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Vai levar algum tempo para o poder público consertar os dez mil quilômetros de vias
pavimentadas da capital, não apenas pela extensão, mas pela necessidade de programação que
deverá fixar prioridades para dar certo.
Mesmo obedecendo a cuidadoso planejamento, só daqui a dez anos para São Paulo ficar nos
trinques. Este é o tempo previsto para tampar todos os buracos, garantindo a manutenção do
serviço. Se as ruas, forem revestidas com asfalto mais resistente, tanto melhor. A Escola
Politécnica da USP vem cuidando disso. Desenvolve pesquisas que contemplam, por extensão,
outra área em evidência no momento - a saúde. Técnicos da Poli estão agregando pneus velhos
à massa de asfalto, onde se apresentam recortados em tiras finas, derretidos ou moídos. Caso
as indústrias de pneus ou os responsáveis pelos muitos locais onde são guardados optem por
doá-los para a pesquisa, haverá enorme ganho: o mosquito da dengue (aedes aegyptis) perderá
muitos criadouros, enquanto o pavimento da cidade melhora e se fortalece.
“Temos testado asfaltos de diferentes procedências - alguns ainda não estão no mercado.
Produtos fabricados pela Petrobrás, de onde vem todo o asfalto utilizado, também estão
em teste”, explica a professora Liedi. Alguns tipos em uso irregular não suportam tráfego pesado
de caminhões. São produtos adequados a ruas de pouco movimento. “Em São Paulo acontece
muito isso”, assinala.
O pavimento tem muitas camadas e a superior é asfáltica, que pode ser também de concreto cu
cimento portland. O asfalto está na maior parte das ruas e constitui-se de agregado, pedra
britada, cortada no tamanho adequado, em geral de granito na capital de São Paulo e basalto,
no interior do Estado.
Até a década passada, a cobertura das ruas era apenas de asfalto convencional, proveniente da
destilação do petróleo, o popular “piche”. Agora, ele pode ser misturado a cimento, cal ou ao
“pozinho que vem da britagem para dar liga”. Experiências na Escola Politécnica realizam-se a
partir de asfaltos quimicamente modificados por polímeros - plásticos oriundos de materiais
recicláveis - e borracha de pneu. Tais “modificadores” estão no mercado.
Quando os buracos se abrem em vias públicas a partir da água significa que o asfalto já estava
com problemas: “Não se abrem da noite para o dia, a não ser que estoure uma adutora; mas
isso não é falha do pavimento, mas das interferências”, adianta Liedi. Além disso, a cobertura
asfáltica da cidade está velha e não sofre ação de manutenção, que deve ser constante. Diante
disso, a mobilização do poder público no sentido de empreender operações “tapa buracos” é
comum, mas esconde o principal: “são ações emergenciais que indicam falta de conservação
por longo período”. Ou seja, em qualquer tempo, de nada adianta pavimentar sem cuidar e
manter.
O pavimento “avisa” que algum buraco irá abrir-se. Sinaliza o desenlace, apresentando
“patologias”, como trincamentos, agregados soltos, materiais que perdem a liga. “Isso faz
aparecer o buraco”, resume a professora. A solução para a capital, agora, está em fazer um
levantamento nos cerca de 10 mil quilômetros de vias pavimentadas para planejar como
recuperá-las. “Isso é mais do que a malha rodoviária pavimentada do Estado de Minas Gerais”,
observa Liedi, apontando um modo possível de administrar o problema.
Programa nesse sentido deve eleger prioridades. Por exemplo, começar pelas vias expressas de
grande volume de tráfego, até as avenidas. Num segundo pacote poderiam ser atendidas as vias
secundárias de tráfego médio e num terceiro, as locais. Corredores de ônibus seriam
contemplados separadamente, montando um sistema de gestão de ruas, com manutenção
constante.
Como usuária, a professora afirma que a qualidade das ruas da cidade “deixa muito a desejar”
e, por isso, o cidadão está certo ao reclamar. “A qualidade do asfalto somada à falta de
manutenção responde pela deficiência. E pavimentação ruim leva ao aumento de gastos com o
veículo”.