Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
"
os xukuru do ororubá e a
criminalização do direito ao território
Planta
"
os xukuru do
criminalizaç
Plantaram" Xicão:
"
os xukuru do ororubá e a
criminalização do direito ao território
Vânia Fialho
Rita de Cássia Maria Neves
Mariana Carneiro Leão Figueiroa
(Organizadores)
Manaus, 2011
© Vânia Fialho, 2011
S umário
7 PREFÁCIO
Vânia Fialho
Projeto Gráfico e Diagramação
12 DOSSIÊ CHICÃO
Émerson Carlos Pereira da Silva
Ivson J. Ferreira
Sheila Brasileiro
Vânia Fialho
A32 "Plantaram" Xicão: Os Xukuru do Ororubá e a Criminalização
do direito ao território / Vânia Fialho, Rita de Cássia Maria Neves,
48 PARECER ANTRO
Mariana Carneiro Leão Figueiroa (Organizadoras). Manaus: PNCSA-
Faccionalismo Xu
-UEA/UEA Edições, 2011.
Vânia Fialho
195 p. : il. ; 22 cm.
ISBN: 978-85-7883-175-2
93 OS XUKURU E A
1. Conflitos sociais - Direito - Xucuru.. Luiz Couto
CDU 299.6 Luciano Mariz M
Ficha elaborada por Rosenira Izabel de Oliveira, bibliotecária Manoel Morais
Vânia Fialho
PROJETO NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL DA AMAZÔNIA
NCSA/CESTU/UEA – PPGAS/UFAM – FUND. FORD
142 A PRODUÇÃO D
PROJETO NOVAS CARTOGRAFIAS ANTROPOLÓGICAS DA AMAZÔNIA As possibilidades d
PROJETO TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS NO RIO
MADEIRA: ANALISES PARA FINS DE MONITORAMENTO DE Rita de Cássia M
POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS – NCSA/CESTU/UEA – IEB – CNPq
Vânia Fialho
NÚCLEO DE PESQUISAS EM TERRITORIALIZAÇÃO, IDENTIDADE E
MOVIMENTOS SOCIAIS – CNPq/UEA
158 UM OLHAR AN
Núcleo de Diversidade e Identidades Sociais - NDIS/UPE
PROCESSO CRIM
O CACIQUE XIC
Endereços: E-mails: Mariana Carnei
UFAM UEA - Edifício Professor Samuel pncaa.uea@gmail.com
Rua José Paranaguá, 200 Rua Leonardo Malcher, 1728 pncsa.ufam@yahoo.com.br
Centro. Centro www.novacartografiasocial.com
Cep.: 69.005-130 Cep.: 69.010-170 Fone: (92) 3232-8423
Manaus, AM Benchimol. Manaus, AM
S umário
7 PREFÁCIO
Vânia Fialho
12 DOSSIÊ CHICÃO XUKRU
Ivson J. Ferreira
Sheila Brasileiro
Vânia Fialho
ubá e a Criminalização
a de Cássia Maria Neves,
48 PARECER ANTROPOLÓGICO:
doras). Manaus: PNCSA-
Faccionalismo Xukuru
Vânia Fialho
93 OS XUKURU E A VIOLÊNCIA
Luiz Couto
CDU 299.6 Luciano Mariz Maia
bibliotecária Manoel Morais
Vânia Fialho
O livro "Plantaram"
ção do direito ao território fo
trabalhos realizados em d
das também diferentes, m
do povo indígena Xukuru
mais veemência, seus últim
Não é à toa que com
livro também enfatiza o e
de uma seqüência de fatos
Em 20 de maio de
cacique Xicão Xukuru, líd
tino. Polêmico, de fala fo
do agreste de Pernambuc
viviam os índios, principa
garantidos e efetivados. S
terrado e, sim, “plantado”
Contam-nos os teór
resultado do constante ex
o que queremos contar de
crita só por conflitos, a Ser
tais dos últimos doze ano
de outra memória: a inst
Processo que não se limi
partir dele, provocar um
história por esse viés, para
triste e desconcertante.
P REFÁCIO
Vânia Fialho
1. A adoção da forma escrita de “Xicão” com “x” foi uma opção feita pelas organizadoras do li-
vro, acatando a escolha que os Xukuru fizeram pela grafia do nome de seu líder. No entanto, como
este livro é composto por documentos escritos em momentos diferentes e por vários autores, é
possível encontrar também a grafia de Chicão com “ch”.
7
XUKURU DO ORORUBÁ
O que nos possibilitou o exercício dessa rememoração foi a leitura O Projeto Nova Car
de alguns trabalhos produzidos por antropólogos ou em parceria com os cação deste livro, ao se de
mesmos, por demandas específicas em relação a vários episódios em que tivas objetivadas em movi
de vítimas, os índios foram colocados no lugar de réus. jurídicas intrínsecas a pov
Em todos os documentos constantes nesse trabalho está presente, principais dificuldades na
de alguma forma, o processo de criminalização ao qual os Xukuru vêm tre as várias iniciativas do
sendo submetidos. São todos documentos mediados pelo fazer antropoló- balhos que permite eviden
gico; um tipo de intervenção que se diferencia da atuação acadêmica e se dos povos tradicionais, co
propõe a operar com problemas postos pela sociedade. Neles, o discurso nesse contexto. Organizad
antropológico assume um status importante na definição dos problemas, rado o fascículo Xukuru2
dos princípios para se lidar com as populações indígenas e das garantias entre o PNCS e o Núcleo
da Constituição brasileira de 1988. Universidade de Pernamb
perspectivas de transform
São trabalhos já inseridos em um campo de disputas judiciais, por-
tanto, constituem instrumentos importantes numa arena institucionali- O primeiro capítulo
zada de contendas. É nesse contexto que a noção de “criminalização” pas- após o assassinato de Xicã
sa a ser importante. Ela será trabalhada aqui, conforme o entendimento ciavam a tensão entre xuk
do jurista argentino Zaffaroni (2003) de “criminalização secundária”. de forma extremamente
Para este autor, existem dois níveis de criminalização; a criminalização morte de Xicão, a sua viúv
primária, que é “o ato e o efeito de sancionar uma lei penal material que ta. O trabalho tem caráter
incrimina ou permite a punição de certas pessoas” e a criminalização secun- notícias veiculadas antes e
dária que é “a ação punitiva sobre pessoas concretas”. Dentre os meca- interinstitucional; os auto
nismos adotados na criminalização secundária se encontraria a ação seletiva Procuradoria Geral da Rep
pelos meios de comunicação, das agências policiais, judiciário. compilaram as informaçõ
a possibilidade de uma in
É possível perceber com os trabalhos apresentados neste livro que o
regularização do território
período que seguiu a morte de Xicão veio marcado por tentativas cons-
tantes de deslegitimação das reivindicações e da mobilização política dos O segundo texto co
Xukuru. No período em que Xicão protagonizava a intensa articula- cionalismo” xukuru. Resu
ção indígena, os argumentos para fragilizá-lo se baseavam na negação Nacional do Índio, e do
de uma “autêntica” identidade indígena, por conseguinte, na negação
de qualquer direito constitucional específico, como a regularização do
seu território como Terra Indígena. No momento posterior a sua morte, 2. Os fascículos correspondem
siste em “mapear esforços mobiliz
quando já era possível visualizar os avanços alcançados pelo movimento que é considerado relevante pela
indígena em Pernambuco, a principal estratégia antiindígena passou a treinamento e a capacitação dos m
cipais responsáveis pela seleção e
ser a criminalização do movimento e de lideranças. Os trabalhos são re- duzidos. As oficinas de mapas rea
sultantes desse embate que tem sido constantes. composição definida pelos repres
informações obtidas por meio da o
para dotar suas reivindicações de
8
“Plantaram” Xicão
ememoração foi a leitura O Projeto Nova Cartografia Social (PNCS), responsável pela publi-
os ou em parceria com os cação deste livro, ao se debruçar sobre a emergência de identidades cole-
a vários episódios em que tivas objetivadas em movimento sociais, tem dado visibilidade às práticas
de réus. jurídicas intrínsecas a povos e/ou comunidades tradicionais e mostrado as
se trabalho está presente, principais dificuldades na interlocução destes com o poder político. Den-
o ao qual os Xukuru vêm tre as várias iniciativas do PNCS, está a publicação de uma série de tra-
ados pelo fazer antropoló- balhos que permite evidenciar os antagonismos na efetivação dos direitos
da atuação acadêmica e se dos povos tradicionais, como o caso dos indígenas. Este livro se insere
ciedade. Neles, o discurso nesse contexto. Organizado no mesmo período em que está sendo elabo-
definição dos problemas, rado o fascículo Xukuru2, constitui também a consolidação da parceria
indígenas e das garantias entre o PNCS e o Núcleo de Diversidade e Identidades Sociais (NDIS) da
Universidade de Pernambuco (UPE) no que versa sobre a sinalização de
perspectivas de transformação social.
de disputas judiciais, por-
uma arena institucionali- O primeiro capítulo do livro, Dossiê Xicão, produzido em 1998 logo
o de “criminalização” pas- após o assassinato de Xicão, mostra como os próprios jornais locais noti-
onforme o entendimento ciavam a tensão entre xukurus, ocupantes não índios e políticos locais. E,
minalização secundária”. de forma extremamente arbitrária, foram indiciados como suspeitos da
alização; a criminalização morte de Xicão, a sua viúva, Zenilda Araújo, e o vice-cacique, Zé de San-
ma lei penal material que ta. O trabalho tem caráter descritivo e de maneira esquemática mostra as
as” e a criminalização secun- notícias veiculadas antes e depois do evento. Tratou-se de uma iniciativa
cretas”. Dentre os meca- interinstitucional; os autores, motivados pelo empenho da 6ª Câmara da
encontraria a ação seletiva Procuradoria Geral da República no acompanhamento das investigações,
iais, judiciário. compilaram as informações que se encontravam dispersas, propiciando
a possibilidade de uma interessante leitura sobre os conflitos nos quais a
sentados neste livro que o
regularização do território xukuru estava envolta.
cado por tentativas cons-
a mobilização política dos O segundo texto constitui um parecer antropológico sobre o “fac-
nizava a intensa articula- cionalismo” xukuru. Resultou de um demanda da FUNAI, Fundação
se baseavam na negação Nacional do Índio, e do Ministério Público Federal em Pernambuco,
conseguinte, na negação
como a regularização do
nto posterior a sua morte, 2. Os fascículos correspondem aos trabalhos resultantes de oficinas, cujo objetivo geral con-
siste em “mapear esforços mobilizatórios, descrevendo-os e georreferenciando-os, com base no
ançados pelo movimento que é considerado relevante pelas próprias comunidades mapeadas. Tal trabalho pressupõe o
gia antiindígena passou a treinamento e a capacitação dos membros dessas próprias comunidades, que constituem os prin-
cipais responsáveis pela seleção e escolha do que deverá constar do fascículo e dos mapas pro-
nças. Os trabalhos são re- duzidos. As oficinas de mapas realizadas nas próprias aldeias e/ou comunidades, consoante uma
s. composição definida pelos representantes delas mesmas, delimitam perímetrose consolidam as
informações obtidas por meio da observação direta e de diferentes tipos de relatos, contribuindo
para dotar suas reivindicações de uma descrição etnográfica precisa” (ALMEIDA, 2009: p. 14)
9
XUKURU DO ORORUBÁ
10
“Plantaram” Xicão
am a possibilidade de um Referências
solicitações de reconheci-
po indígena, derivado de ALMEIDA, A. W. B. Prefácio. In: FARIAS JR, E. A. F.. Terras indígenas
nas cidades. Manaus: UEA Edições, 2009.
e uma Comissão Especial, SHIRAISHI NETO, J. “Práticas Jurídicas” diferenciadas: formas tradi-
de Defesa dos Direitos da cionais de acesso e uso da terra e dos recursos naturais. In: ______. Leis do
foi também composta de Babaçu Livre: práticas jurídicas das quebradeiras de coco babaçu e normas
har as investigações sobre correlatas. Manaus: PPGSCA-UFAM/Fundação Ford, 2006.
s Luidson de Araújo, e fatos
am, a questão seria mais ZAFFARONI, E. R.; BATISTA, N.; ALAGIA, A.; SLOKAR, A. Direito
violência, como foi, então, Penal Brasileiro. v.1 Rio de Janeiro: Revan, 2003.
mo referência o relatório
á relatado no terceiro ca-
o Técnica interinstitucio-
bjetivaram favorecer uma
penas como um problema
unto de sujeitos, de atores
gentes externos ou alheios
exão sobre a produção do
ações e empreendimentos
11
XUKURU DO ORORUBÁ
12
“Plantaram” Xicão
13
XUKURU DO ORORUBÁ
14
“Plantaram” Xicão
o de fazendeiros impetrou centemente, no final da década de 80. Essa situação ocasionou, ao longo
através do ministro relator dos anos, que o território Xukuru se tornasse um mosaico onde interagem
o a posse de não índios na áreas de ocupação de índios e não índios, caracterizando situação de conflito per-
de Segurança foi julgado e manente na disputa pela posse da terra na região. (ATLAS, 1993, 66)
Terra Indígena tenha sido Para facilitar sua compreensão, o presente levantamento foi dividi-
de regularização fundiária do em fases/etapas que possam dinamizar sua leitura e/ou utilização, as-
sim sendo, constituem: a) sinopses histórica e dos atos administrativos/
jurídicos recentes, que tratam do processo de regularização fundiária da
PSE HISTÓRICA Terra Indígena Xukuru. (Pela diversidade de documentos e informações
existentes que ratificam e reconhecem historicamente o direito dos
Xukuru sobre suas terras, consistiria tarefa extremamente exaustiva e
emontam ao século XVI.
que demandaria muito tempo relacioná-los na sua totalidade, optamos
ue a menção mais antiga
citar apenas os atos mais importantes dos últimos 10 anos3); b) organi-
dá por volta de 1599, de
zação de reportagens dos principais jornais em circulação no estado de
Glórias de Pernambuco,
Pernambuco, com notícias principalmente sobre a disputa pela posse da
terra em Pesqueira, bem como de outros documentos tais como Relató-
segundo tradição oral do rios, Pareceres, Ofícios, Declarações, etc; c) Alguns Quadros contendo maio-
abrangeria a Serra do Feli- res ocupantes não índios da Terra Indígena Xukuru (e ainda de maneira
Mají (Pedra Furada), Poço resumida, relação de não índios citados tanto nas reportagens, como nos
orra, Serra da Ventania ou diversos documentos consultados que se referem a disputa pela posse da
o de aproximadamente 40 terra entre índios e não índios em Pesqueira).
eenderia, no sentido leste-
midade de Arcoverde (PE),
ados da Paraíba e Pernam- REFERÊNCIAS
ra/PE. (ATLAS, 1993, 66)
erências sobre a congrega- ATLAS das TERRAS INDÍGENAS do NORDESTE. PETI/PPGAS/
rras doadas pelo governo, Museu Nacional/UFRJ. 1993
se aos índios. Documentos HOHENTHAL, W. Notes on the Shucurú Indians of Serra de ARAROBÁ,
s do século XVIII, aponta- Pernambuco, Brazil. Revista do Museu Paulista. N. S. São Paulo, 8. 1958
am os Xukuru, foi iniciada
e denominado Aldeia Ara- SOUZA, Vânia R. Fialho P. e. Relatório de Identificação e Delimitação da
ios grupos indígenas locais Área Indígena Xukuru - Município de Pesqueira/PE, FUNAI. 1989
a sede da Vila de Cimbres
, segundo história oral dos
ria daqueles índios.
3. Referências mais antigas sobre os Xukuru ver Relatório de Identificação e Delimitação da Área
elos Xukuru, as primeiras Indígena Xukuru (FUNAI/ 1989) e FIALHO, Vânia. As Fronteiras do Ser Xukuru. Reafe: Massanga-
ses índios só ocorreram re- me, 1992. - Dissertação de Mestrado em Antropologia/UFPE/1992.
15
XUKURU DO ORORUBÁ
16
“Plantaram” Xicão
17
XUKURU DO ORORUBÁ
18
“Plantaram” Xicão
19
XUKURU DO ORORUBÁ
20
“Plantaram” Xicão
21
XUKURU DO ORORUBÁ
Cronologia do Conflito
23/10/88 Índios Xukuru r
bre medidas qu
Cronologia de uma luta por território e terras, a serem
a demarcação d
de um assassinato ço de projetos
dos dispositivo
índios teve iníci
DATA NOTÍCIA/FATO/ACONTECIMENTO/ FONTE
liberativo da SU
DESCRIÇÃO SUMÁRIA de duas cartas
para empresas
ária Vale do Ip
22/10/88 Ameaça dos Xukuru de retomarem suas terras que FOLHA DE
área de 2.000 h
fazendeiros estavam se apossando para desenvol- PERNAMBUCO
e da Indústria A
ver atividades de pecuária; denúncia da aprovação
aldeia era de t
e liberação de verbas para implantação de proje-
de terra, como
to da Empresa Agropecuária Vale do Ipojuca S/A,
tima empresa
em 2.000 ha. das terras tradicionalmente ocupa-
era permitida
das pelos índios Xukuru; protesto do vice-cacique
Chicão que responsabilizou a FUNAI pelo que viesse
a ocorrer em virtude da situação; referência a inci- FEV/1989 Índios Xukuru
dente que envolveu o índio Xukuru Ademar Marco- Pesqueira de c
lino, da aldeia Canabrava, e o filho do fazendeiro bros da comun
Pio Amaral. Após discussão, este último teria decla-
rado: Tô vendo que vai morrer muito índio por aqui.
02/02/89 Xukurus denun
Índios Xukuru, sob tensão, exigiam da FUNAI a de- JORNAL DO legado de pol
marcação das suas terras; a contenção do avanço COMMÉRCIO cisco de Assis
de projetos agropecuários na região e a aplicação gado prendeu
dos dispositivos da Constituição Brasileira; fazendei- Cícero Serafim
ros ameaçavam soltar o gado sobre as plantações
dos índios. Na área, os índios estavam temerosos Índios Xukuru
pela ação dos fazendeiros. O índio Luiz Caetano, da rança Pública
aldeia Brejinho declarou que: Se o índio for enfren- cumento, contr
tar (o fazendeiro) apanha. Para isso eles têm dinhei- Leite pelo dele
ro. Para contratar jagunço. Relembrou o caso que mando do fazen
tinha ocorrido há dois meses atrás, quando capan- bido a dança do
gas do fazendeiro Justo Farias deram uma “sova”
em Gentil Severiano, da aldeia “Pé de Serra”. Afir- Líderes Xukuru
mou ainda que De nada adiantou ter dado parte à gurança Públic
polícia. O fato também foi comunicado à FUNAI que de Pesqueira P
até então, não tinha tomado qualquer providência. estava prende
morte índios Xu
Líderes indígenas temiam confronto com fazen- plos, o caso do
deiros devido ao clima de insegurança que tinha se foi preso e esp
estabelecido na região após a promulgação da nova zembro passad
Constituição. Fazendeiros apressavam-se em plantar Xukuru, as pe
capim e soltar o gado no pasto para ocupar de vez aumentaram q
a terra, enquanto os índios, respaldados por seus rante o segund
novos direitos constitucionais, resolveram reaver que Eles (os faz
o que lhes pertencia, estabelecendo-se daí um cli- sabendo de tod
ma de animosidade e desconfiança entre as partes. tuição, daí o a
22
“Plantaram” Xicão
23
XUKURU DO ORORUBÁ
24
“Plantaram” Xicão
25
XUKURU DO ORORUBÁ
26
“Plantaram” Xicão
27
XUKURU DO ORORUBÁ
28
“Plantaram” Xicão
29
XUKURU DO ORORUBÁ
05.05.92 Índios Xukuru pediram ajuda à Polícia Federal contra JORNAL DO 05.09.92 Clima de tensã
jagunços armados no município de Pesqueira. Situa- COMMÉRCIO rupção a tiros p
ção era tensa na área após a ocupação pelos índios seata pró-impe
de fazenda sob domínio de Hamilton Didier, localiza- assassinato no d
da dentro da Terra Indígena. Os Xukuru denunciaram José Everaldo R
presença de jagunços armados nas proximidades da
ocupação, os quais estariam alojados na fazenda de-
nominada Massaranduba, de domínio de André Didier. 09.09.92 Declaração ass
Pereira de Ara
nunciava que E
22.06.92 Carta do Sindicato Rural de Pesqueira, então presi- Bispo (filho do p
dido por Paudijo Fernando Araújo Queiroz relatava com o fazendeir
que a FUNAI pincelou um mapa na qual inseriu várias do pelo nome d
aldeias, como se Pesqueira fosse a Amazônia e que ros da Terra Ind
toda aquela área fosse na realidade utilizada pelos jurou arrancar a
“pseudos índios...” Recentemente um grupo que (Chicão). Os índ
se diz indígena, chefiado pelo pseudo “cacique Chi- sença da família
cão”, invadiu 147 ha. de terras da propriedade Pedra na área, para ev
D’Água.... Tentou o grupo contra a vida do pacato pe-
cuarista José Jorge Medeiros... Em nome dos proprie-
tários de Pesqueira, finalizava afirmando que Não
podemos simplesmente renunciar nossos direitos, 09.09.92 Os índios Xuku
porque já em cima desses, organizamos o município, sa dos Santos
não podemos, não devemos e não deixaremos que se lícia Federal e
promova o seu desmoronamento. Cópias enviadas o fazendeiro
para a FUNAI/Brasília; os senadores pernambucanos da Terra Indíge
Marco Maciel e Ney Maranhão; para os deputados ru José Everal
federais Roberto Magalhães e José Moura (ambos Um grupo de ín
do PFL); Governo do Estado e Ministro da Justiça. sinato do filho d
deiro acusado
foragido. Ante
encontraram um
07.08.92 Um grupo de supostos índios Xukuru, denunciou DIÁRIO DE Xukuru, dentre
que recebeu ameaças de morte de índios lidera- PERNAMBUCO Rodrigues Bisp
dos por Chicão. Uma das denunciantes, chama- Francisco de A
da Jussara Rodrigues do Nascimento, se dizia Joaquim de Far
sobrinha de Antonio Farias, a quem os Xukuru sentar o filho à
apontavam como um dos invasores das suas terras. relacionado a c
30
“Plantaram” Xicão
u apura- JORNAL DO 10.10.92 Em virtude do assassinato do índio Xukuru José JORNAL DO BRASIL
a verea- COMMÉRCIO Everaldo Rodrigues Bispo, um grupo de índios
municí- daquela comunidade incendiou a casa do fa-
rromper zendeiro Egivaldo Farias da Silva, acusado do
do im- crime. Everaldo era filho do pajé Pedro Rodri-
epública, gues Bispo e foi morto quando passava pela fa-
m solida- zenda de Egivaldo, que encontrava-se foragido.
s desse
esqueira.
31
XUKURU DO ORORUBÁ
25.01.93 Defesa Prévia apresentada na Ação Penal 928427- DEFESA PRÉVIA 11.03.94 O cacique Fran
3 em que figuravam como réus Francisco de Assis (FUNAI/1993) documento ao
Araújo e outros, os advogados da FUNAI, represen- em Recife, co
tando os índios, apresentaram argumentações refu- raldo Rolim M
tando todas as acusações arguindo que os acusados no Processo C
foram vítimas de uma manobra política orquestrada tiça Federal-PE
por índios e não índios, interessados em enfraquecer
a liderança do cacique Francisco de Assis Araújo...
07.06.94 Alegações Fina
raldo Rolim, qu
21.04.93 Índios Xukuru fizeram manifestação na Casa da Cul- JORNAL DO Processo Crime
tura, em Recife, promovendo coleta de assinaturas COMMÉRCIO -PE, argumenta
em documento a ser enviado ao Presidente Itamar os réus; as acus
Franco, reivindicando a demarcação de suas terras. bra para enfraq
Xukuru. Sobre
reu, na verdade
03.05.93 O prefeito de Pesqueira Evandro Mauro Maciel Cha- DECRETO da Funai, em co
con, declarou, através de Decreto Municipal nº 019/93, MUNICIPAL fins eleitoreiros
uma área da Terra Indígena Xukuru, de utilidade pú- Nº 019/93 em detrimento
blica, para fins de desapropriação destinado a TELPE do projeto, ser
(Empresa de Telecomunicações de Pernambuco). Vilberto Antoni
Pesqueira, que q
15.09.93 O Procurador Geral da República-PR/PE, Francisco PARECER Nº 504/93 - xoso, Ivo Pereir
Rodrigues dos Santos Sobrinho, em Parecer elabora- PROCURADORIA nunciado (no ca
do para a Ação de Reintegração de Posse proposta DA REPÚBLICA
por Milton do Rego Barros Didier e outros, contra os NO ESTADO DE 11.05.95 Deputados da
índios Xukuru, por ocupação do imóvel rural deno- PERNAMBUCO-MPF co, juntament
minado Caípe, manifestou-se favoravelmente a con- Evandro Chaco
cessão de liminar de reintegração de posse para os Federal, a rev
autores, embora o imóvel rural em questão estivesse
totalmente inserido no perímetro da área já reconhe-
cida formalmente como Indígena desde 1989, com 12.05.95 Em reunião com
a Identificaçãoe Delimitação e já declarada de pos- o prefeito de P
se permanente dos índios Xukuru pela Portaria 259/ deputado fede
MJ/92. No seu Parecer, o referido Procurador argu- Magalhães, sol
mentou que as terras em tela não estavam sendo ocu- Xukuru.
padas pelos índios, tanto é que eles invadiram a área
em questão. Ninguém invade aquilo que já ocupa....
ante a existência na região de aldeamentos Xucurus, e 15.05.95 Notícia sobre
havendo notícia da presença dos ditos índios naquelas raldo Rolim M
plagas desde 1599, iniciou-se o procedimento de de- dade de São
marcação, tendo havido, por enquanto, tão-só, as eta- culado ao tra
pas de identificação e delimitação... A área questiona- referido procu
da, portanto, nem de fato (ocupação indígena), nem queira e ao p
de direito, pode ser considerada, ainda, como área indí- Indígena Xuku
gena... Isto posto, OPINO no sentido de ser CONCEDIDA suspeito, o faz
A LIMINAR. pleiteada, de REINTEGRAÇÃO DE POSSE...
32
“Plantaram” Xicão
33
XUKURU DO ORORUBÁ
A Comissão d
16.05.95 Clima de revolta e preocupação entre os Xukuru JORNAL DO bléia Legislativ
em Pesqueira, com o assassinato do procurador da COMMMÉRCIO por três rep
FUNAI Geraldo Rolim. O cacique Chicão esperava para reivindic
que fosse reforçada a segurança na região e pediu Geraldo Rolim
garantia de vida. Dizia ele: Não podemos continu- ças Xukuru, e
ar sendo vítimas desses exploradores que fazem um
movimento em Pesqueira para tentar impedir nos-
so direito, estamos evitando ir à cidade para evitar 18.05.95 Índios Xukuru,
provocações. De acordo com o cacique Chicão, o da Polícia Fed
procurador vinha sendo seguido tendo lhe reve- continuação do
lado na semana anterior ao seu assassinato, que terras e garan
um pistoleiro teria sido contratado para matá-lo. “Continuamos
nimas e estamo
O fazendeiro Teopompo Siqueira é o princi- DIÁRIO DE não ficarmos ex
pal suspeito do assassinato do procurador PERNAMBUCO
Geraldo Rolim. As primeiras apurações indi-
cavam que Teopompo Siqueira teria se sentido pre- 19.05.95 Testemunhas r
judicado com a demarcação das terras dos Xukuru. po Siqueira de
dor Geraldo Ro
Através dos ofícios 09/95 e 10/95, enviados respec- OFÍCIOS Nº 09/95 E terras indígena
tivamente ao Ministro da Justiça e ao Procurador 10/95 - assassinato.
Geral da República, o deputado federal Fernando DEPUTADO
Ferro, do PT pernambucano, relatou clima de tensão FEDERAL Testemunhas r
entre índios e fazendeiros em Pesqueira, solicitando FERNANDO FERRO po Siqueira de
medidas urgentes para esclarecer assassinato do ad- procurador Ger
vogado Geraldo Rolim e garantias de vida para o ca-
cique Chicão, que também sofria ameaças de morte.
20.05.95 No inquérito qu
curador Gerald
17.05.95 Comissão de índios Xukuru e membros do CIMI- JORNAL DO de que o procur
-Conselho Indigenista Missionário, pediram COMMÉRCIO das últimas pre
segurança de vida ao Procurador Geral da As-
sistência Judiciária, Roberto Moraes, que res-
21.05.95 Chicão será te
pondia internamente pela Secretaria de Justi-
de Geraldo Rol
ça do estado de Pernambuco. O líder indígena
ameaçado por
Antonio Pereira, solicitou a nomeação de um dele-
de terras em
gado especial para acompanhar a apuração do as-
caram há pouc
sassinato do procurador e a ajuda da Polícia Federal.
trabalhos de de
As ameaças en
Deputado Federal do PT (PE), Fernando Ferro, DIÁRIO DE
“cabeça” de Ch
solicitou ao Ministro da Justiça, Nelson Jobim e PERNAMBUCO
ser assassinado
ao Procurador Geral da República, Aristides Jun-
selhou o caciqu
queira, a interferência da Polícia Federal para
-Conselho Indig
apurar o assassinato do advogado Geraldo Ro-
referiam-se a i
lim. O parlamentar solicitou ainda a designação
determinação
de policiais federais para a segurança do cacique
em Pesqueira
Chicão, que também estava ameaçado de morte.
reações violent
O CIMI-Conselho Indigenista Missionário, divulgou
deiros, execut
documento informando que os amigos de Geraldo
ranças Xukuru,
Rolim sofreram dois atentados quando procuravam
socorrê-lo.
34
“Plantaram” Xicão
35
XUKURU DO ORORUBÁ
06.06.95 O fazendeiro Theopompo Siqueira Brito foi indiciado JORNAL DO Prefeito de Pes
por homicídio qualificado no caso da morte do advo- COMMÉRCIO tou acusações d
gado Geraldo Rolim. República Marc
deiros nas con
16.06.95 O cacique Chicão, denunciou na Procuradoria da DIÁRIO DE
República em Brasília, a difícil situação vivida na PERNAMBUCO
terra Xukuru e confirmou o estado de tensão em 16.04.96 O cacique Fran
Pesqueira após o assassinato do advogado Ge- uma das testem
raldo Rolim. Pediu garantia de vida em função assassinou o p
de também estar sendo ameaçado de morte.
36
“Plantaram” Xicão
uel Ar- JORNAL DO 02.04.96 Familiares do procurador Geraldo Rolim ci- JORNAL DO
Federal COMMÉRCIO taram os nomes do ex-prefeito de Pesquei- COMMÉRCIO
de Ge- E ra João Leite, do vereador Leitinho (sobri-
e o pro- DIÁRIO DE nho de João Leite) e do fazendeiro José de
e três fa- PERNAMBUCO Rivas, como interessados na morte do procurador.
a morte.
Parentes do procurador assassinado denunciaram DIÁRIO DE
que Theopompo (acusado do assassinato) era pisto- PERNAMBUCO
Rolim fo- DIÁRIO DE leiro e teria agido a mando dos fazendeiros “Zé de
PERNAMBUCO Riva”, Jorge “Bigodão” e do vereador “Leitinho”.
Aristeu JORNAL DO
e apura- COMMÉRCIO 14.04.96 Em virtude do Decreto 1775/96, a Terra Indígena DIÁRIO DE
ue Fran- Xukuru teve 271 contestações apresentadas à FUNAI PERNAMBUCO
Geraldo por posseiros e fazendeiros da região. O cacique
te. Chi- Chicão afirmou que não emplacaria em 96, por estar
endeiros recebendo ameaças de morte por parte de fazen-
am con- deiros temerosos de perderem terras em Pesqueira.
Rolim.
Um grupo de índios Xukuru denunciou que foi
revelou JORNAL DO levado por propaganda enganosa do Sindicato
por fa- COMMÉRCIO Rural de Pesqueira, presidido por Fernando Quei-
rromper roz, a contestar suas próprias terras, em virtude
dio Jor- do Decreto 1775/96. Fazendeiro Hamilton Didier
meaças. ironizando sobre a presença dos Xukuru na re-
gião, afirmou que não existem índios em Pesqueira.
37
XUKURU DO ORORUBÁ
08.10.96 O índio Xukuru Antonio Pereira, foi eleito vereador JORNAL DO 08.09.97 Compareceram
em Pesqueira. Na eleição anterior, os índios tinham COMMÉRCIO formada por re
apoiado o candidato Geraldo Rolim (procurador as- Conselho de Art
sassinado em 1995), que na época não conseguiu se dígenas do Bras
eleger. Indígenas do No
dentre os quais
Os Xukuru, tendo a frente o cacique Chicão, lidera- e outros líderes
ram movimento que destituiu o administrador da referia-se ao Ma
Administração Regional da FUNAI, localizada na cida- petrado por um
de de Arcoverde-PE. Terra Indígena
o cacique Franc
Chicão. As ame
19.12.96 No julgamento de Theopompo Sobrinho, as- JORNAL DO fato de Chicão
sassino do procurador Geraldo Rolim, não es- COMMÉRCIO assassinato do
tarão presentes duas testemunhas importan-
tes que presenciaram o assassinato. Teriam se
mudado para São Paulo após sofrerem ameaças. 12.09.97 O novo julgam
ocorrerá na ci
julgamento qu
20.12.96 Juiz da Comarca de Monteiro/PB, adiou o julga- DIÁRIO DE naquela cidade
mento do assassino de Geraldo Rolim porque PERNAMBUCO vido sob alegaç
duas testemunhas de acusação não comparece-
ram. Uma delas ainda encontrava-se refugiada em
São Paulo, após ter recebido ameaças de morte. 02.10.97 O assassino do
vido em novo j
05.04.97 Cerca de 300 Xukurus receberam no dia 03.04, em JORNAL DO
Pesqueira, o Governador de Pernambuco, Miguel COMMÉRCIO 28.11.97 Cerca de 400
Arraes. Os índios reivindicavam o apoio do governo ção em desagr
do estado no sentido de agilizar junto a FUNAI, as de carta anôni
indenizações dos 280 ocupantes não índios da Terra contendo acus
Indígena Xukuru. po de líderes
como autores
09.04.97 O índio Xukuru Reginaldo Ferreira da Silva foi as- JORNAL DO instalados na T
sassinado. Foi acusado pelo crime um outro índio, COMMÉRCIO lardo Maciel (
também Xukuru, identificado por Everaldo Araújo pública, Marco
Neto. Segundo testemunhas, o crime foi motivado Chicão afirmou
por questões de terra. com fogo como
rem me queim
38
“Plantaram” Xicão
decisão JORNAL DO
rada por COMMÉRCIO 18.03.98 Cerca de 500 índios Xukuru ocuparam recentemen- JORNAL DO
da Terra te a Fazenda Tionante, localizada na sua totalidade COMMÉRCIO
Os fazen- dentro do perímetro da Terra Indígena demarcada, e
foi o pró- disseram que só deixarão a área após acordo com o
testação, Governo Federal.
afirmou
verno Fe-
palmente
Patronal
ano, que
ia para o
Brasília...
39
XUKURU DO ORORUBÁ
abril/98 Foi realizada reunião em Pesqueira, no dia 17.03.98, RELATÓRIO: 23.05.98 Atualmente exi
para tratar da retomada pelos índios Xukuru da OCUPAÇÃO DA pando a fazen
fazenda Tionante (ou fazenda Sítio do Meio). Esta- FAZENDA SÍTIO DO 16.03.98. Houve
vam presentes o cacique Xukuru Francisco de Assis MEIO POR ÍNDIOS volvendo FUNA
Araújo e demais lideranças indígenas; Procurador XUKURU, representantes
Geral da República em Pernambuco, Francisco Ro- MUNICÍPIO DE dades de apoio
drigues; administrador da FUNAI-Recife e represen- PESQUEIRA/PE advogados do s
tantes do sr. Leonardo Gomes da Silva, que era na (FUNAI/98) detentor daque
ocasião da retomada, o detentor do imóvel. Os índios socupação do im
solicitaram que se promovesse a retirada imediata do
gado para que pudessem iniciar o plantio de roças.
Os representantes do sr. Leonardo Gomes alerta- 26.05.98 Hipótese de cri
ram que iriam mover Ação de Reintegração de Posse. de Chicão. Fam
Os Xukuru declararam que o motivo da retomada que essa versão
da fazenda Tionante é pela morosidade do Gover- afirmaram aind
no Federal no processo de regularização fundi- ros e latifundiár
ária da sua Terra e também pela insuficiência de Crime passional
terras para que pudessem desenvolver ativida- assassinato.
des de subsistência, pois a maior parte da Terra
Indígena encontra-se intrusada por não índios.
27.05.98 A irmã de Chicã
costumava rec
21.05.98 O cacique Chicão foi assassinado no dia 20.05.98, DIÁRIO DE ras ao cacique a
com 6 tiros a queima-roupa, em frente a residên- PERNAMBUCO como na Câma
cia da sua irmã, em Pesqueira. O crime tem liga- trabalha. As am
ção com a demarcação das terras Xukuru. O índio vereador índio,
Antonio Severino de Santana, que estava com
Chicão no momento do seu assassinato, apontou
28.05.98 Polícia civil pre
o fazendeiro Sebastião Salustiano como possível
cacique Xukuru
mandante. Afirmou que poucos dias atrás, um capa-
convocou 4 te
taz do referido fazendeiro havia ameaçado Chicão.
nheceram o sus
O índio Antonio Pereira de Araújo (vereador em
O delegado adm
Pesqueira pelo PSB) declarou que Chicão morreu
confirmar a hip
porque lutava por nossas terras, pelos nossos di-
de terra. A viúva
reitos. Disse ainda que o assassinato de Chicão era
ao prestar dep
esperado e que também está ameaçado de morte.
do, três cartas a
cacique nas últ
Em 1996, representantes dos Xukuru tiveram audiên- JORNAL DO
continuasse a lu
cia com a Comissão de Direitos Humanos da Assem- COMMÉRCIO
bléia Legislativa, denunciando ameaças a Chicão.
Município de Pesqueira é reduto do PFL pernambu- 03.06.98 Polícia civil real
cano e a família Maciel é apontada como aquela que trato falado do
domina politicamente a região. do em municíp
transportando
Pesqueira no d
22.05.98 Polícia Civil instaurou inquérito que envolve também JORNAL DO índios tinham e
versões de crime por motivação passional e de vin- COMMÉRCIO Justiça. Reivind
gança no assassinato de Chicão. Alguns índios acusa- ha. demarcado
ram a enfermeira Ana Dárcia Mendonça, com quem do assassinato
Chicão mantinha um caso há dois meses, de ter liga-
ções com fazendeiros da região, interessados na mor-
te do cacique. Outra versão estaria vinculada a um
recente caso de roubo de madeira na Terra Indígena.
40
“Plantaram” Xicão
a 17.03.98, RELATÓRIO: 23.05.98 Atualmente existem cerca de 300 índios Xukuru ocu- JORNAL DO
Xukuru da OCUPAÇÃO DA pando a fazenda Tionante, retomada por eles em COMMÉRCIO
Meio). Esta- FAZENDA SÍTIO DO 16.03.98. Houve reunião em Pesqueira, na época, en-
co de Assis MEIO POR ÍNDIOS volvendo FUNAI, Ministério Público Federal, índios,
Procurador XUKURU, representantes do fazendeiro, políticos locais e enti-
ncisco Ro- MUNICÍPIO DE dades de apoio, mas não se chegou a um acordo. Os
e represen- PESQUEIRA/PE advogados do sr. Leonardo Gomes da Silva, que era o
que era na (FUNAI/98) detentor daquele imóvel, teriam exigido imediata de-
l. Os índios socupação do imóvel, o que foi refutado pelos índios.
mediata do
o de roças.
mes alerta- 26.05.98 Hipótese de crime passional foi refutada pela família JORNAL DO
o de Posse. de Chicão. Familiares do cacique assassinado temem COMMÉRCIO
retomada que essa versão impeça o esclarecimento do crime,
do Gover- afirmaram ainda que existe gente graúda, fazendei-
ção fundi- ros e latifundiários interessados na morte de Chicão.
ciência de Crime passional é apenas uma forma de acobertar o
er ativida- assassinato.
e da Terra
ão índios.
27.05.98 A irmã de Chicão, Maria das Montanhas, afirmou que JORNAL DO
costumava receber ligações telefônicas ameaçado- COMMÉRCIO
a 20.05.98, DIÁRIO DE ras ao cacique assassinado, tanto em sua residência,
a residên- PERNAMBUCO como na Câmara de Vereadores de Pesqueira, onde
e tem liga- trabalha. As ameaças também eram direcionadas ao
ru. O índio vereador índio, Antonio Pereira.
stava com
o, apontou
28.05.98 Polícia civil prendeu suspeito pelo assassinato do JORNAL DO
o possível
cacique Xukuru. O delegado Antonio Carlos Gomes COMMÉRCIO
s, um capa-
convocou 4 testemunhas do crime, que não reco-
do Chicão.
nheceram o suspeito, que foi solto logo em seguida.
reador em
O delegado admitiu que as investigações tendiam a
ão morreu
confirmar a hipótese de crime motivado por questões
nossos di-
de terra. A viúva do cacique, Zenilda Maria de Araújo,
Chicão era
ao prestar depoimento, entregou ao citado delega-
de morte.
do, três cartas anônimas datilografadas, enviadas ao
cacique nas últimas semanas, que diziam se Chicão
am audiên- JORNAL DO
continuasse a luta pela demarcação, seria assassinado.
da Assem- COMMÉRCIO
a Chicão.
pernambu- 03.06.98 Polícia civil realizou a reconstiuição do crime e o re- JORNAL DO
aquela que trato falado do assassino de Chicão para ser divulga- COMMÉRCIO
do em municípios vizinhos de Pesqueira. Um ônibus
transportando cerca de 45 índios Xukuru, partiu de
Pesqueira no dia 01.06, com destino a Brasília. Os
ve também JORNAL DO índios tinham encontro marcado com o ministro da
al e de vin- COMMÉRCIO Justiça. Reivindicavam a homologação dos 27.555
dios acusa- ha. demarcados em 1995 e cobravam a elucidação
com quem do assassinato do cacique Chicão.
de ter liga-
dos na mor-
ulada a um
a Indígena.
41
XUKURU DO ORORUBÁ
42
“Plantaram” Xicão
43
XUKURU DO ORORUBÁ
44
“Plantaram” Xicão
Entre 70 E 99 Hectares:
45
XUKURU DO ORORUBÁ
46
“Plantaram” Xicão
47
XUKURU DO ORORUBÁ
P ARECER ANTROPOLÓGICO:
FACCIONALISMO XUKURU
locadas como “isoladas”e
tomado como desintegrad
a apontar que no fim do s
Vânia Fialho Dentro da literatur
tre categorias sociais e gru
O presente relatório tem por objetivo contextualizar a situação desestruturantes foram ta
apresentada atualmente na TI (Terra Indígena) Xukuru no que concerne ralmente necessários para
às divergências políticas internas que têm levantado o problema da legi- importante é percebermo
timidade de lideranças indígenas e da possibilidade de um processo de condizente com os valores
faccionalismo interno. que produzem o conhecim
Para realização do mesmo, utilizamo-nos de pesquisa bibliográfica e Assim, como entend
documental, entrevistas e dados de outros períodos de trabalho de campo Nordeste Brasileiro? A pa
junto ao grupo indígena Xukuru e, por último, os dados que coletamos basar adequadamente a d
no período de 05 a 14 de novembro de 2001, quando fomos à área in- esta reflexão subsidiará aç
dígena focalizando a problemática da divergência interna. Nesta última públicas?
etapa, fomos acompanhados de duas técnicas da FUNAI (Fundação Na- Nos itens a seguir,
cional do Índio) – Recife que realizavam o levantamento dos projetos im- zação sócio-cultural e qu
plantados na TI Xukuru e que estavam sendo alvo de críticas por estarem apresenta na TI Xukuru.
contemplando apenas algumas aldeias xukurus.
OS XUKURU DO
DA HARMONIA AO FACCIONALISMO
Falamos acima na pr
Está presente no imaginário social e na perspectiva de algumas ru. Ao nos referirmos dess
instituições, até mesmo especializadas, a percepção das sociedades in- da Terra Indígena –TI) em
dígenas como unidades sociais homogêneas, livres de contradições. Ge- das suas próprias fronteira
ralmente, as sociedades indígenas são postas, inclusive, como ideais do entendemos que a questã
ponto de vista da igualdade e das relações equilibradas entre seus com- ver com o seu processo de
ponentes, o que também caracterizaria sua relação com o meio-ambien- bilização do grupo pela s
te. Nesta maneira de pensar, os conflitos que emergem das relações so- processo bastante comple
ciais são negligenciados, o que endossa a pretensa existência harmônica dades que não podem ser
das sociedades indígenas. Enfatizamos que ao
A produção literária sobre os indígenas vem também a colaborar mister atentar para aspect
para uma visão estereotipada que atende à percepção dessas sociedades do pressuposto que é prec
como distantes da realidade brasileira como um todo; seja do ponto de apresentam para, aí sim, d
vista biológico ou cultural, as sociedades indígenas “verdadeiras” são co- No universo das pop
rus constituem um grupo
48
“Plantaram” Xicão
49
XUKURU DO ORORUBÁ
50 passada com o processo de garantia de seu território iniciado no final Outras informações
da década de 80. Juntamente com os Pankararu e os Fulni-ô, os Xuku- gação do Oratório da Mad
ru representam um dos grupos indígenas nordestinos com significativa era responsável pela cateq
quantidade de documentos apresentados pela historiografia oficial. tos oficiais do Governo d
Mesmo assim, foi a mobilização de sua população pelo seu reco- apontavam que a coloniza
nhecimento étnico e territorial nas últimas década que fez com que esse iniciada a partir da Vila
grupo viesse a ter maior destaque. Aldeia Ararobá, que serv
indígenas locais por aprox
De índios esquecidos e até folclorizados, quando tinham visibilidade
Vila de Cimbres foi transfe
apenas nas festas do município de Pesqueira, agreste do estado de Per-
do história oral dos Xuku
nambuco, os Xukuru passam a assumir uma nova postura, agora, voltada
daqueles índios (Relatório
para a conquista de seus direitos constitucionais; tanto assim que já foram
objeto de quatro dissertações de mestrado (duas em antropologia, uma A Terra Indígena Xu
em educação na UFPE e uma em associativismo rural na UFRPE), de nais, possui população es
algumas monografias de conclusão de curso de graduação e estão sendo do a maior população ind
estudados em duas teses de doutorado; foram também realizados dois de Pesqueira, agreste de P
vídeos sobre o grupo, o que nos disponibiliza uma quantidade bastante processo de regularização
significativa de informações que podem subsidiar nosso parecer. – Fundação Nacional do
Delimitação. Em 1992 foi
mediante Portaria Ministe
UM POUCO DA HISTÓRIA zada com dimensão de 27
teve publicado o seu decre
Referências históricas sobre os Xukuru remontam ao século XVI. O número de aldeia
Num dos textos clássicos sobre alguns povos indígenas no Nordeste, Ho- trovertido. Consideramos
henthal (1958: 99) citou que a menção mais antiga sobre a tribo Shucu- concentrações de habitaçõ
rú, na versão Xacuru, se dá por volta de 1599, de acordo com o autor de ganização social e política
Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco, escrito em 1757 no Recife. algumas localidades apre
As terras habitadas pelos índios Xukuru, segundo a tradição oral como por exemplo, a alde
do grupo e das diversas fontes históricas existentes, abrangiam a Serra e Caldeirão “de Baixo”; ou
do Felipe, Serra da Aldeia Velha, Serra do Aió, Serra do Mají (Pedra Fu- dos Nogueiras” e Pé de Se
rada), Poço do Mulungu, Serra Isabel Dias, Serra da Gangorra, Serra da
Ventania ou do Vento e atrás da Serra do Felipe, em perímetro de aproxi-
DIVERGÊNCIA EN
madamente 40 léguas. Em termos atuais, este território compreenderia,
no sentido leste-oeste, do Brejo da Madre de Deus (PE) à proximidade
de Arcoverde (PE), e no sentido norte-sul, da região limítrofe aos estados De acordo com que
da Paraíba e Pernambuco até a Pedra Serrana no município de Pedra/PE recer, foi deflagrada com
(ATLAS, 1993: 66). lado de “desenvolviment
- Fundação de Desenvolvi
50
“Plantaram” Xicão
território iniciado no final Outras informações encontram-se nas referências sobre a Congre-
ru e os Fulni-ô, os Xuku- gação do Oratório da Madre de Deus que, em terras doadas pelo governo,
destinos com significativa era responsável pela catequese dos índios na Missão Ararobá. Documen-
historiografia oficial. tos oficiais do Governo de Pernambuco, em meados do século XVIII,
população pelo seu reco- apontavam que a colonização da região onde se localizam os Xukuru foi
ada que fez com que esse iniciada a partir da Vila de Cimbres, local anteriormente denominado
Aldeia Ararobá, que serviu como ponto de catequese de vários grupos
indígenas locais por aproximadamente dois séculos. Em 1836, a sede da
uando tinham visibilidade
Vila de Cimbres foi transferida para a povoação de Pesqueira que, segun-
agreste do estado de Per-
do história oral dos Xukuru, tratava-se de local tradicional de pescaria
va postura, agora, voltada
daqueles índios (Relatório de Identificação da TI Xukuru, 1989).
; tanto assim que já foram
as em antropologia, uma A Terra Indígena Xukuru, com 23 “aldeias” ou núcleos habita-cio-
mo rural na UFRPE), de nais, possui população estimada em 7000 índios (FUNAI/2001), sen-
e graduação e estão sendo do a maior população indígena no Nordeste. Localiza-se no município
m também realizados dois de Pesqueira, agreste de Pernambuco, a 216 km da cidade de Recife. O
uma quantidade bastante processo de regularização fundiária da mesma foi iniciado pela FUNAI
ar nosso parecer. – Fundação Nacional do Índio - em 1989, com a etapa da Identificação e
Delimitação. Em 1992 foi declarada de posse permanente dos índios Xukuru,
mediante Portaria Ministerial; em 1995, teve sua demarcação física reali-
zada com dimensão de 27.555 ha (Brasileiro et alii, 1998) e, finalmente,
teve publicado o seu decreto de homologação em 2001.
emontam ao século XVI. O número de aldeias, apresentado aqui como 23, é um dado con-
dígenas no Nordeste, Ho- trovertido. Consideramos como aldeias os núcleos populacionais, ou seja,
tiga sobre a tribo Shucu- concentrações de habitações que possuem representatividade junto à or-
de acordo com o autor de ganização social e política do grupo. As divergências existem por conta de
escrito em 1757 no Recife. algumas localidades apresentarem designações para trechos específicos,
, segundo a tradição oral como por exemplo, a aldeia Caldeirão que aglutina Caldeirão “de Cima”
entes, abrangiam a Serra e Caldeirão “de Baixo”; ou a aldeia Pé de Serra que congrega “Pé de Serra
Serra do Mají (Pedra Fu- dos Nogueiras” e Pé de Serra “de São Sebastião”.
rra da Gangorra, Serra da
, em perímetro de aproxi-
DIVERGÊNCIA ENTRE OS XUKURU
território compreenderia,
Deus (PE) à proximidade
egião limítrofe aos estados De acordo com que nos foi relatado, a divergência, objeto deste pa-
no município de Pedra/PE recer, foi deflagrada com o início da implantação de um projeto intitu-
lado de “desenvolvimento” da Vila Cimbres, coordenada pela FIDEM
- Fundação de Desenvolvimento Municipal - e que previa a construção de
51
XUKURU DO ORORUBÁ
uma estrada da Vila até a aldeia Guarda, visando a melhoria do acesso ao Sem dúvidas, Cimbr
Santuário de Nossa Senhora das Graças. Xukuru, assim também
Este santuário já vem sendo motivo para divergências desde que que funda a existência do
passou a ser a razão para a implantação de projetos que,- desconsideram o Como o conflito que tem
fato de que o mesmo está encravado no território tradicional dos Xukuru, tro da disputa, sua dimen
já demarcado e homologado pelo Presidente da República - mais do que financeiros para implanta
desconsiderar os limites da TI Xukuru, esses projetos vêm ignorando a apresentaremos um pouco
existência dos problemas que os índios têm enfrentado, assim como a cia para os Xukuru.
autonomia dos mesmo para definir o destino de seu território.
Desde o nosso primeiro trabalho junto aos Xukuru, em 1989, já CIMBRES E ARARO
havíamos identificado alguns problemas na região da Vila de Cimbres de-
vido ao Santuário de Nossa Senhora das Graças e às pessoas que estavam A Aldeia do Ararob
envolvidas na sua manutenção. conhecida por Nossa Senh
gundo Valle (1992, 30), e
Alguns problemas: bitado por moradores estr
dância d’água, tornou-se p
1. Preterição dos costumes indígenas
bispo D. Matias de Figue
2. Aumento do fluxo de pessoas (romeiros e visitantes) na terra Montanhas foi ali instala
indígena agreste de Pernambuco.
3. Atração de não índios para se instalar em localidades que ser- A aldeia do Ararobá
vem de apoio à visita ao santuário, como Cajueiro Monte Alegre e ao ser cr
4. A população indígena da aldeia Guarda foi ignorada pelas ini- permanece, segundo uns
ciativas do santuário; sendo inclusive considerada um empeci- em Portugal, segundo ou
lho por afastar, com sua pobreza, os turistas e peregrinos ensino” (MACIEL, 1977,
5. Mobilização de algumas instituições como FIDEM, Prefeitura de ensino ministrado pelo
Municipal de Pesqueira no intuito de efetivar a implantação culos. No início, era a cate
da reforma do santuário. Néri ou do Oratório da M
de instalação de um estab
dos índios de Urubá”.
Em trabalho anterior (Fialho, 1998), abordamos as aldeias localiza-
A observação do “E
das nas proximidades de Cimbres como um capítulo específico, por en-
26.03.1762 4 da autoria d
tendermos a necessidade de se visualizar a relação de Cimbres, como local
leva a se fazer algumas con
que fundou o processo de aldeamento dos índios daquela região, com as
de Cimbres:
aldeias mais distantes, também percebidas como fazendo parte de um
mesmo território, como Canabrava e Pedra D’Água. Estas, mesmo estan-
do situadas na porção leste da TI, juntamente com Cimbres, representam
4. FIAM/CEHM/Prefeitura Munici
as aldeias que concentram as decisões políticas e religiosas dos Xukuru.
52
“Plantaram” Xicão
do a melhoria do acesso ao Sem dúvidas, Cimbres tem um papel fundamental na história dos
Xukuru, assim também como para o arcabouço mitológico religioso
a divergências desde que que funda a existência dos Xukuru como identidade étnica diferenciada.
tos que,- desconsideram o Como o conflito que tem emergido recentemente tem Cimbres no cen-
o tradicional dos Xukuru, tro da disputa, sua dimensão vai muito além de apropriação de recursos
a República - mais do que financeiros para implantação de projetos e benefícios. Por isso, a seguir,
projetos vêm ignorando a apresentaremos um pouco da história desta localidade e de sua importân-
nfrentado, assim como a cia para os Xukuru.
e seu território.
aos Xukuru, em 1989, já CIMBRES E ARAROBÁ
ião da Vila de Cimbres de-
s e às pessoas que estavam A Aldeia do Ararobá, que deu origem à Vila de Cimbres, também
conhecida por Nossa Senhora das Montanhas, foi fundada em 1669. Se-
gundo Valle (1992, 30), este aldeamento também é posteriormente ha-
bitado por moradores estranhos. Devido ao seu clima favorável e a abun-
dância d’água, tornou-se próspero e foi elevado à paróquia em 1692 pelo
bispo D. Matias de Figueiredo e Melo. A igreja de Nossa Senhora das
eiros e visitantes) na terra Montanhas foi ali instalada em 1692 e tornou-se a primeira matriz do
agreste de Pernambuco.
ar em localidades que ser- A aldeia do Ararobá também teve o nome dado pelos jesuítas, de
omo Cajueiro Monte Alegre e ao ser criada a vila em 1761, o de Cimbres que ainda
rda foi ignorada pelas ini- permanece, segundo uns, recordando uma povoação de nome idêntico
e considerada um empeci- em Portugal, segundo outros, significando na língua indígena “lugar de
turistas e peregrinos ensino” (MACIEL, 1977, 309-10). Na realidade, Cimbres foi um lugar
como FIDEM, Prefeitura de ensino ministrado pelos brancos aos índios, por mais ou menos dois sé-
de efetivar a implantação culos. No início, era a catequese dos índios pela Congregação de S. Felipe
Néri ou do Oratório da Madre de Deus; no século XIX, havia um projeto
de instalação de um estabelecimento de ensino profissional, o “Colégio
dos índios de Urubá”.
damos as aldeias localiza-
A observação do “Edital para a feitura da vila de Cimbres” de
apítulo específico, por en-
26.03.1762 4 da autoria do Desembargador Manuel de Gouveia Avares
ão de Cimbres, como local
leva a se fazer algumas considerações a respeito da escolha do local da vila
os daquela região, com as
de Cimbres:
mo fazendo parte de um
Água. Estas, mesmo estan-
om Cimbres, representam
4. FIAM/CEHM/Prefeitura Municipal de Pesqueira, 1985, pag. 40.
e religiosas dos Xukuru.
53
XUKURU DO ORORUBÁ
1º- que a finalidade da criação da vila foi, sem dúvida índio; sua Com a promulgação
atração para fins de lhes ser prestada assistência religiosa e lições de civili- tar a administração das te
dade, era real motivo das bulas pontificias, leis e ordem régias; mente os casos conflituoso
2º- que, além dos índios, outros moradores brancos, religiosos ou não, tivo primordial desta lei “
havia na antiga aldeia de Ararobá, depois povoação de Monte Alegre”. ocupação das terras ainda
titulação de terras, para re
va vulneráveis aquelas ocu
Juntamente com a instituição da vila e termo de Cimbres, começa a ressaltado, tais medidas n
funcionar sua Câmara Municipal. O termo de Cimbres, durante grande finição de domínio da terr
parte do século XIX, pertenceu jurisdicionalmente à Comarca da Madre
A extinção de inúm
de Deus.
Provincial em relação aos
Em 1813 há referência da existência de 245 índios “Shucurú” na- necessidade de recorrer à
quele local. Este documento representa uma petição do governo provin- pressionar para a garantia
cial de Pernambuco, declarando que a Vila de Cimbres é muito pobre em nome de fazendeiros.
para alimentar os índios supracitados e requer que a tutela governamen- Em 1873, dos sete al
tal dos aborígenes seja encerrada porque são capazes de viver por si pró- missão constituída pelo Pr
prios (HOHENTAL, 1958,101). de Cimbres e o de Assunç
Sarah Valle (1992, 34) acrescenta que, com o advento da Indepen- sião, foi cogitada, inclusive
dência do Brasil, os Oratorianos foram desprestigiados pelos brasileiros deamentos extintos, para a
pela sua fidelidade à Coroa Portuguesa. Com a ausência do poder da me- to governamental de cons
trópole na colônia, os congregados estavam dispersos, constando por vol- foi declarada a extinção de
ta de 1825, apenas quatro padres e alguns leigos (COSTA, 1983, vol. 9, ra de Regência de Cimbre
p.378). Logo após este momento, discussões a respeito da responsabilida- à pessoas estranhas; só qu
de de administrar os bens da Congregação e da posse dos rendimentos da seu direito à terra. Porém
mesma, indicam a extinção da congregação de São Filipe Néri na Provín- assim interpretou, aguçan
cia de Pernambuco (Costa, 1983, v. 9, 312), oficializada através da Carta a extinção das aldeias sign
de Lei de 9 de dezembro de 1830. índios tinha acabado, não
Em 13 de maio de 1836, a lei provincial nº20, mudou a sede desta Apesar da extinção
ter se efetuado em 1879,
vila para a Povoação de Pesqueira, que passou à categoria de vila e cabeça
e a sociedade envolvente j
do termo, dando outro rumo à história daquela região. Segundo a tradi-
de Cimbres a extinguir o
ção oral dos Xukuru, o próprio nome “Pesqueira” é oriundo do local de dios reverteram para o pat
pescaria dos índios, este, situado atualmente nas proximidades da Fábrica em 1824 é formada uma
Rosa no centro da cidade de Pesqueira. guerrilha da Vila e uma co
Muitos outros documentos informam sobre a administração do al- ter os índios, alegando rou
deamento de Cimbres. Um deles, datado de 1879, trata da denúncia feita Porém, em 25 de m
pela representação daqueles índios, de que o diretor local estava arrendan- pério ordena o envio de u
do terras da aldeia quando eles haviam se retirado em conseqüência da seca. Aldeamento de Cimbres c
54
“Plantaram” Xicão
i, sem dúvida índio; sua Com a promulgação da Lei 601 de 1850, que procurava regulamen-
religiosa e lições de civili- tar a administração das terras devolutas do Império, aumentava vultosa-
e ordem régias; mente os casos conflituosos pela ocupação das terras nas aldeias. O obje-
brancos, religiosos ou não, tivo primordial desta lei “era o de modernizar a agricultura e promover a
ção de Monte Alegre”. ocupação das terras ainda incultas”. Porém, a exigência de demarcação e
titulação de terras, para reconhecimento do direito de propriedade, torna-
va vulneráveis aquelas ocupadas pelos grupos indígenas, pois, como já foi
mo de Cimbres, começa a ressaltado, tais medidas não eram compatíveis com os parâmetros de de-
Cimbres, durante grande finição de domínio da terra destes mesmos grupos (PARAISO, 1987, 57).
ente à Comarca da Madre
A extinção de inúmeras aldeias se deu pelo desrespeito ao governo
Provincial em relação aos direitos dos índios. Estes, sem atentar para a
245 índios “Shucurú” na- necessidade de recorrer às medidas legais exigidas e sem condições de
etição do governo provin- pressionar para a garantia de seus direitos, viram suas terras registradas
e Cimbres é muito pobre em nome de fazendeiros.
que a tutela governamen- Em 1873, dos sete aldeamentos em Pernambuco estudados pela Co-
apazes de viver por si pró- missão constituída pelo Presidente da Província de Pernambuco, apenas o
de Cimbres e o de Assunção não foram considerados extintos. Nesta oca-
m o advento da Indepen- sião, foi cogitada, inclusive, a possibilidade de transferência de índios de al-
stigiados pelos brasileiros deamentos extintos, para ali se fixarem. No entanto, foi efêmero o propósi-
ausência do poder da me- to governamental de conservar os dois aldeamentos, pois em 25.01.1879,
persos, constando por vol- foi declarada a extinção de Cimbres e suas terras foram entregues a Câma-
os (COSTA, 1983, vol. 9, ra de Regência de Cimbres, para redistribuição a título de venda ou cessão
espeito da responsabilida- à pessoas estranhas; só que isto não implicava que os Xukuru perderiam
posse dos rendimentos da seu direito à terra. Porém, a população não-índia de Cimbres e Pesqueira
São Filipe Néri na Provín- assim interpretou, aguçando o esbulho das terras indígenas. Na realidade,
cializada através da Carta a extinção das aldeias significava apenas que a tutela governamental dos
índios tinha acabado, não os destituindo de seu direito às terras.
nº20, mudou a sede desta Apesar da extinção do Aldeamento de Cimbres pela Província só
ter se efetuado em 1879, o conflito existente entre os índios do Ararobá
categoria de vila e cabeça
e a sociedade envolvente já havia provocado a Câmara Municipal da Vila
a região. Segundo a tradi-
de Cimbres a extinguir o aldeamento em 1822 e todas as terras dos ín-
ira” é oriundo do local de dios reverteram para o patrimônio da Câmara. Como se isso não bastasse,
s proximidades da Fábrica em 1824 é formada uma força autorizada pelo governo, oriunda de uma
guerrilha da Vila e uma companhia de ordenanças de Moxotó, para aba-
bre a administração do al- ter os índios, alegando roubos e assassinatos por parte dos nativos.
79, trata da denúncia feita Porém, em 25 de março de 1825, um aviso do Ministério do Im-
etor local estava arrendan- pério ordena o envio de um padre para servir de Diretor dos índios do
o em conseqüência da seca. Aldeamento de Cimbres com o fim de sua catequese.
55
XUKURU DO ORORUBÁ
A luta pela apropriação das terras do aldeamento de Cimbres, lide- envolvente; por outro, isto
rada pela Câmara Municipal local, foi amplamente documentada. Sabe- mentos que compõem a id
-se que esta Câmara tinha patrimônio territorial justamente no espaço e geograficamente está re
que separava os dois territórios próprios do aldeamento e que mesmo coletiva do grupo e constr
com tentativas para um acordo de ocupação das terras, este não foi res- determinada por múltiplo
peitado pelos edis. primária, individual, mas
A demarcação das terras do aldeamento era constantemente requi- tivas aos quais vem a se ac
sitada pelos índios, na oportunidade das denúncias de posseiros e arren- Destacamos aqui, o
damento da área. Pelo visto, porém, a demarcação do território Xukuru que, a partir dele, vamos
não foi realizada, até que na década de 80 do século XX, estes índios dos para as lideranças xuk
voltassem a se mobilizar para sua efetivação. sua relação com a tradição
Pode-se perceber que a colonização da região esteve intimamente O livro “Filhos da M
relacionada à ocupação primeira dos índios, que alimentou a necessidade genas durante a realização
de sua “pacificação” e “catequização” e as relações ali construídas a partir nação do Centro de Cultu
das disputas pelas terras. técnicos de universidades
No entanto, para a realidade dos Xukuru, a importância de Cim- de Educação do Estado, a
bres tem um outro sentido: foi o espaço fundamental para a construção rio Xukuru que os profess
da alteridade; se o processo a eles imposto era o de homogeneização, isto com diversos integrantes
se dava pelo reconhecimento das diferenças entre os índios e a sociedade Os limites e os critér
envolvente; é fundamentalmente a partir do OUTRO que se dá a cons- TI Xukuru podem ser per
trução da identidade. Tanto assim que a região de Cimbres está repleta
de signos dessa identidade indígena, sobre os quais vamos tecer a seguir.
IDENTIDADE XUKURU
5. É importante ressaltar que a afirmação da identidade indígena xukuru “ não é apenas o ato de
outorga de território, de ‘etnificação’ puramente administrativa, de submissões, mandatos políti-
cos e imposições culturais, é também aquele da comunhão de sentidos e valores, do batismo de
cada um de seus membros, da obediência a uma autoridade simultaneamente religiosa e política.
Só a elaboração de utopias (religiosas/morais/políticas) permite a superação da contradição entre
os objetivos históricos e o sentimento de lealdade às origens, transformando a identidade étnica
em uma prática social efetiva, culminada pelo processo de territorialização.” (OLIVEIRA, 1999, 32).
56
“Plantaram” Xicão
amento de Cimbres, lide- envolvente; por outro, isto se dá porque o seu território está eivado de ele-
ente documentada. Sabe- mentos que compõem a identidade xukuru. Esse espaço demarcado física
rial justamente no espaço e geograficamente está repleto de uma simbologia que nutre a memória
ldeamento e que mesmo coletiva do grupo e constrói, no dia a dia, “uma trajetória (que é histórica e
as terras, este não foi res- determinada por múltiplos fatores) e uma origem (que é uma experiência
primária, individual, mas que também está traduzida em saberes e narra-
ra constantemente requi- tivas aos quais vem a se acoplar)” (OLIVEIRA, 1999, 30).
ncias de posseiros e arren- Destacamos aqui, o caráter sagrado atribuído ao seu território, por-
ação do território Xukuru que, a partir dele, vamos também abordar a questão dos aspectos volta-
o século XX, estes índios dos para as lideranças xukurus; como são escolhidas, qual o seu papel e
sua relação com a tradição do grupo.
egião esteve intimamente O livro “Filhos da Mãe Natureza”, elaborado pelos professores indí-
e alimentou a necessidade genas durante a realização do Projeto de Educação Xukuru sob a coorde-
ões ali construídas a partir nação do Centro de Cultura Luiz Freire e assessorado por pesquisadores e
técnicos de universidades, Conselho Indigenista Missionário e Secretaria
u, a importância de Cim- de Educação do Estado, apresenta graficamente a concepção do territó-
mental para a construção rio Xukuru que os professores coletaram durantes as pesquisas realizadas
o de homogeneização, isto com diversos integrantes desta sociedade indígena.
tre os índios e a sociedade Os limites e os critérios escolhidos para estabelecer as fronteiras da
OUTRO que se dá a cons- TI Xukuru podem ser percebidos nos desenhos abaixo:
o de Cimbres está repleta
uais vamos tecer a seguir.
57
XUKURU DO ORORUBÁ
OS DOIS PÓLOS R
Localizada no ponto
é uma montanha em que
grada, (b) a Pedra do Rei
Pedra do Reino, onde se d
que fica exposta no meio
túmulo do cacique Chicão
agosto passado.
Sobre esta Pedra, seu
Pedra
no [an
A religiosidade é um dos aspectos mais importantes para a coesão todo m
das aldeias xukurus. O fluxo que permite com que identifiquemos o con- que diz
junto de sua sociedade se dá através das relações de parentesco e compa- vam. M
drio e dos eventos que envolvem a religião. (Gerci
De uma maneira geral, podemos afirmar que seu universo religioso
está envolto de elementos do catolicismo popular, com a devoção a santos
É nessa área que oco
católicos, da crença nos “encantados”, que são espíritos de seus antepas-
eventos mais importantes
sados (dos “antigos”) e ainda aspectos de cultos afro-brasileiros. São devo-
São João (24/06) e de Nos
tos, principalmente, de Nossa Senhora das Montanhas, a quem chamam
estas duas última acontec
de “Tamain”, de São João e se referem à uma divindade maior, nos moldes
do cristianismo, como “Tupã”.
CEMITÉRIOS
Além das duas festas tradicionais na vila de Cimbres, São João
(24/06) e Nossa Senhora das Montanhas (02/07), quando também se
misturam elementos da religiosidade indígena, como o toré e outros ritu- Existem, na região,
ais, os Xukuru realizam os rituais regularmente na mata e nos terreiros. Pão de Açúcar e o de Cim
Dentre esses locais, os mais representativos estão: o terreiro do Caboclo quer dos três, no entanto
João Jorge, na aldeia Sucupira e o terreiro da Pedra D’Água, próxima da para os Xukuru, onde ger
Pedra do Rei (ou Reino).
6. Bacurau é o indivíduo que se
Este último tem assumido um certo destaque por nele estar se “puxar as linhas”, os cânticos que
concentrando a mobilização política para a regularização das terras dos espirituais.
58
“Plantaram” Xicão
6. Bacurau é o indivíduo que se posiciona na frente da fila que, em círculos, dança o toré para
staque por nele estar se “puxar as linhas”, os cânticos que marcam o ritmo e cujas letras evocam diferentes entidades
gularização das terras dos espirituais.
59
XUKURU DO ORORUBÁ
Exatamente por a Vila de Cimbres ter se originado de um antigo aldea- TERRITÓRIO SAG
mento indígena, este ainda tem um papel preponderante. Ainda hoje,
muitos dos Xukuru são enterrados na Vila; é um pedido principalmente A TI Xukuru coincid
dos mais velhos, a “Vila” é mãe deles. ra do Ororubá e a Pedra
Dona Marcionila, 86 anos, índia moradora da aldeia Caldeirão, en- pontos de convergência d
fatizando o papel da Vila de Cimbres para o universo religioso xukuru, são capazes de reforçar as
chegou a nos dizer que além do toré ter sempre acontecido na Vila de dá ao mesmo o caráter de
Cimbres, os índios sempre manifestaram o desejo se serem enterrados no A relação e a ênfase
cemitério daquela localidade. Segundo ela, “o pessoal saía das aldeias para se orientem numa suposta
ser enterrado na Vila dessa “serra dos índios. [...] O pessoal pensa que só em que vivem; determina
se salva se for para a ‘Vila’”. criado de novo, consagrad
Dona Maria de Romão, 78 anos, viúva de Romão da Hora, que foi Através da religião,
uma liderança da Vila de Cimbres, referência histórica e tradicional para deixa de ser homogêneo,
os Xukuru, também afirmou que “mesmo o pessoal de Caetano (aldeia diferentes das outras e, e
localizada no outro extremo da TI) era enterrado em Cimbres; nós nasce- concebem como identidad
mos lá, mas somo todos daqui”.
Rita Neves (1999),
É interessante notar que tanto o cacique Chicão como a líder Chico grama de Pós-Graduação
Quelé, antes de serem enterrados na Pedra D’Água, tiveram seus corpos damente esses espaços sag
levados até a Vila de Cimbres, onde ocorreu uma missa na Igreja de Nossa ra, destacamos algumas la
Senhora das Montanhas.
O circuito que envolve os rituais de morte dos Xukuru respeita as
1.Pedra do Dinheiro
duas principais localidades relacionadas ao aspecto sagrado desses índios:
Cimbres e Pedra D’Água e a partir deles podemos ter uma percepção
bem mais apurada do que representa o território Xukuru para a identida- Esta pe
de dos mesmos, assim como para sua organização social e política. também
Seu Medalha, o gaiteiro, ou seja, o tocacor da flauta (mibim) nos sui 5 o
rituais da Vila de Cimbres fornece uma idéia sobre como se dá esse fluxo de que
religioso no seu território: Seu for
pessoas
alguns
Nós temos o nosso terreiro na Sucupira; dançamos aqui
mitá-la
e na Sucupira, lá no sábado à tarde; lá na Pedra D’Água
Por iss
também tem o nosso terreiro, eles vêm para cá e a gente
da mat
vai para lá. Todos os torés são fortes; o toré tem que ser
ximida
assim, que é uma dança de fé; não é uma dança qualquer,
perman
[é] pensando nos antepassados, pensando em Tamain,
pensando em nosso pai Tupã e o toré dá força pra gente; As pess
toré é uma religião indígena [...]. colocad
60
“Plantaram” Xicão
61
XUKURU DO ORORUBÁ
ele andava por lá com Nossa Senhora” (Maria – 20/06/98). 4.Laje do Crajéu
É também uma pedra sonora pois quando se bate nela com um
objeto metálico, o tinido é tão forte como se fosse oca. É por isso que
Vindo
ela é chamada de Pedra do Dinheiro, porque acreditam que den-
Cimbre
tro dela tem ‘ouro, prata e inteligência’ (Maria – 20/06/98).
a serra
eles par
2.Pedra do Conselho
Além d
era o m
Essa pedra é também chamada de Laje do Conselho. O seu ziam a
formato é liso e achatado. Durante a madrugada da festa de São O mort
João é nela que acontece um dos momentos mais importantes onde Xukur
os Xukuru e os não-índios fazem seus rituais sagrados. cipó. A
Fala-se também que todos os antepassados que algum dia, quan- guir em
do vivos, ‘dançaram na palha’ [ segundo Rita Neves, a expres-
são “dançar na palha”significa usar a vestimenta ou apenas a
Além dessas pedras,
barretina e participar do ritual na Pedra do Conselho à meia-
tras quatro referenciadas p
-noite], se encontram presentes na hora desse ritual. Algumas
que a vila possuía. Como
pessoas da vila dizem que nesse momento vêem os seus ancestrais.
não serem mais usadas, o
É o momento também em que alguns Xukuru mais experientes
porém não mais realizam
recebem os “Encantados”através de incorporação. São eles que
dão conselhos sobre a conduta de todo o povo Xukuru.p. 39-40 Outras pedras consid
outras localidades, como
3.Laje do Patreká do Vento e a do Acauã, já
riormente.
Como antigo bacura
Considerada sagrada, nela também se realizavam rituais. Atu-
comentou:
almete, no entanto, com a expansão da Vila, uma parte dessa
laje foi tomada pelas casas, caindo em desuso.
Segundo os Xukuru, antigamente essa era a primeira laje que [Antig
abrigava os rituais da noite de São João. Depois que os Xukuru dra do
dan;cavam na porta da Igreja, ao redor da vila e em frente à nós faz
casa paraquial, se dirigiam para a laje do Patreká e a partir que ia
daí seguiam para outras lajes. va, ass
Mesmo nàp sendo mais usada, ainda é considerada sagrada
Pé de
porque dizem nela encontrar-se ‘as pegadas de Nossa Senhora,
todo pa
do Menino Jesus e do burrico que andava com eles por Cimbres’ Tinha
(Maria – 20/06/98) nós rec
62
“Plantaram” Xicão
63
XUKURU DO ORORUBÁ
zer; recebia ordem dos antigos, doas antepassados que já acionada e sua cultura ress
tinham ido se embora. Ali tinha Luiz Romão, Zé Romão, legitimação das mesmas se
Miguel e outro, que lês eram uns homens sabidos, entendi- políticas se articularam co
dos, sabiam onde tinham as ventas; eles se concentrava e A questão à qual at
[...] os antepassados falavam através dessas pessoa [...].Se conflito interno na socied
acabar aquele conselho ali a vaca vai pro brejo, porque só lítica, composta por mora
faz ali o que mais velhos faziam; aquilo ali é um negócio jueiro. Tal fato não teria t
sério, não é brincadeira. (Gercino, 11/11/2001) como se denominam os in
reação à liderança tradicio
CONTEXTUALIZANDO AS DIVERGÊNCIAS divisão dos Xukuru; ora i
tiva”, em que o gerencia
Consideramos a pertinência dos itens até então apresentados para região oeste da terra indíg
que a partir deles possamos tecer algumas considerações sobre a orga- liderança, ora propondo o
nização social e política xukuru, sejam as relações até então construídas ritório em duas partes e q
e que dão o aspecto de unidade do grupo, sejam os critérios presentes entre as duas parcelas.
nessas relações responsáveis pela concessão das diversas formas de poder Logo, está em jogo
dentro grupo. cuja semântica está associ
O processo de territorialização é abordado por Oliveira (1993 e senta, principalmente na
1999) de maneira bastante abrangente e que nos auxilia na visualização como unificada e o contro
da forma organizativa desse grupo. A partir da percepção de um qua- ços que vêm sendo admin
dro colonial, ou de fatos históricos específicos, o autor argumenta que “a tuído pelas lideranças trad
atribuição a uma sociedade de uma base territorial fixa se constitui em Especificamente ao f
um ponto-chave para apreensão das mudanças por que ela passa, isso ção de representantes e lid
afetando profundamente o funcionamento das suas instituições e a signi- culação à qual nos referim
ficação de suas manifestações culturais”. Para tanto, Oliveira propõe que Antropologicament
a “territorialização” seja compreendida como um processo de reorgani- discutido e reinterpretado
zação social que implica: i) a criação de uma nova unidade sóciocultural de cultura como algo crist
mediante o estabelecimento de uma identidade étnica diferenciadora; ii) templar a toda a complex
a constituição de mecanismos políticos especializados; iii) a redefinição do É importante ressalt
controle social sobre os recursos ambientais; iv) a reelaboração da cultura nada pelas próprias socied
e da relação com o passado ( Oliveira, 1999, 20). eles identificados como tra
É nesse processo que nos baseamos para descrever os Xukuru, por inclusão e exclusão do seu
percebermos que a concepção que eles têm de si, a formulação da sua pró- contornos étnicos e constr
pria identidade e a instituição de seus mecanismos de tomada de decisão e
de representação estão diretamente vinculadas à trajetória dessa sociedade
indígena na regularização de seu território, em que a memória coletiva foi 7. Esta área engloba as aldeias de
Courodanta
64
“Plantaram” Xicão
65
XUKURU DO ORORUBÁ
66
“Plantaram” Xicão
tos que a tradição xukuru Antes do conflito instaurado em relação à Fazenda São Severino,
al e política, utilizamos as realizamos uma reunião na casa de Expedito Cabral, o Biá, com parte
da comunidade, indicadas dos indivíduos que estão lhe dando apoio e também, pudemos nos reunir
como os dados já levanta- com os integrantes da parcela da comunidade que se opõe à Biá e ao seu
projeto de divisão da TI, alojada na casa em que o Frei José, pároco de
e aquelas em que existem Cimbres e um dos principais mentores do projeto do Santuário de Nossa
upo liderado por Expedito Senhora das Graças, na aldeia Guarda. Após esses contatos preliminares,
conselheiro de seu irmão, estivemos também com o atual cacique xukuru Marcos Luidson, o Mar-
mo cacique dos Xukuru de quinhos, e Dona Zenilda, sua mãe e viúva do cacique Chicão, que possui
um importante papel dentro da mobilização xukuru mesmo no período
anterior à morte de seu marido.
mo a EBAPE (Empresa de
Pernambuco), foi de extre- Nos momentos que se seguiram, estivemos nas seguintes aldeias:
tituições oficiais também Pedra D’água, São José, Canabrava, Caípe, Lagoa, Pé de Serra dos No-
ção dos projetos. gueiras, Pé de Serra de São Sebastião, Curral Velho, Guarda, Cimbres,
Sucupira e Afeto.
Os depoimentos foram de máxima valia no sentido de atua-lizar as
informações que vínhamos coletando no decorrer dos anos que acompa-
nhamos a questão Xukuru, assim como no sentido de rever importantes
foi o período de coleta de
personagens da história deste grupo, lideranças tradicionais, cuja longa
o em meio aos conflitos já
trajetória é capaz de dizer muito acerca dos últimos acontecimentos na
região.
ceu no momento em que
O grupo de Cimbres vem, desde julho de 2000, procurando se legi-
grupo técnico coordenado
timar através do reconhecimento das seguintes lideranças:
da na terra tradicional dos
távio Carneiro Leão) esta-
para ocupação dos índios. Cacique – Francisco de Assis Cabral
principalmente ao chegar- Vice-cacique – Agnaldo Bezerra Sobrinho
Expedito Cabral (Biá) es- Pajé – José Ferreira Leite
es: “Xukurus de Cimbres
Conselho:
como já foi dito anterior- Expedito Alves Cabral (Biá)
cnicas da FUNAI, incum- José Ailton Barbosa
tos implantados na área,
ta forma, isto possibilitou Francisca Romão de Siqueira
retamente envolvidas nos Eraldo Alves Cabral
região em que os referidos
67
XUKURU DO ORORUBÁ
Os principais argumentos deste grupo estão voltados para as de- (1967). Na sua perspecti
núncias de que os projetos e recursos que têm entrado na área indígena para cada tipo de autorida
têm beneficiado as aldeias articuladas com a liderança hegemônica. Esta A autoridade legal s
última, que vem representando a sociedade xukuru, é composta por: básica, as leis podem ser p
procedimentos formais. A
te, mas a regras e regulam
Cacique – Marcos Luidson, (Marquinhos)
regra se deve obedecer.
Vice-cacique: Zé de Santa
A segunda, a autorid
Pajé – Pedro Rodrigues Bispo ( Zequinha) de da ordem social e de su
Os Representantes das 23 aldeias sados; o conjunto político
Uma Comissão Interna - formada por 12 membros indicados pelo no comando é o “senhor”,
cacique e pelo pajé, que atua como um conselho. tes. Todos obedecem dire
seja consagrada pela trad
são controladas pela leald
Estas lideranças não aceitam a possibilidade de que seja criada uma gação funcional em relaçã
outra forma de representatividade dos Xukuru, pois alegam que esta se-
Já a autoridade caris
ria uma manobra para promover a entrada de grupos econômicos e polí-
voção afetiva e pessoal do
ticos na terra indígena, que estariam oferecendo vantagens particulares
graça (carisma). Compree
aos membros opositores (um dos exemplos por eles citados é de que a em-
de heroísmo, poder ment
preiteira responsável pela construção da estrada Cimbres-Guarda seria de
aqui tomado dentro das
uma das principais lideranças da facção de Cimbres e de que o mesmo se
mento que este carisma te
utiliza de recursos da Prefeitura de Pesqueira para estabelecer relações de
apoio aos seus projetos) e negligenciando o caráter daquelas terras tradi- Em relação a esta ú
cionalmente ocupadas pelos Xukuru, que correspondem a uma categoria “o costume tradicional d
jurídica que não permite que sejam exploradas à revelia do próprio grupo na legalidade formal, a q
indígena e da União Federal. Além disso, estariam indo de encontro às hábito”(1967, 25). No cas
formas tradicionais dos Xukuru se organizarem ao menos quando for eli
estrutura de autoridade te
Partimos, no entanto, do pressuposto que os argumentos que po-
o carisma não é extinto de
dem esclarecer sobre a legitimidade das lideranças xukurus se encontram
forma, transferida para os
numa discussão que vai além das acusações bilaterais e estão presentes na
na é verificada através dos
análise sócio-organizativa do grupo que vem sendo construída historica-
mente.
1. Inc
dos pr
TRADIÇÃO E LIDERANÇA
carism
Estes
A referência sociológica para a temática da liderança tem sido o tra-
atribu
balho de Max Weber intitulado “Os três aspectos da autoridade legítima”
68
“Plantaram” Xicão
stão voltados para as de- (1967). Na sua perspectiva, Weber apresenta características diferentes
entrado na área indígena para cada tipo de autoridade: (a) legal, (b) tradicional e (c) carismática.
derança hegemônica. Esta A autoridade legal seria baseada na promulgação; segundo a idéia
kuru, é composta por: básica, as leis podem ser promulgadas e regulamentadas livremente por
procedimentos formais. A obediência não é devida a alguém pessoalmen-
te, mas a regras e regulamentos legais, que preceituam a quem e a que
regra se deve obedecer.
A segunda, a autoridade tradicional, baseia-se na crença da santida-
de da ordem social e de suas prerrogativas, existentes desde tempos pas-
sados; o conjunto político baseia-se em relações comunais e o indivíduo
membros indicados pelo no comando é o “senhor”, que exerce domínio sobre os “súditos” obedien-
o. tes. Todos obedecem diretamente ao “senhor” desde que sua dignidade
seja consagrada pela tradição. As relações entre o “staff ” administrativo
são controladas pela lealdade pessoal do serventuário fiel e não pela obri-
de de que seja criada uma gação funcional em relação ao cargo ou à disciplina.
, pois alegam que esta se-
Já a autoridade carismática, ainda segundo Weber, baseia-se na de-
grupos econômicos e polí-
voção afetiva e pessoal dos seguidores do “senhor” e nas dádivas de sua
do vantagens particulares
graça (carisma). Compreendem habilidades mágicas especiais, revelações
eles citados é de que a em-
de heroísmo, poder mental e de locução.Vale ressaltar que o carisma é
Cimbres-Guarda seria de
aqui tomado dentro das ciências sociais e está vinculado ao reconheci-
bres e de que o mesmo se
mento que este carisma tem.
ara estabelecer relações de
áter daquelas terras tradi- Em relação a esta última categoria, o autor ainda acrescenta que
spondem a uma categoria “o costume tradicional do “prestígio” (carisma) funde-se com a crença
à revelia do próprio grupo na legalidade formal, a qual, em última análise, também constitui um
riam indo de encontro às hábito”(1967, 25). No caso de sua existência continuada, adverte Weber,
m ao menos quando for eliminado o representante pessoal do carisma, a
estrutura de autoridade tende a entrar na rotina, e isto acontece quando
e os argumentos que po-
o carisma não é extinto de uma só vez, mas continua a existir de alguma
ças xukurus se encontram
forma, transferida para os sucessores a autoridade do “senhor”. Essa roti-
terais e estão presentes na
na é verificada através dos seguintes processos:
endo construída historica-
69
XUKURU DO ORORUBÁ
70
“Plantaram” Xicão
7) de autoria dos professo- O primeiro cabeção daqui, cacique, irmão do finado Ro-
currículo diferenciado da mão da Hora, do Brejinho; era chamado mesmo de caci-
acique para eles: que; era cacique na região toda, do começo ao fim, mas
também tinha as lideranças das Aldeias, todo trecho tem
ndígenas de várias aldeias. uma liderança [...] Depois foi Jardilino Pereira de Araújo;
dência, escolhida pelo Pajé faz poucos anos.[...] Jardelino morreu e ficou Antero e aí
é quem procura os recur- botamo Zé Pereira, sobrinho de Antero (primo de Toinho
enas, ele tem que ser uma Pereira.” (Gercino Balbino da Silva, 07/11/01)
utar pelos direitos do povo
corrigi-lo. Todos os índios Sobre como se dá a escolha do cacique, respondeu:
que como se fosse um pai.
comunidades e conduz a
Não é nós quem escolhe o cacique é a natureza; nossos
ma autoridade muito im-
caciques que têm entrado aqui, que tem permanecido
ios, mas também para os
aqui dentro não é nós que tira; quer dizer por uma parte,
por outra é nós e não é. Quem bota o cacique e coloca ele
ável pela organização da é a natureza. Nós tem a nossa separação, fazemos a reu-
. Para o nosso povo, ele é nião para cacique, então, a natureza fala quem é quem
é o mesmo quem coman- não é, às vezes porque nós também temos nossa experi-
71
XUKURU DO ORORUBÁ
ência e nossa ciência, nós mais ou menos já sabe quem é. Mesmo considerand
E quando no dia de apresentar o cacique, nós já está sa- nas categorias apresentad
bendo. Precisa de que nós faz a reunião e vamo colocando a toda sociedade, suas pre
e vamo representando e vamo levando ele, levando ele os valores que estão na ba
até quando ele chega ao ponto de cacique. O material até então
cique Francisco de Assis A
A participação nesse processo de escolha do cacique, se dá através - tem um papel marcante
dos índios mais velhos, especificamente, aqueles que têm a “ciência”. So- à liderança dos Xukuru fo
bre quem seriam essas pessoas, foi esclarecido: anteriores. Os critérios pre
da “ciência” da natureza,
índios mais velhos, mais
Aqui tem muito pouco, quer dizer tem pouco porque capacidade de entremear
os mais velhos morreram. Tem o pajé, Zequinha; o pajé tados, os espíritos dos ant
aponta [o novo cacique] e nós faz carreira com ele, des- de sua “formação até qua
viando, apontando, explicando, dando as explicações, ou seja, à maturidade ne
como faz, como não faz, explicando a ele direitinho [o como representante, mas
indicado] até ele chegar ao normal; chegou ao normal, aí comunidade.
tem uma festa, dia da representação dele.[...]
Destacamos a figura
Foi assim que Marquinhos foi eleito. O finado Chicão di-
morte, fica claro que a au
zia: ‘eu sei que eu vou um dia, não sei qual o dia que eu
muito próxima ao modelo
vou, mas eu sei que vou, mas quando eu me for que vocês
a se fundir com aquela de
me aplantarem, eu vou nascer e quando eu nascer, quan-
do eu nascer, eu entrego para vocês’; a gente já entendia Os caciques anterior
mais ou menos quem era que queria ser que ele ficasse morreram de “morte nat
como cacique. comunidade.
Exceção é o caso de Z
posto por não correspond
E continua: das reivindicações pela reg
A definição do suce
O cacique de dentro da aldeia, ele não é botado co como mente conturbado para o
a gente pega uma pedra daqui e bota ali não, é não. A Marquinhos, atual caciqu
gente tem que fazer a escolha pra ver e pedir licença a da nova liderança contem
rainha da natureza, se dá ou não dá ou se pode conseguir os riscos diante da socied
ou não pode, se ela liberar, ela [...] nosso antepassados, por Weber, a qual nos ref
nós bota ele; Também, se não der licença, ninguém bota, foi extinto de uma só vez,
porque não pode, tem que fazer o que a natureza manda. cão tornou-se uma figura
simbólico xukuru.
72
“Plantaram” Xicão
73
XUKURU DO ORORUBÁ
Dona Marcionila, que, devido a sua idade avançada, não sai muito A cren
de sua residência na aldeia Caldeirão expressa bem esse sentimento dos funda
Xukuru ao afirmar que um dos seus desejos antes de morrer é “espiar o ticular
túmulo do Chicão”. Como
Seu túmulo, na Pedra d’Água, veio a reforçar o caráter sagrado aquele
daquela localidade, assim como veio a enfatizar o que poderíamos até no ‘ha
chamar do “encantamento” do seu líder assassinado; processo pelo qual virtud
passou a constituir uma entidade espiritual que veio a compor o conjunto uma c
dos ancestrais que tinham “ciência” e que continuam, mesmo num outro que est
plano de existência, a orientar, ditar e aconselhar a vida dos encarnados. comun
nidad
Mesmo antes de sua morte, ele mesmo colocava que quando che-
gasse o seu dia , ele seria “plantado” e quando estivesse na hora certa,
transmitiria as direções necessárias na conformação do seu sucessor. OS PONTOS DE T
Desta forma, seu filho, o Marquinhos, foi escolhido como liderança
tendo como base o arcabouço do simbolismo da tradição xukuru, através 1. Liderança: legiti
do qual, se tenta assegurar o caráter tradicional-carismático da autorida-
de instaurada por Chicão, transmitida simbolicamente a ele pelo cocar Obviamente, as tens
que passou a usar a partir do dia 06 de janeiro de 2000, quando , durante ranças não podem ser ne
a festa de Reis na Pedra D’Água, foi apresentado como cacique Xukuru. grande preocupação dos í
Este cocar foi um presente recebido por Chicão em uma de suas viagens de antigas práticas religio
visando articulações com os movimentos indígenas nacionais e passou a o uso de alguns adereços r
ser um emblema de sua autoridade austera. sígnias da identidade xuk
Conforme várias passagens deste trabalho, argumentamos que a a flauta (o mibim) como o
constituição do campo intersocietário se dá no processo de (re)elaboração durante o toré.
e (re)reconstrução histórica dos grupos sociais. Assim, ao lidarmos com Segundo alguns rela
a categoria de liderança tradicional-carismática estamos entendendo a e com muita facilidade in
mesma como diretamente vinculada aos processos políticos vivenciados penas, hoje já amplament
e, portanto, longe de ser percebida como atributo primordial8. bém apresentam a preocu
Tal perspectiva já fica explícita quando Weber apresenta a possibi- ais, que consideram estar
lidade de alteração que o significado do “carisma” pode sofrer e é ainda namoros durante a sua pr
reforçada quando ele articula, em sua obra, as idéia de comunidades polí- Tais situações de con
ticas e comunidades étnicas, conforme apresentamos abaixo: um grupo indígena tem s
os Xukuru, por um proc
cujos desdobramentos se d
8. Em item a seguir, utilizamos a abordagem do italiano Alberto Melucci que associa a constitui-
ção de lideranças às ‘ações coletivas’, no sentido de nos distanciarmos do caráter naturalizado e No caso Kambiwá/P
primordialista das autoridades. por Barbosa (2001), tal d
74
“Plantaram” Xicão
e avançada, não sai muito A crença na afinidade de origem – seja esta objetivamente
bem esse sentimento dos fundada ou não – pode ter conseqüências importantes, par-
ntes de morrer é “espiar o ticularmente para a formação de comunidades políticas.
Como não se trata de clãs, chamaremos de ‘grupos étnicos’
eforçar o caráter sagrado aqueles grupos humanos que, em virtude de semelhanças
ar o que poderíamos até no ‘habitus externo ou nos costumes, ou em ambos, ou em
inado; processo pelo qual virtude de lembranças de colonização e migração, nutrem
veio a compor o conjunto uma crença subjetiva na procedência comum, de tal modo
nuam, mesmo num outro que esta se torna importante para a propagação de relações
ar a vida dos encarnados. comunitárias, sendo indiferente se existe ou não uma comu-
nidade de sangue efetiva. (2000: 270)
olocava que quando che-
o estivesse na hora certa,
ação do seu sucessor. OS PONTOS DE TENSÃO
escolhido como liderança
a tradição xukuru, através 1. Liderança: legitimidade e faccionalismo
l-carismático da autorida-
icamente a ele pelo cocar Obviamente, as tensões latentes no campo da legitimação das lide-
e 2000, quando , durante ranças não podem ser negligenciadas, principalmente, porque há uma
do como cacique Xukuru. grande preocupação dos índios mais velhos em garantir a sobrevivência
o em uma de suas viagens de antigas práticas religiosas, como a prática do toré nas pedras sagradas,
genas nacionais e passou a o uso de alguns adereços ritualísticos que também exercem o papel de in-
sígnias da identidade xukuru, como a “barretina”, a “farda” ( ver foto ), e
ho, argumentamos que a a flauta (o mibim) como o principal instrumento para “puxar”os toantes
processo de (re)elaboração durante o toré.
Assim, ao lidarmos com Segundo alguns relatos, “os mais jovens” não têm essa preo-cupação
ca estamos entendendo a e com muita facilidade incorporam elementos externos, como cocares de
ssos políticos vivenciados penas, hoje já amplamente em uso entre os Xukuru. Os mais velhos tam-
uto primordial8. bém apresentam a preocupação em garantir o clima de respeito dos ritu-
Weber apresenta a possibi- ais, que consideram estar sendo banalizados ao permitir “brincadeiras” e
ma” pode sofrer e é ainda namoros durante a sua prática.
déia de comunidades polí- Tais situações de confronto entre concepções de cultura dentro de
tamos abaixo: um grupo indígena tem se dado em outras sociedades que passam, como
os Xukuru, por um processo de reafirmação de suas fronteiras étnicas,
cujos desdobramentos se dão das mais diferentes formas.
to Melucci que associa a constitui-
ciarmos do caráter naturalizado e No caso Kambiwá/Pipipã, por exemplo, detalhadamente descrito
por Barbosa (2001), tal desdobramento se deu no sentido de uma cisão
75
XUKURU DO ORORUBÁ
entre duas partes do referido grupo que aconteceu depois de uma série de Comissão Interna, esta úl
eventos incluindo a participação da própria FUNAI. Neste caso, além do cique e pelo pajé), assim t
reconhecimento por uma identidade diferenciada, está também presente posto pelo seu vice-caciqu
o pleito pela regularização de uma área, a Serra Negra, onde realizam na sede da FUNAI em Re
seus rituais religiosos e que não foi incorporada no território. A cisão, no suas terras.
entanto, mesmo considerando todos os discursos que problematizam esse Porém, afirma que “
desfecho para os Kambiwá/Pipipã, assegurou por parte dos dois segmen- tro mesmo, não tem divi
tos o reconhecimento mútuo de suas lideranças; a cisão significou a ins- continua:
tauração não apenas de uma nova ordem política e de poder, mas de um
“embate de culturas” em que a disputa se dá por diferentes concepções do
que seria cada “cultura”. “[...]
divisão
No caso dos Xukuru, o que se pode perceber é que a discussão so-
disso n
bre o problema da sua cultura “tradicional”- que se dá entre diferentes
toré lá
gerações dos índios e não entre áreas geográficas da TI-, problemática
divisão
esta já identificada em períodos de pesquisa anteriores com os Xukuru,
está sendo utilizada, em parte, por indivíduos que pleiteiam o reconhe-
cimento dos “Xukuru de Cimbres” como um grupo à parte, no sentido Seu Severino Joaqui
de se tentar legitimar uma possível divisão; porém, os outros argumentos afirma que lá “É um povo
apresentam uma disputa de poder interno que também indicam as ar- não tem como haver conc
ticulação e interesses presentes nessa situação, que são de outra ordem. Outra questão intere
Nas entrevistas realizadas em várias localidades, pudemos muitas da com a forma que receb
vezes identificar pontos de preocupação, seja porque o cacique xukuru já apontamos anteriorme
atual ainda está passando pelo processo de amadurecimento de sua au- agências, como vimos trat
toridade, porém já previsto pela forma como tem se dado a escolha dessa FUNAI, Igreja, etc se dá n
liderança, seja pelo anúncio da “nomeação” de um outro cacique xukuru. rio em questão (OLIVEIR
O interessante é notar que mesmo no discurso das duas partes em e sobrinho de seu sucessor
conflito está presente a idéia de unidade do grupo. pelo chefe de posto daqu
1974 e 1983), para ir a um
O cacique que antecedeu a Chicão, José Pereira (58 anos), mora-
partir deste momento assu
dor da aldeia Canabrava9, localizada no lado oposto à Vila de Cimbres,
apresentou suas queixas em relação à falta de destinação de recursos para Seu Gercino, sobre o
a sua aldeia, alegando que outras núcleos populacionais estavam sendo
priorizados de acordo com a indicação das lideranças atuais (cacique e a Hoje,
deia n
9. A aldeia Canabrava é um importante foco da identidade xukuru. Além de ser uma das aldeias o negó
mais populosas,antes da reapropriação da Pedra D’Água, as decisões políticas se concentravam um oc
ali. Até nos dia atuais mora em Canabrava o pai de Chicão, Cícero Pereira, e o pajé xukuru, seu
Zequinha. pode s
76
“Plantaram” Xicão
ceu depois de uma série de Comissão Interna, esta última formada por 12 índios indicados pelo ca-
NAI. Neste caso, além do cique e pelo pajé), assim também como em relação à maneira que foi de-
da, está também presente posto pelo seu vice-cacique, o Chicão, depois de ter feito várias incursões
rra Negra, onde realizam na sede da FUNAI em Recife e em Brasília para exigir a regularização de
a no território. A cisão, no suas terras.
os que problematizam esse Porém, afirma que “dividir a aldeia, é índio com índio daqui de den-
or parte dos dois segmen- tro mesmo, não tem divisão não, a gente anda de uma para outra”. E
s; a cisão significou a ins- continua:
ca e de poder, mas de um
r diferentes concepções do
“[...] eles [o grupo que propõe a divisão] falaram dessa
divisão de Courodantas para lá, mas nunca me lembrei
eber é que a discussão so-
disso não, meus avô nunca contou isso não e dançava o
que se dá entre diferentes
toré lá na Vila de Cimbres os daqui e nunca teve essa
cas da TI-, problemática
divisão não, tá falando nisso agora”.
nteriores com os Xukuru,
que pleiteiam o reconhe-
grupo à parte, no sentido Seu Severino Joaquim Neto, morador da Vila de Cimbres também
ém, os outros argumentos afirma que lá “É um povo só, foi tudo criado junto”, apesar de achar que
e também indicam as ar- não tem como haver conciliação entre os grupos divergentes.
que são de outra ordem. Outra questão interessante apresentada por Zé Pereira é a relaciona-
lidades, pudemos muitas da com a forma que recebeu o cargo de cacique e que vem reforçar o que
porque o cacique xukuru já apontamos anteriormente, que a presença e a ação de instituições, ou
madurecimento de sua au- agências, como vimos tratando dentro da literatura antropológica, como
m se dado a escolha dessa FUNAI, Igreja, etc se dá nas mais diversas esferas do campo intersocietá-
um outro cacique xukuru. rio em questão (OLIVEIRA, 1988). Como neto.do antigo cacique Antero
curso das duas partes em e sobrinho de seu sucessor, o Jardelino, foi convidado (após a morte do tio)
po. pelo chefe de posto daquela ocasião, Geraldo Vieira (que lá atuou entre
1974 e 1983), para ir a uma reunião indígena em Palmeiras dos Índios e a
Pereira (58 anos), mora-
partir deste momento assumiu o papel de cacique dos Xukuru .
oposto à Vila de Cimbres,
estinação de recursos para Seu Gercino, sobre o assunto afirmou:
ulacionais estavam sendo
ranças atuais (cacique e a Hoje, já estou velho, mas nunca vi dois caciques em al-
deia nenhuma... O petrificado é o cacique é o verdadeiro;
ukuru. Além de ser uma das aldeias o negócio de vice-cacique é que às vezes o cacique está
ecisões políticas se concentravam um ocupado muito grande, aí tem o outro.O cacique não
cero Pereira, e o pajé xukuru, seu
pode sair no dia que ele quer. [...] Não existia divisão en-
77
XUKURU DO ORORUBÁ
78
“Plantaram” Xicão
Ouvia os mais velhos con- A questão em si não é a existência das divergências, mas como as
a aldeia que for, mas não agências “de contato”10 oficiais e não-oficiais se utilizam conveniente-
ser uma cacique só. mente delas para conduzir suas ações.
As decorrências dessa prática no Nordeste já atingiram tamanha
palmente no que tange às dimensão que o faccionalismo já foi objeto de discussão de um workshop
nos grupo indígenas, com promovido pela FUNAI em 1988, cuja publicação resultante nos fornece
ncia de divergências inter- importantes abordagens.
unidade, o que coincidiria Adolfo Neves, por exemplo, cujo trabalho sobre os Xukuru-Kariri
r: comunidades indígenas está presente nessa coletânea, afirma que:
se aproximando do “bom
O termo faccionalismo, tal como tem sido usado pelos órgãos
mo “comunidade”, Hans públicos afetos à questão indígena no país, engloba várias
e diferentes práticas, sendo o delineamento das especificida-
des de cada uma necessário ao trato da questão. Acredito
americano, ‘comunidade’ que o caráter faccional do faccionalismo indígena, tal como
por Robert Bellah e seu entendido pela FUNAI, é construído muitas vezes com seu
po de palavra muito espe- próprio concurso, dotando os grupos envolvidos no mesmo
e bom.’Termos como ‘fac- – ou alguns deles – de possibilidades de atuação e de sig-
estilo de vida’são usados nificados que são passíveis de apropriação e conversão em
utores tendem a negar os cacife político por parte destes grupos, alterando seu poder
ade’... p. 95 de barganha e persuasão tanto em nível da dinâmica de
suas relações internas quanto ante o próprio órgão indige-
nista, que contribuiu originalmente para a geração de tais
os que o que parece à pri- possibilidades e significados. (2000: 99)
já ressaltou, é, na verda-
lização (1983, 128). Pre-
HO, 1998), dar ao campo Consideramos que este é o ponto mais delicado da questão, pois os
e lhe cabe, reconhecendo principais problemas decorrentes que tomamos conhecimento do caso
e sua capacidade de inter- Xukuru dizem respeito à atuação do poder local, e suas articulações com
essidades. Nesses campos, as esferas de poder regional e nacional, e dos procedimentos administrati-
cujo equilíbrio atual está vos adotados pelo próprio órgão indigenista.
ente chamar de desajusta- Devido às práticas tutelares desenvolvidas historicamente junto aos
grupos indígenas, documentos emitidos pelos representantes do órgão
10. Por agências de contato entendemos todas as instituições que estão presentes no campo
intersocietário e, por conseguinte, interagindo com os Xukuru.
79
XUKURU DO ORORUBÁ
80
“Plantaram” Xicão
e ressemantizados, adqui- Esta percepção de autoridade foi também emitida quando realiza-
eu (1989) denominou de mos entrevista na Vila de Cimbres com um dos membros do grupo dis-
exercido por um discurso sidente.
ribuição legitimada pelas Seu Severino Joaquim Neto, também conhecido como “Boião”, que
do das divisões e da visão apóia a divisão dos Xukuru, faz muitas queixas em relação ao grupo opos-
nte aqueles reconhecidos to, desde que atualmente se vê linhas de xangô e maracá nas festas da
rmas nas lutas simbólicas Vila, que antes, segundo ele, não existia, assim como a forma através da
qual, o Chicão assumiu o papel de cacique.
Pesqueira acompanhando Dizendo-se “escanteado”, pois afirma ter acompanhado o início das
em reunião em Recife, na reivindicações pela regularização fundiária e após a posse de Chicão não
Pernambuco, observamos teve mais espaço, afirma:
nos momentos críticos do
mente interpretados para
demos citar o documento Fui eu que arrumei a demarcação junto com eles; com
orizava o chefe de posto a o filho, não é tão mal, só que ele colocou muito repre-
o fato do índio que lidera sentante. [...] Não tenho o que dizer dele, ele está sendo
nomeado pela Prefeitura manipulado pelos representantes todinhos [...] Chicão
a “secretaria especial para era uma pessoa boa, os representantes é que vão dizer
almente, uma medida ad- as coisas.
egião, acaba constituindo
primeiro documento foi Seu Severino também afirmou que o “outro grupo” tem tido atitu-
da facção que tenta se fir- des não aceitas por ele, como, por exemplo, ir de encontro às orientações
do pároco de Cimbres durante as realizações da missa e criticar a ação da
a discussão em torno da Prefeitura de Pesqueira em Cimbres. Sobre isso ele acrescenta: “Na Igreja
, vai atestar a identidade manda o padre; índio nunca se meteu contra prefeito aqui”. Esse caráter
conceder a “aposentado- de autoridade legal que chamamos atenção no momento, fica bem explí-
o momento, sem a análise cita, quando este entrevistado se refere ao cacique como “federal”, sem
ter um fim além daquele estar necessariamente relacionado às características tradicional-carismá-
ticas apresentadas anteriormente.
na a possibilidade de asse-
e Weber, como já colocado 2. Projetos
gal”, aquela regulamenta-
diência não à alguém pes- Como já colocado no início desse relatório, o conflito foi deflagra-
que preceituam a quem e do com a possibilidade de estabelecimento de um projeto na região das
aldeias Cimbres e Guarda e na acusação de que os recursos advindos de
diversas fontes estavam sendo desviados para priorizar as áreas da circun-
vizinhança do local de moradia do cacique até então legitimado.
81
XUKURU DO ORORUBÁ
82
“Plantaram” Xicão
83
XUKURU DO ORORUBÁ
disputas, em que a domínio territorial dos índios significa um obstáculo Cimbres à atividade turís
para as relações de poder político e econômico presentes no município centivos à adaptação das
de Pesqueira e a atuação das agências nesse complexo vem a destacar a hospedagem de natureza
complexidade da questão. No texto dessa prop
A análise realizada por Secundino para o caso Fulni-ô, é muito per- tão que merece cuidados
tinente para a questão aqui tratada ao afirmar que mos para a instalação do
do projeto e a necessidad
sociais e culturais daquela
o campo instaurado pelo processo de faccionalismo é gerado
por conflitos e disputas que produzem lideranças as quais É muito importante
vão desempenhar o papel de mediadores com diversos agen- síveis benefícios para a po
tes e pólos institucionais e intermediação de bens e serviços, Guarda, localizada muito
bem como de forças políticas através de arremate de votos. genciada. A situação dos
(2000, 106) um quadro de saúde basta
baixa visão e doenças men
para tratar a questão.
No caso Xukuru, tem ficado muito explícita a disputa pelo poder
Essa afirmação se dá
de “administrar” os recursos que chegam na área, assim também como
autoria e intitulado “As Fr
indicam a preocupação com a manutenção das relações que defendem
resultante de dissertação
posições, no mínimo, problemáticas para os Xukuru, como é o caso da
que, já naquele momento
ampliação do Santuário de Nossa Senhora das Graças.
implantação do projeto de
No próprio projeto apresentado pela Agência de Desenvolvimento Graças. Um de seus trech
Econômico de Pernambuco S.A., datado de junho de 1998, para a conso- José, pároco de Cimbres n
lidação do município de Pesqueira como pólo turístico através da estru- da referida ampliação, den
turação do Santuário, está presente a necessidade de adoção das seguintes da Área e da Infra-estrutu
providências: propostas para garantir o
colhimento” do santuário
[...] obtenção de consenso sobre interesses existentes na outro local. Segundo ele:
região, relativos à questão fundiária na área e à sua explo-
ração; definição das providências necessárias à legislação [...]no
da área, com propriedade e posse definidas; realização lizada
de um projeto amplo e detalhado para a implantação do tempos
Santuário, que considere os aspectos físicos, sociais, am- ra são
bientais e culturais ( grifos nossos). verdad
viciad
do esm
O documento ainda apresenta a necessidade de definir medidas Eles p
emergentes voltadas para, entre outras coisas, “adequação da Vila de para e
84
“Plantaram” Xicão
85
XUKURU DO ORORUBÁ
Nos dias atuais, a interferência deste pároco na Vila de Cimbres é era peq
assim percebida pelos índios: gente d
ferente
contra
O que acabou com tradição porque chegou um padre aqui e ele é
em Cim
muito abusado; o pessoal ia para a igreja rezar o terço e ele não
conta
queria (...); festa, ele não queria que fizesse festa, só a procissão
opiniõ
de Nossa Senhora, no São João só fazia uma fogueirinha e pron-
to, não podia dançar o toré, num podia fazer nada, nada mesmo Aqui n
e começou a ficar tudo embatucado, desgostou o pessoal daqui. consid
(Maria de Romão, 12/11/2001) dar as
de idéi
acredi
Não é nosso objetivo constatar ou não as denúncias levantadas pelo índios
grupo dos Xukuru que estiveram presentes na sede do Ministério Público [...] Te
em outubro de 2001 solicitando providências e se apresentando como (18/04
outras lideranças dos Xukuru, até mesmo porque foi constituída uma
equipe técnica com essa finalidade. Porém, ressaltamos que o primeiro
passo para se lidar com a questão dessa disputa é não polarizá-la e sim Ainda segundo Exp
inserir no contexto a responsabilidade das diversas agências envolvidas. ao santuário e ao turismo
também aconteceu, consi
atitude no sentido de regu
3. Ocupação territorial
A problemática sobr
identificação e delimitaçã
A localidade denominada Cajueiro sempre foi objeto de preocu- tava os problemas decorre
pação, por ter sempre ficado claro que parte de sua população não se famílias já haviam estabe
considera indígena, apesar de muitas famílias da aldeia Guarda terem se de parentesco com os Xu
transferido para lá. Atualmente, sua população está bastante misturada e com mais calma as ações
sabemos que o processo de afirmação da identidade indígena está direta- que negam sua identidade
mente relacionada à mobilização do grupo pa atingir algum fim político
e ou de garantia de bens. A proposta para “sep
está, segundo pudemos p
No ano de 2000, enquanto acompanhávamos o GT de atua-lização bros de Cimbres e Cajueiro
da benfeitorias da área emergencial, conversarmos com Expedito Cabral, no, localizada na Vila de C
Biá, considerando que foi um projeto dele, enquanto vereador em Pes- xukuru.
queira que transformou Cajueiro num povoado em 1982.
De acordo com ou
Segundo o levantamento feito por Biá em 2000, no Cajueiro exis- 2000 – por exemplo), é c
tiam cerca de 170 famílias e relatou que quando conheceu Cajueiro já de regularização fundiária
havia a casa da Fábrica Peixe; ocupação dos índios, que
ções divergentes.
86
“Plantaram” Xicão
oco na Vila de Cimbres é era pequeno e foi crescendo; tem uma família diferente da
gente daqui, aparece que vieram famílias de fora, são di-
ferentes não só da questão da pele, como de opiniões; são do
contra, eles se consideram assim; tudo que a gente faz aqui
chegou um padre aqui e ele é
em Cimbres, não é possível fazer com eles, porque ali a gente
igreja rezar o terço e ele não
conta com a minoria de 10%, o resto fica toda contra as
ue fizesse festa, só a procissão
opiniões dos índios.
azia uma fogueirinha e pron-
odia fazer nada, nada mesmo Aqui na Vila a gente tem a grande maioria, 90% índio,
o, desgostou o pessoal daqui. considerados e assumidos; nem por isso a agente deixa de
) dar assistência lá” [...]; é meio complicado; ou eles mudam
de idéia ou tem que se tomar outra medida; o que eu não
acredito que vai ficar é uma grupinho europeu no meio dos
denúncias levantadas pelo índios.[...] Ali era um ponto de apoio da Fábrica Peixe.
ede do Ministério Público [...] Tem famílias Xukuru lá, assumidos, e que moram lá.
e se apresentando como (18/04/2000)
rque foi constituída uma
ssaltamos que o primeiro
ta é não polarizá-la e sim Ainda segundo Expedito, o crescimento de Cajueiro se deu devido
sas agências envolvidas. ao santuário e ao turismo religioso, principalmente nos últimos dez anos;
também aconteceu, considerando que o Governo Federal não tomou um
atitude no sentido de regularizar as terras.
A problemática sobre Cajueiro não é recente, durante o trabalho de
identificação e delimitação em 1989, Chicão, que era o cacique, já levan-
pre foi objeto de preocu- tava os problemas decorrentes daquela localidade e afirmava que muitas
de sua população não se famílias já haviam estabelecido, ou eram mesmo originárias de relações
da aldeia Guarda terem se de parentesco com os Xukuru e que, portanto, deveriam ser estudado
está bastante misturada e com mais calma as ações para que fossem retiradas somente as famílias
dade indígena está direta- que negam sua identidade indígena e não são reconhecidas como tal.
atingir algum fim político
A proposta para “separação” dos Xukuru que motivou este parecer,
está, segundo pudemos perceber, baseada numa articulação entre mem-
mos o GT de atua-lização bros de Cimbres e Cajueiro objetivando a ocupação da fazenda São Severi-
mos com Expedito Cabral, no, localizada na Vila de Cimbres e onde está também o antigo cemitério
quanto vereador em Pes- xukuru.
em 1982.
De acordo com outras referências bibliográficas (BRASILEIRO,
m 2000, no Cajueiro exis- 2000 – por exemplo), é comum, em momentos como esse do processo
ndo conheceu Cajueiro já de regularização fundiária quando as terras começam a ser liberadas para
ocupação dos índios, que partes de um mesmo grupo apresentem posi-
ções divergentes.
87
XUKURU DO ORORUBÁ
88
“Plantaram” Xicão
89
XUKURU DO ORORUBÁ
território, devido, principalmente, ao significado que sua terra tem como ogy, development and modern
um todo, no plano religioso e organizativo do grupo e ao intenso fluxo lence. London, Routledge,
dos índios entre as 23 aldeias existentes.
ATLAS das Terras Indígen
Considerando a dinamicidade dos processos sociais e a inten-sidade UFRJ, 1993.
dos fluxos no campo intersocietário em questão, não há como se afirmar
ou como delimitar o que seriam características originalmente xukurus BARBOSA, Wallace. Os
e aquelas estabelecidas externamente pelas agências presentes; tal afir- Étnica”. Dissertação de M
mação constituiria um equívoco teórico e metodológico ao se tratar esta Belas Artes da Universida
problemática. Mas é possível perceber que as autoridades social e histori-
camente constituídas pelos xukuru têm correspondido ao seu caráter tra- BRASILEIRO, Sheila. “P
dicional-carismático e que vem assumindo o estatuto de autoridade legal. quista territorial e faccion
gem da volta: etnicidade, po
Rio de Janeiro, Contra Ca
SUGESTÕES DE ENCAMINHAMENTOS:
BRASILEIRO, Sheila; FE
Propor a constituição de uma comissão xukuru formada por inte- Xukuru. Recife, ANAI, 19
grantes de todas as aldeias no sentido de formular um planejamento de COSTA, F. Pereira da.Ana
ocupação das áreas (imóveis) a serem liberados; trimônio Histórico e Artís
Realização de uma conferência sobre o desenvolvimento na Terra
Indígena Xukuru, em que possam ser apresentados e discutidos (entre ín- ELIADE, Mircea . O sagra
dios e representantes das diversas organizações – governamentais e não- 1996.
-governamentais – envolvidas) todos os projetos que estão sendo imple- FIALHO, Vânia. As fronte
mentados junto a esse grupo e as agências responsáveis por eles. Através
desse evento, poderia se explicitar os objetivos dos projetos, seus critérios GLUCKMAN, Max. Aná
e metodologias, os recursos alocados, as formas de gerenciamento dos derna. In: FELDMAN-B
mesmos e a participação e a responsabilidade das instituições envolvidas. temporâneas. São Paulo, Gl
HOHENTAL, N.D. Not
Recife, 15 de março de 2002 Pernambuco, Brasil. Revist
Vânia R. Fialho de Paiva e Souza
UPE/ANAI JOAS, Hans. “O comunit
Jessé (org.).Democracia hoj
rânea. Brasília, Editora da
REFERÊNCIAS
MACIEL, José de Almeid
ARCE, Alberto & LONG, Norman. Reconfiguring modernity and de- Companhia Editora de Pe
velopment from anthropological perspective. In: ________.Anthropol-
MELUCCI, Alberto. Chal
Cambridge, UK, Cambri
90
“Plantaram” Xicão
do que sua terra tem como ogy, development and modernities: explory discourses, counter-tendencies abd vio-
grupo e ao intenso fluxo lence. London, Routledge, 2000.
ATLAS das Terras Indígenas do Nordeste. PETI/PPGAS/Museu Nacional/
os sociais e a inten-sidade UFRJ, 1993.
o, não há como se afirmar
as originalmente xukurus BARBOSA, Wallace. Os Índios Kambiwá de Pernambuco: Arte e Identidade
ências presentes; tal afir- Étnica”. Dissertação de Mestrado em Antropologia da Arte, Escola de
odológico ao se tratar esta Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1991.
utoridades social e histori-
ondido ao seu caráter tra- BRASILEIRO, Sheila. “Povo Indígena Kiriri: emergência étnica, con-
atuto de autoridade legal. quista territorial e faccionalismo”. In: OLIVEIRA, João Pacheco. A via-
gem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no nordeste indígena.
Rio de Janeiro, Contra Capa, 1999.
TOS:
BRASILEIRO, Sheila; FERREIRA, Ivson; FIALHO, Vânia. Dossiê Chicão
xukuru formada por inte- Xukuru. Recife, ANAI, 1998.
ular um planejamento de COSTA, F. Pereira da.Anais Pernambucanos. v.10 Recife, Fundação do Pa-
trimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.
desenvolvimento na Terra
ados e discutidos (entre ín- ELIADE, Mircea . O sagrado e o profano. 3 ed. São Paulo, Martins Fontes,
– governamentais e não- 1996.
os que estão sendo imple- FIALHO, Vânia. As fronteiras do ser Xukuru. Recife, Massanga, 1998.
onsáveis por eles. Através
dos projetos, seus critérios GLUCKMAN, Max. Análise de uma situação social na Zuluândia mo-
as de gerenciamento dos derna. In: FELDMAN-Bianco, Bela (org). Antropologia das sociedades con-
as instituições envolvidas. temporâneas. São Paulo, Globo, 1987.
HOHENTAL, N.D. Notes of the Shucurú indians of Serra de Ararobá,
cife, 15 de março de 2002 Pernambuco, Brasil. Revista do Museu Paulista, 8: 91-166, 1958.
R. Fialho de Paiva e Souza
UPE/ANAI JOAS, Hans. “O comunitarismo: uma perspectiva alemã”. In: SOUZA,
Jessé (org.).Democracia hoje: novos desafios para a teoria democrática contempo-
rânea. Brasília, Editora da UNB, 2001.
MACIEL, José de Almeida. Pesqueira e o antigo termo de Cimbres. Recife,
uring modernity and de- Companhia Editora de Pernambuco, 1980.
In: ________.Anthropol-
MELUCCI, Alberto. Challenging codes: collective action in the information age.
Cambridge, UK, Cambridge University Press, 1996.
91
XUKURU DO ORORUBÁ
92
“Plantaram” Xicão
Luiz Couto
oderes e as Terras dos Índios. Luciano Mariz Maia
ção 14, 1989. Manoel Morais
ração Cultural e Horizon- Vânia Fialho
n ATLAS das Terras Indí-
al/UFRJ, 1993. “Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
lítica e reelaboração cultural Ainda há de haver saída
a, 1999. Nenhuma idéia vale uma vida”.
Titãs. Enquanto houver sol.
Xukuru-kiriri e a atuação
ntônio (org.). Política indi- “Uma vida não vale nada,
I/DEDOC, 2000. mas nada vale uma vida”.
Xakriabá – Laudo Antro- André Malraux
93
XUKURU DO ORORUBÁ
11. Secretaria Especial de Direitos Humanos e CDDPH; Ministério da Justiça; Funai; Departamento
de Polícia Federal e Procuradoria Geral da República (6a Câmara de Coordenação e Revisão – Câmara
dos Índios e Minorias, e PFDC Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão).
12. A Polícia Federal relutou a ingressar na área, só o fazendo por insistência de entidades de 13. Esse pedido é reforçado em v
direitos humanos. cho aberto, opta por manter a des
94
“Plantaram” Xicão
95
XUKURU DO ORORUBÁ
96
“Plantaram” Xicão
da a quebra de diálogo en- 14. Por especial atenção da chefia da PRR 5a, os serviços de secretaria e assessoria do gabinete
de procurador regional puderam funcionar como secretaria ad-hoc da comissão.
io João Campos da Silva,
97
XUKURU DO ORORUBÁ
IIª Parte.
Antecedentes do Conflito.
contextualizando as situações de Violência
98
“Plantaram” Xicão
situações de Violência
99
XUKURU DO ORORUBÁ
100
“Plantaram” Xicão
101
XUKURU DO ORORUBÁ
estratégia de retomar imóveis que consideravam importantes, seja para de tensão, índios e fazend
garantir o controle do seu território, seja para chamar a atenção do poder sentantes do Ministério P
público para dar prosseguimento à regularização fundiária. Diante do question
Em fevereiro de 1991, os Xukuru ocuparam em caráter definitivo a à defasagem dos valores
área da Pedra D’Água, com 110 ha, que estava sob domínio do Ministé- to fundiário de 1989, um
rio da Agricultura. Em 1992, os Xukuru retomaram a Fazenda Caípe e atualização dos mesmos,
em março de 1998, dois meses antes do assassinato de Chicão, ocuparam do Grupo Técnico 193/P
a Fazenda Tionante. Os Xukuru consideram a hipótese do assassinato Indígena Xukuru/PE.
de seu líder ter sido “encomendado” por fazendeiros da região enquanto Inicialmente, os índi
medida “preventiva”, pois a Fazenda Tionante, juntamente com outras
indígena cujos imóveis ele
situadas em pontos limítrofes às áreas hoje ocupadas efetivamente pelos
índios, constituíam alvos privilegiados de possíveis novas ações de reto- Alguns deles devido à pr
mada pelo grupo. o que garantiria a continu
guardar a segurança do g
Nesta mesma época, a rodovia estadual que corta a terra indígena disponíveis para organiza
foi também bloqueada pelos índios que tentavam chamar a atenção das pantes que representavam
autoridades para a morosidade do processo de garantia de seu território,
estagnado já há algum tempo. A continuidade do l
mento das referidas inden
A medida de ocupar algumas áreas prioritárias, como aquela conhe-
cida como da Fábrica Peixe (Fazenda Pitanga) que os Xukuru retomaram não houve nenhuma discu
no início de 2000, estava relacionada ao fato de os fazendeiros continu- diada pela FUNAI, para
arem negociando essas terras com a aprovação do cartório de registro de do seu território. Da mesm
imóveis de Pesqueira que ignora o fato de incidirem em terras indígenas. pequenos ocupantes não í
sendo assistidos pelos prog
Diante dos impasses que vinham se dando na região, foi realizada
em 22/02/2000 uma reunião na Câmara Municipal de Pesqueira, em que Em suma, ao eviden
o Sr. Presidente da FUNAI, Carlos Frederico Marés, juntamente com o alguns anos, que havia um
Ministério Público, estabeleceu o procedimento de indenização dos ocu- região.
pantes não índios da Terra Xukuru, inclusive determinado datas para a
liberação da verba destinada para a extrusão, assim como também como O Nível e as Formas
o valor estimado para cada parcela.
Com o não cumprimento do acordo, as negociações seguintes —
A ocupação de um t
envolvendo os índios, o Ministério Público Federal, FUNAI e Conselho
Indigenista Missionário, que ainda dialogavam — se deram no sentido de um espaço demarcado fisi
discutir o estabelecimento de critérios para as indenizações, considerando à possibilidade de sua exp
que os Xukuru apresentavam uma lista com o nome de sete ocupantes garante a existência e a co
de suas terras, escolhidos a partir da localização dos imóveis e da relação e afins que dão sustentaçã
de belicosidade mantida entre índios e não-índios, independentemente uma sociedade.
do tamanho do imóvel. Os ocupantes não-índios da TI Xukuru também A história dos Xuku
tiveram representantes nos encontros de negociação, mas devido ao clima mesmos em garantir a sua
102
“Plantaram” Xicão
m importantes, seja para de tensão, índios e fazendeiros se reuniam separadamente com os repre-
hamar a atenção do poder sentantes do Ministério Público Federal.
ão fundiária. Diante do questionamento dos ocupantes não-índios em relação
am em caráter definitivo a à defasagem dos valores das benfeitorias apresentados no levantamen-
a sob domínio do Ministé- to fundiário de 1989, uma das necessidades por eles apontadas foi a de
maram a Fazenda Caípe e atualização dos mesmos, pleito que foi contemplado com a instituição
nato de Chicão, ocuparam do Grupo Técnico 193/PRES/2000 de “Avaliação de Imóveis na Terra
a hipótese do assassinato Indígena Xukuru/PE.
deiros da região enquanto
Inicialmente, os índios indicaram sete nomes de ocupantes da terra
e, juntamente com outras
indígena cujos imóveis eles consideravam prioritários para desocupação.
upadas efetivamente pelos
íveis novas ações de reto- Alguns deles devido à proximidade de glebas já ocupadas pelos índios,
o que garantiria a continuidade das áreas, aspecto importante para res-
guardar a segurança do grupo, assim como para a ampliação das terras
que corta a terra indígena disponíveis para organizarem seus roçados. Indicaram também os ocu-
am chamar a atenção das pantes que representavam algum tipo de ameaça para a comunidade.
garantia de seu território,
A continuidade do levantamento dos imóveis incidentes e o paga-
mento das referidas indenizações vêm ocorrendo em fases sucessivas, mas
árias, como aquela conhe-
ue os Xukuru retomaram não houve nenhuma discussão com os Xukuru, que deveria ter sido me-
de os fazendeiros continu- diada pela FUNAI, para constituir um plano de ocupação e de manejo
do cartório de registro de do seu território. Da mesma forma, tem sido negligenciada a presença de
irem em terras indígenas. pequenos ocupantes não índios no território Xukuru, que deveriam estar
sendo assistidos pelos programas de reassentamento do INCRA.
do na região, foi realizada
cipal de Pesqueira, em que Em suma, ao evidenciar esse contexto, já era possível visualizar, há
Marés, juntamente com o alguns anos, que havia uma tendência da violência se intensificar naquela
o de indenização dos ocu- região.
determinado datas para a
ssim como também como O Nível e as Formas de Violência
negociações seguintes —
A ocupação de um território não significa apenas a apropriação de
deral, FUNAI e Conselho
— se deram no sentido de um espaço demarcado fisicamente, relacionado de maneira generalizante
ndenizações, considerando à possibilidade de sua exploração econômica. Trata-se de um espaço que
o nome de sete ocupantes garante a existência e a continuidade de redes de relações consangüíneas
o dos imóveis e da relação e afins que dão sustentação à organização social e produção simbólica de
dios, independentemente uma sociedade.
os da TI Xukuru também A história dos Xukuru é marcada pela expropriação do direito dos
ação, mas devido ao clima mesmos em garantir a sua sobrevivência física e cultural, o que caracteriza-
103
XUKURU DO ORORUBÁ
ria a violência estrutural, ou seja, as estruturas básicas de organização social, Tais questões comple
tal como estabelecidas historicamente no Brasil, não permitiam a garantia locam em evidência que u
de condições mínimas para assegurar a sobrevivência física e cultural das so- desde 1988, ou seja, a supe
ciedades indígenas. De maneira mais incisiva, a violência contra os Xukuru tada na prática das interve
se deu com o assassinato de seus membros e de pessoas a eles relacionadas De maneira mais pon
e teve seu ápice com a morte do cacique Chicão, fato que propiciou uma reiro, é necessário também
fragilização dos mecanismos internos de controle social dos Xukuru. os Xukuru tem vivencian
Durante quase dois anos, a indicação de um novo cacique ficou em Ao falarmos de violê
suspenso. Somente em 2000, quase dois anos após o assassinato de Chi- jetivos da cultura Xukuru
cão, seu filho, Marcos Luidson, assume o cacicado. A partir desse momen- sentimento de inseguranç
to, houve necessidade de uma reestruturação da sociedade Xukuru que
A assassinato do cac
envolvia desde o restabelecimento de alianças internas para a tentativa
morte de seu representant
de consolidação de um poder hegemônico até o aprendizado para lidar
dos Xukuru e de seus dir
com elementos tradicionais da cultura Xukuru, articulação que era bem
carismático que carregava
trabalhada pelo cacique Chicão e produzia a unidade entre as diversas
aldeias e diferentes gerações. O referido período de fragilidade vivido por Nesse contexto, dur
esses indígenas foi particularmente sensível aos efeitos do que denomina- licitada a exumação do seu
mos de violência institucional. se apresentavam como inc
A falta de preparação das várias agências para lidar com a plurali- O período anterior,
dade étnica — o que corresponde afirmar a necessidade de contemplar para a realização da exuma
diferentes lógicas — e a falta de elaboração de uma política indigenista e o evento em si deve ser a
proporcionaram intervenções extremamente danosas no seio das socieda- como um segundo mome
des indígenas. Se por um lado, os representantes das sociedades indígenas vido e atualizados os senti
não são chamados a participar de maneira equânime das negociações e Os registros da exum
decisões que dizem respeito aos seus interesses e destinos, por outro, há parte da comunidade (ad
um completo descompasso entre instâncias diferentes do indigenismo tirada do corpo, mas todo
oficial na condução de ações junto às sociedades indígenas. de seu túmulo na Pedra D
Há necessidade de se voltar para a discussão sobre a constituição religioso para os Xukuru.
e legitimidade de lideranças a partir da discussão das questões expostas a lona cedida por um padr
seguir, considerando que estamos diante de uma situação extremamente com uma “faca peixeira” e
complexa que acarreta o reconhecimento de direitos estabelecidos pelo
Estado brasileiro (ou a negação dos mesmos): a) como se estabelece o
poder na organização dos Xukuru? b) Como o Estado tem lidado com
códigos morais e tipos de sanções que diferem daqueles estabelecidos pe- 16. Basicamente tentar localizar
para verificar se teria sido expelido
los padrões hegemônicos da sociedade dita brasileira? c) Como o Estado tencente a “Ricardo” – João Libór
Brasileiro tem lidado com a superação do instituto da tutela a partir da
17. A exumação é precedida por
Constituição de 1988? Bispo.
104
“Plantaram” Xicão
sicas de organização social, Tais questões complementam a idéia da violência institucional e co-
não permitiam a garantia locam em evidência que um dos maiores avanços da política indigenista
ncia física e cultural das so- desde 1988, ou seja, a superação da tutela, ainda não está sendo implemen-
violência contra os Xukuru tada na prática das intervenções institucionais.
pessoas a eles relacionadas De maneira mais pontual, no que refere ao evento do dia 07 de feve-
o, fato que propiciou uma reiro, é necessário também discorrer sobre outras formas de violência que
e social dos Xukuru. os Xukuru tem vivenciando.
um novo cacique ficou em Ao falarmos de violência simbólica, ressaltamos que aspectos sub-
após o assassinato de Chi- jetivos da cultura Xukuru vêm sendo desconsiderados, ocasionando um
do. A partir desse momen- sentimento de insegurança e promovendo seqüelas incomensuráveis.
da sociedade Xukuru que
A assassinato do cacique Chicão representou muito mais do que a
internas para a tentativa
morte de seu representante e do que ele significou para o reconhecimento
o aprendizado para lidar
dos Xukuru e de seus direitos. Significou o aniquilamento de um líder
, articulação que era bem
carismático que carregava em si toda uma representação do sagrado.
unidade entre as diversas
o de fragilidade vivido por Nesse contexto, durante o inquérito que apurava sua morte, foi so-
efeitos do que denomina- licitada a exumação do seu corpo, a fim de evidenciar algumas provas que
se apresentavam como inconclusas.16
para lidar com a plurali- O período anterior, quando se negociava com os familiares a data
ecessidade de contemplar para a realização da exumação, foi já caracterizado por uma grande tensão
e uma política indigenista e o evento em si deve ser analisado, a despeito da sua necessidade ou não,
anosas no seio das socieda- como um segundo momento em que o luto pela morte de Chicão foi revi-
s das sociedades indígenas vido e atualizados os sentimentos de perda e revolta.
uânime das negociações e Os registros da exumação mostram o clima de comoção17 em que
e destinos, por outro, há parte da comunidade (adultos e crianças) acompanhou não apenas a re-
iferentes do indigenismo tirada do corpo, mas todo o processo de perícia, que foi realizada ao lado
s indígenas. de seu túmulo na Pedra D´Água, local que possui importante significado
ussão sobre a constituição religioso para os Xukuru. Os restos mortais foram ali expostos sobre uma
ão das questões expostas a lona cedida por um padre que acompanhava a exumação e explorados
ma situação extremamente com uma “faca peixeira” emprestada por um índio.
direitos estabelecidos pelo
: a) como se estabelece o
o Estado tem lidado com
daqueles estabelecidos pe- 16. Basicamente tentar localizar algum projétil em seu corpo, e submeter a exame de balística,
sileira? c) Como o Estado para verificar se teria sido expelido ou não do cano do revólver apreendido posteriormente, per-
tencente a “Ricardo” – João Libório Galindo. Não foi encontrado projétil, quando da exumação.
tuto da tutela a partir da
17. A exumação é precedida por um ritual religioso, acompanhado pelo Pajé Pedro Rodrigues
Bispo.
105
XUKURU DO ORORUBÁ
A violação do corpo de Chicão, que havia sido “plantado” e não como uma divisão “admin
enterrado, conforme o depoimento de vários índios18, atualizou os senti- sos e projetos voltados pa
mentos já citados e foi nesse contexto que atentam contra a vida de seu a responsabilidade dessa n
filho Marcos, cacique desde 2000, e matam dois “parentes” que o acom- de uma divisão física do te
panhavam. livre trânsito dos Xukuru
As lideranças tradic
A Constituição de Grupos Dissidentes bilidade de que seja criad
Xukuru, pois alegam que
trada de grupos econômi
Os Xukuru estão vivenciando, principalmente desde 2001, um cla-
oferecendo vantagens par
ro processo de divergências internas que culminou com o estabelecimento
de um grupo dissidente em Cimbres. Este é composto por representantes A questão em si não
com características baseadas nas formas burocráticas do estado nacional, agências “de contato”20 o
utilizando-se de procedimentos administrativos dos órgãos oficiais (FU- mente delas para conduzir
NAI, FUNASA, INSS) para sua legitimação. a ruptura no diálogo entre
ído em demasia para o aci
A maioria dos Xukuru é representada pelo que os próprios índios
denominam de “lideranças tradicionais”, são essas as autoridades social Destacamos ainda q
e historicamente constituídas pelos xukuru que têm correspondido ao bida de forma simplista e
caráter tradicional-carismático (Weber, 1967) e que vêm assumindo o Técnica instituída para ide
estatuto de autoridade legal. das da Terra Indígena, exi
mesma condição21.
Apesar dos conflitos já instaurados, tais divergências não apresen-
tam, até o momento, a constituição de uma cisão da sociedade Xukuru
capaz de sustentar a divisão de seu território; Tanto assim que os que se
colocaram contrários às lideranças tradicionais, ao serem envolvidos na
morte dos dois índios e no atentado à vida do cacique Marcos, foram
banidos da Terra Indígena, a fim de que o controle do território como um
19. Esta área engloba as aldeias d
todo fosse efetivado, considerando sua importância no plano religioso e de Courodanta
organizativo do grupo indígena. 20. Por agências de contato ente
A questão da dissidência entre os Xukuru foi iniciada com a estru- intersocietário e, por conseguinte
turação de uma facção política, composta por moradores da Vila de Cim- 21. “A primeira dificuldade enco
viam a saída das famílias da terra
bres e do povoado de Cajueiro. Tal fato não teria tamanha ressonância se flito do dia 07/02, mas envolvia ta
os Xukuru de Cimbres, como se denominam os integrantes do grupo que conflitos anteriores.
vêm promovendo uma reação à liderança tradicional dos Xukuru, não Optamos, dessa forma, por identi
dem elucidar cada situação observ
estivessem propondo uma divisão do grupo indígena; ora identificando-a Situação 1: Vila de Cimbres e Curra
Situação 2: Aldeias Cajueiro e Guar
Situação 3: Aldeia Lagoa e São Brá
Situação 4: Santa Rita” (Relatóri
18. Segundo os Xukuru, Chicão foi plantado e a partir dele nascerão novos guerreiros. Xukuru — 07.02.2003 — Pesqueira
106
“Plantaram” Xicão
via sido “plantado” e não como uma divisão “administrativa”, em que o gerenciamento dos recur-
ndios18, atualizou os senti- sos e projetos voltados para a região oeste da terra indígena19 ficaria sob
ntam contra a vida de seu a responsabilidade dessa nova liderança, ora propondo o estabelecimento
is “parentes” que o acom- de uma divisão física do território em duas partes e que impossibilitaria o
livre trânsito dos Xukuru entre as duas parcelas.
As lideranças tradicionais e seus seguidores não aceitam a possi-
bilidade de que seja criada uma outra forma de representatividade dos
Xukuru, pois alegam que esta seria uma manobra para promover a en-
trada de grupos econômicos e políticos na terra indígena, que estariam
mente desde 2001, um cla-
oferecendo vantagens particulares aos membros opositores.
ou com o estabelecimento
mposto por representantes A questão em si não é a existência das divergências, mas como as
áticas do estado nacional, agências “de contato”20 oficiais e não-oficiais se utilizam conveniente-
s dos órgãos oficiais (FU- mente delas para conduzir suas ações. Nesse sentido, podemos inferir que
a ruptura no diálogo entre as várias instituições envolvidas tem contribu-
ído em demasia para o acirramento dos conflitos.
elo que os próprios índios
ssas as autoridades social Destacamos ainda que a questão da dissidência não deve ser perce-
ue têm correspondido ao bida de forma simplista e polarizada. Conforme o Relatório da Comissão
e que vêm assumindo o Técnica instituída para identificar a situação das famílias que foram bani-
das da Terra Indígena, existem situações diferentes sendo colocadas num
mesma condição21.
divergências não apresen-
são da sociedade Xukuru
Tanto assim que os que se
, ao serem envolvidos na
o cacique Marcos, foram
ole do território como um
19. Esta área engloba as aldeias de Cimbres, Guarda, Cajueiro, podendo ainda envolver a aldeia
ância no plano religioso e de Courodanta
20. Por agências de contato entendemos todas as instituições que estão presentes no campo
u foi iniciada com a estru- intersocietário e, por conseguinte, interagindo com os Xukuru.
moradores da Vila de Cim- 21. “A primeira dificuldade encontrada pela Comissão foi a variedade de situações que envol-
viam a saída das famílias da terra indígena. Tratava-se não apenas da saída provocada pelo con-
ia tamanha ressonância se flito do dia 07/02, mas envolvia também outras problemáticas, como atritos entre familiares e
integrantes do grupo que conflitos anteriores.
dicional dos Xukuru, não Optamos, dessa forma, por identificar todas as famílias egressas e situá-las em quadros que po-
dem elucidar cada situação observada, a saber:
ígena; ora identificando-a Situação 1: Vila de Cimbres e Curral de Boi
Situação 2: Aldeias Cajueiro e Guarda
Situação 3: Aldeia Lagoa e São Brás
Situação 4: Santa Rita” (Relatório da Comissão Técnica PP 365/PRES/03 de 07.05.03 - Conflito
cerão novos guerreiros. Xukuru — 07.02.2003 — Pesqueira/PE; p.06)
107
XUKURU DO ORORUBÁ
108
“Plantaram” Xicão
109
XUKURU DO ORORUBÁ
110
“Plantaram” Xicão
qualidade 26. Exemplo, no caso de tentativa de assassinato, é o depoimento do jovem Diogo Ruann, cujas
declarações precisas foram corroboradas pelos depoimentos do réu Lourival Frazão, e por todos
os laudos (tanatológicos, residográficos, de balística, etc.) realizados no processo. Diogo Ruann
questão de análise de casos já prestou depoimento perante o CDDPH.
cessário se ter à mão infor- 27. GIFFARD, Camille [2000].The Torture Reporting Handbook. Essex: Human Rights Centre, Uni-
bilidade. versity of Essex. págs. 30 a 47.
111
XUKURU DO ORORUBÁ
112
“Plantaram” Xicão
113
XUKURU DO ORORUBÁ
28. O Superintendente de Pernambuco Zulmar Pimentel dos Santos disse que as informações
que detinha “desaconselham a redistribuição” (fls. 441, v. 2). E a DPF Joseny Gomes de Melo
Simas, Chefe da Delegacia Regional de Polícia da SR/PE/DPF, disse não vislumbrar necessidade de 30. Antônio Pereira de Araújo, po
designação (fls. 442v). aças, o cacique Chicão começou a
que tais índios não andavam arma
29. José Barbosa dos Santos, que virá a ser indiciado e acusado pela morte de Chico Quelé (Fran-
cisco de Assis Santana). 31. É neste município que, curios
114
“Plantaram” Xicão
ciou em 30 de maio de como conseguiu: procurou informações junto aos serviços de inteligência
da possibilidade de de- das polícias civil e militar de Pesqueira. Colheu informação de que, no dia
dos28 de polícia federal do assassinato de Chicão, um homem conhecido pelo nome de Ricardo,
designação. Mas o DPF com fama de pistoleiro, tinha sido visto em Pesqueira. E poucos dias de-
rdou. (fls. 448). pois, Ricardo surgia na cidade de Venturosa PE, onde morava, com um
o do DPF Marcos Cotrim. plantel de cavalos.
s Santana - o Chico Quelé Seguindo a pista, o delegado identificou Ricardo como sendo José
a renascer o inquérito. É o Libório Galindo, assassinado de modo suspeito em 13 de agosto de 2001,
caso Chicão: “passados três no Maranhão. Com o retrato falado, conseguiu que testemunha da morte
ndo então ocorreu o homicídio de Chicão, agora morando em São Paulo, fizesse o reconhecimento positi-
ver com o assassinato do Ca- vo do autor dos disparos: era José Libório Galindo, o Ricardo.
caso Chicão, com a indicação Ficou finalmente esclarecido que o cacique Chicão Xukuru temia30
por sua vida, e temia particularmente a alguns fazendeiros, o principal
Marcos Cotrim assumiu, dele sendo José Cordeiro de Santana, o Zé de Riva, tendo sido demons-
cão (IPL 211/98) e Chico trado que este contratou José Libório Galindo (o Ricardo, morto em Ita-
testemunhas de um caso pecuru-Mirim31 (MA), em circunstâncias estranhas) e Rivaldo Cavalcanti
outro caso. Siqueira (Riva de Alceu) para executarem o cacique Chicão Xukuru. Pa-
m foi José Cordeiro de San- gou cerca de R$ 50.000,00.
qualquer participação no Zé de Riva foi preso. Com cerca de 20 dias apareceu morto na cela
m atribuiu a condição de da Polícia Federal. Suicídio.
kuru, porque passou a ter Riva de Alceu foi preso. Restou apenas ele para ser denunciado pelo
na, e era amante de Zenil- Ministério Público. O que foi feito em 9 de agosto de 2002.
Marcos Luidson).
Em Junho de 2003 é proferida sentença de pronúncia, fazendo com
o retrato falado do assas- que o acusado tenha de ser submetido a júri popular federal. Houve ape-
ão Paulo, Rio de Janeiro, lação criminal (RCCR 617 PE), a que a 4a Turma do Tribunal Regional
formar a cadeia lógica de Federal da 5a Região negou provimento em 2 de março de 2004. Riva de
posterior destino dos res- Alceu continua preso.
he possível representar por
a (o Zé de Riva), e Rivaldo
prio Cotrim quem explica
115
XUKURU DO ORORUBÁ
116
“Plantaram” Xicão
117
XUKURU DO ORORUBÁ
Continuou afirmando ter se tratado de crime de mando, sendo o sucumbiu diante de tiros
mandante o Vice-Cacique Zé de Santa, que teve como motivos funda- da Silva Dandão.
mentais a disposição de denunciar desvios de verbas, de que eram benefi- Zé de Santa foi denu
ciários o cacique Marcos, sua mãe Zenilda, Zé de Santa e Severino. cutor. (fls. 4).
Conclui isto porque “os citados, ao contrário dos demais Xukurus A denúncia narrou q
que estampam a miséria, possuem contas bancárias nas agências do Bra- das instruções de convida
desco, Banco do Brasil e Caixa Econômica nos Municípios de Pesqueira e deia São José. E que Djalm
Belo Jardim PE.” (sic, pág. 479). temido (fls. 337). E que n
Ainda segundo a autoridade policial, a segunda causa fora a retoma- Dandão matar Chico Que
da da Fazenda Santa Rita, e Zé de Santa ficara com ódio de Chico Quelé Destacando a motiv
porque já prometera uma das casas para uma sua filha (de Zé de Santa). que Chico Quelé era sério
Para demonstrar a veracidade dessas alegações, a autoridade poli- outras lideranças Xukuru
cial diz que, sobre os desvios de verbas, colaboraram para tal conclusão mandos cometidos pelo g
diversos depoimentos de testemunhas, e “parte considerável dos recursos ciar injustiças na distribu
desviados foram parar nas contas bancárias do Cacique Marcos, Zenilda, verno federal e por ONG
Severino, Zé de Santa, o que poderá ser comprovado através de uma ve- chamado grupo de Zé de
rificação judicial dos extratos de movimentação bancária dessas dos últi- Complementou indi
mos quatro anos” (sic, fls. 480). zendeiro Geraldo, como se
Deixando claro que ele, Delegado Marcos Cotrim, não fizera ne- que “a retomada foi liderada
nhuma colheita de prova documental do que afirmara, reitera que “en- do grupo de Zé de Santa, mo
quanto não for possível acessar a movimentação bancária das lideranças destinado aquelas terras a pe
xukurus nos últimos quatro anos, as provas disponíveis, após 10 meses por Chico Quelé” (fls. 08/09
de investigações, consistem em aproximadamente 40 depoimentos” (sic, Na denúncia, a teste
fls. 481). Pereira dos Santos (Cirilo)
Dos autos não há notícia de nenhuma representação da autoridade testemunhas na denúncia
policial nem ao Ministério Público nem ao Juiz Federal, requerendo que- Depoimentos presta
bra de sigilo bancário. visão, em vários moment
Em 31 de julho de 2002 o MPF denuncia José Barbosa dos Santos 2002, em Brasília, (estes ú
(Zé de Santa) e João Campos da Silva (Dandão) pelo cometimento do mens teriam sido vistos na
homicídio na pessoa de Francisco de Assis Santana (Chico Quelé). regando armas em um sac
Segundo a denúncia, José Barbosa dos Santos Zé de Santa procurou tanto para a PR/PE quanto
Djalma Pereira dos Santos (Cirilo), para que este convidasse Chico Quelé em oito de abril de 2003,
para reunião com a FUNAI, na Aldeia São José, e o conduzisse por um dora-Geral da República E
caminho previamente estabelecido, diferente do tradicional. E tal teria Em suas alegações fi
sido feito, de modo que, no dia da reunião, dirigindo-se à mesma, na culpabilidade dos réus Jos
altura da Aldeia Goiabeira (Sítio Afetos), Chico Quelé foi emboscado, e dante, e João Campos da
118
“Plantaram” Xicão
crime de mando, sendo o sucumbiu diante de tiros de espingarda 12, desferidos por João Campos
eve como motivos funda- da Silva Dandão.
erbas, de que eram benefi- Zé de Santa foi denunciado como mandante, e Dandão como exe-
de Santa e Severino. cutor. (fls. 4).
ário dos demais Xukurus A denúncia narrou que Djalma atribuiu a Zé de Santa a indicação
árias nas agências do Bra- das instruções de convidar e conduzir Chico Quelé para a reunião na Al-
Municípios de Pesqueira e deia São José. E que Djalma obedeceu por que Zé de Santa er perigoso e
temido (fls. 337). E que não tinha dúvidas de que Zé de Santa mandou
unda causa fora a retoma- Dandão matar Chico Quelé (fls. 356).
com ódio de Chico Quelé Destacando a motivação do delito, o Ministério Público afirmou
ua filha (de Zé de Santa). que Chico Quelé era sério, e não se intimidava nem mesmo em afrontar
gações, a autoridade poli- outras lideranças Xukuru. E que Chico Quelé vinha denunciando des-
oraram para tal conclusão mandos cometidos pelo grupo de Zé de Santa. E teria ameaçado denun-
considerável dos recursos ciar injustiças na distribuição de verbas de projetos financiados pelo go-
Cacique Marcos, Zenilda, verno federal e por ONGs. Citou “Projeto Crescendo Xukuru”. O assim
ovado através de uma ve- chamado grupo de Zé de Santa estaria sendo beneficiado.
o bancária dessas dos últi- Complementou indicando a retomada da Fazenda Santa Rita, do fa-
zendeiro Geraldo, como sendo parte do móvel do crime. A denúncia disse
os Cotrim, não fizera ne- que “a retomada foi liderada, entre outros, pela vítima, o que não encontrou apoio
afirmara, reitera que “en- do grupo de Zé de Santa, mormente tendo em vista que este já havia previamente
ão bancária das lideranças destinado aquelas terras a pessoas de seu círculo, mais uma vez sendo contrariado
isponíveis, após 10 meses por Chico Quelé” (fls. 08/09).
nte 40 depoimentos” (sic, Na denúncia, a testemunha chave do homicídio foi o senhor Djalma
Pereira dos Santos (Cirilo) (vários depoimentos). Outros indicados como
presentação da autoridade testemunhas na denúncia o são da motivação ou de outras circunstâncias.
Federal, requerendo que- Depoimentos prestados perante a 6a Câmara de Coordenação e Re-
visão, em vários momentos, especialmente alguns prestados em abril de
a José Barbosa dos Santos 2002, em Brasília, (estes últimos veiculando a informação de que dois ho-
ão) pelo cometimento do mens teriam sido vistos na manhã do assassinato do índio Chico Quelé, car-
ana (Chico Quelé). regando armas em um saco) embora enviados por aquela unidade do MPF
ntos Zé de Santa procurou tanto para a PR/PE quanto para o DPF Marcos Cotrim, só vieram aos autos
e convidasse Chico Quelé em oito de abril de 2003, quando diretamente enviados pela Subprocura-
sé, e o conduzisse por um dora-Geral da República Ela Wiecko ao Juiz do feito (fls. 692 e segs. V. III).
do tradicional. E tal teria Em suas alegações finais, o MPF reiterou sua convicção quanto à
dirigindo-se à mesma, na culpabilidade dos réus José Barbosa dos Santos Zé de Santa, como man-
o Quelé foi emboscado, e dante, e João Campos da Silva Dandão, como executor. Transcreveu tre-
119
XUKURU DO ORORUBÁ
chos de depoimentos de Djalma Pereira dos Santos (Cirilo) e de testemu- de acareação entre João C
nhas, incriminando os réus. Hora não teria sido juntad
Quanto à motivação, as alegações finais são mais comedidas, res- Criticou o pedido de
tringindo-se a afirmar que Zé de Santa desejava a morte de Chico Quelé mara, feito pelos procura
para “continuar a gerir os recursos que eram destinados ao povo Xukuru que, pelo menos um daqu
da maneira que bem entendia, bem como a planejar as retomadas de ter- tais documentos estavam
ras e a distribuí-las às pessoas que lhe eram próximas”.(fls. 863). Afirmou que o MPF
Rechaçou outra linha de investigação, que apontasse para responsa- denúncia, já tinha toda a
bilidade de fazendeiros, ao argumento de Chico Quelé não ter inimizade vidos pelas lideranças tra
com estes. monstrando a lisura das a
Pediu o desentranhamento das peças de informação enviadas pela dados à mão desde novem
6 Câmara34, por entender ser prova emprestada e inservível, porque não
a as denúncias de malversaç
submetida ao contraditório (fls. 868). Criticou as contradi
O Ministério Público pediu a pronúncia do réu. Insistiu na manu- tério Público, Djalma Per
tenção da prisão de Dandão. vestigações, na linha apon
José Barbosa dos Santos Zé de Santa permaneceu foragido durante Voltou o MPF a se
quase todo o processo, e João Campos da Silva Dandão esteve preso até 2003, de despacho profer
julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do Recurso Ordinário em buco, arquivando proced
Hábeas Corpus 83179, em 1o de julho de 2003. Quase um ano. ção de dinheiro de projeto
Aspecto relevante é que a liberdade de João Campos da Silva Dan- Como diligências fin
dão e José Barbosa dos Santos Zé de Santa foi sustentada pelo MPF com nunciando o réu João Cam
assento no STJ e no STF. Com efeito, negado o hábeas corpus no STJ 2004 para a realização da
(contra o parecer do MPF), foi uma subprocuradora-geral da República Srs. Moacir Santos e Rob
que recorreu ao STF ordinariamente, e obteve reforma do julgado. Regional da FUNAI e ser
munhas do Juízo.
João Campos da Silva Dandão apresentou alegações finais35 em 7 de
julho de 2003. Iniciou sustentando cerceamento de defesa, porque o auto
34. Entre os documentos acostados aos autos, originados da 6a Câmara, está um depoimento
da vítima Francisco de Assis Santana – Chico Quelé – prestado em 5 de junho de 1998, no qual
afirma que boato falso, espalhado pelo fazendeiro e comerciante Leonardo Gomes da Silva, fora
responsável pela ausência de polícia nas ruas de Pesqueira no dia da morte de Chicão. Também
nesse depoimento de Chico Quelé, prestado na Procuradoria Geral da República, ele diz que “for-
maram uma comissão para vir aqui em Brasília para exigirem providências acerca da morte do
cacique Chicão, da homologação de suas terras, e também em virtude de se sentirem ameaçados,
36. Equívoco da defesa. O auto d
especialmente as lideranças, que também temem possa surgir um conflito na área, em virtude
Público, pronunciando-se sobre o
dela ainda não ter sido homologada, bem como a morte de outros índios” (fls. 733, v. 3).
mencionado, por quem quer que
35. Fls. 854 a 874, v. 4 917,v.4). Ou seja, também o Minist
120
“Plantaram” Xicão
ntos (Cirilo) e de testemu- de acareação entre João Campos da Silva (Dandão) e Abdias Severo da
Hora não teria sido juntado aos autos.36
são mais comedidas, res- Criticou o pedido de desentranhamento de documentos da 6a Câ-
a a morte de Chico Quelé mara, feito pelos procuradores em Pernambuco, observando, inclusive,
stinados ao povo Xukuru que, pelo menos um daqueles procuradores já afirmara à 6a Câmara que
nejar as retomadas de ter- tais documentos estavam nos autos.
ximas”.(fls. 863). Afirmou que o MPF/PE, antes mesmo da data de oferecimento da
e apontasse para responsa- denúncia, já tinha toda a documentação de todos os projetos desenvol-
o Quelé não ter inimizade vidos pelas lideranças tradicionais e organizações que as apoiavam, de-
monstrando a lisura das aplicações dos recursos. Só que, embora tendo os
informação enviadas pela dados à mão desde novembro de 2001, o Ministério Público só arquivou
a e inservível, porque não as denúncias de malversação em março de 2003.
Criticou as contradições da única testemunha presencial do Minis-
do réu. Insistiu na manu- tério Público, Djalma Pereira dos Santos. E pediu fossem realizadas in-
vestigações, na linha apontada pelas testemunhas ouvidas na 6a Câmara.
maneceu foragido durante Voltou o MPF a se pronunciar, e fez juntada, em 21 de julho de
Dandão esteve preso até 2003, de despacho proferido por procurador da República em Pernam-
do Recurso Ordinário em buco, arquivando procedimento administrativo, que acusava malversa-
. Quase um ano. ção de dinheiro de projetos (fls. 922 a 964).
ão Campos da Silva Dan- Como diligências finais, antes da sentença, pronunciando ou impro-
ustentada pelo MPF com nunciando o réu João Campos da Silva, foi designado o dia 06 de abril de
o hábeas corpus no STJ 2004 para a realização da audiência, momento em que serão inquiridos os
adora-geral da República Srs. Moacir Santos e Roberto Góes, respectivamente, ex-Administrador
eforma do julgado. Regional da FUNAI e servidor da FUNAI, ambos figurando como teste-
munhas do Juízo.
alegações finais35 em 7 de
o de defesa, porque o auto
121
XUKURU DO ORORUBÁ
37. Depoimento de Diogo Ruan, fls. 101 e 102. Laudo de Exame Tanatoscópico, fls. 346. 38. Lauro Tanatológico, fls. 347 e
122
“Plantaram” Xicão
123
XUKURU DO ORORUBÁ
Em algumas casas foi ateado fogo. Algumas pessoas estavam sem mente da Silva e Paulo J
poder sair, tendo sido iniciado o resgate de várias pessoas, especialmente Elias Ferreira Dodge, PFD
familiares de Expedito Alves Cabral. Os autos do inquérit
Expedito Alves Cabral Biá tinha sido informado dos acontecimen- 95 continuou as investiga
tos por volta das 9hs ou 10 hs por Zé Luiz em sua casa, contando da -se posteriormente na açã
morte dos índios. o IPL 130 (2003.83.00.0
Prevendo que uma grande rebelião poderia estar em curso, Biá cui- veículos e casas.
dou de telefonar para as polícias federal, civil e militar, e para a Funai. Em 11 de fevereiro d
A agitação começou a acontecer no início da tarde, com queima de nação para presidir o inqu
veículos pertencentes a Biá. Expedito Alves Cabral e outras pessoas foram Fez inúmeras diligên
retirados de suas casas pela polícia militar, e conduzidos a lugar seguro. quisitou exames residográ
Várias casas foram queimadas. toscópicos, etc. E o inquér
A agitação em Cimbres deveu-se ao fato de que os índios ligados ao Apuração e conclusõ
cacique Marcos Luidson foram informados de que os mortos seria velados Se a prioridade inicia
naquela aldeia. E, aglomerando-se, souberam que José Luiz Almeida de sas, sendo o Cacique Marc
Carvalho, o Zé Luiz, que estivera na fazenda Curral do Boi pela manhã, do DPF Servilho Paiva a
nos momentos da tentativa de assassinato do cacique Marcos, estava em homicídio.
sua casa.
Conclusão pacífica d
Por volta das 17 hs, os índios foram cercar a casa de Zé Luiz, para ro Frazão – foi o autor d
evitar que fugisse, e foram recebidos à bala. Zé Luiz resistiu até a chega- resultando nas mortes de
da da polícia federal, quando se entregou à polícia federal, por volta das Barbosa da Silva.
23:30 hs, tendo sido arrecadadas em seu poder armas e munição.
Zequinha Vicente –
No dia seguinte, sábado, 8 de fevereiro de 2003, provenientes de co-autor, por ter participa
Brasília, chegaram a Pesqueira o Ministro Nilmário Miranda, Secretário duas mortes, tendo colab
Especial de Direitos Humanos, a Procuradora Federal dos Direitos do cabeça de José Ademílso
Cidadão – Adjunta Raquel Elias Ferreira Dodge, o então Presidente da permitindo que Louro Fra
FUNAI Eduardo Aguiar de Almeida, o Assessor do Ministro da Justiça
Lídio Vasco foi consi
Cláudio Beirão, indo se somar a representantes de ONGs de direitos hu-
do do processo.
manos39 e advogados.
Ao Cacique Marcos
A polícia federal ouviu vários depoimentos, inclusive os de Zé Luiz,
sões, mas o de agente prov
e do cacique Marcos Luidson. Mas suspendeu as oitivas, alegando impos-
sibilidade de continuar a colher os depoimentos. Foram, então, lavrados Portanto, segundo a
termos de declarações de Diogo Ruann de Araújo Mandú, Suenildo Cle- cacique Marcos Luidson. Es
o incidente, e fugido.
39. O Rev. Manoel Morais, que viria se ser designado Membro da CE Res. 18/2003 CDDPH, se fez
Conclusões do MPF,
presente.
124
“Plantaram” Xicão
mas pessoas estavam sem mente da Silva e Paulo John do Nascimento Gomes, pela Dra. Raquel
as pessoas, especialmente Elias Ferreira Dodge, PFDC adjunta.
Os autos do inquérito foram posteriormente desmembrados. O IPL
ormado dos acontecimen- 95 continuou as investigações referentes ao duplo homicídio (converteu-
m sua casa, contando da -se posteriormente na ação penal 2003.83.00.011297-6, 4a Vara PE), e
o IPL 130 (2003.83.00.008677-1) passou a investigar as destruições de
ia estar em curso, Biá cui- veículos e casas.
militar, e para a Funai. Em 11 de fevereiro de 2003 o DPF Servilho Paiva recebeu a desig-
da tarde, com queima de nação para presidir o inquérito, em substituição ao DPF Jorge Cunha.
bral e outras pessoas foram Fez inúmeras diligências. Ouviu testemunhas, apreendeu armas, re-
onduzidos a lugar seguro. quisitou exames residográficos, de balística, de eficiência de armas, tana-
toscópicos, etc. E o inquérito foi concluído em 15 de abril de 2003.
de que os índios ligados ao Apuração e conclusões da PF , no IPL 95 (duplo homicídio)
ue os mortos seria velados Se a prioridade inicial fora para a investigação da destruição das ca-
que José Luiz Almeida de sas, sendo o Cacique Marcos Luidson o principal suspeito, com a chegada
urral do Boi pela manhã, do DPF Servilho Paiva a prioridade passou a ser a apuração do duplo
acique Marcos, estava em homicídio.
Conclusão pacífica do inquérito é que José Lourival Frazão – o Lou-
ar a casa de Zé Luiz, para ro Frazão – foi o autor dos disparos que causaram o duplo homicídio,
Luiz resistiu até a chega- resultando nas mortes de Josenílson José dos Santos e José Ademílson
lícia federal, por volta das Barbosa da Silva.
armas e munição.
Zequinha Vicente – o José Vicente de Carvalho – foi apontado como
de 2003, provenientes de co-autor, por ter participado diretamente dos fatos de que resultaram as
mário Miranda, Secretário duas mortes, tendo colaborado com Louro Frazão, ao desferir golpe na
a Federal dos Direitos do cabeça de José Ademílson Barbosa da Silva, derrubando-o, e com isso
ge, o então Presidente da permitindo que Louro Frazão atirasse e matasse este último.
or do Ministro da Justiça
Lídio Vasco foi considerado mero circunstante, não tendo participa-
de ONGs de direitos hu-
do do processo.
Ao Cacique Marcos não foi reservado o papel de vítima das agres-
s, inclusive os de Zé Luiz,
sões, mas o de agente provocador.
s oitivas, alegando impos-
s. Foram, então, lavrados Portanto, segundo a autoridade policial, não houve atentado à vida do
újo Mandú, Suenildo Cle- cacique Marcos Luidson. Este, porque estava embriagado, teria provocado
o incidente, e fugido.
o da CE Res. 18/2003 CDDPH, se fez
Conclusões do MPF, no IPL 95 (duplo homicídio)
125
XUKURU DO ORORUBÁ
O Ministério Público concordou parcialmente com a autoridade po- IVª Parte. Conclusões
licial, e denunciou José Lourival Frazão – o Louro Frazão – pela prática do
homicídio duplo.
Quanto a José Vicente de Carvalho (o Zequinha Vicente), decidiu-se Análise dos autos
o Ministério Público por pedir o arquivamento do inquérito, sustentando evidências
que aquele agiu em legítima defesa de terceiro, ou seja, em legítima defesa
de Louro Frazão. Dissemos anteriorm
A denúncia também concordou com as conclusões do inquérito, ao qualidade. E que precisão
afirmar que o Cacique Marcos fez a provocação a Louro Frazão, em razão diante a adoção de precau
de sua embriaguez. formações; ter familiarida
tos com a fonte de inform
Ainda, aceitou que os índios mortos José Ademílson Barbosa da
e genéricas.
Silva – conhecido pelo nome de Nílson, e Jozenilson José dos Santos –
conhecido por Nilsinho, estivessem armados. Daí ter Zequinha Vicente Quando da colheita
defendido Louro legitimamente. cisco de Assis Santana (Ch
cique Marcos Luidson, o
Proposta a ação penal, Maria Gorete Barbosa da Silva, mãe de José
tenha tido o cuidado de co
Ademílson, requereu sua habilitação nos autos, como assistente de acusa-
de acordo com a vinculaç
ção. O Ministério Público Federal discordou, alegando que, sendo índia,
que a intensa polarização
seria tutelada, só podendo estar representada em juízo por procurador da
informações prestadas, alt
Funai.
Tome-se por base, p
Maria Gorete obteve liminar em mandado de segurança no TRF
em que restou apurada au
5a, e participa do processo, como assistente de acusação. O Ministério
nílson José dos Santos e Jo
Público Federal não adotara essa posições nas questões criminais anterior-
mente relatadas. A questão da embr
controvertido. As testem
O processo está em fase de conclusão da instrução.
178/180), Marco André V
Quanto ao IPL 130 (processo 2003.83.00.008677-1), está em fase de Freitas (fls. 349/357)
de elaboração de Relatório. Algumas dezenas de índios Xukuru foram quando dos incidentes na
indiciados, inclusive o cacique Marcos Luidson, incurso nas penas do art. Edson (fls. 165), Josefa So
146, § 1o (constrangimento ilegal); art. 163, parágrafo único, I, II e IV estiveram direta e pessoal
(dano qualificado); art. 250, § 1o , II, alíneas a e c (causar incêndio), e art. afirmaram precisamente o
286 (incitação ao crime), c.c. art. 29, todos do Código Pena.
Mas se a embriaguez
estando presente em todo
que o cacique correu pelo
que o zigue-zagueio na pi
decorrido do gado e dos to
126
“Plantaram” Xicão
127
XUKURU DO ORORUBÁ
O mesmo se diga quanto aos índios mortos portarem ou não armas. violação aos direitos dos ín
Djalma Bezerra (fls. 492/495), e Dorgival Freitas Frazão (fls. omissão da União Federa
535/537), além do próprio José Lourival Frazão, sustentam que os índios direito às suas terras de oc
Josenílson José dos Santos e José Ademílson Barbosa da Silva estavam ar- ção social, seus usos e cost
mados, Adeílson (fls. 151/152), Diogo Ruann (fls. 82) e outros sustentam Responde a União fe
o contrário. nal do Índio repasse de re
O que é incontroverso, quanto a este ponto? É incontroverso que campo, e finalização do pr
os dois jovens índios foram os únicos a morrer. É incontroverso que nem O art. 231 da consti
Louro Frazão nem ninguém do seu lado saiu ferido. É incontroverso que cial, costumes, línguas, cr
os índios mortos não dispararam nenhuma arma (laudo de exame resido- as terras que tradicionalm
gráfico negativo, fls. 327/328). É incontroverso que não foram encontra- imperioso dever de demar
das armas ao lado dos cadáveres. É incontroverso que a arma que Louro dos índios. Para ter certez
Frazão diz ter tomado de um dos índios, em verdade pertencia a José o constituinte originário fi
Luiz, e foi por este utilizada na tarde/noite do dia 7 de fevereiro de 2003 cumprir sua obrigação.
para produzir ferimentos em Romero Lopes de Melo. O artigo 67 do Ato d
Está no Relatório do DPF Servilho, fls. 717, v. 3: termina: A União concluirá
“As perícias comparativas das armas e projéteis, segundo nos adian- anos a partir da promulgaçã
tou os peritos, resultaram no seguinte: Ora, já se passaram
Da arma apreendida em poder de JOSÉ LUIZ ALMEIDA DE ras Xukuru não lhes asse
CARVALHO saíram os dois projéteis que provocaram as mortes dos ín- tradicional.
dios JOSENILSON JOSÉ DOS SANTOS e JOSÉ ADMILSON BAR- Também responde a
BOSA DA SILVA; dar interpretação à const
Da arma apreendida em poder de José Lourival Frazão, o Louro, seu texto, em detrimento
saiu o projétil que atingiu Romero Lopes de Melo.” O § 6º do artigo 231
Disso resulta ocorrência de violações aos direitos dos índios, que se- tos, não produzindo efeitos ju
rão agora apontadas. domínio e a posse das terras a
Completando o sent
e a extinção direito à indeni
Grave violação dos direitos dos índios por
lei, quanto às benfeitorias de
parte da União Federal
A ressalva, portanto
indenização pelas benfeitoria
A primeira observação que se deve fazer é que, embora a Comissão
pação de boa fé deixou d
tivesse que se deter sobre os casos judiciais e as investigações policiais,
reconhecimento de que a
para entender a crise de credibilidade das instituições, e a ruptura do di-
previsto na constituição, n
álogo entre as lideranças tradicionais indígenas e o Cimi, de um lado, e
a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, de outro lado, a grande
128
“Plantaram” Xicão
os portarem ou não armas. violação aos direitos dos índios é de ser atribuída ao Estado brasileiro, pela
gival Freitas Frazão (fls. omissão da União Federal em reconhecer e assegurar aos índios Xukuru
o, sustentam que os índios direito às suas terras de ocupação tradicional, e o respeito à sua organiza-
rbosa da Silva estavam ar- ção social, seus usos e costumes.
fls. 82) e outros sustentam Responde a União federal porque não assegura à Fundação Nacio-
nal do Índio repasse de recursos necessários à conclusão dos trabalhos de
nto? É incontroverso que campo, e finalização do processo demarcatório.
É incontroverso que nem O art. 231 da constituição reconhece aos índios sua organização so-
rido. É incontroverso que cial, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre
a (laudo de exame resido- as terras que tradicionalmente ocupam, e também determina à União o
o que não foram encontra- imperioso dever de demarcá-las, e proteger e fazer respeitar todos os bens
rso que a arma que Louro dos índios. Para ter certeza de que não deixaria indefinida esta questão,
verdade pertencia a José o constituinte originário fixou prazo de cinco anos para o administrador
dia 7 de fevereiro de 2003 cumprir sua obrigação.
Melo. O artigo 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias de-
7, v. 3: termina: A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco
jéteis, segundo nos adian- anos a partir da promulgação da Constituição.
Ora, já se passaram quinze anos, e o processo demarcatório das ter-
É LUIZ ALMEIDA DE ras Xukuru não lhes assegurou nem um terço das terras de ocupação
vocaram as mortes dos ín- tradicional.
OSÉ ADMILSON BAR- Também responde a União Federal pelo fato de a sua justiça federal
dar interpretação à constituição em sentido expressamente contrário ao
Lourival Frazão, o Louro, seu texto, em detrimento dos povos indígenas.
elo.” O § 6º do artigo 231 taxativamente determina que São nulos e extin-
direitos dos índios, que se- tos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras a que se refere este artigo.
Completando o sentido, o § 6o continua dizendo não gerar a nulidade
e a extinção direito à indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da
dos índios por
lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
A ressalva, portanto, é o direito de ação, contra a União, para obter
indenização pelas benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé. Mas aquela ocu-
é que, embora a Comissão
pação de boa fé deixou de ser de boa fé quando se tem a declaração e o
as investigações policiais,
reconhecimento de que a terra é indígena. Ainda, o direito à indenização,
tuições, e a ruptura do di-
previsto na constituição, não vem junto com o direito a retenção.
s e o Cimi, de um lado, e
l, de outro lado, a grande
129
XUKURU DO ORORUBÁ
Entretanto, o judiciário federal tem assegurado não aos índios, mas Considerando que a
aos posseiros, mesmo quando já de má fé (ou seja, posterior à declaração administrativa, sem exerc
de ser terra indígena), o direito de retenção de terras indígenas, com ocupação, acontecimentos, sem qua
posse e exploração, até completa indenização, nos valores aceitos pelos ocu- para toda a comunidade,
pantes não-índios. o pronunciamento sobre a
As promessas e compromissos firmados pela Funai com os índios para restaurar liderança e
Xukuru beiram a irresponsabilidade, e alimentam as várias faces das vio- tucionais da FUNAI PE.
lências examinadas. Em 30 dias, no dia
Em março de 2003, em reunião no Gabinete do Ministro da Justi- na Procuradoria da Repú
ça, o então Diretor de Assuntos Fundiários da FUNAI, Antônio Pereira questões referentes aos X
Neto, prometeu que, em 30 dias, todo o processo estaria concluído. foram chamadas, o mesm
fora precipitado, mas que
Em sessão do CDDPH, de 23 de abril de 2003, membro da Comis-
lhos de campo, e até o fina
são Especial fez a leitura de ofício dirigido ao Ministro Nilmário Miranda,
onde dizia: Não estaria.
A questão fundiária, e a desintrusão de não-índios, está na base de A resposta encaminh
uma solução mais duradoura para atenuar e mesmo eliminar a conflitu- solução do problema dos
osidade na Terra Indígena Xucuru. Entretanto, e não obstante a FUNAI uma nova terra, próxima
(leia-se, o Diretor para Assuntos Fundiários, Antônio Pereira Neto) ter constituiu Comissão Técn
afirmado que no prazo de 30 dias (a contar de 19 de março de 2003) com número de casas des
realizaria o pagamento de todas as indenizações, até a presente data a de desterrados, etc.
comissão da FUNAI sequer iniciou os trabalhos de campo, e não houve Concluído o Relatór
nenhum novo pagamento de indenizações. 24 Set 2003.
Assim, a primeira solicitação é no sentido de Sua Excelência o Senhor Minis- A convocação fora d
tro da Justiça determinar à FUNAI que envie, de imediato, equipe para realizar dades de direitos humano
o levantamento fundiário, e efetuar o pagamento das indenizações, como prometido grupo majoritário ligado a
em reunião no Gabinete do Ministro da Justiça, em 19 de março de 2003; tários expulsos do Cimbre
E, atenta ao fato de a administração regional da FUNAI estar no Genivaldo “Canário”. Com
limbo, nem sendo confirmada nem sendo substituída pelo novo governo, As entidades de direitos h
nesse mesmo ofício o CDDPH foi informado de que naquele número, sem que
indígenas das lideranças
A Administração Regional da FUNAI em Recife adotou como estratégia,
demais líderes de aldeias),
na questão da tentativa de assassinato do cacique Marcos Luidson, e na subse-
a própria segurança dos pa
qüente destruição de casas na Vila de Cimbres, a não-obtenção de informação au-
tônoma e independente, optando para valer-se, exclusivamente, das provas colhidas À ponderação, feita
pela Polícia Federal. CDDPH, de que o núme
desterrados, porque legitim
O administrador regional, Rildo Fernando, afirmou que formalizou a en-
to, não deveria significar j
trega do cargo de administrador regional, sem que, até o momento, tenha a FU-
se aquelas presenças pudessem
NAI se pronunciado a respeito da questão.
130
“Plantaram” Xicão
urado não aos índios, mas Considerando que a direção local da FUNAI, hoje, está, por opção
eja, posterior à declaração administrativa, sem exercer suas devidas funções, estando a reboque dos
ras indígenas, com ocupação, acontecimentos, sem qualquer papel mais ativo na obtenção de soluções
valores aceitos pelos ocu- para toda a comunidade, quer parecer a esta Comissão Especial inadiável
o pronunciamento sobre a manutenção ou substituição do administrador,
pela Funai com os índios para restaurar liderança e credibilidade administrativa nas funções insti-
am as várias faces das vio- tucionais da FUNAI PE.
Em 30 dias, no dia 24 de abril de 2003, em reunião em Recife,
nete do Ministro da Justi- na Procuradoria da República em Pernambuco, reunião para tratar das
FUNAI, Antônio Pereira questões referentes aos Xukuru, e para a qual as lideranças Xukuru não
so estaria concluído. foram chamadas, o mesmo Diretor para Assuntos Fundiários disse que
fora precipitado, mas que garantia que grupo técnico viria fazer os traba-
2003, membro da Comis-
lhos de campo, e até o final do ano a questão estaria resolvida.
nistro Nilmário Miranda,
Não estaria.
ão-índios, está na base de A resposta encaminhada pelo Diretor de Assuntos Fundiários, para
esmo eliminar a conflitu- solução do problema dos índios banidos do Cimbres, foi a aquisição de
e não obstante a FUNAI uma nova terra, próxima à Terra Indígena Xukuru. Para tanto a FUNAI
Antônio Pereira Neto) ter constituiu Comissão Técnica para efetuar o levantamento da situação,
de 19 de março de 2003) com número de casas destruídas e forçosamente abandonadas; número
ões, até a presente data a de desterrados, etc.
os de campo, e não houve Concluído o Relatório, a Funai realiza reunião na sede do Ibama, em
24 Set 2003.
a Excelência o Senhor Minis- A convocação fora dirigida a vários órgãos públicos, algumas enti-
mediato, equipe para realizar dades de direitos humanos, e a representação dos índios Xucuru, ou seja, do
indenizações, como prometido grupo majoritário ligado ao cacique Marcos Luidson, e dos grupos minori-
19 de março de 2003; tários expulsos do Cimbres e outras aldeias, Expedito Alves Cabral “Biá” e
ional da FUNAI estar no Genivaldo “Canário”. Compareceram mais de 10 (dez) índios desterrados.
ituída pelo novo governo, As entidades de direitos humanos entenderam que a presença de índios
e que naquele número, sem que igual presença fosse concedida a representantes
indígenas das lideranças tradicionais (leia-se, cacique Marcos Luidson e
Recife adotou como estratégia,
demais líderes de aldeias), modificaria o perfil da reunião, e comprometia
Marcos Luidson, e na subse-
a própria segurança dos participantes, em face da conhecida hostilidade.
o-obtenção de informação au-
vamente, das provas colhidas À ponderação, feita por representante da Comissão Especial do
CDDPH, de que o número mais elevado de representantes dos grupos
desterrados, porque legitimados para discutir matéria de seu interesse dire-
firmou que formalizou a en-
to, não deveria significar justo motivo para retirada. Esta só deveria se dar
até o momento, tenha a FU-
se aquelas presenças pudessem por em risco a segurança dos representantes das ONGs.
131
XUKURU DO ORORUBÁ
132
“Plantaram” Xicão
133
XUKURU DO ORORUBÁ
134
“Plantaram” Xicão
mplantação de projetos por O que o Ministério Público fez (ou não fez) que se
ndios), os quais permane- revela preocupante
fiável;
ão própria sobre os acon- 1. Convidou testemunhas para prestarem depoimento na Procu-
esultaram na morte de 2 radoria da República em Pernambuco, quando já representara
cique, e na destruição de por suas prisões;
2. Manteve datas de ouvida desses depoimentos, mesmo após
da questão do banimento; decretada as preventivas requeridas;
eito do índio ter advogado 3. Não compareceu à ouvida das testemunhas, querendo fazer
crer que nada tinha a ver com o ato de ouvida das mesmas ou,
especialmente, com a prisão;
a preocupante 4. Não exerceu inteiramente o devido controle crítico sobre as
provas produzidas pela polícia federal nos casos José Barbosa
dos Santos e José Lourival Frazão;
a ineficiência e descaso da
lpa por sua morte; é pre- 5. Os procuradores com atuação na tutela coletiva não parecem
ter partilhado com os procuradores com atuação na área cri-
minal o conjunto de informações de que dispunham, e que
o apuração adequada dos
evidenciavam a fragilidade (e mesmo a inconsistência) da ale-
para o crime), e evidencia
gada motivação para a morte do índio Francisco de Assis San-
anças indígenas;
tana, o Chico Quelé;
nvolve o Ministério Públi-
6. A absolvição – mediante arquivamento de inquérito – de José
ão Campos da Silva Dan-
Vicente de Carvalho, por “legítima defesa”, pode vir a com-
deste da sede da Procura-
prometer a própria acusação contra José Lourival Frazão, e
disposição da autoridade
contraria linha de evidências contidas nos autos;
7. Recusou-se aceitar Maria Gorete Barbosa da Silva, mãe do
dios na fazenda Curral do
índio José Ademílson Barbosa da Silva, como assistente de
danos materiais, e investe
acusação, por ser tutelada da Funai, exigindo que procurador
ara prendê-lo;
federal desta autarquia representasse seus interesses (fato pro-
ui o cacique Marcos Luid- visoriamente superado, em razão de liminar em mandado de
idera agente provocador, no segurança impetrado junto ao TRF 5a).
amente, o atentado contra
as destruições, é o cacique
O que o CIMI fez (não fez) que se revela preocupante
apel e a credibilidade das
hecidamente de polariza- 1. Proferiu algumas declarações genéricas e graves pela impren-
sa, com acusações a toda a Procuradoria da República em Per-
nambuco, sem individualizar as condutas;
135
XUKURU DO ORORUBÁ
136
“Plantaram” Xicão
gestões junto às lideranças 7. Mas mais importante que ter afirmado a ocorrência de vio-
da conflituosidade. lações, cumpre agora afirmar o que fazer, para transformar o
conflito.
(não fizeram) que se
O que fazer para transformar o conflito
137
XUKURU DO ORORUBÁ
tes legítimos desse povo, levando em conta ainda os direitos e interesses 1. recomendar ao
das comunidades e grupos afetados; Câmara (Câma
IV. Deve ser particularmente reconhecido o direito dos índios se fa- Criminal), seu
zerem representar por advogados e procuradores de sua escolha e con- dores da PR/P
fiança, na defesa dos seus direitos e interesses, sem prejuízo do regular Federal dos Di
Direitos do Cid
desempenho da defesa coletiva dos direitos e interesses dos índios e comu-
to das repercus
nidades indígenas pela FUNAI e pelo Ministério Público Federal;
dos índios Xuk
2. recomendar à
c) Isto implica, entre outras providências, reconhecer que: Reite- sos criminais,
rar os encaminhamentos já feitos ao CDDPH, no sentido de: advogado de í
I. Questão fundiária: como advogad
causídico deve
2. recomendar à FUNAI nacional a agilização, junto à AER/RE-
sentido de real
CIFE, do processo de desintrusão, e indenização;
que representa
3. junto à Presidência da República e ao Ministério da Justiça, as- concordam ou
segurar recursos para a conclusão do processo de regularização ou sugerem su
fundiária, e o projeto de desenvolvimento sustentável;
4. recomendar à FUNAI acompanhar investimentos públicos d) Atentar para a
realizados na área; blica Marcos Costa, no de
II. Questões judiciais em si: ministrativo que apurava
temas ligados às dissidên
mais ampla, integrada po
Tais divergências não apresentam, até o momento, a constituição de uma cisão da sociedade das seguintes entidades:
Xukuru capaz de sustentar a divisão de seu território, devido, principalmente, ao significado que
sua terra tem como um todo, no plano religioso e organizativo do grupo e ao intenso fluxo dos
índios entre as 23 aldeias existentes. I. Comunidade Xuku
Considerando a dinamicidade dos processos sociais e a intensidade dos fluxos no campo inter-
societário em questão, não há como se afirmar ou como delimitar o que seriam características II. FUNAI;
originalmente dos Xukuru e aquelas estabelecidas externamente pelas agências presentes; tal
afirmação constituiria um equívoco teórico e metodológico ao se tratar esta problemática. Mas
é possível perceber que as autoridades, social e historicamente, constituídas pelos xukuru têm
correspondido ao seu caráter tradicional-carismático e que vêm assumindo o estatuto de auto-
ridade legal.
SUGESTÕES DE ENCAMINHAMENTOS: Propor a constituição de uma comissão xukuru formada 42. Procedimento Administrativo
por integrantes de todas as aldeias no sentido de formular um planejamento de ocupação das internas na comunidade indígena x
áreas (imóveis) a serem liberados; Realização de uma conferência sobre o desenvolvimento na ção da situação conflituosa e a m
Terra Indígena Xukuru, em que possam ser apresentados e discutidos (entre índios e represen- desafiam os órgãos públicos e a p
tantes das diversas organizações — governamentais e não-governamentais — envolvidas) todos viabilização de formas de harmoni
os projetos que estão sendo implementados junto a esse grupo e as agências responsáveis por vência que permitam às gerações
eles. Através desse evento, poderia se explicitar os objetivos dos projetos, seus critérios e me- ra a construção de um ambiente
todologias, os recursos alocados, as formas de gerenciamento dos mesmos e a participação e a semelhanças como seres humano
responsabilidade das instituições envolvidas. ambos os grupos étnicos compart
138
“Plantaram” Xicão
de uma comissão xukuru formada 42. Procedimento Administrativo 1.26.000.000875/2001-39, para apurar notícia de divergências
m planejamento de ocupação das internas na comunidade indígena xukuru em Pesqueira (PE). Parágrafo 115. “É certo que a supera-
ência sobre o desenvolvimento na ção da situação conflituosa e a melhoria da relação comunidade indígena-sociedade envolvente
scutidos (entre índios e represen- desafiam os órgãos públicos e a própria comunidade indígena. Naquela, o desafio centra-se na
ernamentais — envolvidas) todos viabilização de formas de harmonização interna. Nesta, na criação de formas de vivência e convi-
po e as agências responsáveis por vência que permitam às gerações atuais e às gerações futuras de índios e não-índios de Pesquei-
dos projetos, seus critérios e me- ra a construção de um ambiente plural, em que o reconhecimento das diferenças étnicas e das
o dos mesmos e a participação e a semelhanças como seres humanos, dotados da mesma dignidade, permitam aos integrantes de
ambos os grupos étnicos compartilharem uma realidade de respeito e integração”. Pág. 39.
139
XUKURU DO ORORUBÁ
140
“Plantaram” Xicão
141
XUKURU DO ORORUBÁ
142
“Plantaram” Xicão
143
XUKURU DO ORORUBÁ
valores. É evidente, na mesma, a ausência dos elementos que foram apre- Enquanto antropólo
sentados pelo relatório técnico, daí nosso interesse em demonstrar como Xukuru, fomos convidada
um evento pode ser construído a partir dos interesses e dos jogos de poder fim de, se de acordo, comp
em questão. procedimentos necessário
Assim, optamos por
A TESSITURA DO RELATÓRIO um desenhista técnico, um
nista, uma psicóloga, uma
nós duas, únicas que não f
O evento do dia 07 de fevereiro alcançou considerável repercussão.
No mesmo dia do ocorrido, uma comissão da Secretaria Especial de Di- Durante as negociaç
reitos Humanos, acompanhada por representante da 6ª Câmara do Mi- era possível perceber que
nistério Público Federal, da Comissão Nacional de Direitos Humanos e em posições também ant
de várias entidades indigenistas, seguiu para a cidade de Pesqueira a fim os próprios técnicos envol
de mediar e fiscalizar os procedimentos adotados para apuração dos fatos. discurso dos direitos hum
As desconfianças que caracterizaram a relação entre as autoridades do ofuscava a percepção do co
Município, da Polícia Militar e da Policia Federal e os Xukuru provoca- acionados eram vistos com
ram muita tensão naquele momento. Em linhas gerais, é possível dizer teria um papel fundamen
que tais instituições eram acusadas de assumir posições e agir de forma Nosso papel na equ
parcial a favorecer os indígenas que se colocavam como opositores ao ca- em situação de conflito, p
cique Marcos e com esse objetivo agirem de forma arbitrária. O conflito compreensão do problem
estava instaurado de forma bem mais ampla. cial dos Xukuru, os ante
Nos dias que se seguiram, as famílias banidas da área indígena fo- das suas lideranças, as re
ram acolhidas nas cidades de Recife e de Pesqueira e a FUNAI respon- Tomamos como base a idé
sabilizou-se por acomodá-las em locais que não as colocassem em risco acional que enfatiza o estu
e, para tanto, assumiu o aluguel de casas e o fornecimento de cestas bá- interrelacionar os vários ca
sicas. O que foi definido como uma medida emergencial passou a ser Optamos por proce
uma demanda crescente para o órgão indigenista. Diante dos impasses, quantitativos e qualitativ
da ausência de critério para prestar assistência, é que foi levantada a ne- mulários aplicados por tod
cessidade de produção de um relatório por uma Comissão Técnica (CT). nas imediações da Vila de
O principal objetivo da CT consistia em identificar as famílias que entrevistávamos os vizinh
saíram da Terra Indígena, por causa do conflito, e tentar compreender os motivos que provocara
as tensões que culminaram com a tentativa de assassinato do cacique e aliança com as lideranças
expulsão das famílias. O segundo formulár
Uma das necessidades apontadas pela FUNAI para a realização do famílias que deixaram sua
relatório era com base na identificação das famílias, possibilitar a assis- trumento, voltávamos a e
tência àquelas que ficaram em situação de vulnerabilidade em razão do que tinham do conflito, c
conflito de 07 de fevereiro. vivência (as atividades qu
144
“Plantaram” Xicão
lementos que foram apre- Enquanto antropólogas que já haviam realizado pesquisas com os
esse em demonstrar como Xukuru, fomos convidadas para participar de algumas reuniões iniciais a
resses e dos jogos de poder fim de, se de acordo, compor uma equipe multidisciplinar e definirmos os
procedimentos necessários para o trabalho.
Assim, optamos por compor a equipe formada por nove pessoas:
um desenhista técnico, uma assistente social, uma pedagoga, um zootec-
nista, uma psicóloga, uma administradora e três antropólogas, das quais
nós duas, únicas que não faziam parte do quadro funcional da FUNAI.
considerável repercussão.
Secretaria Especial de Di- Durante as negociações para a composição e formalização da equipe,
nte da 6ª Câmara do Mi- era possível perceber que o conflito entre os Xukuru havia se desdobrado
al de Direitos Humanos e em posições também antagônicas entre as agências indigenistas e entre
cidade de Pesqueira a fim os próprios técnicos envolvidos. A interpretação do conflito com base no
os para apuração dos fatos. discurso dos direitos humanos universais e num excesso de pragmatismo
o entre as autoridades do ofuscava a percepção do contexto. Os argumentos antropológicos por nós
ral e os Xukuru provoca- acionados eram vistos como advindo de um campo de especialistas que
as gerais, é possível dizer teria um papel fundamental da condução do problema.
posições e agir de forma Nosso papel na equipe era o de, através de um trabalho de campo
m como opositores ao ca- em situação de conflito, produzir informações que pudessem viabilizar a
rma arbitrária. O conflito compreensão do problema, considerando elementos da organização so-
cial dos Xukuru, os antecedentes do conflito, aspectos da legitimação
nidas da área indígena fo- das suas lideranças, as redes de sociabilidade e as tensões já existentes.
ueira e a FUNAI respon- Tomamos como base a idéia de Van Velsen (1987, p. 369) de análise situ-
ão as colocassem em risco acional que enfatiza o estudo das normas em conflito e da necessidade de
ornecimento de cestas bá- interrelacionar os vários casos, apresentados situacionalmente.
emergencial passou a ser Optamos por procedimentos de pesquisa que envolviam métodos
sta. Diante dos impasses, quantitativos e qualitativos. Os primeiros, através de dois tipos de for-
é que foi levantada a ne- mulários aplicados por toda a equipe. Identificadas as casas abandonadas
Comissão Técnica (CT). nas imediações da Vila de Cimbres, aldeia onde se deu o ápice do conflito,
identificar as famílias que entrevistávamos os vizinhos mais próximos com o objetivo de caracterizar
to, e tentar compreender os motivos que provocaram a saída da casa, as relações de parentesco e
e assassinato do cacique e aliança com as lideranças envolvidas no conflito, e a data de saída.
O segundo formulário foi utilizado nas entrevistas realizadas com as
UNAI para a realização do famílias que deixaram sua moradia da Terra Indígena. Através deste ins-
mílias, possibilitar a assis- trumento, voltávamos a explorar os motivos da sua saída, a compreensão
nerabilidade em razão do que tinham do conflito, como era composta a família, os meios de sobre-
vivência (as atividades que a sustentavam). Os dados resultantes dos for-
145
XUKURU DO ORORUBÁ
146
“Plantaram” Xicão
compor um quadro geral A expectativa em torno das conclusões deste relatório para o enca-
erviço de assistência social. minhamento do destino das famílias promoveu situações bastante des-
foram por nós mais utili- confortáveis para a equipe. Como se não bastassem as acusações entre
ias envolvidas no conflito. os índios que ficaram na TI e os que saíram, a CT era constantemente
nte tensa e nosso trabalho solicitada para fornecer informações e se pronunciar em relação a ques-
ealizada num curto perío- tões que envolviam o conflito entre os Xukuru. O clima de suspeição e os
ue utilizássemos de alguns comentários efetuados por pessoas que transitavam entre os dois grupos
ridades. incentivaram a desconfiança em relação aos trabalhos desta Comissão.
gas, também tinha sua es- Os trabalhos resultaram num relatório de 53 páginas, acompanha-
equipe em relação aos pro- do de denso conjunto de documentos anexados. Estão presentes infor-
-los em relação às tensões mações de cunho administrativo, como detalhes da comissão técnica,
mbém uma reflexão sobre menção a portarias, dados sobre o cadastro das famílias realizado pelas
desenvolvíamos naquele assistentes sociais e também elementos antropológicos que visavam con-
substanciar a compreensão do conflito.
m registradas, em espaço Optamos por um texto que priorizava a “narração realista” (CO-
no formulário, o que pos- LOMBO, 2005, p. 269). Tratava-se de uma escolha intencional para po-
e conflito. sicionar o argumento antropológico. O objetivo deste tipo de narração é
“chegar a uma perspectiva de observação descentrada de modo a acolher
omissão foi a variedade de
e descrever os fatos como se desenvolvem também no distancaimento do
terra indígena. Tratava-se
pesquisador” (COLOMBO, 2005, p. 270). Cientes de todas as limitações
o dia 07 de fevereiro, mas
e críticas voltadas para esse tipo de narração, consideramos que a sua
atritos entre familiares e
objetividade e a afirmação da autoridade do antropólogo, seriam elemen-
s. Optamos, dessa forma,
tos fundamentais na disputa pela definição “do fazer crer” (BOURDIEU,
sas e situá-las em quadros
1989) que se apresentava naquele momento.
a.
e Cimbres, onde se encon-
o, o epicentro do conflito ANTECEDENTES: PARA ENTENDER O CONFLITO
companharam as primei-
strar qual o procedimento O processo de regularização fundiária do território Xukuru foi ini-
objetivos da Comissão. ciado em 1989 quando foi realizada a etapa de identificação e delimita-
adas 14 famílias identifi- ção. A partir desse período, as relações que ali vinham se conformando
ente haviam sido expulsas estavam envolvidas na disputa pelos limites territoriais e pela definição
moradia dessas pessoas é das fronteiras da identidade Xukuru. A mobilização em torno da garan-
total, foram três meses de tia territorial foi capaz de estabelecer um senso de pertencimento que dei-
completa, ora havia alter- xava em segundo plano os vínculos (políticos, afetivos, de compadrio) que
instituíram as relações locais durante grande parte da história Xukuru.
147
XUKURU DO ORORUBÁ
Apesar de a mobilização Xukuru ir de encontro à estrutura fundiária mais que limites geogra
e política que ali se conformara, até o ano de 2000 não havia se processado como área de uma prátic
uma mudança significativa nas relações políticas e econômicas locais. tegoria social. É no inter
A organização dos Xukuru e a sua forma de mobilização tiveram desse grupo se sentem em
repercussões nacionais que vieram a dar destaque à questão indígena no espaço socialmente selecio
Nordeste e o cacique Xicão teve sua liderança projetada regional e nacio- interior do qual essa prátic
nalmente. Os reflexos provocados por essa mobilização podem ser obser- tima. Assim, dentro dos li
vados quando acompanhamos o processo de reconhecimento oficial da TI dos imóveis nele incident
Xukuru, que foi alvo de várias manobras administrativas e políticas, que reocupação dos espaços; h
não possibilitavam uma mudança significativa das relações na região de internas a fim de equaliza
Pesqueira, onde se situa a terra indígena. A violência envolvendo a dispu- A mobilização dos X
ta pelas terras culminou com o assassinato do cacique Xicão em 1998, em regularização fundiária, qu
um total de seis mortes até 2003. Apesar de a maioria das etapas neces- trativo e jurídico do Estad
sárias para a homologação da TI ter sido concretizada desde 1998, esta só rearrumação no plano loca
veio a se dar no ano de 2001. tório mesclado, até então,
Até então, o poder estabelecido pelo controle daquelas terras pouco contro ao projeto dos Xuk
havia sido abalado. As alianças entre os fazendeiros, a população indígena Foi neste momento
e as instituições públicas (incluindo aí a própria FUNAI), garantiam o zação da ocupação do terr
status quo na região. de Xicão, que algumas te
No entanto, com os trabalhos de atualização dos valores das benfei- ausência da liderança de X
torias dos imóveis incidentes na TI e com o começo do pagamento das in- coesão e de controle das re
denizações, começa uma nova fase em que os ocupantes não-índios passam próprios indígenas se confi
a se retirar das terras Xukuru e as relações assumem um novo contorno. jeto de sociedade xukuru r
De maneira bastante explícita, o controle territorial passa a admitir Desde julho de 2000
um domínio em que prevalece a idéia de uma terra com base na apropria- curaram se legitimar com
ção coletiva que impõe limites ao controle externo e prevê formas dife- de 2001, se declararam “i
rentes de controle e gerenciamento da área que reconstroem as relações Xukuru de Cimbres.
sociais na região. O local do confronto passa a ser fundamentalmente a A princípio, esse gr
cidade, a polaridade entre índios e não-índios fica mais clara no contexto terra indígena. A propost
urbano. O controle do território xukuru também significava afirmar o os recursos e projetos vol
controle de recursos importantes para o município, como o acesso à água, seja, nas aldeias Cimbres
pois o principal açude que supre a cidade fica situado na área indígena, e por sua vez, gerenciariam
o controle de estradas que possibilitam o acesso a imóveis produtores de teriormente os Xukuru d
leite na região norte do município de Pesqueira. física do território, em du
Destacamos que a idéia de um novo gerenciamento de território ambos os grupos, no lado
deve ser compreendida de maneira mais ampla; este representa muito
148
“Plantaram” Xicão
ontro à estrutura fundiária mais que limites geograficamente estabelecidos. Deve ser entendido
00 não havia se processado como área de uma prática social, de um comportamento, de uma ca-
as e econômicas locais. tegoria social. É no interior desta região delimitada que os indivíduos
a de mobilização tiveram desse grupo se sentem em afinidade, em segurança; seu território é um
que à questão indígena no espaço socialmente selecionado para a sobrevivência de seu sistema e é no
projetada regional e nacio- interior do qual essa prática social se faz e se crê eficaz, competente e legí-
bilização podem ser obser- tima. Assim, dentro dos limites do território xukuru, com a desocupação
onhecimento oficial da TI dos imóveis nele incidentes, é iniciado um processo de acomodação e de
nistrativas e políticas, que reocupação dos espaços; há também necessidade de acordos e estratégias
das relações na região de internas a fim de equalizar as necessidades e interesses.
ência envolvendo a dispu- A mobilização dos Xukuru começou a se dar com a reivindicação da
cique Xicão em 1998, em regularização fundiária, que coloca a disputa territorial no plano adminis-
maioria das etapas neces- trativo e jurídico do Estado brasileiro, ao mesmo tempo em que há uma
tizada desde 1998, esta só rearrumação no plano local para efetivação de uma hegemonia num terri-
tório mesclado, até então, por interesses políticos e poderes que iam de en-
role daquelas terras pouco contro ao projeto dos Xukuru, inaugurado ainda sob a liderança de Xicão.
iros, a população indígena Foi neste momento de realinhamento das relações e de reorga-ni-
ia FUNAI), garantiam o zação da ocupação do território demarcado, no período posterior à morte
de Xicão, que algumas tensões internas passaram a tomar mais vulto. A
ção dos valores das benfei- ausência da liderança de Xicão, que representava um forte elemento de
eço do pagamento das in- coesão e de controle das relações internas, permitiu que disputas entre os
upantes não-índios passam próprios indígenas se configurassem como ameaças para o já referido pro-
mem um novo contorno. jeto de sociedade xukuru relacionado com a regularização de seu território.
territorial passa a admitir Desde julho de 2000, alguns índios que residiam em Cimbres pro-
rra com base na apropria- curaram se legitimar como um grupo dos Xukuru à parte. Em setembro
erno e prevê formas dife- de 2001, se declararam “independentes” e passaram a se autodenominar
e reconstroem as relações Xukuru de Cimbres.
ser fundamentalmente a A princípio, esse grupo pretendia uma divisão administrativa da
ca mais clara no contexto terra indígena. A proposta era que os Xukuru de Cimbres gerenciariam
bém significava afirmar o os recursos e projetos voltados para a região oeste da terra indígena, ou
pio, como o acesso à água, seja, nas aldeias Cimbres, Cajueiro e Guarda. Os Xukuru do Ororubá,
tuado na área indígena, e por sua vez, gerenciariam os recursos das outras vinte e uma aldeias. Pos-
o a imóveis produtores de teriormente os Xukuru de Cimbres propuseram também uma divisão
. física do território, em duas partes, impossibilitando o livre tráfego de
renciamento de território ambos os grupos, no lado adversário.
la; este representa muito
149
XUKURU DO ORORUBÁ
A família do principal líder desse grupo sempre fora uma das mais AS DIMENSÕES D
abastadas da vila, vivendo na dependência política dos fazendeiros e de ANTROPOLÓGIC
políticos da região. Quando as terras começaram a ser desintrusadas, eles
se viram de uma hora para outra perdendo prestígio e poder, pois os gran- A requisição do relat
des proprietários, ao desocuparem as terras, entregavam-nas às lideran- da necessidade de melhor
ças tradicionais deixadas por Xicão. tanto, até que ponto podem
Estamos, na verdade, lidando com dois paradigmas diferentes. Os que o subsidiaram foram u
Xukuru do Ororubá, através dos esforços e lutas para o ressurgimento de Cabe, a princípio, ex
vínculos étnicos, empenharam-se para uma organização social e política como uma perícia antropo
bem articulada, envolvendo representantes de todas as aldeias e valori- interdisciplinar, o caráter
zando a consulta ao Conselho formado por “lideranças tracionais”, como realizadas. Com intuito d
são consideradas algumas pessoas mais velhas que se destacaram no en- judicial, seu conteúdo ap
volvimento na mobilização pela reconquista territorial e pela sua relação lidade, situou-o historicam
com o plano sagrado, herança deixada por Xicão. Sua identidade étnica que saíram da terra indíge
é baseada no processo de territorialização e na crença nos “encantados”, assumiu um papel mais a
em Mãe Tamain e no Pai Tupã. A sobrevivência econômica desse grupo mandantes e, teoricament
advém do uso e controle da terra como forma de sustento. Consideram para a aquela situação e
a existência do grupo opositor, apoiado pelos latifundiários, baseado na cer de experts na questão.
burocracia e mediação de agências políticas externas, carecendo de legi- uma forma particular de
timidade religiosa. modo peculiar de ligação e
Por sua vez, os Xukuru de Cimbres se organizaram a partir de ações mecânica entre instrumen
políticas de desenvolvimento regional. Toda a organização social criada concretos referidos a reali
por esse grupo em 2000, parte do princípio de que a região tem um enor- a perícia não se reduz a um
me potencial turístico e deve ser explorado. A proposta dos Xukuru de seus contornos geográfico
Cimbres era criar uma infraestrutura nas aldeias de Cimbres e de Cajuei- ca mediante uma questão
ro, que acolhesse o romeiro e o turista. Pensões, pousadas e grandes ho- A expectativa do lu
téis-fazenda acolheriam o turista que deixasse dinheiro na região. Como mentos nos contextos de d
podemos perceber, são duas concepções distintas de desenvolvimento e cisões ainda na esfera adm
de utilização da terra indígena, uma incompatível com a outra. sobre este, como bem sali
criar uma confusão de sab
atribuído ao antropólogo
sabilidades e benefícios.
Ao argumento antr
assim como são impostas
lidade, que engessam o ca
o antropólogo como impo
150
“Plantaram” Xicão
151
XUKURU DO ORORUBÁ
treita relação mantida com os grupos sociais estudados, o que constitui SOBRE A SENTEN
um elemento fundamental para a realização de etnografias. O “objeto”
do conhecimento não é independente do sujeito cognoscente (OLIVEI- Sobre a responsabilid
RA, 1998, 270) e, portanto, nem antropólogos, nem gestores, nem juí- dualmente, há de se desta
zes, nem qualquer perito são indiferentes ao campo em apreço. Cimbres, pois esta foi mov
Conforme explicitado por Leite, “O trabalho da perícia antropoló- compreensão de que o “su
gica envolve diálogo com esse campo [o do Direito], já que o que está em Esse foi o aspecto que ma
jogo são, principalmente, direitos que foram histórica e culturalmente apresenta sobre o evento.
construídos. E nesse sentido tudo se amplia: o diálogo não é apenas com o Assim, como o olha
jurídico, mas abrange a sociedade e várias áreas do conhecimento, discur- administrativos, a respond
sos, atores e interesses, por vezes antagônicos” (LEITE, 2004, 67). a perspectiva do juiz profe
Há de se atentar, tal como já foi também destacado por Oliveira (1988, ber a sanção. Para esse juíz
270 e 282), que a Antropologia opera com um grau de abstração muito dife- sócio-político não era imp
rente do acionado pelo saber jurídico; sua ênfase se pauta sobre as práticas e envolvidos nos eventos e
a produção simbólica de uma sociedade. O que queremos destacar, por fim, individualmente imputad
é: (a) o antropólogo trabalha com coletividades, logo, seus argumentos só Shiraishi (2006, p. 1
têm sentido se relacionados à compreensão da forma de vida em sociedade comunidade tradicionais,
e que (b) as categorias privilegiadas para sua análise são as denominadas operacionais que carecem
categorias nativas que ressaltam a necessidade de se atentar para as formas fim de relativizar o que é
de nominação e classificação interna a cada grupo, distanciando-se do que preensão das ações socialm
poderia ser considerado como falsa consciência ou simulação. Os atos e as “este movimento de adequ
representações são categorias significativas para o entendimento das rela- ta os antagonismos existen
ções sociais e dos lugares que os sujeitos ocupam no mundo. grupo social; e propriedad
Dentro dessa mesma lógica, é claro para o campo da Antropologia
que, ao ocupar um espaço privilegiado nas arenas de decisão adminis-tra-
É por
tiva e judicial, os laudos antropológicos acabam por assumir um gênero
deman
narrativo próprio, em que também situa seus argumentos no contexto
pensar
de correlações de poder e de interesses de todos os lados envolvidos. Tal
a sua e
afirmativa parece ser contraditória à opção declarada anteriormente de
pode s
que usamos a “narrativa realista”. No entanto, cabe perceber que esta se
Tem-s
constituiu como uma estratégia de convencimento e não como estratégia
dos ou
de compreensão do problema.
do out
Apesar de já estarmos diante da sentença social proferida, o que per-
cebemos no presente caso é a desconsideração - em todo o processo - de
instrumentos, como o laudo produzido sobre o conflito, que possibilita-
riam outra leitura do fato.
43. Sobre a análise dessa sentenç
152
“Plantaram” Xicão
43. Sobre a análise dessa sentença, ver Fialho, Figueiroa e Lobo (2009)
153
XUKURU DO ORORUBÁ
Assim como entre os Paez, na Colômbia (SÁNCHEZ, 2008), o “su- uma proteção ao indivídu
jeito distinto” Xukuru é um sujeito coletivo. Isso quer dizer que a socie- sua casa -, enquanto para
dade Xukuru, em sua totalidade, é o sujeito de direito. O crime cometido, do território, ou seja, a um
na compreensão dos Xukuru é caracterizado pelo desrespeito à autorida- O problema, conseq
de (também sagrada) do cacique, pelo assassinato dos dois índios, que premissas que entram em
não consistiram em alvos individuais, mas representavam o abalo a uma da estejamos dentro de um
ordem socialmente estabelecida. bros a uma cultura majo
A compreensão de sujeito coletivo, conforme salienta Sánchez vida vigente, em detrime
(2008, p. 127-8), é o fundamento básico que explica muitos dos com- como pluralista.
portamentos e que também permite compreender as novas tensões que As discussões aprese
traem as demandas individuais de “liberdade” de alguns indivíduos. Cabe mente que houve um em
às autoridades manter o compromisso de salvaguardar a integridade ét- de Cimbres. Esse confron
nica e cultural do povo. tes, o que gerou duas for
Os membros deste povo, tal como entre os Paez, sabem e sentem afirma Bauman (2003), t
que a presença de um sujeito transgressor em suas comunidades é a ma- entanto, para alcançar a c
nifestação de que o todo social está mal. Não se tratou de um problema ção e liberdade individual
que só afetou um indivíduo, todos se sentiram atingidos. Diante da trans- e sem atritos.
gressão que evidenciou a ruptura de uma ordem, o transgressor foi iden- Nesse contexto de te
tificado e banido, para que “[...] se ingresse ‘otro presente’ que garantice o equilíbrio cindido pelos
un distinto para todos. Ese otro presente en todas las personas es la directriz da sanção ser pessoal, exis
general que debe proteger la autoridad”. (SÁNCHEZ, 2008, p. 128). caso dos Xukuru, em que
A identidade étnica Xukuru é fruto da luta por reconhecimento no ma tem responsabilidade
Estado democrático de direito. Para que esse reconhecimento se efetivas- dos envolvidos no assassin
se, foi necessário estabelecer uma rede de relações entre os diversos povos do cacique.
indígenas, tanto na região Nordeste, quanto em outras regiões do Brasil. Sanchéz (2008) tam
Essa rede de relações propiciou a criação de uma identidade coletiva que caso em análise, pois consi
consolidou uma forma de se afirmar Xukuru. a adoção de uma posição p
Para os Xukuru do Ororubá, a identidade do indivíduo está vincu- assumiam a condição de
lada à identidade coletiva e só pode concretizar-se através de uma rede mente assumiam uma po
cultural. Isso significa que para eles a segurança individual está atrelada à Não se trata de negligenc
segurança do território como um todo. identitário, mas que essa
Nós nos encontramos, assim, diante de um impasse: se por um lado comunitária xukuru. Tais
nossa Constituição responde a uma teoria dos direitos de orientação in- toridade tradicional e o de
dividualista, por outro reconhece a existência de identidades coletivas e, direito, com outros princ
portanto, igualdade de direitos para formas de vida culturais específicas. não buscavam a viabilida
Isso faz com que a forma como o Estado está organizado, aponte para todo o bojo de sustentação
um sistema hegemônico q
154
“Plantaram” Xicão
SÁNCHEZ, 2008), o “su- uma proteção ao indivíduo - no caso, cada indivíduo que foi expulso de
so quer dizer que a socie- sua casa -, enquanto para os Xukuru, a proteção está ligada ao controle
direito. O crime cometido, do território, ou seja, a uma proteção de caráter coletivo.
elo desrespeito à autorida- O problema, conseqüentemente, está em como lidar com essas duas
nato dos dois índios, que premissas que entram em choque permanentemente. É possível que ain-
esentavam o abalo a uma da estejamos dentro de uma estrutura que procura incorporar seus mem-
bros a uma cultura majoritária, impingindo às minorias essa forma de
nforme salienta Sánchez vida vigente, em detrimento do reconhecimento da sociedade brasileira
explica muitos dos com- como pluralista.
nder as novas tensões que As discussões apresentadas no relatório técnico identificam clara-
e alguns indivíduos. Cabe mente que houve um embate entre os Xukuru de Ororubá e os Xukuru
guardar a integridade ét- de Cimbres. Esse confronto teve por princípio dois paradigmas diferen-
tes, o que gerou duas formas distintas de lidar com a realidade. Como
os Paez, sabem e sentem afirma Bauman (2003), ter uma comunidade significa ter proteção, no
uas comunidades é a ma- entanto, para alcançar a comunidade significa perder a liberdade. Prote-
e tratou de um problema ção e liberdade individual são dois valores desejados, mas nunca ajustados
tingidos. Diante da trans- e sem atritos.
m, o transgressor foi iden- Nesse contexto de tensão, a sanção será a única que poderá restaurar
ro presente’ que garantice o equilíbrio cindido pelos agressores do cacique. Apesar de a imputação
las personas es la directriz da sanção ser pessoal, existem casos, como destaca Sánchez e parece ser o
CHEZ, 2008, p. 128). caso dos Xukuru, em que se estende à família, por considerar que a mes-
ta por reconhecimento no ma tem responsabilidade em deter a infração. Daí o banimento da família
conhecimento se efetivas- dos envolvidos no assassinato dos dois índios e na tentativa de assassinato
ões entre os diversos povos do cacique.
m outras regiões do Brasil. Sanchéz (2008) também destaca outro aspecto importante para o
ma identidade coletiva que caso em análise, pois consideramos que o conflito foi se conformando com
a adoção de uma posição por parte dos opositores do cacique Marcos que
e do indivíduo está vincu- assumiam a condição de índio para a sociedade “branca”, mas interna-
ar-se através de uma rede mente assumiam uma postura que mais se aproximava dos não-índios.
individual está atrelada à Não se trata de negligenciar a dinamicidade inerente a qualquer processo
identitário, mas que essa dubiedade era vivenciada nos limites da vida
m impasse: se por um lado comunitária xukuru. Tais contradições mostravam descaso diante da au-
direitos de orientação in- toridade tradicional e o desejo dos opositores de acessar outro sistema de
de identidades coletivas e, direito, com outros princípios, procedimentos e sanções. Tais opositores
vida culturais específicas. não buscavam a viabilidade do diálogo intercultural, mas de negação de
organizado, aponte para todo o bojo de sustentação da unidade social Xukuru e de legitimação de
um sistema hegemônico que nega qualquer tipo de pluralismo.
155
XUKURU DO ORORUBÁ
156
“Plantaram” Xicão
157
XUKURU DO ORORUBÁ
44. Este texto é parte integrante do quarto capítulo da dissertação da autora. Ad Argumentadum
Tantum: um olhar antropológico acerca do processo criminal da morte do cacique Xicão Xukuru. 46. O termo “Estado-Juiz” e “po
Dissertação de Mestrado em Antropologia, UFPE, 2010. modelo federativo do Estado bra
diciário é um deles, responsável p
45. Entendo por “diálogo intercultural” a definição dada pelo Jurista Fernando Dantas: “O diá-
Estado-Juiz pode ser entendido co
logo intercultural se configura como um espaço e um instrumento da nova cidadania indígena,
regulador da vida em sociedade, s
diferenciada, multicultural, dinâmica, criativa e participativa no sentido de construir e reconstruir
os direitos diferenciados indígenas e, como conseqüência, criar, também, contextos institucionais 47. O termo “práticas judiciárias
plurais e heterogêneos onde a convivência democrática possibilite o desenvolver das ações da (2008), ou seja, o modo pelo qua
vida sem a opressão, sem exclusão”. (DANTAS, 2002, p. 6248). podiam ser julgados em função do
158
“Plantaram” Xicão
159
XUKURU DO ORORUBÁ
no que diz respeito ao seu “modo de estar no mundo” ou seus aspectos Desse modo, como
sócio-culturais, pouco altera a lógica de processamento desse crime pelo víduo, mas sim uma repa
poder judiciário federal local. Nesse sentido, cumpre não olvidar que, se mitigado no plano penal,
o direito positivo estatal e o direito indígena são sustentados por valores apontar os autores do “cri
sócio-culturais distintos, para entender este caso a partir de um enfoque na infração, que consiste
intercultural é necessário relativizar algumas bases do Direito Estatal48. ilustração, transcrevo trec
Observa-se que o processo criminal do cacique Xicão teve uma 2008, pelos representante
tramitação protocolar e burocrática, sem considerar algumas espe- em relação ao homicídio d
cificidades do povo Xukuru, nem o contexto político-jurídico que o
mesmo está inserido, pois prevalece o modelo cognitivo49 do poder ju- EXMO
diciário e do aparato policial do Estado na formação e condução desse JUDIC
processo-crime50. Por exemplo, no que diz respeito à vítima, no caso
em questão, prevaleceu o papel da vítima na ação penal de natureza Ref.: I
pública incondicionada - como é o caso de homicídio - na qual seu perfil O MIN
praticamente inexiste51. de seu
Isto ocorre devido ao modelo de Estado de Direito brasileiro, que buiçõe
toma como fundamento o Contrato Social (rousseauniano), com o pres- acima
suposto que todos os integrantes da sociedade firmaram esse pacto, pelo DENU
qual os indivíduos abrem mão de parte de sua liberdade para que o Estado vulgo
regule a vida em sociedade, assim, o Estado-Juiz toma para si o conflito e 12/10
passa a ser o único com legitimidade para julgar as infrações à lei (monis- ti se S
mo jurídico), nesse sentido, “a infração não é um dano cometido por um 1.943
indivíduo contra o outro; é uma ofensa ou lesão de um indivíduo à ordem, te na F
ao Estado, à lei, à soberania, ao soberano.” (FOUCAULT, 2008, p.66). lhido n
incurs
ambos
(fls. 03
48. Já o termo “Direito-Estatal” será entendido como o Direito normativo produzido e positivado fos do
pelo Estado Brasileiro em sentido lato.
49. Por “modelo cognitivo”, entendo-o como “um cânone jurídico que define o que é direito e
o que não é”, nas palavras do sociólogo português Boaventura de Souza Santos (SANTOS, 1988, 52. O processo criminal inicia-se f
p.82), que corrobora com o conceito foucaultiano de “práticas judiciárias”, ou seja, como uma ria privativa do representante do
forma própria de conhecer as relações sociais e solucionar conflitos, partindo de uma lógica nor- sição por escrito dos fatos que co
mativa-processual de um Estado de tipo monista. de que se aplique a lei penal a que
pretensão” (CAPEZ, 2004, p.53). A
50. Quando me refiro à formação do processo estou me reportando ao Inquérito Policial e quan-
promotor de justiça, por meio do d
do falo em condução do processo, refiro-me a Ação Penal e seus desdobramentos.
tidas como criminosas pelo Estad
51. A esse respeito, a Criminologia Crítica vem firmando forte convencimento acerca da neces- vítimas, testemunhas, agentes po
sidade de se debruçar sobre a “vitimologia”, que consiste no estudo/conhecimento da vítima no discurso. Assim, essas narrativas a
processo penal (ROSA DEL OMO, 2004). das e a depender de quem as fala
160
“Plantaram” Xicão
mundo” ou seus aspectos Desse modo, como não há reparação do dano feita a outro indi-
samento desse crime pelo víduo, mas sim uma reparação pela ofensa à lei, o papel da vítima fica
umpre não olvidar que, se mitigado no plano penal, posto que, para o Estado-Juiz, o importante é
o sustentados por valores apontar os autores do “crime” e a comprovação de suas responsabilidades
so a partir de um enfoque na infração, que consiste na violação de uma norma estatal. A título de
ases do Direito Estatal48. ilustração, transcrevo trecho da Denúncia52 oferecida, em 09 de agosto de
cacique Xicão teve uma 2008, pelos representantes do Ministério Público Federal de Pernambuco
onsiderar algumas espe- em relação ao homicídio do cacique Xicão Xukuru, in verbis:
o político-jurídico que o
cognitivo49 do poder ju- EXMO. SR. JUIZ FEDERAL DA 4ª VARA DA SEÇÃO
rmação e condução desse JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO
espeito à vítima, no caso
a ação penal de natureza Ref.: Inquérito Policial 98.0012178-1 (211/98)
micídio - na qual seu perfil O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio
de seus representantes infra-assinados, no uso de suas atri-
de Direito brasileiro, que buições legais e com base nos autos do inquérito policial
usseauniano), com o pres- acima epigrafado, vem, à presença de Vossa Excelência,
firmaram esse pacto, pelo DENUNCIAR RIVALDO CAVALCANTI SIQUEIRA,
berdade para que o Estado vulgo RIVA DE ALCEU, casado, agricultor, nascido em
z toma para si o conflito e 12/10/1960, em Alagoinha/PE, filho de Alceu Cavalcan-
r as infrações à lei (monis- ti se Siqueira e Verônica Melo Cavalcanti, identidade nº
m dano cometido por um 1.943.433 – SSP/RN, CPF nº 270.399.514-87, residen-
de um indivíduo à ordem, te na Fazenda Vitória, Bom Jesus/RN, atualmente reco-
UCAULT, 2008, p.66). lhido no Presídio Militar de Paratibe, neste Estado, como
incurso nas penas do art. 121, §2º, incs. I e IV, c/c art. 29,
ambos do Código Penal, pelos fatos a seguir descritos.
(fls. 03-10, vol. 1, Proc. Nº 2002.8300012442-1). – gri-
normativo produzido e positivado fos do original.
161
XUKURU DO ORORUBÁ
Ainda conforme o citado documento, a vítima vem apresentada da ração do seu território trad
seguinte forma na peça inaugural da ação penal: como uma grave violação
faz parte dos argumentos
assumiu o papel de lidera
I- DOS FATOS E DA MATERIALIDADE DELITIVA conflito com os fazendeiro
Em 20 de maio de mil novecentos e noventa e oito de violência54, conforme
(20/05/1998), por volta das 10h da manhã, o indígena município de Pesqueira-P
FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA ARAÚJO, conhe- seguir reproduzido:
cido como cacique CHICÃO, líder da tribo dos índios
xucurus, encontrava-se nas imediações de sua residência,
[...] A
na cidade de Pesqueira/PE, acompanhado do índio AN-
ela já v
TONIO SEVERIANO DE SANTANA, vulgo TOTO-
são. E
NHO, quando foi morto em decorrência de ferimentos
ocasionados por projéteis disparados por arma de fogo. com A
Che G
A vítima estacionava o veiculo Lada, placa KHM-2269,
nada,
em frente à sua casa, na Rua Coronel Leonardo, bair-
Natur
ro Xucurus, enquanto TOTONHO aguardava fora do
cuar, t
carro. Nesse momento, o assassino, JOSÉ LOBÓRIO
ningu
GALINDO, vulgo RICARDO, hoje falecido, surgiu ao
lado da porta do motorista e passou a disparar a curta bem fa
distância contra a vítima, provocando-lhe o óbito ates- dispon
tado na certidão de fls, 585 e confirmado pela perícia id=-8
tanatoscópica de fls. 89/91, fugindo em seguida.
Está evidenciada a materialidade delitiva, a qual ainda Com isso, é possível
encontra comprovação no laudo de exame de corpo de além de representar a mo
delito de fls. 764/778, efetivado após a realização de exu- cimento do povo Xukuru
mação realizada consoante fls. 672/673”. (fls. 03-10, vol.
1, Proc. Nº 2002.8300012442-1).
53. Cumpre destacar que, por dif
tange a universalidade dos direito
As narrativas acima assumem um relevante papel na compreensão da sociologia. Entretanto, não irei
sidade de salvaguardar e respeita
do contexto institucional que se desenvolve o processo criminal, enquan- também, como direitos coletivos.
to práticas discursivas imbricadas em estruturas sociais de dominação e 54. Em depoimento prestado à 6
poder (MISHLER, 2002), vez que apresentam-se como um registro de de 2008, o cacique Xicão declaro
indígenas e particularmente pelo
um modus operandi que não está atento as especificidades sócio-cultu- fazendeiro Theopombo Siqueira B
rais de Estados plurais, como é o caso brasileiro. Geraldo Rolim. A assentada desse
tauração do Inquérito Policial.
Com efeito, o fato de a vítima tratar-se de uma importante lide-
rança indígena, assim reconhecida nacional e internacionalmente, que 55. Segundo Fredrik Barth (1969
antropológica para designar uma
estava à frente do processo de mobilização do povo Xukuru pela recupe- gicamente; b)compartilha valores
162
“Plantaram” Xicão
tima vem apresentada da ração do seu território tradicional, caracterizando o homicídio perpretado
l: como uma grave violação aos “direitos humanos” 53, simplesmente não
faz parte dos argumentos da denúncia. Cumpre enfatizar que desde que
assumiu o papel de liderança, a atuação do cacique Xicão instaurou um
RIALIDADE DELITIVA conflito com os fazendeiros da região que passou a sofrer ameaças e atos
ecentos e noventa e oito de violência54, conforme explicitado por ele mesmo em ato público no
0h da manhã, o indígena município de Pesqueira-PE poucos meses antes da sua morte, como a
REIRA ARAÚJO, conhe- seguir reproduzido:
líder da tribo dos índios
ediações de sua residência,
[...] A destruição do nosso povo não começou de agora,
ompanhado do índio AN-
ela já vem de muito tempo. São 500 anos de luta e opres-
ANTANA, vulgo TOTO-
são. Estão querendo fazer comigo o mesmo que fizeram
decorrência de ferimentos
rados por arma de fogo. com Antonio Conselheiro. O mesmo que fizeram com
Che Guevara e com as outras lideranças, mas não tem
Lada, placa KHM-2269,
nada, se esse for o meu destino, se for autorizado pela
Coronel Leonardo, bair-
Natureza, por Deus... estou disponível. Não vou me re-
NHO aguardava fora do
cuar, também não vou me enraivar, nem guardar ódio de
assino, JOSÉ LOBÓRIO
ninguém, porque de uma coisa eu tenho certeza: quem
O, hoje falecido, surgiu ao
passou a disparar a curta bem faz para si é. (Fala extraída do vídeo Xicão Xukuru,
vocando-lhe o óbito ates- disponível em http://video.google.com/videoplay?doc
confirmado pela perícia id=-8537518505098293066#)
gindo em seguida.
ade delitiva, a qual ainda Com isso, é possível perceber que o assassinato do cacique Xicão,
do de exame de corpo de além de representar a morte da principal liderança na luta pelo reconhe-
o após a realização de exu- cimento do povo Xukuru enquanto “grupo étnico”55, e de seus direitos,
672/673”. (fls. 03-10, vol.
2-1).
53. Cumpre destacar que, por diferentes motivos e contextos, existem severas críticas no que
tange a universalidade dos direitos humanos sob uma perspectiva relativista da antropologia e
nte papel na compreensão da sociologia. Entretanto, não irei me deter a essa questão. Apenas pretendo enfatizar a neces-
sidade de salvaguardar e respeitar os direitos dos povos indígenas, enquanto sujeitos coletivos,
rocesso criminal, enquan- também, como direitos coletivos.
as sociais de dominação e 54. Em depoimento prestado à 6ª Câmara da Procuradoria Geral da República, em 25 de março
m-se como um registro de de 2008, o cacique Xicão declarou sentir-se ameaçado devido a luta pela retomada das terras
indígenas e particularmente pelo fato de ter prestado depoimento como testemunha contra o
pecificidades sócio-cultu- fazendeiro Theopombo Siqueira Brito Sobrinho no processo que apurou a morte do Procurador
o. Geraldo Rolim. A assentada desse depoimento foi juntada aos autos processuais quando da ins-
tauração do Inquérito Policial.
de uma importante lide-
internacionalmente, que 55. Segundo Fredrik Barth (1969), “o termo grupo étnico é utilizado geralmente na literatura
antropológica para designar uma comunidade que: a) em grande medida se autoperpetua biolo-
povo Xukuru pela recupe- gicamente; b)compartilha valores culturais fundamentais realizados com unidade manifestada em
163
XUKURU DO ORORUBÁ
representou também o aniquilamento de um líder carismático, de caráter -Juiz 57. Por exemplo, qu
“sagrado”. e não-indígena, os Xuku
No que diz respeito ao papel assumido pela liderança Xukuru, o ca- Nesse sentido é a narrativ
ráter sagrado atribuído se dá pela indicação política da liderança em con- gica processual do povo X
sonância com as orientações dos “encantados”, os “espíritos de luz” que
guiam o povo Xukuru. Os estudos da antropóloga Vânia Fialho (2007) [...] Ve
acerca dessa questão confirmam que: “a autoridade Xukuru como poli- car a l
ticamente constituída, relacionada com a ação coletiva do grupo, com fora nã
o propósito de garantir a ocupação de suas terras e também sua auto- seria p
nomia diante das autoridades dos poderes públicos, mistura-se com as não te
características tradicional-carismática”, apontadas por Weber e Melluci, aldeia?
com base na idéia de ação coletiva e no tipo de autoridade, “sagrada”, nós nã
representada pelo cacique como aquele que fora escolhido pela Natureza porqu
para guiar o seu povo na luta pela terra e na conquista de seus direitos pra ac
(FIALHO, 2007, p.25). chama
pelo er
A história dos povos indígenas da América Latina, assim como a do
dade,
povo Xukuru do Ororubá, é marcada pela expropriação de suas terras,
vai pod
de sua cultura, línguas, crenças e tradições iniciada durante a colonização
ficar u
desses países que perdurou até o final do século XX, quando iniciou o pra pa
processo de multiculturalismo constitucional56 nos Estados latinos que povo X
passaram a reconhecer institucionalmente a diversidade presente no bojo se nós
das sociedades e a necessidade de salvaguardar direitos e garantias às mi- nós est
norias étnicas e culturais. povo X
Entretanto, após séculos de contato com a sociedade não-indígena, viver,
o grande desafio para alguns povos indígenas, especialmente no Nordes- que a
te brasileiro, foi a necessidade de implementar estratégias de transforma- ao ser
ção de alguns de seus costumes para preservar o contexto de continuidade na cad
étnica; como é o caso dos Xukuru que, na tentativa de conviver com o aconte
modelo cognitivo dominante – o da lógica estatal, resignificaram alguns dá um
de seus valores culturais para negociar seus direitos no âmbito do Estado- ai você
(entre
deia S
formas culturais; c) integra um campo comunicativo de interação; d) conta com membros que se
identificam a si mesmos e são identificados pelos outros que constituem uma categoria distinguível
de outras categorias da mesma ordem”. (BARTH, 1969 apud CARDOSOS DE OLIVEIRA, 1976, p.21).
57. Porém, como bem assevera C
56. Movimento que se difundiu na América Latina a partir da Constituição da Guatemala (1986), mudança étnica: “uma etnia pode
desde então todas as constituições latino-americanas em maior ou menor escala prevêem direitos aculturação em que está inserida
e garantias específicos para povos culturalmente diferenciados (PINTO, 2008). DOSO DE OLIVEIRA, 2005, p.19).
164
“Plantaram” Xicão
der carismático, de caráter -Juiz 57. Por exemplo, quando ocorre um “crime” envolvendo indígena
e não-indígena, os Xukuru esperam por uma resposta do Estado-Juiz.
a liderança Xukuru, o ca- Nesse sentido é a narrativa do vice-cacique Zé de Santa, ao explicar a ló-
ítica da liderança em con- gica processual do povo Xukuru e a forma como resolvem seus conflitos:
, os “espíritos de luz” que
loga Vânia Fialho (2007) [...] Veja bem, é assim: para o povo Xukuru, nós pode apli-
dade Xukuru como poli- car a lei do povo Xukuru, mas quando é com o povo lá
o coletiva do grupo, com fora não. Porque, pra gente aplicar a lei do povo Xukuru,
rras e também sua auto- seria pra definir do qual o destino da pessoa, mas a gente
blicos, mistura-se com as não tem como manter essa pessoa aqui, vai ficar dentro da
das por Weber e Melluci, aldeia? Porque nós não somos um município, um estado,
de autoridade, “sagrada”, nós não temos uma cadeia, não tem uma delegacia. Até
a escolhido pela Natureza porque o povo Xukuru não julga pra botar na cadeia, é
conquista de seus direitos pra aconselhar, dar resposta, responsabilidades a pessoa,
chamar quem errou e decidir o que ele vai fazer para pagar
pelo erro dele. Então ele vai fazer serviços para a comuni-
a Latina, assim como a do
dade, vai ter alguém junto com a pessoa, essa pessoa não
propriação de suas terras,
vai poder participar das festas dentro do povo Xukuru, vai
ada durante a colonização
ficar uma pessoa neutralizada... com o tempo determinado
ulo XX, quando iniciou o pra pagar aquilo que ele deve... esse é o entendimento do
6
nos Estados latinos que povo Xukuru e que a lei pode nos acobertar, não é? Porque
versidade presente no bojo se nós fomos pegar e julgar uma pessoa pra botar na cadeia,
direitos e garantias às mi- nós estamos fora da nossa tradição, nossa cultura. Porque o
povo Xukuru não julga para trancar, se não dar mais para
a sociedade não-indígena, viver, então retira-se... expulsa. Mas pra prender não por-
especialmente no Nordes- que a gente acha que prendendo você tá indo de encontro
estratégias de transforma- ao ser humano, sabe? E a cadeia não ensina nada as pessoas,
contexto de continuidade na cadeia ele aumenta mais a vontade de fazer raiva, é o que
ntativa de conviver com o acontece nas cadeias do nosso país... Agora, quando você
tal, resignificaram alguns dá uma obrigação a pessoa, dá responsabilidade, aconselha,
itos no âmbito do Estado- ai você pode modificar a visão, a vida de uma pessoa...
(entrevista concedida em 24.10.2009, na escola da Al-
deia São José)
ão; d) conta com membros que se
stituem uma categoria distinguível
RDOSOS DE OLIVEIRA, 1976, p.21).
57. Porém, como bem assevera Cardoso de Oliveira (2005) a mudança cultural não leva a uma
Constituição da Guatemala (1986), mudança étnica: “uma etnia pode manter sua identidade étnica mesmo quando o processo de
ou menor escala prevêem direitos aculturação em que está inserida tenha alcançado graus altíssimos de mudança cultural” (CAR-
s (PINTO, 2008). DOSO DE OLIVEIRA, 2005, p.19).
165
XUKURU DO ORORUBÁ
166
“Plantaram” Xicão
a jurisdição penal estatal foi trocado de delegado, é que você faça a investigação.
questão, bem como as in- Ele disse: “- eu vou investigar e vou botar na cadeia! Vou
féns das mesmas, mas sim botar na cadeia quem quer que seja”; e eu disse: é o que
ada em consideração; isto nós queremos! Nós dissemos para ele: você vai botar na
rtante liderança Xukuru, cadeia, agora faça uma investigação honesta, séria, como
você foi formado pra ser um delegado. Não faça que nem
o outro não, de ficar acusando nós, porque não fui eu
quem mandou matar Xicão. Porque quem mandou ma-
ue Xicão, mas não calaram
tar foi Zé de Riva, o pistoleiro só quem sabe é ele, mas
nicas pessoas que poderão
foi ele quem mandou matar, ele e mais algum fazendeiro
soas que tem interesse nas
de Pesqueira. [...]agora, é o que nós queremos de você e
ossuem grandes fazendas
eu vou ver você fazer isso, tem que fazer. Porque se você
e o índio tem por lei. Mas
não fizer vai sair também... é você fazer uma investiga-
na justiça brasileira, que
ção como tem que ser feita... botar quem de fato man-
sponsáveis pelo crime do
dou matar Xicão na cadeia. Não as lideranças Xukuru,
o queremos vingança, nós
nem eu, nem Zenilda [...]. (Entrevista concedida em
os apenas justiça. Para que
24.10.2009, na escola da Aldeia São José). - Grifo Meu.
esse País, se mobilize e se
stão. Nosso povo está pa-
0 de maio de 1998 – TV A partir das considerações tecidas acima, dos trechos da denúncia
Freire) – Grifo meu. e das falas das lideranças Xukuru colacionadas aqui, observa-se que o
povo Xukuru reconhece como legítimo o sistema normativo estatal para
o julgamento dos responsáveis pela morte do cacique Xicão, entretanto,
que Xukuru, Zé de Santa, o crime e o processamento do mesmo é compreendido de modo distinto
nada exclusivamente para pelo Estado-Juiz e pelos indígenas.
acique Xicão Xukuru58:
O aparato jurídico estatal estabelece uma forma “legítima” de jul-
gar, com uma lógica processual própria e, no caso do homicídio do caci-
o ele chegou aqui, foi feita que Xicão, um dos apontados como responsáveis pelo crime em comento
FUNAI, e nós disse pra foi julgado por Júri Popular. Neste ponto, um aspecto importante é digno
quer de você Cotrim, que de nota: a constituição do conselho de sentença59 que julgou o crime que
vitimou o cacique Xicão Xukuru me fez questionar uma das finalidades
precípuas da instituição conhecida por Tribunal do Júri60, que consiste em
e do cacique Xicão Xukuru tramitou
cia de investigação efetiva levou o
denunciar o caso a Comissão Intera- 59. O “Conselho de Sentença” é formado pelo corpo de jurados sorteados e selecionados para
Justiça um delegado especial para participar do julgamento.
o delegado federal Marcos Van Der
erto “mal estar” na Superintendên- 60. O Júri tem origem mítica, com características de cunho religioso, que remontam aos primór-
ele que presidia o Inquérito Policial, dios da civilização humana; há historiadores que consideram que haveria embriões deste instituto
ois o delegado anterior concluiu as em povos como os chineses, hindus e entre os hebreus, como o Conselho dos Anciãos que era
- Os Xukuru e a Violência, 2004). referência para Moisés (BORBA, 2002). No Brasil, Surgiu após a independência através da Lei 18 de
167
XUKURU DO ORORUBÁ
permitir que em lugar de um juiz togado (investido de jurisdição estatal), na cidade de Caruaru/PE
preso às práticas judiciárias, os acusados de crimes dolosos contra a vida, pronúncia62, sendo os auto
sejam julgados por seus pares, chamados também de “juízes leigos” (CA- de competência processua
PEZ, 2004). vembro do referido ano; lo
Desse modo, nos processos de competência do Tribunal do Júri, o ainda não contava com sa
Estado-Juiz abre mão de parte de sua jurisdição penal e confere legiti- desse modo, o Juízo feder
midade para cidadãos leigos julgarem seus pares, devido à gravidade da salão do júri e a lista de ju
infração cometida (crime doloso contra a vida, que causa repulsa moral: Em cada Júri sorteia
um ser humano tirar ou atentar contra a vida de outrem). É quase um nas sete integraram o con
“olho por olho, dente por dente”, mas dentro das “regras” do Estado, ou jurados, pude perceber qu
seja, sob o seu crivo, pois é o Juiz quem estabelece a pena. O corpo de cionários de instituições g
jurados encarregado da “soberana” tarefa de julgar, não precisa deter ne- mica Federal, SEBRAE, IB
nhum conhecimento técnico-jurídico, ao contrário, “podem olhar os fatos INSS, dentre outras. Emb
a partir de cima e avaliar o maior ou menor ajustamento dos personagens de jurados pode influenci
a modelos de comportamento considerados legítimos e naturais, como Sérgio Adorno em suas p
sejam, o de pai provedor do lar, boa esposa, filho pródigo, vizinho soli- Paulo na década de 1980
dário, etc.” (ADORNO, 1999, p.320). Assim, pode-se falar que no Júri Ademais, se a idéia
Popular não há um julgamento técnico de uma infração penal e sim um julgado pelos seus pares,
julgamento moral de condutas tidas como criminosas, pois “as sessões do compondo o conselho de
júri permitem a seus participantes ler e reler quanto e quando é legítimo um indígena? E o julgam
‘qualquer’ ser humano matar outro” (SCHRITZMEYER, 2007, p.116); poderia ser um caminho
nesses casos, pouco importa a técnica jurídica, mas vale um bom poder de tamente nesse processo?
retórica e argumentação para sensibilizar os jurados da tese que se apre- pragmática e legalista do
senta e se quer ver acolhida pelos mesmos61. culturais do sujeito social
No caso do cacique Xicão Xukuru, a 16ª Vara Criminal da Justiça ção às normas garantidora
Federal, competente para o feito, foi instalada em 21 de maio de 2004 “modo de estar no mundo
A lei adjetiva penal b
so: a) ser brasileiro, nato o
junho de 1822 e limitava sua competência ao julgamento de crimes de imprensa. Somente a partir
da Constituição Imperial de 1824 passou-se a considerar o Júri como órgão do Poder Judiciário,
no perfeito gozo dos seus d
tendo sua competência ampliada para julgar causas cíveis e criminais. O Júri Popular na atual ça Eleitoral e Militar - par
Constituição Brasileira encontra-se disciplinado no art. 5º, inc. XXXVIII, inserido no Capítulo dos
Direitos e Garantias Individuais. Sua finalidade é ampliar o direito de defesa dos réus, funcionando
ocorrerá o Júri. São critério
como uma garantia individual dos acusados pela prática de crimes dolosos contra a vida e permi-
tir que, em lugar do juiz togado, preso a regras jurídicas, sejam julgados por seus pares (CAPEZ,
2004). Seus princípios básicos são: a plenitude da defesa, o sigilo nas votações, a soberania dos
62. Trata-se de uma decisão proc
veredictos e a competência mínima para julgamento de crimes dolosos contra a vida.
admite ou rejeita a acusação, bas
61. Como bem observou a antropóloga Ana Lúcia Pastore em sua pesquisa de doutorado em cídio, o laudo da perícia tanatoscó
alguns Tribunais do Júri da cidade de São Paulo, nesses julgamentos há uma “luta pelo monopólio de autoria, ou seja, a probabilidad
do estabelecimento de formas legítimas de pensar”. (SCHRITZMEYER, 2007, p.126). efetivamente são os jurados, os ch
168
“Plantaram” Xicão
169
XUKURU DO ORORUBÁ
mesmos, não obsta que um indígena brasileiro que atenda aos referidos posto pela Comissão Nac
critérios seja jurado em um julgamento popular. Entretanto, de acordo ligado ao Ministério da Ju
com o que observei dos autos processuais não houve espaço para esse tipo atual Estatuto do Índio (
de indagação, nem qualquer negociação nesse sentido, pois o processo, vo desse Estatuto foi apro
como já pontuado, seguiu seu trâmite protocolar, de acordo com lógica (Partido da Social Democ
das práticas judiciárias, uma lógica etnocêntrica, que por falta de legis- uma das Mesas da Câma
lação federal que regule a matéria, mas principalmente, por falta de uma versão preliminar a quest
“sensibilidade jurídica diversa”, termina violando os direitos garantidos às a presença de indígenas n
minorias étnicas. Não se trata meramente de prerrogativas processuais, que envolvam membros d
mas da necessidade de um “olhar diferenciado” em processos que figuram
como vítima sujeitos étnicos culturalmente diferenciados, especialmente
Art. 1
aqueles de natureza criminal. Ao comentar o tratamento penal do índio
comun
pela legislação brasileira, Souza Filho (2004, p.111), aduz o seguinte:
ou dis
suas in
Não se pode dizer que não seja ardiloso o Código Penal infam
Brasileiro, ao mesmo tempo que prega uma peça nos es- de mo
trangeiros (curiosa preocupação ao se elaborar uma lei na- quant
cional), que não poderão imaginar a existência de índios Parágr
‘infestando’ a civilização, garantem aos ‘infestadores’ um ticado
escondido direito, de difícil aplicação e singularmente inú- eles, o
til. [...] Está presente neste esconderijo da lei penal a idéia que po
de que os índios acabarão num futuro próximo, quando grifo m
encontrarem a alegria de viver na ‘pacífica, doce, justa e
humana’ sociedade dos civilizados, e então o direito penal
ser-lhes-á aplicado em plenitude e os juristas não se enver- De lá para cá, vários
gonharão mais nos congressos internacionais. É transpa- alterar pontos da legislaç
rente neste episódio jurídico a idéia etnocêntrica e monista índios, a possibilidade de
de que o sonho de todo índio é deixar de sê-lo. É presente a terras indígenas, bem com
incompreensão do direito dos povos indígenas de continu- tório. No ano de 2009 o P
arem a ser índios ainda que em contato longo e até mesmo mara dos Deputados Fede
amistoso com a sociedade não-índia. - grifo meu. de defesa dos direitos ind
Missionário, para aprovaç
170
“Plantaram” Xicão
o que atenda aos referidos posto pela Comissão Nacional de Políticas Indigenistas (que é um órgão
ar. Entretanto, de acordo ligado ao Ministério da Justiça), que tem como escopo a reformulação do
ouve espaço para esse tipo atual Estatuto do Índio (Lei 6001/7364). Em 1994, um texto alternati-
sentido, pois o processo, vo desse Estatuto foi aprovado, mas um recurso apresentado pelo PSDB
lar, de acordo com lógica (Partido da Social Democracia Brasileira) acabou por deixá-lo parado em
ca, que por falta de legis- uma das Mesas da Câmara dos Deputados Fedrais desde então. Nesta
almente, por falta de uma versão preliminar a questão da jurisdição própria dos povos indígenas e
o os direitos garantidos às a presença de indígenas no conselho de sentença em processos criminais
prerrogativas processuais, que envolvam membros de grupos indígenas estavam assim disciplinadas:
em processos que figuram
erenciados, especialmente
Art. 106. Será respeitada a aplicação, pelas sociedades e
ratamento penal do índio
comunidades indígenas, de sanções de natureza coercitiva
111), aduz o seguinte:
ou disciplinar contra os seus membros, de acordo com as
suas instituições, desde que não revistam caráter cruel ou
a ardiloso o Código Penal infamante, proibida em qualquer caso a tortura e a pena
ue prega uma peça nos es- de morte, observado o disposto na Constituição Federal
ao se elaborar uma lei na- quanto ao respeito aos direitos e garantias fundamentais.
inar a existência de índios Parágrafo Único. Nos crimes dolosos contra a vida pra-
tem aos ‘infestadores’ um ticados por membros de sociedades indígenas ou contra
cação e singularmente inú- eles, o conselho de sentença do tribunal do júri, sempre
nderijo da lei penal a idéia que possível, deverá ser composto também por índios. –
m futuro próximo, quando grifo meu.
na ‘pacífica, doce, justa e
dos, e então o direito penal
e e os juristas não se enver- De lá para cá, vários outros substitutivos foram apresentados para
internacionais. É transpa- alterar pontos da legislação no que concerne ao tratamento penal dos
éia etnocêntrica e monista índios, a possibilidade de exploração de recursos minerais e hídricos em
eixar de sê-lo. É presente a terras indígenas, bem como mudanças na forma de demarcação do terri-
ovos indígenas de continu- tório. No ano de 2009 o PL 2057/91 voltou a ser alvo de discussão na Câ-
contato longo e até mesmo mara dos Deputados Federais e contar com forte campanha das entidades
ndia. - grifo meu. de defesa dos direitos indígenas, como o CIMI – Conselho Indigenista
Missionário, para aprovação de um novo texto que, apesar de não con-
171
XUKURU DO ORORUBÁ
172
“Plantaram” Xicão
rados de crimes cometidos O sujeito coletivo Xukuru compreende o território tradicional, que
mento jurídico penal dado está localizado no município de Pesqueira, agreste pernambucano, com
27.555 (vinte e sete mil, quinhentos e cinqüenta e cinco) hectares, homo-
logado pelo Presidente da República em 2001; uma população estimada
atualmente em 10.300 (dez mil e trezentos) indígenas divididos em 24
(vinte e quatro) aldeias; com organização político-social constituída por
Cacique, Vice-Cacique, Pajé, Conselho de Lideranças – que é composto
dos países latinos america- por representantes das aldeias –, a COPIXO – Conselho de Professores
vêm reivindicando o reco- Indígenas Xukuru do Ororubá –, CISXO – Conselho Indígena de Saúde
humanos coletivos assim Xukuru do Ororubá – e equipe JUPAGO – equipe de indígenas que tra-
urais, sobre esse aspecto a balham com projetos de etnodesenvolvimento.
Desse modo, por ser um grupo étnico com características sócio-cul-
turais específicas, na medida em que seus membros assumem uma uni-
dos povos indígenas ou de dade política própria e estabelecem entre si vínculos de identidade social
refutar a tese da “geração” com elementos culturais próprios, o povo Xukuru assume a categoria de
emacia dos direitos civis e “Sujeito Coletivo”, assim entendido porque “não se pode falar em ‘etnia’
ndividuais, sobre os direi- ante um indivíduo isolado, pois o conceito só adquire sentido quando
rais, caracterizados como tomado no âmbito de um ente coletivo, de um espaço social no qual se
.21). efetive uma relação individuo/grupo social” (ALENCAR E BENATTI,
1993, p.211). Trata-se de uma categoria essencialmente jurídico-política,
mas que confere importante papel no que diz respeito aos seus direitos e
sociedades indígenas bra- garantias enquanto sujeito diferenciado.
, p.6241) constituem en-
oção de pessoa é constru- “El sujeto distinto” (SÁNCHEZ, 2008) Xukuru é um sujeito cole-
om o seu contexto étnico tivo e, em termos de direitos humanos indígenas, assim como os Paez na
vidualismo, essa noção de Colômbia, têm direito a uma personalidade distinta:
coletivo de direito.
[...] Este proceso fue posible entonces porque los paeces,
además de gozar de elementos culturales característicos,
m Título (VIII) dedicado às normas se ven así mismos como parte de uma comunidad dife-
nidades indígenas realizadas entre rente, que debe ser conservada como tal. Esa conciencia
dições, inclusive se resultarem de que los miembros tienen de su condición de pueblo dis-
itos indígenas, assim considerada, tinto ha sido el motor que los ha impulsado a fortalecer e
r ou réu. manter vivas sus instituciones sociales, políticas y jurídi-
ndutas praticadas pelo indígena, o
o a seus usos e costumes.
cas que, no obstante haber sido influídas por la sociedad
mayoritaria, no ha dejado de ser auténticas (SÁNCHEZ,
ra indígenas, será pública condicio-
2008, p.127).
173
XUKURU DO ORORUBÁ
A noção de coletividade dos Paez e dos Xukuru deve ser percebida nistério da Justiça, por del
como uma manifestação de unidade, de sujeito coletivo. Com isso, quero Pessoa Humana (CDDPH
dizer que a sociedade Xukuru, em sua totalidade, é um sujeito coletivo de presidir o feito e dar conti
direito e um crime cometido contra seu cacique, importante liderança, na lações aos direitos human
compreensão dos Xukuru, é caracterizado como um desrespeito à autori- fez a seguinte observação:
dade (também sagrada) do cacique, além de representar um abalo a uma
ordem socialmente estabelecida devido a sua importância para manuten-
Foi fei
ção da identidade étnica e organização social do seu povo. Entretanto, essa
bem a
é uma questão que não aparece em nenhum momento no processo, pois
por ai.
como já ressaltado anteriormente, o rito de julgamento do homicídio do
trário,
cacique Xicão se dá dentro dos parâmetros das práticas judiciárias e “corre
toleiro
como de costume”, ao passo que este importante líder indígena se resume
Zé de
nos autos a Francisco de Assis Pereira Araújo, vítima de homicídio doloso,
matar
apenas o indivíduo: “predomina, no entanto, uma abordagem liberal, in-
de Xic
dividualista e de divisibilidade desses direitos coletivos na prática judicial
tinha m
e política à escala local, nacional e internacional” (SANTOS, 2007, p.02).
Mas, a
O inquérito policial, que enquanto “forma de saber-poder”, nos mol-
a gent
des foucaultianos, apresenta um rico exemplo desta questão. As primei-
impun
ras “linhas investigativas” apontavam como motivação do crime questões
sando
de disputa interna do povo Xukuru e até mesmo crime passional, levando
recia..
a autoridade policial a concluir o Inquérito Policial sem apontar autoria66.
delega
Tal fato levou o CIMI – Conselho Indigenista Missionário - e o GAJOP
[...]
– Gabinete de Assistência Jurídica às Organizações Populares - a ofere-
cer denúncia à Corte Interamericana de Direitos Humanos da ONU; e Ai o r
a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) recomendou justiça
ao Estado brasileiro que fosse dada a devida atenção ao caso, bem como ção co
garantisse a proteção necessária às lideranças Xukuru que estavam sendo co na
ameaçadas em virtude do processo67. O governo brasileiro, através do Mi- que ti
24.10
66. O delegado conclui em seu Relatório Final: “[...] verdade seja dita, Chicão angariou ao longo
de sua vida grande número de desafetos e inimigos, podendo ser qualquer um deles seu algoz. Com o ingresso do d
Não bastasse isso, no interior do Nordeste, os conflitos não raros são resolvidos através de cri- gações, o Inquérito Policia
mes de encomenda (pistolagem), muito difíceis de serem apurados”. (fls. 407-411, vol.1, Proc. Nº
2002.8300012442-1). (fls. 500, vol. 2, Proc. Nº
67. No final do ano de 2002, o caso do cacique Xicão e as ameaças sofridas pelas lideranças
Xukuru durante as investigações, foram encaminhados pelo GAJOP e CIMI à Comissão Interameri-
cana de Direitos Humanos – CIDH – por flagrante violação aos direitos indígenas. Essas denúncias ramericana de Direitos Humanos,
se pautam em normas de tratados e acordos internacionais, como a Convenção 169 da OIT e a reconhecer os direitos dos povos
Declaração Universal dos Povos Indígenas, dos quais o Brasil é signatário. A CIDH e a Corte Inte- ridades étnicas e culturais (SANTO
174
“Plantaram” Xicão
ukuru deve ser percebida nistério da Justiça, por deliberação do Conselho de Defesa dos Direitos da
coletivo. Com isso, quero Pessoa Humana (CDDPH), designou uma nova autoridade policial para
e, é um sujeito coletivo de presidir o feito e dar continuidade às investigações face às flagrantes vio-
, importante liderança, na lações aos direitos humanos. A esse respeito, o vice-cacique Zé de Santa
o um desrespeito à autori- fez a seguinte observação:
presentar um abalo a uma
mportância para manuten-
Foi feito o enterro de Xicão, após o enterro, não lembro
seu povo. Entretanto, essa
bem a data, mas acho que uns 15 dias depois, um mês,
omento no processo, pois
por ai... as investigações começaram a tomar rumo con-
gamento do homicídio do
trário, que o assassinato de Xicão não tinha sido por pis-
práticas judiciárias e “corre
toleiro nem mando de fazendeiro, tinha sido mando ou de
e líder indígena se resume
Zé de Santa encoloado mais Zenilda que tinha mandado
tima de homicídio doloso,
matar Xicão. Zé de Santa porque queria tomar o cacicado
ma abordagem liberal, in-
de Xicão e Zenilda por conta que Xicão era mulherengo e
oletivos na prática judicial
tinha mulher e ela com ciúme mandou matar Xicão. [...]
” (SANTOS, 2007, p.02).
Mas, a partir dali nas investigações o rumo foi esse... ai
de saber-poder”, nos mol-
a gente chamou um relator da ONU e denunciamos a
desta questão. As primei-
impunidade, a perseguição as lideranças, a polícia lá acu-
tivação do crime questões
sando nós de ter feito, né? No processo era isso que apa-
o crime passional, levando
recia... a gente denunciou a ONU e pedimos a troca do
cial sem apontar autoria66.
delegado da polícia federal, foi quando entrou Cotrim.
Missionário - e o GAJOP
[...]
ações Populares - a ofere-
os Humanos da ONU; e Ai o relator da ONU veio aqui e chamou o pessoal da
nos (CIDH) recomendou justiça e disse: ‘- nós queremos que faça uma investiga-
enção ao caso, bem como ção completa.’ Então quando foi coisa de um mês e pou-
ukuru que estavam sendo co na frente, a polícia federal foi lá e pegou Zé de Riva
o brasileiro, através do Mi- que tinha mando matar. [...] – Entrevista concedida em
24.10.2009, na escola da Aldeia São José. Grifo meu.
175
XUKURU DO ORORUBÁ
176
“Plantaram” Xicão
cidades do povo indígena a gente desse continuidade na luta. Ele dizia: ‘-não quero
taurados devido à disputa vingança, quero que vocês continuem a luta’ e, pegando
ração penal fora cometida essas palavras dele, a gente começa a refletir, a gente co-
aújo, mas também contra meça a pensar e algumas lideranças interrompem todas
o conseqüência gerou um as ações externas e se volta para o internamente... que é
cesso de mobilização pela justamente para trabalhar o fortalecimento do povo que
o Xukuru assume a carac- tava recuando: ‘- não vou... não quero...’ e tal... E a gente
sa individualidade reforça começa a fazer esse trabalho interno de conversas de reu-
eender da fala do cacique niões, explicando e dizendo que o cacique Xicão não que-
se crime: ria que desistisse, que teria que continuar esta luta, né? E
assim foi feito. – Entrevista concedida em 25.10.2009, na
escola da Aldeia São José. Grifo meu.
do povo Xukuru, que é a
itório, demarcado, homo-
ualidade de vida mesmo, Diante das discussões que foram postas, percebe-se que, neste di-
filhos, dos nossos netos... álogo, o sujeito coletivo Xukuru se viu preterido no que diz respeito a
nterrupção de um sonho negociar seus direitos e vê-los efetivados pelo Estado-Juiz; posto que, na
assinaram Xicão foi justa- medida em que o Estado brasileiro reconhece um sujeito distinto do su-
ar o processo de demarca- jeito individual de direito, os povos indígenas enquanto sujeito coletivo
onsciência disso. Quando de direitos (art. 231 CFB/88), suas instituições devem aproximar-se dessa
bou a luta do povo Xuku- lógica para garantir que essa diferença seja respeitada. Não é o que se per-
assumir, ninguém vai mais cebe, por exemplo, neste caso. A condução das investigações e a forma de
a receber bala novamente, colheita das provas que formam o processo criminal, terminam por violar
figura de Xicão, que pa- esses direitos quando não leva em conta o caráter sagrado e político do
speito que o povo tinha ao líder morto, conforme passo a analisar a seguir.
s num universo maior do
uru... E de fato quase que (DES) PLANTADO? O SIGNIFICADO DA MORTE DE
Xukuru, com o assassinato XICÃO E DE SUA EXUMAÇÃO
am desistir... as lideranças
mos mais porque mataram
matar a gente.’ Então, as- Desde o ano seguinte à morte do cacique Xicão, no dia 20 de maio,
ovo Xukuru, mas algumas o povo Xukuru do Ororubá realiza um ato público que ostenta várias
mãe e outras lideranças dis- conotações: ritual fúnebre, fortalecimento da identidade étnica, demons-
ão não pode ser interrom- tração de coesão social e superação das dificuldades (NEVES, 2007). A
nho do povo Xukuru não antropóloga Rita Neves assim o descreve:
fato de nós já temos uma
nte forte e que ele sempre O ritual do dia 20 de maio acontece em lugares simbólicos
ueria vingança, queria que importantes para os Xukuru. A Pedra do Rei, na aldeia
177
XUKURU DO ORORUBÁ
178
“Plantaram” Xicão
úmulo de Xicão, e o local para os Xukuru, a terra “Mãe Natureza” é quem lhes oferece, tradicional-
ivamente os Xukuru para mente, a coerência cultural e a coesão social (BELTRÃO, 2007); e desse
zadas ao longo do dia. [...] modo, ao “acolher seu filho plantado” ela fará com que dele germine seus
fazem o caminho inverso descendentes. Expressão eloqüente disso é o misto de desabafo com ora-
ue foi assassinado. Xicão ção, que fez a viúva Dona Zenilda quando do sepultamento de Xicão:
e da casa da sua irmã, foi “Acolhe teu filho minha Mãe Natureza, acolhe teu filho! Porque ele não
es, depois passou por San- vai ser sepultado, minha Mãe Natureza... ele vai ser plantado, para que
rrado na Pedra do Rei. No dele nasça novos guerreiros”68 (Fala extraída do vídeo Xicão Xukuru, TV
ciam o ritual na Pedra do Viva, 1998). Também nesse sentido é a fala do vice-cacique Zé de Santa,
em a pé a Serra do Ororu- abaixo:
frente da casa da irmã de
2007, p.116/117).
[...] agora para o povo Xukuru, Xicão não é um morto.
Não é uma pessoa enterrada... Xicão é um homem plan-
figura do cacique Xicão tado! Ele nasce a cada instante, em cada liderança, em
o só para o povo Xukuru cada criança que nasce do povo Xukuru... Para nós Xicão
specialmente do Nordeste é isso: é um pé de árvore que tá dando frutos... flores,
Xicão agora não está mais sementes e mais frutos... [...] – Entrevista concedida em
o, um ideal de comporta- 24.10.2009, na escola da Aldeia São José. Grifo meu.
dígena assume duplo sig- Nesse contexto, os restos mortais desse líder detêm uma sacralidade
natural dos “encantados” e importância tal que passam a ser uma referência política para o seu povo
rmar a identidade étnico- e, nesse sentido, o antropólogo italiano Adriano Favole (2003a), ao falar
bito do estatal. Com isso, da “vida social do corpo depois da morte”, pontua que além da sacralida-
o fundiária e coesão social de simbólica, os restos mortais de líderes representam uma importância
nos rituais, mas também política, pois marcam o fim de um estado político para dar início a outro.
a vida pelo bem estar do Com efeito, a morte do cacique Xicão marcou uma mudança de paradig-
ma para o povo Xukuru, não apenas no sentido de ressignificar o próprio
de, há apenas uma trans- sentido de morte para o grupo, no que diz respeito aos ritos fúnebres, ao
de atuar no plano físico espaço para “acolher” o corpo morto, como também em relação à estra-
03). A partir de Xicão, os tégia política do grupo.
ou “plantados”, no cemi- Diante disso, o fato que mais chama atenção nesse processo criminal
rubá, localizado na Pedra é justamente a exumação do cacique Xicão. Como essa questão repercu-
sacralidade que os povos tiu para o povo Xukuru? Como isso foi negociado entre eles e o Estado-
tos de regulação fundiária,
m seus antepassados, tam-
luz”. Assim como para os 68. Essa fala de Dona Zenilda, viúva do cacique Xicão Xukuru, foi incorporada à letra da música “O
estado brasileiro do Pará, Outro Mundo de Xicão Xukuru”, do grupo musical pernambucano Mundo Livre S/A.
179
XUKURU DO ORORUBÁ
-Juiz? Haja vista que o corpo fora sepultado em um cemitério particular a exumação de Xicão, o ev
– “espaço sagrado” - do povo Xukuru, que detém especificidades étnico- o descrito no bojo do proc
-culturais que devem ser levadas em consideração na hora de exumar ou
“desplantar” um corpo 69 de relevante caráter sagrado e político.
I –An
A respeito dos meandros das relações interétnicas, o antropólogo
Em fin
Roberto Cardoso de Oliveira (2005) destaca que em situações de contato
cional
interétnico e intercultural a variável cultural não pode deixar de ser con-
recebe
siderada quando nela estiverem expressos “valores nativos” de percepção
deral e
dos agentes sociais, neste caso, estatais, inseridos na situação de diálogo.
do Ca
Certamente, a falta de preparação dos agentes estatais para lidar um pr
com essa diversidade cultural é notória. O caso do processo criminal do ca- pica, l
cique Xicão Xukuru aponta como está se configurando o diálogo do Esta- penetr
do-Juiz com os valores sócio-culturais desse grupo étnico, senão vejamos: cia Civ
durante o Inquérito Policial que apurava as circunstâncias da morte do realiza
cacique Xicão, a autoridade policial que presidia o feito solicitou a exuma- havido
ção dos restos mortais do cacique na tentativa de localizar um projétil no tar, po
corpo e submetê-lo a exame balístico, para verificar se o mesmo teria sido Presum
expelido ou não do cano do revólver pertencente a José Libório Galindo – poster
“Ricardo” – pistoleiro contratado por fazendeiros locais para matar Xicão. Deleg
Nos autos processuais, a exumação aparece de forma jurídico-for- de daq
mal, no sentido que, os laudos técnicos (Auto de Exumação para Colheita sido en
de Provas e Auto de Exumação e Exame Cadavérico) não tratam de ques- da faz
tões próprias da lógica Xukuru, que é diferente da lógica de sociedade rio po
compartilhada pelos não indígenas, conforme assevera Rezende (2009, pelas
p.21): “a relação dos povos indígenas com o sobrenatural, com os mitos e corpo
tabus, os seus rituais, seu modo de se vestir, de se pintar, de se alimentar, entant
de curar as doenças, são marcantemente diferentes das sociedades não -se à c
indígenas e denotam uma outra forma de compreender o mundo”. Daí a espirit
necessidade de um Estado verdadeiramente plural, que contemple dife- legado
rentes lógicas em suas práticas judiciárias. tentan
Segundo o Relatório do Conselho Indigenista Missionário, da lavra exuma
da Dra. Rosane Lacerda, assessora jurídica do referido órgão, no que tange [...]
IV –A
[...] N
69. A antropóloga Liliane Souza esclarece que, no modelo etiológico Xukuru: “O corpo é enten-
dido como uma totalidade que compreende as esferas biofísica, emocional e espiritual” (SOUZA,
muito
2007, p.143). lo. A
180
“Plantaram” Xicão
m um cemitério particular a exumação de Xicão, o evento foi bem mais complexo e conturbado que
ém especificidades étnico- o descrito no bojo do processo criminal, vejamos parte desse Relatório:
ção na hora de exumar ou
agrado e político.
I –Antecedentes:
terétnicas, o antropólogo
Em fins de janeiro de 2002, estando no Secretariado Na-
e em situações de contato
cional do Cimi por ocasião do Curso de Formação Básica,
ão pode deixar de ser con-
recebemos do Cimi NE a informação de que a Polícia Fe-
ores nativos” de percepção
deral estaria pretendendo efetuar a exumação do corpo
os na situação de diálogo.
do Cacique Chicão, a fim de que pudesse ser encontrado
gentes estatais para lidar um projétil mencionado no Laudo de Perícia Tanatoscó-
do processo criminal do ca- pica, localizado na região glútea, com ferimento apenas
urando o diálogo do Esta- penetrante (e não transfixante). Devido à greve da Polí-
po étnico, senão vejamos: cia Civil de Pernambuco à época do crime, o exame fora
rcunstâncias da morte do realizado no Hospital Getúlio Vargas, onde, por não ter
a o feito solicitou a exuma- havido aparelho de Raio X disponível, não se pode ten-
de localizar um projétil no tar, por aquele método, a exata localização do projétil.
ficar se o mesmo teria sido Presumiu-se então ter o mesmo permanecido no corpo,
e a José Libório Galindo – posteriormente sepultado na terra indígena. Segundo o
os locais para matar Xicão. Delegado de Polícia Federal à frente do caso, a necessida-
ece de forma jurídico-for- de daquele tipo de perícia teria advindo do fato de terem
e Exumação para Colheita sido encontradas duas armas suspeitas, numa determina-
érico) não tratam de ques- da fazenda no estado do Maranhão, fazendo-se necessá-
te da lógica de sociedade rio portanto a confrontação entre os projéteis disparados
assevera Rezende (2009, pelas mesmas e aquele que poderia ser encontrado no
brenatural, com os mitos e corpo através da exumação. [...] O Cacique Marcos, no
se pintar, de se alimentar, entanto, pressionou para que a perícia fosse feita dando-
entes das sociedades não -se à comunidade indígena um tempo para se preparar,
preender o mundo”. Daí a espiritual e emocionalmente. Soubemos então que o de-
ural, que contemple dife- legado teria comentado que “forças malignas” estariam
tentando influenciar o Cacique a não concordar com a
nista Missionário, da lavra exumação dos restos mortais de seu pai.
ferido órgão, no que tange [...]
IV –A Exumação:
[...] Na mata da Pedra D’Água, antes das nove horas,
ológico Xukuru: “O corpo é enten-
a, emocional e espiritual” (SOUZA,
muitos índios já começavam a chegar ao local do túmu-
lo. A exumação estava marcada para as 9:00hs, mas o
181
XUKURU DO ORORUBÁ
182
“Plantaram” Xicão
183
XUKURU DO ORORUBÁ
184
“Plantaram” Xicão
ostram o clima de como- povos indígenas e o Estado-Juiz brasileiro, no “ir e vir hermenêutico” pro-
dade (adultos e crianças) posto por Geertz (2001), para que não venham a ocorrer outras violações
irada do corpo, mas todo de direitos encobertas pelo manto da investigação criminal, em busca da
realizada ao lado do seu “verdade real” e em nome da “justiça”.
al que possui importante O antropólogo italiano Adriano Favole (2003b), ao estudar os pro-
ukuru. Os restos mortais cessos de “Apropriação, Incorporação e Restituição de Restos Humanos”
ona cedida por um padre de povos indígenas da Oceania por seus colonizadores, observou que
o e explorados com uma muitas organizações nativas acusam os ocidentais de terem se apropriado
r um índio. A violação do indevidamente de objetos sagrados e restos mortais, por meio de com-
o plantado e não enterra- portamentos violentos e/ou manobras aplicadas em nome da “ciência”:
vários índios, atualizou os “I bianchi, incuranti dell’universale rispetto di cui le società umane cir-
[...] (CDDPH – Relatório
condano i corpi dei morti, non avrebbero esitato a profanare siti sacri,
cimiteri, depositi di “reliquie”, pur di procurarsi ossa e altri resti umani a
fini di studio o di esposizione”70 (FAVOLE, 2003b, p.03).
as do processo”, não fica Segundo o referido antropólogo, a modalidade de “apropriação”
ez que havia projéteis de mais difundida pelos colonizadores foi o saque a cemitérios e locais sagra-
cão arquivados no Museu dos; ele se reporta ao caso de um médico-cirurgião inglês, da East India
momento, os Xukuru não Company e presidente da Australian Philosophical Society, transformado
m, como o delegado da Po- em colono e proprietário de terras na Austrália, que em 1827 enviou à
para a elucidação do crime sua pátria o crânio de Arawarra, guerreiro da comunidade wadi-wadi.
mite processual da justiça, Arawarra foi o responsável por ataques contra os colonos e acusado de
antido o direito de realizar canibalismo, foi sepultado na areia segundo os costumes do seu povo, em
car que a perícia balística local próximo as terras do médico-cirurgião, esse não exitou em violar a
ados no Museu do Crime, sepultura para retirar os restos mortais, considerados “preciosos”, pois lhe
cão, meramente para ten- era possível associá-los a alguns dados biográficos do morto, como assim
o não foi localizado o pro- escreveu na carta que acompanhou envio dos restos do guerreiro wadi-
ado com aqueles projéteis -wadi para a Inglaterra:
185
XUKURU DO ORORUBÁ
186
“Plantaram” Xicão
foi concedido repousarem ral, do médico e quem ele chamasse. Mas a gente disse:
que o seu crânio jogue tal “-nós vamos botar nossos advogados e o povo Xukuru!
r suficiente para espiar os Vai participar todo mundo, quem tiver coragem de ir...” E
ARRY, 1827 apud FAVO- eu vi... vi os restos, os pedaços, tinha pedaço de couro dele
inteiro ainda... pegado nos ossos... e a gente ali, vendo
destrinchar, cortar os pedaços, cortar os ossos... e os médi-
cos fazendo aquele negócio lá, tirava os pedacinhos dele.
pa os restos do guerreiro
a em conta a importância
e na lógica cultural desse M: E como foi compartilhado isso pelo povo Xukuru?
m a aquiescência do povo ZS: É dolorido... é dolorido, não é? Você ver o corpo de
PF utiliza-se de um argu- uma pessoa que a gente ama, ver esse corpo além de ser
as a partir dos restos mor- estilhaçado por bala, ser estilhaçado com estilete, faca...
olicial -, dentro do modelo E a policia ali dizendo: “- vou provar que foi bala dos
Xukuru que mandou matar e não dos pistoleiro...” Eles
rso das investigações po- tavam ali pra fazer isso, né? Pra dizer que Xicão criou
líder, é recordado até os cobra pra matar ele mesmo. Se não tivesse ninguém do
áticos que passaram neste nosso povo lá, a versão que ia ficar era dele, né? Desde o
vés da fala do vice-cacique médico, o médico foi eles quem trouxe, não foi o povo
a a mim, quando lhe per- Xukuru que disse: “- o médico vai ser esse aqui”. O mé-
corpo e se ele recordava dico veio de Recife, eles trouxeram um médico deles. Mas
esta parte dessa narrativa: ai tinha os nossos advogados, tinha Sandro, tinha Rosa-
ne, Paulinho, os nossos aliados tavam vendo também.
Teve que ser na presença deles.
do foi feita a exumação do
hor se recorda de como foi M: E teve algum ritual específico? A polícia deixou fazer?
ZS: Teve, teve sim! Nós fizemos, problema deles. Quan-
nha querida... foi muito, do eles tiraram o corpo ficou só a família e algumas lide-
Cotrim chegou aqui e disse ranças de começar o trabalho deles. Quando terminou
r ninguém da exumação!” nós também fez, mas muito pouco, porque também nin-
ter a exumação, mas que guém agüentava mais... foi muito sofrido... mexeu muito
nguém, só da polícia fede- com o povo sabe?
(Entrevista concedida em 24.10.2009, na escola da Al-
un campione craniologico: si tratta deia São José).
er il fatto che la storia del persona-
dell’eterna Giustizia – alle sue ossa
rarsi che il suo cranio getti una tale À luz dessas reflexões trazidas acima é possível perceber a clara
ni da lui commessi”. (BERRY, 1827,
evidência de violação do direito à diversidade étnica e cultural do povo
187
XUKURU DO ORORUBÁ
Xukuru em contraposição ao seu “modo de estar no mundo”, por parte nidade ética de trabalhar
do Estado-Juiz ao infringir o disposto na Constituição Federal brasileira quando estes foram extraí
de 1998 que, em seu artigo 231, reconhece aos indígenas brasileiros o Como reflexão final
direito a sua organização social, seus costumes, línguas, crenças e tradi- parte do arcabouço doutr
ções, além dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente dos grupos étnicos em âm
ocupam, devendo o Estado protegê-los e fazer respeitá-los. Nesse ponto, internacional na defesa de
o processo apresenta uma tipologia de inconstitucionalidade. cessitam de maior “sensib
O respeito à diversidade cultural e, conseqüentemente, aos valores atividades o escopo essen
das diversas culturas, garante ao sujeito coletivo de direito a faculdade de ética de cultural da socied
não se “contaminar” por valores que não sejam os seus, nesse sentido, os
juristas argentinos Zaffaroni e Pierangeli (2004) trazem um elucidante
CONSIDERAÇÕES
exemplo ao tratar do “erro de compreensão culturalmente condiciona-
do”, in verbis:
O Estado-Juiz brasil
mativo, dotado de uma ló
Se visitarmos a casa de um esquimó e seu ocupante quer consegue dar conta da div
agradar-nos, oferecendo-nos sal mulher perfumada com sociedade e dialogam entr
urina, para nós será muito difícil aceitar o presente, e, curso oficial, o Estado Dem
embora saibamos que o anfitrião tomará isto como uma funda no respeito à divers
ofensa, será extremamente árduo internalizar a regra de nas suas práticas há uma d
conduta que evite a injúria que lhe fazemos. Da mesma do não se atém a certas es
maneira, o indígena de uma comunidade que tem seus procedimentos investigat
próprios ritos para funerais e sepultamentos [...] mas é tomadas de decisões por p
muito duro exigir-lhe que abandone todas as regras para envolve sujeitos étnicos cu
acolher as nossas e reprovar-lhes porque não o tenha fei- O crime doloso cont
to. (FOUCAULT, 2008, p.83) ciário, que teve como vítim
Xukuru) e como motivaçã
Com a apropriação dos restos mortais de seu líder morto, pelos ração do território tradicio
agentes estais, é possível dizer que o povo indígena Xukuru sofreu uma perceber como o “olhar n
espécie de “dano cultural”, pois para a cultura Xukuru, sua principal lide-
rança não está morta nem viva, mas “plantada”, como uma árvore, para
que dela nasçam os frutos da luta do seu povo; logo, “desplantá-lo”, ou 72. “Discursos como práticas que
CAULT, 1966 apud IÑIGUEZ, 2005,
“arrancá-lo da terra”, da “Mãe Natureza”, fere, brutal e arbitrariamen- discurso, o discurso é visto como
te, essa lógica cultural. Isso se dá, porque os restos humanos não detêm possível definir as condições de su
apenas um valor científico, mas também são cheios de valores afetivos 73. Desde o processo de (re) dem
além de significados culturais específicos e, como bem observou Favole de 1988, o Brasil tem adotado im
direitos e garantias fundamentais,
(2003b), a “comunidade científica” deve interrogar-se sobre a oportu- ternacionais de direitos humanos
188
“Plantaram” Xicão
tar no mundo”, por parte nidade ética de trabalhar com esse tipo de material humano, ainda mais
tituição Federal brasileira quando estes foram extraídos com violência ou engano.
os indígenas brasileiros o Como reflexão final, resta pontuar que, mesmo a prescindir que
, línguas, crenças e tradi- parte do arcabouço doutrinário jurídico que tutela os direitos específicos
ras que tradicionalmente dos grupos étnicos em âmbito local e oferece, ainda, instâncias de âmbito
respeitá-los. Nesse ponto, internacional na defesa desses direitos, são as práticas judiciárias que ne-
tucionalidade. cessitam de maior “sensibilidade jurídica”, focalizando na rotina de suas
qüentemente, aos valores atividades o escopo essencial a ser perseguido: o respeito à diversidade
o de direito a faculdade de ética de cultural da sociedade plural.
m os seus, nesse sentido, os
4) trazem um elucidante
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ulturalmente condiciona-
O Estado-Juiz brasileiro possui um modelo cognitivo próprio, nor-
mativo, dotado de uma lógica processual pragmática, que por vezes não
uimó e seu ocupante quer consegue dar conta da diversidade de modelos cognitivos que existem na
l mulher perfumada com sociedade e dialogam entre si através das “práticas discursivas”72. No dis-
ícil aceitar o presente, e, curso oficial, o Estado Democrático de Direito brasileiro se reconhece e se
ão tomará isto como uma funda no respeito à diversidade étnica e cultural73 (CFB/88). Entretanto,
uo internalizar a regra de nas suas práticas há uma dificuldade no respeito a essa diversidade quan-
e lhe fazemos. Da mesma do não se atém a certas especificidades, principalmente na condução dos
omunidade que tem seus procedimentos investigativos judiciais e administrativos, bem como nas
sepultamentos [...] mas é tomadas de decisões por parte de seus órgãos jurídicos quando a demanda
ndone todas as regras para envolve sujeitos étnicos culturalmente diferenciados.
es porque não o tenha fei- O crime doloso contra a vida, objeto de julgamento pelo poder judi-
ciário, que teve como vítima o líder de um povo indígena (cacique Xicão
Xukuru) e como motivação a disputa com fazendeiros locais pela recupe-
de seu líder morto, pelos ração do território tradicional do povo Xukuru, é um bom exemplo para
gena Xukuru sofreu uma perceber como o “olhar normativo” do Estado-Juiz leu e entendeu este
Xukuru, sua principal lide-
”, como uma árvore, para
; logo, “desplantá-lo”, ou 72. “Discursos como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam” (FOU-
CAULT, 1966 apud IÑIGUEZ, 2005, p.93). A partir da perspectiva foucaultiana de análise crítica do
e, brutal e arbitrariamen- discurso, o discurso é visto como uma prática discursiva e, como qualquer outra prática social, é
estos humanos não detêm possível definir as condições de sua produção.
cheios de valores afetivos 73. Desde o processo de (re) democratização do país e, especialmente, a partir da Constituição
mo bem observou Favole de 1988, o Brasil tem adotado importantes instrumentos normativos voltados à proteção dos
direitos e garantias fundamentais, além de avanços decorrentes da incorporação de tratados in-
rrogar-se sobre a oportu- ternacionais de direitos humanos (PINTO, 2008).
189
XUKURU DO ORORUBÁ
caso. Não foi minha intenção fazer uma “investigação criminal” no senti- reconhecimento explícito
do de apontar culpados, mas interpretar esse evento a partir de princípios concernentes aos povos in
relativistas que considerem a compreensão dos Xukuru, até mesmo por-
que o julgamento se deu em um sistema altero ao dos índios.
Referências
A morte do cacique Xicão foi um marco para o povo Xukuru sob
vários aspectos: 1- fortaleceu a luta do povo na reconquista do território
ADORNO, S. Crime, Ju
tradicional, porque após a morte de Xicão houve um grande esforço in-
TO, C.;FALCÃO, J. (org.)
terno do grupo, através das demais lideranças, para não “interromper o
de sociologia jurídica. 2 ed.
sonho do povo Xukuru”, como eles mesmos afirmavam; 2- foi um marco
no processo de criminalização que vem sofrendo o povo Xukuru por parte ALENCAR, J. M. E BEN
do poder judiciário local e perdura até hoje com a condenação de mais de Étnicos: questões sobre o
trinta lideranças pela Justiça Federal local, explicitando a falta de sensibi- ord.). Os Direitos Indígenas
lidade desse órgão estatal no trato da diversidade étnico-cultural; 3- além Sérgio Antônio Fabris Edi
ter acentuado o caráter sagrado da liderança, pois Xicão é hoje visto como
um mártir que deu sua vida pelo povo Xukuru. BELTRÃO, J. F. Povos Ind
pólogos. CONPEDI, Anais
Vale pontuar, entretanto, que além da violência sofrida pelo povo
http://www.conpedi.org/m
Xukuru com a perda do seu principal líder à época, durante o trâmite
pdf Acesso em 13.01.10.
do procedimento judicial, esse sujeito coletivo passou a sofrer violências
institucionais por parte do poder judiciário local. Essas violências são tra- BORBA, L. A. Aspectos Re
duzidas na forma de condução do procedimento investigativo (IP), que gandi, Teresina, ano 6, n.
num primeiro momento acusa os próprios indígenas de serem algozes de com.br/doutrina/texto.asp
seu cacique e depois, com a entrada de uma nova autoridade policial, es-
pecialmente designada para esse feito, terem sido constrangidos a verem BRASIL. Constituição Fede
o “corpo plantado” ser arrancado da terra (“a mãe natureza” importante nização por Luiz Flávio G
referencial cultural desse povo), destroçado e mutilado, meramente para
BRASIL. Vade Mecum. 3 ed
fins de colheita de uma prova pericial, que restou infrutífera.
Evidentemente, este caso revela uma total falta de sensibilidade por CAPEZ, F. Curso de Process
parte dos agentes estatais para lidar com a diversidade e a necessidade
do diálogo com a antropologia jurídica como instrumental para repensar CARDOSO DE OLIVEI
essas relações interculturais. Um raciocínio conclusivo me faz crer firme- moral. Revista Antropológ
mente que o procedimento de exumação do cacique Xicão caracterizou- sitária da UFPE, 2005.
-se como um dano cultural irreversível ao povo Xukuru, pois não foram ______. Identidade, Etni
levadas em consideração as suas crenças, seus usos, costumes e tradições ra Editora, 1976.
na condução da questão, sendo inclusive estas prerrogativas Constitucio-
nais (art. 231 CF/88). E, esse modelo constitucional pluralista, além de CDDPH – Conselho de
implicar um reconhecimento dos direitos coletivos, implica também o Xukuru e a Violência – Rela
190
“Plantaram” Xicão
igação criminal” no senti- reconhecimento explícito e prático por parte do Estado-Juiz dos direitos
ento a partir de princípios concernentes aos povos indígenas.
Xukuru, até mesmo por-
ao dos índios.
Referências
para o povo Xukuru sob
a reconquista do território
ADORNO, S. Crime, Justiça Penal e Desigualdade Jurídica. In: SOU-
uve um grande esforço in-
TO, C.;FALCÃO, J. (org.) Sociologia e Direito: textos básicos para a disciplina
para não “interromper o
de sociologia jurídica. 2 ed. Atual. São Paulo: Pioneira, 1999.
rmavam; 2- foi um marco
o o povo Xukuru por parte ALENCAR, J. M. E BENATTI, J. H. Os Crimes Contra Etnias e Grupos
m a condenação de mais de Étnicos: questões sobre o conceito de etnocídio. In: SANTILLI, J. (co-
icitando a falta de sensibi- ord.). Os Direitos Indígenas e a Constituição. Núcleo de Direitos Indígenas e
de étnico-cultural; 3- além Sérgio Antônio Fabris Editor. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1993.
is Xicão é hoje visto como
. BELTRÃO, J. F. Povos Indígenas e Direitos Humanos: como desafio de antro-
olência sofrida pelo povo pólogos. CONPEDI, Anais de Congresso. Manaus, 2007. Disponível em
época, durante o trâmite http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/jane_felipe_beltrao.
passou a sofrer violências pdf Acesso em 13.01.10.
l. Essas violências são tra- BORBA, L. A. Aspectos Relevantes do Histórico do Tribunal do Júri. Jus Navi-
to investigativo (IP), que gandi, Teresina, ano 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em: http://jus2.uol.
genas de serem algozes de com.br/doutrina/texto.asp?id=2695 Acesso em 10.04.10.
va autoridade policial, es-
do constrangidos a verem BRASIL. Constituição Federal. Código Penal. Código de Processo Penal. Orga-
mãe natureza” importante nização por Luiz Flávio Gomes. 9 ed. São Paulo: RT, 2007.
mutilado, meramente para
BRASIL. Vade Mecum. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
ou infrutífera.
l falta de sensibilidade por CAPEZ, F. Curso de Processo Penal. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
versidade e a necessidade
nstrumental para repensar CARDOSO DE OLIVEIRA, R. Identidade étnica, reconhecimento e mundo
clusivo me faz crer firme- moral. Revista Antropológicas, ano 9, vol. 16 (2). Recife: Editora Univer-
cique Xicão caracterizou- sitária da UFPE, 2005.
o Xukuru, pois não foram ______. Identidade, Etnia e Estrutura Social. São Paulo: Livraria Pionei-
usos, costumes e tradições ra Editora, 1976.
prerrogativas Constitucio-
cional pluralista, além de CDDPH – Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Os
tivos, implica também o Xukuru e a Violência – Relatório da Comissão Especial, março/2004.
191
XUKURU DO ORORUBÁ
DANTAS, F. A. C. A Noção de Pessoa Jurídica e sua Ficção Jurídica: a pessoa REZENDE, G. M. Índio:
indígena no direito Brasileiro. Universidade do Estado do Amazonas: 2001.
SÁNCHEZ, E. Princípios
FAVOLE, A. Resti Di Umanità: vita sociale del corpo dopo la morte. Roma- ticia que se imparte entr
-Bari: Laterza, 2003a. adecuada, legítima y viab
sociedades particulares. I
______. Appropriazione, Incorporazione, Restituzione Di Resti Umani: NAL, C.;ARIZA, R. Ha
casi dall’ Oceania. In: Corpi. Annuario diretto da Ugo-Fabiette, anno 3, Adenauer Stiftung, 2008
nummero 3. Milano - Università Bicocca, 2003b.
______. El Peritaje Antrop
FIALHO, V. R. P. S. Associativismo, Desenvolvimento e Mobilização In- tropología Jurídica. Bogo
dígena em Pernambuco. In: ATHIAS, R. (org.) Povos Indígenas de Pernam-
buco: identidade, diversidade e conflito. Recife: Ed. Universitária da UFPE, SANTOS, C. M. Xucuru
2007. lutas pela terra-segurança
BEIRO, A. S. (org.) Pós-C
FOUCAULT, M. A Verdade e as Formas Jurídicas. 3 ed. 4 reimp. Rio de bra, 2007.
Janeiro: NAU Editora, 2008.
SANTOS, B de S. Por um
GEERTZ, C. O Saber Local: novos ensaios em antropologia interpretativa. 4 ed. nos. In: Boaventura de So
Petrópolis: Vozes, 2001. Janeiro: Civilização Brasil
IÑIGUEZ, L. Manual de Análise do Discurso em Ciências Sociais. Petrópolis: ______. Una Cartografia
Vozes, 2005) menos a una concepcíon posm
MISHLER, E. G. Narrativa e Identidade: na mão dupla do tempo. In: cas - Venezuela, noviembr
LOPES, L. P. M. Discursos de Identidades: discurso como prática de construção SCHRITZMEYER, A.
de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família. Campinas: Júri. Tempo soc., São Pa
Mercado das Letras, 2003. http://www.scielo.br/sc
NEVES, R. C. M. Resistência e Estratégias de Mobilização Política entre -20702007000200004&
os Xukuru. In: ATHIAS, R. (org.) Povos Indígenas de Pernambuco: identida- 10.1590/S0103-2070200
de, diversidade e conflito. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2007. SOUZA FILHO, C. F. M
PALITOT, E. M. Tamain Chamou Nosso Cacique: a morte do cacique Xicão e Curitiba: Juruá, 2004.
a (re)construção da identidade entre os Xukuru do Ororubá. Monografia apre- ZAFFARONI, E. R. PIE
sentada no Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba. sileiro: parte geral. 5 ed. S
Fevereiro, 2003.
PINTO, S. R. Reflexões sobre Pluralismo Jurídico e Direitos Indígenas na Amé-
rica do Sul. Revista de Sociologia Jurídica. N 06 – Janeiro-Junho/2008.
192
“Plantaram” Xicão
sua Ficção Jurídica: a pessoa REZENDE, G. M. Índio: tratamento jurídico-penal. Curitiba: Juruá, 2009.
tado do Amazonas: 2001.
SÁNCHEZ, E. Princípios básicos y formas de funcionamiento de la jus-
corpo dopo la morte. Roma- ticia que se imparte entre los Paeces y los Wayú como forma cultural
adecuada, legítima y viable para resolver conflictos y coaccionar a sus
sociedades particulares. In: HUBER, R; MARTINEZ, J.C.; LANCHE-
ituzione Di Resti Umani: NAL, C.;ARIZA, R. Hacia Sistemas Jurídicos Plurales. Bogotá: Konrad
da Ugo-Fabiette, anno 3, Adenauer Stiftung, 2008.
3b.
______. El Peritaje Antropológico como Prueba Judicial. VI Congreso de An-
vimento e Mobilização In- tropología Jurídica. Bogotá - Colombia: octubre, 2008.
Povos Indígenas de Pernam-
. Universitária da UFPE, SANTOS, C. M. Xucuru do Ororubá e Direitos Humanos Indígenas:
lutas pela terra-segurança e Estado no Brasil. In: SANTOS, B. S. e RI-
BEIRO, A. S. (org.) Pós-Colonialismos. Portugal: Universidade de Coim-
as. 3 ed. 4 reimp. Rio de bra, 2007.
SANTOS, B de S. Por uma Concepção Multicultural dos Direitos Huma-
pologia interpretativa. 4 ed. nos. In: Boaventura de Souza Santos (org.). Reconhecer para Libertar. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Ciências Sociais. Petrópolis: ______. Una Cartografia Simbólica de las Representaciones Sociales: prolegró-
menos a una concepcíon posmoderna del derecho. Nueva Sociedad, n. 16, Cara-
mão dupla do tempo. In: cas - Venezuela, noviembre-diciembre, 1991.
o como prática de construção SCHRITZMEYER, A. L. P. Etnografia Dissonante dos Tribunais do
la e na família. Campinas: Júri. Tempo soc., São Paulo, v. 19, n. 2, Nov. 2007. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
Mobilização Política entre -20702007000200004&lang=pt. Acesso em 05.02.2010. DOI:
as de Pernambuco: identida- 10.1590/S0103-20702007000200004 .
a da UFPE, 2007. SOUZA FILHO, C. F. M. O Renascer dos Povos Indígenas para o Direito.
: a morte do cacique Xicão e Curitiba: Juruá, 2004.
Ororubá. Monografia apre- ZAFFARONI, E. R. PIERANGELI, J. H. Manual de Direito Penal Bra-
sidade Federal da Paraíba. sileiro: parte geral. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
193
XUKURU DO ORORUBÁ
LUIZ COUTO
SHEILA BRASILEIR
Deputado Federal pelo PT/PB. Membro da Comissão de Direitos Hu-
manos da Câmara dos Deputados. Relator de Comissões Parlamentares de Antropóloga. Mestre
Inquérito, incluindo CPI sobre a pistolagem no Nordeste do Brasil. Ex-pre- Bahia (1996). Atualmente
sidente da CDH da Assembléia Legislativa da PB. Experiência na questão Tem experiência na área d
indígena, na luta contra o crime organizado, e contra a pistolagem. gena. Atuando principalm
Kiriri.
MANOEL MORAIS
VÂNIA FIALHO
Professor de Direitos Humanos e Ciência Política do curso de Direito
pela Faculdade Maurício de Nassau. Leciona na Pós-Graduação em Direito Antropóloga. Atualm
Penal pela Faculdade Joaquim Nabuco. Mestre em Ciência Política e Cências Pernambuco (UPE) e Profe
Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco. Ex-Coordenador do Mo- ação em Antropologia da
vimento Nacional de Direitos Humanos em PE (2001-2002 e 2008-2010). em Sociologia pela UFPE (
Signatário do PNDH3 e participante eleito das Conferências Nacionais de Social – núcleo de Pernamb
Direitos Humanos e Segurança Pública. Membro da Coordenação Executiva dades Sociais- NDIS/UPE
do GAJOP (Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares). /UFPE. Tem experiência n
sobre povos tradicionais, at
cidade, territorialização, po
194
“Plantaram” Xicão
SHEILA BRASILEIRO
Comissão de Direitos Hu-
omissões Parlamentares de Antropóloga. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da
Nordeste do Brasil. Ex-pre- Bahia (1996). Atualmente é Técnica Pericial do Ministério Público Federal.
B. Experiência na questão Tem experiência na área de Antropologia , com ênfase em Etnologia Indí-
ntra a pistolagem. gena. Atuando principalmente nos seguintes temas: Faccionalismo, Índios,
Kiriri.
VÂNIA FIALHO
Política do curso de Direito
Pós-Graduação em Direito Antropóloga. Atualmente é Professora Adjunta da Universidade de
m Ciência Política e Cências Pernambuco (UPE) e Professora Colaboradora do Programa de Pós-Gradu-
o. Ex-Coordenador do Mo- ação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco. Doutora
2001-2002 e 2008-2010). em Sociologia pela UFPE (2003), Pesquisadora do Projeto Nova Cartografia
Conferências Nacionais de Social – núcleo de Pernambuco. Membro no Núcleo de Diversidade e Identi-
da Coordenação Executiva dades Sociais- NDIS/UPE e do Núcleo de Estudos sobre Etnicidade -NEPE
zações Populares). /UFPE. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase nos estudos
sobre povos tradicionais, atuando principalmente nos seguintes temas: etni-
cidade, territorialização, política indigenista e identidade étnica.
195