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TÍTULO:
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2. OBJETIVOS:
GERAL
Estudar as festas de beiradão, fenômeno cultural típico das comunidades
ribeirinhas amazonenses, a partir da obra de Teixeira de Manaus, nos anos 80.
ESPECÍFICOS
Compreender os rituais envolvidos na construção das festas de beiradão,
segundo os costumes dos ribeirinhos amazonenses.
Identificar os elementos simbólicos, materiais e imateriais que compõem o
imaginário envolvido nas festas de beiradão.
Entender a obra de Teixeira de Manaus, à luz do contexto das festas de
beiradão, nos anos 80.
Relacionar a obra de Teixeira de Manaus e sua influência nas comunidades
ribeirinhas nos anos 80 às mudanças sociais e econômicas de Manaus e do
Amazonas, com o crescimento da Zona Franca.
3. JUSTIFICATIVA:
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com regras, falas, enunciados e costumes peculiares, “as festas de beiradão”. Usando as
palavras de um estudioso contemporâneo da Amazônia, meu interesse é “pensar a
Amazônia”, indo além de suas questões ambientais e políticas, estudando suas festas
populares e seus artistas, refletindo, “principalmente, sobre suas diversidades”
(FONSECA, 2011, p. 13).
São festas populares, geralmente sem patrocínio oficial ou de pouca atração
midiática, mas que agregam milhares de ribeirinhos das comunidades vizinhas. Nessas
ocasiões se toca “música de beiradão”, um ritmo no qual se misturam carimbó, lundu,
baião, guitarrada, forró, xote, merengue, lambada, salsa e vários outros ritmos de
inspiração caribenha. Muito comuns nos anos 80, ainda hoje esses eventos são rotineiros
nas comunidades ribeirinhas e mobilizam milhares de pessoas todos os finais de semana.
Sua importância na cultura local é alvo de resgate atualmente por grupos musicais
amazonenses jovens, como o grupo Alaíde Negão ou a Orquestra do Beiradão, e de
inserção junto a um público ansioso por uma música mais ligada à Amazônia e sua cultura
popular.
Resgatar a importância desse ritmo e dessas festas é reviver parte da cultura
amazonense contemporânea em seus aspectos menos conhecidos e valorizados pelos
novos segmentos urbanos. Com o surgimento da “nova classe média” (NERI, 2011),
Manaus e os demais núcleos urbanos de sua região metropolitana tiveram um crescimento
econômico consistente e padrões urbanos globalizados de vida passaram a ser vistos como
normais e desejáveis, tais como ir a shoppings, dançar em casas de música eletrônica ou
jantar em restaurantes franqueados. Contudo, um certo “Amazonas oculto” permanece
vivo e vibrante, atraindo multidões e a curiosidade de gerações novas de espectadores e
analistas. É esse “lado oculto” (DARNTON, 1988) da cultura popular regional que este
projeto visa recuperar e analisar. A intenção desta pesquisa é investigar “esse horizonte
de possibilidades latentes” (GINZBRUG, 1987, p. 27) que a investigação sobre a cultura
popular e seus atores pode oferecer.
Entretanto, para evitar generalidades e tornar mais claro o estudo, direcionaremos
a pesquisa para a obra de um determinado artista, cuja fama e popularidade nos anos 80
lhe renderam inclusive um disco de Ouro: Teixeira de Manaus.
Esse artista amazonense foi um dos maiores vendedores de LPs nos anos 80. Sua
fama lhe rendeu apresentações e shows em todo o Brasil, tendo seus discos produzidos
por gravadoras do Rio e São Paulo. Sua fama veio, basicamente, das “festas de beiradão”.
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Nelas, ele executava sua “música de beiradão”, sendo idolatrado pelos ribeirinhos e
admirado pela mídia de então.
É importante ressaltar que os anos 80 viram o crescimento de uma música popular
amazonense, MPA, que tinha um corte nitidamente mais voltado para a elite intelectual
de Manaus, preocupada com os debates políticos nacionais e com a abertura política.
Porém, retomando a expressão de um historiador da música brasileira, quando fala da
MPB no início dos anos 80, parecia “um clube fechado, mais impenetrável do que a
Ordem dos Templários” (ALEXANDRE, 2013, p. 33). A obra de Teixeira de Manaus
cresceu e se popularizou por fora dessa MPA/MPB. O “som do beiradão”, com suas
festas, danças e costumes peculiares, viviam à margem dessa proposta mais
intelectualizada capitaneada pelos universitários de Manaus. Essa relação entre a cultura
popular, a obra de Teixeira de Manaus, os beiradões e a MPA que predominava nos bares
e nas FMs da capital também merece ser estudada e analisada em maiores detalhes.
Analisar sua obra e a recepção dela entre os ribeirinhos será a “pista” metodológica
que usaremos para estudar as festas de beiradão nos anos 80 e sua relevância para a cultura
amazonense. Neste momento de resgate desse tipo de manifestação popular, é essencial
que se debata sobre essas festividades e sua centralidade na vida ribeirinha dos anos 80,
época de maior destaque dessas reuniões. Nesse sentido, analisar a obra de um de seus
maiores expoentes será um dos caminhos possíveis para que tal recuperação se efetue de
forma elucidativa e verticalizada.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
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Nossa análise, assim, se insere no âmbito da história cultural, segundo a definição
de Roger Chartier, como uma busca de se “identificar o modo como em diferentes lugares
e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada dada a ler”
(CHARTIER, 1990, p. 16). Reviver o passado, mas compreendendo-o, de forma
dinâmica, conflituosa e profunda é nossa proposta. Dessa forma, desejo recuperar, nesse
estudo, algumas das dimensões da cultura popular ribeirinha, no momento de sua
construção cotidiana, assim como faz Edward Thompson (THOMPSON, 1998) em seus
estudos sobre o cotidiano das classes populares inglesas ou Peter Burke ao falar da cultura
popular europeia na idade moderna (BURKE, 1989).
As festas de beiradão são representações sociais que dramatizam toda uma forma
de ver o mundo e vivenciá-lo. Os ribeirinhos apresentam uma de suas faces nesses
momentos de ruptura com a realidade e completa inversão, como dizia Bakhtin, nesse
“segundo mundo, nessa segunda vida”, exterior ao Estado e à Igreja (BAKHTIN, 1987,
p. 5). Assim, posso dizer que analisar a popularidade de Teixeira de Manaus e sua
penetração nas comunidades ribeirinhas do Amazonas é uma forma de seguir pistas que
possam desvendar esse emaranhado semiótico e sua dinâmica, “a fim de entender os
processos de transformação por que passam as sociedades” (SANTOS, 1994, p. 26).
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A história cultural não se propõe a identificar passados solidificados e
simplesmente recontar sucessões de fatos. Pelo contrário, seu propósito é compreender,
de forma densa, como aqueles homens e mulheres viveram suas festas e qual a
importância que a “música de beiradão”, representada aqui por Teixeira de Manaus, tinha
nesses momentos festivos de “desordem” e celebração de seu modo de vida. Em tempos
de globalização e pós-modernismo, é vital discutir o sentido do termo “identidade” e a
inevitável “tensão entre o global e o local” (HALL, 2011, p. 76) que ele reproduz.
5. METODOLOGIA:
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próximos a ele, sobre os anos 80, seu sucesso, as festas que participou e o tipo de música
que executava.
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