
e por financeiro:

Econômico: refere-se a riqueza (a patrimônio líquido), independente de estar expressa


em bens ou dinheiro. Assim, o resultado econômico significa acréscimo de patrimô-
nio líquido.
Financeiro: refere-se à capacidade de pagamento, à monetarização da riqueza. O
resultado financeiro significa quanto a empresa gerou de Capital Circulante Líquido
(o qual sintetiza a capacidade de pagamento da empresa).

Para muitas pessoas a correção monetária de balanços representa uma


correção do resultado econômico sem nenhum conteúdo financeiro, seja ela
credora (receita) ou devedora (despesa). Enganam-se os que assim pensam,
como será demonstrado.
Já foi visto que a empresa do Exemplo (1) teve um lucro de $ 6. Ela está
$ 6 mais rica no final do ano: esse é o resultado econômico.
Veja-se agora qual o resultado financeiro.
Financeiramente, há a seguinte movimentação:

Inicial Final Variação


Ativo Circulante 100 136 36
(-) Passivo Circulante 0 0 0
Capital Circulante Líquido 100 136 6
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 93

Aparentemente, a empresa teve um acréscimo de $ 36 no seu Capital


Circulante Líquido. Esta conclusão é imperfeita, visto que os cruzeiros iniciais
não são comparáveis com os cruzeiros finais, pois aqueles tinham maior poder
de compra.
Uma comparação correta deveria mostrar:

Inicial em
Moeda
do Final
do Exercício Final Variação
Ativo Circulante 130 136 6
(-) Passivo Circulante 0 0 0
Capital Circulante Líquido 130 136 6

Houve uma geração real de $ 6 de Capital Circulante Líquido. Este é o


Resultado Financeiro.
Dessa forma, conclui-se que a Correção Monetária devedora não só é uma
despesa econômica (expressa o que a empresa perdeu com a inflação), mas
também uma despesa financeira (significa que a perda foi no Ativo Circulante ou
Capital Circulante Líquido).
Veja-se a seguir se essa conclusão também é válida quando a empresa
opera com Ativo Permanente e com Capitais de Terceiros.

EXEMPLO 2

2 SALDO DE CORREÇÃO MONETARIA COMO DESPESA


QUANDO HÁ ATIVO PERMANENTE E PASSIVO EXIGÍVEL

Suponham-se agora alguns dados adicionais aos das demonstrações finan-


ceiras do exemplo anterior.

7. Em virtude da extrema simplicidade do presente exemplo, o resultado econômico é igual ao


resultado financeiro. Normalmente, na prática, há outros fatores que influenciam o resultado
financeiro. Entretanto, sempre se pode calcular a contribuição do lucro do exercício para o
resultado financeiro ou aquilo que pode ser chamado de recursos financeiros gerados pelas
operações, como é apresentado no Capítulo 18.
BALANÇO INICIAL DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO
Ativo Circulante 100 Passivo Receitas
Ativo Permanente Circulante 50 Despesas
Imobilizado 50 Patr. Líquido Lucro antes da Cor. Mon.
Capital 100 Perdas devido à inflação (1)
Lucro Líquido

(1) Calculada da seguinte forma:


Saldo de perdas/ganhos -
Ativo Circulante X taxa de inflação Passivo Exigível X taxa de inflação

perdas ganhos

=100X30%-50X30%=15

Dados para o balanço final:

• As despesas foram totalmente pagas.


• A empresa obteve empréstimos adicionais ao longo do ano de $ 15.
• Não houve aquisição de imobilizado nem pagamento de dividendos.

BALANÇO FINAL
Ativo Circulante 155 Passivo Circulante 65
Ativo Permanente Imobilizado 65 (2) Patrimônio Líquido
Capital
Correção Monetária
Lucros Acumulados
155
220 220

(2) O valor dos ativos não monetários é corrigido aplicando-se a taxa de inflação sobre o custo
histórico inicial:
50 X 1,30 = 65

A prova da exatidão do lucro pode ser dada pela fórmula:

Lucro Líquido = Patr. Líquido final - Patr. Líquido inicial corrigido


25 = 1 5 5 - 1 0 0 X 1 , 3 0
Pela Lei das S.A., teríamos as seguintes demonstrações financeiras:

DEMONSTRAÇÃO DO
BALANÇO INICIAL
RESULTADO
Ativo Circulante 100 Passivo Receita 56
Ativo Circulante 50 Despesas Operacionais (16)
Permanente Patr. Líquido
Imobilizado 50 Capital 100 Lucro Operacional 40
150 150 Saldo da Conta
Correção Monetária (15)

Lucro Líquido 25
CONTA CORREÇÃO
MONETÁRIA
Capital 30 Imobilizado 15
Saldo 15

BALANÇO FINAL
Ativo Circulante 155 Passivo Circulante 65
Ativo Permanente Patrimônio Líquido
Imobilizado Capital 100
Res. de Capital
Cor. Monetária Capital
Lucros Acumulados

CONCLUSÕES
a) Desde que o Ativo Circulante seja maior que o Passivo Exigível, haverá um saldo de
perdas devido à inflação (perdas maiores que ganhos) que constitui despesa por
representar diminuição do Ativo Circulante, em termos reais. Essa perda é calculada
pela fórmula: Ativo Circulante X taxa de inflação - Passivo Exigível X taxa de inflação.
b) O cálculo dessas perdas pelo método da Lei das S.A. leva ao mesmo resultado,
conforme as explicações anteriores. Essas perdas devidas à inflação representam
despesas operacionais, pois, tanto quanto qualquer despesa, reduzem o Ativo
Circulante (que é investimento tipicamente operacional), em decorrência da ativida-
de empresarial. A Lei das S.A., entretanto, tratou-as como não operacionais.

Nesse exemplo, através da prova da exatidão do lucro, é irrefutável o acerto


do saldo da correção monetária. Economicamente, a empresa está $ 25 mais
rica (e não $ 40 que seria o lucro antes da correção monetária). A correção
monetária é, pois, uma despesa econômica.
96 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Veja-se o que ocorreu financeiramente com o uso do mesmo método do


Exemplo 1, ou seja, verificando a variação do Capital Circulante Líquido em
termos reais:

Balanço Inicial
em Moeda
do Final Balanço Final Variação
Ativo Circulante
(-) Passivo Circulante
Capital Circulante Líquido

Mais uma vez comprova-se que a empresa teve um resultado financeiro


igual ao econômico, evidentemente porque a correção monetária é uma despesa
no sentido econômico e financeiro.
Embora a Lei das S.A. mande calcular a perda com a inflação através da
correção simultânea do Patrimônio Líquido e do Ativo Permanente, a perda, na
realidade, ocorre no Ativo Circulante, conforme foi explicado na exposição
teórica. Ora, como é o Ativo Circulante que se desvaloriza, a perda é ao mesmo
tempo econômica e financeira.
Será que essa conclusão é válida quando o Ativo Permanente for maior que
o Patrimônio Líquido e o saldo da correção monetária uma receita? É o que será
visto a seguir.
Suponha-se que a empresa tenha agora efetuado ¡mobilizações que supe-
ram o Patrimônio Líquido:

EXEMPLO 3

3 SALDO DE CORREÇÃO MONETARIA COMO RECEITA:


ATIVO PERMANENTE MAIOR QUE PATRIMÔNIO LÍQUIDO

DEMONSTRAÇÃO DO
BALANÇO INICIAL
RESULTADO
Ativo Circulante Passivo Receita
Ativo Circulante Despesas
Permanente Patr. Líquido
Imobilizado Capital Lucro antes da Cor. Mon.
Ganhos devido a
inflação (1)
Lucro Líquido
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 97

(1) Encontrado da seguinte forma:


Ativo Circulante X taxa de inflação Passivo Exigível X taxa de inflação

perdas ganhos

100X30% 150X30% 15

30 45

Dados para o balanço final:

• 50% das despesas foram pagas; o restante permaneceu como contas a pagar.
• A empresa tomou $ 21 de empréstimos adicionais.
• Não houve aplicações no Ativo Permanente nem pagamento de dividendos.

BALANÇO FINAL

Ativo Circulante 193 (A) Passivo Circulante 195(B)


Ativo Permanente Patrimônio Líquido
Imobilizado 195(2) Capital 100
Cor. Monetária 30
Lucro Liquido

(2)150X1,30-195
A=100 + 96-24 + 21
B=150+ 24+ 21

O resultado do exercício pode ser confirmado pela fórmula:

Lucro Líquido - Patr. Líquido final - Patr. Líquido inicial corrigido


(em moeda do fim do ano)
63-193-130

Pela Lei das S.A., as demonstrações ficariam assim:


98 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

DEMONSTRAÇÃO DO
BALANÇO INICIAL
RESULTADO
Ativo Circulante 100 Passivo Receita 96
Ativo Circulante 150 Despesas Operacionais
Permanente Patr. Líquido Lucro Operacional 48
Imobilizado 150 Capital 100 Saldo da conta
250 250 Correção Monetária 15
Lucro Líquido 63
CONTA CORREÇÃO
MONETÁRIA
Capital 30 Imobilizado 45
Saldo 15

BALANÇO FINAL

Ativo Circulante 193 Passivo Circulante 195


Ativo Permanente Patrimônio Líquido
Imobilizado Capital 100
Res. Capital 30
Cor. Mon. Cap.

CONCLUSÕES:

a) Quando o Passivo Exigível é superior ao Ativo Circulante, ocorre um ganho devido


à inflação. O lucro líquido encontrado no exemplo é incontestável, como prova a
diferença entre o Patrimônio Líquido final e o inicial.
b) A correção monetária segundo a Lei das S.A. conduz a resultado correto. Entretanto,
a fórmula de cálculo da Lei das S.A. sugere que o ganho da inflação se deve à
valorização do Ativo Permanente, levando ao entendimento incorreto por parte de
algumas pessoas de que a empresa ganhou com a inflação por manter elevados
investimentos em bens. O Ativo Imobilizado não gerou nenhum ganho, pois o seu
valor foi apenas corrigido. Os $195 em moeda do balanço final correspondem
a $ 150 em moeda do início do ano e vice-versa. O ganho se deu na perda do Passivo
Exigível.
c) Os ganhos devidos à inflação representam receita efetiva e são passíveis até de
distribuição, sob a forma de dividendos, tanto quanto o lucro obtido pelas operações
habituais.
Veja-se a seguir a comprovação disso pelas variações de balanços.
Compare-se o balanço final com o inicial convertido para moeda do final.

Inicial em
Moeda do
Final do
BALANÇO Exercício Final Variação
ATIVO
Circulante 130 193 63
Permanente 195 195 0
PASSIVO
Circulante 195 195 0
Patrimônio Líquido 130 193 63

É fácil verificar: (1º) que o Patrimônio Líquido cresceu $ 63, em termos reais
(em moeda do fim do ano) e que, portanto, há um lucro de $ 63; e (22) que esse
lucro se acha no Ativo Circulante, o qual também cresceu $ 63.
Nesse ponto, a própria Lei das S.A. acabou sendo excessivamente prudente
ao dispor, no artigo 197, que o saldo credor da conta de correção monetária é
lucro a realizar.
Na realidade, trata-se de lucro efetivamente realizado como nos prova o
exemplo.
O Capital Circulante Líquido igualmente cresceu $ 63, como se pode
verificar:

Inicial em
Moeda do
Final do
Exercício Final Variação
Ativo Circulante 130 193 63
(-) Passivo Circulante 195 195 0
Capital Circulante Líquido (65) ( 2) 63

Assim, o resultado foi de $ 63. De novo, o resultado econômico é igual ao


financeiro, provando que o saldo da correção monetária é um resultado financei-
ro. No caso, uma receita financeira.
É interessante observar que o resultado financeiro encontrado independe
do valor do Passivo Circulante.
Para provar isso vamos supor três hipóteses.
100 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Primeira hipótese
A empresa tomou empréstimos de $ 21 no exercício. Seu Passivo Circulante
é de 195, formado da seguinte maneira:

195 = 150 + 24 + 21

Saldo
Inicial Acréscimo
de despesas Empréstimos
a pagar tomados no
exercício

O Ativo Circulante é de $ 193, originado da seguinte forma:

193 = 100 + 96 - 24 + 21

Saldo
Inicial Receitas do
exercício Despesas
pagas Empréstimos
obtidos

Segunda hipótese
A empresa tomou empréstimos adicionais de $ 41 no exercício. O seu
Passivo Circulante é de $215, e o Ativo Circulante é de $ 213.

Terceira hipótese
A empresa tomou empréstimos adicionais de $ 158 no exercício. O seu
Passivo Circulante é de $ 332, e o Ativo Circulante é de $ 330.
Os balanços finais segundo essas três hipóteses ficam assim:

1ª Hipótese 2ª Hipótese 3ª Hipótese


Ativo Circulante 193 213 330
Ativo Permanente 195 195 195
Total
Passivo Circulante 195 215 332
Patrimônio Líquido 193 193 193
Total
A movimentação do Capital Circulante Líquido é a seguinte:

Inicial 1ª Hipótese 2ª Hipótese 3ª Hipótese


Em Moeda do
Final do Exercício Final Variação Final Variação Final Variação
Ativo Circulante 130 193 63 213 83 330 220
(-) Passivo
Circulante 195 195 0 215 20 332 137
Capital Circulante
Líquido (65) (2) 63 (2) 63 (2) 63

Em qualquer das situações a empresa pode pagar dividendos de $ 63 sem


prejudicar a sua situação financeira,8 em relação àquela que existia no início do
exercício, o que é facilmente demonstrável.
Veja-se agora a prova definitiva e irrefutável de que o saldo da correção
monetária constitui receita financeira. Apresenta-se adiante o Fluxo de Caixa
para as três hipóteses.

DEMONSTRAÇÃO DAS ENTRADAS E SAÍDAS DE CAIXA


1ª Hipótese 2ª Hipótese 3ª Hipótese
ENTRADAS (Provenientes de):
Receitas 96 96 96
Empréstimos 21 41 158
Soma
SAÍDAS (Para Pagamento de):
Despesas 24 24 24
Dividendos 63 63 63
Soma
Aumento do Saldo de Caixa 30 50 167

Observe-se no caso da primeira hipótese que o aumento do saldo de Caixa


representa exatamente 30% do valor nominal inicial do Ativo Circulante. Como
a inflação foi de 30%, esse aumento é suficiente para manter o nível do Ativo
Circulante, de maneira que a distribuição de dividendos não prejudica o Ativo
Circulante.

8. É claro que não se está recomendando que se proceda à distribuição de todo o resultado
financeiro gerado, como política de administração financeira. Essa possibilidade prova que o
resultado financeiro existe concretamente.
102 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Alguns observadores menos atentos podem argumentar que a empresa


teve de tomar empréstimos para pagar dividendos e que essa não é uma boa
política financeira. Isto até pode ser verdade numa economia sem inflação, mas
não o é, certamente, na nossa economia e nos exemplos que estão sendo
apresentados.

Se existe inflação, os empréstimos precisam necessariamente crescer para


manter o nível de financiamento anterior; do contrário, não se conseguiria
continuar financiando o mesmo volume físico de operações.

Assim, nada mais natural que, se houve inflação, a empresa tome emprés-
timos adicionais.

Na primeira hipótese, as dívidas adicionais são exatamente as necessárias


para manter o volume de dívidas equivalente ao inicial: o Passivo Circulante
inicial, de 150, em moeda do final é equivalente a 195, ou seja, exatamente o
Passivo Circulante final.

O índice de Participação de Capitais de Terceiros é:

Balanço Inicial
Balanço Inicial (em moeda do Balanço Final
final)
Capitais de Terceiros - CT 150 195 195
Patrimônio Líquido- PL 100 130 193
Part. Cap. Terc. = CT/PL 150% 150% 101%

Como se vê, apesar dos empréstimos adicionais, o nível de endividamento


caiu.

Após o pagamento de dividendos, o índice de Participação de Capitais de


Terceiros passa para 150%, ou seja, exatamente o mesmo do balanço inicial.

Quanto às segunda e terceira hipóteses, a empresa toma mais empréstimos


do que o estritamente necessário. Repare-se, porém, que o dinheiro tomado a
mais está sobrando em Caixa, como mostra o fluxo: o excesso não é absoluta-
mente preciso para pagar dividendos.

Suponha-se que a empresa efetivamente tenha pago dividendos de $ 63.


O Ativo Circulante vai reduzir-se nessa importância. Veja-se o balanço inicial
comparado com as três hipóteses do balanço final, bem como o índice de Liquidez
Corrente para cada uma das hipóteses:
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 103

INICIAL FINAL
Em Moeda Em Moeda
1ª Hipótese 2ª Hipótese 3ª Hipótese
Original do Final
Ativo Circulante 100 130 130 150 267
Ativo Permanente 150 195 195 195 195
Total
Passivo Circulante 150 195 195 215 332
Patrimônio Liquido 100 130 130 130 130
Total
Liquidez Corrente 0,66 0,66 0,66 0,69 0,80

Como se vê, em nenhuma das hipóteses o índice de Liquidez Corrente caiu,


mesmo quando a empresa aumentou o endividamento; isso prova que a situação
financeira não piora se a empresa pagar dividendos.
É óbvio que, se a receita de correção monetária não gerasse resultado
financeiro, não haveria como pagar dividendos.

Nota 1
Foram efetuados os cálculos de ganhos e perdas com a inflação pelo Ativo
Circulante e Passivo Exigível, sendo este último, no caso dos exemplos vistos, repre-
sentado pelo Passivo Circulante. O Passivo Exigível é efetivamente monetário, mas nem
todo o Ativo Circulante é monetário. Conforme foi explicado na parte teórica deste
capítulo, por questão de praticidade considerou-se todo o Ativo Circulante como mone-
tário.

Nota 2
Suponha-se o caso de uma empresa que tivesse Passivo Monetário maior que o
Ativo Monetário e que, portanto, apresentasse ganhos com a inflação. Pelo método da
Lei das S.A. haveria um saldo credor na conta de correção monetária.
Pode-se então levantar-se a seguinte dúvida: se houvesse correção monetária ou
variação cambial nos empréstimos tomados, persistiriam os ganhos devido à inflação?
A resposta é a seguinte: se a taxa de correção monetária ou de variação cambial for igual
à taxa de inflação, não haverá ganhos.
Apesar disso, porém, apura-se o saldo credor na conta Correção Monetária, pela
Lei das S.A., o que parece, a princípio, incorreto. Contudo, mais uma vez a resposta é
que o saldo credor da conta Correção Monetária corresponde à receita efetiva.
Ocorre que a correção monetária de dívidas ou variação cambial até o nível da taxa
de inflação não constitui despesas, no conceito contábil rigoroso de despesa. À despesa
corresponde uma redução de ativo ou aumento de passivo exigível, e a correção
monetária de dívidas não é aumento de dívidas, mas apenas manutenção, em termos
reais. Nesse caso, o saldo credor da conta Correção Monetária representa uma com-
pensação de um valor (variação cambial ou correção monetária de dívidas) lançado como
104 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

despesa e que não constitui efetivamente despesa, recompõe-se, assim, o lucro ao seu
nível real, que é, igualmente ao exemplo visto, passível de distribuição.

Nota 3
O ativo monetário gerado pelas operações ao longo do exercício deve, a rigor, ser
também corrigido, ou em base mensal (taxa efetiva), ou pela metade da taxa anual de
inflação (uma vez que a sua constituição, verificada de maneira mais ou menos uniforme
ao longo do ano, é equivalente à constituição total no meio do ano). Ocorre que num
processo de correção monetária completa por índices gerais de preço (segundo a
chamada Price Level School), as vendas, compras e despesas desembolsáveis tam-
bém devem ser corrigidas, segundo a mesma taxa (assim, teríamos a demonstração de
resultados expressa em moeda do fim do exercício social). A correção destes itens de
resultados aumenta o resultado do exercício, enquanto a correção do ativo monetário
gerado o reduz na mesma importância, retornando o resultado ao valor contábil original,
de maneira que, para efeito de resultado contábil líquido corrigido da inflação, podem-se
ignorar as citadas correções. Isso, entretanto, não deixa de representar uma perda
considerável do poder informativo da contabilidade, pois a Demonstração de Resultados
a valores históricos padece de sérias distorções. Simplesmente não tem sentido a soma
das vendas e despesas de um mês com as do mês seguinte porque se acham expressas
em moeda de diferente poder aquisitivo. O problema é semelhante ao de um indivíduo
que vendeu 100.000 metros de tecidos durante um ano e cujo metro teria sido reduzido,
em média, 3% a cada mês. Quantos metros afinal o Fulano vendeu? Metro de qual mês,
já que a cada mês o metro teve um valor diferente?

Reconhecem-se as dificuldades práticas de um processo de correção monetária


que abranja todos os itens da demonstração de resultados e considera-se que seria
inviável outra orientação legal que não a estabelecida na Lei nº 6.404. Suas limitações,
porém, não podem ser esquecidas.
Curiosamente, podemos concluir que todos os itens da Demonstração do Resultado
do Exercício se acham defasados, mas o lucro Líquido está correto e em moeda do Final
do exercício.
Ignorar as variações ocorridas durante o ano corresponde a considerar que todas
as transações ocorreram no último dia do exercício.
Esse efeito é claramente apresentado por Eliseu Martins, que explica após demons-
tração numérica: "Concluí-se daí que a legislação, ao tratar as receitas e despesas pelos
seus valores correntes ocorridos no período, sem corrigi-las, está simplificando a
realidade e evitando cálculos dos acréscimos e reduções nos ativos e passivos mone-
tários alterados por tais receitas e despesas. Mas não provoca, por isso, alteração no
montante do resultado líquido final."9

9. MARTINS, Eliseu. Análise da correção monetária das demonstrações financeiras. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 1984. p. 35.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 105

EXEMPLO 4

4 CORREÇÃO MONETÁRIA NO CASO DO PATRIMÔNIO


LÍQUIDO NEGATIVO: UM CASO ESPECIAL

Uma empresa com Patrimônio Líquido ne-


gativo, sem operar, pode dar lucro e ainda
pagar dividendos. Parece ficção, mas é real.

A lei não entrou em maiores detalhes sobre os casos de prejuízo - que,


subentende-se, devem ser corrigidos como qualquer outro item de patrimônio
líquido - e tampouco nos casos mais especiais em que o prejuízo suplanta as
demais reservas e o próprio capital, fazendo com que o patrimônio líquido se
torne negativo.
A correção monetária do prejuízo tem o seguinte lançamento contábil:

Débito: Prejuízo Acumulado


Crédito: Correção Monetária

Dessa maneira, o prejuízo tem um comportamento equivalente ao do Ativo


Permanente. O produto de sua correção produz um crédito, na conta de correção
monetária, tal qual a correção dos itens do Ativo Permanente. Assim, se a
correção do prejuízo é distinta, por natureza, quantitativamente, não se distingue
da correção dos bens.
Na existência de Patrimônio Líquido negativo (em que o prejuízo absorve
todas as reservas e ainda é maior do que o valor do capital realizado), a correção
do prejuízo, independente da correção do ativo permanente, provoca um saldo
credor na conta Correção Monetária, que, transferido a resultado, representa
uma receita.
Tal situação é ininteligível pelo leigo e chega a parecer inaceitável para o
técnico.
Alguns comentários que se ouvem sobre esses casos são:

"O prejuízo não representa efetivamente nada que existe na empresa; pelo contrário,
mostra o que deixou de existir, consumido por operações deficitárias. Se, por um lado,
se justifica a sua atualização de valor não pode isto fornecer algum tipo de recurso como
se poderia dizer em relação aos itens do Ativo Permanente."
106 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

"Se se aceita a existência de saldo credor da conta Correção Monetária, na hipótese


de Patrimônio Líquido positivo, quando o Ativo Permanente é maior que o Patrimônio
Líquido, no caso de prejuízo não há nenhuma substância nesse saldo credor da correção
monetária."

Veja-se, através de exemplo numérico, o que ocorre, na realidade.


Encontra-se a seguir o balanço inicial de uma empresa que não operou no
exercício; não tem, portanto, nenhuma receita nem despesa. Não houve depre-
ciação ou amortização de Ativo Permanente que é representado por terrenos.
Tampouco houve modificação no seu Ativo Circulante e no Passivo Circulante.
A taxa de inflação no período foi de 20%.

BALANÇO DE 31-12-X1
Ativo Circulante 200 Passivo Circulante 700
Ativo Permanente 300 Capital 150
Prej. Acumulado (350) (200)
500 500

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS ANTES DA


CORREÇÃO MONETÁRIA
Receita
Despesas
Res. Operacional
Saldo da Cor. Monetária
Lucro Líquido

Segundo a Lei das S.A. há a seguinte correção monetária:

CONTA CORREÇÃO MONETÁRIA


(b) 30 60 (a)
70 (c)
Saldo transferido a
Resultado 100
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 107

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS
Receita
Despesas
Resultado Operacional
Saldo da Conta Cor. Monetária
Lucro Líquido

DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZOS ACUMULADOS


Saldo Inicial
Correção Monetária (c)
Saldo Corrigido
(+) Lucro Líquido
(+) Absorção de Reserva de Capital* (b)
Saldo Final
* Resultante da correção do capital

BALANÇO DE 31-12-x2
Ativo Circulante 200 Passivo Circulante 700
Ativo Permanente (a) 360 Patrimônio Líquido
Capital 150
Prej. Acumulado
560

O saldo do Patrimônio Líquido de 31-12-x2 é incontestável, pois o Ativo


cresceu de $ 500 para $ 560, enquanto o Passivo Exigível se manteve em $ 700.
A diferença entre ambos, Ativo e Passivo, que é o Patrimônio Líquido, passou de
$(200) para $(140).
O que parece difícil de aceitar é o lucro de $ 100. Como uma empresa que
tem Patrimônio Líquido negativo e não opera, pode ter lucro? Pode a correção
do prejuízo fornecer receita? Não seria este resultado apenas fictício?
Aqui chega-se ao ponto em que é mais difícil o entendimento da correção
monetária na Lei das S.A.
Mais uma vez essas questões não podem ser adequadamente respondidas
com base no método da lei.
Veja-se que explicações podem ser conseguidas através da comparação
de Ativo e Passivo monetários.

• Ativo Monetário no início do exercício: 200


Perda com a inflação: 200 x 0,20 = 40
• Passivo Monetário no início do exercício: 700
Ganho com a inflação: 700 x 0,20 = 140
108 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Resultado Líquido devido à inflação:

Ganho
(-) Perda:
Ganho Líquido

Explicação: a empresa deve, após um ano, os mesmos $ 700 que devia há


um ano; a dívida atual, porém, significa, em valor real, 20% menos que há um
ano; há, portanto, nisso, um ganho de $ 140. Como a empresa perde $ 40 devido
à desvalorização do seu ativo monetário de $ 200, o resultado líquido é favorável
em$ 100.
O ganho não se dá, pois, como pode parecer a princípio, na correção do
prejuízo ou na correção do Ativo Permanente. Como já foi dito, a correção do
Ativo Permanente não gera receita, pois se trata de mera atualização de seus
valores. Dá-se a receita pela redução da dívida em termos reais.
Isto se torna ainda mais claro quando são colocados os dois balanços, inicial
e final, expressos em moeda de mesmo poder aquisitivo. Pode-se, para tanto,
corrigir, todos os itens do balanço inicial à taxa de inflação de 20%, e assim
colocá-lo em moeda de 31 -12-x2 (como também poderiam ser deflacionados os
valores do balanço final, expressando-o em moeda de 31 -12-x1).
O balanço inicial, em moeda de 31 -12-x2 e o balanço final acham-se abaixo
lado a lado:

BALANÇOS
31-12-X1
(em moeda de 31-12-X2 Variação
31-12-X2)
Ativo Circulante 240 200 (40)
Ativo Permanente 360 360 0
600 560 (40)
Passivo Circulante 840 700 (140)
Patrimônio Líquido (240) (140) 100
600 560 (40)

Como se vê, a variação real do Patrimônio Líquido é de $ 100 positivo. Ora,


se a empresa iniciou o exercício com Patrimônio Líquido de $ (240) e o encerrou
com $ (140), lucrou $ 100. O resultado líquido do exercício, apresentado na
demonstração de resultados, não poderia ser outro.
CORREÇÃO MONETÁRIA NA LEI DAS S.A. 109

Suponha-se, agora, ainda no mesmo exemplo, que durante o exercício a


empresa tivesse incorrido em correção monetária sobre a dívida inicial, iguais a
$ 140, não pagas, e que os demais dados não se alterassem (continuando a não
operar).

A Demonstração de Resultados e de Prejuízos Acumulados seria:

DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZOS
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS
ACUMULADOS
Receita 0 Saldo Inicial (350)
Despesas (140) Correção Monetária (70)
Prejuízo Operacional (140) Saldo da Correção (420)
Saldo da Conta de Prejuízo Líquido
Correção Monetária 100 no Exercício (40)
Prejuízo Líquido (40) Absorção de Reserva
de Capital 30
Saldo Final (430)

O Balanço ficaria assim:

BALANÇO DE 31-12-x1
Ativo Circulante 200 Passivo Circulante 840
Ativo Permanente 360 Patrimônio Líquido
560 Capital 150
Prejuízos Acumulados (430) (280)
560

A explicação para a receita de correção monetária é análoga: a empresa


deve, após um ano em que se registrou uma inflação de 20%, mais $ 140, para
uma dívida inicial de $ 700. A dívida de $ 840 em 31 -12-x2 é equivalente à de $
700 em 31-12-x1. Assim, não haveria, na realidade, despesa relativa ao cresci-
mento da dívida, em função dos juros e variação monetária incorridos pela
empresa, uma vez que estes não superaram a taxa de inflação. Não havendo
crescimento real do passivo, não se configura contabilmente a despesa. Ocorre,
porém, que as empresas não possuem incorporados em seus sistemas contábeis
tais tipos de procedimento, efetuando os ajustes apenas na apuração de resul-
tados. Por isso, a variação monetária acabou lançada à conta de resultados. A
receita de correção monetária irá compensar a despesa lançada a mais.
110 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Aqui surge outra pergunta: se não houve despesa, como se explica o


prejuízo?
A resposta é a seguinte: houve despesa e ela se deve à desvalorização do
Ativo Circulante.
O Ativo Circulante era de $ 200 em 31 -12-x1 e permanece com o mesmo
valor em 31 -12-x2, após uma inflação de 20%. Esses $ 200 sofreram perda real
de $ 40, que é exatamente o prejuízo.
Com isso, os efeitos da inflação sobre o balanço, na hipótese de despesa
de juros, ficariam assim demonstrados:

PERDAS DEVIDAS À INFLAÇÃO


Ativo Monetário x taxa de inflação - 0,20 x 20 = 40
Passivo Monetário x taxa de inflação - 700 x 0,20 = 140
Saldo Positivo 100
(-) Variações monetárias 140
Resultado da inflação (40)

Os balanços de 31 -12-x1 e 31 -12-x2, em moeda de 31 -12-x2, encontram-se


abaixo:

BALANÇOS
31-12-x1
(em moeda de 31-12-X2 Variação
31-12-X2)
Ativo Circulante 240 200 (40)
Ativo Permanente 360 360 0
600 560 (40)
Passivo Circulante 840 840 (0)
Patrimônio Líquido (240) (280) (40)
600 560 (40)

A variação negativa de $ 40 no Patrimônio Líquido comprova o prejuízo de


$ 40 mostrado na Demonstração de Resultados e se deve à redução do Ativo
Circulante em virtude da inflação.
4 Correção Monetária Integral

Diante dos elevados índices de inflação historicamente verificados no Brasil,


a correção monetária prevista na Lei das S.A. não atende ao requisito de
evidenciar as demonstrações financeiras adequadamente corrigidas dos efeitos
inflacionários.
Daí surgiu a chamada Correção Monetária Integral, que nada mais é do que
a denominação que se deu ao processo de correção monetária em que todas as
contas de Balanço e Demonstração do Resultado são convertidas numa moeda
de capacidade aquisitiva constante.
As demonstrações financeiras após serem levantadas nessa moeda são
reconvertidas em moeda nacional pela paridade existente na data de encerra-
mento do exercício.
Com isso, todos os números dessas demonstrações são apresentados em
moeda da data de levantamento das demonstrações financeiras, expurgando os
efeitos inflacionários sobre cada conta.
Além disso, a Correção Monetária Integral possibilita conhecer o
verdadeiro valor de Receitas, Lucro Bruto, Lucro Operacional, Despesas
Financeiras e Receitas Financeiras, além dos recursos financeiros reais
efetivamente gerados pelas operações, de maneira que a análise financeira
melhora consideravelmente.
112 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

1 A CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL VERSUS


CORREÇÃO MONETÁRIA PELA LEGISLAÇÃO

A correção monetária integral foi concebida


para resolver os problemas da correção
monetária pela Lei das S.A.

Embora o processo de correção monetária determinado pela Lei das S.A.


possa levar a um valor de lucro líquido aceitável 1 e em muitos casos igual aquele
mostrado pelo processo de correção monetária integral, 2 as demonstrações
financeiras apresentadas segundo essa lei não são adequadas para análise
econômico-f inanceira pelos seguintes principais motivos:

• As receitas e despesas são apresentadas pelos valores nominais representando


uma "salada" de números. Por exemplo, no caso das receitas, soma-se o faturamen-
to obtido em janeiro, fevereiro, março etc.; é como se somasse laranjas, com abacaxi,
com banana etc., já que em cada mês com a flutuação do poder aquisitivo um mesmo
valor representa diferentes vendas.
• O saldo da correção monetária é um "filtro" que corrige as distorções entre a receita
e despesa trazendo o lucro líquido ao valor real do final do exercício, porém deixando
todas as receitas e despesas em valores inadequados para análise.
• O saldo da conta correção monetária da Lei das S.A., que chamamos de "filtro",
engloba num só valor diferentes efeitos inflacionários como perdas nos ativos
monetários, ganhos nos passivos monetários, atualizações não computadas nas
receitas e despesas do exercício, nos estoques iniciais e nas depreciações e
amortizações. Compreende ainda a compensação de despesas financeiras inade-
quadamente aumentadas por variações monetárias apenas nominais.
• A correção pela Lei das S.A. trata como se fossem monetários os saldos iniciais de
itens como "estoques", "adiantamento a fornecedores", "despesas antecipadas",
"adiantamento de clientes" etc. deixando de computar as respectivas datas de
formação e o saldo final do exercício.

1. Existem tantos fatores subjetivos na determinação do lucro líquido que não se pode falar em
correto e incorreto.
2. Quando não são feitos ajustes nos balanços pela correção integral, o lucro líquido é o mesmo
que o da Lei das S.A. As modificações de ATIVO e PASSIVO na correção integral serão
refletidas no lucro líquido. Os principais ajustes no ATIVO e PASSIVO referem-se às atuali-
zações monetárias dos estoques para a data de encerramento do balanço e a colocação de
contas a receber e a pagar a valores presentes. Nesses casos o lucro líquido pela correção
integral será diferente daquele apresentado pela Lei das S.A. Esses mesmos ajustes efetua-
dos em controladas e coligadas avaliadas pelo método de equivalência patrimonial levarão a
novas diferenças no lucro líquido.
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 113

Dessa forma é impossível numa demonstração do resultado preparada


segundo a Lei das S.A. conhecer o verdadeiro efeito da inflação.
A esse respeito manifestou-se Eliseu Martins:3

'Trocou-se a simplicidade do seu cálculo pela melhor explanação dos itens compo-
nentes do resultado, isto é, ao invés de uma correção mais detalhada dos ganhos e
perdas dos itens monetários, das receitas e despesas do período, dos estoques etc.;
preferiu-se um ajuste único, num único saldo. A adoção dessa simplicidade está sendo
praticada à custa da não explicação do seu verdadeiro significado, o que tem provocado
polêmicas infindáveis sobre sua utilidade e até sua validade. Com isso, não está o grande
público investidor tendo condições de assimilar seu conteúdo e sua significação; pior que
isso, não estão, pelo menos em grande parte, os próprios executivos sendo capazes de
assimilar sua natureza."

Nos casos de saldo credor da correção monetária, a empresa apresenta


ativo permanente maior que o patrimônio líquido, sendo a diferença financiada
com passivo monetário cuja variação monetária nominal é inadequadamente
incluída como despesa financeira. A compensação dessa variação monetária é
o grande componente do saldo credor da correção monetária. Portanto, não há
ganho com inflação no saldo credor, mas apenas compensação (e, freqüente-
mente, até perdas com a inflação) levando a grandes confusões.

O saldo da correção monetária resulta em sua maior parte do cômputo dos


efeitos inflacionarios sobre os itens operacionais, de maneira que sua classifica-
ção como não operacional é incorreta, levando a confusão onde freqüentemente
usuários menos avisados de demonstrações financeiras tomam por base o lucro
operacional para análises.

A correção monetária integral foi concebida para resolver os problemas da


correção monetária pela Lei das S.A., bem como a trazer outros aperfeiçoamen-
tos imprescindíveis para a análise financeira de balanços. (Vide item 7, adiante.)

Além de apresentar todos os números das demonstrações financeiras em


moeda da data de encerramento, a Correção Monetária Integral promove outros
aperfeiçoamentos que podem ser assim resumidos:

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ANTERIORES: são inicialmente


elaboradas pelo método da Correção Monetária Integral e num segundo momen-
to transportadas para moeda da data das últimas demonstrações financeiras.

3. MARTI NS, Eliseu. Análise da correção monetária das demonstrações financeiras. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 1984. p. 57
114 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

PERDAS E GANHOS COM A INFLAÇÃO: são calculados sobre ativo


e passivo monetários (diferentemente da Lei das S.A. que a apura sobre a
diferença entre Ativo Permanente e Patrimônio Líquido). As perdas e os ganhos
são calculados sobre cada conta de ativo e passivo monetário. Como cada conta
se relaciona com um item de receita e despesa, é possível "explodir" as perdas
e ganhos com a inflação em várias perdas e ganhos distintos, cada um vinculado
a um item da receita e despesa, melhorando substancialmente as informações
das demonstrações financeiras relativas aos efeitos inflacionários.

CONTAS A RECEBER E CONTAS A PAGAR: passam a ser apresen-


tadas em valores presentes.

ESTOQUES E DESPESAS ANTECIPADAS: são registrados pelo valor


presente e corrigidos monetariamente desde a data de aquisição ou formação
até a data de balanço.

INVESTIMENTO EM CONTROLADAS E COLIGADAS avaliados pela


equivalência patrimonial: as investidas passam a seguir obrigatoriamente a
correção monetária integral, sendo as diferenças de balanço e resultados refle-
tidos nos ativos dos investidores.

LUCRO LÍQUIDO: na medida em que a empresa efetua ajustes em


contas a receber e a pagar, em estoques e despesas antecipadas e em investi-
mentos controladas e coligadas, o ativo e passivo exigíveis pela correção integral
tenderão a ser diferentes daqueles apurados pela legislação monetária. Essas
diferenças são lançadas a resultados e portanto o lucro líquido (ou prejuízo
líquido) será diferente na correção integral. No caso das companhias abertas, a
CVM - Comissão de Valores Mobiliários determina que esses ajustes se façam
também na contabilidade oficial, eliminando, portanto, essas diferenças.

2 PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS DA CORREÇÃO


INTEGRAL

Em regimes de inflação elevada as demons-


trações devem estar apresentadas em moe-
da constante.
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 115

Este livro não objetiva ensinar a contabilizar e tampouco como executar


procedimentos contábeis tais como o de correção monetária integral. Para isso
o leitor pode dispor de bons livros específicos.
Entretanto, dentro do nosso objetivo que é o analisar demonstrações
financeiras com vistas a produção de informação, parece conveniente, no caso
da análise sobre os efeitos inflacionários, abordar de passagem alguns procedi-
mentos de correção integral, a fim de permitir explicar mais adequadamente o
seu significado.
Além disso, o Apêndice mostra como fazer a correção integral de fora da
empresa, pois é comum ao analista externo deparar-se com demonstrações
financeiras publicadas em valores nominais cuja análise ficaria muito prejudica-
da.
Na correção integral trabalha-se com uma moeda estável (vide item 5),
entretanto não é necessário fazer a contabilização de todas as operações nessa
moeda; basta apenas converter os saldos finais de cada mês para essa moeda
estável. No encerramento do exercício reconvertem-se os valores para cruzeiros
reais. Assim só haverá uma contabilidade paralela em mapas.
Nesse momento há algumas diferenças entre os valores contabilizados em
cruzeiros reais (contabilidade oficial) e aqueles contabilizados na moeda estável
(correção integral) que podem ser assim resumidas:

2.1 NO BALANÇO

ATIVOS MONETÁRIOS: Os valores contabilizados em moeda de poder


aquisitivo constante, reconvertidos em cruzeiros reais, serão maiores que aque-
les mostrados pela contabilidade legal. O que vale neste caso são estes últimos.
A diferença entre os valores indica quanto a empresa perdeu no ano com a
inflação. Cada item em que se registra perda no ativo está relacionado com um
item da receita na demonstração do resultado. Assim é possível identificar cada
uma dessas perdas na demonstração do resultado e deduzi-las da receita que
deu origem ao ativo. Exemplos: (a) as perdas com a inflação sobre o item
Duplicatas a Receber podem ser deduzidas da Receita de Vendas; (b) as perdas
com "Aplicações Financeiras" deduzidas de "Receitas Financeiras".
PASSIVOS MONETÁRIOS: Os procedimentos são análogos aos do ativo
monetário. As diferenças (vale a contabilidade oficial) entre a correção integral e
contabilidade oficial indica quanto a empresa ganhou. Cada item de ganho é
116 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

identificado com um item de despesa do qual o ganho é deduzido. Por exemplo:


(a) os ganhos sobre "fornecedores" são deduzidos da CVM; (b) os ganhos sobre
"Empréstimos Bancários" são deduzidos de despesas financeiras. Os ativos e
passivos monetários na contabilidade oficial que estiverem expressos em valores
futuros a receber devem ser trazidos a valores presentes pela taxa média nominal
de juros de mercado4 ou pela taxa efetivamente contratada. A diferença entre o
valor futuro e o valor presente constituirá ajuste na demonstração do resultado
oficial, em relação a sua primeira versão.
ITENS NÃO MONETÁRIOS (contas do ativo permanente e patrimônio
líquido): Se os índices de correção monetária de ativos permanentes e patrimônio
líquido forem iguais aos da variação da moeda estável não haverá ao final do
exercício diferenças entre os números do balanço mostrados pela contabilidade
oficial e os da contabilidade paralela em moeda estável. Caso haja diferenças
deve-se fazer valer o da contabilidade paralela. Assim, se for o caso, acertam-se
os valores da contabilidade oficial levando as diferenças para a conta "Saldo de
Correção Monetária".
ITENS NÃO MONETÁRIOS (fora do ativo permanente e do patrimônio
líquido, inclusive estoques): Estes itens não são corrigidos na contabilidade
oficial. A diferença entre eles e os da contabilidade paralela (valem os números
da contabilidade paralela) constituem-se ajustes a serem feitos no Balanço e na
Demonstração do Resultado da contabilidade oficial, caso a empresa assim
deseje, para efeitos gerenciais.
INVESTIMENTOS EM CONTROLADAS E COLIGADAS (avaliados pelo
método de equivalência patrimonial): Havendo diferenças entre os valores da
contabilidade e da paralela relativamente aos itens não monetários das empresas
controladas e coligadas avaliadas pelo método de equivalência patrimonial,
automaticamente tal diferença será refletida no balanço da empresa investidora
afetando igualmente a demonstração do resultado.

2.2 NA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

Aqui valem exclusivamente os números das demonstrações da contabilida-


de paralela, ajustados pelos ganhos e perdas nos itens monetários.

4. A CVM manda utilizar a taxa de juros divulgada pela ANBID - Associação Nacional dos Bancos
de Investimentos.
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 117

RECEITAS E DESPESAS: São convertidas em moeda estável mês a


mês e reconvertidas em cruzeiros reais pela paridade no final do exercício,
revelando quanto a empresa faturou e quando despendeu no exercício, em
moeda final. Diferem dos valores da contabilidade oficial, pois estes últimos só
mostram os valores nominais.
CUSTO DOS PRODUTOS E MERCADORIAS VENDIDAS: Todos os
componentes deste item são convertidos em moeda estável segundo sua data
de formação: os estoques iniciais pela moeda do início do exercício (consideran-
do evidentemente estarem devidamente ajustados no balanço anterior a sua data
de encerramento); as compras pelos meses de aquisição e os custos de produ-
ção a medida de sua incorrência, chegando ao final do exercício em custos
atualizados. Na contabilidade oficial, os valores nominais carecem de um mês
base de referência, já que as diferentes datas de formação não coincidem com
as datas de vendas, resultando em lucro bruto distorcido.
RECEITAS E DESPESAS APROPRIADAS DE ITENS NÃO MONETÁ-
RIOS (despesas antecipadas, adiantamento a fornecedores, adiantamento de
clientes etc.): representam na contabilidade paralela a apropriação de partes de
ativos não monetários consumidos ou de passivos não monetários extintos, em
moeda estável, ao contrário da contabilidade oficial, que mostra as apropriações
nominais.
DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E BENS BAIXADOS DO ATIVO
PERMANENTE: Estes itens se baseiam nos valores registrados no razão auxiliar
para correção de ativo permanente, entretanto, são expressos na demonstração
do resultado em quantidade de moeda estável convertida para cruzeiros reais
pela paridade do final do ano, diferentemente da contabilidade oficial que as
converte pela paridade média do exercício.
GANHOS E PERDAS NOS ITENS MONETÁRIOS: Conforme expuse-
mos anteriormente, a contabilidade paralela registra ganhos e perdas nos itens
monetários que podem ser identificados com itens específicos de receitas e
despesas. A empresa poderá optar em apresentar um saldo único de perdas e
ganhos nos itens monetários operacionais, destacando apenas os ganhos e
perdas nos ativos e passivos financeiros. Com isso é possível conhecer as
verdadeiras taxas de aplicações financeiras e de custo dos empréstimos.
Como dissemos anteriormente, o saldo da conta correção monetária (vide
capítulo 3) corresponde aos ganhos e perdas nos itens monetários. Entretanto,
este saldo não leva em conta os acréscimos e reduções de ativos e passivos
monetários provenientes do lucro ou prejuízo durante o exercício como se a
empresa fosse estática. Por isso o saldo da correção monetária é diferente das
118 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

perdas e ganhos monetários apurados na contabilidade paralela. Essa diferença


é a mesma que existe entre as receitas menos despesas nominais de um lado e
receitas menos despesas atualizadas monetariamente de outro lado.

Por essa razão é que em certos casos o lucro líquido pela Lei das S.A.
coincide com o lucro líquido pela correção integral: a atualização que falta em
receitas e despesas é compensada pelo não reconhecimento da correção do
lucro ou prejuízo durante o exercício no saldo da correção monetária na Lei das
S.A. Entretanto, o saldo da correção monetária da Lei das S.A. diferentemente
do saldo de ganhos e perdas nos ¡tens monetários da contabilidade paralela não
pode ser "explodido" nos vários componentes de perdas e ganhos identificados
com itens específicos de receitas e despesas.

2.3 NA DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO


LÍQUIDO E NA DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E
APLICAÇÕES DE RECURSOS

Uma vez levantados o balanço e a demonstração do resultado em moeda


estável, as duas demonstrações acima são facilmente montadas sem nenhuma
complexidade adicional. Pelo contrário, diante da moeda constante é mais fácil
elaborá-las e compreendê-las.

Assim é que a demonstração das mutações do patrimônio líquido em moeda


estável apresenta apenas os acréscimos e reduções reais, dispensando dos
acréscimos nominais representados pelas correções monetárias das diversas
contas.

O mesmo acontece na demonstração das origens e aplicação de recursos.


Observe-se que nesta última comparativamente a demonstração a valores
nominais registra-se sensível melhora no poder informativo. A empresa pode
apresentar acréscimo nominal de Capital Circulante Líquido (vide item - 1 . 5 no
Capítulo 2), o qual será detalhadamente demonstrado na demonstração das
origens e aplicação de recursos. Todavia, na vida real o Capital Circulante Líquido
pode ter se reduzido. Neste caso somente a demonstração em moeda estável é
aceitável.
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 119

3 QUADRO COMPARATIVO ENTRE OS NÚMEROS


DOS PRINCIPAIS ITENS DAS DEMONSTRAÇÕES
FINANCEIRAS PELA LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA
VERSUS CORREÇÃO INTEGRAL

ITEM LEI DAS S.A. CORREÇÃO INTEGRAL


Disponível • Aplicações Financeiras Valores correntes na data de Valores correntes na data de
encerramento do exercício encerramento do exercício
Duplicatas a Receber Valores nominais Valores presentes
Estoques e Despesas Antecipadas Custo histórico Custo histórico corrigido
Ativo permanente Custo histórico corrigido Custo histórico corrigido
Fornecedores Valores nominais Valores presentes
Contas a Pagar (*) Valores nominais Valores presentes ou nominais (**)
Empréstimos Bancários Valores correntes na data do exercício Valores presentes
Patrimônio Liquido Valores históricos corrigidos Valores residuais reais
Receitas Valores históricos Valores históricos corrigidos para
moeda do final do exercício;
opcionalmente, deduzidos das perdas
c/inflação sobre contas a receber e
dos descontos p/valor presente
Custos de bens e Serviços Vendidos Custo histórico Valores históricos corrigidos da data
de formação até o final do exercício
opcionalmente deduzidos dos ganhos
c/inflação sobre fornecedores e contas
a pagar de custos de produção, bem
como dos descontos dessas contas a
valores presentes
Despesas Operacionais Valores históricos Valores históricos corrigidos p/moeda
do final do exercício, opcionalmente
deduzidos dos ganhos com inflação
sobre contas a pagar de despesas
operacionais e dos descontos a
valores presentes dessas contas
Despesas Financeiras Valores históricos Valores históricos corrigidos p/moeda
do final do exercício, obrigatoriamente,
deduzidos dos ganhos c/inflação
sobre as obrigações financeiras
Receitas Financeiras Valores históricos (classificados como Valores históricos corrigidos p/moeda
operacionais) do final do exercício, obrigatoriamente
deduzidos das perdas c/a inflação
sobre aplicações financeiras
Saldo da Correção Monetária Engloba todos os efeitos inflacionais e Substituídos pelas perdas e ganhos
operacionais, visando a evidenciar o c/a inflação
lucro líquido em moeda do final do
exercido
Perdas e Ganhos c/a Inflação Substituído pelo saldo da correção Compreende as perdas e ganhos c/a
monetária inflação as quais podem ser
apresentadas destacadamente por
conta de receita e despesa ou
englobadamente num saldo, exceto
em relação a perdas e ganhos
financeiros que obrigatoriamente
devem ser relacionadas as
respectivas receitas e despesas
120 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

4 A REALIDADE SOBRE AS PERDAS E GANHOS COM


A INFLAÇÃO

Em geral não existem ganhos ou perdas


com a inflação, mas apenas compensações
na demonstração do resultado.

Nos regimes inflacionários os agentes econômicos procuram proteger-se


da inflação estabelecendo mecanismos de correção.
Por exemplo, num empréstimo bancário de curto prazo, a uma taxa total de
encargo prefixada, estarão compreendidos os juros e a correção monetária
prevista. Suponhamos os seguintes números:

- Empréstimo tomado: 1.000.000


- Encargos assumidos antecipadamente no prazo de um mês: 224.000
- Valor final do resgate do empréstimo: 1.224.000
- Taxa de inflação verificada no período: 20%

A empresa irá registrar na contabilidade oficial a despesa financeira de


$ 224.000,00. A correção integral indicaria um ganho com a inflação de
$ 200.000,00, resultando num custo financeiro líquido de $ 24.000,00 assim
demonstrado.

Despesa financeira: 224.000,00


(-) Ganhos com a inflação: 200.000,00
Custo financeiro líquido (juros reais): 24.000,00

Embora amplamente utilizadas, as expressões "ganhos e perdas com a


inflação sobre os itens monetários" são incorretas na maioria dos casos, levando
inclusive à inadequada interpretação dos efeitos inflacionários e de suas corre-
ções.
No exemplo mostrado no item anterior está claro que não houve ganho com
a inflação, mas apenas uma compensação.
O banco, prevendo determinada inflação, embutiu-a na taxa de custo
financeiro contratada. Ocorrendo efetivamente aquela inflação, a parte da taxa
relativa a esta inflação representa para o banco uma reposição do capital inicial
e para a empresa tomadora uma atualização monetária da dívida e não um custo.
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 121

Para esclarecer mais profundamente suponhamos os seguintes valores do


dólar:

- Na data da contratação da operação de empréstimos: $ 100.


- Na data de resgate do empréstimo: $ 120.

A empresa teria:

(a) assumido um empréstimo de US$ 10,000 assim calculados:


1.000.000/100=10.000 e
1.224.000
(b) resgatado: US$ 10,200 = sendo os juros reais de
120
US$ 200 = 10,200 - 10,000 que, em moeda nacional correspondem a $ 24.000 =
200x120

Em resumo, incluiu-se no custo da operação uma taxa de inflação prevista,


com o fim de compensar-se da inflação real esperada. A desvalorização do
capital em virtude da inflação ocorrida já fora previamente compensada.
O eventual ganho ou perda só se dará em relação à diferença entre a
inflação prevista e a inflação real.
Por exemplo, digamos que o banco tivesse previsto uma inflação de 18%
sendo, portanto,

$ 180.000,00 a correção monetária pré-estimada e


$ 44.000,00 os juros reais.

Como a correção acabou sendo de $ 200.000,00 e não de $ 180.000,00


houve um ganho de $ 20.000,00 pela empresa. Porém, esse ganho não é
contábil, pois na contabilidade apuram-se apenas os resultados reais e não os
que aconteceriam.
Assim como os empréstimos bancários, as aplicações financeiras, as ven-
das a prazo e as compras a prazo trazem embutidas taxas previstas de inflação.
Por exemplo, quando a empresa vende a prazo, automaticamente embute a taxa
de inflação prevista no preço. Quando recebe a importância faturada, a redução
em termos reais é uma compensação da inflação incluída no preço e não uma
perda.
Há itens de ativos e passivos que independem da inflação prevista e geram
efetivas perdas ou ganhos com a inflação, é o caso do saldo em caixa e de
salários a pagar, cujos valores se reduzem em termos reais com a inflação
gerando perdas de um lado e ganhos de outro.
A inflação embutida em vendas, compras, operações financeiras e outras
transações deve ser expurgada a fim de que não se tenha valores inchados na
demonstração do resultado.
122 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Assim, em vez de se ter um único saldo de perdas e ganhos com a inflação


nos itens monetários, ter-se-á diversas "perdas" e diversos "ganhos", sendo cada
um deles deduzido da sua respectiva receita ou despesa, ficando claro que
sempre que a inflação tiver sido embutida, essa dedução não será uma perda ou
ganho mas apenas compensação.
Tanto as perdas e ganhos quanto as mencionadas compensações são
sempre apuradas em itens específicos de resultados.

5 O PROBLEMA DOS ÍNDICES DE INFLAÇÃO E A


POLARIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES
FINANCEIRAS

5.1 INADEQUAÇÃO DOS ÍNDICES DE INFLAÇÃO

Além de provocar a inflação com má administração, déficit público e tenta-


tivas de enganar o público com alquimias que pretensamente acabariam com a
inflação, os sucessivos governos federais conseguiram deturpar a série histórica
de quase todos os índices que tentam mensurar a inflação.
A correção monetária de balanços que era feita com base na ORTN na
década de 70 ia mais ou menos bem quando em 1979 um ministro resolveu
pre-fixar a inflação em 55% no ano. A inflação deu o dobro. A partir daí
interveio-se freqüentemente até que em 1986 a ORTN foi substituída pela OTN,
a qual nasceu congelada. Em 1986, para ajudar a combater a inflação, todos os
institutos que apuravam índices de inflação mudaram suas bases quebrando a
seqüência histórica.
Com a volta do reconhecimento da inflação - que nunca deixou de existir
senão no reconhecimento oficial pelo governo - chegou-se em 1988 a índices
diários de inflação revelados pela OTN fiscal (OTNf), que, por ficar muito alta, foi
extinta. Como a inflação não acabou criou-se em 1989 o BTN e logo em seguida
BTNf. Pela mesma razão o BTN foi extinto em janeiro de 1991. Até dezembro
daquele ano a correção se fez mensalmente pelo IN PC - Índice Nacional de
Preços ao Consumidor calculado pelo IBGE. Em 1992 passou a viger a Ufir -
Unidade Fiscal de Referência com valores diários.
Com isso qualquer tentativa de fazer correção monetária baseada em
índices oficiais fica totalmente prejudicada.
Se se tentar recorrer a outros índices de inflação apurados por organismos
como a F G V - Fundação Getúlio Vargas, IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística ou a FIPE - USP, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da
USP, sem pôr em dúvida a seriedade desses institutos, veremos que nenhum
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 123

índice se presta a correções monetárias adequadas de demonstrações financei-


ras.
Os índices que medem a inflação de preços ao consumidor, como o IN PC,
IPC e IPCA do IBGE, e o IPC da FIPE, simplificadamente são calculados através
de algumas etapas a saber:

• Escolhe-se uma amostra de população, segundo determinada faixa de renda (por


exemplo de 1 a 6 salários mínimos).
• Fazem-se pesquisas domiciliares para apurar qual a porcentagem média de gastos
em relação ao total de cada um dos principais grupos de produtos e serviços, como
alimentação, vestuário, habitação, transportes, serviços públicos, higiene, serviços
médicos etc., entendendo-se que essas porcentagens representam a importância
relativa de cada item.
• Pesquisam-se as variações médias de preços no mercado e ponderam-nas pelas
porcentagens apuradas acima.
• Apresenta-se o índice da inflação.

No caso do IGP - da FGV, além do índice de custo de vida, computam-se


os índices da inflação de preços por atacado e de construção. Porém, esses três
índices são juntados de maneira absolutamente arbitrária (peso - -— para índice
de preços ao consumidor, peso = — para índice de preços por atacado e peso =
— para índice de preços da construção civil). Observa-se que qualquer índice de
inflação reflete a média de variação de preços de inúmeros produtos, ponderada
pela média das porcentagens de consumo por item.
Qual a lógica de usar qualquer um desses índices para, por exemplo, corrigir
ativo permanente ou vendas?
Além desses problemas, cada um dos principais índices de inflação sofre
de outros problemas, como desatualização das pesquisas domiciliares, defasa-
gem (há índices apurados de 15 a 15 de cada mês...).
Na realidade, cada pessoa tem a sua própria inflação e cada empresa idem.
E podem diferenciar-se enormemente.
Suponha-se, por exemplo, que os preços de venda de uma empresa
aumentem 200% no mercado num determinado ano em que a inflação medida
pelo IGP atingiu 300% (que como já dissemos é uma média). A aplicação do
índice de 300% irá distorcer a análise, conforme o exemplo simplificado adiante:

a) Vendas de Jan. 19x1 : 5.000.000


a valores nominais
b) Vendas em Jan. 19x2:18.000.000
a valores nominais
Variação do IGP de Jan. 19x1 a Jan. 19x2 : 300%
124 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

c) Vendas de 19x1 corrigida pelo IGP para moeda de 19x2 = 5.000.000 + 300% x
5.000.000 - 20.000.000
d) Vendas de 19x1 corrigida pela variação de preços de produtos da empresa para
moeda de 19x2
5.000.000 + 200% x 5.000.000 = 15.000.000
e) Evolução real de vendas da empresa:
(b)-(d) 18.000.000 -15.000.000
x100 = 20%
(d) 15.000.000
f) Evolução de vendas apuradas com deflacionamento pelo IGP:
(b) - (c) 18.000.000-20.000.000 = - 1 0 %
(b) 20.000.000
Ou seja, a empresa vendeu 20% a mais, porém pelo IGP chegar-se-ia a
conclusão de que teve vendido 10% menos.

5.2 DOLARIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Diante de inúmeros inconvenientes no emprego de índices de inflação, a


melhor solução parece mesmo o uso de moeda forte como por exemplo o Dólar.
Aliás, não se trata de eleger a melhor solução, mas da menos ruim, pois o próprio
Dólar, além da inflação americana e de sua desvalorização internacional a longo
prazo, historicamente tem sofrido sobressaltos na paridade cambial com a moeda
nacional. Contudo, é ainda de longe menos ruim que o uso dos mencionados
índices.
Para efeito da correção integral, o Dólar se ajusta perfeitamente, pois na
hora de conversão dos valores mensais em cruzeiros reais para moeda estável
basta convertê-los para o Dólar. Uma vez feito isso manter-se-iam os valores em
Dólar, sendo desnecessária a reconversão para cruzeiros reais. Apenas cabe-
riam os ajustes de perdas e ganhos com a inflação e de valores presentes.
Entretanto, as normas oficiais editadas pela CVM não contemplam a hipó-
tese da correção integral em moeda estrangeira. As empresas obrigadas a
publicar demonstrações financeiras com correção integral devem fazê-lo de
acordo com as instruções da CVM (vide item 6).
Assim, a dolarização somente se aplicaria para uso interno e para análises
das demonstrações financeiras.
Neste livro, os exemplos de análise serão baseados em demonstrações
financeiras com correção integral e em valores apresentados em Dólares Ame-
ricanos (US$).
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 125

Observação: Embora os exemplos mostrados neste livro estejam em


Dólares Americanos (US$), foi mantida a notação oficial brasileira, tanto para
valores absolutos como para números fracionários.

Exemplo: US$ 200.000 (Duzentos Mil Dólares)


1,25 : 1,00 (Um dólar e 25 cents para cada dólar)

6 SÍNTESE DAS NORMAS OFICIAIS DE CORREÇÃO


INTEGRAL

As principais determinações legais sobre a Correção Integral emanadas


pela CVM - Comissão de Valores Mobiliários podem ser assim resumidas:

As demonstrações financeiras passam a se denominar: DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS EM


MOEDA DE CAPACIDADE AQUISITIVA CONSTANTE.
Fica instituída a UMC - Unidade Monetária Contábil, ou seja, a moeda de capacidade aquisitiva
constante.
As companhias abertas são obrigadas a elaborar as demonstrações contábeis em UMC e a
divulgá-las em cruzeiros reais, com base na paridade entre a UMC e o cruzeiro real no final do
exercício.
Os ativos e passivos monetários devem ser traduzidos a valor presente utilizando-se a taxa
média nominal de juros prefixada divulgada diariamente pela ANBID. No uso de ativos e passivos
financeiros, a taxa prefixada é aquela efetivamente contratada.
Os itens não monetários deverão ser registrados pelo valor presente na data de aquisição e
controladas em quantidades de UMC, abrangendo além do ativo permanente os estoques, ouro,
despesas antecipadas e os créditos em bens ou serviços.
Os ganhos e perdas nos itens monetários, bem como os seus ajustes a valor presente, deverão
ser apropriados nas contas de resultado a que se vinculam; quando não for possível essa
vinculação, os ganhos e perdas entrarão como outras receitas ou despesas.
Os ganhos e perdas em ativos e passivos financeiros deverão ser deduzidos das respectivas
despesas e receitas, apresentando as despesas e receitas financeiras reais.
As reversões de ajuste a valor presente (exceto em casos de ativo e passivo financeiro) deverão
ser apropriadas como receitas ou despesas financeiras comerciais.
Deverão ser objeto de registro contábil: (1) a tradução a valor presente de ativos e passivos
monetários, bem como as posteriores reversões e (2) a atualização monetária dos itens não
monetários.
126 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

7 VANTAGENS DA ANALISE DAS DEMONSTRAÇÕES


FINANCEIRAS COM CORREÇÃO INTEGRAL

Ao corrigir, pelo menos parcialmente, as distorções dos efeitos inflacionários


sobre as demonstrações financeiras, a correção integral de balanços permite
recompor algumas das informações contidas normalmente nas demonstrações
financeiras em países de moeda estável.
Na correção integral, as receitas, custos e despesas operacionais, bem
como as receitas e despesas financeiras, passarão a expressar valores próximos
à realidade.
As principais alterações (para melhor) propiciadas pelas demonstrações
financeiras com correção integral acham-se resumidas adiante. Nos capítulos
seguintes cada um desses itens será extensamente desenvolvido.

Legislação Societária Correção Integral

MARGEM DE LUCRO BRUTO A divisão de lucro bruto por vendas em Tenta-se recompor quais seriam as
verdadeiras vendas e custos de produtos
realidade. Quanto maior a inflação, maior o vendidos em moeda constante permitindo
inchaço das vendas nominais. Os custos de saber qual a margem bruta de lucro com que
produtos vendidos geralmente ficam menos a empresa opera
inchados do que as vendas, porque
compreendem estoques que são baixados a
custos nominais das datas de aquisição e
portanto mais baixos

LUCRO OPERACIONAL E MARGEM A colocação dos afeitos inflacionários após O reconhecimento dos efeitos inflacionários
OPERACIONAL o lucro operacional não permite a em cada item de receita e despesa permite
apresentação correta deste valor e apurar o valor adequado do lucro operacional
conseqüentemente da margem operacional e da margem operacional
(lucro operacional/vendas).

OPERAÇÕES FINANCEIRAS As receitas e despesas financeiras são Após a apuração das perdas e ganhos com
apresentadas em valores nominais a inflação respectivamente sobre as receitas
e despesas financeiras encontra-se o valor
real das mesmas, permitindo calcular o
rendimento real das aplicações e o custo real
do dinheiro

TAXAS DE RENTABILIDADE A inadequação dos valores de receita, lucro Ao apresentar os valores de receitas, lucro
operacional e despesas financeiras impede operacional e despesas financeiras
o cálculo das taxas de GIRO DO ATIVO, satisfatoriamente expurgados dos efeitos
RETORNO DO ATIVO e CUSTO DA inflacionários, toma possível o cálculo da real
DÍVIDA. Somente a taxa de retomo do capital taxa de retomo do ativo e do custo da dívida,
próprio não era afetada. Freqüentemente, permitindo o cálculo da alavancagem
autores e profissionais menos atualizados financeira (vide Cap. 14), ou seja, a relação
efetuavam cálculos incorretos das taxas de entre o que custou o dinheiro versus o que
retorno do ativo e custo da dívida renderam as aplicações na empresa e
conseqüentemente o efeito disto na taxa de
retorno do capital próprio.

RECURSOS FINANCEIROS GERADOS No regime inflacionário existe uma geração São evidenciados os valores verdadeiros
PELAS OPERAÇÕES (Demonstrações das nominal de recursos que não corresponde a gerados pelas operações, esclarecendo
Origens a Aplicações de Recursos) efetivo acréscimo, mas a uma mistura de eventuais confusões.
reposição com acréscimo ou redução
levando a confusão de interpretação. Não é
raro encontrar empresas em que houve
absorção de recursos e a demonstração
nominal evidencia, ao contrário e
inadequadamente, geração de recursos.

FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS Acréscimos nominais de financiamentos São evidencidos os verdadeiros acréscimos


bancários não significam acréscimos reais ou reduções de financiamentos bancários.
ou, em certos casos até a redução em termos
reais.
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 127

Como Elaborar a Dolarização de Balanços


Apêndice de Fora da Empresa

Conforme foi fartamente exposto neste capítulo, as demonstrações finan-


ceiras preparadas nos moldes da Lei das S.A. não se prestam a análise, seja
pela defasagem dos valores nominais corrigidos pela inflação, seja pela inade-
quação da estrutura da demonstração do resultado onde as receitas e despesas
financeiras acham-se computadas como operacionais pelos seus valores brutos
e os efeitos inflacionários computados num único item como operacional.
Em vista disso é IMPRESCINDÍVEL que as demonstrações financeiras
estejam sob a forma da correção integral.
Como apenas as CIAS. ABERTAS estão obrigadas a divulgar demonstra-
ções financeiras como correção integral, a solução é elaborar a correção de fora
da empresa, de acordo com a metodologia detalhada adiante.
É claro que a correção integral de fora da empresa, baseada em demons-
trações financeiras publicadas, contém muitas aproximações diminuindo, portan-
to, a precisão das conclusões. Porém, aqui, vale mais do que nunca a máxima
contábil de que "é preferível estarmos aproximadamente certos, que certamente
errados".
Como concluiu-se no ¡tem 5.2 é recomendável que as demonstrações
financeiras sejam convertidas para dólares.
Quando as demonstrações financeiras forem publicadas com correção
integral basta convertê-las em dólares pelo dólar médio entre compra e venda
da data de levantamento das demonstrações.
Quando as demonstrações financeiras forem publicadas segundo a Lei das
S.A., a aplicação da correção integral já se fará com o uso do dólar como moeda
estável, de maneira que fazendo-se a correção integral de fora da empresa por
esse critério, automaticamente as demonstrações financeiras estarão em dóla-
res.
128 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Mostraremos a seguir como fazer a correção monetária integral através de


um exemplo explicando cada passo. Para isso formularemos algumas hipóteses
que se acham detalhadamente discutidas em cada um dos passos adiante. Essas
hipóteses resultam em números apenas aproximados da realidade, porém muito
melhores do que os da legislação societária.

1. DADOS

1.1. Balanço Patrimonial de 31 de dezembro.


(em CR$ 1.000)

ATIVO 19x2 19x3 PASSIVO 19x2 19x3


CIRCULANTE CIRCULANTE
Disponível 1.351 1.927 Fornecedores 32.817 56.492
Aplicações financeiras 4.155 4.779 Salários e encargos a 3.462 7.095
pagar
Duplicatas a receber 59.117 126.627 Impostos a recolher 4.428 9.586
(Prov. p/dev. (1.476) (2.064) Outras contas a pagar 2.172 1.233
duvidosos)
(Dupl. (20.226) (55.127) Prov. p/imp. renda a 3.777 10.741
descontadas) pagar
Estoques 53.375 101.554 Dividendos a pagar 1.036 4.778
Empréstimos 4.284 12.182
bancários
SOMA 96.296 177.696 SOMA 51.976 102.107
PERMANENTE EXIGÍVEL A LONGO
PRAZO
Investimentos 8.035 17.580 Emprést. banc. 40.706 115.176
Imobilizado 87.260 212.042 Financ. BNDE 19.414 41.160
SOMA 60.120 156.336
(-)Depreciação (9.336) (26.923)
acumulada
77.924 202.699 PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Diferido 2.100 6.940 Capital 43.660 53.604
SOMA 88.059 209.639 Reservas da correção
monetária 17.660 50.519
TOTAL DO ATIVO 184.355 387.335 Lucros acumulados 10.939 24.769
SOMA 72.259 128.892
TOTAL DO PASSIVO 184.355 387.335
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 129

1.2. Demonstração do resultado para o exercício findo em


31 de dezembro de 19x2.
(em CR$ 1.000)
(em $1.000)
Receita bruta de vendas 554.000
Deduções de vendas
Devoluções e abatimentos (15.807)
Impostos (131.670)
Receita líquida de vendas 406.523
Custo dos produtos vendidos (252.927)
Lucro bruto 153.596
Despesas com vendas (19.200)
Despesas administrativas (14.753)
Despesas financeiras (116.704)
Receitas financeiras 2.201
Resultado da equivalência patrimonial 1.563
Lucro operacional 6.703
Saldo da correção monetária 17.166
Lucro antes do imposto de renda 23.869
Provisão para o imposto de renda 10.741
Lucro líquido 13.128

1.3. Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido.


Exercício findo em 31 -12-X3, em CR$ 1.000.

Reserva de Lucros
Capital
Correção Acumu- Total
Social
Monetária lados
Saldo em 31-12-X2 43.660 17.660 10.939 72.259
Correção monetária — 32.859 5.480 38.339
Lucro líquido do exercício — — 13.128 13.128
Aumento de capital — — — —
Novas Subscrições 9.944 — — 9.944
Dividendos — — (4.778) (4.778)
Saldo em 31-12-X3 53.604 50.519 24.769 128.892
130 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

1.4. Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos.


Exercício findo em 31-12-X3, em CR$ 1.000.

ORIGENS
Das Operações
Lucro líquido 13.128
Depreciação 8.600
Saldo da correção monetária (17.166)
Resultado da equivalência patrimonial (1.563) 2.999
Variações Monetárias Incorporadas ao
Exigível a Longo Prazo 27.700

Dos Acionistas
Aumento de Capital 9.944

De Terceiros
Novos Empréstimos e Financiamentos
de Longo Prazo 79.416

Total das Origens 120.059


APLICAÇÕES
Dividendos 4.778
Redução de Emp. e Financ. Longo Prazo 10.900
Aquisições de Imobilizado 66.740
Aquisições de Investimentos 3.255
Acréscimo de Ativo Diferido 3.117

Total das Aplicações 88.789


Aumento do Capital Circulante Líquido 31.269

Movimentação do Ativo e Passivo


31-12-X2 31-12-X3 Variações
Circulante
ATIVO CIRCULANTE 96.296 177.696 81.400
PASSIVO CIRCULANTE 51.976 102.107 50.131
CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 44.320 75.589 31.269
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 131

1.5. Valor mensal do Dólar em 19X3.

31-12-X2-51,35 15-07-X3-64,41
15-01-X3-52,34 15-08-X3-66,62
15-02-X3-53,57 15-09-X3-68,80
15-03-X3-55,52 15-10-X3-71,30
15-04-X3-57,71 15-11-X3-73,50
15-05-X3-59,82 15-12-X3-75,86
15-06-X3-62,07 31-12-X3-77,08

Dólar médio - 63,46


Variação em 19X3 - 50,1%
Variação final/média - 21,46%
1.6. Taxa média nominal de juros diários: 0,135% ou 0,00135.

2 MÉTODO DE ELABORAÇÃO DA CORREÇÃO INTEGRAL


EXTERNA

12 Passo: Colocação dos dados das demonstrações financeiras numa


planilha, tipo balancete - débito/crédito, como é mostrado na planilha A. A fim de
entender bem como foi produzida essa planilha, recomendamos ao leitor que
faça atenta leitura das notas explicativas que se seguem a essa planilha A. O
objetivo da planilha A é dispor os dados adequadamente para a planilha B.
Antes é preciso abrir o saldo da correção monetária conforme é mostrado
abaixo. Caso esses dados não sejam disponíveis poderão ser preparados,
tomando-se como base as demonstrações de origens e aplicações de recursos
e de mutações do patrimônio líquido.

CORREÇÃO MONETÁRIA DO ATIVO PERMANENTE E PATRIMÔNIO LÍQUIDO


Débito Crédito
Investimento 4.727 (1)
Imobilizado 58.042 (1)
Depreciação Acumulada 8.987 (1)
Diferido 1.723 (1)

Reservas 32.859 (2)


Lucros Acumulados 5.480 (2)

Saldo 17.166
(1) Valores obtidos por diferença entre saldo inicial, saldo final e aquisições evidenciadas na DOAR.
(2) Valores obtidos da Demonstração das Mutações de Patrimônio Liquido.
132
PLANILHA A (1) EM CR$ 1.000
I II III IV V VI
MOVIMENTO FINANCEIRO
CONTAS SALDO INICIAL MOVIMENTO ECONÔMICO TRANSFERÊNCIAS CORREÇÃO MONETÁRIA SALDO FINAL
(obtido por diferença)
ATIVO 1.577 3.255
470.683 66.740
CIRCULANTE 22.311 3.117
9.944 426.014
Disponível 1.361 1.927 4.813

Aplicações Financeiras 4.155 2.201 4.779 1.577


Duplicatas a Receber 59.117 554.000 15.807 126.627 470.683
(Prov. Dev. Duv.) 1.476 588 2.064
Estoques 53.375 101.554 53.375 101.554
PERMANENTE
Investimentos 8.035 1.563 4.727 17.580 3.255
Imobilizado 87.260 58.042 212.042 66.740
Deprec. Acumulada 9.336 8.600 8.967 26.923
Diferido 2.100 1.723 6.940 3.117
PASSIVO
Fornecedores e Contas 42.879 131.670 74.406 426.014
a Pagar Operacionais(2) 292.866
18.612
14.393
Contas a Pagar de Lucro(3) 4.813 10.741 4.778 15.519 4.813
Obrigações Financeiras(4) 84 630 116.704 223.645 22.311
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital 43.660 53 604 9.944
Reservas 17.660 32.859 50.519
Lucros Acumulados 10 939 4.778 13.128 5480 24 769

Receita Bruta de Vendas 554000


(-) Devoluções e Abatimentos 15.807
Impostos 131.670
Estoque Inicial 53.375
Custos de Produção(5) 292.866
Depreciação(6) 8.240
Estoque Final 101.554
Despesas Gerais de Vendas 18.612
Prov. Dev. Duvidosos(7) 588
Despesas Administrativas 14.393
Depreciação(6) 360
Despesas Financeiras 116.704
Rec. Financeiras 2.201
Result Equivalência 1.563
Prov. para Imposto de Renda 10.741
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Resultado 13.128
Correção Monetária 64 492
SOMA 215.393 215 393 1 322 674 1.322.674 17.906 17.906 111.818 111.818 471.449 1 006 454 1.008.454
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 133

NOTAS EXPLICATIVAS À PLANILHA A:

(1) Construção da Planilha A:


I - Nesta coluna são colocados os saldos do balanço do início do exercício.
II - Nesta coluna são colocados os valores da demonstração do resultado, exceto
os decorrentes de correção monetária que serão colocados numa coluna
própria. Observe-se que cada item de resultado corresponde a um item de
balanço.
III - Nesta coluna figuram apenas os dados cujos saldos foram transferidos de uma
conta para a outra.
IV - Os dados relativos à correção monetária são colocados nesta coluna destaca-
damente da coluna anterior. Quando for realizada a conversão para moeda
forte, estes dados desaparecerão, pois não existe correção monetária em
moeda estável.
V - Nesta coluna constam os dados tirados do balanço final.
VI - As diferenças entre o saldo final e a soma dos saldos das colunas I, II, III e IV
se deve ao movimento de recebimentos e pagamentos. Assim, apura-se o
movimento em cada conta e, conseqüentemente, o movimento de Disponível.
Note-se que alguns dados são obtidos das demonstrações de origens e
aplicações de recursos e de mutações do patrimônio líquido.
(2) Esse agrupamento de contas é necessário em virtude de os valores de origem
dessas contas decorrerem de compras e despesas operacionais não discriminadas
na demonstração de resultados.
(3) Contas a pagar de lucros compreende Imposto de Renda e Dividendos, os quais
ocorrem no encerramento do balanço em função do lucro obtido.
(4) As Obrigações Financeiras foram agrupadas em vista da unidade das despesas
financeiras na demonstração do resultado.
(5) Os custos de produção foram encontrados através da fórmula:
CPV - El + CP - EF onde CPV = Custo dos Produtos Vendidos
El - Estoque Inicial
EF - Estoque Final
CP - Custos de Produção
(6) As despesas de depreciação foram tomadas da DOAR e subdivididas em custos de
produção e despesas administrativas proporcionalmente aos valores destes dois.
Eventuais distorções nesta subdivisão quase não afetam os resultados finais.
(7) A Provisão para Devedores Duvidosos foi encontrada pela diferença entre os saldos
iniciais e finais.
2- Passo: Os dados da planilha A são todos convertidos para dólar na
planilha B. O objetivo desta planilha não é apenas converter os dados para
dólares, mas principalmente através dessa mecânica encontrar as perdas e
ganhos com a inflação que irão (a) substituir o saldo da correção monetária e (b)
identificar as perdas e ganhos em cada item de ativo e passivo monetário com
as respectivas receitas e despesas a que se vinculam.
134

PLANILHA B(1) EM US$


VI VIII IX X XI xa XIII
MOVIMENTO FINANCEIRO SALDO FINAL QUE SERIA SALDO PELO BALANÇO PERDAS E GANHOS COM
CONTAS SALDO INICIAL MOVIMENTO ECONÔMICO SALDOS LÍQUIDOS FINAIS
E TRANSFERÊNCIAS ATINGIDO CONTÁBIL A INFLAÇÃO
ATIVO
CIRCULANTE
Disponível 26.308 9.076(2) 35.385 25 000 10385 25.000
Aplicações Financeiras 80 915 34.683 24.850 90.748 62.000 26.748 62.000
Duplicatas a Receber 1.151.256 6.729.908 249.086 7 417 002 2.215.076 1.642.799 572277 1.642.799
Prov. p/Dev. Duv 26.744 9.265 38.006 26.777 11.231 26.777
Estoques(3) 1.039.435 1.317514 1.039.435 1.317.514 1.317.514
PERMANENTE
Investimentos 156.475 20277 51.323 226.075 228.075 228.075
Imobilizado 1.699.318 1.051.617 2.750.935 2.750.935 2.750.935
Depreciação Acumulada 181.810 160 467 349.287 349.267 349.287
7.010
Diferido 40.896 49.141 90.037 90.037 90.037

Fornec. a Ctas. a Pg. Oper. 835 034 7.209.911 6 713.110 1.331.635 985.308 366.527 965.308
Contas a Pagar da Lucro 93.729 139.348 75 643 61.987 219.221 201.336 17.885 201.336
Obrigac. Financ. 1.648.102 1.839.016 351.574 3.838.692 2.901.466 937.226 2.901.466
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital a Reservas 1.194.157 156.673 1.350.830 1.350.830 1.350.830
Lucros Acumulados(4) 213.026 61.967 151.041 321.341 321.341
SOMA 1.633.327 1.633.327
8.135.547 8.135.547 5.865.592 5.865.592
Receita Bruta de Vendas 8.729.906 8.729.906 572.277 8.157.631
Devoluções e Abatimentos 249.086 249.086 249.066
Impoatoa 2.074.850 2.074.850 106.293 1.956 557
Eat Inicial 1.039.435(a) 1.039.435 1.030.435
Custo de Produção 4.614.970 4.614.970 234.577 4.380.393
Depreciação 160.467(b) 160.467 160.467
Est. Final 1.317.514(c) 1.317.514 1.317.514
Daap. Sarais de Vendas 293.287 293.287 14.662 278.625
Desp. Prov. Dev. Duv. 9.265 9.265 11.231 1.966
Desp. Adm. Geral 226.804 226 604 10995 215.809
Depreciação 7.010(d) 7.010 7.010
Daap. Financeiras 1.839.016 1.639.016 937.226 901.790
Rec. Financeira 34.683 34.683 28.748 5.935
Result de Equivalência 20.277(d) 20.277 20.277
Perdas e Ganhos c/a infl. 10.365 17.885 7.500
Provisão p/IR 139.348(e) 139.348 139.348
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 135

NOTAS EXPLICATIVAS À PLANILHA B


(1) Construção da Planilha B
COLUNA:
VII - Contém os dados da Coluna I da Planilha A - convertidos para dólar pela taxa
de 1:51,35.
VIII - Contém os dados da Coluna II da Planilha A - convertidos para dólar pela taxa
média de 1:63,46 ou final de 1:77,08 ou ainda a inicial de 1:51,35 conforme a
discriminação abaixo.
• (a) Estoque Inicial - Convertido pela taxa inicial
• (b) Depreciação - Convertida pela taxa inicial
• (c) Estoque Final - Convertido pela taxa final
• (d) Resultado da Equivalência - Convertido pela taxa final
• (e) Provisão para IR - Convertida pela taxa final
• demais itens convertidos pela taxa média
IX - Dados tirados das colunas III e VI da planilha A, convertidos pela taxa média
de 1:63,46, exceto a declaração de dividendos, convertida pela taxa final.
X- Dados obtidos pela soma das colunas precedentes nesta planilha.
XI - Dados obtidos da coluna V da planilha A convertidos pela taxa final de 1:77,08.
XII - A diferença entre os valores nas colunas X e XI se deve à inflação. Por exemplo:
a diferença entre os US$ 2.215.076 de Duplicatas a Receber esperados da
coluna X e os US$ 1.642.799 encontrados na coluna XI são perdas inflaciona-
rias que deverão ser deduzidas de vendas.
(2) Resultou da divisão de 576.000 : 63,46, sendo que os CR$ 576.000 decorrem do
valor em CR$ 1.000: + 1.577 + 470.683 + 23.311 + 9.944 - 3.255 - 66.740 - 3.117
- 426.014 - 4.813 da coluna VI da planilha A.
(3) Os estoques foram convertidos pelo dólar do fechamento do balanço e não pelas
suas respectivas datas de formação, por falta de informação sobre estas.
(4) A diferença encontrada no item Lucros Acumulados não deve ser levada em conta,
pois na (a) coluna XI o saldo baseou-se no balanço final em Cruzeiros que incorpora
o lucro do exercício, enquanto na coluna X o lucro se acha embutido nas diversas
contas de resultado (que aparecem nas linhas abaixo da de "Lucros Acumulados").
Obs.: Os cálculos levaram em conta maior número de dígitos nos denominado-
res, daí aparecerem pequenas diferenças.
3 2 Passo: As contas a receber e a pagar do balanço acham-se a valores
nominais das datas futuras, embutindo, portanto, correção monetária e juros
reais, ou juros nominais entre a data do balanço e as respectivas datas do
vencimento.
As diferenças entre valor presente e valor nominal estão indevidamente
lançadas a resultados. Assim é que as vendas estão inchadas por essa diferença
relativa a duplicatas e as compras pela diferença relativa a fornecedores etc.
136 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A apuração do valor presente de fora da empresa é extremamente difícil e


só alcançável mediante algumas suposições, de maneira que o resultado final é
apenas aproximado. Entretanto, consideramo-lo válido.
Serão apurados os valores presentes de:

- Duplicatas a Receber
- Duplicatas Descontadas
- Provisão p/Dev. Duvidosos
- Fornecedores

As demais contas geralmente prescindem de transporte a valor presente,


mesmo internamente a empresa, por não embutirem os mencionados juros
nominais futuros.
As diferenças entre os valores presentes e os valores nominais em dólares
serão deduzidas das respectivas contas de resultado a que estiverem vinculadas
as contas acima.

DUPLICATAS A RECEBER, DUPLICATAS DESCONTADAS E PROVI-


SÃO PARA DEVEDORES DUVIDOSOS.

a) Calcula-se inicialmente o:
PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS = PMRV, cuja fórmula é:

360 x DUPLICATAS A RECEBER


PMRV = =
VENDAS REALIZADAS*

PMRV =
360x126.627
(554.000-15.807) = 82 DIAS

O prazo médio de 82 dias significa que, em média, as vendas demoram 82 dias


para ser recebidas e que as vendas dos últimos 82 dias se acham represadas em
duplicatas a receber no final do exercício, assim há duplicatas que serão recebidas
nos próximos 1, 2, 3 até 82 dias. É como se fossem recebidas de uma só vez dentro
de 41 dias. Este é, pois, o número de dias que iremos adotar para calcular o valor
presente de duplicatas a receber.
M
Fórmula do Valor Presente: VP -
(1+i)n
onde: VP = Valor Presente
M = Valor Nominal a ser transportado p/Valor Presente
i = Taxa de Juros Nominal diária
n = Número de Dias

* Vendas menos Devoluções e Abatimentos.


CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 137

b) Valor Presente de Duplicatas a Receber


CR$ 1.000 US$
126.627
VPdr = 119.813 1.554.398
(1 + 0,00135)41

Diferença Valor Nominal / Valor Presente:


126.627 - 119.813 = 6.814 88.402

Obs.: As fórmulas de cálculos acima são aproximadas (vide Capítulo 10). A rigor, no
PMVR, por exemplo, as Duplicatas a Receber deveriam entrar pelo Valor
Presente e as Vendas pelo Valor Final já convertido em moeda constante e
deduzido da diferença entre o valor presente e o contábil. Todavia, como o
cálculo desses prazos visa justamente chegar ao valor presente, este não é
conhecido e não pode ser usado na fórmula.

c) Valor Presente de Duplicatas Descontadas:


CR$ 1.000 us$
55.127
VPdd = 52.160 676.699
(1 + 0,00135)41

Diferença Valor Nominal / Valor Presente:


55.127 - 52.160 = 2.967 38.492

d) Valor Presente de Provisão de Devedores Duvidosos:


2.064
VPpdd = 1.953 25.337
(1 + 0,00135)41
Diferença entre Valor Nominal / Valor Presente:
2.064 - 1.955 = 112 1.453

FORNECEDORES
e) Prazo Médio de Pagamento de Compras:
360 x FORNECEDORES
PMPC =
COMPRAS
360 x 56.492
PMPC = = 92 DIAS
220.636
f) Valor Presente de Fornecedores:
CR$ 1.000 US$
56.492
VPf = 53.092 688.791
(1 + 0,00135)46
Diferença Valor Nominal / Valor Presente:
56.492 - 53.092 = 3.400 44.110
138 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

4s Passo: Usando os dados da planilha B e as diferenças entre valores


nominais e valores presentes apurados no 3a Passo, podemos montar as
demonstrações financeiras em dólares.

a) Balanço Patrimonial em 31 de dezembro de 19X3 em US$.

ATIVO FONTE
CIRCULANTE
Disponível 25.000 Planilha B
Aplic. Financ. 62.000 Planilha B
Duplicatas a Receber 1.554.398 Item (b) do passo 3
(-) Prov. p/Dev. Duv. (25.337) Item (c) do passo 3
(-) Dupl. Descontadas (676.699) Item (d) do passo 3
Estoques 1.317.514 Planilha B
SOMA 2.256.876
PERMANENTE
Investimentos 228.075 Planilha B
Imobilizado 2.750.935 "
(—) Deprec. Acumulada (349.287) "
Diferido 90.037 "
SOMA 2.719.760
TOTAL DO ATIVO 4.976.636
PASSIVO
CIRCULANTE
Fornecedores 688.791 Item (f) do passo 3
Sal. e Encargos a Pg. 92.047 Balanço em cruzeiros convertido
em dólares pela taxa 1:51,35
Impostos a Recolher 124.364
Outras Ctas. a Pg. 15.996 "
Prov. p/lmp. Renda a Pg. 139.349
Dividendos a Pg. 61.987 "
Emprést. Bancários 158.044 "
SOMA 1.280.578
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
Emprést. Bancários 1.494.240 "
Financiamento BNDES 533.991 "
SOMA 2.028.231
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital e Reservas 1.350.830 Planilha B
Lucros Acumulados 316.997 Demonstração das Mutações do
Patrimônio Líquido (item "c"
adiante)
SOMA 1.667.827
TOTAL DO PASSIVO 4.976.636
CORREÇÃO MONETÁRIA INTEGRAL 139

b) Demonstrações do Resultado para exercício findo em 31 de dezembro de 19X2, pela


correção integral, traduzido em US$.

Vide Notas a Seguir

Receita Bruta de Vendas 8.067.228 (1)


Deduções de Vendas Devoluções e
Abatimentos (249.086) (2)
Impostos (1.968.557) (3)
Receita Líquida de Vendas 5.851.586
Custo dos Produtos Vendidos (4.218.671) (4)
Lucro Bruto 1.632.915
Despesas com Vendas (275.206) (5)
Despesas Administrativas (222.819) (6)
Despesas Financeiras (863.298) (7)
Receitas Financeiras 5.935 (8)
Resultado da Equiv. Patrimonial 20.277 (9)
Ganhos c/a Inflaç. s/Itens Monet. 7.500 (10)
Lucro Operacional 305.304
Provisão p/ Imposto de Renda (139.348) (11)
Lucro Liquido 165.956

Notas: (1) 8.157.631 da planilha B menos 88.402 do item "b" do passo 3; (2) planilha
B; (3) planilha B; (4) Estoque Inicial de 1.039.435 mais Custo de Produção de
4.380.393, mais custo de depreciação de 160.467 menos Estoque Final de
1.317.514 (todos da planilha B) menos 44.110 do item T do passo 3; (5)
Despesas Vendas Gerais de 278.625 menos 1.966 de Prov. p/ Dev. Duvidosos
(todos da planilha B) menos 1.453 do item "d" do passo 3; (6) Despesas
Administrativas Gerais de 215.809 mais despesa de depreciação de 7.010
(ambos da planilha B); (7) despesa financeira de 901.790 da planilha B menos
38.492 do item "c" do passo 3; (8), (9), (10) e (11) todos tirados da planilha B.

c) Conciliação do Lucro pela Correção Integral com o Lucro pela Legislação Societária.
Lucro Líquido pela Legislação US$
Societária ($13.128.000:77,08) 170.316
Transporte a Valores Presentes
De Dupls. a Receber - 88.402
De Prov. p/ Devedores Duvidosos + 1.453
De Fornecedores + 44.110
De Dupls. Descontadas + 38.492
Arredondamentos - 13
165.956
140 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

d) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido para o exercício findo em


31-12-X3. Em US$.

CAPITAL
SOCIAL RESERVA LUCROS ACUMUL. TOTAL
DA CORREÇ. MONET.

Saldo em 31-12X2 1.194.157 213.028 1.407.185


Lucro Líquido -.- 165.956 165.956
Aumento de Capital 156.673 156.673
Dividendos -.- (61.987) (61.987)
Saldo em 31-12-X3 1.350.830 316.997 1.667.827

e) Demonstrações das Origens e Aplicações de Recursos para o Exercício findo em


31-12-X3. Em US$.

ORIGENS
Das operações
Lucro Líquido 165.956
Depreciação 167.477
Resultado da Eq. Patrim. (20.277)
313.156
Dos acionistas
Aumento de Capital 156.673
De terceiros
Novos Empréstimos e Financ. de Longo Prazo
TOTAL DAS ORIGENS 1.327.272
APLICAÇÕES
Dividendos 61.987
Aquisição de Imobilizado 1.051.617
Aquisição de Investimento 51.323
Acréscimo de At. Diferido 49.141
Total das Aplicações 1.214.068
Acúmulo do Capital Circulante Líquido 113.200

MOVIMENTAÇÃO DE ATIVO E PASSIVO CIRCULANTE


31-12-X2 31-12-X3 VARIAÇÃO
ATIVO CIRCULANTE 1.875.286 2.256.876 381.588
PASSIVO CIRCULANTE 1.012.192 1.280.578 268.388
CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 863.094 976.298 113.200
Padronização das
Demonstrações Financeiras e
5 Empresa Exemplo

Neste capítulo apresenta-se por que as demonstrações financeiras publica-


das, mesmo que estejam expressas em moeda constante ou em dólares,
precisam ser padronizadas, ou seja, reclassificadas e condensadas para fins de
análise.
Para tanto, foi criado um modelo de balanço e demonstração do resultado.
Em seguida, apresentam-se os dados da Cia. Big, uma empresa cujas
demonstrações servirão de exemplo até o final do livro, dentro do objetivo de
mostrar como as diversas técnicas de análise se complementam.

1 PADRONIZAÇÃO DAS D E M O N S T R A Ç Õ E S
FINANCEIRAS

As demonstrações financeiras devem ser


preparadas para a análise, da mesma forma
que um paciente que vai submeter-se a
exames médicos.

Antes de iniciar a análise, devem-se examinar detalhadamente as demons-


trações financeiras.
Este trabalho é chamado Padronização e consiste numa crítica às contas
das demonstrações financeiras, bem como na transcrição delas para um modelo
previamente definido como se acha reproduzido adiante.
142 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A Padronização é feita pelos seguintes motivos:

• Simplificação: um balanço apresentado segundo a Lei das S.A., por exemplo,


compreende cerca de 60 contas. Isso dificulta a visualização do balanço como um
todo. Quando se colocam lado a lado três balanços com 60 valores cada um e se
calculam os percentuais de variação de um ano para outro, bem como a composição
percentual de cada balanço (que é chamada análise vertical e horizontal), chega-se
a 540 números, o que complica enormemente o trabalho de um analista. O modelo
de balanço do quadro adiante reduz para cerca de 20 o número de contas do balanço.
• Comparabilidade: com exceção das companhias que operam em ramo onde existe
um plano de contas legal obrigatório (como acontece com bancos, seguradoras etc.),
toda empresa tem seu próprio plano de contas, com maior ou menor grau de detalhes
e com títulos de contas em que é difícil descobrir a origem. Como a análise se baseia
em comparação, só faz sentido analisar um balanço após o seu enquadramento num
modelo que permita comparação com outros balanços.
• Adequação aos objetivos da análise: há pelo menos uma conta que deve sempre
ser reclassificada: Duplicatas Descontadas; do ponto de vista contábil, é uma
dedução de Duplicatas a Receber; do ponto de vista de financiamentos, porém, é
um recurso tomado pela empresa junto aos bancos, devido à insuficiência de
recursos próprios. Em nada se distingue de empréstimos bancários, do ponto de
vista financeiro. Por isso, as Duplicatas Descontadas devem figurar no Passivo
Circulante.
Há contas que, por sua natureza, são normalmente classificadas no Ativo Circulante,
como Duplicatas a Receber e Estoques.

• Precisão nas classificações de contas: é freqüente encontrarem-se balanços e


demonstrações de resultados com falhas nas classificações de contas, como, por
exemplo, certos investimentos de caráter permanente que aparecem no Ativo
Circulante, despesas do próprio exercício que figuram como Despesas do Exercício
Seguinte, gastos indevidamente lançados como Ativo Diferido quando deveriam
fazer parte das despesas ou perdas do exercício, empréstimos de curto prazo que
aparecem no Exigível a Longo Prazo; tudo isso visa embelezar os balanços. Uma
padronização rigorosa deve corrigir isso.

Se o analista conhecer os principais itens de manipulação dos balanços, desconfiará


das rubricas citadas e solicitará esclarecimentos à empresa em análise. Na dúvida,
deverá reclassificá-las.

• Descoberta de erros: há casos de erros, intencionais ou não, verificados nas


demonstrações financeiras. Exemplo:
a) Estoques finais ou iniciais da Demonstração do Resultado do Exercício não
coincidem com os estoques dos balanços.
b) Provisão para Devedores Duvidosos do balanço não coincide com a que foi
constituída na Demonstração do Resultado do Exercício.
PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E EMPRESA EXEMPLO 143

c) Impossível conciliar o Patrimônio Líquido Final com os resultados do exercício


mais o Patrimônio Líquido Inicial.
Nesses casos, deve-se desconfiar da veracidade das demonstrações financeiras e
suspender a análise até que se esclareçam as dúvidas.
Uma padronização rigorosa deveria sempre ser precedida da elaboração de um
Fluxo de Caixa.
O Fluxo de Caixa - método do Fluxo Líquido - tem a virtude de mostrar a coerência
entre dois balanços e a demonstração do resultado, descobrindo qualquer eventual
falsificação de uma dessas peças.
• Intimidade do analista com as demonstrações financeiras da empresa: a
padronização obriga o analista a pensar em cada conta das demonstrações finan-
ceiras e a decidir sobre sua consistência com outras contas, sobre a classificação
que deve dar a ela, enquanto a transcreve para o modelo predefinido de padroniza-
ção. Ao terminar esse trabalho, o analista adquire grande familiaridade com os
números da empresa e, em conseqüência, poderá enxergar detalhes que, de outra
forma, não conseguiria.

Acha-se a seguir modelo de padronização de balanços e demonstrações


de resultados que serve aos propósitos deste livro.
As principais características desse modelo de padronização são:

O ativo apresenta apenas as contas essenciais.


O Passivo Circulante é dividido em Operacional e Financeiro, sendo que as
"Duplicatas Descontadas" fazem parte deste último.*
No lado do Passivo, acha-se um subtotal representado por Capitais de Terceiros
(Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo).
No Patrimônio Líquido aparecem apenas o "Capital Social" já deduzido de
eventuais "Capital a Realizar" e somado às "Reservas".
A "Demonstração do Resultado" evidencia apenas os valores fundamentais para
análise, já considerando a correção integral em dólares.
A Receita Líquida de Vendas está deduzida das "Devoluções e Abatimentos" e
"Impostos".
As Receitas e Despesas Financeiras estão líquidas dos efeitos inflacionários.

* Isto será bem explicado no Capítulo 12 - Necessidade de Capital de Giro.


144 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

2 MODELO DE PADRONIZAÇÃO

Acha-se a seguir um modelo de padronização que serve aos propósitos


deste livro:
MODELO DE PADRONIZAÇÃO
BALANÇOS EM:
31-12-X1 31-12-X2 31-12-X3
VA AV AH VA AV AH VA AV AH
ATIVO
CIRCULANTE
FINANCEIRO
• Disponível
• Aplicações Financeiras
SOMA
OPERACIONAL
• Clientes
• Estoques
SOMA
Total do Ativo Circulante
REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
PERMANENTE
• Investimentos
• Imobilizado
• Diferido
Total do Ativo Permanente
TOTAL DO ATIVO

PASSIVO
CIRCULANTE
OPERACIONAL
• Fornecedores
• Outras Obrigações
SOMA
FINANCEIRO
• Empréstimos Bancários
• Duplicatas Descontadas
SOMA
Total do Passivo Circulante
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
• Empréstimos
• Financiamentos
Total do Exigível a Longo Prazo
CAPITAIS DE TERCEIROS
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
• Capital e Reservas
• Lucros Acumulados
Total do Patrimônio Liquido
TOTAL DO PASSIVO
PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E EMPRESA EXEMPLO 145

DEMONSTRAÇÃO DO 19x1 19x2 19x3


RESULTADO DO EXERCÍCIO
FINDO EM VA AV AH VA AV AH VA AV AH

RECEITA LÍQUIDA
(-) Custo dos Produtos Vendidos
= Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais
(±) Outras Rec./Desp. Operacionais
- LUCRO OPERACIONAL
(antes dos Resultados Financeiros)
(+) Receitas Financeiras
(-) Despesas Financeiras
- LUCRO OPERACIONAL
(±) Resultado não Operacional
LUCRO ANTES I.R. E CONTRIB. SOCIAL
LUCRO LÍQUIDO

Simbologia: VA = Valores Absolutos; AV = Análise Vertical; AH = Análise Horizontal.

3 A EMPRESA EXEMPLO: CIA. BIG

Todas as técnicas de análise descritas neste livro serão numericamente


exemplificadas com base em demonstrações financeiras de uma hipotética
empresa, denominada Cia. BIG, cujos dados foram adaptados de um caso real.

Em todos os capítulos, a cada nova técnica introduzida, reporta-se à Cia.


BIG. Dessa maneira, o leitor poderá perceber como as diversas técnicas de
análise se relacionam.

As demonstrações financeiras adiante apresentadas já se acham dolariza-


das, trabalho este efetuado a partir das demonstrações financeiras publicadas
conforme ilustrado no apêndice ao Capítulo 4, cujos dados são exatamente os
da Cia. Big referentes ao exercício de 19X3.

Além das demonstrações financeiras já padronizadas, encontram-se dados


adicionais necessários para as análises.

Apenas no Capítulo 14 serão introduzidas algumas alterações na demons-


tração do resultado a fim de adaptá-la às exigências aí contidas.
146 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS EXEMPLO

CIA. BIG EM US$


BALANÇOS EM
31-12-X1 31-12-X2 31-12X3
ATIVO
CIRCULANTE
FINANCEIRO
• Disponível 34.665 26.309 25.000
• Aplicações Financeiras 128.969 80.915 62.000
Subsoma 163.634 107.224 87.000
OPERACIONAL
• Clientes 1.045.640 1.122.512 1.529.061
• Estoques 751.206 1.039.435 1.317.514
Subsoma 1.796.846 2.161.947 2.846.575
TOTAL ATIVO CIRCULANTE 1.960.480 2.269.171 2.933.575
REALIZÁVEL A LONGO PRAZO -.- -.- -.-
PERMANENTE
• Investimentos 72.250 156.475 228.075
• Imobilizado 693.448 1.517.508 2.401.648
• Diferido 40.896 90.037
SOMA 765.698 1.714.879 2.719.760
TOTAL DO ATIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
PASSIVO
CIRCULANTE
OPERACIONAL
• Fornecedores 708.536 639.065 688.791
• Outras Obrigações 275.623 289.698 433.743
Subsoma 984.159 928.763 1.122.534
FINANCEIRO
• Empréstimos Bancários 66.165 83.429 158.044
• Duplicatas Descontadas 290.633 393.885 676.699
Subsoma 356.798 477.314 834.743
TOTAL PASSIVO CIRCULANTE 1.340.957 1.406.077 1.957.277
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
• Empréstimos 314.360 792.716 1.494.240
• Financiamentos -.- 378.072 533.991
SOMA 314.360 1.170.788 2.028.231
CAPITAIS DE TERCEIROS 1.655.317 2.576.865 3.985.508
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
• Capital e Reservas 657.083 1.194.157 1.350.830
• Lucros Acumulados 413.778 213.028 316.997
SOMA 1.070.861 1.407.185 1.667.827
TOTAL DO PASSIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E EMPRESA EXEMPLO 147

DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS

Exercício
19x1 19x2 19x3
Receita Líquida 4.793.123 4.425.866 5.851.586
Custo dos Produtos Vendidos (3.621.530) (3.273.530) (4.218.671)
Lucro Bruto 1.171.593 1.152.336 1.632.915
Despesas Operacionais (495.993) (427.225) (498.025)
Outras Receitas Operacionais 8.394 17.581 27.777
Lucro Operac. antes Result. Financ. 683.994 742.692 1.162.667
Receitas Financeiras 10.860 7.562 5.935
Despesas Financeiras (284.308) (442.816) (863.298)
Lucro Operacional 410.546 307.438 305.304
Resultado não Operacional 1.058 -.- -.-
Lucro antes I.R. 411.604 307.438 305.304
Lucro Líquido 223.741 167.116 165.956

DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO EM US$

Reserva Legal +
Capital Social e
Lucros Total
Reservas
Acumulados

• Saldo em31.12.x0 577.605 244.222 821.827


• Lucro Líquido do Exercício de 19x1 -.- 223.741 223.741
• Aumento de Capital 79.478 (30.000) 49.478
• Dividendos -.- (24.185) (24.185)
• Saldo em 31.12.x1 657.083 413.778 1.070.861
• Lucro Líq. do Exercício de 19x2 -.- 167.116 167.116
• Aumento de Capital 537.074 (281.634) 255.440
• Dividendos -.- (86.232) (86.232)
• Saldo em 31.12.x2 1.194.157 213.028 1.407.185
• Lucro Líq. do Exercício de 19x3 165.956 165.956
-.- 156.673
• Aumento de Capital 156.673 -.- -.-
• Dividendos -.- (61.987) (61.987)
• Saldo em 31.12.x3 1.350.830 316.997 1.667.827
148 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

DEMONSTRAÇÕES DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS

Exercício
19x1 19x2 19x3
ORIGENS
DAS OPERAÇÕES
Lucro Liquido 223.741 167.116 165.956
Depreciação 20.200 101.511 167.477
Resultado Equival. Patrimonial (5.508) (10.541) (20.277)
DOS ACIONISTAS
Aumento de Capital 49.478 255.440 156.673
DE TERCEIROS
Novos Emprést. e Financiam. 124.756 906.528 857.443

Total das Origens 412.667 1.420.054 1.327.272


APLICAÇÕES
Dividendos 24.185 86.232 61.987
Reduções Emp. Longo Prazo -.- 50.100 -.-
Aquisição Investimentos 6.104 73.684 51.323
Aquisição Imobilizado 34.480 925.571 1.051.617
Acréscimos Ativo Diferido -.- 40.896 49.141
Total das Aplicações 64.769 1.176.483 1.214.068

VARIAÇÃO DO CAPITAL
CIRCULANTE 347.898 243.571 113.204
LÍQUIDO

MOVIMENTAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO

19x0 19x1 19x2 19x3


Ativo Circulante 1.500.889 1.960.480 2.269.171 2.933.575
Passivo Circulante 1.229.264 1.340.957 1.406.077 1.957.277
Capital Circulante Liquido 271.625 619.523 863.094 976.298

Aumento do Capital Circ. Líquido 347.898 243.571 113.204


PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E EMPRESA EXEMPLO 149

4 - Dados Adicionais

19x1 19x2 19x3


4.1 Receita Bruta de Vendas 6.113.052 6.227.390 8.069.229
(-) Devoluções e Abatimentos 152.825 184.276 249.086
Vendas Realizadas 5.960.227 6.043.114 7.820.143
(-) Impostos 1.107.104 1.617.248 1.968.557
Receita Líquida 4.793.123 4.425.866 5.851.586
4.2 Outras Rec/Desp. Operacionais
Rec. Equiv. Patrimonial 5.508 10.541 20.277
Ganhos com a Inflação 2.886 7.040 7.500
8.394 17.581 27.777
4.3 Despesas Operacionais
De Vendas 269.560 225.310 284.021
Administrativas 206.323 180.422 192.698
Gerais 20.110 21.493 21.306
495.993 427.225 498.025
4.4 Compras 3.001.587 2.766.402 3.387.266
4.5 Estoques
Matérias-primas 264.132 269.385 317.413
Produtos em Processo 263.713 386.643 466.271
Produtos Acabados 223.361 383.407 533.830
751.206 1.039.435 1.317.514

4-6 Aumento de Capital nas seguintes datas:


-30/04/X1- 49.478
-01/06/X2- 255.440
-02/07/X3- 156.673
4.7 Os Dividendos são Provisionados no encerramento de cada exercício social
4.8 Balanço Sintético de 19x0

ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Financeiro 122.756 Operacional
Operacional 1.378.133 • Fornecedores 570.520
1.500.889 • Outras Obrigações 269.002 839.522
Financeiro 389.742
1.229.264
Exigfvel a Longo Prazo 189.604
Permanente 739.806 Patrlm. Liquido 821.827

TOTAL 2.240.695 TOTAL 2.240.695


PARTE Avaliação do
II Desempenho Empresarial

As demonstrações financeiras compreendem todas as operações


efetuadas por uma empresa, traduzidas em moeda e organizadas segun-
do as normas contábeis.
Em conseqüência há um número enorme de informações que podem
ser extraídas delas, inimagináveis não só para os leigos, mas até mesmo
para muitas pessoas das áreas contábil e financeira.
Todavia, é fundamental que essas informações sejam estruturadas
numa forma crescente de detalhamento, ou seja, do geral para o particu-
lar.
Esta parte do livro objetiva mostrar técnicas de análise da empresa
como um todo, enquanto as partes seguintes analisam aspectos especí-
ficos da empresa.
Entretanto, mesmo dentro desta parte, começa-se com as avaliações
mais genéricas possíveis para em seguida ir-se detalhando as mesmas.
Nos Capítulos 6,7 e 8: (a) tomam-se apenas 10 números, sendo 8 do
balanço e 2 da demonstração do resultado, (b) relacionam-se esses
números entre si, através de quocientes, que são chamados de índices,
e (c) chega-se a avaliações de aspectos genéricos da empresa como
estrutura de capitais, liquidez e rentabilidade, bem como à avaliação
global.
Isto reflete um grande trabalho de síntese, pois dos cerca de 100
números existentes em média nas demonstrações financeiras citadas
chega-se a quatro conceitos ou quatro notas de avaliações.
152 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Em seguida, no Capítulo 9 é mostrada a técnica de análise vertical


horizontal em que pode ser detalhada a análise de cada um daqueles três
aspectos genéricos mencionados.
No Capítulo 10, podem ser encontradas análise de pequenos tópicos
localizados da empresa, como a análise de seu Capital Circulante Líquido,
do risco do Endividamento Bancário, da Liquidez versus Fluxo de Caixa,
dos limites de endividamento da Avaliação de Ações e outros.
6 Análise Através de Indices

Neste capítulo são apresentados os principais índices que constituem o


instrumento básico da Análise de Balanços. A função de cada índice, sua fórmula,
seu significado e sua interpretação foram minuciosamente explicados.
Em vez de acúmulo de índices, fez-se uma seleção dos que são necessários
para um diagnóstico preciso da situação econômico-financeira da empresa. Para
isso, foram selecionados 11 índices. Outros índices de interesse específico em
certas situações encontram-se no Capítulo 10.
A avaliação da empresa através de índices exige obrigatoriamente a com-
paração com padrões e a fixação da importância relativa de cada índice. Isto será
feito nos dois capítulos posteriores.

1 O PAPEL DOS ÍNDICES DE BALANÇO

Um índice é como uma vela acesa num


quarto escuro.

Índice é a relação entre contas ou grupo de contas das Demonstrações


Financeiras, que visa evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou
financeira de uma empresa.
Os índices constituem a técnica de análise mais empregada. Muitas vezes,
na prática, ou mesmo em alguns livros, confunde-se Análise de Balanços com
extração de índices. A característica fundamental dos índices é fornecer visão
ampla da situação econômica ou financeira da empresa.
154 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Os índices servem de medida dos diversos aspectos econômicos e finan-


ceiros das empresas. Assim como um médico usa certos indicadores, como
pressão e temperatura, para elaborar o quadro clínico do paciente, os índices
financeiros permitem construir um quadro de avaliação da empresa. Há, porém,
uma diferença: enquanto o médico pode ter certeza de que há algo errado com
o paciente que apresenta pressão muito alta -talvez a iminência de um derrame
-, na empresa, um endividamento elevado não significa que esteja à beira da
insolvência. Outros fatores, como prestígio da empresa junto ao governo, rela-
cionamento com o mercado financeiro etc., podem fazê-la operar indefinidamen-
te, mesmo que mantenha sempre elevado o endividamento. O índice financeiro,
porém, é um alerta.

Quando os indicadores genéricos não são suficientes, o médico solicita


exames e testes. Da mesma forma, para um conhecimento mais profundo da
empresa, além do conjunto de índices, podem-se utilizar as demais técnicas de
análise descritas neste livro

1.1 QUANTOS INDICES SAO NECESSÁRIOS PARA UMA


BOA ANÁLISE?

O importante não é o cálculo de grande número de índices, mas de um


conjunto de índices que permita conhecer a situação da empresa, segundo o
grau de profundidade desejada da análise. Como já vimos no Capítulo 1, a
profundidade de análise é variável de usuário para usuário. O fornecedor pode
apenas querer rápidas informações sobre a empresa, a respeito de sua rentabi-
lidade, de seu índice de liquidez. Se esse mesmo fornecedor estiver interessado
não em vender mercadoria, mas em adquirir a própria empresa-cliente ou fundi-la
com a sua, evidentemente desejará uma análise muito mais profunda.

Portanto, a quantidade de índices que deve ser utilizada na análise depende


exclusivamente da profundidade que se deseja da análise.
Entretanto, a análise de índices é do tipo que começa muito bem e vai
perdendo fôlego à medida que se acrescentam novos índices, ou seja, há um
rendimento decrescente. Quando, por exemplo, se dobra o número de índices,
não se consegue dobrar a quantidade de informações. Isso pode ser ilustrado
pela Figura 6.1.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 155

Quantidade de
informações

1 Quantidade de
5 12 15
índices

FIGURA 6.1. Curva da relação quantidade de informações x quantidade de índices.

Nesta figura observa-se na linha horizontal a quantidade de índices e na


linha vertical a quantidade de informações.
Quando se aumenta a quantidade de índices de 2 para 5, obtém-se um
que representa o acréscimo de informações devido ao aumento da quanti-
dade de índices. Quando se aumenta a quantidade de índices de 12 para 15, o
então obtido é muito menor que o Isto significa rendimentos
decrescentes.
O aumento da quantidade de índices é também aumento de custos; portan-
to, a análise de índices entra em rendimentos decrescentes a partir de certo
ponto, identificado na curva como ponto P.
A análise de empresas industriais e comerciais através de índices tradicio-
nais deve ter, no mínimo, 4, e não é preciso estender-se além de 11 índices.

1.2 ASPECTOS DA EMPRESA REVELADOS PELOS ÍNDICES

Pode-se subdividir a análise das Demonstrações Financeiras em análise da


situação financeira e análise da situação econômica.
156 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Inicialmente, analisa-se a situação financeira separadamente da situação


econômica; no momento seguinte, juntam-se as conclusões dessas duas análi-
ses.
Assim, os índices são divididos em índices que evidenciam aspectos da
situação financeira e índices que evidenciam aspectos da situação econômica.
Os índices da situação financeira, por sua vez, são divididos em índices de
estrutura de capitais e índices de liquidez, conforme o esquema seguinte.

PRINCIPAIS ASPECTOS REVELADOS PELOS ÍNDICES FINANCEIROS

ESTRUTURA
Situação Financeira
LIQUIDEZ

Situação Econômica RENTABILIDADE

1.3 PRINCIPAIS INDICES

Embora autores e profissionais de Análise de Balanço tenham alguns


pontos em comum quanto aos principais índices de que se valem, existem
algumas diferenças em suas análises.
Certos índices, como Participação de Capitais de Terceiros, Liquidez Cor-
rente e Rentabilidade do Patrimônio Líquido, são usados por praticamente todos
os analistas. Outros, porém, como Composição do Endividamento, Liquidez
Seca, Rentabilidade do Ativo, Margem Líquida de Lucro, nem sempre fazem parte
dos modelos de análise.
Cada autor apresenta um conjunto de índices que, de alguma forma, difere
dos demais. Mesmo com relação aos índices que constam de praticamente todas
as obras e trabalhos, sempre há algumas pequenas diferenças de fórmula. Por
exemplo, no que tange à rentabilidade do Patrimônio Líquido, há autores que
apresentam a rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido inicial, outros sobre o
Patrimônio Líquido médio e outros sobre o Patrimônio Líquido final. Com relação
à Participação de Capitais de Terceiros ou Endividamento, também existem
fórmulas diferentes. Há aqueles que calculam esse índice com relação ao total
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 157

do Passivo da empresa, outros que o calculam em relação ao Patrimônio Líquido


e outros, ainda, que invertem o índice, calculando a relação entre Ativo e Capitais
de Terceiros, são, contudo, pequenas diferenças que não chegam a afetar
propriamente a análise.
A lista de índices apresentada neste livro é muito útil na prática, e é fruto da
experiência que tivemos na direção de equipes de analistas que analisaram
durante doze anos cerca de 1.000.000 de balanços.
Existem índices que são interessantes apenas em determinadas análises e
para determinado usuário. Por exemplo, é comum os bancos se interessarem
por certas informações de balanços que incluem o relacionamento da empresa
com instituições financeiras, como, por exemplo, quanto estas financiam do Ativo
Total da empresa ou do Ativo Circulante, qual o percentual de Duplicatas
Descontadas etc. Enfim, tratam-se de índices para avaliar particularmente o
relacionamento com aquele usuário e não com a situação da empresa.

1.4 QUADRO-RESUMO DOS INDICES

Apresenta-se a seguir um quadro que resume os principais índices que


devem ser utilizados na análise de balanços.
A quantidade de índices pode ser reduzida se o usuário desejar uma análise
superficial. Não é necessário que as análises contenham mais índices do que os
do Quadro 6.1. apresentado na página seguinte.
Propositadamente, foram deixados de lado índices de Rotações ou Prazos
Médios, cuja análise, especialíssima, se encontra nos Capítulos 11 e 12.

2 DESCRIÇÃO DETALHADA DOS ÍNDICES

ESTRUTURA DE CAPITAIS

Os índices desse grupo mostram as grandes linhas de decisões financeiras,


em termos de obtenção e aplicação de recursos.
158
QUADRO 6.1. Quadro-resumo dos indices.
SÍMBOLO ÍNDICE FÓRMULA INDICA INTERPRETAÇÃO

Estrutura de Capital

1. CT/PL • Participação de Capitais de Terceiros Quanto a empresa tomou de capitais de Quanto menor, melhor.
x 100
Capitais de Terceiros PatrimônioLíquido terceiros para cada $ 100 de capital próprio.
(Endividamento)

2. PC/CT • Composição do Passivo Circulante Qual o percentual de obrigações a curto prazo Quanto menor, melhor.
x 100
Endividamento Capitais de Terceiros em relação às obrigações totais.

3. AP/PL • Imobilização do Ativo Permanente Quantos cruzados a empresa aplicou no Ativo Quanto menor, melhor.
x 100
Patrimônio Patrimônio Líquido Permanente para cada $ 100 de Patrimônio
Líquido Líquido.

4. AP/PL + • Imobilização dos Ativo Permanente Que percentual dos Recursos não Correntes Quanto menor, melhor.
x100
ELP Recursos Patrimônio Liquido + Exigível a Longo Prazo (Patrimônio Líquido e Exigível a Longo Prazo)
não Correntes foi destinado ao Ativo Permanente.

Liquidez

5. LG • Liquidez Geral Ativo Circulante * Realizável a Longo Prazo Quanto a empresa possui de Ativo Circulante + Quanto maior, melhor.
Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo Realizável a Longo Prazo para cada $ 1 de
dívida total.

6. LC • Liquidez Corrente Ativo Circulante Quanto a empresa possui de Ativo Circulante Quanto maior, melhor.
Passivo Circulante para cada $ 1 de Passivo Circulante.

7. LS • Liquidez Seca Disponível + Títulos a Receber + Outros Quanto a empresa possui de Ativo Líquido para Quanto maior, melhor.
Ativos de Rápida Conversibilidade cada $ 1 de Passivo Circulante.
Passivo Circulante
Rentabilidade (ou
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Resultados)

8. V/AT • Giro do Ativo Vendas Líquidas Quanto a empresa vendeu para cada $ 1 de Quanto maior, melhor.
Ativo investimento total.
9. LL/V • Margem Líquida Lucro Líquido Quanto a empresa obtém de lucro para cada $ Quanto maior, melhor.
x100
Vendas Líquidas 100 vendidos.

10. LL/AT • Rentabilidade do Ativo Lucro Liquido Quanto a empresa obtém de lucro para cada $ Quanto maior, melhor.
* 100
Ativo 100 de investimento total.

11.LL/PL • Rentabilidade do Lucro Liquido Quanto a empresa obtém de lucro para cada $ Quanto maior, melhor.
x 100
Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido Médio 100 de capital próprio investido, em média, no
exercício
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 159

CT
2.1 PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS:
PL

Capitais de Terceiros
Fórmula: x100
Patrimônio Líquido

Indica: quanto a empresa tomou de capitais de terceiros para cada $ 100 de capital
próprio investido.
Interpretação: quanto menor, melhor.

EXEMPLO:
Consideremos os dados da Cia. BIG apresentados no Capítulo 5.

19x1 19x2
Capitais de Terceiros 1.655.317 2.576.865
Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.185
Índice de Participação de
Capitais de Terceiros 1.655.317 2.576.865
- 154% -183%
1.070.861 1.407.185

Esses dois índices mostram que, em 19x1, para cada $ 100 de capital
próprio (Patrimônio Líquido), a empresa tomou $ 154 de Capitais de Terceiros e
que, em 19x2, para cada $ 100 próprios, tomou $ 183 emprestados.
Graficamente, esses índices podem ser visualizados da seguinte forma:

31-12-19x1 31-12-19x2

154 183
Ativo Ativo
Capitais de Capitais de
Circulante Circulante
Terceiros Terceiros

Ativo Ativo
Permanente 100 Permanente 100
Patrimônio Patrimônio
Líquido Líquido

Nota: nos exemplos que seguem, calculam-se apenas os índices para 19x1 e 19x2 da Cia, BIG.
Recomenda-se ao leitor fazer paralelamente cálculo dos índices para 19x3.
160 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Por aí, pode-se ver qual a proporção entre Capitais de Terceiros e Patrimô-
nio Líquido utilizado pela empresa.
O índice de Participação de Capitais de Terceiros relaciona, portanto, as
duas grandes fontes de recursos da empresa, ou seja, Capitais Próprios e
Capitais de Terceiros. É um indicador de risco ou de dependência a terceiros,
por parte da empresa. Também pode ser chamado índice de Grau de Endivida-
mento.
Do ponto de vista estritamente financeiro, quanto maior a relação Capitais
de Terceiros/Patrimônio Líquido menor a liberdade de decisões financeiras da
empresa ou maior a dependência a esses Terceiros.
É desse ângulo que se interpreta o índice de Participação de Capitais de
Terceiros.
Do ponto de vista de obtenção de lucro, pode ser vantajoso para a empresa
trabalhar com capitais de terceiros, se a remuneração paga a esses capitais de
terceiros for menor do que o lucro conseguido com a sua aplicação nos negócios.
Portanto, sempre que se aborda o índice de Participação de Capitais de
Terceiros, está-se fazendo análise exclusivamente do ponto de vista financeiro,
ou seja, do risco de insolvência e não em relação ao lucro ou prejuízo.
No caso da Cia. BIG, o índice de Participação de Capitais de Terceiros indica
que o endividamento da empresa piorou de 19x1 para 19x2.
Para uma apreciação sobre o nível de endividamento da Cia. BIG é preciso
comparar os seus índices com padrões, o que será feito nos capítulos seguintes.
A comparação com padrões permite saber se o nível de endividamento da
empresa está dentro ou fora de certos padrões de normalidade obtidos através
da tabulação estatística de balanços de outras empresas do mesmo ramo. Se,
porém, a empresa estiver fora dos padrões, o que acontecerá? Irá falir? Quais
as conseqüências de um excesso de endividamento? Qual o limite tolerável?
Essas questões não têm uma única resposta e nem mesmo uma resposta
decisiva.
Cada empresa é uma espécie animal única. Um gato da raça angorá, no
entanto, se não chega a ser uma cópia de um gato vira-lata, é em quase tudo a
ele semelhante. O remédio que serve para um quase sempre serve para outro.
É assim nas demais espécies animais, inclusive no homem. Já uma empresa
não tem similar; cada uma tem sua forma de organização de produção, de
vendas, de pessoal e financeira própria em função do que dependerá sua
capacidade de adaptação, sua sobrevivência, seu crescimento ou sua própria
expansão.
O que se pode fazer na Análise de Balanços é definir certos parâmetros
genéricos a respeito do endividamento.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 161

No Capítulo 10 discute-se uma hipótese de limite de endividamento a longo


prazo. Por ora, pode-se acrescentar que, através da experiência, se constata que
as empresas falidas em geral são empresas muito endividadas. Isso é mais ou
menos óbvio, pois a falência nada mais é do que a incapacidade de pagar dívidas;
empresas com baixo percentual de endividamento não costumam ir à falência.
É impossível uma empresa com endividamento zero falir!
A falência, entretanto, nunca se deve exclusivamente ao endividamento. Há
invariavelmente um quadro de má administração, desorganização, malversação,
projetos fracassados; a isso tudo some-se o excessivo endividamento.
Algumas variáveis importantes na definição da capacidade de endividamen-
to são:

a) Geração de recursos. Uma empresa capaz de gerar recursos para amortizar as


dívidas tem mais capacidade de endividar-se. Este é o primeiro fator. No Capítulo
13 apresenta-se um índice de capacidade de amortização de dívidas. Mostra-se ali
que uma empresa mais endividada pode representar risco menor que outra menos
endividada, se tiver maior capacidade de amortizar dívidas.
b) Liquidez. Se uma empresa toma recursos, investe-os em seu giro comercial e dispõe
de um bom capital próprio, investido no Ativo Circulante, então o efeito negativo sobre
a liquidez será muito menor que no caso da empresa que imobiliza todos os recursos
próprios e mais parte dos Capitais de Terceiros. Neste caso a liquidez tende a ser
afetada e, conseqüentemente, aumenta o risco de insolvência.
c) Renovação. Se a empresa conseguir renovar as dívidas vencidas, não terá proble-
mas de insolvência. Diz-se que: "dívida não se paga, administra-se", porque, quando
a empresa recorre a Capitais de Terceiros, faz isso por insuficiência de Capitais
Próprios, e assim os terceiros passam a financiar parte do Ativo. Ora, para pagar
totalmente esses terceiros é necessário reduzir o Ativo e, normalmente, as empresas
não querem fazer isso. Assim, a alternativa é manter o nível de Capital de Terceiros
renovando empréstimos ou tomando novos para pagar antigos. Ocorre que nem
sempre a empresa consegue lograr êxito em renovar empréstimos ou toma, novos
para pagar os antigos, sobrevindo a ¡liquidez. Do sucesso em renovar empréstimos
ou tomar novos pode depender a continuidade da empresa.

PC
2.2 COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO:
CT

Passivo Circulante
Fórmula: x100
Capitais de Terceiros

Indica: qual o percentual de obrigações de curto prazo em relação às obrigações totais.


Interpretação: quanto menor, melhor.
162 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

O passo seguinte, após se conhecer o grau de Participação de Capitais de


Terceiros, é saber qual a composição dessas dívidas. Uma coisa é ter dívidas de
curto prazo que precisam ser pagas com os recursos possuídos hoje, mais
aqueles gerados a curto prazo (e nós sabemos as dificuldades em gerar recursos
a curto prazo); outra coisa é ter dívidas a longo prazo, pois aí a empresa dispõe
de tempo para gerar recursos (normalmente lucro + depreciação) para pagar
essas dívidas. Veja-se como é a composição de dívidas na Cia. BIG:

19x1 19x2
Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077
Capitais de Terceiros 1.655.317 2.576.865
Índice de Composição
1.340.957 1.406.077
do Endividamento = 81% = 54%
1.655.317 2.576.865

Tais índices indicam que em 19x1 a empresa tinha 81 % (mais de 3/4) de


suas dívidas vencíveis a curto prazo e que em 19x2 este percentual caiu para
54% (quase metade), melhorando aquilo que se pode chamar perfil de dívida.
Graficamente, tem-se:

19x1 Capitais de 19x2 Capitais de


Terceiros Terceiros

81 54
Curto Curto
Prazo Prazo
Ativo
19 Ativo 46
Circulante
Longo Prazo Circulante
Longo Prazo

Patrimônio Ativo Patrimônio


Ativo
Líquido Permanente Líquido
Permanente

AP
2.3 IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMONIO LIQUIDO:
PL

Ativo Permanente
Fórmula: x100
Patrimônio Líquido

Indica: quanto a empresa aplicou no Ativo Permanente para cada $ 100 de Patrimônio
Liquido.
Interpretação: quanto menor, melhor.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 163

EXEMPLO: CIA. BIG


19x1 19x2
Ativo Permanente 765.698 1.714.879
Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.125
Índice de Imobilização do Patrimônio
765.698 1.714.879
Líquido = 71% = 121%
1.070.861 1.407.185

Estes índices mostram que, em 19x1, a empresa investiu no Ativo Perma-


nente importância equivalente a 7 1 % do Patrimônio Líquido; em 19x2 esse
percentual subiu para 121 %.
Graficamente, pode-se visualizar a relação entre o Patrimônio Líquido e o
Ativo Permanente, inicialmente para 19x1.

19X1

Ativo Passivo
Circulante
Circulante

Exigível a
Longo Prazo

Capital
Circulante
Próprio 100

Ativo Patrimônio
71 Líquido
Permanente

O índice de imobilização de 19x1 mostra que 7 1 % do Patrimônio Líquido


foram investidos no Ativo Permanente. Os restantes 29% acham-se aplicados
no Ativo Circulante. Essa parcela de 29% do Patrimônio Líquido é chamada
Capital Circulante Próprio.
Assim, pode-se deduzir:

CCP=PL-AP

onde: CCP= Capital Circulante Próprio


PL = Patrimônio Líquido
AP = Ativo Permanente

O CCP é, portanto, a parcela do Patrimônio Líquido investida no Ativo


Circulante.
164 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

As aplicações dos recursos do Patrimônio Líquido são mutuamente exclu-


sivas do Ativo Permanente e do Ativo Circulante.1 Quanto mais a empresa investir
no Ativo Permanente, menos recursos próprios sobrarão para o Ativo Circulante
e, em conseqüência, maior será a dependência a capitais de terceiros para o
financiamento do Ativo Circulante.
O ideal em termos financeiros é a empresa dispor de Patrimônio Líquido
suficiente para cobrir o Ativo Permanente e ainda sobrar uma parcela - CCP =
Capital Circulante Próprio - suficiente para financiar o Ativo Circulante. (Por
suficiente entende-se que a empresa deve dispor da necessária liberdade de
comprar e vender sem precisar sair o tempo todo correndo atrás de bancos.)
No caso da Cia. BIG, foi visto que em 19x1 imobilizou 71 % do seu Patrimônio
Líquido, destinando 29% para o Ativo Circulante. Para dizer se imobilizou muito
ou pouco, necessita-se de padrões de comparação, conforme se pode ver no
Capítulo 5. Por enquanto, pode-se dizer que houve distribuição do Patrimônio
Líquido entre os dois grupos de aplicações, Permanente e Circulante, e que é
lógico destinar a menor proporção do Patrimônio Líquido para o Circulante, pois
este conta com várias fontes alternativas de financiamento, como fornecedores,
salários, encargos, impostos e bancos, enquanto são muito mais difíceis as fontes
de financiamento do Ativo Permanente.
Pelo exposto, conclui-se que quanto menor esse índice, melhor será a
situação financeira da empresa.
Veja, agora, o que aconteceu em 19x2 na Cia. BIG.

19x2

Passivo
Circulante
Ativo
Circulante
Exigível
a Longo
Prazo
Financimanto de Ativo Permanente
por Capitais de Terceiros
Insuficiência de Patrimônio
Liquido ou CCP negativo.

121 100
Ativo Patrimônio
Permanente Liquido

1. Ver comentário a respeito do Realizável a Longo Prazo, à p. 159.


ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 165

O índice de ¡mobilização em 19x2 é de 121 %. Isto significa que para cada


$ 100 existentes de Patrimônio Líquido a empresa aplicou $ 121 no Permanente,
ou seja, imobilizou todo o Patrimônio Líquido mais recursos de terceiros, equiva-
lentes a 21 % do Patrimônio Líquido. (Mesmo que o Patrimônio Líquido crescesse
21 %, ainda assim o Permanente o teria absorvido inteiramente.)
Nesse caso, o Ativo Circulante é totalmente financiado por Capitais de
Terceiros, os quais financiam ainda uma parte do Ativo Permanente. Assim, a
empresa está em mãos de terceiros para o financiamento de seu giro comercial
(Ativo Circulante) e depende ainda desses mesmos terceiros para o financiamen-
to de uma parte do seu parque industrial (Ativo Permanente).
Independentemente dos padrões, pode-se dizer que a situação da empresa
industrial que chegou a esse nível de imobilização não é tranqüila.
A situação da Cia. BIG equivale à de uma pessoa que, para manter a sua
saúde, deve tomar obrigatoriamente, todos os dias, determinados remédios.
Pode ocorrer que essa pessoa leve uma vida tranqüila e tenha vida longa. A
dependência à medicação, contudo, é sinal de que sua saúde não é muito boa.
A medicação para a Cia. BIG será o esforço contínuo de renovar os empréstimos
de curto prazo, bem como o de gerar caixa para pagar os financiamentos do Ativo
Permanente, através de financiamentos de longo prazo, à medida que forem
vencendo.
O índice de ¡mobilização do Patrimônio Líquido mostra que há um senão à
saúde financeira da empresa em 19x2, mas não chega a revelar se há ou não
um comprometimento da mesma. O próximo índice lançará algumas luzes sobre
isso.

2.4 IMOBILIZAÇÃO DOS RECURSOS NAO


AP
CORRENTES:
PL + ELP

Ativo Permanente
Fórmula: x100
Patrimônio Líquido + Exigível a Longo Prazo

Indica: que percentual de Recursos não Correntes a empresa aplicou no Ativo Permanente.
Interpretação: quanto menor, melhor.

2. Em certos ramos de atividade, como o de transportadoras, ferrovias, siderúrgicas, produtoras


de energia elétrica, é normal imobilizar além do Patrimônio Líquido.
166 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

EXEMPLO: CIA. BIG.


Ativo Permanente 765.698 1.714.879
Exigível a Longo Prazo 314.360 1.170.788
Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.185
Recursos não Correntes 1.385.221 2.577.973
Índice de Imobilização de Recursos
765.698 1.714.879
Não Correntes = 55% = 66%
1.385.224 2.577.973

Estes índices mostram que a empresa destinou ao Ativo Permanente,


respectivamente, em 19x1 e 19x2, 55% e 66% dos Recursos não Correntes.
Os elementos do Ativo Permanente têm vida útil que pode ser de 2, 5, 10
ou 50 anos. Assim, não é necessário financiar todo o Imobilizado com recursos
próprios. É perfeitamente possível utilizar recursos de longo prazo, desde que o
prazo seja compatível com o de duração do Imobilizado ou então que o prazo
seja suficiente para a empresa gerar recursos capazes de resgatar as dívidas de
longo prazo.
Daí a lógica de comparar as aplicações fixas (Ativo Permanente) com os
Recursos não Correntes (Patrimônio Líquido + Exigível a Longo Prazo).
Uma consideração importante é que este índice não deve em regra ser
superior a 100%. Ainda que a empresa quase tenha necessidade de Ativo
Circulante (como é o caso das transportadoras), deve sempre existir um pequeno
excesso de Recursos não Correntes, em relação às ¡mobilizações, destinado ao
Ativo Circulante.
A parcela de Recursos não Correntes destinada ao Ativo Circulante é
denominada Capital Circulante Líquido (CCL).
O gráfico seguinte ilustra essas relações, para 19x1:

Passivo
Circulante
Ativo
Circulante

Capital Capital Exigível a


Circulante Circulante Longo Prazo
Líquido Próprio
Recursos
não
Correntes
55 100
Ativo Patrimônio
Permanente Liquido
ANALISE ATRAVÉS DE INDICES 167

A empresa destinou 55% dos Recursos não Correntes para o Ativo Perma-
nente. Logo, 45% dos Recursos não Correntes foram para o Ativo Circulante,
parcela esta que se denomina Capital Circulante Líquido (CCL).
O CCL representa a folga financeira a curto prazo, ou seja, financiamentos
de que a empresa dispõe para o seu giro e que não serão cobrados a curto prazo.
Como se vê no gráfico, o CCL é formado por duas parcelas: o Capital
Circulante Próprio e o Exigível a Longo Prazo. Adiante demonstra-se isso
matematicamente:

CCL - PL + ELP-AP

CCP

CCL= CCP + ELP

onde:
CCL = Capital Circulante Liquido
CCP - Capital Circulante Próprio
PL - Patrimônio Líquido
AP - Ativo Permanente
ELP = Exigível a Longo Prazo

Portanto, a folga financeira de uma empresa deve-se aos recursos próprios


mais as exigibilidades de longo prazo investidos no Ativo Circulante.
Veja-se, agora, qual foi o CCL de 19x2.

Passivo
Ativo Circulante
Circulante

Capital
Exigível a
Circulante
Longo Prazo
Líquido
Insuficiência de Capital Circulante
Patrimônio Liquido Próprio Negativo
66
Recursos não Correntes
Ativo Patrimônio 100
Permanente Liquido
168 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

A empresa investiu 66% dos Recursos não Correntes no Ativo Permanente,


destinando 34% para o Ativo Circulante. Observe-se, porém, que esses Recursos
não Correntes destinados ao Ativo Circulante são constituídos exclusivamente
de Exigível a Longo Prazo. Como se viu anteriormente, a empresa imobilizou
recursos superiores ao Patrimônio Líquido, sendo esse excesso de ¡mobilização
financiado pelo Exigível a Longo Prazo, que teve de cobrir sozinho o Capital
Circulante Líquido.
Se a falta de Capital Circulante Próprio representa um fator negativo, a
empresa soube compensá-lo, constituindo um Capital Circulante Líquido através
dos financiamentos de longo prazo.

CIA. BIG.
19x1 19x2
Capital Circulante Líquido 619.523 863.094

Em síntese, dois aspectos são importantes em relação ao CCL:

a) A sua existência. A empresa deve imobilizar apenas parte dos Recursos não
Correntes, destinando a outra parte - chamada CCL - ao Ativo Circulante.
b) A sua composição. O CCL pode ser formado de Capital Próprio e de Exigível
a Longo Prazo. A curto prazo essa composição não afeta a capacidade de
pagamento. A longo prazo surgem as diferenças, visto que o capital próprio
não precisa ser pago, mas o exigível sim. Portanto, quanto maior a proporção
de Capital Circulante Próprio melhor.

ANO CCL = CCP + ELP


19x1 619.523 = 305.163 + 314.360
19x2 863.094 = (307.694) + 1.170.788

Se o Capital Circulante Próprio ficar negativo, como aconteceu em 19x2


com a Cia. BIG, a empresa perde parte de sua liberdade financeira, mas isso não
quer dizer que tenha obrigatoriamente complicações (tal qual a pessoa que
precisa tomar remédios diariamente). A insuficiência de Patrimônio Líquido,
representada pelo Capital Circulante Próprio negativo, pode ser corrigida com
adequado financiamento de longo prazo que suprima a necessidade de Capital
Circulante Líquido. Se a empresa conseguir gerar recursos suficientes para o
pagamento dos financiamentos de longo prazo, talvez nem perceba a diferença
entre ter e não ter Capital Circulante Próprio. Aliás, em bons projetos de expansão
é plenamente admissível o Capital Circulante Próprio ficar negativo. O risco,
porém, está em a empresa não gerar aqueles recursos e não conseguir pagar
os financiamentos de longo prazo. Neste caso sua saúde financeira fica abalada.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 169

A diferença entre ter e não ter Capital Circulante Próprio é: quem tem bom
Capital Circulante Próprio goza da tranqüilidade de boa saúde financeira a curto
e longo prazo (a menos que a empresa sofra sérios prejuízos); quem não tem
bom Capital Circulante Próprio precisa, a curto prazo, consertar a situação com
financiamentos e, a longo prazo, não pode ter certeza da manutenção da sua
saúde financeira.
A Cia. BIG foi aprovada no teste de ¡mobilização de Recursos não Correntes,
pois imobilizou apenas 66% desses recursos.
Quanto à indagação natural de se é suficiente ou não o CCL existente,
vamos responder através dos próximos índices a serem apresentados.

NOTA SOBRE O REALIZÁVEL A LONGO PRAZO


Uma empresa comercial ou industrial possui tipicamente dois tipos de
investimentos:

• Um para a instalação de sua capacidade produtiva (imóveis, máquinas, equipamen-


tos etc.) ou comercial (lojas, depósitos, veículos etc.), investimentos esses realizados
em caráter permanente e, por isso, classificados no grupo "Permanente" do Ativo.
• O outro é o investimento em giro que compreende os estoques, as contas a receber,
o disponível e outros valores realizáveis dentro do ciclo dos negócios que surgem
naturalmente, como seguros antecipados, impostos a recuperar, adiantamentos etc.
Esses investimentos sofrem constante movimentação, daí serem classificados no
grupo "Circulante".

Em condições habituais, não sobra espaço para o Realizável a Longo Prazo.


Entretanto, este pode surgir em duas situações: (1) como um investimento
operacional em giro cujo prazo de realização é superior a um ano (produtos de
longa execução ou estoques de longa maturação) ou (2) como um investimento
não operacional que será realizado a longo prazo, como é o caso de títulos a
receber, resgate de obrigações com a Eletrobrás etc.
O fato é que o Realizável a Longo Prazo é absolutamente irrelevante para
a Análise de Balanços; entretanto, a sua inclusão nas fórmulas e explicações
representa empecilho nada desprezável. Por isso, a bem da didática, optou-se
por ignorar o Realizável a Longo Prazo, nas explicações efetuadas neste capítulo.

LIQUIDEZ

Os índices desse grupo mostram a base da situação financeira da empresa.


Muitas pessoas confundem índices de liquidez com índices de capacidade
de pagamento. Os índices de liquidez não são índices extraídos do fluxo de caixa
que comparam as entradas com as saídas de dinheiro. São índices que, a partir
170 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

do confronto dos Ativos Circulantes com as Dívidas, procuraram medir quão


sólida é a base financeira da empresa. Uma empresa com bons índices de
liquidez tem condições de ter boa capacidade de pagar suas dívidas, mas não
estará, obrigatoriamente, pagando suas dívidas em dia em função de outras
variáveis como prazo, renovação de dívidas etc.

2.5 LIQUIDEZ GERAL: LG

Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo


Fórmula:
Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo

Indica: quanto a empresa possui no Ativo Circulante e Realizável a Longo Prazo para cada
$ 1,00 de dívida total.
Interpretação: quanto maior, melhor.

O índice de ¡mobilização do Patrimônio Líquido em análise anterior mostrava


qual percentual do Patrimônio Líquido estava imobilizado e, complementarmente,
qual percentual fora investido no giro dos negócios. Foi visto que, em 19x1,71 %
do Patrimônio Líquido foram imobilizados e 29% investidos no Ativo Circulante.
Queremos agora saber se esses 29% são ou não suficientes para proporcionar
boa base financeira para a empresa.
É possível conhecer tal fato através do índice de Liquidez Geral, cujos
valores para a Cia. BIG são:

19x1 19x2
Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171
Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077
Exigível a Longo Prazo 314.360 1.170.788

1.960.480 2.269.171
Liquidez Geral = 1,18 = 0,88
1.655.317 2.576.865

O índice de Liquidez Geral de 19x1, igual a 1,18, indica que para cada $ 1
de dívida a empresa tem $ 1,18 de investimentos realizáveis a curto prazo, ou
seja, consegue pagar todas as suas dívidas e ainda dispõe de uma folga,
excedente ou margem, de 18% (ou de $ 0,18 para cada $ 1 de dívida). Esses
18% ocorrem graças ao Capital Circulante Próprio, como se pode ver no gráfico
seguinte.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 171

CIA. BIG

19x1

1,18 1,00

Ativo Passivo
Circulante Circulante

Exigível a
Longo Prazo

Capital Circulante Próprio

Patrimônio
Líquido

O gráfico mostra que:

(1) os recursos do Passivo Circulante e do Exigível a Longo Prazo foram investidos no


Ativo Circulante;
(2) o Ativo Circulante é maior do que a soma do Passivo Circulante + Exigível a Longo
Prazo;
(3) esse excesso do Ativo Circulante (hachurado no gráfico) provém do Patrimônio
Líquido e é justamente o Capital Circulante Próprio, conforme já foi visto. Essa parte
hachurada do Ativo Circulante representa os 18%.

Assim, a existência do Capital Circulante Próprio permite uma folga que


pode ser agora dimensionada através do índice de Liquidez Geral e, em seguida,
avaliada pela comparação com padrões, como será visto adiante.
Como o Ativo Circulante é formado com os recursos do Passivo Circulante,
do Exigível a Longo Prazo e do Capital Circulante Próprio pode-se montar a
seguinte demonstração:

CT - PC + ELP (II)
AC - PC + ELP + CCP(I)

AC
LG - (III).
PC + ELP

onde: AC - Ativo Circulante


PC - Passivo Circulante
ELP - Exigível a Longo Prazo
CCP - Capital Circulante Próprio
CT - Capitais de Terceiros
LG - Liquidez Geral
172 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Substituindo em (III) as expressões de (I) e (II), tem-se:

CCP
LG = 1+
CT

ou seja, o valor do índice de Liquidez Geral é 1 + a relação entre o CCP e as


dívidas totais.3
Em 19x1, O CCP da Cia. BIG representou 18% das dívidas.
Veja-se, agora, como se modificou a situação em 19x2.

CIA. BIG

19x2

0,88 1,00
Exigivel Total
Passivo ou
Circulante Capitais de
Ativo Terceiros
Circulante
Exigível a
Longo Prazo

Ativo
Permanente Patrimônio
Liquido

Como se vê, o Ativo Circulante tornou-se menor que o Exigível Total. Em


19x1, o Ativo Circulante contava com a totalidade dos Capitais de Terceiros e
com uma parcela do Patrimônio Líquido. Em 19x2, já não conta com nada do
Patrimônio Líquido e também perdeu parte dos Capitais de Terceiros (que foram
investidos no Ativo Permanente). Dessa forma, o Ativo Circulante ficou menor
que os Capitais de Terceiros: para cada $ 1 de dívida existem investimentos
circulantes de $ 0,88.
Isto não quer dizer que a empresa esteja em insolvência. A interpretação
do índice de Liquidez Geral quando inferior a 1 deve ser feita comparativamente
a um índice superior a 1, conforme será visto a seguir para a Cia. BIG.

3. Ignorando o Realizável a Longo Prazo, como já foi salientado.


ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 173

O índice de 1,18 de 19x1 significa que a empresa poderia pagar suas dívidas
totais, mesmo aquelas de longo prazo, com os recursos que possui hoje, no Ativo
Circulante, e ainda haveria uma sobra de 18%. Esta sobra representa uma
espécie de "reserva" ou margem de segurança. Conclui-se, nesse caso, que a
situação financeira tende a ser satisfatória, pois existem condições para isso.
Quando se compara o índice da empresa com padrões do ramo pode-se vir a
atribuir um conceito qualitativo (ótimo, bom, regular etc.), mas, em princípio, a
empresa está satisfatoriamente estruturada do ponto de vista financeiro. Já o
índice de 0,88 obtido em 19x2 revela que a empresa não conseguiria pagar,
naquela data, a totalidade de suas dívidas. A primeira conclusão é de que já não
tem a mesma boa situação do ano anterior, pois, agora, em vez de margem de
segurança, existe insuficiência de $ 0,12 para cada $ 1 de dívida. Entretanto,
lembre-se que as dívidas de longo prazo não vencem já e que até o seu
vencimento a empresa poderá gerar recursos. Está aí a diferença entre os dois
índices: em 19x1 a empresa não dependia da geração futura de recursos para
liquidar suas dívidas; em 19x2 criou-se essa dependência.

É isto que significa o índice 0,88: a empresa deverá gerar recursos para
pagar suas dívidas, pois os atuais recursos circulantes são insuficientes. Para
saber se o índice 0,88 é ou não aceitável faça-se a comparação dele com
padrões, como se verá no próximo capítulo. Para conhecer a capacidade da
empresa em gerar recursos faça-se uma análise sofisticada, a partir da Demons-
tração das Origens e Aplicações de Recursos, como é exposta no Capítulo 13.

2.6 LIQUIDEZ CORRENTE: LC

Ativo Circulante
Fórmula:
Passivo Circulante

Indica: quanto a empresa possui no Ativo Circulante para cada


$ 1,00 de Passivo Circulante.

Interpretação: quanto maior, melhor.

4. Reserva no sentido leigo e não contábil da palavra.


174 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

EXEMPLO: CIA. BIG


19x1 19x2
Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171
Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077
1.960.480 2.269.171
Liquidez Corrente = 1,46 = 1,61
1.340.957 1.406.077
Gratificante, esses índices podem ser assim visualizados:

CIA. BIG

19-X1 19x2

1,61 1,00
1,46 1,00
Passivo Passivo
Circulante Ativo Circulante
Circulante
Ativo C
Circulante Exigível a C
Exigível a C Longo Prazo L
Longo Prazo C
C
L
c
p Ativo Patrimônio
Ativo Patrimônio Permanente Líquido
Permanente Líquido

Nos dois exercícios, o Ativo Circulante é maior que o Passivo Circulante, e


isto significa que os investimentos no Ativo Circulante são suficientes para cobrir
as dívidas de curto prazo e ainda permitir uma folga de 46% e 61 %, respectiva-
mente, em 19x1 e 19x2.
Veja-se a seguir por que o Ativo Circulante é maior que o Passivo Circulante.
Todos os recursos do Passivo Circulante foram investidos no Ativo Circu-
lante. Além disso, acha-se investido no Ativo Circulante o Capital Circulante
Líquido que, em 19x1, é constituído de todo o Exigível a Longo Prazo + Capital
Circulante Próprio; em 19x2, o Capital Circulante Líquido é formado com apenas
uma parte do Exigível a Longo Prazo, já que a outra parte está investida no Ativo
Permanente (devido à insuficiência do Patrimônio Líquido).
O esquema a seguir ilustra as fontes de Recursos do Ativo Circulante da
Cia. BIG em 19x1 e 19x2:
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 175

19x1
Patrimônio Passivo
Líquido Circulante

Capital
1.070.861 Circulante 1.340.957 Ativo
Próprio Circulante
menos mais
Ativo 305.163 Capital Circulante 1.960.480
Permanente Liquido
mais
765.698 Exigivel a 619.523
Longo Prazo

314.360

19x2
Patrimônio Passivo
Líquido Circulante

Capital
1.407.185 Circulante 1.406.077 Ativo
Próprio Circulante
menos mais
Ativo (307.694) Capital Circulante 2.269.171
Permanente Líquido
mais
1.714.879 Exigivel a 863.094
Longo Prazo

1.170.788

Pelo exposto, pode-se concluir que, quando a Liquidez Corrente é superior


a 1, o excesso em relação ao 1 deve-se à existência do Capital Circulante Líquido.
O Capital Circulante Líquido pode ser encontrado também através da
diferença entre Ativo Circulante e Passivo Circulante:

CCL = AC - PC

onde: CCL= Capital Circulante Líquido


AC = Ativo Circulante
PC = Passivo Circulante

Pode-se demonstrar matematicamente que o que ultrapassa de 1, no índice


de liquidez, deve-se ao Capital Circulante Líquido.
176 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Dados:

LC =

CCL = AC - PC

onde: LC = Liquidez Corrente


AC = Ativo Circulante
PC = Passivo Circulante
CCL = Capital Circulante Líquido

tem-se que:

AC == PC + CCL

= PC + CCL
LC
PC

LC =

CCL
LC - 1+
PC

Veja no Capítulo 10 as várias configurações do Capital Circulante Líquido.


No caso da Cia. BIG, tem-se que:

19x1 19x2

= 0,46 = 0,61

O Capital Circulante Líquido, que é a folga financeira a curto prazo, repre-


senta em 19x1 e 19x2, respectivamente, 46% e 6 1 % do Passivo Circulante, ou
seja, além de possuir no Ativo Circulante todos os recursos do próprio Passivo
Circulante para resgatá-lo, a empresa possui um excedente de 46%, em 19x1,
e 61 %, em 19x2, que lhe dá uma margem de segurança.
Essa demonstração da composição do Ativo Circulante e do desmembra-
mento do índice de Liquidez Corrente foi feita para evidenciar quais as variáveis
que atuam no índice de liquidez. Conhecendo essas variáveis, é possível analisar
mais profundamente as decisões da administração financeira da empresa ou
mesmo como a empresa pode melhorar seu índice de Liquidez Corrente.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 177

No caso da Cia. BIG, embora o índice de Liquidez Corrente se tenha mantido


quase no mesmo valor, de 19x1 para 19x2, houve sensível alteração na sua
composição no que tange ao Capital Circulante Líquido, como mostram o
esquema e o gráfico apresentados.

Apesar de investir todo o Patrimônio Líquido no Ativo Permanente, em 19x2,


a empresa ainda fez crescer o índice de Liquidez Corrente de 1,46 para 1,61,
tomando para tanto financiamentos de longo prazo. Percebe-se aí a nítida
intenção de aumentar a participação do CCL na formação do Ativo Circulante.

19x1 19x2
% %
Passivo Circulante 1.340.957 68 1.406.077 62
Capital Circulante Líquido 619.523 32 863.094 38
Ativo Circulante 1.960.480 100 2.264.171 100

Quando se diz que os investimentos no Ativo Circulante são suficientes para


cobrir as dívidas, pode parecer ao leitor que, se a empresa liquidasse seu Ativo
Circulante, pagaria inteiramente suas dívidas de curto prazo e ainda sobrariam
$ 0,46, em 19x1, para cada dolar de dívida.

Muitos autores explicam assim o índice de Liquidez Corrente, mas tal


explicação seria extremamente simplista e distanciada da realidade. Em primeiro
lugar poque estaria sendo totalmente desconsiderado o fator tempo que atua de
várias formas:

a) é impossível vender instantaneamente todos os estoques (não há vendedores,


caminhões de entrega, faturistas e clientes interessados em comprar tudo de uma
só vez);
b) é impossível receber todas as duplicatas instantaneamente, tanto as já emitidas
como as que serão emitidas, porque existe um ciclo financeiro na economia (as
empresas esperaram o pagamento de seus clientes para disporem de recursos e,
por sua vez, pagarem seus fornecedores; os assalariados esperaram seus salários
para pagarem suas prestações; o sistema bancário pode efetuar antecipações, mas
também requererá certo prazo e só o fará parcialmente);

c) a empresa arca com várias despesas proporcionais ao tempo, como aluguéis,


salários, tributos que aumentam o Passivo Circulante.
178 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Em segundo lugar porque os valores de liquidações não são necessaria-


mente os valores contábeis registrados no Ativo e Passivo Circulantes, pois
existem prazos para o vencimento dos direitos e dívidas. Os valores a vista
certamente são outros.
Em terceiro lugar porque o Ativo Circulante pode compreender certos
valores não recuperáveis, como despesas antecipadas de assinatura de publi-
cações.
Existem ainda inúmeros outros fatores que restringem a hipótese de liqui-
dação pura e simples.
Quando se raciocina sobre a hipótese da liquidação de Ativos e Passivos,
ignorando todas as limitações apontadas, para cada $ 1 que saísse de caixa
entraria $ 1,46.

Se, porém, se considera a hipótese mais realista de a empresa estar


operando normalmente, o índice de Liquidez Corrente não significa que para cada
$ 1 que sair entrará $ 1,46 (nem teria cabimento isso, porque a empresa acabaria,
depois de algum tempo, acumulando uma quantia enorme em caixa, pois entraria
muito mais dinheiro do que sairia). O índice de Liquidez Corrente significa que
há recursos no Ativo Circulante, que são superiores às dívidas junto a terceiros,
na proporção de 1,46 para 1,00. Os recursos do Ativo Circulante entrarão em
caixa num momento diferente da saída para pagamento do Passivo Circulante.
O ideal é que as entradas em caixa sejam equivalentes às saídas. Cabe à
administração financeira da empresa atingir cotidianamente esse ideal, mano-
brando os prazos de recebimento e pagamento e renovando empréstimos
bancários. Se para cada $ 1,00 de dívida há recursos de $ 1,46, a margem de
folga para manobras é razoável. Se, porém, para cada $ 1,00 de dívida há
somente recursos de $ 1,05, a margem torna-se muito estreita e a administração
pode ter sérias dificuldades em atingir o seu intento de equilibrar as entradas e
saídas de caixa.

Eis aí o significado do índice de Liquidez Corrente: a margem de folga para


manobras de prazos visa equilibrar as entradas e saídas de caixa. Quanto
maiores os recursos, maior essa margem, maior a segurança da empresa, melhor
a situação financeira.
Essas constatações são empíricas, ou seja, decorrem de observações e
verificações do dia-a-dia dentro de diversas empresas por parte deste autor.
Nada impede porém, que se demonstre matematicamente tais afirmativas.
Veja-se, a propósito, a matéria "A Liquidez e os Prazos de Movimentação dos
Itens Circulantes" no Capítulo 10.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 179

2.7 LIQUIDEZ SECA: LS

Disponível + Aplicações Financeiras + Clientes


de Rápida Conversibilidade em Dinheiro
Fórmula:
Passivo Circulante

Indica: quanto a empresa possui de Ativo Líquido para cada US$ 1,00 de Passivo Circulante
(dívidas a curto prazo).

Interpretação: quanto maior, melhor.

Este índice é um teste de força aplicado à empresa; visa medir o grau de


excelência da sua situação financeira. De um lado, abaixo de certos limites,
obtidos segundo os padrões do ramo, pode indicar alguma dificuldade de
liquidez, mas raramente tal conclusão será mantida quando o índice de Liquidez
Corrente for satisfatório. De outro lado, o índice de Liquidez Seca conjugado com
o índice de Liquidez Corrente é um reforço à conclusão de que a empresa é uma
"atleta de liquidez".

O Quadro 6.2 ilustra essas idéias.

QUADRO 6.2. Liquidez seca X liquidez corrente.

Liquidez Liquidez Corrente


Nível ALTA BAIXA
Situação financeira em
Situação princípio insatisfatória, mas
ALTA financeira atenuada pela boa Liquidez
boa Seca. Em certos casos pode
até ser considerada razoável
Liquidez
Situação financeira em
princípio satisfatória.
A baixa Liquidez Seca não Situação
indica necessariamente financeira
BAIXA comprometimento da insatisfatória
situação financeira. Em
certos casos pode ser
sintoma de excessivos
estoques "encalhados"
180 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Outra forma de interpretar o índice de Liquidez Seca é mostrado pelo gráfico


abaixo:

0 LI Faixa Neutra 1,00 Faixa em


Faixa em
que piora que melhora
a situação a situação
financeira financeira
da empresa da empresa

Abaixo de LI - Limite Inferior - a situação financeira da empresa (obtida


através dos demais índices de liquidez) piora. Acima de $ 1,00 melhora.
Esse limite inferior, entretanto, só pode ser fixado quando se dispõe de
grande vivência do analista e de profundo conhecimento do ramo de atividade.
Daí por que essa maneira de interpretação vale mais como idéia do que
como fórmula aplicável.
Como se vê, as conclusões da Liquidez Seca não são precisas. Por isso,
esse índice é utilizado como coadjuvante e não tem papel principal na avaliação
da empresa: sua interpretação depende da arte e habilidade individual de quem
analisa.
Apresenta-se a seguir a fonte de onde provém a idéia desse índice.
O Ativo Circulante da empresa compreende investimentos de risco diferen-
te. Basicamente são três:

a) Disponível: há risco de desfalque de dinheiro em caixa ou de desvio de conta


corrente bancária. É risco que depende só da empresa.
b) Duplicatas a receber: o risco está na possibilidade de o cliente não pagar. É
portanto, um risco maior por depender da capacidade de pagamento de terceiros.
c) Estoques: correm o risco de roubo, obsoletismo, deterioração e de não serem
vendidos e, portanto, de não serem convertidos em dinheiro, não servindo para
pagamento de dívidas. É um risco que depende da empresa, do mercado e da
conjuntura econômica.

Enquanto se verificam esses riscos no Ativo Circulante, o Passivo Circulante


é líquido e certo: deve ser pago no dia e na quantia aprazada.
Daí a idéia de excluir do Ativo Circulante os itens de maior risco, ou seja, os
Estoques.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 181

Veja-se a seguir qual o índice de Liquidez Seca da Cia. BIG:

19x1 19x2
Disponível + Aplic. Financeiras 163.634 107.224
1.045.640 1.122.512
Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077
163.634+1.045.640 107.224 + 1.122.512
Liquidez Seca = 0,90 = 0,87
1.340.957 1.406.077

Graficamente, esses índices podem ser assim visualizados:

19x1 19x2

Disponível
Disponível +Apl. Financeira
Passivo Passivo
+ Apl. Financeira + Clientes
+ Clientes Circulante Circulante

Ativo
Circulante
Ativo
Circulante

Em 19x1, a Cia. BIG conseguia pagar 90% de suas dívidas somente com o
Disponível e as Duplicatas a Receber. Independentemente de padrões, pode-se
afirmar que tinha boa performance. Assim, a avaliação da situação financeira que
lhe fosse atribuída através do índice de Liquidez Corrente poderia ser melhorada.
Em 19x2, registra-se quase o mesmo bom desempenho: o índice de
Liquidez Seca está dentro da normalidade, não melhorando nem piorando o
conceito de situação financeira dado pelo índice de Liquidez Corrente.

RENTABILIDADE

Os índices deste grupo mostram qual a rentabilidade dos capitais investidos,


isto é, quanto renderam os investimentos e, portanto, qual o grau de êxito
econômico da empresa.
182 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

V
2.8 GIRO DO ATIVO:
AT

Vendas Líquidas
Fórmula:
Ativo

Indica: quanto a empresa vendeu para cada $ 1,00 de investimento total.

Interpretação: quanto maior, melhor.

O sucesso de uma empresa depende em primeiro lugar de um volume de


vendas adequado.

O volume de vendas tem relação direta com o montante de investimentos.


Não se pode dizer se uma empresa está vendendo pouco ou muito olhando-se
apenas para o valor absoluto de suas vendas. Uma empresa que vende
$ 10.000.000 por mês tem vendas elevadas se o seu Ativo é de $ 5.000.000.
Certamente, suas vendas serão baixas se o Ativo for de $ 200.000.000.

Esse índice mede o volume de vendas da empresa em relação ao capital


total investido5

EXEMPLO: CIA. BIG

19x1 19x2

Vendas 4.793.123 4.425.866


Ativo 2.726.178 3.984.050
4.793.123 4.425.866
Giro do Ativo = 1,76 = 1,11
2.726.178 3.984.050

A empresa vendeu, em 19x1, $ 1,75 para cada $ 1,00 investido: o volume


de vendas atingiu 1,75 vezes o volume de investimentos. Em 19x2, houve queda
acentuada do volume relativo de vendas: para cada $ 1,00 investido a empresa
vendeu US$1,11.

5. Este índice acha-se discutido com profundidade no capítulo 15.


ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 183

Graficamente, estes índices podem ser assim visualizados:


CIA. BIG

19x1 19x2

Vendas
Vendas
Ativo
Ativo 1,76
1,11
1,00
1,00

Isto significa que a empresa passou a vender muito menos para cada $ 1
investido em 19x2, comparativamente a 19x1, embora em valor absoluto as suas
vendas tenham crescido.
O desempenho comercial da empresa não manteve em 19x2 o mesmo nível
alcançado no ano anterior, o que pode ter diferentes causas:

a) Retração do mercado como um todo: o mercado passou a comprar menos


produtos, diminuindo as vendas de todas as empresas do ramo.
b) Perda da participação de mercado: a empresa perdeu mercado para outros
concorrentes que sabem vender melhor ou têm produtos mais competitivos.
c) Estratégia da empresa: a empresa aumenta seus preços; dispõe-se a vender
menos, mas com margem de lucro maior, compensando assim a queda das vendas.
A vantagem dessa medida, quando bem-sucedida, é manter ou aumentar o lucro,
com muito menor volume e, portanto, menor risco.

A terceira hipótese pode ser comprovada através do próximo índice.

LL
2.9 MARGEM LÍQUIDA:
V
Lucro Liquido
Fórmula: x100
Vendas Líquidas

Indica: quanto a empresa obtém de lucro para cada $ 100 vendidos.


Interpretação: quanto maior, melhor.
184 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

EXEMPLO: CIA. BIG


19x1 19x2
Vendas 4.793.123 4.425.866
Lucro Líquido 223.741 167.116
223.741 167.116
Margem Líquida = 4,66% = 3,77%
4.793.123 4.425.866

Graficamente, esses índices podem ser assim visualizados:

19x1 19x2

3,5
Vendas
Vendas

Lucro Lucro
Líquido Liquido

Como se vê, houve considerável queda na margem de lucro da empresa.


O próprio valor absoluto do lucro líquido caiu, enquanto o valor absoluto das
vendas aumentou. Isto significa que a empresa auferiu menor lucro global e
ganhou muito menos por unidade vendida. Para cada $ 100 vendidos obteve
$ 4,66 de lucro em 19x1 e $ 3,77 em 19x2.
Dessa forma, a hipótese de a empresa ter diminuído vendas em função do
aumento da margem de lucro fica descartada. Logo, houve queda do seu volume
relativo de vendas simultaneamente à queda da margem de lucro. A conjugação
dessas duas quedas provoca maior impacto sobre a rentabilidade do ativo, como
se vê no próximo índice.

LL
2.10 RENTABILIDADE DO ATIVO:
AT
Lucro Líquido
Fórmula: X100
Ativo

Indica: quanto a empresa obtém de lucro para cada $ 100 de investimento total.
Interpretação: quanto maior, melhor.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 185

Este índice mostra quanto a empresa obteve de Lucro Líquido em relação


ao Ativo. É uma medida do potencial de geração de lucro da parte da empresa.
Não é exatamente uma medida de rentabilidade do capital — isto será mostrado
no próximo índice -, mas uma medida da capacidade da empresa em gerar lucro
líquido e assim poder capitalizar-se. É ainda uma medida do desempenho
comparativo da empresa ano a ano.

EXEMPLO: CIA. BIG


19x1 19x2
Lucro Líquido 223.741 167.116
Ativo 2.726.178 3.984.050
223.741 167.116
- 8,20% = 4,19%
Rentabilidade do Ativo 2.726.178 3.984.050

Graficamente tem-se:

O Ativo médio de X2 é 46% As vendas são de


maior que o de X1 apenas 92% do ano anterior

19x1 19x2

Vendas Vendas
Ativo
Ativo

Lucro Líquido Lucro Líquido

Para cada $ 100 investidos, a empresa ganhou $ 8,20 em 19x1 e $ 4,19 em


19x2. Houve, portanto, apreciável queda na rentabilidade do Ativo de um exer-
cício para outro.

Raciocinando segundo dados de 19x1, a empresa demoraria 9 anos para


dobrar o seu Ativo, contando exclusivamente com seu lucro.

Segundo dados de 19x2, a empresa demoraria 17 anos para dobrar o Ativo.

Por aí se vê a enorme diferença entre o desempenho nesses dois anos.


186 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Isto se deve à simultânea queda do Giro do Ativo (volume de vendas


relativo) e da Margem Líquida (ganho por unidade vendida), como se demonstra
abaixo:

19x1 19x2

= 1,76 1,11

= 4,66% 3,77%

= 8,20% 4,19%

onde:

= 19X1=1,76x4,66% 8,20%

= 19X2 = 1,11 x3,77% 4,19%

Em resumo, a empresa teve acentuada queda simultânea do volume relativo


de vendas, da margem líquida e, conseqüentemente, da rentabilidade do Ativo,
reduzindo-se drasticamente seu poder de capitalização.
Veja, agora, qual foi a rentabilidade do Capital Próprio investido.

2.11 RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO: LL


PL
Lucro Líquido
Fórmula: x100
Patrimônio Líquido Médio6

Indica: quanto a empresa obteve de lucro para cada $ 100 de Capital Próprio investido.
Interpretação: quanto maior, melhor.

A verificação pura e simples do valor do lucro líquido de uma empresa não


é esclarecedora. É preciso comparar esse valor com o Capital Próprio investido.
Uma empresa com lucro líquido de $ 10.000.000 pode ter desempenho superior

Patrimônio Líquido Inicial + Patrimônio Líquido Final


6. Patrimônio Líquido Médio =
2
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 187

à outra cujo lucro líquido foi de $ 200.000.000, pois pode ser que a
primeira tenha patrimônio líquido, por exemplo, de $ 50.000.000 e a
segunda de $ 3.200.000.000. Ou seja:

10.000.000
- 20%
50.000.000
200.000.000
= 6.25%
3.200.000.000

O papel do índice de Rentabilidade do Patrimônio Líquido é mostrar qual a


taxa de rendimento do Capital Próprio. Essa taxa pode ser comparada com a de
outros rendimentos alternativos no mercado, como Caderneta de Poupança,
CDBs, Letras de Câmbio, Ações, Aluguéis, Fundos de Investimentos, etc. Com
isso se pode avaliar se a empresa oferece rentabilidade superior ou inferior a
essas opções.
Como o Lucro Líquido se acha expurgado da inflação, a taxa de Rentabili-
dade do Patrimônio Líquido é real. Assim, ao ser comparada com o rendimento
da Caderneta de Poupança, toma-se apenas a taxa de juros desta e deixa-se de
lado a Correção Monetária. Idem com relação à comparação com o rendimento
de outras aplicações.
Vejam-se os índices da Cia. BIG:

19x1 19x2
Lucro Líquido 223.741 167.116
Patrimônio Líquido Inicial 821.827 1.070.861
Patrimônio Líquido Final 1.070.861 1.407.185
Patrimônio Líquido Médio 946.344 1.239.023
Rentabilidade do
223.741 167.116
Patrimônio Líquido = 23,64% -13,48%
946.344 1.234.023

Para cada $ 100 de Capital Próprio investido, a empresa conseguiu $ 23,64


de lucro em 19x1. A taxa de 23,64% é superior ao que oferecem os títulos de
mercado, que oscilam em torno de 6%. Normalmente, espera-se das empresas
rentabilidade superior à dos títulos de renda fixa; possuir o investimento na
empresa representa um capital de risco, ou seja, nada garante sua rentabilidade,
que poderá ser inclusive negativa.
Em 19x2, entretanto, ocorreu queda acentuada na rentabilidade da empre-
sa.
A rentabilidade empresarial, porém, é assim mesmo: num ano acima das
taxas de mercado, noutro abaixo e noutro em torno delas.
188 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Graficamente, pode-se mostrar assim:

CIA. BIG

19x1 19x2

Demonstração
Demonstração
do resultado
do resultado
Balanço

Balanço

100 23,9 100


6,5
Patrimônio Líquido Lucro Liquido Patrimônio Liquido Lucro Líquido

Observação: Segundo a Matemática Financeira, uma Renda (representada pelo Lucro


Líquido na empresa) deve ser dividida pelo Capital Inicial (Patrimônio
Líquido Inicial). Portanto, a fórmula correta do índice de Rentabilidade do
Patrimônio Líquido é:

Lucro Líquido
Patrimônio Liquido Inicial

Entretanto, como o Patrimônio Líquido sofre alterações devidas aos paga-


mentos de dividendos e às integralizações de capital, por uma questão de
simplicidade toma-se o Patrimônio Líquido Médio entre o final e o inicial. 7

7. O correto seria ponderar, proporcionalmente, pelo tempo de permanência na empresa, as


integralizações de capital e, analogamente, os pagamentos de dividendos. Por exemplo, na
Cia. BIG em 19x1, o aumento de capital ocorreu em 30-04-x1.
• Patrimônio Líquido Inicial: 821.827
• Aumento de Capital havido durante o exercício: 49.478
• Patrimônio Líquido Médio 19x1: (821.827 x 12 + 49.478x7) ÷12 = 850.689
• Rentabilidade do Patrimônio Líquido em 19x1:223.741 ÷ 850.689 = 26,30%.
A não ser que se necessite de maior rigor, recomenda-se o emprego da fórmula simplificada:
Patrimônio Líquido Médio - PL Inicial + PL Final

Este assunto acha-se discutido com profundidade no Capítulo 14.


ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 189

3 COMO AVALIAR OS ÍNDICES

Há três tipos básicos de avaliações de um índice:

a) pelo significado intrínseco;


b) pela comparação ao longo de vários exercícios;
c) pela comparação com índices de outras empresas - índices-padrão.

Veja-se a seguir cada uma dessas avaliações individualmente.

AVALIAÇÃO INTRÍNSECA DE UM ÍNDICE. É possível, de maneira gros-


seira, avaliar índices pelo seu significado intrínseco. Por exemplo, pode-se tentar
qualificar a situação financeira de uma empresa com base no índice de Liquidez
Corrente: se apresentar valor de 1,5, sabe-se que para cada cruzado de dívida
a curto prazo há $ 1,5 de investimento a curto prazo. A folga de 50% pode ser
considerada suficiente como margem de segurança à empresa; essa conclusão
é feita ou por intuição do analista ou por ter trabalhado em empresas que
conseguiram operar bem com esse nível de Liquidez Corrente. Da mesma
maneira, pode-se considerar elevado o índice de Participação de Capitais de
Terceiros, por exemplo, quando for de 200%. Conclui-se nesse caso que para
cada $ 100 de capita! próprio existe $ 200 de terceiros, e que terceiros estão,
portanto, investindo na empresa o dobro do que os próprios acionistas. Com
relação à Participação de Capitais de Terceiros é preciso considerar a opinião
da comunidade financeira. Se os banqueiros, gerentes de bancos e outras
pessoas que decidem créditos considerarem normal a participação de capitais
de terceiros ao nível de 200%, a empresa provavelmente continuará desfrutando
de crédito bancário. Se, porém, esse nível for considerado excessivo, então a
empresa poderá ter sérias dificuldades financeiras. No caso de índices de
rentabilidade, pode-se julgar um índice de rentabilidade, digamos de 20%, em
função de uma expectativa desejada pelos empresários.
De qualquer maneira, a análise do valor intrínseco de um índice é limitada
e só deve ser usada quando não se dispõe de índices-padrão proporcionados
pela análise de um conjunto de empresas.

COMPARAÇÃO DOS ÍNDICES NO TEMPO. A comparação dos índices de


uma empresa com os valores observados nos anos anteriores revela-se bastante
útil por mostrar tendências seguidas pela empresa. Por exemplo: se por um lado
uma empresa pode endividar-se mais a cada exercício e, simultaneamente,
apresentar aumento de sua rentabilidade, por outro lado pode ocorrer redução
dos índices de liquidez. Essas informações permitem ao analista formar uma
opinião a respeito de diversas políticas seguidas pela empresa, bem como das
190 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

r
tendências que estão sendo registradas. E fundamental em qualquer avaliação
que os índices que sejam analisados conjuntamente.

COMPARAÇÃO COM PADRÕES. A avaliação de um índice e a sua


conceituação como ótimo, bom, satisfatório, razoável ou deficiente só pode ser
feita através da comparação com padrões. Não existe o bom ou o deficiente em
sentido absoluto. O bem só é bom em relação a outros elementos. O melhor
jogador de futebol do selecionado da Manchúria poderá ser um péssimo jogador
se comparado a jogadores do Brasil. Assim, é preciso definir um conjunto
(universo) e, em seguida, comparar um elemento com os demais do conjunto
para atribuir-lhe determinada qualificação. Esse é um processo natural do
raciocínio humano onde todas avaliações são feitas por comparações, ainda que
quase nunca tabuladas metodologicamente (daí as divergências de opiniões). É
importante, ao fazer a comparação, saber se um índice é: quanto maior, melhor,
ou quanto menor, melhor. Suponha-se que uma empresa possua índice de
Liquidez Corrente de 1,93; se 80% das empresas do ramo possuem índice menor
do que o dessa empresa e se a Liquidez Corrente é do tipo quanto maior, melhor,
a conclusão é de que a empresa possui bom índice de Liquidez Corrente em
relação às demais empresas do ramo. Essa é uma conclusão objetiva. O uso de
índices-padrão é vital na Análise de Balanços. Não se pode conceber uma boa
análise sem a comparação dos índices da empresa analisada com padrões. Por
isso, o próximo capítulo trata somente desse assunto.

3.1 PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE ÍNDICES FINANCEIROS

Uma vez calculados os índices e comparados com padrões, pode-se fazer


primeiro uma avaliação individual de cada índice, depois uma avaliação conjunta
e, assim, avaliar-se a empresa e sua administração.
Essa forma de avaliação não é descoberta da Análise de Balanços. Pelo
contrário, trata-se de uma técnica científica seguida largamente por outras
ciências (muito antes de sua aplicação na Análise de Balanços) e que, basica-
mente, tem a seguinte ordem:

a) Descoberta de indicadores: no nosso caso são os índices financeiros de Partici-


pação de Capitais de Terceiros, Liquidez etc.
b) Definição do comportamento do indicador: existem três possibilidades:
i - quanto maior, melhor;
ii - quanto menor, melhor;
iii - ponto ótimo em tomo de um parâmetro.
ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES 191

c) Tabulação de padrões: é a construção de tabelas baseadas em elementos do


mesmo conjunto - no caso presente, índices de empresas do mesmo ramo - de
maneira que permita a comparação dos índices de uma empresa com os das demais
empresas; a construção de padrões é detalhadamente descrita no Capítulo 5.
d) Escolha dos melhores indicadores e atribuição dos respectivos pesos: já se
fez isso escolhendo onze índices, através de longos anos de pesquisa; adiante
fala-se sobre o peso dos índices.

3.2 A IMPORTANCIA RELATIVA DE CADA ÍNDICE (PESO)

Uma vez avaliado cada um dos índices, através da comparação com os


padrões, suponha-se que a um tenha sido dada a avaliação ótimo, a outro a
avaliação razoável e a outro deficiente. Afinal, qual será a avaliação da empresa?
Depende da importância de cada um, ou seja, do peso que se atribui a cada
índice.

Essa tem sido uma questão fundamental desde os primórdios da Análise


de Balanços. Alexander Wall, primeiro a se preocupar com isso, propôs, em 1914,
uma fórmula matemática para avaliar a empresa, baseando-se nos índices e nos
respectivos pesos. Essa fórmula, do ponto de vista prático, não tinha nenhuma
utilidade, mas teve a virtude de lançar a idéia de pesos.

Modernamente, muitos pesquisadores, através de pesquisas de campo,


têm tentado encontrar os pesos ideais; tomam empresas falidas e testam, através
de técnicas matemáticas e estatísticas e auxiliados por computadores, quais os
pesos que, se tivessem sido usados antes da falência, poderiam ter levado ao
máximo acerto possível as previsões.

Além disso, nunca deve ser esquecida a importância atribuída a cada índice
pelos analistas de grande experiência em análise de empresas. Aliás, as técnicas
matemáticas e estatísticas ainda não superaram, em termos de emprego de
massa, a opinião dos analistas quanto à importância dos índices.

A atribuição de pesos, como se vê, pode adquirir contornos altamente


científicos, porém não deixa de ser algo de absolutamente intuitivo. Quando um
analista chega a uma conclusão, terá atribuído algum peso aos índices encon-
trados, mesmo que igual para todos e ainda que o faça inconscientemente.

Esse assunto será tratado no Capítulo 8.


192 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

3.3 RELATÓRIO PARCIAL DE ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES

Apresenta-se a seguir um relatório de análise da Cia. BIG em que se


comentam conjuntamente os índices até agora expostos.
Esse relatório é limitado tanto pelo fato de só terem sido expostos alguns
índices, quanto pelo fato de a avaliação de índices requerer o uso de duas
técnicas sobre as quais se falará nos próximos capítulos - Índices-Padrão e
Avaliação Conjunta de Índices.
Entretanto, a esta altura é útil ao leitor uma visão geral dos índices apresen-
tados até aqui, como mostra o relatório abaixo:

RELATÓRIO: CIA. BIG

A Cia. BIG aumentou seu endividamento de 154%, em 19x1, para 183%, em 19x2, e passou a
depender muito mais de terceiros. Entretanto, em 19x2, alterou o perfil de sua dívida, pois o percentual
de dívidas de curto prazo, que era de 81% no ano precedente, passou para 54%, dando-lhe mais
prazo para pagamento das mesmas. 0 grau de ¡mobilização do Patrimônio Liquido que era de 71%,
em 19x1, subiu para 121%, absorvendo, em 19x2, todo o Patrimônio Líquido e ainda uma parcela
de capitais de terceiros equivalente a 21% deste último. Com isso, a empresa ficou sem Capital
Circulante Próprio em 19x2. Entretanto, a imobilização de recursos não correntes permaneceu dentro
de níveis equivalentes e permitiu à empresa até mesmo aumentar o Capital Circulante Líquido. Em
virtude de não ter Capital Circulante Próprio em 19x2, a Liquidez Geral caiu para 0,88, quandohavia
sido de 1,18 em 19x1. Isto significa que a relativa tranqüilidade existente em 19x1 deixou de existir
em 19x2, pois a longo prazo a empresa dependerá de geração de recursos para manter boa liquidez.
Contudo, em decorrência do aumento do Capital Circulante Líquido, a empresa conseguiu melhorar
ligeiramente a Liquidez Corrente (donde se conclui que o nível de Capital Circulante Líquido mantido
é satisfatório); isso indica que a curto prazo não haverá problemas de liquidez. Quanto à Liquidez
Seca, houve queda insignificante de 0,90, em 19x1, para 0,87, em 19x2.

Se do ponto de vista financeiro piorou a situação, com algumas compensações, do ponto de


vista econômico a situação piorou completamente. Para cada $ 1,00 investido a empresa vendeu $
1,76 em 19x1. Já em 19x2 vendeu apenas $ 1,11 o que significa apreciável queda nas vendas em
relação ao investimento efetuado. Enquanto isso, a margem de lucro líquido cala de 4,66% para
3,77%, ou seja, em cada $ 100 vendidos a empresa passou a ganhar muito menos, em 19x2. Para
se ter uma idéia do efeito conjunto dessas duas quedas, a rentabilidade do Ativo caiu pela metade
ou seja, de 8,20% para 4,19% isso significa que o seu poder de capitalização desceu a níveis muito
baixos: enquanto pela rentabilidade do Ativo, em 19x1, a empresa demoraria cerca de 9 anos para
dobrar o seu Ativo, se contasse exclusivamente com os recursos dos lucros acumulados, em 19x2
demoraria 17 anos. Como reflexo disso, a rentabilidade do Patrimônio Líquido desceu de 23,64, para
13,48%, mostrando que a empresa conseguiu remuneração modesta do seu capital em 19x2.
7 Indices-Padrão

A Análise de Balanços através de índices só adquire consistência e objeti-


vidade quando os índices são comparados com padrões, pois, do contrário, as
conclusões se sujeitam à opinião e, não raro, ao humor do analista de balanços.
Existe uma técnica própria para a construção de padrões para Análise de
Balanços, e tal técnica se encontra neste capítulo.
São apresentados aqui os padrões para a indústria e o comércio, bem
como os de alguns ramos cujas empresas são analisadas neste livro.
Chama-se a atenção do leitor para o significado dos índices-padrão, último
tema deste capítulo, que desmistifica a impressão errônea que em geral se tem
dos padrões.

1 A ESTATÍSTICA AJUDANDO A ANALISAR BALANÇOS

Quando se usam algumas técnicas estatís-


ticas, é possível comparar o desempenho
de uma empresa com o de 100, 1.000 ou
mais empresas.

A reação imediata de quem se defronta com demonstrações financeiras e


quer delas tirar alguma informação é fazer comparações. Por exemplo, podem-se
comparar o Lucro com o Patrimônio Líquido, o Imobilizado com o Patrimônio
Líquido, o Ativo Circulante com o Passivo Circulante. Os índices de balanços
expressam relações entre partes das demonstrações financeiras e a Análise de
194 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Balanços está toda calcada neles, sejam tradicionais (como os de Liquidez,


Rentabilidade, Imobilizações, sejam de composição percentual das demonstra-
ções financeiras, sejam, ainda, de evolução de cada uma das contas ou grupo
de contas dessas demonstrações.
O segundo passo de quem se defronta com demonstrações financeiras é:
como avaliar esses índices?

Basicamente, deve-se comparar um índice com índices de outras empresas.


Assim, as coisas se encadeiam logicamente.

A empresa produz demonstrações financeiras fundamentalmente para ou-


tras entidades (externas), as quais calculam índices que serão comparados com
os de outras empresas. A técnica de índices-padrão permite avaliar os índices
de uma empresa em análise, em relação aos de outras empresas.

O primeiro problema para se comparar o índice de uma empresa com o de


outras é exatamente com que empresas comparar. Suponha-se existirem, em
determinado ramo de atividades, 200 empresas; como comparar determinado
índice com os 200 índices de mesmo tipo dessas 200 empresas? Ou seja, quando
se quer saber como está o índice de Liquidez Corrente da empresa que se está
analisando, como compará-lo com os 200 índices de Liquidez Corrente obtidos
das demais empresas desse ramo de atividade?

O problema torna-se muito mais complexo quando, além do índice de


Liquidez Corrente, se quer comparar mais, suponha-se, dez outros índices.

A esta altura, só resta um caminho: pedir socorro à Estatística, que diz ser
possível extrair algumas medidas de determinado universo1 de elementos.
Pode-se, então, extrair a média dos 200 índices e passar a trabalhar com a média.
Mas será que a média é suficiente?

A Estatística diz que há elementos mais interessantes do que a média.


Existem, basicamente, três tipos de medidas de posição, a saber: média, moda,
mediana e congêneres.

Média: é usada, normalmente, para indicar algo que é característico do universo. Por
exemplo: média de gols por partida assinalados num campeonato (indica a eficiência
média dos ataques das equipes).

1. Universo é expressão usada em Estatística para designar um grupo ou conjunto, perfeitamente


definido, de objetos, elementos ou indivíduos. Amostra é uma parte do universo.
INDICES-PADRAO 195

Moda: objetiva mostrar aquilo que é mais comum em determinado universo; por
exemplo, no seguinte conjunto de dados referentes às notas de estudantes em
determinada prova: 2, 2, 3, 4, 5, 5, 6, 6, 6, 6, 6, 7, 7, 8, 9, 9, 10, a moda será "6",
visto ser o valor verificado com mais freqüência.
Mediana: é o valor tal que, colocados os elementos do universo em ordem crescente,
metade fica abaixo de si e metade acima. O papel da mediana é possibilitar a
comparação de um elemento do universo com os demais, a fim de se conhecer a
sua posição relativa, na ordem de grandeza do universo. Por exemplo, se entre os
operários de determinada fábrica a mediana de salários for de $ 3.800,00, aquele
que recebe remuneração acima disso estará entre a metade de operários mais bem
remunerados.

Entretanto, a mediana isoladamente é insuficiente para comparações pre-


cisas. Por isso, faz-se o cálculo também de outras medidas estatísticas, de
mesma natureza da mediana, como quartis, decis ou percentis. Recomenda-se
o uso dos decis.
Quando são utilizados os decis, tem-se não uma única medida de posição,
mas nove, de maneira que se pode dispor de informações que proporcionam
ótima idéia da distribuição estatística dos índices tabulados.
Os índices financeiros apresentam, em geral, distribuição semelhante à da
Figura 7.1.

Quantidade de elementos

Variável

FIGURA 7.1. Distribuição normal.

Se são tomados os decis, distribui-se o universo em fatias, cada uma com


10% dos elementos do universo, conforme mostra a Figura 7.2. Na Figura 7.3 há
um gráfico formado somente de decis. Veja-se como ele sugere e substitui a
distribuição verdadeira.
196 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Assim, através de decis, obtém-se uma idéia extraordinariamente próxima


de como se distribuem os elementos em determinado universo. Os 200 índices
podem ser dispensados, e passa-se a trabalhar com apenas nove decis.
Se, em vez de comparar determinada empresa com outras 200, se dese-
jasse compará-la com 10.000, 20.000 ou 30.000 empresas, bastariam apenas
os nove decis. Fazendo a comparação dos índices da empresa com os nove
decis, encontra-se a posição relativa da empresa no ramo.
Os gráficos das Figuras 7.4 e 7.5, preparados com base em 299 demons-
trações financeiras de empresas do ramo de plásticos, ilustram o comportamento
dos índices, na prática.

10% dos 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 10%
Elementos

FIGURA 7.2. Posição dos decis na distribuição normal.

FIGURA 7.3. Simplificação da distribuição normal.


Liquidez Corrente
30%
Classe
25% Modal
20%
15%
10%
5%

0,0 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00 3,20 3,40

FIGURA 7.4. Gráfico da distribuição relativa da liquidez corrente de empresas do ramo de plásticos.
ÍNDICES-PADRÃO

Lucro Liquido/
30% Patrimônio Liquido Médio
25%
20%
15%
10%
5%

0%
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110

FIGURA 7.5. Gráfico da distribuição relativa do lucro líquido/patrimônio líquido médio de empresas do ramo de plásticos.
197
198 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

1.1 EXEMPLIFICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE PADRÕES

Na construção de tabelas de índices-padrão de determinado ramo de


atividade, toma-se inicialmente o maior número possível de empresas do ramo
de certa localidade. Do balanço de cada empresa extraem-se índices que serão
tabulados. Por exemplo, suponham-se 200 empresas do ramo têxtil de São
Paulo. Haverá 200 índices de cada tipo. Tomem-se inicialmente os 200 índices
de Liquidez Corrente. Esses índices devem ser colocados em ordem crescente,
ou seja, do mais baixo para o mais alto. O valor tal que 10% dos índices (ou seja,
20 índices) ficam abaixo de si é o 1º decil, o qual divide o conjunto de índices de
liquidez corrente em décimas partes, deixando um décimo abaixo e nove décimos
acima dele. O cálculo do 2º decil é semelhante, 20% dos índices ficam abaixo e
80% acima. Idêntico procedimento é utilizado para o cálculo do 3º,4º, 5º, 6º, 7º,
8º e 9º decis. O 5º decil coincide com a mediana, uma vez que, deixando 50%
dos índices abaixo de si e 50% acima, estará dividindo o conjunto de índices em
duas metades iguais.
Para ilustrar esta exposição, apresenta-se a seguir um exemplo numérico
completo:

a) Foram tomadas 30 empresas do ramo de tintas e vernizes que apresentam os


seguintes índices de Liquidez Corrente:
1,76-0,89-1,01-1,40-1,80-1,05-1,14-1,22
1,13 - 1,66 - 1,80 - 1,54 - 1,34 - 1,43 - 1,60 - 1,20
1,26-1,09-1,50-1,82-1,07-0,93-1,11-1,21
1,70-0,82-1,47-1,24-1,18-1,30.
b) O primeiro passo para encontrar os decis e a mediana desse conjunto é pô-lo em
ordem de grandeza crescente:
0,80 - 0,82 - 0,89 - 0,93 - 1,01 - 1,05 - 1,07 - 1,09
1,11-1,13-1,14-1,18-1,20-1,21-1,22-1,24
1,26-1,30-1,34-1,40-1,43-1,47-1,50-1,54
1,60-1,66-1,70-1,76-1,80-1,82.
c) Conforme a definição, o 1º decil é o valor que deixa 10% dos elementos do conjunto
abaixo de si e 90% acima. Como neste exemplo o conjunto tem 30 elementos, o 1º
decil deixa três elementos abaixo de si (3 = 10% x 30) e 27 elementos acima.
Portanto, deve ser um número superior a 0,89 (que é o 3º elemento do conjunto na
ordem de grandeza) e inferior a 0,93 (a fim de deixar 27 elementos acima de si). O
1º decil é obtido através da média aritmética dos valores do 3º e 4º elementos:
0,89 + 0,93
= 0,91.
2
ÍNDICES-PADRÃO 199

d) Demais decis:
Adotando procedimento análogo para os demais decis, encontram-se os seguintes
valores:
2º decil = 1,06 (média entre 1,05 e 1,07)
3º decil = 1,12 (média entre 1,11 e 1,13)
4º decil = 1,19 (média entre 1,18 e 1,20)
5º decil = 1,23 (média entre 1,22 e 1,24)
6º decil = 1,32 (média entre 1,30 e 1,34)
7º decil = 1,45 (média entre 1,43 e 1,47)
8º decil = 1,57 (média entre 1,54 e 1,60)
9º decil = 1,73 (média entre 1,70 e 1,76)
e) A Figura 7.6 mostra as posições das medidas estatísticas em relação aos elementos
desse conjunto:

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%

0%

Decis
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
Índices- (mediana)
-Padrão

0,91 1,12 1,23 1,45 1,73


1,06 1,19 1,32 1,57

FIGURA 7.6. Percentual acumulado de elementos do conjunto.

Em resumo, para obter índices-padrão é obedecida a seqüência de proce-


dimentos abaixo:

1º) Separam-se as empresas em ramos de atividade.


2º) De cada empresa, dentro de um mesmo ramo, toma-se determinado índice finan-
ceiro.
200 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

3º) Os índices assim obtidos são colocados em ordem crescente de grandeza.


4º) Os índices-padrão são dados pelos decis.

1.2 RAMOS DE ATIVIDADE

Já se sabe agora como tabular os diversos números para se encontrar


"representantes do Universo" adequados para comparações, ou seja, índices-
padrão.
Mas em meio a esse trabalho, depara-se com outro problema: de que
maneira separar as empresas em ramos de atividades? O que é exatamente um
ramo de atividade?
Suponha-se que se queira estabelecer padrões para a indústria de autope-
ças. Nela encontram-se fabricantes de pneus, motores, estofamentos, material
elétrico, enfim, empresas que fabricam os mais variados produtos e que, em vista
disso, são obrigadas a ter instalações industriais, sistemas de estocagens e, em
conseqüência, estrutura de capital diferentes umas das outras.
Outro problema sério é o que se verifica com relação ao mercado. Na
indústria de autopeças algumas empresas dependem, exclusivamente, de al-
guns poucos montadores e, além disso, têm de enfrentar inúmeros concorrentes.
Outras já contam com um mercado de reposição que lhes absorve grande parte
da produção.
Para estabelecer índices-padrão não podem ser tomados, pura e simples-
mente, os tradicionais ramos de atividade; é necessário escolher ramos que
permitam a melhor comparação possível dos índices de uma empresa com os
de outras, ou seja, os ramos devem compreender empresas possivelmente
semelhantes do ponto de vista financeiro. Esse é um trabalho extremamente
exaustivo.
Ainda com relação a esse problema de estabelecimento de ramos, cita-se
o caso típico que se verifica no ramo têxtil. Nesse ramo, encontram-se diversos
tipos de indústrias com atividades totalmente diferenciadas. Aí são encontradas
empresas de torção e retorção de fios, fiação, texturização, tingimento, produção
de cordas e cordões, produção de sacos de juta etc. Cada um desses grupos
constitui efetivamente um sub-ramo.
A solução é: em primeiro lugar, compara-se uma empresa com as demais
empresas do sub-ramo e, em seguida, faz-se a comparação com as do ramo.
Outro problema é que muitas vezes um ramo se encontra em crise, e a
comparação de uma empresa exclusivamente com outras do mesmo ramo pode
levar a distorções. Uma empresa que estivesse em má situação, comparada às
péssimas empresas de seu ramo, poderia ser tachada de ótima empresa.
ÍNDICES-PADRÃO 201

É preciso, pois, comparar cada ramo com o setor, ou seja, com a indústria
como um todo ou com o comércio como um todo.

Outra questão que se afigura quando da constituição de índices-padrão é o


tamanho das empresas. Grandes empresas têm características próprias de
utilização de crédito, de estocagem, enquanto as pequenas, normalmente, têm
outro modus operandi. Por isso, é conveniente estabelecer padrões para peque-
nas, médias e grandes empresas e, dessa maneira, estudar como se comportam
esses diferentes subconjuntos.

Em resumo, para constituir tabelas de índices-padrão devem-se:

1. definir os ramos de atividade próprios para o fim a que se destinam;


2. criar subdivisões dentro desses ramos, de maneira que uma empresa possa ser
comparada a outras de atividade mais ou menos semelhante à sua;
3. separar grandes, pequenas e médias empresas; e
4. para cada um dos subconjuntos assim obtidos, calcular os decis.

1.3 A UTILIDADE DOS ÍNDICES-PADRÃO

O papel dos índices-padrão parece, em princípio, extremamente simples:


permitir comparar uma empresa com outras semelhantes.

Mas, muito além disso, os índices-padrão representam elementos extraor-


dinariamente úteis para análises macroeconômicas.

Uma vez que os índices-padrão substituem os índices reais das empresas


(lembre-se das explicações anteriores), estudar os índices-padrão significa es-
tudar os índices de todas as empresas. Supondo-se uma série histórica de
índices-padrão de dez anos, pode-se estudar a evolução de endividamento das
empresas, da rentabilidade, da liquidez e de qualquer outro indicador que se
desejar.

Além disso, os diversos ramos de atividade podem ser comparados entre


si, bem como a um conjunto que abranja todos os ramos industriais, chamado
setor; dessa forma, analisa-se cada ramo da atividade e pode-se comparar o
desempenho da indústria, comércio e serviços entre si.
202

TABELA 7.1. Índices-padrão de 299 empresas do ramo de plásticos de São Paulo.

1º 2º 3º 4º 6º 7º 8º 9º
DECIL DECIL DECIL DECIL MEDIANA DECIL DECIL DECIL DECIL
ESTRUTURA
01-CT/PL 47% 78% 106% 132% 151% 182% 218% 294% 378%
02-PC/CT 48% 62% 70% 77% 83% 97% 99% 99% 100%

03-AP/PL 40% 57% 67% 80% 91% 106% 122% 145% 192%
04-AP/PL + ELP 33% 45% 55% 62% 69% 76% 87% 99% 122%
LIQUIDEZ
05-LG 0,62 0,79 0,86 0,94 1,02 1,11 1,21 1,42 1,56
06-LC 0,83 0,98 1.10 1.21 1,34 1,45 1,63 1,82 2,27

07-LS 0,41 0,58 0,72 0,81 0,93 1,04 1,15 1,29 1,54
RESULTADOS
11-V/AT 1,05 1,22 1,33 1,49 1,63 1,82 2,02 2,21 2,75
12-LL/V 3,0% 0,5% 1,7% 2,9% 4,1% 5,7% 6,9% 9,4% 12,7%

13-LL/AT 3,7% 1,2% 3,4% 5,3% 7,2% 9,5% 12,0% 14,9% 22,1%
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

14-LL/PL -10,4% 4,0% 12,0% 18,0% 23,5% 30,0% 37,1% 47,0% 58,7%
PRAZOS MÉDIOS
08-PMRV(DIAS) 37 50 60 67 75 83 91 105 125

09-PMRE(DIAS) 13 19 26 35 41 50 60 82 103
10-PMPC{DIAS) 33 43 52 62 71 82 95 109 133
ÍNDICES-PADRÃO 203

TABELA 7.2. Comparação entre setor industrial geral e o ramo de plásticos de São
Paulo.

2º DECIL MEDIANA 8º DECIL

Cap. Terceiros/Patr. Líquido - Setor 67% 149% 298%


- Ramo 78% 151% 294%

Permanente/Patr. Líquido - Setor 37% 70% 120%


-Ramo 57% 91% 145%

Liquidez Corrente - Setor 1,10 1,46 2,09


-Ramo 0,98 1,34 1,82

Lucro Líquido/Patr. Líq. Médio - Setor 1,0% 18,0% 43,0%


-Ramo 4.0% 23.5% 47.0%

TABELA 7.3. Comparação entre Índices-padrão de pequenas, médias e grandes


empresas do ramo de plásticos de São Paulo.

2º DECIL MEDIANA 82 DECIL

- Pequenas 85% 169% 336%


Cap. Terceiros/Patr. Líquido - Médias 69% 147% 256%
- Grandes 87% 145% 289%

- Pequenas 58% 99% 156%


Permanente/Patr. Líquido - Médias 55% 88% 141%
- Grandes 57% 93% 138%

- Pequenas 0,82 1,10 1,65


Liquidez Corrente - Médias 1,00 1,36 1,73
- Grandes 1,14 1,45 2,00

- Pequenas 5,8% 18,0% 39,8%


Lucro Líquido/Patr. Líq. Médio - Médias 7,0% 26,0% 56,0%
- Grandes 13.4% 26.0% 49.4%
204 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

2 AVALIAÇÃO DE ÍNDICES ATRAVÉS DE PADRÕES

A avaliação dos índices de uma empresa, relativamente às demais do


mesmo ramo e praça, pode ser feita através do uso das tabelas de índices-pa-
drão. É com base nos nove decis encontrados que podem ser avaliados com
precisão os índices.

2.1 EXEMPLO

Veja-se, através de exemplo, como pode ser feita essa avaliação. Suponha-
se que uma empresa apresente os dados abaixo:

Sede: São Paulo


Ramo: Indústria de embalagens e recipientes de plásticos
Patrimônio Líquido: $ 10.500.000
Vendas: $ 45.000.000
Índice de Liquidez Corrente: 1,86

Deseja-se, neste caso, saber qual a avaliação do índice de Liquidez Cor-


rente.
O primeiro passo é tomar a tabela de índices-padrão do ramo de atividade
de plásticos a que pertence a empresa e comparar o seu índice com os valores
constantes dessa tabela. Na Tabela 7.1 encontram-se os índices-padrão das
empresas desse ramo de atividade.
O valor mais próximo do índice de Liquidez Corrente da empresa em
exemplo é o 8º decil, ou seja, 1,82. Isto significa que a empresa em análise possui
índice de Liquidez Corrente superior a 80% dos índices de Liquidez Corrente das
empresas que operam nesse ramo.
A segunda etapa na avaliação de um índice é atribuir-lhe um conceito em
função da posição desse índice relativamente aos índices-padrão.
Como foi visto, o índice da empresa do exemplo está acima do 32 decil.
Usando-se os valores constantes do Quadro 7.1, atribuir-se conceito ótimo ao
índice de Liquidez Corrente dessa empresa, em função da sua posição relativa
aos índices-padrão.
ÍNDICES-PADRÃO 205

Nem todos os índices, porém, podem ser avaliados de acordo com o Quadro
7.1. Para o índice de Liquidez Corrente, quanto maior o índice, melhor a situação
financeira da empresa. Entretanto, para outros índices, como o de Participação
de Capitais de Terceiros, quanto maior o índice, pior será a situação da empresa.
Assim, é preciso, em primeiro lugar, observar qual o tipo de movimento do índice,
antes de se atribuir conceito. Para os índices quanto maior, pior/quanto menor,
melhor, a escala deverá ser exatamente inversa à apresentada abaixo.

QUADRO 7.1. Qualificação dos Índices segundo sua posição relativa.

Categorias
PÉS- DEFI- RAZO-
de FRACO SATISFATÓRIO BOM ÓTIMO
SIMO CIENTE ÁVEL
Avaliação

Índices- 1º 2º 3a 4º Mediant 6s 7s 8º 9a
padrão: Decil Decil Decil Decil Decü Decü Decil Decü

Posição do índice da
empresa do exemplo em
relação ao ramo de atividade

Além disso, pode-se querer atribuir um conceito numérico ao índice avalia-


do, ou seja, uma nota que permita somar o conceito do índice ao de outros índices,
para, afinal, fazer a média aritmética.
Para os índices do tipo quanto maior, melhor, pode atribuir nota 1 aos índices
próximos ao 1º decil, nota 2 aos índices próximos ao 2º decil, e assim sucessi-
vamente. Para os índices quanto menor, melhor, atribui-se 9 para os índices
próximos ao 1º decil, 8 para os índices próximos ao 2º decil, e assim por diante.
O Quadro 7.2 resume os conceitos qualitativos e quantitativos atribuídos
aos índices em função de sua posição, relativamente aos padrões.
206
QUADRO 7.2. Conceitos atribuídos aos Índices segundo sua posição relativa.

Padrões do
Ramo 1º 2º 3º 4º 6º 7º 8º 9º
Índices Decil Decil Decil Decil Mediana Decil Decil Decil Decil
do Tipo

Quanto maior, melhor:


• Liquidez Geral
• Liquidez Corrente
• Liquidez Seca

• Giro do Ativo NOTA 1


0 2 3 4 5 6 7 e 9 10
• Margem Líquida
• Rentabilidade do Ativo PÉSSIMO FRACO SATISFATÓRIO BOM ÓTIMO
• Rentabilidade do Patrimônio CONCEITO
Liquido DEFICIENTE RAZOÁVEL

Quanto menor, melhor:


AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

• Participação de Capitais de
Terceiros NOTA 10 9 B 7 6 5 4 3 2 1 0
• Composição das Exigibilidades
• Imobilização do Patrimônio CONCEITO ÓTIMO BOM SATISFATÓRIO FRACO
Líquido
• ¡mobilização dos Recursos não RAZOÁVEL
Correntes
ÍNDICES-PADRÃO 207

2.2 OUTROS EXEMPLOS

Apresenta-se a seguir outro exemplo de uso de índices-padrão, desta feita


com gráficos que explicam visualmente uso de índices-padrão.
Considere-se agora uma empresa do ramo de madeiras. Os seus principais
índices e as medianas do ramo em que atua estão na Tabela 7.4.

TABELA 7.4. Índices de uma empresa do ramo de madeira comparativamente aos


padrões.

1990 1991 1992


Índice da Mediana Índice da Mediana Índice da Mediana
Empresa do Ramo Empresa do Ramo Empresa do Ramo
Partia Capitais de
Terceiros 146% 152% 205% 163% 301 % 174%
Imobilização do
Patr. Líquido 71% 65% 111% 66% 169% 62%
Liquidez Geral 1,19 1,31 0,94 1,28 0,77 1,30
Liquidez Corrente 1,60 1,51 1.55 1.37 1,57 1,44
Rentab. Patr.
Líquido 17% 8,9% 7,0% 8,8% 6,0% 8,4%

Em função da posição dos índices dessa empresa, relativamente às media-


nas, podem ser feitos os seguintes comentários:

A EMPRESA EM COMPARAÇÃO COM O RAMO


• Participação de Capitais de Terceiros: os índices de endividamento da empresa
demonstram que nos últimos dois exercícios a mesma vem recorrendo a capitais de
terceiros mais do que é típico no ramo; e revelando crescimento de endividamento
muito superior às demais empresas do ramo. Ressalte-se que, em 1990, 52% das
empresas do ramo apresentavam endividamento superior à analisada e que, em
1992, esta percentagem reduziu-se para somente 7%, como pode ser visto nos
gráficos abaixo.

1990 1991 1992

Mediana do Empresa
Empresa Mediana Mediana Empresa
Ramo

52% 39% 7%

146 152 163 205 174 301


208 AVAUAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

• Imobilizaçáo do Patrimônio Líquido. Da mesma forma, os índices de ¡mobilização


apresentam crescimento elevadíssimo. Os gráficos abaixo mostram que, em 1990,
46% das empresas apresentavam esse índice maior do que o da analisada, enquan-
to, em 1992, somente 13% se situavam em tal situação.

1990 1991 1992

Empresa Empresa Mediana Empresa


Mediana
Mediana

46% 27% 13%

65 71 66 111 62 169

• Liquidez Geral. Os índices de liquidez geral da empresa vêm apresentando tendên-


cia de queda em relação às demais empresas do ramo, comprovada pelo fato de
que, em 1990, 58% das demais empresas apresentaram índices superiores à
analisada, enquanto em 1992 esta porcentagem subiu para 81 %.

1990 1991 1992

Mediana Mediana Empresa


Empresa Empresa Mediana

58% 67% 81%

1,19 1,31 0,94 1,28 0,77 1,30

• Liquidez Corrente. Já os índices de liquidez corrente vêm apresentando uma


melhora em relação aos das demais empresas; enquanto a analisada conseguiu
manter esse índice num mesmo patamar, os índices do ramo apresentaram-se em
queda.

1990 1991 1992


Empresa Empresa
Mediana Mediana Mediana Empresa

42% 26% 36%

1,61 1,60 1,37 1,55 1,44 1,57


ÍNDICES-PADRÃO 209

• Rentabilidade do Patrimônio Líquido Médio. A rentabilidade da empresa que


estava bem situada em 1990 perdeu posição em 1991 e 1992, fixando nesses últimos
dois anos abaixo da rentabilidade de 65% das empresas do ramo, o que a coloca
entre aquelas de menor rentabilidade.

1990 1991 1992


Mediana Mediana
Mediana Empresa Empresa Empresa

66% 68%
26%
8,9 17 7 8,8 6 8,4

3 DESMISTIFICAÇÃO DE PADRÕES

A maior parte das pessoas imagina que a técnica de índices-padrão visa


encontrar o padrão ideal de um índice. Essa noção de padrão talvez seja válida
em outras áreas.
Em custos, por exemplo, encara-se o custo-padrão como um valor ideal,
sob certas condições.
O operário-padrão escolhido anualmente é exemplo de bom desempenho
e comportamento a ser seguido por outros.
Na Análise de Balanços não é assim: não existe padrão ideal.
É por isso que, em vez de um padrão, para cada tipo de índice - Liquidez,
Rentabilidade do Patrimônio Líquido etc. - apresentam-se nove decis.
Cada decil é o padrão de comportamento de uma faixa de empresas do
ramo, entendido padrão como base para avaliações e não como exemplo ou
ideal.
Através da comparação com os padrões, pode-se verificar em que faixa de
mercado a empresa se situa.
O uso de índices-padrão para avaliação da Cia. BIG encontra-se no próximo
capítulo.
Modelo de Avaliação
8 de Empresas

É comum dois analistas de balanços chegarem a conclusões diferentes a


respeito de balanços de uma mesma empresa (esse fato não raro se verifica em
inúmeros outros campos da atividade humana).

Visando solucionar esse problema, este autor criou um método que permite,
objetivamente, chegar a uma única conclusão sobre os balanços de uma
empresa, independentemente do analista. Esse método traz ainda algumas
outras vantagens.

Em primeiro lugar, aponta os principais aspectos econômicos e financeiros


contidos num balanço, bem como sua importância no conteúdo global.

Em segundo lugar, é prático: em poucos minutos pode-se avaliar uma


empresa e elaborar um relatório; isso possibilita, portanto, eficácia e custo
reduzido.

Em terceiro lugar, é passível de ser colocado em computador, sem maiores


dificuldades.

Advirta-se, porém, que, em se tratando de método, as conclusões são mais


ou menos padronizadas e genéricas. Para certos usos, como o gerencial e de
créditos a longo prazo, as conclusões fornecidas não são suficientes, embora
úteis e necessárias. Para análises mais profundas ou específicas devem ser
estudados os Capítulos 9 e 10 bem como as Partes III e IV deste livro.

O modelo aqui apresentado é muito útil para usuários de Análise de


Balanços por atacado, como bancos e fornecedores que podem classificar 1.000,
10.000 ou 50.000 empresas clientes com objetividade, precisão e simplicidade.
212 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

1 PASSOS DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO

Através de sucessivas etapas é possível


chegar a uma avaliação objetiva da em-
presa.

A Análise de Balanços é um processo que parte de um todo - demonstra-


ções financeiras -, disseca-o, avalia as partes e conclui avaliando o todo.
No Capítulo 6 foram dissecados o balanço e a demonstração de resultados.
Vamos, agora, juntar as informações de cada índice para chegar a uma avaliação
global, isto é, fechar o todo.

1º PASSO

LISTAGEM DOS ÍNDICES

Tomem-se os índices da Cia. BIG que foram calculados no Capítulo 6, para


as demonstrações financeiras de 19x1:

CT/PL - Participação de Capitais de Terceiros 154%


PC/CT - Composição do Endividamento 81%
AP/PL - Imobilização do Patrimônio Líquido 71%
AP/PL+ELP - Imobilização dos Recursos não Correntes 55%
LG - Liquidez Geral 1,18
LC - Liquidez Corrente 1,46
LS - Liquidez Seca 0,90
V/AT - Giro do Ativo 1,75
LL/V - Margem Líquida 4,66%
LL/AT - Rentabilidade do Ativo 8,20%
LL/PL - Rentabilidade do Patrimônio Líquido 23,64%
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 213

2º PASSO

TABELAS DE ÍNDICES-PADRÃO

Para avaliação de cada índice é necessário usar a tabela de índices-padrão


elaborada com base em balanços de empresas, sediadas no Estado de São
Paulo, do mesmo ramo da Cia. BIG, conforme mostra a Tabela 8.1.

TABELA 8.1. Índices-padrão de 339 empresas do ramo de produtos elétricos e


eletrônicos, para 19x1.

1º 2º 3º MEDI- 7º 8º 9º
DECIL DECIL DECIL DECIL ANA DECIL DECIL DECIL DECIL
ESTRUTURA
01 - CT/PL 47% 66% 85% 114% 146%* 171% 218% 262% 430%
02-PC/CT 52% 64% 73% 80%* 86% 93% 100% 100% 100%

03-AP/PL 22% 33% 42% 51% 57% 67%* 81% 98% 130%
04-AP/PL + ELP 20% 27% 34% 41% 47% 53%* 61% 68% 83%
LIQUIDEZ
05-LG 0,84 0,97 1,06 1,13 1,23* 1,37 1,55 1,74 2,22
06-LC 1,04 1,19 1,30 1,43* 1,54 1,70 1,93 2,22 2,76

07-LS 0,50 0,66 0,76 0,87* 0,98 1,08 1,22 1,38 1,37
RENTABILIDADE
08-V/AT 0,71 0,92 1,14 1,21 1,30 1,42 1,59 1,71* 2,12
09-LL/V 2,8-% 0,2% 1,3% 2,3% 3,4% 4,5%* 6,7% 8,4% 12,2%

10-LL/AT 5,0-% 0,3% 1,5% 3,2% 5,01 % 6,87% 8,31%* 11,06% 15,97%
11 - LL/PL 8,5% 2,0% 5,13% 9,2% 13,41% 16,63% 23,35%* 32,07% 48,80%

3a PASSO

POSIÇÃO RELATIVA DE CADA ÍNDICE

Na Tabela 8.1 encontram-se os índices-padrão do ramo da Cia. BIG, para


19x1. Os asteriscos indicam a posição dos índices da Cia. BIG em relação aos
padrões.

A seguir, apresenta-se a posição relativa dos índices da Cia. BIG, para 19x1:
214 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

POSIÇÃO EM RELAÇÃO AOS DECIL MAIS


ÍNDICE VALOR
PADRÕES (POSIÇÃO RELATIVA) PRÓXIMO
CT/PL 154% Pouco acima da mediana 5º
PC/CT 81% Pouco acima do 4º decil 4º
AP/PL 71% Acima do 6º decil 6º
AP/PL + ELP 55% Pouco acima do 6º decil 6º
LG 1,18 Pouco abaixo da mediana 5º
LC 1,46 Pouco acima do 4- decil 4º
LS 0,90 Pouco acima do 4a decil 4º
V/AT 1,76 Acima do 8a decil 8º
LL/V 4,66% Acima do 6a decil 6º
LL/AT 8,20% Pouco abaixo do 7- decil 7º
LL/PL 23,64% Pouco acima do 1- decil 7º

4º PASSO

AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES

No Quadro 8.1 apresentam-se, simultaneamente:

a) os conceitos e notas atribuíveis aos índices de uma empresa em função de sua


posição relativa (aos padrões);
b) a posição dos índices da Cia. BIG para 19x1, indicada através de um asterisco.

Em resumo, as notas e os conceitos dos índices da Cia. BIG são:

CIA. BIG-19x1
ÍNDICE NOTA CONCEITO
CT/PL 5 SATISFATÓRIO
PC/CT 6 SATISFATÓRIO
AP/PL 4 RAZOÁVEL
AP/PL + ELP 4 RAZOÁVEL
LG 5 SATISFATÓRIO
LC 4 SATISFATÓRIO
LS 4 SATISFATÓRIO
V/AT 8 ÓTIMO
LL/V 6 BOM
LL/AT 7 BOM
LL/PL 7 ÓTIMO
QUADRO 8.1. Conceitos atribuídos aos índices segundo sua posição relativa.

Piso 1º Decil 2º Decil 3° Decil 4º Deal Mediana 6º Decil 7º Decil 8º Decil 9º Decil Teto

Conceito Ótimo Bom Satisfatório Razoável Fraco Deficiente Péssimo

Nota 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

Índices da Cia. BIG


CT/PL
PC/CT
AP/PL
AP/PL+ELP

Piso 1º Dedl 2º Decil 3º Decil 4º Decil Mediana 6º Decil 7º Decil 8º Decil 9º Decil Teto

Conceito Péssimo Deficiente Fraco Razoável Satisfatório Bom Ótimo


MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

Nota 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Índices da Cia. BIG


LG
LC
LS

V/AT
LL/V
LL/AT
LL/PL
215
216 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

5º PASSO

AVALIAÇÕES GERAIS

Já é conhecida a avaliação de cada índice: o que está bem e o que está


mal na empresa. Agora deseja-se saber como está a empresa globalmente e
qual a avaliação das principais categorias de índices, como Estrutura, Liquidez
e Rentabilidade.
Para tanto serão usadas as fórmulas abaixo, cuja origem apresentamos no
Apêndice 1 deste capítulo.
Se não houver interesse em saber a nota dos grupos Estrutura, Liquidez e
Rentabilidade, a fórmula será:

AP
NGE = 0,24 + 0,04 + 0,08 + 0,04 + 0,06 LG +
PL + ELP

+ 0,1 LC + 0,04 LS +0,08 + 0,04 + 0,04 + 0,24

Caso se deseje conhecer a avaliação dos grupos, usar-se-ão as fórmulas


seguintes:

NE = 0,6
NL =
NR =
NGE = 0,4 NE+ 0,2 NL + 0,4 NR

onde: NE = nota da estrutura


NL = nota da liquidez
NR = nota da rentabilidade
NGE = nota global da empresa

Observação: Nas fórmulas acima devem ser usadas as notas de cada índice, ou grupo,
e não o valor do índice diretamente.1

1. Pesquisadores teóricos apresentam ao público fórmulas de "previsão de falências", conforme


discute-se no Apêndice 2, multiplicando parâmetros (pesos) diretamente pelo valor numérico
dos índices, em vez de multiplicar por notas como se faz aqui. Isto pode levar a conclusões
absurdas, que não raro acontecem, uma vez que os índices decorrem da divisão entre dois
valores absolutos, cujo resultado pode variar de menos infinito a mais infinito, enquanto as
notas têm um campo restrito de 0 a 10.
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 217

Serão vistas, agora, as notas dos grupos (Estrutura, Liquidez e Rentabilida-


de) e a nota global da Cia. BIG em 19x1:

NE = 0,6X5 + 0,1X6 + 0,2X4 + 0,1X4=4,8


NL = 0,3X5 + 0,5X4 + 0,2X4=4,3
NE = 0,2X8 + 0,1X6 + 0,1X7 + 0,6X7=7,1
NGE = 0,4X4,8 + 0,2X4,3 + 0,4X7,1=5,62

NGE = 5,38

Com o uso do gráfico seguinte, as notas encontradas podem ser convertidas


em conceitos.

Nota 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Conceito Péssimo Deficiente Fraco Razoável Satisfatório Bom Ótimo

FIGURA 8.1

Usando esse gráfico, podem-se atribuir os seguintes conceitos às catego-


rias de índices da Cia. BIG em 19x1:

Estrutura: Satisfatória
Liquidez: Satisfatória
Rentabilidade: Bom
Global: Satisfatório

2 USO DE PLANILHAS DE AVALIAÇÃO

Para facilitar o trabalho, podem-se utilizar planilhas em que se coloca todos


os elementos necessários para a avaliação, conforme se mostra adiante.
A planilha I reúne, para cada exercício, os dados relativos ao valor, nota e
peso de cada índice, chegando à avaliação das categorias: Estrutura, Liquidez
e Rentabilidade.
218

Planilha I
Modelo de Avaliação de Índices Financeiros
EXERCÍCIO

ÍNDICE PESO VALOR NOTA PESO X NOTA VALOR NOTA PESO X NOTA VALOR NOTA PESO X NOTA
CT/PL
PC/CT
AP/PL
AP/PL + EPL

Nota da
estrutura de
capitais

LG
LC
LS

Nota da
liquidez
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

V/AT
LL/V
LL/AT
LL/PLM

Nota da
rentabilidade
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 219

A planilha II reúne as notas dos grupos e fornece uma avaliação global da


empresa.
Planilha II
Avaliação das Categorías de Índices Financeiros

CATEGORIA DE PESO X PESO X PESO X


PESO NOTA NOTA NOTA
ÍNDICES NOTA NOTA NOTA

ESTRUTURA DE
CAPITAIS

LIQUIDEZ

RENTABILIDADE

NOTA GLOBAL

Para preencher as planilhas basta usar os índices, pesos e notas, conforme


já se apresentou neste capítulo; antes, porém, é necessário relacionar os dados
que dela devem constar.
Adicionem-se agora os índices e respectivas notas para 19x3.

a) PESOS
Dos índices

CT/PL - 0,6 V/AT -0,2

PC/CT - 0,1 LG - 0 , 3 LL/V - 0,1

AP/PL - 0,2 LC -0,5 LL/AT — 0,1

AP/PL+ELP - 0,1 LS -0,2 LL/PL - 0,6

Das Categorias

Estrutura — 0,4 Liquidez — 0,2 Rentabilidade — 0,4

b) INDICES
Apresentam-se a seguir os índices calculados com base nas demonstrações
financeiras de 19x1,19x2 e 19x3 da Cia. BIG.
220 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

19x1 19x2 19x3


CT/PL 154% 183% 239%
PC/CT 81% 54% 49%
AP/PL 71% 121% 163%
AP/PL + ELP 55% 66% 74%
LG 1,18 0,88 0,74
LC 1,46 1.61 1,50
LS 0,90 0,87 0,83
V/AT 1,76 1.11 1,03
LL/V 4,66% 3,77% 2,83%
LL/AT 8,20% 4,19% 2,93%
LL/PLM 23,64% 13,48% 10,79%

c) NOTAS
Comparando os índices da Cia. BIG com os padrões das Tabelas 8.2,8.3
e 8.4, no final do capítulo, os padrões para 19x1, 19x2 e 19x3, obtêm-se as
seguintes notas:

NOTAS
ÍNDICES
19x1 19x2 19x3
CT/PL 5 4 2
PC/CT 6 10 10
AP/PL 4 1 0
AP/PL + ELP 4 3 3
LG 5 1 0
LC 4 7 6
LS 4 5 5
V/AT 8 4 3
LL/V 6 5 5
LL/AT 7 5 4
LL/PL 7 5 4

A seguir encontram-se as planilhas I e II preenchidas.


Planilha I
Modelo de Avaliação dos índices Financeiros
EXERCÍCIO
19x1 19x2 19x3
ITEM
ÍNDICE PESO VALOR NOTA PESO X NOTA VALOR NOTA PESO X NOTA VALOR NOTA PESO X NOTA
CT/PL 0,6 154% 5 3,0 183% 4 2,4 239% 2 1,2
0,1 81% 6 0,6 54% 10 1,0 49% 10 1,0
0,2 71% 4 0,8 121% 1 0,2 163% 0 0,0
PC/CT 0,1 55% 4 0,4 66% 3 0,3 74% 3 0,3

Nota da
AP/PL
estrutura de 4,8 3,9 2,5
capitais

AP/PL + EPL
LG 0,3 1,18 5 1,5 0,88 1 0,3 0,74 0 0,0
0,5 1,46 4 2,0 1,61 7 3,5 1,50 6 3,0
LC 0,2 0,90 4 0,8 0,87 5 1,0 0,83 5 1,0

LS Nota da 4,3 4,8 4,0


liquidez
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

V/AT 0,2 1,75 8 1,6 1.11 4 0,8 1,03 3 0,6


IL/V 0,1 4,66% 6 0,6 3,77% 5 0,5 2,83% 5 0,5
LL/AT 0,1 8,2% 7 0,7 4,19% 5 0,5 2,93% 4 0,4
LL/PL 0,6 23,64% 7 4,2 13,48% 5 3,0 10,79% 4 2,4

Nota da
7,1 4,8 3,9
rentabilidade
221
222 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Planilha II
Avaliação das Categorias de Índices Financeiros

EXERCÍCIO
19x1 19x2 19x3
ITEM

CATEGORIAS
Peso Nota Peso x Nota Nota Peso x Nota Nota Peso x Nota
DE ÍNDICES

ESTRUTURA DE
CAPITAIS 0,4 4,8 1,92 3,9 1,56 2,5 1,0

LIQUIDEZ 0,2 4,3 0,86 4,8 0,96 4,0 0,8

RENTABILIDADE 0,4 7,1 2,84 4,8 1,92 3,9 1,56

NOTA GLOBAL 5,62 4,44 3,36

3 CONCLUSÕES SOBRE A EMPRESA

A partir das Planilhas I e II pode-se apresentar uma série de avaliações


sobre uma empresa. Tais avaliações tanto podem ser feitas sob a forma de
relatórios quanto de gráficos e quadros. O importante é que as conclusões
contenham informações, tais como foram definidas no Capítulo 1, ou seja, a
informação deve produzir reação em quem vai tomar decisões com base na
Análise de Balanços. Evitem-se incluir no relatório números e descrições que
exijam interpretações. Em vez disso, apresentem-se as interpretações.

Esse fato é ilustrado a seguir, primeiro sob a forma de gráficos e quadros,


em seguida de comentários.

3.1 SUMÁRIO DAS AVALIAÇÕES

As avaliações e cada grupo podem ser sumariadas no Quadro 8.2, obtido


com base nas notas da Planilha II e no gráfico da Figura 8.1.
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 223

QUADRO 8.2. Sumário da avaliação baseada nos índices-padrão.

Estrutura de
Categoria Liquidez Rentabilidade Global
Capital
19... X1 X2 X3 X1 X2 X3 X1 X2 X3 X1 X2 X3

Ótimo
Bom
Satisfatório
Razoável
Fraco
Deficiente
Péssimo

3.2 PERFIL DA EMPRESA

No Quadro 8.3 apresenta-se o perfil da Cia. BIG.

QUADRO 8.3. Representação gráfica do perfil econômico e financeiro.

Exercício 19x1 19x2 19x3


Satisfatório
Satisfatório

Satisfatório

Deficiente
Deficiente
Deficiente

Razoável

Razoável

Razoável
Péssimo

Péssimo
Péssimo

Ótimo

Ótimo
Ótimo

Fraco

Fraco
Fraco

Bom
Bom
Bom

Item

Estrutura

Jquidez

Rentabil.

Global
224 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

As Planilhas I e II representam uma fonte muito grande de informações


sobre a empresa. Examinando-as pormenorizadamente, podem-se obter as
informações que constam do Quadro 8.4.

3.3 PONTOS FORTES E FRACOS


Encontram-se no Quadro 8.4 os principais destaques positivos e negativos
da Cia. BIG.

QUADRO 8.4. Pontos fortes e fracos.

19x1 19x2 19x3

Pontos Fortes: • Giro do Ativo • Composição do • Composição do


Endividamento Endividamento
Pontos Fracos Não há • Imobilização do • Imobilização do
Patrimônio Patrimônio
Líquido e Líquido e
• Liquidez Geral • Liquidez Geral

3.4 EVOLUÇÃO

Principal melhora no período de 19x1 a 19x3: Composição do Endividamen-


to.
Principal piora no período de 19x1 a 19x3: Imobilização do Patrimônio
Líquido e Liquidez Geral.

3.5 TENDENCIA GERAL

Declinante
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 225

3.6 COMENTÁRIOS

Comentários Gerais Baseados nas Planilhas I e II

A Cia. BIG apresenta elevados níveis de endividamento e imobilização, em 19x3, que pioraram
significativamente em relação à posição dos exercícios anteriores. A sua Liquidez é razoável em
19x3, mas também declinou relativamente aos anos anteriores. Destaca-se negativamente o índice
de Líquidez. Geral em 19x3. Os resultados da empresa foram razoáveis em 19x3; entretanto, haviam
atingido o nível bom em 19x1. De maneira geral, a empresa caiu do nível satisfatório para o nível
razoável de 19x1 para 19x3.

OUTRAS PLANILHAS DE AVALIAÇÃO

Já foi dito no Capítulo 6 que numa análise de empresa comercial ou


industrial, em geral, os 11 índices aqui utilizados são suficientes. Quando se
deseja análises profundas, recorre-se a outras técnicas. Entretanto, por razões
particulares do usuário, pode-se desejar um número maior de índices. Nada
impede que numa planilha, como a que foi apresentada, sejam inseridos mais
alguns índices e, o que é mais comum, suprimidos outros.
No caso de usuários, com número muito grande de clientes, que desejam
analisar seus balanços a um custo relativamente baixo, pode-se adotar um
modelo com apenas quatro índices, com resultados razoáveis.
Apresentamos na página anterior, a título de sugestão, uma planilha para
quatro índices, acompanhada de um quadro de avaliações.
226

Modelo de Planilha simplificada.

Exercício
19x1 19x2 19x3
Item
Índice Peso Valor Nota Peso x Nota Valor Nota Peso x Nota Valor Nota Peso x Nota
CT/PL 0,3 154% 5 1,5 183% 4 1,2 242% 2 0,6
AP/PL 0,1 81% 4 0,4 121% 1 0,1 157% 0 0,0
LC 0,2 1,46 4 0,8 1,61 7 1,4 1,56 6 1,2
LL/PL 0,4 23,64% 7 2,8 13,48% 5 2,0 10,74% 4 1,6
Nota Global Nota 5,5 4,7 3,4
da Empresa Conceito Satisfatório Razoável

QUADRO 8.5. Resumo das Avaliações.

19x1 19X2 19X3

Bom
Bom

Bom

Fraco
Ótimo
Fraco

Fraco
Ótimo

Ótimo

Péssimo
Péssimo

Razoável
Péssimo
Razoável

Deficiente
Razoável
Deficiente

Deficiente

Satisfatório
Satisfatório

Satisfatório
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Participação de Capital de Terceiros

Imobilização do PL

Liquidez Corrente

Rentabilidade do PL

Global
TABELA 8.2. Índices-padrão de 339 empresas do ramo de produtos elétricos e eletrônicos. Ano de 19x1.

2º 3º 6º 9º
1º 4º MEDI- 7º 8º
DECIL DECIL DECIL DECIL ANA DECIL DECIL DECIL DECIL
ESTRUTURA
01 - CT/PL 47% 66% 85% 114% 146% 171% 218% 262% 430%
02-PC/CT 52% 64% 73% 80% 86% 93% 100% 100% 100%

03-AP/PL 22% 33% 42% 51% 67% 67% 81% 98% 130%
04-AP/PL+ELP 20% 27% 34% 41% 47% 53% 61% 68% 83%
LIQUIDEZ
05 - L G 0,84 0,97 1,06 1,13 1,23 1,37 1,55 1,74 2,22
06-LC 1,04 1,19 1,30 1,43 1,54 1,70 1,93 2,22 2,76

07 - L S 0,50 0,66 0,76 0,87 0,98 1,08 1,22 1,38 1,37


RENTABILIDADE
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

08-V/AT 0,71 0,92 1,14 1,21 1,30 1,42 1,59 1,71 2,12
09-LL/V -2,8% 0,02% 1,3% 2,3% 3,4% 4,5% 6,7% 8,4% 12,2%

10-LL/AT -5,0% 0,3% 1,5% 3,2% 5,01 % 6,87% 8,31 % 11,06% 15,97%
11-LL/PL -8,5% 2,0% 5,13% 9,2% 13,41% 16,63% 23,35% 32,07% 48,80%
227
228

TABELA 8.3. Índices-padrão de 556 empresas do ramo de produtos elétricos e eletrônicos. Ano de 19x2.


1º 3º 4º MEDI- 6º 7º 8º 9º
DECIL DECIL DECIL DECIL ANA DECIL DECIL DECIL DECIL
ESTRUTURA
01 - CT/PL 43% 66% 85% 109% 136% 166% 218% 276% 420%
02-PC/CT 71% 82% 92% 96% 100% 100% 100% 100% 100%

03-AP/PL 25% 34% 43% 55% 62% 73% 86% 101% 135%
04-AP/PL+ELP 21% 28% 37% 43% 54% 61% 70% 83% 114%
LIQUIDEZ
05-LG 0,84 0,98 1,06 1,14 1,24 1,34 1,47 1,76 2,24
06-LC 0,95 1,06 1,16 1,25 1,34 1,45 1,62 1,87 2,35

07-LS 0,47 0,60 0,70 0,79 0,88 0,96 1,05 1,22 1,60
RENTABILIDADE
08-V/AT 0,64 0,86 0,92 1,06 1,26 1,35 1,48 1,69 2,10
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

09-LL/V -5,3% 0,0% 1,1% 2,1% 3,2% 4,5 6,6% 9,5% 14,5%

10-LL/AT -5,6% 0,0% 1,3% 2,7% 4,2% 6,1% 8,5% 11,4% 17,7%
11-LL/PL -17,0% 1,0% 5,0% 9,0% 13,0% 17,8% 24,6% 35,0% 56,2%
TABELA 8.4. Índices-padrão de 305 empresas do ramo de produtos elétricos e eletrônicos. Ano de 19x3.

1º 2º 3º 4º MEDI- 6º 7º 8º 9º
DECIL DECIL DECIL DECIL ANA DECIL DECIL DECIL DECIL
ESTRUTURA
01 - CT/PL 45% 64% 87% 115% 139% 171% 211% 265% 393%
02-PC/CT 65% 77% 85% 92% 96% 99% 100% 100% 100%

03-AP/PL 26% 35% 44% 55% 63% 72% 84% 105% 132%
04-AP/PL + ELP 21% 31% 39% 47% 55% 62% 69% 79% 99%
LIQUIDEZ
05-LG 0,36 0,96 1,07 1,17 1,24 1,32 1,49 1,69 2,14
06-LC 0,97 1,14 1,23 1,30 1,37 1,53 1,71 1,89 2,39

07 - L S 0,49 0,64 0,72 0,78 0,88 0,98 1,10 1,29 1,63


RENTABILIDADE
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

08-V/AT 0,75 0,95 1,00 1,10 1,23 1,34 1,51 1,68 2,00
09-LL/V -3,2% 0,0% 1,3% 2,2% 3,3% 4,8% 6,8% 10,4% 16,2%

10-LL/AT -4,6% 0,0% 1,8% 3,0% 4,5% 6,0% 8,9% 12,4% 18,2%
11-LL/PL -15,4% 1,0% 5,0% 10,0% 16,0% 21,0% 28,0% 35,0% 51,0%
229
230 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Apêndice 1 Como Atribuir Peso aos Indices

Após o cálculo de um conjunto de índices e a avaliação de cada um deles


comparativamente a um padrão, faz-se a avaliação global da empresa.
A esta altura, tendo cada índice evidenciado determinado ângulo, positivo
ou negativo, da empresa, é preciso avaliar a importância relativa de cada um
deles para se chegar a conclusões finais.
Toda avaliação em que se dispõe de uma série de elementos e se quer
chegar a um resultado final exige que se atribuam, ainda que inconscientemente,
pesos a esses elementos.
Na Análise de Balanços, também, atribui-se peso aos índices que indique
sua importância relativa.
A importância de cada índice depende, evidentemente, de quem é o
usuário.
Para um banco comercial, o mais importante pode ser a situação financeira,
e entre os índices da situação financeira destaca-se o de endividamento. Já para
o investidor em ações, sobressai-se o de Dividendos/Ações (veja-se este índice
no Capítulo 10).
Para um banco de investimentos provavelmente o índice mais importante
seja o de Rentabilidade do Ativo, enquanto para o atual acionista é o índice de
Rentabilidade do Patrimônio Líquido.
A atribuição de pesos é, entretanto, tarefa extremamente difícil, que não
deve ser feita em bases opinativas, mas em pesquisa científica.
Este autor pesquisou ao longo de anos cerca de 100.000 análises de
balanços para chegar às fórmulas mostradas neste capítulo, as quais, entretanto,
são meramente ilustrativas.
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 231

O uso profissional de fórmulas de avaliação é extremamente dinâmico e


deve se basear em permanente atualização das pesquisas.
A título de exemplificação apresenta-se a seguir um método simplificado de
pesquisa.

1 O PORQUÊ D O S P E S O S

Espera-se de qualquer análise baseada


num conjunto de índices que estes sejam
capazes de distinguir as empresas saudá-
veis daquelas com as quais os negócios
devem ser evitados.

Como estar de posse de um índice não é estar de posse de uma bola de


cristal, naturalmente é possível certa margem de erros e acertos. Quanto maior
o poder de acerto de um índice, maior a sua importância dentro do conjunto.
Os pesos representam a importância de cada índice. Quanto maior o peso,
maior a importância.
Os índices, porém, não são indicadores matemáticos absolutos. Por exem-
plo, nem sempre um índice de Liquidez Corrente mais alto indica situação
financeira melhor. Existe uma série de outros elementos que determinam a
situação financeira. Em conseqüência, uma empresa com melhor índice de
Liquidez Corrente pode eventualmente estar em pior situação que outra do
mesmo ramo.
Por isso, deve-se associar à noção de grau de confiabilidade a informação
prestada por um índice.
Vamos explicar como se pode determinar o grau de confiabilidade.
Suponha-se a comparação entre os índices de Liquidez Geral e o de
Liquidez Corrente, e considere-se que 50 empresas foram à insolvência. Na
análise do último balanço antes da insolvência foram obtidas as seguintes
avaliações dos índices constantes da Tabela A.l.
232 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

TABELA A.1. Avaliações de índices de empresa insolventes.

Péssimo/
Índices Total Franco Razoável Satisfatório Bom/Ótimo
Deficiente
Liquidez Empresas 50 35 6 5 3 1 _
Geral
Percen-
tagem 100% 70% 12% 10% 6% 2%
Liquidez Empresas 50 45 3 2 _ _ _
Corrente
Porcen-
tagem 100% 90% 6% 4%

A Tabela A.1. mostra que nas análises das empresas insolventes houve
90% de acerto no índice de Liquidez Corrente - pois 90% das empresas
insolventes analisadas receberam o conceito Péssimo/Deficiente -, enquanto o
acerto no índice de Liquidez Geral foi de 70%.
Neste exemplo, o índice de Liquidez Corrente é mais confiável que o índice
de Liquidez Geral; portanto, deve receber peso maior.

1.1 PROCESSOS DE ATRIBUIÇÃO DE PESOS

Alexandre Wall, considerado o pai da Análise de Balanços, fez, em 1914, a


primeira tentativa de atribuição de pesos, e chegou a uma fórmula em que reúne
alguns índices e parâmetros.
A fórmula de Wall foi obtida de forma meramente opinativa e sua validade
é altamente duvidosa. O que vale, porém, é a idéia de atribuir pesos aos índices
segundo a sua importância. Todos os analistas de balanços, de alguma forma,
sempre atribuem pesos em suas análises, ainda que subjetivamente ou até
mesmo inconscientemente.2

2. Em Matemática pode-se dizer que o resultado final é a variável dependente, os elementos de


que se dispõe são as variáveis independentes, e os pesos são chamados parâmetros. A
Matemática tem a vantagem de estudar as variáveis qualquer que seja a quantidade,
parâmetros ou função (linear, parabólica, hiperbólica etc.), enquanto o raciocínio humano
tende a considerar um número pequeno de variáveis, de parâmetros (pesos) não substan-
cialmente diferentes e de função linear.

Variáveis independentes

Variáveis independentes W = ax + by + cz

Parâmetros
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 233

Os processos de atribuição de pesos podem ser empíricos ou científicos.


Os empíricos são intuitivos e surgem de experiências, observações pes-
soais e feeling dos analistas.
Muitas vezes um grupo de analistas decide, em consenso, atribuir determi-
nados pesos aos índices, e chega-se assim a uma espécie de "média de
opiniões". Tal procedimento tem validade e conduz a certo grau de qualidade, às
vezes plenamente aceitável dentro da Análise de Balanços.
É através de processos científicos, porém, que se alcança maior grau de
acerto e seriedade.
Os processos científicos baseiam-se em experimentos sistemáticos, lógicos
e objetivos, com fundamentos estatístico-matemáticos.

1.2 ATRIBUIÇÃO DE PESOS CIENTIFICAMENTE

A Análise de Balanços feita por usuário externo visa apontar se a empresa


analisada tem condições de efetuar determinada transação com sucesso, ou
seja, o pagamento de um empréstimo, o fornecimento de matéria-prima, a
prestação de serviços, a rentabilidade de ações adquiridas etc.
Inicialmente, observa-se determinado número de casos de insucesso, isto
é, de transações em que a empresa analisada falhou.
Estudando esses casos de insucesso, pode-se descobrir qual dos índices
de balanço foi mais eficiente na indicação do insucesso.
A definição de insucesso depende do usuário. Uma empresa cujas ações
despencaram na Bolsa será um insucesso para o investidor. Essa mesma
empresa pode ser um sucesso para os bancos e fornecedores se eles tiverem
recebido seus créditos em dia.
Entretanto, alguns tipos de insucesso o são em sentido amplo e absoluto.
É o caso da empresa que vai à falência.
Os passos para a atribuição de pesos aos índices são:

1º PASSO

Classificar determinada quantidade de empresas em uma de duas catego-


rias: Sucesso ou Insucesso.

Sucesso: representa a categoria em que se enquadram empresas com as quais as


operações foram bem-sucedidas.
234 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Insucesso: é a categoria de empresas com as quais o relacionamento foi insatisfatório.


No caso de bancos comerciais, podem-se tomar os clientes que faliram e/ou aqueles
que deixaram de efetuar seus pagamentos e/ou os que atrasaram nos pagamentos.
(É uma questão de se definir o que se quer considerar como insucesso.) No caso
de investimentos em ações, tomam-se as empresas cujas ações não valorizaram a
contento.

O número de empresas enquadradas na categoria "Sucesso" deve ser igual


ao da categoria "Insucesso". É desejável que a quantidade de cada categoria
não fique abaixo de 50, porém é suportável até um limite mínimo de 20. Abaixo
disso, embora existam técnicas estatísticas de tratamento às pequenas amos-
tras, os resultados costumam ficar prejudicados.
As empresas do grupo "Sucesso" devem ser escolhidas aleatoriamente.
Quanto ao grupo "Insucesso", normalmente são tomadas todas as empresas que
aí se enquadraram, a não ser que esse número seja muito grande, quando então
se recorre à amostragem estatística.
Observe-se que os balanços das empresas do grupo "insucesso" repre-
sentam o último balanço antes de a empresa sofrer o insucesso. Não deve haver
informações ou sinais outros de que a empresa terá insucesso no próximo ano,
a não ser os possíveis reflexos antecipados nas demonstrações financeiras. Só
assim se pode estudar a capacidade de as demonstrações financeiras preverem
o insucesso. Esse estudo pode partir também de empresas com balanços de
dois, três ou mais anos anteriores ao insucesso. O importante é que todos os
balanços distem igual número de anos da data do insucesso. Por exemplo, em
determinado estudo sobre a capacidade de se prever o insucesso com dois anos
de antecedência, todos os balanços seriam de dois anos antes do insucesso.

São, porém, os balanços imediatamente anteriores ao insucesso os que


mais revelam as possibilidades de insucesso.

2º PASSO

Uma vez separadas as empresas segundo as categorias "Sucesso" e


"Insucesso", de cada empresa se extrai determinado número de índices de
balanço. Esses índices, separados por categoria "Sucesso" e "Insucesso" e por
tipo (Participação de Capitais de Terceiros, Liquidez Corrente etc.), devem ser
tratados estatisticamente.
O mais simples tratamento estatístico é o da construção de índices-padrão;
elaboram-se padrões de sucesso e insucesso, com base nas respectivas amos-
tragens.
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 235

Apresentam-se na Tabela A.2 índices-padrão de empresas que foram à


insolvência e na Tabela A.3 de empresas solventes, tabuladas por este autor.

TABELA A.2. Padrões de empresas insolventes.

MEDIANA
VARIÁVEL 2º DECIL 8º DECIL
(5º DECIL)
CT/PL 155% 316% 569%
AP/PL 32% 75% 127%
LG 0,87 1,03 1,17
LC 1,02 1,16 1,61
LS 0,28 0,69 0,93
LL/PL -10,0% 7,0% 25,0%

TABELA A.3. Padrões de empresas solventes.

MEDIANA
VARIÁVEL 2º DECIL 8º DECIL
(5º DECIL)
CT/PL 63% 136% 269%
AP/PL 44% 77% 120%
LG 0,87 1,14 1,59
LC 1,01 1,29 1,83
LS 0,53 0,82 1,21
LL/PL 2,0% 14,0% 35,0%

Quanto maior a diferença entre os índices das empresas do grupo "Insuces-


so" e os das empresas do grupo "Sucesso", maior será a capacidade de previsão
do insucesso através dos índices.
Expliquemos melhor. Suponha-se que se queira saber qual a capacidade
de previsão de insucesso do índice Participação de Capitais de Terceiros.
Toma-se um conjunto de empresas que sofreram insucesso, ou seja, foram à
concordata ou falência; extrai-se esse índice de cada balanço imediatamente
anterior ao insucesso (quando ainda ninguém de fora das empresas suspeitava
do futuro insucesso). Simultaneamente extrai-se o índice de Participação de
Capitais de Terceiros dos balanços de uma amostra de empresas que continua-
vam operando.
236 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Se os índices de Participação de Capitais de Terceiros das empresas


insolventes forem muito próximos aos das empresas solventes, é quase impos-
sível distinguir as empresas em estado pré-falimentar daquelas em situação
financeira salutar. Então, o poder de prever falência do índice de Participação de
Capitais de Terceiros é baixo.
Se, porém, as diferenças entre os índices de Participação de Capitais de
Terceiros dessas duas categorias de empresas forem significativas, é possível
separar as empresas insolventes das solventes. Quanto maior essas diferenças
maior o poder de previsão de falência.
O estudo dessas diferenças encontra embasamento estatístico que permite
aferição do grau de previsão de insolvência de cada índice. Quanto maior o poder
de previsão de um índice, maior será a sua importância e, portanto, maior o seu
peso na ponderação final dos índices.

2 ABORDAGEM ESTATÍSTICA DAS DIFERENÇAS ENTRE


ÍNDICES DE EMPRESAS "SUCESSO" E EMPRESAS
"INSUCESSO"

Grande parte da chamada inferência Estatística (parte da Estatística que,


fundada em probabilidades, apresenta conclusões) consiste em testar se deter-
minada amostra pertence a certa população (ou universo) ou se duas amostras
são da mesma população.

População para a estatística é um conjunto de objetos, elementos ou indivíduos com


determinada característica em comum.
Amostra é uma parte da população.

Através da Estatística pode-se testar se as empresas "insucesso" e "suces-


so" pertencem a uma única população - a população de empresas, em geral,
onde não há diferenças entre elas - ou, se ao contrário, existem duas populações
distintas, ou seja, a população das empresas "insucesso" e a população das
empresas "sucesso".
A Estatística não se deixa iludir por aparentes diferenças. Testa se essas
diferenças são suficientemente significativas em termos probabilísticos e se não
se devem meramente ao acaso.
É preciso lembrar que certas empresas insolventes apresentam índices
típicos de solventes, enquanto algumas empresas solventes revelam índices
característicos de insolventes. Isso representa dois tipos de erros a que se está
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 237

inevitavelmente sujeito. O importante, porém, é o grau de acerto que se pode


obter afinal.
O gráfico da Figura A.1 mostra a distribuição hipotética que se encontra
comumente nos índices de empresas insolventes e solventes.

Quantidade Área de
de indefinição
Empresas
SOLVENTES INSOLVENTES

Me, Ms, Valor do


Empresas insolventes Empresas solventes Índice
com índices típicos com Indices típicos
de solventes de insolventes

Mes - Mediana das Empresas Solventes


Me¡ • Mediana das Empresas Insolventes

FIGURA A.1. Distribuição dos Índices de Participação de Capitais de Terceiros de


empresas solventes e insolventes.

O gráfico da Figura A.1 evidencia a existência de um comportamento típico


dos índices de empresas solventes que pode ser identificado pela curva das
solventes e pela mediana Me(s) e um comportamento típico de empresas
insolventes, identificado pela curva das insolventes e pela mediana Me(i); evi-
dencia também as exceções representadas pelas empresas cujos índices se
situam na área de intersecção ou no campo contrário. Repare-se que a distância
entre as medianas não deixa dúvidas de que, em termos médios, as diferenças
entre empresas solventes e insolventes são significativas.

TESTES ESTATÍSTICOS
2.1 TESTE DE STUDENT

Através desse teste verifica-se qual a probabilidade de duas amostras


pertencerem a populações diferentes.
238 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Nesse teste parte-se da média ou mediana dos índices das empresas


"insucesso" e média ou mediana das pertencentes ao grupo de "sucesso" e
encontra-se qual a probabilidade de essas médias ou medianas pertencerem a
uma única população.
A conclusão estará sempre associada a um percentual de probabilidade.
Por exemplo, com 98% de certeza pode-se afirmar que a população dos índices
de Participação de Capitais de Terceiros das empresas insolventes difere da
população de índices de empresas solventes. Essa conclusão é obtida testan-
do-se as médias ou medianas das populações.
Aplica-se o teste para diversos tipos de índices. Aquele que fornece maior
percentual de certeza de que a população das solventes difere das insolventes
será o índice mais importante e, portanto, o de maior peso.
Estudos baseados no Teste de Student foram elaborados por Stephen C.
Kanitz e publicados no livro Como prever falências da Editora McGraw-Hill do
Brasil.

2.2 TESTE DO x2 OU CORRELAÇÃO DE ATRIBUTOS


QUALITATIVOS

Embora baseado no mesmo princípio de testar populações, esse teste usa


uma técnica estatística que conduz a resultados mais claros e simples para o
usuário. Em vez de hierarquizar os índices financeiros segundo o grau de
probabilidade de pertencerem a populações diferentes, o que é algo bastante
complexo para a maioria dos usuários, calcula um coeficiente, chamado corre-
lação de atributos - CA -, que aponta a capacidade de cada índice para distinguir
empresas que irão falir daquelas que continuarão operando normalmente.
Suponha-se o seguinte exemplo para ilustração desta técnica:

a) Tomem-se 50 empresas insolventes industriais.


b) Tomem-se 50 empresas solventes que formem pares com as insolventes. Isto
significa que, se existe uma empresa insolvente do ramo de joalherias, com dez anos
de existência, e capital de $ 50.000.000, deve-se procurar entre as solventes uma
empresa que mais se assemelhe a essas características. Faz-se o mesmo para as
outras 49 empresas.
c) Para cada empresa, tanto solvente quanto insolvente, calculam-se os índices finan-
ceiros (podem ser os onze que foram apresentados no Capítulo 6).
d) Os índices de Participação de Capitais de Terceiros das 50 empresas solventes e
das 50 insolventes são apresentados na Tabela A.4, enquanto os de Liquidez se
encontram na Tabela A.5. (Apresentam-se apenas esses dois, porque são suficien-
tes para a exemplificação.)
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 239

TABELA A.4. Indices de Participação de Capitais de Terceiros.

EMPRESAS SOLVENTES EMPRESAS INSOLVENTES


48% 80% 126% 198% 292% 169% 250% 326% 380% 420%
37% 72% 132% 201% 305% 171% 96% 331% 381% 427%
43% 94% 140% 215% 325% 173% 125% 345% 387% 450%
52% 83% 144% 229% 340% 180% 149% 347% 408% 480%
61% 88% 151% 246% 346% 193% 279% 351 % 415% 515%
57% 79% 160% 259% 369% 199% 288% 354% 443% 630%
60% 68% 172% 270% 380% 207% 290% 356% 461% 636%
55% 75% 181% 391% 210% 301 % 432% 712%
45% 120% 189% 403% 226% 312% 371 % 760%
22% 111 % 405% 231% 390% 860%
36% 116% 462% 239% 912%
54% 245% 1.118%
1.304%
1.601%

TABELA A.5. Índices de Liquidez Corrente.

EMPRESAS SOLVENTES EMPRESAS INSOLVENTES


1,86 1,49 1,25 1,05 0,93 1,21 1,84 1,12 0,87 0,57
1,89 1,53 1,27 1,06 0,89 1,23 1,89 1,15 0,86 0,54
1,93 1,55 1,28 1,08 0,84 1,27 1,03 1,16 0,84 0,49
1,94 1,56 1,30 1,09 0,79 1,29 1,04 1,16 0,83 0,48
1,97 1,58 1,31 1,12 0,73 1,33 1,06 1,05 0,80 0,32
2,85 1,61 1,34 1,14 0,65 1,36 1,08 1,07 0,79
2,02 1,64 1,36 1,17 1,40 1,09 1,00 0,75
2,10 1,70 1,37 1,18 1,51 1,10 0,97 0,69
3,02 1,79 1,39 1,00 1,57 1,10 0,90 0,67
1,43 1,20 1,40 0,99 1,66 1,11 0,90 0,64
1,46 1,21 1,02 0,98 1,72 1,12 0,89 0,59

e) Comparando-se com os padrões da indústria2 (veja-se Tabela A. 10) e atribuindo-se


notas e conceitos conforme foi visto no Capítulo 8, chega-se à Tabela A.6.

2. O ideal seria subdividir as empresas em ramos e comparar com os respectivos padrões;


entretanto, não há em cada ramo amostragem suficiente de empresas insolventes. Por isso,
trabalha-se com as empresas sem subdivisão por ramo.
240 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

TABELA A.6. Nota e conceituação de índices de empresas solventes e insolventes.

Quantidade de índices
Quantidade de indices
CONCEITO NOTA de Empresas
de Empresas Solventes
Insolventes

CT/PL LC CT/PL LC
ÓTIMO 8 - 1 0
12 11 0 2

BOM 6 - 7,99 8 9 0 4
SATISFATÓRIO 4 - 5,99
9 12 1 7
ACEITÁVEL
RAZOÁVEL FRACO 2 - 3,99 9 8 13 16
DEFICIENTE PÉSSIMO 0 - 1,99 12 10 36 21
SOMA 50 50 50 50

f) Pode-se aplicar para cada tipo de índice a técnica estatística denominada teste do
x2 (lê-se qui quadrado), através da qual se mede a correlação existente entre as
Notas (ou Conceitos) e a Solvência e Insolvência. O índice que obtiver o maior
coeficiente de correlação terá maior poder preditivo e deverá receber maior peso nas
planilhas e fórmulas, que são apresentadas no Capítulo 6. (Sem qualquer teste,
pode-se perceber, olhando apenas as Tabelas 7.8 e 7.9 que há maior correlação
entre nota baixa e insolvência no índice Participação de Capitais de Terceiros do que
no índice de Liquidez Corrente.)

A técnica do x2 parte das chamadas tabelas de contingências, como as que


são apresentadas nas Tabelas A.7 e A.9. Se não existir nenhuma correlação
entre os atributos Nota e Solvência, ou seja, se uma coisa não tiver nada que ver
com a outra, os 50 índices deveriam teoricamente distribuir-se da forma como
são mostrados na Tabela A.7.

TABELA A.7. Distribuição esperada.

NOTA SOLVENTES INSOLVENTES TOTAL


8 - 1 0 10 10 20
6 - 7,99 10 10 20
4 - 5,99 10 10 20
2 - 3,99 10 10 20
0 - 1,99 10 10 20
SOMA 50 50 100
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 241

Qualquer diferença da distribuição real constatada com a distribuição espe-


rada indica a existência de provável correlação. (Pode ocorrer que as diferenças
se devam ao acaso e não à real correlação existente. Para isso existe um teste
específico que diz com que grau de probabilidade as diferenças ocorreram devido
à existência de correlação e não devido ao acaso. Uma vez feito esse teste e
encontrada uma probabilidade aceitável de as diferenças não se deverem ao
acaso, o passo seguinte é calcular o grau de correlação.)

A Tabela A.8 apresenta as contingências reais constatadas para os índices


de Liquidez Corrente; a Tabela A.9, a Participação de Capitais de Terceiros.

TABELA A.8. Distribuição constatada de índices de Liquidez Corrente.

NOTA SOLVENTES INSOLVENTES TOTAL


8 - 1 0 11 2 13
6 - 7,99 9 4 13
4 - 5,99 12 7 19
2 - 3,99 8 16 24
0 - 1,99 10 21 31
SOMA 50 50 100

TABELA A.9. Distribuição constatada de índices de Participação de Capitais de


Terceiros.

NOTA SOLVENTES INSOLVENTES TOTAL


8 - 1 0 12 0 12
6 - 7,99 8 0 8
4 - 5,99 9 1 10
2 - 3,99 9 13 22
0 - 1,99 12 36 48
SOMA 50 50 100

A grande diferença existente entre a distribuição teórica esperada e a


distribuição constatada, na coluna das insolventes, indica a olho nu que esses
índices são capazes de separar as empresas solventes das insolventes.

O teste de probabilidades indica neste exemplo que com 99,9% de certeza


as diferenças entre os índices de empresas solventes e insolventes não se devem
ao acaso, tanto no índice de Participação de Capitais de Terceiros como no índice
de Liquidez Corrente.
242 AVAUAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Os coeficientes de Correlação de Atributos - CA - encontrados foram:

CA (Participação de Capitais de Terceiros: 0,70


CT/PL
CA (Liquidez Corrente): 0,46
LC

O coeficiente de Correlação de Atributos - CA - é um número que varia de


0 a 0,72, ou seja, a correlação máxima será 0,72. O zero indica não haver
correlação. Entretanto, para haver a correlação máxima é preciso que:

a) todas as empresas insolventes tenham índice deficiente, isto é, com notas de 0 a


1,99;
b) nenhuma empresa solvente tenha nota na faixa de 0 a 1,99.

Essa última hipótese é totalmente utópica: a Análise de Balanços se


transformaria numa previsão com certeza absoluta. Na prática, as correlações
encontradas sempre se situam abaixo da máxima.

Como foi observado, o CACT/PL é bem superior ao CA L C . O CA tem o mérito


de possibilitar o escalonamento dos índices mais importantes (maior peso) para
os menos importantes (menor peso). Afinal, se um índice tem CA mais baixo é
porque são menores as diferenças que é capaz de apontar entre as empresas
solventes e insolventes e, assim, menor deverá ser o seu peso.
Para calcular os CA usam-se as seguintes fórmulas:

onde c - número de elementos constatados na casa j.


e = número de elementos esperados na casa j.
N = número total de elementos da amostra.

O teste de x 2 é simples, objetivo e eficiente e pode ser empregado por


qualquer dos usuários de Análise de Balanços, bastando tomar algo entre 20 e
50 empresas do grupo sucesso e igual número de empresas do insucesso. Estas
podem ser representadas por qualquer tipo de empresa em que as transações
não foram bem-sucedidas, e não necessariamente insolventes. (A metodologia
estatística pode ser encontrada em qualquer bom livro de Estatística.)
TABELA A.10. Índices-padrão de 5.657 empresas do setor industrial.

6º 9º
1º 2º 3º 4º MEDI- 7º 8º
DECIL DECIL DECIL DECIL ANA DECIL DECIL DECIL DECIL
ESTRUTURA
01-CT/PL 42% 63% 87% 108% 136% 168% 207% 269% 394%
02-PC/CT 61% 74% 83% 90% 95% 100% 100% 100% 100%

03-AP/PL 29% 44% 56% 67% 77% 88% 101% 120% 154%
04-AP/PL+ELP 26% 38% 48% 58% 66% 75% 84% 95% 114%

LIQUIDEZ
05-LG 0,71 0,87 0,98 1,05 1,14 1,23 1,36 1,59 2,02
06 - L C 0,85 1,01 1,10 1,19 1,29 1,41 1,57 1,83 2,34
07-LS 0,37 0,53 0,64 0,73 0,82 0,91 1,09 1,21 1,68

RESULTADOS
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

08 -V/AT 0,70 0,87 1,01 1,13 1,26 1,40 1,58 1,81 2,28
09-LL/V -2,5% 0,2% 1,1% 2,0% 3,1% 4,3% 6,0% 8,6% 13,0%

10-LL/AT -3,1% 0,3% 1,4% 2,7% 4,1% 5,8% 7,8% 10,8% 16,2%
11-LL/PLM -8,0% 2,0% 6,0% 10,0% 14,0% 19,0% 25,0% 35,0% 52,0%
243
244 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Apêndice 2 Fórmulas de Previsão de Falências

Em 1968, Edwards Altman publicou o artigo "Financial ratios, discriminant


analysis and the prediction of corporate bankruptcy", no Journal of Finance, dos
Estados Unidos, inaugurando uma série incontável de estudos sobre a capaci-
dade preditiva dos índices de balanços em diferentes países.
A conclusão geral, indubitavelmente, é a de que é amplamente satisfatória
a capacidade de previsão de insolvências dos índices, conclusão a que este autor
já chegara no Brasil simultaneamente a Altman, segundo os dados contidos neste
apêndice.
Simplif ¡cadamente, as pesquisas efetuadas basearam-se no uso da análise
discriminante, uma técnica estatística aprimorada, descrita resumidamente
adiante.
Os principais estudos publicados e suas conclusões acham-se também a
seguir.

1 ANALISE DISCRIMINANTE

A análise discriminante constitui-se numa poderosa técnica estatística ca-


paz de dizer se determinado elemento pertence a uma população X ou a uma
população Y. Aplicado à Análise de Balanços, isto significa indicar se uma
empresa pertence à população de solventes ou à população de insolventes.
O mecanismo de análise discriminante pode ser assim resumido:
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 245

a) Escolhem-se dois grupos4 (população), como, por exemplo, empresas insolventes


e empresas solventes.
b) Coletam-se os dados (índices) das empresas de cada grupo. A análise discriminante
busca encontrar uma função matemática, baseada em vários índices, que melhor
discrimine (separe) os dois grupos, isto é, uma função capaz de informar se urna
empresa se enquadra no grupo das solventes ou das insolventes. Nessa função, a
variável dependente é comparada a um número fixo - chamado ponto crítico -
predeterminado pelo modelo. Se o valor da variável dependente ficar acima do ponto
crítico, a empresa estará entre as solventes; se ficar abaixo, estará entre as
insolventes.

Y = a1x1 + a2x2 + a3x3 + a4x4 ...


onde: Y = variável dependente; reflete o total de pontos alcançado pela empresa.
a1, a2, a3, a 4 ... = pesos: indicam a importância relativa de cada índice.
x1, x2, x3, x 4 ... = variáveis independentes: são os índices de balanço.

Essa função pode ser testada quanto à sua capacidade de discriminar


(separar) eficazmente as empresas em insolventes e solventes. O próprio modelo
matemático indica qual a margem de acertos e de erros da fórmula. Através dela
também se pode testar se a inclusão de mais variáveis independentes (mais
índices) melhora substancialmente ou não o seu poder de discriminar; assim,
decide-se quantas variáveis independentes devem ser compreendidas na fórmu-
la.
Em resumo, a análise discriminante aplicada à Análise de Balanços, através
de índices financeiros, indica simultaneamente:

• quais índices utilizar;


• que peso devem ter esses índices;
• qual o poder de discriminação da função, ou seja, qual a probabilidade de acertos
nas previsões de insolvência do modelo.

2 FORMULAS MAIS CONHECIDAS DE PREVISÃO DE


FALÊNCIAS

Diversos estudiosos efetuaram, no Brasil, testes estatísticos sobre a previ-


são de insolvência com base na análise discriminante. Os diversos trabalhos e
respectivas fórmulas são:

4. Desde que representados por variáveis qualitativas, os grupos podem ser mais do que dois.
246 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

KANITZ:
Fl = 0,05x1 +1,65x2 + 3,55x3 -1,06x 4 - 0,33x5

onde: F1 = Fator de Insolvência = total de pontos obtidos


x1 = Lucro Líquido/Patrimônio Líquido
x2 = Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo/Exigível Total
x3 = Ativo Circulante - Estoques/Passivo Circulante
x4 = Ativo Circulante/Passivo Circulante
x5 = Exigível Total/Patrimônio Líquido

Segundo esse modelo, a empresa estará insolvente se Fl for inferior a - 3;


a sua classificação estará indefinida entre - 3 e 0 e acima de 0 estará na faixa
de solvência. (Nesse modelo há uma região crítica, em vez de um ponto crítico.)

ALTMAN (dois modelos):


Z1 = -1,44 + 4,03x2 + 2,25x3 + 0,14x4 + 0,42x5

Z2 = -1,84 - 0,51x1 + 6,32x3 + 0,71x4 + 0,53x5

onde: Z 1 ou Z 2 = total de pontos obtidos


x 1 = Ativo Circulante - Passivo Circulante/Ativo Total
x 2 = Reservas e Lucros Suspensos/Ativo Total
Lucro Líquido + Despesas Financeiras + Imposto de Renda
x 3 = Ativo Total
x 4 = Patrimônio Líquido/Exigível Total
x5 = Vendas/Ativo Total

Nesses modelos, o ponto crítico é 0 (zero).

ELIZABETSKY:
Z = 1,93x32 - 0,20x33 + 1,02x35 + 1,33x36 -1,12x37

onde: Z = total dos pontos obtidos


x 32 = Lucro Líquido/Vendas
x 33 = Disponível/Ativo Permanente
x35 = Contas a Receber/Ativo Total
x 36 = Estoques/Ativo Total
x 37 = Passivo Circulante/Ativo Total
MODELO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 247

Segundo esse modelo, o ponto crítico é 0,5. Acima desse valor a empresa
estará solvente; abaixo, insolvente.

MATIAS:
Z = 23,792x1 - 8,26x2 - 9,868x3 - 0,764x4 - 0,535x5 + 9,912x6

onde: Z - total dos pontos obtidos


x1 = Patrimônio Líquido/Ativo Total
x2 = Financiamento e Empréstimos Bancários/Ativo Circulante
x3 = Fornecedores/Ativo Total
x4 = Ativo Circulante/Passivo Circulante
x5 = Lucro Operacional/Lucro Bruto
x6 = Disponível/Ativo Total

O ponto crítico nesse modelo é zero.

PEREIRA:
Z = 0,722 - 5,124E23 + 11.016L19 - 0,342L21 - 0,048L26 + 8,605R13 - 0,004R29
onde: Z = total de pontos obtidos
E23 = Duplicatas Descontadas/Duplicatas a Receber
L19 = Estoques (Final)/Custo das Mercadorias Vendidas
L21 = Fornecedores/Vendas
L26 = Estoque Médio/Custo das Mercadorias Vendidas
R 13 = (Lucro Operacional + Despesas Financeiras)/
(Ativo Total - Investimento Médio)
R 29 = Exigível Total/(Lucro Líquido+ 0,1 Imobilizado Médico +
Saldo Devedor da Correção Monetária).5

Nesse modelo o ponto de separação é zero, abaixo de zero a empresa


estará insolvente; acima de zero, solvente.
José Pereira da Silva, um dos pesquisadores, efetuou testes comparativos
entre os diversos modelos, inclusive o seu, apresentando as conclusões cons-
tantes da Tabela B.1. 6

5. No caso de saldo credor, o sinal deverá ser negativo.


6. SILVA, José Pereira da. Administração de crédito e previsão de insolvência. São Paulo: Atlas,
1983.
248 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

TABELA B.1. Comparativo de diversos modelos de previsão de insolvência com


base na análise discriminante.

% Empresas Solventes % Empresas Insolventes


Modelo Classificadas corretamente pelo Classificadas corretamente pelo
modelo modelo

KANITZ 80% 68%


ALTMAN 83% 77%
ELIZÁBETSKY 74% 63%
MATIAS 70% 77%
PEREIRA 90% 86%

COMO USAR OS MODELOS DE PREVISÃO DE


INSOLVÊNCIA

Como o leitor pode observar, os vários modelos de previsão de insolvência


apresentam índices completamente diversos, alguns com pouco significado. Não
obstante isso, todos os modelos apresentam razoável capacidade de classificar
corretamente as empresas solventes e insolventes, conforme testes efetuados
por nós, pelos próprios autores, nos seus respectivos trabalhos, e por José
Pereira da Silva, na Tabela A.2 apresentada.

A partir do que foi exposto é possível tirar algumas conclusões:

1º) O uso da Análise Discriminante na previsão de insolvência, através de demonstra-


ções financeiras, tem levado a resultados não consistentes, ou seja, variando-se a
amostra (como aconteceu nos diferentes estudos), chega-se a parâmetros (pesos)
e variáveis (índices) completamente diferentes. Isto significa que os modelos ou têm
vida curta ou variam muito de acordo com a amostra. Convém, portanto, usá-los com
parcimônia e revisá-los anualmente.

2°) Os modelos não substituem a análise através dos índices tradicionais e devem ser
usados apenas complementarmente às conclusões destes últimos.
3º) A multiplicação de parâmetros diretamente pelos índices (em vez de multiplicar por
notas como mostramos no capítulo anterior) pode levar a resultados absurdos, uma
vez que os índices decorrem da divisão entre dois valores absolutos e podem variar
de menos infinito a mais infinito, distorcendo o fator final.
9 Análise Vertical/Horizontal

Uma vez efetuada a avaliação geral da empresa, como se apresentou no


Capítulo 8, pode-se aprofundar a análise com o uso de técnicas adicionais.
A primeira delas é a Análise Vertical/Horizontal. Por intermédio desse tipo
de análise podem-se conhecer pormenores das demonstrações financeiras que
escapam à análise genérica através de índices.
A Análise de Balanços deve partir do geral para o particular. Assim, inicia-se
a análise propriamente dita (após o trabalho de preparação - padronização) com
o cálculo de índices. Em seguida se aplica a Análise Vertical/Horizontal.
Os índices podem informar, por exemplo, que uma empresa está com alto
endividamento. A Análise Vertical/Horizontal aponta qual o principal credor e
como se alterou a participação de cada credor nos últimos dois exercícios. Ou,
então, os índices indicam que a empresa teve reduzida sua margem de lucro; a
Análise Vertical/Horizontal apontará, por exemplo, que isso se deveu ao cresci-
mento desproporcional das despesas administrativas.

1 ANÁLISE VERTICAL

O percentual de cada conta mostra sua real


importância no conjunto.

Análise Vertical baseia-se em valores percentuais das demonstrações


financeiras.
Para isso se calcula o percentual de cada conta em relação a um valor-base.
Por exemplo, na Análise Vertical do Balanço calcula-se o percentual de cada
conta em relação ao total do Ativo.
250 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Apresenta-se a seguir a Análise Vertical dos Balanços da Cia. BIG:

BALANÇOS DE 31.12.X1 31.12.X2 31.12.X3

Valor Valor Valor


AV AV AV
Absoluto Absoluto Absoluto

ATIVO
CIRCULANTE
FINANCEIRO
• Disponível 34.665 26.309 25.000
• Aplicações Financeiras 128.969 80.915 62.000
SOMA 163.634 107.224 87.000
OPERACIONAL
• Cientes 1.045.640 1.122.512 1.529.061
• Estoques 751.206 1.039.435 1.317.514
SOMA 1.796.846 2.161.947 2.846.575
Total do Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 2.933.575
PERMANENTE
• Investimentos 72.250 156.475 228.075
• Imobilizado 693.448 1.517.508 2.401.648
• Diferido -.- 40.896 90.037
Total do Ativo Permanente 765.698 1.714.879 2.719.760
TOTAL DO ATIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
PASSIVO
CIRCULANTE
OPERACIONAL
• Fornecedores 708.536 639.065 688.791
• Outras Obrigações 275.623 289.698 433.743
SOMA 984.159 928.763 1.122.523
FINANCEIRO
• Empréstimos Bancários 66.165 83.429 158.044
• Dupls. Descontados 290.633 393.885 676.699
SOMA 356.798 477.314 834.743
Total do Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 1.957.277
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
• Empréstimos 314.360 792.716 1.494.240
• Financiamentos -.- 378.072 533.991
Total do Exigivel a Longo Prazo 314.360 1.170.788 2.028.231
CAPITAIS DE TERCEIROS 1.653.317 2.576.865 3.985.508
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
• Capital e Reservas 657.083 1.194.157 1.350.830
• Lucros Acumulados 413.778 213.028 316.997
Total do Patrimônio Líquido 1.070.861 1.407.185 1.667.827
TOTAL DO PASSIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL 251

Na Análise Vertical da Demonstração do Resultado calcula-se o percentual


de cada conta em relação às vendas. Obviamente, o valor de Vendas é igualado
a 100, conforme o exemplo que segue, baseado nas Demonstrações de Resul-
tados da Cia. BIG:

DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS

Exercício Findo em 31.12.X1 31.12.X2 31.12.X3


Valor Valor Valor
AV AV AV
Absoluto Absoluto Absoluto
RECEITA LÍQUIDA 4.793.123 100 4.425.866 100 5.851.586 100
Custo dos Produtos Vendidos 3.621.530 76 3.273.530 74 4.218.671 72
Lucro Bruto 1.171.593 24 1.152.336 26 1.632.915 28
Despesas Operacionais 495.993 10 427.225 9 498.025 8
Outras Rec./Desp. Operacionais 8.394 - 17.581 - 27.777 -
LUCRO OPERACIONAL 683.994 14 742.692 17 1.162.671 20
(antes dos Resultados Financeiros)
Receitas Financeiras 10.860 - 7.562 - 5.935 -
Despesas Financeiras 284.308 6 442.816 10 863.298 15
LUCRO OPERACIONAL 410.546 8 307.438 7 305.304 5
Resultado não Operacional 1.058 - -.- - -.-
LUCRO ANTES DO I.R. 411.604 8 307.438 7 305.304 5
LUCRO LÍQUIDO 223.741 4,66 167.116 3,77 165.956 2,83

2 ANÁLISE HORIZONTAL

A evolução de cada conta mostra os cami-


nhos trilhados pela empresa e as possíveis
tendência.

Baseia-se na evolução de cada conta de uma série de demonstrações


financeiras em relação à demonstração anterior e/ou em relação a uma demons-
tração financeira básica, geralmente a mais antiga da série. A seguir, apresen-
ta-se uma série de três Balanços e três Demonstrações do Resultado com
Análise Horizontal:
252 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

BALANÇOS DE 31.12.X1 31.12.X2 31.12.X3


Valor Valor Valor
AH AH AH
Absoluto Absoluto Absoluto

ATIVO
CIRCULANTE
FINANCEIRO
• Disponível 34.665 26.309 25.000
• Aplicações Financeiras 128.969 80.915 62.000
SOMA 163.634 107.224 87.000
OPERACIONAL
• Clientes 1.045.640 1.122.512 1.529.061
• Estoques 751.206 1.039.435 1.317.514
SOMA 1.796.846 2.161.947 2.846.575
Total do Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 2.933.575
PERMANENTE
• Investimentos 72.250 156.475 228.075
• Imobilizado 693.448 1.517.508 2.401.648
• Diferido -.- 40.896 90.037
Total do Ativo Permanente 765.698 1.714.879 2.719.760
TOTAL DO ATIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
PASSIVO
CIRCULANTE
OPERACIONAL
• Fornecedores 708.536 639.065 688.791
• Outras Obrigações 275.623 289.698 433.743
SOMA 984.159 928.763 1.122.523
FINANCEIRO
• Empréstimos Bancários 66.165 83.429 158.044
• Desps. Descontadas 290.633 393.885 676.699
SOMA 356.798 477.314 834.743
Total do Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 1.957.277
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
• Empréstimos 314.360 792.716 1.494.240
• Financiamentos -.- 378.072 533.991
Total do Exigível a Longo Prazo 314.360 1.170.788 2.028.231
CAPITAIS DE TERCEIROS 1.653.317 2.576.865 3.985.608
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
• Capital e Reservas 657.083 1.194.157 1.350.830
• Lucros Acomodados 413.778 213.028 316.997
Total do Patrimônio Liquido 1.070.861 1.407.185 1.667.827
TOTAL DO PASSIVO 2.726.178 3.984.050 1.653.335
ANALISE VERTICAL/HORIZONTAL 253

DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS

Exercido Findo em 31.12.X1 31.12.X2 31.12.X3


Valor Valor Valor
AH AH AH
Absoluto Absoluto Absoluto
RECEITA LÍQUIDA 4.793.123 100 4.425.866 92 5.851.586 122
Custo dos Produtos Vendidos 3.621.530 100 3.273.530 90 4.218.671 116
Lucro Bruto 1.171.593 100 1.152.336 98 1.632.915 140
Despesas Operacionais 495.993 100 427.225 86 498.025 100
Outras Rec./Desp. Operacionais 8.394 - 17.581 - 27.777 -
LUCRO OPERACIONAL 683.994 100 742.692 108 1.162.671 158
(antes dos Resultados Financeiros)
Receitas Financeiras 10.860 - 7.562 - 5.935 -
Despesas Financeiras 284.308 100 442.816 156 863.298 304
LUCRO OPERACIONAL 410.546 100 307.438 75 305.304 75
Resultado não Operacional 1.058 - -.- - -.- -
LUCRO ANTES DO I.R. 411.604 100 307.438 75 305.304 75
LUCRO LÍQUIDO 223.741 100 167.116 75 165.956 75

Repare-se que na construção dos percentuais para elaboração da Análise


Horizontal se usa a técnica dos números-índices em que no primeiro ano todos
os valores são considerados iguais a 700. Através da regra de três obtêm-se os
valores dos anos seguintes; a variação é o que exceder a 100 ou o que faltar
para 700. Por exemplo: os estoques apresentam índices 389 em 19x3; isto
significa que cresceram 289%.

2.1 ANALISE HORIZONTAL ENCADEADA X ANUAL

A Análise Horizontal pode ser efetuada através do cálculo das variações em


relação a um ano-base - quando será denominada Análise Horizontal encadeada
- ou em relação ao ano anterior - quando será denominada Análise Horizontal
anual.
Esta última, embora possa trazer algumas informações úteis, deve ser feita
com certo cuidado e nunca em substituição ao processo encadeado, mas em
complemento ao mesmo, a fim de evitar possíveis confusões. Veja-se, a seguir,
através de um exemplo, o porquê de tal procedimento.
Suponha-se que a Conta Estoques de determinada empresa tenha a
seguinte evolução:
254 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

19x1 19x2 19x3 19x4


Estoques 2.890.143 1.156.058 1.926.764 2.890.143

A Análise Horizontal encadeada apresenta os seguintes cálculos:

19x1 19x2 19x3 19x4

Estoques 100% 40% 67% 100%

Conclui-se que a empresa teve uma redução de estoques em 19x2; tal


redução passou a representar 40% dos estoques iniciais. Em 19x3 os estoques
subiram para o nível de 67% dos iniciais e em 19x4 voltaram exatamente ao nível
inicial.
A Análise Horizontal anual mostra os seguintes números (observe-se que
neste processo em cada ano só aparece o percentual de variação em relação ao
ano anterior):

19x2 19x3 19x4

Estoques -60% + 66% + 50%

Segundo as conclusões desses cálculos, a empresa sofreu uma redução


de 60% no seu estoque no primeiro ano e apresentou aumentos de 66% e 50%,
respectivamente, nos dois anos seguintes. Isto sugere que a redução inicial teria
sido inteiramente compensada em 19x3 e ainda havido aumento dos estoques
em 19x4, o que não corresponde à realidade. Isto porque a redução de 60% em
19x2 foi calculada em relação a uma base muito maior do que a base usada
para o crescimento havido em 19x3 e 19x4.

3 RELAÇÃO ENTRE ANÁLISE VERTICAL E ANÁLISE


HORIZONTAL

É recomendável que estes dois tipos de análise sejam usados conjuntamen-


te. Não se deve tirar conclusões exclusivamente da Análise Horizontal, pois
determinado item, mesmo apresentando variação de 2.000%, por exemplo, pode
continuar sendo um item irrelevante dentro da demonstração financeira a que
pertence. Por exemplo, uma conta de Investimentos que representa 0,2% do
Ativo de uma empresa cresce 2.300% em dois anos ao final dos quais passa a
ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL 255

representar 0,7%, ou seja: nada significava para a análise no primeiro balanço e


continua a não significar nada no terceiro balanço, apesar do enorme crescimento.
É desejável que as conclusões baseadas na Análise Vertical sejam comple-
mentadas pelas da Análise Horizontal. Na Demonstração do Resultado peque-
nos percentuais podem ser significativos, visto que o lucro líquido costuma
representar também percentual muito pequeno em relação as vendas. Assim,
pode ocorrer, por exemplo, que determinada despesa administrativa, que repre-
senta no primeiro ano 12% das vendas, passe para 18% daí a dois anos. A
variação de 12% para 18% não chama a atenção do analista, porém uma Análise
Horizontal poderia revelar ter havido variação de 50% (além do crescimento de
vendas). Se as vendas tiverem crescimento de 140% no período, as despesas
administrativas terão crescido 210%. Ao chamar a atenção do analista para um
item que pode estar fora de controle, a Análise Horizontal estará cumprindo o
seu papel. Em resumo, a Análise Vertical e a Análise Horizontal devem ser
usadas como uma só técnica de análise; por isso a denominamos Análise
Vertical/Horizontal.

3.1 RELAÇÃO ENTRE ANALISE VERTICAL/HORIZONTAL E


ANÁLISE ATRAVÉS DE ÍNDICES FINANCEIROS

A Análise através de Índices Financeiros é genérica; relaciona grandes itens


das demonstrações financeiras e permite dar uma avaliação à empresa. A
Análise Vertical/Horizontal desce a um nível de detalhes que não permite essa
visão ampla da empresa, mas possibilita localizar pontos específicos de falhas,
problemas e características da empresa e explicar os motivos de a empresa estar
em determinada situação.

3.2 OBJETIVOS DA ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL

Em termos genéricos, os objetivos são os seguintes:

• Análise Vertical: mostrar a importância de cada conta em relação à demonstração


financeira a que pertence e, através da comparação com padrões do ramo ou com
percentuais da própria empresa em anos anteriores, permitir inferir se há itens fora
das proporções normais.
256 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

• Análise Horizontal: mostrar a evolução de cada conta das demonstrações financei-


ras e, pela comparação entre si, permitir tirar conclusões sobre a evolução da
empresa.

Em sentido específico, destacam-se os seguintes objetivos da Análise


Vertical/Horizontal conjuntamente:

a) Indicar a estrutura de Ativo e Passivo, bem como suas modificações.


O balanço evidencia os recursos tomados - financiamentos - e as aplicações
desses recursos - investimentos. A Análise Vertical mostra, de um lado, qual a
composição detalhada dos recursos tomados pela empresa, qual a participação dos
capitais próprios e de terceiros, qual o percentual de capitais de terceiros a curto e
longo prazo, qual a participação de cada um dos itens de capitais de terceiros
(fornecedores, bancos etc.). De outro lado, a Análise Vertical mostra quanto por
cento dos recursos totais foi destinado ao Ativo Circulante e quanto ao Ativo
Permanente. Dentro do Ativo Circulante, a Análise Vertical mostra que porcentagem
de investimento foi destinada a cada um dos itens principais, como Estoques e
Duplicatas a Receber. A comparação dos percentuais da Análise Vertical da empre-
sa com os de concorrentes permite saber se a alocação dos recursos no Ativo é
típica ou não para aquele ramo de atividade. É sabido, por exemplo, que no comércio
é muito maior o investimento em Ativo Circulante do que em Ativo Permanente. Se
uma empresa comercial apresentar maior investimento em Ativo Permanente do que
em Ativo Circulante é aconselhável investigar o porquê disso. A análise do percentual
de cada item do Ativo permite detectar a política de investimento da empresa em
relação a estoques, duplicatas, imobilizado, enquanto no Passivo permite visualizar
a política financeira de obtenção de recursos.

A Análise Horizontal do Balanço mostra a quais itens do Ativo a empresa vem


dando ênfase na alocação de seus recursos e, comparativamente, de quais recursos
adicionais se vem valendo. Por exemplo, a Análise Horizontal pode mostrar que a
empresa investe prioritariamente em bens do Ativo Permanente, enquanto o principal
incremento de recursos se verifica no Passivo Circulante; daí se conclui que a
empresa tomou financiamentos de curto prazo para investir no Ativo Permanente. É
interessante na Análise Horizontal do balanço observar comparativamente os se-
guintes itens:

• crescimento dos totais do Ativo Permanente e Circulante e de cada um dos seus


principais componentes;
• crescimento do Patrimônio Líquido comparativamente ao do Exigível Total;
• crescimento do Patrimônio Líquido mais Exigível a Longo Prazo comparativa-
mente ao crescimento do Ativo Permanente;
ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL 257

• crescimento do Ativo Circulante em comparação com o crescimento do Passivo


Circulante;
• verificação de quanto cada balanço da série contribuiu para a variação final
obtida entre o primeiro e o último balanço.

b) Analisar em detalhes o desempenho da empresa


A Análise Vertical atinge seu ponto máximo de utilidade quando aplicada à
Demonstração do Resultado. Toda a atividade de uma empresa gira em torno das
vendas. São elas que devem determinar o que a empresa pode consumir em cada
item de despesa. Por isso, na Análise Vertical da Demonstração do Resultado, as
Vendas são igualadas a 100, e todos os demais itens têm seu percentual calculado
em relação as Vendas. Com isso, cada item de despesa da Demonstração do
Resultado pode ser controlado em função do seu percentual em relação a Vendas.
Esse controle é extremamente importante quando se lembra que o percentual de
lucro líquido em relação a Vendas costuma ser muito pequeno. (Segundo levanta-
mentos efetuados, em princípios da década de 80, em empresas de São Paulo, era
de 1,2% o percentual médio de lucro líquido sobre Vendas no comércio e de 3,1 %
na indústria). Por isso, o aumento percentual de qualquer item da Demonstração do
Resultado em relação a Vendas é indesejável. Há empresas que controlam rigoro-
samente esses percentuais não permitindo que ultrapassem metas.
258 AVALIAÇÃO DO D E S E M P E N H O EMPRESARIAL

CIA. BIG-BALANÇOS DE
31.12.X1 31.12.X2 31.12.X3
Valor Valor Valor
AV AH AV AH AV AH
Absoluto Absoluto Absoluto
ATIVO
CIRCULANTE
FINANCEIRO
• Disponível 34.665 26.309 25.000
• Aplicações Financeiras 128.969 80.915 62.000
SOMA 163.634 107.224 87.000
OPERACIONAL
• Clientes 1.045.640 1.122.512 1.529.061
• Estoques 751.206 1.039.435 1.317.514
SOMA 1.796.846 2.161.947 2.846.575
Total do Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 2.933.575
PERMANENTE
• Investimentos 72.250 156.475 228.075
• Imobilizado 693.448 1.517.508 2.401.648
• Diferido -.- 40.896 90.037
Total do Ativo Permanente 765.698 1.714.879 2.719.760
TOTAL DO ATIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
PASSIVO
CIRCULANTE
OPERACIONAL
• Fornecedores 708.536 639.065 688.791
• Outras Obrigações 275.623 289.698 433.743
SOMA 984.159 928.763 1.122.523
FINANCEIRO
• Empréstimos Bancários 66.165 83.429 158.044
• Dupls. Descontados 290.633 393.885 676.699
SOMA 356.798 477.314 834.743
Total do Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 1.957.277
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
• Empréstimos 314.360 792.716 1.494.240
• Financiamentos -.- 378.072 533.991
Total do Exigível a Longo Prazo 314.360 1.170.788 2.028.231
CAPITAIS DE TERCEIROS 1.653.317 2.576.865 3.985.508
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
• Capital e Reservas 657.083 1.194.157 1.350.830
• Lucros Acumulados 413.778 213.028 316.997
Total do Patrimônio Liquido 1.070.861 1.407.185 1.667.827
TOTAL DO PASSIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL 259

CIA.BIG
DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS

Exercício Findo em 31.12.X1 31.12.X2 31.12.X3


Valor Valor Valor
AV AH AV AH AV AH
Absoluto Absoluto Absoluto
RECEITA LÍQUIDA 4.793.123 100 100 4.425.866 100 92 5.851.586 100 122
Custo dos Produtos Vendidos 3.621.530 76 100 3.273.530 74 90 4.218.671 72 116
Lucro Bruto 1.171.593 24 100 1.152.336 26 98 1.632.915 28 140
Despesas Operacionais 495.993 10 100 427.225 9 86 498.025 8 100
Outras Rec./Desp. Operacionais 8.394 - - 17.581 - - 27.777 - -
LUCRO OPERACIONAL 683.994 14 100 742.692 17 108 1.162.671 20 158
(antes dos Resultados Financeiros)
Receitas Financeiras 10.860 - - 7.562 - - 5.935 - -
Despesas Financeiras 284.308 6 100 442.816 10 156 863.298 15 304
LUCRO OPERACIONAL 410.546 8 100 307.438 7 75 305.304 5 75
Resultado não Operacional 1.058 - - -.- - - -.- - -
LUCRO ANTES DO I.R. 411.604 8 100 307.438 7 75 305.304 5 75
LUCRO LÍQUIDO 223.741 4.66 100 167.116 3,77 75 165.956 2,83 75

4 EXEMPLO DAS CONCLUSÕES DA ANÁLISE


VERTICAL E HORIZONTAL DA CIA. BIG

0 ativo total da empresa cresceu 107% de 31-12-x1 a 31-12-X3 em termos reais. Esse
crescimento deveu-se principalmente ao Ativo Permanente que teve expansão de 255 %.Já o Ativo
Circulante apresentou crescimento de apenas 50%. Dessa forma, alterou-se a estrutura de ativo da
empresa. Em 19x1, 72% dos recursos achavam-se investidos no Ativo Circulante, percentual esse
que caiu para 52% em 19x3. Esse crescimento foi financiado basicamente por Capitais de Terceiros
de Longo Prazo que passaram, em 19x1, de 12% do Passivo Total para 35%, em 19x3, constituin-
do-se no principal grupo de financiamento neste último ano. O Patrimônio Líquido, que fornecia 39%
dos recursos em 19x1, caiu para 30% em 19x3, enquanto o Passivo Circulante caiu nesse mesmo
período de 49% para 35%. Tendo o Passivo Circulante crescido menos que o Ativo Circulante, a
empresa financiou parte deste último com Exigível a Longo Prazo (o que, diga-se de passagem, é
correto). Os Capitais de Terceiros tiveram crescimento superior ao do Ativo - ou seja, 141% contra
107% do Ativo - em virtude do terreno cedido pelo Patrimônio Líquido. Outro aspecto que se destaca
é a alteração havida em "Fornecedores'. Essa era a principal fonte de recursos da empresa, em
19x1, representando 26% do Passivo. Nesse ano, "Fornecedores" financiavam quase totalmente os
Estoques. Em 19x3 o percentual de "Fornecedores" sobre o Passivo Total caiu para 12%, cobrindo
apenas metade dos estoques mantidos pela empresa. Essa alteração é desfavorável, pois, normal-
mente, "Fornecedores" representam uma fonte estável de recursos e freqüentemente mais barata.
A empresa substituiu-a em boa parte por financiamentos bancários que representam uma fonte de
risco maior devido a incerteza da renovação.
260 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Em resumo, a empresa investiu maciçamente no Ativo Permanente, fez ainda algum investi-
mento no Ativo Circulante, financiou a maior parte dessa expansão com Capitais de Terceiros e
aumentou o risco global. A situação financeira não ficou sacrificada em virtude de a empresa ter-se
valido de Exigíveis a Longo Prazo, tendo o Passivo Circulante crescido menos que o Ativo Circulante.
Enquanto os investimentos tiveram grande impulso no período analisado, as vendas apresen-
taram pequena expansão. O crescimento real foi de 22% no periodo. A empresa teve bom
desempenho no Custo dos Produtos vendidos, os quais passaram de 76% para 72% de absorção
das vendas. Com isso, o Lucro Bruto que representava 24% das vendas subiu para 28%. Esse
acréscimo de 4 pontos percentuais é extremamente significativo diante do fato de o Lucro Líquido
representar 4,66%1 dasvendas em 19x1. Se tudo o mais se mantivesse constante, a empresa poderia
alcançar a invejável porcentagem de 8,66% de Lucro Líquido sobre Vendas.
Infelizmente para a empresa, porém, suas despesas financeiras explodiram, crescendo 204%
e, portanto, muito mais do que as vendas. Essas despesas que consumiram 6% da Receita em 19x1
passaram a consumir 15% em 19x3, fazendo a empresa perder 9 pontos percentuais. Ao final, o
percentual de Lucro Líquido/Vendas desceu para 2,83%, ou seja, quase metade daquele que havia
alcançado em 19x1. As Despesas Operacionais mantiveram-se em proporções aceitáveis para a
empresa.

1. Lembre-se de que a empresa obteve nota 6 no índice de Lucro Líquido/Vendas com a


porcentagem de 4,66%. Se este percentual passasse para 8,66%, a nota seria 8.
ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL 261

Análise Vertical/Horizontal na Previsão de


Apêndice Falências

A regularidade de comportamento dos di-


versos itens das demonstrações financei-
ras é sinal de estabilidade e segurança. A
excessiva flutuação representa elevação
do risco empresarial. A Análise Vertical/Ho-
rizontal pode detectar esse risco.

A insolvência de uma empresa ocorre pela incapacidade de solver suas


obrigações, ou seja, pela falta de dinheiro no momento de vencimento de uma
dívida.
Toda empresa está sujeita à falta de dinheiro em determinados momentos
dadas as naturais incertezas e irregularidades da atividade empresarial. Normal-
mente, essa carência de moeda é suprida por empréstimos de emergência,
obtidos junto a bancos, e é corrigida a curto prazo pela reformulação de prazos
de Duplicatas a Receber e Fornecedores.
A falta crônica de dinheiro e a perspectiva a longo prazo de agravamento
da insuficiência de entradas em caixa em face das saídas comprometidas
caracteriza a insolvência, cujas soluções só podem ser a concordata ou a
falência.
262 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Via de regra, a falta de dinheiro a curto prazo deve-se a cinco motivos:

• desempenho de vendas aquém do esperado;


• falta de controle das despesas;
• prejuízo;
• má administração do Ativo e Passivo Circulantes;
• excesso de investimento no Ativo Permanente.

A impontualidade a curto prazo - revelada por atrasos junto a fornecedores


e protestos sofridos - deve-se à falta de capacidade de a empresa obter o
numerário necessário para cobrir os compromissos assumidos.

Em outras palavras, toda empresa tem um fluxo de caixa - movimento de


entrada e saída de caixa — em que as entradas naturalmente se equilibram com
as saídas. Essa harmonia é quebrada quase sempre por uma daquelas cinco
hipóteses e só não será corrigida se a empresa for incapaz de obter os emprés-
timos adicionais necessários.

A harmonia referida pressupõe certa regularidade no comportamento dos


diversos itens de balanço e de resultados.

Um brusco aumento de Duplicatas a Receber, por exemplo, tem inevitáveis


conseqüências sobre o Caixa: enquanto aumenta o valor das duplicatas, deixa
de entrar dinheiro no Caixa. Um aumento exagerado do Ativo Permanente, em
relação a outros itens do Balanço, provoca, com certeza, sangria do Caixa,
rompendo o equilíbrio entre ingressos e saídas. Um aumento de despesas fora
de proporções normais tem idêntico reflexo.

Assim, nada mais lógico que estudar os comportamentos dos diversos itens
do balanço e da demonstração de resultados. Existindo regularidade, há grande
chance de a empresa manter o equilíbrio do seu fluxo de caixa. A irregularidade
de comportamento dos itens é um sinal de alerta.

Com efeito, a prática mostra que isso realmente é válido. Grande parte das
empresas que vão à insolvência apresenta irregularidades de comportamento de
diversos de seus itens, como mostra o exemplo adiante.

Apresenta-se a seguir um caso concreto ilustrativo de empresa que se


tornou insolvente; a Análise Vertical/Horizontal evidencia a inconstância de
comportamento de diversos itens de balanço e da demonstração de resultados.
ANÁUSE VERTICAL/HORIZONTAL 263

Nesse exemplo, a Análise Horizontal é feita em relação ao ano anterior a


fim de que se possa verificar, ao longo de sucessivos exercícios, quão diferentes
foram as variações de um ano para outro.

1 EXEMPLO DE ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL NA


PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA

Apresentam-se a seguir as quatro últimas demonstrações de uma empresa


de produtos alimentícios que se tornou concordatária e posteriormente faliu.

O último balanço divulgado pela empresa antes da concordata é de 19x7,


já que o seguinte foi levantado apenas para ser anexado aos documentos
necessários para o pedido de concordata.
Em 31-12-x7, a situação dessa empresa era muito boa. O índice de
Participação de Capitais de Terceiros era de 81 %; o de Imobilização do Patrimô-
nio Líquido era de 0,8%; o de Liquidez Corrente era de 2,21; o índice de
Rentabilidade do Patrimônio era de 12%.

Entretanto, examinando os números da Análise Vertical/Horizontal, verifica-


se que o Lucro Bruto, que aumentou 593% de 19x5 para 19x6, caiu 8% em 19x7
e 14% em 19x8. As Outras Despesas Operacionais (Vendas e Administração)
cresceram 1.841 % de 19x5 para 19x6, sofreram ligeira queda de 10% em 19x7
e subiram 66% em 19x8. Isso tudo a valores nominais. (Abaixo das
demonstrações de resultados encontra-se a evolução do ÍNDICE GERAL DE
PREÇOS DA FGV).

No balanço igualmente verificam-se diversas flutuações inexplicáveis. En-


quanto os Estoque sobem exageradamente em 19x6, moderadamente em 19x7
e caem em 19x8, as Duplicatas a Receber sobem ininterruptamente.

A participação dos fornecedores no financiamento global cai contínua e


acentuadamente, passando de 19 para 5% do Passivo Total. A excessiva
elevação de Salários, Tributos e Contribuições sugere que a empresa possa estar
atrasando o pagamento de impostos e encargos sociais.

Enfim, a Análise Vertical/Horizontal revela um quadro de certa turbulência


na vida da empresa (o que não é tão evidente na análise através de índices) e
sugere existir algum tipo de problema na empresa.
264

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO

NOME: XYZ - ALIMENTOS, INDUSTRIA E COMERCIO LTDA.


RAMO DE ATIVIDADE: INDÚSTRIA E COMÉRCIO E GÊNEROS ALIMENTÍCIOS
OBS.: Concordata Preventiva Deferida em 10-8-79
(Especial para a Concordata)
BALANÇOS encerrados em: 31-12*5 31-12-x3 31-12-X7 31-12-x8
VI.Absol. AV VI.Absol. AV AH Anual VI.Absol. AV AH Anual VI.Absol. AV AH Anual
Disponibilidades 302 6 1.419 13 470 1.643 9 116 33 0,1 2
Títulos a Receber 2.792 56 4.074 39 146 10.002 52 246 20.780 71 208
Estoques 572 11 2.144 20 375 3.649 19 170 3.351 11 92
Outros Créditos 1.250 25 2.281 22 182 3.940 20 173 4.747 16 120
ATIVO CIRCULANTE 4.916 98 10.518 99 214 19.234 99 183 28.911 99 150
REALIZ. A LONGO PRAZO
Imobilizado 63 1 58 0,5 92 82 0,4 141 194 1 237
Investimentos
Deferido
ATIVO PERMANENTE 63 1 58 0,5 92 82 0,4 141 194 1 237
ATIVO TOTAL 4.979 100 10.576 100 212 19.316 100 183 29.105 100 151
Fornecedores 924 19 1.603 15 173 1.616 6 101 1.305 5 81
Duplicatas Descontadas 520 10 1.467 14 282 3.262 17 222 0 0 (-)
Financ. Inst. Financeiras 2.000 40 0 0 0 1.299 7 0 15.700 54 1.209
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Salários, Trib. e Contrib. 0 0 743 7 0 2.508 13 338 6.115 21 244


Outros Débitos 91 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
PASSIVO CIRCULANTE 3.535 71 3.813 36 108 8.685 45 228 23.120 79 266
EXIGÍVELA LONGO PRAZO
Capital 60 1 1.500 14 2.500 1.500 8 0 10.500 36 600
Reservas 1.384 28 5.263 50 380 9.131 47 173 (4.515) (15) 0
PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.444 29 6.763 64 468 10.631 55 157 5.985 21 56

PASSIVO TOTAL 4.979 100 10.576 100 212 19.316 100 183 29.105 100 151
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO

(Especial para a Concordata)


18x5 19x6 19x7
19x8
Exercido de:
VI. VI. AH VI. AH VI.
AV AH AV AV AV AH
Absol. AbsoL Anual Absol. Anual Absol.

Receitas dos Serviços/Vendas 19.389 100 - 45.642 100 235 46.957 100 103 37.317 100 79

Custos dos Serviços/Vendas 17.245 89 - 30.793 67 179 33.316 71 106 25.635 69 77

LUCRO BRUTO 2.144 11 - 14.849 33 693 13.641 29 92 11.682 31 86

Despesas Financeiras 266 1 - 0 0 100 1.113 2 OO Z529 7 227

Outras Desp. Operacionais 494 2 - 9.587 21 1.941 8.667 19 90 14.411 39 166

LUCRO OPERACIONAL 1.384 7 - 5.262 11 380 3.861 8 74 (5.258) (14) (-)

Res. Extra-Operational 0 0 - 0 0 0 7 0 OO 0 0 -
ANÁLISE VERTICAL/HORIZONTAL

Saldo da Correção Monetária 10 0,1 - 640 1 6.400 2.594 5 4.053 2.241 6 86

Lucro Antes do IR 1.374 7 - 4.622 10 336 1.274 3 27 (7.499) (20) (-)

LUCRO LÍQUIDO 1.374 7 - 4.622 10 336 1.274 3 27 (7.499) (20) (-)

IPG (Disp. Interna) - 41,3% 42,7% 38,7%


265
Tópicos Especiais de Análise de
10 Balanços

Nos capítulos precedentes foi apresentada uma visão geral de como extrair
informações dos balanços e de como avaliar empresas.
Diversos aspectos relativos às informações extraídas e às avaliações são
polêmicos e suscitam acesas discussões nos meios acadêmicos e profissionais.
São abordados neste capítulo temas palpitantes e expostos alguns concei-
tos básicos como o do Capital Circulante Líquido, das relações existentes entre
os índices de liquidez e o fluxo de caixa da empresa, dos propalados e não
provados inconvenientes de alta liquidez, dos limites de endividamento aceitáveis
para a empresa, dos diversos índices de endividamento, dos índices de relacio-
namento bancário e, por último, dos índices de avaliação de ações de empresas.
O objetivo deste capítulo é, pois, complementar os conhecimentos básicos
que devem fazer parte do repertório do estudante universitário e do profissional.

1 ECONÔMICO X FINANCEIRO

Ter lucro, mas não ter dinheiro, e vice-ver-


sa, é mais comum do que parece, na maioria
das empresas.

Talvez não existam palavras mais empregadas no mundo dos negócios do


que econômico e financeiro.
Mesmo o trabalhador mais humilde dirá: "Estou com problemas financei-
ros."
268 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Em análise de Balanços esses termos precisam ser muito bem definidos,


pois, em caso contrário, se poderá chegar a conclusões confusas.

Econômico: Refere-se a lucro, no sentido dinâmico, de movimentação. Estaticamente,


refere-se a patrimônio líquido.
Financeiro: Refere-se a dinheiro. Dinamicamente, representa a variação de Caixa.
Estaticamente, representa o saldo de Caixa. O termo financeiro tem significado
amplo e restrito. Quando encarado de forma restrita, refere-se a Caixa; quando seu
significado é amplo, refere-se a Caixa Circulante Líquido,

O Quadro 10.1 mostra os diversos significados dos termos econômico e


financeiro.

QUADRO 10.1. Comparativo de significações de econômico e financeiro.

FINANCEIRO
ECONÔMICO
AMPLO RESTRITO

Capital Circulante
ESTATICAMENTE Patrimônio Líquido Saldo de Caixa
Líquido

Variação do Capital Variação do Saldo de


DINAMICAMENTE Lucro Líquido
Circulante Líquido Caixa

Resultado econômico é sinônimo de lucro (ou prejuízo). O lucro aumenta o


Patrimônio Líquido, mas não as disponibilidades de dinheiro. Uma empresa pode
estar em excelente situação econômica com imóveis, equipamentos, investimen-
tos em outras empresas, mas sem dinheiro para pagar suas dívidas. Algumas
receitas e despesas não têm nenhum reflexo em dinheiro no exercício - como,
por exemplo, a depreciação -, mas nem por isso deixam de ser lançadas na
Demonstração do Resultado.
Por essa razão, a análise de uma empresa deve tomar tanto a Demonstra-
ção do Resultado - que evidencia o lucro ou prejuízo - como uma entre duas
demonstrações de natureza financeira possíveis: Demonstração do Fluxo de
Caixa ou Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos.
A Demonstração do Fluxo de Caixa evidencia o movimento de Caixa da
empresa e serve para mostrar o resultado financeiro de curto prazo.
A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos evidencia a
variação do Capital Circulante Líquido e serve para mostrar o resultado financeiro
de médio e longo prazo.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 269

O Capital Circulante Líquido é pormenorizadamente explicado neste capí-


tulo, item 4, enquanto as duas demonstrações financeiras citadas são estudadas
no Capítulo 13.
Por enquanto, apresenta-se apenas uma breve exposição sobre Capital
Circulante Líquido e Saldo de Caixa.
A variação do Saldo de Caixa mostra se a empresa conseguiu ou não
aumentar as suas disponibilidades de dinheiro. Não há dúvida de que, em caso
positivo, a empresa estará momentaneamente melhorando a sua capacidade de
pagamento. Resta saber se futuramente também tenderá a melhorá-la ou se a
melhora de hoje não se fez em detrimento da situação futura de caixa. Aí é que
entra o Capital Circulante Líquido, uma espécie de valores monetários líquidos,
do qual decorre a capacidade de pagamentos da empresa.
A receita operacional da empresa, por exemplo, gera Capital Circulante
Líquido. Quando isso acontece, a empresa reforça sua capacidade de pagar
dívidas de curto prazo. No momento do faturamento a prazo não entra dinheiro
no Caixa. Isto talvez possa, em certos casos, representar alguma dificuldade
momentânea de caixa. Passados alguns dias, 30, 60 e 90, conforme o prazo, a
empresa recebe o dinheiro da venda e pode dispor dele para atender a seus
compromissos.
Já um empréstimo bancário em que o dinheiro entra instantaneamente em
Caixa, só melhora a situação financeira da empresa a curtíssimo prazo, pois, se
o empréstimo a alivia hoje, dentro de 30,60 ou 90 dias irá reivindicar pagamentos
e poderá agravá-la conforme os juros. Ou seja, os empréstimos bancários, na
melhor das hipóteses, "chutam o problema pra frente"; na pior, "é bola na marca
de pênalti". Por isso, certas entradas de caixa podem nada significar. Já os
aumentos de Capital Circulante Líquido representam acréscimos no Ativo Circu-
lante e/ou redução de Passivo Circulante que acabarão por desaguar no Caixa,
melhorando a capacidade de pagamento da empresa. Por isso, o termo finan-
ceiro é muito mais bem empregado quando relacionado a Capital Circulante
Líquido do que quando relacionado a Caixa.

2 INVESTIMENTO X FINANCIAMENTO

Para cada investimento existe um financia-


mento certo.

Toda aplicação em bens, direitos ou custos que beneficiarão exercícios


seguintes é Investimento.
O Ativo representa o investimento total.
270 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Em qualquer investimento efetuado existe uma origem de recursos mostra-


da pelo Passivo. Essa origem constitui o Financiamento.
Não existe uma demonstração contábil que faça a identificação dos inves-
timento e seus respectivos financiamentos (ou seja, que determinado investimen-
to foi feito com certo financiamento) em virtude da grande dificuldade em se fazer
isso.
No Balanço e na Demonstração da Origens e Aplicações de Recursos os
investimentos e financiamentos são agrupados segundo a sua natureza e na
ordem do mais líquido para o menos líquido. (Por isso, o Ativo e o Passivo
começam com o Circulante.)
Na Análise de Balanços, contudo, procura-se constantemente identificar
investimentos e financiamentos, pois a situação da empresa e mesmo os seus
resultados econômicos dependem da adequação entre investimentos e financia-
mentos.
Para a empresa, efetuar adequadamente investimentos, isto é, nem mais
nem menos do que necessário e tomar financiamentos compatíveis em termos
de prazo, juros e forma de amortização, é a grande dificuldade da administração
financeira. Muitas empresas foram à falência por não conseguirem essa adequa-
ção. Aliás, esse não é um problema só de empresas, mas também de muitos
países e de pessoas.
Todos os índices extraídos do balanço procuram de certa forma medir a
adequação entre investimentos e financiamentos.

3 COMO SURGEM O ATIVO E O PASSIVO

Existe uma relação entre o volume de ven-


das e o Ativo de uma empresa.

Quando se toma um balanço, seja para analisar, seja apenas para observar,
talvez ocorra a questão: o que leva a empresa a ter determinados valores no
balanço?
As vendas refletem aquilo que a empresa consegue vender, e o lucro é a
diferença entre o que ela vendeu e o que teve de despesas.
E o Ativo? Por que tem aquele valor? Será que é em função das vendas?
Por que o Ativo cresceu 50% quando as vendas cresceram 20%?
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 271

Veja-se a seguir, de maneira simplificada, como se formam os principais


itens do Ativo:

Disponível: é um valor determinado pela administração. Não segue nenhuma regra


básica. Seu papel é servir de amortecedor das diferenças entre entradas e saídas
de caixa. A administração determina e ajusta quase diariamente o seu nível em
função dos recebimentos e pagamentos previstos. É comum a exigência da recipro-
cidade pelos bancos.
Aplicações Financeiras: são investimentos de curto prazo em títulos que rendem juros
e correção monetária, efetuados em decorrência de excessos de disponibilidade de
origens diversas. Basicamente ocorrem esses excessos por três motivos:
1. desenvestimentos;
2. tomada de recursos (financiamentos), ou antes da época das aplicações ou
devido ao seu custo barato;
3. lucros não reinvestidos.
Contas a Receber: decorrem matematicamente do volume de vendas diário multiplicado
pelo Prazo Médio de Recebimento de Vendas. O volume de vendas é algo a que a
empresa se propõe e, portanto, pode, em certos casos, determinar. O prazo decorre
das condições de mercado. Geralmente existe uma faixa entre o prazo máximo e o
mínimo no mercado, dentro do qual a empresa deve situar-se. Quanto maior o prazo
concedido maiores são as dificuldades de vendas, podendo a empresa conseguir
maior volume de vendas ou maior margem. Entretanto, o prazo maior causa maior
investimento em Contas a Receber. (Logo, a empresa tem de ampliar seus financia-
mentos, e isto tem um custo que pode anular as eventuais vantagens de um prazo
maior.)
Estoques: no caso das empresas comerciais, decorrem de uma relação matemática do
produto das vendas diárias a preços de custos pelo Prazo Médio de Renovação de
Estoques. Nas empresas industriais somam-se os estoques de produtos em elabo-
ração e os estoques de matérias-primas. Estes decorrem da quantidade de absorção
diária de matéria-prima por parte da produção multiplicada pelo número de dias que
a empresa mantém os estoques de matérias-primas; este número pode ser direta-
mente relacionado com a rapidez da reposição. Quanto ao estoque de produtos em
elaboração, o seu volume decorre do tempo de fabricação multiplicado pela produ-
ção diária média em cruzeiros. Em regra, os estoques devem ser o mínimo possível,
desde que suficientes para à demanda.
Outros itens do Ativo Circulante: em decorrência das múltiplas operações de uma
empresa, surge uma série de pequenos investimentos, como: Adiantamentos a
Empregados, Despesas Antecipadas (seguros, aluguéis, assinaturas), Depósitos
Compulsórios, Antecipações a Fornecedores, Devoluções e Reembolsos a Haver
etc. Esses investimentos, em geral, não seguem regras de variação.
Realizável a Longo Prazo: da atividade da empresa decorrem normalmente só inves-
timentos no giro - Ativo Circulante - e no Imobilizado. Investimentos no Realizável
a Longo Prazo surgem excepcionalmente em decorrência de empréstimos ou
depósitos compulsórios, ou de eventuais valores a receber decorrentes da venda de
Ativo Permanente.
272 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Investimentos: compreendem aplicações voluntárias em outras empresas, em bens não


necessários à manutenção das atividades ou então aplicações decorrentes de
incentivos fiscais. Não mantêm relação com as operações da empresa.
Imobilizado: o total de bens representados por prédios industriais, máquinas, equipa-
mentos, instalações, móveis, armazéns, lojas etc. está diretamente relacionado com
uma faixa de volume de produção e vendas. Em cada ramo há uma relação entre o
imobilizado e as vendas. Na prática, porém, existem alguns fatores que modificam
essa relação. Em primeiro lugar porque é muito comum a empresa alugar bens,
principalmente imóveis; em segundo lugar porque a empresa poderá operar super
ou subdimensionada, alterando a relação normal entre produção e vendas.
Diferido: representa os investimentos pré-operacionais em projetos de expansão,
pesquisa ou constituição. Determinados custos são previsíveis em função da produ-
ção estimada, como os de instalação de siderúrgicas, hidrelétricas, indústrias
petroquímicas etc., projetos pioneiros podem ter custos totalmente imprevisíveis.

Uma vez determinado o valor do Ativo, no caso dos itens previsíveis ou à


medida que forem ocorrendo os investimentos aleatórios, a empresa deve tratar
da obtenção dos recursos que vão financiá-los.
Por uma questão de ordem cronológica, os Recursos Próprios são os
primeiros a entrar pela porta dos créditos. Os financiamentos ou empréstimos
bancários de longo prazo podem ser os segundos. Por último, devem entrar os
empréstimos bancários de curto prazo, embora, não raro, as empresas invertam
essa ordem. Veja isso, adiante, mais pormenorizadamente.

Patrimônio Líquido: representa os recurso que os sócios entregaram à empresa. Em


condições normais, deveria ser suficiente para financiar todo o Ativo Permanente e
uma parte do Circulante. À medida que a empresa acumula lucros, o Patrimônio
Líquido cresce e, assim, cresce a capacidade de financiar o Ativo. Por isso, é
importante a empresa saber até onde e em que ritmo pode crescer.
Financiamentos de Longo Prazo: basicamente deveriam ser constituídos por duas
categorias típicas: (1) prazo superior a cinco anos, destinado a financiar investimen-
tos no Imobilizado; e (2) prazo de até dois anos, destinado a financiar investimentos
no giro (Ativo Circulante). Este último deveria estar presente sempre que a empresa
necessitasse de recursos de terceiros para financiar parte do seu Ativo Circulante,
além daqueles supridos pelo Patrimônio Líquido e pelo Passivo de Funcionamento.
Do ponto de vista da situação financeira a empresa deveria sempre preferir emprés-
timos de longo prazo, para financiar o giro do que os empréstimos bancários de curto
prazo. A expressão empréstimos às vezes significa recursos que a empresa
levantou para livre aplicação; financiamentos são aqueles recursos para aquisição
de bens do Imobilizado que normalmente servem de garantia. Infelizmente, no Brasil
são raros não só os financiamentos com mais de cinco anos, mas também os
empréstimos a prazo superior a um ano. Freqüentemente ocorrem financiamentos
de bens do Imobilizado a prazos de 36 meses. É este, por exemplo, o prazo normal
da FINAME-Agência de Financiamentos de Máquinas e Equipamentos. Este prazo
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 273

é insuficiente e provoca quase sempre problemas de Liquidez para a empresa


investidora.
Passivo de Funcionamento: são os recursos representados por Fornecedores, Salá-
rios a Pagar, Impostos a Pagar, Encargos Sociais, Aluguéis, Água, luz, Serviços a
Pagar etc., os quais surgem em decorrência das operações da empresa. Por se
renovarem constantemente, esses financiamentos adquirem caráter de permanente.
Por não exigirem esforços de negociações, a cada pagamento a sua renovação é
praticamente certa. O principal crédito de Funcionamento é "Fornecedores". No caso
de empresas comercias, o seu valor varia matematicamente em função das com-
pras de mercadorias efetuadas e do prazo médio de pagamento. No caso de
empresas industriais, a relação matemática dá-se em função das compras de
matérias-primas e do prazo médio de pagamento. Os demais passivos de funcio-
namento mantêm uma relação com o volume de atividades, mas é muito difícil definir
qual é essa relação.

Empréstimos Bancários são financiamentos residuais (ou pelo menos deveriam ser),
isto é, são financiamentos tomados para complementar a necessidade de cobertura
dos investimentos no Ativo Circulante, sempre que as demais fontes não forem
suficientes. Esses financiamentos não contam com renovação garantida e, por isso,
podem provocar dificuldades para a empresa. As Duplicatas Descontadas também
são consideradas empréstimos bancários, pois têm idênticas características finan-
ceiras, diferindo apenas na forma jurídica.

3.1 EXEMPLOS DE COMO SURGEM O ATIVO E O PASSIVO

Suponha-se que um grupo de pessoas esteja estudando a possibilidade de


abrir um negócio comercial e que os estudos preliminares tenham revelados os
dados descritos adiante.

O empreendimento mostrou possibilidade de vender $ 72.000.000 por ano,


e essas vendas seriam uniformes, de maneira que a venda média diária seria de
$200.000.

A margem de lucro do negócio é estimada em 40%; logo, o custo das


mercadorias vendidas é de $ 43.200.000, o que representaria um custo médio
diário de mercadorias vendidas de $ 120.000.

O prazo médio de vendas é de 90 dias, o que significa que, vendendo


$ 200.000 por dia, a empresa terá um investimento em duplicatas a receber de
$18.000.000.
274 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Isto se deve ao seguinte fato: a empresa durante os primeiros 90 dias de


sua atividade nada recebe pelas vendas e efetua um investimento em Duplicatas
a Receber; a partir do 91º dia, passa a receber as vendas efetuadas há 90 dias,
mas mantém o investimento efetuado (ou seja, mantém o volume de títulos a
receber acumulados nos primeiros 90 dias).
Isto se manterá até que mudem as condições. No caso, estamos supondo
condições estáveis para simplicidade de exposição de forma que se manteria o
volume acumulado de duplicatas de $ 18.000.000.
O mesmo raciocínio se aplica aos estoques que a empresa deverá manter
para 60 dias. Vendendo por dia, a preço de custo, $ 120.000, e mantendo
estoques para 60 dias, o investimento será de $ 7.200.000.
Estimativas dos empréstimos que estão em estudando o empreendimento
indicam que será necessário ter um Caixa com nível mínimo de $ 2.000.000.
As instalações necessárias para efetuar a venda atingem a quantia de
$13.000.000; para vendas de $60.000.000, $100.000.000. Abaixo de
$ 60.000.000 não será necessário esse investimento e acima de $ 100.000.000
seria necessário investimento maior.
Portanto, o investimento inicial em imobilizado deve ser de $ 13.000.000.
Os empresários dispõem de $ 15.000.000 de Capital, e em contatos
efetuados com representantes de bancos de investimentos verificaram ser
possível obter financiamento de $ 10.000.000 a prazos variáveis de dois a quatro
anos.
As despesas operacionais seriam pagas dentro de próprio mês e o lucro
distribuído mensalmente.

RESUMO DOS DADOS


CIA. LÍQUIDA
Vendas anuais possíveis (uniformes durante o ano) 72.000.000
Margem bruta 40%
Prazo médio de recebimento de vendas - PMRV 90 dias
Prazo médio de renovação de estoques = PMRE 60 dias
Prazo médio de pagamento de compras = PMPC 90 dias
Ativo Imobilizado necessário para atingir vendas entre
60.000.000 e 100.000.000 anuais 13.000.000
Capitais 15.000.000
Financiamentos de Longo Prazo obteníveis 10.000.000
Disponível 2.000.000
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 275

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Disponível 2.000.000 Fornecedores 10.800.000
Dupls. a Receber 18.000.000 Exigível a Longo Prazo
Estoques 7.200.000 27.200.000
Financiamentos 10.000.000 10.000.000
Ativo Permanente
Imobilizado 13.000.000 13.000.000 Patrimônio Liquido
Capital 15.000.000 15.000.000
40.200.000 40.200.000

Nesse Balanço está faltando completar o Passivo Circulante. Este valor


deverá ser de $ 15.200.000, uma vez que a empresa, com esse empreendimento,
prevê investimentos totais (ativo) de $ 40.200.000 e pode obter entre recursos
próprios e financiamentos de longo prazo a soma de $ 25.000.000.
Logo, a diferença deverá ser suprida por capitais de terceiros de curto prazo.
Considerando que os fornecedores de mercadorias estejam dispostos a
conceder prazo de 90 dias, em média, fornecerão diariamente a quantidade
necessária de estoques, ou seja, $ 120.000.
Fornecendo mercadorias por 90 dias, a empresa terá, por essa razão,
duplicatas acumuladas e, portanto, recursos obtidos de fornecedores igual
a: 90 X 120.000 = $ 10.800.000.
Serão necessários, ainda, portanto, $ 4.400.000 de recursos que a empresa
poderá obter junto a bancos comerciais.
A seguir se encontra qual seria o balanço completo projetado para esse tipo
de negócio.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Disponível 2.000.000 Fornecedores 10.800.000
Dupls. a Receber 18.000.000 Emprést. Banc. 4.400.000 15.200.000
Estoques 7.200.000 27.200.000
Exigível a Longo Prazo
Ativo Permanente Financiamentos 10.000.000 10.000.000
Imobilizado 13.000.000 13.000.000
Patrimônio Líquido
Capital 15.000.000 15.000.000
40.200.000 40.200.000
276 AVAUAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Resumo dos Cálculos:

Duplicatas a Receber - DR
DR= Vendas Diárias XPMRV
DR = 200.000 X 90 = 18.000.000
sendo:
Vendas Anuais 72.000.000
Vendas Diárias - = = 200.000,00
360 360
Estoques - E
E = Custo Diário de Mercadorias Vendidas X PMRE
E = 120.000X60=7.200.000
Custo Diário de Mercadorias Vendidas =
Custo Anual de Mercadorias Vendidas 60% x 72.000.000
= = = 120.000
360 360.000

Nota: como a margem Bruta representa 40% das Vendas, o Custo de Mercadoria Vendidas
representa 60%.

Fornecedores - F
F = Compras Diárias X PMPC
F = 120.000X90=10.800.000
Compras Diárias = Custo de Mercadorias Vendidas Diárias
Nota: as Compras serão sempre iguais ao Custo de Mercadorias Vendidas, enquanto os
estoques não aumentarem nem diminuírem. Esta é a hipótese que estamos assumindo
no presente exemplo, visto que considerar aumento ou redução de estoques implicaria
montar o balanço em situação de crescimento ou redução de atividades, o que seria
didaticamente muito complicado, pois tudo se modificará continuamente e seria difícil
evidenciar as normas de formação do balanço.

4 CONCEITO E FORMAÇÃO DO CAPITAL


CIRCULANTE LÍQUIDO

O capital Circulante Líquido é a folga finan-


ceira da empresa.

O último exemplo mostrou de maneira simplificada como surgem os dife-


rentes investimentos e financiamentos num balanço.
Veja-se agora onde entra o Capital Circulante Líquido.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 277

A empresa prevê que seus negócios exigem investimentos de $ 40.200.000


para que possa efetuar as vendas de $ 72.000.000 por ano.
Os sócios só possuem $ 15.000.000 e podem obter mais $ 10.000.000 de
financiamento.
Os $ 15.000.000 cobrem o investimento necessário para a instalação física
da sociedade (Ativo Permanente) e, ainda, resta um saldo de $ 2.000.000 capaz
de financiar parte do Ativo Circulante.
A esses $ 2.000.000 se juntam os financiamentos de terceiros, totalizando
$ 12.000.000, passíveis de serem aplicados no Ativo Circulante.
Entretanto, o Ativo Circulante necessita de $ 27.200.000. Há uma diferença
de $ 15.200.000 que deverá ser obtida com financiamento de curto prazo.
Os gráficos seguintes mostram, esquematicamente, esse raciocínio se-
qüencial.

2.000.000

Ativo Circulante 27.200.000

Ativo Permanente 13.000.000 Patrimônio Liquido 15.000.000

13.000.000

O Patrimônio Líquido cobre o investimento no Ativo Permanente e ainda


sobram $ 2.000.000 para o Ativo Circulante.

12.000.000

AC 27.200.000 ELP 10.000.000

25.000.000

AP 13.000.000 PL 15.000.000

13.000.000
278 AVAUAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Os recursos não correntes (Patrimônio Líquido + Exigível a Longo Prazo)


cobrem o investimento no Ativo Permanente e ainda sobram $ 12.000.000 para
o Ativo Circulante.

15.200.000

12.000.000

AC 27.200.000 PC 15.200.000

ELP 10.000.000

AP 13.000.000 25.000.000

PL 15.000.000

13.000.000

O Passivo Circulante é totalmente investido no Ativo Circulante. Completa-


se assim o esquema de financiamentos.
Verifica-se pelos gráficos apresentados que é clara a vinculação existente
entre financiamentos e investimentos.
O Ativo Permanente conta com recursos não correntes que são adequados
e suficientes para financiá-lo. O Ativo Circulante conta com dois tipos de recursos
básicos, conforme o gráfico seguinte.
Passivo
Circulante
Ativo 15.200.000
Circulante
27.200.000
12.000.000 Recursos
não Correntes

Os recursos não correntes investidos no Ativo Circulante recebem a de-


monstração Capital Circulante Líquido.1
Aqui o ponto mais importante desta exposição. O Passivo Circulante é
representado por recursos fornecidos por terceiros à empresa por um breve
prazo: 30, 60, 90, 120 dias; raramente esses prazos são ultrapassados.2 Ao

1. Outras denominações encontradas na bibliografia são: Capital de Giro e Capital de Giro


Líquido.
2. A Nova Lei das S.A. estabelece que o prazo do Passivo Circulante é de 360 dias ou igual ao
ciclo operacional quando este for maior do que 360 dias; entretanto, na prática, a grande
maioria dos recursos classificáveis no Passivo Circulante vence a prazo bem inferior a 360
dias.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 279

vencerem-se as obrigações do Passivo Circulante, devem elas ser pagas em


dinheiro: os recursos fornecidos à empresa por curto prazo sairão da empresa
ao término desse prazo.
O Passivo Circulante deve ser pago com recursos do Ativo Circulante (ou
melhor, devem ser pagos em dinheiro através de itens do Ativo Circulante, que
se converterão em Caixa, visto que a empresa não pode manter um Caixa
suficiente para cobrir instantaneamente todas as suas dívidas).
Já os recursos não correntes aplicados no Ativo Circulante - CCL - não
precisam, em parte, ser pagos (relativamente ao Patrimônio Líquido) e, em parte,
só deverão ser pagos a longo prazo.
Assim, os recursos não correntes permanecem de forma estável no Ativo
Circulante e dão à empresa certa estabilidade ou folga financeira.
No exemplo que vem sendo desenvolvido, dos $ 27.000.000 de Ativo
Circulante, $ 12.000.000 permanecerão no Ativo Circulante nos próximos meses,
enquanto $ 15.200.000 deverão ser renovados. Entretanto, não existe a garantia
dessa renovação.
A Figura 10.1 evidencia o CCL (Capital Circulante Líquido) e seu papel na
estrutura de capitais.

Ativo Passivo
Circulante Circulante
27.200.000 15.200.000

Capital Exigível a
Circulante Longo Prazo
Líquido 10.000.000 Recursos
12.000.000 não 25.000.000
Correntes
Patrimônio
Ativo Liquido
Permanente 15.000.000
13.000.000

FIGURA10.1. Projeção do Capital Circulante Líquido no Balanço.

O CCL pode ser encontrado por dois caminhos:

Capital Circulante Líquido = Ativo Circulante - Passivo Circulante .


(CCL) (AC) (PC)
280 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Aqui o CCL é mostrado como o excesso do Ativo Circulante sobre o Passivo


Circulante.

Capital Circ. Liquido = (Patr. Líq. + Ex. L. Prazo) - (Ativo Perm. + Real. L Prazo)
(CCL) (PL) (ELP) (AP) (RLP)

RECURSOS NÃO APLICAÇÕES NÃO


CORRENTES CORRENTES

Nesta outra fórmula mostra-se a proveniência do CCL: excesso dos recur-


sos não correntes sobre aplicações não correntes.

COMPOSIÇÃO DO CCL
Outro aspecto que merece ser ressaltado é a composição do CCL.
O Patrimônio Líquido cobre todo o Ativo Permanente e tem uma parte
investida no Ativo Circulante.3 Essa parcela é chamada Capital Circulante Próprio
ou Capital de Giro Próprio4 e representa a parcela de capital próprio no Ativo
Circulante.
O CCL é, portanto, formado por dois tipos de recursos:

• Capital Circulante Próprio = Patrimônio Líquido - (Ativo Permanente + Realizável a


Longo Prazo).5
• Capital Circulante de Terceiros - Exigível a Longo Prazo.

Essa distinção é muito importante, porquanto o Capital Circulante Próprio


permanecerá na empresa indeterminadamente, enquanto os Capitais de Tercei-
ros de Longo Prazo têm um tempo limitado de permanência.
Apresentam-se nas Figuras 10.2 a 10.5 as diversas possibilidades de
combinação entre aplicações e origens de recursos:

3. Não se pode, a rigor, dizer que o Patrimônio Líquido esteja investido no Ativo Permanente e
que o Passivo Circulante esteja investido no Ativo Circulante. Entretanto, essa forma de
abordagem é altamente elucidativa e didática.
4. Não confundir com o antigo conceito fiscal de Capital de Giro Próprio, nem com CCL que é
denominado por alguns autores como Capital de Giro Próprio.
5. Quando o Ativo Permanente for maior que o Patrimônio Líquido, não haverá Capital Circulante
Próprio.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 281

AC - Ativo Circulante ELP - Exigível a Longo Prazo


RLP - Realizável a Longo Prazo PL - Patrimônio Líquido
AP - Ativo Permanente CCL - Capital Circulante Líquido
PC = Passivo Circulante CCP = Capital Circulante Próprio

AC PC AC PC

ELP
CCL ELP
CCL
CCP

PL
AP + RLP AP + RLP PL

AP+RLP<PL=>CCP>0; AP + RLP = PL=>CCP>0


CCL = CCP + ELP => AC> PC CCL - ELP => AC> PC

FIGURA 10.2. Capital Circulante Próprio FIGURA 10.3. Capital Circulante Pró-
maior que zero. prio igual a zero.

AC PC AC
PC
CCL
CCP (nega-
(nega- tivo)

CCL tivo) ELP


ELP

CCP
(negativo)
AP + RLP PL
PL
AP + RLP

AP + RLP>PL => CCP <0; ELP>/CCP/ AP + RLP> PL-> CCP < 0;/CCP/> ELP
CCL = ELP-CCP => CCL> 0 => AC> PC CCL - CCP - ELP CCL < 0 => AC < PC

FIGURA 10.4. Capital Circulante Próprio FIGURA 10.5. Capital Circulante Líqui-
negativo. do negativo.
282 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

CONCLUSÕES SOBRE O CCL


• O Ativo da empresa é determinado em função do volume de operações (vendas) e,
simultaneamente, de condições ditadas pelo mercado, como prazo de faturamento,
condições da atividade conjugadas com o mercado, como o período de renovação
de estoques e volume de instalações físicas. O Passivo é determinado em função
da disponibilidade de capital dos sócios, da obtenção de financiamentos de curto e
longo prazo, da praxe seguida pelos fornecedores quanto a prazo, do volume de
compras, do prazo de pagamento das despesas e da retirada de lucro dos sócios.
A composição do Passivo depende simultaneamente das possibilidades da empresa
e da capacidade dos administradores de tomar decisões adequadas, diante de
diferentes alternativas.
• Existe relação entre financiamentos e investimentos. O Ativo Permanente deve
preferencialmente ser financiado com Capital Próprio, mas é aceitável o seu finan-
ciamento, em parte, com recursos de terceiros exigíveis a longo prazo, desde que
os Recursos Gerados Disponíveis6 sejam suficientes para o pagamento das presta-
ções dos financiamentos a longo prazo e desde que o endividamento não saia fora
dos padrões aceitos pelo mercado.
• Havendo Capital Circulante em proporção adequada em relação ao Passivo Circu-
lante, pode-se dizer que há adequação entre financiamentos e investimentos de
recursos.
• É desejável que uma parcela do Capital Circulante Líquido seja constituída por
Capital Próprio (caso em que o Patrimônio Líquido é maior que o Ativo Permanente).
• Só em ramos especiais é aceitável a existência de Capital Circulante Líquido
negativo.

5 LIQUIDEZ X FLUXO DE CAIXA

Decompondo-se o índice de Liquidez Cor-


rente, é possível verificar que as suas alte-
rações não afetam o Fluxo de Caixa da
empresa.

6. Recursos Gerados Disponíveis - RGD - representam acréscimo de recursos ao Ativo


Circulante e ao CCL decorrente das operações e podem ser utilizados em aplicações, inclusive
pagamento do Exigivel a Longo Prazo, sem prejudicar a situação financeira.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 283

5.1 ANALOGIA COM UM SISTEMA DE RESERVATÓRIOS

Segundo muitos usuários, o índice de Liquidez Corrente reflete o que vai


entrar comparado ao que vai sair de Caixa.
Um índice de 1,5 significa para eles que para cada $ 1 a pagar está prevista
uma entrada em Caixa de $ 1,50.
Dessa forma, um índice de Liquidez inferior a 1,00 significa uma situação
de incapacidade de pagamento de dívidas.
Enganam-se aqueles que assim interpretam o índice de Liquidez Corrente.
Veja-se através de um gráfico como se processa o fluxo monetário numa
empresa:

Margem de Lucro: 40% s/ Vendas

480
10 por dia

Estoque 900
Duplicatas 10 por dia
Prazo de a
Renovação dos Receber
Estoques:
120 10 por dia
80 dias Prazo de
Recebimento de
Caixa
Vendas:
90 dias
Fornecedores Prazo Médio de Pagamento das
1.000 Dividas de Curto Prazo: 100 dias
Despesas a Pagar Passivo Circulante

A empresa, segundo o gráfico, teria uma entrada diária em Caixa de $ 10 e


uma saída de $ 10; portanto, um Fluxo de Caixa equilibrado. O saldo em Caixa
serve como uma espécie de amortecedor de eventuais flutuações nas entradas
e saídas.

Fluxo de Caixa

Entradas 10
Saídas 10
Variação
284 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Entretanto, o seu índice de Liquidez Corrente é de 1,5.

480 + 900 + 120


Liquidez Corrente: -1,5
1.000

Isto destrói a primeira má interpretação do índice de Liquidez, ou seja,


aquela de que para cada $ 1 a pagar deveria entrar em caixa $ 1,50. Se para
cada $ 1 a pagar entrasse $ 1,50 em Caixa, logo a empresa ficaria abarrotada
de dinheiro parado e improdutivo. Nenhuma empresa buscará fazer entrar mais
dinheiro do que deve sair de Caixa, mas o equilíbrio entre entradas e saídas.

5.2 A LIQUIDEZ E OS PRAZOS DE MOVIMENTAÇÃO DOS


ITENS CIRCULANTES

Analisa-se a seguir, pormenorizadamente, o gráfico. A empresa mantém


um estoque de $ 480, suficiente para 80 dias. A cada dia a empresa descarrega
$ 6 de estoques. Acrescentando-se a margem do lucro de 4 0 % sobre vendas,
tem-se o ingresso de 10 por dia no reservatório de Duplicatas a Receber.

$ %
Vendas Diárias 10 100
Custo das Mercadorias
Vendidas Diárias
Margem

As vendas diárias alimentam o reservatório de Duplicatas a Receber na


base de $ 10 por dia e este, por sua vez, alimenta o reservatório de Caixa na
mesma base de $ 10 por dia.
A empresa vende com um prazo médio de recebimento (concedido aos
clientes) de 90 dias. Assim, as duplicatas geradas pelas vendas permanecem
cerca de 90 dias no reservatório de "Duplicatas a Receber" e a empresa mantém
uma "armazenagem" de duplicatas de 90 dias de vendas. O fluxo de entrada e
saída nesse reservatório, porém, é constante: todo dia entram $ 10 e saem $ 10.
O Passivo Circulante funciona como se fosse um vácuo que aspira recursos,
à base de $ 10 por dia. Para preencher esse vácuo, ou seja, resgatar todo o
Passivo Circulante serão necessários recursos da ordem de $ 1.000. O prazo
médio de vencimento do Passivo Circulante é de 100 dias computando-se aí os
Salários a Pagar. os Tributos e Encargos Sociais, os Fornecedores, os Emprés-
timos Bancários de Curto Prazo e a parcela de Empréstimos de Longo Prazo
vencível a curto prazo.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 285

O Passivo Circulante é alimentado por Fornecedores - os quais também


alimentam os estoques - e por Despesas a Pagar (salários, tributos, encargos
sociais, energia elétrica, água, aluguéis etc.). Dessa forma, em cima o conteúdo
do sistema cresce com a Margem de Lucro (em moeda) e, em baixo, com as
Despesas a Pagar. Se a Margem de Lucro for maior do que as Despesas a Pagar,
haverá um excedente de Caixa que poderá ser investido fora do sistema
monetário. Se for menor, haverá falta de recursos. Entretanto, a diferença entre
a Margem de Lucro e as Despesas a Pagar só tende a ser significativa a longo
prazo, pois a curto prazo seus valores, em geral, diferem apenas ligeiramente.

5.3 A ORIGEM DAS ENTRADAS DE CAIXA

O fluxo de entrada e saída de Duplicatas a Receber decorre das vendas


diárias da empresa que exercem um bombeamento de ativação do sistema.
Qualquer que seja o prazo médio de recebimento, o reservatório de "Duplicatas
a Receber" terá o fluxo diário de $ 10 de entrada e $ 10 de saída. Apenas o nível
do reservatório, ou seja, o montante de Duplicatas a Receber é que será mais
alto ou mais baixo. Se, por exemplo, o prazo subir para 120 dias, o nível do
reservatório subirá para $ 1.200; se descer para 60 dias, o nível também descerá
para $ 600; se a empresa passar a vender a vista, o nível cairá para zero.

5.4 MUDANÇAS DE PRAZOS

Nas mudanças de prazos, e somente aí, ocorre por alguns dias alteração
do fluxo. Por exemplo, se a empresa passar dos atuais 90 para os 120 dias,
haverá um represamento de duplicatas, cujo nível de $ 900 passará para $ 1.200.
Aí, então, durante 30 dias não haverá saída de Duplicatas a Receber (e, portanto,
não haverá entradas de Caixa), ou seja, por 30 dias será fechada a saída de
Duplicatas a Receber. Mas isso só ocorrerá daqui a 90 dias, porque até então
estarão sendo recebidas as duplicatas existentes antes da alteração do prazo.
Do 91º ao 120º dia da data de ampliação do prazo, não haverá nenhuma duplicata
a receber, visto que passaram a ser emitidas com prazo de 120 dias. A partir do
121º será restabelecido o fluxo anterior de entradas e saídas de $ 10.
286 AVAUAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

5.5 FINANCIAMENTO DO ATIVO CIRCULANTE

Se a empresa elevar o nível de Duplicatas a Receber, aumentando o Ativo


Circulante, deverá obter recursos através de uma entre duas alternativas possí-
veis:

(a) Aumento do Capital Circulante Líquido mediante aumento de Capital Próprio ou de


Empréstimos Bancários a Longo Prazo.
(b) Aumento de Empréstimos Bancários de Curto Prazo.

Aumentando o Capital Líquido, haverá crescimento do Ativo Circulante sem


alteração no Passivo Circulante. Aumentando os empréstimos Bancários de
Curto Prazo, haverá simultâneo aumento de Ativo Circulante e Passivo Circulan-
te.
Se a empresa tomar empréstimos bancários de curto prazo para financiar
a expansão de Duplicatas a Receber, não poderá computar o pagamento desses
empréstimos no fluxo de caixa diário. Na realidade, não poderá pagar esses
empréstimos, mas apenas os juros, visto que não haverá aumento das entradas
diárias de caixa. Assim, toda vez que vencerem os empréstimos bancários,
deverá tomar outros de igual montante. Isto porque a expansão de Duplicatas a
Receber representa um investimento estável que requer um financiamento
estável. Somente a longo prazo, com o acúmulo de lucros, é que a empresa
poderá substituir esses empréstimos por Capital Circulante Líquido. Portanto, a
empresa deverá renovar os empréstimos bancários a cada vencimento.
No que tange aos juros, devem ser compensados com o acréscimo de lucro
decorrente do aumento do prazo médio de recebimento de vendas. Se a empresa
não conseguir essa compensação, estará cavando um buraco no qual poderá
enterrar-se.
Veja-se a seguir como ficaria o gráfico do fluxo monetário se o nível de
duplicatas for elevado para $ 1.200, diante das duas alternativas de financiamen-
to.
Quanto ao nível de estoques, pode-se dizer que não depende do volume de
vendas, mas da rapidez de reposição. Se a empresa conseguisse repor no início
de cada dia aquilo que vai vender, poderia trabalhar com estoque zero. Por
enquanto, será mantido no mesmo nível original.
Como se pode verificar, o índice de Liquidez Corrente se alterou, tanto para
mais (primeira alternativa), quanto para menos (segunda alternativa) em relação
à posição original. Enquanto isso, o Fluxo de Caixa permaneceu inalterado.
Aumento do Prazo de Recebimento para 120 dias financiado com Aumento do Prazo de Recebimento para 120 dias financiado com
Capital Circulante Líquido. Empréstimos Bancários de Curto Prazo.

Lucro Lucro

10 por dia 10 por dia

480 480
Estoque Estoque
10 por dia 10 por dia
1.200 1.200
10 10
Duplicatas Duplicatas
por por
a Receber a Receber
dia dia
120 120
Prazo de
Recebimento de
Caixa
Vendas:
120 dias

1.000 1.300
Passivo Circulante Passivo Circulante
480 + 1.200 + 120
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS

Liquidez Corrente: 1,38


1.300
480 + 1.200 + 120
Liquidez Corrente: 1,8 Fluxo de Caixa Diário
1.000
Entradas 10
Fluxo de Caixa Diário
Saídas 10*
Entradas 10
10 Variação de Caixa
Saídas

Variação de Caixa 0 * Não computados os empréstimos bancários, pois, como foi dito, quando a empresa paga
um, toma outro de igual montante.
287
288 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

5.6 A PA DE CAL NOS VELHOS CONCEITOS

Partindo das condições originais, suponha-se, agora, que a empresa con-


siga uma grande redução no prazo médio de recebimento de vendas, através de
novas estratégias de mercado, baixando-o para 30 dias. Com isso, o volume de
Duplicatas a Receber se reduz para $ 300. Partindo do nível original de $ 900,
há uma redução de $ 600, que acaba sendo desovada no Caixa. Isto porque a
partir do 30º dia da alteração há o recebimento das vendas já feitas sob as novas
condições. Enquanto isso, as vendas com prazo de recebimento de 90 dias serão
recebidas até o 90 s dia. Assim, do 31º ao 90º há uma entrada adicional de $ 10
por dia em Caixa que resulta num excedente acumulado de $ 600 = 60 dias x 10.
Suponha-se que a empresa aplicou esse excedente no Ativo Permanente.
Considere-se ainda que, através de racionalização nos métodos de estocagem
e compra, a empresa tenha conseguido reduzir o prazo de estocagem para 30
dias. Como a empresa consome $ 6 por dia de estoques, o nível deste será de
$180 =30 x $ 6 .
Admita-se, por fim, que o Passivo Circulante se tenha mantido inalterado.
(Num primeiro momento, haverá redução de Fornecedores devido à redução dos
estoques, mas logo em seguida Fornecedores voltará ao saldo original, pois este
depende do prazo de pagamento e do Fluxo de Compras que se manteriam
inalterados. O tempo necessário para esta recomposição corresponde à soma
do prazo de pagamento a Fornecedores com a diferença entre o prazo anterior
e o atual de estocagem.)
Após isso, o gráfico do Fluxo Monetário fica assim:

Lucro

10 por dia

Estoque 180
10 por dia
300
Prazo de renovação Duplicatas
do estoque: 30 dias a Receber 10 por dia
Prazo de Recebimento
de Vendas:
30 dias Caixa 120

Prazo de Pagamento do 1.000


Passivo Circulante: 100 dias Passivo Circulante
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 289

A Liquidez Corrente a esta altura passa de 1,5 para 0,60.

180 + 300 + 120


Liquidez Corrente: = 0,60
1.000

Enquanto isso o Fluxo de Caixa permanece inalterado:

Fluxo de Caixa Diário


Entradas 10
Saídas 10
Variação de Caixa 0

Isto prova que o índice de Liquidez Corrente não é um índice de Caixa e que
uma empresa pode perfeitamente operar com índice de Liquidez Corrente inferior
a 1,00.
Suponha-se, para reforçar, que a empresa passe a vender a vista e a manter
estoques para apenas dez dias, sem alterar o Passivo Circulante.
Os estoques passam para $60 = 1 0 x $ 6 e as Duplicatas a Receber para
zero.7
O índice de Liquidez Corrente passa para 0,18:

60 + 0 + 120
Liquidez Corrente: = 0,18
1.000

Entretanto, o Fluxo de Caixa permanece idêntico, ou seja, entram $ 10 e


saem $ 10 por dia.
Teoricamente uma empresa pode operar com Liquidez Corrente igual a
Zero.

5.7 INTERPRETAÇÃO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ

Se um analista estiver analisando o balanço de uma empresa e se deparar


com um índice de Liquidez inferior a 1,00, não deve, em princípio, considerá-la
sem condições de pagar suas dívidas em dia.
Não se pode concluir daí que o índice de Liquidez Corrente nada tem que
ver com a situação financeira da empresa. Isto não é verdade. O índice de

7. A redução do valor atualmente investido em Duplicatas a Receber geraria um excedente de


caixa que a empresa investiria em Ativo Permanente.
290 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Liquidez Corrente tem muito que ver com a situação financeira da empresa. Mas
como isso acontece se foi demonstrado que esse índice nada tem que ver com
o Fluxo de Caixa?
Talvez a resposta fique mais clara com a apresentação de índice de Liquidez
Corrente pelo avesso.

5.8 ANALISE PELO AVESSO

Por exemplo, na situação original o índice de Liquidez Corrente era de 1,5.


O inverso disso é:

= 0,666 ou 66,6%

Isto significa que 66,6% do Ativo Circulante estão comprometidos com o


Passivo Circulante e que, portanto, 33,3% independem totalmente desse passi-
vo. Este é o grau de liberdade da empresa: 33,3% do investimento no Ativo
Circulante. Se por quaisquer problemas (conjunturais, de mercado, produto,
legislação) os créditos do Passivo Circulante vierem a flutuar, pelo menos 33,3%
independem totalmente desses créditos. Esses 34% são provenientes do Capital
Circulante Líquido.
É importante nesta altura conhecer também a decomposição do financia-
mento do Ativo Circulante. Sabe-se que 66,6% são financiados pelo Passivo
Circulante. Mas qual a composição desse Passivo Circulante?
Dentro do Passivo Circulante, encontram-se basicamente três tipos de
créditos:

• Fornecedores.
• Despesas a Pagar.
• Bancos.

Os primeiros, dentro de certos níveis não sujeitos a grandes alterações,


estão dispostos a continuar a financiar a empresa, pois concedem automa-
ticamente financiamento cada compra efetuada por esta.
Os segundos, representados por empregados, governo, prestadores de
serviços, locatários, representam financiamento praticamente certo.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 291

Restam por último os bancos onde a empresa não encontra nem certeza
da manutenção do nível de financiamento em moeda estável, nem dos aumentos
nominais para compensar as desvalorizações devidas à inflação. A falta de
certeza na renovação de empréstimos pode levar a empresa a sérias dificuldades
de pagamento. (Veja a propósito "Risco dos Empréstimos Bancários", item 9,
neste capítulo.)
Por isso, é importante subdividir o percentual de financiamento do Ativo
Circulante, conforme Figura 10.6.

CCP

Valores
%
Absolutos
CCL

Valores
%
Absolutos
ELP

Valores
%
Absolutos

Ativo Circulante

Valores
% Fornecedores
Absolutos
Valores
%
Absolutos

PC Despesas a pagar

Valores Valores
% %
Absolutos Absolutos

Bancos

Valores
%
Absolutos

FIGURA 10.6. Árvore das fontes do Ativo Circulante.

Voltando ao exemplo em que a Liquidez Corrente era de 1,50 e o seu inverso


de 66,6%, tem-se que os 33,3% do Ativo Circulante financiados pelo Capital
Circulante Líquido equivalem a 50% ou 0,5 do Passivo Circulante, que é o quanto
excede de 1,00 o índice de Liquidez Corrente.
292 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Assim, o valor de 1,5 da Liquidez Corrente pode ser interpretado da seguinte


forma: os créditos tomados a curto prazo (Passivo Circulante) acham-se aplica-
dos no Ativo Circulante no qual a empresa possui ainda investidos recursos de
outras fontes (Não Correntes) que equivalem a 50% dos créditos de curto prazo
e que representam a liberdade da empresa em relação a esses créditos.
Na situação em que a empresa tinha índice de Liquidez Corrente de 0,60,
o inverso desta será:

= 1,66 ou 166%

que mostra que a empresa não tem nenhuma liberdade em relação a créditos de
curto prazo, os quais financiam 1,66% do investimentos no Circulante (possivel-
mente, o Ativo Permanente também depende desses créditos de curto prazo).
O índice de Liquidez Corrente de 0,60 deve ser assim interpretado: a
empresa tem uma insuficiência de investimentos no Ativo Circulante de $ 0,40
para cada $ 1,00 de crédito de curto prazo; esta insuficiência é motivada por
aplicações desses recursos no Ativo Permanente, razão por que a empresa não
tem nenhuma liberdade em relação aos recursos que os credores de curto prazo
suprem.
Assim, a empresa depende excessivamente dos credores de curto prazo.
Pode-se dizer que está na mão desses credores. E se resolverem reduzir o
crédito da empresa, como ficará o seu giro? De duas uma: ou a empresa reduz
o ritmo de seus negócios, o que poderá ser ruinoso, ou, pura e simplesmente,
não paga seus credores, e fatalmente surgirá uma situação de insolvência.

A vida da empresa passa a depender de terceiros e a sua continuidade


torna-se ameaçada. Não raras empresas foram à insolvência exatamente por
isso.
Não é difícil, embora trabalhoso, mostrar que de duas empresas do mesmo
ramo, com o mesmo fluxo de caixa, a que tem maior índice de liquidez encontra-
se em melhores condições de enfrentar as adversidades decorrentes da flutua-
ção de vendas (que altera as entradas no fluxo de caixa) ou de prazos de
fornecedores (que altera as saídas no fluxo de caixa).
Em síntese, a empresa pode operar com qualquer liquidez que seu fluxo de
caixa será o mesmo enquanto as vendas não se alterarem. Entretanto, quanto
maior o índice de Liquidez Corrente maior a independência da empresa em
relação aos credores e maior a sua capacidade de enfrentar crises e dificuldades
inesperadas.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 293

6. FALÁCIAS DE LIQUIDEZ

Alta Liquidez não é má administração.

É muito comum ouvir falar entre executivos financeiros que uma liquidez
alta é tão indesejável como uma baixa, que é sinal de má administração financeira
e que a empresa está perdendo dinheiro com a inflação.
Em primeiro lugar, uma liquidez alta (refere-se normalmente ao índice de
Liquidez Corrente) pode decorrer tanto de excesso de Recursos Não Correntes
no Ativo Circulante (e por excesso entendam-se recursos que estariam melhor
aplicados no Ativo Permanente ou em outra empresa), quanto de pequeno
Passivo Circulante
É obvio que, se houver excesso de Recursos Não Correntes aplicados no
Ativo Circulante, como excesso de Estoques e de Duplicatas a Receber decor-
rentes de uma administração má desses itens, estaremos diante de uma liquidez
indesejável, que certamente contribui para a redução da rentabilidade da empre-
sa.
Entretanto, se o índice de Liquidez Corrente decorre de baixo Passivo
Circulante, poderá ser indício de sábia administração que evita despesas finan-
ceiras de empréstimos bancários - principalmente num país como o Brasil, onde
historicamente tais empréstimos sempre tiveram custo elevado - ou que obtém
significativos descontos de fornecedores com pagamento a vista.
Quanto à perda de dinheiro com a inflação, leve-se em conta que os
estoques em geral não perderam com a inflação e que, se a empresa optasse
por ter mais empréstimos bancários de curto prazo, por exemplo, em vez de
capitais próprio, teria de ressarcir o banqueiro do custo da inflação além de pagar
juros.
Por último, lembre-se que a Liquidez Corrente pode ser alta em função de
Empréstimos de Longo Prazo em vez de créditos de curto prazo.
Em resumo, alta liquidez, além de indicar boa situação financeira, pode até
ser do aumento da rentabilidade, embora não esteja afastada a hipótese de haver
recursos ociosos.
Este último, porém, seria um caso de má administração de Ativos Circulan-
tes (em valores absolutos) que se reflete na liquidez, e não propriamente um caso
em que a alta liquidez é desfavorável.
294 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

6.1 LIQUIDEZ IGUAL A 2,00

Na ausência de padrões e de conhecimentos de como construí-los e


empregá-los na Análise de Balanços, surgiu nos Estados Unidos o conceito de
que a Liquidez Corrente indicaria sólida situação financeira se estivesse acima
de 2,00. Rapidamente a idéia difundiu-se por outros países mercê de artigos e
livros que pregavam tal idéia. Pelo que foi exposto, pode o leitor estar plenamente
convicto de que essa idéia, muito mais mística do que científica, está totalmente
ultrapassada.

6.2 CALCULO DO ESTOQUE PELO VALOR DE REALIZAÇÃO

O Ativo Circulante compreende estoques pelo preço de custo. Muitas


pessoas pensam que seria mais adequado se o valor do custo fosse substituído
pelo de realização, isto é, pelo preço de venda. Acontece que até as vendas se
realizarem ocorrerão despesas a pagar que, por sua vez, também não se acham
registradas no Passivo Circulante. Em geral há um diferencial positivo entre a
margem bruta que se acrescerá aos estoques e as despesas a pagar que serão
levadas ao Passivo Circulante. Entretanto, nem há certeza de que o diferencial
será positivo nem costuma ele ser significativo, visto que o percentual de lucro
líquido (antes da depreciação) em geral é pequeno.

6.3 LIQUIDEZ E PRAZOS MEDIOS

Erro freqüentemente cometido na apreciação do índice de Liquidez Corrente


é conjugá-lo com prazos médios de recebimento e pagamento. O Fluxo de Caixa,
exceto no que se refere a empréstimos bancários, tende a ser o mesmo com
qualquer índice de Liquidez Corrente e qualquer prazo de recebimento e paga-
mento. Os referidos prazos apenas determinam o volume de investimentos em
Duplicatas a Receber (função do prazo médio de recebimento de vendas) e de
financiamento de Fornecedores (função do prazo médio de pagamento de
compras).
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 295

7. LIMITE DE ENDIVIDAMENTO

Não existe uma fórmula para medir o endi-


vidamento global, mas certos conceitos po-
dem levar às dimensões suportáveis das
diversas categorias de dívidas.

7.1 SUBDIVISÃO DAS DIVIDAS

Uma questão que tem intrigado analistas, estudiosos, executivos e empre-


sários é: qual o limite de endividamento de uma empresa?
Muitas tentativas de respondê-la têm surgido, seja tomando-se a média de
endividamento das empresas, seja comparando-se as dívidas totais, ora com o
lucro, ora com o Capital Circulante Líquido etc.
Na realidade, quando sé fala em endividamento, não podem as dívidas ser
consideradas como um bloco monolítico. É preciso subdividi-las em pelo menos
três categorias, a saber:

- Créditos de funcionamento: são os créditos de fornecedores, salários, impostos,


encargos sociais e despesas a pagar, como: aluguéis, seguros, água, energia,
propaganda etc.
- Financiamentos: são recursos obtidos em instituições financeiras privadas ou
oficiais para financiamento de aplicações específicas no giro ou no Ativo Permanen-
te.
- Empréstimos bancários: são créditos obtidos junto a instituições financeiras a curto
prazo ou a pouco mais de um ano.

Para cada categoria de dívida existe um limite: O limite global de dívidas é


a soma dos limites individuais.
Veja-se a seguir como chegar ao limite de cada categoria.

7.2 CRÉDITOS DE FUNCIONAMENTO

A empresa pode assumir esses créditos até o limite em que os pagamentos


fiquem ligeiramente aquém das entradas de caixa decorrentes do recebimento
das vendas. Como foi exposto no item 5, "Liquidez x Fluxo de Caixa", as entradas
296 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

de caixa decorrem das vendas diárias. Assim, se a empresa tem uma venda
diária de $ 10, há uma entrada média de caixa de $ 10. O prazo médio de
recebimento de vendas atua apenas como retardador das entradas de caixa.
Assim, as entradas de caixa de hoje são as vendas de 90 dias atrás, se este for
o prazo, e as vendas de hoje entrarão em caixa daqui a 90 dias. O importante é
que há um fluxo contínuo de entradas em caixa decorrentes de vendas. Se a
entrada diária for de $ 10, a empresa poderia contar, por exemplo, com alguma
coisa em torno de $ 9 para pagar os créditos de funcionamento. O restante a
empresa deveria acumular para recompor investimientos que se vão deprecian-
do, para novos investimentos, para repor o Capital Circulante Próprio consumido
pela inflação e para amortizar Financiamentos de Longo Prazo. Os créditos de
funcionamento não tendem a oscilar consideravelmente, a não ser no item
"Fornecedores". É aí, pois, que a empresa deve tomar cuidado de nunca comprar
além do que está absorvido pela produção e vendido, pois do contrário irá
provocar um fluxo de pagamentos superior ao de entradas de Caixa, ainda que
por um breve período.
Suponha-se que o pagamento médio diário se distribua assim:

• 5,00 para cobrir fornecedores;8


• 4,00 para cobrir despesas a pagar.

Suponha-se ainda que os prazos médios obtidos para pagamentos sejam:

• 90 dias para fornecedores;


• 45 dias para as demais obrigações.

O endividamento assumível pela empresa no item "Créditos de Funciona-


mento", será:

90X5,00 = 450,00
45X4,00 = 180,00
630,00

7.3 FINANCIAMENTOS

Os financiamentos são recursos que a empresa utiliza por certo tempo,


durante o qual deve efetuar a devolução dos mesmos em parcelas.

8. Pagamento diário - 5. Nos casos de fornecedores, deve corresponder à compra média diária
de $ 5 e ao custo médio diário de $ 5.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 297

Normalmente os financiamentos são tomados para suportar a expansão da


empresa, seja no Ativo Circulante, seja no Permanente ou quando do início de
atividades, para a empresa atingir determinado nível de operações que a torne
economicamente viável.
Os financiamentos têm sempre um prazo de amortização, em prestações
mensais, semestrais ou anuais, podendo ou não incluir um período de carência.
Espera-se que qualquer financiamento seja paulatinamente amortizado, parte
com os lucros gerados pelo investimento e parte pelo retorno de caixa obtido com
a depreciação nos custos.
Por exemplo, suponha-se que uma empresa adquira um equipamento que
proporcione os seguintes resultados mensais.

Receita 2.000
Despesas 1.600
Depreciação 200
Lucro 200

A empresa pode, teoricamente, assumir uma dívida cujas prestações men-


sais, incluídos juros e amortização, seja de $ 400 (que é a soma do lucro +
depreciação), pelo prazo em que o equipamento é capaz de manter essa
lucratividade. Se este prazo for de 60 meses, o financiamento assumível é igual
ao valor presente de uma renda de $ 400, durante 60 meses.

onde: VFi = Valor do Financiamento


P = Prestação
i = Taxa de juros mensal
Considerando:
i = 1,00%a.m.
P = 400,00
o Valor do Financiamento será:
VFi = 17.982,00

No caso de o financiamento destinar-se ao Ativo Circulante, o processo seria


análogo, evidentemente, sem a depreciação.
298 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Entretanto, leve-se em conta o risco de um investimento empresarial, ou


seja, a incerteza da receita, das despesas e conseqüentemente do lucro.
Assim, antes de se aplicar a fórmula acima, verifique-se qual a probabilidade
de as receitas e despesas se comportarem conforme o esperado. Além disso,
levem-se em conta as flutuações decorrentes das alterações conjunturais.
É possível até que a receita e o lucro esperados venham a ser suplantados,
como é possível que ambos fiquem aquém do esperado.
A empresa não pode assumir compromissos pelo máximo lucro atingível,
nem pela média, mas pelo mínimo obtenível com uma probabilidade superior a
determinado percentual, como 90% ou 95%, por exemplo, ainda assim, quando
nos 10% ou 5% de probabilidade de não ocorrer o lucro mínimo, puder recorrer
a outros recursos para pagar suas prestações, tais como encaixes provisórios
decorrentes de redução de despesas de pesquisa, propaganda, treinamento,
programas sociais etc., reduções que, embora prejudiciais, são menos nefastas
que a inadimplência.
Isso tudo são estimativas que a empresa deve fazer, pois do contrário
assumirá compromissos no escuro.
Infelizmente, não existe fórmula para adivinhar o futuro, e o máximo que se
pode fazer são alguns exercícios lógicos, baseados em suposições.
As Figuras 10.7,10.8 e 10.9 ilustram possíveis comportamentos de receitas,
despesas e lucro.

Máximas
Médias

Mínimas

Mês
1 2 3 4I 5 6 7

FIGURA 10.7. Comportamento esperado das receitas.

Para cada nível de vendas podem-se ter três níveis de despesas, ou seja,
máxima, média e mínima. Juntando essas hipóteses de receitas com despesas,
obtêm-se três níveis de lucro.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 299

Máximo
Médio
Mínimo
Mês

FIGURA10.8. Lucro antes da depreciação.

Somando-se ao nível mínimo de lucro as despesas que eventualmente a


empresa poderia cortar, chega-se à prestação mínima assumível pela empresa.

Lucro mínimo + Despesas contábeis/Prestação assumível

mês

FIGURA 10.9. Lucro antes da depreciação + despesas cortáveis e prestação assumí-


vel.

Esse raciocínio conduz a uma estimativa da prestação assumível em


determinado financiamento. Se existir mais de um financiamento, para cada
caso, deve-se proceder da forma como foi descrito e somar os resultados,
tomando o cuidado de verificar até que ponto um financiamento não interfere no
outro, como, por exemplo: num segundo financiamento será que haveria despe-
sas cortáveis? Até que ponto a receita do primeiro investimento não afeta as do
segundo? Não existem deseconomias de escala?

De fora da empresa é possível um cálculo muito superficial, relacionando-se


o Lucro Líquido ajustado (Lucro Líquido mais despesas não desembolsáveis)
com os financiamentos já tomados, o que daria uma idéia aproximada de
300 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

adequação entre os financiamentos assumidos e a capacidade de geração de


recursos pela empresa. Por exemplo:

Lucro Líquido Ajustado: 2.800


Financiamentos Existentes: 14.000
14.000
Prazo de Amortização de Financiamentos:
2.800

Segundo os dados do último exercício, a empresa teria condições de pagar


seus financiamentos em cinco anos. Se estes vencerem em prazo superior, em
princípio a empresa terá perspectivas de plena liquidez. Se vencerem em prazo
menor do que isso, algo precisará ser feito para mudar o rumo das coisas.

7.4 EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS

Os créditos obtidos sob esta modalidade destinam-se a complementar o


financiamento do Ativo Circulante.
Veja-se na Figura 10.10 como esses créditos se encaixam no Passivo.

Créditos de
Funcionamento

Empréstimos
Bancários
Ativo
Circulante Exigível a
Longo Prazo

Patrimônio
Liquido
Ativo
Permanente

FIGURA10.10. Empréstimos bancários no financiamento da empresa.

Os empréstimos bancários exercem papel residual, ou seja, financiam uma


parcela do Ativo Circulante que as demais fontes de recursos - Patrimônio
Líquido, Exigível a Longo Prazo e Créditos de Funcionamento - não conse-
guiram financiar.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 301

Como se vê na Figura 10.10, os empréstimos bancários não podem ser


retirados, a não ser que a empresa ocupe o seu espaço, ou seja, substitua-os
por outro tipo de financiamento.
Assim, não há como nem por que falar em pagá-los. Simplesmente não
podem ser pagos porque são uma fonte permanente de financiamento. É o caso
típico da dívida que não se paga; administra-se, isto é, renova-se.
Aliás, nesta última palavra resume-se a inadequadação com que tanto
banqueiros como empresários vêem esse tipo de crédito.
O banqueiro no Brasil ignora, por conveniência ou desinteresse, que o
financiamento do Ativo Circulante não é um dinheiro que se concede e se pede
em devolução dentro de 30, 60 e 90 dias. E o empresário, salvo honrosas
exceções ou aqueles bem assessorados, ingenuamente acredita que, pagando
o empréstimo dentro de 30,60 ou 90 dias, está liquidando suas dívidas.
Empréstimos bancários ou vêm para ficar ou é melhor não virem: eis um
dos princípios da boa administração financeira.
Assim, o limite de empréstimos bancários é aquilo que a empresa com
segurança pode renovar. Em regra, o que não puder renovar, não deve nem ser
tomado.
Se o que puder renovar com certeza é insuficiente para financiar o Ativo
Circulante, a empresa deve encontrar outra fonte de financiamento ou reduzir
suas aplicações no Ativo.

8 OS DIFERENTES ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO

Os diferentes índices que medem o endivi-


damento não são igualmente informativos.

O índice de Participação de Capitais de Terceiros, que também pode ser


chamado índice de endividamento, costuma aparecer em publicações sob fór-
mulas ligeiramente diferentes das que são apresentadas aqui.
Lamentavelmente algumas pessoas acabam confundindo-se, como acon-
teceu com um jornalista que, comparando o índice de Participação de Capitais
de Terceiros de empresas brasileiras com o de empresas americanas, tomou
para as brasileiras a relação Capitais de Terceiros/Patrimônio Líquido e para as
americanas a relação Capitais de Terceiros/Passivo; chegou à falsa conclusão
de que as empresas brasileiras se achavam inúmeras vezes mais endividadas.
302 AVAUAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Há também autores que utilizam simultaneamente vários tipos de índices


de Participação de Capitais de Terceiros sob denominações diferentes, o que,
além de confundir o leitor, representa um trabalho inútil.
No fundo, o que se deseja com o índice de Participação de Capitais de
Terceiros é medir a relação existente entre Capital de Terceiros e Capital Próprio.
Os índices possíveis de participação de capitais de terceiros são:

1.

2.

3.

4.

onde: CT » Capitais de Terceiros


PL • Patrimônio Líquido
A - Ativo
P - Passivo

Veja-se, através de um exemplo, o significado de cada um e a vantagem


daqueles que propomos, ou seja, o índice cuja fórmula é C T / PL.

BALANÇO INICIAL BALANÇO FINAL

A 12.000 CT 8.000 A 24.000 CT 18.000


PL 4.000 PL 6.000
12.000 24.000

8.000 18.000
CT/PL = = 200% = 300%
4.000 6.000

8.000 18.000
CT/A = = 66% = 75%
12.000 24.000

4.000 6.000
PL/CT = = 50% = 33%
8.000 18.000

12.000 24.000
A/CT = = 150% = 133%
8.000 18.000
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 303

• O primeiro tipo, CT/PL, passou de 200% para 300%, chamando a atenção do analista
e do usuário para um aumento de 100 pontos no índice de endividamento. Mostra
grande sensibilidade na evidenciação do aumento de endividamento da empresa.
• O segundo índice mostra no balanço inicial que 66% dos recursos investidos foram
supridos por terceiros. Esse índice se elevou para 75% no balanço final. A alteração
de 66% para 75%, se analisada por um especialista, é relevante, porém não chama
a atenção para uma alteração significativa do grau de endividamento da empresa.
Isto porque no denominador desse índice temos o Ativo ou o Passivo. Ora, sendo
Passivo o resultado da soma de capitais de terceiros e do Patrimônio Líquido, quando
cresce o endividamento da empresa, cresce tanto o numerador quanto o denomina-
dor da fração, embora aquele mais que este. O cômputo dos capitais de terceiros
no denominador acaba deixando este índice quase insensível aos aumentos de
endividamento.
• O terceiro e o quarto índices são igualmente indicadores pouco sensíveis ao aumento
de endividamento.

Essa é a razão da nossa preferência pelo primeiro índice. Observe bem o


leitor que qualquer desses quatro índices traz informações de mesma natureza.

9 O RISCO DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS

Financiar ativos constantes com emprésti-


mos inconstantes pode complicar a situa-
ção financeira.

9.1 DEPENDÊNCIA E RISCO

No item 5, "Liquidez x Fluxo de Caixa", ficou dito que uma empresa pode
perfeitamente operar com Liquidez Corrente abaixo de 1,00. Para isto é neces-
sário que o Passivo Circulante se renove constantemente.
Essa renovação é praticamente automática no que refere-se aos créditos
de funcionamento - fornecedores, salários, encargos sociais, tributos -, pois
essas obrigações decorrem das próprias operações. Ao comprar, produzir,
vender, administrar, a empresa gera automaticamente obrigações a pagar. O
prazo obtido para pagamento destas constitui um financiamento com que a
empresa conta permanentemente.
304 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

No que se refere, porém, aos empréstimos bancários, incluso o desconto


de duplicatas, a conversa é diferente. Nada garante a renovação. Para conse-
gui-la a empresa é obrigada a manter reciprocidade, comprar ações, seguros,
gastar horas de conversações, manter cadastro impecável para muitas vezes ver
frustradas a expectativa da simples renovação de um empréstimos. Observe-se
que da inflação persistente a pura renovação é insuficiente para manter, em
termos reais, o nível de financiamentos e, portanto, a capacidade de pagamento.
A não-renovação dos empréstimos bancários é uma autêntica "rasteira" na
administração financeira da empresa.
Assim quanto maior a dependência aos bancos, maior o risco de uma
empresa.

9.2 QUATRO ÍNDICES DE DEPENDÊNCIA BANCARIA

Em vista disso apresenta-se quatro índices que visam medir o grau de


dependência aos bancos. São eles:

I - Financiamento de Ativo por instruções de crédito:

Empréstimos e Financiamentos de Instituições de Crédito


Fórmula: x100
Ativo Total

Indica: qual o percentual dos investimentos totais financiado pelas Instituições de crédito.

Exemplo: (baseado nos dados da Cia. BIG do Capítulo 3).

CIA. BIG

19x1 19x2
Duplicatas Descontadas 10.100 20.226
Empréstimos Bancários (Curto Prazo) 2.294 8.061
Empréstimos e Financiamentos (Longo Prazo) 10.920 60.120
Total de Financiamentos das Instituições de Crédito 23.314 88.407
Ativo 94.698 204.581
Financiamento do Ativo por
Instituições de Crédito 24% 43%
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 305

II - Participação de instituições de crédito no endividamento


da empresa:

Financiamento de Instituições de Crédito


Fórmula: x100
Capitais de Terceiros

Indica: qual o percentual de participação das instituições de crédito no total de recursos tomados
junto a terceiros.

Exemplo:

19x1 19x2

Total de Financiamentos das Instituições de Crédito 23.214 88.407

Capitais de Terceiros 57.500 132.322

Participação de Instituições de Crédito no Endividamento


da Empresa 40% 66%

III - Financiamento de Ativo Circulante por instituições de créditos a


curto prazo:

Financiamento de Instituições de Crédito a Curto Prazo


Fórmula: x100
Ativo Circulante

Exemplo:

19x1 19x2

Duplicatas Descontadas 10.100 20.226

Empréstimos Bancários (Curto Prazo) 2.294 8.061

Financiamento de Instituições de Crédito a Curto Prazo 12.394 28.287

Ativo Circulante 68.100 116.522

Financiamento de Ativo Circulante por Instituições de


Crédito a Curto Prazo 18% 24%
306 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

I V - Nível de desconto de duplicatas:

Duplicatas Descontadas
Fórmula: X100
Duplicatas a Receber

Indica: qual o percentual das Duplicatas a Receber descontadas junto aos bancos.

Exemplo:

19x1 19x2

Duplicatas Descontadas 10.100 20.226


Duplicatas a Receber 36.322 57.641
Nível de Desconto de Duplicatas 27% 35%

I n t e r p r e t a ç ã o d o s índices de r e l a c i o n a m e n t o b a n c á r i o . A Cia. BIG


a u m e n t o u c o n s i d e r a v e l m e n t e s u a d e p e n d ê n c i a à s instituições d e créditos d e
19x1 para 19x2. E n q u a n t o n o primeiro a n o m e n o s d e 2 5 % d o s recursos e r a m
supridos p e l a s instituições de crédito, no a n o seguinte e s s e p e r c e n t u a l atingiu a
m a r c a de 4 3 % . Em relação aos Capitais de Terceiros, a e m p r e s a viu subir a
participação d a s instituições d e crédito d e 4 0 % p a r a 6 6 % . C o m p a r a n d o o s
índices de relacionamento bancário da Cia. BIG c o m índices m é d i o s do r a m o de
atividade o b t é m - s e :

Índices Índices da
Padrão Cia. BIG

19x1 19x2 19x1 19x2


• Financiamento de Ativo por Instituições de Crédito: 20% 22% 24% 43%
• Participação das Instituições de Crédito no Endividamento: 37% 38% 40% 66%
• Financiamento de Ativo Circulante por Instituições de
Créditos a Curto Prazo: 18% 25% 18% 24%
• Nível de Desconto de Duplicatas: 20% 22% 27% 35%

Em vista disso, pode-se considerar e x c e s s i v a a d e p e n d ê n c i a global às


instituições de crédito.

Nota: Nos mais recentes estudos sobre previsão de falência, os índices de relacionamento
bancário surgiram, entre os principais indicadores, em substituição a índices tradicionais.
Vejam-se, a propósito, as Fórmulas de previsão de falências apresentadas por Matias e
Pereira (Capítulo 7).
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 307

10 ÍNDICES DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES

Diferentemente dos índices de avaliação de situação econômica e financei-


ra, os índices de avaliação de ações - que serão chamados daqui em diante
"Índices de Bolsa - objetivam avaliar exclusivamente a viabilidade de investi-
mentos em ações de determinada empresa.
Infelizmente, o mercado acionário no Brasil é inoperante por diversos
motivos: imaturidade dos empresários, falta de seriedade de alguns corretores,
casuísmo e superficialidade de atos governamentais e falta de informações ao
público investidor. Por essas razões, o mercado acionário é um barco à deriva,
navegando a sopros de especulações, manipulações e escândalos.
Dentro desse clima, a avaliação técnica de ações parece algo fora da
realidade, quando deveria ser a base para a verdade.
Os índices de Bolsa tomam em conta dados obtidos das negociações de
ações nas Bolsas de Valores - como cotação, negociabilidade de ações - e
dados das demonstrações financeiras.
A análise através de Índices de Bolsa serve para mostrar elementos
quantitativos e objetos a respeito de ações. Entretanto, o mercado acionário é
algo extremamente complexo, no qual interferem inúmeros fatores de ordem
conjuntural, psicológica, monetária etc.
Assim, a análise de ações dos Índices de Bolsa é apenas um dos múltiplos
aspectos a serem levados em conta na avaliação de ações.

10.1 VISÃO GERAL DOS ÍNDICES DE BOLSA

Os Índices de Bolsa podem ser agrupados em três categorias:

• Índices de avaliação patrimonial.


• Índices de avaliação econômica das ações.
• Índices de avaliação monetária das ações.

Faz parte da primeira categoria o índice de Valor Patrimonial de Ações -


VPA -, o qual mostra quanto vale cada ação em termos de patrimônio líquido,
ou seja, que fatia do patrimônio líquido cabe a cada ação. A idéia desse índice é
muito simples: a empresa possui um patrimônio líquido que pertence a seus
acionistas segundo a quantidade de ações possuídas. Daí calcula-se quanto do
patrimônio líquido cabe a cada ação. Entretanto, o valor de uma ação no mercado
pouco tem que ver com o valor do patrimônio líquido da ação, mas muito mais
com a capacidade de geração de lucros e dividendos.
308 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Os índices de avaliação econômica procuraram mostrar, sob diversos


ângulos, qual o lucro do acionista.
Primeiramente, o índice de Lucro por Ação - LPA - indica quanto do lucro
da empresa corresponde a cada ação. Este índice isolado, entretanto, pouco
significa, pois é preciso saber quanto o investidor pagou pela ação, já que o seu
preço flutua livremente de acordo com as forças de mercado.
Os dois índices seguintes, Preço sobre Lucro por Ação -PL-e Rentabili-
dade da Ação - RDA -, mostram exatamente a relação entre o lucro por ação e
o preço desta no mercado. Destes dois, o PL mostra quantos anos o investidor
deve esperar para conseguir acumular um lucro por ação igual ao investimento
efetuado.
O segundo, o RDA, mostra qual o percentual anual de rentabilidade do
investidor. Esta taxa, em princípio, seria comparável ao de outros rendimentos
do mercado.
Ocorre, porém, que, enquanto em qualquer rendimento de aplicação de
capital o investidor realiza o seu lucro em dinheiro, nos investimentos em ações
o lucro fica retido na empresa em sua maior parte.
A Lei das S.A. permite que os dividendos sejam pagos conforme esteja
fixado no estatuto, como porcentagem do lucro ou do capital, desde que não
sujeite os acionistas minoritários ao arbítrio da maioria.9
Assim, o investidor só consegue realizar monetariamente uma parte dos
lucros que a empresa auferiu. Por isso, são muito importantes os índices de
avaliação monetária das ações, que constituem a terceira categoria dos Índices
de Bolsa.
Inicialmente, há o índice de Dividendo por Ação - DPA - que mostra quanto
cada ação rende em cruzeiros reais embolsados pelo proprietário.
Em seguida surge o índice de Retorno de Caixa - RC - que mostra quanto
o investidor recebe em dinheiro para cada $ 100 investidos na aquisição de
ações.
O último índice mostra qual a relação entre o lucro do acionista e aquilo que
recebe monetariamente da empresa, ou seja, quanto por cento o seu lucro é
convertido em moeda. É o chamado índice Caixa/Rentabilidade da Ação -
C/R DA.

9. A obrigatoriedade de pelo menos 25% do Lucro Líquido serem pagos como dividendos só
existe quando o estatuto for omisso e a assembléia geral deliberar introduzir cláusula sobre
dividendos.
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 309

Este índice é de grande importância para o entendimento do que é o


investimento em ações. Particularmente no caso brasileiro, pode-se, através
desse índice, dar alguma explicação para o subdesenvolvimento do mercado de
ações.

O investimento em ação, em circunstâncias normais, deve ser o de maior


rentabilidade entre as opções de aplicação em títulos no mercado.

É fácil explicar.

O investimento em ação é o único a participar diretamente dos resultados


das empresas (as quais são agentes geradores de riquezas na economia).

Os demais investimentos - Letras de Câmbio, CDB, RDB, Debêntures etc.


- captados pelas instituições financeiras, também vão parar nas empresas, mas
têm remuneração fixa.

O normal é que uma empresa tome empréstimos e financiamentos para


investir em seus negócios e pague por eles menos do que o lucro gerado com a
sua aplicação, pois do contrário não tomaria recursos.

A atividade de qualquer empresa envolve a incerteza do lucro e pode ser


que em determinadas épocas até ocorram prejuízos. A longo prazo, espera-se
que os lucros empresariais cubram os eventuais prejuízos e suplantem a taxa de
remuneração dos investimentos em países de renda fixa. A história tem mostrado
que é assim.

Para minimizar os riscos de investir em ações de empresas deficitárias, o


investidor tem a possibilidade de fazer uma carteira de ações, ou seja, um
conjunto de ações de diferentes empresas, de tal sorte que o prejuízo eventual
de alguma delas seja compensado com o lucro de outras.

Quando o investidor compra ações novas, a sua poupança vai direto para
as empresas que são as geradoras de bens e serviços na economia, evitando
as instituições financeiras que são apenas intermediários.

O mercado de ações é a base da economia de diversos países, mas no


Brasil ainda não obteve êxito.
Em primeiro lugar, porque é um mercado muito complexo, não acessível ao
cidadão médio.

Em segundo lugar, porque a falta de segurança do investimento (que pode


ser perdido e muita gente de fato perdeu) e as incertezas quanto à renda
afugentam o investidor.
310 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

Por último, o fator desilusão monetária das ações, em contraposição à ilusão


monetária dos investimentos de renda fixa, por exemplo, a caderneta de poupan-
ça. Enquanto neste último o investidor recebe juros e correção monetária, vendo
o investimento crescer, ainda que apenas nominalmente, no caso da aquisição
de ações embora a mesma geralmente se valorize em termos reais mais do que
a caderneta de poupança, o investidor não vê a valorização. A parte visível do
ganho do investidor, que são os dividendos em moeda, representam apenas uma
parcela do lucro real (normalmente em torno de 25%), parecendo aos olhos do
investidor íntima e desestimulante.

A não-realização em dinheiro do lucro da empresa causa desilusão no


investidor. O inchaço do depósito na caderneta de poupança causa ilusão.

Em decorrência, raramente se faz investimento em ações de longo prazo,


ou seja, para o investidor permanecer com as ações e gozar dos seus rendimen-
tos. Assim, o mercado de ações vive de investimentos especulativos, ou seja, o
investidor compra ações apenas com a expectativa de vendê-las a curto prazo
com altos lucros.

A solução seria um bem orientado programa de esclarecimento público em


que se unissem o governo, as corretoras de valores e as empresas.

10.2 PRINCIPAIS ÍNDICES DE BOLSA

A seguir são apresentados os principais Índices de Bolsa, ilustrados nume-


ricamente, considerando os seguintes dados:

19x1 19x2
Capital Social Realizado 7.000.000 16.000.000
Ações Ordinárias 350.000 800.000
Ações Preferenciais 350.000 800.000
Total de Ações 700.000 1.600.000
Patrimônio Líquido 11.218.000 23.094.000
Lucro Líquido 1.311.000 2.822.000
Cotação Média das Ações 7,20 5,50
Dividendos Pagos 327.750 705.500

Os índices são apresentados em seguida.


TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 311

10.2.1 Valor Patrimonial da Ação - VPA

Indica: a relação entre o Patrimônio Líquido e o número de ações do Capital Realizado, e mostra a
representatividade de uma ação perante o Patrimônio Líquido da empresa.

Patrimônio Líquido
Fórmula:
Número de Ações

Exemplo:

Item 19x1 19x2


Patrimônio Líquido 11.218.000 23.094.000
Número de Ações 700.000 1.600.000
VPA 16,03 14,43

10.2.2 Lucro por Ação - LPA

Indica: quanto do lucro obtido corresponde a cada ação.

LL
Fórmula:
Nº de Ações

Nota: este deve ser obrigatoriamente apresentado pelas Sociedades por Ações após o Lucro
Líquido na Demonstração do Resultado.

Exemplo:

Item 19x1 19x2

Patrimônio Líquido 1.311.000 2.822.000


Número de Ações 700.000 1.600.000
VPA 1,87 1,76
312 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

10.2.3 Preço sobre Lucro por Ação - P/L

Indica: em quanto tempo o investidor obteria o retorno do capital aplicado na aquisição de ações se fosse
mantido o lucro por ação verificado no último exercício.

Valor da Cotação da Ação


Fórmula:
Lucro por Ação - L P A

Exemplo:

Item 19x1 19x2

Valor da Cotação 7,20 5,50


Lucro por Ação 1,87 1,76
P/L 3,85 3,125
(anos) (anos)

10.2.4 Rentabilidade de Ação - RDA

Indica: quantos dólares o investidor terá de ganho anual para cada $ 100 investidores na aquisição de
ações ao preço de mercado.

Lucro por Ação - LPA


Fórmulas:
Valor da Cotação da Ação

Exemplo:

Item 19x1 19x2


Lucro por Ação 1,87 1,76
Preço da Cotação 7,20 5,50
RDA 26% 32%
TÓPICOS ESPECIAIS DE ANÁLISE DE BALANÇOS 313

10.2.5 Dividendo por Ação - DPA

Indica: quanto do lucro distribuído cabe a cada ação.

Dividendos Pagos
Fórmula:
Número de Ações

Nota: a apresentação deste índice é obrigatória às Sociedades por Ações que deverão incluí-lo
na Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados.

Exemplo:

Item 19x1 19x2


Dividendo 327.750 705.500
Número de Ações 700.000 1.600.000
DPA 0,468 0,440

10.2.6 Retorno de Caixa - RDC

Indica: quanto efetivamente o acionista embolsa para cada $ 100 investidos na aquisição de ações
segundo sua cotação.

Dividendo por Ação - DPA


Fórmula:
Cotação da Ação

Exemplo:

Item 19x1 19x2


Dividendo por Ação 0,468 0.440
Preço da Cotação 7,20 5,50
RDC 6,5% 8%
314 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL

10.2.7 Relação Caixa/Rentabilidade da Ação - C/RDA

Indica: percentualmente quanto da rentabilidade da ação é convertido em reembolso de caixa.

Índice de Retorno de Caixa


Fórmula:
Índice de Rentabilidade da Ação

Exemplo:

Item 19x1 19x2


Índice Retorno de Caixa 0,065 0,08
Índice de Rentabilidade da Ação 0,26 0,32
C/RDA 25% 25%
PARTE Análise da Gestão de
III Caixa

Para analisar o fluxo de caixa de uma empresa é preciso saber


distinguir uma simples gestão de caixa de uma boa gestão de caixa.

Em ambas deve ocorrer o esperado equilíbrio entre as entradas e


saídas de caixa. Porém, há inúmeros caminhos para se conseguir esse
equilíbrio, cada um com uma causa e conseqüência.

Mesmo entre administradores experientes há dificuldade em analisar


e avaliar o fluxo de caixa e freqüentemente cometem erros que acabam
por comprometer a saúde da empresa.

O fluxo de caixa de uma empresa não depende exclusivamente do


administrador financeiro, pois decorre de múltiplas decisões (de diferentes
áreas), como nível de estocagem, prazos concedidos aos clientes, prazos
obtidos de fornecedores, expansão, estabilização ou redução do volume
de atividades (produção e vendas), investimentos no ativo permanente,
bem como as possibilidades de aportes de capital.

A tradicional demonstração das entradas e saídas de caixa, tanto a


referente ao passado, como a projetada, não permite identificar o efeito
dessas variáveis no fluxo de caixa.
316 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Por isso, é apresentada uma demonstração em formato inédito,


denominada Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa - DFLC, que
mostra o efeito de cada investimento e financiamento no fluxo de caixa e
assim possibilita avaliar diversos aspectos da gestão de caixa.
Ressalte-se que um dos pontos fundamentais e, até mesmo o mais
importante na gestão de caixa, é a gestão do capital de giro.
Por isso, esta parte do livro apresenta dois capítulos com objetivos
de explicar e analisar o capital de giro, antes de apresentar a Demonstra-
ção do Fluxo Líquido de Caixa.
Índices de Prazos Médios:
11 A Dinâmica da Empresa

Uma das descobertas mais interessantes da Análise de Balanços é a de


que, através dos dados das demonstrações financeiras, podem ser calculados,
por exemplo, quantos dias, em média, a empresa terá de esperar para receber
suas duplicatas. Este é o chamado índice de Prazo Médio de Recebimento de
Vendas.
Outros índices que podem ser calculados são os de Prazo Médio de
Renovação de Estoque e Prazo Médio de Pagamento de Compras.
Os índices de prazos médios não devem ser analisados individualmente,
mas sempre em conjunto. Também não é recomendável misturar a análise dos
índices de prazos médios com a dos índices econômicos e financeiros, vistos no
Capítulo 6.
A conjugação dos três índices de prazos médios leva à análise dos ciclos
operacional e de caixa, elementos fundamentais para a determinação de estra-
tégias empresariais, tanto comerciais quanto financeiras, geralmente vitais para
a determinação do fracasso ou sucesso de uma empresa.
A partir dos ciclos operacional e de caixa são construídos modelos de análise
do capital de giro e do fluxo de caixa.

1 ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS

Basicamente existem três índices de prazos médios que podem ser encon-
trados a partir das Demonstrações Financeiras.
318 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

1.1 PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS - PMRV

O volume de investimentos em Duplicatas


a Receber é determinado pelo prazo médio
de recebimento de vendas.

Antes de apresentar o PMRV é importante fixar os elementos que entram


na sua fórmula: Vendas - V, Duplicatas a Receber - DR e Prazo Médio de
Recebimento de Vendas - PMRV, conforme Figura 11.1.

VENDAS
V

DUPLICATAS PRAZO MÉDIO DE


A RECEBIMENTO
RECEBER DEVENDAS
DR PMRV

FIGURA 11.1. Elementos da fórmula do PMRV.

Suponham-se os seguintes dados:

Vendas diárias: $10


Prazo Médio de Recebimento: 30 dias

Veja-se o que acontece ao longo do tempo:

DIAS
1º 2º 3º 30º 31º 32º 33º...
Vendas 10 10 10 10 10 10 10...
Recebimentos 0 0 0 0 10 10 10...
(Entrada em Caixa)
Duplicatas a Receber 10 20 30 300 300 300 300...
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 319

A empresa vende $ 10 por dia, com prazo de 30 dias. No 1º dia ela apenas
vende; nada recebe, em virtude desse prazo, mas acumula a venda em Duplica-
tas a Receber. No 2º, idem, e assim sucessivamente até o 30º dia. Observe-se
que as Duplicatas a Receber crescem diariamente até atingir o nível de $ 300,
ponto em que deixam de crescer. A partir do 31º dia há uma geração de $ 10 de
duplicatas e uma redução de duplicatas de $ 10 diariamente. Se o PMRV fosse
de 60 dias, as Duplicatas a Receber atingiriam o nível de $ 600.
Daí, pode-se tirar a fórmula:

DR = PMRV X Vd

DR - 30 X 10

DR -

onde:
DR = Duplicatas a Receber

PMRV = Prazo Médio de Recebimento de Vendas

Vd = Vendas diárias

ou
PMRV -

PMRV -

PMRV - 30 dias

Como nas Demonstrações Financeiras aparecem as vendas anuais e não


as diárias, obtém-se:

Vd

onde: V = Vendas anuais

A fórmula final do Prazo Médio de Recebimento de Vendas fica:

PMRV = ou

PMRV = 360
320 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

O Fluxo de Entradas em Caixa não depende


do prazo médio de recebimento de vendas.

As Duplicatas a Receber funcionam como uma espécie de reservatório que


é alimentado pelas vendas e, ao mesmo tempo, alimenta o Caixa.
O nível desse reservatório é determinado pelo produto:

Vd x PMRV

Veja-se a seguir a representação gráfica desse conceito.

Vendas Diárias

Recebimento Diário

Nível determinado Duplicatas a


por PMRVxVd Receber
Caixa

O nível do reservatório representa o volume de investimentos efetuados pela


empresa em Duplicatas a Receber. Repare-se que o fluxo de entrada e de saída
do reservatório não depende do seu nível, mas de quanto entra diariamente no
reservatório. Isto significa que a entrada em caixa será igual, qualquer que seja
o nível do reservatório.
Assim, o Prazo Médio de Recebimento de Vendas não afeta o Fluxo de
Caixa, mas apenas o volume de investimentos.
Como, porém, o prazo médio de recebimento não é fixo, as suas alterações
provocam modificações no fluxo de entradas em Caixa.
Alterações no prazo médio de recebimento. Retome-se o exemplo
numérico visto há pouco. Suponha-se que a empresa que estivesse vendendo
para receber em 30 dias passasse a conceder prazo de 45 dias para os seus
clientes, a partir do 332 dia. Veja-se o que aconteceria:
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 321

Dia anterior à alteração de Dia da alteração de prazo. O novo prazo só


prazo. Seu efeito continuará por entrará em vigor dentro de 45 dias.
30 dias.

Dias 30 31 32 33 34 35 62 63 64 77 78 79 80
Vendas 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10

Recebimentos
(Entrada em Caixa) 0 10 10 10 10 10 10 0 0 0 10 10 10

Duplicatas a Receber 300 300 300 300 300 300 300 310 320 450 450 450 450

Durante 30 dias nenhuma modificação ocorreria no Fluxo de Caixa, já que


o prazo anterior de 30 dias continuaria fazendo entrar dinheiro em Caixa. A partir
do 31º dia da mudança de prazo, que cai no 63º dia do exemplo, deixa de entrar
dinheiro em caixa, porque se esgotaram os recebimentos de vendas a prazo de
30 dias e as vendas a prazo de 45 dias ainda não começaram a cair no Caixa.
Há, pois, um interregno de 15 dias em que não ocorrem entradas de caixa. Isto
vai do 63º dia ao 77º dia. Nesse período, o nível do reservatório de Duplicatas a
Receber subirá de 300 para 450. É como se no 632 dia fosse elevado o ponto de
saída do Reservatório de Duplicatas a Receber do nível 300 para o nível 450.
Enquanto não for atingido o novo nível, as entradas em Caixa serão interrompi-
das.

O Fluxo de Caixa restabelece-se exatamen-


te nas bases anteriores alguns dias após a
alteração de prazo.

Atingindo, porém, o novo nível, restabelece-se integralmente o Fluxo de


Caixa. Passam a entrar diariamente em Caixa os mesmos $ 10 que entravam
anteriormente.
Mudou apenas o nível de investimentos da empresa; aumentou o volume
de Duplicatas a Receber de Ativo Circulante e de Ativo Total para $ 450.
O novo financiamento. É claro que, aumentando os investimentos, os
financiamentos sobem em igual volume. Mas como ocorre isso? É simples.
Durante os quinze dias em que a empresa não tem entradas de caixa, os seus
compromissos continuam existindo. A empresa não pode simplesmente suspen-
der os seus pagamentos. Ela precisa encontrar uma fonte para suprir as suas
necessidades desse período. Como deixaram de entrar em Caixa exatamente
322 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

$ 150, a empresa deve obter $ 150 de financiamento (possivelmente financia-


mento bancário).
Após o restabelecimento do Fluxo de Caixa, a empresa continuará usando
suas entradas diárias para pagar as obrigações diárias com fornecedores,
empregados, governo etc. Determinadas saídas não são diárias, como salários,
encargos sociais, tributos etc, mas isto não quer dizer nada, pois, se num
primeiro momento permitem à empresa certa acumulação, dentro de alguns dias
exigirão uma grande saída de caixa, equivalente à média diária multiplicada pelo
número de dias em que o dinheiro deixou de sair.
É provável que as saídas para atender a essas obrigações fiquem ligeira-
mente abaixo de $ 10. Essa diferença, na prática, costuma ser muito pequena,
algo em torno de 5 a 10% em média. Suponha-se que as saídas de caixa sejam
algo em torno de $ 9,50 por dia.
Dessa forma, o que a empresa acumula em Caixa é lucro, que, por ser muito
pequeno, percentualmente, nada representa a curto prazo. Como se vê, a
empresa não pode pagar os empréstimos bancários, uma vez que as entradas
de caixa estão comprometidas com as saídas e os lucros mensais são muito
pequenos.

Empréstimos bancários só podem ser pa-


gos a longo prazo.

Se a empresa aumentou os investimentos em Duplicatas a Receber por


tempo indeterminado, vai precisar de financiamentos também por tempo indeter-
minado. A curto prazo esses financiamentos serão de terceiros. A longo prazo
poderão ser próprios, desde que a empresa gere lucro e não o utilize para
financiar outros investimentos.
Alteração de prazo de recebimento e sua influência no lucro. Os novos
financiamentos representam uma despesa extra que será deduzida da receita.
Assim, o lucro poderá diminuir, a não ser que a empresa aumente o preço dos
seus produtos para cobrir essa nova despesa; esse aumento é justificado pelo
prazo maior.

Os prazos de recebimento são uma questão


de mercado.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 323

O aumento de prazo pode aumentar ou diminuir o lucro da empresa. Neste


último caso, qual a vantagem da empresa em alterar o prazo?
Acontece que os prazos concedidos aos clientes são uma questão de
mercado e não uma decisão unilateral da empresa, que é obrigada a adotar
determinado prazo, com certa margem de manobra, e não escolher o prazo ideal
(teoricamente igual a zero, ou seja, idealmente as vendas seriam a vista).

1.2 PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS

Tudo que foi dito com relação ao prazo de recebimento de vendas é análogo
ao prazo de pagamento de compras (PMPC), cuja fórmula é a seguinte:

F
PMPC-360
C

onde: PMPC = Prazo Médio de Pagamento de Compras


F - Saldo de Fornecedores do Balanço
C - Compras

1.3 PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

Aparentemente, a fórmula do prazo médio de renovação de estoque é


análoga às anteriores. Há, porém, uma diferença fundamental: enquanto as
Duplicatas a Receber (ou a pagar) decorrem das vendas (ou das compras)
passadas, os estoques relacionam-se com as vendas (a preço de custo) futuras.
O correto seria, pois, tomar as vendas dos próximos meses após o balanço.
Como esse dado, porém, não é disponível ao analista externo, tomam-se as
próprias vendas passadas a preço de custo, dadas pelo Custo das Mercadorias
Vendidas.

E
PMRE = ou 360
CMV

onde: PMRE = Prazo Médio de Renovação de Estoques


E Estoques
CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
324 ANALISE DA GESTÃO DE CAIXA

E
CMV
A interpretação que se pode dar da primeira fórmula, , é a seguinte: o
360
CVM
denominador, , mostra quanto a empresa vende por dia a preço de custo;
360
dividindo-se o estoque por essas vendas diárias encontra-se para quantos dias
é suficiente o estoque.

Quadro-resumo das fórmulas

Duplicatas a Receber
PMRV - Prazo Médio de Recebimento de Vendas - 360
Vendas
Estoques
PMRE = Prazo Médio de Renovação de Estoques - 360
Custo das Mercadorias Vendidas
Fornecedores
PMPC = Prazo Médio de Pagamento de Compras = 360
Compras

2 A INTERPELAÇÃO DOS ÍNDICES DO PRAZO MÉDIO

A análise dos prazos médios só é útil quan-


do os três prazos são analisados conjunta-
mente.

O Prazo Médio de Renovação de Estoques - PMRE - representa, na


empresa comercial, o tempo médio de estocagem de mercadorias; na empresa
industrial, o tempo de produção e estocagem.
O Prazo Médio de Recebimento de Vendas - PMRV - expressa o tempo
decorrido entre a venda e o recebimento.
A soma dos prazos, PMRE + PMRV, representa o que se chama Ciclo
Operacional, ou seja, o tempo decorrido entre a compra e o recebimento da
venda da mercadoria.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 325

Graficamente, tem-se:

Ciclo Operacional

Compre Venda Recebimento

PMRE PMRV

O Ciclo Operacional mostra o prazo de investimento. Paralelamente ao Ciclo


Operacional ocorre o financiamento concedido pelos fornecedores, a partir do
momento da compra. Até o momento do pagamento aos fornecedores, a empre-
sa não precisa preocupar-se com o financiamento, o qual é automático. Se o
Prazo Médio de Pagamento de Compras - PMPC - f o r superior ao Prazo Médio
de Renovação de Estoques - PMRE -, então os fornecedores financiarão
também uma parte das vendas da empresa. O tempo decorrido entre o momento
em que a empresa coloca o dinheiro (pagamento ao fornecedor) e o momento
em que recebe as vendas (recebimento do cliente) é o período em que a empresa
precisa arrumar financiamento. É o Ciclo de Caixa, também chamado Ciclo
Financeiro.

Os gráficos seguintes ilustram duas situações possíveis:

a) Os Fornecedores financiam totalmente os estoques a uma parte das vendas:

Ciclo Operacional

Compra Venda Pagamento Recebimento

PMRE PMRV

Ciclo de Caixa

PMPC
326 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

b) Os Fornecedores financiam apenas parte do estoque:

Ciclo Operacional

Compra Pagamento Venda Recebimento

PMRE PMRV

Ciclo de Caixa

PMPC

No caso do gráfico b, a empresa deve obter financiamentos para suas


vendas e ainda para uma parte do tempo em que a mercadoria permanece em
estoque.
Quanto maior o ciclo financeiro, pior para a empresa, pois representa maior
tempo de utilização de financiamento e, portanto, maior custo.

2.1 EXEMPLO NUMÉRICO

(Ver dados do Balanço e da Demonstração de Resultados padronizados da


Cia. BIG, Capítulo 5.)

19x1 19x2 19x3


751.206 1.039.435 1.317.514
PMRE = 360 = 74 360 =114 360 = 112
3.621.530 3.273.530 4.218.671
1.045.640 1.122.512 1.529.061
PMRV = 360 = 63 360 = 67 360 = 70
5.960.227 6.043.114 7.820.143
708.536 639.065 688.791
PMPC = 360 = 85 360 = 83 360 = 73
3.001.587 2.766.402 3.387.266

* Foram tomadas as Vendas Brutas menos as Devoluções e Abatimentos, ou seja, as chamadas


Vendas Realizadas, pois isso é o que gera Duplicatas a Receber.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 327

Os prazos médios padrões, segundo as medianas das tabelas de índices-


padrão, são os seguintes:

19x1 19x2 19x3

PMRE 66 67 70
PMRV 75 79 77
PMPC 69 76 78

Apresentam-se a seguir os gráficos de cada ano e sua respectiva interpre-


tação:

COMENTÁRIOS

A Cia. BIG tinha, em 19x1, ciclo de caixa bem inferior ao padrão mediano do ramo: a empresa
necessitava tomar financiamentos para o giro por um prazo 20 dias aquém da média do ramo. Isto
se devia sobretudo ao maior prazo obtido de seus fornecedores em relação à média do ramo, bem
como ao menor ciclo operacional.
No último exercido, a empresa não conseguiu manter o prazo de fornecedores acima da média
do ramo e o seu ciclo operacional cresceu demasiadamente em virtude do excessivo Prazo Médio
de Renovação de Estoques de 74 dias, em 19x1, para 112 dias, em 19x3.
Como o Prazo Médio de Renovação de Estoques depende mais da própria administração do
que do mercado, aparece haver um descontrole da empresa em relação aos seus estoques.
Com isso, o ciclo de caixa em 19x3 passou a 40 dias acima da mediana do ramo e 57 dias
acima daquele de 19x1.
328 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

19x1
Ciclo Operacional =137 dias
E
M
P PMRE=74 dias PMRV=63dias
R
E
S PMPC=85 dias Ciclo de Caixa =52 dias
A

Ciclo Operacional =141 dias


P
A
D
R
Ã
O

19x2
Ciclo Operacional =181 dias
E
M
P PMRE=114 dias PMRV=67dias
R
E
S PMPC=83dias Ciclo de Caixa=98 dias
A

Ciclo Operacional =146 dias


P
A
D PMRE=67 dias PMRV=79dias
R
Ã
O PMPC=76dias Ciclo de Caixa=70 dias

19x3
Ciclo Operacional =182 dias
E
M
P PMRE-112dias PMRV=70dias
R
E
S PMPC=73dias Ciclo de Caixa =109 dias
A

Ciclo Operacional =147 dias


P
A
D PMRE =70 dias PMRV=77dias
R
Ã
O
PMPC=78dias Ciclo de Caixa - 69 dias
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 329

3 COMO CALCULAR CORRETAMENTE OS PRAZOS


MÉDIOS

Certos cuidados no cálculo dos Índices de


Prazos Médios aumentam sua precisão.

A precisão dos índices de prazos médios está diretamente ligada à unifor-


midade das vendas e compras. Se a empresa tem vendas e compras aproxima-
damente uniformes durante o ano, os índices de prazos médios calculados a
partir dos dados do Balanço e da Demonstração do Resultado refletirão satisfa-
toriamente a realidade. Agora, se as vendas e/ou compras flutuarem, tiverem
picos e vales ou concentração em determinadas épocas do ano, os índices de
prazos médios poderão estar completamente distorcidos.
Veja-se isto através de alguns números. Suponha-se que determinada
empresa tenha vendas anuais de $ 72.000, das quais $ 36.000 efetuadas no mês
de dezembro e $ 8.000 no mês de novembro. O seu prazo de faturamento é de
60 dias. Assim, ao fechar o balanço em 31 -12-x2, apresentará na conta Duplica-
tas a Receber o valor de $ 44.000 correspondente às vendas de novembro e
dezembro, já que, trabalhando com prazo de 60 dias, nada recebeu desses dois
meses e terá recebido totalmente as vendas de outubro.
O índice de Prazo Médio de Recebimento das Vendas é:

Duplicatas a Receber 44.000


PMRV = 360 = 360x = 220 dias!
Vendas 72.000

Como se vê, há considerável desvio no prazo calculado em relação ao prazo


real, e isto se deve exclusivamente à irregularidade das vendas durante o ano.
Vendendo $ 72.000 durante o ano, calculam-se vendas médias diárias de
$ 200. Se a empresa tem $ 44.000 de vendas a receber, então tem acumulado
vendas de 220 dias. Supõe-se que este seja o prazo de recebimento.
Diante de distorções dessa ordem, é preciso muito cuidado no uso dos
índices de prazo médio, que só devem ser utilizados, de fora da empresa, quando
se souber que o ramo de atividade oferece razoável regularidade.
A inflação provoca inevitáveis distorções, pois as vendas automaticamente
crescem em valor nominal, mesmo que se mantenham em valor real. Se as
vendas forem aproximadamente uniformes, estarão, em média, com seis meses
de defasagem em termos de preço do final do exercício. Por exemplo, numa
empresa que encerra balanço em 31 de dezembro, as vendas de janeiro
precisariam ser corrigidas pela inflação dos últimos doze meses, enquanto as
vendas de dezembro estariam em moeda do final do ano.
330 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Aqui, mais do que em qualquer outra análise, é imprescindível usar as


demonstrações financeiras em moeda constante.

3.1 ÍNDICES DE PRAZOS E SALDOS MÉDIOS DE BALANÇO

O uso dos saldos finais proporciona maior


informação.

Alguns autores utilizam o valor médio de Duplicatas a Receber f stoques


ou Fornecedores nas fórmulas de prazo de recebimento, renovação de estoques
e pagamento de compras; esse valor médio é obtido da seguinte forma:

Saldo do balanço anterior + Saldo do balanço atual


2

No caso do prazo médio de recebimento de vendas, por exemplo, a fórmula


fica:

Duplicatas a Receber em 19x0 + Duplicatas a Receber em 19x1


2

Esta fórmula traz algumas desvantagens em relação à que foi apresentada


e que toma o saldo final. Tomando o saldo final pode-se conhecer quais os prazos
de recebimentos, renovação de estoques e pagamentos nas datas dos balanços
que estão sendo analisados. O saldo médio não permite conhecer quais os
prazos praticados efetivamente nas datas de balanço, mas uma média entre o
balanço inicial e o final. Esta média não permite conclusões adequadas sobre as
políticas de prazos da empresa.
Se uma empresa, por exemplo, opera há alguns anos com prazo de
recebimento de 30 dias e em determinado balanço passou a operar com 120
dias, é interessante analisar os efeitos dessa decisão em termos de investimen-
tos e financiamentos no balanço. De nada adianta calcular o prazo médio entre
30 e 120 dias, ou seja, 75 dias, pois como nunca existiu, não tem nenhum
significado.
Os índices de prazos de recebimento, renovação de estoques e pagamento
são sempre denominados prazos médios porque os saldos de Duplicatas a
Receber, Estoques e Fornecedores resultam efetivamente de médias. Por exem-
plo, o saldo de Duplicatas a Receber decorre das vendas a vista e das faturadas
a 30, 60, 90 dias etc. Na verdade, a empresa adota simultaneamente diversos
prazos. O prazo calculado com base no saldo de balanço representa uma média
desses diversos prazos.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 331

O que não tem sentido é a média entre dois balanços sucessivos.

Um argumento definitivo para o uso dos saldos finais e não dos saldos
médios é que a análise dos prazos deve ser feita, sempre que possível, com o
uso conjunto dos três prazos (recebimentos, renovação de estoques e pagamen-
tos), com o cálculo do ciclo financeiro e da necessidade de capital de giro. Nada
disso poderá ser feito a não ser com os saldos finais do balanço.

3.2 PRAZOS MÉDIOS X ROTAÇÕES

Se a empresa mantém estoques para 90 dias, seus estoques renovam-se


quatro vezes ao ano. Se vende a prazo médio de 60 dias, as Duplicatas a Receber
renovam-se seis vezes ao ano. O número de vezes em que determinado item se
renova, roda ou gira é calculado dividindo-se 360 pelo prazo médio:

360 CMV
Rotação de Estoques: ou
PMRE Estoques

360 V
Rotação de Duplicatas a Receber: ou
PMRV Duplicatas a Receber

360 C
Rotação de Fornecedores: ou
PMPC Fornecedores

Embora úteis e de certa forma didáticos em alguns relatórios, os índices de


rotação não são tão informativos quanto os de prazos médios e dificultam a
conjugação dos três índices.

É interessante observar que alguns autores juntam indevidamente aos


índices de rotação o índice de Giro do Ativo (também chamado Rotação do Ativo)
- Vendas/Ativo - numa total impropriedade interpretativa, pois o índice de Giro
do Ativo visa dimensionar o volume de vendas relativamente ao investimento
total, enquanto os índices de rotação que foram apresentados informam efetiva-
mente quantas vezes ao ano se renovam Duplicatas a Receber, Estoques e
Fornecedores.
332 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Cálculo dos Prazos Médios Dentro da


Apêndice 1 Empresa

Dentro da empresa, os prazos médios reais podem ser calculados perfeita-


mente todo mês. E não é necessário sequer o uso de nenhuma fórmula, mas
apenas de cálculos simples através do chamado método de exaustão.
Veja-se como funciona isso, inicialmente com os dados do exemplo anterior.
A empresa tem Duplicatas a receber de $ 44.000. Suas vendas mensais
nos últimos meses foram:

• Dezembro: 36.000

• Novembro: 8.000

• Outubro: 2.000

• Setembro: 2.000

• Agosto: 1.500

• Julho: 1.500

O prazo médio de recebimento pode ser assim calculado:

SALDO DE DUPLICATAS A RECEBER PRAZO


MÊS VENDAS PRAZO
MENOS VENDAS DO MÊS ACUMULADO
44.000 - -
Dez. 36.000 8.000 30 30
Nov. 8.000 0 30 60
Out. 2.000 - - -

A coluna "Prazo Acumulado" mostra o prazo real.


ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 333

A idéia desse método é bastante simples. Subtraem-se das Duplicatas a


Receber as vendas do último mês. Se as duplicatas forem maiores que estas
últimas, significa que a empresa tem acumulado vendas superiores ao último
mês - 30 dias - e que, portanto, opera com prazo de recebimento superior a 30
dias. Do saldo restante retiram-se as vendas do segundo mês precedente. Se o
saldo for maior que estas vendas, então a empresa opera com prazo superior a
60 dias, visto que teria vendas acumuladas superiores aos últimos 60 dias de
vendas. Se o saldo for inferior às vendas desse segundo mês, calcula-se quanto
por cento destas vendas representa o saldo. Se o resultado for 50%, por exemplo,
o saldo representa vendas de mais de 15 dias, além dos 30 já computados.
Para encontrar o prazo médio de pagamento de compras aplica-se o mesmo
raciocínio às compras.
O cálculo do Prazo Médio de Renovação de Estoques é análogo, só que
comparativamente às operações futuras; enquanto os prazos de recebimento e
de pagamento decorrem de vendas e compras efetuadas, o prazo de renovação
de estoques decorre de vendas (a preço de custo) que a empresa irá realizar.

1 CÁLCULO DOS PRAZOS MÉDIOS PELO MÉTODO DE


EXAUSTÃO

Veja-se um exemplo completo do cálculo de prazos médios pelo método de


exaustão:

Posição em 31-12-T0

Duplicatas a receber: 12.428


Fornecedores: 9.160
Estoques: 7.900

Exercício: T0 T1

Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr.
Vendas 2.867 3.480 3.109 3.928 3.814 4.120 — — — —
Compras 2.780 2.460 2.810 2.918 3.790 3.315 — — — —
Custo de Mer-
cadorias Ven- — — — — — — 2.420 1.980 2.630 3.200
didas
334 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

CÁLCULOS

PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS

SALDO DE DUPLICATAS A RECEBER PRAZO


MÊS VENDAS PRAZO
MENOS VENDAS DO MÊS ACUMULADO
- - 12.428 - -
Dez. 4.120 8.308 30 30
Nov. 3.814 4.494 30 60
Out. 3.928 566 30 90
Set. 3.109 -0- 5* 95
566
* Obtido da seguinte forma: = 18%
3.109
30x18% = 5 dias

PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE C O M P R A S

SALDO DE FORNECEDORES MENOS PRAZO


MÊS COMPRAS PRAZO
COMPRAS DO MÊS ACUMULADO
- - 9.160 - -
Dez. 3.315 5.845 30 30
Nov. 3.790 2.055 30 60
Out. 2.918 -0- 21* 81
2.055
* 21 = x30
2.918

PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

PRAZO
MÊS CMV SALDO DE ESTOQUES MENOS CMV PRAZO
ACUMULADO
- - 7.900 - -
Jan. 2.420 5.480 30 30
Fev. 1.98C 3.500 30 60
Mar. 2.630 870 30 90
Abr. 3.200 -0- 8* 98
870
* 8 = x30
3.200
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 335

Respostas: Os prazos médios da empresa são:

• Prazo Médio de Recebimento de Vendas: 95 dias.


• Prazo Médio de Pagamento de Compras: 81 dias.
• Prazo Médio de Renovação de Estoques: 98 dias.

2 CONTROLE DOS PRAZOS MÉDIOS ATRAVÉS DE


GRÁFICOS

Através de gráficos é possível conhecer a


qualquer momento prazos médios reais.

Na maioria das empresas, o controle dos prazos médios é um elemento


fundamental na administração. Naquelas em que os prazos tendem a oscilar
mensalmente em função de flutuações da atividade, como, por exemplo, no
comércio varejista, o controle de prazos torna-se vital.

Para facilitar o acompanhamento de prazos podem-se adotar gráficos que


mostram a qualquer momento do ano os prazos, seja de recebimentos, paga-
mentos ou estoques.
No caso do PMRV, os dados básicos do gráfico são as vendas e os
recebimentos acumulados no ano.
No eixo da ordenada ficam os valores em moeda, no da abscissa, os meses.
A diferença entre a linha de vendas acumuladas e a dos recebimentos
acumulados, na vertical, representa o volume de Duplicatas a Receber e, na
horizontal, representa o prazo de recebimento de vendas.
Para obter maior precisão recomenda-se desenhar o gráfico em papel
milimetrado.
Veja-se a seguir um exemplo prático, e na Figura A.1 a sua representação
gráfica.
336 ANÁLISE DA G E S T Ã O DE CAIXA

PRAZO MÉDIO DE
VENDAS VENDAS RECEBIMENTOS RECEBIMENTOS DUPLICATAS
MÊS RECEBIMENTO
MENSAIS ACUMULADAS MENSAIS ACUMULADOS A RECEBER
DE VENDAS

Dez. - - - - 2.080
Jan. 2.320 2.320 1.890 1.890 2.510
Fev. 2.140 4.460 2.160 4.050 2.490
Mar. 2.460 6.920 1.910 5.960 3.040
Abr. 2.980 9.900 2.030 7.990 3.990 42
Maio 3.100 13.000 2.050 10.040 5.040
Jun. 3.050 16.050 2.380 1Z420 5.710
Jul. 3.020 19.070 3.010 15.430 5.720
Ago. 3.180 22.250 3.060 18.490 5.840 56
Set. 4.080 26.330 2.930 21.420 6.990
Out. 4.300 30.630 3.240 24.660 8.050
Nov. 3.800 34.430 3.960 28.620 7.890
Dez. 5.100 39.530 4.010 32.630 8.980 60

39.000

36.000

33.000

30.000

27.000

24.000

21.000

18.000

15.000

12.000

9.000

6.000

3.000

-2.080 Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
FIGURA A.1. Método gráfico de cálculo do PMRV.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 337

Destacam-se na Figura 10.1 três momentos: abril, agosto e dezembro. A


diferença entre a linha de Vendas Acumuladas e a de Recebimentos Acumulados
mostra na vertical o valor de Duplicatas a Receber, enquanto na horizontal mostra
o Prazo Médio de Recebimento de Vendas.
Observe-se que a linha de Recebimentos Acumulados parte do ponto
negativo de 2.080, que representa o saldo de Duplicatas a Receber no início do
exercício. Até receber esse valor a empresa ainda não terá embolsado nenhum
cruzado de vendas do exercício (supondo-se evidentemente que os recebimen-
tos se dêem na ordem do faturamento). Só após receber essa importância é que
a empresa receberá vendas do próprio exercício.
Para efeito de construção do gráfico, o valor dos recebimentos acumulados
assinalados em cada mês será sempre igual ao montante recebido acumulado
menos o saldo inicial de Duplicatas a Receber. Por exemplo: em abril o valor dos
recebimentos acumulados era de $ 7.990; subtraindo-se deste total o saldo inicial
de Duplicatas a Receber de $ 2.080 chega-se a $ 5.910. Este é o valor assinalado
em abril para os Recebimentos Acumulados.
Para construir o gráfico de Prazo Médio de Pagamento de Compras proce-
de-se de modo idêntico, substituindo-se evidentemente Vendas por Compras,
Recebimentos por Pagamentos e Duplicatas a Receber por Fornecedores.

Compras
Acumuladas CVM
Acumulado
Estoques

Prazo Médio de Renovação de


Estoques-PMRE

Saldo Inicial de Estoques

FIGURA A.2. Método gráfico de cálculo do PMRE.


338 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Para o gráfico de Prazo Médio de Renovação de Estoques o procedimento


é análogo, porém com algumas ligeiras adaptações.
As duas linhas são respectivamente as Compras Acumuladas e o Custo de
Mercadorias Vendidas Acumulado. Aquelas partem de zero, enquanto esta parte
do saldo de estoques no início do exercício, que figura negativamente no eixo
das ordenadas (semelhante ao saldo inicial de Duplicatas a Receber). A diferença
entre as duas linhas na vertical é o estoque; na horizontal é o prazo médio de
renovação de estoques (esta última se faz das Compras para o CMV), como
mostra a Figura A.2.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 339

Formulação de Estratégias Através dos


Apêndice 2 Prazos Médios

A verdade financeira é que US$ 1 amanhã


não é igual a US$ 1 hoje.

Os índices de prazos médios lidam essencialmente com prazos, portanto,


com o tempo. E o dinheiro muda com o tempo. Por isso, em princípio, os prazos
alteram os valores a pagar e a receber, produzindo ganhos e perdas.
Quando se lembra que em nosso país existe uma inflação crônica, agravada
nos últimos anos, tornam-se maiores as diferenças entre valores presentes e
valores futuros.
Vamos ver como uma atividade empresarial com ciclo de caixa favorável
pode se valer disso.

GANHOS FINANCEIROS

CICLO CICLO

OPEFIACIONAL FINANCEIRO

Compra Recebimento Pagamento

20 dias 30 dias

50 dias
340 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

No exemplo do gráfico acima, supomos uma empresa comercial que compra


mercadorias com prazo médio de 50 dias para pagar, mas em 20 dias consegue
transformá-las em dinheiro. Ela dispõe então de 30 dias desse dinheiro, auferindo
os ganhos com aplicações financeiras.
Quanto maior o volume de vendas, maior o montante de recursos disponí-
veis para aplicações financeiras.
Se a empresa vender $ 1.000 por dia, terá cerca de $ 30.000 disponíveis
para aplicações. Se vender $ 5.000 terá $ 150.000.
Observa-se que os 30 dias de ciclo de caixa favoráveis não decorrem
apenas da barganha no prazo com fornecedores, mas também do encurtamento
do ciclo operacional.
Em qualquer país em que haja um mercado financeiro organizado, o
rendimento dessas aplicações pode gerar um apreciável lucro. Se houver infla-
ção coberta pelas aplicações financeiras, tanto melhor.
No Brasil, os rendimentos dessas aplicações chegam a superar os resulta-
dos operacionais.
A partir daí, as empresas que têm possibilidades de apresentar ciclo
financeiro favorável, como supermercados, drogarias, magazines etc, concen-
tram fortemente suas baterias no objetivo de ampliar o ciclo financeiro, seja
negociando fortemente com os fornecedores, a ponto de chegar a romper
relações em certos casos, seja formulando estratégias para girar rapidamente
os estoques, ainda que, em muitos casos, com prejuízo comercial (com vistas, é
claro, ao lucro financeiro).

1 FINANCIAMENTO

Os recursos financeiros que sobram em decorrência do ciclo de caixa


favorável podem, alternativamente, ser utilizados na expansão da empresa, ou
seja, em inversões em ativo permanente.
É claro que este tipo de decisão só pode ser tomada com extremo cuidado.
Seu risco reside na possibilidade de haver queda no ciclo de caixa favorável e/ou
no volume de vendas, principalmente durante a fase de inversões. Nesses casos
haveria a redução do volume de recursos sem possibilidade de redução das
aplicações em ativo fixo.
Por isso esse tipo de decisão só é aceitável em períodos de estabilidade ou
crescimento do país, com horizontes relativamente claros.
Lembre-se ainda que, superada a fase de investimentos, espera-se amplia-
ção dos recursos disponíveis pelo aumento de vendas.
ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS: A DINÂMICA DA EMPRESA 341

O grande paradoxo do ciclo de caixa favorável em economias em cresci-


mento é que a empresa se torna uma autêntica fonte de dinheiro. Quanto mais
cresce, mais dinheiro gera, partindo invariavelmente para o financiamento de
atividades paralelas.
Na década de 70 essa estratégia foi a responsável pelo crescimento
acelerado das grandes redes comerciais.
Observe-se que ciclo de caixa favorável é apenas uma das múltiplas
possibilidades de composição do ciclo de caixa. Suas implicações no financia-
mento de uma empresa acham-se amplamente discutidas no capítulo seguinte.
12 Análise do Capital de Giro

Este capítulo introduz o conceito de Necessidade de Capital de Giro - NCG,


o qual, conforme será mostrado, é um elemento-chave para estratégias empre-
sariais.
Inicialmente, é mostrado como se determina a NCG e quais suas fontes de
financiamento.
Em seguida são mostradas as causas das variações da NCG, numa
exposição altamente técnica e inédita. Aqui parte-se da análise conjunta dos
prazos médios para se chegar na NCG, considerando que existe uma relação
direta entre o número de dias do ciclo de caixa e o dinheiro investido.
Os prazos médios são elementos administráveis pelos dirigentes. A análise
dos prazos médios e seu impacto financeiro é também uma análise da adminis-
tração do capital de giro.

1 CONCEITO DE NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO

A Necessidade de Capital de Giro é a chave


para a administração financeira de uma em-
presa.

Necessidade de Capital de Giro, que designaremos NCG, é não só um


conceito fundamental para a análise da empresa do ponto de vista financeiro, ou
seja, análise de caixa, mas também de estratégias de financiamento, crescimento
e lucratividade.
344 ANÁLISE DA GESTÃO OE CAIXA

Nenhuma análise econômico-financeira de empresa produtiva (excluem-se,


portanto, empresas financeiras e securitárias) pode prescindir de abordar a NCG,
tamanha a sua importância.

1.1 DETERMINAÇÃO DA NCG

Na padronização de balanços mostrada no Capítulo 5, o leitor deparou-se


com a segmentação do Ativo Circulante e do Passivo Circulante em Operacional
e Financeiro, os quais fogem das classificações habituais. O objetivo é justamen-
te o de preparar os dados para a apuração da NCG.
O Ativo Circulante Operacional - ACO1 é o investimento que decorre
automaticamente das atividades de compra/produção/estocagem/venda, en-
quanto o Passivo Circulante Operacional - PCO é o financiamento, também
automático, que decorre dessas atividades.
A diferença entre esses investimentos (ACO) e financiamentos (PCO) é
quanto a empresa necessita de capital para financiar o giro, ou seja, a NCG.
Portanto:

NCG=ACO-PCO

onde: NCG - Necessidade de Capital de Giro


ACO - Ativo Circulante Operacional
PCO - Passivo Circulante Operacional

As situações básicas que ocorrem numa empresa, com relação ao


ACO/PCO podem ser assim resumidas:

1. Ativo Circulante Operacional é exatamente o investimento operacional em giro. Alguns autores


e profissionais de análise de balanços chamam inadequadamente a Necessidade de Capital
de Giro - NCG de Investimento Operacional em Giro - IOG, confundindo ativo (sinônimo de
investimentos) com Passivo (capital). NCG é tipicamente um conjunto de itens de financia-
mento que podem ser capital próprio, empréstimos bancários de longo ou curto prazo nunca
um ativo. NCG é exatamente aquilo que o financiamento operacional não cobre. Poderia ser
chamado de FINANCIAMENTO NÃO OPERACIONAL PARA GIRO, mas nunca INVESTI-
MENTO OPERACIONAL EM GIRO.
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 345

ACO > PCO


É a situação normal na maioria das empresas. Há u m a NCG para a qual a
empresa deve encontrar fontes adequadas de financiamento.

ACO = PCO
Neste caso a NCG é igual a zero e portanto a empresa não tem necessidade
de financiamento para o giro.

ACO < PCO


A e m p r e s a tem mais financiamentos operacionais do que investimentos
operacionais. Sobram recursos das atividades operacionais, os quais poderão
ser usados para aplicação no mercado financeiro ou para expansão da planta
fixa.
Encontram-se a seguir as demonstrações da NCG da Cia. BIG.

19x1 19x2 19x3


Ativo Circulante Operacional
Clientes 1.045.640 1.122.512 1.529.061
Estoques 751.206 1.039.435 1.317.514
(1)Soma 1.796.846 2.161.947 2.846.575
Passivo Circulante Operacional
Fornecedores (708.536) (639.065) (688.791)
Outras Obrigações (275.623) (298.698) (433.743)
(2) Soma (984.159) (928.763) (1.122.534)
NCG-(1)-(2) 812.687 1.233.184 1.724.041

1.2 FONTES DE FINANCIAMENTO DA NCG

Para financiar as necessidades de capital de giro, a empresa pode contar


normalmente com três tipos de financiamentos:

• Capital Circulante Próprio;


• Empréstimos e Financiamentos Bancários de Longo Prazo;
• Empréstimos Bancários de Curto Prazo e Duplicatas Descontadas.
346 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Acham-se a seguir algumas figuras que objetivam permitir ao leitor visualizar


a NCG e suas fontes de financiamento.
Veja-se na Figura 12.1 como localizar a Necessidade de Capital de Giro -
NCG - no balanço.

ESTOQUES
FORNECEDORES Financiamento automáti-
Valor total do Ativo Circulante. co do giro com que a empresa
Representa o investimento total em pode contar.
DUPUCATAS A
giro. Para efeito de análise do Capital
de Giro devem ser expurgados even- Este vazio mostra os
RECEBER
tuais Ativos Circulantes não Operacio- financiamentos que a em-
nais (como empréstimos a controla- presa precisa obter para fi-
das e títulos a receber de venda de nanciar a correspondente
Ativo Permanente). área do Ativo Circulante.
OUTROS ATIVOS
É a NCG.
CIRCULANTES

FIGURA 12.1. Localização da Necessidade de Capital de Giro no balanço.

Veja-se na Figura 12.2 o complemento do balanço da Figura 12.1, ressal-


tando-se exatamente as fontes de cobertura da Necessidade de Capital de Giro.

Dupl. Descont.
Empr. Bancários Fontes de
FINANCIAMENTO
Financiamentos DA
Bancários de NECESSIDADE
Longo Prazo DE
CAPITAL DE GIRO

PATRIMÔNIO
ATIVO LÍQUIDO
PERMANENTE

FIGURA 12.2. Financiamento da Necessidade de Capital de Giro.


ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 347

A Necessidade de Capital de Giro na Figura 12.2 é financiada por três fontes:

1ª) Duplicatas Descontadas e Empréstimos Bancários de Curto Prazo.


2ª) Financiamentos Bancários de Longo Prazo.
3ª) Parte do Patrimônio Líquido, ou seja, Capital Circulante Próprio.

A Figura mostra uma dada configuração. Na prática existem inúmeras


possibilidades: o Capital Circulante Próprio pode ser negativo, caso em que os
financiamentos de longo prazo podem cobrir sozinhos o Capital Circulante
Líquido e mesmo o Capital Circulante Líquido pode ser negativo.
O esquema da Figura 12.3 compreende as alternativas possíveis.

PL

CCP menos

RLP
CCL mais +
AP

NCG mais ELP

EBCP

FIGURA 12.3. Esquema do financiamento da Necessidade de Capital de Giro.

Simbologia:

NCG = Necessidade de Capital de Giro


CCL = Capital Circulante Líquido
EBCP = Empréstimos Bancários de Curto Prazo
(inclusive Duplicatas Descontadas)
CCP = Capital Circulante Próprio
ELP = Exigível a Longo Prazo
PL = Patrimônio Líquido
AP = Ativo Permanente
RLP = Realizável a Longo Prazo
348 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Pode-se aplicar a Análise Horizontal e Vertical ao esquema da Figura 12.2


e incluir dados dos últimos três balanços. Isso encontra-se feito adiante, com
dados da Cia. BIG.

2 CAUSAS DAS MODIFICAÇÕES DA NCG

Transformando dias em dólares é possível


avaliar melhor a administração do Capital
de Giro.

No Capítulo 11 foi mostrado o que é o Ciclo de Caixa e a sua importância


para a análise dos prazos médios. Essa análise se tornará mais profunda se for
calculado o impacto em moeda do Ciclo de Caixa.
Existe relação direta entre o Ciclo de Caixa e o financiamento do investi-
mento em giro. O montante desses financiamentos é conhecido como Necessi-
dade de Capital de Giro = NCG, cuja fórmula é:

NCG = CCxVd + A

onde: NCG = Necessidade de Capital de Giro: reflete o montante de que a


empresa necessita tomar para financiar o seu Ativo Circulante
em decorrência das atividades de comprar, produzir e vender.
CC = Ciclo de Caixa
Vendas Anuais
Vd = Vendas Diárias =
360
A - Ajuste: é o resultado de Outros Ativos Circulantes Operacio-
nais menos Outros Passivos Circulantes Operacionais (como
salários, encargos e tributos a pagar), ou seja, valores de
Ativo e Passivo Circulantes que surgem das operações e cujo
saldo em geral, de pequeno montante, será um ajuste (acrés-
cimo ou decréscimo) da NCG.

No Capítulo 11,o Ciclo de Caixa foi calculado através da fórmula: CC =


PMRE + PMRV-PMPC.
ANÁLISE DO CAPITAL DEGIRO 349

Para uma análise simplificada das relações entre os prazos médios, essa
fórmula é satisfatória. Entretanto, para uma análise mais precisa do Capital de
Giro é necessário efetuar acertos nos valores de PMRE e PMPC, pois o montante
de NCG deverá "bater" rigorosamente com aquele decorrente do balanço, como
será mostrado.
Esses acertos são requeridos porque, enquanto o PMRE e o PMPC se
baseiam nos preços de custos de produtos e materiais, o PMRV baseia-se no
preço de venda.

2.1 CICLO DE CAIXA X FINANCIAMENTOS

2.1.1 Gráfico Tradicional

Vamos reproduzir o gráfico do Ciclo Operacional e do Ciclo de Caixa da Cia.


BIG, em 19x1, mostrados no Capítulo 11:

Ciclo Operacional: 137

PMRE: 74 PMRV: 63

PMPC: 85 CC= Ciclo de Caixa: 52

O ciclo operacional de 137 dias significa que a empresa espera, em média,


137 dias desde a aquisição da matéria-prima até o recebimento do dinheiro da
venda do produto fabricado com essa matéria-prima. Em termos financeiros,
significa que a empresa deve investir por 137 dias.
Ocorre que o investimento nesses 137 dias não é fixo.
Após alguns dias de estocagem de matéria-prima, inicia-se a produção e
novos custos vão sendo agregados. Ao ficarem prontos os produtos, outro
patamar mais elevado de investimento é atingido. Ao se efetuarem as vendas,
também incidem novos custos.
Enquanto isso, o financiamento de fornecedores durante os 85 dias é fixo.
Dessa forma, o ciclo de caixa de 52 dias corresponde ao número de dias
em que a empresa financia sozinha o ciclo operacional, mas não os únicos dias
em que ela precisa financiá-lo, pois no restante do ciclo operacional os fornece-
dores financiam apenas parte dos investimentos.
350 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Dos 137 do ciclo operacional, 85 dias (PM PC) contam com financiamento
parcial de fornecedores e 52 (CC) não contam com nenhum financiamento.

2.1.2 Novo Gráfico

A rigor, o Ciclo Operacional não deveria ser graficamente representado por


uma linha reta, mas por linhas em escala, à medida que os custos vão sendo
acumulados, enquanto o PMPC pode perfeitamente ser representado por uma
linha (partindo do mesmo nível que o PMRE), já que representa um financiamento
constante, como mostra o gráfico seguinte para 19x1:

Ciclo Operacional =137 dias


US$
Recebimento

Início da Inicio da armazenagem


Compra produção dos produtos acabados Venda Pagamento

PMRE = 74 dias PMRV=63dias

fase 4
fase 3

fase 2

fase 1 Ciclo
Investi- de Caixa
mento
original = 52 dias
Financia-
mento PMPC=85 dias

0 74 85

dias
Fase 1: Prazo médio de estocagem de matérias-primas.
Fase 2: Prazo médio de estocagem de produtos em processo.
Fase 3: Prazo médio de estocagem de produtos acabados.

Como se vê no novo gráfico, durante os primeiros dias (fase 1) a empresa


apenas estoca matérias-primas e conta com financiamento integral. A linha de
financiamento acha-se no mesmo nível inicial da linha de investimento (a peque-
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 351

na diferença mostrada no gráfico visa apenas destacar para o leitor a existência


das duas linhas).
A partir de determinado dia (fase 2), a empresa começa a investir recursos
na produção, fazendo-o por x dias. Depois investe, por / dias, em estoque de
produtos acabados, totalizando 74 dias de investimentos em estoques totais. Do
75º dia ao 85º investe em vendas, porém continua contando com o mesmo
financiamento original de fornecedores, até esse ponto. Por último, a empresa
segue investindo em vendas do 86º dia até o 137º mas já sem financiamento de
fornecedores.

Ora, definindo-se o ciclo de caixa como o período de tempo em que a


empresa necessita de recursos para financiar o giro (Ativo Circulante), verifica-se
que, na realidade, existem vários pequenos ciclos e, em cada um destes, um
nível diferente de financiamento necessário.

Matematicamente, pode-se dizer que existe um ciclo de caixa parcial de x


dias (fase 2), outro ciclo também parcial de y dias (fase 3), que se somam ao
ciclo de caixa original (no exemplo, de 52 dias).

Ciclo de caixa - ax + by + 52

onde: a = % a ser financiada

b = % a ser financiada

x = número de dias da fase 2

y = número de dias da fase 3

Suponhamos, a título de exemplo, que a fase 2 durasse 40 dias, nos quais


a empresa tivesse que financiar 15% dos investimentos, e que a fase 3 durasse
20 dias, em que a empresa financiasse 35% dos investimentos. Logo:

Ciclo de caixa =15% de 40 + 35% de 20 + 52 - 65 dias

Como esse novo ciclo de caixa não corresponde a determinado número de


dias de calendário, mas a um número teórico, cujo objetivo único é servir de base
para cálculo da Necessidade de Capital de Giro - NCG -, vamos denominá-lo
de Ciclo de Caixa Equivalente.
352 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

2.2 CICLO DE CAIXA EQUIVALENTE

O Ciclo de Caixa Equivalente permite che-


gar aos valores em dólares existentes no
balanço.

Para o cálculo desse Ciclo de Caixa Equivalente devem-se converter os três


prazos, PMRE, PMRV e PMPC, a uma base comum, a fim de poder somá-los e
subtraí-los sem incorrer em imprecisões.
A base adequada é dada pelas vendas.
Assim, encontra-se o PMRE e o PMPC equivalentes, ou seja, convertidos
para a base de vendas, podendo ser somados e subtraídos, entre si e com o
PMRV.
Para isso as seguintes conversões devem ser feitas:

PMRE: deverá ser multiplicado pelo percentual de custos de mercadorias vendidas


sobre vendas.

CMV E
PMREeq. = % x360
V CMV

PMPC: deverá ser multiplicado pela percentagem de compras sobre vendas.

PMPCeq. = % x360

Assim, o Ciclo de Caixa Equivalente - CCeq. é:

CCeq = PMREeq. + PMRV- PMPCeq.

É a Necessidade de Financiamentos para o Investimento em Giro é:

NCG = CCeq x Vd + A

onde: NCG = Necessidade de Capital de Giro


CCeq. = Ciclo de Caixa Equivalente
Vd = Vendas Diárias
A = Ajuste
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 353

2.3 CICLO DE CAIXA EQUIVALENTE E REFLEXO MONETÁRIO

Feitos os ajustes necessários, veja-se, agora, qual o impacto em m o e d a das


m u d a n ç a s havidas no Ciclo C a i x a Equivalente da C i a . BIG de 19x1 para 1 9 x 3 .
O s dados d e prazos médios foram tomados d o Capítulo 1 1 :

NCG = CCeq. X Vd + A
CCeq. = PMRV + PMREeq. - PMPCeq.

19x1
(1) (2)
CCEq. = 63 + 60,76% X 74 - 50,36% X 85
CCeq. = 65,731 dias
(3) (4)
NCG - 65,731 X 16.557 - 275.623

NCG2 - 812.687

19x2 (5) (6)


CCeq. = 67 + 54,17% X 114 - 45,78% X 83
CCeq. - 90,718
(7) (8)
NCG - 90,718 X 16.787 - 289.698

NCG2 - 1.233.184

19x3
(9) (10)
CCeq. - 70 + 53,95% X 112 - 43,31% X 73
CCeq. = 99,332
(11) (12)
NCG = 99,332 X 21.723 - 433.743

NCG2 - 172.041

Observação: Os cálculos finais foram efetuados com maior número de casas decimais do que
aparece nas demonstrações acima.
354 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Memórias de Cálculos:

19x1

(1) CMV/V = 3.621.530 ÷ 5.960.227 = 60,76%

(2) C/V = 3.001.587 ÷ 5.960.227 = 50,36%

(3) V/360 = 5.960.227 ÷ 360 = 16.557

(4) A = 275.623

19x2

(5) CMV/V = 3.273.530 ÷ 6.043.114 = 54,17%

(6) C/V = 2.766.402 ÷ 6.043.114 = 45,78%

(7) V/360 = 6.043.114 ÷ 360 = 16.787

(8) A = 289.698

19x3

(9) CMV/V = 4.218.671 ÷ 7.820.143 = 53,95%

(10) C/V = 3.387.266 ÷ 7.820.143 = 43,31%

(11) V/360 = 7.820.143 ÷ 360 = 21.723

(12) A = 433.743

3 ANÁLISE DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO

Em função da evolução das vendas diárias e das variações do Ciclo de


Caixa Equivalente - CCeq., a Cia. BIG ampliou consideravelmente os seus
investimentos em giro.
A evolução de vendas é natural, sadia e desejável enquanto o Ciclo de Caixa
Equivalente, idealmente, deveria ser reduzido. A sua manutenção é aceitável
quando já parte de um nível satisfatório para a empresa.
A Cia. BIG apresentava em 19x1 um CCeq. satisfatório, conforme foi visto
quando da comparação com os padrões do ramo.2 Entretanto, seu CCeq. cresce
a níveis indesejáveis e provoca uma considerável expansão do investimento.

2. Embora a comparação tivesse sido efetuada sem a equivalência, pode-se dizer que o Ciclo
de Caixa estava num nível satisfatório, pois a diferença entre CC sem equivalência comparado
com o padrão sem equivalência e CC com equivalência comparado com padrão com
equivalência é mínima.
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 355

3.1 DESDOBRO DA NCG

Até agora se efetuou uma série de cálculos para chegar à NCG. Agora,
vamos percorrer o caminho inverso, ou seja, decompor os números a partida
NCG a fim de analisá-los.
Para isso criou-se o modelo representado abaixo:

PMRV

CMV
V

CCeq. PMREeq.

PMRE

C
Vd PMPCeq.
V

PMPC

A V

360

FIGURA 12.4. Esquema da origem da Necessidade de Capital de Giro.

Nesse modelo pode ser aplicada a Análise Horizontal. Fazendo isso para
os três exercícios da Cia. BIG, obtêm-se os seguintes números:
PMRV 356
Ex X1 X2 X3
VL 63 67 70
AH 100 106 111

mas %CMV/V

Ex X1 X2 X3
CCeq PMREeq VL 61 54 54

Ex X1 X2 X3 Ex X1 X2 X3 AH 100 88 88

VL 65 91 99 VL 45 62 60 vezes PMRE

AH 100 138 150 AH 100 138 133 Ex X1 X2 X3


VL 74 114 112
AH 100 154 151
menos %C/V

Ex X1 X2 X3

NCG PMPCeq VL 50 46 43

Ex X1 X2 X3 Ex X1 X2 X3 AH 100 92 86

VL 812 1233 1724 VL 42 38 31 vezes PMPC

AH 100 152 212 AH 100 90 74 Ex X1 X2 X3


VL 85 83 73
AH 800 96 86
Vendas Realizadas
ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Ex X1 X2 X3
Vd Observações: t. Valores Absolutos em US$ 1.000.
VL 5960 6043 7820
2. Todos os números foram arrendondados.
Ex X1 X2 X3 AH 100 101 131 3. Simbologia:
Ex = Banido
VL 16,6 16,8 21,7
dividido VI = Valor
AH 100 101 131 AH = Análise Horizontal
CMV/V = Custo de Mercadorias sobre Vendas
menos A 360
C/V = Compras sobre Vendas
Ex X1 X2 X3 PMRE = Prazo Médio de Renovação de Estoques
PMPC = Prazo Médio de Pagamento de Compras
VL 276 290 434 =
PMRV Prazo Médio de Recebimento de Vendas
AH 100 105 157 CCeq = Ciclo de Caixa Equivalente
A = Ajustes

FIGURA 12.5. Causas das variações da NCG.


ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 357

COMENTÁRIOS SOBRE AS CAUSAS DAS VARIAÇÕES DA NCG

A Necessidade de Capitai de Giro da empresa teve, de 19x1 para 19x3, aumento de 112%.
Entretanto, esse desenvolvimento não se deveu exclusivamente ao crescimento de vendas da
empresa, mas principalmente à administração de seus prazos. 0 Ciclo de Caixa Equivalente (que,
a rigor, deveria ter permanecido estável) teve acréscimo de 50%. E é aí que reside o grande problema
da empresa. A principal causa do crescimento do Ciclo de Caixa Equivalente foi o PMRE que bateu
a marca de 51% de aumento. Uma ligeira queda no percentual de custo dos produtos vendidos em
relação a vendas ajudou a diminuir o investimento em estoques e reduziu o crescimento do PMREeq.
para 33%.
Essa ligeira vantagem, entretanto, foi praticamente anulada pela queda do percentual de
compras/vendas que provocou redução do PMPCeq., perdendo ala empresa parte do financiamento
com que contava em 19x1.
Quanto ao PMRV, o crescimento de 11% representou sozinho um acréscimo dessa ordem no
investimento da empresa. Aqui, as demais empresas do ramo experimentaram inexpressivo aumento
de PMRV. A mediana do ramo elevou-se de 75 para 77dias.
A conjugação do aumento simultâneo de vendas e de ciclo de caixa equivalente provocou o
explosivo aumento da NCG de 112%.

3.2 FINANCIAMENTO DA NCG

A fim de completar a análise da NCG da Cia. BIG, encontra-se a seguir um


quadro semelhante ao da Figura 12.3, contendo os dados dos últimos três anos,
com análises vertical e horizontal.
358

PL
Ex X1 X2 X3
CCP VL 1071 1407 1668

Ex X1 X2 X3 AH 100 131 156


VL 305 (309) (1052)
CCL menos
AH - - _ AP
Ex X1 X2 X3
AV 38 (25) (61) Ex X1 X2 X3
VL 619 863 976
mais ELP VL 786 1714 2720
AH 100 139 158
Ex X1 X2 X3 AH 100 224 355
AV 76 70 57
VL 314 1171 2028

AH 100 372 645


AV 38 95 118

NCG
Ex X1 X2 X3
VL 812 1233 1724
mais
AH 100 152 212
AV 100 100 100

Observações: 1. V a l o r e s Absolutos em US$ 1.000.


PCF 2. Valores Negativos entre parênteses.
Ex X1 X2 3. Simbologia:
X3
Ex = Exercido
VL 357 477 835 =
ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

VI Valor
AH = Análise Horizontal
AH 100 134 234
AV = Análise Vertical
AV 44 39 48 PL = Patrimônio Líquido
menos AP = Ativo Permanente
ACF
CCP = Capital Circulante Líquido
Ex X1 X2 X3 ELP = Exigível a Longo Prazo
CCL = Capital Circulante Liquido
VL 164 107 87 =
PCF Passivo Circulante Financeiro
AH 100 65 53 ACF = Ativo Circulante Financeiro

AV (20) (9) (5)

FIGURA 12.6. Esquema de Financiamento da NCG.


ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 359

COMENTÁRIOS SOBRE O FINANCIAMENTO DA NCG

A Necessidade de Capital de Giro teve um crescimento de 112% de 19x1 para 19x3. Entre as
fontes de financiamento do giro destacou-se o uso do Passivo Circulante financeiro que cresceu
134% no período e aumentou a sua participação no financiamento da NCG de 44% para 48%. Isso
ocorreu apesar do excepcional crescimento do Exigível a Longo Prazo de 545%. É que os recursos
do Exiglvel a Longo Prazo foram carreados para financiar a elevada expansão das imobilizações que
chegaram a 255%. Repare-se que o Capital Circulante Próprio, que em 19x1 cobria a nada
desprezível parcela de 38% da Necessidade de Capital de Giro, passou para a taxa negativa de 61%
em 19x3.
Assim, o Exiglvel a Longo Prazo foi duplamente requisitado: para cobrir a elevada expansão
do Ativo Permanente e manter a participação do Capital Circulante Liquido no financiamento do Giro.
Conseguiu que o Capital Circulante Líquido não tivesse uma queda muito acentuada (de 76% para
57% no financiamento do giro), porém o grau de endividamento subiu violentamente nesse período.
360 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Apêndice Administração do Capital de Giro

1 INGREDIENTES BÁSICOS

A NCG é função do ciclo de caixa e das vendas de uma empresa. Isto


significa que para cada volume de vendas existirá uma NCG, supondo-se que o
ciclo de caixa permaneça constante.
Esta suposição de ciclo de caixa constante (mas não fixo) é absolutamente
factível, dentro de certa estabilidade econômica.
Assim, a análise básica a que se irá proceder é das variações da NCG em
função de vendas.
Além da NCG e das vendas, entram nesta análise o Capital Circulante
Próprio, o Ativo Permanente, o Patrimônio Líquido e os Empréstimos Bancários.
As relações entre esses elementos foram mostradas estaticamente no texto
deste capítulo. Agora serão mostradas dinamicamente, visando a conclusões
relativas aos riscos e às vantagens para a empresa.

2 INTER-RELACIONAMENTO DAS VARIÁVEIS

Acham-se abaixo os dados de uma empresa no momento inicial:

VA 1.200
NCG 200
CCP 50
EB 150
PL 230
AP 180
LC 3% s/VA
ANÁUSE DO CAPITAL DE GIRO 361

Índices:

• Endividamento Bancário - EB/PL = = 65%

• Imobilização do Patrimônio Líquido = AP/PL = = 78%

• Financiamento Próprio da NCG - CCP/NCG = = 25%

Legenda:

VA = Vendas Anuais
NCG = Necessidade de Capital de Giro
CCP = Capital Circulante Próprio
EB = Empréstimos Bancários
PL = Patrimônio Líquido
AP = Ativo Permanente
LC = Lucro Capitalizado no exercício

Outros Dados:

(1) São reinvestidos no Ativo Permanente recursos equivalentes ao mon-


tante da depreciação anual; (2) o Ativo Permanente é proporcional a 15% das
Vendas Anuais; e (3) o lucro capitalizado é a sobra após tirar-se os dividendos
do lucro líquido.
Serão demonstradas a seguir duas situações exemplificativas do compor-
tamento das variáveis acima.

SITUAÇÃO A: VENDAS ESTÁVEIS

Durante um ano as vendas da empresa se mantêm estáveis. Com isso a


NCG não se modifica. Entretanto, com a capitalização do lucro, o capital circu-
lante próprio cresce, diminuindo os empréstimos bancários.
362 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Dados

Início do exercício Fim do exercício


VA 1.200 1.200
NCG 200 200
CCP 50 86
EB 150 114
PL 230 266
AP 180 180
LC — 36

Índices

150 114
• Endividamento Bancário = 65% = 42%
230 266
• Imobilização do Patrimônio Líquido
180
= 78%
180 = 68%
230 266
50 86 = 43%
• Financiamento próprio da NCG = 25%
200 200

VA

NCG

EB EB
CCP

Início Fim
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 363

Gráfico

COMENTÁRIOS

Permanecendo constantes as vendas, a NCG também permanecerá fixa.


Entretanto, a capitalização do lucro faz aumentar o patrimônio líquido, bem como
o capital circulante próprio.

Todos os índices melhoram: cai o endividamento e a imobilização do


patrimônio líquido (quanto menores os índices, melhor) © sobe a porcentagem
de financiamento próprio da NCG.

Observe-se a natureza cumulativa da CCP e do PL mesmo diante de vendas


fixas.

A situação neste exemplo é a ideal para a empresa do ponto de vista


financeiro, porém, estrategicamente, a empresa pode estar perdendo participa-
ção de mercado, pois a lei natural é a de crescimento de mercados em seu todo.

SITUAÇÃO B: GRANDE CRESCIMENTO DE VENDAS

As vendas crescem 50% reais num exercício. Para atingir o novo patamar
de produção e vendas, a empresa é obrigada a investir no ativo permanente, de
maneira que os recursos próprios para financiar a NCG caem.

Dados

Início do exercício Fim do exercício


VA 1.200 1.800
NCG 200 300
CCP 50 14
EB 150 286
PL 230 284
AP 180 270
LC — 54
364 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Índices

• Endividamento Bancário = 65% = 101%

• Imobilização do Patrimônio Líquido = 78% = 95%

• Financiamento Próprio da NCG = 25% = 5%

Gráfico

VA

NCG

EB EB

CCP

COMENTÁRIOS

A empresa deste exemplo não tem condições de crescer 50% num ano. Um
crescimento dessa ordem somente seria para uma empresa que não tivesse
NCG e que quase não necessitasse de investimentos em ativo fixo, o que na
prática é quase impossível.
Com 50% de crescimento de vendas houve uma total desestruturação
financeira. A empresa passou a depender enormemente dos empréstimos ban-
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 365

cários, pois só consegue ao final do exercício financiar 5% da NCG. O dinheiro


tomado de bancos é maior que o patrimônio líquido, o que é uma temeridade.
Se a empresa repetisse no exercício seguinte esse mesmo crescimento,
estaria literalmente na mão dos bancos. O aumento da taxa de juros em
conseqüência da elevação do risco poderia comprometera lucratividade, tornan-
do ainda mais complicada a situação da empresa. Os números diante da hipótese
de novo crescimento de 50% de vendas e considerando que pudesse ser mantida
a margem de lucro seriam:

VA 2.700

NCG 450
CCP (40)

EB 490
PL 365
AP 405
LC 81

A única saída para a empresa seria então a redução das vendas e o


desinvestimento de ativo permanente.

3 QUANTO A EMPRESA PODE CRESCER?

O crescimento auto-sustentado da empresa é aquele em que com a capi-


talização dos lucros a empresa mantém os índices de financiamento próprio da
NCG e de endividamento bancário em níveis satisfatórios.
Admitindo-se que no início do exercício a empresa estivesse com níveis
satisfatórios de financiamento próprio da NCG e de endividamento bancário,
quanto ela poderia crescer?
Bastaria montar duas equações, a saber:

(1) 0,25

(2) 0,65
366 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Considerando: CCP = PL-AP


EB = NCG - CCP
PL = 230 + 0.03V
AP = 0,15V
V
NCG =
6

Efetuando as substituições nas fórmulas e colocando ambas as equações


em função das vendas desejadas, tem-se:

Solução:

Solução:

As vendas não poderiam exceder a 1.420, contendo-se, portanto, num


crescimento de 18,33%.
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO 367

Demonstração:

VA 1.420

NCG 236,66

CCP 59,60

Eb 177,06

PL 272,6

AP 213,0

LC 42,6

117,06
Endividamento Bancário = 65%
272,60
213,0
Imobilização do Patrimônio Líquido = 78%
272,60
59,60
Financiamento Próprio da NCG = 25%
236,66

Observações:

a) As vendas de 1.422 e 1.420 nas equações (1) e (2) são números coincidentemente
próximos e decorrem dos dados dessa empresa e dos níveis de endividamento
bancário e de financiamento próprio da NCG tomados como satisfatórios.
b) Os níveis considerados satisfatórios de endividamento bancário e de financiamento
próprio da NCG poderão ser diferentes dos níveis iniciais. Nesse caso, as Vendas
automaticamente serão diferentes para mais ou para menos, podendo ser inclusive
menores que as iniciais. Isto aconteceria se a empresa estivesse com vendas
superiores ao que ela pode financiar.
c) A suposição de ativo permanente proporcional a vendas parece-nos perfeitamente
admissível, pois, na prática, o crescimento de produção e vendas sempre requer
novos investimentos. Somente em crescimentos muito pequenos podem-se consi-
derar os investimentos fixos. Em grandes crescimentos os investimentos tendem a
crescer além das vendas.
Elaboração e Análise do
13 Fluxo de Caixa
A Demonstração do Fluxo de Caixa, apesar de ser uma das demonstrações
financeiras mais úteis, não é divulgada pelas empresas.
Como é uma demonstração exclusivamente de uso interno, sua abordagem
é quase sempre esquecida nas obras de Análise de Balanços.
A Demonstração do Fluxo de Caixa é peça imprescindível na mais elementar
atividade empresarial e mesmo para pessoas físicas que se dedicam a algum
negócio.
Quase sempre os problemas de insolvência ou iliquidez ocorrem por falta
de adequada administração do fluxo de caixa; daí a importância de sua análise.
Para a análise do fluxo de caixa, apresenta-se uma demonstração, chamada
Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa, de extraordinária utilidade para a
análise do desempenho financeiro da empresa, e o que é muito importante: essa
demonstração pode ser facilmente preparada de fora da empresa.
Através da Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa - DFLC, pode-se saber
se a empresa foi auto-suficiente no financiamento de seu giro e qual sua
capacidade de expansão com recursos próprios gerados pelas operações, ou
seja, a independência financeira da empresa é posta em cheque.

1 ELABORAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE


CAIXA

Muitas empresas vão à falência por não


saberem administrar seu fluxo de caixa.

Fluxo significa movimento. Assim, fluxo de caixa pode ser definido como
movimento de caixa.
370 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Os principais objetivos da Demonstração do Fluxo de Caixa são:

• Avaliar alternativas de investimentos.


• Avaliar e controlar ao longo do tempo as decisões importantes que são tomadas na
empresa, com reflexos monetários.
• Avaliar as situações presente e futura do caixa na empresa, posicionando-a para
que não chegue a situações de iliquidez.
• Certificar que os excessos momentâneos de caixa estão sendo devidamente aplica-
dos.
De acordo com a utilidade que se pretende obter, existem duas demonstra-
ções de fluxo de caixa:
Demonstração das "Entradas e Saídas" de Caixa - DESC.
Demonstração do "Fluxo Líquido de Caixa"- DFLC.
A Demonstração de Entradas e Saídas de Caixa - DESC - visa mostrar o
confronto entre as entradas e saídas de caixa e, conseqüentemente, se haverá
sobras ou falta de caixa, permitindo à administração decidir com antecedência
se a empresa deve tomar recursos ou aplicá-los. A DESC é, portanto, um
instrumento imprescindível. Não se concebe uma empresa que possa operar sem
ter uma DESC atualizada mensalmente.
A DESC é normalmente voltada para o futuro, abrangendo períodos curtos,
como os próximos 30 dias - dia-a-dia -, os próximos três meses - mês a mês -
e os próximos anos - ano a ano.
No Brasil, dada a instabilidade econômica, a longo prazo perde-se o sentido
e mesmo o período de um ano às vezes parece uma aventura.
A DESC passada só interessa para fins de comparação com a anteriormente
prevista e assim possibilitar o aprimoramento da técnica de elaboração da DESC
e melhor aproximação das previsões.
A DESC, entretanto, permite-nos a análise das causas da posição de caixa
da empresa. Por exemplo: se está faltando dinheiro, por que isso acontece? As
causas são várias.
Por isso criamos uma demonstração que denominaremos de Demonstra-
ção do Fluxo Líquido de Caixa - DFLC -, que mostra o efeito de cada variável
no caixa, tal como a Necessidade de Capital de Giro (que por sua vez decorre
do nível de estocagem, prazos concedidos a clientes e recebidos de fornecedo-
res), expansão ou redução de atividades, realização de investimentos ou desi-
mobilização, tomada ou amortização de financiamentos, aportes de capital ou
distribuição de dividendos etc.
Em resumo, enquanto a DESC é o instrumento de trabalho, a DFLC é o
instrumento de análise.
Dentro dos objetivos deste livro, a ênfase é dada à DFLC, para a qual foi
construído um modelo inédito.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 371

2 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA -


DFLC

A Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa


permite extrair importantes informações
sobre o comportamento financeiro da em-
presa no exercício.

A Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa pode ser preparada facilmente


de fora da empresa, a partir das demonstrações financeiras publicadas pelas
S.A. Além disso, é construída sob a forma que permite uma série de relações e
avaliações referentes à capacidade de pagamento da empresa e à administração
financeira; portanto, extremamente útil tanto interna quanto externamente à
empresa.
As principais informações dessa demonstração referem-se à capacidade
financeira da empresa de:

> Autofinanciamento das operações (compra, produção e vendas).


> Independência do sistema bancário no curto prazo.
> Gerar recursos para manter e expandir o nível de investimentos.
> Amortizar dívidas bancárias de curto e de longo prazo.

Outras informações que podem ser extraídas da DFLC são:

• Quais as causas das mudanças na situação financeira da empresa?


• O que foi feito com o lucro gerado pelas operações?
• Qual a aplicação feita com os novos empréstimos?
• Como foi possível à companhia distribuir dividendos após o prejuízo sofrido no
exercício?
• De que forma a empresa consegue manter seus pagamentos em dia se os resultados
vêm sendo negativos?
• Como está sendo financiada a expansão da empresa?
• Com que recursos a empresa amortizou antecipadamente dívidas de longo prazo?
• O que foi feito com as receitas de venda de Imobilizado?
• Os recursos gerados pelas operações foram suficientes?
• Por que a empresa teve de tomar empréstimos se seu lucro mais a depreciação são
superiores aos investimentos em Imobilizado?
• Qual a habilidade dos administradores em obter recursos adequados às Aplicações?
• A política de investimentos adotada pela empresa é apropriada?
• O nível em tesouraria (Disponibilidades mais Aplicações Financeiras) é adequado?
• A política de distribuição de dividendos é compatível com a geração de recursos?
372 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

2.1 EXEMPLO SIMPLIFICADO DA DFLC

Consideremos as seguintes demonstrações financeiras de uma empresa:

CIA. LÍQUIDA
Balanço Patrimonial levantado em:

31.12.x5 31.12.x6

ATIVO

CIRCULANTE

Disponível 100 220


Dupl. a Receber 1.800 2.030

Estoques 1.400 1.185

SOMA 3.300 3.435

PERMANENTE
Imobilizado

Custo 2.800 3.145

Depreciação (600) 2.200 (1.200) 1.945


TOTAL DO ATIVO 5.500 5.380

PASSIVO

CIRCULANTE

Fornecedores 1.100 1.400


Empréstimos Bancários 400 370
SOMA 1.500 1.770
EXIG. LONGO PRAZO

Financiamentos 500 660


PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Capital 2.000 2.150


Lucros Acumulados 1.500 800
SOMA 3.500 2.950
TOTAL DO PASSIVO 5.500 5.380
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 373

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO PARA


O EXERCÍCIO FINDO EM 3 1 - 1 2 - X 3

VENDAS LÍQUIDAS 9.000

Custo das Mercadorias Vendidas (6.700)

Lucro Bruto 2.300

DESPESAS OPERACIONAIS

Administrativos 2.200

Depreciação do Exercício 600 (2.800)

Prejuízo Operacional (500)

Prejuízo Líquido (500)

DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO


LÍQUIDO PARA O EXERCÍCIO FINDO EM 31-12-x6

LUCROS
CAPITAL TOTAL
ACUMULADOS

Saldo Inicial 2.000 1.500 3.500

Aumento de Capital 150 - 150

Prejuízo - (500) (500)

Dividendos Pagos - (200) (200)

Saldo Final 2.150 800 2.950


374 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS


PARA EXERCÍCIO FINDO EM 31-12-X6

ORIGENS
Das operações
Prejuízo do Exercício (500)
+ Depreciação do Exercício 600 100
Dos Acionistas
Aumento de Capital 150
De Terceiros
Financiamento de Longo Prazo 160
TOTAL DAS ORIGENS 410
APLICAÇÕES
Dividendos (200)
Aquisição de Imobilizado (345)
545
Redução do Capital Circulante Líquido (135)

MOVIMENTO DO CAPITAL CIRCULANTE LIQUIDO

INICIAL FINAL VARIAÇÕES


Ativo Circulante 3.300 3.435 135
Passivo Circulante (1.500) (1.770) (270)
Capital Circulante Líquido 1.800 1.665 (135)

Este exemplo está mostrando uma empresa que sofreu prejuízo, tendo
mesmo assim declarado dividendos com base nos Lucros Acumulados anteriores
(possivelmente para manter a remuneração dos acionistas). Além disso, a
empresa efetuou investimentos no Ativo Imobilizado e pagou dívidas de curto
prazo. Contudo, seu "Caixa" aumentou! Como foi possível isto?
Vamos mostrar inicialmente a Demonstração das Entradas e Saídas de
Caixa - DESC -, construída com base nas demonstrações financeiras publicadas
apenas a título didático e de ilustração.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 375

DEMONSTRAÇÃO DAS ENTRADAS E SAÍDAS DE CAIXA


PARA O EXERCÍCIO FINDO EM 31-12-X6

ENTRADAS (provenientes de)


Vendas 8.770 (A)
Aumento de Capital 150
Aumento de Financiamento de Longo Prazo 160
SOMA 9.080

SAÍDAS (Para Pagamento de)


Custo de Mercadorias Vendidas (Fornecedores) 6.185 (B)
Despesas Administrativas 2.200
Empréstimos Bancários 30
Dividendos 200
Aquisição de Imobilizado 345
8.960
Aumento do Saldo de Caixa 120
+ Saldo Inicial de Caixa 100
= Saldo Final de Caixa 220

NOTAS DE CALCULO:

(A) 9.000 + 1.800-2.030 = 8.770


(B) (a) CMV = EI + C-EF
6.700 = 1.400 + C-1.185 -> C = 6.485
(b) 6.485 + 1.100-1.400 = 6.185

Como pôde observar o leitor, a Demonstração das Entradas e Saídas de


Caixa detalha as fontes de Caixa e seus usos, porém não responde às
questões formuladas na página 371. A resposta pode ser encontrada na
demonstração seguinte.
376 ANALISE DA GESTÃO DE CAIXA

TRANSFORMAÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO (lucro ou prejuízo)


EM RESULTADO FINANCEIRO (CAIXA)

Prejuízo (500)

+ Depreciação 600 100


+ Aumento de Fornecedores 300
+ Redução de Estoques 215
- Aumento de Dupl. a Receber (230) 285
- Redução de Empréstimo Bancário (30)

+ Aumento de Capital 150


- Aumento de Imobilizado (345)

- Dividendos (200) (395)

+ Aumento Financiamento Longo Prazo 160


Aumento do Saldo de Caixa 120

Essa demonstração da transformação do Resultado Econômico em Resul-


tado Financeiro nada mais é do que a DFLC - Demonstração do Fluxo Líquido
de Caixa, necessitando apenas ser revestida de uma forma mais explicativa
como mostraremos a seguir.

2.2. CONSTRUÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO


LÍQUIDO DE CAIXA

GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA

O ajuste do lucro por despesas não desembolsáveis mostra o montante de


caixa gerado pelas atividades econômicas, ou seja, pelas atividades comerciais.

Prejuízo (500)

(+) Depreciação 600


Geração Bruta de Caixa 100
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 377

GERAÇÃO OPERACIONAL DE CAIXA

O confronto das variações dos itens de Ativo Circulante Operacional e do


Passivo Circulante Operacional resultam na variação da NCG - Necessidade
de Capital de Giro. Adicionando a variação da NCG à Geração Bruta de Caixa
chega-se a Geração Operacional de Caixa, cujo significado é o caixa gerado
pelas atividades comerciais acopladas aos investimentos operacionais e fontes
operacionais.

INICIAL FINAL VARIAÇÃO

Fornecedores 1.100 1.400 300

(-) Duplicatas a Receber 1.800 2.030 (230)

(-) Estoques 1.400 1.185 215

NCG 2.100 1.815 285

Geração Bruta de Caixa 100


+ Variação NCG 285

Geração Operacional de Caixa

GERAÇÃO CORRENTE DE CAIXA

Adicionando-se à geração operacional de caixa a variação dos empréstimos


bancários de curto prazo, chega-se à geração corrente de caixa, cujo signifi-
cado é o caixa gerado pelas atividades de curto prazo.

INICIAL FINAL VARIAÇÃO

Empréstimo Bancário 400 370 (30)

Geração Operacional de Caixa 385

(-) Redução de Empréstimo Bancário 30

Geração Corrente de Caixa


378 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

É possível agora mostrar a DFLC completa:

CIA. LIQUIDA

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA PARA


O EXERCÍCIO FINDO EM 31-12-X6

RESULTADO DO EXERCÍCIO (500)

(-) Ajustes (despesas e receitas não caixa)

Depreciação do Exercício 600 100

GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA

Variação de NCG

Variação dos Fornecedores 300

Variação de Outros Passivos Operacionais -o-

Variação de Clientes (230)

Variação Estoques 215 285

GERAÇÃO OPERACIONAL DE CAIXA

Variação de Empréstimos Bancários de Curto Prazo (30)

GERAÇÃO CORRENTE DE CAIXA

Variação dos itens Permanentes de Caixa

Aumento de Capital 150

Dividendos (200)

Acréscimo de Imobilizado (345) (395)

Variação dos Itens Não Correntes

Aumento de Financiamento de Longo Prazo 160 160

GERAÇÃO LÍQUIDA DE CAIXA

+ Saldo Inicial de Caixa 100

- Saldo Final de Caixa 220


ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 379

3 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

O melhor instrumento de análise é a DFLC.

As entradas e saídas de caixa de uma empresa sempre batem. Mesmo a


empresa inadimplente, ao deixar de cumprir parte ou a totalidade de seus
compromissos, tem o saldo de caixa batido. Também a empresa mal administra-
da, que toma empréstimos de curto prazo para cobrir prejuízos, realizar investi-
mentos sem retorno, e que, portanto, não poderá pagá-los, terá as entradas e
saídas de caixa batendo. Daí o perigo do uso da Demonstração de Entradas e
Saídas de Caixa.
Analisar a gestão de caixa significa analisar os fatores que influenciam o
movimento de caixa a curto e longo prazos.
O instrumento adequado para análise da Gestão de Caixa é a DFLC.
A DFLC mostra se a empresa está gerando recursos para financiar suas
atividades comerciais, se pode pagar dívidas bancárias e se sobram recursos
para investimentos ou amortização de financiamento de longo prazo, ou seja,
mostra quase tudo que é preciso saber em termos de análise da gestão de caixa.
Suas cifras são quase autoconclusivas.
Entretanto, há certas dificuldades na avaliação da DFLC. É importante saber
se há, por exemplo, GERAÇÃO OPERACIONAL DE CAIXA, porém é preciso
conhecer como ela se forma; daí decorrem diferentes avaliações.

3.1 DIFICULDADES NA AVALIAÇÃO DA DFLC

Não é possível determinar um modelo de avaliação da DFLC, tal como foi


feito em relação ao Balanço e Demonstração de Resultado do Exercício no
Capítulo 8.
Há um número incontável de situações em que caberá ao analista avaliar.
Sugerimos que a avaliação da DFLC se faça item a item, ou seja, aprecia-se
sucessivamente a Geração Bruta de Caixa, Geração Operacional de Caixa,
Geração Corrente de Caixa e Geração Líquida de Caixa.
Apresentamos a seguir uma seqüência de idéias que ilustra como podem
ser feitas análises.
Quando uma empresa não apresenta geração bruta de caixa, é óbvio que
sua situação é difícil. Entretanto, quando há geração bruta de caixa, em princípio
nada poderá ser concluído, pois a partir daí existem algumas possibilidades,
como, por exemplo:
380 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

a) A geração bruta de caixa é pequena em decorrência do baixo lucro e é


insuficiente para cobrir o crescimento da NCG, apesar de esta ser pouco
expressiva.
b) A geração bruta de caixa é boa, mas insuficiente para cobrir o crescimento da
NCG, em virtude da expansão da empresa.
c) A geração bruta de caixa é elevada, mas insuficiente para cobrir o crescimento
da NCG, em virtude das alterações desfavoráveis de ciclo operacional e ciclo
financeiro.

Se a geração bruta de caixa é inferior ao crescimento da NCG, isto significa


que a empresa não tem geração operacional de caixa. Conseqüentemente, não
tem capacidade de pagar dívidas bancárias de curto prazo, de realizar investi-
mentos e de amortizar financiamentos de longo prazo.
Nessas três situações aventadas a empresa não tem geração operacional
de caixa (ou seja, sofre absorção operacional de caixa), porém a avaliação da
gestão de caixa é diferente em função das diferenças entre os fatores que
determinaram o crescimento da NCG. Além disso, fatalmente essas avaliações
serão afetadas pelo volume de absorção operacional de caixa. Na situação b,
por exemplo, um volume elevado de absorção operacional de caixa será um
indicador de comprometimento da situação financeira da empresa, porém rever-
sível, na medida em que a empresa se dispuser a reduzir suas operações.
Observe-se que essas três situações são apenas exemplificativas de deter-
minado ponto da DFLC, longe de serem as únicas. Em cada um dos outros
pontos, como geração operacional de caixa e geração corrente de caixa, há
também inúmeras situações possíveis.
Em resumo, diante de tantas alternativas, não é possível estabelecer-se um
método matemático de avaliação da DFLC, porém alguns roteiros básicos
auxiliares podem ser montados, como é mostrado a seguir.
A idéia básica que deve ter sempre em mente o analista ao avaliar a DFLC
é o grau de independência da empresa em relação a financiamentos externos e
a capacidade de autofinanciamento. Toda vez que aumentar a dependência ao
sistema bancário ou que a empresa não conseguir livrar-se de dependência
anterior, quando esta for elevada, a avaliação da empresa segundo a sua DFLC
será insatisfatória.

3.2 ROTEIRO PARA ANALISE DA DFLC

A avaliação da DFLC passa por dois pontos fundamentais.


Em primeiro lugar é preciso conhecer o significado de cada item da DFLC
e o inter-relacionamento desses itens. Isto é apresentado no Quadro 13.1.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 381

Em segundo lugar é preciso avaliar a importância relativa de cada item da


DFLC. Por exemplo, suponhamos ter havido determinada geração operacional
de caixa, cujos valores sejam pouco expressivos. Como avaliar a importância e
as implicações dessa geração operacional de caixa?
A única coisa que falta na DFLC é uma visão da relevância da movimentação
dos itens não correntes no exercício em relação a seus saldos do início do
exercício e, conseqüentemente, da relevância da movimentação do CCL e CGP.
Para suprir essa carência montamos duas demonstrações que denomina-
mos respectivamente Demonstração do Capital de Giro - DCG - e Demonstração
da Movimentação do Capital de Giro - DMCG, mostradas a seguir, já com
análises vertical e horizontal, baseadas nos quadros de determinação e financia-
mento da NCG mostrados no Capítulo 12.
Completando, apresentamos no item 3.5 alguns índices que ajudam a
avaliar situação revelada pela DFLC.
Por último, no item 3.6 são apresentados os comentários sobre a gestão de
caixa da CIA. LÍQUIDA.

3.3 O QUE REVELAM OS PRINCIPAIS ITENS DA DFLC

O Quadro 13.1 mostra o significado de cada item da DFLC, enquanto a


Figura 13.1 mostra o inter-relacionamento desses itens.

QUADRO 13.1

Representa recursos com os quais a


Item Revela
empresa poderá:

A- GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA o caixa gerado pelas atividades (1) financiar as operações de compra,
comerciais produção e vendas; (2) pagar dividas
bancárias de curto prazo; (3) realizar
investimentos; e (4) amortizar as dividas
de longo prazo

B- GERAÇÃO OPERACIONAL DE CAIXA o caixa gerado pelas operações, (1) pagar dividas bancárias de curto
incluindo variação da NCG prazo; (2) realizar investimentos; e (3)
amortizar dividas de longo prazo

C- GERAÇÃO CORRENTE DE CAIXA o caixa gerado a curto prazo (1) realizar investimentos; e (2) amortizar
dividas de longo prazo

D- SALDO POSITIVO DA GERAÇÃO o caixa gerado após a realização de (1) amortizar dividas de longo prazo
CORRENTE DE CAIXA MENOS investimentos
VARIAÇÃO DOS ITENS
PERMANENTES DE CAIXA MAIS
VARIAÇÃO DOS ITENS NÃO
CORRENTES

E- GERAÇÃO LÍQUIDA DE CAIXA o caixa final gerado no exercício (1) reforçar sua posição de tesouraria
382

A empresa não tem


capacidade de
autofinanciamento das
operações

Sim

Aumento Não Geração


de Operacional de
NCG? Caixa?

Sim A empresa tem plena A empresa não paga


Não Tomou Sim
capacidade de dividas bancárias mas
Emprésts. Bancs, de
autofinanciamento das tem capacidade
C. Prazo?
Sim operações de investir
Não

Geração Geração Geração Sim A empresa paga dívidas


ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Bruta de Operacional de Corrente de bancárias e ainda tem


Caixa? Sim Caixa? Caixa? capacidade de investir

Não Não

A empresa tem parcial A empresa está pagando


capacidade de dividas bancárias mas
autofinanciamento das não tem capacidade de
operações investir

FIGURA 13.1
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 383

3.4. AS NOVAS DEMONSTRAÇÕES

Acham-se adiante as demonstrações DCG e DMCG que evidenciam dados


relevantes para avaliação da gestão de caixa.

3.4.1 Cia. Líquida - Demonstração do Capital de Giro -


DCG - EM

31-12-19x5 31-12-19x6

VALORES ABSOLUTOS AV AH VALORES ABSOLUTOS AV AH

DETERMINAÇÃO NCG

AC operacional

Clientes 1.800 2.030

Estoques 1.400 1.185

Outras At. Operacionais -o- -o-

SOMA
3.200 3.215
PC operacional

Fornecedores 1.100 1.400

Outros Pas. Oper. -o- -o-

SOMA 2.100 100 100 1.815 100 86


1.100 1.400
FINANCIAMENTO NCG

PL 3.500 100 2.950 84

- AP 2.200 100 1.945 86

- CGP 62 100 56 77
1.300 1.005
+ ELP 500 24 100 660 36 132

- CCL 1.800 86 100 1.665 92 93

+ EBCP 400 19 100 370 20 93

= FINANC. TOTAL NCG 2.200 105 100 2.035 112 93

= SALDO DE TESOURARIA 100 5 100 220 12 220

APLIC. FINANC. -o-

CX. + BANCOS 100 100 220 220


384 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

3.4.2 Cia. Líquida - Demonstração da Movimentação do


Capital de Giro DMCG - para o exercício findo em
31-12-19x6

DETERMINAÇÃO DA VARIAÇÃO DA NCG

A.C. Operacional

Clientes (230)

Estoques 215
(15)
P.C. Operacional

Fornecedores 300
285
VARIAÇÃO DE FINANCIAMENTO DA NCG

PATRIMÔNIO LÍQUIDO (550)

- Ativo Permanente 255


- Capital de Giro Próprio (295)

+ Exigível a Longo Prazo 160


- Capital Circulante Líquido (135)

+ Obrigações Bancárias de Curto Prazo (30)

- Financiamento Gerado para a NCG 165


- Saldo de Tesouraria 120
Aplicações Financeiras -o-
CX./bancos 120

3.5 ÍNDICES

Além das análises vertical e horizontal da DCG, alguns indicadores podem


ser extraídos dos números do conjunto das DFLC/DCG/DMCG.1

1. Recomenda-se observar se matematicamente cada índice é válido, visto que as variações


negativas e positivas dos fluxos, eventualmente, podem levar a números sem sentido.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 385

Exemplos dos principais índices baseados na CIA. LÍQUIDA:

Capacidade de Finan- Qual a capacidade da


ciamento NCG Geração Bruta de Caixa empresa em financiar o
= x 100
Variação NCG crescimento da atividade
comercial

Capacidade de Pagamento Qual a capacidade da


de Dívidas Bancárias de Geração Operacional de Caixa empresa em pagar
= x100
Curto Prazo Saldo Inicial de E.B.B. empréstimos bancários de
curto prazo

Capacidade de Inves- = Qual a capacidade da


timentos Geração Operacional de Caixa empresa de efetuar
Variação dos Itens Permanentes de Caixa investimentos com recursos
próprios

Capacidade de Amortização Qual a capacidade da


de Financiamentos empresa em amortizar
Geração Operacional de Caixa
financiamentos de longo
- Variação Permanente de Caixa
Saldo Inicial de ELP prazo, com os recursos
próprios, sem prejuízo dos
investimentos em curso

3.6 COMENTÁRIOS SOBRE A GESTÃO DE CAIXA DA CIA.


LÍQUIDA

A Cia. Líquida sofreu prejuízo no exercício de 19x6, entretanto, computando


as despesas não-caixa, acabou apresentando geração bruta de caixa. Como a
NCG reduziu-se em 13%(o que revela boa administração de Ativo Circulante
Operacional e Passivo Circulante Operacional), a empresa mostrou geração
operacional de caixa. Em função de suas operações produziu caixa de $ 385,
suficiente para amortizar 96% das dívidas bancárias de curto prazo ou, alterna-
tivamente, financiar 97% dos investimentos líquidos realizados, (isto é, os inves-
timentos não cobertos pela entrada de recursos dos sócios aportes de capital
menos dividendos).
A opção da empresa, entretanto, foi utilizar a geração operacional de caixa
para uma ligeira redução das dívidas bancárias de curto prazo e mais acentua-
damente para financiar os investimentos. Com isso não sobraram recursos para
amortizar financiamentos de longo prazo, (o índice de capacidade de amortização
de financiamentos foi de -2%). Pelo contrário, houve incremento desses finan-
ciamentos, os quais, a rigor, foram desnecessários, pois acabaram sobrando no
caixa.
386 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

4 COMPARAÇÃO ENTRE A DFLC (DEMONSTRAÇÃO


DO FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA) E A DOAR
(DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES
DE RECURSOS)

4.1 REFORMATAÇÃO DA DOAR

Vamos inicialmente reproduzir a DOAR da Cia. Líquida mostrada na página


374 reescrita na forma dedutiva e em linguagem compatível com a DFLC, a fim
de compará-las entre si.

CIA. LIQUIDA

Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos para o exercício findo em 31-12-x6.

Prejuízo do exercício (500)

+ Depreciação 600

Geração Bruta de Caixa 100


+ Variação Permanente de Caixa no Exercício

Aumento de Capital 150

Dividendos (200)

Acréscimo do Imobilizado (345) (395)


Variação do Capital de Giro Próprio (295)

+ Variação dos Itens não Correntes

Aumento de Financiamento de Longo Prazo 160


Variação do Capital Circulante Líquido (135)

4.2 CONFRONTO DOAR X DFLC

Se colocarmos agora lado a lado a DOAR e a DFLC ficam claras as


diferenças entre essas duas demonstrações.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 387

DOAR DFLC
Prejuízo do Exercício (500) (500)
+ Depreciação 600 600
Geração Bruta de Caixa 100 100
+ Variação da NCG -o- 285
- Geração Operacional de Caixa -o- 385
+ Var. de Emp. Banc. de Curto Prazo -o- (30)
= Geração Corrente de Caixa -o- 355
+ Variação Permanente de Caixa
Aumento de Capital 150
Dividendos (200) .
Acréscimo de Imobilizado (345) (395) (395)
Variação do Capital de Giro Próprio (295) -o-
+ Variação nos Itens Correntes
Aumento de Financiamento de Longo Prazo 160 160
Variação do Capital Circulante Líquido (135) -o-
= Geração Líquida de Caixa -o- 120

Como se observa, a DFLC compreende todos os dados da DOAR mais a


variação da NCG e dos Empréstimos Bancários de Curto Prazo, sendo, pois,
uma demonstração mais completa.

4.3 UTILIDADE DA DOAR

Como a DFLC compreende todos os dados da DOAR, esta se torna


praticamente desnecessária.
Ademais, a forma da DOAR adotada na legislação societária baseada numa
filosofia de débitos e créditos tal como se apresentava antigamente a demons-
tração de Lucros e Perdas (com receitas de um lado e despesas de outro) acha-se
superada.
A DOAR pela legislação societária é muito pobre para análise. Sua única
utilidade é fornecer dados para montagem da DFLC de fora da empresa.
O mais adequado seria uma apresentação dedutiva da DOAR que eviden-
ciasse, no meio do caminho, a variação do Capital de Giro Próprio, de maneira
como mostramos no item 4.1. Se fosse acrescentada à DOAR dedutiva a
variação da NCG e dos Empréstimos Bancários de Curto Prazo, ter-se-ia a
própria DFLC sob outro formato, porém interessante para análise. Por isso não
será apresentado nesse livro tópico sobre a análise da DOAR.
388 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

5 A DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA


DA CIA. BIG E SUA ANÁLISE
Com base nas demonstrações financeiras divulgadas da Cia. Big - Balan-
ços, Demonstrações de Resultados e Demonstrações das Origens e Aplicações
de Recursos -, podemos preparar as DFLCs mostradas a seguir.2

5.1 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA


CIA. BIG
DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA
Períodos findos em 31-12 de
19x2 19x3
LUCRO DO EXERCÍCIO 167.116 165.956

Depreciação 101.511 167.477


- Resultado da Equivalência Patrimonial (10.541) (20.277)
GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA 258.086 313.156
Aumento da NCG (490.857)
DÉFICIT OPERACIONAL DE CAIXA (177.701)
Obrigações Bancárias de Curto Prazo 120.516 357.429

DÉFICIT (GERAÇÃO EM 19x3)


(41.895) 179.728
CORRENTE DE CAIXA

VARIAÇÃO DOS ITENS PERMANENTES


DE CAIXA
• Aumento de Capital 255.440 156.673
• Dividendos (86.232) (61.987)
• Acréscimos de Ativo Permanente (1.040.151) (1.152.081)
(870.943) (1.057.395)

VARIAÇÃO DOS ITENS NÃO


CORRENTES
• Aument. de Emp. e Financ. de Longo
857.443
Prazo
DÉFICIT LÍQUIDO DE CAIXA (56.410) (20.224)
+ Ativo Circ. Finan. Inicial 163.634 107.224
= Ativo Circ. Financ. Final 107.224 87.000

2. As letras dentro dos círculos são referências usadas nos comentários.


ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 389

5.2 DEMONSTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO

Demonstração do Capital de Giro da Cia. Big. em

31-12-X1 31-12x2 31-12x3

Valor Valor Valor


AV AH AV AH AV AH
Absoluto Absoluto Absoluto

Determinação da NCG

Ativo Circulante Operacional

Clientes 1.045.640 129 100 1.122.512 91 107 1.529.061 89 146

Estoques 751.206 92 100 1.039.435 84 138 1.317.514 76 175

(I)SOMA 1.796.846 100 2.161.947 120 2.846.575 165 158

Passivo Circulante Operacional

Fornecedores 708.536 87 100 639.065 52 90 688.791 40 97

Outros 275.623 34 100 289.698 23 105 433.743 25 157

(II) SOMA 984.159 928.763 1.122.534

(III) NCG (NI) 812.687 100 100 1.233.184 100 152 1.724.041 100 212

Financiamento da NCG

Patrimônio Líquido 1.070.861 132 100 1.407.185 114 131 1.667.827 97 156

(-) Ativo Permanente (765.698) 94 100 (1.714.879) 139 204 (2.719.760) 158 355

= Capital de Giro Próprio 305.163 37 100 (307.694) (25) - (1.051.933) (61) -

+ Exigível a Longo Prazo 314.360 39 100 1.170.788 95 373 2.028.231 118 646

- Capital Circulante Liquido 619.523 76 100 863.094 976.298

+ Obrigações Bancárias de Curto Prazo 44 100 477.314 834.743

(IV) FINANCIAMENTO TOTAL NCG 976.321 120 100 1.340.408 109 137 1.811.041 105 185

SALDO DE CAIXA (IV-III) 163.634 20 100 107.224 9 65 87.000 5 53


390 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

5.3 DEMONSTRAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO DO CAPITAL


DE GIRO

Demonstração da Movimentação do Capital de Giro da Cia. BIG para os


exercícios findos em:

* *
19x2 19x3

Valor Valor
Absoluto Absoluto

Determinação da Variação da NCG

Ativo Circulante Operacional

Clientes (76.872) 7 (406.549) 36

Estoques (288.229) 38 (278.079) 26

(I)SOMA (365.101) 20 (684.628) 32

Passivo Circulante Operacional

Fornecedores (69.471) (10) 49.726 8

Outros 14.075 5 144.045 50

(II) SOMA (55.396) (6) 193.771 21

(III) Variação da NCG (I- II) (420.497) (490.857)

Variação do Financiamento da NCG

Patrimônio Líquido 336.324 31 260.642 18

Ativo Permanente 124 59

= CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO _ _

+ Exigível a Longo Prazo 856.428 273 857.443 73

= CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 243.571 39 113.204 13

+ Obrigações Bancárias de Curto Prazo 357.429

= (IV) VARIAÇÃO DO FINANCIAMENTO TOTAL DA NCG 364.087 37 470.633 35

- VARIAÇÃO DO SALDO DE CAIXA (IV-III) (56.410) (20.224)

* Variação percentual em relação ao valor do início do exercício.


ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 391

5.4 PRINCIPAIS ÍNDICES DO FLUXO DE CAIXA DA CIA. BIG

Índice Valores

19x2 19x3

Capacidade de Financiamento 258.086 313.156


da NCG 420.497 490.857

Capacidade de Pagamento de (162.411) (177.701)


Dívidas Bancárias 356.798 477.314

(162.411) (177.701)
Capacidade de Investimentos
870.943 1.057.395
(162.411)-(870.943) (177.701)-(1.057.395)
Capacidade de Amortização de
314.360 1.170.788
Financiamentos

5.5 COMENTÁRIOS SOBRE A GESTÃO DE CAIXA DA


CIA. BIG NOS EXERCÍCIOS DE 19x2 E 19x33

A Cia. Big apresenta elevado crescimento de sua NCG tanto no exercício de 19x2 como no de 19x3,
registrando respectivamente variação percentual.

A GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA cobriu apenas nova NCG em 19x2 e em 19x3 não passou
de com isso a empresa apresentou DÉFICIT OPERACIONAL DE CAIXA em ambos os
exercícios.

Em conseqüência, passou a depender de empréstimos bancários de curto prazo para financiar esses
défícits operacionais.

Em vista disso, a empresa não só mostrou-se incapaz de pagar empréstimos bancários de curto
prazo como aumentou sua dependência destes. O exercício de 19x2 iniciou com empréstimos
bancários da ordem de US$ 356.798. Déficit Operacional de US$ um ônus
de 45%.

3. As letras dentro dos círculos são referências citadas nos comentários.


392 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

Isso é desfavorável em termos de gestão de caixa.

Excepcionalmente, é admissível tomar empréstimos bancários de curto prazo para realizar investi-
mentos permanentes quando há excedente de CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO.

Em resumo, a gestão de caixa pode ser considerada ruim em ambos os exercícios, com muitos pontos
desfavoráveis, salvando-se apenas o relativo equilíbrio entre aplicações permanentes e fontes não
correntes em 19x2.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA 393

Apêndice Onde está o Lucro?

Esta é uma pergunta que freqüentemente empresários fazem aos recebe-


rem as demonstrações financeiras. Não só esta, mas também o que foi feito com
os empréstimos, com o aumento de capital etc.
E freqüentemente as respostas não lhes são dadas claramente por falta da
Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa.
É claro que o dinheiro não tem marcas e não se pode a rigor dizer que o
aumento de capital está em máquinas ou que o lucro está em estoques. Mas se
forem feitas vinculações desse tipo, será possível visualizar onde foram investi-
dos os recursos gerados no exercício.
Tomando como exemplo o exercício de 19x3 da Cia. Big, tem-se que:
1. O lucro devidamente ajustado pelos itens não caixa (ou seja, a geração
bruta de caixa) foi totalmente investido no Ativo Circulante Operacional, indistin-
tamente em CLIENTES e ESTOQUES.

Lucro Ajustado (Geração Bruta de Caixa) 313.156


Acréscimo de Clientes e Estoques 648.628
(-) Acréscimos de Fornecedores e Outros
Passivos Operacionais 193.771 (490.857)
Diferença (Déficit Operacional de Caixa) 177.701

A empresa, no dia-a-dia, compra, produz e vende, investindo em clientes,


estoques e recebendo crédito de fornecedores e de terceiros. O lucro/caixa vai
sendo usado também para cobrir esses investimentos, após os créditos do
passivo operacional. Se o lucro/caixa foi menor que o saldo desses investimentos
menos financiamentos, então ele estará totalmente aplicado em clientes e
394 ANÁLISE DA GESTÃO DE CAIXA

estoques. Se for maior irá sucessivamente pagar Empréstimos Bancários de


curto prazo, dividendos, e aplicados em investimentos permanentes.
2. Os Empréstimos Bancários tomados destinam-se geralmente a cobrir o
Déficit Operacional de Caixa, como aconteceu em 19x3 com a Cia. Big.

Obrigações Bancárias de Curto Prazo 357.429


Déficit Operacional de Caixa 177.701
Excedente (Geração Corrente de Caixa) 179.728

Havendo excedentes de Empréstimos Bancários, como no exemplo acima,


estes serão aplicados em investimentos permanentes.
3. O dinheiro ingressado na empresa com aumento de capital é aplicado
primeiramente em investimentos permanentes e sucessivamente no pagamento
de empréstimos bancários, de fornecedores e em clientes e estoques.
No caso da Cia. Big o aumento de capital esteve em 19x3 muito aquém dos
investimentos permanentes.

Aumento de Capital 156.673


(-) Aplicações em Dividendos e Ativo Permanente 1.214.068
Aplicações Permanentes Líquidas 1.057.395

4. Os recursos obtidos através de financiamentos de longo prazo são


aplicados sucessivamente nos investimentos permanentes, no pagamento de
empréstimos bancários de curto prazo e nos clientes e estoques.
No caso da Cia. Big eles foram totalmente absorvidos pelas aplicações
permanentes em 19x3.

Empréstimos e Financiamento de Longo Prazo 857.443


Acréscimo dos Itens Permanentes de Caixa 1.057.395
Déficit de Financiamentos não Correntes 199.952
PARTE Análise da Gestão
IV do Lucro
Esta parte tem como objetivo apresentar um instrumental de análise
da rentabilidade da empresa como informação gerencial.

Considera-se que a análise da rentabilidade é o principal relatório


baseado nas demonstrações financeiras de que podem fazer uso os
dirigentes de uma empresa.

Foram aqui reunidos e condensados diversos conceitos relativos aos


índices de rentabilidade e sobretudo à alavancagem financeira, dentro do
que existe de mais atual.

De início, o texto procura definir com exatidão as relações entre a


renda gerada e os investimentos.

Paulatinamente, são introduzidos aperfeiçoamentos e refinamentos


que confluem para o desfecho de um modelo amplo de análise da
rentabilidade que relaciona simultaneamente todas as contas do balanço
e demonstração do resultado.

Destacam-se ao longo dos capítulos refinamentos no tratamento de


aspectos relacionados com:

• Passivo com ou sem encargos.

• Imposto de renda.

• Fórmulas de cálculos dos índices.


Alavancagem Financeira e as
14 Diversas Taxas de Retorno
A medição correta de taxa de retorno de uma empresa é uma informação
vital para uma série de decisões que em certos casos extremos pode ser a
mudança de ramo ou mesmo a cessação das atividades.
Todavia, freqüentemente encontramos tanto em empresas como na litera-
tura formas Inadequadas ou mesmo incorretas de apuração das taxas de retorno,
às vezes totalmente fora da realidade.
O objetivo deste capítulo é apresentar com exatidão as relações entre renda
e investimentos e de que maneira elas se relacionam na formação da taxa final
de retorno do capital dos acionistas.
Foram aqui reunidos diversos conceitos relativos aos índices de rentabilida-
de e à alavancagem financeira, dentro do que existe de mais atual.

1 SIGNIFICADO DO RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS

Toda empresa utiliza recursos representados por capitais investidos.


Toda empresa busca gerar lucro para remunerar esses capitais.
Para medir a eficiência da empresa em atender a este objetivo (gerar lucro),
apura-se a chamada taxa de retorno sobre investimentos através da divisão do
lucro pelo investimento.

LUCRO
Taxa de retorno sobre investimento:
INVESTIMENTO
398 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Se uma empresa tem lucro de $ 500.000 e capital investido de $ 5.000.000,


500.000
o seu retorno sobre investimento é de = 0,10 ou 10%.
5.000.000
Em termos mais amplos, a moderna empresa utiliza diversos fatores:
financeiros, humanos, tecnológicos, administrativos, energéticos etc, e procura
gerar novos recursos (rendimentos) com o objetivo de remunerar esses fatores.
Os salários, por exemplo, representam a remuneração da mão-de-obra; os
honorários da administração, a remuneração da capacidade administrativa; o
lucro, a remuneração do capital investido. Quando se diz que toda empresa busca
gerar lucro, não se está querendo dizer que a empresa só procura gerar lucro e
só remunera capitais, mas que para remunerar os capitais ela busca gerar lucro.
O retorno sobre investimentos pode também ser chamado taxa de rentabi-
lidade ou, abreviadamente, rentabilidade. (Diz-se: "a rentabilidade da empresa é
de 10%".)

1.1 DIVERSOS LUCROS E INVESTIMENTOS

O conceito de rentabilidade é apenas aparentemente simples, pois diversas


dificuldades surgem ao se tentar tomar lucro e investimento, dificuldades essas
de diferentes naturezas, conforme é apresentado a seguir.

LUCRO

Qual o valor do lucro a tomar: lucro bruto, lucro operacional, lucro antes do
imposto de renda, lucro antes da correção monetária, lucro antes das despesas
financeiras, lucro líquido?

INVESTIMENTO

O que tomar como investimento? O ativo total, o ativo operacional, o


patrimônio líquido, os capitais de terceiros, as obrigações remuneráveis?
Mesmo após a escolha do numerador e denominador persistem certas
dificuldades:

• Qual o período compreendido pelo lucro?


• O investimento é o inicial, final, médio, corrigido da inflação?
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 399

1.2 FALHA DA FÓRMULA LUCRO LÍQUIDO DIVIDIDO POR


ATIVO TOTAL MÉDIO

Freqüentemente, os cuidados apontados são ignorados. Em conseqüência,


apuram-se índices inteiramente distorcidos que fornecem ao usuário informações
incorretas sobre o desempenho da empresa.
Por exemplo, é muito comum encontrar em análises contábeis e financeiras
o cálculo do índice:

Lucro Líquido
Ativo Total Médio

O valor assim obtido encerra certa distorção, pois o lucro líquido que é
apenas uma parte da renda gerada pela empresa visa remunerar o capital de
risco (normalmente o patrimônio líquido) e não o ativo total.
Para tornar mais evidente o que se acabou de dizer, suponham-se os
seguintes dados:

Balanços em: 31-12-x1 31-12-X2


ATIVO TOTAL 1.000 1.220
Empréstimos Bancários 400 400
Patrimônio Líquido 600 820
PASSIVO TOTAL 1.000 1.220

Demonstração do Resultado do Exercício de 1-1-x2 a 31-12-x2


Vendas Líquidas 2.000
Custo das Mercadorias Vendidas (1.500)
Lucro Bruto 500
Despesas Operacionais (Exceto Financeiras) (200)
Lucro antes das Despesas Financeiras 300
Despesas Financeiras (80)
Lucro Líquido 220

Esses dados devem ser assim analisados:


400 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

A empresa efetuou investimentos totais de $ 1.000, os quais geraram uma


renda de $ 300 (Lucro antes das Despesas Financeiras), que se distribui da
seguinte forma:

• 80 para remunerar os empréstimos bancários (capitais de terceiros);


• 220 para remunerar o patrimônio líquido (capital próprio).

Podem ser assim estabelecidas as seguintes relações:

300 remuneram o investimento total 1.000


80 remuneram os capitais de terceiros 400
220 remuneram o capital próprio 600

e calculadas as seguintes taxas de retorno:

• Taxa de retorno do investimento total:

• Taxa de retorno dos capitais de terceiros:


(Custo dos Capitais de Terceiros)

• Taxa de retorno do capital próprio:

1.3 ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES AUTÊNTICAS


A Demonstração do Resultado do Exercício evidencia o produto das ativi-
dades da empresa. Nela são apresentadas Receita Bruta de Vendas, Receita
Líquida de Vendas, Lucro Bruto, Lucro Operacional, Lucro antes do Imposto de
Renda e Lucro Líquido.
Antes de iniciar qualquer cálculo da taxa de retorno é conveniente levar em
conta que cada item da demonstração de resultado só tem sentido quando
relacionado com um item específico de investimento ou financiamento.
As Vendas, por exemplo, devem ser relacionadas com o Ativo:

Vendas Líquidas
Ativo

Essa relação mostra quanto $ 1 de investimento total gera de vendas.


ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 401

Tomando o exemplo numérico da página 411 tem-se::

Vendas Líquidas 2.000


= 2,00
Ativo 1.000

ou seja, cada $ 1 investido gera $ 2 de vendas.

Observe-se que não faz sentido dividir as Vendas pelo Patrimônio Líquido,
como não faz sentido dividi-las pelos capitais de terceiros, pois tanto um como
outro representam apenas parte dos recursos, enquanto as Vendas representam
a receita obtida com o uso da totalidade dos recursos.
É fácil perceber o engano a que poderia levar um índice obtido da relação
entre Vendas e Patrimônio Líquido, por exemplo, como se ilustra a seguir:

ANO 19X 19W 19Y 19Z


Vendas Líquidas 4.200 4.500 4.800 5.200

Ativo 2.000 3.000 4.000 5.200

Patrimônio Líquido 1.200 1.150 1.100 1.000

Vendas Líquidas
3,5 3,91 4,36 5,2
Patrimônio Líquido

Esse índice mostra que a empresa está vendendo cada vez mais para cada
unidade de Patrimônio Líquido e sugere que ela consegue vender mais com
menos investimentos. Como diriam aqueles que se valem desse índice, a
empresa estaria aumentando o "giro do Patrimônio Líquido".
Essa é apenas uma verdade matemática: a relação aumenta de 3,5 para
5,2, mas nada significa e, pior que isso, induz à falsa conclusão de que a empresa
está sendo mais eficiente em gerar vendas quando o que ocorre é exatamente
o oposto, como mostra o índice seguinte:

ANO 19X 19W 19Y 19Z


Vendas Líquidas
2,1 1,5 1,2 1,0
Ativo

Na realidade, a empresa está vendendo cada vez menos para cada cruzeiro
total investido. A queda da participação do Patrimônio Líquido no Financiamento
do Ativo leva à falsa impressão de aumento de vendas.
Em resumo, há uma relação lógica de cada item da Demonstração do
Resultado com determinado investimento.
402 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Observe-se, porém, que a Demonstração do Resultado deve ser reestrutu-


rada porque da forma como se apresenta hoje, segundo a Lei das Sociedades
por Ações, são evidenciados valores que não se relacionam com nenhum
investimento, como é o caso do atual Lucro Operacional.
Este item é apurado após os juros (inclusive variações monetárias), ou seja,
após a remuneração de capitais de terceiros; assim, só poderia ser relacionado
com o capital próprio. Entretanto, essa relação é prejudicada por estar excluído
do Lucro Operacional o reconhecimento dos efeitos da inflação.
O Lucro Operacional não serve para nenhuma relação. A conhecida fórmula
Lucro Operacional importada dos textos norte-americanos não se aplica no
Ativo Operacional
Brasil, porque o Lucro Operacional nos Estados Unidos costuma ser apurado
antes dos juros. Além disso, como mostraremos adiante, existem vários aperfei-
çoamentos necessários no valor do lucro que servirá de base para a apuração
da taxa de retorno do ativo.
O quadro seguinte resume, simplificadamente, as relações entre as rendas
geradas e os investimentos.

RENDA INVESTIMENTO

Receita Líquida de Vendas e


R Ativo(a)= A
Serviços -

Lucro Bruto - LB Ativo - A


Lucro antes das Despesas
LADF Ativo = A
Financeiras(b)=

Passivo gerador de encargos


Despesas Financeiras(c)= DF PE
Financeiros -

Lucro Líquido - LL Patrimônio Líquido • PL

NOTAS

(a) Ativo: representa aqui o ativo total excluído das aplicações que não estão gerando
lucro, como investimentos pré-operacionais, incentivos fiscais, participações em
outras empresas etc., ou seja, o que se convencionou chamar Ativo Operacional.
(b) Lucro antes das Despesas Financeiras: representa o lucro antes de qualquer
encargo financeiro em termos reais, ou seja, descontados os efeitos inflacionários.
(c) Despesas Financeiras: representa o valor real dos juros incorridos pela empresa,
líquido dos efeitos inflacionários.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 403

2 ALAVANCAGEM FINANCEIRA

0 retorno do capital próprio de uma empre-


sa depende tanto da rentabilidade do negó-
cio quanto da boa administração financeira.

A determinação da rentabilidade baseia-se em três índices, a saber:

NOME SÍMBOLO FÓRMULA SIGNIFICADO


Lucro antes das Quanto a empresa gera de lucro
Retorno s/Ativo RsA Despesas Financeiras % p/ cada $ 100 investidos.
Ativo Operacional

Despesas Financeiras Quanto a empresa paga de juros


%
Custo da Dívida CD Passivo gerador de p/ cada $ 100 tomados junto a
encargos instituições Financeiras.

Retorno s/ Quanto os acionistas ganham p/


Lucro Líquido
Patrimônio RsPL % cada $100 investidos.
Patrimônio Líquido
Líquido

O primeiro índice - RSA - mostra qual a rentabilidade do negócio. Quanto


maior o índice maior a eficiência.
A empresa utiliza capitais de terceiros que têm uma remuneração. O que a
empresa paga é o segundo índice, chamado custo da dívida - CD.
Se o custo da dívida é maior que o retorno sobre o Ativo, ou seja, se a
empresa paga, para cada dólar tomado, mais do que rende seu investimento no
negócio, então os acionistas "bancam" a diferença com sua parte de lucro (ou
até com o próprio capital). Se o custo da dívida é menor que o retorno sobre o
Ativo, os acionistas ganham a diferença. A taxa de retorno sobre o Patrimônio
Líquido então será maior que a taxa de retorno sobre o Ativo.
No fim das contas, o que interessa mesmo para a empresa é o terceiro índice
RsPL- Retorno sobre o Patrimônio Líquido. Os dois outros índices são informa-
ção gerencial de como a empresa atingiu o retorno sobre o Patrimônio Líquido.
São, entretanto, fundamentais para a definição de estratégias empresariais.
404 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Por exemplo, uma empresa pode obter 30% de retorno sobre o Patrimônio
Líquido (que é considerada uma boa taxa) a partir de uma modesta taxa de
retorno de 8% sobre o Ativo. Basta que pague aos credores a taxa inferior a essa
e que utilize determinada proporção de capitais de terceiros.1
Isso ocorre porque a taxa de retorno do Patrimônio Líquido depende
daquelas duas outras taxas e da proporção entre o Passivo gerador de encargos
e o Patrimônio Líquido.
A curiosa conclusão é que a taxa de retorno do Patrimônio Líquido poderá
ser totalmente diversa da taxa de retorno do Ativo e, em certos casos, até oposta.
Ou seja, a empresa mostra taxa de retorno do Ativo positiva e taxa de retorno do
Patrimônio Líquido negativa e vice-versa, tudo em decorrência do custo da dívida
e de sua proporção em relação ao Patrimônio Líquido. Daí se conclui que, às
vezes mais vale uma boa administração financeira que uma boa atividade
operacional.
A expressão matemática que revela essa relação é a seguinte:

% Passivo
RsPL RsA (RsA-CD) Gerador de
Encargos

Retomo sobre o Retorno sobre o Custo da Patrimonio


Patrimônio Líquido Ativo Dívida Líquido

Esta fórmula mostra o efeito que a estrutura de capitais e os juros pagos


produzem nos lucros finais, informando se essa estrutura está beneficiando ou
não os acionistas.

A razão entre as taxas de retorno sobre o Patrimônio Líquido e de retorno


sobre o Ativo chama-se grau de alavancagem financeira - GAF. 2

RsPL
GAF=
RsA

1. Não se trata aqui de uma hipótese teórica, já que estão sendo considerados juros reais, os
quais, em face das flutuações da política monetária brasileira, podem até chegar a taxas
negativas, e como se verifica em setores que têm juros subsidiados.

2. A expressão alavancagem financeira significa o que a empresa consegue alavancar, ou seja,


aumentar o lucro líquido através da estrutura de financiamento, ao passo que alavancagem
operacional significa o quanto a empresa consegue aumentar o lucro através da atividade
operacional, basicamente, em função do aumento da margem de contribuição (diferença entre
receitas e custos variáveis) e manutenção de custos fixos.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 405

A fórmula completa da alavancagem financeira é a seguinte:

RSA + (RsA - C D ) X

GAF -
RsA

Voltemos ao exemplo da página 399:

Balanços em: 31-12-X1 31-12x2

Ativo Total 1.000 1.220


(Supõe-se que seja inteiramente operacional)
Empréstimos Bancários 400 400
Patrimônio Líquido 600 820
1.000 1.220

Demonstração do Resultado do Exercício de 1-1-x2 a 31-12-X2

Vendas Líquidas 2.500


CMV (1.500)
Lucro Bruto 500

Despesas operacionais inteiramente pagas no


exercício (exceto Financeiras) (200)
Lucro antes das Despesas Financeiras 300
Despesas Financeiras (80)
Lucro Líquido 220

Dessas demonstrações são extraídos os seguintes índices:


406 ANÁUSE DA GESTÃO DO LUCRO

INTERPRETAÇÃO

Para cada $ 100 investidos a empresa gera um lucro de $ 30. Paga juros
de $ 20 para cada $ 100 tomados. Logo, em cada $ 100 tomados, ganha $ 10.
Como a empresa tomou $ 400 emprestados, ganhou $ 40 = 4 x 10, além do lucro
que ganharia se não trabalhasse com capitais de terceiros. Para os $ 600 de
Patrimônio Líquido a empresa ganharia $ 180, considerando a taxa de retorno
sobre o Ativo (ou seja, a taxa de 30%) que o negócio rende; com mais os citados
$ 40, alcançou um lucro de $ 220.
Os $ 40 adicionais pelos $ 600 de Patrimônio Líquido representam uma taxa
incremental de 6,66%:

que somada à taxa de 30% dá os 36,66%. Sob outro ângulo, a empresa ganha
adicionalmente a diferença entre as taxas de retorno sobre o Ativo e a taxa de
custo de dívida:

=> 30%-20% = 10%

que, multiplicada pela proporção entre passivo gerador de encargos e Patrimô-


nio Líquido de 66,6% = 400 , resulta num incremento da taxa de retorno sobre o
600
Patrimônio Líquido de 6,66% =10% x 66,6%.

Assim, para 30% de rentabilidade do negócio (retorno sobre o Ativo) a


empresa consegue 36,66% para os acionistas, ou seja, uma impulsão de 1,22
vezes. Este é o significado da alavancagem.
O grau de alavancagem financeira de 1,22 também pode ser interpretado
da seguinte forma: "cada 1 % de rentabilidade gerado pela empresa foi transfor-
mado em 1,22 %, graças à alavancagem favorável".
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 407

Se a empresa tivesse trabalhado com a seguinte estrutura:

31-12-x1
Empréstimos bancários 600
Patrimônio Líquido 400

o seu retorno sobre o Patrimônio Líquido será ampliado, porque a proporção entre
passivo gerador de encargos e Patrimônio Líquido seria maior, ou seja, de
150% = 600
400

Assim, a taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido teria um incremento de


15% = 10% x 150% e atingiria 45%.

600 = 45%
=>RsPL = 30 + (30-10)
400

O grau de alavancagem seria de 1,5:

45%
=>GAF = = 1,5
30%

A taxa de remuneração do Patrimônio Líquido da empresa seria ampliada


em 50% (de 30% para 45%), ou seja, sua taxa de negócio seria multiplicada por
1,5, graças ao uso de capitais de terceiros.
Pode-se agora explicar a origem da palavra alavancagem.
O aumento produzido na taxa de retorno do Patrimônio Líquido pode ser
comparado aos efeitos de uma alavanca em que:

• a diferença (RsA - CD) corresponde à força - F

• a proporção x corresponde à distância = d

• o acréscimo da taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido em relação à taxa de


retorno sobre o Ativo corresponde à resultante = R = F x d
408 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Graficamente tem-se:

F
R
d

Observe-se que no exemplo apresentado havia alavancagem favorável,


porém nem sempre é assim. E muito comum a empresa pagar taxa de juros
superior à sua taxa de retorno sobre o Ativo. Nesse caso, a alavancagem é
desfavorável e há redução da taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido.

2.1 QUANDO A EMPRESA DEVE RECORRER A CAPITAIS


DE TERCEIROS?

Em termos gerais, uma empresa deve recorrer a capitais de terceiros


quando a taxa de retorno do ativo é maior do que o custo da dívida.

Nesse caso, os acionistas da empresa são beneficiados com uma rentabi-


lidade maior.

O demonstrativo seguinte ilustra o enunciado:

Taxa de Retorno Custo da Endividamento traz benefício? Diz-se que a Alavancagem é:


Versus
do Ativo Divida SIM NÃO FAVORÁVEL DESFAVORÁVEL
Rs/A > CD X X
Rs/A < CD X X
Rs/A - CD NEUTRO NEUTRA

Definição: alavancagem financeira é o efeito da estrutura de financiamento no


lucro dos acionistas.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 409

O estudo da alavancagem financeira relaciona as fontes de financiamento


entre si e procura medir se a estrutura de capital da empresa está beneficiando
ou não os seus acionistas.
A empresa que utiliza recursos de terceiros tem nos seus custos financeiros
os encargos dessa opção, que representa uma substituição aos encargos que
teria com os proprietários pela remuneração do capital de risco. A capacidade
que a empresa tem de administrar os recursos, próprios e/ou os de terceiros, e
com isso maximizar os lucros por ação, é a administração da alavancagem
financeira.
Pode-se, portanto, considerá-la como a conseqüência da relação de custo-
benefício, proveniente da decisão de incorporar à estrutura da empresa um
montante necessário de recursos próprios e/ou recursos de terceiros.
Esse estudo vai em busca da melhor dosagem entre capital de terceiros e
capital próprio e analisa o retorno sobre o Patrimônio Líquido mediante variações
na estrutura de capital.

3 ALGUNS APRIMORAMENTOS NA ANÁLISE DA


ALAVANCAGEM FINANCEIRA

3.1 CAPITAIS DE TERCEIROS X PASSIVO COM ENCARGOS

Capitais de Terceiros equivalem à totalidade das obrigações: Passivo


Circulante e Exigível a Longo Prazo. Somente uma parte, porém, é explicitamente
remunerada, ou seja, os empréstimos e financiamentos.
Alguns dos itens que compõem o Passivo Exigível não têm remuneração,
como salários a pagar, encargos trabalhistas, tributos a pagar e outras contas.
Outros têm sua remuneração embutida no custo das mercadorias, como acon-
tece com fornecedores.
o
Esses passivos, denominados Passivo Operacional 3 , decorrem das pró-
prias operações, ou seja, surge, em função das operações de compra, produção
e vendas.

3. Também são denominados "Passivo de Funcionamento11.


410 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Em circunstâncias normais a empresa não os substituirá4 por Capital


Próprio, razão por que não se costuma calcular a Alavancagem Financeira
relativa ao Passivo Operacional.
O outro tipo de Passivo é o chamado Passivo Financeiro5 normalmente
representado por empréstimos e financiamentos bancários.
Assim, a análise da alavancagem não se refere à totalidade dos Capitais de
Terceiros, mas apenas ao Passivo Financeiro.
Aprimorando os conceitos apresentados, pode-se dizer que com a Alavan-
cagem Financeira se deseja identificar a influência do Passivo Financeiro no lucro
da empresa.

3.2 OBRIGAÇÕES COM FORNECEDORES

As dívidas com fornecedores constituem na realidade um passivo com


encargo. Esse encargo é embutido nos preços de compra e possivelmente seria
descontado para pagamento a vista. Entretanto, esse encargo jamais é eviden-
ciado nas demonstrações financeiras, o que torna impraticável tratar esse tipo
de obrigação como passivo com encargo na análise da alavancagem.
Dentro da empresa é possível ao analista obter ou calcular, ainda que
aproximadamente, os encargos com fornecedores, podendo essa obrigação ser
tratada de forma análoga aos empréstimos e financiamentos, embora destaca-
damente.6
Ao analista externo não parece haver outra solução atualmente que não a
de considerar os "Fornecedores" como passivo sem encargo.
O prejuízo na análise da alavancagem no caso é apenas de modalidades
de alavancagem e não dos seus resultados, pois se pode perfeitamente calcular
duas ou mais alavancagens, conjunta ou independentemente. Fica prejudicada
a alavancagem com fornecedores, mas continua válida a alavancagem com
empréstimos e financiamentos.
Observe-se que, em certos casos, empresas compradoras poderosas con-
seguem, graças a seu poder de barganha, prazos mais dilatados que aqueles
normalmente concedidos pelos fornecedores, sem custo adicional.

4. Afirma-se que a empresa não substitui o Passivo Operacional, o que é uma verdade na prática,
por dois motivos básicos: a) no caso de salários, tributos etc. simplesmente porque não têm
custo; b) no caso de fornecedores porque é um crédito automático.
5. Pode também ser chamado Passivo com Encargos.
6. Nesse caso, os estoques teriam que ser custeados pelo valor de aquisição a vista, sendo a
diferença entre valor a vista e valor a prazo, tratado como encargo financeiro de fornecedores.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 411

3.3 COMO TRATAR O IMPOSTO SOBRE RENDA NA


ALAVANCAGEM FINANCEIRA

As despesas financeiras são dedutíveis do imposto sobre renda.

Considerando-se, por exemplo, uma alíquota de imposto sobre renda de


35%, cada $ 100 de despesas abatidas representam uma economia de $ 35 de
imposto.

Assim, se uma empresa quiser substituir passivo com encargos por patri-
mônio líquido (por exemplo, lançando ações e resgatando financiamentos), deve
antes considerar que a remuneração daquele é dedutível do imposto de renda,
enquanto a deste não o é.

O lucro antes das despesas financeiras deve refletir o lucro que a empresa
auferiria se não operasse com empréstimos e financiamentos e deve, portanto,
ser deduzido do imposto de renda que sobre ele incidiria. Como na realidade o
lucro tributável é menor que esse lucro antes das despesas financeiras, a
empresa paga menos imposto de renda. Essa diferença entre o que pagaria e o
que paga deve ser creditada ou abatida das despesas financeiras como econo-
mia de imposto de renda.

Isto está numericamente ilustrado no item 5.

3.4 LUCRO DOS ATIVOS

Computando-se o resultado operacional mais o resultado da equivalência


patrimonial, as receitas financeiras e o resultado não operacional, chega-se ao
que se denomina lucro dos ativos antes do imposto sobre a renda no qual incide
o imposto sobre a renda mencionado em 3.3.

Para a aplicação desse imposto sobre a renda seria necessário levar em


conta receitas não tributáveis, despesas não dedutíveis, incentivos fiscais etc., o
que é quase impossível, de fora da empresa.
412 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

A solução mais simples é aplicar-se a alíquota básica do IR sobre as


Despesas Financeiras Brutas (em valores reais), encontrando-se a "Economia
de IR". Adicionando-se essa "Economia de IR" ao IR provisionado, chega-se ao
IR sobre Lucro dos Ativos.

3.5 NOVA FORMA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

A Demonstração do Resultado devidamente reenquadrada para o cálculo


da Alavancagem Financeira fica assim:

VENDAS LIQUIDAS

(-) CMV/CPV

LUCRO BRUTO

(-) DESPESAS OPERACIONAIS

• De vendas

• Administrativas

• Gerais

(+) Resultado da Equivalência


Patrimonial

(+) Receitas Financeiras

(+) Resultado não operacional

LUCRO DOS ATIVOS ANTES DO IR

IR SOBRE LUCRO DOS ATIVOS

LUCRO DOS ATIVOS

(-) DESPESAS FINANCEIRAS

• Valor Bruto

• Economia com IR

LUCRO LÍQUIDO
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 413

4 APRIMORAMENTO DOS CONCEITOS DE TAXA DE


RETORNO

4.1 RETORNO SOBRE O ATIVO X RETORNO SOBRE O


PASSIVO REMUNERADO

Dada a existência de Passivo Operacional que não tem encargos ou cujos


encargos se acham embutidos nos custos de produtos vendidos, o Passivo
Remunerado é representado por Patrimônio Líquido + Passivo Financeiro.
O Passivo Remunerado é, pois, inferior ao Ativo Total, como mostra o gráfico
da Figura 14.1.

Passivo
Operacional

Passivo
ATIVO
Financeiro
PASSIVO
REMUNERADO
Patrimônio
Líquido

FIGURA 14.1 Representação esquemática do passivo remunerado.

O Lucro antes das Despesas Financeiras será distribuído entre essas duas
fontes de recursos, destinando-se o montante das Despesas Financeiras Líqui-
das para os titulares de Passivos Financeiros - credores - e o Lucro Líquido para
os titulares do Patrimônio Líquido - acionistas.
Dividindo-se o Lucro antes das Despesas Financeiras pelo Passivo Remu-
nerado, encontra-se a taxa de retorno dos recursos tomados (junto a terceiros e
acionistas). Obtém-se então a taxa de retorno sobre o Passivo Remunerado
simbolizado por RsPR.
A taxa de RsPR mostra quanto houve de lucro para cada $ 1 tomado para
financiar os investimentos da empresa, ou qual a remuneração dos recursos
utilizados pela empresa.
414 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Dividindo-se o mesmo Lucro antes das Despesas Financeiras pelo Ativo,


encontra-se a taxa de retorno do investimento total ou a taxa de retorno do ativo,
simbolizada por RsA; essa taxa mostra quanto gerou cada $ 1 total investido.

Para efeito de comparação com as alternativas em diferentes empreen-


dimentos, o que vale é o RsPR.

De acordo com o ramo de atividade, haverá maior ou menor Passivo


Operacional. Por exemplo, em supermercados e lojas de departamentos costu-
ma haver significativo Passivo Operacional. Em indústrias extrativas o Passivo
Operacional é pequeno. Numa holding - empresa de investimentos e participa-
ções - o Passivo Operacional é virtualmente zero.

Tomar, pois, o RsA para comparar resultados de diferentes empreendimen-


tos pode levar a enganos. Também, para efeito da Alavancagem Financeira, deve
ser usado o RsPR, pois é a partir dessa taxa que podem ser feitos todos os
cálculos e conclusões já apresentados até agora.

(Os exemplos até agora apresentados neste capítulo, apenas por motivos
didáticos, desconsideraram a existência de Passivo Remunerado. Entretanto, no
próximo exemplo tal fato é considerado.)

O Quadro 14.1 ilustra a exposição acima.

QUADRO 14.1.

Lucro
Des-
antes Passivo Patri-
Em- pesas Lucro Passivo Passivo
das Ativo Remu- mônio RsA RsPR CD RsPL
presa Finan- Liquido Operac. Financ.
Desp. ner. Líquido
ceiras
Fin.

A 750 400 350 6.000 3.000 3.000 2.000 1.000 12,5% 25% 20% 35%

B 750 400 350 5.000 2.000 3.000 2.000 1.000 15% 25% 20% 35%

C 750 400 350 4.000 1.000 3.000 2.000 1.000 18,75 25% 20% 35%

D 750 400 350 3.000 0 3.000 2.000 1.000 25% 25% 20% 35%

Como se pode observar, as diferentes taxas de retorno sobre ativo, nas


hipotéticas empresas A, B, C e D do Quadro 14.5, não afetam o retorno sobre o
Passivo Remunerado e sobre o Patrimônio Líquido, pois as diferenças de Ativo
decorrem de diferenças de Passivo Operacional (em função de ramos de
atividade diversos), passivos esses, teoricamente, sem remuneração.
A L A V A N C A G E M FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 415

Se um investidor estiver avaliando diferentes opções de negócios em


empresas, deverá proceder a uma comparação entre as taxas de retorno sobre
o passivo remunerado, o qual representa o montante de recursos que deve captar
para a empresa. Com certeza, empresas em diferentes ramos poderão ter
diferentes ativos, com o mesmo passivo remunerado. Isto, porém, não importa.
O que interessa é a comparação das taxas de retorno sobre o Passivo Remune-
rado.

4.2 COMO UTILIZAR O RsA

Isso não quer dizer, entretanto, que o RsA seja falho ou inútil. Trata-se de
um índice útil para a comparação da capacidade de geração de lucro de
empresas do mesmo ramo de atividades, para a avaliação do desempenho
evolutivo da empresa e no planejamento de lucros.

No Quadro 14.2 é mostrada a comparação de duas empresas de um mesmo


ramo de atividade, em que uma delas, a empresa I, desfrutando de maior poder
de barganha com seus fornecedores - por fatores que não vêm ao caso como
os de origem política, vinculação a grupo empresarial etc. - consegue maiores
prazos e, automaticamente, créditos maiores sem custo adicional. Em conse-
qüência, a empresa I toma menos empréstimos e paga menos juros. Operando
com menor passivo remunerado, para uma mesma taxa de retorno do ativo -
RsA - ela obtém maior taxa de RsPR e conseqüentemente maior RsPL.

O RsA serve também para a empresa fazer projeções sobre o lucro dos
ativos e, uma vez estimado o passivo operacional, chegar ao RsPR.

QUADRO 14.2.

Lucro
Des-
antes Passivo Passivo Patri-
Em- pesas Lucro Passivo
das Ativo Remu- Finan- mônio RsA RsPR CD RsPL
presa Finan- Líquido Operac.
Desp. nerado ceiro Liquido
ceiras
Fin.

I 750 180 570 6.000 4.100 1.900 900 1.000 12,5% 39,47% 20% 57%

J 750 480 270 6.000 2.600 3.400 2.400 1.000 12,5% 22,06% 20% 27%
416 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

4.3 TAXA DE RETORNO SOBRE ATIVO LIQUIDO - RsAL

Uma alternativa para o cálculo do RsPR é o Retomo sobre Ativo Líquido


(RsAL), entendendo-se como Ativo Líquido o ativo total menos o passivo opera-
cional. O valor do Ativo Líquido é igual ao do Passivo Remunerado.
A lógica em se usar o Ativo Líquido é que o lucro dos ativos não corresponde
exatamente ao resultado do investimento total no ativo, visto que o lucro dos
ativos se acha deduzido do custo implícito do passivo operacional. Em outras
palavras, o lucro dos ativos corresponde ao resultado do investimento total no
ativo menos o passivo operacional, ou seja, ao ativo líquido.
Conclusão inteiramente de acordo com essa exposição é apresentada por
Eliseu Martins:

"Os ganhos monetários derivados desses passivos (sem encargos) não devem estar
incorporados com os advindos dos passivos sujeitos a juros, muito menos devem compor
qualquer tipo de cálculo médio de encargos de recursos de terceiros. Para isso, o critério
mais simples e indicado é tratar tais passivos como redução dos ativos circulantes, o que
equivale a duas coisas: primeiro, tratar os ganhos monetários deles derivantes como
uma espécie de recuperação das perdas monetárias sofridas pelos ativos; segundo,
reduzir o total do ativo usado como base para a taxa de retorno. Para ambas as
finalidades o critério é adequado, já que, de fato, os ganhos monetários desses passivos
sem encargos devem estar computados como parte do resultado operacional antes das
despesas financeiras e, além disso, não representa, normalmente, aplicação de recursos
de terceiros captados."7

Dessa maneira, a fórmula do grau de alavancagem financeira pode ser


escrita nas duas formas seguintes:

RsPR + (RsPR-CD)
I GAF =
RsPR

ou

RsAL + (RsAL-CD)
II GAF =
RsAL

7. MARTINS, Eliseu. Análise da correção monetária das demonstrações financeiras. 2.ed. São
Paulo: Atlas, 1984. p. 80.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 417

5 VALORES DO DENOMINADOR DOS ÍNDICES DE


TAXA DE RETORNO

Curiosamente, as obras de análise de balanços e de finanças, com raras


exceções, quando se referem aos índices de taxa de retorno indicam na sua
fórmula o valor do ativo ou patrimônio líquido inicial ou médio, pura e simples-
mente, sem quaisquer considerações relativas às alterações ocorridas durante
o ano.
O correto é tomar o valor inicial (seja do Ativo, seja do Patrimônio Líquido),
acrescido das variações multiplicadas pela fração do ano que permaneceram à
disposição da empresa.
Se as demonstrações financeiras, bem como suas variações estiverem
expressas em moeda constante, conforme expusemos no Capítulo 4, é desne-
cessária qualquer providência de correção monetária.
As fórmulas adiante supõem a existência de moeda constante.
A fórmula seguinte mostra o valor correto do Patrimônio Líquido, computan-
do-se as variações durante o exercício:

onde: PLI = Patrimônio Líquido inicial


M = Número de meses em que o acréscimo (decréscimo) do patri-
mônio líquido ficou à disposição da empresa (saiu da empresa)
PL = Acréscimo (+) ou redução (-) do patrimônio líquido

Apresenta-se adiante um exemplo de como usar essa fórmula.


Análogo procedimento deve ser adotado para o cálculo do Passivo com
Encargos.
O Passivo Remunerado médio deve ser obtido pela soma de Patrimônio
Líquido e médio e Passivo Financeiro médio.
Como, normalmente, de fora da empresa, não se conhecem os momentos
de alteração do saldo do passivo financeiro, deve-se encontrar a média entre os
saldos inicial e final para se ter o valor médio do passivo financeiro.
Aí reside uma vantagem do uso do Passivo Remunerado em relação ao
Ativo Líquido. O cálculo dos valores médios é mais simples para o Passivo
Remunerado.
418 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

6 EXEMPLO COM INCORPORAÇÃO DOS


APRIMORAMENTOS NA ANÁLISE DA
ALAVANCAGEM FINANCEIRA

Tomem-se os dados básicos do último exemplo apresentado na página 414,


modificando-os ligeiramente apenas para permitir exemplificar os aprimoramen-
tos descritos:

Balanços em: 31-12-X1 31-12-X2


Ativo Circulante 700 1.137
Ativo Permanente 300 390
Total 1.000 1.527
Passivo de Funcionamento 100 160
Passivo com Encargos 400 520
Patrimônio Líquido 500 847
Total 1.000 1.527

Demonstração do Resultado para o Período de 1-1-x2 a 31-12-x2


Vendas Líquidas 2.000
CMV (1.500)
Lucro Bruto 500
Despesas Operacionais (200)
Lucro Operacional antes das Despesas Financeiras 300
Despesas Financeiras (80)
Lucro antes do Imposto s/ Renda 220
Imposto s/ Renda (77)
Lucro Líquido 143

Outros dados:

• Aumento de Capital:
m 03-07-X2 = 204
• Os acréscimos de empréstimos ocorreram de maneira aproximadamente uniforme.
• Alíquota de Imposto de Renda - 35%
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 419

SOLUÇÃO

1º PASSO: DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO RECLASSIFICADA

Vendas Líquidas 2.000

CMV (1.500)

Lucro Bruto 500


Despesas Operacionais (200)

Lucro dos Ativos antes do IR 300


8
IR s/ Lucro dos Ativos (105)

Lucro dos Ativos 195


Despesas Financeiras

• Valor Bruto (80)

• Economia de IR 9
28 52
Lucro Líquido 143

2º PASSO: CÁLCULOS BÁSICOS

a) Patrimônio Líquido Médio (Ponderado) - PLM:

Usando a fórmula apresentada no item 3.5, pode-se calcular o Patrimônio


Líquido Médio:

onde: PLM = Patrimônio Líquido Médio


PLi = Patrimônio Líquido Inicial = 500
m = Número de meses decorridos entre o aumento de capital e o
final do exercício = 6
PL= Variação de Patrimônio Líquido; no caso houve apenas um
aumento de capital no valor de = 204

8. 25% s/300=105.

9. Diferença entre 105 que a empresa pagaria e 77 que a empresa efetivamente irá pagar - 28.
420 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

PLM = 500 + x 204

PLM=602

b) Passivo com Encargos Médios (Ponderado) - P E M :

O Passivo com Encargos utilizado pela empresa foi aquele existente no


início do exercício mais os acréscimos. O valor inicial foi utilizado durante o ano
todo, enquanto que o acréscimo, na média, só foi utilizado por meio ano. Por isso,
o acréscimo deverá ser dividido por 2.
Para tanto poder-se-á usar a seguinte fórmula:

PEM = PE¡ +

onde: PE¡ = Passivo com Encargo Inicial = 400


PE = Acréscimo de Passivo com Encargos = 120 (vide item a)

PE M = 400 + [120]

PEM = 460

c) Passivo Remunerado Médio - P R M :

O Passivo Remunerado Médio representa os recursos utilizados pela em-


presa que deverão ser remunerados através de juros ou de lucro. É, portanto, a
soma do Patrimônio Líquido Médio e do Passivo com Encargos Médio.

PRM - PLM + PEM

onde: P L M = 602

PEM = 460
PRM = 602 + 460
PRM = 1.062
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 421

3º PASSO: ÍNDICES

LL 143
RsPL = = = 23,75%
• Retorno s/ Patrimônio Líquido: PLM 602

DF 52
CD = = = 11,30%
• Custo da Dívida: PEM 460

LA 19 5
RsPR = = - 18,36%
• Retorno s/ Passivo Remunerado: PRM 1.062

RsPL 23,75%
GAF = = = 1,29
• Grau de Alavancagem Financeira: PsPR 18,36%

4º PASSO: COMENTÁRIOS

A empresa obtém uma taxa de retorno de 18,36% na remuneração dos recursos utilizados, porém os
Passivos com Encargos custam apenas 11,30%. Com isso, obtém uma alavancagem de 1,29, ou seja,
consegue multiplicar por 1,29 a remuneração do Patrimônio Liquido, cuja taxa de retorno atinge, então,
23,75%.

7 A ALAVANCAGEM FINANCEIRA DA CIA. BIG

Vamos tomar os dados do Capítulo 5 e efetuar a análise da Alavancagem


Financeira da Cia. BIG, obedecendo à mesma seqüência do último exemplo.
422 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

1* PASSO: DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS RECLASSIFICADAS REFERENTES AOS


EXERCÍCIOS FINDOS EM

19x1 19x2 19x3


• Receita Líquida 4.793.123 4.425.866 5.851.586
• Custo dos Produtos Vendidos (3.621.530) (3.273.530) (4.218.671)
• Lucro Bruto 1.171.593 1.152.336 1.632.915
• Despesas Operacionais (495.993) (427.225) (498.025)
• Outras Receitas/
Despesas Operacionais 8.394 17.581 27.777
• Receitas Financeiras 10.860 7.652 5.935
• Resultado não Operacional 1.058 —.— —.—
• Lucro dos Ativos antes do IR 695.912 750.254 1.168.602
• IR sobre Lucro dos Ativos1 (317.614) (342.415) (533.349)
• Lucro dos Ativos 378.298 407.839 635.253

• Despesas Financeiras Líquidas2 154.557 240.723 469.297


• Lucro Líquido 223.741 167.116 165.956

1. O conjunto de contribuição social + Imposto sobre a Renda já foi agrupado e considerado no


exemplo com 45,64% do lucro. Na prática, existem diversos ajustes como Despesas não
Dedutíveis, Receitas não Tributáveis, Despesas Incentivadas dedutíveis em dobro. Receitas
Diferíveis etc., além das alíquotas diferenciadas, que devem ser tratadas caso a caso e não
cabem num exemplo didático. Em vista disso, foi que se optou por uma alíquota única de
45,64%, que se acha aplicada sobre o Lucro dos Ativos:

19x1 19x2 19x3


695.912 750.254 1.168.602
X 45,64% X 45,64% X 45,64%
317.614 342.415 533.349

2. Assim demonstradas:

19x1 19x2 19x3


Despesas Financeiras Brutas 284.308 442.816 863.298
Economia de Contribuição Social e IR 129.751 202.093 394.001
Despesas Financeiras Líquidas 154.557 240.723 469.297

IR sobre Lucro do Ativo 317.614 342.415 533.349


Provisão para IR 187.863 140.322 139.348
Economia de IR 129.751 202.093 394.001
ALAVANCAGEM FINANCEIRA E AS DIVERSAS TAXAS DE RETORNO 423

2º PASSO: CÁLCULOS BÁSICOS

a) Patrimônio Líquido Médio Ponderado - PLM

19x1 => 821.827 + x 49.478* = 850.689

19x2 => 1.070.861 + x 255.440 = 1.219.867

19x3 => 1.407.185 + x 156.673 = 1.485.521

b) Passivo Financeiro Médio

19x1
Saldo Inicial 389.742 + 189.604 = 579.346

Saldo Final 356.798 + 314.360 = 671.158

Médio** (579.346+ 671.158): 2 - 625.252

19x2
Saldo Inicial - 356.798 + 314.360- 671.158

Saldo Final - 477.314 + 1.170.788- 1.648.102

Médio** (671.158+ 1.648.102): 2 - | 1.159.630 |

19x3

Saldo Inicial 477.314+ 1.170.788- 1.648.102

Saldo Final 834.743 + 2.028.231- 2.862.974

Médio** 1.648.102+ 2.862.974 = 2.255.538 |

* Vide Demonstração do Patrimônio Líquido e Dados Adicionais, no Capítulo 5.

** Por falta de dados externos à empresa, o acréscimo de passivo financeiro foi considerado
como tendo ocorrido uniformemente no exercício.
424 ANÁUSE DA GESTÃO DO LUCRO

c) Passivo Remunerado Médio


19x1 - 850.689 + 625.252 - 1.475.942
19x2 - 1.219.867 + 1.159.630 - 2.379.497
19x3 - 1.485.521 + 2.255.538 - 3.741.059

3º PASSO: ÍNDICES

19x1 19x2 19x3


223.741 167.116 165.956
RsPL = 26,30% = 13,70% = 11,17%
850.689 1.219.867 1.485.521
154.557 240.723 469.297
CD = 24,72% - 20,75% = 20,81%
625.252 1.159.630 2.255.538
RsPR- 378.298 407.839 635.253
- 25,63% = 17,14% = 16,98%
RsAL 1.475.941 2.379.497 3.741.059
26,30 13,70 11,17
GAF = 1,03% = 0,79% = 0,65%
25,63 17,14 16,98

4º PASSO: COMENTÁRIOS

Em 19x1, a Cia. Big apresentou alavancagem financeira ligeiramente superiora 1, mais precisamente
1,03, o que significa que a taxa de retomo do patrimônio liquido ficou apenas 3% acima da taxa de
retorno sobre o ativo líquido. * Isto porque para uma taxa de retorno sobre o ativo líquido de 25,63% ao
ano a empresa pagou 24,72% pelo passivo financeiro. Em resumo, as três taxas básicas, retorno sobre
o ativo líquido, custo da dívida e retorno sobre patrimônio líquido ficaram próximas ao patamar de 25%.
Já em 19x2 e 19x3 se verificou uma redução das taxas de retomo sobre o ativo líquido para algo em
tomo de 17%, enquanto o custo da dívida ficou na faixa de 20%. Assim, investindo a 17% e pagando
20 % pelos recursos tomados, a rentabilidade dos acionistas - taxa de retorno sobre o patrimônio líquido
- caiu abaixo de 17% exatamente 13,7% em 19x2 e 11,17% em 19x3. É o que revelam os graus de
alavancagem: cada $ 1.00 de rentabilidade do ativo transforma-se em 19x2 em $ 0,79para os acionistas
e em 19x3 em $0,65.

* Não confundir com 3 pontos percentuais.


15 Desdobro das Taxas de Retorno

Expusemos amplamente no capítulo anterior os procedimentos e cuidados


para a apuração dos índices de taxa de retorno. Queremos agora desenvolver
um modelo que explique as causas das alterações desses índices, ou seja,
porque determinado índice caiu ou subiu e qual o efeito de cada decisão sobre
a taxa de retorno, como, por exemplo, em quanto teria diminuído o retorno sobre
o ativo liquido devido ao aumento do prazo de estocagem.
Cria-se então um modelo em que é possível não só a relação entre o balanço
e a demonstração do resultado, mas também a relação entre cada conta dessas
duas demonstrações e o seu efeito na taxa de retorno.
A taxa de retorno é decomposta inicialmente em taxa de Giro e taxa de
Margem.
A análise das possíveis alterações de Giro e de Margem estabelece frontei-
ras com a análise de Custo/Volume/Lucro, com as curvas de demandas de
microeconomia, com a análise de Capital de Giro etc., entrando num mundo muito
além do que sugere a dura fachada das demonstrações financeiras.
Apesar disso, trata-se de uma ferramenta de análise da mais absoluta
praticidade, aplicável a quase todas as situações e ramos de atividades.
426 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

1 ANÁLISE DE GIRO X MARGEM

Sendo o lucro o principal objetivo de urna


empresa, nada mais lógico do que estudar
detalhadamente como a empresa o obteve.

A taxa de retorno sobre o ativo líquido é um dos indicadores mais importan-


tes da eficiência dos negócios de urna empresa: mostra quanto a empresa de
lucro para cada dólar investido.
Os maiores interessados em conhecer a taxa de retorno, além da gerência
da empresa, são os investidores de longo prazo e os acionistas.
O índice de RsAL pode ser desdobrado em dois outros índices:

Vendas
onde: Giro de Ativo, e
Ativo
Lucro
Margem de Lucro
Vendas

Essa decomposição não é um mero exercício matemático, pois o Giro (V/A)


é um índice de medição da eficiência de vendas em relação ao investimento total,
enquanto a Margem representa a eficiência de despesas em relação às vendas,
pois quanto menores as despesas maior será a margem de lucro.
Determinada taxa de retorno, suponha-se de 12% (a qual significa que para
cada $ 100 a empresa teve um lucro de $ 12), pode ser obtida de infinitas
composições de Giro e Margem:

1. "Lucro antes das Despesas Financeiras".


2. Vendas Líquidas.
3. Ativos Líquidos.
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 427

GIRO 1 2 3 4

MARGEM 12% 6% 4% 3%

RETORNO DO ATIVO 12% 12% 12% 12%

Qualquer taxa de retorno pode ser obtida de infinitas composições de giro


e margem.
A Figura 15.1 apresenta a curva da taxa de retorno dos 12%. Essa curva é
chamada Isoquanta, pois qualquer ponto mostra o mesmo valor que, nesse
exemplo, é igual a 12%

MARGEM
48%

24%
ISOQUANTA dos 12%
12%
6%
4%
3% GIRO
0,25 0,5 1 2 3 4

FIGURA 15.1. Curva da taxa de retorno de 12%.

Na Figura 15.2 tomam-se alguns exemplos de empresas que tiveram taxa


de retorno 12%, mas cada uma delas com diferente margem de lucro e diferente
giro.
428 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Margem
(%) 15,5 A

Taxa de Retorno
curva dos 12%
11.6 B

9.9 C
8,9 D

6.5
E

5.0
F
4.3
G
3.3
H
2.8

0.78 1,32 1,93 2.42 2,80 3.75 4,40 Giro (vezes)


1.08 1,50

FIGURA 15.2. Taxa de retorno de investimento.

GIRO MARGEM
EMPRESAS RAMO
(vezes) (%)

A. 0,78 15,5 Papel e Celulose


B. 1,08 11,6 Papel e Celulose
C. 1,32 9,9 Têxtil
D. 1,50 8,9 Alimentos (enlatados)
E. 1,93 6,5 Construção Pesada
F. 2,42 5,0 Supermercados
G. 2,62 4,3 Supermercados
H. 3,75 3,3 Alimentos (laticínios)
I. 4,40 2,8 Distribuição de Petróleo

2 DESDOBRO DA TAXA DE RETORNO

Após o desmembramento da RsAL (taxa de retorno sobre o Ativo Líquido)


em Giro e Margem passa a se conhecer as causas imediatas da sua queda ou
aumento. Suponha-se que haja ocorrido uma queda na taxa de retorno e que a
causa tenha sido a queda do Giro. Obviamente, o Ativo terá crescido mais do
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 429

que as Vendas. A partir daí procura-se saber qual grupo dentro do Ativo cresceu
mais do que as vendas e depois qual conta teria crescido mais e, dessa maneira,
decompõe-se todo o Ativo. Analogamente, termina-se decompondo a Margem
em Lucro e Vendas e, por sua vez, o Lucro em todos os elementos da Demons-
tração do Resultado.
O esquema seguinte mostra o desdobro da taxa de RsAL.

Ativo
Circulante

Ativo Realiz.
Ativo Total
a Longo Prazo
Vendas
Ativo
Giro
Permanente
Ativo
Líquido
Fornecedores

Passivo Outras
Operacional Obrigações
RsAL

Vendas

Lucro dos
CMV De Vendas
Ativos
Margem
Despesas e Adminis-
Vendas
Custos trativas

Despesas
Gerais
Operacionais

I R sobre Lucro
dos Ativos

Outras Rec. e
Despesas

Dentro de cada quadradinho podem ser incluídos os valores dos últimos três
exercícios, assim como a Análise Horizontal e a Vertical, como mostramos na
página seguinte:
430 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Estoques

Valor no balanço de 19x3


Exercício x1 x2 x3
Valor
VI 26.094 33.375 41.554

AH 100 128 159

Análise AV 26 Indica crescimento de


28 24
Horizontal 59% em relação a 19x1

Análise Vertical em relação ao Indica que 24% dos recursos totais


Ativo Total achavam-se investidos em estoques

Considera-se a última linha, Análise Vertical, como optativa. O leitor poderá


utilizá-la se considerar útil tal procedimento. No exemplo de desdobro da taxa de
retorno, baseada na Cia. BIG, que se apresenta adiante, por questão didática,
omite-se essa linha.
O esquema completo é ilustrado adiante com os dados da Cia. BIG. Esse
esquema é o que se chama Modelo de Análise de Giro x Margem. Através dele
pode-se analisar simultaneamente a relação entre todas as contas do Ativo e da
Demonstração de Resultados durante três anos sucessivos (ou seja, entre os
investimentos efetuados e os resultados alcançados).
Isso permite identificar as causas das modificações na taxa de rentabilidade
do Ativo e possibilita avaliar se a administração atuou bem ou mal.
Observe-se que na análise da Alavancagem Financeira feita no Capítulo 14,
foi avaliada a rentabilidade, mas não se teve conhecimento das causas dos
aumentos ou quedas. Isto será feito de agora em diante através da análise de
Giro x Margem.
Através desse tipo de análise é possível conhecer, por exemplo, de que
forma um aumento de Duplicatas a Receber pode afetar a taxa de retorno (o
aumento de Duplicatas aumenta o Ativo Circulante e o Ativo Total, podendo
provocar queda no Giro e, conseqüentemente, na taxa de retorno).
Da mesma forma, analisa-se a relação entre as diversas contas de balanço
e de resultado com a taxa de retorno, relações essas que freqüentemente são
ignoradas no dia-a-dia das empresas.
A regra básica desse quadro é que a evolução de vendas é o ponto de
referência dos demais itens: nenhum investimento ou despesa pode cres-
cer mais que as vendas sob pena de redução da taxa de retorno sobre o
ativo líquido.
Ativo Circulante
X1 X2 X3

Vendas 1648 2114 2601


100 128 158
X1 X2 X3
Giro Ativo Total mais
4793 4425 5851 Ativo Permanente
X1 X2 X3 100 93 122 X1 X2 X3 X1 X2 X3
3,22 1,85 1,54 dividido 2400 3353 4817 752 1239 2216
Ativo Liquido Fornecedores
100 57 47 100 140 200 X1 X2 X3 100 165 295
X1 X2 X3
menos 839 673 663
1489 2398 3793 Passivo Operacional
RsAL 100 161 255 X1 X2 X3 100 105 104

X3 Vendas 911 955 1024 mais


X1 X2 Outras Obrigações
25 17 17 X1 X2 X3 100 105 112 X1 X2 X3
100 68 68 Lucro dos Ativos 4793 4425 5851 CMV 272 282 361
X1 X2 X3 100 92 122 X1 X2 X3 100 104 133
Margem 378 407 635 manos 3621 3273 4218
Custos e Despesas De Vendas
X1 X2 X3 100 108 168 XI X2 X3 100 90 116 X1 X2 X3
7,89 9,20 1035 dividido ma.
Vendas 4415 4018 5216 Despesas Operacionais 270 225 284
100 117 137 X1 X2 X3 100 91 118 X1 X2 X3 100 83 105
4793 4425 5851 496 428 498 mais
Administrativas
100 92 122 100 86 100 X1 X2 X3
mais
IRs Lucro dos Ativos 206 181 193
X1 X2 X3 100 88 94
317 342 533
£ 1
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO

100 108 168 X1 X2 X3


mm
Outras Receitas/Despesas 20 21 21
Exercício
X1 X2 X3 100 105 105
Valores Absolutos ou índices
20 25 33
Análise Horizontal
100 125 165
Notas:

1. Estrutura d o s Q u a d r o s
2. Valores Absolutos em milhares de Dólares.

QUADRO 15.1. CIA. BIG- Modelo de Análise de Giro x Margem.


431
432 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

3 O MODELO COMPLETO DE ANÁLISE DA


RENTABILIDADE

3.1 O QUE FALTOU NO MODELO "DUPONT"

O modelo "Giro x Margem" de análise da rentabilidade é uma evolução do


conhecido modelo "Dupont". Neste, a taxa de retorno sobre o ativo era calculada
pela divisão do Lucro Operacional sobre o Ativo Operacional, sendo este Lucro
Operacional o valor obtido antes das Despesas Financeiras.
Tanto o valor do numerador como o do denominador dessa fórmula de
retorno sobre o ativo, dada pelo Lucro Operacional sobre o Ativo Operacional,
requerem aperfeiçoamentos, conforme expusemos amplamente no Capítulo 14,
de maneira a contarmos com mais precisão no cálculo da rentabilidade, tal qual
estamos apresentando.
Além disso, sabemos que a taxa de retorno sobre o ativo líquido precisa ser
analisada em conjunto com as taxas de custo da dívida e de retorno sobre o
patrimônio líquido, de maneira que, idealmente, o modelo completo de desdobro
das taxas de retorno deve abranger esses três índices.
Observe-se, porém, que o essencial no modelo é a parte relativa a "Giro x
Margem", pois aí é que se analisa a parte operacional, ou seja, receitas, despesas
e investimentos.
Assim, entendemos que se deve analisar inicialmente o desdobro do RsAL
tal qual fizemos para, em seguida, analisarmos as relações RsAL, CD e RsPL,
chegando ao GAF.

3.2 O DESENVOLVIMENTO PARA ATINGIR O MODELO


COMPLETO DE ANÁLISE DA RENTABILIDADE

A fim de facilitar o entendimento, o modelo completo do desdobro da taxa


de retorno que inclui a alavancagem financeira é mostrado a seguir em etapas:

1ª etapa: Fórmula Básica:

RsAL + (RsAR-CD)
GAF =
RsÃR
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 433

onde: GAF = Grau de Alavancagem Financeira


RsAL = Retorno sobre o Ativo Líquido
CD = Custo da Dívida
PF = Passivo Financeiro
PL = Patrimônio Líquido

2ª etapa: Redução da fórmula do GAF:


Chamando a expressão:

(RsAL-CD)

de taxa de ajuste da rentabilidade = TAR, tem-se então:

RsAL + TAR
GAF = RsAL

RsPL
lembrando que G A F = , tem-se que:
RsAL

RsPL = RsAL + TAR


GAF =
RsAL RsAL

3a etapa: Colocação da fórmula em esquema:

4a etapa: O esquema mostrado na etapa anterior acha-se ilustrado a seguir


com os dados da Cia. BIG.
434

RsAL RsAL

X1 X2 X3 X1 X2 X3
25 17 17 Vide Quadro página 431
25 17 17
RsPL 100 68 66 100 66 68
RsAL-CD
X1 X2 X3 X1 X2 X3 Desp. Finan. Brutas
25 13 11 0 (4) (4) X1 X3
100 52 44 X2
TAR — - -
284 443 863
X1 X2 X3 Desp. Finan. Liquidas
100 156 304
GAF 0 (4) (6) X1 X2 X3
X1 X2 X3 - - - 154 241 469
CD
1 0,76 0,65 100 156 305
X1 X2 X3 Economia c/IR
100 76 65 X1 X2 X3
25 21 21
100 84 84 130 202 394
RsAL Passivo Financeiro
100 155 303
X1 X2 X3 X1 X2 X3
25 17 17 625 1160 2255
PF
100 68 66 100 185 380
X1 X2 X3
625 1160 2255
PF+PL
100 1851 360
X1 X2 X3
66% 94% 147%
100 142 223 PL
ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

X1 X2 X3
945 1238 1537
100 1310 1626

• O s valores entre parênteses são negativos.

QUADRO 15.2. CIA. BIG. - Desdobro do GAF.


DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 435

3.3 O MODELO FINAL

Acha-se no Quadro 15.3 o modelo completo final de análise da rentabilidade,


com o desdobro de todas as taxas, desde o Grau de Alavancagem Financeira,
e compreendendo a totalidade das contas de Ativo, Passivo e Demonstração de
Resultados dos três últimos exercícios.

4 ANÁLISE DA RENTABILIDADE DA CIA. BIG 4

A taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RsPL) sofreu queda de 66% de 19x1 para 19x3 e isto
se deveu tanto à queda da taxa de Retorno sobre o Ativo Líquido (RsAL), que caiu 32%, como à
perda de 6 pontos percentuais na taxa de ajuste da rentabilidade (TAR). Esta última depende da
diferença entre a taxa de Retorno sobre o Ativo Líquido (RsAL) e a taxa de Custo da Dívida (CD),
multiplicada pelo grau de endividamento financeiro em relação ao Patrimônio Líquido (PF/PL). A
diferença (RsAL - CD) que era zero (0) em 19x1, passou a menos quatro (- 4). Com o aumento de
123% no endividamento financeiro (PF/PL) que passou de 66% para 147% - a TAR passou de zero
para menos 6, ou seja, os acionistas passaram a perder 6 pontos percentuais na taxa de retorno do
patrimônio líquido. Assim, para uma empresa em que cada dólar investido rende 17%, os acionistas
conseguem apenas 11%.
Dessa forma, conclui-se que o endividamento financeiro foi desfavorável para a empresa nesses dois
últimos exercícios.
Convém analisar agora as causas da queda na taxa de RsAL
Aqui são constatados dois fatos importantes ao longo dos exercícios de 19x1,19x2 e 19x3. Enquanto
o giro sofreu a acentuada queda de 53% (ou seja, a empresa vendeu 53% a menos em 19x3
relativamente a 19x1 para cada dólar de investimento), a Margem aumentou 37%, atenuando, mas
não compensando o efeito sobre a taxa de RsAL que, ao final, se reduziu em 32%. 0 aumento da
margem revela um auspicioso desempenho, pois todos os custos e despesas cresceram menos que
as vendas, chegando inclusive a registrar-se queda de 6% nas despesas administrativas mesmo
diante do aumento de 22% nas vendas.
Observe-se que a redução do giro deveu-se a aumento exagerado no volume de investimentos e
não a redução de vendas.
O aumento de 22% nas vendas em 19x3, comparativamente a 19x1, após um declínio de 7% em
19x2 indica não só recuperação das vendas no último exercício, como também um razoável
incremento de vendas.
O que parece incompatível com o desempenho de vendas é o aumento do ativo.
Note-se que o grande aumento do ativo deu-se no permanente, tratando-se, pois, de investimento
do qual ainda se espera a maturação, ou seja, que se reflita em vendas.

4. Baseada nos Quadros 15.1 e 15.2.


436 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Entretanto, há um aumento inquietante de ativo circulante, que cresceu 58% para 22% de cresci-
mento de vendas, agravado por um aumento de apenas 12% no passivo operacional, fonte natural
de recursos da empresa.
Em resumo, a empresa atuou bem no controle de custos, mas pareceu displicente nas decisões de
investimento e financiamento, pois (a) investiu muito no permanente para um período de apenas dois
anos; (b) investiu no circulante mais do que se considera adequado em função do crescimento de
vendas; (c) não conseguia que o passivo operacional acompanhasse o crescimento de vendas e (d)
tomou financiamento a taxas de juros superiores à taxa de retorno do ativo liquido.
Ativo
LEGENDA: Circulante

GAF = Grau de Alavancagem Financeira +


RsPL = Retorno sobre Patrimônio Líquido Ativo Realiz.
Ativo Total
RsAL = Retorno sobre Ativo Líquido a Longo Prazo
TAR = Taxa de Ajuste da Rentabilidade
Vendas +
CD = Custo da Dívida
PF = Passivo Financeiro Ativo
Giro +
PL = Patrimônio Líquido Permanente
Ativo
Líquido -
Fornecedores

+
Passivo Outras
Operacional Obrigações
RsAL x

Vendas

RsAL
Lucro dos
RsPL + (RsAL-CD) CMV De Vendas
Ativos -
GAF ÷ TAR x Margem ÷ +
-
Despesas e Adminis-
RsAL Vendas +
Custos trativas
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO

+
Desp. Financ. Despesas
Gerais
Brutas Operacionais
+
Desp. Finan. IR sobre Lucro
Líquidas dos Ativos
CD ÷

Passivo Economia Outras Rec. e


Financeiro com IR Despesas
437

QUADRO 15.3. Modelo Completo de Desdobro das Taxas de Retorno.


438 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

Apêndice Os Caminhos para o Aumento dos Lucros

O estudo do giro margem é também excelente instrumento para planeja-


mento da taxa de retorno.

É fixada, inicialmente, determinada meta a ser alcançada, ou seja, uma taxa


de retorno.

Em seguida, jogando com as variáveis giro e margem, estudam-se diversas


alternativas para atingir a taxa almejada.

Suponha-se que uma empresa com uma taxa de retorno sobre o ativo de
12% estimasse em elevá-la para 18%. Diversas possibilidades se apresentam,
como mostra a Figura A.1.

MARGEM
CURVA ALMEJADA: 18%
POSIÇÕES POSSÍVEIS:
Curva dos 18%
D
A, B, c, D, E

A Curva dos 12%

C
Posição B
atual da E
Empresa P

GIRO

FIGURA A.1. Alternativas para aumento do lucro.


DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 439

Se a empresa quer aumentar sua taxa de retorno, deve pular para uma curva
mais para cima e à direita (como, por exemplo, é a curva dos 18% em relação à
curva dos 12%). Então é importante saber, exatamente, em que ponto da curva
mais baixa ela se encontra, a fim de estudar uma alternativa viável.
Na Figura A.1 supõe-se que a empresa se encontra exatamente no centro
da curva dos 12%. Ela teria, em síntese, cinco alternativas para passar a curva
dos 18%:

• Alternativa A: aumento da margem e manutenção do giro.


• Alternativa B: aumento do giro e manutenção da margem.
• Alternativa C: aumento simultâneo do giro e da margem.
• Alternativa D: aumento da margem e redução do giro.
• Alternativa E: aumento do giro e redução da margem.

Suponha-se que determinada empresa, procurando ampliar a sua taxa de


retorno, aumente o preço de seus produtos. Logo haverá reação da clientela que
passará a comprar menos. Há aí duas modificações percentuais: percentagem
de aumento dos preços e percentagem de queda da quantidade vendida.
Suponha-se numa primeira hipótese que a percentagem de aumento dos
preços seja maior que a percentagem de queda da quantidade; as vendas totais
aumentam e o lucro também, visto que as despesas diminuem.
As despesas dividem-se em fixas e variáveis. Se a quantidade cai, as
despesas variáveis também caem. Com isso caem as despesas totais.
O aumento de vendas provoca aumento do Giro, enquanto o aumento do
Lucro provoca aumento da Margem. A taxa de retorno sobre o Ativo terá então
aumentado.
As várias considerações relativas ao efeito das modificações de preços no
Giro e Margem acham-se discutidas no quadro seguinte. Se não for do interesse
imediato do leitor, vá para o exemplo mostrado no item 4.1.

Considere-se que a percentagem de aumento de preços seja menor que a


percentagem de queda da quantidade. As vendas totais diminuem e, conseqüen-
temente, menor é o Giro.
O lucro, porém, tanto pode aumentar como diminuir. Acontece que a diferença
entre o preço de venda e as despesas variáveis, a chamada margem de contribui-
ção unitária, cresceu com o aumento do preço de venda. A margem de contribuição
total - resultado da margem de contribuição unitária vezes a quantidade -, que
representa o ingresso líquido de recursos para a cobertura de despesas fixas e
lucro, poderá aumentar. Nesse caso o lucro aumentará. Se a margem de contribui-
ção total diminuir, o lucro também diminuirá. (Demonstra-se esse fato no item 4.1,
através de um exemplo.) Suponha-se, somente para argumentar, que o lucro
440 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

diminui. Inevitavelmente a taxa de retorno sobre o Ativo cairá. Mesmo que possa
ter havido elevação da Margem, ela não será suficiente para compensar a queda
no Giro (lembre-se que a Margem pode aumentar ainda que o lucro diminua porque
ela resulta da divisão Lucro/Vendas).
A decisão, portanto, de alterar preços tanto pode ser benéfica quanto maléfica
para a empresa.
A conseqüência do aumento de preços sobre o volume de venda é decorrência
do tipo de Curva de Demanda do mercado da empresa. Diferentes impactos podem
ser provocados sobre o Giro e a Margem por aumento de preços. Para compreen-
dê-los é preciso ter em conta não só a Curva de Demanda, mas também a relação
"Custo, Volume, Lucro" e a relação entre o Volume de Capital de Giro x Volume de
Vendas.
Aumentando-se o preço, a quantidade demandada pelos compradores tende
a cair, a não ser que a Curva de Demanda seja inelástica, como certos gêneros de
primeira necessidade. Os anos de crise provaram, no entanto, que não existe Curva
de Demanda absolutamente inelástica. Produtos como pão, leite, energia elétrica,
carne, cigarros, gasolina não sofrem queda de demanda diante de pequenos
aumentos, mas todos experimentaram quedas diante de aumentos maiores.
A esta altura identificam-se algumas variáveis que influem no Giro e na
Margem; portanto, na taxa de retorno do Ativo:

P - Preço DF - Despesas Fixas


Q = Quantidade DV = Despesas Variáveis

Além dessas variáveis, existem outras de menor influência, mas que nem por
isso deixam de afetar o Giro e a Margem. São elas: Ativo Permanente, Prazo Médio
de Recebimento de Vendas, Prazo Médio de Renovação de Estoques, Taxa de
Juros etc.
Alterar o preço é apenas uma forma de mexer com Giro e Margem. Há, na
realidade, número incontável de possibilidades. A empresa pode aumentar as
vendas, concedendo: 1) maiores prazos ou 2) gastando mais em propaganda.
No primeiro caso, a ampliação do Prazo Médio de Recebimento de Vendas,
além de proporcionar maiores vendas, faz crescer o Ativo. Analisa-se então o que
sobe mais. Crescendo o Ativo, aumentam os financiamentos e as despesas de
juros. É necessário verificar se o aumento de Lucro Bruto compensa o aumento
das despesas de juros.
No segundo caso, com a intensificação da propaganda, poderá haver cresci-
mento de Vendas. O Lucro, entretanto, poderá tanto aumentar como diminuir, pois
as despesas fixas5 adicionais podem ser maiores ou menores que o lucro adicional.
Se o lucro se mantiver, certamente a Margem que é a relação lucro/vendas terá
diminuído.

5. As despesas de propaganda estão sendo consideradas fixas, pois não dependem da quanti-
dade vendida.
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 441

1 EXEMPLO (I)

Suponha-se que determinada empresa, desejando aumentar a sua taxa de


retorno, escolha a Alternativa A, ou seja, aumento da Margem e manutenção do
Giro. Neste caso, a sua administração optou pela aparentemente simples redu-
ção de despesas.

Espera-se que o lucro aumente, mantendo-se constante o volume de


vendas. Logo, a Margem deverá subir, enquanto o Giro se mantém.

A empresa conseguiu reduzir as Despesas Fixas de $ 3.600 para $ 3.480


e as despesas variáveis de $ 3 por unidade para $ 2,80 por unidade.

Situação antes da Redução Situação após a Redução


de Despesas de Despesas

Q1 = 2.400 por ano Q2 = 2.400 unidades por ano

P1 = 5 por unidade P2 = 5 por unidade

DF1 = 3.600 DF2 = 3.480

DJ1 = 480 DJ2 = 480

DV1 = 3 por unidade DV2 = 2,80 por unidade

AT = 10.000 AT2 = 10.000

Simbologia:

Q = Quantidade AT = Ativo Total


P = Preço LAJ = Lucro Antes dos Juros
DF = Despesas Fixas LL = Lucro Líquido
DJ = Despesas de Juros G = Giro
DV = Despesas Variáveis M = Margem
V = Vendas RsA = Retorno sobre o Ativo
442 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

Antes da Alteração (1) Após a Alteração (2)

V1 12.000 v2 12.000

5 x 2.400 5x2.400

DV1 (7.200) DV2 (6.720)

3 x 2.400 2.80x2.400

DF1 (3.600) DF2 (3.480)

LAJ1 1.200 LAJ2 1.800

DJ1 (480) DJ2 (480)

LL1 720 LL2 1.320

G1 = 12.000/10.000 = 1,2 G2 = 12.000/10.000=1,2


M1 = 720/12.000 = 6% M2 = 1.320/12.000=11%
RsA1 = G1X M 1 =1,2X6%=7,2% RsA2 = G 2 XM 2 =1,2X11%=13,2%

Nesse caso, a empresa conseguiu aumentar a Margem de 7,2% para


13,2%, ampliando igualmente a taxa de retorno do Ativo, dado que o Giro se
manteve inalterado.

2 EXEMPLO (II)

Veja-se agora um exemplo em que a empresa altera o preço; os dados são


os mesmos do problema anterior, após a redução de despesas, mas foram
acrescentados novos elementos para a análise completa. O preço eleva-se de
$ 5 por unidade para $ 5,50, enquanto a quantidade cai de 2.400 para 2.100
unidades vendidas.
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 443

Situação antes do Aumento de Situação após o Aumento de


Preços Preços

Q2 = 2.400 por ano Q3 = 2.100 por ano

P2 = 5 por unidade P3 = 5,50 por unidade

DF2 = 3.480 DF3 = 3.480

DV2 = 2,80 por unidade DV3 = 2,80 por unidade

V2 =12.000 V3 = 11.550

DR2 = 3.000 DR3 = 2.887

OA2 = 7.000 OA3 = 7.000

AT2 = 10.000 AT3 = 9.887

PL2 =6.000 PL3 = 6.000

EB2 = 4.000 EB3 = 3.887

i2 = 12% i3 = 12%

DJ2 = 480 DJ3 = 466

PMRV2 = 90 dias PMRV3 = 90 dias

(DR2 12.000 (DR3 11.550


= 90x = 3.000) = 90x = 2.887)
360 360

Simbologia adicional: DR = Duplicatas a Receber


OA = Outros Ativos
PL = Patrimônio Líquido
EB = Empréstimos Bancários
i = Taxa de Juros
PMRV = Prazo Médio de Recebimento de Vendas
444 ANÁLISE DA GESTÃO DO LUCRO

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

Antes da Alteração (2) Após a Alteração (3)

V2 12.000 V3 11.550

5X2.400 5,50X2.100

DV2 (6.720) DV3 (5.880)

2.400X2,8 2.100X2,8

DF2 (3.480) DF3 (3.480)

LAJ2 1.800 LAJ3 2.190

DJ2 (480) DJ3 (466)

LL2 1.320 LL3 1.724

G2 = 12.000/10.000=1,2 G3 = 11.550/9.887=1,17
M2 = 1.320/12.000=11% M3 = 1.724/11.550=14,9%
RsA2 = 1,2X11%=13,2% RsA3 = 1,17X14,9%=17,4%

CONCLUSÕES

A empresa aumentou o preço de vendas em 10%. Com isso houve uma


queda na quantidade, de 2.400 anuais para 2.100.

As vendas totais diminuíram de $ 12.000 para $ 11.550.

Entretanto, a margem de contribuição unitária - diferença entre o preço de


venda unitário e as despesas variáveis unitárias - que era de 2,20 (5 - 2,80)
passou para 2,70 (5,50 - 2,80) e apresentou um aumento percentual de quase
23%, bem superior à queda de 14% na quantidade vendida. Com isso, a Margem
de Contribuição Total - margem de contribuição unitária vezes quantidade ou
Vendas menos Despesas Variáveis - passou de $ 5.280 para $ 5.670 e provocou
um acréscimo de $ 390 no lucro (antes dos juros).

Efetivamente, foi esse o acréscimo no lucro antes dos juros, que passou de
$ 1.800 para $ 2.190. Tendo vendido menos, caiu o volume de Duplicatas a
Receber, de Ativo, de Empréstimos Bancários e de Despesas de Juros. Estas
foram reduzidas de $ 480 para $ 466. Com isso, houve mais $ 14 de acréscimo
no Lucro Líquido em relação à situação anterior.
DESDOBRO DAS TAXAS DE RETORNO 445

O Lucro Líquido passou de $ 1.320 para $ 1.724, com acréscimo, portanto,


de $ 404.O Giro, em virtude da redução de Vendas, teve ligeira queda, enquanto
a Margem subiu. A taxa de retorno sobre o Ativo subiu de 13,2% para 17,4%.
Observe-se, porém, que nem sempre acontece o que estamos mostrando.
É perfeitamente possível ocorrer uma queda maior de quantidade, digamos para
1.900 unidades. Nesse caso, a Margem de Contribuição Total passaria para
$ 5.130, com um, decréscimo de $ 150 no Lucro antes das Despesas de Juros.
Aí, então, a Margem e a taxa de retorno sobre o Ativo também se reduziriam.
PARTE Integração das Técnicas
V de Análise
Esta parte foi incluída no livro com o objetivo de juntar todas as
técnicas mostradas ao longo do livro e, dessa forma, servir de exemplo
prático tanto em trabalhos escolares como profissionais.
Cada técnica ou método ministrado ao longo do livro foi aplicado aos
dados das demonstrações financeiras da Cia. BIG, resultando num rela-
tório conclusivo, mas parcial em cada tópico. Por exemplo, quando
elaboramos o Fluxo Líquido de Caixa apresentamos um relatório sobre o
que essa demonstração conjugada com os índices específicos, então
extraídos revelavam da Cia. BIG. Agora queremos uma avaliação geral
da empresa, considerando conjuntamente todos os aspectos abordados.
Essa avaliação geral permitirá também identificar as responsabilida-
des principais áreas de direção da empresa, como Marketing, Produção
e Finanças, pelos erros e acertos mostrados pela empresa.
Acham-se reproduzidos nesta parte os principais números, quadros,
tabelas e demonstrações produzidos anteriormente, mas não os comen-
tários, pois agora, sem invalidar os comentários parciais, queremos
mostrar como as partes se juntam para constituir o todo da análise.
Uma novidade introduzida nesta parte é a apresentação de soluções
para os problemas revelados pela empresa e quais suas perspectivas,
trabalho este voltado para diagnose e gerência das empresas, em nível
geral.
Diagnósticos e Soluções
16 Empresariais

1 M O D E L O DA AVALIAÇÃO

Acham-se reproduzidas adiante as planilhas de avaliação dos índices e


categorias de índices, seguidas das representações gráficas dessas avaliações
conforme se mostrou no Capítulo 8.
Segundo essas planilhas, a empresa que em 19x1 se acha em posição
satisfatória em todos os aspectos mostrou declínio generalizado sobretudo na
estrutura de capitais, que chegou no último balanço a situação considerada
fraca.
Aqui o destaque negativo ficou por conta dos índices de ¡mobilização do
patrimônio líquido e de endividamento que receberam respectivamente notazero
e nota dois, numa escala de zero a dez.
A rentabilidade e aliquidez, apesar da queda revelada, ainda se mantiveram
em nível razoável no último exercício.
450

Planilha I
Modelo de Avaliação dos Índices Financeiros
QUADRO 16.1

EXERCÍCIO
19x1 19x2 19x3
ITEM

ÍNDICE PESO VALOR NOTA PESO X NOTA VALOR NOTA PESO X NOTA VALOR NOTA PESO X NOTA

CT/PL 0,6 154% 5 3,0 183% 4 2,4 242% 2 1,2


PC/CT 0,1 81% 6 0,6 54% 10 1,0 48% 10 1,0
AP/PL 0,2 71% 4 0,8 121% 1 0,2 157% 0 0,0
AP/PL+EPL 0,1 55% 4 0,4 66% 3 0,3 70% 3 0,3

Notada
estrutura de 4,8 3,9 2,5
capitais

LG 0,3 1,18 5 1,5 0,88 1 0,3 0,76 0 0,0


LC 0,5 1,46 4 2,0 1,61 7 3,5 1,56 6 3,0
LS 0,2 0,90 4 0,8 0,87 5 1,0 0,88 5 1,0

Notada
INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

4,3 4,8 4,0


liquidez

V/AT 0,2 1,75% 8 1,6 1,11% 4 0,8 1,03% 3 0,6


LL/V 0,1 4,66% 6 0,6 3,77% 5 0,5 2,83% 5 0,5
LL/AT 0,1 8,2% 7 0,7 4,19% 5 2,93% 4 0,4
LL/PL 0,6 23,64% 7 4,2 13,48% 5 10,79% 4 2,4

Notada
7,1 4,8 3,9
rentabilidade
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 451

Planilha II
Avaliação das Categorias de Índices Financeiros
QUADRO 16.2

EXERCÍCIO

19x1 19x2 19x3

ITEM

CATEGORIAS DE
Peso Nota Peso x Nota Nota Peso x Nota Nota Peso x Nota
ÍNDICES

ESTRUTURA DE
CAPITAIS 0,4 4,8 1,92 3,9 1,56 2,5 1,0

UQUIDEZ 0,2 4,3 0,86 4,8 0,96 4,0 0,8

RENTABILIDADE 0,4 7,1 2,84 4,8 1,92 3,9 1,56

NOTA GLOBAL 5,62 4,44 3,36

QUADRO16.3. Sumário da avaliação baseada nos índices-padrão.

Estrutura de
Categoria Liquidez Rentabilidade Global
Capital
19... X1 X2 X3 X1 X2 X3 X1 X2 X3 X1 X2 X3

Ótimo
Bom
Satisfatório
Razoável
Fraco
Deficiente
Péssimo
452 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

QUADRO16.4. Representação gráfica do perfil econômico e financeiro.

Exercício 19x1 19x2 19x3

Satisfatório

Satisfatório
Satisfatório

Deficiente
Deficiente

Deficiente

Razoável
Razoável
Razoável

Péssimo

Péssimo
Péssimo

Ótimo
Ótimo

Ótimo
Fraco

Fraco

Fraco
Bom
Bom

Bom
Item

Estrutura * *
* *
Liquidez
*
Rentabil. * * *

Global
* * *

2 ANÁLISE VERTICAL X HORIZONTAL

As planilhas reproduzidas no tópico anterior mostram as avaliações em cada


um dos três últimos exercícios, mas não abordam as causas das flutuações da
empresa.
A análise vertical x horizontal objetiva identificar essas causas. Seu uso deve
fazer-se sempre em relação às planilhas.
Fazendo-se isso, pode-se observar que o grande problema da Cia. BIG foi
o excesso de investimento no prazo relativamente curto de dois anos. Vejam-se
as demonstrações financeiras seguintes com análise vertical e horizontal.
De 19x1 para 19x3, o ativo permanente cresceu 253% em termos reais, isto
é, mais do que triplicou. Simultaneamente, houve crescimento de 50% no ativo
circulante (vide comentários sobre a análise da NCG). Em conseqüência, a
empresa endividou-se fortemente perante o sistema bancário, tendo o exigívela
longo prazo crescido 545% e o passivo circulante financeiro crescido 134%. Por
outro lado, estranhamente o financiamento de fornecedores declinou 3%. Com
isso, a estrutura de capitais do balanço alterou-se significativamente. O ativo
permanente passou de 28% para 48% do ativo total; o patrimônio líquido caiu de
39% para 30% do passivo total, enquanto o exigível a longo prazo passou de
12% para 35% do passivo total.
Por isso, a empresa acabou apresentando uma nota baixa na estrutura de
capitais.
Tendo crescido, porém, o endividamento muito mais a longo do que a curto
prazo, a empresa conseguiu manter o índice de liquidez corrente em nível
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 453

satisfatório (o conjunto da liquidez é apenas razoável em virtude da nota zero do


índice de liquidez geral).
Até aqui, com certeza, podem-se tirar duas conclusões em relação à
administração:
• primeira: a política de investimentos maciços desestruturou a empresa;
• segunda: houve nítido esforço do administrador financeiro em manter a liquidez a
curto prazo.
Do ponto de vista da rentabilidade, pode-se dizer que a empresa andou bem
e até mesmo melhor do que a avaliação fria dos índices. As vendas cresceram
nos dois exercícios 22%. O custo de produtos vendidos caiu de 76% para 72%
das vendas enquanto as despesas operacionais caíram de 10% para 8%. Em
conseqüência, o "Lucro Operacional antes dos Resultados Financeiros" cresceu
58% reais em dois anos, passando de 14% para 20% das vendas. Até aí a
administração da empresa pode ser considerada muito boa, pois o que toda e
qualquer empresa almeja performances desse tipo, ou seja, bom crescimento de
vendas com acentuada redução proporcional de custos.
E então por que a avaliação da rentabilidade foi apenas razoável?
Por dois motivos. Primeiro, porque as despesas financeiras anularam todo
o esforço mencionado acima, fazendo o lucro líquido cair 25% em termos reais
e, segundo, porque o nível de vendas que no primeiro ano era ótimo comparati-
vamente aos investimentos totais, tornou-se fraco no último ano.
De fora da empresa, não se pode saber se os novos investimentos ainda
não maturaram ou se o mercado não está absorvendo o novo nível de produção.
De qualquer maneira, as vendas não estão mais condizentes com o ativo.

DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS
Exercício findo em 31-12X1 31-12-X2 31-12-X3
Valor Valor Valor
AV AH AV AH AV AH
Absoluto Absoluto Absoluto
RECEITA LÍQUIDA 4.793.123 100 100 4.425.866 100 92 5.851.586 100 122
Custo dos Produtos Vendidos 3.621.530 76 100 3.273.530 74 90 4.218.671 72 116
Lucro Bruto 1.171.593 24 100 1.152.336 26 98 1.632.915 28 140
Despesas Operacionais 495.993 10 100 427.225 9 86 498.025 8 100
Outras Rec/Desp. Operacionais 8.394 - - 17.581 - - 27.777 - -
LUCRO OPERACIONAL 683.994 14 100 742.692 17 108 1.162.671 20 158
(antes dos Resultados Financeiros)
Receitas Financeiras 10.860 - - 7.562 - - 5.935 - -
Despesas Financeiras 284.308 6 100 442.816 10 156 863.298 15 304
LUCRO OPERACIONAL 410.546 8 100 307.438 7 75 305.304 5 75
Resultado não Operacional 1.058 - - -.- - - -.- - -
LUCRO ANTES DO IR 411.604 8 100 307.438 7 75 305.304 5 75
LUCRO LÍQUIDO 223.741 4,66 100 167.116 3,77 75 165.956 2,83 75
454 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

BALANÇOS DE 31-12-X1 31-12-X2 31-12-X3


Valor Valor Valor
AV AH AV AH AV AH
Absoluto Absoluto Absoluto
ATIVO
CIRCULANTE
FINANCEIRO
• Disponível 34.665 26.309 25.000
• Aplicações Financeiras 128.969 80.915 62.000
SOMA 163.634 107.224 87.000
OPERACIONAL
• Cientes 1.045.640 1.122.512 1.529.061
• Estaques 751.206 1.039.435 1.317.514
SOMA 1.796.846 2.161.947 2.846.575
Total do Ativo Circulante 1.960.480 2.269.171 2.933.575
PERMANENTE
• Investimentos 72.250 156.475 228.075
• Imobilizado 693.448 1.517.508 2.401.648
• Diferido -.- 40.896 90.037
Total do Ativo Permanente 765.696 1.714.879 2.719.760
TOTAL DO ATIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
PASSIVO
CIRCULANTE
OPERACIONAL
• Fornecedores 705.536 639.065 688.791
• Outras Obrigações 275.623 289.698 433.743
SOMA 984.159 928.763 1.122.523
FINANCEIRO
• Empréstimos Bancários 66.165 83.429 158.044
• Dupls. Descontadas 290.633 393.885 676.699
SOMA 356.798 477.314 834.743
Total do Passivo Circulante 1.340.957 1.406.077 1.957.277
EXIGlVEL A LONGO PRAZO
• Empréstimos 314.360 792.716 1.494.240
• Financiamentos -.- 378.072 533.991
Total do Exigivel a Longo Prazo 314.360 1.170.788 2.028.231
CAPITAIS DE TERCEIROS 1.653.317 2.576.865 3.985.508
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
• Capital e Reservas 657.083 1.194.157 1.350.830
• Lucros Acumulados 413.778 213.028 316.997
Total do Patrimônio Liquido 1.070.861 1.407.185 1.667.827
TOTAL DO PASSIVO 2.726.178 3.984.050 5.653.335
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 455

3 ANÁLISE DA NECESSIDADE DE CAPITAL


DE GIRO - NCG

Em períodos de grandes investimentos no ativo permanente como os


verificados na Cia. BIG, a empresa deve buscar reduzir a NCG, (1) racionalizando
ao máximo a administração do ciclo operacional e ciclo de caixa, (2) eventual-
mente contendo a expansão de vendas e (3) em certas situações externas, até
reduzindo vendas.

A Cia BIG. fez tudo ao contrário (vide Figura 15.1). Seus prazos médios de
recebimento de vendas e de renovação de estoques subiram respectivamente
1 1 % e 33%, quando a expectativa era a de que se reduzissem. O prazo de
pagamento de fornecedores caiu 26%, ao contrário do desejado. Em conseqüên-
cia, o ciclo de caixa equivalente cresceu 50%.

Isso, conjugado com o crescimento de 31 %1 nas vendas realizadas, levou


a NCG a mais que dobrar.

A empresa que devido ao alto investimento no Ativo Permanente ficara sem


Capital de Giro Próprio em 19x3 (vide Figura 15.2) foi obrigada a recorrer aos
empréstimos e financiamentos bancários de curto e longo prazo, além de reduzir
em 47% seu saldo de caixa, para financiar a crescente NCG.

A falha de administração pode ser atribuída a várias áreas: à Produção, no


tocante aos níveis de estoques, ao Marketing, em relação aos prazos de fatura-
mento, a Compras (subordinada à Produção) em relação ao prazo de fornece-
dores.

Assim, o que se depreende é estar existindo também e principalmente uma


falha de coordenação e disciplina dessas áreas operacionais, pelo que respon-
deria a Presidência. É preciso saber também até que ponto a área de Finanças
pode ser responsabilizada por não apontar as falhas na administração do ciclo
de caixa e suas conseqüências.

1. O aumento de vendas realizadas difere do crescimento da receita líquida devido à incidência


de impostos.
PMRV 456
Ex X1 X2 X3
VL 63 67 70
AH 100 106 111

mais %CMV/V
Ex X1 X2 X3

CCeq PMPEeq VL 61 54 54

Ex X1 X2 X3 Ex X1 X2 X3 AH 100 88 88

VL 65 91 99 VL 45 62 60 vezes PMRE

AH 100 138 150 AH 100 138 133 Ex X1 X2 X3


VL 74 114 112
AH 100 154 151
menos %C/V
Ex X1 X2 X3
NCG PMPCeq VL 50 46 43

Ex X1 X2 X3 Ex X1 X2 X3 AH 100 42 86

VL 812 1233 1724 vezes VL 42 38 31 vezes PMPC

AH 100 152 212 AH 100 90 74 Ex X1 X2 X3


VL 85 83 73
AH 800 98 86
Vendas Realizadas

Ex X1 X2 X3
Vd Observações: 1. Valores Absolutos em US$ 1.000.
VL 5960 6043 7820
INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

2. Todos os números foram arrendodados.


Ex X1 X2 X3 AH 100 101 131 3. Simbdogia:
VL 16,6 16,8 Ex = Exercido
21,7 dividido
VI = Valor
AH 100 101 131 AH = Análise Horizontal
menos 360 CMV/V = Custo de Mercadorias sobre Vendas
A
C/V = Compras sobre Vendas
Ex X1 X2 X3 PMRE = Prazo Médio de Renovação de Estoques
VL 276 290 434 PMPC = Prazo Médio de Pagamento de Compras
PMRV = Prazo Médio de Recebimento de Vendas
AH 100 105 157 CCeq = Ciclo de Caixa Equivalente
A = Ajustes

FIGURA16.1. Causas das variações da NCG.


PL
Ex X1 X2 X3

CCP VL 1017 1407 1666

Ex X1 X2 X3 AH 100 131 156


VL 305 (309) (1052)
CCL menos
AH - - - AP
Ex X1 X2 X3
AV 38 (25) (61) Ex X1 X2 X3
VL 619 663 976
mais ELP VL 766 1714 2720
AH 100 139 158
Ex X1 X2 X3 AH 100 224 365
AV 76 70 57
VL 314 1171 2028

AH 100 372 645


AV 38 95 118

NCG
Ex X1 X2 X3
VL 812 1233 1724
mais
AH 100 152 212

AV 100 100 100

Observações: 1. Valores Absolutos em US$ 1.000.


PCF 2. Valores Negativos entre parênteses.
Ex X1 X2 X3 3. Simbologia:
Ex = Exercício
VL 357 477 835 =
VI Valor
AH 100 134 234 AH = Análise Horizontal
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS

AV 44 39 48 AV = Analise Vertical
PL = Patrimônio Líquido
menos
AP = Ativo Permanente
Ex X1 X2 X3 CCP = Capital Circulante Líquido
ELP = Engível a Longo Prazo
VL 164 107 87
CCL = Capital Circulante Liquido
AH 100 65 53 PCF = Passivo Circulante Financeiro
ACF= = Ativo Circulante Financeiro
AV (20) (9) (5)

FIGURA 16.2. Esquema de Financiamento da NCG.


457
458 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

4 FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA

A análise do Fluxo Líquido de Caixa derruba qualquer eventual otimismo na


área financeira, decorrente do satisfatório índice de liquidez corrente e do
endividamento ter sido feito predominantemente a longo prazo.
A performance é igualmente ruim nos dois exercícios que se seguiram a
31-12-X1.
Houve "Geração Bruta de Caixa", mas muito aquém da evolução da NCG
(como foi visto, motivada por má administração do ciclo de caixa). Isto significa
que, independentemente dos investimentos no ativo permanente (e mesmo que
não os tivesse feito), a empresa não conseguiria sustentar o autofinanciamento
da expansão da NCG. É o que revela o "Déficit Operacional de Caixa". Daí o
recurso aos empréstimos bancários de curto prazo.
A partir daqui a situação do exercício de 19x2 se diferencia da de 19x3.
Em 19x2, os empréstimos bancários de curto prazo visavam cobrir parcial-
mente o "Déficit Operacional de Caixa", sendo que a diferença poderia ser
coberta com redução dos excedentes de caixa. As fontes permanentes somadas
às fontes "não correntes" apresentaram relativo equilíbrio em relação às aplica-
ções não correntes.
Em 19x3, os empréstimos bancários de curto prazo superaram em muito a
necessidade de cobertura do "Déficit Operacional de Caixa", revelando que a
empresa tomou dinheiro de curto prazo também para financiar ativo permanente,
o que é muito ruim.
Em resumo, a administração financeira foi reprovada pela demonstração do
fluxo líquido de caixa, ressalvando-se que não necessariamente a responsabili-
dade seja do administrador financeiro.
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 459

Cia. BIG - Demonstração do Fluxo de Caixa


- períodos findos em 31-12 de
19x2 19x3
Lucro do Exercício 167.116 165.956
Depreciação 101.511 167.477
- Resultado da Equivalência Patrimonial (10.541) (20.277)
GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA 258.086 313.156
Aumento da NCG (490.857)
DÉFICIT OPERACIONAL DE CAIXA (177.701)
Obrigações Bancárias de Curto Prazo 120.516 357.429
DÉFICIT (GERAÇÃO EM 19x3) CORRENTE DE
(41.895) 179.728
CAIXA
VARIAÇÃO DOS ITENS PERMANENTES DE CAIXA
• Aumento de Capital 255.440 156.673
• Dividendos (86.232) (61.987)
• Acréscimos de Ativo Permanente (1.040.151) (1.152.081)
(870.943) (1.057.395)
VARIAÇÃO DOS ITENS NÃO CORRENTES
• Aument. de Emp. e Financ. de Longo Prazo (856.428) 857.443
DÉFICIT LÍQUIDO DE CAIXA
+ Ativo Circ. Finan. Inicial 163.634 107.224
- Ativo Circ. Financ. Final 107.224 87.000

5 ANÁLISE DA RENTABILIDADE

O desempenho da empresa no que se refere à rentabilidade foi muito melhor


que aquele mostrado na parte financeira.
Já foi comentado o bom desempenho de custos e despesas em face das
vendas, levando o lucro dos ativos (antes das despesas financeiras a crescer
68% de 19x1 para 19x3). Com isso, a "Margem" pode crescer 37%, compensan-
do em boa parte a queda de 53% no "Giro". Mesmo tendo a taxa e retorno sobre
o ativo caído de 25% ao ano em 19x3 para 17% ao ano em 19x2 e 19x3, o
desempenho até aí pode ser considerado muito bom.
Outro ponto favorável é que a empresa conseguiu reduzir a taxa de custo
da dívida de 25% ao ano para 21 % ao ano.
Observe-se, porém, que, enquanto em 19x1 havia um diferencial positivo
de 1 % entre a taxa de retorno do ativo e a taxa de custo da dívida, nos anos
seguintes esse diferencial passou a 4% negativo.
460

RsAL
RsAL

X2 X3 X1 X2 X3
• X1
25 17 17 Vide Quadro página 461
25 17 17
RsPL 100 68 68 100 68 68
RsAL-CD
X1 X2 X3 X1 X2 X3
mais Desp. Finan. Brutas
25 13 11
0 (4) (4)
44 X1 X2 X3
100 52 - - -
TAR menos 284 443 863
X1 X2 X3 Desp. Finan. Líquidas
100 156 304
GAF 0 (4) (6) X1 X2 X3
X1 X2 X3 — - — 154 241 469 menos
CD
1 0,76 0,65 mais 100 156 305
X1 X2 X3 Economia c/ IR
100 76 65
25 21 21 dividido X1 X2 X3

100 84 84 130 202 394


Passivo Financeiro
RsAL vezes
100 155 303
X1 X2 X3 X1 X2 X3

25 17 17 625 1160 2255


PF
100 66 66 100 185 360
X1 X2 X3
625 1160 2255
PF + PL
1% 1851 360
X1 X2 X3
66% 94% 147%
PL
100 142 223
X1 X2 X3
945 1238 1537
INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

100 1310 1626

' Os valores entre parênteses são negativos.

FIGURA 16.3. CIA. BIG.


Ativo Circulante
X1 X2 X3

Vendas 1646 2114 2601

X2 X3 100 126 158


X1
Giro Ativo Total ma»
4793 4425 5851 Ativo Permanente
X1 X2 X3 100 93 122 X1 X2 X3 X1 X2 X3
322 1,54 2400 3353 4817 752 1239 2216
Fornecedores
100 57 47 X2 X3 100 140 200 X1 X2 X3 100 165 295
X1
menos
1489 2398 3793 Passivo Operacional 639 673 663
RsAL 100 161 255 X1 X2 X3 100 105 104

X1 X2 X3 Vendas 911 955 1024 mais


Outras Obrigações
25 17 17 vezes X1 X2 X3 100 105 112 X1 X2 X3
100 68 68 Lucro dos Ativos 4793 4425 5851 CMV 272 262 361
X1 X2 X3 100 92 122 X1 X2 X3 100 104 133
Margem 378 407 635 menos 3621 3273 4218
Custos e Despesas De Vendas
X1 X2 X3 100 108 168 X1 X2 X3 100 90 116 X1 X2 X3
7,89 9,20 10,85% dividido mais
Vendas 4415 4016 5216 Despesas Operacionais 270 225 264
100 117 137 X1 X2 X3 100 91 118 X1 X2 X3 100 83 105
4793 4425 5851 496 428 498 mais
Administrativas
100 92 122 100 86 100 X1 X2 X3
nua
IR Lucro dos Ativos 206 181 193
X1 X2 X3 100 88 94
317 342 533 mm
Geras
100 106 168 X1 X2 X3
mais
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS

Outras Receitas/Despesas 20 21 21
Exercício
X1 X2 X3 100 105 105
Valores Absolutos ou Índices
20 25 33
Análise Horizontal
100 125 165
Notas:

1. Estrutura dos Quadros


2. Valores Absolutos em milhares de dólares.

FIGURA 16.4. CIA. BIG - Modelo de Análise de Giro x Margem.


461
462 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

A conclusão aqui é de que o endividamento não trouxe vantagem para a


empresa em nenhum dos três exercícios, pois mesmos o 1 % favorável em 19x1
não é suficiente para justificar o risco do endividamento.
Voltando à análise numérica, os mencionados 4% desfavoráveis em 19x2
e 19x3 sofrem o efeito multiplicador do endividamento para produzir a taxa de
retorno sobre o patrimônio líquido, que é o que afinal interessa. Em 19x3, esse
efeito multiplicador foi de 1,5, de maneira que os 4% negativos viraram 6%
negativos, ficando taxa de retorno sobre o patrimônio líquido 6% abaixo da taxa
de retorno do ativo.
Em resumo, a empresa mostra-se lucrativa e em evolução positiva opera-
cionalmente. Sua rentabilidade apenas ficou prejudicada (1) por pagar juros de
$ 21 ao ano para cada $ 100 tomados, os quais, aplicados na empresa, rendem
$ 17 e (2) por aumentar muito o endividamento.

6 SOLUÇÕES E PERSPECTIVAS PARA A CIA. BIG

Como foi visto, o problema crucial da Cia. BIG foi o alto e crescente
endividamento.
A solução de seus problemas passa necessariamente pela redução do
endividamento.
Em primeiro lugar, é preciso analisar a viabilidade de redução do ativo
imobilizado. Em 19x1, a relação vendas líquidas/imobilizado era de 6,92; em
19x3, caiu para 2,44. Logo, parece possível algum esforço nesse sentido.
Havendo desmobilização, a empresa poderá imediatamente reduzir parte
das dívidas.
Outra medida a ser imediatamente implantada é a redução do ciclo de caixa
aos níveis de 19x1, o que proporcionaria uma redução de $ 737,800 dólares na
NCG e, automaticamente, na redução do passivo circulante financeiro, que
poderia chegar a 88%. 2

2. Cálculos assim efetivados: a) Ciclo de caixa de 19x3 = 99 dias


Ciclo de caixa de 19x1 = 65 dias
diferença 34 dias

737.800
b) x100=88%
834.743

redução de NCG: 34 x vendas diárias


34x21,700=737.800
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 463

Com um ativo mais enxuto, o GIRO (Vendas/Ativo) melhoraria e a empresa


passaria a apresentar maior taxa de retorno do ativo. Reduzindo o endividamen-
to, a empresa poderia (1) ser mais seletiva nas taxas de juros e (2) diminuir a
alavanca PF/P2 que lhe é desfavorável. Conseqüentemente, aumentaria a
rentabilidade do patrimônio líquido.
Atuando simultaneamente no aumento do lucro líquido e na contenção de
crescimento da NCG (após sua redução inicial), a empresa poderia apresentar
geração operacional de caixa com a qual amortizaria o exigível a longo prazo.
Em resumo, se forem tomadas as medidas saneadoras indicadas, a empre-
sa tem muito boa perspectiva.
Orientações para Utilização do
Apêndice Disquete

1 INTRODUÇÃO

1. Acompanha o presente livro um disquete que executa cálculos e avaliações


e contém índices-padrão para consulta.
O disquete de análise contém um programa elaborado em clipper. Esse
programa destina-se a estudantes, para exercícios escolares, e a empresá-
rios, para análise de suas próprias empresas. Não foi concebido para análise
de empresas de terceiros nem para uso comercial.
2. Este programa efetua os cálculos e relatórios financeiros, cabendo ao
usuário as interpretações e os comentários. O programa é adequado para
empresas comerciais e industriais e eventuais prestadoras de serviços. Não
se aplica a ramos especializados, como bancos, construtoras, cooperativas,
imobiliárias, loteadoras, companhias de leasing, seguradoras etc.
3. O usuário deverá adaptar as contas das demonstrações que deseja analisar
para os modelos de entrada de dados previstos aqui, valendo-se das
orientações do Capítulo 5 do livro-texto e destas orientações.
4. O usuário deverá entrar com os dados de três anos e indicar a moeda que
está usando. O sistema não funciona adequadamente sem os três anos.
5. O presente programa é fornecido a título de cortesia. Nenhuma responsabi-
lidade poderá ser imputada ao autor, à editora e aos colaboradores em
virtude de qualquer conseqüência dos seus resultados.
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 465

2 CONTEÚDO

1. O Sistema é composto de quatro módulos básicos:


• MENU GERAL DO SISTEMA
• CONSULTAS A ÍNDICES-PADRÃO
• TELAS DE ENTRADA DE DADOS
• RELATÓRIOS

Menu Geral do Sistema


Inicialmente, o usuário deverá entrar na tela "Dados da Empresa", preen-
chendo os dados solicitados.
Indique na linha "UNIDADE MONETÁRIA" em qual moeda estarão os
dados numéricos. Estes não deverão ultrapassar seis dígitos.
Quando o usuário estiver no item "Ramo de Atividade", teclando F8, terá
acesso aos ramos de atividades para os quais foram elaborados os índices-pa-
drão.
São os seguintes os ramos de atividades:

RAMO
Administração e participação
Bebidas e fumo
Comércio
Construção e engenharia
Madeira e ¡mobiliário
Materiais de transporte
Mecânica
Metalúrgico/siderúrgico
Produtos alimentícios
Serviços públicos
Eletroeletrônicos
Papel e celulose
Química
Serviços em geral
Transporte

O usuário deverá indicar na tela o ramo de atividade em que a empresa se


encaixa, para que o sistema elabore as avaliações previstas, entre os ramos
citados.
466 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

Consulta a índices-padrão

O usuário poderá consultar os índices-padrão após preencher as telas


"Dados da Empresa", entrando na opção "Ramo de Atividade" do menu.
Esses padrões estão baseados em Demonstrações Financeiras de empre-
sas abertas, cotadas nas bolsas de valores. Dado o número limitado de empre-
sas, nem todos os ramos estão representados. O usuário deverá escolheraquele
que mais se aproximar do ramo da empresa que será analisada, ou então
setores genéricos, como "Indústria em Geral".
Os índices-padrão não podem ser modificados pelo usuário.
Os índices dos últimos três anos serão comparados ano a ano com os
respectivos três últimos balanços e demonstrações de resultados. Em certos
casos, índices de balanços de, por exemplo, 1995, 1996 e 1997 virão a ser
comparados com padrões respectivos de 1994, 1995 e 1996, o que não
representa problema por dois motivos: primeiramente, porque é natural essa
defasagem, visto que os padrões de um ano somente conseguem ser obtidos
no ano seguinte; e, segundo, porque há certa estabilidade dos padrões de um
ano para o outro, pois os mesmos são calculados com base em várias empresas.

Telas de entrada

As telas de Entrada de Dados estão divididas em:

• Balanço Patrimonial (Telas 1 e 2)


• Dem. Result. (1)e Mutações PL (2)
• Dem. Origens e Aplicações (1 e 2)
• Dados Adicionais (1 e 2)

Ao concluir uma tela, o usuário deve voltar ao menu e escolher outra tela,
ou outra função.
Digitando "M", o sistema inicia o processo de edição de valores. (Sempre
que for iniciar digitação ou correção, digite M.) O cursor aparecerá no primeiro
campo da tela, aguardando digitação de dados. Caso o dado seja "zero", basta
seguir em frente e teclar enter.
Caso deseje corrigir dados de uma tela, tecle antes "M".
Os itens previstos nas telas são fixos. Dessa forma, o usuário deverá
adaptar as demonstrações financeiras que deseja analisar ao modelo das telas.
Ou seja, deve "padronizar" as demonstrações financeiras (conforme previsto no
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 467

Capítulo 5 do livro-texto). Observe o formato dessas demonstrações antes de


digitar os dados. Ao terminar uma tela, tecle enter ou seta para baixo, para
passar para a tela seguinte.
Seguem algumas orientações para o usuário em relação às Telas de
Entrada.

Balanço Patrimonial (Telas 1 e 2)

Os balanços publicados costumam apresentar inúmeras contas que refle-


tem condições peculiares da empresa ou efeitos momentâneos da economia na
vida da empresa. O usuário deverá agrupar essas contas no item "Outros" que
aparecem no Ativo Circulante, Passivo Circulante e Exigível a Longo Prazo.
Devido a arredondamentos, geralmente ocorrem pequenas diferenças
entre Ativo e Passivo que deverão ser acertadas manualmente pelo usuário,
voltando para o início das telas.

Demonstrações de Resultados (Tela 1)

Aqui, também, o usuário deverá acertar diferenças e contas diversas não


previstas no modelo nos itens "Outras Desp./Rec. Operacionais" ou "Outras
Desp./Rec. Não Operacionais".
Observe que esses itens deverão ter sinal negativo digitado caso seja
subtrativo da "Receita Líquida".
No item "Prov. p/ IR e Contr. Social" o usuário deverá em cada ano colocar
a soma de quanto esses dois itens representam.

Demonstrações das mutações do patrimônio líquido (Tela 2)

Assim como nas demonstrações anteriores, os valores não previstos no


modelo deverão ser agrupados no item "Outros", entrando com o sinal de menos
(-) quando o valor for subtrativo.
Observe que na rubrica "Aumento de Capital" poderá ocorrer redução em
vez de aumento, colocando-se nesse caso o sinal negativo.
468 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

Demonstrações das origens e aplicações (Telas 1 e 2)


Aqui também o usuário deverá promover os ajustes nas linhas "Outros",
entrando com os respectivos sinais.

Dados adicionais
É importante preencher a linha "Vendas Realizadas" para que os índices
de prazos médios não fiquem prejudicados (relatório F).
A soma das despesas "De vendas", "Administrativas" e "Gerais" deve
coincidir com o total de "Despesas Operacionais" da tela "Demonstrações de
Resultados".
O usuário deverá indicar o valor de Compras, que é essencial para alguns
¡tens dos relatórios. No caso de empresas comerciais, as compras podem ser
estimadas pela conhecida fórmula: CVM = El + C - EF. No caso da indústria, se
não for possível obtê-lo diretamente da empresa, o usuário deverá estimá-lo,
considerando que as compras representam na indústria em média 40% das
vendas e no comércio, cerca de 60%.
No item "Alíquota de Contribuição Social + IR", o usuário deverá em cada
ano colocar a porcentagem (%) que esses dois itens representarem em relação
ao "Lucro antes do IR e Contr. Social". Essa porcentagem (%) não corresponde
exatamente às alíquotas nominais cobradas pelo governo, mas ao cálculo de
quanto custaram para a empresa esses dois itens percentualmente em relação
ao lucro anterior. O usuário deverá digitar o valor inteiro, que o sistema entenderá
como percentual. Por exemplo 32%; basta digitar 32. No caso da empresa não
ter pago esses encargos (por exemplo, quando tem prejuízo) indicar "0" (zero).
Na segunda tela, o usuário deve entrar com os dados sintéticos do Balanço
do final do exercício anterior aos três anos da análise.

Relatórios
O usuário deverá escolher o relatório desejado. Se quiser todos, terá que
selecionar individualmente, um a um.
São os seguintes os relatórios emitidos pelo Sistema:

A. Principais índices econômico-financeiros com avaliações.


B. Avaliação histórica dos grupos de índices e global das empresas.
C. Perfil das avaliações dos grupos de índices e global das empresas a
cada ano.
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 469

D. Análise vertical/horizontal dos Balanços.


E. Análise vertical/horizontal das Demonstrações de Resultados.
F. Prazos médios, ciclo operacional e ciclo de caixa.
G. Esquema de financiamento da Necessidade de Capital de Giro - NCG.
H. Demonstrações do fluxo líquido de Caixa.
I. Desdobro das taxas de retorno do Ativo.
J. Demonstrações de resultados reclassificados para estudo da alavan-
cagem financeira.

Com exceção dos três primeiros relatórios, cabe ao usuário a interpretação


dos números.
Observe-se que o alto grau de instabilidade da economia brasileira torna o
desempenho das empresas também instável, de onde decorre que os índices-
padrão contêm certas distrações decorrentes dessas mencionadas instabilida-
des, podendo isso refletir nas avaliações dos relatórios A, Be C.
Obs.: Caso haja mais de seis dígitos, aparecerá nos relatórios G e I
asterisco no lugar do número. Sugerimos que nesse caso o usuário divida os
dados de entrada por 1.000.

3 Instalação do SOFTWARE

Ambiente DOS

1. Digite:

A: instala tecle [enter]

Ambiente Windows

1. Vá para o prompt do DOS

2. Digite:

A: instala tecle [enter]

Caso o seu Drive de 3.5" seja [B], substitua (A) por (B).
470 INTEGRAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE

4 Execução do SOFTWARE

1. No prompt do DOS, digite:

CD\DFINANC [enter]
DF [enter]
1.1 Ao executar o programa, será apresentada ao usuário uma tela para
atualização ou confirmação da data atual. Após confirmar a data, será
apresentado ao usuário o Menu Geral, a partir do qual serão selecio-
nadas as telas de Entrada de Dados e os Relatórios de saída.

1.2 As telas de Entrada de Dados estão divididas em:

• Balanço Patrimonial (Telas 1 e 2)


• Dem. de Result. (1) e Mutações do PL (2)
• Dem. Origens e Aplicações (1 e 2)
• Dados Adicionais (1 e 2)

1.3 Relatórios

No menu geral do sistema, selecione com o cursor a opção Relatórios.


Aparecerão na tela todos os relatórios fornecidos pelo sistema. Faça
a opção entre impressão ou visualização no vídeo.
1.4 Todas as opções podem ser selecionadas por meio das setas cursores
do teclado do micro, movendo-se a barra até a opção desejada e
pressionando em seguida a tecla [enter].
1.5 As teclas de função a seguir poderão ser usadas conforme indicado:
F1 - Mostra texto de ajuda.
F2 - Ativa o Pop Calendário do mês atual.
F6 - Ativa o Pop Calculadora.
ALT-F8 - Permite mudara posição na tela, das janelas, menus, caixa
de mensagens etc.
ESC - Em qualquer tela do sistema funciona como tecla de retorno
do menu geral; aciona a saída do sistema.
1.6 Nas telas de entrada de dados:
M - Inicia o processo de edição de valores. Após acionada, o cursor
aparecerá no primeiro campo da tela, aguardando a digitação de
dados.
DIAGNÓSTICOS E SOLUÇÕES EMPRESARIAIS 471

PgUp e PgDn - Alterna entre as telas 1 e 2 (PgUp -Avança e PgDn


-Volta).
Enter- No processo de edição, avança para o próximo campo.
Seta p/ cima - No processo de edição, volta para o campo anterior.
ESC - No processo de edição, retorna para o modo de visualização
da tela; no modo de visualização, retorna para o menu.
1.7 Algumas orientações
• Como voltar:
• Dentro da mesma tela - seta p/cima
• Para tela anterior - PgUp
• Para menu - ESC
• Como corrigir um erro ou retificar:
• Enquanto está digitando na tela - seta para cima.
• Numa outra tela - localize a tela, digite "M" e vá até o campo
que deseja corrigir.
• Como limpar dados digitados:
• Numa determinada tela - vide itens anteriores.
• Gerais: no item "Apoio" do menu, o usuário terá a opção "Limpa
Dados Digitados", a qual elimina todos os dados digitados.

Sistema desenvolvido por Gustavo G. Matarazzo.


Software produzido por Quality System Consultoria Ltda.
CGC 01.164.527/0001 - 1 4 - Fone: (011) 258-2826.
Este livro foi impresso na
LIS GRÁFICA E EDITORA LTDA.
Rua Felicio Antonio Alvos, 370 - Jd. Triunfo - Bonsucesso
CEP 07175-450 - Guarulhos - SP - Fone. (0xx11) 6436-1000
Fax.: (0xx11) 6436-1538 - E-Mail: Iisgraf@uninet.com.br

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