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Identificar “arte” como território preferido para suas imagens é hoje aspiração de
muitos fotógrafos.
Um aspecto atenciosamente delimitado no texto de Cotton é o recorte do campo
discursivo do trabalho. A ênfase não é descrever o processo pelo qual a fotografia
artística contemporânea passou até ser o que é hoje: primeiro porque ela não é
autorreferente, mas dialoga com a fotografia em todo o seu percurso histórico e nas
suas mais diversas vertentes; e, segundo, porque ela não deve ser compreendida
como algo acabado e circunscrita num determinado tempo, mas como um elemento
em constante transformação.
Primeiro capítulo “If this is art”: como artistas têm criado estratégias, performances e
happenings especialmente para a câmera. Isso muda um tradicional estereótipo da
fotografia: a ideia do fotógrafo solitário vasculhando a vida diária, procurando por
momentos onde alguma grande carga visual ou imagem intrigante apareça no ângulo
da câmera.
Nos anos 1960 e 1970 a fotografia tornou-se central para uma maior disseminação e
comunicação de performances e outras formas de arte temporárias.
O precedente dos artistas conceituais dos anos 1969 e 1970 foi Marcel Duchamp, o pai
da arte conceitual ( como é frequentemente chamado). Ele submeteu um urinol
produzido por uma fábrica ao Armony Show em NY, baseando sua ideia em que a arte
pode ser tudo aquilo que o artista designar como tal. O trabalho executado por
Duchamp foi mínimo, ele simplesmente rotacionou o urinol de sua posição funcional
vertical para a posição horizontal e assinou a peça com a assinatura ficcional R.Mutt,
1917. A assinatura foi um trocadilho com o nome do fabricante e também com um
desenho popular “Mutt and Jeff”. Muitos relacionam a forma do urinol a uma
Madonna ou à imagem de Buddha sentado.
Sophie Calle: fez experimentos utilizando objetos do dia a dia. Entrava em hotéis e
vasculhava os objetos utilizados pelos hóspedes, tentando de alguma maneira
imaginar através de registros fotográficos e notas quem eram essas pessoas. Seu
trabalho une fatos e ficção, exibicionismo e voyeurismo, e performance e espectador.
Ela cria cenários que a consomem, beiram a perda de controle, falham, permanecem
inacabados ou tomam voltas inesperadas.
A performance teve maior visibilidade na China nos anos 1980 e 1990. Foi um período
que oportunizou a expressão dissidente e marginal. Um dos mais conhecidos grupos
de artistas chineses teve vida curta e foi perseguido politicamente: Beijin East Village,
que começou em 1993. A maioria de seus membros tinha formação pictórica e usava a
performance para mesclar vida e teatro, visando questionar as duras e violentas
mudanças culturais impostas. O corpo era testado ao seu limite, os artistas inflingiam a
si próprios dor física e psicológico desconforto.
O artista ucraniano Oleg Kulik, teve uma prática paralela. Teatralizou protestos
animalísticos e performances zoomórficas, sugerindo que nós somos o alter ego dos
animais e os animais são o nosso. Homenageou Joseph Beuys e sua performance “ I
like América and América likes me” (protesto contra a guerra do Vietnã), criando a
performance “I Bite America and America Bites Me”.
Hellen van Meene 1972 – fotografa garotas e jovens mulheres. Não está claro se
estamos olhando para um retrato conscientemente construído ou se são poses
espontâneas estranhamente atingidas, se as garotas estão vestidas para a ocasião ou
se pegas em um jogo inconsciente. Enigmáticos, alegorias do feminino...
Como vimos antes, o significado cultural e político do corpo humano tem sido
revigorado pela fotografia contemporânea.
Plataformas de observação que pontuam uma perspectiva distante de onde podem ser
enquadradas as mais diversas paisagens que caracterizam, sobretudo, os espaços
urbanos: essa é a marca registrada das fotografias de Andreas Gursky e que
representam o tema abordado no capítulo 3 do livro, intitulado “Inexpressivas”.
Imagens que por sua frieza e distanciamento físico aparentam um afastamento
emocional e um autocontrole por parte dos fotógrafos, mas que, num certo paradoxo,
acabam por apresentar uma estética que reflete as consequências do estilo de vida
contemporâneo. Nesse sentido, algumas imagens aparentemente imparciais são
sugeridas para o observador como uma espécie de declaração factual; ou, por outro
lado, uma apresentação melancólica do espetáculo cotidiano orquestrado pelo
homem. O fotógrafo Walter Niedermayr; o artista japonês Takashi Homma; o artista
alemão Gerhard Stromberg; e o fotógrafo retratista Thomas Ruff, são alguns dos que
despontam com trabalhos nesta linha imagética.