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Dorneles

ARTIGO DECL et al.


REVISÃO

A educação de jovens e adultos na


perspectiva das Neurociências
Caroline Lacerda Dorneles; Aliana Anghinoni Cardoso; Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho

RESUMO – O texto que segue pretende discutir a Educação de Jovens e Adultos


na perspectiva das Neurociências. Busca entender o percurso dessa modalidade
de educação no Brasil e traçar um perfil desses sujeitos. A partir disso, enfocamos
as diferenças biológicas e sociais que fazem parte dessa etapa da vida e que, em
algumas vezes, repercutem no processo de aprendizagem. Acreditamos que a
educação, aliada às Neurociências, pode ajudar a entender a estrutura cognitiva
do adulto e o seu processo de envelhecimento, pois muitas das dificuldades de
aprendizagem encontradas por esses sujeitos são atribuídas à idade, às diversas
mudanças e declínios em sua estrutura biológica. No entanto, nessa etapa da vida
também há espaço para grandes aprendizagens e conquistas, e os profissionais
da educação precisam entender essas mudanças para ajudar a romper com o
estereótipo de que as pessoas em processo de envelhecimento não têm mais idade
para aprender. Dessa forma, ao estudarmos biologicamente e socialmente esse
sujeito, poderemos desenvolver práticas pedagógicas mais significativas, voltadas
para seus interesses e necessidades e, assim, permitir a sua aprendizagem e
continuidade nos estudos.

UNITERMOS: Educação. Adulto. Neurociências. Envelhecimento.

Caroline Lacerda Dorneles – Pedagoga pela Uni­­­ver­­­ Correspondência


si­­­dade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Caroline Lacerda Dorneles
Missões (URI), Campus Santiago-RS, Especialista em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Psicopedagogia pela mesma Universidade, Mestranda Rio Grande do Sul - Campus Rio Grande (coordenação
do Programa de Pós-graduação em Educação da pedagógica)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Rua Eng. Alfredo Huch, 475 – Bairro Centro – Rio
Pedagoga do Instituto Federal de Educação Ciência e
Grande, RS, Brasil – CEP 96201-460
Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Campus Rio
Grande/RS, Rio Grande, RS, Brasil. E-mail: carolinelacerda@yahoo.com.br
Aliana Anghinoni Cardoso – Pedagoga pela Uni­­­ver­­­
sidade Federal de Pelotas/RS (UFPel), Especialista em
Supervisão Educacional pelo Centro Universitário La
Salle, e Mestranda em Educação pela UFPel, Pedagoga
do IFRS, Campus Rio Grande/RS, Rio Grande, RS, Brasil.
Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho – Gra­­­dua­­­
da em Ciências - Habilitação em Biologia pela Uni­­­
ver­­­­­­­­­­­­­­sidade Católica de Pelotas-RS, mestre em Letras
pela Universidade Católica de Pelotas e doutora em
Educação pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul. Pós-doutoranda PRODOC CAPES
no PPG Educação em Ciências: Química da Vida e
Saúde/ Instituto de Ciências Biológicas-Laboratório
de Neurociências da Universidade Federal do Rio
Grande-RS, Rio Grande, RS, Brasil.

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INTRODUÇÃO Contudo, os educadores precisam reconhecer que


A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no nessa etapa da vida também há espaço para gran-
Brasil é uma modalidade amparada pela LDB/ des aprendizagens e conquistas, pois dessa forma,
9394/96-Lei de Diretrizes e Bases da Educação poderemos romper com o estereótipo de que as
Nacional1, e se destina àqueles que não tiveram pessoas em processo de envelhecimento não são
acesso, na idade própria, ao ensino regular. Con- capazes de construir novos conhecimentos.
templa o acesso ao ensino, a um público com Essa ruptura de paradigma é urgente no
idade mais avançada se comparado ao do ensino ce­­­nário educacional brasileiro, pois o Brasil
regular. Geralmente os estudantes da EJA che- ca­­­­­­­­minha a passos acelerados com relação ao
gam à escola com uma vasta expe­riência de vida en­­­­velhecimento de sua população. Conforme
e, em consequência, com algumas expectativas aponta o Instituto brasileiro Geografia e Estatís­­­
diferenciadas sobre o ensino, pois esperam nos tica (IBGE), nos dados do censo 20102, há um
estudos avanços e promoções no trabalho, assim crescente aumento da população adulta no Brasil
como melhores salários ou mesmo melhores e destaque para a participação da população ido-
oportunidades de emprego. sa. Esses dados ajudam a reforçar a importância
Para que essas possibilidades sejam aten- e o papel fundamental da educação para manter
didas, esses sujeitos precisam ser pensados a essa população ativa e produtiva.
partir de suas peculiaridades e diferenças no Sobre esse aspecto, estudos no campo das Neu­­­
pro­­­cesso de aprender, pois carregam uma série rociências têm ajudado a compreender o desen-
de mudanças biológicas e ambientais, além de volvimento humano, bem como a identificar as
distintas trajetórias de vida e de aprendizagens mudanças que ocorrem durante a idade adulta
formais e informais que a escola precisa consi- e a velhice. Assim, há a emergente necessidade
derar. Naturalmente, essas diversidades deman- dos profissionais da educação entenderem como
dam que os educadores apresentem mudanças se processa esse desenvolvimento, pois as pes­
em seu fazer pedagógico para atender a essas soas adultas cada vez mais estão inseridas no
peculiaridades e, uma delas, é compreender o meio educacional e o educador, por sua vez,
processo de aprendizagem desses educandos. precisa reconhecer e compreender que esses
Entender esse processo requer iniciar pela indivíduos possuem uma estrutura cognitiva
compreensão da estrutura biológica e social que com­­­plexa e individual e, por isso, requerem tra­­­­
sustenta a aprendizagem dos alunos dessa tamento de acordo com sua individualidade.
mo­­­dalidade de ensino, em especial, os adultos. Diante desse desafio, o texto que segue abor-
Nes­­­se sentido, há uma gama de estudos sobre o da um breve histórico da Educação de Jovens e
desenvolvimento psicológico e a aprendizagem Adultos no Brasil. Isso ajudará a compreender
da criança, que tem contribuído para as trans- o percurso dessa modalidade de educação em
formações no campo da educação e avanços no nosso país e a traçar um perfil dos sujeitos nela
entendimento da adolescência. Entretanto, com inseridos, inclusive considerando aspectos neu-
relação ao adulto verificamos uma carência de robiológicos dessa fase da vida. A partir disso,
investigações sobre sua aprendizagem, pois por tentaremos suscitar reflexões acerca de práticas
muito tempo acreditou-se no estereótipo de que pedagógicas significativas para esse público.
pessoas adultas e idosas não teriam mais ca-
pacidade para aprender ou que apresentariam A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
muita dificuldade. NO BRASIL
Sabemos que o estudante adulto está em uma No Brasil, a EJA é marcada por um histórico
fase da vida em que se encaminha para o processo de movimentos em busca da universalização
de envelhecimento e na qual ocorrem diversas do ensino, bem como pelo momento em que a
mudanças e declínios na estrutura biológica. sociedade brasileira se deparou com a industria-

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lização, o que, consequentemente, fez com que iniciativas. Como exemplos dessas tentativas,
a procura pela escola aumentasse. Torres et al.3 po­­­demos destacar as campanhas de alfabetiza-
destacam que a universalização do ensino está ção nas décadas de 1930 e 1940; os movimentos
associada ao movimento da Escola Nova, o qual de cultura popular de 1960; o Movimento Bra-
também buscava igualdade de oportunidades sileiro de Alfabetização (MOBRAL) na década
e acesso à educação de uma forma igualitária. de 1970; o ensino supletivo dos Governos Mi-
Esses movimentos, bem como as inovações litares; e, por fim, na década de 1980, a criação
pedagógicas na década de 1930, tinham como da Fundação EDUCAR. Ainda de acordo com
objetivo alcançar a modernização e a democracia o autor7, destacamos que a referida fundação
no Brasil, o que se refletia no planejamento de extinguiu-se na década de 1990, sendo que, na
propostas curriculares voltadas para a educação mesma época, a EJA começou a perder prestígio
cívica e para a cidadania. em função dos poucos investimentos governa-
Pela primeira vez, a educação foi destacada, mentais e da transferência da responsabilidade
na legislação brasileira, através da Constituição dessa modalidade de educação para os estados
de 19344, em seu capítulo II, art. 150, o qual e municípios. Somente no ano de 2003, a EJA
tratava da educação e da cultura. Tal docu- voltou a ser prioridade para o Governo Federal,
mento propunha como uma das competências tendo novamente a meta de erradicar o analfa-
da União fixar o Plano Nacional da Educação,
betismo no Brasil. Diante disso, o Ministério da
compreendendo todos os graus e ramos do en-
Educação lançou o Programa Brasil Alfabetizado
sino. Além disso, apontava a necessidade de
(PBA), voltado à alfabetização de jovens, adultos
obedecer à oferta de ensino primário integral
e idosos.
e gratuito, cobrando frequência obrigatória, in­­­
Analisando a trajetória histórica da EJA e os
clusive dos adultos. Porto5 relembra que, entre
recentes investimentos no país a ela relaciona-
1937 e 1945, com o Estado Novo, as con­­­­quistas
dos, acreditamos que através da compreensão
referentes à oferta de escolarização pa­­­­ra adultos
acerca dos sujeitos a quem esta se direciona, po-
eram ainda muito reduzidas. Isso por­­­que se
deremos mobilizar diversos saberes relacionados
ampliava a oferta de educação, mas havia muita
com a aprendizagem desses indivíduos. Essas
abertura à iniciativa privada, que reservava a
reflexões podem conduzir a um en­­­­ten­­­­dimento
escola secundária para as elites do país e des­­­
sobre as diferenças no processo de aprender dos
tinava a educação profissionalizante para a
jovens e adultos, de modo a contribuir para uma
clas­­­se trabalhadora.
educação de qualidade a esse público.
Na tentativa de ampliar os espaços educativos,
no período do Governo Militar, foi instaurada, na
década de 1970, a primeira Lei de Diretrizes e SUJEITOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
Bases da Educação (LDB), Lei nº 5692/716, que ADULTOS
tinha como um de seus objetivos a organização da Vivemos em um panorama de mudanças, com
educação de adultos por meio do ensino supletivo. um ritmo acelerado das transformações sociais
Essa medida teve por intuito escolarizar grande e tecnológicas, em que a sociedade torna-se
parte da população mediante baixo custo, além mais exigente e busca profissionais qualificados
de tentar satisfazer as necessidades emergentes. que atendam às demandas emergentes. Essas
Nessa época, havia uma forte influência de Paulo transformações vêm se refletindo no cenário
Freire nos métodos pedagógicos. edu­­­­cacional, pois os sujeitos com pouca escola-
Sobre as tentativas de universalizar o ensino, rização estão retornando ao campo educacional,
Haddad7 destaca que a EJA não só foi reconhe- sejam eles jovens, adultos ou idosos, e a EJA vem
cida como um direito desde os anos 1930, mas propiciando essa oportunidade de aprender e
também ganhou relevância por meio de diversas se qualificar.

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A EJA proporciona esse acesso, pois ao passo pararam por longo tempo de estudar e retorna-
que o sujeito aprende e se qualifica, consegue ram à escola para terminar os estudos com vistas
ter mais forças para caminhar em busca da sua a um emprego melhor ou a uma promoção nos
cidadania. Os alunos da EJA são pessoas que seus locais de trabalho. Hoje, a EJA, além de
caminham em busca do conhecimento, superam oferecer espaço para o adulto, também se destina
limites e rompem com barreiras, pois participam ao jovem que, por motivos diversos, não conse-
de uma sociedade em transição, na qual os traba- gue acompanhar o ensino regular e, em alguns
lhadores descobrem como canal de crescimento casos, a adolescentes que vêm de um histórico
e libertação, a educação8. de fracasso escolar.
Porto5 referencia que essa libertação e busca Nesse sentido, Oliveira9 e Brunel10 fazem
pelo conhecimento e qualificação, hoje, ocorre referência ao número de jovens e adolescentes
em um cenário sociocientífico permanentemen- que cresce, a cada ano, nessa modalidade de
te reformulado, em incessante movimento de ensino, modificando, dessa forma, o cotidiano es-
re­­­novação. Reforça que, para se situar nessa colar e as relações que se estabelecem entre os
sociedade em constantes transformações, o ser sujeitos que ocupam esse espaço. Esses jovens
humano precisa construir patamares cada vez que chegam nessa modalidade de educação,
mais elevados de conhecimento, aprender ao em geral, são desmotivados, desencantados
longo da vida e estar em constante evolução. Ao com a escola regular, pararam de estudar há
pensar nessa constante aprendizagem, salien­ pouco tempo, são egressos do ensino regular
tamos que o adulto não pode ser considerado e possuem um histórico de repetências e re-
nesse processo como uma “criança grande”9, provações.
mas como uma pessoa repleta de experiências De forma distinta, o adulto que retorna à
e aprendizagens. Na visão de Oliveira9, esse es­­­­cola apresenta outras peculiaridades, pois
território da educação não diz respeito a refle­ está inserido no mundo do trabalho e das re-
xões e ações dirigidas a qualquer jovem ou lações interpessoais de um modo diferente
adul­­­to, mas a um grupo de pessoas que fazem do adolescente. Traz uma trajetória de vida e
parte, no interior da diversidade, de grupos apren­­dizagens que precisam ser consideradas
sociais, e que precisam de materiais didáticos, e, além disso, carrega uma história mais longa
conteúdos e métodos de ensino específicos para e complexa, com experiências, conhecimentos
sua realidade. acumulados e reflexões sobre o mundo, sobre si
Historicamente, os sujeitos da EJA são edu­­­ e outras pessoas.
candos provenientes de diversas camadas so- Diante disso, pensando na identidade desses
ciais, culturais, étnicas, o que os torna pessoas educandos da EJA como heterogênea, sujeita
com diversas experiências e, por isso, precisam a transformações, caracterizada por diferentes
ser pensados visando à diferença. Oliveira9 des- etapas da vida, é que poderemos romper com a
taca que o adulto dessa modalidade de edu­­­cação exclusão, a desigualdade e desenvolver práticas
não é o estudante universitário, nem o profissio- pedagógicas significativas e que tenham sentido
nal qualificado que frequenta cursos de forma- para esses indivíduos.
ção continuada. Geralmente, esse edu­­­­­­­­cando é o Santos11, pensando nessas singularidades
migrante que chega às grandes me­­­trópoles, pro- que caracterizam o processo de aprendizagem
veniente de áreas rurais empobrecidas, com uma da EJA, realizou um estudo em que buscou com-
passagem curta pela escola, ou o trabalhador preender os impactos que a vivência de escolari-
não qualificado, que busca a escola tardiamente. zação tardia gera na vida de adultos de camadas
No entanto, atualmente, a EJA passa por um populares. Através da análise das trajetórias de
processo de rejuvenescimento dos educandos, escolarização da vida dos sujeitos, identificou
pois não é mais exclusiva àquelas pessoas que que, embora cada história seja ímpar, constituída

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de vivências e experiências particulares, exis- O ADULTO E O PROCESSO DE ENVELHE-


tem momentos comuns que as marcam. Essas CIMENTO
semelhanças são balizadas por vivências a um A idade de uma pessoa, quando considerada
lugar específico e pelo compartilhamento de por si só, é somente uma passagem do tempo,
uma mesma realidade social. não fornece elementos para compreendermos
Com relação à realidade social do indivíduo, os processos psicológicos. É preciso considerar
Luria12 apresenta uma pesquisa, na qual revela a a idade e o comportamento do indivíduo para
relação entre cultura e formas de funcionamento compreendermos seu desenvolvimento psicoló-
psicológico. Detectou que os adultos pouco esco- gico. Essas relações entre idade e conduta são
larizados tendiam a apresentar um pensamento destacadas por Palácios14 como constituídas por
baseado em suas experiências individuais e uma natureza correlacional, pois no processo de
nas relações concretas observadas no dia-a- desenvolvimento psicológico existem determi-
-dia, ao passo que aqueles com maior grau de nadas mudanças que são mais características
escolaridade operavam mentalmente, de forma de umas idades do que de outras, mas isso não
desvinculada das situações concretas, realizando significa que a idade produz por si mesma as
atividades descontextualizadas. mudanças.
O educando adulto precisa que a educação O Estatuto do idoso15 considera a pessoa idosa
seja próxima da sua realidade e das suas expe­ aquela que atinge idade igual ou superior a 60
riências, principalmente porque é um trabalha- anos, não considera a maturidade, o comporta-
dor e necessita encontrar significado na escola mento e as experiências que o indivíduo passou
para conciliar com suas atividades laborais. Oli- ao atingir determinada idade. Com 60 anos, to-
veira13 destaca que o adulto traz como principal dos são considerados idosos, independente das
característica a questão de que está inserido no mudanças biológicas e sociais que passaram. Por
mundo do trabalho e das relações interpessoais, não deixar de considerar essas mudanças, Palá-
e carrega uma história mais longa de experiên- cios14 atribui a idade dos indivíduos em períodos,
cias, conhecimentos acumulados e reflexões so- definindo a idade adulta inicial por volta dos 25
bre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as aos 40 anos; a adulta média dos 40 aos 65 anos;
outras pessoas. Essas particularidades do adulto a adulta tardia, ou velhice precoce, tipicamente
fazem com que ele traga, para o contexto escolar, dos 65 aos 75 anos; e a velhice tardia, após os
diferentes habilidades, assim como diferentes 75 anos. Salienta que, por mais corretos que
dificuldades que precisam ser consideradas no estejam os agrupamentos, há diferentes signi-
seu processo de aprender. ficados dos conceitos de idade a serem levados
Dessa forma, salientamos a importância dos em consideração, como a Idade Cronológica,
educadores conhecerem as singularidades dessas que se refere ao número de anos transcorridos
etapas da vida do educando, principalmente, em desde o nascimento da pessoa.
se tratando da EJA, em que pessoas de diferentes Além disso, há a Idade Biológica, ou seja,
etapas da vida estão inseridas. Assim, ressalta- a estimativa do lugar em que uma pessoa se
mos que, ao reconhecermos esses indivíduos encontra em relação ao seu potencial de vida.
como seres individuais que possuem estruturas Também, a Idade Psicológica, relacionada à
biológicas e trajetórias de vida distintas, pode- ca­­­­­­­­pacidade de adaptação de uma pessoa com
remos minimizar muitas dificuldades de apren- suas possibilidades para enfrentar o ambiente.
dizagem encontradas, pois a maioria desses Ainda, há a Idade Funcional, integradora dos
problemas ocorre em função do uso de métodos conceitos de Idade Biológica e Psicológica, que
inadequados e pelo desconhecimento, por parte se refere à capacidade de autonomia e indepen-
do professor, das estruturas do desenvolvimento dência do indivíduo. Por último, a Idade Social,
do seu aluno. que está relacionada com os papéis sociais e as

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expectativas da sociedade frente a um sujeito Sobre o cérebro em processo de envelheci-


com determinada idade. mento, Lent17 descreve que:
A Idade adulta e a Velhice são etapas da vida “A contagem do número de neurônios em
que, para Palácios14, estão abertas a mudanças, diferentes regiões indica pronunciada
sensíveis a diversas fontes de influências. Nesse queda; é menor também o número de
período há perdas e declínios, tal como susten- sinapses. Uma análise ainda mais fina,
tavam os velhos estereótipos, mas também há em nível bioquímico, indica queda na
ganhos, aquisições, conquistas, crescimentos quantidade de proteínas cerebrais, es-
e reorganizações que contrariam essas velhas pecialmente das enzimas que sintetizam
crenças. São etapas tão evolutivas quanto a in­­­­­­ e que degradam neurotransmissores, o
fância e a adolescência, muito embora apresen­ que resulta em uma deficiência dessas
tem características peculiares. substâncias tão importantes para a trans-
Ao pensarmos nas etapas da vida e nas mu- missão de mensagens no cérebro.”
danças ocorridas nesse processo, não podemos Essas mudanças naturais do cérebro huma-
deixar de salientar as transformações que tam- no, provocadas pelo processo de envelhecimen-
bém ocorrem no desenvolvimento cognitivo, to, interferem significativamente nas formas de
pois sabemos que os ganhos e conquistas da ser e estar na sociedade, por isso, precisamos
vi­­­da influenciam na cognição do sujeito de conhecer e compreender essas modificações,
for­­­­ma significativa. Sternberg16 traz a ideia de para que as atividades sociais e educativas
que o desenvolvimento cognitivo não cessa na tenham significado para esses sujeitos. Sobre
adolescência, as mudanças ocorrem ao longo da isso, Mora 18 salienta que o envelhecimento
vida. Mesmo com todas as mudanças provoca­­­das é um processo único e individual, que não é
pelo processo natural de envelhecimento, a ca- governado apenas pelos fatores genéticos, mas
pacidade para aprender continua intacta, muitos destaca uma forte influência dos fatores am-
ganhos e aprendizagens podem acontecer, mas bientais e do próprio desenvolvimento do indi-
isso é relativo do contexto e das experiências víduo. Ainda referencia que o envelhecimento é
intelectuais que a pessoa vivencia. um processo estocástico, ou seja, que acontece
Sabemos que o processo de envelhecimento é depois de avançar a maturidade reprodutiva.
natural e ocorre com todas as pessoas, por mais Trata-se de um processo biológico natural uni­­­
saudáveis que sejam. Palácios14 mostra que o versal, que ocorre através da programação
envelhecimento provoca mudanças físicas no genética do indivíduo e das relações sociais
cérebro, pois tamanho e peso diminuem à medida es­­­tabelecidas.
que os anos passam. Aos 20 anos, esse órgão pesa As neurociências ainda não descobriram que
em média 1.400 gramas, enquanto entre os 50 e efeitos esses processos exercem sobre o cérebro,
60 anos de idade, o peso médio é de 1.337 gra- mas deixa claro que o meio social é fundamen-
mas. Já entre 70 e 80 anos, o cérebro pesará 1.226 tal para acelerar ou retardar o envelhecimento.
gramas, ao passo que entre 80 e 90 anos terá, Mora18 ressalta que estudos recentes indicam
em média, 1.180 gramas. Os neurônios também que os neurônios não morrem de uma maneira
envelhecem, deteriorando-se na sua arquitetura generalizada no córtex cerebral, paralelamente,
e capacidade de conectividade. Alteram-se os existe a produção de neurônios no cérebro adulto
ritmos de atividade elétrica do cérebro e os ritmos e idoso. Essa produção neuronal está relaciona-
alfa, que estão ligados à capacidade de alerta do da, também, com a aprendizagem e a riqueza
ser humano. Lent17 destaca que o “cérebro do do meio que cerca o indivíduo, bem como com
idoso apresenta claras diferenças morfológicas em a qua­­­lidade de vida. O autor18 demonstra que
relação ao do indivíduo jovem: o seu tamanho é há visíveis diferenças entre o envelhecimento
menor em média, o que resulta num menor peso”. de um indivíduo que vive na selva, e de um que

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vive na cidade, pois esse último pode apresentar aprendizagem ao longo da vida e a noção de
um envelhecimento mais tardio. envelhecimento ativo.
Diante de todas essas mudanças cerebrais, que Nessa visão, Osório e Pinto19 abordam que a
fazem parte do envelhecimento natural do ser exposição a ambientes estimuladores e a utili­
humano, podemos dizer que, um cérebro velho, zação de recursos culturais e educativos ao longo
desde que sadio, é capaz de ter um funcionamen­ da vida reduzem quantitativamente o declínio
to psicológico normal e, ter um adequado de­­­­ intelectual. Essas pessoas estão menos expostas
sen­­­­­volvimento das atividades cotidianas, além à depressão, enfrentam melhor os acontecimen-
da aquisição de novos conhecimentos e habili- tos da vida e, em geral, mostram níveis de saúde
dades. Desse modo, Palácios14 frisa que a manu- mais elevados do que as pessoas com níveis de
tenção da atividade intelectual contribui para a educação formal mais baixo.
boa capacidade de funcionamento cerebral; isso Aliar a Gerontologia com a Educação é, fun­­­­
significa que continuar aprendendo ao longo damental, principalmente em tempos que as
da vida contribui para o bom funcionamento de pessoas em processo de envelhecimento vis-
nosso cérebro. Entretanto, esclarece que não lumbram mais espaços na sociedade. Diante
podemos deixar de pensar nas peculiaridades disso, precisamos pensar no educando da EJA a
desse cérebro envelhecido, como a lentidão na partir dessas mudanças, pois é necessário con­­­
transmissão de informações. Essa morosidade siderá-las ao planejar o ensino e as atividades
pode ocasionar tempos de reação mais longos, didáticas, a fim de que a aprendizagem tenha
diminuição dos reflexos, execução psicomotora significado para esses sujeitos e atenda às suas
mais lenta e funcionamento psicológico geral individualidades biológicas e sociais.
com uma rapidez e flexibilidade diferentes, se
comparados às idades anteriores. O ENVELHECIMENTO NATURAL
Considerando essas diferenças ocasionadas Diversas pesquisas no campo das Neurociên­
pelo processo de envelhecimento natural, surge cias e da Psicologia têm evidenciado que o pro-
uma nova abordagem social e educativa que cesso de envelhecimento é acompanhado por
tenta relacionar aspectos biológicos, afetivos, um declínio cognitivo. Dentre esses estudos,
cognitivos e sociais, que ocorrem nas últimas apresentamos o trabalho de Vega et al.20, que
fases do ciclo vital, procurando compreender a abordam uma forte relação do declínio cognitivo
pessoa em sua individualidade. Essa aborda­gem quanto à atenção, à aprendizagem e à memória.
é chamada de Gerontologia Educativa; des­­­ Salientam que os danos ocasionados pelo pro-
tacada por Osório e Pinto19, que busca equilibrar cesso de envelhecimento são muito menores do
a educação e a gerontologia, tomando os conhe­ que se pensava a princípio.
cimentos disponíveis sobre as duas ciências para Muitas dessas perdas e lentidões nas ativi-
promover maior qualidade e quantidade de vida dades mentais e motoras são atribuídas às ques-
às pessoas em fase de envelhecimento. Para tões sensoriais que apresentam uma redução
esses autores19, a Gerontologia Educativa ajuda natural, conforme o envelhecimento da pessoa.
a reconhecer que a estrutura temporal do enve- Vega et al.20 explicam que é preciso conhecer
lhecimento difere da infância, da juventude e os processos sensório-perceptivos, pois esses
da idade adulta, o que limita a compreensão dos mudam conforme o envelhecimento. A partir da
objetivos, propósitos, valores, crenças, neces­ idade adulta a visão apresenta maior opacida­­­de
sidades e interesses assumidos pelos idosos. do humor vítreo, substância viscosa e transpa-
Esse campo do conhecimento busca acentuar rente, que preenche a porção entre o cristalino
as potencialidades do ser humano, independente e a retina. Isso faz com que as pessoas sintam
do momento cronológico vital. Para tanto, con- maiores dificuldades de enxergar em ambientes
sidera as ideias de potencialidade cognitiva, de pouco iluminados, apresentem leve declínio na

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capacidade de diferenciar cores e maior sensibi- a informação mais lentamente do que na juven-
lidade a mudanças bruscas de iluminação. Essas tude, podendo esse acontecimento biológico ser
alterações se devem às mudanças que ocorrem confundido com dificuldades de aprendizagem
nos músculos da pupila, os quais fazem com que – quando, na realidade, essas alterações fazem
a resposta às situações seja mais lenta. parte do envelhecimento natural. Blakemore
Em se tratando da influência das questões & Frith21 afirmam que todos os seres humanos
sensoriais com relação ao ouvido, Vega et al.20 perdem células cerebrais de um modo rápido a
afir­­­mam que esse órgão também sofre altera- partir dos 40 anos de idade. Essas perdas pro-
ções. Há uma progressiva sensibilidade audi­­­tiva movem certa lentidão progressiva e dificultam
chamada de presbiacusia, que impede de com- a realização de determinadas atividades, mas,
preender corretamente o que as outras pessoas sabemos que podem ser amenizadas por meio
falam. Também fazem referência ao problema do de atividades físicas adequadas e de manuten-
zumbido, percebido no envelhecimento, quando ção cerebral, ou seja, por meio de estímulos
há sensação de que os ouvidos retumbam. Esses apropriados ao raciocínio, sendo um deles a
problemas de audição das pessoas adultas e ido- apren­­­dizagem.
sas se devem tanto a fatores ambientais quanto Diante dessas perdas que afetam o desenvol-
aos próprios efeitos do envelhecimento, sendo vimento cognitivo, Sternberg16 apresenta uma
que essas implicações auditivas, algumas vezes, explicação diferente. Faz uma distinção entre a
impedem que a pessoa interaja com as demais inteligência fluida e a inteligência cristalizada,
e, em alguns casos, faz com que o indivíduo dizendo que a fluída refere-se às habilidades
bus­­­que o isolamento, o que acaba por produzir cognitivas que nos capacitam a manipular sím­­­
mal estar e solidão. bolos abstratos, como na matemática; já a inteli-
Outro fator sensorial apresentado pelos mes- gência cristalizada seria o conhecimento arma-
mos autores e que costuma diminuir a eficácia zenado, como o vocabulário, por exemplo. Há,
com a idade é o olfato. Há uma dificuldade por ainda, o fato de que a inteligência cristalizada é
parte do indivíduo em identificar alguns chei- mais alta para os adultos mais velhos, enquanto
ros, o que pode afetar as relações sociais, pois a inteligência fluída é mais alta para os adultos
a insensibilidade para odores leva ao afasta- mais jovens. Por isso, os mais velhos parecem
mento de amigos, familiares e demais pessoas ser mais lentos em tarefas de processamento da
do convívio social. A sensibilidade para o tato informação.
também começa a diminuir com o passar do Sternberg16 salienta que, em geral, as capa­­­
tempo, principalmente por volta dos 50 anos. cidades cognitivas cristalizadas crescem ao
O problema é atribuído a uma diminuição na longo da duração média da vida, ao passo que as
quantidade de receptores e da sensibilidade capacidades cognitivas fluidas parecem crescer
in­­­dividual produzida pela palma das mãos e até os 20 ou 30 anos, ou possivelmente até os
dedos. Contudo, a sensibilidade tátil não afeta 40 anos, após, começa a diminuir lentamente.
a todas as pessoas e não são todos os aspectos Entre os fatores que contribuem para reduzir as
táteis que diminuem, pois não chega ao ponto capacidades cognitivas e o ritmo de aprendiza-
de interferir na capacidade de localização, nem gem apresentam-se a redução das capacidades
na identificação de objetos. da memória e dos recursos de atenção.
Esses processos perceptivos relacionam-se ao Desde a década de 1940, sabe-se por meio de
desenvolvimento cognitivo por fazerem parte de estudos e aplicação de testes, que a partir dos
uma série de transformações neurofisiológicas 30-40 anos de idade as pessoas vão perdendo
que afetam a forma como o indivíduo percebe e gradativamente sua capacidade mnêmica para
interpreta os estímulos externos. Desse modo, à fatos recentes, ou seja, a capacidade de evocar
medida que as pessoas envelhecem, processam memórias, conservar e reproduzir-las, o que afeta

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o aprendizado de fatos novos22. Essa diminuição passadas antes de se fazer julgamentos, a capa-
da capacidade mnemônica também é apontada cidade de se concentrar em determinadas tarefas
por Izquierdo23,24 como fruto das grandes perdas e a utilização de diferentes saberes.
neuronais ocorridas nesse período da vida. En- À medida que ficamos mais velhos, Stern-
tretanto, todos esses declínios não acontecem berg16 defende que nos tornamos mais capazes
somente no período do envelhecimento, mas de interações mais complexas de pensamento
ocorrem desde quando o ser humano começa a e de comportamento, e isso é reflexo das expe­
caminhar, pois nesse período o cérebro começa riências e aprendizagens que construímos.
a eliminar os neurônios desnecessários, em uma Kieling et al.25 mencionam que as diferenças
breve velocidade, todos os dias, havendo uma par­­­ticulares nas trajetórias cognitivas dos indi-
perda constante, até o fim da vida. víduos ao longo dos anos parecem sofrer fortes
As perdas acontecem em todos os indivíduos, influências de fatores ambientais. Diante disso,
sendo que em alguns de maneira mais acentua- o processo de envelhecimento cognitivo torna-se
da e, em outros, mais lenta, dependendo também mais evidente naqueles indivíduos com menor
do estilo de vida da pessoa. Por isso, a forma com capacidade cognitiva, por uma capacidade re-
que o indivíduo encara essas perdas pode fazer duzida de sua estrutura biológica, ou seja, por
diferença em sua vida, pois Izquierdo24 afirma influência do ambiente.
que, nessa fase de envelhecimento, a memória Em virtude dessas mudanças cerebrais que
fica mais lenta e mais seletiva. Nesse aspecto, as pessoas em processo de envelhecimento apre-
é possível utilizar essas características de modo sentam, há um estereótipo de que elas não têm
favorável, tendo em vista que, nesse mesmo mais idade para aprender, porém, Vega et al.20
período, há um aumento nos mecanismos de defendem que, quando se afirma isso, se está li­­­­­­­
concentração. mitando os campos sobre os quais ainda podem
Outra explicação para essas perdas mne- ocorrer diversas aprendizagens. As pessoas mais
mônicas, atribuída por Izquierdo24, é o fato de velhas conservam boas capacidades para apren-
que, com o avanço da idade, as pessoas tendem der, principalmente quando são dadas condições
a lembrar, inconscientemente, de fatos mais de motivação e atitudes adequadas. Evidente-
antigos, os quais refletem um período de suas mente, quando comparadas com jovens, o nível
vidas de maiores prazeres e belas recordações. de execução das atividades desses indivíduos
Sobre isso, cabe salientar que lembrar de acon- mais velhos não é considerado tão bom, porém,
tecimentos prazerosos remete às experiências do é suficiente para ser atribuído como normal.
indivíduo, àquilo que ele é e ao que aprendeu Blakemore & Frith21 referem que “o cérebro
no decorrer de sua vida. Só lembramos aquilo adulto é flexível, permite o crescimento de células
que aprendermos, mas se aprendemos é porque novas e o aparecimento de novas conexões [...]
foi significativo24. embora a aquisição de novos conhecimentos se
Para o autor24, a arte de lembrar está asso- torne menos eficiente com a idade, não há ne-
ciada a ato de aprender, não há como separar nhum limite de idade para aprender”. O cérebro
memória de aprendizagem, pois estas trabalham adulto é maleável e, devido à plasticidade, se
juntas e isso nos faz acreditar que a capacidade adapta continuamente a novas circunstâncias.
de aprender nos indivíduos adultos não diminui, Essa capacidade cerebral de mudanças é atri­
o que ocorre são alterações na percepção e em buída à plasticidade cerebral, a qual sugere o cé-
recursos perceptivos que podem tornar o indi- rebro estar bem constituído para a aprendizagem
víduo mais lento. Por mais que não demonstrem ao longo da vida e para adaptação ao ambiente.
rapidez no processamento de informações, essa Nesse sentido, a forma como o processo de en-
deficiência pode ser substituída por benefícios, sinar e aprender são conduzidos pode contribuir
como a capacidade de refletir sobre experiências com os processos de ativação do cérebro devido

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à plasticidade, mas, para isso, são necessários uma redução natural dos recursos perceptivos
estímulos. Para Rotta26, a plasticidade cerebral com o aumento da idade que afeta o desenvol-
é dependente dos estímulos ambientais e, além vimento cognitivo e a maneira como o indivíduo
disso, das experiências de vida. Essas interferên- interpreta os fatos. Com isso, apontamos que o
cias influenciam na plasticidade e na aprendi- público da EJA, merece uma atenção especial,
zagem, sendo as alterações plásticas as formas pois engloba educandos em diversas fases da
pelas quais se aprende. vida, que apresentam mudanças diferentes e em
Essa influência que os meios, social e edu- tempos diferentes.
cativo, exercem sobre as capacidades cognitivas Salientamos que a aprendizagem continua
é destacada por Blakemore21 pelas mudanças ocorrendo em diferentes períodos do ciclo vital,
que provoca no cérebro, pois a cada experiência porém, de forma peculiar, sendo que com as
nova há uma readaptação discreta da estrutura pessoas mais velhas, com um tempo e ritmo di­­
física do nosso cérebro. Isso permite dizer que ferente e isso requer metodologias de trabalho
o cérebro continua plástico e flexível na idade e políticas educacionais focadas para suas ne-
adulta e a aprendizagem, ao longo da vida, tem cessidades e interesses. A escola tem papel fun-
grandes implicações na plasticidade. Essas cons- damental nesse meio, pois faz parte do contexto
tatações reforçam de forma positiva a educação social desse aluno e, em razão disso, precisa
das pessoas adultas, a importância do retorno co­­­­­­­nhecer a trajetória desse sujeito para tentar
à escolarização e a continuidade dos estudos. com­­­preendê-lo nos seus aspectos biológicos e
sociais, podendo, assim, propiciar uma educação
CONSIDERAÇÕES FINAIS de qualidade que priorize as individualidades.
Ao pensarmos na EJA, verificamos a neces­ Ao realizarmos essa revisão teórica, percebemos
sidade de compreender as complexidades do a necessidade de mais investimentos que aliem
ser humano, jovem e adulto, pois sabemos que os conhecimentos da educação com as Neuro-
esses sujeitos são diferentes e apresentam es- ciências, visto que os educadores também pre-
truturas biológicas e experiências sociais que cisam conhecer e compreender a influência dos
requer pensá-los em suas individualidades, aspectos biológicos e sociais que repercutem na
principalmente no processo de aprender. Há aprendizagem dos seus educandos.

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SUMMARY
Youth and adults education from the perspective of the Neurosciences

This paper intends to discuss the Youth and Adults Education from the
perspective of the Neurosciences. It aims to further understand the pathway
of this educational modality in Brazil and outline a profile of these youth
and adults. From that, we focus on biological and social differences that
are part of this stage of life and, in some occasions, have an impact on their
learning process. We believe education, associated to neurosciences, might
help to understand the cognitive structure of adults and their aging process,
since many learning difficulties found by these adults are attributed to age,
several changes and decreases in their biological structure. However, in this
stage of life, there is also space to major learnings and achievements, and
education professionals must understand these changes so that they can help
to break with the stereotype that people undergoing the aging process are
not able to learn anymore. Therefore, when studying this person biologically
and socially, we can develop more significant pedagogical practices, aimed
at their interests and needs in order to allow their learning and continuity
of the studies.

KEY WORDS: Education. Adult, Neurosciences. Aging.

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Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio Artigo recebido: 11/6/2012


Grande-FURG, Rio Grande, RS, Brasil Aprovado: 5/8/2012

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