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LEANDRO DE DEUS FILHO

DIREITO
AMBIENTAL

1
PRINCÍPIOS DO
DIREITO AMBIENTAL

2
1. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A terminologia desenvolvimento sustentável surge em 1972, mais


precisamente em Estocolmo na Conferência Mundial de Meio Ambiente.
Devido a sua ampla importância, tal preceito vem sendo repetido e empregado
nas demais conferências sobre o meio ambiente, bem como no dia-a-dia das
grandes corporações e empreendimento espalhados ao redor do globo.

Busca-se com esse princípio a coexistência harmônica entre economia e


meio ambiental. Permite-se o desenvolvimento, mas de forma sustentável,
planejada, para que os recursos hoje existentes não se esgotem ou tornem-se
inócuos.

Nas palavras do Professor Celso Antonio Pacheco Fiorillo 1:

“o princípio do desenvolvimento sustentável tem por


conteúdo a manutenção das bases vitais da produção e
reprodução do homem e de suas atividades”.

Com o advento da Constituição Federal de 1988 o direito ambiental


ganhou novos contornos, sendo alçado como um direito fundamental de todos
os cidadãos brasileiro. Neste vértice, é oportuno analisar que o princípio do
desenvolvimento sustentável passou a ter caráter eminentemente constitucional,
conforme reza o art. 225 caput de nossa Lex Mater:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

No mesmo sentido já se posicionou o Supremo Tribunal Federal,


vejamos:

“o princípio do desenvolvimento sustentável, além de


impregnado de caráter eminentemente constitucional,
encontra suporte legitimador em compromissos
internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e
representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as
exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no

1
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro – 16. ed. rev., ampl. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2015, p. 75.

3
entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente
situação de conflito entre valores constitucionais
relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância
não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um
dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à
preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso
comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em
favor das presentes e futuras gerações”. (STF-ADI MC
3.540/DF, rel. Min. Celso de Mello, julg. 01/09/2005).

Noutra banda, encontramos na Constituição Federal outro dispositivo


que se agrega ao já citado art. 225, qual seja o art. 170 que estabelece a ordem
econômica nacional fundada na livre iniciativa (sistema de produção
capitalista) e na valorização do trabalho humano (limite ao capitalismo
desregrado), respeitando desta forma o princípio em estudo.

Podemos asseverar que andam lado a lado a livre concorrência e a defesa


do meio ambiente.

Neste prisma sustenta Celso Antonio Pacheco Fiorillo 2:

“Não há dúvida de que o desenvolvimento econômico


também é um valor precioso da sociedade. Todavia, a
preservação ambiental e o desenvolvimento econômico
devem coexistir, de modo que aquela não acarrete a
anulação deste”.

Vejamos o art. 170 de nossa Magna Carta:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

VI - defesa do meio ambiente.

Por fim, a famigerada Lei 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente –


PNMA estabelece como um de seus princípios “à compatibilização do
desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e
do equilíbrio ecológico”.
2
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro – 16. ed. rev., ampl. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2015, p. 82.

4
É sabido que toda atividade empresarial gera uma série de impactos
ambientais, o que se busca com este princípio não é obstar o desenvolvimento
econômico nacional, o que se procura é a minimização destes impactos.

Por isso, em apertada síntese podemos delimitar o princípio do


desenvolvimento sustentável como sendo o desenvolvimento que atenda às
necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras.

1.2 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL

Nas palavras de Édis Milaré3:

“Este princípio busca assegurar a solidariedade da


presente geração em relação às futuras, para que também
estas possam usufruir, de forma sustentável, dos recursos
naturais. E assim, sucessivamente, enquanto a família
humana e o planeta Terra puderem coexistir
pacificamente”.

No âmbito constitucional o princípio da solidariedade intergeracional


encontra guarida no art. 225 caput da Carta de Regência, senão vejamos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações.

Em apertada síntese podemos definir a solidariedade intergeracional


(solidariedade entre as gerações) como sendo a característica transcendimental
do Direito Ambiental, ou seja, é dever da presente geração a preservação do
meio ambiente ecologicamente equilibrado para as futuras gerações (aspecto
futurista).

Neste vértice, temos como consequência deste princípio, alguns


relevantes aspectos, quais sejam:

a) PRESCRIÇÃO DO DANO AMBIENTAL: É cediço o entendimento


de que obrigação de reparação do dano ambiental é de natureza
objetiva, ou seja, prescinde de comprovação de dolo ou culpa, sendo
que se fará necessário apenas a comprovação do nexo causal da

3
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente – 10. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 260.

5
conduta e do efetivo prejuízo causado à natureza para fins
obrigacionais de recuperação da área degradada. Neste diapasão,
muito se discute acerca, da imprescritibilidade da obrigação de
reparar o meio ambiente degradado. Em que pese entendimentos
doutrinários diversos, tanto a jurisprudência, como a doutrina de
forma majoritária, tem se posicionado favoravelmente à
imprescritibilidade da obrigação de reparar os danos ambientais
porventura causados. Senão, vejamos o entendimento externado do
Excelso Superior Tribunal de Justiça:

“O dano ambiental está dentre os poucos


acobertados pelo manto da imprescritibilidade a
ação que visa reparar o dano ambiental”.
(REspn.º 1.120.117, Rel. Min. Eliana Calmon, Dje19
/11/2009)

b) INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO PARA POLUIR OU


DEGRADAR O MEIO AMBIENTE: Não há que se alegar a hipótese
de direito adquirido nas situações em que há degradação ambiental.
Este é o entendimento difundido em nossas cortes superiores, a qual
fazemos menção ao aresto proferido pelo festejado Ministro e
Doutrinador Ambiental Herman Benjamim:

“Inexiste direito adquirido a poluir ou degradar o meio


ambiente. O tempo é incapaz de curar ilegalidades
ambientais de natureza permanente, pois parte dos sujeitos
tutelados –as gerações futuras – carece de voz e de
representantes que falem ou se omitam em seu nome.”
(REsp 948.921/SP ,2ªTurma ,rel. Min. Herman
Benjamin, DJe 11/11/2009)

1.3 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

O princípio da prevenção tem relevância ímpar no Direito Ambiental


Brasileiro, isto se dá, pois, via de regra, os danos ambientais são irreversíveis,
daí a importante de se precaver contra futuros desastres de cunho ambiental.

O sobredito princípio apoia-se na certeza cientifica acerca dos prováveis


danos que determinada atividade pode perpetrar ao meio ambiental, e encontra
respaldo constitucional no famigerado art. 225, caput da CF, in verbis:

6
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações.

Dito isto, podemos relacionar a existência de instrumentos que


externalizam a aplicabilidade do princípio da prevenção no âmbito ambiental, o
qual podemos destacar o licenciamento ambiental4

1.4 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Preliminarmente, destaca-se que a doutrina de forma majoritária entende


que o princípio da precaução definitivamente não se confunde com o princípio
da prevenção. Autores como Celso Antonio Pacheco Fiorillo 5 e Luís Paulo
Sirvinkas referem-se apenas ao princípio da prevenção.

Édis Milaré, embora não discorde dos que adotam a nomenclatura de


princípio da precaução, por razões semânticas e terminológicas, adota o
princípio da prevenção, por ser mais amplo e abarcar o princípio da precaução.

Contrario senso ao princípio da precaução, a prevenção baseia-se na


incerteza cientifica dos possíveis danos que podem ser causados por
determinada atividade ao meio ambiente.

Celso Antonio Pacheco Fiorillo6 aduz que:

“o princípio (precaução) apenas limita-se a afirmar que a


falta de certeza cientifica não deve ser usada como meio de
postergar a adoção de medidas preventivas, quando houver
ameaça séria de danos irreversíveis”.

Neste caminhar, a jurisprudência pátria tem sedimento o entendimento


de que a incerteza cientifica (entenda-se princípio da precaução) não obsta,
tampouco serve de escusa para a adoção de medidas de cunho cautelar a danos
de natureza ambiental:

4
O licenciamento ambiental busca “o controle administrativo preventivo das atividades e
empreendimentos que possam causar danos ao meio ambiente...”. Portanto, é correto afirmar que o
licenciamento ambiental possui um caráter preventivo, no sentido de evitar e mitigar os danos
ambientais.
5
“Reiteramos, portanto que manifestação já realizada que pretender desenvolver no plano
constitucional brasileiro uma diferença entre prevenção e precaução seria, em nossa opinião,
despiciendo”.
6
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro – 16. ed. rev., ampl. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2015, p. 128.

7
“a ausência de certezas científicas não pode ser argumento
utilizado para postergar a adoção de medidas eficazes para
a proteção ambiental. Na dúvida, prevalece a defesa do
meio ambiente.” (REsp 1.285.463-SP, 2ªTurma, Rel. Min.
Humberto Martins, DJe 06/03/2012)

Tal entendimento emana do conceito denominado “in dubio pro


ambiente”, ou seja, em se tratando de matéria de natureza ambiental (bem
jurídico constitucionalmente protegido, difuso e de terceira geração), a
existência de dúvidas milita em favor do meio ambiente, não do degradador.

1.5 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA


PROPRIEDADE

Este princípio nos remete a já difundida ideia de função social da


propriedade, que encontra arrimo no art. 5º, XXIII da Carga Magna:

Art.5º.
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.

No que toca o princípio da função socioambiental da propriedade cabe


destacar o caráter constitucional insculpido em sua dogmática, senão vejamos
os dispositivos regenciais que versam sobre o instituto em estudo:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

III - função social da propriedade;

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada


pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais
fixadas em lei tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.

8
Art. 186. A função social é cumprida quando a
propriedade rural atende simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:

II - utilização adequada dos recursos naturais


disponíveis e preservação do meio ambiente;

Ante a exposição dos dispositivos constitucionais fica evidente a


preocupação do Constituinte com o devido cumprimento da função
social/socioambiental da propriedade. Ademais, no campo infraconstitucional
podemos dar destaque ao art. 1228, § 1º:

Art. 1228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e


dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em


consonância com as suas finalidades econômicas e
sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitada a poluição do ar e das águas.

Nota-se que os dispositivos supracitados apresentaram ao mesmo


tempo um direito e um dever, pois garantiu o Direito de Propriedade e o
condicionou ao cumprimento de sua Função Social.
Paulo Affonso Leme Machado7, se referindo ao condicionamento do
Direito de Propriedade perante as normas ambientais, discorre que:
“a defesa do meio ambiente é uma dessas questões que
obrigatoriamente devem constar da agenda econômica
pública e privada. A defesa do meio ambiente não é uma
questão de gosto, de ideologia e de moda, mas um fator
que a Carta Maior manda levar em conta”.

Em apertada síntese podemos concluir que o princípio da função


socioambiental da propriedade é uma espécie de limitação ao uso e ao gozo da
propriedade (hodiernamente entende-se que o direito à propriedade não é
absoluto).

7
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 23ª ed. Rev., ampl. E atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2015.

9
Mesmo havendo direitos em ambos os lados, isto é, o particular
possuindo o direito de propriedade, enquanto a coletividade, o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, o bem comum há de se sobressair sobre
o interesse particular, haja vista o caráter difuso do direito ambiental.

Logo, podemos notar que a Função Socioambiental da Propriedade


nada mais é que o condicionamento do cumprimento da Função Social da
Propriedade, perante as normas ambientais existentes.

Este entendimento é reafirmado pelos Tribunais. Observe o julgado a


seguir do Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
acerca da Função Socioambiental:

DIREITO ADMINISTRATIVO. ALVARÁ DE


CONSTRUÇÃO. NEGATIVA. ÁREA INCIDENTE
SOBRE VEREDA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. PROTEÇÃO
AMBIENTAL. DIREITO DE PROPRIEDADE.
CONDICIONADO. FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL.
I – Não é cabível a concessão de alvará de construção
quando comprovado que a área incide sobre vereda
propriamente dita, Área de Preservação Permanente -
APP, e que novas interferências ensejam degradação
ambiental. II - O exercício do direito de propriedade
está condicionado à observância de sua função
social e de sua função socioambiental, ou seja, deve
haver utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente.
(art. 186, II, da Constituição Federal). III - Negou-se
provimento ao recurso. (TJ-DF - APC: 20140111946448,
Relator: JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, Data de
Julgamento: 22/07/2015, 6ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE: 04/08/2015. Pág.: 330)

1.6 PRINCIPIO DO POLUIDOR-PAGADOR

O principio do poluidor-pagador em síntese pode ser definido como uma


norma de Direito Ambiental que obriga o poluidor a arcar com os custos de
reparação do meio ambiente em face dos eventuais danos por ele causados.

Tal principio também encontra respaldo constitucional, senão vejamos:

10
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.

(...)

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

Edis Milare8 assenta que:

“os agentes econômicos devem leva-los (danos ambientais)


em conta ao elaborar os custos de produção e,
consequentemente, assumi-los. Busca-se no caso, imputar
ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada,
engendrando um mecanismo de responsabilidade por dano
ecológico, abrangente dos efeitos da poluição não somente
sobre bens e pessoas, mas sobre toda a natureza. Em
termos econômicos, e a internalização dos custos
externos”.

Tal premissa esta intimamente ligada a outro conceito basilar do Direito


Ambiental, qual seja a responsabilidade civil por danos causados ao meio
ambiente. Neste sentido torna-se indispensável a analise do art. 14 da Lei
6.938/81 – PNMA, que institui em nosso ordenamento jurídico a
responsabilidade civil objetiva ambiental, in verbis:

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela


legislação federal, estadual e municipal, o não
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou
correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas


neste artigo, é o poluidor obrigado,

8
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente – 10. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 268.

11
independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público
da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação
de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.

Isto implica o reconhecimento de que o poluidor tem o dever de reparar


os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, independentemente da
existência da culpa. Assim, na responsabilidade civil objetiva basta a
existência do dano e o nexo de causalidade com a fonte poluidora, porque não
há necessidade da demonstração da culpa.

Sergio Ferraz9 consigna que:

“A teoria objetiva na imputação da responsabilidade ao


causador dos danos ao meio ambiente se concretiza por
que: em termos de dano ecológico, não se pode pensar em
outra adoção que não seja a do risco integral. Não se pode
pensar em outra malha que não seja malha realmente bem
apertada que possa, na primeira jogada da rede, colher
todo e qualquer possível responsável pelo prejuízo
ambiental. É importante que, pelo simples fato de ter
havido omissão, já seja possível enredar agente
administrativo e particulares, todos aqueles que de
alguma maneira possam ser imputados ao prejuízo
provocado para a coletividade”.

Herman Benjamim 10 em brilhante analise demonstra a importância da


adoção da teoria objetiva no que versa as obrigações de cunho ambiental:

“Ainda, a adoção da responsabilidade civil ambiental


subjetiva resultaria na impunidade do poluidor.
Primeiro, porque haveria o risco de ser transferido para a
sociedade o ônus de suportar os prejuízos decorrentes do
dano ambiental. Segundo, porque ela não dispõe dos
instrumentos necessários para inibir a ocorrência de uma
lesão ao meio ambiente, seja em razão da dificuldade de
provar o nexo causal, seja pela dificuldade de acesso à
justiça”.

9
FERRAZ, Sérgio. Responsabilidade civil por dano ecológico. Revista de Direito Público, São Paulo,
v.49,n.50
10
BENJAMIN, Antonio Herman. O principio do poluidor-pagador, in Dano Ambiental, prevenção,
Reparação e repressão, São Paulo, revista dos Tribunais, 1998.

12
Mas quem vem a ser o poluidor para fins de obrigação de reparação
ambiental? Ora, a resposta encontra-se embutida na já citada Lei de PNMA,
mais precisamente em seu art. 3º, IV:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

(...)

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito


público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental;

Conclui-se, portanto, que o principio do poluidor-pagador guarda profunda


ligação com a responsabilização ambiental do poluidor, ao passo que seu
postulado e a incumbência que possui o poluidor de arcar com os custos
necessários para a reparação do dano ambiental. Em uma análise mais
abrangente, pode-se afirmar que este, é um dos mecanismos punitivos do
direito ambiental que garante a preservação do meio ambiente.

1.7 PRINCIPIO DO USUARIO-PAGADOR


Trata-se de princípio que impõe às pessoas que usam os recursos
naturais o pagamento por essa utilização, para que possíveis reparos sejam
distribuídos de maneira equitativa, tudo no intento de preservar o meio
ambiente.

Sua função e evitar o desperdício e o consumo desregrado de bens finitos


(agua, petróleo, carvão mineral, etc).

1.8 PRINCIPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR


Pelo principio do protetor-recebedor, aquele que protege o meio ambiente,
recebe um beneficio estatal em função desta conduta.

Um bom exemplo consiste na isenção do ITR nas áreas de preservação


permanente e nas de reservas legal, estas últimas desde que devidamente
averbadas no registro do imóvel rural, nos termos do artigo 167, inciso II,
número 22 da Lei 6.015 ou registradas administrativamente nos termos do
artigo 18 do Código Florestal.
“A isenção do ITR na hipótese apresenta inequívoca e
louvável finalidade de estímulo à proteção do meio

13
ambiente, tanto no sentido de PREMIAR os proprietários
que com Reserva Legal devidamente identificada e
conservada, como de incentivar a regularização por parte
daqueles que estão em situação irregular.” RESP
1027051/SC.
1.9 PRINCIPIO DA PARTICIPAÇAO

O principio da participação tem ligação tênue com o próprio conceito democrático


instituído em nossa Carta de Regência, tal postulado encontra respaldo
constitucional no art. 225, caput da Carta Magna, observemos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Disso, extraímos uma atuação conjunta entre organizações


ambientalistas, sindicatos, indústrias, comercio, agricultura e tantos outros
organismos sociais comprometidos nessa defesa e preservação.

Para dar efetividade ao principio em estudo, elencam-se alguns


instrumentos com a finalidade de concretizar a conjectura máxime a qual se
destina, são eles:

a) ORGAOS COLEGIADOS: temos como o exemplo o CONAMA


(Conselho Nacional e Meio Ambiente);
b) DEBATES, AUDIENCIAS E CONSULTAS PUBLICAS: podemos
elencar a participação da sociedade civil no que tange a aprovação de
licenciamentos ambientais inerentes a atividades potencialmente
poluidoras;
c) ORGANIZAÇOES NÃO GOVERNAMENTAIS: representam aquilo
que se chamam de terceiro setor, ou seja, a sociedade civil se mobiliza
para organizar as chamadas ONGs que irão atuar em favor de
determinada causa/segmento.
d) INICIATIVA POPULAR DE PROJETO DE LEI: aqui, a própria
população pode dar inicio a projetos de Lei.

Merece destaque que este principio reveste-se de tamanha importância


que o mesmo encontra-se formulado na Declaração do Rio Sobre o Meio
Ambiente – ECO 92, mais precisamente em seu principio 10, vejamos:

14
“A melhor maneira de tratar as questões ambientais
é assegurar a participação, no nível apropriado, de
todos os cidadãos interessados. No nível nacional,
cada indivíduo terá acesso adequado às informações
relativas ao meio ambiente de que disponham as
autoridades públicas, inclusive informações acerca de
materiais e atividades perigosas em suas comunidades,
bem como a oportunidade de participar dos processos
decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a
conscientização e a participação popular, colocando as
informações à disposição de todos. Será proporcionado o
acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos,
inclusive no que se refere à compensação e reparação de
danos”.

1.10 INFORMAÇAO AMBIENTAL


O objetivo maior da informação ambiental é permitir que os indivíduos
possam participar ativamente das questões atinentes ao meio ambiente, seja na
esfera individual, causando menor degradação ambiental, seja na esfera
pública, pelos meios legais disponíveis, cobrando medidas das autoridades
administrativas e judiciais. Por essa razão mesmo é que os juristas têm se
debruçado sobre o direito à informação ambiental como pressuposto básico do
direito de participação ambiental.

1.11 EDUCAÇAO AMBIENTAL

A educação ambiental surge como sustentáculo do principio da


participação e deveras, encontra previsão constitucional, observemos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


poder público:

VI - promover a educação ambiental em todos os


níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;

15
Celso Antonio Pacheco Fiorillo11 assevera que “busca-se com este principio
trazer consciência ecológica ao povo, titular do direito ao meio ambiente, permitindo a
efetivação do principio da participação na salvaguarda desse direito”.

1.12 PRINCIPIO DA PROIBIÇAO DO RETROCESSO


O principio da proibição do retrocesso nos remete a ideia de que uma lei
posterior não pode extinguir um direito ou garantia, especialmente de cunho
social, sob pena de promover um retrocesso, abolindo um direito fundado na
Constituição.

Luís Roberto Barroso12 exemplifica o referenciado principio:

“Assim, por exemplo, se o legislador infraconstitucional


deu concretude a uma norma programática ou tornou
viável o exercício de um direito que dependia de sua
intermediação, não poderá simplesmente revogar o ato
legislativo, fazendo a situação voltar ao estado de omissão
legislativa anterior”.

Cabe ressaltar, que o principio da proibição do retrocesso encontra


amparo constitucional, verifiquemos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Podemos asseverar que o postulado da vedação ao retrocesso e a


melhoria ambiental, no sentido de que as normas que tutelam o meio ambiente
devem sempre buscar maior efetividade na salvaguarda de nossa casa comum,
sendo vedado ao legislador retroceder na proteção ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

Com efeito, extraímos o entendimento que exsurge de nossos tribunais


superiores, vedando todo e qualquer retrocesso de cunho legislativo ambiental:

“submete-se ao princípio da não regressão (ou, por outra


terminologia, princípio da proibição de retrocesso),
garantia de que os avanços urbanístico-ambientais

11
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro – 16. ed. rev., ampl. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2015, p. 134.
12
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas: limites e
possibilidades da constituição brasileira. 5.ed. Rio de Janeiro : Renovar, 2001. p.158-159

16
conquistados no passado não serão diluídos, destruídos ou
negados pela geração atual ou pelas seguintes”. (REsp
302.906, 2ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, DJe
1/12/2010)

1.13 A PROIBIÇAO AO NÃO RETROCESSO E O CODIGO


FLORESTAL (LEI. 12.651/12)
Muito se tem discutido acerca da constitucionalidade do Código
Florestal e sua possível afronta ao principio do não retrocesso, o debate
extremamente acirrado chegou ao Supremo Tribunal Federal por via de ADIs –
Ações Diretas de Constitucionalidade que ainda estão em pauta na Suprema
Corte.
De inicio, ressalta-se que com o advento da nova legislação florestal
podemos observar a diminuição de áreas de preservação permanente (APP) de
30 para 15 metros ao longo dos cursos d’água com menos de 5 metros de
largura, além da extinção de certas APP’s, como aquelas encontradas em
morros, serras e montanhas; a extinção da reserva legal para propriedades com
menos de 4 módulos rurais na Amazônia; e ainda a polemica anistia concedida
aos indivíduos que desmataram ilegalmente até o dia 22 de julho de 2008, são
apenas alguns, dos muitos exemplos de possíveis retrocessos ambientais
contidos pelo novo código florestal.

Todavia, e preciso sopesar os direitos elencados por nosso texto


constitucional. Sabendo que nosso país e extremamente dependente da
atividade agrícola13, não e crível, tampouco razoável que não possamos extrair
de nosso farto solo riquezas para nosso povo tão sofrido.

Cabe ao legislador, observando todos os demais princípios ambientais e


direitos fundamentais encontrar um meio termo, que alinhe a proteção
ambiental e o desenvolvimento econômico.

13
A agricultura e o agronegócio no Brasil contribuíram com 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/participacao-do-agronegocio-no-
pib-e-a-maior-em-13-anos-estima-cna.ghtml

17
18
POLÍTICA
NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE

19
2. POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A Lei 6.938/81, popularmente conhecida como Politica Nacional do Meio


Ambiente marca o surgimento de um novo paradigma acerca da importância
da tutela dos bens naturais. A referenciada lei elenca conceitos basilares que
norteiam toda a dogmática ambiental brasileira, quais sejam: meio ambiente,
poluição, poluidor, dentre outros.

Para garantir a efetividade dos postulados insculpidos no bojo da


PNMA, discriminam-se alguns instrumentos que visam coibir a degradação
ambiental, bem como o uso responsável e sustentável dos recursos naturais, são
eles: licenciamento ambiental, avaliação de impacto ambiental, criação de espaços
territoriais especialmente protegidos, servidão ambiental, poder de policia ambiental,
seguro ambiental14, concessão florestal15, estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental e zoneamento ambiental. Este serão detalhados em momento oportuno.

Cumpre destacar por fim, que a Lei da Politica Nacional do Meio


Ambiente instituiu a já exposada responsabilidade civil objetiva pelos danos
causados ao meio ambiente, com fulcro no art. 14, § 1º.

2.1 INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE NA TUTELA JURÍDICA AMBIENTAL

2.2 ESPAÇOS AMBIENTAIS


Os espaços ambientais, tomados em sentido amplo, são as porções do
território estabelecidos com a finalidade de proteção e preservação, total ou
parcial do meio ambiente16, conforme nos ensina José Afonso da Silva. Dividem-
se em espaços especialmente protegidos e zoneamento ambiental.

2.3 ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS


O art. 225, § 1º, III, da Constituição Federal estabelece que compete ao
Poder Público o dever de definir, em todas as unidades da federação, espaços

14
Espécie específica de um contrato de seguro. Entretanto, ressalta-se que a finalidade do seguro
ambiental é especifica, qual seja a reparação de eventuais danos ambientais causados por determinadas
atividades.
15
Insere-se no contexto da gestão das florestas públicas. Nada mais é do que um mecanismo de gestão
de uma floresta pública em que a administração delega (transfere) essa gestão a um particular.
16
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 5. ed. – São Paulo: Malheiros, 2004, p.158.

20
territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei.
Os espaços territoriais especialmente protegidos subdividem-se em: áreas
de preservação permanente, reserva legal e unidade de conservação.

2.4 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMAMENTE


Segundo o atual Código Florestal, Lei nº12.651/12:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei entende-se por:

(...)

II - Área de Preservação Permanente - APP: área


protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com
a função ambiental de preservar os recursos hídricos,
a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas;

Áreas de preservação permanente (APP), assim como as Unidades de


Conservação, visam atender ao direito fundamental de todo brasileiro a um
"meio ambiente ecologicamente equilibrado", conforme assegurado no art. 225
da Constituição. No entanto, seus enfoques são diversos: enquanto as UCs
estabelecem o uso sustentável ou indireto de áreas preservadas, as APPs são
áreas naturais intocáveis, com rígidos limites de exploração, ou seja, não é
permitida a exploração econômica direta.

Somente órgãos ambientais podem abrir exceção à restrição e autorizar


o uso e até o desmatamento de área de preservação permanente rural ou
urbana, mas, para fazê-lo, devem comprovar as hipóteses de utilidade pública,
interesse social do empreendimento ou baixo impacto ambiental conforme
delimita o art. 8º da Lei 12.651/12).

As APPs se destinam a proteger solos e, principalmente, as matas


ciliares. Este tipo de vegetação cumpre a função de proteger os rios e
reservatórios de assoreamentos, evitar transformações negativas nos leitos,
garantir o abastecimento dos lençóis freáticos e a preservação da vida aquática.

O Código Florestal estabelece em seu art. 4º as áreas consideradas de


preservação permanente, vejamos:

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente,


em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

21
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural
perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda
da calha do leito regular, em largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de


10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que


tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de


50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que


tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de
largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que


tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em


faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo


d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa
marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água


artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de
cursos d’água naturais, na faixa definida na licença
ambiental do empreendimento;

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água


perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no
raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a


45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior
declive;

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou


estabilizadoras de mangues;

22
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de


ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem)
metros em projeções horizontais;

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com


altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média
maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de
nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima
da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida
pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do
ponto de sela mais próximo da elevação;

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos)


metros, qualquer que seja a vegetação;

XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal,


com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do
espaço permanentemente brejoso e encharcado.

Como visto acima, os limites das APPs às margens dos cursos d'água
variam entre 30 metros e 500 metros, dependendo da largura de cada um.

Entre as mudanças introduzidas pelo Código atual esta é das mais


controversas: embora mantenha as mesmas distâncias do Código revogado, ele
inicia a medida a partir da calha regular (isto é, o canal por onde correm
regularmente as águas do curso d'água durante o ano) dos rios e não mais a
partir do leito maior (a largura do rio ao considerar o seu nível mais alto, isto é,
o nível alcançado por ocasião da cheia sazonal).

Isto significou uma efetiva redução dos limites das APPs às margens
de cursos d'água, uma vez que a nova medida ignora as épocas de cheias dos
rios. Dado que o regime fluvial varia ao longo do ano, a calha será menor nos
meses secos que nos meses chuvosos.

Além das áreas descritas acima, ainda podem ser consideradas nesta
categoria, quando assim declaradas de interesse social por ato do Chefe do
Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação
destinadas à contenção da erosão do solo e mitigação dos riscos de enchentes e
deslizamentos de terra e de rocha; à proteção as restingas ou veredas; à
proteção de várzeas; ao abrigo de exemplares da fauna ou da flora ameaçados
de extinção; proteção de sítios de excepcional beleza ou de valor científico,

23
cultural ou histórico; formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
assegurar condições de bem-estar público; auxiliar a defesa do território
nacional, a critério das autoridades militares; proteger áreas úmidas,
especialmente as de importância internacional conforme reza o art. 6º da nova
legislação florestal.

Neste sentido podemos dividir as áreas de preservação permanente em


duas categorias, quais sejam:

a) Apps por força de lei “ex lege”

b) Apps declaradas por ato de poder público, desde que observados os


requisitos insertos no art. 6º do Código Florestal.

2.4.1 OBRIGAÇÃO PROPTER REM AMBIENTAL

O Código Florestal estabelece em ser art. 2º, § 2o a chamada obrigação


propter rem, no tocante a responsabilidade de regeneração do dano ambiental
causado:

Art. 2o As florestas existentes no território nacional e as


demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de
utilidade às terras que revestem, são bens de interesse
comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os
direitos de propriedade com as limitações que a legislação
em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

§ 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e


são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no
caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.

No caso do Direito Ambiental, ela determina que o novo proprietário de


um imóvel que esteja em desacordo com as determinações legais acerca da
preservação de uma reserva legal deve restaurar a área degradada
independente de ele ser ou não responsável pelo dano causado.

Neste vértice, é necessário não perder de vista o entendimento pacificado


em nossos tribunais, o qual mencionamos o Eg. Superior Tribunal de Justiça:

AMBIENTAL. DANO AO MEIO AMBIENTE.


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
RESERVA LEGAL. RESPONSABILIDADE

24
OBJETIVA PELO DANO
AMBIENTAL. OBRIGAÇÃO PROPTER REM.
SÚMULA 83/STJ. FUNDAMENTO AUTÔNOMO
NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 283/SF. 1. A Caixa
Econômica Federal sustenta que “as construções
questionadas pelo Ministério Público como causadoras de
danos ambientais não foram realizadas pela Caixa
Econômica Federal, mas sim por terceiros que ocuparam
a área muito antes da área ser transformada em uma
APA- Área de Proteção Ambiental". O STJ possui
entendimento pacífico de que a responsabilidade
civil pela reparação dos danos ambientais adere à
propriedade, como obrigação propter rem, sendo
possível cobrar também do atual
proprietário condutas derivadas de danos
provocados pelos proprietários antigos. (STJ - REsp
1622512/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 22/09/2016,
DJe11/10/2016)

O instrumento em estudo trata-se, pois, de uma limitação que se impõe à


propriedade para garantir que ela exerça sua função social, garantindo que o
meio ambiente e o bem estar da coletividade sejam preservados, nada obsta,
entretanto, que o proprietário atual ingresse com uma ação de regresso em
desfavor do “real” degradador.
2.5 RESERVA LEGAL
O atual Código Florestal define a Reserva Legal como:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei entende-se por:


(...)
III - Reserva Legal: área localizada no interior de
uma propriedade ou posse rural, delimitada nos
termos do art. 12, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos
naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a
reabilitação dos processos ecológicos e promover a
conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e
a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

A reserva legal é a área do imóvel rural que, coberta por vegetação


natural, pode ser explorada com o manejo florestal sustentável, nos limites
estabelecidos em lei para o bioma em que está a propriedade. Por abrigar

25
parcela representativa do ambiente natural da região onde está inserida e, que
por isso, se torna necessária à manutenção da biodiversidade local.

A Reserva Legal, que junto com as Áreas de Preservação


Permanente tem o objetivo de garantir a preservação da biodiversidade local,
é um avanço legal na tentativa de conter o desmatamento e a pressão da
agropecuária sobre as áreas de florestas e vegetação nativa. Ambientalistas
defendem a sua preservação, o setor produtivo argumenta se tratar de
intromissão indevida do Estado sobre a propriedade privada, o que diminuiria
a competitividade da agricultura e a capacidade de produção do país.

O percentual da propriedade que deve ser registrado como Reserva


Legal vai variar de acordo com o bioma e a região em questão, sendo: 80% em
propriedades rurais localizadas em área de floresta na Amazônia Legal; 35% em
propriedades situadas em áreas de Cerrado na Amazônia Legal, sendo no
mínimo 20% na propriedade e 15% na forma de compensação ambiental em
outra área, porém na mesma microbacia; 20% na propriedade situada em área
de floresta, outras formas de vegetação nativa nas demais regiões do país; e 20%
na propriedade em área de campos gerais em qualquer região do país conforme
reza o art. 1217 da legislação florestal e se observa abaixo:

Cabe a todo proprietário rural o registro no órgão ambiental competente


(estadual ou municipal) por meio de inscrição no Cadastro Ambiental Rural -

17
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva
Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os
seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68
desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

26
CAR. As especificidades para o registro da reserva legal vão depender da
legislação de cada Estado. Uma vez realizado o registro fica proibida a alteração
de sua destinação, nos casos de transmissão ou de desmembramento, com
exceção das hipóteses previstas na Lei (art. 18). Em geral, nas áreas de reserva
legal é proibida a extração de recursos naturais, o corte raso, a alteração do uso
do solo e a exploração comercial exceto nos casos autorizados pelo órgão
ambiental via Plano de Manejo ou, em casos de sistemas agroflorestais e
ecoturismo.

2.6 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


Unidade de Conservação (UC) é a denominação dada pelo Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) (Lei nº 9.985, de 18
de julho de 2000) às áreas naturais passíveis de proteção por suas características
especiais. São "espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as
águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias
adequadas de proteção da lei" (art. 1º, I).

As UCs têm a função de salvaguardar a representatividade de porções


significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e
ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o
patrimônio biológico existente. Além disso, garantem às populações
tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais de forma racional e ainda
propiciam às comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades
econômicas sustentáveis.

Uma marcha de bilhões de anos de evolução culminou num planeta


capaz de sustentar vida em vários sistemas ecológicos. Estes ecossistemas,
foram (e são) a base para o desenvolvimento e continuada evolução das mais
variadas espécies existentes, sejam bacterianas, vegetais ou animais. A
existência do meio ambiente, portanto, é condição indissociável à vida. E, como
a própria vida, um direito fundamental a todo o ser humano.

No Brasil, este direito fundamental é garantido aos cidadãos


pela Constituição Federal de 1988 no art. 225, in verbis:

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

27
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações."

Mas apenas reconhecer o direito não é suficiente. É preciso que haja


instrumento para que se possa concretizá-lo. Assim a Constituição impõe ao
Poder Público o dever de "definir, em todas as unidades da Federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção". Este comando foi atendido, enfim, com a promulgação da Lei nº
9.985, de 18 de julho de 2000 e do Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002 que,
respectivamente, cria e regula o SNUC.

Sendo a proteção do meio ambiente uma competência que concorre a


todas as esferas do Poder Público, à iniciativa privada e toda sociedade civil,
coube ao SNUC disponibilizar a estes entes os mecanismos legais para a criação
e a gestão de UCs (no caso dos entes federados e da iniciativa privada) e para
participação na administração e regulação do sistema (no caso da sociedade
civil), possibilitando assim o desenvolvimento de estratégias conjuntas para as
áreas naturais a serem preservadas e a potencialização da relação entre o
Estado, os cidadãos e o meio ambiente.

As unidades de conservação da esfera federal do governo são


administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). Nas esferas estadual e municipal, por meio dos Sistemas Estaduais e
Municipais de Unidades de Conservação.

O SNUC agrupa as unidades de conservação em dois grupos, de acordo


com seus objetivos de manejo e tipos de uso: Proteção Integral e Uso
Sustentável. As Unidades de Proteção Integral têm como principal objetivo
preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos
naturais, ou seja, aquele que não envolve consumo, coleta ou dano aos recursos
naturais: recreação em contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa
científica, educação e interpretação ambiental, entre outras. As Unidades de
Uso Sustentável, por sua vez, têm como objetivo compatibilizar a conservação
da natureza com o uso sustentável dos recursos, conciliando a presença
humana nas áreas protegidas. Nesse grupo, atividades que envolvem coleta e

28
uso dos recursos naturais são permitidas, desde que praticadas de uma forma a
manter constantes os recursos ambientais renováveis e processos ecológicos.

O SNUC também prevê 12 (doze) categorias complementares de, que podem


ser entendidos pela tabela a seguir:

Grupo Categoria SNUC Origem Descrição


Proteção Estação Ecológica SEMA De posse e domínio público,
integral (1981) servem à preservação da
natureza e à realização de
pesquisas científicas. A visitação
pública é proibida, exceto com
objetivo educacional. Pesquisas
científicas dependem de
autorização prévia do órgão
responsável.
Reserva Biológica Lei de Visam à preservação integral da
Proteção à biota e demais atributos naturais
Fauna existentes em seus limites, sem
(1967) interferência humana direta ou
modificações ambientais,
excetuando-se as medidas de
recuperação de seus
ecossistemas alterados e as
ações de manejo necessárias
para recuperar e preservar o
equilíbrio natural, a diversidade
biológica e os processos
ecológicos.
Parque Nacional Código Tem como objetivo básico a
Florestal preservação de ecossistemas
de 1934 naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica,
possibilitando a realização de
pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades
de educação e interpretação
ambiental, de recreação em

29
contato com a natureza e de
turismo ecológico.
Monumento SNUC Objetivam a preservação de
Natural (2000) sítios naturais raros, singulares
ou de grande beleza cênica.
Refúgio de vida SNUC Sua finalidade é a proteção de
silvestre (2000) ambientes naturais que
asseguram condições para a
existência ou reprodução de
espécies ou comunidades da
flora local e da fauna residente
ou migratória.
Uso Área de Relevante SEMA Geralmente de pequena
sustentável Interesse (1984) extensão, são áreas com pouca
Ecológico ou nenhuma ocupação humana,
exibindo características naturais
extraordinárias ou que abrigam
exemplares raros da biota
regional, tendo como objetivo
manter os ecossistemas naturais
de importância regional ou local
e regular o uso admissível
dessas áreas, de modo a
compatibilizá-lo com os
objetivos de conservação da
natureza.
Reserva Particular MMA De posse privada, gravada com
do Patrimônio (1996) perpetuidade, objetivando
Natural conservar a diversidade
biológica.
Área de Proteção SEMA São áreas geralmente extensas,
Ambiental (1981) com certo grau de ocupação
humana, dotadas de atributos
abióticos, bióticos, estéticos ou
culturais especialmente
importantes para a qualidade de
vida e o bem-estar das

30
populações humanas, e tem
como objetivos básicos proteger
a diversidade biológica,
disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos
recursos naturais.
Floresta Nacional Código É uma área com cobertura
Florestal florestal de espécies
de 1934 predominantemente nativas e
tem como objetivo básico o uso
múltiplo sustentável dos
recursos florestais e a pesquisa
científica, com ênfase em
métodos para exploração
sustentável de florestas nativas.
Reserva de SNUC São áreas naturais que abrigam
Desenvolvimento (2000) populações tradicionais, cuja
Sustentável existência baseia-se em sistemas
sustentáveis de exploração dos
recursos naturais, desenvolvidos
ao longo de gerações, adaptados
às condições ecológicas locais,
que desempenham um papel
fundamental na proteção da
natureza e na manutenção da
diversidade biológica.
Reserva de Fauna Lei de É uma área natural com
Proteção à populações animais de espécies
Fauna nativas, terrestres ou aquáticas,
(1967) - residentes ou migratórias,
sob o adequadas para estudos técnico-
nome de científicos sobre o manejo
Parques econômico sustentável de
de Caça recursos faunísticos.
Reserva SNUC Utilizadas por populações
Extrativista (2000) locais, cuja subsistência baseia-

31
se no extrativismo e,
complementarmente, na
agricultura de subsistência e na
criação de animais de pequeno
porte, áreas dessa categoria tem
como objetivos básicos proteger
os meios de vida e a cultura
dessas populações, e assegurar o
uso sustentável dos recursos
naturais da unidade.
Segundo a legislação vigente, as UCs são criadas por meio de ato do
Poder Público (Poder Executivo e Poder Legislativo) após a realização de
estudos técnicos da importância ecológica dos espaços propostos e, quando
necessário, consulta à população.

Estas áreas estão sujeitas a normas e regras especiais e só podem ser


alteradas e/ou reduzidas mediante lei específica. Entretanto, em 2012,
uma Medida Provisória que previa a redefinição de limites de sete UCs na
Amazônia foi sancionada pela presidente e transformada em Lei Federal. Isso
abre um precedente perigoso para a conservação no país, pois o instrumento
elencado pelo legislador originário foi a lei ordinária que, por possuir,
tramitação legislativa mais longa, atende à exigência original de manifestações
populares e consultas públicas.

2.7 SERVIDÃO AMBIENTAL

Trata-se de inovação advinda com a Lei 11.284/06 que acrescentou o


artigo 9º-A à Lei 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente,
vejamos:

Art. 9º-A. Mediante anuência do órgão ambiental


competente, o proprietário rural pode instituir servidão
ambiental, pela qual voluntariamente renuncia, em
caráter permanente ou temporário, total ou parcialmente,
a direito de uso, exploração ou supressão de recursos
naturais existentes na propriedade.
§1º A servidão ambiental não se aplica às áreas de
preservação permanente e de reserva legal.

32
§2º A limitação ao uso ou exploração da vegetação da
área sob servidão instituída em relação aos recursos
florestais deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para
a reserva legal.

§3º A servidão ambiental deve ser averbada no registro


de imóveis competente.

4º Na hipótese de compensação de reserva legal, a


servidão deve ser averbada na matrícula de todos os
imóveis envolvidos.

5º É vedada, durante o prazo de vigência da servidão


ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos de
transmissão do imóvel a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites da
propriedade.

A servidão ambiental é dos instrumentos da política nacional do meio


ambiente e consiste na renúncia voluntária do proprietário rural ao direito
de uso, exploração ou supressão dos recursos naturais existentes em sua
propriedade.

A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação


Permanente e à Reserva Legal mínima exigida. Quanto à restrição ao uso ou à
exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo, a
mesma estabelecida para a Reserva Legal, devendo ser objeto
de averbação na matrícula do imóvel no registro de imóveis competente o
instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental e o contrato de
alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental, conforme estabelece o
art. 9-A, §§ 2o, 3o e 4o da Lei 6.938/81.

Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental


deve ser averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos, sendo vedada,
durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da
área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel (art. 9-A, §§ 5 e 6o- o

Lei 6.938/81).

33
As áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão florestal, nos
termos do art. 44-A da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, passam a ser
consideradas, pelo efeito da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional
de Meio Ambiente, como de servidão ambiental. (art. 9-A, § 7o - Lei 6.938/81).

A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita,


temporária ou perpétua.

2.8 ZONEAMENTO AMBIENTAL


O Zoneamento Ambiental ou Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) é um
instrumento de planejamento do uso do solo e de gestão ambiental que consiste
na delimitação de zonas ambientais e na atribuição de usos e atividades
compatíveis segundo as características de cada uma delas, visando ao uso
sustentável dos recursos naturais e ao equilíbrio dos ecossistemas existentes.

Celso Antonio Pacheco Fiorillo18 assevera que:

“o zoneamento ambiental é uma medida não jurisdicional,


oriunda do poder de policia ambiental, com dois
fundamentos: a repartição do solo urbano municipal e a
designação de seu uso”.
O zoneamento ambiental constitui um dos instrumentos da Política
Nacional do Meio Ambiente, isto porque, as más distribuições do parcelamento
e da ocupação do solo urbano colocam-se como fatores de depreciação da
qualidade de vida.

Seu fundamento constitucional encontra-se previsto nos arts. 21, XX, que
preceitua caber à União instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano,
inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; 30, VIII, que fixa
a competência dos Municípios para promover, no que couber adequado
ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano; e 182 que cuida da politica urbana.
O fundamento legal do zoneamento ambiental é encontrado na PNMA em seu
art. 9º.

18
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro – 16. ed. rev., ampl. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2015, p. 128.

34
LICENCIAMENTO
AMBIENTAL

35
3. LICENCIAMENTO AMBIENTAL
O licenciamento ambiental é uma exigência legal a que estão sujeitos
todos os empreendimentos ou atividades que empregam recursos naturais ou
que possam causar algum tipo de poluição ou degradação ao meio ambiente. É
um procedimento administrativo pelo qual é autorizada a localização,
instalação, ampliação e operação destes empreendimentos e/ou atividades.

A responsabilidade pela concessão fica a cargo dos órgãos ambientais


estaduais e, a depender do caso, também do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), quando se tratar de
grandes projetos, com o potencial de afetar mais de um estado, como é o caso
dos empreendimentos de geração de energia, e nas atividades do setor de
petróleo e gás na plataforma continental.

As bases legais do licenciamento ambiental estão traçadas,


principalmente, na Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente e traz um conjunto de normas para a preservação ambiental; nas
Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 001/86 e 237/97,
que estabelecem procedimentos para o licenciamento ambiental; e na Lei
Complementar 140/11, que fixa normas de cooperação entre as três esferas da
administração (federal, estadual e municipal) na defesa do meio ambiente.

Pertinente trazer à baila a definição de licenciamento ambiental conforme


a Lei Complementar 140/2011: “é o procedimento administrativo destinado a
licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais,
efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma de causar
degradação ambiental”.

O licenciamento ambiental é a externalização do princípio da prevenção,


conforme se depreende ante a leitura do art. 9º, IV da Lei 6.938/8119.

3.1 ETAPAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL


O processo de licenciamento ambiental possui três etapas:

a) LICENÇA PRÉVIA (LP) - Licença que deve ser solicitada na fase de


planejamento da implantação, alteração ou ampliação do
empreendimento. Esta licença apenas aprova a viabilidade ambiental e
estabelece as exigências técnicas (as "condicionantes") para o
desenvolvimento do projeto, mas não autoriza sua instalação.

19
O licenciamento ambiental é um instrumento de caráter preventivo de tutela do meio ambiente.

36
Nesta fase, caberá ao empreendedor atender ao art. 225, §1º, IV da
Constituição Federal e da Resolução 001/86 do Conama, elaborando os estudos
ambientais que serão entregues ao Órgão Ambiental para análise e deferimento.
No caso de uma obra de significativo impacto ambiental, na fase da licença
prévia o responsável deve providenciar o Estudo e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/RIMA).

O documento técnico-científico traz um diagnóstico ambiental, analisa


impactos e suas medidas compensatórias. Tais estudos endereçados,
respectivamente, para a Administração Pública e para a sociedade, abordam
necessariamente as condições da biota, dos recursos ambientais, as questões
paisagísticas, as questões sanitárias e o desenvolvimento socioeconômico da
região; e visam dar publicidade e transparência ao projeto.

b) Licença Instalação (LI) - Esta aprova os projetos. É a licença que autoriza


o início da obra de implantação do projeto. É concedida depois de
atendidas as condições da Licença Prévia.

c) Licença de Operação (LO) - Licença que autoriza o início do


funcionamento do empreendimento/obra, das atividades produtivas. É
concedida depois que é concedida após vistoria para verificar se todas as
exigências foram atendidas.

3.2 EIA – RIMA – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E


RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL

37
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi desenvolvido objetivando
acompanhar o impacto da atividade sobre os diversos meios ambientais. O
resultado é um conjunto de estudos realizados por especialistas de diversas
áreas, biólogos, engenheiros, geólogos, com dados técnicos detalhados. O
acesso ao documento final é restrito, e deve ser entregue ao órgão estadual
competente.

Já o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) é o resumo, feito com uma


linguagem simples e objetiva, dos dados apresentados no EIA. Esse documento
é de acesso público e por isso deve ser elaborado de modo que qualquer pessoa
possa entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

De acordo com o art. 2º da Resolução 86 do CONAMA, as atividades que


necessitam da elaboração do EIA/RIMA são:

I. Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;


II. Ferrovias;
III. Portos e terminais de minério, de petróleo e de produtos químicos;
IV. Aeroportos;
V. Oleodutos;
VI. Gasodutos;
VII. Minerodutos;
VIII. Troncos coletores e emissários de esgoto sanitário;
IX. Linhas de transmissão de energia elétrica com tensão acima de 230 KV;
X. Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como barragem para
fins hidrelétricos, acima de 10 MW, barragens de saneamento ou de irrigação,
abertura de canais para navegação, para drenagem ou para irrigação, retificação
de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,
diques;
XI. Extração de combustível fóssil;
XII. Extração de minério;
XIII. Aterro sanitário;
XIV. Processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;
XV. Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária,
acima de 10 MW;
XVI. Complexos e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha);
XVII. Distritos industriais e zonas estritamente industriais;

38
XVIII. Exploração econômica de madeira ou de lenha em áreas acima de 100 hectares ou
menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de
importância do ponto de vista ambiental;
XIX. Projetos urbanísticos, acima de 100 hectares ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério do órgão licenciador;
XX. Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares,
em quantidade superior a 10 toneladas por dia;
XXI. Projetos agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 hectares ou
menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas
de proteção ambiental;
XXII. Qualquer atividade que seja potencialmente lesiva ao patrimônio espeleológico
nacional;
XXIII. Outras atividades ou empreendimentos, a critério do órgão licenciador.

3.3 PRAZO PARA RENOVAÇÃO DA LICENÇA AMBIENTAL


Em nossa legislação existe previsão de prorrogação da validade da
licença ambiental até que haja manifestação definitiva do órgão ambiental
competente, desde que o pedido de renovação seja efetuado com antecedência
mínima de 120 dias da expiração de seu prazo de validade. Dispõe a LC 140/11,
artigo 14, parágrafo 4º:

Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos


estabelecidos para tramitação dos processos de
licenciamento.

(...)

§ 4º A renovação de licenças ambientais deve ser


requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte)
dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na
respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão
ambiental competente.

Requerida a renovação da licença, com mais de 120 dias de antecedência,


ela permanecerá válida, incluindo as suas condicionantes que possam ser de
cumprimento continuado, até que o órgão licenciador se manifeste
definitivamente sobre o pedido.

3.4 O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM MINAS GERAIS

39
No âmbito do Estado de Minas Gerais, a Deliberação Normativa COPAM
217 estabelece critérios para classificação, segundo o porte e potencial
poluidor, bem como os critérios locacionais a serem utilizados para definição
das modalidades de licenciamento ambiental de empreendimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais no Estado.

Com a revisão, a DN cria novas modalidades de licenciamento


ambiental, como o Licenciamento Ambiental Trifásico (LAT), o
Licenciamento Ambiental Concomitante (LAC) e Licenciamento Ambiental
Simplificado (LAS).

a) O LAT (Licenciamento Ambiental Trifásico): é o licenciamento no


qual a Licença Prévia (LP), a Licença de Instalação (LI) e a Licença de
Operação (LO) da atividade ou do empreendimento são concedidos em
etapas sucessivas.
b) Já o LAC (Licenciamento Ambiental Concomitante): é o licenciamento
no qual serão analisadas as mesmas etapas previstas no LAT, com a
expedição concomitantemente de duas ou mais licenças.
c) E o LAS (Licenciamento Ambiental Simplificado): é realizado em
uma única etapa, mediante o cadastro de informações relativas à
atividade ou ao empreendimento junto ao órgão ambiental
competente, ou pela apresentação do Relatório Ambiental Simplificado
(RAS), contendo a descrição da atividade ou do empreendimento e as
respectivas medidas de controle.

Outra alteração importante é a extinção da Autorização Ambiental de


Funcionamento (AAF), ato autorizativo que já foi alvo de diversas discussões
judiciais acerca de sua verdadeira eficácia. Ele deixa de existir em âmbito
Estadual a partir da edição da nova DN.

3.4.1 FLUXOGRAFA DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO


AMBIENTAL EM MINAS GERAIS:

40
3.4.2 DOCUMENTAÇÃO RELACIONADA AO
LICENCIAMENTO AMBIENTAL

a) FCEI: O Formulário de Caracterização do Empreendimento, reúne as


informações básicas necessárias à descrição do empreendimento que será objeto
da regularização ambiental, bem como a documentação obrigatória que deve
ser anexada ao requerimento online. Ao preenchê-lo, você estará apto a
formalizar o seu pedido de licenciamento ambiental junto à Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais
(SEMAD).

b) FOBI: Formulário de Orientação Básica Integrado, neste documento fica


contido a etapa do licenciamento e detalha os tipos de estudos e documentos
necessários a sua formalização.

c) RAS – Relatório Ambiental Simplificado ou EAS – Estudo Ambiental


Simplificado, assim como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), tem como
objetivo oferecer elementos para a análise da viabilidade ambiental de
empreendimentos ou atividades consideradas potencial ou efetivamente
causadoras de degradação do meio ambiente.

41
Frente à necessidade de estabelecer procedimentos simplificados para o
licenciamento ambiental dos empreendimentos com impacto ambiental de
pequeno porte, o CONAMA por meio da Resolução 279/01 estabeleceu o RAS –
Relatório Ambiental Simplificado.

Em que casos o RAS – Relatório Ambiental Simplificado é solicitado?

O RAS – Relatório Ambiental Simplificado deve propiciar a avaliação


dos impactos ambientais causados nas fases de implantação e operação do
empreendimento. São estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à
localização, instalação e operação de novos empreendimentos habitacionais,
incluindo as atividades de infraestrutura de saneamento básico, viária e
energia, apresentados como subsídio para a concessão da licença requerida, que
conterá, dentre outras, as informações relativas ao diagnóstico ambiental da
região de inserção do empreendimento, sua caracterização, a identificação dos
impactos ambientais e das medidas de controle, de mitigação e de
compensação.

QUAIS INFORMAÇÕES O RAS – RELATÓRIO AMBIENTAL


SIMPLIFICADO DEVE CONTER?

Segundo a Resolução nº 279/01 do CONAMA o conteúdo mínimo do


RAS – Relatório Ambiental Simplificado deve ser o seguinte:

1- DESCRIÇÃO DO PROJETO:

a) Objetivos e justificativas, em relação e compatibilidade com as políticas


setoriais, planos e programas governamentais;
b) Descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
considerando a hipótese de não realização, especificando a área de
influência.

2- DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO AMBIENTAL:

a) Diagnóstico ambiental;
b) Descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação
da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de
tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e
critérios para sua identificação, quantificação e interpretação;
c) Caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
considerando a interação dos diferentes fatores ambientais.

42
3- MEDIDAS DE CONTROLE:

a) Medidas mitigadoras preventivas e corretivas, identificando os impactos


que não possam ser evitados;
b) Recomendação quanto à alternativa mais favorável;
c) Programa de acompanhamento, monitoramento e controle.

A mesma Resolução do CONAMA detalha outros procedimentos do


licenciamento simplificado para os empreendimentos com impacto ambiental
de pequeno porte, e estabelece que:

a) O prazo para emissão da LP e da LI será de, no máximo, 60 (sessenta)


dias, contados a partir da data do protocolo do requerimento das
respectivas licenças, suspensa a contagem do prazo para a realização de
eventuais estudos complementares, em até 60 (sessenta) dias,
prorrogáveis mediante solicitação do empreendedor;
b) O prazo máximo para emissão da LO será de 60 (sessenta) dias, desde
que cumpridas todas as condicionantes da LI, antes da entrada em
operação do empreendimento.

O não cumprimento dos prazos sujeita o órgão responsável pelo


licenciamento à ação de instância superior e o empreendedor ao arquivamento
de seu pedido de licença ou da perda de eficácia da licença emitida.

d) EIA – Estudo Prévio de Impacto Ambiental: é responsável por dizer a


respeito da coleta de material, analise, bibliografia (textos), bem como estudo
das prováveis consequências ambientais que podem ser causados pela obra.
Este estudo tem por finalidade analisar os impactos causados pela obra,
propondo condições para sua implantação e qual o procedimento que deverá
ser adotado para sua construção.

e) RIMA – Relatório de Impacto Ambiental: O relatório de impacto ambiental


RIMA, refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental (EIA). O RIMA
deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As
informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de
modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem
como todas as consequências ambientais de sua implementação.

3.5 OUTROS ESTUDOS AMBIENTAIS RELEVANTES

3.5.1 PRAD – PLANO DE RECUPERACAO DE ÁREAS DEGRADADAS

43
O QUE É O PRAD – PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS?

(IBAMA) Instrução Normativa Nº04, de 13 de abril de 2011 Parágrafo 2º


– informa que O PRAD – Plano de Recuperação de Áreas Degradadas deverá
reunir informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que permitam a
avaliação da degradação ou alteração e a consequente definição de medidas
adequadas à recuperação da área, em conformidade com as especificações dos
Termos de Referência constantes nos Anexos desta Instrução Normativa (texto
na íntegra).

O QUE É ÁREA DEGRADADA?

Área degradada é aquela que sofreu, em algum grau, perturbações em


sua integridade, sejam elas de natureza física, química ou biológica.
Recuperação, por sua vez, é a reversão de uma condição degradada para uma
condição não degradada (Majoer, 1989), independentemente de seu estado
original e de sua destinação futura (Rodrigues & Gandolfi, 2001). A recuperação
de uma dada área degradada deve ter como objetivos recuperar sua integridade
física, química e biológica (estrutura), e, ao mesmo tempo, recuperar sua
capacidade produtiva (função), seja na produção de alimentos e matérias-
primas ou na prestação de serviços ambientais. (Embrapa – Avaliação e
Recuperação de Áreas Degradadas).

Outra definição: “uma área degradada é aquela que após sofrer um forte
impacto perdeu a capacidade de retornar naturalmente ao estado original ou a
um equilíbrio dinâmico, ou seja, perdeu sua resiliência – (IBAMA, 1990)”.

3.5.2 PTRF – PROJETO TÉCNICO DE RECONSTITUIÇÃO DA FLORA

O PTRF – Projeto Técnico de Reconstituição da Flora é apresentado


junto ao Processo Administrativo de Regularização Ambiental, propondo
medidas mitigadoras e compensatórias obrigatórias ao empreendedor que
provocou alguma intervenção ambiental em áreas consideradas de
Preservação Permanente, ou mesmo que tenha “herdado” o passivo
ambiental.

Considera as características bióticas e abióticas para o planejamento da


reconstituição da flora em determinada área de preservação permanente.
Considera-se particularmente o bioma e a fisionomia específica (por exemplo,

44
mata ciliar, entorno de nascentes). Sua necessidade está condicionada em
acordo com os critérios do IEF na ocasião de manejo das APP’s.

A intervenção ambiental é caracterizada pela supressão, uso e ou


ocupação em Área de Preservação Permanente (APP). Segundo a Resolução
conjunta SEMAD/IEF nº 1905, de 12 de agosto de 2013 é considerada
intervenção ambiental:

a) Supressão de cobertura vegetal nativa, com ou sem destoca, para uso


alternativo do solo;
b) Intervenção com ou sem supressão de cobertura vegetal nativa em áreas
de preservação permanente – APP;
c) Destoca em área remanescente de supressão de vegetação nativa;
d) Corte ou aproveitamento de árvores isoladas nativas vivas;
e) Manejo sustentável da vegetação nativa;
f) Regularização de ocupação antrópica consolidada em APP;
g) Supressão de maciço florestal de origem plantada, tendo presença de
sub-bosque nativo com rendimento lenhoso;
h) Supressão de maciço florestal de origem plantada, localizado em área de
reserva legal ou em APP;
i) Supressão de florestas nativas plantadas que não foram cadastradas
junto ao Instituto Estadual de Florestas – IEF;
j) Aproveitamento de material lenhoso.

As medidas mitigatórias e compensatórias são ações correlacionadas com


aspectos de caráter essencialmente ambiental. As medidas mitigatórias serão
adotadas com o objetivo de minimizar os impactos, já as medidas
compensatórias determinam ações através das quais se compensa direta e ou
indiretamente os impactos físicos e bióticos, causados pela intervenção em APP.

Segundo o novo Código florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012) as


Áreas de Preservação Permanente (APP’s) são territórios protegidos com
função ambiental, com o intuito de preservar e proteger o meio ambiente
(recursos hídricos, solo, fauna e flora) assegurando a sobrevivência dos seres
vivos. E de acordo com o disposto na Lei considera-se como APP: as florestas e
demais formas de vegetação natural situada às margens de lagos ou rios
(perenes ou não); nos altos de morros; nas restingas e manguezais; nas encostas
com declividade acentuada e nas bordas de tabuleiros ou chapadas com

45
inclinação maior que 45º; e nas áreas em altitude superior a 1.800 metros, com
qualquer cobertura vegetal.

3.5.3 PCA – PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL

O QUE É O PCA – PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL?

O PCA – Plano de Controle Ambiental é um estudo que tem por


objetivo identificar e propor medidas mitigadoras aos impactos gerados por
empreendimentos de médio porte. Sua elaboração se dá durante a Licença de
Instalação (LI). O Plano deverá expor, de forma clara, o empreendimento e
sua inserção no meio ambiente com todas as suas medidas mitigadoras e
compensatórias.

O PCA – Plano de Controle Ambiental é exigido pela Resolução


CONAMA nº 009/90 para a concessão da Licença de Instalação -LI de atividade
de extração mineral de todas as classes. O PCA é uma exigência adicional ao
EIA/RIMA, apresentado na fase anterior à concessão da Licença Prévia.

No entanto, o Plano de Controle Ambiental tem sido exigido, também,


para o licenciamento de outros tipos de atividades.

O PCA – Plano de Controle Ambiental deverá descrever eventuais


compatibilidades e/ou incompatibilidades avaliadas à luz de todas as normas
legais aplicáveis à tipologia de empreendimento / atividade que está sendo
analisado, não bastando a simples enunciação das leis, decretos, resoluções,
portarias e outras instruções existentes.

Tal compatibilidade / incompatibilidade deverá abranger a legislação


ambiental concernente, em âmbito Municipal, Estadual e Federal, em especial
as Áreas de Interesse Ambiental, mapeando as restrições à ocupação.

O empreendedor deve atender todas as exigências das Resoluções do


CONAMA e das leis ambientais e seus regulamentos e, as demais exigências
contidas neste Termo de Referência para elaboração e apresentação do PCA –
Plano de Controle Ambiental.

46
OUTORGA PARA
CAPTAÇÃO DE
RECURSOS HÍDRICOS

4. OUTORGA DE RECURSOS HÍDRICOS

A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis


instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso

47
III, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento
tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da
água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos, vejamos:

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos


Hídricos:

(...)

III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

A outorga de direito de uso tem como objetivo assegurar o controle


quantitativo e qualitativo desses usos da água, bem como o efetivo exercício dos
direitos de acesso aos recursos hídricos.

Segundo a lei nº 9.433/1997, a Agência Nacional de Águas (ANA) é a


instituição responsável pela análise técnica para a emissão da outorga de direito
de uso da água em corpos hídricos de domínio da União. De acordo com a
Constituição Federal, corpos de água de domínio da União são aqueles lagos,
rios e quaisquer correntes d’água que passam por mais de um estado, ou que
sirvam de limite com outros países ou unidades da Federação.

Em corpos hídricos de domínio dos Estados e do Distrito Federal, a


solicitação de outorga deve ser feita junto ao órgão gestor estadual de
recursos hídricos.

48
INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS
AMBIENTAIS

49
5. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
De acordo com o Art. 70 da Lei 9.605, infração administrativa
ambiental:

“é toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de


uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente. Sendo que esta mesma lei estatui, em seu art.
72, que as infrações administrativas, que sejam levadas
em consideração as circunstâncias de gravidade,
antecedentes e situação econômica”.

Sendo punidas com as seguintes sanções:

I – Advertência
II – Multa simples
III – Multa diária
IV – Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da
fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou
veículos de qualquer natureza utilizados na infração
V – Destruição ou inutilização do produto
VI – Suspensão de venda e fabricação e fabricação do
produto
VII – Embargo de obra de atividade
VIII – Demolição de obra
IX – Suspensão parcial ou total de atividade
X – Restritivas de direitos.

As infrações administrativas ambientais e suas sanções, previstas em


lei, podem ser também especificadas em regulamentos, visto que as legislações
federais, estaduais e municipais podem defini-las, cada uma delas com sua
competência, as infrações às normas de proteção ambiental e as respectivas
sanções, em Minas Gerais, atualmente vige o Decreto Estadual 47.383/2018
que estabelece os parâmetros punitivos de caráter administrativo ambiental.

No capítulo II do Decreto em estudo, que fala das disposições gerais


sobre fiscalização ambiental e autuação, são definidos os órgãos com poder de
polícia administrativa para fins de fiscalização, aplicação de sanções
administrativas, cobrança, arrecadação de tributos e multas, entre outras
receitas.

50
A participação da Polícia Militar do estado de Minas Gerais – PMMG e
do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais – CBMMG podem
ser delegadas pelos órgãos ambientais responsáveis, mediante convênio e
somente com as competências de fiscalização e aplicação de sanções previstas
para cada entidade.

O Decreto prevê a fiscalização de forma orientadora, onde é cabível, a


notificação para regularizar a situação constatada, desde que não seja
comprovado dano ambiental. Tal notificação pode ser emitida quando o
infrator for:

 Entidade sem fins lucrativos;


 Microempresa ou empresa de pequeno porte;
 Microempreendedor individual;
 Agricultor familiar;
 Proprietário ou possuidor de móvel rural de até quatro módulos fiscais;
 Praticante de pesca amadora;
 Pessoa física de baixo poder aquisitivo e baixo grau de instrução.

5.1 A AUTUAÇÃO E APLICAÇÃO DE PENALIDADES


O Decreto define todos os passos de um processo administrativo
ambiental, desde a constatação da infração até o julgamento da penalidade.

O ato da fiscalização deve ser realizado por um agente credenciado ao


qual competirá verificar a ocorrência de infração à legislação ambiental, lavrar a
notificação, o auto de fiscalização ou boletim de ocorrência e o auto de infração,
já aplicando as penalidades cabíveis.

O auto de infração lavrado deverá conter uma série de informações que


identificam o infrator, o local da infração, o empreendimento e atividades
realizadas, o dano ambiental, o dispositivo legal ou regulamentar em que se
fundamenta a autuação, além de outros fatores que devem ser notados se
presentes na infração.

As infrações administrativas previstas neste decreto estão sujeitas às


seguintes penalidades, de acordo com o tipo de infração, empreendimento ou
atividade:

 Advertência;
 Multa simples;

51
 Multa diária;
 Apreensão de equipamentos, produtos ou animais;
 Destruição de produto;
 Suspensão de venda e fabricação;
 Embargo parcial ou total de obras;
 Demolição;
 Suspensão parcial ou total de atividades;
 Restritiva de direitos (fiscais ou administrativos em sua maioria);

5.2 DEFESA, INSTRUÇÃO PROCESSUAL, JULGAMENTO E


RECURSO
O Decreto define o procedimento de defesa após a lavratura do auto de
infração, que deve ser apresentada de forma escrita e dirigida ao órgão ou
entidade responsável pela autuação, no prazo de 20 dias, onde devem ser
anexados todos os documentos convenientes à defesa.

A defesa deve conter informações necessárias para caracterização do


autuado, do empreendimento e atividade e do auto de infração, bem como a
exposição dos fatos, fundamentos e a formulação do pedido de defesa.

São previstos os casos onde a defesa não será reconhecida, que são casos
onde, basicamente, ocorrem erros ao montar a defesa e apresenta-la ao órgão ou
entidade responsável e ao perder o prazo estabelecido de 20 dias.

5.3 DISPOSIÇÕES GERAIS


O Decreto ainda discorre de situações adversas em que podem ocorrer
dúvidas sobre a infração, a penalidade ou a defesa.

São estabelecidos novos valores para a penalidade de multas, que agora


são calculados com base no UFEMG, que para 2018 tem o valor de R$ 3,2514.
No geral os valores para infrações leve, grave e gravíssima aumentaram.

52
5.4 ORGANOGRAMA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
AMBIENTAL

53
TERMO DE
AJUSTAMENTO DE
CONDUTA

54
6. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

O Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) é um instrumento


administrativo que visa realizar um acordo entre aquele que causou o dano
ambiental e o órgão fiscalizador. Como o próprio nome sugere, busca-se
reajustar a conduta, adequá-la aos ditames da lei.

Há divergência na doutrina quanto à natureza jurídica do TAC. Parte


dos doutrinadores entende que o Termo de Ajustamento de Conduta tem
natureza jurídica de acordos bilaterais, outra parte, porém, entende que o TAC
possui natureza jurídica de transação. Os que defendem a posição de acordos
bilaterais afirmam que o Termo de Ajustamento de Conduta não pode ser
visto como transação, por não ser possível fazer qualquer tipo de concessão
sobre o meio ambiente, pois este é um bem indisponível.

6. 1 TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA E A AÇÃO


PENAL POR CRIME AMBIENTAL

Continua polêmica a questão da natureza jurídica do termo de


compromisso ambiental (ou termo de ajustamento de conduta) no âmbito
criminal. Afetaria (ou não) a punibilidade da conduta?

Sobre o assunto poderíamos resenhar as seguintes correntes:

(a) o ato de firmar o compromisso já significaria falta de


justa causa para a persecução penal – ou afetaria o dolo e a
culpa-, cabendo o trancamento de eventual ação penal em
curso;

(b) o compromisso (TAC ou TCA) constituiria causa


supralegal de exclusão da ilicitude;

(c) o compromisso (TAC ou TCA) não teria nenhum


reflexo penal se o compromissário dá continuidade aos atos
criminosos (STJ, HC 61.199-BA, j. 04.10.07, rel. Min.
Jane Silva);

(d) se a reparação do dano acontece antes do recebimento


da denúncia ocorreria uma causa de extinção da
punibilidade (tal como no crime tributário);

55
(e) o compromisso (TAC ou TCA) não tem nenhum
reflexo penal (autonomia das instâncias).

Para nós o TAC ou TCA, enquanto em execução, impede a ação penal


por falta de justa causa; depois de devidamente cumprido torna a pena
desnecessária (princípio da irrelevância da pena). Vejamos:

1. INTRODUÇÃO

A Medida Provisória 2.163-41, de 23.08.2001, inseriu na presente Lei o


art. 79-A, que dispõe sobre o Termo de Compromisso Ambiental (TCA), que
pode ser celebrado entre as pessoas físicas e jurídicas que exerçam
atividades efetiva ou potencialmente poluidoras e os órgãos ambientais
(federais, estaduais, distritais e municipais) integrantes do SISNAMA (Sistema
Nacional do Meio Ambiente).

A finalidade do Termo de Compromisso Ambiental é, conforme


explicitado no § 1.º deste art. 79-A, permitir que as pessoas físicas e jurídicas
que exerçam tais atividades possam promover as necessárias correções de suas
atividades, para o atendimento das exigências impostas.

O TCA pode ser celebrado nos casos de construção, instalação,


ampliação ou funcionamento de atividades e
estabelecimentos efetiva ou potencialmente poluidoras (art. 79-A, caput). É
dizer, pode firmar compromisso quem supostamente provocará degradação
ambiental, bem como quem já causou degradação ao exercer sua atividade
econômica. Assim sendo, este art. 79-A tem relação não somente com o crime
do art. 60 desta Lei – que se referem apenas a estabelecimentos, obras ou
serviços potencialmente poluidores – mas também com os demais delitos de
poluição e assemelhados, previstos na Lei Ambiental.

2. O TAC OU TCA AFETA O DOLO OU A CULPA ASSIM COMO A


JUSTA CAUSA DA AÇÃO PENAL

Na doutrina, Guilherme de Souza Nucci20, em comentários a este art. 79-


A coloca que:

“se houver acordo entre os órgãos de controle ambiental e


pessoas físicas ou jurídicas para a regularização de

20NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo: RT,
2006.

56
atividades relativas à exploração ambiental, pode haver
reflexo na órbita penal, afetando a prova do dolo ou da
culpa, bem como servindo de obstáculo à propositura da
ação penal, por falta de justa causa. Depende, pois, da
análise do caso concreto”.

Roberto Delmanto, Roberto Delmanto Junior e Fábio M. De Almeida


Delmanto21 também entendem que:

“a realização do referido termo de ajustamento de conduta


impede, por falta de justa causa, a ação penal”.

Na jurisprudência, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais já decidiu que o


Termo de Compromisso acarreta a extinção da punibilidade e conseqüente falta
de justa causa para a ação penal: dirigentes da Câmara de Lojistas de Belo
Horizonte foram denunciados pelo art. 63 da Lei 9.605/98 porque colocaram na
sede do prédio duas placas publicitárias, sem a prévia licença dos órgãos
competentes, sendo que o local está no perímetro urbano da Praça da
Liberdade. Os dirigentes firmaram Termo de Compromisso de Ajustamento de
Conduta com o Ministério Público e passaram a cumpri-lo fielmente, mas oito
dias após foram denunciados pelo crime mencionado. O TJ/MG decidiu então
que:

“Nos termos do art. 79-A da citada Lei, o referido ‘termo


de acordo’ tem força de título executivo extrajudicial,
extinguindo-se a punibilidade do agente, impedindo, de
fato, a propositura da ação criminal. Nesse caso, feita a
transação, apenas o descumprimento avençado deve ser
objeto de execução, pois a matéria penal ficou
definitivamente desconstituída, não se mostrando justa a
instauração da ação penal”. Além disso, acrescentou o
relator, “não há justa causa para a instauração da ação
penal, uma vez que o Termo de Compromisso vem sendo
estritamente cumprido, não se mostrando justa a
instauração da ação penal.” (TJ/MG, AC
1.000.04.410063-4/000 (1), rel. Des. Antônio Carlos
Cruvinel, DJ08.10.2004)

Posteriormente o Tribunal Mineiro voltou a decidir no mesmo sentido:

21DELMANTO, Roberto, DELMANTO JÚNIOR, Roberto, DELMANTO, Fábio M. De


Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

57
“Nos crimes ambientais, a assinatura de termo de
compromisso de ajustamento de conduta junto aos órgãos
competentes, antes do oferecimento da denúncia obsta a
propositura da ação penal, tendo em vista a falta de justa
causa para a persecução criminal, ante a desconstituição
da matéria penal. Ordem concedida” (TJ/MG, HC
1.0000.468818-3, rel. Antônio Armando dos
Anjos, DOE 03.04.2008).

Há, entretanto, decisão em contrário no Superior Tribunal de Justiça:

“a assinatura do termo de ajustamento de conduta não


impede a instauração da ação penal, pois esta ocorre em
área de atuação diversa.” (STJ, RHC 21469/SP, rel. Min.
Jane Silva, DJU 05.11.2007, p. 289).

No Supremo Tribunal Federal também há decisão considerando que a


simples assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta não afasta, de plano,
a tipicidade:

“HABEAS CORPUS – CRIME CONTRA O MEIO


AMBIENTE – LEI 9.605/98 – ‘TERMO DE
COMPROMISSO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL’
– Exclusão de justa causa para o prosseguimento da ação
penal não configurada. O trancamento de ação penal
em habeas corpus impetrado com fundamento na ausência
de justa causa é medida excepcional que, em princípio, não
tem cabimento quando a denúncia ofertada narra fatos
que, mesmo em tese, constituem crime. 3. Dessa forma, o
fato de o paciente haver firmado ‘Termo de Compromisso
de Recuperação Ambiental’ e noticiado processo
administrativo em curso consubstanciam circunstâncias
insuficientes para, de plano, excluir a tipicidade da
conduta imputada ao réu” (STF, HC 86.361/SP, rel. Min.
Menezes Direito, DJE 01.02.2008, p. 400).

3. A REPARAÇÃO DO DANO ANTES DO RECEBIMENTO DA


DENÚNCIA É CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE

Gilberto Passos de Freitas22, em sua obra Ilícito Penal Ambiental e


Reparação do Dano destaca que a reparação do dano é fator fundamental e

22PASSOS de FREITAS, Vladimir; PASSOS DE FREITAS, Gilberto. Crimes Contra a


Natureza. 7. ed. São Paulo: RT.

58
imprescindível para o êxito de uma política de proteção ao meio ambiente. E
após ressaltar a importância do direito penal não só na proteção do meio
ambiente, mas também como instrumento de reparação, o autor faz uma
indagação, que segundo ele não pode ficar sem resposta: “a reparação do dano
ambiental, antes do oferecimento da denúncia, afasta a tipicidade? Seria uma
causa excludente de antijuridicidade ou de extinção da punibilidade?”.

Ao responder às suas próprias indagações, Gilberto Passos de Freitas


entende que a reparação do dano, antes do oferecimento da denúncia não afasta
a tipicidade da conduta, a não ser em caso de lesão insignificante e também não
elide a antijuridicidade da conduta. Mas deve ser considerada, de lege ferenda,
causa extintiva de punibilidade. Diz o autor:

“Em alguns casos, uma ação penal ou o cumprimento de


uma pena podem ser inoportunas e inadequadas. Assim, o
Estado prevê causas de extinção da punibilidade e da pena,
que consistem no desaparecimento da pretensão punitiva
do Estado. (...) O elenco previsto no Código Penal e em leis
especiais, não impede que outras causas de extinção da
punibilidade possam ser estabelecidas pelo legislador,
desde que, diante de um fato, não haja mais interesse por
parte do Estado na punição do agente. E aqui, a nosso ver,
está a resposta à indagação feita de início, ou seja, de se
reconhecer a reparação do dano ambiental como causa
extintiva de punibilidade. Consoante prelecionam Antonio
Scarance Fernandes e Henrique Duek Marques: ‘a
jurisprudência, como fonte mediata do direito penal, já
antecipa uma tendência para extensão da reparação do
dano ambiental como causa de extinção da punibilidade,
afastando a pena privativa de liberdade naqueles delitos
que perdem substância com a reparação espontânea do
agente. Assim, com relação ao meio ambiente, a adoção de
idêntica causa seria muito importante, não só pelo que em
si representa, como e, principalmente, para solucionar uma
questão que vem causando grande polêmica, ou seja,
quando o agente cumpre o acordo firmado no compromisso
de ajustamento de conduta firmado para reparar o dano,
reparando-o integralmente e assim mesmo tem de ser
submetido ao processo criminal. De todo o exposto, resulta
a necessidade de uma alteração legislativa que, partindo da
importância da reparação do dano ambiental prevista
na Constituição Federal de 1988 e considerando o

59
princípio da obrigatoriedade da ação penal, proceda à
adequada conjugação das soluções consagradas em nosso
ordenamento jurídico e a consagrar, preveja como causa de
extinção da punibilidade a reparação integral do dano
ambiental antes do recebimento da denúncia, assim como a
suspensão do prazo prescricional para os casos em que a
reparação do dano demande certo tempo”23.

4. O TAC OU TCA É CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA


ILICITUDE

O magistrado José Luiz de Moura Faleiros24 entende que o Termo de


Ajustamento de Conduta constitui causa supralegal de exclusão da ilicitude:

“A celebração de um Compromisso de Ajustamento de


Conduta, tal qual previsto no art. 5.º, § 6.º, da
Lei 7.347/85, ou no art. 79-A da Lei 9.605/98, que preveja
a integral reparação do dano ou a completa regularização
da atividade perante os órgãos licenciadores gera efeitos,
não apenas na seara do Processo Penal, mas também no
campo do Direito material. Isto porque, para a
caracterização de um fato como antijurídico não basta a
sua mera subsunção à norma, através de uma análise fria e
formal da realidade. A antijuridicidade há de restar
concretamente demonstrada, assim como a lesão ou a
ameaça de lesão há de ser socialmente relevante. Vale dizer:
há que se perquirir o porque da conduta irregular e, ainda,
quais as possíveis e prováveis consequências para o
ambiente dessa mesma conduta. Um exemplo: no caso
concreto, que uma atividade, ainda que não-licenciada, não
provoca dano ambiental nem gera risco de lesão ao
ambiente e, ao mesmo tempo, que a atividade já está em
processo de regularização, mediante o cumprimento das
cláusulas do Termo de Ajustamento de Conduta firmado e
que o empreendedor está tomando todas as providências
tendentes a cumprir as exigências do Poder Público, não
haveria, em tese, ilicitude material da conduta. Já nos
casos dos crimes de resultado, como, por exemplo, o de
poluição, a existência de um acordo firmado na área cível

23 O autor menciona vários exemplos de reparação do dano como causas extintivas de


punibilidade, já existentes em nosso ordenamento jurídico, como o pagamento do tributos, nos
delitos de sonegação fiscal, de apropriação indébita tributária, de peculato culposo etc.
24 FALEIROS, José Luiz de Moura. Crimes Ambientais. Disponível em:. Acesso em 02 abr 2008.

60
ou administrativa com os agentes públicos competentes e
que assegure a integral recuperação do ambiente
degradado também pode constituir forte argumento para a
improcedência da ação penal, uma vez que nesta hipótese,
a finalidade última dessa esfera de responsabilização
ambiental já terá sido alcançada. Com efeito, o
reconhecimento de causas supralegais de exclusão da
ilicitude, que se excedem ao rol exemplificativo do
artigo 23 do Código Penal, a exemplo da reparação do
dano, viabilizada através de um acordo entre o agente
responsável e o Ministério Público, é um imperativo dos
tempos modernos (...). Em síntese, a legislação ambiental
tem por vocação a prevenção e a reparação do dano, que
são exatamente o objeto do chamado Termo de
Ajustamento de Conduta. Este instrumento, ao estabelecer
condicionantes técnicas e cronograma para a execução de
determinadas obrigações, definidos mediante as
negociações que se realizam entre o órgão ambiental e o
empreendedor, garante a regularização das atividades e, ao
mesmo tempo, a sua continuidade. E a forma legal de
conciliação entre a preservação ambiental e o
desenvolvimento econômico, que se traduz exatamente no
ideal do desenvolvimento sustentável, que busca crescer
sem destruir. Quando essa situação se apresenta, a
conduta tida abstratamente como delituosa perde, no caso
concreto, seu caráter de antijuridicidade”.

5. O TAC OU TCA NÃO TEM NENHUMA RELEVÂNCIA PENAL

Ao contrário, José Roberto Marques25 sustenta que a reparação do


dano, antes ou durante a ação penal, não acarreta a extinção da punibilidade
nos delitos ambientais. O autor faz várias ponderações: em primeiro, coloca que
o art. 225, § 3.º, da CF prevê que os infratores ambientais sejam
responsabilizados administrativa e penalmente, independentemente da
obrigação de reparar o dano, o que torna certo que a reparação do dano não
elide a responsabilização criminal. Sustenta ainda que o art. 14, II da
Lei 9.605/98 prevê a reparação do dano como atenuante de pena e o

25Crime ambiental: reparação do dano e extinção da punibilidade. Revista de Direito


Ambiental, n. 43, p. 347-351. São Paulo: RT, jul-set 2006.

61
art. 17 prevê a possibilidade de concessão do sursis especial (art. 78, § 2.º,
do CP) apenas se houver a reparação do dano.

Assim, argumenta o autor:

“se ocorresse extinção da punibilidade com a reparação do


dano, o sursis não teria aplicação no caso de crimes
ambientais, pois ele tem-na como pressuposto”. Pondera
ainda o autor que o art. 27 da Lei somente permite a
formulação de proposta de transação penal se houve a
prévia composição do dano ambiental, colocando que “se o
legislador condicionou a proposta de transação à prévia
reparação do dano, foi porque não a considerou como
forma de extinção da punibilidade. Ao contrário, reparado
o dano, jamais haveria proposta de transação”. Por último
o autor argumenta que o art. 9.º da Lei prevê a reparação
do dano como forma de pena, não podendo, pois, ser ao
mesmo tempo causa extintiva de punibilidade. No mesmo
sentido, sustentando a autonomia das instâncias, cf.
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal, Compromisso de
ajustamento de conduta ambiental, RT, 3. Edição, 2010, p.
128.

6. NOSSA POSIÇÃO

Se a pessoa passa a construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer


funcionar um estabelecimento, obra ou serviço potencialmente
poluidor contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes tal
conduta subsume-se perfeitamente ao disposto no art. 60 desta Lei. Mas se
depois firma Termo de Compromisso com o Poder Público justamente para
“promover as necessárias correções” e as promove, cumprindo, integralmente,
o compromisso ajustado (as exigências impostas), não há razão (interesse) para
a responsabilização penal. Falta justa causa para a ação penal (enquanto o TAC
ou TCA está sendo cumprido).

No caso do estabelecimento que já está funcionando e que já causou


degradação ambiental, o cumprimento fiel e integral do Termo de
Compromisso Ambiental deve funcionar como causa de renúncia da pena
(princípio da irrelevância da pena).

A assinatura do compromisso de reparação do dano deve impedir a


propositura de ação penal ou suspender a ação já em curso. E o cumprimento

62
total do compromisso deve ensejar a incidência do princípio da irrelevância da
pena, nos termos do art. 59 do CP (que manda o juiz aplicar a pena somente
quando necessária). Se o meio ambiente foi reparado, não há razão para a
punição criminal.

O TAC ou TCA não pode ter efeito excludente da tipicidade ou da


antijuridicidade (excludente do dolo ou da culpa ou da antijuridicidade). A
reparação do dano não retroage para eliminar o fato já praticado. A reparação
do dano, no entanto, pode afetar a necessidade da pena, que tem que ser
avaliada pelo juiz, no momento da sentença. Sendo desnecessária a pena, o juiz
deixa de aplicá-la (por força do princípio da irrelevância da pena, que tem
fundamento legal no art. 59 do CP).

A reparação do dano ambiental não pode ser causa extintiva da


punibilidade por falta de base legal. Logo, a melhor corrente (s. M. J.) é a que
estamos sustentando: princípio da desnecessidade da pena (ou da irrelevância
da pena), que tem fundamento legal no art. 59 do CP.

63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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65

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