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O poema em análise, concebe o texto como uma criação que não tem
nenhuma finalidade objetiva, ou seja, como algo que não possui valor
dimensível. Através dos “despropósitos” e das “peraltagens” do menino, é
posto em evidência, que a lógica se encontra fora do que é rotineiro, previsível
e habitual.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase. Foi
capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor! (BARROS, 1999, s/p).
Aqui estão textos com exercícios de interpretação. Após serem feitos, é possível corrigir e ler
comentários sobre cada questão.
O menino que carregava água na peneira
Manoel de Barros
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens.
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos.
BARROS, Manoel. "O menino que carregava água na peneira", in Poesia Completa, pág 469. São
Paulo, Leya, 2010
Interpretando
2. 2 - No poema é dito que escrever é o mesmo que carregar água na peneira. Assinale a alternativa que aponta uma
possível interpretação para essa afirmação.
a) Escrever é uma atividade que permite o exercício da livre imaginação, e por isso é adequada, por exemplo, a
um menino que tem a personalidade fora do comum.
b) Escrever é um ofício para poucos, de grande dificuldade, assim como deve ser difícil o esforço para conseguir
carregar água na peneira.
c) A escrita é um lugar em que as pessoas podem ser irresponsáveis sem culpa, pois é uma atividade que a
sociedade julga como não importante.
d) A escrita é uma forma de lazer como qualquer outra, nela não há nenhuma pretensão de ser levada a sério,
assim como as brincadeiras de criança não podem ser levadas a sério.
“No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.”
a) A escrita permite a uma pessoa que alimente suas ilusões de grandeza, fazendo com que os outros pensem
que alguém é aquilo que não é.
b) A escrita está ligada ao mundo ficcional, que é o mundo do “faz de conta”, em que se pode fingir ser
personagens que só existem na imaginação.
c) Escrever é a única forma de dar às pessoas aquilo que a vida não é capaz de dar.
d) Ao escrever, nós podemos mentir para os outros e para nós mesmos, e assim assumimos uma identidade que
não é exatamente a nossa.
4. 4 - É dito no poema que o menino podia fazer “peraltagens com palavras”. Quais parecem ser as qualidades de quem
faz uma coisa como essa?