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Conceitos estéticos
Frank Sibley
Tradução de Vítor Guerreiro
II
Quis dar ênfase na última parte deste artigo à base natural das
respostas de diversos géneros sem as quais os termos estéticos
não poderiam ser aprendidos. Esbocei também quais são algumas
das características naturais a que respondemos naturalmente:
semelhanças de diversos géneros, cores que se destacam, formas,
aromas, dimensões, complexidade, e muito mais. Mesmo os termos
estéticos não metafóricos têm ligações importantes com todo o
género de características naturais que despertam o nosso interesse,
espanto, admiração, deleite ou aversão. Mas quis em particular
insistir em como não nos devia evocar perplexidade o facto de o
crítico sustentar os seus juízos e nos levar a ver qualidades
estéticas chamando a nossa atenção para características cruciais e
falando acerca delas do modo como o faz. É fazendo uso dos
mesmíssimos métodos que as pessoas nos ajudam a desenvolver o
nosso sentido estético e a dominar o vocabulário pertinente desde o
início. Se esses métodos funcionaram bem connosco, portanto, não
é surpreendente que o discurso do crítico funcione bem connosco
agora. Seria surpreendente se, ao usar esta linguagem e
comportamento, as pessoas não conseguissem por vezes levar-nos
a ver as qualidades estéticas das coisas; pois isto demonstraria que
nos falta um género caracteristicamente humano de apercebimento
e actividade.
Retirado de The Philosophical Review, Vol. 68, n.º 4, pp. 421–450 (1959).
Notas
1. Falarei de um “termo estético” de um modo vago, mesmo quando,
devido à palavra em causa ter por vezes outros usos, seria mais
correcto falar do seu uso como termo estético. Falarei também em
palavras, conceitos, características, etc., “não-estéticos”. Nenhum dos
termos usados por outros autores, (qualidades) “naturais”,
“observáveis”, “perceptivas”, “físicas”, “objetivas”, (linguagem)
“neutra”, “descritiva”, quando tratam a distinção que estou a fazer, é
realmente útil para os meus propósitos. ↩
4. Isenberg (op. cit., p. 132) defende algo semelhante: “Se nos tivessem
dito que as cores de uma certa pintura são garridas, seria espantoso
descobrir que eram todas muito suaves e insaturadas” (itálicos meus).
Mas se afirmamos “todas” em vez de “predominantemente”, então
“espantoso” não é a palavra certa. Há que distinguir entre aquilo a que
chamo “condições negativas” e aquilo a que mais à frente chamo
características “tipicamente” associadas ou não associadas a um
conceito de gosto. ↩
7. Helen Knight afirma (Elton, op. cit., p. 152) que “provocador” (um dos
meus termos “estéticos”) “depende de” diversas características (um
nariz retroussé, um queixo espetado, e coisas semelhantes) e que
essas características são critérios para o mesmo; é isso o que estou a
negar. Knight defende também que “bom”, quando aplicado a obras
de arte, depende de critérios como o equilíbrio, a solidez, a
profundidade (os meus termos estéticos, mais uma vez; devia inserir o
provocativo nesta lista). Quero negar isto também, embora a considere
uma questão diferente e não a trate neste artigo. Há que distinguir as
10. Macdonald em Elton, op. cit., pp. 114, 119. Veja também pp. 120, 122.
↩
12. Ibid., pp. 115–116; cf. também John Holloway, Proceedings of the
Aristotelian Society, Supplemntary Vol. XXIII (1949), pp. 175–176. ↩
15. Ibid., veja pp. 127, 122, 125, 115. Outros autores colocam também a
ênfase na interpretação. Cf. Holloway, op. cit., . 173 e seguintes. ↩
17. Holloway, op. cit., pp. 173–174, enumera muito brevemente alguns. ↩
18. Vale a pena mencionar que na sua maioria as palavras que no uso
corrente são primária ou exclusivamente termos estéticos tiveram usos
não-estéticos anteriores e ganharam o seu uso presente por algum
género de transferência metafórica. Sem dar grande peso aos factos
etimológicos, pode-se ver que a sua história reflete conexões com as
respostas, interesses e características naturais que mencionei como
subjacentes à aprendizagem e uso dos termos estéticos. Estas
transições sugerem simultaneamente a dependência do estético
relativamente a outros interesses, e o que alguns desses interesses
são. Ligados à inclinação, ao deleite, ao afeto, à consideração, à
estima, ou eleição – belo, gracioso, delicado, adorável, refinado,
elegante, mimoso; ao medo ou repulsa – feio; com o que notoriamente
atrai o olhar ou a atenção – garrido, esplêndido, berrante; com o que
atrai pela notória raridade, precisão, perícia, engenho, detalhe –
mimoso, minucioso, bonito, refinado; com a adaptação à função, à
facilidade de manuseamento – jeitoso [handsome]. ↩
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ISSN 1749-8457